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SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD


Sociologia da Religião – Prof. Dr. Vitor Barletta Machado.

Meu nome é Vitor Barlletta Machado. Sou graduado


(Bacharelado e Licenciatura) em Ciências Sociais pela Unicamp,
mestre em Sociologia pela USP e doutor na mesma área pela
Unicamp. As questões sociais históricas de nosso país são o
centro de minhas atividades de docência e de pesquisa. Atuo
como professor desde 1998, com alunos de diferentes faixas
etárias, buscando sempre o desenvolvimento de um ensino
reflexivo, crítico e propositivo, pontos esses que também me
nortearam na elaboração deste material.
e-mail: vitorbmach@yahoo.com.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Vitor Barletta Machado

SOCIOLOGIA DA RELIGIÃO

Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013

305.6 M129s

Machado, Vitor Barleta


Sociologia da religião / Vitor Barleta Machado – Batatais, SP : Claretiano,
2013.
116 p.

ISBN: 978-85-8377-095-4

1. Pensamento sociológico. 2. Formação. 3. Autores fundadores.


4. Fenômeno religioso. 5. Realidade religiosa. I. Sociologia da religião.

CDD 305.6

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.

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SUMÁRIO

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9
2 ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO .......................................................................... 11
3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 20

Unidade 1 – MARX: RELIGIÃO E ESTRUTURAS DE DOMINAÇÃO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 21
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 21
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 22
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 23
5 BREVE REFLEXÃO SOBRE A OBRA DE MARX................................................... 23
6 A RELIGIÃO E SUAS ILUSÕES............................................................................ 27
7 GRAMSCI, UMA VERTENTE DO MARXISMO ................................................... 30
8 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 35
9 CONSIDERAÇÕES............................................................................................... 36
10 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 37
11 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 37

Unidade 2 – DURKHEIM: O FATO SOCIAL RELIGIOSO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 39
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 39
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 40
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 40
5 A CIÊNCIA DOS FATOS SOCIAIS........................................................................ 41
6 RELIGIÃO COMO FATO SOCIAL......................................................................... 47
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 51
8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 52
9 E- REFERÊNCIA................................................................................................... 52
10 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 52

Unidade 3 – WEBER: RACIONALIDADE E ESFERA RELIGIOSA


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 55
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 55
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 55
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 56
5 MAX WEBER....................................................................................................... 56
6 TIPO IDEAL ........................................................................................................ 57
7 TIPOLOGIA DA RELIGIÃO.................................................................................. 61
8 A ÉTICA PROTESTANTE E O “ESPÍRITO” DO CAPITALISMO............................ 62
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 73
10 C ONSIDERAÇÕES............................................................................................... 74
11 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 74

Unidade 4 – ELIADE: O SAGRADO, O PROFANO E OS MITOS


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 75
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 75
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 75
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 76
5 RELAÇÕES ENTRE O SAGRADO E O PROFANO................................................ 77
6 A FORÇA DOS MITOS......................................................................................... 82
7 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 86
8 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 87
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 87

Unidade 5 – BERGER: ESTRUTURAÇÃO DO CONCEITO DE MERCADO


RELIGIOSO
1 OBJETIVOS......................................................................................................... 89
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 89
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 90
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 90
5 VIDA E OBRA DE PETER L. BERGER.................................................................. 90
6 EMPREENDIMENTO HUMANO DA RELIGIÃO................................................. 91
7 FORMA DE DOMINAÇÃO.................................................................................. 93
8 CONCEITO DE MERCADO RELIGIOSO.............................................................. 95
9 QUESTIONAMENTOS AO MERCADO RELIGIOSO............................................ 97
10 Q UESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 100
11 C ONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 101
12 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 101

Unidade 6 – BOURDIEU: DEFINIÇÃO DO CAMPO RELIGIOSO


1 OBJETIVOS......................................................................................................... 103
2 CONTEÚDOS...................................................................................................... 103
3 ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE................................................ 104
4 INTRODUÇÃO À UNIDADE................................................................................ 104
5 A LINGUAGEM RELIGIOSA................................................................................ 105
6 A RELIGIÃO COMO UMA FORMA DE LUTA POLÍTICA..................................... 107
7 ESTRUTURADA E ESTRUTURANTE................................................................... 110
8 O CAMPO RELIGIOSO E O PAPEL DO CIENTISTA SOCIAL............................... 111
9 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 113
10 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 114
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 115
12 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 115
13 R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 115
Claretiano - Centro Universitário
EAD
Caderno de
Referência de
Conteúdo

CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Pensamento sociológico: formação e autores fundadores. Fenômeno religioso
com base na "imaginação sociológica" (Mills). Principais categorias e a realidade
religiosa nacional e internacional e suas constantes transformações.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

1. INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo ao estudo de Sociologia da Religião, disponi-
bilizada para você em ambiente virtual, na modalidade Educação
a Distância.
No Caderno de Referência de Conteúdo, você encontrará um
panorama geral das pesquisas realizadas em Sociologia, tendo por
temática a religião.
Você terá a oportunidade de refletir sobre alguns aspectos
da obra de autores que são essenciais no estudo científico das re-
ligiões, os quais exercem grande influência até os dias de hoje nas
novas gerações de pesquisadores.
Estudaremos as reflexões sobre a religião elaboradas por
Marx, Durkheim, Weber, Eliade, Berger e Bourdieu.
Começando por Marx, veremos as bases da sua metodolo-
gia, o materialismo histórico dialético, mostrando como a teoria
10 © Sociologia da Religião

