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3.

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olaria
de ovar
catálogo da exposição
índice

2 sinopse / synopsis

5 01 paulo dordio gomes


antónio manuel s. p. silva
ricardo teixeira
marcos couto
miguel rodrigues
louça vermelha de Aveiro e de Ovar
ensaio de uma síntese atualizada

81 02 gabriel pereira
notas para a história da Olaria no concelho de Ovar

125 03 raquel elvas


contributos para o estudo do processo de fabrico da olaria de Ovar:
matéria-prima, loiça utilitária e materiais de construção

143 04 cariátides cultura e providência design


museologia e museografia

159 05 glossário

171 06 bibliografia geral

176 07 fichas técnicas


synopsis Dando sequência ao ciclo de exposições Até à II grande Guerra Mundial as Dando sequência ao ciclo de exposições Até à II grande Guerra Mundial as sinopse
temáticas, iniciado em 2014, relacionadas unidades de produção do território do temáticas, iniciado em 2014, relacionadas unidades de produção do território do
com as artes e ofícios tradicionais do concelho de Ovar forneceram cerâmica com as artes e ofícios tradicionais do concelho de Ovar forneceram cerâmica
concelho, depois da cordoaria e da para a grande maioria das feiras e concelho, depois da cordoaria e da para a grande maioria das feiras e
tanoaria, é apresentada agora, uma mercados distribuidores da região. tanoaria, é apresentada agora, uma mercados distribuidores da região.
mostra sobre a olaria, mais uma vez, mostra sobre a olaria, mais uma vez,
tendo como palco a Escola de Artes e A partir da segunda metade do século XX, tendo como palco a Escola de Artes e A partir da segunda metade do século XX,
Ofícios. com a forte concorrência das unidades Ofícios. com a forte concorrência das unidades
industriais localizadas no grande Porto industriais localizadas no grande Porto
As fontes documentais permitem e na zona sul do distrito de Aveiro, As fontes documentais permitem e na zona sul do distrito de Aveiro,
comprovar que em finais do século XVII e, por outro lado, a manutenção dos comprovar que em finais do século XVII e, por outro lado, a manutenção dos
a arte da olaria foi exercida no território processos tradicionais de fabrico, pouco a arte da olaria foi exercida no território processos tradicionais de fabrico, pouco
do concelho de Ovar. No século XIX os mecanizados e de fraca rentabilidade, do concelho de Ovar. No século XIX os mecanizados e de fraca rentabilidade,
principais núcleos de produção de olaria instigou o encerramento abrupto das principais núcleos de produção de olaria instigou o encerramento abrupto das
estavam localizados, essencialmente, em unidades de produção de Ovar, levando estavam localizados, essencialmente, em unidades de produção de Ovar, levando
Válega e Ovar, próximos dos principais à sua extinção em finais dos anos Válega e Ovar, próximos dos principais à sua extinção em finais dos anos
“barreiros” do concelho, de onde era 80. Atualmente, sobrevivem alguns “barreiros” do concelho, de onde era 80. Atualmente, sobrevivem alguns
extraído grande parte do barro para resquícios de produção artesanal desta extraído grande parte do barro para resquícios de produção artesanal desta
fabrico de cerâmica. arte ancestral, ajustados ao gosto e às fabrico de cerâmica. arte ancestral, ajustados ao gosto e às
técnicas de produção contemporânea. técnicas de produção contemporânea.
A qualidade da produção, as tipologias A qualidade da produção, as tipologias
das formas, a decoração das peças e Conquanto a memória desta atividade das formas, a decoração das peças e Conquanto a memória desta atividade
a caraterística tonalidade vermelha da continua presente nos ovarenses. Por a caraterística tonalidade vermelha da continua presente nos ovarenses. Por
cerâmica vão ser alguns dos atributos isso, tendo em vista a preservação de uma cerâmica vão ser alguns dos atributos isso, tendo em vista a preservação de uma
conferidos à olaria da região de Ovar. herança de séculos da arte tradicional conferidos à olaria da região de Ovar. herança de séculos da arte tradicional
Cada um dos núcleos de produção de moldar o barro, nesta exposição, Cada um dos núcleos de produção de moldar o barro, nesta exposição,
especializou-se numa determinada evocam-se memórias passadas e dão-se especializou-se numa determinada evocam-se memórias passadas e dão-se
tipologia de cerâmica: o lugar da a conhecer as técnicas e os instrumentos tipologia de cerâmica: o lugar da a conhecer as técnicas e os instrumentos
Regedoura, em Válega, na produção usados neste ofício que, além do seu cariz Regedoura, em Válega, na produção usados neste ofício que, além do seu cariz
de telha, a “Villa de Ovar” na cerâmica económico, representou, sobretudo, uma de telha, a “Villa de Ovar” na cerâmica económico, representou, sobretudo, uma
utilitária e materiais de construção. forma de vida. utilitária e materiais de construção. forma de vida.

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01 louça vermelha de paulo dordio gomes
aveiro e ovar citcem - universidade do
ensaio de uma síntese
atualizada porto
sala 4 – design de
comunicação

antónio manuel s. p.
silva
citcem - universidade do
porto
câmara municipal do porto

ricardo teixeira
citcem - universidade do
porto
arqueologia e património

marcos couto
império arqueologia

miguel rodrigues
império arqueologia

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as olarias de barro e que deveriam pagar por cada fornada por Villa nova, a que se seguia, na comerciais. Para além do abastecimento

vermelho e preto tres panellas (MADAHIL, 1959, 169). mesma direcção, o quarto bairro,
que he o melhor, & mais antigo
regional, dominava uma fatia significativa
do mercado da cidade do Porto com
Estas oficinas, que parecem ter-se
(séc. xv-xx) especializado no fabrico de louça preta da Villa, em que reside quasi toda o respetivo hinterland, através da
continuavam em laboração ainda nos a nobreza della; & este somente navegação de cabotagem (ALVES 1996)
inícios do século XX, altura em que são he cingido de altos muros. Para ou seguindo pelos braços da Ria e
1
Sobre a natureza dos depósitos A região de Aveiro foi uma área aqui referenciadas 15 pequenas oficinas Nascente da cerca da vila, abria- alcançando o caminho por terra a partir
argilíferos da região de Aveiro cfr. SILVA se a principal porta desta, a que de Ovar para Norte (BARREIRA, DORDIO
produtora de cerâmicas desde remota familiares com apenas uma roda de torno
1996, 54, com remissão para bibliografia
específica. idade. Para esta situação pesou cada, 12 das quais dedicadas ao fabrico chamão da Villa; da qual sahe para e TEIXEIRA 1996, 181). Pela Barra
certamente a existência de matérias- de louça preta e outras 3 produzindo o caminho Real huma larga rua, que alcançava outros destinos costeiros como
primas abundantes e de qualidade louça vermelha e vidrada (TEMUDO 1905, dividindose com a Igreja do Espirito Viana e Caminha ou Peniche, Figueira
nomeadamente no que ao barro e às 19), tendo-se extinguido apenas nos Santo em outras duas, já cercadas da Foz e Lisboa, muitas das vezes,
lenhas para os fornos diz respeito1. finais do mesmo século (RODRIGUES de frescas hortas, & lavranças, sobretudo ao longo do século XVIII, em
Paralelamente, em épocas de maior 1997, 71). acompanha para o Nascente a fabrica parceria com a louça branca de Coimbra.
integração e expansão dos circuitos dos oleyros, com que compõem Identificam-se ainda outros destinos como
de distribuição e comercialização, as O segundo núcleo localizava-se no o quinto bayrro. O prestígio das a Galiza, a Biscaia e as Astúrias (AMORIM
facilidades de relação oferecidos pelas arrabalde de Aveiro, no exterior das produções cerâmicas deste núcleo 1997, 454-456). A partir da praça do
características geográficas da Ria e do muralhas, local que ficou conhecido explicam que a descrição se lhes Porto, os destinos da louça vermelha de
porto de mar, constituíram factores de como o Bairro dos Oleiros referenciando- refira expressamente lendo-se que o Aveiro ampliam-se com o abastecimento
desenvolvimento da produção cerâmica se mesmo uma das torres das muralhas barro formado em louça encarnada, das ilhas dos Açores e da Madeira, a
nesta região. como a torre dos oleiros em 1585 (NEVES tão dura quasi, e tão duravel como Cornualha (Ilhas Britânicas), Barbados e
1985, 16). A toponímia antiga guarda pedra, dá matéria especialmente as Caraíbas, Nova Inglaterra ou a Terra
As referências documentais mais antigas ainda as designações de Rua e Travessa pelas invenções varias de pucaros, e Nova na América do Norte (LEÃO 1999,
reportam-se a três principais núcleos de das Olarias e as Barreiras (AMORIM quartinhas, aos applausos, com que 123). O Brasil constituía outro importante
oficinas. 1997, 451). O Pe. Carvalho da Costa na se lembra delles um Autor Portuguez: destino destas louças de Aveiro (LEÃO
Corographia Portugueza, redigida pelos pois com repuxos, retalhados, figuras 2004).
Em primeiro lugar Aradas, antigo finais do século XVII, descreve a Villa de e letrias lisongeão a sede, sem
concelho autónomo, com foral outorgado Aveyro repartida por cinco bairros, dois penetrarse da agua. Porém, a partir da década de 1770,
pelo Mosteiro de Såanta Cruz de Coimbra dos quais situados a Poente, de ambos constata-se uma quebra no dinamismo
em 1181, incorporado no de Aveiro, em os lados do canal principal: Este centro oleiro caracterizar-se-ia deste centro produtor de louça vermelha
1836, de que hoje é freguesia. Um por uma produção de larga escala, a que perde a capacidade de colocação à
documento de relação de propriedades dous bayrros bayxos bem povoados partir de unidades de fabrico maiores distância circunscrevendo a respectiva
daquele mosteiro, datado de 1431, refere- de mareantes, pescadores, & e com capacidade de colocação dos área de abastecimento a uma escala
se a Arada dos Oleiros mencionando marnotos -, o terceiro bairro seus produtos em mercados distantes apenas local. Paralelamente, observa-se
expressamente os oleiros que aí moravam imediatamente a Nascente conhecido através da constituição de sociedades a deslocalização das oficinas de louça

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2
A descrição do Bairro das Olarias pelo
Conselheiro José Ferreira da Cunha, nascido
vermelho do arrabalde da vila de Aveiro Aveiro, desenvolveu-se na vila de Ovar a identificação 1995 (REAL, Manuel L.; DORDIO, Paulo;

em Ílhavo em 1813 e falecido em Aveiro a


para as proximidades da vila de Ovar. um terceiro núcleo produtor de louça
arqueológica da louça TEIXEIRA, Ricardo; MELO, Rosário 1995),
Na verdade, as oficinas desaparecem comum vermelha. mas a caracterização mais completa e
1912, é porventura bem elucidativa da extinção
ao longo do século XIX de uma atividade progressivamente do Bairro das Olarias
vermelha de aveiro sistemática surgiria depois no texto de
que havia anteriormente adquirido grande quedando-se ali apenas quatro unidades As primeiras referências a um conjunto 1998 (BARREIRA; DORDIO; TEIXEIRA
relevo na vila e depois cidade de Aveiro. Foi
publicada na íntegra por Francisco Ferreira
em 1814 para, em meados do mesmo consistente de oficinas em Ovar datam 1998) completado por uma subsequente
das Neves no Arquivo do Distrito de Aveiro século, só persistir a memória das já de 1801 quando se registam em Ovar Em 1998 são publicados dois textos, apresentação, nas Jornadas seguintes,
em 1940: “Seguia-se o bairro chamado das mesmas: no bairro das Olarias apenas 35 oleiros os quais, em 1815-17, eram ambos nas Actas das 2ª Jornadas de realizadas em 1997 com texto publicado
Olarias, até à Fonte Nova, por onde se não
conheci dois velhos que me diziam ter então cerca de 40 distribuídos por 19 Cerâmica Medieval e Pós-medieval, em 2003, que acrescentariam os
nota outra diferença senão a construção de
algumas casas novas (…)“A rua da Fábrica, sido oleiros, mas que já não trabalhavam oficinas (AMORIM 1996,7, 429-31). Métodos e Resultados para o seu resultados de um programa analítico
nome que tem de uma de faiança, donde ele (Memória do Conselheiro José Ferreira Entre os séculos XVIII e XIX verifica-se estudo, realizadas em Tondela três anos e laboratorial entretanto realizado em
se deriva, fábrica que existia na casa de quinta
da Cunha, meados séc. XIX2, cit. por também aqui, à semelhança de Aveiro, antes, em 1995, e que constituem a colaboração com a Universidade do
do morgado de Vagos, não teve alteração
alguma até ao presente, fechando aí a parte AMORIM 1997, 456). Ao mesmo tempo, a existência de um bairro das olarias primeira tentativa de uma caracterização Minho (CASTRO; DORDIO; TEIXEIRA
urbana da cidade (…)“O bairro das Olarias era é precisamente a partir daquele momento (PINHO 1959, 28; LAMY 1977, 402). Em tipológica, tecnológica e evolutiva das 2003).
aquela parte da cidade que, limitada pela Fonte final do século XVIII que se multiplicam as 1905, o centro produtor continuava com produções de época moderna (séculos
Nova e pela rua do Rato, ia até à rua de S.
Martinho; a parte mais povoada era a rua que
referências às produções e às oficinas de bastante dinamismo ascendendo o número XVI a XVIII) da louça vermelha de Aveiro. A segunda investigação centrou-se
partia da do Rato, ficando-lhe à esquerda onde louça vermelha instaladas na vila de Ovar. de oleiros a 59 porém distribuídos por sobre a carga de cerâmica de um navio
está hoje o asilo do sexo feminino, que então apenas 13 oficinas (TEMUDO 1905, 45). Uma destas investigações focou-se afundado na Ria de Aveiro quando
pertencia ao desembargador Salazar (…)“No
As louças vermelhas provenientes de sobre os conjuntos cerâmicos exumados se preparava para sair pela barra.
bairro das Olarias apenas conheci dois velhos
que me diziam terem sido oleiros, mas que Aveiro surgem já na documentação dos nas escavações arqueológicos da Descobertos fortuitamente em 1992,
já não trabalhavam. Havia, porém, ainda, um inícios do séc. XVII relacionada com o Casa do Infante, no Porto, integrando- os vestígios desta embarcação, que
depósito de louças fabricadas anteriormente,
abastecimento do mercado do Porto se numa aproximação que procurava passaria a ser conhecida como Barco
e que não tinham saída, assim como ornatos
para os telhados, assim não só figuras de designadas por vezes como louça reconstituir, a partir daqueles conjuntos, da Ria A, construída em madeira, foram
gatos e cães, como pucarinhos de água, que vermelha de Ovar (BARREIRA; DORDIO; uma amostragem do abastecimento de datados por radiocarbono de meados
muita gente colocava nos cumes e beirais TEIXEIRA 1998). Porém, aquele apelativo louça à cidade do Porto proveniente do século XV, mas a carga de cerâmica
de suas casas. Também ali se fabricavam
formas dos chamados pães de açúcar que
de origem poderá, nesta época, não se de um grupo delimitado de centros comum que transportava dataria com
iam para o Brasil e que deixaram de ir, desde o referir ao local de origem mas tão só ao produtores, que as fontes arquivísticas toda a probabilidade de época posterior.
infelicíssimo tratado de 1810, sendo algumas facto de uma parte das produções do também identificavam, precisamente Entre 1996 e 2005 estes vestígios foram
dessas formas aplicadas à construção de
Bairro das Olarias de Aveiro chegar ao entre os séculos XVI e o XVIII. O primeiro parcialmente escavados e recuperados
muros de quintais, e bastantes vi eu no muro
que fechava a quinta da Fábrica pelo lado Porto por via fluvial até precisamente balanço desta aproximação havia já em duas fases de trabalho. Os objetivos
da Corredoura.“Também nas Olarias houve Ovar, de onde era conduzida depois sido apresentado nas 1ª Jornadas de iniciais centraram-se na escavação e
bons oficiais de escultura, havendo ainda em
pela estrada de Espinho até à cidade. Cerâmica Medieval e Pós-medieval, recuperação da estrutura em madeira e
algumas casas da cidade imagens de santos
que na exposição artística do Distrito de Aveiro, Assim, com antecedentes mais ou menos Métodos e Resultados para o seu estudo, só posteriormente, a partir de 2000, foi
em 1882, foram devidamente apreciadas.” recuados mas, em qualquer dos casos, realizadas em Tondela em 1992, depois estudado e caracterizada a mancha de
(CUNHA e SOUSA, 1940, 89-94). sempre com forte ligação às oficinas de publicado nas respetivas Actas em dispersão da carga do navio.

