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Série Manuais — PROVA 3 — 25/3/2009 — Maluhy&Co. — página 102 — #112

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4 Interpretação
de textos

orações até que apresentam uma cons-


Conceito trução sintática (sujeito, verbo e com-
plementos) possível. O sujeito concorda
O que é um texto? Texto não é um com os verbos, os nomes (substantivos,
amontoado desorganizado de palavras. O adjetivos, advérbios etc.) concordam em
fato de se escreverem palavras existentes número (singular/plural) e gênero (mas-
na língua, em uma sequência, não significa culina/feminino), ou seja, as palavras têm
que se construiu um texto. muitas condições gramaticais para serem
Veja: consideradas um texto, mas não formam
um texto.
Por que as palavras acima não podem
“O Brasil tem muitos problemas sociais, ser consideradas um texto? Porque são
econômicos e culturais. O presidente um amontoado de palavras que não for-
FHC viajou para a Europa porque o meu mam uma “unidade de sentido” e não
vizinho matou o meu cachorro. Mas preenchem “uma função comunicativa
grande parte da pobreza nacional é reconhecível e reconhecida” pelo leitor (A
consequência da violência social, porque Coerência Textual, de Ingedore G. Villaça
a vida sexual das pessoas deve ser Koch e Luiz Carlos Travaglia, 6. ed. São
responsável e a Aids é um problema Paulo: Ed. Contexto,1995, p. 31-32, co-
mundial e ninguém entendeu os motivos leção Repensando a Língua Portuguesa). É
da viagem do presidente. Use preservativo um texto incoerente, sem conexão lógica
sempre, presidente, por que foi viajar?” entre as ideias. Não há relação de sentido
entre elas: “o presidente FHC viajou”
Observe que as palavras utilizadas no e “meu vizinho matou meu cachorro”,
texto acima existem em Português, as por exemplo. Além disso, essas ideias

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A INTENÇÃO TEXTUAL · 103

estão malconectadas: a palavra “porque” um jornal ou revista semanal, por exem-


estabelece uma relação de causa, mas a plo, geralmente o objetivo é informativo,
morte do meu cachorro jamais pode ser tem intenção mais racional, propondo um
aceita pelo leitor como causa da viagem do debate de ideias, podendo tratar de fatos
presidente: não há uma adequada coesão econômicos, sociais, políticos, artísticos,
ou ligação entre as ideias. religiosos, científicos. Já, se a fonte do
Para que haja texto é necessário que texto indicar um livro de ficção – romance,
haja COESÃO (conexão no plano gramati- conto, novela, poesia –, a intenção do
cal, elementos coesivos como conjunções, autor deve ser artística, emotiva, não
pronomes) e COERÊNCIA (relação lógica racional. Expressará “valores humanos”,
entre as ideias) textual. interiores; conflitos presentes nas relações
(Sugerimos que você, com ajuda de seu humanas: amor, ódio, compaixão, sofri-
professor, descubra em outras partes do mento, felicidade, tristeza.
texto a falta de coerência e coesão textual O nome do autor (se você tiver alguma
no “texto” acima.) informação sobre ele) é importante para
Assim, para que você faça uma leitura identificar o tipo de texto que irá ler. Se
(e/ou escreva um bom texto) adequada, é o texto foi escrito por Machado de Assis
necessário que conheça essas funções dos ou Manuel Bandeira, você deve esperar
elementos linguísticos responsáveis pela um texto literário, geralmente. Se o autor
coesão e perceba as relações lógicas ou a for um cronista esportivo famoso ou um
coerência textual. cientista ou um jornalista, você já criará
outras expectativas em relação ao texto
que irá ler. Além da procedência e do
A intenção textual autor do texto, o título pode revelar o
tema e o enfoque dados pelo autor. Um
bom título pode ser considerado o menor
Um segundo fator importante para que resumo possível de um texto. Por exemplo,
você possa ser considerado um bom leitor “Soneto da Separação”, do poeta Vinicius
é a compreensão da intenção textual. O de Moraes. Se você levantar a hipótese de
escritor sempre escreve com uma intenção, que o texto é em versos, terá a intenção
seja para informar, convencer, emocionar, de emocionar o leitor e terá como tema a
esclarecer o seu próprio texto, seja para separação social ou amorosa entre pessoas,
criar efeitos artísticos por meio da seleção você acertou.
e combinação das palavras considerando Esse contato preliminar com um texto,
sua sonoridade ou múltiplas relações de seja um livro de muitas páginas ou uma
sentidos para impressionar o leitor (textos pequena carta, é importante. Se for um
literários). livro, folheie-o, veja o número de páginas,
Há alguns elementos materiais que o tipo de papel, analise o título geral e
dão pistas sobre a intenção textual, e os títulos dos capítulo no índice. Veja se
você poderá criar expectativas e formular conhece o autor; a Editora, se publica
hipóteses, antes mesmo de iniciar a leitura, apenas livros técnicos, teóricos, didáticos
que serão confirmadas ou não no seu ou de ficção. Leia os comentários na
decorrer. contracapa, nas “orelhas” do livro, o início
Você deve verificar a fonte bibliográfica de alguns capítulos; se for um pequeno
do texto. Se a procedência for um artigo de texto, analise o seu número de linhas,

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104 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

leia pequenos trechos iniciais. Enfim, esse às expressões “casa de cabeça para baixo”
contato “material” inicial vai preparar seu = “casa plantando bananeira” e “cara
“espírito”, gerar expectativas em relação amarrada” = “rosto enrolado e preso com
ao conteúdo, ao vocabulário, à forma de uma corda” é o significado “ao pé da letra”,
construção do texto e formará um fio o significado denotativo. Já a interpretação
condutor para a sua leitura. dessas expressões como “casa bagunçada”
e “pessoa séria, carrancuda” é o sentido
simbólico ou significado conotativo.
O sentido lógico e o Se você interpretar as palavras de todos
os textos que vier a ler “ao pé da letra”,
sentido simbólico das em seus significados denotativos, poderá
palavras gerar muitas confusões. Após o contato
inicial com o texto, analisando seus dados
bibliográficos e uma primeira leitura, você
A tendência da criança é possuir uma terá de responder à pergunta: trata-se
forma de pensamento mais concreta, de um texto literário ou de um texto
tendo o raciocínio abstrato pouco de- não-literário? Ou seja, a intenção do autor
senvolvido. As palavras, geralmente, são foi construir um texto artístico (em prosa
compreendidas em seu significado origi- ou em verso) ou um texto informativo,
nal, concreto. Por exemplo, se ela ouve racional, propondo debate de ideias, como
frases como: um artigo de jornal ou revista?
1a “Você deixou a casa de cabeça para Se você estiver diante de um texto lite-
baixo.” rário, terá sido construído em linguagem
ou conotativa, simbólica ou metafórica (de
2a “Por que você está com a cara metáfora), que você terá de interpretar. Se
amarrada?” for um texto não-literário, seu trabalho de
A criança poderá interpretar a primeira compreensão será mais racional, no plano
frase imaginando uma casa com as mãos das ideias, não das emoções. Por isso é
no chão, “plantando bananeira”, como se importante você estabelecer hipóteses, ser
fosse uma pessoa. Ao ouvir a segunda ora- um leitor ativo (conforme explicaremos
ção, imaginará uma corda ou um fio dando no próximo item), relacionar ideias e até
voltas na cabeça, amarrando no rosto. mesmo usar sua imaginação e sensibi-
Talvez ela não entenda a expressão “casa lidade, de acordo com a modalidade de
de cabeça para baixo” como sinônimo de texto: literário ou não-literário.
“casa bagunçada ou em total desordem” e
nem a expressão “cara amarrada” como
“fisionomia sisuda, brava ou contrariada,
sem alegria”. O sentido original, “ao
Graus de compreensão
pé da letra” das palavras é chamado de dos textos
significado denotativo ou denotação. Ao
significado simbólico ou figurado, que
varia conforme o contexto ou situação em Todos os textos nascem “do mundo”, em
que a palavra é empregada, damos o nome determinados contextos socioculturais,
de significado conotativo ou conotação. cujos conhecimentos são pré-requisitos
Assim, o significado que a criança atribui para que você faça uma boa interpretação