desenvolvida por esse autor reflete a questão de religião como


uma forma de dominação e ordenação da sociedade.
Ao apresentarmos a metodologia sociológica de Durkheim,
dos fatos sociais, poderemos desenvolver a compreensão de como
esse autor define a religião e a sua função na sociedade.
Apresentaremos, então, a metodologia do tipo ideal desen-
volvida por Weber, analisando, assim, as diferentes contribuições
do autor para o estudo daquilo que denominou como esfera re-
ligiosa, passando pela análise das relações históricas entre o de-
senvolvimento da religiosidade calvinista e o avanço da sociedade
capitalista.
Em Eliade, analisaremos alguns dos conceitos fundamentais
elaborados e discutidos pelo autor, refletindo sobre os mitos e as
relações entre o sagrado e o profano, percebendo a importância
de ambos para o estudo da Sociologia da Religião.
Veremos, também, as diferentes contribuições de Berger
para a análise do fenômeno religioso na contemporaneidade, con-
centrando-nos na compreensão da noção de mercado religioso.
Terminaremos discutindo a maneira pela qual Bourdieu
procura unificar as contribuições dos três clássicos da Sociologia
(Marx, Durkheim e Weber), na análise das religiões, apresentando
o conceito de campo religioso elaborado pelo autor e, ainda, ex-
tremamente influente.
Não estaremos esgotando a obra de nenhum desses auto-
res, mas esperamos que você possa, ao final do curso, prosseguir
aprofundando seus estudos na área da Sociologia da Religião.
Bom estudo!
© Caderno de Referência de Conteúdo 11

2. ORIENTAÇÕES PARA ESTUDO


Abordagem Geral
Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais
deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de
aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse
modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento
básico necessário a partir do qual você possa construir um refe-
rencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que, no
futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competência
cognitiva, ética e responsabilidade social.
Na Unidade 1, nosso estudo inicia-se pela abordagem de al-
guns aspectos da obra de Karl Marx, um autor que, ainda hoje,
exerce grande influência no pensamento social. Elaborador de
uma extensa reflexão de cunho sociológico, filosófico, histórico
e econômico, o nome de Marx é mais frequentemente lembrado
por sua participação ativa na construção do movimento socialista.
É em seu trabalho que revoluções como a ocorrida na Rússia em
1917, na China em 1949 e em Cuba em 1959 se inspiraram. Por sua
vinculação com movimentos de ideologia socialista-comunista, a
reflexão de Marx sobre a religião aparece normalmente associada
com a posição ateia e antirreligiosa que marca a maioria desses re-
gimes, como se toda sua obra pudesse ser resumida em uma luta
contra a religião. Ao longo dessa unidade, teremos a oportunidade
de perceber que existe muito mais na análise marxista além da te-
oria revolucionária. Deve-se prestar especial atenção ao conceito
de luta de classes, que abarca mais do que a noção de um conflito
entre grupos com interesses opostos. Toda crítica marxista sobre
a religião é feita dentro da sua crítica ao sistema capitalista, que
seria fundado no estabelecimento e reprodução da desigualdade
e da exploração do homem pelo homem. A religião é criticada em
tal contexto do mesmo modo que todas as demais estruturas da
sociedade capitalista, mas Marx também reconhece o papel e o

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12 © Sociologia da Religião

potencial das religiões na vida individual. Tal reconhecimento tam-


bém transparece na obra de Gramsci, autor marxista que será dis-
cutido na primeira unidade.
A abordagem da Unidade 2 é distinta da anterior. Ao discutir-
mos o pensamento de Durkheim sobre a religião, veremos o traba-
lho de um autor que se preocupava profundamente com o status
científico da Sociologia. Foi ele quem estabeleceu a Sociologia no
universo acadêmico, conferindo-lhe uma metodologia específica.
Toda análise de Durkheim sobre o fenômeno religioso se funda
em tal metodologia, que é instituída no conceito-chave de "fato
social". A religião é vista como possuidora de uma função social,
sendo, portanto, constituidora da própria estrutura da sociedade.
Será necessário observar tal elemento com bastante cuidado em
seu estudo.
A Unidade 3, que trata da obra de Weber, apresenta o último
dos autores clássicos considerados os fundadores da Sociologia. O
trabalho de Weber desenvolve uma metodologia que se afasta de
qualquer aproximação com elementos do Positivismo e paralelos
com as ciências naturais, que ainda podem ser encontrados nos
trabalhos de nossos dois primeiros autores. Ele procura entender
as relações de sentido entre os fenômenos sociais, a maneira como
elas estabelecem e desenvolvem processos racionais ao longo da
História, mas esses não são processos inertes, que ocorrem com
um rumo certo. Weber entende que a sociedade é absolutamente
dinâmica e que, portanto, qualquer teoria feita sobre ela terá vali-
dade determinada. Será sempre necessário continuar pesquisan-
do para entender os novos rumos tomados pelo processo social. A
interpretação do fenômeno religioso por Weber segue tal lógica,
preocupando-se, o autor, em definir os processos de desenvolvi-
mento das formas de racionalidade religiosa.
O trabalho de Eliade, tratado na Unidade 4, procurou enten-
der o significado da experiência religiosa na perspectiva do fiel. A
© Caderno de Referência de Conteúdo 13

distinção feita pelo autor entre o sagrado e o profano é fundamen-


tal para compreender exatamente como é a visão de mundo do
homem religioso. É na mesma perspectiva que devemos entender
sua descrição sobre a função dos mitos nas sociedades. Seu tra-
balho é importante por ressaltar justamente a particularidade do
olhar do homem religioso para o mundo que o cerca, afirmando
que o sagrado possui uma realidade que não pode ser reduzida a
nenhuma outra.
Sendo realmente verdadeira a afirmação de Eliade sobre a
experiência religiosa e sua irredutibilidade, também é precisa e
acurada a análise que discute o conceito de mercado religioso,
que aqui trataremos por meio da obra de Peter Berger. Retomando
alguns princípios fundamentais e clássicos da análise da religião,
muitos dos quais discutiremos nas primeiras unidades, Berger res-
salta a religião fundamentalmente como um empreendimento hu-
mano que esteve associado, ao longo da História, com diferentes
formas de dominação. O conceito de mercado religioso surge, para
Berger, exatamente quando as instituições que cuidam da religião
perdem sua vinculação com o Estado, já não podendo contar com
sua proteção e necessitando competir pela captação de fiéis. Ve-
remos que, mesmo possuindo limitações, tal conceito ainda é de
grande relevância para interpretar a vida religiosa na atualidade.
Nosso estudo termina com a unidade que apresenta algu-
mas das reflexões de Bourdieu sobre a definição do campo reli-
gioso. O autor faz um resgate das teorias clássicas da Sociologia,
procurando uma forma de integrá-las em uma análise que reúna
as contribuições de cada uma. Bourdieu propõe a compreensão da
religião como uma forma de linguagem, participando, portanto, da
comunicação entre os homens, dando sentido ao mundo e sendo
moldada por ele.
É importante que você mantenha, ao longo do curso, a pers-
pectiva de que analisar cientificamente a religião não significa lu-

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14 © Sociologia da Religião

tar pelo seu desaparecimento ou mesmo pelo seu fortalecimento.


