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PETROGRAFIA DAS ROCHAS SEDIMENTARES

Prof. Dr. Sérgio Brandolise Citroni


- 2008 –

Segunda edição ampliada do “GUIA PARA ANÁLISES PETROGRÁFICAS DE ROCHAS SEDIMENTARES” - 2002
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Instituto de Agronomia – Departamento de Geociências

PARTE 1 - GENERALIDADES

Introdução
Este texto destina-se a orientar, de maneira prática, o estudo de rochas
sedimentares em amostras de mão e através do microscópio. Essa atividade envolve
a identificação e análise de texturas e estruturas presentes nessas rochas, sejam elas
deposicionais (formadas no momento da sedimentação da rocha) ou diagenéticas
(desenvolvidas tardiamente, como resposta a modificações químicas e físicas
produzidas pela compactação e passagem de fluídos através das rochas no processo
de litificação).
Conforme notou Pettijohn (1957), “as rochas sedimentares são produto tanto de
sua herança quanto do ambiente”, herdam seus constituintes iniciais de rochas pré-
existentes que são modificados e rearranjados pelos ambientes de intemperismo,
erosão, transporte, deposição e diagênese. Um grande número de elementos
dondicionados por essa herança e por esses ambientes constitui e define às rochas
sedimentares: tamanho dos grãos ou cristais que às compõe (granulometria),
composição mineral, arranjo espacial dos componentes, forma, natureza dos grãos,
presença e natureza de matriz, presença e natureza de cimento, presença e natureza
de fósseis, variações das propriedades desses elementos ao longo da rocha,
estruturas sedimentares e estruturas diagenéticas, etc.
A granulometria é de particular importância (pelo menos para a maior parte das
rochas sedimentares) e o estudo estatístico dessa propriedade se comporta permite
uma série de interpretações. Essas análises incluem o estudo da seleção da
granulometria da população dos grãos constituintes, e de que maneira essa
distribuição se afasta de uma distribuição estatística normal.
Esses elementos podem nos contar muito a respeito da formação e das
transformações pelas quais essas rochas passaram permitindo reconstruções
paleogeográficas e paleoclimáticas. Em outras palavras, contar a história desses
sedimentos, princípio que define a Geologia enquanto ciência.
Também permitem definir propriedades que as tornem potenciais portadoras de
recursos minerais, notadamente de petróleo. Também podem apontar as
caracterísiticas de aqüíferos e de sua susceptibilidade à contaminação.

Embora seja um procedimento artificial, uma organização e uma sistemática na


abordagem desses elementos devem ser buscadas para que nenhuma informação
importante se perca diante de um aspecto mais destacado ou incomum apresentado
pela rocha. Este texto propõe um dos possíveis caminhos que podem ser adotados na
análise petrográfica macro e microscópica de rochas sedimentares.

Tipos de rochas sedimentares


Variados são os tipos de rochas sedimentares: arenitos, conglomerados, lamitos,
tufos, coquinas, calcários, brechas, evaporitos, folhelhos, rochas fosfáticas, rochas
ferríferas (ironstones), margas, rochas piroclásticas, etc., etc., etc... Existem também
muitas maneiras de subdividir esse conjunto de rochas. Para a sitematização dos
trabalhos de petrografia, a natureza dos componentes e de como eles foram unidos
no ambiente dedposicional é critério mais prático de subdivisão.
Uma proposta consagrada é a de Folk (1974), que separa os componentes das
rochas sedimentares em três tipos (ver figura 1.1 e tabela 1):

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1 – Fragmentos detríticos, predominantemente siliciclásticos (ou terrígenos), que
são aqueles derivados de fora da área deposicional a partir da ação de agentes
erosivos e intempéricos;
2 – Fragmentos aloquímicos, produzidos dentro ou nas adjacências da área
deposicional; e
3 – Componentes ortoquímicos, resultantes da precipitação química direta na área
de deposição.

Figura 1.1 – As cinco classes


básicas de tipos de rochas
sedimentares. A área achurada
representa a composição da
maioria das rochas sedimentares
existentes na Terra.
Descrição na tabela II.2

Tabela 1.2 – Explicação dos símbolos usados na classificação de rochas


sedimentares da figura 1.1.

Simbolo (usado na Exemplos e comentários Participação % aproximada


figura 1) no registro geológico
A maioria dos lamitos, arenitos
e conglomerados.
T – Rochas terrígenas A maioria das rochas terrígenas 65 – 75
situa-se na área sombreada da
figura 1.
Muitos folhelhos esqueletais,
IA – Rochas aloquímicas
arenitos esqueletais ou 10 – 15
impuras
carbonatos ricos em oóides.
IO – Rochas ortoquímicas Carbonatos lamíticos argilosos
2–5
impuras
Carbonatos esqueletais, ricos
A – Rochas aloquímicas em oóides, pelets ou 8 – 15
intraclastos
Lamitos carbonáceos, anidrita,
xO – Rochas ortoquímicas 1–8
chert
IA e IO são coletivamente chamados de rochas químicas impuras e A e O de rochas químicas
puras

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Tucker (2001) propôe quatro grandes categorias, segundo o processo de formação,
que englobariam à maioria das rochas sedimentares: 1. Rochas siliciclásticas
(terrígenas ou epiclásticas), coincidindo com as rochas terrígenas de Folk; 2. Rochas
de origem biogênica, bioquímica ou orgânica, incluindo calcários, rochas fosfáticas,
carvões, folhelhos betuminosos, e cherts; 3. Rochas sedimentares de origem
principalmente química, incluindo os evaporitos e ironstones; 4. Vulcanoclásticas,
produzidas por uma variedade de fragmentos produzidos por processos vulcânicos.

Levando-se em conta as caracterísicas composicionais das rochas e os


procedimentos de observação propostos neste texto, a classificação de Folk, que
considera componentes de origens diversas ocorrendo em proporções variadas se
mostra mais adequada, muito embora a classificação de Tucker seja mais ampla.

A – Rochas siliciclasticas
Para nossa divisão de trabalho, o primeiro grupo de rochas sedimentares é
constituído por aquelas nas quais predominam os componentes epiclásticos ou
terrígenos, originados da erosão de rochas pré-existentes, sendo fragmentos de
minerais individuais ou de rochas.
Esses fragmentos saem da área fonte (situada fora da bacia) e são transportados
até seu sítio deposicional dentro da bacia. Têm aspectos que são herdados da rocha
fonte ou produzidos pelas características do transporte (propriedades físicas do meio,
distância e tempo de transporte) e do ambiente deposicional (energia, condições
químicas, profundidade). Contribuições internas da bacia (fósseis, sedimentos
químicos, cimentação, sedimentos retrabalhados) podem compor a rocha, mas em
sua essência, seus componentes são fragmentos de origem externa à bacia e
produzidos pelo intemperismo e pela erosão física. Esses clastos são compostos
dominantemente por silicatos, pois são os minerais mais comuns na crosta terrestre
e mais resistentes ao transporte e ao intemperismo, embora óxidos e metais nativos
(muitos dos quais de interesse econômico) possam fazer o mesmo caminho dos
fragmentos silicáticos até a bacia sem serem destruídos.
A esse primeiro grupo de rochas podemos denominamos ROCHAS SILICICLÁSTICAS
TERRÍGENAS.

B – Rochas Químicas
Com fins práticos, as rochas aloquímicas e ortoquímicas podem ser agrupadas. São
aquelas dominadas por fragmentos produzidos essencialmente dentro da bacia
sedimentar precipitados a partir de elementos químicos em solução na água, seja por
processos químicos diretos, seja por processos bioquímicos. Para facilitar o trabalho
de petrografia, uma divisão com base na composição dos constituintes dessas rochas
deve ser feita.
O primeiro e mais importante grupo de rochas com constituintes orto e aloquímicos
tem o íon carbonato (CO3--) em sua composição. São as ROCHAS SEDIMENTARES
CARBONÁTICAS.
A maior parte dos organismos marinhos produz conchas, testas e exo-esqueletos
(os componentes aloquímicos), de composição carbonática: aragonita, ou calcita, os
demais tipos de rochas químicas ou bioquímicas intrabaciais são extremamente
subordinados às carbonáticas, fazendo com que estas mereçam uma atenção
particular.
São elementos que definem as características das rochas sedimentares
carbonáticas: energia do meio de deposição, concentração de cálcio, magnésio e
ferro nas águas e os tipos de organismos que produzem testas carbonáticas (esses
organismos, por sua vez, são definidos por parâmetros ambientais, tais como
temperatura e turbidez da água, profundidade, distância da costa, energia das ondas,
etc., e pela idade das rochas em questão).

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As demais rochas originadas por processos químicos ou bioquímicos (evaporitos,
fosfatos, ironstones e cherts) são de ocorrência mais restrita e não serão abordadas
aqui.

C – Rochas Vulcanoclásticas
A atividade vulcânica pode produzir fragmentos rochosos que se depositam na
forma de sedimentos. Esses fragmentos se formam de maneiras diversificadas:
grandes volumes de fragmentos podem se formar em atividades vulcânicas
explosivas (ricas em gases), ao passo que pequenos volumes se devem ao
resfriamento brusco de lavas (produzidas por atividades vulcânicas extrusivas).
A composição mineralógica desses fragmentos (vidro vulcânico, pomes, cristais,
fragmentos de rochas vulcânicas) e algumas características texturais das rochas
formadas por esses processos são as principais características distintivas entre essas
rochas e as siliciclásticas.
Dentre as rochas VULCANOCLÁSTICAS, distinguem-se aquelas formadas
diretamente pela ação de explosões vulcânicas, denominadas PIROCLÁSTICAS.

Processos que imprimem características às rochas sedimentares

A – Processos e ambientes deposicionais:


Os ambientes são definidos em função de seus parâmetros físicos, químicos e
biológicos. Produzem texturas e estruturas características. Sedimentos podem ser
depositados pelo vento (ambientes e processos eólicos), por águas correntes, por
correntes de maré, por correntes de turbidez, ondas, correntes de maré, e fluxos de
detritos. Também se formam pelo crescimento in situ de esqueletos animais
(recifes), ou pela precipitação direta (evaporitos).
As condições dos ambientes deposicionais definem as características destes: a
geografia (ou paleogeografia) é o primeiro aspecto a ser levado em conta: áreas
costeiras favorecem sedimentos depositados através de ondas, depósitos eólicos
precisam de áreas com pouca vegetação para criar depósitos espessos, recifes de
corais definitivamente precisam se formar em ambientes subaquáticos. Os detalhes
físicos e químicos dessas regiões geográficas também são fundamentais para a
definição das características dos sedimentos: A profundidade das águas, sua
salinidade, temperatura, e energia de agitação definem qual, e se alguma, forma de
vida pode se desenvolver nesse meio, definindo qual o volume e tipo de contribuição
biológica presente na sedimentação, o Eh e o pH do meio são controladores
fundamentais dos tipos de minerais que podem se depositar.
Os carbonatos, em particular, são especialmente sensíveis às condições do
ambiente deposicional, existindo “janelas” de temperatura, luminosidade, turbidez da
água, Eh, pH e energia necessárias para sua deposição.

B – Tectônica:
A situação tectônica na qual ocorre a sedimentação define, em grande parte os
ambientes presentes e suas correlações espaciais e temporais. As bacias
sedimentares podem ser classificadas de acordo com sua situação tectônica,
ocorrendo bacias em ambientes de crátons estáveis, de retro-arco (situações
convergentes) de rift, ou de margens continentais passivas (situações divergentes),
ou em ambientes transcorrentes. Cada bacia tem fácies sedimentares distintivas ou
litologias características, e as diferentes taxas de subsidência, de preencimento e de
sucessão de fácies.
Muitos autores (Yerino e Mainard, 1984; Dickinson, 1985) defendem ser possível
definir o ambiente tectônico a partir da análise das características mineralógicas de
sedimentos siliciclásticos. Segundo esses autores, as proporções entre fragmentos de
rochas ou minerais presentes nos sedimentos siliciclásticos arenosos seriam
condicionadas pelas rochas formadas nos diferentes ambientes tectônicos

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(vulcânicas, plutônicas, deformações tectônicas) e pelas taxas de denudação
impostas pelo relevo mais ou menos acentuado.

C – Clima:
Controla, primordialmente, a ação do intemperismo, afetando a composição dos
sedimentos e das rochas siliciclásticas. Evaporitos e calcários têm sua formação
fortemente condicionados pela paleolatitude (ver figura 1.2 a e b). O clima também
influencia na produtividade biológica, que determina a formação de calcários,
fosfatos, cherts, carvão e óleo, e na taxa de geração de detritos, que, quando baixa,
favorece a precipitação de rochas sedimentares químicas ou bioquímicas.

