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Relatório Final
Montes Claros
Julho/2009
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
Centro de Ensino Médio e Fundamental
Escola Técnica de Saúde
Estação de Pesquisa
Equipe:
Coordenação: Marília Borborema Rodrigues Cerqueira
Banco de dados
Fabiano Rodrigues Maynart
Apoio administrativo
Arlany Júlia Moreira
Contribuição especial
Iza Manuella Aires Cotrim-Guimarães – análise dos Planos de Cursos
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A EQUIPE:
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Guardar
(Antonio Cicero)
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LISTA DE FIGURAS
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................... 7
2. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................... 10
3. O DIAGNÓSTICO................................................................................... 18
3.1 Objetivos............................................................................................. 18
UNIMONTES........................................................................................... 25
MORTALIDADE DE IDOSOS............................................................... 33
Montes Claros/MG.................................................................................. 37
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................ 46
docentes................................................................................................ 70
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 77
8. REFERÊNCIAS...................................................................................... 81
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1. INTRODUÇÃO
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Ressalta-se que no evento foi elaborado um projeto-piloto do Curso de Preparação de
Cuidadores de Idosos com Dependência, cujo Plano de Curso buscou atender a todas as
necessidades da pessoa idosa.
A Escola Técnica de Saúde – ETS/CEMF/UNIMONTES foi uma das 6 (seis)
escolas escolhidas entre as 37 que compõem a Rede de Escolas Técnicas do SUS –
RETSUS para desenvolver o projeto-piloto do Curso de Preparação de Cuidadores de
Idosos com Dependência e o currículo foi construído embasado nos seguintes eixos de
competência para a prática do cuidador: interação e comunicação; cuidados em relação às
atividades ‘do andar’; prontidão para agir em situações imprevistas; prevenção de riscos;
acidentes e violências; e direito da pessoa idosa. Esse curso do projeto-piloto foi
ministrado em 2008 (e integrou o objeto de estudo deste trabalho).
Nesse contexto, esta atividade teve por objetivo diagnosticar os processos de
formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG, especificamente
aqueles ministrados pela UNIMONTES. O trabalho balizou-se pela busca de informações
sobre os referidos cursos, intitulados “Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas
Idosas com Dependência” e “Curso Superior Sequencial de Cuidador de Idoso”, como
também sobre os profissionais cuidadores de idosos, egressos desses cursos.
Dada a particularidade de ser um profissional recentemente reconhecido pela
Classificação Brasileira de Ocupações – CBO e pela própria sociedade, o cuidador de
idosos é um assunto ainda pouco explorado no sentido de constituir-se tema de
diagnósticos no município de Montes Claros/MG. Esta atividade foi uma tentativa de
preenchimento dessa lacuna.
Soma-se, ainda, o fato de que diagnosticar o tipo de formação oferecida a esses
profissionais é uma atividade legitimada e reconhecida como uma maneira de se
estabelecer sintonia entre o mundo do trabalho e a escola. A Lei 9.394/96 (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB) afirma a importância em ajustar a
Educação Profissional às necessidades do mundo do trabalho1. Do mesmo modo o Decreto
2.208/972 e a Portaria 646/97 do mesmo modo afirmam que devem ser realizados
1
Ver em seu Capítulo III, Da Educação Profissional, art.39. A educação profissional, integrada às diferentes formas de
educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva
(LDB 9.394/96).
2
Segundo seu artigo 7º: Para a elaboração das diretrizes curriculares para o ensino técnico, deverão ser realizados
estudos de identificação do perfil de competências necessárias à atividade requerida, ouvidos os setores interessados,
inclusive trabalhadores e empregadores (Decreto Federal nº 2.208/97, de 17 de abril de 1997).
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diagnósticos sobre a demanda de recursos humanos em saúde, corroborando a importância
da atividade empreendida.
Em se tratando da metodologia adotada para o desenvolvimento da atividade, foram
utilizadas diversas técnicas e estratégias, qualitativas e quantitativas, associando-se,
respectivamente, a realização de entrevistas, a aplicação de questionários aos cuidadores de
idosos e potenciais cuidadores de idosos – alunos que fizeram o curso e não trabalhavam
com idosos –, e análise de documentos. O processo de trabalho abordou profissionais dos
referidos cursos e contou com esforços de outros profissionais, para além da equipe de
trabalho constante do Observatório Estação de Pesquisa – como o caso da análise dos
projetos pedagógicos dos cursos realizada por uma pedagoga da Escola, constituindo o
capítulo 4.
Quanto à organização deste documento, há a divisão em capítulos, sendo este o
primeiro. A seguir, o Referencial Teórico resgata autores e literatura imprescindíveis ao
entendimento do objeto de estudo. O capítulo 3 conta para o leitor as peculiaridades do
diagnóstico feito, destacando-se os objetivos da atividade e os aspectos metodológicos. O
capítulo 4 é a análise dos processos de formação de cuidadores de idosos executados pela
UNIMONTES. Em sequência apresentam-se alguns apontamentos demográficos sobre o
município e o perfil de morbi-mortalidade de idosos. O sexto capítulo são os demais
resultados e discussões, perpassando sobre dados referentes aos alunos-cuidadores de
idosos e alunos potenciais cuidadores de idosos; informações sobre a percepção dos
professores dos cursos e dos mesmos alunos; como também são registradas as avaliações
dos cursos na opinião de ambos – docentes e discentes. Por último, encontram-se as
Considerações Finais, seguidas das Referências utilizadas para a construção deste relatório.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
Os idosos integram o grupo populacional que mais cresce em quase todos os países
do mundo, e no Brasil, a realidade não é diferente. A pirâmide populacional brasileira
apresenta-se com base estreita, ou seja, percebe-se que a proporção de crianças na
população diminuiu e, conseqüentemente, o peso relativo de todas as demais faixas etárias
sofreu aumentos significativos.
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esperança de vida dos brasileiros contribuem para o aumento de idosos com limitações
funcionais, o que exige profissionais cuidadores.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, o aumento do
número de pessoas idosas, com 60 anos ou mais, em todo o mundo, leva a uma maior
demanda dos serviços de atenção básica à saúde, decorrente do aumento na incidência de
doenças crônicas não-transmissíveis.
Entre as doenças que mais acometem os idosos, com 60 anos ou mais, estão:
acidente vascular cerebral – AVC, hipertensão, doenças do coração, diabetes, doenças da
coluna, acidentes domésticos, quedas, artrite-reumatismo, doenças do aparelho
circulatório, depressão, neoplasias, bronquite-asmática, doenças infecto-parasitária,
tuberculose, pneumonia, doenças do aparelho digestivo, varizes, doenças na próstata e
doenças infecto-urinária.
Para a sociedade, o envelhecimento é um processo que diz respeito à natureza, e
que se desenrola com desgastes, limitações físicas e mentais, e seu caminho final resulta
com a morte. Para os idosos, as perdas são tratadas principalmente como problemas de
saúde, anunciadas na aparência do corpo e pelo que acontece a ele como enrugamento,
encolhimento e reflexos mais lentos.
As mudanças consequentes do envelhecimento, muitas vezes, fazem com que os
idosos passem a necessitar de auxílio para desenvolver ações que anteriormente realizavam
sozinhos. A partir de tais necessidades surge o profissional “cuidador de idoso” e, como
aconteceu com outras profissões de nível técnico, a exemplo do auxiliar e técnico de
enfermagem, o cuidador de idosos tem sido inserido no serviço sem a devida capacitação.
Duarte (1996) apresenta o cuidador como o profissional que convive diariamente
com o idoso, ajudando nos cuidados higiênicos, auxiliando com a alimentação,
administrando medicação e estimulando-o com as atividades reabilitadoras, interagindo
assim, com a equipe terapêutica. Para a autora, o cuidador pode ser uma pessoa da família
ou amigo (cuidador informal) ou uma pessoa contratada para executar essas tarefas
(cuidador formal).
O debate em torno do significado sobre o termo profissão é bem complexo, pois
trata-se de termo polissêmico e que não possui fácil definição. Segundo Franzoi (2009), a
dificuldade para definir conceitualmente o termo profissão explica-se pelas diferentes
conotações que o termo assume dependendo da área de conhecimento em que se analisa ou
a tradição idiomática em que é aplicado.
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Quando utilizado na sociologia anglo-americana, o termo (profession) é
reservado para profissões ditas sábias, ou seja, que pressupõem formação
universitária, distinguindo-se de ocupations – o conjunto de empregos.
Diferentemente, tanto na língua francesa quanto na portuguesa, o termo, sem o
qualificativo liberal (ou liberales) designa tanto as ‘profissões sabias’ quanto o
conjunto dos empregos reconhecidos na linguagem administrativa,
principalmente nas classificações dos recenseamentos promovidos pelo Estado
(Franzoi, 2009, p.328).
No entanto, como afirma Dubar (1997) apud Franzoi (2009), a abordagem proposta
pelos interacionistas é insuficiente na compreensão do processo de socialização dos
trabalhadores, principalmente daqueles assalariados com menos qualificação. Para Dubar
(1997), a oposição entre as definições dos termos profissão e ocupação refere-se a uma
disputa política e ideológica pela distinção e classificação, assim como aconteceu através
dos séculos: intelectuais/manuais; cabeça/mão, etc.