A maior lição a ser aprendida com todos esses autores e os muitos
outros que trabalham na Sociologia da Religião é justamente como
decifrar os diversos aspectos desse fenômeno social, que, por ser
multifacetado, permite diversas interpretações que, mesmo sendo
distintas, podem se complementar.

Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados em Sociologia da Religião. Veja, a
seguir, a definição dos principais conceitos:
1) Campo religioso: conceito de Bourdieu que remete ao
espaço social, no qual as religiões ainda permanecem
tendo relevância na definição do sentido do mundo.
2) Fato social: conceito da teoria de Durkheim que indica
aqueles fenômenos que devem sua existência exclusiva-
mente à sociedade. Foi criado pelo autor para separar o
objeto de estudo da Sociologia das demais ciências.
3) Mercado religioso: espaço de competição entre as insti-
tuições religiosas pela adesão dos fiéis.
4) Positivismo: teoria que tem, entre seus principais no-
mes, August Comte, que definiu as bases desse sistema
de pensamento e análise social. Tem por base a chamada
"Lei dos Três Estados", a qual propõe que, primeiramen-
te, os homens interpretavam o mundo pela visão religio-
sa, passando pela metafísica e, finalmente, chegando à
razão (identificada diretamente com o desenvolvimento
da ciência). Acreditavam que somente o pensamento
científico, racional, seria capaz de gerar desenvolvimen-
to, ou seja, a evolução da sociedade em direção a uma
ordem mais estável.
5) Sagrado/Profano: os conceitos são diretamente opos-
tos e, portanto, complementares. O sagrado representa
o espaço onde o divino está presente, onde ele se ma-
© Caderno de Referência de Conteúdo 15

nifesta, do qual o fiel somente pode se aproximar após


cumprir certos rituais de purificação. Retirando aquilo
que é sagrado, todos os demais espaços são profanos,
relacionados às coisas dos homens, e não dos deuses.
6) Secularização: refere-se ao processo por meio do qual a
religião estaria em declínio no mundo, sendo substituída
pelas explicações científicas tidas como mais racionais.
7) Socialismo-comunismo: as diferentes teorias socialistas
e comunistas giram em torno das críticas à ordem so-
cial vigente, fundada no capital, defendo a recriação da
sociedade em novas bases, almejando uma situação em
que cada pessoa possa contribuir para o todo, de acor-
do com as suas capacidades, mas receba de acordo com
as suas necessidades. Normalmente, compreende-se o
socialismo como uma etapa inicial, preparatória, para a
construção do comunismo.
8) Tipo ideal: na metodologia weberiana, o tipo ideal é uma
construção teórica feita pelo pesquisador para construir
modelos de parcelas da realidade social, que servem so-
mente para realizar a análise dos seus fenômenos, não
devendo ser confundidos com a própria realidade.

Esquema dos Conceitos-chave


Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais
importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um
Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você
mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o
seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o
seu conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas
próprias percepções.
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de
ensino.

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16 © Sociologia da Religião

Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-


-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem.
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda,
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim,
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados.
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010).
© Caderno de Referência de Conteúdo 17

Materialismo
Fato social Tipo Ideal
Histórico
Dialético

Dominação Religião Processo de


Racionalização

Capitalismo Função
Social Secularização

Socialismo Linguagem Campo


Comunismo Religiosa Religioso

Mercado
Religioso

Sagrado
Mitos
X
Profano

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave do Caderno de Referência de Conteúdo Sociologia


da Religião.

Como pode observar, esse Esquema oferece a você, como


dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, será possível transitar en-
tre os principais conceitos e descobrir o caminho para construir
o seu processo de ensino-aprendizagem. Veja, como exemplo, o
conceito de mercado religioso de Berger, que aparece relaciona-
do a uma noção de dominação e vinculado ao desenvolvimento
do capitalismo, mas sem desembocar em uma proposta socialista
ou comunista, conforme ocorre com a teoria marxista, ao mesmo
tempo em que é também influenciado pela noção weberiana de
secularização.

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18 © Sociologia da Religião

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de


aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD,
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento.

Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las com as discussões de sociologia da religião pode ser
uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, median-
te a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você
estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa.
Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus
conhecimentos e adquirir uma formação sólida para a sua prática
profissional.

Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.

Figuras (ilustrações, quadros...)


Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o con-
ceitual faz parte de uma boa formação intelectual.
© Caderno de Referência de Conteúdo 19

Dicas (motivacionais)
Este estudo convida você a olhar, de forma mais apurada,
a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e
científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta
a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

Claretiano - Centro Universitário


20 © Sociologia da Religião

Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a


este Caderno de Referência de Conteúdo, entre em contato com
seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGER, P. O dossel sagrado – elementos para uma teoria sociológica da religião. 2. ed.
São Paulo: Paulus, 1985.
BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo: Nacional, 1978.
ELIADE, M. Mito e realidade. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
______. O sagrado e o profano – a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes,
1992.
MARX, K. Crítica da filosofia do direito de Hegel – introdução. In: TEMAS II. [S.l.]: Grijalbo,
1977. p. 1-14.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Cia das Letras,
2004.
EAD
Marx: Religião e
Estruturas de
Dominação
1
1. OBJETIVOS
• Identificar e interpretar a luta de classes: motor da His-
tória.
• Reconhecer e analisar a religião e suas ilusões.
• Analisar e compreender os conceitos introdutórios rela-
cionados à crítica da filosofia do direito de Hegel.
• Reconhecer e interpretar a vertente do marxismo de Gramsci.

