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INTERESSES POPULARES
Ivan Seixas1
Apresentação
1
Ivan Seixas, jornalista, durante a ditadura militar foi membro do MRT (Movimento Revolucionário
Tiradentes), organização de resistência armada à ditadura e ao imperialismo norte-americano. Foi capturado e
passou quase 6 anos nas mãos do regime de terrorismo de Estado. Solto no processo de “abertura lenta, gradual e
segura” do ditador Ernesto Geisel, se engajou imediatamente nas lutas populares pela reconquista das liberdades
democráticas e da reconstrução da democracia no Brasil. Foi presidente do CONDEPE – Conselho Estadual de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo, Coordenador da Comissão Estadual da Verdade de São
Paulo e assessor da Comissão Nacional da Verdade. Atualmente é o Coordenador do Projeto Direito à Memória
e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
A atividade humana chamada política deve ser vista como algo muito salutar
e importante para o desenvolvimento da sociedade. E os jovens devem ter interesse
em participar dela como modo único de interferir e mudar os rumos do seu país. De
nada adianta reclamar que as coisas estão ruins, se quem reclama não participa das
mudanças. Para participar, é preciso entender o mundo para não ser manipulado.
Quase todos os meios de comunicação foram invadidos para garantir que não
haveria resistência e que os jornalistas não divulgariam notas de protestos contra o
golpe. A sede da UNE – União Nacional dos Estudantes foi invadida e depois foi
incendiada por militares e membros de grupos paramilitares de direita. Antes de
queimar a sede da UNE, tudo de valor foi roubado e muita documentação perdida.
Quase todos os sindicatos foram invadidos, sofreram saques, suas diretorias foram
presas ou tiveram que fugir para não serem presas e passaram a ter interventores.
O país entrava num clima de brutalidade do Estado usurpado pelos militares, muitas
pessoas eram intimadas a depor em IPM – Inquéritos Policiais Militares e apareciam
mortas como se tivessem se suicidado inexplicavelmente.
Essa aparência de legalidade não foi por acaso. Foi premeditadamente criada
para garantir o reconhecimento internacional e a respeitabilidade fora das fronteiras
do país. Com isso, imaginavam eles, ninguém pressionaria ou criticaria o Brasil
como uma ditadura. As exportações aconteceriam e tudo correria tranquilo. Durante
muitos anos ninguém sabia que o país vivia sob ditadura e que no Brasil havia
torturas, mortes e desaparecimentos de opositores políticos.
As ditaduras, para não terem oposição ou para não correrem o risco de serem
derrubadas pela população, implantam o que se chama de Terrorismo de Estado.
Em junho de 1964, pouco mais de dois meses depois do golpe, foi criado o
SNI – Serviço Nacional de Informações, a grande e impiedosa rede de espionagem,
repressão, controle da sociedade e aniquilamento de opositores que a ditadura usou
durante os seus vinte e um anos de existência. Seu criador foi o general Golbery do
Couto e Silva, também criador do IPES e membro ativo da Escola Superior de
Guerra. Quando tomaram o poder, Golbery levou todas as informações do serviço
secreto do IPES para o novo órgão de controle e repressão da ditadura.
No campo militar, foi criada uma máquina de guerra para combater, reprimir e
sufocar as organizações clandestinas de oposição ao regime de terror implantado.
De alto abaixo, a estrutura do estado foi usada como parte do aparelho de repressão
aos movimentos populares e às organizações política de oposição. Cada repartição
pública tinha um espião, que observava todos os movimentos dos funcionários e
apontava os que eram suspeitos de serem oposicionistas para os órgãos de
repressão prender, torturar e tentar encontrar aliados nas organizações políticas.
Dentro das Universidades foram criadas as ASI - Assessorias de Segurança e
Informação, que monitorava os estudantes e professores suspeitos de não serem
simpatizantes do governo da ditadura. Para o ambiente estudantil foi criada uma
legislação específica, o Decreto Lei 477, que promovia a expulsão dos estudantes e
os impedia de estudar em qualquer lugar, enquanto que os professores eram
demitidos e impedidos de lecionar em qualquer escola.
O Brasil foi o único país do mundo que usou tribunais de guerra para julgar
civis em tempos de paz. Para isso usou a Lei de Segurança Nacional, que previa
pena de morte, prisão perpétua e prisão para quem pertencesse a organizações não
reconhecidas pelo governo ditatorial. Nem precisava ser uma organização política de
luta armada ou clandestina. Bastava não ser reconhecida pela ditadura e podia ser
um movimento de oposição sindical ou uma comunidade de base. As penas
variavam de seis meses até cinco anos de prisão.