CARVÃO

85

75

65
Paleolatitudes

55

45

35

25

15

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
freqüência

EVAPORITOS

85

75

65
Paleolatitudes

55

45

35

25

15

0 5 10 15 20 25 30 35 40
freqüência

Figura 1.2a – Frequência de ocorrência de depósitos de carvão e de evaporitos, demonstrando


o controle climático dessas rochas sedimentares, observamos que os evaporitos se concentram
em médias latitudes, onde ocorrem desertos (20-30º) e os depósitos de carvão predominam
em latitudes mais elevadas, correspondentes às florestas de coníferas (50-70º).

5
CARBONATOS

85

75

65
Paleolatitudes

55

45

35

25

15

0 10 20 30 40 50 60 70 80
freqüência

TILITOS

85

75

65
Paleolatitudes

55

45

35

25

15

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
freqüência

Figura 1.2b – Frequência de ocorrência de depósitos de carbonatos e de tilitos os carbonatos


claramente predominam em latitudes quentes (10-30º), enquanto os depósitos glaciais de
tilitos são mais comuns entre 50 e 80º.

D – Área fonte:
Define o material de origem dos sedimentos clásticos. Evidentemente um
sedimento, ou rocha sedimentar, clástico, apresenta algumas características
representativas da área fonte, ou rochas fontes presentes nesta. Não é possível
observar um mineral detríco em uma rocha sedimentar, se este mineral não estava
presente em pelo menos parte das rochas fontes. Do mesmo modo, a granulometria
dos cristais das rochas fonte irão condicionar o tamanho dos grãos no sedimento
derivado.

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E – Diagênese:
Um aspecto muito importante das rochas sedimentares são as transformações
ocorridas após a deposição. O processo de diagênese transforma os sedimentos em
rochas sedimentares consolidadas, e envolve desde as mudanças sofridas logo após
a deposição até o início do metamorfismo. Esses processos envolvem: compactação,
recristalização, dissolução, substituição, autigenese e cimentação.
Nesses processos os espaços entre os grãos são reduzidos, minerais podem ser
dissolvdos e desaparecer ou reprecipitar como cimento ou mudando a forma dos
grãos para responder às pressões atuantes na rocha. Novos minerais podem ser
formados, seja como cimento seja como grãos.

Análise - Procedimentos gerais

No presente curso estudaremos as rochas sedimentares de duas maneiras


principais: em amostras de mão e através do microscópio. Abaixo listamos alguns
dos procedimentos mais comuns envolvidos nessas duas análises.

A – No campo
As rochas sedimentares revelam sua real amplitude no campo, onde as relações
laterais e verticais podem estar visíveis, e onde as estruturas aparecem em toda sua
extensão.
Inicialmente é necessário identificar a litologia com relação à sua cor, composição,
granulometria, textura e conteúdo fóssil. As estruturas devem ser observadas com
atenção, em especial aquelas que apresentem indicações de paleocorrentes.
Essas observações devem ser feitas no corte ou em amostras de mão, utilizando-se
de lupas, ácido, imã, etc.

A cor pode ser indicativa do conteúdo em matéria orgânica (com cores variando do
cinza ao preto, indicando aumento do conteúdo de material orgânico), e do estado de
oxidação do ferro, com o ferro ferroso (2+) dando cores verdes, e o ferro férrico (3+)
com cores vermelhas (para a hematita), ou amarelo e laranja (para limonita-
goethita).

A textura deve incluir a determinação da granulometria mais comum, o


arredondamento dos grãos, a seleção, o tipo de contato entre os grãos (se for
possível distinguir), e se há alguma orientação preferencial desses grãos.

A composição deve incluir:


Se for um arenito siliciclástico, as proporções entre quartzo, feldspato e os
fragmentos de rocha.
Se for um calcário calcítico (que ferve com o ácido), identifique seus componentes
(bioclastos, oóides, ou pelóides.
Se é um lamito, será um argilito se não apresentar fissílidade ou um folhelho, caso
contrário.
Se for um calcário dolomítico ferverá pouco com o ácido e apresentará má
preservação dos componentes originais (presentes no calcário calcítico).
Se for um conglomerado observe se monomítico ou polimítico (composição dos
fragmentos), se ortoconglomerado ou paraconglomerado (pela relação de contato
entre os fragmentos).

B – No microscópio

As rochas sedimentares, ao contrário da maioria das rochas ígneas e metamórficas,


podem apresentar comumente uma grande variação na granulometria em áreas
pequenas, às vezes, em uma lâmina petrográfica podemos ver grãos que ocupam

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todo o campo visual do microscópio ao lado de outras que mal podem ser
distinguidas com o aumento máximo. Para entender para “o que” estamos olhando, e
não fazer inferências equivocadas, é altamente recomendável observar a lâmina
inicialmente contra a luz observando as variações granulométricas o fabric dos grãos
(orientações preferenciais), relações entre os grãos, e mesmo estruturas de pequena
escala, elementos que podem passar despercebidos com a observação direta através
do microscópio.
Desse modo podem ser notados grandes fósseis em meio a lamas carbonáticas,
seixos em meio a substratos arenosos, laminações cruzadas ou paralelas e variações
granulométricas, do mesmo modo que fraturas preenchidas por cimentação.

Um dos procedimentos fundamentais para o estudo petrográfico de rochas


sedimentares é a determinação do diâmetro dos grãos, isso pode ser feito com base
no tamanho do campo visual de cada uma das lentes objetivas. Na maioria dos
microscópios petrográficos comuns (caso dos utilizados no curso), o campo de menor
aumento (4X) tem dimensão (diâmetro) de 5 mm, o aumento seguinte (objetiva de
10X) tem diâmetro de 3 mm, a objetiva de 20 X, diâmetro de 1,5 mm e a objetiva de
40X, de 0,75 mm. As dimensões dos grãos podem ser calculadas comparando-se o
tamanho dos grãos com o tamanho do campo visual, conforme mostra a figura 1.3.

A contagem, ou pelo menos a avaliação das proporções de grãos é fundamental em


qualquer estudo petrográfico de rochas sedimentares através do microscópio. Isso é
feito para classificar a amostra do ponto de vista textural e mineralógico.
A contagem de espécies minerais é procedimento comum, mas, nas rochas
sedimentares clásticas, a contagem de grãos com dimensões diferentes chega a ser
mais importante que a mineralogia. Descrições de como tais contagens ou avaliações
visuais podem ser feitas são descritas mais adiante. A figura A0, mostrada no anexo
é uma figura clássica para estimativas de percentagens, que pode ser usada em
várias situações.

Figura 1.3 – Esquema que mostra a maneira de estimar a dimensão de um grão: No


primeiro esquema temos o campo de visão de 5 mm de diâmetro, o grão situado no
centro tem cerca de ¼ da dimensão do campo, portanto, 1,25 mm. O segundo
esquema represenda uma visada com objetiva de aumento maior, deixando o campo
com 2 mm, as dimensões do grão podem ser desse modo melhor estimadas como
próximas de 1,5 mm.

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Descrevendo sedimentos e rochas sedimentares em lâminas – indicações
gerais:
1) EXAME PRELIMINAR

Antes de colocar a lâmina no microscópio, observe-a contra a luz e anote qualquer feição que
possa ser observada. Pode ser fácil observar laminações, tamanho dos grãos, cor, seleção e
outras feições. Use uma lente de aumento se necessário.

2) COMPOSIÇÃO

Mineralogia dos grãos – Para cada mineral principal presente, faça uma lista breve de suas
propriedades de identificação (descrições completas dos minerais não são necessárias), de o
nome e a porcentagem estimada (como percentagem do total dos grãos – não da rocha). Os
minerais estão frescos ou alterados? Liste rapidamente os minerais acessórios (não perca tempo
descrevendo minerais que ocorrem como um ou dois grãos em toda a lâmina).
Para grãos carbonáticos – descreva brevemente e identifique os diferentes tipos: esqueletais
(fósseis), oóides, intraclastos, pelóides/peletes, etc. Para os fragmentos fósseis, observe as
características para identificar o grupo ao qual eles pertencem. Estime a percentagem dos
diferentes tipos de grãos. Os grãos mostram evidências de modificação: furos, envelopes
micríticos, recristalização, dolomitização?

Fragmentos de rochas – identifique suas feições e dê seu nome.

Matriz e cimento – qual o material entre os grãos? É um material sedimentar fino (matriz) ou um
material cristalino (cimento). Cite as propriedades que identificam e o nome dos minerais do
cimento ou matriz; estime a percentagem de matriz, arcabouço, cimento e poros (como
porcentagem do total da rocha). Descreva a forma do cimento, ex. em franja, fibroso, crescimento
sintaxial, preenchimento de poros, etc.
Em calcários dê atenção especial à distinção entre matriz micrítica e calcita cristalina mais
grossa: é a calcita cristalina um cimento verndadeiro (esparito), ou é de substituição (esparito
neomórfico)? Use as lentes de maior aumento quando examinando o material mais fino.

3) TEXTURA

Várias propriedades texturais de rochas sedimentares são melhor definidas através de seus
extremos (ex.: areia fina a média; grãos subangulares a subarredondados). Se várias camadas
ou laminações estão presentes em uma lâmina, elas podem apresentar diferentes propriedades
texturais – descreva-as individualmente.

Tamanho dos grãos – extremos dos tamanhos dos grãos


Seleção
Forma dos grãos – esfericidade (são grãos equidimensionais, alongados, etc.)
Arredondamento e extremos do arredondamento

Sustentação – a rocha é grão ou matriz-sustentada? (Lembre-se que em lâminas, quando os


grãos estão próximos o suficiente, devem estar em contato quando observados em 3D).

Contato entre os grãos – Os contados são tangenciais, longos, côncavo-convexos ou suturados?

Porosidade – estime a porcentagem do espaço vazio.

Orientação – os grãos alongados têm uma orientação preferencial (ex.: paralelos a laminação,
imbricados; conchas orientadas com a convexidade para cima)?

Estruturas sedimentares – laminação, preenchimento geopetal, furos, etc.

Outras feições – ex.: veios, estiliólitos.

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4 – NOME DA ROCHA

A rocha é terrígena clástica (siliciclásticas), vulcanoclástica ou carbonática? Para as rochas


siliciclãsticas use a classificação de arenitos de Dott. Para calcários, use as classificações de Folk
e de Dunham. Use adjetivos apropriados para qualificar a rocha, ex.: quartzo-arenito fino
glauconítico; arenito carbonático (graisntone) bioesparítico crinoidal; arenito conglomerático a
calcário.
(Explicações para os nomes: O quartzo-arenito fino glauconítico representa uma rocha
siliciclástica formada por mais de 90% de grãos de quartzo, com grãos de glauconita, uma argila
marinha verde; o grainstone bioesparítico crinoidal seria uma rocha carbonática de granulação
areia, com os clastos formados principalmente por grãos esqueletais de crinóides – equinodermo
– em cimento esparítico.; o arenito conglomerático com seixos de carbonatos é uma rocha
siliciclástica de granulação predominante areia, com seixos de rocha carbonática).

5 – DEPOSIÇÃO

Através da descrição da lâmina deve ser possível obter informações gerais que permitam inferir
as condições de transporte e deposição. Não tente levar as conclusões para muito longe – há
um limite razoável para as interpretações que podem ser feitas a partir de uma única lâmina!
Exemplo, a granulometria pode ser usada para estimar os níveis de energia; a mineralogia e a
maturidade textural podem indicar a distância de transporte e a importância do retrabalhamento;
a presença de um grupo fóssil em particular pode indicar a salinidade, a luminosidade, a
profundidade e/ou a idade do ambiente deposicional.

6 – DIAGÊNESE

Deve ser possível comentar as condições e a história da diagênese da rocha sedimentar


estudada, por exemplo, a natureza dos contados entre os grãos e a proporção da porosidade
podem indicar o grau de soterramento, ou se a cimentação ocorreu antes ou depois do
soterramento; diferentes tipos de cimento carbonátio podem sugerir diagênese por água marinha
ou doce; solução ou corrosão de grãos de quartzo ou carbonato podem indicar o pH durante o
processo de diagênese; a natureza e a distribuição dos argilominerias podem sugerir a destruição
de minerais silicáticos instáveis; as relações de diferentes feições diagenéticas pode permitir que
se interprete a seqüência dos eventos diagenéticos.