2. CONTEÚDOS
• Luta de classes: motor da História.
• Religião e suas ilusões.
• Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel.
• Uma vertente do marxismo: Gramsci.
22 © Sociologia da Religião

3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE


Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que
você leia as orientações a seguir:
1) Amplie seus conhecimentos sobre o materialismo histó-
rico dialético. Para tanto, leia as obras referenciadas ao
término desta unidade ou consulte no site de busca de
sua preferência, utilizando as seguintes palavras-chave:
"materialismo", "histórico" e "dialético". Ao término de
sua pesquisa, procure refletir sobre o quão controversa
é a discussão sobre esse tema.
2) Lembre-se de anotar suas reflexões em seu caderno ou
no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser
úteis na elaboração de sua monografia. Temos condi-
ções, agora, de deixar claro o título do primeiro assunto
desta unidade: o motor da História é a luta de classes.
Na leitura feita por Marx do processo histórico, aparece
a visualização de um processo contínuo de luta entre o
possuidor e o possuído, o dominante e o dominado, com
muitas variações de nomenclatura: patrícios e plebeus;
senhores feudais e servos. No capitalismo, a oposição
mantinha-se entre burgueses e proletários.
3) Não se esqueça de que este material é apenas um refe-
rencial para seu estudo em Sociologia da Religião. Reco-
mendamos que você se remeta às obras indicadas para
conhecer a fundo como o autor apresenta seus princí-
pios. Podemos pensar em um exemplo de tal reação ins-
titucional, com base no caso da Teologia da Libertação
na América Latina.
4) Sabemos que pesquisar e estudar são hábitos que preci-
sam ser criados. Assim como qualquer outra habilidade,
no início, ler e estudar precisam ser atividades realizadas
com dedicação e esforço, até que se adquira gosto e se
torne uma tarefa cotidiana comum. Pesquise! Assuma
esse compromisso e se policie!
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 23

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade, você será convidado a conhecer e a refletir
sobre as ideias marxistas. Para tanto, procure responder às seguin-
tes questões: quais eram as características históricas do período
em que viveu Marx? Como ele classificava e compreendia a distri-
buição de trabalhos e de classes?
Além de responder a essas questões, teremos, ainda, a opor-
tunidade de estudar a religião e suas ilusões, os conceitos intro-
dutórios relacionados à crítica da filosofia do direito de Hegel e à
vertente do marxismo de Gramsci.
Segundo Marx, a religião tem uma forte influência na vida de
determinadas classes sociais. Vamos investigar?

5. BREVE REFLEXÃO SOBRE A OBRA DE MARX


Para iniciar nosso estudo sobre Marx, vejamos algumas crí-
ticas à sua obra:
• Sua obra é criticada e qualificada como superada, mas
tal fato normalmente ocorre sem que as pessoas efetiva-
mente conheçam o que ele escreveu!
• Seus críticos atribuem a ele a culpa pelo fracasso dos Es-
tados que adotaram o chamado "socialismo real". No en-
tanto, ele nunca chegou a ocupar um cargo em qualquer
governo revolucionário, e sua teoria nunca chegou a ser
integralmente aplicada, tendo falecido antes de qualquer
tentativa efetiva de revolução socialista.
Não há maneira melhor de tentar vencer uma disputa teórica
do que procurar desqualificar o oponente, ainda mais quando este é
extremamente preparado. Desqualificando o seu opositor, a pessoa
procura ganhar o debate sem ter necessidade de efetivamente pro-
var seus próprios pontos: o objetivo é tornar-se vencedor, tentando
mostrar que o adversário não é tão capacitado quanto a pessoa que
o critica. Desse modo, foge-se do verdadeiro debate.

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24 © Sociologia da Religião

Poucos pensadores na história da humanidade possuem a


densidade de Karl Marx. Sua obra teórica é muito maior do que
seus discursos políticos. Assim, antes de ser um revolucionário, de
defender a transformação radical da nossa sociedade, ele era um
intelectual. Para entrarmos na discussão proposta por Marx acerca
da religião, vamos refletir sobre os aspectos gerais da sua teoria.

O motor da História é a luta de classes


A teoria elaborada por Marx é chamada de materialismo
histórico dialético. Para entendê-la, precisamos, inicialmente, ter
clareza sobre o significado de cada um dos seus termos:
• Materialismo: o termo remete-nos à ideia de material,
de matéria, portanto, àquilo que existe concretamente.
Esse conceito nos indica um tipo de teoria centrada na-
quilo que existe de concreto na sociedade, distante das
abstrações metafísicas, que são comuns no pensamento
místico.
• Histórico: Marx era um grande conhecedor da História e
procurava sempre contextualizar suas reflexões com uma
rica descrição dos períodos. Desse modo, sua teoria ana-
lisa a evolução histórica da humanidade, enfatizando a
interpretação dos diferentes modos de produção empre-
gados pelos homens ao longo dos tempos.
• Dialético: o pensamento dialético admite a sua própria
contradição como parte da mesma argumentação. Um
método de reflexão é apresentado em três partes: tese,
antítese e síntese.
Observe que, ao utilizar esse método, partimos de algo para
o seu contrário, chegando, então, a uma nova definição. Em ter-
mos de análise histórica, ele indica a reinterpretação do passado,
utilizando o presente como base, mas visando traçar o futuro.
Precisamos entender a forma pela qual Marx interpretava
todo o processo histórico e a realidade de seu tempo.
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 25