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O texto de 1998 apresentou um primeiro a amostragem da casa tanto pode aplicar-se a vasilhame da 3
Arquivo Histórico Municipal do Porto,
Livro Grande, 1453, f. 8.
quadro tipológico do conjunto cerâmico
do infante, porto região aveirense como a potes ou panelas
transportado pela embarcação (ALVES; de louça preta dos centros oláricos da
RODRIGUES; GARCIA; ALELUIA margem sul do Douro (FERNANDES;
1998) mas os resultados do seu TEIXEIRA, 1997; FERNANDES, 2012).
estudo mais completo e desenvolvido A presença de louça vermelha de
só seriam dados a conhecer por época moderna na cidade do Porto Em 1520 vendia-se fora da porta da
via de outros textos publicados em começou a ser analisada a partir de Ribeira, segundo a documentação
2008 e em 2012 (BETTENCOURT e fontes documentais a que se juntaram municipal, «louça de Aveiro», sem que a
CARVALHO 2007‐2008 e CARVALHO e mais tarde os resultados dos trabalhos fonte descrimine a sua natureza (REIMÃO,
BETTENCOURT 2012). arqueológicos realizados apenas nas três 1997, 94), mas já os aforamentos das
últimas décadas. sisas de 1628 e 1683, determinando as
imposições fiscais sobre os diversos
Até ao século XIX, porém, as referências produtos que entravam e saíam da
escritas que aludem à comercialização cidade detalham, no capítulo dos artigos
ou fabrico de cerâmica doméstica na cerâmicos, a «louça vermelha de Ovar»,
cidade raramente distinguem a louça pela qual se pagaria 80 réis por carro
vermelha entre os restantes grupos de de carga (SILVA, 1988, II, 885; CRUZ,
louça (REIMÃO, 1997, 94), obrigando 1959, 16). A generalidade das fontes
à contextualização histórica desses posteriores incidem sobretudo nos
registos e ao seu cruzamento com dados locais de comercialização da louça no
arqueológicos para iluminar um pouco espaço urbano, distinguindo por vezes
mais a questão. a vermelha da preta ou vidrada mas
sem que sobre a primeira se registem
Nas Inquirições de D. Afonso IV, em especificidades (REIMÃO, 1997).
1339, vários artigos aludem à chegada
ao Porto de louça «de aquém» e No plano arqueológico, a primeira
«de além» Douro3. No primeiro caso identificação daquele grupo cerâmico
mencionam-se, para efeitos de taxação, nos depósitos estratigráficos da cidade
os «pichéis bragueses», grupo atualmente do Porto deve-se à equipa liderada
razoavelmente bem caracterizado graças por Manuel L. Real nas escavações
a achados arqueológicos feitos na própria da Casa do Infante (Arquivo Histórico
cidade de Braga (GASPAR, 1985; 1991; Municipal). Num primeiro estudo de
1995), mas já quanto às «olas» que seriam síntese sobre o espólio cerâmico da
recebidas «de além-Douro», a referência intervenção, apresentado às primeiras

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Jornadas de Cerâmica Medieval e pós- da descrição macroscópica das pastas 3) e 1740-1760 (dep. 4), pôde então Sintetizando apenas os dados
Medieval de Tondela em 1992, definem- e seguidamente, por determinação da avaliar-se a representatividade de cada respeitantes à louça vermelha da
se os principais conjuntos cerâmicos sua composição química com base classe de louça ao longo do tempo, região aveirense (grupo VEROV,
procedentes dos níveis dos séculos XVI em análises de fluorescência de raios aferindo o seu uso e, indiretamente, o correspondente a três grupos de pasta),
e XVII, neles se distinguindo as «louças X (FRX). Associando esta metodologia correspondente abastecimento cerâmico verificou-se uma apreciável similitude
vermelhas engobadas» e as «cerâmicas praticamente inovadora em Portugal e à cidade (BARREIRA; DORDIO; TEIXEIRA, das pastas, entretanto confirmada pela
finas de barro vermelho» (REAL et al., que viria a tornar-se referencial (TEIXEIRA; 1998), admitindo naturalmente que a sua composição química, para além
1995, 181-184). As primeiras eram DORDIO, 1998) à quantificação dos vários amostragem da Casa do Infante seja do característico acabamento brunido,
tipificadas pela característica aguada grupos cerâmicos nos diversos contextos representativa da generalidade do espaço por vezes em organização decorativa,
sobre a superfície e a generalizada datados foi possível, pela primeira urbano, o que não sofreu contestação. como se disse (CASTRO; DORDIO;
decoração brunida, em linhas paralelas vez, uma perspetiva de longa duração TEIXEIRA, 2003, 226-227). O repertório
ou reticulados, distinguindo-se os sobre o consumo cerâmico na cidade A partir dos resultados das análises formal integra pelo menos uma dezena
cântaros, os alguidares e as tigelas como (BARREIRA; DORDIO; TEIXEIRA, 1998). de FRX, a louça vermelha exumada de peças: a tigela, de perfil carenado ou
formas dominantes e propondo a sua na escavação da Casa do Infante foi em calote, por vezes com notório brunido
identificação com a «louça vermelha de Deste modo, foram delimitados seis genericamente agrupada em três grupos, interno, é a forma mais representada
Ovar» mencionada nas Sisas (REAL et al., grandes grupos tecnológicos de louça dois deles atribuídos às produções do em quase todos os depósitos (fig XXX);
1995, 181); para o grupo da louça vermelha (cerâmica preta, vermelha, com vidrado Prado (Barcelos/Vila Verde/Braga) e de segue-se o cântaro, com uma grande
fina, por vezes moldadas, com incisões de chumbo, faiança, grés e porcelana), Aveiro/Ovar e um terceiro reunindo os variedade de bordos e perfis e as típicas
preenchidas por pasta branca e um brunido tendo sido os três primeiros internamente grupos de pasta, grupos químicos ou asas largas, bífidas, digitadas no ponto de
externo integral e de aspeto bem distinto classificados em vários «fabricos», fabricos não identificados (BARREIRA; encontro com o bojo, sendo esta forma
da cerâmica do grupo anterior, propunham conceito que cruza o grupo de pasta DORDIO; TEIXEIRA, 1998, 166-173), uma das que mais atrai a decoração
aqueles autores uma «provável produção obtido por observação macroscópica com provenientes de centros oleiros de outras brunida (fig XXX); o alguidar é a terceira
meridional» (Idem, 183-4). o grupo químico resultante das análises partes do país, quando não mesmo vasilha mais representada entre os
por FRX (TEIXEIRA; DORDIO, 1998, da própria cidade, pois há registo da séculos XVI e XVIII, apresentando-se
O aprofundamento dos estudos 118-120), este, por sua vez, confrontado produção de louça em diferentes locais com vários tipos de bordo e usualmente
cerâmicos na Casa do Infante e a também com os resultados de análises de do Porto desde pelo menos o século XVII, brunida na superfície interna (fig XXX);
análise quantificada de vários depósitos amostras de argilas dos diferentes pontos nomeadamente no terreiro de São Lázaro com presença proporcionalmente
datados a partir de fontes documentais do país (CASTRO, 1998). (VITORINO, 1927; 1930: 5-14), onde até menor contam-se os púcaros, de
relacionadas com obras realizadas às primeiras décadas do século XIX era vários tamanhos, sempre com asa e
no imóvel entre os séculos XVI e Aplicando esta metodologia à costume deixar em sequeiro, antes de sistematicamente brunidos (fig XXX);
XVIII, permitiu ao mesmo conjunto de quantificação da presença de cada entrar no forno, telha, tijolo e «cantaros de os servidores para a higiene pessoal e
investigadores grandes avanços poucos grupo nos diversos depósitos, datados barro» (REIS, 1984, 168), parecendo nesta doméstica, sempre com asa (fig XXX);
anos depois. Os grupos cerâmicos foram do século XVI (dep. 1), a cerca de última memória aludir-se expressamente os fogareiros (fig XXX); e ainda os testos
afinados e melhor caracterizados a partir 1600-1630 (dep. 2), 1640-1675 (dep. a louça vermelha. (fig XXX), por vezes usados também

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como pratéis; panelas, potes e algumas suscitam outras considerações que aqui a louça vermelha de Ilustra-se assim o cântaro da água, de asa
talhas de grandes dimensões, de difícil não podemos abordar (cfr. DORDIO, 1999 aveiro / ovar “regressa” larga de secção bífida e a bem conhecida
para uma análise similar). decoração brunida ou encrespada,
reconstituição formal mas reconhecidas
pelos expressivos bordos em aba (fig Registam-se em proporção assinalável
do porto à exposição animando de linhas paralelas ou cruzadas
XXX) (BARREIRA; DORDIO; TEIXEIRA, vasilhas com pastas similares,
olaria de ovar a superfície ocre ou alaranjada das
1998, 169-173). correspondentes a várias formas, que vasilhas e também o testo/pratel que o
apresentam decoração pintada a branco, cobria e que muitas vezes servia de apoio
A análise da diferente distribuição destas com linhas incisas (por vezes preenchidas As escavações arqueológicas realizadas ao pucarinho com que se servia o líquido.
formas pelos diversos depósitos datados com corante branco), digitações ou na Casa do Infante (Porto) entre 1990
permite perceber alguma variação cordões plásticos (fig. XX), conjunto e 2000 contribuíram para a exposição O bispote ou servidor, recipiente
cronológica na representatividade de que requer estudo mais alargado, Olaria de Ovar com várias peças e especializado para os despejos da casa
cada uma (Fig. XX), observando-se sendo notório, todavia, que este gosto fragmentos de louça vermelha da Época e outros usos higiénicos marca também
claramente a importância das ornamental emerge nos depósitos do Moderna. presença. E por fim, balizando o intervalo
malgas ou tigelas, o crescente peso século XVII para se afirmar com plena cronológico da série, a malga, forma
proporcional dos cântaros ou o quase expressão já no século XVIII (BARREIRA; Na verdade, os estudos realizados a partir simples hemisférica, em calote ou com
desaparecimento dos púcaros nos DORDIO; TEIXEIRA, 1998, 173 e fig. 51). do espólio cerâmico daquela intervenção carena, de uso universal, tanto alimentar
ambientes do século XVIII, aspetos que arqueológica deram um contributo como oficinal.
fundamental para a definição do que
Quadro 1
Variação, em percentagem, das principais desde então se conhece na bibliografia Esta pequena seleção não é sequer
formas de louça vermelha de Aveiro/Ovar nos da especialidade como grupo de «louça exaustiva do elenco formal identificado na
depósitos da Casa do Infante entre os séculos
vermelha de Aveiro/Ovar», aferido pelo Casa do Infante; não vieram a Ovar, por
XVI e XVIII.
estudo formal das tipologias e pela exemplo, bacias e alguidares, fogareiros,
análise da composição química das potes e talhas e porventura outras
pastas argilosas, se bem que um maior vasilhas menos comuns identificadas no
detalhe entre aqueles centros produtores volumoso espólio arqueológico.
careça ainda de avaliação mais profunda
e da reunião de maior evidência Conhecer a louça de tempos passados,
arqueológica de campo. e através dela aproximarmo-nos dos
usos, das comidas e das gentes que
Os objetos que desta forma, as fabricaram, venderam ou utilizaram
temporariamente, «regressaram» à sua é tarefa interminável, mas que com o
cântaros/bilhas
púcaros
área de produção correspondem a cruzamento do conhecimento histórico,
tigelas algumas das principais formas utilizadas da arqueologia, da etnografia cerâmica
alguidares em contexto doméstico entre os séculos e de outros saberes tem vindo a registar
outras formas
XV-XVI e XVIII. desenvolvimentos muito significativos.

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1 Malga Região de Aveiro/Ovar. Séculos XV- a carga de cerâmica do cerâmica, incluindo várias centenas de
XVIAltura: 6,2 cm; Ø boca: 16 cmCI94-5021-29.
Parcialmente restaurada.
barco da ria a formas completas (ALVES, 1997; ALVES
et al, 1998; BETTENCOURT; CARVALHO,
2 Bispote ou servidor (vaso higiénico) Região
2006; 2007-2008). Do ponto de vista
de Aveiro/Ovar. 3º quartel séc. XVIIAltura: cronológico, as quatro datações de
33,5/35 cm; Ø boca: 21 cm; Ø base: 19,5 cm.
3
Na primavera de 1995, Francisco Alves e radiocarbono efetuadas, e que apontam
CI93-1024-91. Restaurado. 1
a sua equipa apresentavam às segundas para meados do século XV, parecem
3 Prato/testo Região de Aveiro/Ovar. 3º quartel Jornadas de Cerâmica Medieval e datar mais a embarcação que a carga,
séc. XVIIAltura: 1,2 cm; Ø boca: 13,1 cmCI91- Pós-Medieval de Tondela dois sítios que atualmente se considera poder
1029-89. Restaurado. 2
arqueológicos subaquáticos referenciais corresponder a um intervalo situado
3 Fragmento (bordo/asa) Região de Aveiro/ para o estudo da louça vermelha da entre a segunda metade do século XV e
Ovar. 3º quartel séc. XVII9,5 x 10 cm. CI93- região de Aveiro, a já referida embarcação a primeira do século XVII (CARVALHO;
1029-180Decorado com linhas brunidas no colo
naufragada no canal de Mira (Ílhavo) – BETTENCOURT, 2012: 742-3), embora
4 Fragmento (bordo) Região de Aveiro/Ovar.
Ria de Aveiro A – e ainda a recuperação a coerência e homogeneidade de
6
3º quartel séc. XVII7 x 6,5 cm. CI93-1050- 4 de uma área de dispersão de vestígios proveniência do contexto, aferida
196Decorado com linhas brunidas no colo cerâmicos num outro canal da ria (Ria pela análise da composição química
5
6 Fragmento (bojo) Região de Aveiro/Ovar.
de Aveiro B-C), perturbado por dragagens e mineralógica das pastas (CASTRO;
3º quartel séc. XVII8,5 x 7,5 cm. CI94-1150- desde a década de 1970 (ALVES 1997; LABRINCHA; ALVES, 1998), não admitam
11Decorado com linhas brunidas ALVES et al. 1998). Posteriormente, novos tal amplitude, o que haverá que afinar
achados propiciaram a identificação de com trabalhos futuros.
7 Fragmento (bojo) Região de Aveiro/Ovar.
3º quartel séc. XVII6,2 x 6,7 cm. CI94-1150- outras embarcações e espólios da época
9
12Decorado com linhas brunidas moderna, fazendo da laguna aveirense um No primeiro estudo referencial
dos principais alfobres para a compreensão da cerâmica do Ria de Aveiro A,
8 Fragmento (asa) Região de Aveiro/Ovar. 3º 7
quartel séc. XVII14 x 6,2 x 2,7 cm. CI94-1079-37
das produções cerâmicas regionais classificaram-se apenas 193 peças
(BETTENCOURT, 2009; BETTENCOURT; completas ou de perfil reconstituível,
9 Fragmento (fundo) Região de Aveiro/Ovar. CARVALHO, 2007-2008; BETTENCOURT; tendo sido produzido um quadro formal
3º quartel séc. XVII6,3 x 4,5 cm. CI93-1029-
181Colagem de 2 frags. Decorado com linhas 8
CARVALHO; COELHO, 2014). de 18 tipos, distinguidos entre formas
11
brunidas abertas (6) e doze fechadas, com
O sítio da Ria de Aveiro A foi objeto diversas variantes (ALVES et al. 1998:
10 Fragmento (bordo/asa) Região de Aveiro/
de várias intervenções nos anos 189ss.). Tigelas, pratos, pratos/testos,
Ovar. Séculos XVII-XVIII9 x 10,5 x 10 cm. CI94-
10
3032-89Colagem de 2 frags. subsequentes levando à conclusão testos, terrinas e alguidares compunham
que da embarcação, provavelmente o primeiro grupo; espraiando-se o
11 Malga Região de Aveiro/Ovar. Meados/3º
naufragada em consequência de um segundo conjunto por púcaros, canecas,
quartel séc. XVIIIAltura: 6,5 cm; Ø boca: 19,5
cm. CI94-3018-112Restaurada.
incêndio à saída da cidade, ter-se-á potes, cântaros e cantarinhos, bilhas,
recuperado entre 40 e 60% da carga talhas, bacios e mealheiros, várias

18 19
destas formas subdivididas por calibres púcaros; outros mais inesperados, como (15%), os púcaros (14%) e os alguidares
dimensionais (Fig. XX). As tigelas e os a circunstância de várias das formas (7%) correspondem a 90% de todo
pequenos púcaros destacavam-se pela ocorrerem, com a mesma tipologia, tanto o conjunto (Idem, idid.) (Fig. XX). Não
maior quantidade, mas os próprios em louça vermelha como preta, ou o facto obstante, foram identificadas novas
autores alertaram para a irrelevância de entre a carga se encontrarem peças formas, como jarros e funis, e variantes das
da quantificação, dada a pequenez da com mau acabamento ou deformadas – já descritas que ampliam significativamente
amostra (Idem: 199). contrariando por certo a ética e o regimento o quadro tipológico estabelecido em
dos oleiros – mas que os Autores atribuem 1998 a partir de uma amostragem mais
Na mesma publicação apresentam-se a uma produção em série já em larga escala reduzida, existindo agora uma perceção
os materiais do sítio da Ria de Aveiro B, (Idem: 189). mais abrangente dos repertórios de
considerados como cronologicamente louça de mesa, de cozinha e vasos de
próximos dos da embarcação Ria de Estudos mais recentes, incidindo sobre os armazenamento, conservação e transporte,
Aveiro A, notando-se em particular as resultados da totalidade das intervenções para além das peças destinadas a outros
formas que não surgem na carga do arqueológicas e um conjunto de objetos usos, como os fogareiros, funis, servidores
navio, como é o caso particular das arqueológicos bem mais amplo, permitiram ou mealheiros, bem documentados em
formas de pão-de-açúcar, encontradas conclusões muito interessantes sobre publicação recente com desenho dos
encaixadas umas nas outras em posição as circunstâncias do afundamento morfotipos, fotografia e informações
de transporte. Ampliando de modo da embarcação, a disposição e dimensionais de cada tipo de recipiente
interessante o elenco formal, aquele acondicionamento da carga e os processos (CARVALHO; BETTENCOURT, 2012).
segundo sítio implica ainda maior incerteza pós-deposicionais que conduziram à Aguarda-se agora que, estando já bem
cronológica, como notaram os Autores, evidência arqueológica (BETTENCOURT; documentado o transporte desta louça e
recomendando por isso prudência na CARVALHO, 2007-2008). Determinaram, sendo abundantes os testemunhos do seu
analogia (ALVES et al., 1998: 201-6). do mesmo modo, o carácter claramente uso no país e no estrangeiro, a arqueologia
minoritário da louça preta, que correspondia urbana propicie dados sobre os fornos e
Este trabalho revelou-se fundamental apenas a 10% do conjunto olárico, sendo oficinas onde era produzida, para o que
e pioneiro para a determinação do oxidante a generalidade da restante louça se destacará mais adiante importante
repertório formal da louça vermelha (Idem: 267), ainda que as análises físicas contributo recente.
de Aveiro dos começos da época e químicas tenham determinado idêntica
moderna, não deixando os autores de proveniência para ambas as produções Se as produções características dos
sublinhar outros aspetos relevantes, (CARVALHO; BETTENCOURT, 2012: 735). séculos XVII e XVIII encontram-se entre
uns relativamente conhecidos, como as melhor identificadas muito há ainda a
a característica decoração brunida, Entre a louça vermelha ressalta o claro conhecer relativamente aos séculos XVI e
frequentemente em padrão geométrico predomínio das formas de uso quotidiano, XV já para não nos referirmos aos séculos
presente em pratos, cântaros ou sendo que as tigelas (54%), os pratos que os antecederam.

20 21
um vislumbre do que se claras continuidades. Predominam as 4
“Some 15th-century documents reveal
tigelas, hemisféricas ou carenadas, com
poderão ter sido as
the name of two potters as important
as superfícies internas brunidas. Seguem- individuals in the community. An earlier
produções dos séculos se-lhe os cântaros, garrafas e púcaros
document (14th-century), mentions

xv e inícios do xvi
the production of cooking pots and
exibindo a característica decoração de the potter’s obligation of giving three
linhas paralelas ou cruzadas brunidas nas of such vessels to the local Monastery
each Sunday.” (BARBOSA, CASIMIRO e
superfícies exteriores. Muito comuns são
MANAIA 2008, 111)
Em 2007 foi escavado num lote urbano também as panelas, as frigideiras e os
da antiga área intramuros de Aveiro uma alguidares. Também presentes encontram-
casa constituída por duas divisões e um se os funis, fogareiros e servidores.
quintal com um poço constituindo um Apesar da enorme lacuna que constitui
interessante contexto fechado dos finais do ainda o conhecimento dos primórdios da
século XV e começos do século seguinte criação em Aveiro de um novo modelo
(BARBOSA, CASIMIRO e MANAIA 2008). orientado para mercados mais alargados,
Selado pelos níveis de abandono e ruína da necessariamente munido de oficinas
casa dos inícios de quinhentos bem como capacitadas para uma produção de
por novos níveis de construção datados já diferente escala, este conjunto revelado
do século XIX, permitiu reunir e identificar em 2007 e 2008 começou a ajudar-nos a
um conjunto de mais de uma centena de acercar desta questão crucial. A informação
peças, maioritariamente produção local em arquivística conhecida sobre este momento
vermelho, bem como produções importadas é igualmente pouco esclarecedora apesar
de louça malegueira que coadjuvaram a dos autores mencionarem algumas
atribuição de cronologias. referências ainda que vagas4.
O conjunto, fechado e datado, constitui uma
importante e rara amostra do que seriam Do lado oposto da sequência cronológica,
as produções das olarias de Aveiro nesse os finais do século XVIII e os séculos XIX
momento recuado bem como sobre os e XX viram a introdução de fábricas em
hábitos de consumo e uso das mesmas. Aveiro cuja produção se orientaria para
a faiança acantonando a produção de
Globalmente, as produções locais mostram cerâmica comum num cada vez menor
já os elementos característicos de pastas e número de estabelecimentos oficinais ao
acabamentos de superfície presentes nas mesmo tempo que o núcleo de Ovar parece
produções posteriores. Também no que substituir-se ao de Aveiro num crescendo
respeita aos tipos e formas assim como de importância na produção daquele tipo de
respetivas proporções registam- cerâmicas vermelhas.