Freidson (1995) traz para o debate a questão do trabalho informal, daqueles
trabalhadores que estão à margem da economia oficial; esse tipo de trabalhador não está
incluído nas modernas classificações oficiais. Porém, a teorização sobre profissões não
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pode deixar de tratar sobre economia informal, uma vez que muitas profissões têm suas
origens no trabalho informal, sendo reconhecidas oficialmente com o passar do tempo.
O sentido para o termo profissão aqui utilizado está de acordo com Franzoi (2009),
no sentido lato em oposição ao estrito de profissão “sábia” que pressupõe uma formação
teórica, sendo sua atividade de trabalho. A profissão é definida como o reconhecimento
social dos saberes que ele adquiriu na esfera da formação, bem como dos serviços ou
produtos que ele é capaz de oferecer, pelo valor social que preserva (Bava Jr., 2000).
O verbo cuidar em português significa atenção, zelo e ainda pode relacionar-se com
meditar, dispensar atenção ou prevenir. No entanto, a dimensão do ato de cuidar pode ir
além de momentos de atenção, pois na verdade é uma ocupação, uma responsabilização e
envolvimento com o ser cuidado (Remen, 1993; Boff, 1999; Silva et al., 2001).
Portanto, conforme Santos (2001) apud Saliba et al. (2007), o processo de cuidar é
a maneira como ocorre o cuidado, um processo interativo, que desenvolve ações, atitudes e
comportamentos com base no conhecimento científico, na experiência, intuição e tendo
como ferramenta principal o pensamento crítico, sendo essas ações e/ou outros atributos
realizados para o ser cuidado, no sentido de promover, manter e/ou recuperar sua
dignidade humana.
Cuidador de pessoas idosas trata-se de uma ocupação reconhecida e inserida na
Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho e Emprego, “é
uma pessoa capacitada para auxiliar o idoso que apresenta limitações para realizar as
atividades e tarefas da vida quotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e serviços de
saúde ou da comunidade, geralmente remunerado” (Brasil, 1999).
Para Bava Jr. (2000) os padrões da CBO não podem ser utilizados sem
questionamentos – este autor reconhece o valor de tal classificação. Mas definir
trabalhadores apenas pela ocupação pressupõe que acaso eles fiquem desempregados
perde-se automaticamente seu perfil profissional. Na definição da CBO “não se integra, ao
corpo de cada ocupação, a escolaridade, o setor e a atividade econômica” (Bava Jr., 2000,
p.55).
Entretanto, a situação do cuidador, como afirma Maffioletti, Loyola e Nigri (2006),
é de pouca visibilidade diante da parca estrutura assistencial que desvaloriza este trabalho,
muitas vezes assumido como responsabilidade natural da mulher, nos níveis público,
familiar e pela rejeição social.
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Mais do que procurar exaustivamente o que separa as profissões das outras
ocupações, é analiticamente mais virtuoso dar relevo aos processos de
(re)configuração das ocupações em geral (incluindo nestas as profissões) – em
termos de organização, de estruturação interna, de relações de poder com o
Estado, os clientes e outros agentes sociais – e às articulações das ocupações
com as transformações sociais mais amplas. A par disto, emerge como relevante
reflectir sobre as causas subjacentes à difusão em determinados contextos
nacionais, como o português por exemplo, do modelo profissional (com aspectos
diferenciados do que era proposto pelos funcionalistas) e do profissionalismo, na
qualidade de sistema de valores e de princípios de inserção laboral dos sujeitos
sociais (Gonçalves, 2007, p.190).
[...] o surgimento do cuidador formal como uma nova categoria profissional, sob
a exigência dessa nova mentalidade de assistência para os velhos, não pode ser
entendida como uma resultante exclusiva das pressões do campo gerontológico.
Ela se inscreve no campo do cuidar – apesar das resistências que tem encontrado
–, porque há compatibilidade entre a nova mentalidade e a estrutura social, numa
lógica interna que lhe dá sustentação: há uma pressão social e econômica que
obriga os membros da família a se inserirem no mercado de trabalho; há uma
demanda e uma oferta que se inscrevem na fragmentação dos saberes, da
prestação de serviços desregulamentada, da carência de uma rede de serviços
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públicos especializada; e há a exigência de minimizar custos (Maffioletti,
Loyola, Nigri, 2006, p. 1.086).
15
processo dinâmico, cuja evolução pode se modificar e até ser prevenida ou reduzida se
houver ambiente e assistência adequados” (p. 786).
Sobre dependência LEITE (1995) diz que esta significa uma condição do idoso a
qual se caracteriza por degenerescência decorrente de doenças crônicas ou de
outras patologias, que lhe ameaçam a integridade física, social e econômica,
diminuindo ou impedindo a capacidade do indivíduo para atender suas
necessidades (Leite, 1995, apud Cattani, Perlini, 2004, p. 255).
Em 2006, o Pacto pela Vida colocou as pessoas idosas, com mais de 60 anos, como
uma prioridade. Nesse sentido, uma das diretrizes que integra a Política Nacional de Saúde
do Idoso é a necessidade de capacitação de recursos humanos para atenção à saúde do
idoso. Já em 1999, o artigo 3º da Portaria Interministerial 5.153/1999 determinava:
16
Portanto, faz-se necessário o aperfeiçoamento de profissionais com o objetivo de
promoção à saúde dos idosos. “É nesse ambiente que os saberes social, científico e
tecnológico são aplicados, o que exige das equipes habilidades para lidar com o outro e
seus problemas” (Lima, 2006, p. 42).
Com esse cenário, podemos prever a necessidade, cada vez maior, de cuidadores
formais com treinamento para cuidar de idosos. Mesmo aqueles cuidadores com
vínculo de parentesco, precisam de treinamento, pois esta é uma função
extremamente complexa e desgastante para a pessoa que cuida (Chaves, 2007,
s/p).
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3. O DIAGNÓSTICO
3.1 Objetivos
O método
Para desenvolver a atividade “Diagnóstico dos processos de formação de
cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG” foram adotadas várias técnicas
e estratégias, mesclando-se métodos quantitativo e qualitativo, realizando-se aplicação de
questionários, realização de entrevistas semi-estruturadas e análise de documentos.
A combinação de métodos tem a ver com o caráter do objeto específico de
conhecimento e “[...] com o entendimento de que nos fenômenos sociais há possibilidade
de se analisarem regularidades, freqüências, mas também relações, histórias,
representações, pontos de vista e lógica interna dos sujeitos em ação” (Minayo, 2007, p.
63). E conforme Goldenberg (2000, p. 62): “É o conjunto de diferentes pontos de vista, e
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diferentes maneiras de coletar e analisar os dados (qualitativa e quantitativamente), que
permite uma idéia mais ampla e inteligível da complexidade de um problema”. Segundo a
autora, os limites de um método podem ser contrabalançados pelos resultados alcançados
com a adoção do outro.
Sobre a técnica quantitativa, supõe-se que exista um aspecto comparável nos
elementos da população (Goldenberg, 2000). Minayo (2007) relembra Kant (1980) ao citar
que propriedades numéricas são atributos de todos os fenômenos. Quanto à estratégia
adotada, o questionário, ele foi escolhido por ser um instrumento que pressupõe hipóteses e
questões fechadas, “[...] cujo ponto de partida são as referências do pesquisador [...]”
(Minayo, 2007, p. 190).
Em se tratando da técnica qualitativa, Haguette (1999, p. 63) afirma que “os
métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas
origens e de sua razão de ser”, permitindo que o cientista se aproxime dos indivíduos que
oferecerão os dados para o diagnóstico. As abordagens qualitativas não se preocupam em
fixar leis, produzir teorias ou generalizações. Essa técnica de diagnóstico pode ser
estruturada com questões que possibilitam o acesso a informações objetivas ou subjetivas.
A entrevista semi-estruturada permite maior interação com o entrevistado, as
questões não são fechadas, possibilitando ao coletador obter dados de maneira flexível.
Lunardelo (2004) afirma que, com esse meio, é possível articular o direcionamento da
entrevista com questões formuladas, como também abordar o tema de maneira livre e
reflexiva e obter dados fundamentais à atividade.
Goldenberg (2000) coloca, com base em diversos autores, que as atividades
interativas dos indivíduos produzem as significações sociais, perceptíveis ao cientista
quando este participa do mundo que se propõe estudar. Os seres humanos são intérpretes
do mundo que os cerca, logo, é necessário desenvolver métodos de diagnóstico que
priorizem os pontos de vista dos mesmos. Os dados qualitativos permitem o tratamento da
subjetividade e da singularidade dos fenômenos sociais. “Contrapõem-se, assim, à
incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e da singularidade dos
fenômenos que não podem ser identificados através de questionários padronizados”
(Goldenberg, 2000, p. 49).