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SEGUNDA PARTE – ROCHAS SILICICLÁSTICAS TERRÍGENAS

A – Descrição

Arcabouço e matriz
As rochas siliciclásticas terrígenas podem ser descritas como formadas por quatro
constituintes: clastos do arcabouço, clastos da matriz, minerais de
cimentação e poros. Qualquer um desses elementos pode estar ausente em uma
dada rocha siliciclástica.
Matriz e arcabouço são grãos terrígenos (derivados da erosão) de diferentes
dimensões relativas, a matriz é mais fina e o arcabouço mais grosso, mas como
determinar o limite entre os dois?
Temos dois parâmetros que podem ser aplicados:
Primeiro descritivo ou absoluto: os grãos que constituem o arcabouço têm
dimensões iguais ou maiores que 0,0312 mm (ou 1/32 de milímetro),
correspondendo a granulação de silte grosso (ver abaixo). Em outras palavras, o
arcabouço é composto pelos fragmentos que são individualizáveis sob o microscópio.
Os grãos mais finos (siltes e argilas) constituem a matriz.
Segundo parâmetro textural ou relativo; dizemos que a matriz é a parte da rocha
que fica situada entre os grãos do arcabouço, ocupando os espaços deixados entre
estes. A matriz pode ter se colocado no mesmo momento que os clastos do
arcabouço OU penetrado tardiamente no fabric formado pelo arranjo dos grãos do
arcabouço. Essa confusão é, em parte, resultado de um problema de tradução. Em
inglês temos os termos matrix e o termo groundmass, ambos são muitas vezes
traduzidos como matriz. A matrix seria o equivalente à definição descritiva ou
absoluta, apresentada acima, e o groundmass aplicável nas situações em que o
material relativamente mais fino tem granulometria superior à de silte.
Por esse motivo e porque, na prática, o conceito genético é de utilização arbitrária, é
preferível denominar matriz apenas ao material mais fino que silte grosso (=matrix).
Para o material relativamente mais fino que o arcabouço podemos usar o termo
substrato (= groundmass), e incluí-lo também entre o arcabouço quando necessária
sua computação em termos percentuais.
Desse modo seria incorreto dizer que uma rocha sedimentar é um conglomerado com
matriz arenosa, mas sim que é um conglomerado com substrato arenoso (uma rocha
que têm como principal componente fragmentar seixos ou blocos e, preenchendo os
espaços entre estes, ocorrem fragmentos com granulometria de areia).

2 - Clastos do arcabouço

É o tamanho da maioria dos clastos do arcabouço que irá definir a designação da


rocha, segundo a tabela 2.1.
Na prática, o estudo de rochas sedimentares ao microscópio está limitado, por um
lado, àquelas com fragmentos menores que 1 cm (10 mm ou Φ menor que –3,5) e
àquelas com diâmetro maior que 0,01562 mm (ou seja, Φ maior que +6), em outras
palavras: entre a granulometria de seixos médios e de silte grosso, para o limite
maior, os grãos individuais podem cobrir todo o campo de visão da objetiva e para o
limite inferior, os grãos tornam-se indistinguíveis, mesmo com o aumento máximo da
maioria dos microscópios petrográficos.
Desse modo, podemos dizer que a petrografia de rochas sedimentares concentra-se
no estudo dos arenitos (rochas com granulação areia, com Φ entre +5 e 0).

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Classe granulométrica Diâmetro mínimo Diâmetro Nome da rocha
em milímetros Φ
Matacões muito grandes 2048 -11
Matacões grandes 1024 -10
Matacões médios 512 -9
Matacões pequenos 256 -8
Blocos grandes 128 -7 Rudito, brecha,
Blocos pequenos 64 -6 conglomerado,
Seixos muito grossos 32 -5 rocha rudácea
Seixos grossos 16 -4
Seixos médios 8 -3
Seixos finos 4 -2
Seixos muito finos (grânulos) 2 -1
Areias muito grossas 1 0 Arenito muito grosso
Areias grossas ½ (0,5) +1 Arenito grosso
Areias médias ¼ (0,25) +2 Arenito médio
Areias finas 1/8 (0,125) +3 Arenito fino
Areias muito finas 1/16 (0,0625) +4 Arenito muito fino
Siltes grossos 1/32 (0,03125) +5
Siltes médios 1/64 (0,01562) +6
Siltito
Siltes finos 1/128 (0,0078) +7
Siltes muito finos 1/256 (0,0039) +8
Argilas Menor que 1/512 +9 Argilito, folhelho
Tabela 2.1 – Escala e classes granulométricas propostas por Wwentworth. A escala “fí”
(Φ) é calculada com base na fórmula: Φ = -log2d. Onde d é o diâmetro dos grãos em
milímetros. Essa transformação permite representar às sucessivas granulometrias, que
são logarítmicas, de maneira linear.

3 - Seleção e diâmetro médio


Em geral os arenitos apresentam uma certa variação no tamanho dos grãos que as
compõe, variação essa que não tem motivos para respeitar os limites escolhidos
arbitrariamente pelo homem, de modo que a determinação das dimensões de um
único grão não representa a rocha em seu conjunto, é necessária a contagem de pelo
menos “alguns” grãos para se fazer uma aproximação estatística do diâmetro médio
dos grãos constituintes do sedimento. Vários métodos podem ser utilizados para essa
estimativa, grosso modo, quanto maior for o número de grãos medidos, mais preciso
será o valor estimado (aconselha-se pelo menos 300 grãos por lâmina, uma atividade
que consome muito tempo).
Mas, antes de qualquer medida, deveríamos estimar uma outra propriedade das
rochas siliciclásticas: a seleção granulométrica.
Estatisticamente ela representa o desvio padrão da população de grãos da média de
suas dimensões, quanto mais variada a dimensão dos grãos individuais, maior será o
desvio e pior será a seleção. Para a estimativa da seleção de uma amostra existem
vários diagramas de comparação visual, mostrados na figura A1, A2 e A3 (nos
anexos). Embora menos precisa que a contagem de centenas de grãos individuais, é
opção mais adequada em estudos iniciais ou aqueles para os quais se disponha de
pouco tempo.
Estabelecida a seleção da rocha, devemos avaliar quais as populações de grãos
presentes. Geralmente, uma rocha muito bem selecionada pode ser considerada
como possuindo uma única faixa granulométrica largamente predominante. Uma
rocha menos selecionada pode apresentar várias populações diferentes de grãos. Os
exemplos da figura 2.1 demonstram esse aspecto.

A estimativa do diâmetro modal (aquele mais comum, e não o médio, que pode não
ter um significado genético) deve ser feita a partir de uma amostragem mínima de
grãos. Para obtermos uma amostra representativa, devemos medir e contar os
grãos, seguindo algum critério de amostragem ao acaso. Pode-se, por exemplo,
posicionar aleatoriamente a lâmina em uma dada posição sob a objetiva, e medir
todos os grãos situados em um dos quadrantes definidos pelo retículo da ocular, por

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exemplo o quadrante superior esquerdo. Em seguida, a lâmina é reposicionada
novamente ao acaso, e medem-se todos os grãos do mesmo quadrante usado na
primeira observação(ver figura 2.2). Esse procedimento deve ser repetido um certo
número de vezes para se obter uma amostra de tamanho mínimo: dez visadas para
amostras bem ou muito bem selecionadas, 20 para as amostras com seleção
moderada, e 30 para aquelas pobremente ou muito pobremente selecionadas. Note
que sedimentos muito grossos, mesmo quando observados com o menor aumento,
terão um número menor de grãos avaliados que os sedimentos mais finos. As
medidas individuais dos grãos devem ser comparadas para que se determine qual a
medida predominante, esta deve ser considerada como igual ao diâmetro
predominante na amostra.

Figura 2.1 – Exemplos de arenito mal selecionado (a esquerda) e de arenito


bem selecionado (direita). Na primeira foto podemos observar a presença de
uma população de grãos maiores, em torno de 0,2-0,3 mm; uma
intermediária, com diâmetros médios de 0,15 mm; e uma menor com 0,04-
0,07 mm. No arenito melhor selecionado observamos uma população de
grãos com média de 0,25 mm e uma pouco menor com 0,10-0,15 mm.
Idealmente, em um estudo petrográfico detalhado, as porcentagens de cada
uma dessas populações deveria ser estimada por contagem.

Uma maneira mais rápida, embora menos precisa, é a de escolher pela observação,
aqueles grãos mais comuns em uma dada visada, considerando-os como
representativos da população mais comum. Bastaria então medir um desses grãos
para determinar o diâmetro dos grãos mais representativos.
Observem que rochas sedimentares silissiclásticas podem apresentar mais de uma
moda, ou seja, apresentar duas ou mais populações representativas. Nesse caso,
cada uma delas deve ser medida separadamente.

A média pode ser estimada pelo seguinte procedimento: Contam-se os grãos


situados sob a linha do retículo leste-oeste do microscópio, incluindo aí aqueles
parcialmente cortados pela linha. Divide-se o diâmetro da ocular pelo número de
grãos contados, obtendo-se assim o diâmetro médio desse conjunto de grãos. Esse
procedimento pode ser repetido algumas vezes, por exemplo, contando-se o número
de grãos também no sentido norte-sul, para se obter um valor mais representativo.

É ainda muito importante observar se a lâmina apresenta alguma variação


sistemática no tamanho dos grãos: se existem níveis mais grossos e níveis mais
finos, se a granulação aumenta ou reduz-se sistematicamente em uma dada direção,

13
etc. Esse modo de variação da granulometria deve ser levado em conta na descrição
da amostra, e o tamanho dos grãos deve ser estimado para cada uma das camadas
identificadas. Também é importante assinalar se a modificação se faz de maneira
brusca ou gradual. Essas são feições deposicionais, que, algumas vezes podem ser
observadas também em amostras de mão ou no afloramento.

Figura 2.2 – Esquema de contagem de grãos em um quadrante do campo visual


da lâmina, representando duas visada em posições diferentes de uma mesma
lâmina.
Tomando o quadrante superior direito com área de contagem, teremos que, na
primeira visada temos 9 grãos grandes, 3 médios e 16 pequenos (32,3%; 10,7%
e 57%, respectivamente); na segunda visada, usando o mesmo quadrante,
temos: 8 grãos maiores, 6 médios e 12 pequenos (30,8%; 23% e 46,2%). Na
média dessas duas contagens podemos dizer que 51% dos grãos são pequenos,
16,5 médios e 31,55 grossos.

4 – Forma, esfericidade e arredondamento


Os clastos terrígenos têm sua morfologia ligada a três fatores principais:
- Mineralogia ou litologia da qual são constituídos;
- Forma que os grãos tinham nas rochas das quais se originaram;
- Tipo e distância do transporte.

A forma do grão nos sedimentos é essencialmente uma herança de sua forma na


área fonte. Fragmentos de rochas anisótropas (xistos e sedimentos) e de minerais
com planos de clivagem bem definidos (feldspatos, por exemplo), tenderão a manter
essa anisotropia (e serão destruídos mais facilmente por apresentarem tais planos de
fraqueza). Já os fragmentos mais isótropos (rochas graníticas não deformadas,
cristais de quartzo) serão desgastados com mais dificuldade, mas de maneira mais
homogênea, produzindo grãos com tendência mais eqüidimensional.

Quanto maior a distância pela qual for arrastando o clasto, mais ele será desgastado,
mas também devemos levar em conta o tipo de meio no qual o transporte ocorre:
meios mais viscosos, como deslizamentos de lama tendem a proteger mais o grão
dos choques, ao contrário de meios mais fluídos, como o vento e a água corrente.
Alguns minerais não resistem a grandes transportes, sendo, por isso, eliminados.
Trataremos desse aspecto ao falar da composição mineralógica dos clastos.

A forma dos clastos pode ser definida com base nas proporções entre três eixos
perpendiculares, L (=A), I (=B), C (=C), respectivamente Longo, Intermediário e
Curto. Na figura 2.3, vemos como essas relações definem quatro formas gerais de
clastos: equidimensional, ou esférica, tabular ou discóide, laminar e em bastão.

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Essas definições de forma estão fortemente associadas a outro parâmetro: a
esfericidade.
No microscópio vemos apenas duas dimensões, cortadas arbitrariamente em relação
aos três eixos. Apenas duas formas seriam definidas: clastos mais circulares
(eqüidimensionais) ou clastos mais elípticos (ou alongados), por isso, deveríamos
usar o termo circularidade ao invés de esfericidade.
A superfície dos clastos, quando muito desgastada, tende a adquirir uma menor
irregularidade, ou aspereza. Denominamos tal propriedade arredondamento.
Arredondamento e esfericidade podem ser avaliados com base em comparação
visual, através de diagramas como os mostrados nas figuras A4, A5, A6, A7 e A8
(no anexo).