Ele viveu em uma época marcada pelos avanços cada vez


mais surpreendentes da Revolução Industrial. Surgiam novas má-
quinas e novos produtos, parecendo anunciar um novo mundo,
ao qual Marx estava desinteressado, pois, em seu entender, esse
novo mundo não tinha nada de tão novo assim.
O foco de suas preocupações eram os efeitos dessa nova
realidade na vida dos trabalhadores assalariados. Nesse aspecto,
o que ele presenciava não era nada a ser buscado com ansiedade:
1) jornadas de trabalho superiores a 14 horas diárias;
2) mulheres e crianças trabalhando o mesmo número de
horas que homens adultos, mas recebendo bem menos;
3) ambientes de trabalho insalubres, tanto pela falta de hi-
giene quando pela estrutura física das fábricas, normal-
mente mal ventiladas;
4) condições de moradia piores para os trabalhadores;
5) alimentação precária;
6) fiscalização e vigilância constante no ambiente de tra-
balho;
7) salários tão reduzidos que mal chegavam a garantir o
sustento de um único trabalhador, criando a necessida-
de de que toda família trabalhasse;
8) repressão policial truculenta em caso de manifestações
por melhores condições de trabalho.
Note que, na sociedade industrial, o trabalho, ao mesmo
tempo em que era a fonte da riqueza do dono da fábrica, pois este
vendia o que era produzido, era, também, parte de seu prejuízo,
expresso no pagamento dos salários dos trabalhadores. Como a
tendência do capitalismo é minimizar tudo o que é prejuízo, os
salários foram, então, reduzidos ao mínimo, ou seja, somente o
necessário para garantir a sobrevivência do trabalhador. A ques-
tão seria, então, que o operário, o chamado proletário, produzisse
grandes lucros para seu patrão, o burguês, mas não recebesse um
salário equivalente aos lucros que gerou.

O termo proletário indica a pessoa que nada possui de seu, a não


ser a própria prole.

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26 © Sociologia da Religião

Historicamente, burguês seria o morador do burgo, da cidade,


que, portanto, não se dedicava aos trabalhos agrícolas, mas, sim,
às atividades artesanais e mercantis.

Na teoria marxista, o fato de o proletário produzir grandes


lucros para o burguês, mas não receber uma remuneração equiva-
lente aos lucros que gerou, recebe o nome de mais-valia: o tempo
de trabalho realizado pelo proletário pelo qual ele não é remune-
rado.
Isso fará mais sentido se lembrarmos que o produto final do
trabalho do operário tem um valor muito maior do que a remune-
ração que ele recebe. Por exemplo: pense no valor de um carro e
em quanto ganha um trabalhador nesse ramo da indústria.
Marx apoiou a sua reflexão em diferentes relatórios produzi-
dos por funcionários do governo inglês encarregados de fiscalizar
as condições de trabalho e de moradia do operariado inglês. Veja
a passagem a seguir:
Quanto mais rápido se acumula o capital numa cidade industrial
ou comercial, tanto mais rápido o afluxo do material humano ex-
plorável e tanto mais miseráveis as moradias improvisadas dos
trabalhadores. Newcastle-upon-Tyne, como centro de um distrito
carbonífero e de mineração cada vez mais produtivo, ocupa, de-
pois de Londres, o segundo lugar no inferno da moradia. Nada
menos que 34 mil pessoas vivem lá em moradias de uma só peça.
Por serem extremamente prejudiciais à comunidade, a polícia fez
há pouco demolir um número significativo de casas em Newcastle
e Gateshead. O avanço da construção das novas casas é muito
vagaroso, o dos negócios muito rápido. Por isso, em 1865 a cidade
estava mais superlotada do que em qualquer momento anterior.
Quase não havia um único quarto para alugar. O Sr. Embleton, do
Hospital de Febres de Newcastle, afirma:
Não se pode duvidar de que a causa da persistência e propagação
do tifo é a excessiva aglomeração de seres humanos e a falta de
higiene em suas moradias. As casas em que os trabalhadores fre-
qüentemente vivem situam-se em becos cercados e pátios. Quanto
a luz, ar, espaço e limpeza, são verdadeiros modelos de insuficiência
e insalubridade, uma desgraça para qualquer nação civilizada. Ali, à
noite, homens, mulheres e crianças deitam-se misturadamente. No
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 27

que tange aos homens, o turno da noite segue ao turno do dia em


fluxo ininterrupto, de modo que as camas quase não têm tempo de
esfriar. As casas são mal supridas de água e, pior ainda, de privadas;
são sujas, mal ventiladas e pestilentas (MARX, 1988, p. 213).

Por isso, a transformação da sociedade capitalista (seu desa-


parecimento) era defendida por Marx! Construir um novo mode-
lo de sociedade era uma urgência que sua visão crítica não podia
deixar passar.

6. A RELIGIÃO E SUAS ILUSÕES


A visão marxista sobre a religião deve ser compreendida
dentro do contexto geral de sua obra, bem como dos seus posi-
cionamentos políticos. Leia o fragmento seguinte, retirado do seu
texto mais famoso, no qual Marx analisa a religião:
CRÍTICA DA FILOSOFIA DO DIREITO DE HEGEL – INTRODUÇÃO
Na Alemanha, a crítica da religião chegou, no essencial, a seu fim, e
a crítica da religião é o pressuposto de toda crítica.
A existência profana do erro ficou comprometida, já que foi refuta-
da sua celestial oratio pro aris et focis [oração pelos altares e pelos
lares]. O homem, que na realidade fantástica do céu, onde procu-
rava um super-homem, encontrou apenas o reflexo de si mesmo, já
não estará inclinado a encontrar somente a aparência de si mesmo,
o não-homem, onde procura e deve procurar a sua verdadeira rea-
lidade.
O fundamento da crítica religiosa é: o homem faz a religião; a religião
não faz o homem. E a religião é, com efeito, a auto-consciência e o
auto-sentimento do homem que ainda não se adquiriu a si mesmo
ou se tornou a perder. Mas o homem não é um ser abstrato, que
permanece fora do mundo. O homem é o mundo dos homens, o Es-
tado, a sociedade. Este Estado, esta sociedade, produzem a religião,
uma consciência do mundo invertida, porque eles são um mundo
invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, seu compêndio
enciclopédico, sua lógica sob forma popular, seu point d’honneur es-
piritualista [ponto de honra da sua espiritualidade], seu entusiasmo,
sua sanção moral, seu solene complemento, sua razão geral de con-
solo e de justificação. É a fantástica realização da essência humana,
por que a essência humana não possui uma verdadeira realidade. A
luta contra a religião é, portanto, indiretamente, a luta contra aquele
mundo que tem na religião seu aroma espiritual.