Pelo exposto, nesta atividade foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com
professores e alunos egressos de cursos de formação para cuidadores de idosos ministrados
pela UNIMONTES, visando aprofundar vertentes de estudo, como percepções sobre o
curso, demandas e dificuldades que os cuidadores de idosos enfrentam ao desenvolver o
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seu trabalho e como se sentem ao desempenhar as atividades do cuidado. E foram
aplicados questionários a ambos os públicos também: professores e alunos. Vale citar que
foram aplicados questionários em sala de aula, aos alunos frequentes – à época inicial dos
trabalhos desta atividade, e outros questionários foram enviados/recebidos por endereço
eletrônico (e-mail) para alguns professores dos referidos cursos. O desenvolvimento da
atividade contou, ainda, com diversos contatos com professores e coordenador de um dos
cursos, visando o melhor entendimento das informações coletadas.
Do mesmo modo, foram analisados alguns documentos dos cursos – trabalhos
empreendidos por uma pedagoga da ETS/CEMF/UNIMONTES, simultaneamente, em
discussões com a equipe do Observatório Estação de Pesquisa.
E foi organizado um banco de dados em software específico, o SPSS 14.0,
congregando informações sobre os cuidadores de idosos do município de Montes Claros,
egressos dos cursos ministrados pela UNIMONTES.
Finalizando, a última fase foi a junção dos resultados, análises finais e redação do
documento final. Minayo (2007) fala que a triangulação de métodos não é fácil, e mostra
que as metodologias não são incompatíveis, sendo possível integrá-las em um mesmo
trabalho. “[...] uma investigação de cunho quantitativo pode ensejar questões passíveis de
serem respondidas só por meio de estudos qualitativos, trazendo-lhe um acréscimo
compreensivo e vice-versa; [...]” (p. 76). Ainda segundo Minayo, não há sentido de atribuir
prioridade de uma metodologia sobre a outra, pois cada uma tem seu papel, seu lugar e sua
adequação. Portanto, as informações coletadas nos questionários, entrevistas e documentos
permitiram uma mais elaborada construção da realidade de estudo, instigando novas
indagações para novos diagnósticos.
O trabalho de análise
Dos dados coletados por meio dos questionários foram elaboradas estatísticas
descritivas. Para tanto, utilizou-se o programa estatístico computacional Statistical Package
for the Social Sciences – SPSS, versão 14.0, no qual se construiu um banco de dados
específico para cada grupo de estudo – um para as respostas dos alunos do “Curso de
Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência”, outro para as respostas
dos alunos do “Curso Superior Sequencial de Cuidador de Idoso”, mais um para as
respostas dos professores.
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Quanto à técnica de análise, buscou-se seguir a metodologia proposta por Minayo
(2007), a hermenêutica-dialética. A interpretação dos dados com a utilização da
hermenêutica-dialética permite a aproximação da realidade, por considerar os aspectos
extradiscursivos que constituem o espaço sociopolítico e econômico do contexto. Ambas
referem-se “[...] à práxis estruturada pela tradição, pela linguagem, pelo poder e pelo
trabalho” (p. 168). A hermenêutica enfatiza o significado dos aspectos consensuais, da
mediação, do acordo, da unidade de sentido; é a arte da compreensão. Segundo Minayo
(2007, p. 343), “a hermenêutica oferece as balizas para a compreensão do sentido da
comunicação entre os seres humanos; parte da linguagem como o terreno comum de
realização da intersubjetividade e do entendimento [...]”. A dialética, por sua vez, enfatiza
a diferença, o contraste, o dissenso, a ruptura de sentido; é a arte do estranhamento e da
crítica. A autora (id., p. 347) cita: “o exercício dialético considera como fundamento da
comunicação as relações sociais historicamente dinâmicas, antagônicas e contraditórias
entre classes, grupos e culturas”. A linguagem é posta como um veículo de comunicação e
de dificuldade de comunicação, escondendo, nos significados aparentemente iguais dos
seus significantes, a realidade conflitiva das desigualdades, da dominação, da exploração,
como também da resistência e da conformidade. A análise com base na hermenêutica-
dialética “busca apreender a prática social empírica dos indivíduos em sociedade em seu
movimento contraditório” (id., ibid.).
A partir dessa escolha, foi utilizada a análise de conteúdo, pois, de acordo com
Gomes (1994, p. 74), esse tipo de análise permite a “descoberta do que está por trás dos
conteúdos manifestos, indo além das aparências do que está sendo comunicado”. A análise
de conteúdo relaciona estruturas semânticas, consideradas como significantes, com
estruturas sociológicas dos enunciados, consideradas significados. Para Minayo (1994),
significantes e significados são descritos e analisados pela articulação de variáveis
psicossociais, do contexto cultural, do contexto e do processo de produção da mensagem.
A análise de conteúdo auxilia a interpretar as mensagens e a compreender os seus
significados para além do senso comum.
Dentre os vários tipos de unidades de registro para as análises de conteúdo, a
equipe de trabalho optou por grandes blocos de análise, na perspectiva de “tema”, que se
refere a uma unidade maior em torno da qual é tirada uma conclusão (Gomes, 1994). Para
tanto, foram definidos os blocos de análise, ou as categorias de análise que, conforme
Minayo (2007, p. 317), “são expressões ou palavras significativas em função das quais o
conteúdo de uma fala será organizado”. “Nesse sentido, trabalhar com elas [as categorias
21
de análise] significa agrupar elementos, idéias ou expressões em torno de um conceito
capaz de abranger tudo isso. Esse tipo de procedimento, de um modo geral, pode ser
utilizado em qualquer tipo de análise em pesquisa qualitativa” (Gomes, 1994, p. 70).
Buscou-se, portanto, seguir as etapas da análise de conteúdo classificadas por
Minayo (2007): pré-análise, decomposta em leitura flutuante, constituição do corpus e
formulação de hipóteses e objetivos; exploração do material, que consiste na operação de
codificação; tratamento dos resultados obtidos e interpretação por meio de porcentagens
para destacar as informações que propiciam inferências e interpretação em torno de
dimensões teóricas previamente estudadas.
O universo de estudo
Considerando-se que a proposta de atividade é “Diagnóstico dos processos de
formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG”, buscou-se
abordar os diversos “atores” dos processos de formação de cuidadores de idosos, tidos
como fontes de informações possíveis de serem subsídio para o diagnóstico. Nesse sentido,
foram partícipes os professores e alunos dos cursos ministrados pela UNIMONTES, quais
sejam: “Curso de Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência” e “Curso
Superior Sequencial de Cuidador de Idoso”.
Ressalta-se que a UNIMONTES foi pioneira e, até a data atual, a única instituição
acadêmica a oferecer cursos na área de formação de cuidadores de idosos no município de
Montes Claros/MG. Em outra instituição, houve uma disciplina relacionada ao tema, em
um curso da área da saúde, e não um curso – constituindo, portanto, objeto diferente do
tema de estudo deste diagnóstico.
Considerações éticas
Para a realização deste diagnóstico, buscou-se seguir os princípios éticos
imprescindíveis ao desenvolvimento de trabalhos desta natureza, que envolvem seres
humanos. Os indivíduos abordados pela equipe de estudo tiveram resguardado o direito de
participar ou não, como desistir de fazê-lo a qualquer momento.
22
O trabalho de Campo
Identificação dos cursos e alunos, outros documentos: estas informações foram
coletadas nas Secretarias Escolares das unidades/centros acadêmicos onde foram
ministrados os referidos cursos.
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Estação de Pesquisa esteve no local e horário marcado e o profissional não estava lá, em
mais de uma tentativa. Do mesmo modo, vários e-mails voltaram sem resposta, após,
inclusive, o manifesto de aceite em participar. Vale dizer, de igual importância, a
existência de problemas com o cadastro geral dos alunos do “Curso Superior Sequencial de
Cuidador de Idoso”, não solucionados devido à impossibilidade de contato com a
coordenação.
Conferência do material
Todo o conteúdo coletado foi conferido, objetivando-se captar, literal e fielmente a
resposta do profissional participante.
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4. PROCESSOS DE FORMAÇÃO DE CUIDADORES DE IDOSOS
PELA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS –
UNIMONTES
Este capítulo foi construído a partir de uma análise dos projetos pedagógicos dos
cursos oferecidos pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES para a
formação dos “Cuidadores de Idosos”, tanto em nível superior, na modalidade sequencial,
quanto no nível médio, na formatação de Curso de Formação Inicial e Continuada de
Trabalhadores3 (Curso Básico).
A análise fundamentou-se no objetivo geral da atividade, que foi diagnosticar os
processos de formação de cuidadores de idosos no município de Montes Claros/MG,
especificamente aqueles oferecidos pela UNIMONTES. Ao conhecer os processos
formativos dos Cuidadores de Idosos oferecidos pela UNIMONTES buscou-se, também,
fazer uma relação deles com a literatura atual.
Outros documentos que acompanham os projetos dos cursos, ou plano de curso,
como se denomina na educação profissional de nível médio, também foram analisados,
como relatórios parciais e finais das atividades desenvolvidas e planos de ensino.
