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Livro de Cabeceira da História da Arte Ocidental das Guerrilla Girls

The Guerrilla Girls´s Bedside Companion to the History of Western Art. Penguin
Books, 1998, pp..................

Introdução

Esqueçam os livros de textos masculinos e pálidos da Yale, isto é a História da


Arte Delas (Herstory/ History).

Se acreditássemos em tudo o que nos ensinam na escola e nos museus,


veríamos que uma linha de conquistas nos leva de um génio inovador a outro. Por
exemplo, Miguel Angelo abre caminho a Caravaggio; Monet influencia Picasso, que
nos traz Pollock. É este o cânone que - até recentemente, tomávamos por garantido
como história da arte ocidental. O mesmo reduziu séculos de produção artística a
um punhado de obras primas e movimentos brancos e masculinos, um mundo de
arte “seminal” e “potente”, no qual as escassas mulheres de que ouvimos falar são
brancas, onde até mesmo elas são raramente mencionadas e nunca com um
estatuto sequer próximo dos grandes caras. Bem, as Guerrilla Girls admiram os
velhos “mestres”, e muitos dos jovens também. Mas acreditamos também -
juntamente com a maior parte dos académicos contemporâneos - que chegou o
tempo, finalmente, de por em causa o cânone.

A famosa questão colocada por artistas femininas e historiadores da arte, diz:


“Por que não houve mais mulheres artistas geniais ao longo da história ocidental da
arte?” As Guerrilla Girls querem reformular esta pergunta: “Por que não foram
consideradas geniais mais mulheres artistas ao longo da história?” E nós temos
muito mais perguntas para fazer, pois ainda que atingir esse estatuto, sendo um
artista, não tenha sido fácil para ninguém, a história da arte tem sido uma história de
discriminação.

Vejamos as atitudes para com as mulheres, por parte de algumas das mentes
masculinas mais celebradas da cultura ocidental:

“Existe um bom princípio, que criou a ordem, a luz e o homem. E um


princípio malvado, que criou o caos, as trevas e a mulher.” Pitágoras, séc. 6
aC.

As meninas aprendem a falar e a caminhar mais cedo que os meninos


porque as ervas daninhas crescem mais rápido que as colheitas.” Martinho
Lutero, 1533

“Em lugar de as chamar belas seria mais acurado descrever as mulheres


como sendo o sexo inestético. Nem pela música, nem pela poesia, nem pelas
Belas Artes, têm elas real e verdadeiramente qualquer sensação ou
suscetibilidade”. Arthur Schopenhauer, 1851
Reparemos o quão estas atitudes mudaram do século 6 aC. para o século 19.
(Recordem também que as mulheres nos EUA somente conseguiram o direito ao
voto até 1919 e em França até 1945.) Com a misoginia e o racismo como as
ideologias do dia, secundadas por leis repressivas, é impressionante que qualquer
mulher consiga tornar-se uma artista, especialmente quando nos damos conta que
até este mesmo século (20) as mulheres raramente eram admitidas nas escolas de
arte, nas corporações ou nas academias de artistas, ou sequer podiam possuir um
atelier. Muitas eram mantidas sem ler ou escrever. Ao longo da história, as mulheres
têm sido, por lei, consideradas propriedade dos seus pais, maridos ou irmãos, que
acreditavam que as mulheres tinham sido postas no mundo para os servir e para
criar os filhos.

A verdade é que, apesar do preconceito, tem havido muitas mulheres artistas ao


longo da história ocidental. Desde a Grécia antiga, passando por Roma, há relatos de
mulheres artistas que ganhavam mais do que os seus colegas masculinos. Na Idade
Média, as freiras faziam tapeçarias e iluminuras. No Renascimento, as filhas eram
treinadas para ajudarem nos ateliers dos seus pais; algumas levaram adiante uma
carreira própria. Nos séculos 17 e 18, as mulheres se sobressaíram no retrato e
abriram novas perspetivas na observação científica de plantas e animais. No século
19, as mulheres se transvestiram pelo sucesso ou viveram no exílio, longe da casa o
suficiente para se comportarem como queriam. No século 20, o número de mulheres
brancas e não-brancas aumentou. Estas artistas formaram parte de todos os “ismos”
e começaram também vários por elas mesmas.

Mas mesmo depois de terem driblado obstáculos inacreditáveis, as mulheres


artistas foram normalmente ignoradas pelos críticos e historiadores da arte -que
defendem que a arte de mulheres, brancas e não-brancas, não vão de encontro aos
seus critérios “imparciais” de “qualidade”. Estes padrões imparciais valorizam em
exclusivo a arte que expressa os valores da experiência branca e masculina e
desvalorizam todo o resto. Os historiadores da arte do século 20 têm piores
percepções das mulheres do que os seus colegas anteriores: Plínio o Velho no século
1 aC., Boccaccio no século 14, Vasari no século 16, reconheceram mais mulheres
artistas do que Meyer Schapiro, T.J. Clark ou H.W. Janson no século 20.

Afortunadamente, os historiadores de arte feministas das décadas recentes -a


maior parte deles sendo -surpresa!- mulheres, têm ressuscitado e revalorizado
centenas de mulheres artistas do passado. Sempre que uma pesquisa em história da
arte, como a História da Arte de Janson, ou a Arte Através dos Tempos de Gardner,
acrescenta uma artista feminina, o número de mulheres incluídas aumenta
milagrosamente. As Guerrilla Girls beneficiaram grandemente dessas ideias e da
pesquisa desses académicos, tendo muitos deles nos ajudado, secretamente, na
escrita deste livro.

O Livro de Cabeceira da História da Arte Ocidental das Guerrilla Girls não é uma
pesquisa abrangente de mulheres artistas na história. Não inclui todas as culturas do
mundo. Não é uma lista das artistas mais significantes. Não foi escrito para
especialistas que já conhecem tudo isto. Escrever sobre mulheres artistas na história
ocidental é complicado. Existem muitas posições e teorias contraditórias. Optámos
por ficar de fora das guerras teóricas, e apresentar o nosso apanhado irreverente
sobre como foi a vida de algumas destas mulheres artistas ocidentais, que
conseguiram, contra todas as probabilidades, fazer arte. São argumentos para todas
as mulheres que são -ou se tornarão- artistas.

Algumas questões:

Por que o Museu de Arte Moderna está mais interessado na arte africana que na
arte de mulheres afro-americanas?

Por que tão poucos historiadores mencionam mulheres nos seus livros?

 Por que não estão os trabalhos de mulheres lado a lado com os de Matisse ou
Picasso?

De quem é a história na história da arte, afinal?

 Por que nos referimos às artistas como “mulheres artistas”, quando ninguém se
refere a Rembrant ou Vang Gogh como “homens artistas”?

 Por que ser mulher e afro-americana me torna duplamente difícil o


reconhecimento do meu trabalho?”

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