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Nos anos 50, um etologista americano chamado John Calhoun criou uma sério de
experimentos para testar os efeitos da superpopulação no comportamento de animais sociais. Os
animais que Calhoun escolheu para estes experimentos foram camundongos (e mais tarde, ratos).
Ele escolheu roedores pois estes se reproduzem rapidamente, assim permitindo a ele observar o
desenvolvimento de várias gerações de ratos em um espaço de tempo relativamente curto.
O Experimento
Sua equipe criou um ambiente confortável, ideal aos camundongos. Isso foi conseguido
pela montagem de uma gaiola com comida e água ilimitada. A sala tinha espaço para até três mil
ratos. Ela foi fechada, para que nem os camundongos pudessem sair ou predadores pudessem
entrar. Removendo o risco da predação, os camundongos poderiam crescer em um ambiente livre
de stress externo. O ambiente foi então dividido em diferentes unidades, o que permitiu a Calhoun
identificar como os diferentes grupos sociais se formariam.
Quatro casais de camundongos tiveram a saúde investigada. Após verificar que eles
estavam saudáveis, foram introduzidos na gaiola.
A terceira fase foi chamada de “Fase do Equilíbrio”. Durante essa fase, a população de
camundongos atingiu o auge de 2200 indivíduos, apesar de haver espaço para 3000. Durante a
terceira fase Calhoun observou o colapso da civilização de ratos. Ele notou que as novas gerações
foram inibidas, já que a maior parte do espaço já havia sido socialmente definido.
Os camundongos mostraram diferentes
tipos de disfunções sociais. Alguns se tornaram
violentos. Os machos lutaram uns com os outros
por aceitação, aqueles derrotados desistiam.
Alguns machos se tornaram alvos repetitivos de
ataques.
[..]
“A fonte comum dessas perturbações se tornou mais dramaticamente aparente nas populações da nossa
primeira série de três experimentos, nas quais observamos o desenvolvimento do que chamamos de ralo
comportamental. Os animais se amontoariam em maior quantidade em uma das quatro gaiolas
interconectadas nas quais a colônia era mantida. Cerca de 60 dos 80 ratos em cada população
experimental se assentaria em uma das gaiolas durante os períodos de alimentação. Camundongos
solitários raramente comiam sem a companhia de outros camundongos. Como resultado, densidades
populacionais extremas se desenvolveram na gaiola adotada para comer, deixando as outras com
populações esparsas.”
[…]
“...Nos experimentos nos quais o ralo comportamental se desenvolveu, a mortalidade infantil chegou até
96% entre os grupos mais desorientados na população.” – John Calhoun
“...o limite que Calhoun impôs na sua população era o espaço – e conforme a população crescia, isso se
tornava progressivamente problemático. Enquanto as gaiolas ganhavam peso com os animais, um de seus
assistentes descreveu como a utopia dos roedores havia se tornado o inferno.”
A quarta fase era o declínio. Nessa fase a população despencou. O último rato morreu
600 dias após o experimento começar.
“Quanto os humanos chegaram lá pela primeira vez, por volta de 900 d.C., ela [a Ilha de Páscoa] era
densamente florestada, e era capaz de sustentar numerosas tribos e uma população relativamente alta.”
As condições dos ilhéus eram similares às dos roedores de Calhoun. Numa ilha isolada,
com um ambiente verdejante, um grupo de colonos humanos chegaram em barcos na Ilha de
Páscoa. Os colonizadores podiam prosperar com recursos quase infinitos sem predadores naturais
ou fatores externos de dificuldade.
Com o tempo, a ilha se tornou superpopulada. Quintos explica o que houve aos ilhéus:
“Os ilhéus então começaram a competir entre si cada vez mais por um volume sempre declinante de
recursos naturais; Vinganças se multiplicaram, guerras intertribos se multiplicavam e uma mortalha de
hostilidade e medo caiu sobre a ilha. Como as árvores haviam sumido, os ilhéus se tornaram incapazes de
construir barcos e fugir para outras ilhas. Eles ficaram presos no próprio inferno, condenados a lutar uns
contra os outros pelas últimas migalhas que a terra estéril poderia oferecer. Finalmente, eles começaram
a passar fome, e se alimentar—literalmente—uns dos outros. Já que as carnes selvagens se tornaram
indisponíveis, e a escapada da ilha se tornou impossível, as consequências naturais se seguiram.