O Curso Superior de Formação Específica – Sequencial Cuidador de Idoso foi
promovido pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES em parceria
com a Fundação de Apoio e Desenvolvimento de Ensino Superior do Norte de Minas –
FADENOR e vinculado à graduação em Medicina da UNIMONTES.
O Curso teve uma duração de quatro períodos, que totalizaram dois anos de
atividades, perfazendo uma carga horária de 1.650 horas, incluído o estágio de 300 horas.
O perfil profissiográfico estabelecido para o curso aponta o Cuidador de Idoso
como “o profissional capacitado para auxiliar o idoso que apresenta ou não limitações para
realizar as atividades e tarefas da vida cotidiana, fazendo elo entre o idoso, a família e
serviços de saúde ou da comunidade” (Unimontes, 2004, p. 22).
No mesmo tópico do projeto, registram-se como atividades a serem desempenhadas
pelo Cuidador de Idoso: auxílio nas atividades diárias; administração de medicamentos;
auxílio na deambulação e mobilidade; cuidados com a organização do ambiente; prestação
3
Decreto Federal 5.154, de 17 de abril de 2004, que regulamenta o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20
de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências.
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de primeiros socorros; estímulo ao relacionamento, contato com a realidade e participação
em atividades recreativas.
Verifica-se, entretanto, que o curso possui como objetivos “capacitar o diplomado
para avaliar, construir, controlar, manter e gerenciar negócios baseados no atendimento ao
público da terceira idade, além de capacitá-lo para o trabalho em equipe multiprofissional
em hospitais, clínicas de atendimento, estabelecimentos asilar [sic], espaços de estudo e
lazer” (Unimontes, 2004, p. 18 – grifos deste relatório).
Um segundo objetivo prevê a atualização e ampliação de conhecimentos técnicos, o
fornecimento de ferramentas para atendimento de idosos e também para a abertura e gestão
de empresas no ramo de negócios que envolvem a população idosa.
O perfil profissiográfico contempla, portanto, uma formação focada na prestação de
assistência diretamente ao idoso, enquanto os objetivos do curso preveem uma formação
focada na gestão de negócios, atividades ou estabelecimentos relacionados ao público da
terceira idade. A partir desta constatação, foram analisados os conteúdos do curso,
considerando duas vertentes: assistencial e de gestão.
Com exceção da disciplina “Gestão em Saúde do Idoso”, que sugere uma relação
com a prática gerencial prevista nos objetivos do curso, verifica-se que as demais
disciplinas estão relacionadas à prática assistencial do Cuidador de Idoso: Gerontologia
Básica; Ciências Sociais em Saúde; Direito e Cidadania do Idoso; Políticas Públicas em
Saúde; Bioética; Assistência Social na 3ª Idade; Habilidades Específicas em
Fonoaudiologia, Fisioterapia e Geriatria; Psicologia do Idoso; Recursos Terapêuticos em
Gerontologia; Sistemas de Informação em Saúde; Enfermagem do Envelhecimento;
Oficina Terapêutica para a 3ª Idade; Neuropsiquiatria Geriátrica; Nutrição e Bem-estar;
Cuidador de Idoso: contexto e prática e Tópicos Especiais para a 3ª Idade. Outras
disciplinas complementam a formação do profissional: Português Instrumental e
Fundamentos de Informática. Cabe ressaltar, contudo, que a disciplina “Gestão em Saúde
do Idoso” apresenta como ementário:
26
O projeto do Curso Sequencial não explicita a relação entre disciplinas, conteúdos,
perfil profissiográfico e objetivos do curso, mas pode-se relacionar estes últimos ao campo
de atuação do profissional de nível superior “Cuidador de Idoso”, conforme se verifica a
seguir:
27
Ambos os projetos apresentam como justificativa para oferecimento do curso a
ampliação da longevidade da população brasileira. Ressaltam que o aumento do tempo de
vida não significa, necessariamente, que os idosos estejam livres de doenças ou tenham
condições de viver seus últimos anos de forma saudável. Sobre esse aspecto, Giacomin et
al. (2005) afirmam que, de modo geral, as doenças apresentadas pelos idosos são crônicas
e múltiplas, e podem perdurar por muitos anos. Estas “doenças podem gerar incapacidades
e causar dependência, com ônus crescentes sobre o idoso, a família e o sistema de saúde”
(Caldas, apud Giacomin et al., 2005, p.80).
Para a UNIMONTES essas assertivas evidenciam o papel do Cuidador de Idoso, ao
se considerar a necessidade de se estabelecer nas comunidades serviços de saúde
diferenciados para o atendimento a esta parcela da população, em oposição ao modelo
hospitalar ou asilar (Unimontes, 2004; 2007). Giacomin et al. (2005) também evidenciam a
relevância desse profissional, cuja necessidade deve ser apreciada no planejamento das
políticas de saúde para idosos.
Cabe ressaltar, no entanto, que não se trata apenas da formação de um profissional
capacitado para atender às necessidades patológicas dos idosos com dependência, mas de
uma formação pautada por uma nova mentalidade que considere, para além das patologias
inerentes a esta fase da vida, as questões sociais que determinam atitudes de rejeição ou
acolhimento, e que percebe a velhice, a doença, a dependência e a morte como parte da
vida (Maffioletti, Loyola e Nigri, 2006). E mais:
28
o processo de interação e comunicação entre o idoso, seus familiares e a comunidade”
(Unimontes, 2007, p. 34).
29
geralmente mulheres residentes no mesmo domicílio (Karsch, 2003). Maffioletti, Loyola e
Nigri (2006) confirmam que em todas as épocas e em grande parte das sociedades a tarefa
de cuidar dos doentes, bem como outras atividades do gênero, eram exercidas pelas
mulheres.
30
que, trata-se da formação de trabalhadores que compõem uma dada realidade, e que “a
investigação do processo de trabalho deve permitir identificar não apenas as atividades que
lhe são pertinentes mas, fundamentalmente, deve permitir evidenciar os conhecimentos de
caráter técnico-científico e socio-cultural que nele estão expressos” (Marques, 2002, p. 19).
O projeto do Curso de Nível Médio previu a realização de 40 horas de atividades
práticas em instituições de saúde, consistindo em 25% da carga horária total do curso (160
horas). Para o desenvolvimento destas atividades considerou-se a necessidade de “real
execução de serviços e/ou real manuseio de insumos materiais destinados a esta atividade”
(Unimontes, 2007, p. 38), sendo realizadas sob supervisão direta do professor e
intermediadas pelos professores do conteúdo teórico-prático (atividades teórico-práticas)
do curso.
Para os dois cursos foi prevista, ainda, a elaboração de relatório final de estágio
(Curso Sequencial) e relatório final de atividades práticas (Curso de Nível Médio).
Também a respeito do Curso de Qualificação de Nível Médio, cabe colocar que seu
currículo foi organizado a partir da identificação de competências profissionais, que se
estruturam em conjuntos de Eixos Temáticos para os quais foi distribuída a carga horária
de atividades teóricas do curso.
O Curso Sequencial foi estruturado em quatro módulos desenvolvidos em quatro
períodos letivos. Recomendou-se uma integração entre os conteúdos do curso e a adoção
de estratégias de ensino diversificadas; visão orgânica do conhecimento e contextualização
dos conteúdos.
31
Saúde do Centro de Ensino Médio e Fundamental, em parceria com o Ministério da Saúde,
e Curso de Cuidadores de Idosos, na modalidade Sequencial.
Conferiu-se que a integração entre teoria e prática foi condição fundamental no
desenvolvimento de ambos os cursos, cada um com suas especificidades. No Curso
Superior, na modalidade Sequencial, esta integração se deu, prioritariamente, pelo
desenvolvimento do estágio e utilização de algumas metodologias que pretendiam
fortalecer a relação acadêmica com a realidade do serviço. Já no Curso de Nível Médio,
esta vinculação se deu pela realização das atividades práticas nos serviços de saúde,
articulação entre atividades práticas e atividades teórico-práticas em sala de aula e pela
característica inerente ao curso de qualificação que foi o fato do público atendido se
constituir por profissionais que já atuavam na área da saúde como Cuidadores de Idosos.
A partir da análise dos projetos dos referidos cursos e alguns planos de ensino e
relatórios, constatou-se que ambos os cursos apresentaram uma proposta de formação
pautada por esses novos princípios, visando ao desenvolvimento de ações para além da
cura e reabilitação, mas também para a proteção social, promoção e prevenção da saúde e a
interação e (re)integração das pessoas idosas aos ambientes familiares e à comunidade.
32
5. APONTAMENTOS DEMOGRÁFICOS E PERFIL DE MORBI-
MORTALIDADE DE IDOSOS
A queda da mortalidade nas idades avançadas faz com que haja um maior número
absoluto de idosos (Carvalho, Garcia, 2002). E com a queda da fecundidade, há proporções
menores de crianças na estrutura etária e, consequentemente, os demais grupos sofrem
aumentos significativos.
