Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
http://bpi.110mb.com
ANARCO-COMUNISMO
(1) ORÍGENS
O anarco-comunismo não surgiu senão nos meados de 1870, na Europa. Ergueu-se
contra os efeitos da ascensão do capitalismo industrial, com toda a exploração,
1
alienação, pobreza e miséria que ele criou entre os operários e os camponeses; e o
aumento de um estado cada vez mais poderoso e centralizado, que serve, ao fim e ao
cabo, os interesses dos patrões ou da
classe capitalista.
O anarco-comunismo emergiu da ala colectivista da Primeira Associação Internacional
dos Trabalhadores, uma ala que foi expulsa da Internacional por Karl Marx e seus
apoiantes.
Por outro lado, o comunismo precisa de ser anarquista ou irá tornar-se um comunismo
autoritário. A organização económica comunista sem o acordo livre e voluntário
poderiam facilmente levar a uma ditadura por uma minoria. O comunismo precisa de ser
livre, não-estatista e voluntário desde o início. Como notou Kropotkin, «as organizações
comunistas não podem ser deixadas constituir por corpos legislativos chamados
parlamentos, conselhos
municipais ou comunais. Terá de ser um trabalho de todos, um crescimento natural, um
produto do génio construtivo das grandes massas. O comunismo não pode ser imposto a
partir de cima; ele conseguiria viver alguns meses apenas, se a cooperação constante e
diária de todos não o apoiasse. Ele tem de ser livre» O comunismo não poderia existir
sem anarquismo, sem milhares e milhares de associações voluntárias formadas e
reformadas para ir ao encontro das necessidades das pessoas.
Por outro lado, o anarquismo por si só, sem as medidas económicas comunistas, iria
perpetuar as divisões de classe. Se a propriedade privada ou o dinheiro fossem
conservados sob alguma forma, seriam usados por alguns grupos para explorar os
outros. É fútil falar-se de liberdade política, enquanto a escravidão económica continuar
a existir. A abolição do estado requer a abolição do capitalismo. O anarquismo precisa
do comunismo porque, ao satisfazer as necessidades humanas tais como a alimentação
e a habitação para todos, o comunismo fornece a base material para o anarquismo ou
seja, para a liberdade política.
Uma vez que tanto o capitalismo, como o sistema do salário e o estado tiverem sido
abolidos, os indivíduos terão real liberdade para desenvolver seu próprio potencial como
desejarem. O comunismo anarquista visa produzir o maior grau de individualidade,
combinado com o maior grau de comunidade, e levando a cabo esse processo, alcançar
harmonia entre os seres e o bem-estar para todos..
Agora estamos em posição de ver que muitos anarquistas actuais não possuem uma
noção de comunismo, sequer de socialismo. O anarquismo, para eles, é reduzido à
formação de grupos liberais não-autoritários, baseados nos estados subjectivos das
pessoas. É visto apenas como uma ideia puramente anti-autoritária e anti-
governamental, em vez de uma expressão de tendências anti-capitalistas/anti-estatistas
ou comunistas, dentro da sociedade. Por outro lado, vemos que alguns anarquistas
actuais, em particular os que vêm de uma formação passada marxista-leninista, tendem
a ver apenas os aspectos económicos, portanto concentram-se na luta de classes sem
qualquer noção da organização não-autoritária.
Daí que tenhamos que contemplar as lutas de classe dos imigrantes, dos que não
auferem salário regular, das mulheres trabalhadoras, como parte integrante da luta de
classes. A luta contra a exploração de classe tem de incluir, não apenas lutas contra a
classe patronal mas também contra coisas que dividem a classe trabalhadora, tais como
o sexismo e o racismo. A luta de classes é uma luta para libertar toda a Humanidade,
não apenas uma classe ou grupo em particular (isto é, requer a auto-abolição da classe
trabalhadora).
Uma tendência particularmente valiosa para actualizar o anarquismo comunista vem
pelo trabalho do eco-anarquista dos Estados Unidos Murray Bookchin. A crise ecológica
significa que não apenas devemos procurar métodos genuinamente democráticos de
produção, como também produzir as coisas de modo ecologicamente adequado.