22 23
24 25
as fábricas de faiança oficinas tradicionais, grandes inovações
(séculos xviii-xx) tecnológicas e de organização da produção.

Entre a data da fundação e 1815 identificam-


se três distintas fases de desenvolvimento
Até que fossem ultrapassados os meados da Fábrica do Cojo (AMORIM 1997, 464).
da centúria de 1700 não existe qualquer Entre 1774 e 1789 verificam-se dificuldades
referência ao fabrico de louça branca ou acentuadas entre os sócios fundadores, que
faiança nas oficinas da região de Aveiro. quase de imediato passaram a sociedade a
Porém, as exportações de louça de Aveiro novos investidores oriundos do comércio e
entrada na barra de Viana referem, a partir da finança. As inovações tecnológicas são
de 1764, para além da louça vermelha, ainda de pequena monta, exportando para o
cargas de louça branca grossa o que parece mercado do Porto e para fora do Reino.
indicar que também em Aveiro se havia A partir de 1789 verifica-se um novo impulso
iniciado o fabrico de louça esmaltada, ainda tecnológico com introdução de inovações
que de inferior qualidade (AMORIM 1996, e a provável ampliação das instalações
455). Recorde-se que a louça vermelha para o Cais Novo. O objectivo era o de
de Aveiro, maioritariamente distribuída por concorrer directamente com as produções
cabotagem entre os portos atlânticos, era de Coimbra. Depois de 1803 assiste-se a
normalmente acompanhada pela louça uma redução da produção e da mão-de-
branca de Coimbra, exportada através da obra iniciando-se o declínio que ainda em
barra da Figueira da Foz. 1815 era registado. Embora decadente, o
estabelecimento fabril manteria a laboração
A primeira fábrica de louça fina em Aveiro durante todo o século XIX. Em meados da
surge por volta de 1774 no contexto da década de 1840 era uma pequena unidade
conjuntura industrializadora do governo produzindo louça de fraca qualidade. Na
do Marquês de Pombal, instalando-se na década de 1880 mostrava idêntico estatuto
Quinta do Cojo, da qual retirou o nome e empregava apenas quatro trabalhadores.
porque é conhecida (AMORIM 1997, 461 e Fecharia definitivamente em 1907
ss.; RODRIGUES 1996, 631-634). É nesta (RODRIGUES 1996, 631-632).
mesma altura que se assiste à instalação
de outras unidades fabris semelhantes em As características das produções desta
Lisboa (1769), Viana do Castelo (1770), fábrica nas suas fases iniciais são mal
Porto (1780) ou Coimbra (1785) cujo modelo conhecidas. Peças identificadas em
manufactureiro veio introduzir, a par das contextos de finais do século XVIII que se

27
diferenciam pela pasta de argila vermelha reconhecimento produções de Lisboa (MARTIN, 1979: 291).
revestida com esmalte verde ou com
internacional da difusão Entre os arqueólogos norte americanos
esmalte branco muito sobriamente decorado generalizou-se a designação de Orange
com filetes e bandas em verde e vinoso,
das coarsewares de micaceous ware ou Feldspar inlaid red ware
tem sido atribuídas a esta oficina de Aveiro, origem portuguesa para identificar este tipo de cerâmicas que
ainda que sem grande segurança (CALADO é frequente nas antigas colónias Inglesas
1992; DORDIO, TEIXEIRA e SÁ 2001, 155). e Espanholas (DEAGAN, 1987: 40-41). A
Mais tardias parecem ser outras produções Há várias décadas já que, sobretudo na área primeira autora a chamar o Merida type
também em verde ou em azul com do Atlântico Norte, ainda que presente um ware como Portuguese coarse ware foi, no
decoração esponjada. pouco por todo o mundo, a arqueologia dos entanto, Alexandra GUTIERREZ (2007) no
contextos de época moderna individualizou estudo que publicou sobre várias centenas
Seria preciso aguardar por 1882 para se um tipo distinto de cerâmica comum, de peças oriundas de uma única escavação
verificar a fundação de uma nova unidade normalmente em pastas vermelhas e com em Southampton em que optou por aquela
fabril em Aveiro, a Fábrica da Fonte Nova, um repertório específico de formas. A mais designação generalista embora sugerindo
a qual laboraria até 1937 produzindo conhecida designação que tomou, a partir a existência de produções com origens
louça e azulejo de faiança. As inovações da investigação anglo-saxónica, é a de específicas em Lisboa, Coimbra e Aveiro
que introduziu resgatariam finalmente a Merida type ware, dada por John Hurst por comparação com o material que,
produção de faiança em Aveiro para junto nos inícios dos anos 60, admitindo que se entretanto, as publicações portuguesas
das suas congéneres contemporâneas de tratava de uma produção espanhola que começavam a revelar.
Lisboa, Porto ou Coimbra. mantinha a tradição das sigillatas romanas
produzidas na região de Mérida (HURST, Deve-se à equipa de investigadores
NEAL e VAN BEUNINGEN, 1986). O próprio liderada por Peter Pope na Terra Nova
John Hurst reconheceria posteriormente (Newfoundland) alguns dos melhores
o erro substituindo-se na literatura anglo- contributos para o reconhecimento
saxónica aquela origem pela do Alto internacional da difusão das coarsewares
Alentejo português, mais especificamente de origem portuguesa e em particular das
a zona de Estremoz. Mais tarde, outros provenientes das olarias de Aveiro. Já
autores admitiriam proveniências de outros em 1986, Peter Pope havia identificado
centros produtores espalhados por todo Portuguese redware no registo arqueológico
o país. A primeira vez que essa afirmação da Terra Nova (POPE 1986, 110, 167–71; ver
se fez na bibliografia anglo-saxónica tb. POPE 2004 para uma contextualização
encontra-se no estudo sobre a cerâmica da mais ampla e desenvolvida da sua
Incrível Armada publicado por Colin Martin investigação). A abundante presença
onde escreve que os Merida type wares de cerâmica portuguesa em contextos
deste conjunto poderiam corresponder às arqueológicos dos séculos XVI e XVII

28 29
5
“(…) Portuguese faiança is also well na Terra Nova, compreendendo uma o transporte de vinho, frutas e azeite a “(…) existe um constante comércio de Compostela, Galiza, onde nos níveis 9
“Although the olive jar is the most
represented at Ferryland and elsewhere, quantidade acima da média da faiança longas distâncias do comércio marítimo, entre as Ilhas Britânicas, as colónias datados dos séculos XVI/XVII a meados do common of the Newfoundland
with mid-17th-century contexts often Portuguese redware vessels, when
containing an above-average amount
identificada em meados do século XVII5 e não causa estranheza que a sua presença inglesas da América do Norte, a Norte XVIII representa 7% do conjunto cerâmico pictures and descriptions of the
compared to other contemporary percentagens da ordem dos 13 a 24% da nos contextos continentais portugueses de Nova Iorque, e Portugal. Os barcos (RIO CANEDO; RODRÍGUEZ MARTÍNEZ Portuguese redware olive jars were
English sites. Ferryland also has the cerâmica comum6, motivaram um interesse contemporâneos seja residual9 ao mesmo saíam de Inglaterra em direcção a 2015). shown to various archaeologists
only examples of Portuguese fine in Portugal, the repeated response
especial pelo seu estudo de que resultaram tempo que nos alerta para mais um tipo Portugal, aportando nas cidades
earthenware (pûcaros) in North America was that these jars were rare in
(…)” (NEWSTEAD 2013, 148) significativos avanços do conhecimento. de produção em massa na qual as olarias costeiras onde descarregavam, entre Evidentemente que a área de difusão contemporaneous contexts there, but
de Aveiro se encontravam envolvidas, a outras coisas, lã, têxteis e madeira para ou exportação da cerâmica comum it was likely that they were produced in
6
“(…) in Newfoundland during the 16th Portuguese kilns. This may suggest that
A master thesis de Sarah Newstead par da mais conhecida das Formas de a construção naval. Aqui carregavam portuguesa, nomeadamente da produzida
and 17th centuries (…) portuguese they were produced for an export market
redware is generally associated with intitulada num tom de “manifesto” “Merida Pão de Açúcar, associadas ambas ao bens variados, sendo os principais nas olarias de Aveiro, não se limitou às and were valued mainly as shipping
English sites [where] it comprises 13– no More” (NEWSTEAD 2008 e 2013) mercado de exportação, neste caso como o sal, o vinho e o açúcar, a par de redes do comércio do Atlântico Norte. containers. Close examination of the
24% of the total ceramic assemblages, marcou em definitivo um novo momento contentores marítimos. uma enorme variedade de alimentos A presença destas cerâmicas é igualmente olive jar fabric suggests many similarities
with the lower percentages being to known Aveiro fabrics. (…)They may
associated with colonial sites, and the
para a investigação iniciando uma crescente e objectos, entre os quais cerâmica, abundante na área do Atlântico Sul, also have been mass produced for an
higher ones with seasonally-occupied proximidade com a investigação e os O contexto que explica a circulação e rumavam à Terra Nova e Nova nomeadamente na área colonial portuguesa export market for basic storage use,
fishing stations.” (NEWSTEAD 2013, investigadores portugueses e fazendo a destas cerâmicas comuns portuguesas, Inglaterra. Lá chegados, estes mesmos em África e no Brasil. resulting in lower production quality
147) than for vessels intended as tableware
demonstração de que eram precisamente nomeadamente das produções das navios enchiam os porões de bacalhau,
or serving ware. (…)The Aveiro region
7
“The majority of securely identified as produções das olarias de Aveiro que olarias de Aveiro, a tão largas distâncias rumando com este produto novamente Era também direcionada a esta área was also known for actively marketing
Portuguese redware in Newfoundland predominavam entre as coleções da e áreas geográficas, seria depois objeto para Portugal onde era vendido. do Atlântico Sul, mas também para as its wares elsewhere, so production of a
exhibits characteristics similar to the vessel almost exclusively for an export
Terra Nova, acompanhando também a da investigação da mesma autora de que Carregariam os porões com vinho, ilhas atlânticas a Norte bem como para
ware produced in the Aveiro region of market was probably part of a larger
Portugal” (NEWSTEAD 2013, 146) faiança pintada com motivos em azul de resultou a respetiva tese de doutoramento açúcar, sal e fruta, entre outras coisas, o Mediterrâneo, que se dirigia outra das marketing context.” (NEWSTEAD 2013,
Lisboa ou do Porto e as cerâmicas finas na Universidade de Leicester (NEWSTEAD rumando assim novamente a Inglaterra. produções e exportações massivas das 147)
8
“Olive jars account for a high não vidradas, os afamados púcaros ou 2014). É no seio das redes do comércio A presença de milhares de objectos olarias de Aveiro entre os séculos XVI e
percentage of the Portuguese redware
found in Newfoundland. For example,
barros portugueses, de diversas outras do Atlântico Norte na primeira época em cerâmica vermelha portuguesa XVIII, a das formas do pão de açúcar.
olive jar sherds constitute about 30% proveniências7. moderna, sobretudo entre os séculos encontrados na Irlanda, Inglaterra,
of Portuguese redware excavated at XVI e XVII, e dos padrões de consumo Escócia, Canadá e Estados Unidos
Ferryland. The presence of the jars is
Resulta também de grande interesse e de negócio que as fundamentam, que demonstra a importância que esta
likely related to the Portuguese wine,
fruit and oil which were being utilized as afirmações da mesma investigadora vamos encontrar aquelas explicações. cerâmica teve neste modelo comercial.”
on English ships and in the nascent acerca da massiva presença de anforetas Posteriormente, e em associação com (NEWSTEAD; CASIMIRO 2015, 67)
colonies on the island” (NEWSTEAD
(olive jars) entre a cerâmica vermelha Tânia Casimiro, foi lançado um projeto de
2013, 146)
comum de origem portuguesa nos investigação internacional com o objetivo Não se estranha assim que a louça comum
contextos arqueológicos da primeira de aprofundar todas estas questões vermelha de Aveiro tenha atualmente
idade moderna da Terra Nova8 ainda mais (NEWSTEAD; CASIMIRO 2015; ver tb. a presença frequente no registo arqueológico
porque as respetivas pastas sugerem entrada de Tânia Casimiro na Encyclopedia de ambos os lados do Atlântico Norte como
proximidade com os mesmos fabricos of Global Archaeology = CASIMIRO 2014). é o caso recente, entre tantos outros, da
das olarias de Aveiro. Utilizadas para Como explicam aquelas autoras escavação da Casa do Deão em Santiago

30 31
cerâmica das formas do constituídos por entulhos datados se as ditas formas não fosem buscar e
desde os inícios do século XVI ou a sua pelo dito Cosme Camelo foi dito que elle
pão de açúcar reutilização com reaproveitamento de queria mandar buscar as ditas formas
formas inteiras ou de fragmentos na e que (…) se obrigava a trazer a dita
construção dos paramentos de diversos carauela chea de formas de Aveiro”
Atualmente estão referenciadas no edifícios antigos e muros em vários (SOUSA, 2006). Ainda do século anterior,
continente português três áreas pontos da cidade, que vem denunciando mais precisamente entre os anos 1560 e
produtoras deste tipo especializado a existência de uma abundante produção 1575, uma outra referência documental
de cerâmicas necessárias ao fabrico no passado e com larga diacronia, indica que Aveiro fornecia os engenhos
do açúcar: a identificada através da pelo menos entre os séculos XVI e XIX de açúcar das Ilhas Canárias, tendo
escavação de fornos e oficinas no (MORGADO 2009; MORGADO, SILVA, exportado 13850 Formas de Açúcar, “que
Barreiro, em intervenções realizadas ainda FILIPE, 2013; NOBRE 2017). A corroborar os Canários consideravam como peças
na década de 1970 e posteriormente já esta ideia, refira-se a identificação no cerâmicas sólidas e de boa qualidade”
no final da década de 1990, datados de contexto subaquático conhecido como Ria (CABRERA 1987 citado por SOUSA,
finais do século XV a meados do século de Aveiro B de um significativo conjunto 2006, 14).
XVI; as olarias da região de Aveiro e, com de formas empilhadas configurando a
menor grau de evidência arqueológica, carga de um navio afundado ou preparada Deve-se a Élvio Sousa a promoção de
em Paimogo, na Lourinhã, (SOUSA, para o embarque (ALVES; RODRIGUES; duas investigações arqueométricas
2006). GARCIA; ALELUIA 1998). independentes que também elas
permitiram validar que o conjunto mais
Tem-se como provável que no século XVI, Acrescenta-se a estas evidências expressivo de amostras colhidas quer
o centro de produção do Barreiro terá arqueológicas algumas referências na Madeira quer nos Açores mostram
deixado de produzir e desde aí até aos arquivísticas como a muito citada composição química das pastas muito
inícios do século XIX, seriam as olarias passagem de uma acta de Vereação da próxima da composição química das
de Aveiro a monopolizar a produção Câmara Municipal do Funchal, datada de argilas de Aveiro (SOUSA; SILVA;
deste tipo de cerâmica em Portugal 13 de Maio de 1626, na qual se refere que GOMES 2005 e SOUSA; CASTRO 2012)
abastecendo os engenhos dos grandes os oficiais da autarquia funchalense, ao apontando para as olarias desta cidade
centros produtores de açúcar do reino, constatarem a carência de formas para a como as principais fornecedoras da
como a Madeira, o Brasil, Cabo Verde e produção de cana expectável, mandam cerâmica das formas de açúcar das ilhas
S. Tomé e Príncipe. chamar Cosme Camelo, proprietário de (SOUSA 2011).
uma caravela, “e lhe diserão que esta
Na verdade, na ausência arqueológica tera estava falta de formas que mandase
de fornos e olarias em Aveiro, tem sido a carauela que ora tinha comprado a
a frequente identificação deste tipo de Aveiro a buscalas pera que sem falta
formas em contextos arqueológicos sem perderia muita cantidade de canas

32 33
a investigação Pereira permitem ao autor discutir as auge do Bairro dos Oleiros de Aveiro. Não Cântaro de cerâmica vermelha do tipo Aveiro/
Ovar. Séc. XIX.
arquivística origens, antiguidade e desenvolvimento contraria porém a tese de uma expansão
Peça proveniente de trabalhos arqueológicos
da comunidade de oleiros estabelecidos tardia em Ovar, datada de finais do século realizados pela Arqueologia e Património, sob
na vila de Ovar no cotejando com a mais XVIII e inícios do XIX, precisamente no direção de Graça Pereira e Liliana Barbosa, no
edifício da Travessa de S. Sebastião, nº 47-49,
conhecida e numerosa que ocupava momento em que parece apagar-se o
no Centro Histórico do Porto.
A documentação arquivística de o Bairro das Olarias na área urbana fulgor da produção de louça vermelha
Aveiro tem vindo a ser explorada extramuros de Aveiro (PEREIRA 2012 bem comum em Aveiro e a substituição das
incansavelmente por Inês Amorim a como o texto do mesmo autor no presente respetivas oficinas pelas primeiras fábricas
quem se devem algumas publicações Catálogo). Já em texto de 1996, afirmava de . Em paralelo, constata quase que uma
específicas sobre as suas olarias e Inês Amorim que “em Ovar, formou-se um especialização dos oleiros de Ovar na
fábricas de louça (AMORIM 1996 e 1998) importante centro produtivo, sobretudo a produção de material de construção como
secundada por Manuel Rodrigues, no partir de finais do século XVIII, inícios de telha, tijolo, alcatruzes e calões ou canos
que ao período industrial diz respeito XIX” (AMORIM 1996, 406) acrescentando para os aquedutos.
(RODRIGUES 1990, 1996 e 1997), e em nota que, apesar dos Inquéritos
também por António Manuel SILVA promovidos pela Coroa em 1788 e 1814 Para além das louças utilitárias de uso
(1996). Porém, é ainda muito pouco o que não fazerem referência a este núcleo, na doméstico corrente (alguidares, tigelas,
hoje se conhece, a partir dos arquivos, Descrição da Comarca da Feira, datada de cântaros, etc.) provenientes de Aveiro/
sobre a comunidade dos negociantes, 1801, identificam-se 35 oleiros nesta vila Ovar, presentes em praticamente todos
proprietários de oficinas, mestres, oficiais enquanto “um Mapa de todas as Fábricas os contextos arqueológicos dos periodos
e aprendizes que deram nome ao Bairro que se acham estabelecidas no Distrito da moderno e contemporâneo, a cidade
dos Oleiros de Aveiro e cujas produções Vila de Ovar, datado de 1815-1817, refere do Porto abastecia-se também naquela
se identificam amiúde por todo o mundo os nomes dos proprietários de fábricas região de materiais cerâmicos destinados à
da primeira Modernidade. Registe-se de louça vermelha, em número de 19, construção civil. Ao longo dos séculos XVIII
ainda o trabalho de Manuel LEÃO (1999 e chamando-lhes mestres, acrescentando e XIX , a documentação escrita regista a
2004) sobre o fundo do Cabido relativo à 21 oficiais, indicando a Beira Baixa e Alta, aquisição pela própria Câmara Portuense de
Alfândega do Porto que permite conhecer Porto e Minho como locais de consumo grandes quantidades de calões e alcatruzes
a evolução do despacho pela Barra do (…)” (AMORIM 1996, 406, nota 15). destinados à manutenção e reparação dos
Douro de louça de Aveiro e de Ovar ao aquedutos da cidade (LEÃO 1999, PEREIRA
longo dos séculos XVII e XVIII para os Gabriel Pereira (PEREIRA 2012 bem como 2012).
mais variados destinos do Atlântico Norte o texto do mesmo autor no presente
como do Atlântico Sul, em particular para Catálogo) através de dados já conhecidos No caso presente, o cântaro da Travessa de
os diversos porto brasileiros. e de informação arquivística inédita traça a S. Sebastião ilustra uma situação invulgar
evolução das olarias de Ovar identificando de aplicação de um cântaro, em associação
Mais recentemente novos dados oleiros e oficinas já nos finais do século com tubagem metálica, no contexto de uma
arquivísticos coligidos por Gabriel XVI e durante o século seguinte, em pleno estrutura hidráulica doméstica do século XIX.