Figura 2.3 – Classificação de


forma dos seixos segundo o
esquema de Zingg (1935). Note
que os sólidos, representando
esquematicamente seixos de
diferentes formas, têm o mesmo
grau de arredondamento (nulo).
A = Eixo mais longo do grão
B = Eixo intermediário
C = Eixo mais curto
Outras designações comuns
para essas formas:
Tabular = Discóide
Equdiemsional = Esférico
Laminar = Laminar
Prolato = Elíptico

5 – Maturidade textural
Seleção, forma, arredondamento, esfericidade e proporção da matriz são parâmetros
diretamente relacionados com o processo de transporte sofrido pelos sedimentos, de
modo que definem o grau de MATURIDADE TEXTURAL da rocha sedimentar
terrígena. O processo de transporte do material terrígeno atua, em um primeiro
momento, na eliminação das partículas finas da matriz. Tempo e distância maiores
de transporte são necessários para a seleção dos grãos. Finalmente, os grãos vão ser
arredondados com um transporte ainda maior.
Do ponto de vista das informações obtidas pela petrografia, podemos considerar que
uma rocha com “muita” matriz (>5%) terá sido pouco transportada, portanto será
imatura.
Já uma rocha com menos de 5% de matriz e com os clastos do arcabouço com
seleção moderada ou menor, deverá ser classificada como submatura.
Rochas com seleção melhor, boa a muito boa, mas com os grãos predominantemente
angulosos a subangulosos, será matura.
Se essa mesma rocha apresentar os clastos arredondados a subarredondados, ela
será classificada como supermatura.
Os procedimentos de avaliação da maturidade textural estão esquematizados na
figura 2.4.

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6 – Composição
O passo seguinte trata da identificação e descrição da mineralogia dos clastos
presentes no arcabouço das rochas siliciclásticas terrígenas.
Praticamente qualquer mineral pode estar presente como fragmento em uma rocha
terrígena, entretanto, certos minerais são muito mais estáveis que outros no
ambiente sedimentar. A abundância de um determinado mineral em uma rocha
sedimentar irá depender de sua disponibilidade na área fonte e em sua estabilidade
física e química às condições do meio de transporte e do ambiente deposicional.

Com relação à estabilidade química, temos a seguinte ordem decrescente de


estabilidade para os principais minerais:

Quartzo, rutilo, turmalina, zircão Plagioclásio


Chert Hornblenda, biotita
Muscovita Piroxênio
Microclínio Olivina
Ortoclásio

>5% Conteúdo de
IMATURO matriz lamítica
<5%
σ>0,5Φ
moderada ou pior
SUBMATURO Seleção
σ<0,5Φ
boa ou melhor
Subangular
<3,0 r
MATURO Arredondamento

Arredondado
>3,0 r
SUPERMATURO
Figura 2.4 - Esquema da seqüência de determinações para a classificação da
maturidade textral de sedimentos terrígenos clásticos.

Fragmentos de rochas :
Ou fragmentos líticos, são raros em arenitos, pois na granulação areia os grãos
tendem a ser compostos por minerais individuais. Em conglomerados são muito mais
comuns.
Pode-se classificar os fragmentos líticos em:
- de rochas sedimentares finas (Ls) – siltitos, pelitos, folhelhos;
- de rochas metassedimentares finas (Lm) – ardósia, micaxisto;
- de rochas sedimentares silicosas, geralmente registrados como grãos de quartzo
policristalino (Qp) – chert;
- de rochas ígneas, particularmente vulcânicas (Lv).

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Quartzo:
Mineral mais comum nas rochas terrígenas, em média perfaz 65% dos clastos do
arcabouço, podendo chegar, em algumas rochas a 100%. Por sua resistência os
grãos de quartzo podem ser muito retrabalhados, sendo que, em rochas recentes,
parte do quartzo presente é derivado de outras rochas sedimentares, que por sua
vez também os herdaram de rochas sedimentares anteriores. Mas a maioria dos
grãos de quartzo é originada de rochas graníticas, de gnaisses ácidos ou de xistos.

Podemos distinguir variedades óticas de quartzo, que refletem sua origem.


Grãos de quartzo monocristalino, são aqueles compostos por um único cristal de
quartzo, geralmente são os grãos mais comuns; já nos grãos policristalinos temos
que cada clasto é formado por dois ou mais cristais de quartzo, para a interpretação
da origem dos sedimentos, é importante identificar se esses grãos policristalinos são
formados por dois ou três cristais ou por mais de três cristais individuais.
Outra informação que deve ser obtida na análise do quartzo policristalino é o tipo do
contato entre os cristais individuais: se suturado, reto ou irregular.
Outra característica ótica importante dos grãos de quartzo é o caráter de sua
extinção, podendo apresentar extinção Simultânea (ou completa) quando todo o
grão se extingue uniformemente em uma dada posição, ou ondulante quando a
extinção ocorre em partes do cristal, e “corre” através deste a medida que giramos a
platina mais de 5º. O grau de “ondulação” da extinção nos informa a respeito das
tensões às quais os cristais foram submetidos na área fonte.
Um terceiro elemento a ser observado com atenção é a presença e o tipo de
inclusões nos cristais de quartzo. São comuns em alguns tipos de quartzo e mais
raras em outros, dependendo de sua origem. Tanto vacúolos, espaços preenchidos
com fluídos, com aparência marrom ou negra sob luz transmitida, quanto pequenos
cristais de outros minerais (rutilo, mica, clorita, magnetita, zircão e turmalina),
podem estar presentes.

A combinação desses elementos presentes nos cristais de quartzo pode sugerir qual a
área/rocha fonte do sedimento. Podemos ver como tais características podem ser
atribuídas a diferentes fontes nas figura 2.5 e 2.6 e na tabela 2.2.
Algumas feições do quartzo podem ser diagnósticas:
- Grãos de quartzo derivados de rochas vulcânicas são tipicamente monocristalinos,
com extinção Simultânea e livres de inclusões e, embora sejam comuns as
bordas corroídas, costumam ocorrer com uma ou duas terminações em
pinacóide;
- Grãos de veios hidrotermais podem ser monocristalinos ou policristalinos grossos,
possuindo uma grande quantidade de vacúolos preenchidos por fluídos;
- Grãos de fontes metamórficas geralmente são policristalinos com muitos grãos,
geralmente alongados e como orientação cristalográfica preferencial;
- Tanto os grãos metamórficos quanto os ígneos plutônicos apresentam extinção
ondulante.

Feldspatos:
São minerais comuns em rochas sedimentares, representando de 10 a 15 %, mas
podendo chegar a 50% em arcóseos. Os feldspatos são menos resistentes física e
quimicamente se comparados com o quartzo. Uma característica distintiva dos grãos
de feldspato em arenitos, é exatamente a presença da superfície alterada, dando-lhe
uma aparência de nublada, com a presença de pequenos cristais de sericita (mica de
alta birrefringência) sobre os grãos geralmente angulosos a subangulosos.
Os feldspatos potássicos (microclíneo e ortoclásio) são mais comuns que os
plagioclásios por dois motivos: primeiro a maior estabilidade química dos primeiros,
sendo que é muito comum a alteração dos plagioclásios na área fonte e sua
conversão em argilas, e segundo por que as áreas fontes mais comuns são
geralmente mais ricas em feldspatos potássicos (granitóides) do que em plagioclásios
(estes mais comuns em terrenos vulcânicos e nos oceanos).

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O microclíneo é facilmente reconhecido em lâminas por sua geminação cruzada, mas
o ortoclásio é facilmente confundido com o quartzo, diferenciando-se apenas por sua
superfície alterada. Os plagioclásios são geralmente reconhecidos pela presença de
geminação polissintética, sendo a albita (sódica) mais comum que a anortita
(cálcica), pelos mesmos motivos da maior abundância dos feldspatos potássico, e
pela comum transformação da anortita em albita durante a diagênese dos
sedimentos.
Os feldspatos também apresentam características distintivas de suas áreas fontes.
Diferentes tipos de zoneamento podem ser observados, sendo mais comum em
feldspatos de rochas vulcânicas. Feldspatos piroclásticos tendem a ser anaedrais,
comumente quebrados. Pertitas refletiriam fontes plutônicas.
Os feldspatos são fortes indicadores das condições de alteração e de erosão da área
fonte. Climas úmidos tendem a destruir quimicamente aos feldspatos, que se
preservam melhor em regiões áridas, sendo geralmente frescos. Já condições de
erosão acelerada também preservam os feldspatos, mas nesse caso, eles podem
ocorrer como frescos ou alterados.

Tabela 2.2 - CLASSIFICAÇÃO GENÉTICA DOS TIPOS DE QUARTZO PRESENTES EM


ROCHAS SEDIMENTARES:
Tipo Genético Extinção Inclusões Forma Esquema
COMUM Alguns
Simultânea a
vacúolos; Sub-euedral a
levemente
poucos Xenomórfico
ondulante
micrólitos
VULCÂNICO Cristais bipirâmidais a
hexagonais, arestas
Limpo: sem retas e cantos
Simultânea
inclusões. arredondados;
embainhamentos
(reentrâncias).
DE VEIOS Abundantes
Cristais grandes;
vacúolos;
Ondulante, forma cristalina de
alguma clorita,
estruturas em incipiente a perfeita;
vermicular;
pente grãos semi-compostos
cadeias de
e cizalhados.
poeira
METAMÓRFICOS Simultânea e
RECRISTALIZADOS fracamente Alguns Mosaicos de grãos
ondulante; micrólitos e equidimensionais com
unidades vacúolos contatos retos
compostas
METAMÓRFICO Grãos alongados
Simultânea a
XISTOSO compostos com
fracamente Micas
contatos retos
ondulante
METAMÓRFICOS Alguns Cristais individuais
Fortemente
ESTIRADOS micrólitos e alongados e
ondulante
vacúolos lenticulares

Micas e minerais de argila:


São presenças comuns na matriz de arenitos e de sedimentos mais grossos, além de
ser os principais componentes de rochas pelíticas. Biotita e, especialmente,
muscovita, são minerais detríticos comuns, que tendem a se concentrar no plano de
acamamento, porém, quando em pequenas quantidades, restringem-se a placas
isoladas em meio aos grãos de quartzo e feldspatos, destacando-se por suas cores de
birrefringência mais altas da muscovita e pelas cores castanhas a verdes com
pleocroísmo da biotita. Quando em cortes que apresentam sua face maior, (001),

18
pequenas áreas alteradas, com birrefringência mais alta, comumente chamadas
“olhos de pássaro” (“birds-eyes”) são características da biotita.

Figura 2.5 – Classificação genética dos tipos de grãos de quartzo presentes nas rochas
sedimentares silissiclásticas.

Os argilo-minerais são tanto detríticos quanto autigênicos, sendo as diversas


espécies difíceis de identificar por meios óticos. Os melhores resultados podem ser
obtidos por meio de microscópio eletrônico de varredura e por difratometria de raios-
X.
Entre as várias espécies de argilo-minerais, as principais podem estar presentes nos
arenitos: caolinita, ilita, clorita, esmectitas e argilas de camadas mistas. As argilas
detríticas refletem a geologia da área fonte e o clima que produziu o intemperismo. A
diagênese pode transformar certos minerais de argila em outros (podendo ser esse
inclusive um critério de identificação do grau diagenético), ou pode acelerar a
formação de argilo-minerais a partir de fragmentos alterados de outros minerais,
particularmente do feldspato. A clorita, por exemplo, é geralmente formada como

19
substituta de grãos de rochas vulcânicas. Em muitos arenitos, boa parte da matriz é
na verdade formada pela compactação e alteração de grãos instáveis.

100%

75%

50%

25%

0%
Plutônica Metamórfica de alto grau Baixo grau

Não ondulatório Ondulatório Policristalino - 2 a 3 Policristalino >3

Figura 2.6 – Abundância relativa de grãos de quartzo detríticos


monocristalinos e policristalinos em areias holocênicas derivadas de fontes
plutônicas e metamórficas conhecidas. Não ondulatório = cristais de
quartzo com extinção Simultânea; Ondulatório = cristais de quartzo com
extinção ondulante; Policristalino – 2 a 3 = grãos policristalinos com 2 ou
três cristais; Policristalino > 3 = grãos policristalinos compostos por mais
de 3 cristais.