Canibalismo assolou a ilha, animando seu folclore e infectando seus sítios arqueológicos. Talvez os ilhéus
compensassem seu sofrimento focando mais e mais no ritual vazio de construir e levantar estátuas, já que
seus meios de amparo haviam derretido.”
Há limites naturais dos graus de interação social com que podemos lidar numa base diária,
assim como com os ratos. Entre humanos, isso é referido como o “Número de Dunbar”, e foi
observado ser verdade em sites de mídia social. Enquanto pode se argumentar que isso não
aconteceria com humanos, já que temos enormes porções de terra não populada, deve ser notado
que na população de pico apenas metade do espaço da colônia estava sendo usado. Os
camundongos tinham uma tendência de congregar e superpopular certos setores de espaço, algo
comparável às cidades modernas.
É difícil comparar a utopia de ratos com o mundo humano porque, por motivos óbvios,
não há versão humana do experimento. Experiências são feitas sob condições controladas para
mitigar fontes de erro. Porém nós podemos comparar tendências adversas modernas na sociedade
com o ralo comportamental observado no experimento da utopia de roedores. Abaixo, alguns
exemplos de ralos comportamentais em humanos comparados com aqueles da utopia de ratos.
Condensação da População
Caso estudado: Alemanha (também aplicável a: Espanha, Japão)
O primeiro sinal de problema nas gaiolas era a aglomeração observada em algumas das
unidades.
Se vermos a taxa de fertilidade da Coreia do Sul por mulher, que é de 1.24, podemos
prever que essa nação de 50 milhões de habitantes atingirá o pico por volta de 2017. De lá a
população é esperada para se reduzir a 42 milhões por volta de 2050.
Se olharmos ao Japão, veremos que o Japão agora enfrenta uma população declinante. O
despovoamento é estimado para fazer a população se reduzir a 87 milhões em 2050, dos atuais
127 milhões. Em termos econômicos isso seria catastrófico, já que o Japão possui um estado de
bem-estar social como o do Reino Unido e depende de ter uma base fiscal maior que a base de
aposentado. O problema está tão fora de mão lá que o governo japonês está até considerando
imigração (um grande tabu por lá).
A agressão é um aspecto óbvio em tanto a utopia de ratos quanto o caso da Ilha de Páscoa.
É também facilmente comparável com a nossa sociedade contemporânea. Enquanto a violência
sempre existiu entre nossa espécie, isso sempre foi atribuído a uma variedade de fatores como a
pobreza ou guerras entre as tribos (agressão causada pela falta de recursos) e não como um
resultado da condensação populacional (agressão apesar de recursos abundantes).
“...haviam três vezes mais camundongos jovens aspirando a entrar em grupos sociais do
que haviam vagas em grupos socialmente estabelecidos...”
A agressão é a causa do colapso social. Qual foi a causa da agressão? Como observado,
a falta de espaço, tanto fisicamente quanto socialmente, o que causa uma série de eventos que
levaram ao resultado de extinção.
Na Return of Kings, nós damos uma grande importância aos papeis de gênero. Ver esse
assunto da perspectiva de outra espécie pode nos dar uma visão melhor do tópico. Nós
observamos que o despovoamento é um efeito, então qual é a causa? Talvez há mais do que apenas
uma causa. O ralo comportamental observado na utopia de ratos mostrou diversos
comportamentos sociais anormais.
Entre os camundongos macho, o espaço limitado e a explosão populacional fez com que
os machos lutassem mais para serem aceitados. Já que nem todos os camundongos podem ser
machos alfa, os perdedores se tornavam reclusos. Com machos em excesso lutando por
dominação, machos mais velhos desistiam, deixando as fêmeas para cuidar da família. Estas, por
sua vez, se tornariam cada vez mais agressivas, e algumas até atacaram as próprias crias.
Calhoun notou que conforme o tempo progredia “...as mães ficavam aquém de
expectativas maternais”. Em anos recentes houve um aumento crescente de casos de negligência
e abuso infantil por mães humanas que conseguiram chegar às manchetes nacionais. Não é difícil
especular que há muito mais que não ouvimos falar. Na Austrália, a polícia liberou estatísticas
que atribuem metade dos infanticídios às suas mães.