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28 © Sociologia da Religião

A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de


outro, o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da cria-
tura aflita, o estado de ânimo de um mundo sem coração, porque é
o espírito de uma situação sem espírito. A religião é o ópio do povo.
A superação da religião como felicidade ilusória do povo é a exigên-
cia de sua felicidade real. A exigência de abandonar as ilusões sobre
sua situação é a exigência de abandonar uma situação que precisa
de ilusões. A crítica da religião é, portanto, o germe da crítica do
vale de lágrimas, cuja aparência sagrada é a religião.
A crítica não arranca as flores imaginárias dos grilhões para que o
homem suporte os grilhões sem fantasias e consolo, mas para que
se livre delas e possam brotar as flores vivas. A crítica da religião de-
silude o homem para que pense, para que atue e organize sua rea-
lidade como um homem desiludido que chegou à razão, para que
gire em torno de si mesmo e, portanto, de seu sol real. A religião é
somente um sol ilusório que gira em torno do homem, enquanto
este não gira em torno de si mesmo.
A missão da história consiste, pois, já que desapareceu o além da
verdade, em descobrir a verdade do aquém. Em primeiro lugar, a
missão da filosofia que está a serviço da história, consiste, uma vez
que foi desmascarada a forma sacra da auto-alienação humana, em
desmascarar a auto-alienação em suas formas profanas. A crítica
do céu transforma-se, com isto, na crítica da terra, a crítica da reli-
gião na crítica do direito, a crítica da teologia na crítica da política
(MARX, 1977, p. 1-2).

Certos pontos precisam ser esclarecidos, isto é, devemos


entender o que Marx pretendia com seu texto. Ele faz uma críti-
ca à filosofia alemã, objetivando provar que seu povo estava nas
vésperas do que poderia ser um movimento revolucionário, com
potencial de transformar toda a sociedade.
Parte da sua argumentação, no restante do texto, visa mos-
trar que os alemães vivenciam teoricamente tudo aquilo que ou-
tros povos da Europa vivenciaram empiricamente.
Isso queria dizer que o povo alemão tinha o conhecimento
do processo histórico de diferentes povos e aprendeu com seus
erros. Os alemães não precisavam passar pelas mesmas situações
e reuniam as condições necessárias para efetuar uma revolução
bem-sucedida, pois contavam com o conhecimento dos caminhos
que antes haviam fracassado. Era o caminho para a revolução so-
cialista.
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 29

A religião é apresentada no texto como discussão teológica,


portanto, teórica. Ela, "a teoria geral deste mundo", explica, aos
homens, o mundo em que vivem. Mas de que forma? Fornecendo-
-lhes a imagem do super-homem, que transcende o humano.
A religião serviria essencialmente para tornar suportável a
existência humana, o nosso "vale de lágrimas", expressão de ori-
gem bíblica. Tal modo de encarar a religião conduz ao seguinte:
para superar um mundo tão injusto, também é necessário superar
a religião que o sustenta. A religião transforma algo sagrado em
provação divina, portanto, o suportar das condições de existência.
Por isso, ela é ópio: ajuda a suportar a dor de viver em um mundo
tão desigual.

Lembre-se da citação sobre as condições de moradia dos operá-


rios ingleses no século 19.

Lembre-se de que, para Marx, a História é movida pela luta


de classes, portanto, pela ação dos homens em sociedade. Ao
libertar-se das ilusões, ele pode tomar consciência de tal fato e
tornar-se senhor dos caminhos que deseja traçar.
Vamos tentar uma reflexão partindo de outro exemplo. Va-
mos nos concentrar na história contada no filme Matrix (o primei-
ro da triologia).
Se você não assistiu ao filme, é recomendável que assista
antes de ler o restante dos comentários! Em primeiro lugar, para
que você entenda a comparação, e, em segundo lugar, porque eles
revelarão muito da história do filme.
Vamos deter-nos em três personagens do filme: Morfeus,
Neo e Cypher.
• Morfeus: assumiu como sua missão esclarecer aos huma-
nos presos dentro da Matrix que tudo que vivenciam, o
que chamam de realidade (e que é uma reconstrução do
nosso mundo atual), na verdade, é uma projeção de um

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30 © Sociologia da Religião

programa de computador. Ele procura convencer as pes-


soas a abandonarem as ilusões da Matrix e viverem no
mundo real.
• Neo: aceita a proposta, e toda sua vida é transformada.
O problema é que o mundo imaginário da Matrix é mais
atraente para algumas pessoas do que o mundo real, que
foi devastado por uma guerra nuclear, gerando um dilema
para os humanos.
• Cypher: um dos que foram libertados por Morfeus, mas
que decide viver novamente na Matrix, desde que pos-
sa voltar como alguém muito rico e sem lembranças de
nada sobre o mundo real. Sua opção, então, é trair todos
os seus amigos, entregando-os para o controle das má-
quinas (como ele teria sua memória apagada e rescrita,
não carregaria com ele, nem mesmo, o peso da traição
cometida).
É semelhante ao processo de libertar os homens da religião
em Marx: traumático, mas necessário para a construção da verda-
deira liberdade (como era a vida dos que saiam da Matrix).

Falamos sobre a questão dos usos indevidos das ideias de Marx


ao longo do texto. Por esse motivo, acreditamos ser necessário
mostrar um bom uso das ideias de Marx.