Minerais pesados:
Geralmente esses minerais acesórios representam menos de 1% do arcabouço das
rochas terrígenas. São principalmente silicatos e óxidos, principalmente entre os mais
resistentes ao intemperismo e a abrasão mecânica.
Minerais pesados não opacos mais comuns são apatita, epídoto, granada, rutilo,
estaurolita, turmalina e zircão. As principais feições desses minerais são
apresentadas na tabela 2.3 e na chave de identificação de minerais pesados. Entre
os minerais pesados opacos são comuns a magnetita e a ilmenita.
Por ocorrerem em pequena quantidade na rocha, os minerais pesados são melhor
estudados quando separados desta e concentrados por meio de líquidos pesados
(como o bromofórmio), nos quais os minerais leves (quartzo, feldspato) flutuam e os
pesados afundam.
Os minerais pesados são usados comumente para a indentificação das áreas fontes
das rochas sedimentares, a proporção entre os três minerais pesados mais
resistentes: zircão, rutilo e turmalina, é um índice especialmente útil (índice ZTR).
Granada, epídoto e estaurolita são típicos de fontes metamórficas; rutilo, apatita e
turmalina, indicam fontes ígneas. As transformações tectônicas e erosivas pelas quais
passam as áreas fontes podem ser registradas pelo conteúdo de pesados nos
sucessivos estratos de uma dada sucessão sedimentar.
Em ordem de estabilidade química crescente os principais minerais pesados são:
Olivina Anfibólio Granada
Sillimanita Epídoto Zircão
Piroxênio Cianita Turmalina
Esfeno Estaurolita Rutilo
Andalusita Apatita

20
Zircão – ZrSiO4 – tetragonal

Incolor ou pálido, com altos


relevo e birrefringência,
extinção paralela

Turmalina – NaFe3B3Al3(OH)4(Al3Si6O27) – hexagonal

Pleocróico, marrom, verde, alto


relevo, birrefringência média,
extinção paralela

Rutilo – TiO2 – tetragonal

Amarelo - marrom – vermelho –


opaco, relevo e birrefringência
muito altos, extinção paralela

Apatita – Ca5(PO4)3F - hexagonal

Incolor, relevo moderado,


birrefringência fraca, extinção
paralela

Granada – Fe3Al2(SiO4)3 – cúbico

Incolor, rosa-marrom pálido,


alto relevo, isótropo

Estaurolita – 2Al2Si2O5.Fe(OH)2 – ortorrômbico

Amarelo, pleocróico, alto relevo,


baixa birrefringência, extinção
paralela

Epídoto – Ca2(Al,Fe)3(OH)(SiO4)3 - monoclínico

Amarelo-verde pleocróico,
relevo alto, birrefringência
moderada, extinção paralela

Tabela 2.3 – Esboço dos sete minerais pesados mais comuns, com suas formas e propriedades
óticas principais.

21
6 – Cimento
O terceiro componente de uma rocha sedimentar é o cimento, material tardio em
relação ao arcabouço e à matriz. É formado durante a diagênese, podendo ser
precoce ou tardio, inclusive com a presença de várias gerações de cimento que
respondem às mudanças químicas e físicas ocorridas no ambiente da diagênese.
Os principais tipos de cimento são o carbonático, o silicoso, o ferruginoso (limonítico
ou hematítico), argiloso, o fosfático e o sulfato de cálcio (anidrita).
O reconhecimento do cimento passa pela análise de suas propriedades óticas, tais
como cor, birrefringência, assim como da morfologia dos cristais.
Adicionalmente, o cimento precisa ser distinguido da matriz, algo que nem sempre é
fácil, especialmente no caso do cimento/matriz argilosos.
Como regra geral, os cimentos apresentam padrões de crescimento de seus
minerais, enquanto a matriz tende a ser desorganizada. Embora citado em alguns
livros, o cimento não tem granulometria mais fina do que a matriz, muitas vezes o
oposto é observado.
Um procedimento para o reconhecimento dos cimentos é apresentado no diagrama
da figura 2.7.

INÍCIO
Sim Opaco? Não Cor? Colorido Argiloso

Ferruginoso Incolor Textura?

Silicoso Baixa Birrefringência? Fibrosa,


Cor? organizada

Preto,
marrom, Hematítico Textura? Muito alta
vermelh Cimento
o argiloso

Carbonático
Amarelo, Limonítico
laranja ± hematita)
(± Fibrosa, Chert
radiada
Caótica, “suja”,
Crescim. desorganizada
Verde Chamosítico Quartzo secundário
normal

Matriz
argilosa

Figura 2.7 – Diagrama para a determinação do material inter-arcabouço. Deve-se inciar


identificando se o material é opaco ou não, se opaco trata-se de cimento ferruginoso,
dependendo da cor (da rocha ou da lâmina), poderá ser hematítico, limonítico ou chamosítico.
Se não for um material opaco, poderá ser colorido ou incolor, se colorido, a opção mais comum
será que se trata de material argiloso, deverá então se determinar, por meio da textura se se
trata de matriz ou de cimento. Se incolor, o material deverá ser diferenciado com base em sua
birrefringência, com alta (altíssima) birrefringência para os carbonatos e baixa para a sílica.

7 – Maturidade composicional
Arenitos imaturos composicionalmente, apresentam muitos grãos alteráveis:
fragmentos de rochas instáveis, feldspatos, etc.
Uma rochas sedimentar com maior volume de grãos de quartzo ou de fragmentos de
rochas silicosas (cherts, quartzitos) e com alguns feldspatos, é considerada como
matura.

22
Quando quase a totalidade dos clastos são quartzosos, temos um sedimento
supermaturo.
É comum usar a relação entre quartzo+chert / feldspatos (eventualmente junto com
fragmentos de rochas graníticas) / fragmentos de rochas como índice para
determinar a maturidade composicional da rocha sedimentar.
Uma rocha terrígena que apresente mais de 90% de seus clastos do arcabouço
compostos por grãos estáveis é supermatura, entre 70 e 90% matura, entre 70 e
40% submatura e abaixo de 40%, imatura.

8 – Classificação de rochas sedimentares siliciclásticas terrígenas


A classificação correta de rochas sedimentares terrígenas, especialmente de arenitos,
depende da contagem e estimativa percentual sistemática de seus componentes. A
maioria das classificações pode ser expressa na forma de diagramas triangulares (ver
exemplos na figura 2.8.
Uma classificação muito utilizada que leva em conta a maturidade composicional do
arenito é a que relaciona as proporções entre grãos de quartzo, de feldspato e de
fragmentos de rochas – os fragmentos líticos (Q/F/L). Maiores detalhamentos dessa
proposta levam em conta os tipos específicos desses componentes, tais como os
diferentes tipos de quartzo, se os feldspatos são potássicos ou plagioclásios e se os
fragmentos líticos são ígneos, metamórficos ou sedimentares.
A classificação mais usada é a de Pettijohn et al, 1987, que leva em conta a textura
da rocha (seu conteúdo em matriz) para separar três grandes grupos:
Com 0 a 15% de matriz, temos os arenitos;
Entre 15 e 75% de matriz, as vaques (wackes);
Acima de 75% de matriz temos rochas lamíticas.
Dentro das categorias de arenitos e vaques, a composição dos clastos do arcabouço,
se quartzo, feldspatos ou líticos, ocorrem subdivisões entre (figura 2.9).

Essa classificação deve ser feita em dois passos:


Primeiramente estima-se a % de matriz presente, entre zero e 15% de matriz, a
rocha é um arenito (arenite), entre 15 e 75% de matriz, a rocha é uma vaque
(wacke), acima de 75% de matriz a rocha deve ser classificada como um pelito
(pelite, mudrock, mudstone), podendo ser um argilito, um siltito, um siltito argiloso,
um argilito síltico, folhelho, etc.

No segundo passo, é levada em conta a proporção entre os diferentes componentes


do arcabouço: quartzo, feldspato e fragmentos de rochas (ou líticos).
Para os arenitos temos arenitos quartzosos (ou quartzoarenitos) para rochas
com menos de 5% de fragmentos líticos e de feldspato, ou com menos de 7,5% da
soma desses dois componentes. Os arenitos líticos (ou litarenitos), arenitos
arcoseanos (feldspáticos), subarcóseos e sublitarenitos;
Para as vaques – Quartzovaque, grauvaca lítica e grauvaca feldspática.
Os arenitos arcoseanos podem ainda ser subdivididos em arcóseos ou arcóseos
líticos.

23
Figura 2.9- Classificação
de arenitos de acordo com
Pettjohn et al., 1987

9 - Composição dos arenitos – proveniência e ambiente tectônico


É possível encontrar uma relação entre a composição detrítica dos arenitos e o
cenário tectônico de sua área fonte. Os diagramas mais simples, relacionando
Feldspato, quartzo e líticos pode apresentar distinções entre arenitos derivados dos
principais cenários tectônicos (margem passiva, faixa transcorrente, arco magmático
continental, bacia de retro-arco e conjunto ante-arco / arco de ilha. Uma distinção
mais cuidadosa dos subtipos dos componentes permite um refinamento maior e com
menos sobreposição de campos:

Dickinson (1985) analisa separadamente as percentagens de:


Qt – Quartzo total (Qm+Qp)
Qm – Quartzo monocristalino
Qp – Quartzo policristalino
F – Feldspato total
Fp – Plagioclásios
Fk – Feldspatos potássicos
L – Líticos
Lv – Líticos vulcânicos
Ls – Líticos sedimentares
Lt – Líticos totais (inclui Qp)

24
Esses dados são analisados em quatro diagramas triangulares (na figura 2.9
mostramos apenas os dois principais e outros dois de autores diferentes):

Qt-F-L – que dá ênfase à maturidade composicional da rocha;


Qm-F-Lt – definindo a litologia da fonte da rocha;
QpLvLs – considerando apenas os fragmentos líticos da rocha; e
QmFpFk – usando apenas grãos minerais individuais

As províncias tectônicas que podem ser determinadas por meio dessa análise são
apresentadas na tabela 2.4)

Figura 2.8 - Principais classificações de arenitos (continuação)

25
Figura 2.8 - Principais classificações de arenitos (parte 1)

..

26
Figura 2.9 Diagramas triangulares
para a classificação das condições
tectônicas, litológicas e climáticas de
áreas fontes, tomando-se por base
a mineralogia dos grãos de rochas
sedimentares siliciclásticas arenosas

27
Proveniência Cenário tectônico Composição do arenito
Cráton estável Interior continental ou Areias quartzosas com razões Qm/Qp e
margem passiva Fk/Fp elevadas
Embasamento Borda de rift ou ruptura Areias quartzo-feldspáticas pobres em
soerguido transformante líticos totais (Lt) com razões Qm/F e Fk/Fp
semelhantes às do embasamento
Arco magmático Arco de ilha ou arco Areias vulcanoclásticas feldspatolíticas com
continental razões Fp/Fk e Lv/Ls elevadas, gradando
para arenitos quartzo-feldspáticos derivados
de batólitos
Orógeno reciclado Complexo de subducção ou Areias quartzo-líticas com baixo F e Lv, com
cinturão de dobramento- razões Qm/Qp e Qp/Ls variáveis
cavalgamento
Tabela 2.4 – Principais terrenos de fontes, seus cenários tectônicos e composição das
areias derivadas segundo Dickinson, 1985 (diagramas QFL / QmFLt / QmPK / QpLvLs).

PARTE III – ROCHAS CARBONATADAS (alo e orto-químicas)

1 – Mineralogia
Os calcários precipitados em bacias sedimentares normais são principalmente
carbonatos de cálcio e pertencem a duas espécies: Aragonita (ortorrômbica) e calcita
(triclínica). A calcita pode apresentar duas variedades: de alto magnésio (ou
magnesiana) e de baixo magnésio.
Apenas a calcita de baixo magnésio é estável, sendo que as outras duas espécies se
convertem nela com o tempo, em condições de superfície ou a baixas profundidades de
soterramento. Os calcários podem ainda se converter em dolomita: CaMg(CO3)2.
A aragonita pode ser diferenciada das demais espécies de carbonatos por meio de
observação microscópica, distinguindo-se por sua clivagem retilínea em contraste com a
clivagem rômbica dos outros carbonatos e pelas suas cores de birrefringência altas,
enquanto as demais apresentam cores muito altas.
Calcita, calcita magnesiana, dolomita e siderita-ankerita (Fe2CO3 e FeMgCO3), tem as
mesmas propriedades óticas, pode-se fazer uso de soluções corantes (alizarina
vermelha-S e ferrocianeto de potássio) para a diferenciação entre elas (ver tabela 3.1)

Esses corantes podem ser aplicados diretamente sobre a lâmina do carbonato (sem a
lamínula de vidro, é claro), de modo que mesmo nesses casos a diferenciação entre os
vários tipos de carbonatos pode ser feita.