No município de Montes Claros, o processo de envelhecimento em curso é
observável nas pirâmides populacionais para os anos 1980 e 2009. Verifica-se o
estreitamento da base e o ganho de peso relativo dos demais estratos da população
(gráficos 1 e 2). As barras referentes ao contingente populacional de 0 a 14 sofreram
redução no tamanho, enquanto as demais, indicativas dos indivíduos adultos e idosos
apresentam maior expressividade numérica e gráfica.
33
GRÁFICO 1: Pirâmide Populacional, Montes Claros, 1980
60 a 64 anos
50 a 54 anos
40 a 44 anos
Masculino
30 a 34 anos Feminino
20 a 24 anos
10 a 14 anos
0 a 4 anos
60 a 64 anos
50 a 54 anos
40 a 44 anos
Masculino
30 a 34 anos Feminino
20 a 24 anos
10 a 14 anos
0 a 4 anos
34
limite de 65 anos para a definição do grupo de idosos (65 ou mais), por se tratar de
medidas utilizadas internacionalmente (tabela 1).
35
que pode ser usado pela sociedade para a prevenção de eventuais problemas e/ou questões
sociais decorrentes deste fenômeno”. Faz-se necessário criar as condições de pleno bem-
estar social para o enfrentamento de cenários com grande número de idosos, com o
possível aumento dos níveis e graus de restrições de atividade ou incapacidade.
Em se tratando dos indicadores propriamente, Chesnais (1990) critica as razões de
dependência, considerando-as ficções estatísticas, uma vez que existem variações nas
idades de entrada e saída da atividade econômica. Entretanto, elas oferecem uma
aproximação da realidade e podem subsidiar a tomada de decisões, se analisadas dentro do
contexto socioeconômico-demográfico ao qual se referem e, de acordo com Veras (1994),
em termos numéricos é possível ter a medida do ônus sobre a população que trabalha,
podendo-se chegar a uma estimativa aproximada do custo financeiro que os grupos
“inativos” representam para a sociedade (Cerqueira, 2003).
6.000
5.000
4.000
Homens
3.000
Mulheres
2.000
1.000
0
60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 a 79 anos 80 anos ou +
Grupo Etário
36
que mais mulheres do que homens chegam às idades avançadas. Em Montes Claros, para o
ano de 2009, para 100 mulheres com 80 anos ou mais existem 60 homens.
A feminização do envelhecimento populacional é objeto de estudo de vários autores
e trata-se de uma questão ampla, que foge ao escopo deste trabalho. Há que se considerar a
sobremortalidade masculina em todas as idades; os fluxos migratórios seletivos por sexo; a
saúde dos homens no sentido de serem resistentes ao autocuidado e à busca de cuidados
médicos; à exposição diferenciada aos riscos de morte, em resposta à educação, formação e
cultura de base machista. Esse desequilíbrio demográfico quanto ao sexo é recorrente em
muitas sociedades humanas (Rodrigues, Fonseca, Rodrigues, 1996), e diante da
complexidade do problema, faz-se necessário um estudo específico sobre o tema.
Morbidade
37
Para as análises da morbidade, buscou-se conhecer as internações hospitalares de
pessoas residentes em Montes Claros/MG por causa de internamento, com base na
Classificação Internacional de Doenças – CID, 10ª revisão e a variação proporcional no
período de 1998 a 2007, enfatizando os referidos anos. As taxas de morbidade foram
calculadas para os triênios 1998, 1999, 2000 e triênio 2005, 2006, 2007, computando-se a
média dos eventos dos respectivos anos e adotando a população de 1999 e de 2006 como
denominadores, em ordem. Essa forma de cálculo já foi adotada por outros autores
(Barbosa, Andrade, 2000; Barbosa, 2001 e Cerqueira, 2003), cuja justificativa se pauta nos
possíveis problemas com os dados de mortalidade e a fim de minimizar os efeitos de
variações sazonais.
É oportuno dizer que as informações provenientes de internações hospitalares,
conquanto possam servir para ilustrar o perfil de morbidade da população idosa do
município, não representam a situação vigente para a totalidade desse segmento
populacional, como também salientado por Cerqueira (2003). A cobertura dos dados em
uso restringe-se à parcela da população que teve acesso aos serviços de saúde do Sistema
Único de Saúde – SUS, ficando de fora, portanto, tanto a parcela da população necessitada
que não foi alcançada pelos serviços do SUS, quanto aquela que utilizou a rede privada de
atendimento.
Ainda de acordo com Cerqueira (2003), como a base de dados do SUS exclui
grupos possivelmente opostos em relação às condições de saúde, pode-se considerar que
ela apresente uma boa configuração das condições médias vivenciadas pelo conjunto da
população. “Ademais, acredita-se que as informações relativas à morbidade diagnosticada,
em comparação com aquelas oriundas de morbidade auto-referida, sejam mais
representativas das reais condições de saúde da população” (Cerqueira, 2003, p. 30).
Sobre a limitação do uso das internações hospitalares pelo SUS, vale citar Nunes
(2004, p. 429), ao afirmar que essas informações servem como uma proxy de morbidade e
são representativas do padrão das causas de morbidade hospitalar dos idosos.
Portanto, as informações sobre a morbidade hospitalar do contingente populacional
com 60 anos ou mais, residentes em Montes Claros/MG, encontram-se nas tabelas 2 e 3.
Na tabela 2, a organização das informações buscou a ordem decrescente das proporções
das causas de internamento no último ano de estudo, 2007. Devido aos possíveis
problemas com os dados, os percentuais com variações centesimais (dados resultantes do
cálculo, sem arredondamentos) e decimais (decorrentes de arredondamentos), foram
considerados na mesma posição do ranking, o que diferenciou o número de causas de
38
internamento registrado para os sexos e anos da análise. Assim sendo, a apresentação das
principais causas de internamento para o ano de 1998 não está ordenada, mas buscou-se,
como para 2007, citar as cinco primeiras.
É possível observar que o padrão de morbidade hospitalar dos homens idosos em
Montes Claros, no período em estudo, apresenta as doenças crônico-degenerativas como as
causas de maiores percentuais de internações. Em 2007, as doenças do aparelho
circulatório encontram-se na primeira posição do ranking, com 40,0% das internações
decorrentes de alguma complicação deste aparelho, seguindo o padrão do Brasil no que se
refere às doenças do aparelho circulatório como primeira causa de morbidade e
mortalidade de idosos, ambos os sexos (Mello Jorge et al., 2008).
Homens
Mulheres
Nos dados e anos em estudo houve uma alteração na ordem de importância das
doenças para a conformação do padrão de morbidade hospitalar dos idosos: as neoplasias
passam para a segunda colocação, seguidas das doenças do aparelho digestivo e, em quarto
39
lugar, as doenças do aparelho respiratório. Ganham maior representatividade, com 7,0
pontos percentuais, as lesões por envenenamentos e outras consequências de causas
externas e, por outro lado, perdem percentuais as doenças do aparelho geniturinário.
Como exposto, também para as mulheres idosas, as doenças do aparelho
circulatório são a principal causa de morbidade hospitalar. Em segundo lugar do ranking,
em 1998 e 2007, encontram-se as doenças do aparelho respiratório. A partir da terceira
posição, o perfil de morbidade hospitalar das idosas apresenta alternâncias de um ano para
o outro, sendo, em 2007, a terceira maior proporção de internações por neoplasias; na
quarta posição, as doenças do aparelho digestivo e as lesões por envenenamentos e outras
consequências de causas externas que, bem como para os idosos, têm maior
representatividade neste último ano. E as doenças infecciosas e parasitárias respondem pela
quinta causa de internação de idosas em 2007.
As taxas de morbidade hospitalar para os triênios selecionados são escritas na
tabela 3. Tratando-se da razão entre a média dos eventos registrados nos três anos e a
população residente com 60 anos ou mais (1999 e 2006), a ordenação das causas básicas
sofre alterações e é apresentada em ordem decrescente para o triênio 2005, 2006 e 2007.
Homens
Mulheres
40
Verifica-se que a primeira causa de internamento de idosos residentes em Montes
Claros/MG, segundo as taxas de morbidade, são as doenças do aparelho circulatório,
condizente com resultados encontrados em outros trabalhos. A ordenação das demais
causas de internações hospitalares do presente estudo difere um pouco daquelas
encontradas pelos referidos autores, ao estudarem outras populações – do Brasil e do
estado do Rio Grande do Sul, respectivamente. Nestes trabalhos, os autores registraram as
doenças do aparelho respiratório como a segunda causa de internamento e as doenças do
aparelho digestivo como a terceira posição no ranking, seguidas pelas neoplasias.
Sobre as internações de ambos os sexos por algumas doenças infecciosas e
parasitárias, a discussão remete à citação de Nunes (2004, p. 429), que também verificou a
presença desse grupo de causa: “Quer dizer, a queda acentuada da mortalidade pelas
doenças infecciosas e parasitárias não é acompanhada de uma redução, na mesma
magnitude, na morbidade por esse grupo de patologias”.