34 35
identificação e aguardando a publicação do estudo antiga Rua de São Domingos (atual Rua Não deixa de causar alguma estranheza
escavação arqueológica pormenorizado dos seus resultados do Batalhão de Caçadores), a qual seguia a localização destas olarias, no interior
(COUTO; RODRIGUES 2015 e 2015a). nesta zona quase encostada à muralha. Um do espaço amuralhado e muito próximas
de oficinas no bairro dos dos edifícios orientados à antiga Rua Direita da sua área nuclear ou central constituída
oleiros em aveiro A parcela intervencionada, ostenta uma epígrafe com a data 1616 pelo largo da igreja matriz, edifícios da
aproximadamente retangular e ocupada inscrita. A centralidade de toda esta área Misericórdia e Rua Direita, tanto mais que,
atualmente por cinco edifícios, localiza-se fica também patente na proximidade com pelo menos desde os inícios do século
Mas a informação mais recente e relevante bem no centro da área circunscrita pela o largo da desaparecida igreja matriz de S. XVI, o grosso da produção cerâmica em
acerca das olarias de Aveiro vamos muralha da cerca da vila que terá sido Miguel, que era atravessado lateralmente Aveiro parece ter apostado concentrar-
encontra-la na identificação e escavação erguida ao longo do século XV. Com efeito, pela referida Rua Direita, bem como, na se num bairro no exterior da muralha da
arqueológica pela primeira vez de uma, ou um dos lados menores orienta-se à antiga proximidade das construções seiscentista cerca, de caraterísticas mais periféricas,
várias, oficinas de olaria na área urbana Rua Direita (atual Rua dos Combatentes do Mosteiro e Igreja da Misericórdia, com e que passaria a ser conhecido como o
de Aveiro, cujos trabalhos foram dirigidos da Grande Guerra) fazendo gaveto com o respetivo Hospital antigo, de que se Bairro dos Oleiros ou das Olarias.
por Marcos Couto e Miguel Rodrigues uma travessa (atual Rua de Luís Cipriano) encontrava separada apenas pela referida
em 2015, a qual ainda se mantém inédita e estando o outro lado menor orientado à travessa (atual Rua de Luís Cipriano). Deveras interessante é também a
identificação de uma sequência de
É possível observar nas plantas mais ocupação das oficinas com dois principais
antigas de Aveiro, que datam da 2ª momentos, ambos associados a estruturas
metade do século XVIII, como a ocupação de fornos mas caracterizadas por
edificada no interior do quarteirão de produções muito distintas. O mais antigo,
que esta parcela constitui o limite NO. se datável do século XVI ou inícios do XVII,
concentrava na frente para a antiga Rua exibe apenas louça comum vermelha. Já o
Direita encontrando-se a área oposta mais recente, datável dos finais do século
ainda muito carecida de edifícios. É nessa XVII e século XVIII, caracteriza-se pela
zona não edificada que se concentram presença de peças de faiança em chacota
as estruturas associadas às oficinas ou já com esmalte e pintura simples
cerâmicas de que se identificaram três com defeitos de cozedura, associadas a
fornos e um possível quarto exemplar. trempes.
Mais próximo dos edifícios com frente para
a antiga Rua Direita identificou-se ainda
um conjunto de estruturas negativas tipo
fossa colmatadas com peças cerâmicas
rejeitadas por apresentarem defeitos bem
como outros desperdícios normalmente
associados às oficinas de olaria.

37
Dois momentos da escavação do Forno 2
observando-se na foto da esquerda, em
primeiro plano, estruturas associadas à oficina
mais recente que estão construídas sobre um
nível de terras muito escuras o qual preenche
o abandono do Forno 2, associado às
produções da oficina mais antiga. Na foto da
direita observa-se o mesmo Forno 2 depois da
remoção daquelas terras negras.

Conjunto de louças comuns


vermelhas características do
momento mais antigo (século
XVI – Inícios do século XVII)

Conjunto de materiais
cerâmicos constituídos por
peças em chacota ou com
esmalte e pintura simples
com defeitos de cozedura
e trempes característico do
momento mais recente (finais
do século XVII – século XVIII)

38 39
conclusão vermelha como o cântaro ou a panela de
fogo (TEIXEIRA; DORDIO 1998; DORDIO
1999, principalmente Quadro 1).

Partindo do mercado abastecedor da Passada que foi mais de uma década,


cidade do Porto e das perspetivas que contamos hoje com o contributo de
procurávamos desenvolver e publicar várias centenas de novas escavações
com base nos trabalhos arqueológicos na cidade do Porto e o alargar de
realizados na década de 1990 e primeira perspetivas fundado no desenvolvimento
de 2000, começou a esboçar-se um da investigação numa escala internacional
modelo de abastecimento da cidade atenta às redes de comércio de muito
em cerâmica para os séculos XVI a XVIII mais amplo alcance que nos ajudam a
em que parecia estarmos perante uma reposicionar as oficinas e produções das
progressiva perda de cota maioritária de olarias regionais portuguesas numa nova
mercado das diferentes produções das dimensão de negócio no contexto da
olarias do Prado, sobretudo no que à primeira Modernidade.
louça em preto dizia respeito. Observava-
se uma crescente concorrência das Entre os muitos desafios que se colocam
olarias durienses (Barrô e S. Martinho de à investigação hoje elegemos o do
Mouros) especializadas na louça preta de esclarecimento desse momento ainda
ir ao fogo, como panelas e caçoilas, bem obscuro das transformações e ruturas
como das olarias de Aveiro e Ovar que ocorridas nos séculos XIV, XV e inícios
não parecem tanto interessadas na louça do XVI em que se terá configurado
de fogo mas mais na louça vermelha para um novo modelo de abastecimento
contentores de água e seus derivados cerâmico principalmente dirigido para as
como o cântaro, o alguidar e a tigela. necessidades de uma população urbana
Em paralelo, as olarias do Prado, ao que vinha mostrando uma grandeza até
abandonar a colocação das produções então desconhecida.
em preto de ir ao fogo, parecem
diversificar produções com louça vidrada
de ir ao fogo, nos tipos da caçoila e da
sertã, ou de outros tipos de cozinha
como o alguidar ou a tigela igualmente
vidradas. Estas mesmas olarias parecem
ainda apostadas noutros tipos de louça

40 41
02 notas para a gabriel pereira
história de Olaria nexo - património cultural
no concelho de
Ovar

42 43
primeiras referências os investigadores constataram que o Ainda que por via documental se o facto de a comercialização não se
consumo de louça vermelha relativa ao reconheça um conjunto de referências resumir apenas à produção de telha
“grupo VEROV” correspondia, no século que sugerem a circulação de produtos nem ao abastecimento daquela cidade,
Os dados recolhidos pela Arqueologia XVI, a cerca de 15% em um universo de cerâmicos de Ovar pelo menos desde aliás a partir daquele local é mencionada
em muito podem contribuir para o 2361 fragmentos cerâmicos (Barreira et o século XVI, em 1577, regista-se a a exportação de louça para mercados
estudo desta temática na medida que al 1998:150). Assinalando, na centúria entrada na Barra do Douro de materiais transatlânticos, nacionais como a Ilha
proporcionam informações significativas seguinte, um incremento significativo construtivos, designadamente telha, Terceira e a Ilha de São Miguel, no
e privilegiadas no acesso aos objectos aproximadamente 30% dos fragmentos procedentes de Ovar para as obras na arquipélago dos Açores, e internacionais
das populações do Passado, inseridos cerâmicos exumados eram oriundos cidade do Porto (Leão 2003:31). Ou como a Ilha de Barbados (Leão 1999:123).
nos mais diversos contextos os vestígios do centro produtor Aveiro-Ovar. Estes
arqueológicos podem relacionar-se ora dados parecem encontrar confirmação
com a produção e circuitos económicos na documentação histórica portuense,
– comércio – ora com o valor económico, designadamente no Aforamento das
social e cultural que estes objetos Sisas das Herdades de 1628 e de 1683,
representaram nas sociedades que deles definindo a então villa de Ovar como um
fizeram uso. dos principais centros que abastecia a
cidade (Real et al 1995:179).
Das várias intervenções arqueológicas
realizadas no Porto é frequente o Contudo, estudos posteriores com
registo de louça vermelha fosca, incidência na análise macroscópica
genericamente atribuída à região de e caracterização química das pastas
Aveiro-Ovar. Embora a informação cerâmicas (Castro 1998, Castro 1999)
produzida por aqueles trabalhos no apontam, com uma probabilidade de
cômputo geral seja desigual, carecendo 93%, a possibilidade de estes materiais
de investimento na análise e estudo arqueológicos serem provenientes da
dos objetos recolhidos. Poder-se-á cidade de Aveiro, designadamente do
destacar a título de exemplo os estudos Bairro das Olarias (Castro 1999). É certo
realizados na Casa da Rua da Alfândega que além de Ovar outras povoações da
Velha, ou também conhecida por Casa região de Aveiro produziam louça vermelha
do Infante, e que evidenciaram que o como Vagos, Aradas e a própria urbe de
consumo de louça vermelha na cidade Aveiro (Vilas-Boas 1946; Neves 1992;
do Porto data de meados do século XVI Silva 1996). Mas então porque motivo
(Real et al 1995:181). Incidindo sobre a documentação portuense se refere
uma amostra de um conjunto de louça especificamente à louça vermelha de Ovar,
Olaria Regalado. Primeiro quartel do séc. XX.
que ascende os 500.000 fragmentos, tendo esta sido produzida em Aveiro? Arquivo Manuel Ferreira Regalado.

44 45
Os inícios da produção de louça dos Livros de Casamentos celebrados A estes elementos acresce a referência fosse igualmente conduzida até Ovar por
vareira são ainda pouco conhecidos no na Igreja de São Cristovão de Ovar a João António, também oleiro, que em via fluvial, através dos esteiros da Ria
que concerne a oficinas e/ou oleiros reconhecem-se os nomes de pelo menos 1685 se encontrava pelo Porto (Leão de Aveiro, sendo depois canalizada para
estabelecidos em Ovar. Por intermédio três oleiros. 1999:116). Ainda vagas, estas referências Norte pela estrada de Espinho (Real et
revelam-se de extrema importância al 1995:179). Esta observação pode, em
ao ponto de documentarem o ofício, certa medida, justificar algumas referências
inclusive a produção olárica, em Ovar documentais que especificamente
pelo menos em finais do século XVI. aludem à “louça q veyo d’Var” e reforçar
a importância do porto fluvial de Ovar,
Todavia é provável que uma parte reconhecido desde cedo na documentação
significativa da produção louça aveirense medieval (Oliveira 1967).

Quadro I
Oleiros identificados nos Livros de Casamento Pormenor da região de Aveiro do Atlas Universal

– Séculos XVI-XVII de João Teixeira. 1648

46 47
a centúria de setecentos entrarmos imediatamente na Rua da Cal

e a rua das olarias de Pedra e vir logo para a Rua Direita


a visitar a capela dos Passos» (Oliveira
1967:197).

Ainda que o inquérito promovido pela «Atravessa-se a Rua da Cal de Pedra,


Coroa de 1788 seja omisso, à semelhança entra-se por uma viela, torna-se Rua
de outros como foral de Ovar emitido por Direita das Figueiras e desemboca-se na
D. Manuel, no século XVI, ou o inquérito Rua da Olaria (…)» (Oliveira 1967:198).
de 1814, para a centúria seguinte (Amorim
1998:72, Caetano 1986), as referências «Saindo para a Rua Direita que vai para
às oficinas e oleiros ovarenses na urbe a Lagoa dos Campos, passamos um
vareira tornam-se evidentes pelo menos a caminho que vai para a Ribeira, a ver
partir de meados do século XVIII. uma tenda de oleiro e um estaleiro de
barqueiro. Acabada a Rua de Santa Ana
Com a morte de D. Fernando Forjaz (…)» (Oliveira 1967:199).
Pereira, em 1700, dá-se a extinção da
Casa do Condado da Feira, passando
todos os bens a ser integrados por D.
Pedro II na Casa do Infantado, sendo
então pertencente à Comarca de Esgueira
e ao Termo da Feira. Neste contexto, foi
elaborado o Tombo dos Bens da Casa
da Feira e de que resultou uma descrição
exaustiva da Vila de Ovar entre 1762 e
1768. Desconhecemos o documento na
sua totalidade pelo que reproduzimos
alguns excertos e anotações do mons.
Miguel de Oliveira (1967:195-201), e que
nos quais se distingue pelo menos três
áreas de produção:

«Se quisermos visitar duas tendas de


oleiro, temo-las agora ao sair de uma viela Pormenor do Livro da Sentença de Portados
para a Rua Direita. Mas talvez seja melhor da Villa de Ovar em 1767, fólio introdutório da
Rua da Olaria 116v (AHMSMF)
48 49
Identificação dos núcleos oleiros ovarenses Excerto da Planta da Villa de Ovar com a
na cartografia de finais do século XVIII e sua localização aproximada dos núcleos oleiros
relação com o esteiro da Ria de Aveiro e o documentados no século XVIII (Pereira 2012)
porto de Ovar (Pereira 2012)

Com base na planta da villa de Ovar, Com base nestas representações e nas conforme se denota poderá estar
datada de finais do século XVIII hipóteses elencadas pelos investigadores igualmente relacionada com critérios de
(Bernardo 2008), e no estudo da Manuel Real e Rute Reimão quanto à proximidade das matérias-primas, da
evolução toponímica dos arruamentos distribuição dos fornos medievais no facilidade de escoamento de produtos
preconizado pelo historiador local núcleo urbano do Porto (Real e Reimão e, ainda, por se tratarem de áreas
Alberto Lamy (2001), representa-se uma 1996:81-82), verifica-se uma tendência desafogadas, onde o risco de incêndio
tentativa de reconstituição da localização peri-urbana para a localização das seria menor, como sugerem aqueles
das várias oficinas ou tendas de oleiro a oficinas e inclusive da rua da olaria, cujo investigadores para o caso portuense
laborar neste período. significado pode ser explicado pela (Real e Reimão 1996:82). Neste sentido e
etimologia da própria palavra olaria, ainda que se desconheça a que período
tratando-se talvez da zona da vila onde remonta a formação deste arruamento
se concentrava a maioria das tendas “especializado”, poderemos afirmar que a
de oleiro. Por seu turno, a localização sua génese é seguramente anterior ao

50 51
século XVIII e que o desenvolvimento da Câmara de Ovar, a maioria destas
urbano desta área já se encontrava cartas de ofício não descrimina o registo
consolidado neste período (França 2011). de morada de cada oleiro. O motivo
que terá levado a esta omissão é-nos
A par destas referências espaciais desconhecido, pelo que sugerimos que
elencam-se outras relativas a nomeações a localização das oficinas estaria situada
para juiz do ofício (Lamy 2009:472), a em plena rua da olaria, não havendo
quem competia avaliar, sob a forma de necessidade de escrivão mencionar a
exame (Pinho 1991:2), e, atribuir Cartas localização da tenda do oleiro, visto ter
de ofício. Coligidas nos Livros de Registo assento naquele arruamento.