O fato de que os minerais constituintes dos calcários se modificam com facilidade,


implica em um elevado potencial de destruição das características deposicionais dos
fragmentos e cimentos constituintes dessas rochas, algo para que devemos estar
atentos ao interpretarmos o significado das feições observadas.

28
Efeito de
Alizarina Ferrocianeto Resultado
Mineral ataque com
vermelho-S de potássio combinado
ácido

Redução Rosa a
Rosa a marrom
Calcita não ferrosa acentuada do marrom Nenhum
avermelhado
relevo avermelhado

Azul pálido a
Redução Rosa a profundo
Calcita ferrosa acentuada do marrom (depende do Malva a azul
relevo avermelhado conteúdo de Fe)

Dolomita não ferrosa Nenhum Nenhum Nenhum Incolor

Azul muito
Azul muito
Dolomita ferrosa Nenhum Nenhum pálido (turquesa
pálido
ou esverdeado
em lâminas)

Siderita Nenhum Nenhum Azul muito forte Azul muito forte

Tabela 3.1 – Efeitos de tratamento com ácido diluído e corantes sobre a superfície de diferentes
espécies de carbonatos.

2 – Constituintes
Os carbonatos são formados, de maneira semelhante das rochas terrígenas, por três
componentes:
Grãos do arcabouço
Matriz
Cimento

O arcabouço pode ser formado por grãos carbonáticos ou não carbonáticos, neste caso,
siliciclásticos na maior parte das vezes. Vamos tratar apenas dos grãos carbonáticos
neste capítulo.

Os grãos carbonáticos do arcabouço podem ser de duas origens:


- Grãos não esqueletais;
- Grãos esqueletais ou bioclastos;
Os primeiros são fragmentos de origem inorgânica, e os segundos foram parte de
organismos, principalmente carapaças.
Os grãos de outras composições de uma rocha carbonática podem ser fragmentos de
rochas, grãos de minerais erodidos do continente ou fragmentos de explosões vulcânicas
(piroclastos).

A matriz é formada por fragmentos muito finos, com dimensões inferiores a 62 micra
(0,0062 mm), correspondendo aos siltes e argilas das rochas terrígenas. Os grãos
carbonáticos dessas dimensões são chamados de micritos, ou carbonatos
microcristalinos.

29
O micrito origina-se de vários processos: pela desagregação mecânica de outros
fragmentos carbonáticos, pela ação de organismos que destroem partes dos fragmentos
carbonáticos (algas endolíticas), pela deposição química/bioquímica direta, pela
desagregação de algas calcárias, ou pela erosão de planícies de maré carbonáticas.

A presença de cimento é muito comum em rochas carbonáticas, o mais comum é o


formado por calcita espática, ou esparito, comumente recristalizada a partir da matriz
micrítica. Cristais de calcita espática podem também substituir componentes do
arcabouço. Da mesma maneira que nas rochas siliciclásticas, outros materiais podem
formar o cimento de rochas carbonáticas.

3 - Constituintes do Arcabouço

É importante levar em conta que, embora geralmente designemos os carbonatos como


“rochas de origem química”, na verdade boa parte dos componentes de rochas
carbonáticas são clásticos. O arcabouço dessas rochas são formados por fragmentos,
mesmo quando são por precipitados quimicamente (ou por processos bioquímicos) eles
sofreram erosão e transporte e tem comportamento e configurações de partículas
individuais. Os fragmentos de composição carbonática são denominados aloquímicos
(ver tabela 1.2 e figura 1.1) eles são precipitados por processos químicos ou bioquímicos
mas se depositam na forma de fragmentos. Os grãos do arcabouço das rochas
carbonáticas podem ainda ser derivados do continente, de modo que, em alguns casos,
componentes terrígenos (cristais e líticos) podem ser os únicos componentes do
arcabouço dessas rochas. Cinzas vulcânicas (shards vítreas, pomes) são outro
componente que pode estar presente em rochas carbonáticas.
Reconhecemos os fragmentos de uma rocha carbonatada ao observarmos sua forma
definida e delimitada, em contraste com a massa de fundo (matriz e/ou cimento) que
simplesmente preenche os espaços entre esses grãos. É sempre bom ter em mente que
as alterações diagenéticas pelas quais o sedimento carbonático passa, logo depois de
sua deposição, ou mais tardiamente, podem ressaltar ou mascarar a individualidade dos
grãos, ou mesmo criar falsos grãos.
As formas dos clastos do arcabouço podem variar bastante, em função principalmente
da origem orgânica de boa parte deles, e, embora tenham a tendência de apresentar
formas circulares ou elípticas, os grãos inorgânicos também podem assumir formas
menos regulares, seja por circundarem ou substituírem formas orgânicas, seja por
serem fragmentos retrabalhados de rochas carbonáticas semi-consolidadas.

Grãos carbonáticos não-esqueletais :


São aqueles que não fizeram parte do corpo de organismos, mas se formaram por
deposição química direta ou auxiliada por atividade biológica ou por processos
mecânicos de deposição, consolidação e erosão de lamas carbonáticas.
Esses grãos tem composições mineralógicas que dependem das condições globais dos
oceanos: Épocas de oceanos altos, com atmosfera rica em CO2 e mais quente, as
chamadas “condições estufa”, favoreciam a deposição de calcita, já os mares mais rasos,
com atmosfera mais pobre em CO2 e menores temperaturas globais, as “condições
refrigerador”, como as atuais, produzem preferencialmente aragonita.
Esses padrões cíclicos de “mares calcíticos” e “mares aragoníticos” se sucederam na
história da Terra, como mostra a figura 3.2.

30
Figura 3.2 – Mineralogia dos precipitados carbonáticos marinhos durante o fanerozóico.
Observe que a elevação do nível do mar, com climas quentes, corresponde a períodos de
precipitação de calcita (de alto magnésio) enquanto a aragonita (junto com calcita)
precipita-se durante os períodos frios, com nível do mar relativamente baixo (a elevação
da curva neste diagrama corresponde a redução do nível do mar).

Os grãos não esqueletais são de quatro tipos: (i) grãos acrescionados (coated grains),
(ii) pelóides, (iii) agregados e (iv) intraclastos.

Reconhecimento e gênese dos grãos não-esqueletais:

i) Grãos acrescionados:

- Oóides e pisóides: Grãos esféricos a sub-esféricos com um núcleo de composição e


natureza variáveis (geralmente grãos de quartzo ou de calcita), recoberto por uma ou
mais lamelas concêntricas de carbonato, mais ou menos regulares. São denominadas
oóides os grãos com diâmetros inferiores a 2 mm, e pisóides os maiores. Núcleos
cobertos por uma única lamela são chamados de oóides (ou pisóides) superficiais. (ver
figura 3.3).

Figura 3.3 – Principais tipos de microestruturas vistas em oóides antigos e modernos.

A maioria dos oóides modernos varia de 0,2 a 0,5 mm (200-500 µm) de diâmetro, sendo
praticamente todos compostos por aragonita. No passado, os oóides eram de calcita de

31
alto-magnésio, embora se registrem oóides bi-minerais (aragonita e calcita magnesiana)
em algumas ocorrências atuais e sub-atuais.
A microestrutura dos oóides aragoníticos modernos é caracterizada por lamelas com
orientação tangencial de cristais aciculares (agulhas), com 2 µm de diâmetro. Lamelas
com aragonita microcristalina e de cristais de aragonita com orientação aleatória
também podem estar presentes.
Os oóides sub-recentes são de calcita magnesiana, e costumam apresentar um fabric
radial.
Os oóides mais antigos são compostos por calcita de baixo magnésio, mas sua
composição original não pode ser determinada, uma vez que a calcita pode estar
substituindo calcita magnesiana ou aragonita, nesses casos, é comum que os oóides
apresentem uma preservação pobre de suas estruturas internas. Os oóides
originalmente calcíticos apresentam uma textura radial de cristais fibrosos em forma
de cunha, com os polarizadores cruzados uma cruz de extinção pode ser vista. O córtex
(as lamelas) de grandes oóides calcíticos podem apresentar uma parte central radial e
uma parte externa radial-concêntrica.

Com relação aos oóides e pisóides é importante notar:


1 – a natureza do núcleo (se são cristais siliciclásticos, cristais de calcita, micrito, grãos
esqueletais);
2 – o diâmetro;
3 – a estrutura interna (acicular radiada, acicular tangencial, maciça-micritizada,
recristalizada-esparítica).

Origem dos oóides:


Não se sabe exatamente como são precipitados os oóides e pisóides, evidências
sugerem uma importante contribuição de atividade biológica em sua formação, embora
acredite-se que processos inorgânicos possam, sob certas condições, produzir
precipitação de carbonatos diretamente sobre núcleos de cristalização.
Além do controle da composição química do mar, para a geração ou de oóides calcíticos
ou de oóides aragoníticos/magnesianos, algumas outras condições podem determinar a
maneira de formação e ocorrência desses grãos.
Os oóides formam-se tipicamente em águas agitadas: ondas, ondas de tempestade e
correntes de maré agitam o fundo de mares rasos, acumulando os oóides na forma de
estruturas típicas de ambientes de alta energia (dunas, marcas de onda, etc...). A
profundidade desses ambiente é tipicamente inferior a 5 metros, podendo atingir até 15
metros.
Em ambientes calmos também pode ocorrer a formação de oólitos. Lagunas (lagoas
costeiras) e em planícies de maré. Nesses ambientes os oóides se precipitam em
piscinas ou sob crostas cimentadas. Esses oóides geralmente apresentam forte estrutura
radial, o que faz com que se quebrem com certa facilidade, alguns são assimétricos.
Estruturas semelhantes a oóides se formam também em solos calcários, sendo
compostos por calcita fina e com pobre desenvolvimento de laminações concêntricas,
podendo ser assimétricos, geralmente associando-se com crostas laminadas.

- Oncóides: Ao contrário dos oóides e pisóides, apresentam um córtex calcário


irregular, com lâminas incompletas e parcialmente sobrepostas, sendo o núcleo nem
sempre presente. Apresentam tipicamente uma forma irregular, podendo exibir formas
biogênicas, com menos de 2 mm podem ser chamados de micro-oncóides. Quando é
possível identificar a estrutura biológica no oncóide ele pode receber nomes relacionados
com os organismos que o constituem, por exemplo, se formados por algas vermelhas
recebem o nome de rodólitos.

32
Geralmente se forma por incrustação de briozoários, corais, foraminíferos e algas.
Apresentam fabrics variados: micrítico, espongiostromado (micrítico-esponjoso), ou
porostromada (mini-tubos de micrito, comum em algas azuis).

ii) Pelóides:
São grãos circulares, elípticos ou angulares, formados por carbonato microcristalino,
sem estruturas internas. Podem atingir vários milímetros de diâmetro mas, em geral,
ficam entre 0,1 e 0,5mm.
Acredita-se que maioria dos pelóides é de origem fecal, nesse caso podem ser
denominados pelets. Gastrópodes, crustáceos e poliquetos produzem grande quantidade
de pelets. Podem ser identificados pela regularidade de sua forma e por serem ricos em
matéria orgânica. Outros autores defendem que se formam pela ação de
microorganismos sobre outros fragmentos.
São mais comuns em ambientes abrigados, como lagunas e planícies de maré.
Os pelets são muito comuns e muitos calcários micríticos, mesmo quando se apresentam
como maciços, eram na verdade formados por pelets, que se destruíram e se agregaram
no processo de diagênese.
Grãos amorfos são pelóides de forma irregular formados pela micritização microbial de
fragmentos esqueletais. A presença de restos esqueletais em pelóides (comum em
algumas rochas) pode ser o resultado desse processo.

iii) Agregados:
São várias partículas de carbonato cimentadas juntas por cimento microcristalino ou por
matéria orgânica. Em algumas configurações são conhecidos como grapestones (cachos
de uvas), formando-se em ambientes relativamente protegidos, como em áreas de infra-
maré, geralmente sob uma esteira microbial superficial. Desse modo, a forma de
partículas agregadas é muito variada e irregular, variando de 0,5 a 3,0 mm.

iv) Intraclastos:
São fragmentos retrabalhados de calcários consolidados ou parcialmente consolidados.
Muito comuns são as placas ou lascas de composição micrítica liberadas pelo
ressecamento de planícies de maré. Ressedimentação em áreas inclinadas também é
uma fonte comum de intraclastos.
O reconhecimento desses intraclastos depende essencialmente da forma, que,
geralmente é angulosa, formando brechas.