7. GRAMSCI, UMA VERTENTE DO MARXISMO


Dois motivos justificam a escolha do intelectual italiano An-
tonio Gramsci aqui. Inicialmente, pela qualidade reconhecida por
todos os intelectuais da sua obra, quase toda ela escrita na prisão.
O segundo motivo é a própria história de vida desse intelectual e
militante.
Gramsci aderiu ao socialismo na faculdade, em 1915. Daque-
le ano em diante, passou a organizar manifestações pelo fim da
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 31

Primeira Guerra, diferentes movimentos grevistas, além de fundar


alguns jornais (Ordine Nuovo e L’Unità).
Em 1921, fundou o Partido Comunista Italiano, pelo qual foi
eleito deputado. Tudo isso se passou ao mesmo tempo em que se
fortalecia o regime facista de Mussolini, que terminou por cassar o
mandato de todos os políticos oposicionistas, entre eles, evidente-
mente, Gramsci, que foi preso em 8 de novembro de 1926.
A acusação era a mesma já feita (e refeita ainda hoje) para
tantas outras pessoas que foram vítimas de regimes totalitários:
era necessário silenciar sua voz. Foi condenado a 20 anos de cárce-
re, tempo no qual ficaria, praticamente, incomunicável.
Ele conseguiu a permissão para escrever cartas e pequenas
notas, nas quais empregava uma linguagem, muitas vezes, cifrada,
que deram origem à sua obra intelectual. Ele adoeceu na prisão,
adquirindo tuberculose que rapidamente avançou para os seus os-
sos.
O regime facista decidiu, então, soltá-lo, para que não mor-
resse como um mártir no cárcere. Gramsci faleceu em 27 de abril
de 1937, somente três dias após ter sido posto em liberdade.
As condições em que sua obra foi escrita tornam ainda mais
notável a qualidade dela! Seus temas eram, evidentemente, as re-
lações de poder no Estado, o marxismo, o papel dos intelectuais
na organização da sociedade, entre outros. Não deixou um tratado
específico sobre religião, mas dedicou-se ao tema, devido ao papel
da Igreja dentro da história política da Itália.
Seu foco, portanto, não era a reflexão sobre o fenômeno re-
ligioso, mas, sim, a sua interpretação como forma de poder. Veja-
mos os seguintes fragmentos de sua obra para ilustrarmos o seu
pensamento:
Deve-se notar que todas as inovações no seio da Igreja, quando
não são devidas à iniciativa do centro, têm em si algo de herético
e terminam assumindo este caráter, até que o centro reage ener-
gicamente, desbaratando as forças inovadoras, reabsorvendo os
vacilantes e excluindo os refratários (Ibid., p. 284).

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32 © Sociologia da Religião

É notável que a Igreja jamais tenha muito o sentido da autocrítica


como função central; não obstante a sua alardeada ligação às mas-
sas de fiéis. Por isso as inovações sempre foram impostas, e não
propostas e acolhidas só obtorto collo [relutantemente]. O desen-
volvimento histórico da Igreja verificou-se por fracionamento (as
diversas companhias religiosas são, na realidade, frações absorvi-
das e disciplinadas como "ordens religiosas") (Ibid., p. 284-285).
[...] a força de coesão da Igreja é muito menor do que se pensa, não
só pelo fato de que a crescente indiferença da massa dos fiéis pelas
questões puramente religiosas e eclesiásticas dá um valor muito
relativo à superficial e aparente homogeneidade ideológica; mas
em virtude do fato bem mais grave de que o centro eclesiástico é
impotente para aniquilar as forças organizadas que lutam conscien-
temente no seio da Igreja (Ibid., p. 319).
[...] há uma estreita ligação entre o loto e a religião: quando alguém
acerta, sente que foi "eleito", que recebeu uma particular graça de
um Santo ou de Nossa Senhora (GRAMSCI, 1984, p. 348).

As três primeiras passagens tratam de um ponto bastante


importante na análise sobre religião, que é justamente destacar as
estruturas da instituição religiosa, no caso, da Igreja Católica. Veja
que não se trata de uma reflexão sobre a teologia ou mesmo sobre
o significado da divindade.
Aqui, a religião é vista por meio da instituição que a organiza,
formada por homens que atuam em função de interesses predefi-
nidos, inclusive de classe.
A reação que a passagem destaca não diz respeito somente
ao comportamento da Igreja, mas ao comportamento de qualquer
instituição.
Toda inovação surgida dentro de uma instituição já estabele-
cida, com hierarquia e diferentes status de poder, sofre a resistên-
cia dos que, de alguma forma, se beneficiam da ordem das coisas
como elas são até aquele momento. A reação mais comum é a
tentativa de controlar os descontentes, passando pelas seguintes
estratégias:
• fragmentar o grupo dissidente;
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 33

• procurar atrair membros da dissidência de volta para a ins-


tituição;
• expulsar ou silenciar os que se recusarem a uma readap-
tação.
Os teólogos da libertação eram influenciados pelas análises
marxistas, defendendo mudanças estruturais na sociedade, visan-
do à busca de uma maior igualdade social.
Por conta disso, muitos passaram a dedicar-se ativamente à
organização de diferentes movimentos sociais, trabalhando direta-
mente em contato com as populações mais carentes.
Vários desses religiosos ou agentes de pastoral acabaram
entrando, também, para a discussão política, como meio de con-
seguir resolver os problemas das comunidades em que atuavam.
Dizia-se que era uma "nova forma de ser Igreja", mais próxima do
povo. Tal proximidade acabou modificando, também, a estrutura
de alguns ritos religiosos, como as missas, que passaram a ser mo-
mentos de reflexão social e política, além da religiosa, com ampla
participação dos leigos.
A reação da Igreja foi enérgica contra a Teologia da Liber-
tação, com base na figura do então cardeal Ratzinger, prefeito da
Santa Congregação para a Doutrina da Fé, que escreveu, entre ou-
tras afirmações, o seguinte:
A presente instrução tem um caráter muito mais limitado e preci-
so: atrair a atenção de pastores, teólogos e todos os fiéis para os
desvios, e riscos de desvio, danificando a fé e a vida Cristã, que são
trazidos por certas formas de teologia da libertação as quais utili-
zam, de maneira insuficientemente crítica, conceitos emprestados
de várias correntes do pensamento Marxista (RATZINGER, 1984).

Antigamente, a Santa Congregação para a Doutrina da Fé era de-


nominada de "Tribunal do Santo Ofício", ou, ainda, "Inquisição".

Mais recentemente, o ainda cardeal ressaltava:


O Superior religioso, ao qual, nos termos do cân. 832, compete dar
aos próprios religiosos a licença para a publicação de escritos que
tratam de questões de religião e de costumes, não deve concedê-la

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34 © Sociologia da Religião

senão depois de se ter certificado, através do juízo de pelo menos


um censor da sua confiança, que a publicação não contém nada
que possa trazer dano à doutrina da fé e dos costumes (Id, 1992).