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GRAUS DE COMPREENSÃO DOS TEXTOS · 105

de qualquer texto escrito. O grau de existência. Mesmo sem sermos um


compreensão dos textos varia com: menor abandonado nas ruas pela soci-
edade, podemos tomar consciência do
a A faixa etária. Não se espera de uma problema lendo sobre ele.
criança de dez anos a compreensão de
Você não pode ser um leitor passivo,
textos a respeito de legislação tributária.
deve construir sua leitura juntamente
Há um processo de amadurecimento
com o escritor, por meio de seu “conhe-
físico, intelectual e linguístico natural
cimento do mundo”. O mestre Paulo
pelo qual a criança passa, se estiver
Freire, um dos maiores educadores
em um ambiente social adequado.
brasileiros, afirmou que a “leitura do
Uma pessoa de trinta anos deveria
mundo” precede, ou deve vir antes, da
ter um grau de compreensão mais
leitura do texto escrito. Até pessoas
amadurecido do que uma criança de
não escolarizadas sabem ler os fatos do
dez anos, pois sua experiência como
mundo e interpretá-los. Quando você
leitor teoricamente deve ser maior. (É
não consegue ler um texto escrito, vo-
bom observar que a desnutrição ou
cê não deve sentir-se inferiorizado,
subnutrição pela qual passa um nú-
pois pode ser que você ainda não
mero vergonhoso de crianças traz-lhes
leu o fato do mundo sobre o qual o
consequências irreparáveis ao desen-
texto escrito trata, ou seja, você não
volvimento físico e intelectual; a falta
partilha (não viveu) o conhecimento
de condições de acesso à escola e/ou
que o escritor deseja transmitir. Leia o
o estado precário em que se encontra
conceito presente no livro A Coerência
a Educação no país, além de outros
Textual (de Ingedore G. Villaça Koch e
fatores, apesar de parecerem alheios ao
Luiz Carlos Travaglia, 6. ed. São Paulo:
processo do amadurecimento da leitura
Ed. Contexto, 1995, p. 31-32, coleção
da criança, são de vital importância,
Repensando a Língua Portuguesa):
mas infelizmente o seu professor não
terá condições de resolvê-los.) “... coerência é algo que se estabelece
na interlocução, na interação entre
b Conhecimento do mundo. Todos os dois usuários (da Língua) numa dada
textos nascem “do mundo”, em de- situação. Possivelmente em função
terminados contextos socio-culturais. disso, Charolles — 1979:81 afirmou
Quem nunca trabalhou nem estudou que a coerência (lógica textual) seria
não conhece os problemas vividos a qualidade que têm os textos pela
pelo estudante do período noturno. qual os falantes reconhecem como bem
Quem não se casou, ou não teve formados, dentro do mundo possível
nenhum relacionamento amoroso, não ...” Diz ainda que a boa formação de
entende exatamente as consequências um texto ocorre quando os falantes
de uma separação, ainda que possamos têm a possibilidade de “recuperarem o
ter o domínio teórico sobre qualquer sentido de um texto”... “Recoloca-se,
assunto pela leitura. Ninguém poderá assim, a coerência como princípio
ou mesmo deverá vivenciar todas as de interpretabilidade, dependendo da
experiências do mundo. A leitura (e capacidade dos usuários de recuperar
o convívio social) é uma das formas o sentido do texto pelo qual interagem
de preencher essas lacunas em nossa (ou dialogam), capacidade essa que

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106 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

pode ter limites variáveis para o mesmo desenvolvemos nosso potencial e me-
usuário dependendo da situação ou lhoramos nosso desempenho como
para usuários diversos (diferentes), leitor. Leitura é prática. Só dessa forma
dependendo de vários fatores (como desenvolvemos o nosso conhecimento
grau de conhecimento do assunto, grau léxico, ou seja, ampliamos nosso voca-
de conhecimento de um usuário sobre bulário de palavras conhecidas. Uma
outro, grau de integração dos usuários parte desse vocabulário é ativa, usamos
entre si e/ou no assunto etc.)”. efetivamente em nossa vida diária;
a outra parte é passiva ou virtual,
Exemplificando: se determinado autor
ou seja, sabemos o significado das
escrever sobre a Teoria da Relatividade e
palavras quando as lemos, mas não as
você não tiver nenhum conhecimento
utilizamos em nosso dia-a-dia. Além do
dos princípios da Física, você não
léxico, desenvolvemos também outros
entenderá nada, pois o conhecimento
domínios linguísticos, como diferentes
não é partilhado entre o autor e você;
formas de construção sintática, isto
se você adquiriu conceitos básicos,
é, formas de combinar palavras ou de
entenderá um pouco; se você estu-
construção de frases. Por isso também
dou a teoria de Albert Einsten, você
podemos afirmar que há péssimos
entenderá facilmente o texto. A sua
leitores universitários.
compreensão seria parcial ou nula até
mesmo de textos que tratam de costu- Convém notar que não há textos
mes ou hábitos culturais (como rituais isolados, existe a intertextualidade:
religiosos, cerimônias de casamento, um texto determinado dialoga com
o encontro com os amigos para um outros textos que já foram escritos
“pagode”, certas regras de etiqueta à sobre um mesmo tema, de forma
mesa, procedimentos burocráticos de direta, pela citação; ou indireta, pela
um processo judicial, crônicas esporti- semelhança ou retomada do mesmo
vas), se você não estiver familiarizado tema. Dificilmente há um texto inteira-
com esses assuntos. mente original, sobre um assunto que
ninguém ainda tenha escrito. A origi-
c O grau de instrução formal ou a da nalidade consiste no enfoque (ponto de
formação escolar. Geralmente é na vista ou abordagem dada ao tema). Um
escola que se adquire o conhecimento texto é um acúmulo de outros textos.
orientado e organizado dos livros. Es- Daí também a importância da prática
pera-se um maior preparo intelectual da leitura.
de um jovem universitário do que de
um jovem que parou seus estudos na
5a série do Ensino Fundamental, ainda
que existam pessoas autodidatas, ou
seja, que, por meio de esforço próprio,
Figuras de linguagem
de intensa leitura, apresentam um
grande domínio de muitas áreas do Estabelecemos dois tipos básicos de tex-
conhecimento humano. tos: o literário e o não-literário. O
conhecimento dos conceitos das princi-
d O hábito da leitura. Quanto mais pais figuras de linguagem é um impor-
lemos, mais experiência adquirimos, tante instrumento auxiliar para a análise

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 107

dos textos literários, especialmente. A comparação sem a locução comparativa”.


linguagem figurada ou simbólica surge Assim, usamos palavras que apresentam
da necessidade que temos de dar maior uma proximidade simbólica de sentidos.
expressividade (ou vigor ou beleza das O conceito de metáfora é a base do sur-
palavras) ao texto, que, geralmente, apre- gimento das outras figuras de linguagem.
senta intenções literárias ou artísticas. Exemplos, a metáfora:
Assim como no cinema, por exemplo, o
texto literário quer sensibilizar o leitor e “Joana é a estrela da novela.”
para isso precisa criar “efeitos especiais” Nesta metáfora transferimos os senti-
com as palavras para que possam sugerir dos possíveis da palavra estrela, simbolica-
imagens ou focos diferenciados da lingua- mente, para a atriz. A estrela, no sentido
gem comum do cotidiano. denotativo, literal, é um corpo celeste, que
As figuras de linguagem, portanto, brilha, se destaca dos demais astros à noite,
surgem do trabalho artístico da forma está acima, no alto. A atriz também brilha,
de escolha e combinação das palavras na destaca-se mais que os outros artistas, está
frase, de modo a provocar a possibilidade acima deles, executa “brilhantemente” seu
de associações de ideias pela aproxi- papel.
mação de sentidos múltiplos, conota- Em outra situação, a metáfora com
tivos (opostos e/ou semelhantes), e a palavra estrela poderia ter um sentido
de sonoridade (especialmente na po- negativo:
esia) das palavras. Com as figuras de
linguagem não se busca uma expressão “Deixa de ser estrela, menino. É
racional, lógica e única do pensamento. melhor pendurar uma melancia no
Pelo contrário, tornam o texto subjetivo, pescoço.”
aberto a inúmeras interpretações dos
leitores, de acordo com suas experiências Neste caso, estrela é aquele presunçoso
e visão de mundo. Por isso não se pode que deseja aparecer, estar por cima, mas
fazer uma leitura denotativa do texto não tem o reconhecimento dos outros.
literário; ao contrário, deve ser simbólica, Outros exemplos:
conotativa: a palavra figurada deve variar
1. “Minha vida é um palco iluminado.”
de significado conforme o contexto, nem
sempre pode ser tomada “ao pé da letra”, (vida de artista, cheia de brilho, admi-
como já comentamos anteriormente. rada por todos etc.)
A seguir apresentaremos, sintetica-
2. “Eu sou a mosca que pousou na
mente, as principais figuras de linguagem.
sua sopa.”
(incomoda, dá nojo. O eu lírico é
1. Metáfora essa mosca para o leitor) (Veja o
(do grego meta = mudança + fora = trans- poema “Nova poética”, de Manuel
porte). É a transferência ou transporte Bandeira, na página 127).
do significado total e possível de uma
palavra para outra palavra. Aristóteles, 3. “A noite é uma criança.”
filósofo grego, assim define essa figura: (despreocupada, “irresponsável”, é
“consiste em transportar para uma coisa nova, está no começo da vida, que se
o nome da outra” sendo “uma espécie de espera seja longa)

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108 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