Bookchin formulou um
eco-anarquismo comunista que assume que todas as formas de hierarquia estão
interligadas. Por exemplo, ele alega que a destruição ecológica está radicada no nosso
relacionamento hierárquico interpessoal. Elimine-se tais formas de relacionamento e a
nossa relação em relação à natureza também se transformará. Daí que na formulação
de Bookchin, a luta é pois no sentido da abolição de todas as formas de autoridade
(classe, raça, género, etc. ). O problema em relação a Bookchin, é que ele recusa a luta
de classes como meio para abolir a autoridade e, em vez disso, deposita a sua
esperança em “novos movimentos sociais” capazes de tomarem conta de autarquias
através da participação em eleições, com representantes seus! Isto falhou no passado
ou acabou em formação de partidos que, inevitavelmente, se deslocam para posições de
compromisso com os poderes instituídos. Uma abordagem não classista quase de
certeza falha porque não procura abolir as relações de exploração que subjazem ao
capitalismo. Uma luta de classes revolucionária (como tem sido aparente, até certo
ponto, na Argentina do presente), é o único meio pelo qual o anarquismo comunista
pode ser alcançado. A experiência mostra-nos que apenas quando a classe trabalhadora
se torna consciente de sua opressão e age de modo revolucionário, se torna possível
abolir (ou reduzir ao mínimo possível) toda a exploração.
Hoje em dia, muitos grupos anarquistas comunistas pelo mundo fora são de orientação
plateformista. Os plateformistas argumentam - com razão - que os anarquistas
comunistas precisam de se organizar em grupos coerentes, unificados, capazes de
avançar com pontos de vista bem definidos. No entanto, a preocupação com a
organização, leva-os - por vezes - a sacrificar o conteúdo do anarquismo comunista.
Correm o risco de se tornarem obsessivos em relação às suas práticas internas e
externas, por vezes, sem ter em conta o nível da luta de classes na sociedade. Parecem
procurar constantemente a perfeita organização anarquista comunista. Embora seja
excelente que vejam o anarquismo comunista como parte da luta de classes, eles
frequentemente não prestam atenção ao lado necessariamente comunista (ausência de
mercado) do anarquismo comunista e portanto serão pouco mais do que anarquistas
colectivistas, em vez de comunistas.
Eu penso que o anarquismo comunista não é uma teoria ultrapassada mas que continua
a ter relevância nos dias de hoje, perante uma sociedade autoritária, capitalista. Com o
erguer de uma vaga de anti-capitalismo ou pelo menos do sentimento anti- corporações
capitalistas na sociedade, paralelamente a um cepticismo generalizado em relação aos
partidos políticos, aos sindicatos reformistas e do questionar dum estado militarista, as
perspectivas do anarquismo comunista parecem boas. O anarquismo comunista é uma
alternativa viável, bem amadurecida, ao capitalismo, que vai além da ideia vaga de ser
“anti-capitalista” .
A hegemonia neoliberal sobre a sociedade tem uma espessura epidérmica, de certa
forma: forçou-nos a trabalhar mais por menos salário, reduziu a nossa qualidade de vida
e produziu uma real fobia em relação ao trabalho, em muitas pessoas. Quem é que
deseja sacrificar 40 anos ou mais da sua vida fazendo algo que detesta (trabalhar) para
o lucro de outros?
5
Porém, temos de assentar os pés na terra. Essa fobia ao neoliberalismo não se traduziu
numa acção positiva e em larga escala contra o sistema. Por todo o 1º Mundo, o nível de
resistência da classe trabalhadora ao capitalismo assume pontos baixos históricos, a
avaliar pelas actividades de greve. Muitas pessoas são, hoje em dia, apáticas, alienadas
e individualistas; mesmo se muitas vêem, para além do espectáculo, a realidade do
capitalismo moderno
e da sua promessa vazia de felicidade através de um consumo compulsivo, a maioria
não age contra ele. Logo que o nível de actividade da classe trabalhadora aumentar,
como parece que tem acontecido muito recentemente, estas atitudes irão sem dúvida
mudar e movimentos radicais como o anarquismo comunista poderão tornar-se
rapidamente populares, de novo.
É certo que os seus muitos rivais na esquerda têm-se reduzido. Assim, os marxistas
leninistas, que constituíam para o público em geral a imagem mesma do radicalismo de
“esquerda”, ou desapareceram ou se juntaram a grupos de ideologia e de prática social-
democrata. O colapso da esquerda tradicional, pois ela já apenas oferece a imagem em
espelho do neo-liberalismo, sem nada propor de novo, é uma oportunidade de encorajar
as tendências para um movimento anarquista comunista coerente na sociedade, em
especial, no seio das pessoas destituídas de poder.