A censura à cultura
Grande parte das pessoas que lutaram contra a ditadura entendeu que contra
a violência dos militares só havia a luta armada como resposta. Muitas organizações
lutaram de armas na mão e fizeram a guerrilha urbana e rural. Foram realizados
ataques contra quartéis, delegacias de polícia e contra agentes da repressão.
Quatro diplomatas chegaram a ser sequestrados para serem trocados por pessoas
que estavam presas e sendo muito torturadas. Como não eram ações de criminosos,
mas sim de uma luta política contra a ditadura, a vida do diplomata era trocada pela
vida de pessoas que corriam o risco de serem assassinadas em longas sessões de
tortura. Essas ações serviam também para denunciar os crimes da ditadura.
A repressão à resistência foi implacável e cruel
A batalha mais geral do período final da ditadura tinha como chave a palavra
de ordem que era a conquista de Liberdades Democráticas. Isso englobava uma
série de medidas fundamentais para se atingir a democracia. A oposição consentida
conseguiu o fim da censura prévia aos meios de comunicação, mas deixou de lado
várias outras medidas redemocratizantes, por considera-las “inoportunas”.
A primeira delas foi a Anistia Política, que tornaria sem efeito a legislação
ditatorial, principalmente a Lei de Segurança Nacional, e tiraria das prisões as
pessoas condenadas pela ditadura, permitiria a volta dos exilados políticos e a saída
da clandestinidade daqueles ainda estavam escondidos, com medo das torturas.
Todos precisavam de garantias de que poderiam voltar a ter de volta suas vidas
comuns e poderiam voltar a fazer política sem serem presos e torturados. As
lideranças do partido de oposição consentida, Ulisses Guimarães e Tancredo Neves,
articularam a aprovação de uma lei de Anistia restrita e parcial, para garantir que a
ditadura não pudesse ser contestada de imediato.
A segunda grande luta por liberdade democrática foi por eleições diretas, pois
a população queria ter o direito de votar para presidente, para governador e para
prefeitos de capitais e outras áreas consideradas de Segurança Nacional. Milhões
de pessoas saíram às ruas para protestar e pedir eleições diretas. Foi a chamada
campanha das Diretas Já!. Outra vez as lideranças do partido de oposição
consentida negociaram com a ditadura e esse direito não foi conquistado. Isso só
aconteceria com a nova Constituição aprovada em 1988.
Para se ter uma nova Constituição era preciso haver uma Constituinte, que é
a assembleia parlamentar que redige uma nova Constituição. Essa luta só obteve
êxito quando o primeiro presidente civil tomou posse. José Sarney, o antigo
presidente do partido da ditadura, passou a se dizer defensor da democracia e foi
eleito como vice presidente na chapa de Tancredo Neves. Este último morreu antes
de tomar posse e quem assumiu foi Sarney, que convocou a eleição de uma
Assembleia Nacional Constituinte, escolhida pelo povo. A nova Constituição
devolveu minimamente as Liberdades Democráticas ao país e garantiu uma série de
direitos antes abolidos pela ditadura.
O trabalho da Comissão da Verdade deveria ter sido criada logo após o fim da
ditadura militar, mas só aconteceu em 2012, trinta e oito anos depois do golpe de
Estado de 1964 e da instalação da ditadura militar. Isso não aconteceu naquele
momento de entrega do poder para os civis e a volta à democracia mais uma vez
pela ação daqueles lideres da oposição consentida, que negociaram por baixo do
pano com a ditadura militar e garantiram, assim, a impunidade de torturadores e o
desconhecimento dos fatos pelas novas gerações nascidas em democracia.
As recomendações indicam o que deve ser feito em termos de novas leis para
garantir os direitos individuais e coletivos da população brasileira. Cada segmento
atingido ou cada individuo deve ser atendido por essas recomendações de modo a
criar uma nova realidade, sem a cultura da violência, que é a violência do Estado
contra o cidadão pobre e trabalhador. A juventude tem que receber um país mais
justo, mais respeitador de direitos e mais democrático.
Construção da Memoria
Conclusão
Tudo o que o país viveu durante os vinte e um anos de ditadura somados com
os anos de turbulência, que prepararam o assalto ao poder por parte dos militares e
também os anos de reconstrução democrática, marcaram nosso país de forma muito
profunda. Ignorar isso é permitir que tais fatos lamentáveis se repitam e voltem a se
abater sobre a população. Não foi pequeno o estrago causado pela ditadura.