4. “Estas altas árvores 3. Metonímia


são umas harpas verdes
com cordas de chuva (do grego significa além do nome, mudança
que tange o vento.” de nome). Baseia-se na relação de proxi-
midade ou vizinhança de sentidos que se
(os galhos compridos da árvore transferem.
lembram cordas de uma harpa Há muitas relações metonímicas,
verde tocadas pela chuva) como:

a. parte pelo todo


Observe que os elementos da metáfora
são ligados pelo verbo ser, geralmente, As velas aproximam-se. (barcos)
ainda que seja possível metáforas sem o
verbo: “No meio da mata virgem nasceu b. matéria pelo produto
Macunaíma”. (A mata é virgem.)
Os bronzes badalam no alto da igreja.
(sinos)
2. Comparação
c. autor pela obra
É uma espécie de metáfora que estabelece
uma associação mais limitada de sen- Já li Machado de Assis e Drum-
tidos. As palavras são aproximadas por mond. (as obras desses autores)
termos de comparação: como, parece, tal
d. causa pelo efeito (ou vice-versa)
qual, etc.
Vivo do suor de meu rosto. (tra-
“Você é burra como uma porta.” balho)

A associação de ideias limita-se apenas Respeite meus cabelos brancos.


no sentido da inteligência: você e a porta (idade avançada)
não são inteligentes.
e. recipiente pelo conteúdo
Agora se falasse “Você é uma porta”.
O leitor poderia fazer muitas outras Tomei um copo de água.
transferências de traços semânticos, ou
sentidos. Além de não inteligente, a porta f. produto pela sua origem
é parada, sem iniciativa, insensível, surda, Comprei um Porto muito bom. (ci-
assexuada etc. Então é isto: metáfora per- dade de Portugal, famosa por seus
mite a transferência ilimitada de sentido, excelentes vinhos.)
e comparação é uma metáfora limitada.
Entendeu? g. produto pela marca
Outros exemplos:
Vou tomar uma Antarctica (cerveja,
refrigerante)
“Tal qual o sol que deseja a vinda do
dia, eu desejo sua presença.”
h. do concreto para o abstrato
“Eu e você parecemos o sol e a lua: não Nossa juventude não tem perspecti-
podemos viver um perto do outro.” vas de futuro. (jovens)

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 109

Outros: “Onde estão todos?


O estádio vibrou com o belo gol de Estão todos dormindo (mortos)
letra. (torcedor pelo local) Estão todos deitados
Dormindo.”

Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - (Manuel Bandeira)

“Foi desta vida para outra melhor


Antonomásia é um tipo de metonímia:
substitui o nome da pessoa por uma (morreu).”
qualidade ou realização que apresenta.
“Caro deputado, o senhor está faltando
Exemplos: com a verdade (mentindo). Cometeu
apropriação indevida de bens
O rei do rock morreu triste.
(roubou).”
(Elvis Presley)

O pai da aviação é brasileiro?


(Santos Dumont) 6. Prosopopeia ou
A cidade maravilhosa está violenta. Personificação
(Rio de Janeiro)
É a atribuição de características humanas
a seres irracionais ou de seres animados a
seres inanimados.
4. Ironia
Ocorre quando se tem intenção de falar “As ruas desertas estão tristes.”
o contrário do que se está dizendo, para (Mário Quintana)
criticar, satirizar ou ridicularizar a pessoa.
Exemplos: “Dona Cômoda tem três gavetas. E
um ar confortável de senhora rica.”
“Querida, como você está em forma!
Aposto que não pesa nem duzentos
quilos.” 7. Hipérbole
“Moça linda, bem tratada Expressão que exagera os fatos a fim de
Três séculos de família impressionar o leitor.
Burra como uma porta: Exemplos:
Um amor!”
“Riu tanto que rasgou a boca.”
“Coitadinho do assassino! Foi
condenado?”
“Já falei mil vezes para você confiar em
mim.”
5. Eufemismo “Rios de pranto e de sangue
que pareceram tão grandes.”
É a tentativa de tornar mais suaves ou
delicadas expressões desagradáveis ou que (Cecília Meireles)

causam má impressão.

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110 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

8. Antítese “Sabe o que a cadeira falou para a


mesa? Feche as pernas que estou
É o uso de palavras de sentidos opostos vendo tudo.”
(antônimos) para expressar contradição.
Exemplos:
11. Aliteração
“Não sou alegre nem triste É a repetição abundante de consoantes
sou poeta.” dentro da frase, com intenção de sugerir
“Morte e Vida Severina.” certos sons ou ruídos, criar um certo clima,
agitação, tranquilidade, por exemplo.
“Uns buscam o bem; outros o mal.” Exemplo:

“Vozes veladas, veludosas vozes


9. Gradação volúpias de violões, vozes veladas.”
(Cruz e Sousa)
É a colocação de ideias na ordem cres-
cente (chamada de clímax) ou na or- O som da consoante vibrante V sugere
dem decrescente (chamada de anticlí- o dedilhado melancólico do violão ao
max). longe.
Exemplos:
12. Assonância
“Na manifestação popular
começaram a chegar dez, cem, mil, É a repetição de vogais.
dez mil pessoas parando o trânsito.” Exemplo:
(clímax)
“Ó Formas alvas, brancas, Formas
“Começou a ficar pobre, perdeu claras.”
milhões de dólares na Bolsa de Valores; (Cruz e Sousa)
cem mil reais na Jockey; a poupança
A repetição da vogal aberta A sugere luz,
de 30 mil do filho; as joias da mulher;
luminosidade.
a primeira casa humilde em que
morava antigamente.”
(anticlímax)
13. Onomatopeia
É uma figura sonora que procura reprodu-
zir ou imitar sons ou ruídos.
10. Catacrese Exemplos:
É o uso inapropriado de termos específicos Ploc, ploc, ploc. Passou um cavalo.
de certas situações ou para designar partes
de objetos por falta de termos apropriados Tiquetaque, tiquetaque. Monotonia
na Língua, ou mesmo, com finalidades das horas.
artísticas realçando uma ideia ou um
sentimento. 14. Polissíndeto
Exemplo:
É a repetição insistente da conjunção e
O bico do bule. (de ave) A asa da que cadencia o ritmo fluente do verso, sem
xícara. A perna da mesa. criar pausas ou fragmentação.

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 111

Exemplos: De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
“E fala e ri e gesticula e grita.” E de sozinho o que se fez contente.

(teus olhos) Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
“entrava-nos alma adentro De repente, não mais que de repente.
e via esta lama podre (Vinicius de Moraes)
e com pesar nos fitava
e com ira amaldiçoava 1. Antítese é a figura de linguagem que
e com doçura perdoava.” consiste na expressão por meio de pa-
(Carlos Drummond de Andrade) lavras de sentidos opostos. Reescreva
um verso da primeira e da última
A conjunção e faz as ideias fluírem estrofe do poema que apresentem
sem pausas das vírgulas, como flashes antíteses.
consecutivos: e e e.
2. Retire do poema um verso em que haja
uma comparação.
Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - 3. Analise o segundo verso da segunda
a ausência total de conjunção chama-se estrofe “Que dos olhos desfez a última
Assíndeto. chama”:
Exemplo: a. Quem ou o que “desfez a última
“Falava, gesticulava, (e) gritava.” chama”?
b. O verso está escrito na ordem
sintática indireta. Reescreva-o na
ordem direta.
Chega de teorias, agora vamos ler e
interpretar. 4. No texto em prosa nós temos a pre-
sença de um narrador. Já na poesia
.........................................
dizemos que há um “eu lírico”, ou seja,
TEXTO 1
......................................... um eu que fala de si mesmo. Explique
os sentimentos expressos pelo “eu
SONETO DE SEPARAÇÃO lírico” ao longo de todo o poema.

De repente do riso fez-se o pranto .........................................


Silencioso e branco como a bruma TEXTO 2
E das bocas unidas fez-se a espuma .........................................
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. “ Não é o homem um mundo pequeno que está
dentro do mundo grande, mas é um mundo
De repente da calma fez-se o vento grande que está dentro do pequeno. Baste por
Que dos olhos desfez a última chama prova o coração humano, que, sendo uma
E da paixão fez-se o pressentimento pequena parte do homem, excede na
E do momento imóvel fez-se o drama. capacidade a toda a grandeza do mundo. (...)