No que se refere às variações observadas tanto no contingente populacional de
idosos, tendo como base os anos de 1999 e 2006, quanto nas taxas de morbidade hospitalar
pela principal causa de internação deste grupo etário, as doenças do aparelho circulatório,
para os triênios apresentados, um exercício simples indica que, para os homens idosos,
houve uma variação de 36,8% na proporção de idosos e 18,4% nas aludidas taxas. Para o
contingente feminino, as variações foram de 35,8% no total de idosas com 60 anos ou mais
e 18,9% no total de internações por patologias do aparelho circulatório.
A análise por sexo ressalta o maior adoecimento dos homens idosos, como também
encontrado por Nunes (2004). Em relação ao total populacional, a proporção das
internações de idosos foi igual 20,7% do total do contingente de homens com 60 anos ou
mais, residentes em Montes Claros/MG. As internações de idosas foram equivalentes a
16,5% da parcela de mulheres nesta faixa de idade. Faz-se necessário registrar que estes
percentuais oferecem uma aproximação da realidade, no entanto, não consideram as
internações de um(a) mesmo(a) idoso(a) repetidas vezes ou transferido(a) – são
computadas as Autorizações de Internação Hospitalar – AIHs, sem registro das
reinternações e transferências. Conforme Nunes:
41
mais que estas. Em outras palavras, podemos afirmar que quanto aos padrões de
morbidade ao envelhecer o homem é o sexo frágil (Nunes, 2004, p. 437).
Mortalidade
42
sintomas para o diagnóstico correto da causa básica do óbito (Mello Jorge et al.,
2008, p. 272).
43
TABELA 4: Mortalidade proporcional por causa básica de óbito segundo a CID-10, da
população com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG, 1996 e 2006 (em %)
Homens
Mulheres
44
TABELA 5: Taxas de mortalidade por causa básica de óbito segundo a CID-10, da população
com 60 anos ou mais, por sexo – Montes Claros/MG, triênios selecionados (por mil)
Homens
Mulheres
45
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
46
contratação, tempo de trabalho, local de trabalho, horário de trabalho, função e renda, entre
outras. Buscou-se ainda levantar aspectos referentes ao motivo da escolha da profissão, as
expectativas após a realização do curso, as dificuldades encontradas no desempenho das
atividades e os sentimentos relacionados a elas.
Perfil
Sexo
47
a presença do trabalho feminino no mercado formal cresceu significativamente em todo o
mundo, provocando alterações significativas na instituição familiar. Ao mesmo tempo,
aumentou o grau de escolaridade entre as mulheres tanto quanto as oportunidades de
melhoria no padrão econômico de vida.
Faixa etária
A idade é um dos principais atributos do indivíduo, par a par com o sexo, pois
define e tem relação direta com a grande maioria das funções e necessidades biológicas e
sociais, como as demandas de saúde e sociais, entre outras (Wong, 2001). Tão importante e
difícil de registro, em algumas populações, remetendo à discussão sobre a valorização do
48
que é novo (Tolotti, 2007). Nesse sentido, optou-se pelo trabalho com a idade agrupada em
intervalos quinquenais – procedimento adotado por órgãos e instituições como IBGE,
Fundação João Pinheiro, Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada – IPEA, Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional – CEDEPLAR/UFMG, etc.
E no âmbito do cuidar, a idade é um aspecto que merece atenção já que a
dependência dos idosos em relação às atividades da vida diária – AVD implica em
demanda de esforço físico daqueles que atuam nessa função.
35
30
25
20 Qualificação
%
15 Sequencial
10
5
0
15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 54
anos ano s ano s ano s ano s anos anos ano s
Faixa etária
49
Raça/Cor
50
Escolaridade
51
relacionamentos interpessoais mais efetivos entre profissional e cliente (Damas,
Munari, Siqueira, 2004, p. 276).
52
Dos ex-alunos do curso Sequencial, também trabalhadores como cuidadores de
idosos, registra-se que a metade é contratada pela CLT e os 50,0% restantes, por contratos
informais e/ou voluntário.
Local de trabalho
A internação dos idosos em asilos, casas de repouso e similares, está sendo posta
em questão até nos países desenvolvidos, onde estes serviços alcançaram níveis
altamente sofisticados de conforto e eficiência. O custo desse modelo e as
dificuldades de sua manutenção estão requerendo medidas mais resolutivas e
menos onerosas. No Brasil é comum, mesmo nas famílias de renda geral mensal
abaixo de dois salários mínimos, que a opção de internar o seu idoso em
instituições asilares ocorra, predominantemente, no limite da capacidade familiar
em oferecer os cuidados necessários (Karsch, 2003, p.865).
As instituições para idosos nasceram como serviços para abrigar velhos pobres,
sendo geralmente vinculadas a instituições religiosas. O surgimento de
instituições, enquanto prestadoras de serviços privados, é um fenômeno
relativamente recente, decorrente das demandas sociais impostas pelo
envelhecimento populacional. Este fato pode explicar também o porquê dos
cuidadores de idosos das instituições filantrópicas possuírem maior tempo de
experiência profissional (Ribeiro et al., 2006, s/p.).
53
Horário e tempo de trabalho
Renda
54
Estes valores são semelhantes aos encontrados por Ribeiro et al. (2008) ao
estudarem os cuidadores de idosos das ILPI’s de Belo Horizonte/MG, cujo salário mensal
variou até 2 salários mínimos.
É sabido que a população idosa cresce em todo o mundo e este crescimento reflete
nos serviços de atenção ao idoso, em alguns casos, demandando mais serviços da sua
55
família, já que a qualidade do cuidado prestado às pessoas com 60 anos ou mais de idade
constitui mais atenção.
O estado biofísico do idoso é um determinante dessa demanda por prestação de
serviços de terceiros. Os respondentes do Curso de Qualificação que trabalham como
cuidadores de idosos citaram, sobre o estado biofísico do(s) idoso(s) com o(s) qual(is)
trabalham: 18,2% responderam que os idosos são independentes; 36,4% afirmaram que os
idosos são parcialmente dependentes e 45,4% trabalham com idosos dependentes.
O estado biofísico do(s) idoso(s) com que trabalham os egressos do Curso
Sequencial: metade é parcialmente dependente e 50,0% dependentes.
56
diárias; realização do banho; respeitar a privacidade do idoso e fazer companhia. Entre
percentuais iguais a 72,7%, 63,6% e 54,5%, podem ser citadas: acompanhar e respeitar o
idoso em sua necessidade espiritual e religiosa; administração de medicamentos;
demonstrar sensibilidade e paciência; mudança de decúbito; prevenir acidentes;
acompanhar o idoso em passeios, viagens e férias; acompanhar o idoso em atividades
sociais e culturais; cuidar da alimentação; lidar com sentimentos negativos e frustrações;
perceber e suprir carências afetivas; desestimular a agressividade do paciente; buscar
informações e orientações técnicas; ajudar nas necessidades fisiológicas; manusear
instrumentos (como: sonda, aparelho pressão, inalador, bolsa térmica, termômetro,
vaporizador, umidificador, etc.); e, observar a qualidade e validade dos alimentos.
Outras atividades desenvolvidas pelos alunos do Curso de Qualificação, cuidadores
de idosos, segundo menos que 50,0% das respostas deles: fazer leituras de jornais, livros e
revistas para o idoso; adaptar-se a diferentes estruturas e padrões familiares e comunitários;
promover adequação ambiental; cuidar da roupa e objetos pessoais; obedecer normas e
estatutos; verificar se a vacina do idoso está em dia e verificar se o idoso está perdendo
líquido.
Saldanha e Caldas (2004, p. 51) afirmam que uma atividade do cuidador de idosos é
“estimular a comunicação com o idoso: conversar, ouvir, valorizar sua linguagem,
fortalecer sua autonomia, atualizá-lo com informações”.
Born (2008, p. 73) comenta que a adaptação a diferentes estruturas e padrões
familiares e comunitários por parte do cuidador de idosos remete ao fato de que o cuidador
“poderá enfrentar situações bastante delicadas e estressantes no exercício de sua função”.
Como por exemplo, a “ausência total dos familiares, por considerarem cumprido seu papel
ao entregarem a pessoa idosa em ‘suas mãos’ pode ocasionar-lhe insegurança e solidão”.
Bem como “a super-proteção da família à pessoa idosa, interferindo no seu trabalho”. Ou
até mesmo quando nas disputas familiares, o cuidador é solicitado a tomar partido ou servir
de “espião” para um dos lados. Outro momento delicado é quando a família,
desconhecendo as obrigações do cuidador, determina que este realize também as tarefas
domésticas, prejudicando e abandonando o cuidado com a pessoa idosa de quem é
responsável.
Segundo o Guia Prático do Cuidador (Brasil, 2008, p. 40), “muitas vezes é
preciso fazer algumas adaptações no ambiente da casa para melhor abrigar a pessoa
cuidada, evitar quedas, facilitar o trabalho do cuidador e permitir que a pessoa possa se
tornar mais independente”. No entanto, algumas atividades cujo objetivo é adaptar o
57
ambiente, são executadas por menos da metade dos referidos cuidadores de idosos (não
cabe aqui discutir os possíveis determinantes deste fato, dada a amplitude da questão).