Já que esses são os casos mais notórios que a mídia publica, os menos extremos passam
desapercebidos, sub-informado ou nem informado na mídia (nas últimas décadas houve uma série
de matérias na mídia, que quando examinadas como um todo nos contam que as mulheres estão
começando a perder seus instintos naturais de criação). Nós sabemos que as mulheres em nações
desenvolvidas suprimem seus instintos maternais, ou intrinsecamente ou extrinsecamente.
Também está se tornando mais comum para as mulheres buscar uma vida movida a sexo, algo
também observado na utopia de ratos.
“...prematuramente rejeitados, primeiro por seus pais, então por suas mães, e finalmente por grupos
estabelecidos na sociedade, os jovens cresceram sem saber como se comportar, pessoalmente ou
socialmente, como camundongos...” – Tragedy in Mouse Utopia, Dir.J.R. Valentine.
Papéis de gênero são vitais em uma espécie social, seu colapso leva à fertilidade abaixo da
reposição, despovoamento, e finalmente, extinção.
Isolamento
Caso estudado: Japão
“Indivíduos apenas emergiriam para comer e dormir quando o resto estivesse dormindo.”
Quando li isso, a primeira coisa que veio à minha mente foram os Hikkikomori. É um termo
utilizado para se referir a um adolescente recluso que é introvertido demais para ser funcional na
sociedade. Esses jovens são tão socialmente ineptos que eles se trancam em ambientes fechados
e só se aventuram fora de casa {a noite para estocar mantimentos. Este é um fenômeno que
ocorreu por 20 anos mas apenas recentemente está vindo à luz no Japão.
Porém essa tendência não é exclusiva ao Japão. O Japão é, porém, uma aproximação à
utopia de ratos assim como a Ilha de Páscoa. Sob stress, esses rapazes (e homens) foram
debilitados por uma sociedade estressada e disfuncional. A reclusão é uma causa do
despovoamento e um efeito de uma sociedade supra-estressada que em sua vez é causada pelo
ralo comportamental.
Os Bonitões
Caso estudado: Japão
Tem outro mal social no Japão que é comparável aos camundongos de Calhoun. Esses
são os comedores de grama (Soshoku kei Danshi) do Japão. O termo, “comedor de grama”, se
refere aos homens que não possuem interesse em se relacionar com o sexo oposto. A mídia e os
MRA’s confundiram esses caras com qualquer pré-concepções que eles tiveram. Por exemplo, o
documentário da BBC “No Sex please, we are Japanese”, explora o fenômeno com parcialidade
e jornalismo de má-qualidade. Para assegurar que não cairemos nos mesmos preconceitos,
permita-me reiterar que comedores de grama são homens que não têm interesse em
relacionamentos com o sexo oposto. Eles não são homossexuais, assexuais, otaku ou
Hikkikomori.
A diferença entre comedores de grama e Hikikomori é que os Soshoku kei Danshi estão
desistindo de relacionamentos e os hikkikomori estão desistindo de toda a sociedade. Comedores
de grama não são assexuais, eles preferem a vasta gama de pornografia disponível a eles. Muitos
comedores de grama, apesar de nem todos, são metrossexuais. Esses são caras que gastam muito
tempo e dinheiro em cuidados pessoais. Mais uma vez, isso não é aplicável a todos os comedores
de grama.
Alguns deles lembram os “bonitões”, passando seu tempo “[obsessivamente] se
arrumando, comendo e dormindo...[e]...não se reproduzindo”. A correlação aparenta ser que
indivíduos não se conformam com um modelo de sociedade estressado e estão optando não
relacionar e não assumir um papel de gênero masculino. Os comedores de grama se tornaram tão
numerosos que isso forçou algumas garotas japonesas a iniciar o cortejo. Esse fenômeno é mais
pronunciado no Japão, mas também é aplicável em outras nações desenvolvidas.
Conclusão
O experimento da utopia de ratos nos apresenta uma visão decidida de nosso presente e
nosso futuro. Conforme o tempo progride nós veremos mais evidências que estamos caminhando
para um declínio na população cuja causa principal é a decadência social.