Por outro lado, não aprender com os erros do passado é algo muito grave. As
manipulações, as jogadas políticas e, principalmente, as reais intenções nunca
mostradas devem ser identificadas para que esse tipo de coisa não tenha mais
espaço. E acontecem ainda nos dias de hoje. É fundamental ver os reais interesses
em jogo e como argumentos são usados para escondê-los. Esse é o real sentido de
conhecer a História, para entender o presente e construir o futuro diferente.
Não podemos permitir que os governantes se imponham pela força, pois não
foram eleitos para impor coisa alguma. Foram eleitos para representar a população
e encaminhar as demandas e necessidades em nome do povo e em benefício dele
também. Toda e qualquer manifestação de autoritarismo deve ser repudiada e
condenada de imediato. Governantes assim não devem ter espaço em uma
democracia e, portanto, não merecem o voto dos cidadãos.
Estado Novo – regime autoritário, encabeçado por Getúlio Vargas, que realizou
reformas estruturais na economia, na política e nas relações trabalhistas do país.
Nesse período foram conquistados alguns dos modernos direitos dos trabalhadores
brasileiros, como salário mínimo, definição de carga horária máxima de trabalho,
horas extras trabalhadas, etc. O pretexto para o golpe de Estado deflagrado por
Getúlio Vargas foi a existência de um suposto plano de tomada do poder pelos
comunistas. A farsa da existência de um plano dos comunistas foi montada pelo
então capitão Olympio Mourão Filho, militante do Partido Integralista, versão
brasileira do nazi-fascismo, e depois desmascarada. Esse mesmo militar foi quem
começou o deslocamento de tropas de Minas Gerais para o Rio de Janeiro,
detonando o golpe militar de 1964. O Estado Novo tinha como marca ser um regime
de centralização total do poder na pessoa de Getúlio Vargas, de nacionalismo
extremo e de anticomunismo.
Ano: 1945
Governo Getúlio Vargas: O ex-ditador Getúlio Dorneles Vargas, que não estava
inativo na política desde sua deposição, em 1945, pois foi eleito senador, voltou à
presidência da república pelo voto popular após uma campanha massiva que tinha
como slogan Queremos Getúlio. Era o Movimento Queremista. Esse movimento
pede sua volta ao comando da nação através de uma eleição direta e popular e ele
diz que aceita o desafio. Foi eleito para um mandato de cinco anos a começar em
1951 e com término previsto para 31 de janeiro de 1956.
Sofre intenso bombardeio por ter se distanciado dos EUA, por ter uma política
nacionalista e por dar atenção às reivindicações trabalhistas. Seu governo sofre forte
campanha de denúncias de corrupção e várias pequenas crises. A maior delas foi o
aumento de 100% para o salário mínimo, proposto pelo ministro do trabalho João
Goulart e combatido pelo ministro da Justiça de seu governo, Tancredo Neves. A
oposição de Tancredo leva os militares a um pronunciamento através de um
Manifesto dos Coronéis, encabeçado pelo então coronel Golbery do Couto e Silva,
peça central também depois do golpe militar de Estado de 1964. Getúlio demite seu
ministro do trabalho, mas mantém o aumento de salário mínimo.
Para acalmar a pressão direitista, JK fez uma viagem internacional antes de tomar
posse. O primeiro país que visitou foram os EUA, que estavam questionando se seu
governo teria o apoio dos comunistas.
Sua coligação era de base direitista e tinha como força maior a UDN – União
Democrática Nacional, ativa nas denúncias, mas sem apelo popular e de votos.
A UDN teve como marca os ataques contra Getúlio, contra JK e tinha muita ligação
com os militares. Entre seus membros mais destacados estavam os políticos que
deram posteriormente o golpe de Estado de 1964.
Jânio Quadros teve uma atuação sem muita coerência nos seus poucos meses de
governo. No lugar de se atrelar aos EUA, como sinalizava fazer, condecorou o
guerrilheiro Ernesto Che Guevara, um dos líderes da revolução comunista de Cuba
ao mesmo tempo em que tinha uma política moralista para os costumes, como por
exemplo, proibir as mulheres de usar biquíni. A UDN começou a fazer forte oposição
a Jânio Quadros e ele se lançou numa aventura improvável de renunciar ao cargo,
na esperança de ser convidado a voltar com poderes totais. O parlamento não
aceitou e sua renúncia foi aceita como uma decisão unilateral.