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112 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

O mar, com ser um monstro indômito, 1. Quais seriam os objetivos das palavras
chegando às areias, para; as árvores, onde as do Pe. Antônio Vieira, segundo o que
põem, não se mudam; os peixes contentam-se se pode inferir (concluir) do texto de
com o mar, as aves com o ar, os outros Ana Miranda?
animais com a terra. Pelo contrário, o
homem, monstro ou quimera de todos os
elementos, em nenhum lugar para, com .........................................
nenhuma fortuna se contenta, nenhuma TEXTO 4
ambição ou apetite o falta: tudo confunde e .........................................
como é maior que o mundo, não cabe nele.” VUNESP – 95 (adaptada) – O texto a
(Pe. Antônio Vieira) seguir foi escrito e interpretado pelo ator
e dramaturgo Plínio Marcos. Trata-se de
1. Pe. Vieira afirma que o homem é “um transcrição de um vídeo exibido na Casa
mundo grande” dentro do “mundo de Detenção, em São Paulo.
pequeno”, ou seja, ele é maior do
que o mundo. Explique quais são os “Aqui é bandido: Plínio Marcos! Atenção,
argumentos que Vieira apresenta para malandrage! Eu num vô te pedir nada, vô te
comprovar seu ponto de vista. dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que
rói até os mais fortes, e rói devagarinho.
2. O ponto de vista defendido por Vieira Deixa o corpo sem defesa contra a doença.
a respeito do ser humano é positivo ou Quem pegá essa praga está ralado de verde e
negativo? Justifique sua resposta com amarelo, de primeiro ao quinto, e sem
elementos retirados do próprio texto. vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem
reza brava, nem choro, nem vela, nem ai,
Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o
......................................... aroma da perpétua; Aids passa pelo esperma
TEXTO 3 e pelo sangue, entendeu?, pelo esperma e pelo
......................................... sangue! (pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te
Q assombrá, então se toca! Não é porque tu tá
na tranca que virou anjo. Muito pelo
uando jovem, Antônio Vieira acreditava nas contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas
palavras, especialmente nas que eram ditas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode
com fé. No entanto, todas as palavras que ele valê pra ninguém nesse negócio de Aids!
dissera, nos púlpitos, na salas de aula, nas Então já viu: transá só de acordo com o
reuniões, nas catequeses, nos corredores, parceiro, e de camisinha! (pausa)
nos ouvidos dos reis, clérigos, inquisidores, Agora, tu aí que é metido a esculachá os
duques, marqueses, ouvidores, outros, metido a ganhá o companheiro na
governadores, ministros, presidentes, força bruta, na congesta! Para com isso, tu
rainhas, príncipes, indígenas, dessas milhões vai acabá empesteado! Aids num toma
de palavras ditas com esforço de pensamento, conhecimento de macheza, pega pra lá e pega
poucas – ou nenhuma delas – haviam surtido pra cá, pega em home, pega em bicha, pega
efeito. O mundo continuava exatamente o de em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste
sempre. O homem, igual a si mesmo. num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E
(Ana Miranda, Boca do Inferno) fica um tempão sem sabê. Daí, o mais

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 113

malandro, no dia da visita, recebe mamão e “metonímias”. Com base nesse co-
com açúcar da família e manda pra casa o mentário, releia atentamente o último
[sic] Aids! E num é isto que tu qué, né, vago parágrafo do texto e, a seguir:
mestre? Então te cuida! Sexo, só com
a. Aponte os termos que substituem,
camisinha. (pausa)
respectivamente, cocaína e maco-
Quem descobre que pegô a doença se sente
nha.
no prejuízo e qué ir à forra, passando pros
b. Interprete a comparação “A saúde
outros. (pausa) Sexo, só com camisinha!
é como a liberdade”. Para isso,
Num tem escolha, transá, só com camisinha.
leve em conta a situação dos
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô
destinatários e os objetivos que o
sabendo que ninguém corta o vício só por
emissor deseja alcançar.
ordem da chefia. Mas escuta bem, vago
mestre, a seringa é o canal pro [sic] Aids. No 2. Quanto ao nível de linguagem do
desespero, tu não se toca, num vê, num qué texto, responda:
nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com
um pingo de sangue, e tu mete ela direta em a. Explique o tipo de linguagem utili-
ti. Às vezes, ela parece que vem limpona, e zada por Plínio Marcos e as razões
vem com a praga! E tu, na afobação, mete ela para utilizá-la.
direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz b. Reescreva o segundo parágrafo do
mais tu, mas que diz que num pode aguentá a texto como se você estivesse fa-
tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é lando formalmente a uma plateia
tu mesmo. (pausa) E a farinha que tu cheira, composta de médicos.
e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e
deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu .........................................
fica moleza pro [sic] Aids! Mas o pico é o TEXTO 5
.........................................
canal direto pra essa praga que está aí. Então,
malandro, se cobre! Quem gosta de tu é tu 1. FUVEST-97
mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente ò Uma andorinha não faz verão.
só dá valor pra ela quando ela já era!” ò Nem tudo que reluz é ouro.
(Vídeo exibido na Casa de Detenção, São Paulo ò Quem semeia vento colhe tempes-
Créditos: Agência: Adag (1988).
tade.
Realização: TV Cultura / São Paulo.
Duração: 2 minutos e 48 segundos.) ò Quem não tem cão caça com gato.

1. Uma das virtudes do texto de Plínio As ideias centrais dos provérbios acima
Marcos é tratar a questão da Aids são, em ordem:
de maneira realista, sem escamo- a. solidariedade - aparência - vingança -
teações idealizantes ou metafóricas. falsidade
Didaticamente e de modo a se fazer b. cooperação - aparência - punição -
rapidamente compreendido, utiliza-se adaptação
da “comparação” e, em geral, quando c. egoísmo - ambição - vingança - falsifi-
substitui um termo por outro, o faz cação
por uma aliança lógica entre as partes, d. cooperação - ambição - consequência -
designando o elemento por um termo fingimento
que contém as qualidades de uma de e. solidão - prudência - punição - adap-
suas partes. Utiliza-se de “sinédoques” tação

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114 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


......................................... .........................................
TEXTO 6 TEXTO 7
......................................... .........................................
UNICAMP-SP “ A velhinha tinha uma pequena loja, numa
O jornal Folha de S.Paulo introduziu rua de Florença. Exteriormente, sua loja não
com o seguinte comentário uma entre- era nem rica nem elegante nem artística. Isso
vista com o professor Paulo Freire: acontece em muitas lojas, na Europa. Mas a
velhinha vendia umas blusas tão lindas e
“‘A gente cheguemos’ não será uma originais que mulher nenhuma poderia ficar
construção errada?” insensível aos seus encantos. E eis que, de
repente, me torno possuidora de uma delas.
Os trechos da entrevista nos quais a Começava a escurecer. A formosa Florença
Folha de S.Paulo se baseou para fazer tal tornava-se uma cidade de prata. Eu desejava
comentário foram os seguintes: mais uma blusa: quem viaja sempre está
pensando em alegrias que, na volta, pode dar
“A criança terá uma escola na qual a sua
aos amigos. Mas a loja ia fechar, a velhinha
linguagem seja respeitada (...) Uma
não negociava com dólares (pensar que um
escola em que a criança aprenda a sintaxe
dia eu tive dólares): então separei a segunda
dominante, mas sem desprezo
blusa e prometi que na manhã seguinte
pela sua(...).
apareceria com minhas liras.”
Esses oito milhões de meninos que vêm da
(Cecília Meireles)
periferia do Brasil (...). Precisamos
respeitar a sua sintaxe mostrando que
1. O que podemos inferir (concluir-se)
sua linguagem é bonita e gostosa, às
com relação ao número de funcioná-
vezes, é mais bonita que a minha. E
rios da loja?
mostrando tudo isso, dizer a ele: Mas
para tua própria vida, tu precisas dizer ‘a
2. Infere-se o seguinte com respeito à
gente chegou’ em vez de dizer ‘a gente
compra:
cheguemos’. Isso é diferente, ‘a
1o A primeira blusa seria um presente.
abordagem’ é diferente. É assim que
2o A segunda blusa seria para uso
queremos trabalhar, com abertura, mas
próprio.
dizendo a verdade.”
3o A compra deveu-se à necessidade
Responda de forma sucinta: da compradora.
Segundo o texto, estas inferências
1. Qual posição defendida pelo professor
acima estão corretas? Explique.
Paulo Freire com relação à correção
dos erros gramaticais na escola? 3. A situação financeira da narradora,
após a viagem, quando narra os fatos,
2. O comentário do jornal faz justiça ao
continuou a mesma? Justifique sua
pensamento do educador? Justifique
resposta.
a sua resposta.