“Cuidar da roupa e objetos pessoais” e “obedecer a normas e estatutos” foram
também citados como sendo atividades de menos da metade dos cuidadores de idosos.
Contudo, o cuidado com a estética ajuda a melhorar a autoestima do idoso.
Retomando Born (2008), dar sempre à pessoa idosa o direito de escolha da
vestimenta e cuidar da aparência dela (cuidar das unhas, cabelos), são tarefas próprias da
função do cuidador de idosos.
Fazem-se necessários outros estudos como este para elucidar as possíveis
justificativas para a realização das atividades citadas pelos cuidadores abordados por este
diagnóstico, assim como, conhecer as razões de outras tarefas serem preteridas.
Para os egressos do Curso Sequencial as atividades técnico-assistenciais
desenvolvidas como cuidador de idosos, são: administração de medicamentos; estímulo a
autoestima e lucidez do(s) idoso(s). Já as atividades administrativo-gerenciais, citadas na
entrevista por esse grupo de alunos, foram: compras diversas, pagamentos de contas,
agendamento de consultas; acompanhamento no lazer; coordenação de grupos de idosos e
auxílio nas oficinas desenvolvidas por eles; compra de materiais para as respectivas
oficinas; participação em reuniões mensais em instituições mantenedoras dos grupos. Entre
outras atividades como cuidador de idosos, um ex-aluno disse:
“Faço também visitas domiciliares aos idosos pertencentes aos grupos assistidos,
esclarecendo a respeito das leis e do Estatuto do Idoso, e conhecendo de perto
suas necessidades básicas”.
58
Dificuldades encontradas como cuidadores de idosos
59
Aqui parece necessário registrar também que a abordagem do envelhecimento
apenas na perspectiva das demandas biomédicas reais ou potenciais aos serviços
de saúde não esgota o foco analítico necessário para caracterizar o enfoque da
integralidade da saúde. Mesmo na perspectiva das necessidades de saúde,
individuais e coletivas, que esse contexto traz, é insuficiente analisar apenas as
doenças comuns no envelhecer ou mesmo os fatores de risco. Há um conjunto de
singularidades no processo de envelhecimento que transcende o adoecimento e
afirma a produção de saúde, abordagens que fogem da lógica positivista do
conhecimento biomédico e inserem-se num plano de complexidade mais
próximo dos novos paradigmas epistemológicos (Ferla et al., 2007, p. 83).
“Porque tenho aptidão para realizar essas atividades e me sinto útil no que
faço”.
“Sempre usei a empatia e me sinto feliz ao proporcionar aos outros o que gostaria
que fizessem comigo”.
“Eu amo o que faço... sou ligada demais nas minhas idosas e é um pouco de
mim...”.
“Me sinto realizado... para ser humano melhor... é gratificante você ajudar e
receber um obrigado acompanhado de um sorriso sincero!”
60
“Me sinto útil ao proporcionar ao outro conforto e bem estar!”
As expectativas
61
A relação entre teoria e prática
Buscou-se conhecer se o que foi ministrado nos cursos tem relação com a prática
profissional como cuidadores de idosos. Os alunos do Curso de Qualificação, cuidadores
de idosos, responderam “parte do que estou aprendendo no curso é igual ao que pratico no
meu trabalho” (63,6%) e “o que estou aprendendo no curso é igual ao que pratico no meu
trabalho” (27,3%). E 9,1% não responderam.
Como também os ex-alunos do Curso Sequencial: metade respondeu “o aprendido é
congruente com o que pratico no meu trabalho” e os demais responderam que “parte do
que aprendi é congruente com o que pratico no trabalho”.
62
A avaliação do curso, de acordo com os alunos
63
QUADRO 2: Opinião dos discentes sobre os processos de formação para cuidadores de
idosos, Montes Claros/MG, 2009
Conceitos (em %)
Item avaliado Não
Ótimo Bom Regular Ruim Respondeu
64
responderam que o curso realizado proporcionou novos conhecimentos sobre o assunto e
13,8% não responderam.
Troca de experiências:
Curso Sequencial: o curso ofereceu oportunidades de troca de experiências e
conhecimentos entre 92,3% dos participantes. E do Curso de Qualificação, houve troca de
experiência para os 100,0% dos alunos.
65
Por último, foi permitido que o aluno deixasse sua sugestão ou qualquer outra
opinião, reclamação; enfim, um espaço aberto para se expressar. Dentre estas, escritas ou
faladas, são registradas a seguir algumas, na forma exata que foram expressas. Dos alunos
do Curso Sequencial:
“O curso deveria ser gratuito, o tempo de duração deveria ser maior, pois as
disciplinas eram muito interessantes e o tempo era curto para usufruir das
informações passadas, a universidade deveria ter dado espaço (abrir editais) a nós
cuidadores, para fazermos parte do centro de referência para pessoas idosas”.
66
“O curso nos proporcionou uma motivação muito grande, mas depois não superou
nossa expectativa”.
“O tempo curto, corrido, algumas coisas a desejar, o estágio foi ótimo, a demora
de contratação de professores, os professores bem capacitados e dedicados, alguns
alunos não querem nada com nada, só mesmo o diploma”.
“Por ser a primeira achei um descaso muito grande, no início, o local de trabalho
era no centro de referência do idoso, éramos a menina dos olhos, hoje os
cuidadores foram esquecidos, sem nenhuma expectativa de trabalho”.
“Aumentar a carga horária para 4 horários por dia, aumentar mais o tempo de
estágio no asilo...”
67
“Como temos um novo centro de idosos abrindo, nos dessem oportunidades para
quem realizou o curso e sim os que passaram no concurso terão que aperfeiçoar
em cuidador de idosos, porque não nós?”
“Deverá ser passado em maior espaço de tempo, pessoas mais capacitadas para
monitorar a televisão e o DVD”.
“Eu acho que poderia melhorar o curso, deveria ser mais tempo para aprofundar
mais, foi muito bom para melhorar, lutar e nos comunicar para fazermos...”
“Gostei muito do curso, mas gostaria que a carga horária com apenas um
professor, para ocupar 3 horários consecutivos é desgastante e cansativo!”
“Não colocar dois horários seguidos do mesmo professor, a aula fica muito
cansativa!”
“Os horários deveriam ser intercalados. Três horários com o mesmo professor é
muito cansativo. A sala de secretária onde fica a coordenação do curso, deixou
68
muito a desejar no final. Lá está afixado um horário de funcionamento: 18:30h às
22:30h. No final ninguém encontrava a coordenadora ou a secretária...”
“Os recursos audiovisuais devem ser melhorados e o horário para pessoas que
trabalham deviam ser flexíveis. Nada é tão bom que não possa ser melhorado!”
“Gostaria que a escola continuase [sic] com esses cursos e sempre fazendo
reciclagem com novidades em técnicas e maneira para que eu posso prestar
melhor trabalho com o idoso”.
“Gostaria que o curso cuidador de idoso fosse reconhecido pelo órgão, tipo
COREN”.
“Não estou trabalhando mas ajudo a cuidar de minha sogra, mãe e pai que são
idosos”.
69
“Para mim, que não sou auxiliar e nem cuidador, o curso foi de grande proveito.
Aprendi muito e pretendo colocar tudo em prática. No final curso não gostei, não
sei se porque conteúdo acabou, o nível das aulas caiu”.
“Quando colocar um idoso nestes lugares vai vizita-lo [sic] não deixe ele
abandonado”.
70
interdisciplinar. Conforme afirmam Motta, Caldas e Assis (2008), a interdisciplinaridade é
estratégia principal para a construção e aplicação de conhecimentos da Gerontologia, pois
esta área envolve a integração de vários aspectos para a compreensão do envelhecimento.
A ligação com a busca pela integralidade também é outro fator que demonstra a relevância
da equipe interdisciplinar.
Sobre o aluno
“Com relação aos meus alunos, 80% deles já tinham experiência com cuidados
aos idosos, pois além do curso de formação de cuidadores, eram técnicos de
enfermagem”.
“Com o passar do curso foi percebido um crescimento muito grande dos alunos,
principalmente nas dúvidas esclarecidas e na possibilidade da conciliação teoria e
prática”.
71
“Os alunos que fizeram o curso com o objetivo de aprender e não apenas de
receber o certificado, conseguiram assimilar o conhecimento necessário, levando
em consideração o empenho dos professores em executar as disciplinas com
vídeos, trabalhos e palestras com profissionais da área”.
72
ingresso do cuidador no mercado de trabalho, por isso acredito que uma maior
ampliação dos conteúdos trabalhados durante o curso, valorizariam mais este
profissional e o tornaria mais adequado ao mercado de trabalho”.