No Rio Grande do Sul, o governador Leonel Brizola começou uma campanha pelo
respeito à legalidade constitucional e, portanto, a posse de Jango como legítimo
presidente da República, como seus milhões de votos determinaram. A campanha
toma conta do país através das ondas do rádio, pois nesse tempo não havia satélite,
internet ou telefonia ágil e eficiente. A participação popular mais uma vez frustra os
golpistas e o golpe é adiado. Como saída honrosa, os militares conseguem que o
parlamentarismo seja adotado pela Constituição e os poderes do Presidente da
República sejam reduzidos ao mínimo possível. Quem passaria a ter poderes para
governar seria um Primeiro Ministro, indicado pelo Parlamento.
Com esse acordo para evitar o golpe de Estado, o país passa a ter um governo
parlamentarista e os poderes do presidente são reduzidos ao mínimo possível.
Depois poderia haver um plebiscito para saber se a população aprovava a mudança.
Ano: 1961
Assembleia dos Marinheiros: Para mostrar que nem todos os militares eram
golpistas e que a base militar estava ligada aos trabalhadores, foi realizada uma
assembleia de marinheiros, soldados e sargentos de todas as três forças armadas
dentro do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, numa demonstração de
aliança militar e trabalhadores. Tropas são mandadas para reprimir a reunião, mas
aderem ao movimento e depositam suas armas e capacetes na porta do sindicato.
Isso é usado pelos golpistas como se fosse a quebra da hierarquia militar e o
começo de uma rebelião comunista dentro das Forças Armadas. Na realidade, a
quebra da hierarquia acontecia pela conspiração dos generais contra o presidente
da República, que é o Comandante-em-Chefe das Forças Armadas.
EUA reconhecem ditadura: O governo dos EUA reconheceu o grupo que assaltou
o poder no Brasil, com seu apoio e financiamento, muito tempo antes de haver
alguém respondendo oficialmente pelo país. A simples declaração de vacância da
presidência da República, feita pelo golpista Auro Moura Andrade, bastou como
desculpa para que Lindon Johnson, presidente dos EUA, anunciasse que reconhecia
a ditadura militar brasileira. Outros países só fariam a mesma coisa dias depois.
Ato Institucional número 1: A ditadura se instalou pela força e fez uma declaração
de que era o poder de fato com a publicação do chamado Ato Institucional, que
afirmava que se legitimava “em si mesma”, sem precisar de medidas legais ou
aprovação popular. Quem assina essa declaração são os três ministros militares,
que afirmam que usarão todos os meios para impor a nova ordem. Além disso,
publicam uma lista de 102 nomes de pessoas que passam a ser proibidas de
exercer seus direitos políticos por dez anos. A lista é encabeçada pelo Presidente
João Goulart e por Luis Carlos Prestes, líder do Partido Comunista, além de várias
outras pessoas que eram defensoras da democracia destruída pelo golpe militar.
Outras listas e outras medidas de cerceamento de direitos foram agregadas através
de outros quatro Atos Complementares.
Posse de Castelo Branco: Depois de uma eleição formal, realizada pelo Congresso
Nacional nas mãos de parlamentares de direita, a começar pelo presidente do
Senado, Auro Moura Andrade, que deu o golpe da ausência do presidente João
Goulart, no dia 11 de abril de 1964, Castelo Branco toma posse da presidência da
República e dá início a uma sucessão de generais no comando da mais longa e
violenta ditadura que o país já teve.
Criação do SNI: A ditadura oficializa sua máquina de guerra contra seu povo
quando cria a mais dura e implacável rede de espiões e repressores do movimento
popular, que foi o SNI – Serviço Nacional de Informações. Esse organismo
respondia apenas ao general ocupante da presidência da República e não tinha
limites legais de forma a controlá-lo ou impedir suas ilegalidades.
Inaugurada a Rede Globo: Surge a rede de comunicação que vai dar apoio e
legitimidade aparente á ditadura nos seus 21 anos de violência e agressão de
direitos contra o povo brasileiro. Numa relação nunca esclarecida entre o grupo de
Roberto Marinho e o Grupo Time-Life, dos EUA, a rede se forma com recursos em
torno de 6 milhões de dólares americanos. Essa relação é denunciada e uma CPI –
Comissão Parlamentar de Inquérito é formada. Para evitar mais embaraços o
procurador geral da União, Adroaldo Mesquita da Costa, dá um parecer em que
afirma não haver certeza da existência de uma sociedade entre os dois grupos. O
dono da rede Globo, Roberto Marinho, decide romper a sociedade e paga o
empréstimo com recursos de bancos nacionais.