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 115


.........................................
— Moro.
TEXTO 8
......................................... — Almoça aqui?
— Almoço.
ANDORINHA O bêbado não perdoou:
— Você sai com a filha do homem, mora
“Andorinha lá fora está dizendo: na casa do homem, come na casa do homem e
— Passei o dia à toa, à toa! me nega um prato de comida?”
Andorinha, andorinha, minha (Folha de S.Paulo, 22/3/00, Caderno 1, p. 2.)
[cantiga é mais triste!
1. O texto apresenta em seu final um
Passei a vida à toa, à toa...”
tom de humor crítico, em relação ao
genro do deputado. Explique o que
1. No poema acima Manuel Bandeira se gera esse humor.
revela:
a. frustrado e desanimado; .........................................
b. vagabundo e sonhador; TEXTO 10
c. irônico e oportunista; .........................................
d. desanimado e sádico;
e. apático e cruel. DECADÊNCIA E ESPLENDOR DA
ESPÉCIE

......................................... “Não sei o que terá acontecido com a espécie


TEXTO 9 humana.
......................................... Esta ausência de pelos... Para os outros
mamíferos a nossa nudez pode parecer
CONTRAPONTO: repugnante como, para nós, a nudez dos
PRATO VAZIO vermes.
E, depois, a nossa verticalidade é
“Pai do ex-governador Flaviano Melo, o antinatural. Estas mãos pendendo, inúteis,
deputado estadual Raimundo Melo era um são ridículas como as dos cangurus sentados.
político tradicional no Acre, adepto do velho Se fôssemos veludos e quadrúpedes,
estilo assistencialista. ganharíamos muito em beleza e, sem a atual
Todos os dias, na hora do almoço, uma tendência à adiposidade, poderíamos ser
fila imensa postava-se na frente de sua casa. quase tão belos como os cavalos.
O deputado servia uma sopa para Felizmente, inventou-se a tempo o
mendigos e outros necessitados. Num final de vestuário, que, pela variedade e beleza (a par
tarde, quando a sopa havia acabado, um de sua utilidade em vista do fatal desabrigo
bêbado tocou a campainha. em que ficamos), redime um pouco esta
— Quero uma sopa — pediu o bêbado degenerescência.
cambaleante. E acontece que inventamos também o
— Não tem mais. Só amanhã — mobiliário, os utensílios: no caso vigente,
respondeu Joedir. esta cadeira em que escrevo sentado a esta
Bravo, o bêbado perguntou: mesa, à luz artificial desta lâmpada.
— Quem é você? E ainda este ato de escrever, isto é, de
— Sou casado com a filha do deputado. expressar-me por meio de sinais gráficos, é
— Você mora aqui? mais uma prova de nossa artificialidade.

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116 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Mas quem foi que disse que eu estou 5. Explique a serventia do vestuário,
amesquinhando a espécie? Quero apenas segundo o narrador.
significar que, em face das duas miseráveis
contingências, o homem criou, além do 6. Explique o significado do título do
mundo natural, um mundo artificial, um texto “Decadência e esplendor da
mundo todo seu, uma segunda natureza, espécie”.
enfim.
O homem, esse mascarado...”
.........................................
(Mário Quintana, Caderno
H. Porto Alegre: Globo, 1977.)
TEXTO 11
.........................................

1. Numere a coluna da direita, relaci- O SONHO DO CELULAR


onando as palavras do texto a seus
sinônimos. “Sabe qual é o meu sonho, cara? Quer saber
mesmo qual é o meu grande sonho?
(a) adiposidade ( ) depreciando,
Eu queria ter um celular, cara. Um
humilhando
celular: esses telefones que o cara leva na
(b) degenerescência ( ) gordura, mão, e dá para a gente falar de qualquer
obesidade lugar, da rua, do bar, do banheiro, de onde
(c) redime ( ) condições, você quiser. É uma maravilha, cara. Não
circunstância existe nada igual. É o meu sonho.
Você vai dizer: ah, mas é um sonho
(d) vigente ( ) em rigor ou miúdo, insignificante. Você vai dizer que sou
em execução modesto, que voo baixo. Outros querem
(e) amesquinhando ( ) resgata, carrões importados, roupas caras,
atenua, apartamento de cobertura – e eu quero só um
compensa telefone?!
Pois é só o que eu quero: um telefone
(f) contingências ( ) decadência,
celular. Aquilo é o máximo, cara. Aquilo te dá
alteração
um status fora de série. Não sou só eu que
acha isso, não: eu tinha um amigo que
2. Retire do texto a expressão que equi- roubou um celular da loja só para ficar com
vale à seguinte afirmação: “caso o ele debaixo do braço. A coisa não falava, não
homem andasse de quatro patas e tocava – mas dava a ele uma sensação do
fosse peludo”. peru. Celular, cara, é outro papo. Não é
orelhão, não é telefone comum. É celular.
3. Explique em que aspecto recai o questi- Coisa de gente fina.
onamento do autor ao afirmar: “Não Só que custa um dinheirão, e de onde eu
sei o que terá acontecido com a espécie ia descolar aquela grana? Porque eu queria
humana”. fazer a coisa legal, registrar o aparelho, tudo
certinho. Essas coisas custam caro. Não
4. Para Mário Quintana, o homem é havia outro jeito: eu tinha que sequestrar
ou não é um animal? Reescreva o um cara.
fragmento do texto que justifique a E aí a gente fez o sequestro, tudo
sua resposta. direitinho, tudo bem planejado. E para o

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 117


.........................................
sujeito não incomodar, nós o colocamos no
TEXTO 12
porta-malas. .........................................
Fomos presos, cara. E sabe por quê?
Porque o pinta tinha um celular. De dentro “Cientistas de diversos países decidiram
do porta-malas ele pediu socorro. E nos abraçar, em 1990, um projeto ambicioso:
pegaram direitinho. identificar todo o código genético contido
Se estou zangado? Não estou zangado, nas células humanas (cerca de três
não. É verdade que fiquei numa ruim, mas o bilhões de caracteres). O objetivo
que aconteceu provou que eu tinha razão: principal de tal iniciativa é compreender
celular é outro papo. É a comunicação do melhor o funcionamento da vida e,
futuro, cara. Um dia ainda vou ter um, consequentemente, a forma mais eficaz
andar com ele debaixo do braço e falar com de curar as doenças que nos ameaçam.
meus amigos de casa, da rua, do banheiro. Como é esse código que define como
Sou até capaz de me meter num porta-malas somos, desde a cor dos cabelos até o
e ligar para alguém, para ver como a coisa tamanho dos pés, o trabalho com
funciona. amostras genéticas colhidas em várias
Celular é meu sonho, cara.” partes do mundo está ajudando também
(Moacyr Scliar) a entender as diferenças entre as etnias
humanas. Chamado de Projeto
1. A linguagem do texto acima carac- Genoma Humano, desde seu início não
teriza-se pelo emprego de termos parou de produzir novidades científicas.
coloquiais ou populares. Substitua A mais importante delas é a confirmação
as expressões a seguir por outras de que o homem surgiu realmente na
correspondentes em norma culta. África e se espalhou pelo resto do planeta.
a. “eu voo baixo” A pesquisa contribuiu para derrubar
b. “uma sensação do peru” velhas teorias sobre a superioridade
c. “ porque o pinta tinha um celular” racial e está provando que o racismo não
d. “celular é outro papo” tem nenhuma base científica. É mais
uma construção social e cultural. O que
2. Segundo o narrador, cite quais são as percebemos como diferenças raciais são
vantagens do celular. apenas adaptações biológicas às
condições geográficas. Originalmente o
3. Explique os reais motivos pelos quais ser humano é um só.”
o narrador queria um celular. (IstoÉ, 15/1/97)

4. “O feitiço virou contra o feiticeiro”.


Poderíamos aplicar esse provérbio
popular à narrativa? Justifique a sua
Observação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -
resposta. A pesquisa foi dada como concluída, em
2000, pelos cientistas americanos.
5. Explique o que significou para o nar-
rador-personagem o fato de ter sido
frustrado seu plano de sequestro.
1. Explique por que as palavras “cerca de
6. Interprete a intenção do autor – ou a três bilhões de caracteres” estão dentro
mensagem – ao escrever esse texto. de parênteses.

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118 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

2. Defina, segundo o texto, a meta prin- d. que o menino, na verdade, era


cipal do Projeto Genoma. muito criativo.

3. Qual procedimento do método cien- 2. Explique qual era o julgamento que


tífico utilizado na pesquisa permitiria a mãe fez do filho ao colocá-lo de
“entender as diferenças entre as etnias castigo.
(raças) humanas”?
3. Após ouvir o segundo acontecimento
4. Explique de que forma se comprova- narrado pelo filho, a mãe não o
ram as afirmações “o racismo não tem colocou de castigo. Resolveu cortar
nenhuma base científica” e “original- a sobremesa e proibiu que o menino
mente o ser humano é um só”. jogasse futebol. Explique por que a
......................................... mãe mudou o tipo de punição.
TEXTO 13
......................................... 4. O pintor espanhol Picasso certa vez
disse que “A arte é a mentira que revela
A INCAPACIDADE DE SER VERDADEIRO a verdade”, e o músico clássico Claude
Debussy afirmou que “A arte é a mais
“Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia bela das mentiras”. Considerando que
chegou em casa dizendo que vira no campo a poesia é uma manifestação artística,
dois dragões da independência cuspindo explique as palavras do médico: “Este
fogo e lendo fotonovelas. menino é mesmo um caso de poesia”.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana
seguinte ele veio contando que caíra no pátio 5. De alguma forma há certa “lógica” nas
da escola um pedaço de lua, todo cheio de palavras de Paulo, se considerarmos a
buraquinhos, feito queijo. Desta vez Paulo possibilidade de associação de ideias
não só ficou sem sobremesa como ficou (ou o sentido simbólico ou conota-
proibido de jogar futebol durante quinze dias. tivo) das palavras. Explique a lógica
Quando ele voltou falando que todas as associativa presente nas frases:
borboletas da terra passaram pela chácara de
a. “...vira no campo dois dragões da
Siá Elpídia e queriam formar um tapete
independência cuspindo fogo...”.
voador para transportá-lo ao sétimo céu, a
b. “...um pedaço de lua, todo cheio
mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame,
de buraquinhos, feito queijo...”.
o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
— Não há nada a fazer, Dona Coló. Este
6. Na frase: “Desta vez Paulo não só ficou
menino é mesmo um caso de poesia.”
sem sobremesa como proibido de jogar
(Carlos Drummond de Andrade, Contos Plausíveis)
futebol...”, as palavras “não só...mas
também” exprimem ideia de:
1. O autor pretende mostrar, no texto:
a. oposição
a. a história de um menino menti-
b. causa
roso que teve seu justo castigo.
c. adição
b. que a mentira sempre traz más
d. conclusão
consequências.
e. consequência
c. que os médicos não são especialis-
tas em mentira.