Quadro III
Quadro II Cartas de Ofício de Oleiro, finais do Século
Juízes do Ofício de Oleiro, finais do Século XVIII (1792-1799)
XVIII (1781-1799) (Fonte AMO 104 – Livro de Registos da
(adaptado de Lamy 2009:472) Câmara)
52 53
Pormenor da Carta de Ofício de Oleiro de de 24 elementos a produzirem louça função dos preços (AHMP, A-PUB 1274,
António Dias da Costa, 1796 (AMO Livro de ordinária. fl.384). É certo que a análise quantitativa
Registos da Câmara).
tem por incidência as despesas da
De regresso ao mercado portuense, Câmara Portuense, pelo que os valores
no século XVIII são inúmeros os que retractam a louça ordinária deverão
fornecimentos provenientes de Ovar que ser meramente indicativos, visto que o seu
dão entrada na barra do Douro (Leão destino seria o comércio corrente.
1999:114-116). De acordo com o Quadro
III, a partir de meados da centúria de Também no mercado transatlântico se
setecentos, assiste-se a um incremento reconhecem algumas transações, ainda
de materiais cerâmicos ovarenses na que não se conheçam quais os artigos
cidade do Porto. As primeiras referências despachados para o Brasil. Manuel Leão
não especificam quais os objectos que sugere tratarem-se de artigos destinados
entraram naquela cidade, mencionando a construção civil, visto utilizar-se em um
apenas a sua proveniência, louça que dos casos o termo peça como medida
veyo do Var, bem como os gastos que de quantidade. Unidade, acrescenta o
a Câmara teve com a sua aquisição: em autor, que não seria corrente quando se
1749, doze mil e novecentos réis e, em trata de louça utilitária de uso doméstico
1751, foram liquidados oitocentos réis (Leão 2003:31). Não descurando aquela
em uns carretos de louça, a que estavam hipótese, o termo peça poderá ter
incluídos as despesas de transporte por sido aplicado, eventualmente, a fim de
barco. quantificar com maior exactidão os artigos
expedidos, 196 peças de louça.
A esmagadora maioria de estes
fornecimentos consiste em materiais Em relação às vias de comércio e de
construtivos, nomeadamente novo de regresso ao Porto é provável que
Para além destas, existe uma outra fonte que Com base nestas fontes é possível «alcatruzes» de tipologia diversa e a maioria da olaria ovarense atingisse
ainda que indireta identifica um outro oleiro contabilizar vinte e dois oleiros «calðes», empregues em obras de aquele mercado por via terrestre,
residente em Ovar. Referimo-nos ao processo estabelecidos na outrora villa d’Ovar restauro nos aquedutos da cidade. através de louceiros ambulantes que
do padre Domingos Tomás acusado pelo entre 1733 e 1799 (Quadros I e II). Não Concomitantemente, associados a se deslocavam a Invicta. São exemplo:
Tribunal do Santo Ofício de Coimbra de estamos muito longe dos trinta e cinco incêndios que deflagraram um pouco por Pedro Gomes, Maria da Trindade, Josefa
«solicitação» em 1752-1753 (ANTT). A oleiros indicados pelo Desembargador aquela cidade, são reconhecidas algumas Pinto, Verónica Gomes, Ana Gomes,
importância deste documento consiste no da Comarca da Feira em 1801 (Amorim referências a louça de índole utilitária e de Rosa Ferreira, Inácia Ferreira, Anastácia
facto do Réu, com 54 anos de idade, ter 1994:227-285; Amorim 1998:73). Tendo- que se destacam os afamados cântaros Roiz, Mariana de Oliveira e Maria dos
como filiação António Tomás, oleiro. se identificado até esta data um total ovarenses, cujas tipologias variava em Santos vendedores, naturais de Ovar,

54 55
que vendedores ficaram imortalizados Contrato de 1758 que refere o fornecimento de
na história ao verem os seus itens cerca de mil alcatruzes procedentes de Ovar e
com destino à recuperação dos aquedutos da
consumidos no auxílio aos vários
cidade do Porto (AHMP A-PUB 1262, fl. 47)
incêndios que deflagraram no Porto ao
longo do século XVIII. Todavia existem,
ainda que esporádicas, outras referências Fornecimento de cerca de mil alcatruzes

que atestam o recurso à via marítima. procedentes de Ovar e com destino à


recuperação dos aquedutos da cidade do
Destacamos um documento datado Porto (AHMP A-PUB 1262, fl. 47)
de 1758, no qual os oleiros António
Regalado e Francisco Dias forneceram
cerca de mil alcatruzes a Camara
Portuense para obras de recuperação dos
aquedutos daquela cidade (AHMP A-PUB
1262, fl. 47). Além do reconhecimento
da transacção efectuada, no montante
de seis mil e quarenta e seis réis, o
presente documento refere que 480
réis foram utilizados para liquidar as
despesas da barca. Desconhecemos se
a embarcação transportaria outra carga
alem dos alcatruzes, tal como o sal, item
de primeira instancia a atracar no cais
duriense (Bastos 2009).

57
Quadro IV
Cerâmica de Ovar na Barra do Douro, do Século
XVIII a inícios do Século XIX
(adaptado de Leão 1999:114-116)

58 59
60 61
62 63
Quadro V os oleiros de oitocentos Quadro VI
Proprietários das Fábricas de Louça
vermelha da Vila de Ovar (1815-1817)
e os adventos da Juízes do Ofício de Oleiro, primeiro quartel do
Século XIX (1800-1820)
(adaptado de Amorim 1998:73) industrialização (adaptado de Lamy 2009:472)

Na descrição da Comarca da Feira, realizada


pelo Desembargador e Corregedor Columbano
Pinto Ribeiro e Castro em 1801, Ovar é tido como
uma vila das mais «populosas e notaveis do
Reino pela situação em que se acha confinando
de huma parte com o Mar e da outra com o
aprazivel Rio que vai ter a Cidade de Aveiro de
que tirão seus Moradores grandes vantagens...»,
sendo a única freguesia da Comarca com uma
população ativa estabelecida na produção de
louça, de acordo com aquele manuscrito, um
total de trinta e cinco oleiros (Amorim 1994:227-
285; Amorim 1998:73). Ainda no primeiro quartel
do século XIX destaca-se o Mapa de todas as
Fabricas que acham estabelecidas no Distrito
da villa d’Ovar (1815-1817), estudado pela
investigadora Inês Amorim (1998:72-73). Além
dos nomes dos mestres varinos, em número de
dezanove, o documento considera a existência
de vinte e um oficiais, senvdo que os aprendizes
haviam fugido «na ocasião da guerra, por conta
do recrutamento». A louça mantinha a sua grande
reputação, tendo como principais destinos as
Beiras e o Minho. A cidade do Porto continuava a
auferir do seu estatuto de bom centro distribuidor
(Amorim 1998:72). A estabilidade documentada
por aquela investigadora é reforçada pelo menos
até à década de 30 de oitocentos, pelas trinta e
três Cartas de Ofício coligidas entre 1801 e 1824.

64 65
Quadro VII
Cartas de Ofício de Oleiro, inícios do Século
XIX (1801-1824)
(Fonte AMO 105 e 107 – Livro de Registos
da Câmara)

66 67
Em nota de curiosidade poder-se-á Abarcando um período de (Teixeira de Pinho 1959:28). Por outro Mapa de estatística de atividades agrícolas e

referir que as listagens de Juízes e aproximadamente três décadas, lado o número total de operários, além industriais do concelho de Ovar, 1847-1883
(AMO, 1500).
Oficiais revelam com frequência apelidos estes documentos têm por base o do mestre não passava de 6, no qual se
em comum – Dias, Lopes, Regalado, levantamento estatístico das oficinas incluíam uma ou duas mulheres e um a
Resende, Santos, Sousa etc. – o que oleiras existentes no concelho a 1 de dois rapazes. Sendo os números de 3 a 4
denunciam, por um lado, uma tendência Janeiro de cada ano (Pinho 1991:2). empregados o valor mais frequente.
para um ofício de raiz familiar, de De acordo com os dados, o número
transmissão geracional, e por outro, de oficinas variou entre dezoito e treze, A informação prestada em Março de
poderá ser indicativo de certas migrações sendo o número quinze o mais frequente. 1863, referente ao ano transacto, parece
desta classe profissional para outros Valor igualmente testemunhado por notar uma certa estabilidade no que
locais ou mercados de consumo. Neste João Frederico Teixeira de Pinho, em concerne aos mercados de consumo
sentido a pervivência, entre 1814 e 1817, 1868, que acrescenta que a louça deste género de louça, exportando-
do apelido Resende quer em Ovar quer produzida era «perfeita no seu género, se mais de 14.000 arrobas de peças
em Aveiro poderá ser um indício destas exportando-se muita dela para diferentes cerâmicas, e que sustenta a observação
Pormenor de Carta de Oleiro de José Pereira
Vidinha, 1804 (AMO, 1500). movimentações. terras notáveis a dez léguas em redor» de Teixeira de Pinho, seis anos mais tarde.

A partir da segunda metade do século


XIX destacam-se os Mapas Estatísticos
da extinta Administração Concelhia
remetidos ao Governador do Distrito,
balizados entre 1851 e 1881 (Pinho
1991:2; Silva 1996:60).

Pormenor da capa “Mappas sobre differentes


profissões e objectos” (AMO, 1500).

69
Distribuição espacial da olaria ovarense no Entre À cidade do Porto, cujo lugar de Feira, Estarreja e Alumieira (Pinheiro da Distribuição espacial da olaria ovarense no
Douro e Vouga, meados do séc. XIX. Entre Douro e Vouga, meados do século XIX
destaque permanece imutável, acrescem Bemposta), havendo um outro circuito via
(Pereira 2012).
os mercados e feiras de Macieira de Ria com destino a Sul, nomeadamente,
Cambra, Oliveira de Azeméis, Arrifana, Aveiro, Vista Alegre e Águeda.

70 71
Venda de loiça no mercado.
Fonte Jornal “João Semana”, 1988.

Aspecto geral da feira da Cordoaria


no Porto. Mercado antigo da Porta
do Olival. Ao fundo vê-se a Torre dos
Clérigos. Reprodução de uma gravura
de J. J. Forrester, de 1835.
(AHMP, F.P:CMP:9:179.1)

72 73
Postal do Mercado da Cordoaria. Venda de loiça da Olaria Regalado em Feira
Inícios do séc. XX. de Oliveira de Azeméis. Anos 40 do séc. XX.
Photographia Guedes. Arquivo Manuel Ferreira Regalado.
75
Venda de loiça da Olaria Regalado no Mercado No que concerne às tipologias dos noite”. Em relação ao número de peças Louça vermelha de Ovar produzida no ano
da Vista Alegre, em Ílhavo. Anos 70 do séc. XX.
diferentes recipientes cerâmicos produzidas, verifica-se um claro predomínio de 1862.
Arquivo Manuel Ferreira Regalado.
produzidos e que se traduziam em na produção de hidrocerames e de louça
valor global de 251$550 réis por olaria, de índole doméstica, mesa e cozinha,
Mostruário de loiça da Olaria Regalado.
Anos 70 do séc. XX. Arquivo Manuel Ferreira são reconhecidos: as tigelas, púcaros, quando comparados com a produção de
Regalado. alguidares, infusas, cântaros, vasos, servidores, vasos para flores e de selhões,
selhões e servidores ou “vasos de para lavagens e outros usos.

tigelas
púcaros
alguidares (grandes e pequenos)
infusas grandes
cântaros
vasos
76 77
Uma outra informação emitida quatorze Louça vermelha de Ovar produzida no ano de
1876.
anos depois, 1876-77, permite-
nos constatar que a produção de
determinados tipos de cerâmica havia
aumentado significativamente em prol
de outros que naquele ano não se
produziram sequer.

tigelas
púcaros
alguidares (grandes e pequenos)
infusas grandes
infusas pequenas
cântaros
vasos
selhões
talhas

78 79
No cômputo geral, estes dados As restantes 15 são consideradas pouco clara estando o ofício subdivido em
revelam-se francamente peculiares de «pequena industria», o mesmo que categorias «Fábricas de louça vermelha
quando confrontados com os mapas olarias produtoras de louça. Segundo ordinária» e «Negociantes de louça»,
de caracterização das fábricas de louça o documento, em 1899, a produção de sendo nesta onde se inserem os oleiros
vermelha de 1852 a 1881 ao sugerirem cerâmica em Ovar empregava 133 pessoas- representados. Á margem destas lacunas
uma tendência para o desenvolvimento 88 do sexo masculino e 45 do sexo esta fonte permite a análise ao longo de
das olarias no sentido de melhorarem feminino. Em relação a salários constata- um período de mais de meio século. Em
a sua produção e se adaptarem ao se que as remunerações das oficinas de 1894 laboravam oito fábricas de louça
progresso industrial. materiais de construção variavam entre $160 vermelha ordinária, tendo o número de
e os $200 por/dia, enquanto nas olarias negociantes de louça reduzido de quinze
No inquérito industrial de 1890, os valores registados eram ligeiramente para doze, quando comparado com os
promovido pelo Ministério das Obras superiores, oscilando entre $160 e os $360 dados estatísticos de 1881 e manter-se-á
Públicas Direcção Geral do Comércio por/dia. Em relação às matérias-primas praticamente inalterado até ao primeiro
e Industria, são inventariadas em Ovar empregues os valores considerados apenas quartel da centúria seguinte.
22 unidades produtoras de «louça reflectem o consumo global de barro
ordinária, vermelha ou preta, telha e utilizado pela pequena indústria – 859m³ Os finais de oitocentos prenunciam o
tijolo», destacando-se os produtores de - cujo valor foi de 909$00 réis. Por último processo de declínio da olaria ovarense,
materiais de construção: a relação entre produção e mercados tendo muitos dos operários, em 1895,
de consumo, o valor apresentado é de emigrado para o Brasil (Lamy 1977:403).
8.345$00 réis, sendo 5.195$00 resultantes Os próprios mercados de consumo terão
da pequena olaria – Cântaros, alguidares, motivado a movimentação de muitos
tijelas, infusas, telhas, etc. – e o restante da oleiros ovarenses para outras zonas
produção e venda de outros industriais, cuja do distrito (Regalado 1972). A principal
quantidade e valor são praticamente iguais causa estará relacionada com a falta de
– telha 200:000 = 400$00; tijolo 11.000 = empreendedorismo por parte dos mestres
50$00. oleiros, conforme sublinha Francisco
Fragateiro no Jornal O Ovarense de
Contudo, à medida que nos aproximamos 1897: Sempre o mesmo barro do
dos finais do século XIX verifica-se uma Boco, sempre o mesmo tipo dos seus
ligeira tendência de declínio, ainda que se artefactos. O espírito de rotina, o medo
continue a verificar uma certa estabilidade de uma tentativa, os fornos rudimentares,
na produção oleira vareira (Silva 1996:60). que gastam muito combustível e cuja
Para este período, tomamos como fonte temperatura, por não se poder graduar,
o Annuario Commercial de Portugal. muitas vezes estala a louça, tudo impede
Ainda que a informação contida seja que se lucre e se progrida.

80 81
o século xx e a olaria Em 1907, José Queirós na sua obra de o esboço, a instrocção profissional,
vareira renome Ceramica Portugueza destaca e apurado o barro, selecionado os
os oleiros António Pereira de Resende processos, creando tipos d’uma beleza e
e António Pereira Silvestre, embora não d’uma doctilidade atrativas, fabricasse-se
especifique a sua proveniência nem para os mercados mais remunerados, de
Nos inícios do século XX, são diversos mencione as restantes olarias ovarenses par com a louça antiga, productos novos
Desenhos com a indicação «Ovar (Vermelha)»
encontrados no espólio de Manuel Monteiro os autores que retratam a produção (Queirós 1907:198). em vazos, em cantarinhas, em terra-cotas,
(adapt. Nunes e Fernandes 1998) de louça vermelha em Ovar. Em 1905, em ladrilhos.
Fortunato Augusto Freire Temudo refere Além da louça vermelha ordinária, outros
que os produtos fabricados são louça autores como Ramalho Ortigão, Charles Em 1911 sobreviviam onze olarias que
vermelha ordinária que não é polida nem Lepierre e Emanuel Ribeiro atribuem exportavam para o Porto e arredores e
vidrada. As peças que geralmente ali se a Ovar, mais propriamente Arada, a quase todo o distrito (Lamy 1977:403).
fabricam são cântaros, ânforas, bilhas, produção de louça preta. Contudo não A sua distribuição espacial aparentemente
panelas, púcaros, tigelas, alguidares, está comprovado de facto, em termos aleatória, permite-nos identificar dois
vasos para plantas, caçarolas, etc. (…) históricos e etnográficos, que naquela núcleos, compostos por três oficinas,
Esta louça é cozida de uma só vez, e freguesia se tivesse produzido louça o primeiro localizado no Largo de São
quando a cozedura é perfeita produz, pelo preta. Devendo tratar-se de um equívoco Miguel e, o segundo nas Maralhavas.
toque, um som bastante sonoro. É, por com Aradas, freguesia do município de A afamada rua da Olaria achava-se,
assim dizer, a verdadeira louça do povo Aveiro, importante centro produtor de então, quase desprovida deste ofício,
das aldeias e vilas próximas, porque lhe louça preta que remonta ao século XV registando apenas uma oficina em
serve para cozinha, para o transporte de (Fernandes 2004:41-73). funcionamento (Ferreira Gomes 1984).
água, etc., gozando da boa qualidade
de conservar a água fresca pelo facto da Segundo o Jornal A Pátria de 1910, as No ano seguinte, João Vasco de
pasta de é feita ser muito porosa. Alguns olarias de Ovar produziam anualmente Carvalho documenta estranhamente
destes produtos cerâmicos são bastante oito a nove fornadas o que correspondia sete fábricas de louça vermelha de
perfeitos tanto no fabrico como na forma, a um valor médio total de um cento de barro que exportavam na sua maioria
apresentando um perfil admiravelmente réis. Valores que considera irrisórios de para as freguesias limítrofes, sendo os
belo e simples (Temudo 1905:45). A este tal modo que arrasta consigo (…) na cântaros de bocca larga e uma só asa (…)
período deverão relacionar-se, igualmente, agonia, os que se obsitnam a ezercela… afamados em todo o centro e norte do
os seis desenhos de peças encontrados Havia a necessidade de melhorar, de districto (Carvalho 1912:9). Acrescenta o
no espólio de Manuel Monteiro (Nunes e abraçar o progresso (…) Tentasse ahi o autor que a decadência desta indústria
Fernandes 1998:18-19). empreendimento de federar numa fabrica local foi motivado pela preferência que
todas as olarias à data, deixa-se-lhe a modernamente se dá à louça branca,
maquina manual moderna, fizesse-se de porcelana, e, por outro, tambem ao
a educação do artista pelo desenho, estabelecimento, em vários pontos do paiz,

82 83
Identificação das várias olarias existentes em
inícios do século XX, na Planta topographica
da villa de Ovar de 1913 (Pereira 2012)

Olaria Regalado. 1935. Fotografia de Estúdio


Almeida.

de importantes fabricas providas do mais quatro oficinas. Algo que nos parece
moderno machinismo. incongruente na medida que em 1913 e
1914 existiam entre doze a treze olarias
À semelhança do Annuario Commercial de (Regalado 1972), situadas no mesmo
Portugal, cremos que o agrónomo João local das oficinas documentadas em
Vasco de Carvalho apenas se refere ás 1911. Paralelamente, também o Annuario
olarias que se dedicavam exclusivamente Commercial de Portugal regista doze
à produção de louça ordinária, uma vez oficinas de oleiro no activo, entre 1915 e
que esta redução drástica implicaria 1918, a par de seis fábricas produtoras de
o fecho no espaço de um ano de materiais construtivos.