Ditadura cria a eleição indireta: A derrota não caiu bem para a ditadura e ela
continuou a destruir o pouco de possibilidades de o povo participar. Depois de
acabar com os partidos políticos, a ditadura acabou também com o voto direto dos
cidadãos. O AI-3 – Ato Institucional Número 3 tira o direito de voto das pessoas e dá
ao ditador o poder de indicar os governadores e esses ganham o direito de escolher
os prefeitos das capitais e das chamadas áreas de segurança nacional, cidades
consideradas estratégicas pela ditadura. Além disso, formaliza que a escolha do
ocupante da presidência será feita no meio militar e apenas referendado pelo
Congresso Nacional. Isso queria dizer que seria mantida a fachada de democracia,
mas as decisões seriam exclusivas do poder militar.
Costa e Silva toma posse: As primeiras eleições indiretas pelo Congresso Nacional
para oficializar a escolha feita no Estado Maior das Forças Armadas aconteceram e,
como já era conhecido de todos, o general Arthur da Costa e Silva passa a ser o
novo ocupante da presidência da república no lugar do general Castelo Branco.
Criação da OBAN: Em São Paulo, uma articulação ilegal, mas totalmente pública
cria a chamada OBAN – Operação Bandeirante, a mais cruel estrutura de tortura e
extermínio de opositores políticos. Com o apoio e financiamento de empresários,
instalações do governo do estado e torturadores cedidos pelas Forças Armadas,
esse organismo de repressão foi o responsável pelas torturas a milhares de pessoas
e dezenas de mortes de opositores políticos. Depois, a estrutura foi oficializada e
legalizada com o nome de DOI-CODI – Destacamento de Operações de
Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, ligado ao general ocupante
da presidência da República.
Junta militar governa: Com a doença do general Costa e Silva, assume o controle
do país uma Junta Militar, formada pelos ministros militares de então. O advogado
Pedro Aleixo, participante do golpe, apoiador da ditadura e que ocupava o cargo de
vice-presidente, é impedido de ocupar o lugar do general presidente.
Rádios e TVs sob censura: A ditadura tira mais espaço da imprensa com medo das
denúncias que não param de crescer. É imposta a censura prévia para emissoras de
rádio e televisões. A partir dali nada poderia ser divulgado sem que um censor,
presente dentro das redações autorizasse.
Data: 22 de janeiro de 1974
Direita faz atentados: A ditadura começa a naufragar e sua parte mais raivosa
começa a fazer atentados a bomba. O atentado à sede da ABI- Associação
Brasileira de Imprensa, no Rio de Janeiro, mostra que a direita estava com medo
das denúncias que ocorriam através da imprensa, que já não suportava a censura.
Data: 19 de agosto
Pacote de abril: A ditadura, comandada por Ernesto Geisel tinha medo de que a
oposição vencesse outra vez as eleições para o Congresso Nacional, como
aconteceu em 1974. Para preparar para as eleições do mês de novembro e garantir
o controle político formal do país, Geisel fechou o Congresso Nacional e outorgou
uma emenda constitucional e seis decretos-lei, que, dentre outras barbaridades,
criavam os senadores biônicos (um terço do Senado Federal passava a ser
nomeado pela ditadura e não mais eleito pelo povo) e reduzia o quórum mínimo para
aprovação de emendas constitucionais de dois terços para maioria absoluta.
Lei repressiva mais amena: Como forma de demonstrar que estava preocupado
em fazer uma abertura política, Ernesto Geisel sanciona uma nova Lei de Segurança
Nacional com penas bem mais brandas do que havia até ali. O Brasil usou leis,
tribunais de guerra e a chamada Justiça Militar para julgar civis em tempos de paz.
As penas por pertencer a organizações não reconhecidas pela ditadura eram
severas e não precisava ser uma organização clandestina de luta armada. Bastava
ser militante de associação de cidadãos em busca de alguma liberdade para ser
enquadrado na terrível Lei de Segurança Nacional.
AI-5 é revogado: Depois de ser a mais terrível forma de ameaça sobre a oposição e
sobre o povo, em geral, o AI-5 – Ato Institucional Número 5 foi revogado. A chamada
abertura lenta, gradual e segura, que Geisel prometera, precisava abrir mão de sua
mais forte arma contra a oposição.