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 119


.........................................
cuidar de crianças para mães e pais
TEXTO 14
......................................... solteiros, nem as complicações
intrínsecas de maternidades e
O texto abaixo é um trecho de um conto
paternidades adquiridas. Importa que
que reproduz a fala de uma personagem:
os pais aparecem como privilegiando
um sitiante:
suas paixões amorosas e sexuais sobre a
“— Com perdão da pergunta, mas será que família.”
mecê não tem por lá alguma enxada (Gilberto Dimenstein, “A nova guerra civil”.
In: Folha de S.Paulo, Caderno Mais, 1/10/95.)
assim meia velha pra ceder pra gente?”

Reescreva-a, adequando a forma à 1. Segundo o texto, qual é a opinião dos


linguagem urbana culta. pais sobre os adolescentes?
.........................................
TEXTO 15 2. Explique o significado da expressão no
......................................... texto “lê atrás das linhas”, na visão
FUVEST – 97 – Dentre as seguintes dos filhos em relação aos pais.
frases, assinale aquela que não contém
ambiguidade. 3. Qual é o objetivo do autor ao apre-
a. Peguei o ônibus correndo. sentar a situação de separação em um
b. Esta palavra pode ter mais de um casamento?
sentido.
c. O guarda manteve o suspeito em sua
casa. .........................................
d. O menino viu o incêndio do prédio. TEXTO 17
e. Nenhuma das alternativas anteriores .........................................
(n.d.a.). “Os kids não querem aproveitar nada.
......................................... Nem se divertir. Como os rebeldes que
TEXTO 16 viviam há quarenta anos (hippies,
......................................... décadas 1960-70), eles também não
“A adolescência é sempre um momento de seguem a ordem estudar, trabalhar, casar,
interrogação: qualquer kid ¹ se pergunta, ter filhos, aposentar-se e morrer.
nesta altura, o que querem os pais. A diferença é que não a recusam. Não
Frequentemente estes acham que o kid só têm objetivo algum com sua negação.
quer fazer o contrário do que eles desejam. Não querem mudar nada. Não têm a
Mas nunca é assim. Quer queira, quer menor intenção de romper com o
não, o kid interpreta, lê atrás das linhas, establishment (ordem social
procura encontrar o desejo dos pais atrás estabelecida). Não transam por amor.
do que eles declaram. Por exemplo, o que Não usam drogas para fugir da realidade
importa na separação dos pais e mães ou criar uma nova. Não têm trabalho e
não é tanto a subsequente ² dificuldade de recusam a escola.

1. kid – adolescente
2. subsequente – o que vem a seguir

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120 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

O fato é que não se importam com nada. polícia não tem como objetivo matar, mas
E nem isso é uma ideologia para eles. Os prender todo aquele que pratica um ato
meninos e meninas estão lá – por que não delituoso. Por isso, tudo que puder ser feito
transar? As drogas também estão para que essa meta seja alcançada deve ser
disponíveis – então, por que não usá-las?” buscado pela Secretaria da Segurança.
(Noelly Russo, O carpe diem Contudo, infelizmente, para alguns, o
[aproveite o dia], o presente estragado)
discurso e a prática da violência são
convenientes. Certos políticos, com a
1. “A diferença é que não a recusam.” cobertura dos meios de comunicação,
O pronome oblíquo a remete-nos a estimulam a violência policial como meio de
uma palavra anteriormente citada. combate à criminalidade. Em verdade,
Rescreva essa palavra. quanto maior o clima de insegurança entre a
população, maior a possibilidade de esses
2. Por oposição comparativa ao com- políticos se reelegerem com a bandeira da
portamento dos atuais adolescentes segurança. Por isso a verdadeira motivação é
apresentado pela autora, como era o aumento da violência, apesar do discurso
o comportamento dos rebeldes há contrário.
quarenta anos (hippies)?
O empenho do governo do Estado de São
Paulo é construir uma relação positiva entre
......................................... polícia e sociedade. Combater a
TEXTO 18 criminalidade e acabar com a violência
......................................... policial não são objetivos antagônicos:
devem fazer parte da mesma política. Sem
POLÍCIA NÃO É PARA MATAR dúvida, as desigualdades sociais têm
enorme influência na escalada da violência,
“Comecemos pelo princípio: violência gera mas o trabalho da Secretaria da Segurança
violência. A função da polícia é garantir a deve ser buscar o seu fim, em qualquer lugar
segurança da população, e por isso ela não onde ela esteja.”
pode atuar com base no medo, mas sim no
(José Mono da Silva,
respeito.
O Estado de S. Paulo, 5/11/95.)
Foi a partir dessas ideias que o coronel
Leio Provi, comandante do Policiamento
Metropolitano de São Paulo, determinou 1. “Comecemos pelo princípio: violência
que todo policial envolvido em morte de civis gera violência.” Explique o objetivo do
será afastado do trabalho de policiamento, autor ao iniciar o texto apresentando
exercendo outras funções dentro da esse princípio.
corporação. Os resultados do primeiro mês 2. Qual deve ser a base da atuação
dessa operação foram muito promissores. A policial, segundo o texto?
média de mortos em confronto com a PM, 3. Explique a medida do comando da
que foi de 39,5 nos primeiros oito meses deste Polícia de São Paulo que resultou na
ano, no Estado de São Paulo, caiu para 19. redução do número de mortos nas
É importante ressaltar que tal medida ações policiais.
não é uma punição ao policial; ao contrário, 4. Apresente o motivo, segundo o texto,
visa a garantir estabilidade emocional para pelo qual alguns políticos defendem a
que continue exercendo sua profissão. A ação violenta dos policiais.

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 121


.........................................
bolso, onde supostamente guardamos
TEXTO 19
......................................... nossa mais esperta e desperta sabedoria.
No meio de especialistas, estamos todos
“Sem os especialistas, não conseguiremos protegidos por uma invulnerável linha
sequer manter nossa casa em Maginot. Como os franceses.
funcionamento. Antes, o homem era O diabo é que nossa santa ignorância é
capaz de produzir o óleo e fazer a bem maior em relação ao meio social que
lamparina. Hoje, fica no escuro ao em relação ao meio físico. Honestamente,
primeiro curto-circuito. O leitor será confio mais no médico, no eletricista, no
capaz de consertar a geladeira, o televisor, químico ou no comandante do Jumbo que
a máquina de escrever ou o me depositou em Tóquio que nos
liquidificador? Será capaz de fazer sabão, cientistas de um modo geral. Sem
torrar café, tirar mancha de esferográfica, formação e sem títulos adequados,
curar o braço quebrado ou botar ninguém se proclama técnico ou
meia-sola nos sapatos? Saberá o leitor do especialista em física, química,
que é feito e como é feito o paletó de tergal, engenharia, neurologia, cibernética ou
o barbeador elétrico, o carpete de sua sala cirurgia. Mas todos nós,
ou o biiodo do farol de seu carro? indistintamente, nos confessamos
Somos todos especialistas e todos vítimas peritos em política, economia,
da ditadura de outros especialistas. E, sociologia, futebol e mulher.”
como especialistas, queimamos na (Joemir Beting)
especialização constante todo o tempo
disponível para sondar a periferia de 1. Qual é o tema deste texto?
nossos conhecimentos. Um urbanista
talvez saiba quase tudo sobre a mecânica 2. Explique as consequências da especi-
da cidade, mas talvez não saiba dizer alização no dia-a-dia das pessoas.
qual é a capital da Austrália – Sydney ou
Melbourne? O leitor também errou: é 3. Explique a seguinte afirmação do texto:
Camberra (vi agora no mapa). Um “Pois um dos perigos a que nos sujeita
construtor de automóveis essa crença irrestrita no cabedal de
provavelmente ignora a relação entre o conhecimentos do especialista é, por
cano de escape do carro e o hipotálamo do exemplo, o de comprarmos coisas de
homem. Hipotálamo? que não precisamos com um dinheiro
Precisamos confiar irrestritamente nos de que não temos disponibilidade”.
especialistas que nos rodeiam, já que não
podemos contestá-los, adverte o professor
.........................................
Alfvén. Pois um dos perigos a que nos
TEXTO 20
sujeita essa crença irrestrita no cabedal .........................................
de conhecimentos do especialista é, por
exemplo, o de comprarmos coisas de que A VIOLÊNCIA DAS LEIS
não precisamos com um dinheiro de que
não temos disponibilidade. “Muitas constituições foram criadas – a
Isso não acontecia no passado, mas começar pela Inglesa e a Americana,
acontece no presente. A ignorância terminando com a Japonesa e a Turca – de
chegou, portanto, ao fundo de nosso modo a fazer com que as pessoas