84 85
À medida que avançamos na centúria de de certos oleiros e impulsionando o
da “peixoto, ribeiro & c.ª”
Anúncio comercial publicado na imprensa
em inícios do séc. XX. Arquivo da Biblioteca
novecentos deparamo-nos sensivelmente surgimento de novas oficinas e fábricas
a partir da década de 1940, com uma em outros locais do distrito como: à “sociedade industrial de Municipal de Ovar.

redução significativa das olarias vareiras. Francisco Correia Vidinha, em Angeja ovar, lda.” Telha marselhesa produzida na Fábrica Peixoto,
Ribeiro & C.ª.
O hiato documental de aproximadamente (Altino 2015), Manuel Dias Resende, em
de vinte anos, demonstra-nos uma Lourosa; Manuel e Tomé, filhos de Manuel
redução quase abismal das oficinas, Dias Resende, em Lourosa e São João Fundada em 1904 a Peixoto, Ribeiro e
subsistindo apenas sete, em 1944, de de Vêr ou Manuel Dias Resende Leite, em C.ª foi das primeiras fábricas, na acepção
acordo com o Annuario Commercial de Argoncilhe. moderna do termo, de cerâmica industrial
Portugal. É certo que o desenvolvimento estabelecida em Ovar. Ao ponto de não
de fábricas de «louça branca» nos Quatro anos mais tarde, em 1948, o ser indiferente ao olhar do engenheiro
Concelhos de Porto, Gaia e inclusive em número de olarias reduzia-se a três agrónomo João Vasco de Carvalho: «É
Aveiro, ao longo do século XIX, em muito fábricas que se arrastaram no tempo até notável uma fabrica de telha francêsa e
terão contribuído para o encerramento acabarem por sucumbir lentamente na tejolo, existente nos espaçoso Largo de S.
das olarias tradicionais de louça década de 1980. Referimo-nos à olaria Sebastião, junto da estação do Caminho
ovarense, ou motivado para a migração de Evaristo Estarreja e às fábricas SIOL e de Ferro. Essa fabrica, moderna, abastece
Manuel Ferreira Regalado, Lda.. quasi todos os concelhos circumvizinhos
e relegou para um plano inferior a
procurada telha de quilha, que também
se fabricava em Ovar e particularmente
na visinha freguesia de Vallega» (Carvalho
1912:9-10).

Em 1948 a antiga fábrica de telha e tijolo


denominada então de Peixoto, Filhos &
C.ª foi vendida ao construtor civil José
Gomes da Silva Monteiro e transformada
em fábrica de grés e cerâmica vermelha.
Passou a designar-se de SIOL –
Sociedade Industrial de Ovar, Lda., tendo
encerrado em 1981 após um violento
incêndio.

86 87
Das Olarias Regalado à recuperação dos aquedutos da cidade do Olaria Regalado. Anos 40 do séc. XX.
Porto, em 1758. Sendo, posteriormente Juiz
“Fábrica de Cerâmica
Arquivo Manuel Ferreira Regalado.

do Ofício de Oleiro no ano de 1781. Sucede-


de São Miguel” lhe ainda Francisco Gomes Regalado que
em 1790 estava igualmente a negociar o
fornecimento de cerâmica com a Câmara
Um dos melhores exemplos da persistência Portuense. Mais tarde, destacamos Tomé
oleira em Ovar e da própria transmissão Ferreira Regalado a que lhe foi atribuída carta
geracional do ofício é sem sombra de de ofício em 1813 e com oficina estabelecida
dúvidas a Família Regalado. Na verdade na Rua do Seixal. Cinco anos mais tarde,
desde meados do século XVIII que se Tomé Regalado era eleito Juíz do Ofício.
reconhece pela documentação a presença
desta família de oleiros na Villa de Ovar. Ao longo do século XIX, as olarias Regalado
António Ferreira Regalado inicia, de acordo estavam fortemente estabelecidas no seio
com os dados disponíveis, a genealogia da urbe de Ovar ao ponto de laborarem
profissional desta família ao transacionar, quatro oficinas em simultâneo, durante um
em conjunto com Francisco Dias Ferreira, período de dois anos – 1876 e 1877 (Lamy
o fornecimento de alcatruzes para a 2001:204).

Fábrica SIOL. Anos 40 do séc. XX.


Fotografia do Estúdio Almeida.

Anúncio comercial publicado na


imprensa na segunda metade do
séc. XX. Arquivo da Biblioteca
Municipal de Ovar.

88 89
Anúncio comercial da Fábrica Manuel Ferreira Entrados no século XX, a família Regalado mais novo, ainda que pouco anos depois, Perspetivas da Fábrica Manuel Ferreira
Regalado Lda., publicado na imprensa de Regalado Lda. Finais do séc. XX. Arquivo da
foi sobrevivendo à industrialização, em 1986, cesse actividade e encerre
meados do séc. XX. Arquivo da Biblioteca Câmara Municipal de Ovar.
Municipal de Ovar. constituindo na década de 70 a firma consigo uma longa dinastia, com pelo
Manuel Ferreira Regalado, Lda., também menos 200 anos, de mestres oleiros.
conhecida por Fábrica de Cerâmica
de S. Miguel, dedicada à produção de
materiais de construção (telha e tijolo)
e, no seguimento da olaria herdada de
seu pai, de louça utilitária. Mais tarde em
1977 é acrescentada à firma os sócios
Ana da Silva Soares Regalado, esposa de
Manuel, e José Eduardo Regalado, filho

90 91
Cartão e Guia de Remessa da Fábrica Manuel
Ferreira Regalado. Meados do séc. XX. Arquivo
Manuel Ferreira Regalado.

92 93
José Ferreira Regalado 1849-1923. Arquivo Projeto da chaminé do forno da Olaria
Manuel Ferreira Regalado Regalado, da autoria de Manuel Ferreira
Regalado. Escala: 1/100. 1950. Arquivo Manuel
Manuel Ferreira Regalado 1874-1943. Arquivo Ferreira Regalado.
Manuel Ferreira Regalado.
Chaminé do forno da Olaria Regalado. Anos
Rosa Dias Regalado, esposa de Manuel 80 do séc. XX. Fotografia de José Eduardo
Ferreira Regalado. Arquivo Manuel Ferreira Regalado.
Regalado.

Manuel Ferreira Regalado Júnior 1913-1996.


Arquivo Manuel Ferreira Regalado.

94 95
da olaria “alto do saboga”
ao “o caco”

A instalação desta oficina no Alto do


Saboga nos inícios do século XX deve-
se, de acordo com a documentação
disponível, a João Rodrigues Estarreja,
oleiro descendente de uma outra família
de mestres estabelecidos em Ovar, pelo
menos desde o século XIX e, que em
1911, tinha oficina instalada na Rua de
São José (Lamy 2001: 203).

À semelhança de outras, também a olaria


do Alto do Saboga passou de geração em
geração, sendo Evaristo Estarreja o último
oleiro a rodar naquele estabelecimento, a
quando o seu encerramento em 1985.

Doze anos depois a ceramista Georgina


Queiroz reabriu as portas desta antiga
oficina, sob a designação de Olaria
“O Caco” garantindo a manutenção
e preservação daquele espaço até à
actualidade.

Evaristo Estarreja. Finais dos anos 70


do séc. XX. Fotografia de José Eduardo
Olaria O Caco. 2018.
Regalado.
97
A produção de cerâmica À semelhança das origens da olaria
ovarense também se desconhece os
no Concelho de Ovar: primórdios deste centro produtor de telha.
a telha da Regedoura O recente contributo acerca do núcleo
(Válega) e de Esmoriz industrial da Fontela, em Avanca (Pereira
2010), sugere a longevidade da produção,
tendo por base um emprazamento do
Outro ramo fundamental da cerâmica Mosteiro de Arouca, datado de 1526,
dizia respeito aos materiais de em que se refere a «(...) metade do chão
construção, cuja produção se extendia do forno da Fontella» (Pereira 2010:111).
aos limites concelhios, designadamente Contudo só a partir de 1865 é que
em Válega e, por um período curto de se reconhecem dados mais concisos
tempo, em Esmoriz. nomeadamente doze fabricantes de telha
e tijolo distribuídos por tês fornos (Pereira
No que se refere à atual freguesia de 2010:111-113).
Válega, designadamente ao centro
de produção de telha de Regedoura Em relação ao núcleo da Regedoura
os dados que dispomos, ainda que apenas os Mapas Estatísticos da extinta
esparsos, remetem para o século XIX. Administração Concelhia remetidos ao
Pinho Leal em Portugal Antigo e Moderno Governador do Distrito, permitem recolher
descreve a produção deste lugar: «É algumas informações em relação a este
célebre pela optima telha que aqui se centro produtor balizadas entre 1853 e
fabrica, a melhor do reino. O barro para 1881.
ella vem das proximidades da capella de
Nossa Senhora d’Entr’Águas, Gondes,
Ribeira de Mouro e outros sítios mais
próximos. Também na Fontela, aldeia da
freguesia d’Avanca (...) e que fica uns 6
quilometros a E. do Oceano, ha barro da
mesma qualidade, com o qual se fabrica
telha egual á da Regedoura, que fica
apenas a 6 kilometros de Fontela, pelo
que tanto faz (para a qualidade) dizer telha
da Regedoura, como e Fontela, pois o
barro é todo extraído da mesma zona.».

98 99
Localização de cinco fornos de telha em Produtores de Telha da Regedoura
Válega (Esboço da autoria de Miguel de constantes no Livro do Registo das Licenças
Oliveira) de Porta aberta - 1919-1921 (AMO XXXXX)

Em um estudo sobre a extinta Capela do dos nove fornos de telha existentes em


Senhor da Boaventura (Nunes 2006:25) Válega e que ainda laboravam nos anos
é-nos transmitida, por intermédio de um 20 do século XX, como se depreende das
esboço da “Memória Histórica Descritiva licenças de Porta Aberta emitidas pela
de Válega” de 1917 da autori a do mons. Câmara Municipal entre 1919-1921.
Miguel de Oliveira, a localização de cinco

100 101
Trabalhadores junto aos fornos da telha da No que concerne á produção de telha
Regedoura. Primeira metade do séc. XX. em Esmoriz, os elementos estatísticos
Arquivo da Câmara Municipal de Ovar.
relativos ao ano de 1881 identificam
um forno de produção de que era
proprietário Bernardo Alves da Rocha.
Desconhecemos com exactidão o local,
sendo provável que o micro-topónimo
Forno da Telha, situado nos limites
administrativos das actuais freguesias
de Esmoriz e Cortegaça, seja uma
reminiscência alusiva àquele local.

Nos anos 30 de novecentos são ainda


publicitadas as telhas da Regedoura,
subsistindo a memória deste núcleo
produtor, que se havia extinguido em
1934.

Anúncios comerciais da Telha da Regedoura.


Inícios do Séc. XX. Arquivo da Biblioteca
Municipal de Ovar.

102 103
03 contributos para o raquel elvas
estudo do processo serviço de património
de produção da
olaria de ovar: histórico e museus
matéria-prima, loiça câmara municipal de
utilitária e materiais ovar
de construção

104 105
matéria-prima Barreiro(s), identificadas no concelho de
Ovar, reportam-nos para alguns locais que
poderão estar associados à extração de
argilas e/ou terras alagadiças: esqueiro
A argila* (barro) é a matéria-prima utilizada do barreiro, localizado nas imediações do
no fabrico de produtos cerâmicos devido lugar de Cabanões, na freguesia de São
ao seu elevado grau de plasticidade, João de Ovar, mencionado no foral de
resultado da decomposição de rochas D. Manuel; Barreiro e Barreiros na
feldspáticas, através de ataque químico freguesia de Maceda; Barreiro, datado pelo
(ação da água ou ácidos) ou ataque físico menos desde 1854, em Esmoriz; lugar do
(erosão, vulcanismo, etc.). É extraída em Barreiro em S. Vicente Pereira; Barreiros,
jazidas, conhecidas por barreiros. junto ao lugar do Cadaval, na freguesia de
Válega (PEREIRA 2012, 44-45).
Segundo Gabriel Rocha Pereira, as
formas toponímicas relacionadas com

Barreiro em São João de Ovar. Anos 80 do


séc. XX2

Mapa de distribuição
dos locais de extração de matéria-prima e
Nota: os termos que ao longo do texto se
zonas de produção de cerâmica utilitária e
encontram seguidos de asterisco possuem
materiais de construção no concelho de Ovar
descrição no glossário.

106 107
Placa toponímica da Rua do Barreiro, em São As argilas extraídas destes locais eram Barro de liga proveniente de Vagos.

João de Ovar. 2017 utilizadas nas olarias ovarenses como


Recibo de recebimento de matéria-prima da
barro pobre, uma argila mais arenosa, Fábrica de Cerâmica de S. Miguel de Manuel
Terra argilosa encontrada na zona dos
Barreiros, em São João de Ovar. 2017
à qual era misturada o chamado Ferreira Regalado, Ovar.

barro de liga, de forma a adquirir uma Meados do séc. XX. Arquivo de Manuel Ferreira
Regalado.
Barro pobre proveniente da zona dos Barreiros, maior ductilidade. O barro pobre, por
em São João de Ovar.
esgotamento das jazidas, passou a
Barro pobre proveniente de Águeda. ser adquirido em Águeda, e possuía a
particularidade de apresentar melhor
qualidade que o proveniente da região
de Ovar. O barro de liga, de maior
plasticidade e maleabilidade, era desde
meados do século XIX, extraído no lugar
do Boco, freguesia de Soza (Vagos), e
transportado até Ovar pela ria de Aveiro
em barcos mercantéis até aos Cais da
Ribeira e do Carregal, e daí conduzido
em carros de bois para as oficinas.
Na década de 50 do séc. XX, após o
esgotamento das jazidas de Vagos,
passou-se a adquirir o barro de liga em
Bustos e Esgueira, que era transportado
até às oficinas por camioneta.

108 109
Ao chegar às olarias, a argila era os pés descalços, durante cerca de duas
descarregada e conservada normalmente ou mais horas, para que se conseguisse a
em locais próximos da oficina ou local de pasta necessária para um dia de trabalho.
manufatura (os também denominados Esta operação era fundamental para garantir
“barreiros” ou “poços”), até ser necessária a resistência e durabilidade das peças, que
para a sua utilização. Quando chegava, a após a cozedura, produziam ao tocar, um
argila era imediatamente molhada, de forma tinido especial, apenas reconhecido pelos
a adquirir maior plasticidade, ficando aí “a entendidos (CHAVES 2012, 192).
curtir” (a amolecer) por um período mínimo
de oito dias (GOMES 2001, 130). A remoção das impurezas, ou seja, das
partículas minerais de grande calibre e
A mistura do barro pobre e do barro de restos de material orgânico (plantas, etc.),
liga era feita imediatamente antes da sua poderia ser feita estendendo o barro com a
utilização, em proporções que poderiam palma de uma das mãos.
variar em função das caraterísticas das
argilas, e do modus operandi de cada Seguia-se um período de repouso de
oleiro, variando entre o 1/5 e ½. algumas horas, para libertação de alguma
A este processo de mistura chamava-se percentagem de humidade da pasta
enfraquecer o barro de Vagos, permitindo amassada.
que a pasta resultante pudesse suportar
as elevadas temperaturas de cozedura, Manuel Ferreira Gomes afirma que na
e impedir que as peças, ao arrefecerem década de 80 do séc. XX, a mistura das
depois de retiradas do forno, pudessem duas argilas era já realizada de forma
estalar, ficando inutilizadas. Esta mistura mecanizada, através de um misturador*, que
era amassada para se obter uma pasta para além de tornar a pasta homogénea,
uniforme, e permitir a libertação do macia, untuosa e plástica, permitia triturar
máximo de bolhas de ar do seu interior, qualquer impureza nela contida.
uma vez que estas poderiam fazer com
que as peças estalassem durante o Seguidamente o oleiro dividia a pasta em
processo de cozedura devido ao aumento porções individuais, de acordo com o
de volume do ar. tamanho da peça a ser produzida, porções
essas denominadas pelas*, e que eram
A mistura era feita num terreiro lajeado a colocadas na sua bancada de trabalho (a
pedras de lousa (REGALADO 1972), e exigia denominada adequina), do lado esquerdo Poço onde era amassada a mistura das

um grande esforço físico pois era feita com da roda (REGALADO 1972). matérias-primas. Olaria O Caco, 2018.

110 111
loiça utilitária corrente, eram as tigelas*, púcaros*, Vasos: fabricavam-se em 8 tamanhos – de e quase ligados ao quotidiano da vida.
panelos de pingue*, púcaros para resina, 35cm de altura, de 28, de 25, de 22, de Os cântaros de boca larga para a cura da
alguidares, infusas*, bilhas*, moringas*, 20, de 18, de 16 e de 14”. azeitona, os tachos para acondicionar e
cântaros*, vasos*, selhões e servidores*. conservar os rojões no meio do pingue,
A olaria ovarense foi, ao longo do Segundo Gabriel Rocha Pereira, verifica- No início do séc. XX, são vários os as tigelinhas para guardar e conservar a
tempo, respondendo às carências se um claro predomínio na produção autores que referem a produção de louça manteiga, as bilhas para a água (levavam-
da comunidade envolvente. O oleiro de hidrocerames (recipientes para vermelha em Ovar. Em 1905, Fortunato nas para as terras durante o tempo
produzia sempre as mesmas formas conservação de água fresca) e de Augusto Freire Temudo (PEREIRA 2012, quente para matar a sede), os vasos para
oláricas enquanto a comunidade que loiça de índole doméstica, para mesa 46) refere que “os produtos fabricados as plantas, os tijolos e as telhas para a
as usava, delas tivesse necessidade. e cozinha, quando comparados com a são louça vermelha ordinária que não construção civil…” (TAVARES 2000, 43).
As peças produzidas possuíam produção de loiça para higiene e limpeza é polida nem vidrada. As peças que
funções bem definidas, servindo para o e decoração. geralmente ali se fabricam são cântaros, Relativamente à funcionalidade das
transporte, armazenamento, preparação, ânforas, bilhas, panelas púcaros, tigelas, formas oláricas ovarenses, António Maria
cozedura e serviço de alimentos ou Segundo Manuel Ferreira Gomes, em alguidares, vasos para plantas, caçarolas, Regalado (REGALADO 1972) refere que
bebidas, os cuidados de higiene finais do séc. XIX, na olaria de Manuel etc. (…) Esta loiça é cozida de uma só “as louças vermelhas eram indispensáveis
pessoal, a iluminação, a construção, Ferreira Regalado (pai), eram estes os vez, e quando a cozedura é perfeita em todas as casas desde o cântaro para
etc., pese embora algumas possuíssem tamanhos e as designações da louça produz, pelo toque, um som bastante água com o respectivo pucarinho de
a caraterística da sua forma poder que se fabricava em Ovar (GOMES 2001, sonoro. É, por assim dizer, a verdadeira duas asas que lhe servia de cobertura
corresponder a várias funções: “um 103): loiça do povo das aldeias e vilas próximas, e que as nossas tricanas tinham certa
alguidar* servia na matança do porco ou “Alguidares: fabricavam-se em 5 porque lhe serve para cozinha, para o vaidade em levar a encher ao chafariz
para preparar umas couves, mas também tamanhos – o n.º 6 (o maior), tinhão transporte de água, etc., gozando de boa da praça ou às várias fontes espalhadas
dava para levar a roupa a lavar ao rio, grande, cento e meio, de quartilho e qualidade de conservar a água fresca por a vila e pelo qual dessedentavam
para lavar a loiça em casa, ou para aparar borreto; pelo facto da pasta de que é feita ser os seus namorados; chegadas a casa
a água que caía do telhado”. Jarros: fabricavam-se em 6 tamanhos muito porosa. Alguns destes produtos era o cântaro pousado na característica
– de canada, miúdo grande, miúdo cerâmicos são bastante perfeitos tanto no cantareira com lugar também para a
A produção de loiça utilitária restringiu- pequeno, de quartilho, borretão e fabrico como na forma, apresentando um jarra – ou barril – só destinada à água
se, em Ovar, apenas à denominada loiça borreto; perfil admiravelmente belo e simples”. Em para beber; os alguidares, indispensáveis
vermelha, sem vidrado, produzida a partir Cântaros: fabricavam-se em 6 tamanhos 1912, João Vasco de Carvalho considera em todas as casa para levar as roupas
de argilas que em cru apresentavam também e com as mesmas designações os “cantaros de Ovar de bocca larga e a lavar nos rios e para quase todos os
uma coloração acastanhada, bege ou dos jarros; uma só aza são afamados em todo o serviços caseiros desde o uso na cozinha
acinzentada, e que após cozedura, Panelos de pingue: fabricavam-se em centro e norte dos districto”. para lavar as louças e hortaliças, para a
apresentavam uma coloração cor de tijolo. 4 tamanhos – miúdo grande, miúdo sangria dos porcos, etc.; as tigelas em
pequeno, de quartilho e borretão; Segundo Maria Amélia Tavares, em 1920, que se comiam as migas e nos arrais se
No séc. XIX, as tipologias de loiça Tigelas: fabricavam-se em 3 tamanhos – fabricava-se em Ovar, “grande quantidade bebia o vinho que assim se tornava mais
utilitária produzidas, e com maior venda redonda, pequena e manteiga; de “burretos” para os fins mais variados saboroso e outro tipo de menor tamanho