Grãos carbonáticos esqueletais :


Refletem a distribuição, no tempo e no espaço, dos organismos invertebrados que
secretam carbonatos (ver figura 3.4). Portanto, a identificação dos organismos que
produziram os fragmentos desse tipo presentes nas rochas carbonáticas é um indicador
ambiental de grande significado, visto que condições de profundidade, temperatura,
salinidade, substrato e turbulência, controlam a distribuição e o desenvolvimento desses
organismos.

A mineralogia dos esqueletos carbonáticos também variou durante o fanerozóico, da


mesma maneira que os precipitados inorgânicos, possivelmente refletindo as mudanças
induzidas pela tectônica na química da água do mar.
O reconhecimento das espécies que formam os grãos esqueletais é portanto
fundamental para o estudo de rochas carbonáticas, embora nem sempre seja uma tarefa
fácil.

33
Figura 3.4 – Diversidade, abundância e composição aproximada dos principais grupos de
organismos calcários marinhos.

Os principais taxons que contribuem com fragmentos esqueletais são:


Moluscos, com bivalves, gastrópodes e cefalópodes; foraminíferos; braquiópodes,
especialmente os articulados; cnidários, em especial o formadores de corais;
equinodermos, incluindo equinóides e crinóides; briozoários; poríferos (esponjas e
estromatoporóides); artrópodes, com ostracodes e trilobitas; e algas solitárias
(calcisferas) ou coloniais.
A identificação da origem dos grãos esqueletais depende da observação de alguns
aspectos chaves:
1) forma e tamanho, sempre lembrando que no microscópio observamos cortes;
2) microestrutura interna, que pode estar modificada ou destruída pela diagênese;
3) mineralogia, embora, na prática, todos os fragmentos de um calcário sejam calcita,
ou dolomitizados, na origem, quando se depositaram, poderiam ter sido de
aragonita, ou a calcita poderia ter sido de baixo ou alto magnésio, dependendo do
tipo de organismo envolvido em sua produção.

Moluscos
Bivalves, gastrópodes e cefalópodes ocorrem em calcários a partir do início do
Paleozóico.
Os bivalves compreendem espécies que ocorrem em uma grande variedade de
ambientes, sejam de água doce, sejam marinhos ou salobros, com estilos de vida

34
também variados: infaunal (dentro dos sedimentos), epifaunal (presos ao substrato),
vágil (rastejando), nectônico (com nado livre) e planctônicos (flutuantes), algumas
espécies formam recifes.
As conchas são em sua maioria compostas por aragonita, algumas são mistas, com
camadas de aragonita e de calcita, as valvas das ostras são formadas por calcita. São
formadas por várias camadas com microestruturas internas específicas. Um tipo comum
compreende uma camada interna nacarada, com várias camadas de tabletes de
aragonita e uma camada externa prismática de aragonita ou calcita. Quando
originalmente de aragonita, a estrutura interna das concha dos bivalves é pouco
preservada, ou totalmente perdida. A aragonita pode ser dissolvida e deixar um molde
que é preenchido por calcita (cimento), sendo essa a forma mais comum de
preservação, observamos que a maioria das conchas de bivalves é formada por esparito
grosso e em drusa. Um alternativa é a substituição lenta da aragonita pela calcita, de
modo que alguns restos das estruturas internas pode ser preservados. Os bivalves
calcíticos normalmente preservam sua estrutura interna, sendo o tipo mais comum o
foliáceo (camadas finas paralelas) e o prismático.
Em lâminas, os fragmentos de bivalves ocorrem como grãos alongados, retangulares a
curvados, tipicamente desarticulados.

Os gastrópodes são muito comuns em ambientes de águas rasas, ocorrendo em


grandes números, embora com poucas espécies, em ambientes hipersalinos e salobros.
A maioria dos gastrópodes compreende espécies bentônicas vágeis. A maioria dos
gastrópodes tem conchas de aragonita com estruturas internas semelhantes às dos
bivalves, sendo raramente preservadas, e substituídas por cimento calcítico. São
facilmente reconhecidos pela sua forma (embora dependa da orientação do corte).
Podem lembrar certos foraminíferos, mas estes últimos em geral são menores e tem
suas conchas formadas por micrito escuro.

Os cefalópodes envolvem nautilóides, amonóides e belemnites. São animais marinhos


e principalmente nectônicos, ou nectônico-planctonicos. São mais comuns em águas
relativamente profundas e ambientes pelágicos.
As carapaças dos amonóides e nautilóides são principalmente aragoníticas, sendo então
encontradas substituídas por calcita esparítica, sem estruturas internas. A forma em
geral compreende conchas grandes com septos (pequenas paredes mais finas
individualizando câmaras). Os belmnites são de calcita com forte estrutura fibrosa
radiada em cortes transversais.

Braquiópodes
São espécies comuns em calcários do Paleozóico e do Mesozóico, sendo organismos de
águas rasas e de comportamento bentônico, especialmente sessíl, com algumas espécies
infaunais. Embora semelhantes em forma aos bivalves em forma e tamanho, a maior
parte dos braquiópodes articulados são compostos por calcita de baixo Mg, de modo que
a estrutura interna costuma ser bem preservada. A estrutura mais comum é uma
camada externa muito fina de fibras de clacita orientadas perpendicularmente a concha
e uma camada interna mais espessa de fibras oblíquas. Alguns braquiópodes tem
modificações nas conchas, conhecidas como punctuadas e pseudopunctuadas, no
primeiro caso, finos tubos perpendiculares a concha perfuram a camada interna e são
preenchidos por esparito ou micrito. Os peseudopunctuados tem prismas proeminentes
dentro da concha.

Cnidários (corais)
Incluem os antozoa, construtores de corais, podendo ocorrer em grandes profundidades
e em águas frias. Os corais rugosos e tabulados, são importantes no Siluriano e npo

35
Devoniano, os corais escleraquitíneos no Triássico. Os corais do Paleozóico são
compostos por calcita, com preservação muito boa de suas estruturas, já os corais
escleraquitinídeos, do Triássico até o presente são aragoníticos, sendo normalmente mal
preservados. A identificação dos cnidários baseia-se em feições internsa, como os
septos, e outras placas internas (quando presentes).

Equinodermos
São animais marinhos que incluem os equinóides e crinóides. Em mares modernos os
equinóides vivem em recifes e ambientes associados, localmente em grandes números,
e os crinóides restringem-se a águas mais profundas.
Os esqueletos de crinóides e equinóides são calcíticos, sendo que os fragmentos de
equinodermos são facilmente reconhecidos por serem compostos por grandes cristais
individuais de calcita, que mostram extinção simultânea. Em muitos casos, um cimento
esparítico sintaxial cresce em torno dos fragmentos de equinodermos. Tem uma
aparência empoeiradam especialmente em relação ao crescimento secundário esparítico,
mostrando uma estrutura perfurada preenchida por micrito ou esparito.

Briozoas
Importantes organismos formadores de recifes no Paleozóico, podem ser compostos por
calcita ou aragonita, ou uma mistura dos dois, os fragmentos consistem em calcita
foliácea com buracos redondos (zooécios), preenchidos com esparito ou sedimento.

Foraminíferos
São protozoários predominantemente marinhos, geralmente de tamanho microscópico.
Os foraminíferos planctônicos dominam os depósitos pelágicos, como as vazas e
globigerina. Foraminíferos bentônicos são comuns em mares quentes e rasos, vivendo
dentro ou sobre os sedimentos ou encrustando o substrato duro.
São formados por calcita (alto ou baixo Mg), raramente aragonita, apresentando grande
variedade de formas, em seção a maioria é circular a sub-circular com câmaras. As
paredes das testas são escuras e microgranulares em espécies com as valvas finas e
clara e fibrosa nas espécies com paredes mais espessas.

Esponjas
As espículas de esponjas (de sílica ou de calcita) são importantes componentes de
alguns depósitos marinhos. As espículas de esponja apresentam formas circulares ou
elípticas, quando cortadas transversalmente ou quase transversalmente, com estruturas
radiadas ou em estrela circundando um orifício central.

Artrópodes
Os ostracodes são importantes, especialmente em depósitos do Terciário, vivem em
ágaus rasas, sendo pequenos (1mm), com pares de valvas lisas ou ornamentadas,
compostas por calcita com estrutura fibro-radiada, suas conchas são de tamanhos
diferentes, com uma sobrepondo-se parcialmente à outra.
Os Trilobitas são componentes menores de calcários Cambrianos a Permianos, com
formas distintas e geralmente de grandes dimensões.

36
PROCEDIMENTOS PARA CLASSIFICAÇÃO DE ROCHAS
CARBONÁTICAS
“É a textura deposicional ainda reconhecível?”

Esta é a primeira questão que se deve fazer quando se classifica uma rocha carbonática,
independentemente do esquema de classificação que está sendo usado. Aqui vamos
tomar como exemplo o esquema de Dunham (ver tabela 3.3 e figura 3.6).

PASSOS:

1. “É a textura deposicional ainda reconhecível?”


• Sim: Siga para (2)

Depois de fazer a determinação inicial da presença ou ausência de texturas deposicionais


primárias, o esquema de Dunham distingue diferentes tipos de rochas de uma maneira
semelhante àquela da classificação de sedimentos siliciclásticos, exceto que boa parte
dos grãos é de fragmentos de fósseis.

• Não: Carbonato cristalino (subdividir de acordo com o tamanho dos grãos)

2. Determine se os componentes da rocha estavam


originalmente unidos durante a deposição
• Sim: Boundstone
• Não: Vá para (3)

3. Componentes depositados como grãos discretos ou cristais


• Contém lama carbonática, < 10% de grãos: Lamito (carbonático)
• Contém lama carbonática, matriz-sustentado, > 10% de grãos: Vaquestone
• Contém lama carbonática, grão-sustentado: Packstone

• Sem lama carbonática, grão-sustentado: Grainstone

Uma classificação alternativa é a de Folk, mais simples.


Primeiramente identifica-se qual o tipo de grão predominante na constituição da rocha: esqueletais, oóides (e pisóides),
pelóides, intraclastos ou se o carbonato é formado in situ.

Esses elementos dão o prefixo para o nome da rocha: bio- para os grãos esqueletais, oo-,
para os oóides, pel- para os pelóides e intra- para os intraclastos.
O segundo elemento a ser considerado é o tipo de carbonato que ocupa o espaço entre os
grãos: se calcita esparítica ou se matriz micrítica. No primeiro caso, usa-se o sufixo –esparito
e no segundo o sulfixo –micrito (ver tabela 4 e figura 3.5). Utilize também a figura A.10 dos
anexos

Carozzi, 1989 propôs uma classificação que envolve a proporção de matriz e clastos e o
tamanho destes, tentando organizar os diferentes tipos de calcários em ordem crescente de
energia do ambiente deposicional (tabela 3.2):

37
Tabela 3.2 – Classificação prática de rochas carbonáticas (Carozzi, 1989).
CLASSIFICAÇÃO PETROGRÁFICA PRÃTICA DE ROCHAS CARBONÁTICAS
Com até 10% de componentes de tamanho areia
1. CALCILUTITO
(bio-lito)
(micrito, 0,01 a 0,03 mm)
Com até 10% de componentes de tamanho areia
2. CALCISSILTITO
(bio-lito)
(0,03 a 0,06 mm)
De 10 a 20 (30)% de componentes de tamanho areia
(0,006 a 2,5-5mm), bio-lito em:
3. CALCARENITO LAMO-SUSTENTADO
A. Matriz calcilutítica
(grãos flutuantes, bio-pel-lito)
B. Matriz calcisiltítica
C. Matriz bioclástica

Mais de 20(30)% de componentes de tamanho areia


(0,006 a 2,5-5mm), bio-pel-lito-ool em material
intersticial de:
A. Matriz calcilutítica
4. CALCARENITO GRÃO-SUSTENTADO
B. Matriz calcisiltítica
(grãos-estruturado, bio-pel-lito-ool)
C. Matriz bioclástica
D. Cimento drusa a esparito, crescimento
secundário, cristais com mais de 0,002mm
E. Soldado por pressão
De 10 a 20 (30)% de componentes de tamanho seixo
5. CALCIRRUDITO MATRIZ-SUSTENTADO (2,5-5 mm ou maiores), com material intersticial dos
(seixos flutuantes, bio-lito) tipos 1 a 4 (exceto 4D)

Mais de 30% de componentes de tamanho seixo


6. CALCIRRUDITO CLASTO-SUSTENTADO (2,5-5 mm ou maiores), com material intersticial dos
(seixo-estruturado, bio-lito) tipos 1 a 4

Acumulação por organismos sésseis não


7. CALCÁRIO BIOACUMULADO construtores de edifícios com material intersticial dos
(acumulação solta) tipos 1 a 3 (baixa energia)

Organismos construtores de exercícios com material


8. CALCÁRIO BIOCONSTRUÍDO
intersticial dos tipos 1 a 6 (todo o espectro de baixa a
(estrutura construída)
alta energia)

38
Figura 3.5 – Tipos básicos de carbonatos segundo a
classificação de Folk (1959).

39
Figura 3.6 – Classificação de maturidade textural de Folk (1962), acima, e parte da
classificação de carbonatos de Dunham (1962) abaixo, esta última corresponde a parte
observável em microscópio (lado esquerdo) da tabela 3.