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122 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

acreditassem que todas as leis estabelecidas Assim, uma definição exata e irrefutável
atendiam a desejos expressos pelo povo. Mas para Legislação, que pode ser entendida por
a verdade é que não só nos países autocráticos todos, é esta: “As leis são regras feitas por
(Ditadura), como naqueles supostamente pessoas que governam por meio da violência
mais livres – como a Inglaterra, a América, a organizada e que, quando não acatadas,
França e outros – as leis não foram feitas podem fazer com que aqueles que se recusam
para atender à vontade da maioria, mas sim a obedecer-lhes sofram pancadas, a perda da
à vontade daqueles que detêm o poder. liberdade e até mesmo a morte”.
Portanto elas serão sempre, e em toda parte, (Leon Tolstoi, A escravidão de nosso tempo)
aquelas que mais vantagens possam trazer à
classe dominante e aos poderosos. Em toda 1. Segundo o texto, qual é o conceito errô-
parte e sempre, as leis são impostas neo que as pessoas fazem da legislação?
utilizando os inúmeros meios capazes de 2. Explique, segundo Tolstoi, o objetivo
fazer com que algumas pessoas se submetam verdadeiro da criação das leis.
à vontade de outras, isto é, pancadas, perda 3. Defina o conceito de “violência orga-
da liberdade e assassinato. Não há nizada” apresentada pelo autor.
outro meio. .........................................
Nem poderia ser de outro modo, já que as TEXTO 21
.........................................
leis são uma forma de exigir que
determinadas regras sejam cumpridas e de UM CÃO APENAS
obrigar determinadas pessoas a cumpri-las
(ou seja: fazer o que outras pessoas querem “Subidos, de ânimo leve e descansado passo,
que elas façam), e isso só pode ser obrigado os quarenta degraus do jardim – plantas em
com pancadas, com a perda da liberdade e flor de cada lado; borboletas incertas;
com a morte. Se as leis existem, é necessário salpicos de luz no granito – eis-me no
que haja uma força capaz de obrigar as patamar. E a meus pés, no áspero capacho de
pessoas a respeitá-las. E só há uma força coco, à frescura da cal do pórtico, um
capaz de fazer com que alguns seres se cãozinho triste interrompe o seu sono,
submetam à vontade de outros, e essa força é levanta a cabeça e fita-me. É um triste
a violência. Não a violência simples, que cãozinho doente, com todo o corpo ferido;
alguns homens usam contra seus gastas, as mechas brancas do pelo; o olhar
semelhantes em momentos de paixão, mas dorido e profundo, com esse lustro de
uma violência organizada, usada por lágrimas que há nos olhos das pessoas muito
aqueles que têm o poder nas mãos para fazer idosas. Com grande esforço acaba de
com que os outros obedeçam à sua vontade. levantar-se. Eu não lhe digo nada; não faço
nenhum gesto. Envergonha-me haver
Desse modo, a essência da Legislação não
interrompido o seu sono. Se ele estava feliz
está no Sujeito, no Objeto, no Direito, na
ali, eu não devia ter chegado. Já lhe faltavam
ideia do domínio da vontade coletiva do povo
tantas coisas, que ao menos dormisse:
ou em qualquer outra condição tão confusa e
também os animais devem esquecer
indefinida, mas sim no fato de que aqueles
enquanto dormem...
que controlam a violência organizada
dispõem de poderes para forçar os outros a
obedecer-lhes, fazendo aquilo que eles
querem que seja feito.

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 123

Ele, porém, levantava-se e olhava-me. 1. “Subidos, de ânimo leve e descan-


Levantava-se com a dificuldade dos sado passo, os quarenta degraus do
enfermos graves: acomodando as patas da jardim – plantas em flor de cada lado;
frente, arrastando o resto do corpo, sempre borboletas incertas; salpicos de luz
com os olhos em mim, como à espera de uma no granito – eis-me no patamar. E
palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria a meus pés, no áspero capacho de
vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me coco, à frescura da cal do pórtico, um
dele: chamar alguém, pedir-lhe que o cãozinho triste interrompe o seu sono,
examinasse, que receitasse, encaminhá-lo levanta a cabeça e fita-me.”
para um tratamento... Mas tudo é longe,
Essa descrição inicial revela estado ou
meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso
condição do narrador que contrasta
passar. E ele estava na minha frente, inábil,
com a descrição do cão que vem a
como envergonhado de se achar tão sujo e
seguir. Explique esse contraste.
doente, com o envelhecido olhar numa espécie
de súplica.
2. Descreva os sentimentos que toma-
Até o fim da vida guardarei seu olhar no
ram conta do narrador ao ver o estado
meu coração. Até o fim da vida sentirei esta
do cão.
humana infelicidade de nem sempre poder
socorrer neste complexo mundo dos homens. 3. “Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é
Então, o triste cãozinho reuniu todas as tão longe. E era preciso passar.” Essa
forças, atravessou o patamar sem dúvida palavras, do segundo parágrafo, com a
sobre o caminho, como se fosse visitante repetição de “tudo tão longe” revelam
habitual, e começou a descer as escadas e que conflito vivido pelo narrador?
suas rampas, com as plantas em flor de cada
lado, as borboletas incertas, salpicos de luz 4. “e começou a descer as escadas e
no granito, até o limiar da entrada. Passou suas rampas, com as plantas em flor
por entre as grades do portão, prosseguiu de cada lado, as borboletas incertas,
para o lado esquerdo, desapareceu. salpicos de luz no granito, até o limiar
Ele ia descendo como um velhinho da entrada. Passou por entre as grades
andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, do portão, prosseguiu para o lado
sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, esquerdo, desapareceu.” Observe que o
uma forma de vida. Uma criatura deste narrador repete a descrição inicial no
mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao final do texto, no penúltimo parágrafo.
meu alcance; talvez tivesse fome e sede; e eu Explique a intenção do narrador ao
nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma repeti-la.
caridade inútil, sem qualquer expressão
concreta. Deixei-o partir assim humilhado, 5. “amei-o, apenas, com uma caridade
e tão digno, no entanto: como alguém que inútil, sem qualquer expressão con-
respeitosamente pede desculpas de ter creta.”
ocupado um lugar que não era seu.
Depois lembrei que todos nós somos, um “Depois lembrei que todos nós somos,
dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma um dia, esse cãozinho triste, à sombra
porta. E há o dono da casa, e a escada que de uma porta.”
descemos e a dignidade final da solidão.” Se lermos o texto apenas em seu
(Cecília Meireles) significado artificial, diremos que se

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124 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

trata da história do sofrimento de Disse o nome – e ela nos mandou entrar.