Sobre o curso
Conceitos (em %)
Item avaliado Não
Ótimo Bom Regular Ruim Respondeu
Conteúdo programático 100 - - - -
Carga horária 11 78 11 - -
Estágio 67 11 - - 22
Outros ambientes de aprendizagem 11 45 22 - 22
Material didático 11 45 44 - -
Audiovisuais 22 34 33 11 -
Biblioteca 11 33 34 22 -
Sala de aula 33 67 - - -
Atendimento a sua expectativa 33 56 11 - -
Alunos 22 45 33 - -
Fonte: Trabalho de campo, 2008/2009.
No que se refere à carga horária dos cursos, para 67% dos professores abordados é
considerada como suficiente para uma formação de qualidade. Não obstante, cabe aqui
colocar algumas observações que foram levantadas entre os docentes que consideram a
carga horária insuficiente:
73
“Os conteúdos trabalhados foram de acordo com as necessidades de
conhecimentos do cuidador de idosos no desenvolver de suas atividades e
despertam o interesse dos alunos, entretanto, ressalta-se que com maior tempo
disponível, os assuntos poderiam ser mais trabalhados e melhor assimilados”.
A disciplina trabalhada foi considerada por 100% dos professores de acordo com a
demanda para a formação dos cuidadores de idosos; ao avaliarem sobre a coerência entre
os propósitos das ementas que constituíam as disciplinas trabalhadas, 78% dos professores
afirmaram que a relação com os objetivos do curso está ótima, enquanto 22% responderam
bom; as repostas demonstram que as disciplinas trabalhadas estão interligadas aos
objetivos do curso, já que não houve resposta para regular ou ruim.
Ao expressarem suas percepções sobre a relação do conteúdo estudado com a
prática profissional, ou seja, com as necessidades dos serviços, todos os professores
entrevistados afirmam que existe esta relação. Segundo 89% dos docentes o processo de
formação contemplava, além das disciplinas teóricas, atividades práticas relacionadas aos
objetivos da formação para cuidadores de idosos.
Os docentes foram unânimes ao responderem sobre as oportunidades estabelecidas
aos alunos durante o processo de formação, que permitiram a troca de experiência e
conhecimento, visando o enriquecimento do trabalho como cuidador. Ao serem
questionados sobre a presença de metodologias que objetivassem a integração
ensino/serviço ou teoria/prática, 100% dos professores responderam que é possível afirmar
que houve tal integração. Esse consenso demonstra que o trabalho desenvolvido durante o
processo de formação buscou não limitar aos conhecimentos dos professores, não estava
centrada na figura do professor ou apenas em teoria, mas buscou-se desenvolver uma
prática dialógica, indo além de questões instrumentais, comprometida com reflexão
contextualizada das experiências vivenciadas por cada aluno/profissional e a teoria
trabalhada.
De acordo com Candau (1994), o processo ensino-aprendizagem possui três
dimensões: a humana, a técnica e a política, que se complementam e não se contrapõem, e
no centro situa-se a temática trabalhada. A autora considera um desafio superar uma visão
74
reducionista ou justaposta da relação entre as três dimensões e seguir em direção a uma
articulação entre elas, pois a mútua implicação não se efetiva automaticamente.
Sobre a dimensão político-social, cabe destacar:
“Os conteúdos teóricos foram trabalhados à luz da experiência prática com casos
clínicos trazidos à aprendizagem; as disciplinas contemplaram a formação
interdisciplinar demandada pela área de Gerontologia e Geriatria”.
75
sugestões para a melhoria dos processos de formação para cuidadores de idosos estão:
aumento de carga horária; realização de capacitação pedagógica para os professores, uma
vez que os profissionais não possuem formação específica para o exercício da docência;
aumento do acervo da bibliografia direcionado às áreas temáticas de cada disciplina.
Nesse sentido, é importante trazer para o debate o papel das políticas públicas para
a formação e educação permanente; conforme afirma Germano et al. (2007), é fundamental
pensar em investimentos em educação que busque a interdisciplinaridade, a articulação
entre educação/saúde/trabalho, a superação de práticas flexinerianas e o incentivo à
inclusão de dimensões éticas e humanas.
76
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
77
Preocupados com essa nova realidade, a UNIMONTES, em parceria com a
FADENOR, ofereceu o Curso Superior de Formação Específica – Sequencial Cuidador de
Idoso, em 2006 e 2007, auto-financiado.
A Escola Técnica de Saúde da UNIMONTES, em 2008, também por meio de
parceria com o Ministério da Saúde, foi uma das seis ETSUS que ministrou o Curso de
Qualificação do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência, ratificando o
reconhecimento da importância da qualificação desses profissionais.
Conforme Brasil (2007), fica definido como resultado esperado validar o perfil
profissional do Cuidador de Pessoas Idosas com Dependência, apoiar em todas as ETSUS
outras iniciativas para esta qualificação, aumentando o número de pessoas qualificadas
para desenvolver o trabalho do cuidar de pessoas idosas, e assim consequentemente
contribuir com a melhoria da qualidade de vida destas pessoas, estabelecendo de fato uma
ação de promoção da saúde. Ainda, elaborar estratégias pedagógicas e gerenciais para
novas políticas para o atendimento desta necessidade.
78
Em se tratando do perfil de morbi-mortalidade dos idosos residentes no município
de Montes Claros/MG, registra-se um padrão conformado por doenças crônico-
degenerativas, em ordem, as doenças do aparelho circulatório, neoplasias, doenças do
aparelho respiratório e do aparelho digestivo. Faz-se indispensável citar a premente
necessidade de melhoria dos dados de mortalidade, haja vista os percentuais de óbitos
classificados no grande grupo de “causas mal definidas”.
Sobre os alunos dos cursos analisados, as informações ressaltam a importância das
mulheres nas atividades do cuidado e denotam o interesse de jovens para este novo
trabalho (novo no sentido de maior procura em decorrência do envelhecimento
populacional em curso e do advento dos processos de formação). A raça/cor predominante
é a parda, em consonância com outros resultados referentes a essa variável.
Do total dos alunos abordados, 15,4% e 34,4% dos Cursos Sequencial e de
Qualificação, respectivamente, trabalham como cuidadores de idosos; (a maioria) cuida de
idosos dependentes; são contratados pela CLT e estão em exercício nos asilos; e os salários
predominantes são de 1 a 2 salários mínimos. A escolha da profissão fundamenta-se na
vocação e no mercado crescente. No que diz respeito às atividades desenvolvidas como
cuidadores de idosos, observa-se uma gama enorme de tarefas, para além das integrantes
das atividades da vida diária – AVD e das atividades instrumentais da vida diária – AIVD.
Em decorrência, as dificuldades mesclam desde a dificuldade de lidar com perdas e morte
e falta de apoio da família, até ações que exigem maior qualificação, como administração
de medicamentos.
Essas informações, somadas à baixa inserção dos alunos egressos desses cursos,
como também aos salários percebidos, à discussão sobre o limite de ação dos cuidadores
de idosos, à falta de reconhecimento da profissão e às exigências da profissão, ressaltam a
necessidade de se colocar na pauta dos debates o tema, instigando a elaboração de políticas
públicas que busquem contemplar as diversas dimensões anunciadas.
Na perspectiva dos docentes, nos processos de formação para cuidadores de idosos
destaca-se que a prática pedagógica buscou ir além dos conhecimentos técnico/teóricos;
pois ao serem questionados sobre a presença de metodologias que objetivassem a
integração ensino/serviço ou teoria/prática, 100% dos professores responderam que é
possível afirmar que houve tal integração. Esse dado é um indicador que o trabalho
desenvolvido durante o processo de formação buscou não limitar aos conhecimentos dos
professores, apenas em teoria, mas buscou-se desenvolver uma prática dialógica, indo além
79
de questões instrumentais, comprometida com reflexão contextualizada das experiências
vivenciadas por cada aluno/profissional e a teoria trabalhada.
O perfil de escolaridade da equipe de docentes que integrou o processo de formação
do cuidador de pessoas idosas demonstra a busca por um trabalho interdisciplinar.
Conforme afirmam Motta, Caldas e Assis (2008), a interdisciplinaridade é estratégia
principal para a construção e aplicação de conhecimentos da Gerontologia, pois esta área
envolve a integração de vários aspectos para a compreensão do envelhecimento. A ligação
com a busca pela integralidade também é outro fator que denota a relevância da equipe ser
interdisciplinar.
Na visão dos discentes, o curso proporcionou novos conhecimentos e motivou a
reflexão e mudanças de alguns conceitos e pontos de vista, para aproximadamente a
totalidade dos alunos de ambos os cursos. O curso permitiu a troca de experiências, e as
disciplinas foram coerentes com os objetivos da formação. A avaliação dos professores, na
perspectiva dos alunos, foi positiva, oscilando entre as categorias “ótimo” e “bom”.
Ressalta-se que, em alguns quesitos, a avaliação dos alunos do Curso Sequencial foi mais
crítica, no sentido de apresentar maior variabilidade de respostas.
A despeito da avaliação positiva dos dois cursos e nas percepções dos alunos e
professores, há que se investir na revisão das respectivas propostas de formação à luz das
sugestões/críticas coletadas neste diagnóstico, no sentido da fala de um aluno do Curso de
Qualificação:
80
8. REFERÊNCIAS
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