40
Esquema de descrição petrográfica de rochas carbonáticas:

Para amostras de mão:


Observe a cor; tipo (ou tipos) de grão(s); granulometria; a forma dos grãos é muito importante; evidência
de fragmentação de fósseis, de sua desarticulação, abrasão, empacotamento, etc.; presença de calcita
micrítica ou esparítica, se possível; estruturas sedimentares físicas ou biogênicas; estiliólitos, etc.
Qualquer evidência de alteração diagenática, por exemplo, dolomitização, silicificação, dissolução,
compactação.

Em lâminas:
Checar as feições macroscópicas da lâmina observando-a contra a luz e notando a laminação e os
grandes fósseis ou grãos.
Tipos de grãos – bioclastos, oóides, pelóides, intraclastos/agregados, etc; tamanho, seleção, forma,
empacotamento dos grãos; mineralogia/composição dos grãos (em lâminas tingidas – calcita
ferrosa/não-ferrosa/dolomita). Identifique os bioclastos pela forma, estrutura interna e preservação.
Oóides – determine a composição original (aragonita ou calcita). Pelóides – grãos micritizados ou pelotas
fecais?
Micrito (lama carbonática): grãos principalmente com menos de 4 µm (0,04 mm) e normalmente quase
opaco e de cor marrom, mas pode ser peloidal. Algum neomorfismo agradacional?
Cimentos: geralmente mais grosso que 10 µm (0,1 mm); identifique o tipo de cimento: calcita fibrosa,
calcita laminar, crescimentos sintaxiais, calcita espática em drusas, calcita esparítica poiquilotópica;
observe a geometria: menisco, isópaca, preenchendo poros; esparitos podem ser ferrosos, não-
ferrosos ou zonados (com uso de corantes). Determine a mineralogia original (aragonita, calcita, calcita
de alto Mg); tempo de cimentação: precoce ou tardia, pré- ou pós-compactacional. Qual o agente de
cimentação – marinho, meteórico ou de soterramento?
Substituição, recristalização e neomorfismo: minerais como dolomita, sílica (chert) ou fosfatos podem
substituir grãos de calcita, micrito ou cimento. Neomorfismo de grãos, por exemplo, conchas
aragoníticas, oóides ou cimentos substituídos por calcita (calcitização) e micrito substituído por
microesparito – neomorfismo agradacional. Época de substituição em relação à compactação?
Dolomitização: romboedros espalhados ou dolomitização generalizada? Algum controle textural: grãos ou
micrito preferencialmente dolomitizado? Determine a textura da dolomita e a
forma/tamanho/zoneamento dos cristais. A dolomita é precoce ou tardia, pré- ou pós-compctação;
época em relação à diagênese da calcita. Alguma dedolomitização?
Compactação: Procure por evidências de compactação mecânica (bioclastos quebrados, envelopes
micríticos quebrados, envelopes de oólitos rompidos). Observe se ocorre a presença de compactação
química: contatos suturados entre os grãos, cimentação esparítica pré-soterramento, e estiliólitos.
Porosidade: Identifique o tipo: primária (intergranular, intragranular, cavidade, crescimento, etc.)
e secundária (fratura, dissolução, intercristalina).
Classifique: usando o esquema de Dunhan ou de Folk, depois de determinado a proporção de
grãos, cimento e micrito, e os tipos dominantes de grãos. Quando as alterações
diagenéticas foram importantes, qualifique-a no nome, por exemplo: grainstone bioclástico
parcialmente dolomitizado, oosparito silissificado, lama carbonática recristalizada.

Interpretação
Ambiente deposicional: use os tipos de grãos e a textura, por exemplo, a maioria dos grainstones
representa ambientes de inframaré rasa de energia moderada a alta; a maioria dos mudstones-
wakestones corresponde a ambientes de baixa energia, lagunal ou ambientes de plataforma
externa/rampa. Observe os bioclastos; eles podem indicar ambientes de mar aberto, restritos, águas
profundas, rasas, ambientes não-marinhos, etc.
Diagênese: Identifique processos de soterramento precoces (rasos) e tardios (profundos),
determine a época de cimentação. Defina o grau de compactação; alguma dolomitização?
Tente interpretar a química das águas dos poros (por exemplo, marinho ou água doce, a
partir da textura do cimento, e o Eh/pH da natureza ferrosa/não ferrosa da
calcita/dolomita). Deduza a sucessão de eventos diagenéticos e a evolução da porsidade.

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Descrevendo sedimentos e rochas sedimentares em lâminas – indicações gerais:

1) EXAME PRELIMINAR

Antes de colocar a lâmina no microscópio, observe-a contra a luz e anote qualquer feição que possa
ser observada. Pode ser fácil observar laminações, tamanho dos grãos, cor, seleção e outras feições.
Use uma lente de aumento se necessário.

2) COMPOSIÇÃO

Mineralogia dos grãos – Para cada mineral principal presente, faça uma lista breve de suas
propriedades de identificação (descrições completas dos minerais não são necessárias) de o nome e
a porcentagem estimada (como percentagem do total dos grãos – não da rocha). Os minerais estão
frescos ou alterados? Liste rapidamente os minerais acessórios (não perca tempo descrevendo
minerais que ocorrem como um ou dois grãos em toda a lâmina).
Para grãos carbonáticos – descreva brevemente e identifique os diferentes tipos: esqueletais
(fósseis), oóides, intraclastos, pelóides/peletes, etc. Para os fragmentos fósseis, observe as
características para identificar o grupo ao qual eles pertencem. Estime a percentagem dos diferentes
tipos de grãos. Os grãos mostram evidências de modificação: furos, envelopes micríticos?

Fragmentos de rochas – identifique suas feições e dê seu nome.

Matriz e cimento – qual o material entre os grãos? É um material sedimentar fino (matriz) ou um
material cristalino (cimento). Cite as propriedades que identificam e o nome dos minerais do cimento
ou matriz; estime a percentagem de matriz, arcabouço, cimento e poros (como porcentagem do total
da rocha). Descreva a forma dos cimento, ex. em franja, fibroso, crescimento sintaxial,
preenchimento de poros, etc.
Em calcários dê atenção especial a distinção entre matriz micrítica e calcita cristalina mais grossa: é
a calcita cristalina um cimento verndadeiro (esparito), ou é de substituição (esparito neomórfico)? Use
as lentes de maior aumento quando examinando o material mais fino.

3) TEXTURA
Várias propriedades texturais de rochas sedimentares são melhor definidas através de seus
extremos (ex.: areia fina a média; grãos subangulares a subarredondados). Se várias camadas ou
laminações estão presentes em uma lâmina, elas podem apresentar diferentes propriedades
texturais – descreva-as individualmente.

Tamanho dos grãos – extremos dos tamanhos dos grãos


Seleção
Forma dos grãos – esfericidade (são grãos equidimensionais, alongados, etc.)
Arredondamento e extremos do arredondamento

Sustentação – a rocha é grão ou matriz-sustentada? (Lembre-se que em lâminas, quando os grãos


estão próximos o suficiente, devem estar em contato quando observados em 3D).

Contato entre os grãos – Os contados são tangenciais, longos, côncavo-convexos ou suturados?

Porosidade – estime a porcentagem do espaço vazio.

Orientação – os grãos alongados tem uma orientação preferencial (ex.: paralelos a laminação,
imbricados; conchas orientadas com a convexidade para cima)?

Estruturas sedimentares – laminação, preenchimento geopetal, furos, etc.

Outras feições – ex.: veios, estiliólitos.

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4 – NOME DA ROCHA
A rocha é terrígena clástica (siliciclásticas), vulcanoclástica ou carbonática? Para as rochas
siliciclãsticas use a classificação de arenitos de Dott. Para calcários, use a classificação de Folk e de
Dunham. Use adjetivos apropriados para qualificar a rocha, ex.: quartzo-arenito fino graluconítico;
arenito carbonático (graisntone) bioesparítico crinoidal; arenito conglomerático a calcário.
(Explicações para os nomes: O quartzo-arenito fino glauconítico representa uma rocha siliciclástica
formada por mais de 90% de grãos de quartzo, com grãos de glauconita, uma argila marinha verde; o
grainstone bioesparítico crinoidal seria uma rocha carbonática de granulação areia, com os clastos
formados principalmente por grãos esqueletais de crinóides – equinodermo – em cimento esparítico.;
o arenito conglomerático com seixos de carbonatos é uma rocha siliciclástica de granulação
predominante areia, com seixos de rocha carbonática).

5 – DEPOSIÇÃO
Através da descrição da lâmina deve ser possível obter informações gerais que permitam inferir as
condições de transporte e deposição. Não tente levar as conclusões para muito longe – há um limite
razoável para as interpretações que podem ser feitas a partir de uma única lâmina! Exemplo, a
granulometria pode ser usada para estimar os níveis de energia; a mineralogia e a maturidade
textural podem indicar a distância de transporte e a importância do retrabalhamento; a presença de
um grupo fóssil em particular pode indicar a salinidade, a luminosidade, a profundidade e/ou a idade
do ambiente deposicional.

6 – DIAGÊNESE
Deve ser possível comentar as condições e a história da diagênese da rocha sedimentar estudada,
por exemplo, a natureza dos contados entre os grãos e a proporção da porosidade podem indicar o
grau de soterramento, ou se a cimentação ocorreu antes ou depois do soterramento; diferentes tipos
de cimento carbonátio podem sugerir diagênese por água marinha ou doce; solução ou corrosão de
grãos de quartzo ou carbonato podem indicar o pH durante o processo de diagênese; a natureza e a
distribuição dos argilominerias podem sugerir a destruição de minerais silicáticos instáveis; as
relações de diferentes feições diagenéticas pode permitir que se interprete a seqüência dos eventos
diagenéticos.

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Tabela 3.6 – esquema de classificação de Dunham, baseada na textura deposicional.
Textura deposicional reconhecível Textura deposicional reconhecível
Textura Componentes originais não
Componentes originais não unidos durante a deposição deposicional unidos organicamente Componentes originais organicamente
não durante a deposição unidos durante a deposição
Contém lama carbonática Componentes reconhecível
Lama suportado originais >10% de grãos > 2mm Organismos
Falta lama e
unidos Suportado Organismos Organismos constróem
Menos de Grão é grão
Mais de 10% Carbonato Matriz por atuam como encrustram e uma
10% de suportado suportado
de grãos cristalino suportado componentes bloqueios prendem estrutura
grãos
> 2 mm rígida
Mudstone Wakestone Pakstone Grainstone Boundstone Cristalino Floatstone Rudstone Bafflestone Bindstone Framestone
Vaque Rudito Rudito Rudito
Lamito Vaque Arenito Agregado Carbonato Rudito Recife
carbonática carbonático carbonático carbonático
carbonático carbonática carbonático carbonático cristalino carbonático carbonático
granular disperso de retenção aglutinado
Calcilutitos
Calcarenitos Calcirruditos – conglomerados e brechas
– pelitos
* Os nomes em português (em itálico) são traduções aproximadas tentativas, não sendo reconhecidas com o nome oficial das
rochas, portanto, use-os sempre acompanhados dos nomes em inglês.

Tabela 3.7 – Classificação de rochas carbonáticas proposta por Folk, baseada na sua
composição
Principais grãos no Tipos de calcários
calcário Cimentado por esparito Com matriz micrítica
Esqueletais (bioclastos) Bioesparito Biomicrito
Oóides Ooesparito Oomicrito
Pelóides Pelesparito Pelmicrito
Intraclastos Intaesparito Intramicrito
Calcário formado in situ Biolitito Calcário fenestral ou dismicrítico

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