Campanha pela Anistia: Mesmo com o aparato de repressão militar, com os DOI-
CODIs à frente, ainda ameaçando toda a oposição, um grande movimento exige a
adoção de uma anistia política, que tire os presos das cadeias e traga de volta do
exílio milhares de militantes. Depois de muito debate e traições dos chefes do
partido de oposição consentida, foi aprovada e promulgada a Lei de Anistia Política.
Foi uma lei restrita e parcial, que tirou poucas pessoas das prisões e não deu
garantias de que elas poderiam exercer suas atividades sem a perseguição política.
Um de seus artigos até os dias de hoje causa dificuldades para a punição aos
torturadores, pois afirma de forma dúbia que também estariam anistiados os
chamados “crimes conexos”.
Voltam os partidos: Uma das mais importantes conquistas desse período foi a volta
do pluripartidarismo. Como dito anteriormente, os partidos políticos foram extintos
pela ditadura, em 1966, e foram criados apenas dois partidos, um de apoio e outro
de oposição formal. O lento processo de redemocratização levou à quebra dessa
amarra partidária e permitiu uma reorganização em cinco partidos. A ARENA,
partido oficial de apoio à ditadura deu lugar ao PDS – Partido Democrático Social, o
MDB, partido de oposição oficial á ditadura virou o PMDB – Partido do Movimento
Democrático Brasileiro e três novos partidos foram criados. O PT – Partido dos
Trabalhadores, sob a liderança do dirigente sindical Lula, o PDT – Partido
Democrático Trabalhista, sob a liderança de Leonel Brizolla, herdeiro do trabalhismo
de Getúlio Vargas e ex-governador do Rio Grande do Sul, que perdeu a sigla PTB –
Partido Trabalhista Brasileiro para Ivete Vargas, que recebeu a incumbência de fazer
um partido com o mesmo nome do tradicional partido de Getúlio Vargas, mas sem
os perigos de uma volta ao passado de reformas e de luta por soberania nacional.
Greve geral contra a ditadura: A primeira greve geral nacional acontece e tem o
caráter nitidamente de oposição à ditadura. É uma greve vitoriosa e mostra que a
ditadura já não tem mais condições de segurar a grande onda de protestos e de
segurar as reivindicações por liberdades democráticas.
Diretas Já!: Vários comícios acontecem para exigir a realização de eleições diretas
para presidente da República. O primeiro reúne 300 mil pessoas em São Paulo, o
segundo reúne um milhão em frente da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, e o
terceiro grande comício reúne um milhão e meio de manifestantes no Vale do
Anhangabaú, em São Paulo. Tudo pela aprovação da Emenda Constitucional Dante
de Oliveira, que mudava a Constituição e permitia a eleição de presidente da
República. A votação era no Congresso Nacional, dominado pela ditadura e por
falsos oposicionistas que faziam o serviço sujo para a ditadura. Como resultado,
houve um grande acordo escuso e nunca declarado entre as lideranças moderadas
da oposição e a ditadura, que queria uma eleição controlada por ela e que uma
pessoa de sua confiança assumisse a condução do processo de passagem do poder
aos civis. No dia da votação, tropas do Exército ocupam a frente do Congresso
Nacional como demonstração da vontade da ditadura rejeitar a Emenda. Além disso,
vários parlamentares, de situação e de oposição, deixaram o plenário para não dar
quórum e a Emenda foi derrotada por não ter o número mínimo de deputados
presentes.
Aberta a Vala de Perus: Dentro do Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, São
Paulo, foi descoberta uma enorme vala comum com os restos mortais de mais de mil
e quinhentas pessoas. Eram crianças vítimas da violência policial, cidadãos pobres
da cidade grande, vítimas de epidemias escondidas pela ditadura ou assassinados
pelo Esquadrão da Morte, grupo de assassinos atuando dentro da polícia de São
Paulo. Além disso, havia um número impreciso de corpos de militantes políticos
presos, torturados e mortos pela ditadura, que tentou esconder seus crimes do
conhecimento da sociedade e da História. A abertura da Vala Clandestina de Perus
só foi possível pela persistência dos familiares de mortos e desaparecidos políticos e
pela vontade política da Prefeita Luiza Erundina, que decidiu ir fundo nas
investigações e na identificação das ossadas. A exposição de tão grande crime da
ditadura causou uma comoção no Brasil e no exterior de tão grande impacto que
levou a abertura dos arquivos da repressão política civil e a uma devassa nos
procedimentos dos IML – Instituto de Medicina Legal, ligados à polícia civil.