112 113
para a manteiga, antes desta estar como forma mais rápida e de melhor qualidade, Olaria de Evaristo Estarreja (atual Olaria
O Caco), finais dos anos 70 do séc. XX.
hoje industrializada e ainda para o caldo possibilitando o controlo da espessura
Fotografia de José Eduardo Regalado.
verde; as panelas de pingue, aquelas das paredes (relativamente finas), e
bojudas panelas de duas asas – quem as facilitando a sua secagem e cozedura.
não conhece? – onde se guardam ainda
hoje os rijões que serão consumidos O artesão iniciava o seu trabalho sentado
nas merendas do verão e nas romarias na roda de oleiro*, com as pernas
onde tornarão os farneis mais opiparos; debaixo da bancada e o tronco curvado
os cântaros para tratamento da azeitona e infletido para o lado. A força centrífuga
para consumo caseiro; aqueles pequenos infligida pela roda ajudava à formação da
vasos que eram usados na recolha da peça através do movimento de levantar
resina dos pinheiros e que cá se faziam às as suas paredes. O disco onde o oleiro
centenas de milhar e finalmente os vasos colocava as pelas – o trincho* – situava-
para plantas”. se à esquerda do oleiro, para que este
pudesse trabalhar com a mão direita.
Segundo o mesmo autor a oficina À sua frente encontrava-se uma bacia
de produção de loiça, a olaria ou a com água, onde ia frequentemente
denominada “tenda”, “era constituída por molhando as mãos.
um armazém, em regra com sótão para
seca das louças, uma banca «(adequina)» Inicialmente o oleiro trabalhava fazendo
onde eram armadas as rodas junto de acionar a roda de madeira junto ao
uma janela que ficaria sempre à direita solo com o pé esquerdo, e esta, que se
para receber a luz solar; (…) Um forno de encontrava ligada a um veio, fazia mover
dimensões variadas conforme o volume o trincho à superfície da bancada. Ao
da «tenda», umas dezenas de tábuas longo do tempo, e por forma a evitar o
onde seria posta a louça e uns andaimes grande esforço que o oleiro despendia
feitos com uns paus compridos ao longo no movimento contínuo da perna, este
das paredes onde seriam colocadas passou a ser produzido através de um
essas tábuas; Um anexo para depósito motor elétrico.
de lenhas e caruma e estava armada a
«tenda»”.

A técnica de produção de loiça ovarense


era o fabrico à roda, uma vez que
permitia o fabrico de recipientes de

114 115
Secagem das peças no exterior, Olaria de Com o recurso a um objeto duro – um grandes tabuões de madeira e conduzidas
Evaristo Estarreja (atual Olaria O Caco), finais fragmento de cana* –, as peças eram por dois homens para o exterior, para uma
dos anos 70 do séc. XX. Fotografia de José
alisadas para que se criasse uma superfície primeira secagem ao sol, se as condições
Eduardo Regalado.
homogénea das paredes, removendo as climatéricas o permitissem, acabando
Fases de fabrico de uma ânfora por Augusto irregularidades resultantes do processo de depois por secar lentamente dentro do
Pinho, Olaria Regalado. Inícios dos anos 80 do
fabrico. Seguidamente eram separadas do próprio armazém. Nos meses de verão este
séc. XX. Fotografia de José Eduardo Regalado.
trincho, com este ainda em rotação, através processo poderia demorar em média 4
de um fino arame ou fio de nylon, num dias, aumentando este número, nos meses
movimento que implicava rapidez e perícia. de inverno, para uma média de 15. Só
Uma das formas de identificar se as peças depois de as peças estarem bem secas, é
foram produzidas à roda, eram as marcas que eram levadas ao forno para cozedur9.
concêntricas no exterior da base, deixadas Noutros tempos, antes de ser levada ao
quando as peças eram separadas do trincho forno, a obra recebia uma demão de barro
enquanto este ainda estava em rotação. amarelo liquefeito – o chamado barro de
tinta* – para que adquirisse uma superfície
Depois de produzidas na roda, as peças mais avermelhada durante a cozedura
eram colocadas pelo mestre oleiro em (GOMES 2001, 132).

116 117
Fases de fabrico de uma bilha em roda de oleiro 119
elétrica por Augusto Pinho. Olaria O Caco, 2017.
O acondicionamento das peças no Forno. Olaria O Caco, 2018.

interior do forno – o chamado Enfornamento. Olaria de Evaristo


enfornamento – exigia grande experiência Estarreja (atual Olaria O Caco). Finais
e mestria, e era sempre orientado dos anos 70 do séc. XX. Fotografias
de José Eduardo Regalado.
pelo mestre oleiro. As peças eram
colocadas em camadas sucessivas e
paralelas, intercaladas, quer na vertical
quer horizontalmente, por prateleiras
e divisórias de tijolo. Colocavam-se as
maiores e mais pesadas primeiro e as
mais leves e pequenas no final, havendo
o cuidado de ocupar todo o interior do
forno numa cozedura.

Os fornos usados na cozedura destes


recipientes cerâmicos tinham de atingir
temperaturas muito elevadas, para que se
obtivesse um aquecimento e combustão
completa, assim como um controlo eficiente
da atmosfera de cozedura. Estes fornos,
de grandes dimensões, permitiam cozer
milhares de peças de uma só vez.

121
1
Evaristo Estarreja, oleiro e antigo
proprietário da Olaria do Alto de
Eram construídos com materiais ideal, rondando os 800-900° C. materiais de construção Numa fase inicial da produção, a telha era
refratários (tijolos), e compostos por Durante o tempo de cozedura, o oleiro vendida apenas nas localidades próximas,
Saboga, atual Olaria “O Caco”. A Olaria
do Alto de Saboga abriu portas em 1927
câmaras separadas, as quais eram pernoitava sempre perto do forno, para tais como, Oliveira de Azeméis, Ossela,
pelo seu pai João Rodrigues Estarreja. acedidas por portas, uma para a que a fornalha fosse constantemente Vale de Cambra, Espinho e Aveiro, e
Com o seu falecimento em 1963, esta colocação e queima do combustível alimentada, e a temperatura se A produção de cerâmica de construção no transportada por carro de bois. Para a
ficou a cargo de Evaristo Estarreja,
(fornalha), que se localizava ao nível mantivesse constante (GOMES 2001, concelho de Ovar compreendia o pequeno Murtosa e Pardelhas, era transportada por
falecido em 2001.
do chão, e outra para colocação das 132). forno de telha, situado na proximidade barco, a partir do cais da Ribeira. Mais
peças, acima da fornalha. A fornalha, de um barreiro, como foi o exemplo da tarde, era levada para quase todo o país
geralmente com uma profundidade de Segundo Maria Amélia Tavares , a produção da telha da Regedoura, até às por comboio (MACIEL 1999, 4).
1 a 1,5 metros e 1 metro de largura, era caruma utilizada como combustível na grandes unidades industriais de materiais de
composta por um estrado (lar) perfurado olaria de Evaristo Estarreja1, provinha construção, que produziam telhas*, telhões*, A matéria-prima usada no seu fabrico, o
por tubos condutores e sustentado por dos pinhais de Colares Pinto, sendo beirais, tijolos, manilhas*, de diversos chamado barro preto, era extraída nos
arcadas. O ar quente circulava através “acondicionada em molhos e transportada formatos e dimensões. barreiros localizados entre o lugar da
das perfurações, aquecendo o interior por quinze mulheres da Ponte Nova, Regedoura e a Senhora de Entreáguas,
da câmara de cozedura e as peças nela que a carregavam à cabeça até ao Alto A telha da Regedoura* era um material constituídos por poços abertos nos
contidas. A tiragem do forno era feita de Saboga. Junto à Quinta do Belo, de construção de fabrico exclusivamente pinhais, com cerca de 9 a 10 metros
através dos tubos condutores para uma que ficava aproximadamente a meio da manual, que assumiu extrema importância de profundidade (MATOS 1994). Diz-se
chaminé. jornada, aliviavam-se, poisando a carga na freguesia de Válega. Considerada de que a sua cor negra possa ter derivado
nos muros durante alguns momentos”. boa qualidade e muito procurada em toda da anterior existência do mar nestes
Colocadas as peças no seu interior, a a região motivou a abertura ao serviço, locais, uma vez que seria o lodo do mar
boca do forno era tapada com tijolo O arrefecimento do forno demorava em novembro de 1902, do apeadeiro de a matéria-prima por excelência. Segundo
burro e barrada com barro, para que não cerca de 3 ou 4 dias (GOMES 2001, 132), Válega, facilitando as deslocações de um Pinho Leal, apareciam “com muita
houvesse qualquer fuga de temperatura, podendo ser retirada a obra com o forno grupo de negociantes a Espinho e Aveiro frequência, madeiros, mastros e vários
ficando apenas um pequeno óculo para ainda quente, com o auxílio de luvas ou (MATOS 1994). despojos de navios, o que prova que
controlo da cor do fogo (o tom alaranjado trapos de proteção (GOMES 2001, 132). esta crusta formou por séculos a camada
era indicador que a temperatura tinha Normalmente nunca se deixava arrefecer Referindo-se ao lugar da Regedoura, superficial da costa marítima, e que a areia
atingido o ponto ideal). totalmente o forno, dada a necessidade escreveu Pinho Leal: “é célebre pela a invadiu posteriormente”.
de se ter a obra disponível para satisfazer óptima telha que aqui se fabrica, a melhor
O tempo considerado necessário para o pedido dos clientes. Para retirar a obra do reino”. Ainda em 1884 funcionavam Depois de localizado o poço, era retirada
a cozedura era de 8 dias, sendo usada do interior do forno era necessário partir seis fábricas (OLIVEIRA 1981, 170). Por (OLIVEIRA 1981, 171) a grossa camada
lenha de pinheiro para o aquecimento a parede de tijolo e barro que tapava a volta de 1930 apagaram-se os últimos superficial de areia, com 2 a 3 metros de
do forno nos 5 ou 6 primeiros dias, e boca do forno. fornos de telha da Regedoura. Em 1934 profundidade, por mulheres em capachos
utilizada nos restantes, caruma (rama ainda eram referidas 2 fábricas de telha ou gigas, e através de escadas feitas na
seca de pinheiro), e mais tarde serrim, da Regedoura, as de António Fonseca e própria areia. Seguidamente era retirada, a
até que o forno atingisse a temperatura de João Carlos da Fonseca (LAMY 2009). machado ou picareta, uma camada de terra

122 123
Vestígios de poços de extração de matéria- castanha, compacta e dura, chamada zorra, A argila era transportada em carros de A moldagem da pasta era realizada normalmente trabalhavam 4 feitores que
prima para o fabrico de telha da Regedoura. ficando a descoberto a camada de argila, bois para os terreiros, onde ficava a secar, por um homem, o chamado feitor, na utilizavam marca própria na sua telha
Senhora de Entreáguas, 2017.
que era extraída a braços por um grupo de em monte, durante alguns dias. Após sua bancada, usando para o efeito o (MACIEL 1999, 4).
pessoas em cadeia pelo poço acima. a secagem, procedia-se ao seu corte molde* e a burra* (instrumentos para
(picagem) em fatias finas, com enxadas corte da pasta), e o galapo* e a escova Cheio o forno, procedia-se à cozedura
Quando se esgotava o barro no poço, surgia de cabo curto, sempre à volta do monte. (instrumentos para enformar e alisar a da telha, com a colocação constante na
o lençol freático, que o inundava de água, Estas fatias eram transportadas por telha). Junto do feitor existia sempre um fornalha de rama ou lenha de eucalipto
sendo então necessário desviá-la através mulheres até ao barreiro, local onde o recipiente com água para molhar as mãos ou pinheiro para queima, durante um dia
de regos para pequenos poços laterais, barro era amassado a pé nu por homens, e a respetiva telha, de forma a facilitar e uma noite, mantendo o lume sempre
donde era extraída com bombas, à força para fornecer à pasta a plasticidade todo o trabalho de moldagem. vivo. Para empurrar a lenha da boca
de braços, para que se pudesse alargar e necessária à sua moldagem. do forno para o interior da fornalha era
continuar a extração (MATOS 1994). Feita a telha, esta era entregue à usada uma forquilha ou forcado de cabo
postilhona, mulher que tinha como função muito comprido. Decorrido esse tempo,
o transporte da telha para a eira, em procedia-se de imediato à cobertura do
cima do galapo, segurando-a com a mão forno, com cachão (camadas de terra
esquerda e usando a direita para passar recolhidas junto aos rios, onde existia
na telha tinta preta, que lhe daria a cor muito gramão que segurava a terra), para
final após a cozedura. Na eira procedia- impedir a entrada de ar e a perda de
se à secagem das telhas, durante 2 ou calor do seu interior. O forno permanecia
3 dias de tempo quente e seco, sempre tapado durante 4 a 10 dias (MATOS
cobertas com areia, evitando desta forma 1994), e no fim do qual cada proprietário
que se colassem umas às outras, o que desenfornava as suas telhas e ocupava-
inviabilizaria todo o trabalho. se da sua venda e respetivo transporte.

Da eira, as telhas eram recolhidas para Existiam olarias que faziam grande
o armazém, onde eram colocadas concorrência a esta produção artesanal
em posição vertical, aguardando que pois, para além do fabrico de loiça
houvesse telha suficiente para se utilitária, acumularam também o fabrico
acender o forno, coletivo. Havendo telha artesanal de telha e outros materiais de
suficiente, esta era transportada para o construção.
forno, colocada por adagas (camadas
de telha ao alto dentro do forno).
Normalmente um forno levava 8 adagas
de telha, com 4 filas cada. Cada fila
pertencia a um feitor, pois nestes fornos,

124 125
126 127 Fases de fabrico manual de telha de canudo por
Augusto Pinho. Olaria O Caco, 2017.
Nestas unidades fabris, a par da telha
de canudo, até então o único material de
construção produzido, foi introduzido o
fabrico de telha marselhesa*, através do
uso de prensas manuais.

Paulatinamente as fábricas de cerâmica


de construção foram substituindo os
métodos de produção manuais por
métodos mais mecanizados, através
da aquisição de equipamentos mais
modernizados, como por exemplo,
fieiras capazes de produzir maiores
quantidades de tijolos num menor tempo
de laboração, prensas para conformação
de telhas marselhesas, rebatedeiras para
prensar e curvar tijolos, etc.

Em 1904, no largo Almeida Garrett em


Ovar, existia a fábrica de telha francesa,
a vapor, da firma Ribeiro & Peixoto,
que abastecia na altura quase todos os
Anúncio comercial da Fábrica Ribeiro
concelhos circunvizinhos, relegando para & Peixoto. 1909. Arquivo da Biblioteca
um plano inferior a procura de telha de Municipal de Ovar.

canudo fabricada também em Ovar e


particularmente em Válega (LAMY 2009).

Em 1908 foi constituída uma sociedade


Reconstituição de um telheiro e um forno de
telha da Regedoura. Museu Etnográfico de entre Francisco Peixoto Pinto Ferreira e
Válega, 2008 José da Silva Ribeiro, para exploração
de artigos de cerâmica, moagem e
descasque de arroz.