No primeiro caso, temos a definição direta da teologia inspi-


rada pelo marxismo como um desvio da verdadeira doutrina. No
segundo, temos uma orientação, mais recente, que, na verdade,
procura reforçar o controle que deve ser exercido pela hierarquia
nas divulgações de novas reflexões sobre a teologia católica.
Como a teoria marxista é crítica ao papel da religião dentro
da sociedade capitalista, a condenação feita pelo hoje papa Bento
XVI era justamente contra os escritos da Teologia da Libertação.
Tratava-se de estabelecer uma censura oficial, em nome da preser-
vação da estrutura hierárquica e teológica da instituição.
O ex-frei Leonardo Boff foi um dos que, tendo se dedicado
a publicar e a divulgar a Teologia da Libertação, sofreram a repro-
vação do cardeal. Terminou condenado por tempo indeterminado
ao silêncio obsequioso, durante o qual não poderia nem mesmo
continuar lecionando. Boff acabou por abandonar a vida eclesiás-
tica, mas não a sua fé.
A punição identificada como "silêncio obsequioso" sinaliza
exatamente isto: que o teólogo deve se calar pelo tempo que for
conveniente (para a instituição, é claro!). A pena foi suspensa de-
pois de 11 meses por conta de pressões feitas por bispos da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) sobre o papa João Paulo
II. Note que a CNBB era, na época, uma das principais porta-vozes
da Teologia da Libertação na América Latina. Ao longo dos anos, o
Vaticano adotou a política de nomear bispos com tendência mais
conservadora, o que terminou por modificar o perfil do órgão.
As passagens dois e três de Gramsci destacam que nem sem-
pre a Igreja atua condenando e silenciando os divergentes, lembran-
do que diferentes ordens religiosas surgiram como frações dentro
da instituição. Isso ocorreria muitas vezes, pois o novo movimento
que surge se torna tão amplo, que não haveria meio de controlá-lo,
a não ser permitindo que exista sob a supervisão da Igreja romana.
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 35

A quarta passagem citada de Gramsci mostra-nos uma refle-


xão mais geral sobre a religião. A comparação com a loto, com um
sorteio, visa, na verdade, ressaltar que a religião, em suas promes-
sas de salvação, produz uma sensação semelhante à obtida partindo
dos jogos de sorte: o sentimento de ter sido escolhido (ter sido o
vencedor).
É necessário perceber, então, que a parte mais sólida da refle-
xão de Gramsci se concentra na questão institucional. Para a peque-
na passagem número quatro, que não foi desenvolvida em maior
amplitude pelo autor, podemos encontrar diferentes modos de re-
futação.
Contudo, com a análise institucional, que possui diferentes
exemplos concretos na atuação da Igreja, tal refutação se torna mais
problemática.
Já temos muito em que pensar antes de passarmos para a pró-
xima unidade!

8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos, neste tópico, que você procure responder às
questões a seguir, que tratam da temática desenvolvida nesta uni-
dade, bem como que as discuta e as comente.
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
testar seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder
a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para
sanar suas dúvidas. Este é o momento ideal para você fazer uma
revisão do estudo desta unidade. Lembre-se de que, na Educação
a Distância, a construção do conhecimento ocorre de forma coo-
perativa e colaborativa. Portanto, compartilhe com seus colegas
de curso suas descobertas.
Confira, na sequência, as questões propostas para verificar
seu desempenho no estudo desta unidade:

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36 © Sociologia da Religião

1) Em sua opinião, por que essas críticas são atribuídas a Marx? Por que seu
nome aparece associado ao de ditadores? Por que alguns críticos, frequen-
temente os que são menos informados sobre a obra de Marx, lhe atribuem
uma aura de anticristo?

2) Como você sabe, Marx não chegou a conhecer as nossas favelas! Imagine
que tipos de transformações ele teria defendido se visse a que situação se
submete uma grande parcela da nossa população?

3) O termo "empiricamente" designa que todo conhecimento só pode ter ori-


gem na experiência?

4) Qual a função da religião? Para que serve? Marx considerava necessário su-
perar as ilusões criadas pela religião, mas não para que o homem passasse
por este mundo sem nenhum consolo (que sofresse abertamente e sem es-
perança), mas que caminhasse para a construção de uma nova realidade
(brotar as flores vivas). Uma realidade em que o homem percebesse que ele
é o agente da sua própria história e não as divindades criadas pelas religiões.

5) A busca de tais refutações pode ser um bom exercício de reflexão? Mesmo


que ao final seja para terminar concordando com o autor, o que você pensa
sobre isso?

9. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, refletimos sobre o trabalho de Marx, luta de
classes, religião e suas ilusões, bem como uma introdução à crítica
da filosofia do direito de Hegel. Você já pode refletir e compreen-
der como pensava nosso socialista.
Falamos um pouco, também, da vida e obra do intelectual
Antonio Gramsci, da sua participação nos movimentos comunis-
tas, de sua liderança política e de sua militância.
Procure refletir sobre o que foi estudado, rever os aspectos
envoltos em dúvidas, atuar sobre essas matérias, anotar e partici-
par das discussões abertas no Fórum.
© U1 - Marx: Religião e Estruturas de Dominação 37

10. E-REFERÊNCIAS
VATICAN. Instruction on certain aspects of the "Theology of Liberation". Disponível em:
<http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_
doc_19840806_theology-liberation_en.html>. Acesso em: 27 nov. 2011.
VATICAN. Instrução sobre alguns aspectos do uso dos instrumentos de comunicação
social na promoção da doutrina da fé. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_
curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19920330_istruzione-pccs_
po.html>. Acesso em: 27 nov. 2011.

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


GRAMSCI, A. Maquiavel, a política e o Estado moderno. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1984. v. 35. (Série Perspectivas do Homem).
______. Os intelectuais e a organização da cultura. Tradução de Carlos Nelson Coutinho.
2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
MARX, K. Crítica da filosofia do direito de Hegel – introdução. In: TEMAS II. [S.l.]: Grijalbo,
1977.
______. O capital: crítica da economia política. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. v.
1. Tomo 2.

Claretiano - Centro Universitário


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