128 129
Esta fábrica foi uma das mais importantes tubos. Várias outras, com a capacidade e curvar tijolos e uma máquina para vasos
indústrias de Ovar, e veio a ser vendida, produtiva diária de 14.000 telhas de vários (João Semana, ano 73, n.º 11, 8)..
em 1934, quando tinha a razão social tipos, como Marselhesa, Renascente e
Peixoto – Filhos, Lda. – com escritura de Antigo Português. Além, as do tijolo, com O primeiro forno a caruma deu lugar, em
5 de agosto de 1925 –, ao construtor civil as suas 10.000 unidades diárias”. Na fase 1950, a um forno intermitente com uma
José Gomes da Silva Mateiro e a outros da secagem existia um aproveitamento galeria de 20 metros, logo transformado,
cidadãos, dando lugar a uma fábrica das correntes de ar e do calor proveniente quando da construção de uma segunda
de grés e cerâmica vermelha, a SIOL – das fornalhas. galeria com igual dimensão, em 1953, em
Sociedade Industrial de Ovar, Lda. (desde A cozedura era feita em fornos contínuos forno semicontínuo. No forno primitivo
22 de janeiro de 1948) que viria a ser – “câmaras infernais, em que o calor foram cozidos todos os tijolos que
destruída, a 7 de julho de 1981, por um vai aos 700 centígrados” –, segundo ergueram a fábrica, o respetivo cano e a
incêndio (LAMY 2009). o sistema francês com alimentador primeira galeria (João Semana, ano 73, n.º
automático. 11, 8).
O artigo “Coisas da Nossa Terra – a
cerâmica”, publicado a 25 de janeiro de A 1 de maio de 1977 foi constituída a Esta fábrica veio a encerrar a 30 de
1951 no jornal Notícias de Ovar (A.M. firma Manuel Ferreira Regalado e C.ª, abril de 1986. Atualmente José Eduardo
1951), descreve-nos a importância que Lda., com sede e estabelecimento na Soares Regalado mantém o espaço,
a fábrica SIOL tinha na época – um rua Visconde de Ovar, n.º 329, em Ovar, servindo para comércio de materiais de
exemplo palpitante da aliança do antigo da qual eram sócios Manuel Ferreira construção.
com o moderno –, onde laboravam 120 Regalado, Ana da Silva Soares Regalado,
operários, assim como nos descreve e José Eduardo Soares Ferreira Regalado. No ano de 1969, iniciou-se a construção
o processo de produção de cerâmica de uma fábrica de cerâmica moderna, no
vermelha, composto por quatro fases Esta firma teve por objeto a indústria de lugar do Sobral, a Patial – Sociedade de
principais: preparação do barro, fabrico, cerâmica de barro vermelho e comércio Pavimentos de Tijolo Armado, Lda., que,
secagem e cozedura. Na preparação de materiais de construção civil. a 9 de novembro de 1973, é substituída
do barro, eram misturadas diferentes Esta empresa foi fundada em 1897 por pela Sobralcer (LAMY 2009).
qualidades de matéria-prima – os lotes Manuel Ferreira Regalado (pai), na altura
–, obedecendo à categoria das espécies como simples olaria. Passando em 1935,
a fabricar. A preparação do barro para para o seu filho do mesmo nome, a firma
telha era diferente do que para o grés. foi substituindo o primitivo material de
Cada lote era amassado por “poderosas laboração manual, por mecanismos mais
máquinas” e entregue pronto, em frações atualizados: uma fieira de tijolos (400
iguais, uniformemente cortadas, a cada por hora) vinda de Vila Nova de Gaia,
secção de fabrico. Na secção de fabrico, 1948, uma prensa para telha de tipo
uma máquina produzia “por dia, 450 marselhesa, uma rebatedeira de prensar

130 131
04 museologia e cariátides cultura e
museografia providência design
134 135
136 137
138 139
140 141
142 143
144 145
146 147
05 glossário
a b c f g/i m
AA.VV. MÂNTUA, Ana Anjos;
Alguidar Barro de tinta Burra Cântaro Forma para cantos Furador Manilha46 Molde AA.VV. MÂNTUA, Ana Anjos;
44 45

HENRIQUES, Paulo; CAMPOS, Teresa HENRIQUES, Paulo; CAMPOS, Teresa


(coord.) – Normas de inventário: Recipiente de base circular Barro amarelo, que em Instrumento constituído (m. q. caneco) Recipiente Utensílio de madeira, usado Utensílio usado pelo Corpo cerâmico de (m. q. grelha) Utensílio, (coord.) – Normas de inventário:
Cerâmica (Artes plásticas e Artes
Decorativas). Lisboa: IMC, 2007, p.48.
plana, corpo troncocónico estado liquefeito, era por um arco de madeira e de base circular plana, para enformar as telhas oleiro para realizar furos formato cilíndrico, usado de formatos e dimensões Cerâmica (Artes plásticas e Artes
Decorativas). Lisboa: IMC, 2007, p.108.
de base invertida, com aplicado à superfície da arame, usado pelo feitor corpo piriforme, colo de formato cónico usadas nos vasos que produzia, nas canalizações, com variadas, usado no fabrico
bordo saliente para o peça antes da cozedura, na produção da telha da cilindriforme, caraterizado nos cantos dos beirais dos de forma a facilitar o uma extremidade mais manual de telhas para AA.VV. MÂNTUA, Ana Anjos;
46

HENRIQUES, Paulo; CAMPOS, Teresa


exterior, de dimensões para que esta adquirisse Regedoura, para corte pelas suas grandes telhados. escoamento do excesso de larga para a ligação beirais, para cortar o barro (coord.) – Normas de inventário:

médias a grandes, mas um tom mais avermelhado. do barro amassado na dimensões e pela presença água do seu interior. sucessiva. na dimensão pretendida. Cerâmica (Artes plásticas e Artes
Decorativas). Lisboa: IMC, 2007, p.76.
sempre com um índice de dimensão pretendida. de uma asa e boca larga.
profundidade relativamente Destinado ao transporte,
pequeno. Destinado a aprovisionamento e serviço
diversos fins, tais como a de água ou outros líquidos.
preparação e serviço de
alimentos, os cuidados de
higiene e limpeza, etc.

Bilha Forno45 Galapo


(m. q. jarra, jarro, barril) Equipamento de cozedura (m. q. forma) Instrumento
Recipiente de base circular Cana de materiais cerâmicos, usado pelo feitor na
plana, corpo bojudo, de Utensílio feito do caule que pode assumir uma produção da telha da
paredes normalmente de planta herbácea da infinidade de configurações, Regedoura, para enformar
muito contracurvadas, família das Canáceas, consoante os produtos a telha e auxiliar no seu
com um gargalo alto com formato de meia a fabricar, o volume transporte até à eira (local
Alguidar e estreito, e sempre cana, usado pelo oleiro no de produção e o lugar onde esta ficava a secar).
(m. q. louceiro, agueiro, com uma asa lateral. tratamento da superfície da geográfico onde se Misturador Molde
alpiota) Recipiente usado Destinado ao transporte, peça, mais concretamente inscreve. De um modo (m. q. mexedor) Utensílio usado pelo feitor
nas olarias, para colocação aprovisionamento e serviço no seu alisamento e geral, é construído com Equipamento que no fabrico da telha da
de água, e no qual o de água ou outros líquidos. eliminação das suas tijolos refratários e metal, e misturava o barro pobre e Regedoura, para cortar
oleiro ia constantemente irregularidades. Forma para beiras composto por três partes o barro de liga, permitindo o barro amassado na
humedecendo as mãos, (m. q. forma de caleira) essenciais: a fornalha, também triturar as dimensão pretendida.
aquando do fabrico de Utensílio de madeira, onde arde o combustível, impurezas contidas nessa
peças cerâmicas na roda. usado para enformar a câmara de cozedura, mistura.
as telhas vulgares de onde se colocam as peças
meia cana usadas nos cerâmicas e que pode ter
Argila 44 beirais dos telhados, vários andares, e a chaminé.
Matéria primeira a partir e que permitem o fácil A evolução tecnológica Infusa
da qual se inicia todo escoamento das águas trouxe mudanças nas Recipiente de forma
o processo cerâmico. pluviais. configurações dos fornos, bojuda, colo alto mas
Mineral sedimentar, de por exemplo, por serem pouco estreito, abrindo
grão fino, que provém alimentados não pela por vezes junto ao bordo,
da decomposição, combustão da madeira, dispondo ou não de bico
química ou por erosão, mas de gás ou de e com asa diametralmente
ao longo do tempo, de eletricidade, e desenhados oposta a este. Destinado
rochas feldspáticas, cujos para responder a grandes ao serviço de líquidos,
principais elementos são a volumes de produção, com principalmente vinho, mas
sílica, o alumínio e a água. forma em túnel ou contínuo. também água e leite.

150 151
p r s/t v
AA.VV. MÂNTUA, Ana Anjos;
Moringa Pela Prato se situa na parte mais alta da Servidor Telha marselhesa Tigela CRUZ, Maria das Dores Girão da;
47 48

HENRIQUES, Paulo; CAMPOS, Teresa CORREIA, Virgílio Hipólito; COSTA, Paulo


(coord.) – Normas de inventário: (m.q. barril, bilha, botijo, (m.q. pele) Porção Recipiente muito aberto, roda e no qual o oleiro coloca (m. q. vaso de noite) Tipo de telha de origem (m. q. malga) Recipiente em Ferreira – Normas de Inventário: Cerâmica
Cerâmica (Artes plásticas e Artes
morim, moringo, moringue, individual de pasta a partir de fundo plano e paredes a pasta a ser trabalhada. A Recipiente de formato francesa, introduzida em forma de calote esférica, Utilitária (Arqueologia). Lisboa: IMC,
Decorativas). Lisboa: IMC, 2007, p.48. 2007, p. 72.
piporro) Recipiente da da qual se forma a peça muito baixas, com bordos roda é também composta por circular ou oval, com ou Portugal no final do séc. aberto, com pé, cujo perfil
família dos hidrocerames, na roda de oleiro. Pode de forma variada mas uma parte adjacente na qual sem tampa e, geralmente, XIX, cujo formato é de 26cm pode assumir formas
49
AA.VV. MÂNTUA, Ana Anjos;
HENRIQUES, Paulo; CAMPOS, Teresa
de forma bojuda, com uma possuir diferentes volumes normalmente envasados. o oleiro se senta, e por outra uma asa lateral em posição de comprimento por 45cm variadas. Utilizado na (coord.) – Normas de inventário: Cerâmica

asa e dois gargalos na parte de acordo com o tamanho Com funções diversas, é parte na qual coloca a bacia vertical. Destinado à de largura, com um peso preparação e consumo de (Artes plásticas e Artes Decorativas).
Lisboa: IMC, 2007, p.86.
superior do bojo, sendo um, da peça que se pretendia principalmente destinado para molhar as mãos, o barro recolha de fezes. aproximado de 3 kg. Na sua alimentos, líquidos e sólidos.
o mais largo, concebido produzir. ao serviço e consumo para moldar, assim como face superior apresenta um Tijolo burro curvo
para encher, e o outro, de alimentos. Os pratos as peças que vai moldando. rebordo para assentar na ripa Tipo de tijolo de burro utilizado
mais estreito para verter. produzidos nas olarias Para moldar as peças, o do telhado. Paralelamente ao especificamente na construção
Destinado ao transporte, de Ovar serviam para oleiro coloca com o pé a roda Taça48 lado maior tem dois sistemas de poços e fornos. Uma das
aprovisionamento e serviço colocação sob os vasos junto ao solo em movimento, Recipiente, de uso diverso, de ranhuras, um reentrante faces apresenta a inscrição do
de água ou outros líquidos, para plantas de forma a até que o trincho adquira a de forma normalmente e outro saliente, de forma a número do raio.
conservando-os sempre reter o excesso de água no velocidade adequada para hemisférica, ou de paredes ligarem-se por sobreposição.
frescos. seu fundo. trabalhar (este roda no sentido arqueadas, como uma
contrário ao ponteiro dos tigela, forma da qual que
relógios). Este tipo de roda se distingue pelas maiores Trincho
liberta as mãos do oleiro para dimensões. Base em forma de disco de
manufaturar os objetos. madeira sobre a qual o oleiro
coloca a pela. Os trinchos
Tijolo49 possuem vários diâmetros
Corpo cerâmico só em consoante o tamanho das
chacota, em forma de peças que se pretendem
Roda de oleiro elétrica paralelepípedo, compacto ou modelar. Este trincho possui
Equipamento que na maior vazado interiormente, usado uma rosca metálica para
parte dos casos é constituído na construção, podendo ter encaixe ao eixo da roda de
Púcaro por uma roda de oleiro de também função decorativa e oleiro.
Recipiente de pequenas pé, na qual se adaptou um receber ou não vidrado.
Pote dimensões, de corpo motor que coloca a roda que
(m. q. púcaro, porrão, globular, boca larga e uma se encontra junto do solo Telha da Regedoura
poço) Recipiente de base única asa. Destinado a em movimento. No entanto, (m. q. telha árabe, telha de Vaso
circular plana, corpo levar pequenas porções existem também outro tipo canal, telha de canudo, telha Tijolo burro Recipiente de base circular
Panelo de pingue bojudo, colo circular, e de líquidos ou alimentos de rodas elétricas, que de quilha, telha mourisca) Telhão Tipo de tijolo maciço cozido, plana, corpo troncocónico
Recipiente asado onde se com duas asas. Destinado ao fogo. apresentam uma estrutura Tipo de telha produzida (m. q. cume, telha de caraterístico da construção invertido, com ligeiro
conservavam os rojões no ao aprovisionamento de mais baixa e de forma oval no lugar da Regedoura, de cumeeira) Telha de grande tradicional, de elevada alargamento junto ao bordo,
pingue (banha de porco). alimentos. fabricada em metal e plástico. secção troncocónica suave, dimensão que remata, resistência mecânica, com e perfuração na base ou no
Este tipo de roda é composta com aproximadamente 40cm decorativamente ou não, a um volume de argila cozida corpo, junto a esta, para
na parte de cima por um de comprimento, 15cm de parte superior do telhado, superior a 85%, e que escoamento do excesso
Roda de oleiro prato metálico onde o oleiro largura máxima e 11cm de onde se faz a junção de duas normalmente apresenta de água do seu interior.
Pasta cerâmica47 (m. q. torno) Equipamento coloca o barro para moldar, e largura mínima. águas. medidas padronizadas Destinado a conter flores ou
Matéria que resulta do usado no fabrico de peças uma parte saliente na frente (22 x 11 x 7cm). Utilizado plantas ornamentais.
tratamento de uma ou de cerâmicas, acionado com o onde coloca a bacia com sobretudo em trabalhos de
várias argilas que misturada pé. É geralmente de madeira, água para molhar as mãos. alvenaria à vista (pilares,
com água ganha maior sendo composta por uma Na parte de baixo junto ao arcos de verga de portas e
qualidade de plasticidade, roda com cerca de um metro solo esta, está equipada com janelas, chaminés, etc.), onde
endurece com a secagem de diâmetro na parte junto um acelerador a partir do qual pode ser disposto de diversas
e ganha robustez física ao solo, ligada por um eixo o oleiro controla a velocidade formas, dando origem a
quando sujeita a cozedura. vertical ao trincho, disco que da roda. vários tipos de aparelho.

152 153
06 bibliografia geral
arquivos 1783, Cofre, Livro n.º 525, fl. 285.
periódicos monografias e referências
1788, Cofre, Livro n.º 539, fl. 88 e 154.
1792, Cofre, Livro n.º 563, fl.213.
1797, Cofre, Livro n.º 575, fl. 112 e 261.
ADAVR – Arquivo Distrital de Aveiro. 1799, Cofre, Livro n.º 583, fl. 35. Democrata (O). ALVES, Francisco J. (1997) – Os destroços do navio
Livro de Casamentos (1588-1608), fl. 70v e 80v. 1800, Cofre, Livro n.º 584, fl. 143-144 e 197-199. Discussão (A). do séc. XV: Ria de Aveiro A. In: FERNANDES, Isabel
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documentais 1776, Cofre, Livro n.º 517, fl. 95


Livro de Casamentos (1588-1608), fl. 70v e 80v 1783, Cofre, Livro n.º 525, fl. 285
Livro de Casamentos (1607-1635), fl. 9v. 1788, Cofre, Livro n.º 539, fl. 88 e 154
1792, Cofre, Livro n.º 563, fl.213
1797, Cofre Livro n.º 575, fl. 112 e 261
ADP – Arquivo Distrital do Porto 1799, Cofre, Livro n.º 583, fl. 35
1800, Cofre, Livro n.º 584, fl. 143-144 e 197-199
1640, Cabido, Livro n.º 115, fl. 16 Cofre, Livro n.º 585, fl. 360
1650, Cabido Livro n.º 127, fl. 12v Cofre, Livro n.º 586, fl. 47 e 228
1652, Cabido, Livro n.º 131, 16v Cofre, Livro n.º 591, fl. 175 e 246
1655, Cabido, Livro n.º 136, 8v Cofre, Livro n.º 597, fl. 137 e 316-318
1685, Fundo Notarial PO8, Livro n.º 84, fl. 9-10 Cofre, Livro n.º 598, fl. 118-120
1577, Mitra, Livro n.º 228 fl. 9v 1804, Cofre, Livro n.º 600, fl. 146-148
1733, Mitra, Livro n.º 239 fl. 233-234

AMO – Arquivo Municipal de Ovar


AHMP – Arquivo Histórico Municipal do Porto Mapas Estatísticos da extinta Administração Concelhia remetidos ao Governador do Distrito, (1852-1881) Livro
do Registo das Licenças de Porta aberta - 1919-1921
1749, Cofre, Livro n.º 500, fl. 187 e 244 Livro de Registos da Câmara
1751, Cofre Livro n.º 500, fl. 244 Periódicos:
1758, Cofre Livro n.º 503, fl.47 Jornal “O Ovarense”
1760, Festejos..., fl. 102 Jornal “A Pátria”
1765, Cofre Livro n.º 506, fl. 79
1767, Cofre Livro n.º 508, fl. 410 passim.
1767, Cofre Livro n.º 508, fl. 438 AMSMF – Arquivo Municipal de Santa Maria da Feira
1772, Cofre, Livro n.º 513, fl. 238 Livro da Sentença de Portados da Villa de Ovar
1773, Cofre, Livro n.º 515, fl. 384 Tombo de Bens da Casa do Infantado na villa de Ovar – 2 Vols.
1776, Cofre Livro n.º 517, fl. 339
1783, Cofre, Livro n.º 525, fl. 320
1789, Cofre, Livro n.º 549, fl. 51 ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo
1752-53, Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Coimbra, processo n.º 07868
Registo dos Mandados dos bens do Concelho, n.º 1, fl. 38v-42
1790, Cofre, Livro n.º 554, fl. 359
1794, Cofre, Livro n.º 567, fl. 183

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fichas 3.7 Exposição Olaria de Ovar
técnicas Câmara Municipal de Ovar

catálogo exposição
título organização, conceção, conservação e arquivos
3.7 olaria de Ovar – catálogo da exposição agradecimentos restauro Arquivo Municipal de Ovar
Arqueologia e Património Divisão da Cultura, Desporto e Juventude da Arquivo Municipal do Porto
edição Câmara Municipal do Porto Câmara Municipal de Ovar Biblioteca Municipal de Ovar
Câmara Municipal de Ovar CITCEM - Universidade do Porto Centro Nacional de Arqueologia Náutica e
Império Arqueologia coordenação científica Subaquática (CNANS) / Divisão de Salvaguarda do
coordenação científica Nexo – Património Cultural Divisão da Cultura, Desporto e Juventude da Património Arqueológico e Arquitetónico (DSPAA) /
António França Câmara Municipal de Ovar Departamento de Bens Culturais (DBC) / Direção-
Gabriel Pereira design editorial Gabriel Pereira Geral do Património Cultural (DGPC)
Raquel Elvas Providência design
museografia e design editorial agradecimentos
textos impressão e acabamentos Providência design Câmara Municipal do Porto
António Manuel S. P. Silva preencher pela gráfica Centro Nacional de Arqueologia Náutica e
Marcos Couto adaptação da exposição ao edifício Subaquática (CNANS) / Divisão de Salvaguarda do
Miguel Rodrigues depósito legal Miguel Palmeiro designer Património
Gabriel Pereira preencher pela gráfica Arqueológico e Arquitetónico (DSPAA) / Departamento
Raquel Elvas tratamento de conteúdos e coordenação de Bens Culturais (DBC) / Direção-Geral do
Ricardo Teixeira isbn Cariátides cultura Património Cultural (DGPC)
... Museu de Ovar
fotografias vídeo Museu Etnográfico de Válega
Gabriel Pereira Ovar, 2018 Costa Mendes produção audiovisual Olaria “O Caco”
Raquel Elvas Américo Matos
fotografias e desenhos António Manuel Silva
arquivos Câmara Municipal do Porto Augusto Pinho
Arquivo Distrital do Porto Centro Nacional de Arqueologia Náutica Gabriel Pereira
Arquivo Manuel Ferreira Regalado e Subaquática (CNANS) / Divisão de Georgina Queiroz
Arquivo Municipal de Ovar Salvaguarda do Património Arqueológico e Jaime Almeida
Arquivo Municipal do Porto Arquitetónico (DSPAA) / Departamento de José Eduardo Regalado
Arquivo Municipal de Santa Maria da Feira Bens Culturais (DBC) / Direção-Geral do Natalina Guerreiro
Biblioteca Municipal de Ovar Património Cultural (DGPC) Pedro Barros
Fundo Pe. Manuel Pires Bastos
Fundo Pe. Pinho Nunes
Gabriel Pereira
Mário Almeida

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