um cão vira-lata. Porém o texto em Então me vi marchando por um macio tapete
seu significado mais profundo fala do claro, numa grande sala; junto às paredes,
ser humano, faz crítica ao nosso rela- amplos sofás; e havia espelhos venezianos,
cionamento com o outro, em nossa enormes vasos de porcelana, quadros a óleo,
sociedade. Assim, refletindo sobre as flores. Um luxo de coisas e de espaço.
palavras do narrador, transcritas do – Tenham a bondade de sentar e esperar
último parágrafo, explique a crítica um momento.
que o texto faz às relações humanas. Logo que ela saiu, levantei-me e fui à
janela. Era uma janela imensa, rasgada sobre
.........................................
o mar, o grande mar azul que arfava debaixo
TEXTO 22
......................................... do sol. Nós tínhamos vivido aqueles tempos
em quartos apertados e quentes, de uma só e
OS PERSEGUIDOS miserável janela, dando para uma parede
suja; nós vínhamos de casinhas de subúrbio,
“Ainda tirei o maço de cigarros do bolso para cheias de gente, feias e tristes; ou de cubículos
conferir novamente o número do imundos e frios, ou de uma enfermaria geral,
apartamento, que anotara: 910. Apertei o com cheiro de iodofórmio. Entretanto,
botão da campainha. Atrás de mim, o aquele apartamento de luxo não me
Moreira, muito sujo, arfava; subíramos os espantara; apenas sentia que Moreira
últimos andares pela escada, por precaução; estava humilhado de estar ali. Mas essa vista
depois de um mês de cadeia ele não estava do mar foi minha surpresa. Nos últimos
muito forte. Soube que mais de uma vez fora tempos eu passava raramente junto do mar e
surrado; ficara dias sem comer e sem sair de creio que nem o olhava; vivíamos como se
seu cubículo escuro, e por isto tinha aquela fosse em outra cidade, afundados no interior
cara de retirante ou de cão batido. Não cão marchando por ruas de paralelepípedos
batido, pois seus olhos estavam muito acesos, desnivelados e carros barulhentos. E ali
como se tivesse febre, e sua voz me parecia ao estava o mar muito mais amplo do que o mar
mesmo tempo rouca e mais alta. Sua que poderia ser visto lá embaixo, da rua,
aparência me impressionava; mas acima de pelos pobres; o mar dos ricos era imenso, e
qualquer sentimento eu tinha o desgosto de mais puro e mais azul pompeando sua beleza
vê-lo tão sujo; de suas roupas miseráveis na curva rasgada de longínquos horizontes,
desprendia-se um cheiro azedo; e eu tinha a enfeitado de ilhas, eriçado de espumas. E o
penosa impressão de que ele não dava vento tinha um gosto livre e virgem, um
importância alguma a isso. É estranho que vento bom para se encher o pulmão.
ele me tratasse agora com certa Inspirei profundamente esse ar salgado e
superioridade; entretanto, eu tinha pena dele; limpo; e tive a impressão de que estava
pena e desgosto. respirando um ar que não era meu e eu nem
Como ninguém viesse, apertei novamente sequer merecia. O ar de nós outros, os pobres,
o botão. Moreira esboçou um gesto como se era mais quente e parado; tinha poeira e
quisesse deter meu braço, evitar que eu fumaça, o ar dos pobres.”
tocasse outra vez; sua mão estava trêmula, (Rubem Braga, 200 crônicas recolhidas)
ele parecia ter medo. Mas naquele mesmo
instante a porta se abriu, e uma empregada 1. O texto acima, transcrito integral-
de meia idade, de uniforme, nos atendeu. mente, é uma crônica, texto curto que

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 125

fornece tantos detalhes, que compete aflições do dia, como a última luz na
ao leitor preencher possíveis lacunas varanda.
narrativas. Entra direto no episódio e E comecei a sentir falta das pequenas
logo termina. Segundo informações brigas por causa do tempero na salada – o
do texto, descreva a condição socioe- meu jeito de querer bem. Acaso é saudade,
conômica das personagens. Senhora? Às suas violetas, na janela, não
lhes poupei água e elas murcham. Não tenho
2. Explique como se sentia Moreira ao botão na camisa, calço a meia furada. Que
chegar ao prédio. Transcreva frag- fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós
mento do texto que comprove sua sabe, sem a Senhora, conversar com os
resposta. outros: bocas raivosas mastigando. Venha
para casa, Senhora, por favor.”
3. Qual o clima ou ambiente que predo- (Dalton Trevisan)
mina na crônica?
1. Em que modalidade o texto pode ser
4. Descreva os sentimentos e reflexões classificado?
que a visão do apartamento e do mar
despertaram no narrador. 2. Qual é o apelo do narrador?

3. Explique a forma pela qual o narrador


5. Dê uma interpretação possível ao
expressa que sente ausência da mulher.
título da crônica “Os perseguidos”.
O narrador expressa sentimentos?

4. Observe que a palavra Senhora está


.........................................
em maiúscula. O narrador sugere a
TEXTO 23
......................................... comparação da mulher a Santa Nossa
Senhora. Reescreva uma expressão do
APELO texto que comprove está opinião.

“Amanhã faz um mês que a Senhora está 5. “Nenhum de nós sabe, sem a Senhora,
longe de casa. Primeiros dias, para dizer a conversar com os outros: bocas raivo-
verdade, não senti falta, bom chegar tarde, sas mastigando.” Explique o signifi-
esquecido na conversa de esquina. Não foi cado desta frase.
ausência por uma semana: o batom ainda no
lenço, o prato na mesa por engano, a imagem
.........................................
de relance no espelho.
TEXTO 24
Com os dias, Senhora, o leite pela .........................................
primeira vez coalhou. A notícia de sua perda
veio aos poucos: a pilha de jornais ali no RETRATO
chão, ninguém os guardou debaixo da escada.
Toda a casa era um corredor deserto, e até o “Eu não tinha este rosto de hoje,
canário ficou mudo. Para não dar parte de assim calmo, assim triste, assim magro,
fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. nem estes olhos tão vazios,
Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, nem o lábio amargo.
sem o perdão de sua presença a todas as Eu não tinha estas mãos sem força,

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126 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

tão paradas e frias e mortas; sustentação a Pitta. Ele diz se basear no


eu não tinha este coração critério da proporcionalidade entre os
que nem se mostra. partidos, previsto no regulamento interno
Eu não dei por esta mudança, da Câmara.
tão simples, tão certa, tão fácil: Partidos da oposição contestam essa
— Em que espelho ficou perdida distribuição. Uma aliança entre o PPS e PSB
a minha face?” foi anunciada ontem com o objetivo de dar à
(Cecília Meireles) oposição mais uma vaga na comissão.
O pedido de impeachment deve ser
(O texto acima é um poema. Lembre-se de apresentado até o fim desta semana à
que poesia pertence a um gênero literário Câmara Municipal pelo presidente da
chamado gênero lírico e de que nesse OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil),
gênero nós não falamos em narrador, e Rubens Approbato Machado.
sim em “eu lírico”: trata-se de um “eu” no A denúncia será baseada em acusações
poema que fala de si mesmo.) feitas pela ex-primeira-dama Niceia e na
condenação do prefeito por improbidade
1. No poema acima o “eu lírico” revela administrativa no Tribunal de Justiça de São
transformações pelas quais passou. Paulo.
Explique o tipo de transformações (...)
ocorridas ou em que aspecto sofreu Com a criação do bloco PPS e PSB,
transformações. passamos a ter direito a uma vaga porque
agora somos três vereadores (dois do PSB e
2. Explique como era o “eu lírico” interi- um do PPS)”, afirmou o vereador Nelson
ormente antes e depois, das transfor- Proença (PPS).”
mações. (Folha de S.Paulo, Caderno 1, 22/3/00, p. 4.
João Carlos Silva, da reportagem local.)
3. Explique o significado das palavras
“espelho” e “face” nos versos: 1. Explique a função das palavras entre
parênteses: “Ordem dos Advogados do
“Em que espelho ficou perdida
Brasil”.
a minha face?”
2. Analisando o título da reportagem,
......................................... podemos dizer que ele traz um po-
TEXTO 25 sicionamento ou opinião a respeito
......................................... da notícia apresentada? Explique sua
opinião.
COMISSÃO DO IMPEACHMENT VAI
TER MAIORIA GOVERNISTA
.........................................
“Comissão que analisará o pedido de TEXTO 26
impeachment do prefeito Celso Pitta .........................................
(PTN) na Câmara Municipal terá a maioria “ O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de
governista. Campinas foi multado em R$ 72 milhões
Segundo o presidente da Casa, Armando pela Receita Federal por reter o Imposto de
Mellão Neto (PMDB), dos sete integrantes Renda e as contribuições providenciárias de
da comissão, cinco serão de partidos que dão seus funcionários e não repassá-los aos

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 127

órgãos competentes. O fato surpreende pelo [caminhão, salpica-lhe o paletó ou a


ineditismo. [calça de uma nódoa de lama:
(...) É a vida.
É claro que é apenas uma multa e não O poema deve ser como a nódoa no brim:
constitui prova de nenhum ilícito. O caso, Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
contudo, deve ser remetido ao Ministério (...)”
Público para as devidas apurações. (Manuel Bandeira)
(...)
É evidente que mais esse acontecimento 1. No verso “Aquele em cuja poesia...”,
em nada engrandece a imagem do Judiciário, o pronome demonstrativo “aquele”
já abalada pelo escândalo do prédio do TRT refere-se a qual expressão do texto?
paulistano, envolvendo o juiz Nicolau dos
Santos, e pelo auxílio-moradia que os juízes 2. Explique:
se concederam. a. com que tipo de mancha suja o
E a imagem do judiciário é um dos esteios “eu lírico” compara a poesia?
do Estado de Direito e, consequentemente da b. como foi ela produzida?
democracia. Ela é importante demais para ser c. onde a mancha suja se localiza?
vilipendiada por alguns poucos em
detrimento de toda uma sociedade.” 3. “Aquele em cuja poesia há a marca
(Folha de S.Paulo, 22/3/00, suja da vida.”
Caderno 1, p. 2, Editorial.)
a. Dê um significado denotativo para
a expressão “marca suja”.
1. Ao lermos uma notícia devemos sepa-
b. Dê um sentido conotativo à ex-
rar os dados que são informações dos
pressão “marca suja” no verso:
dados que são comentários. Identifi-
que as informações e os comentários,
4. Explique o título “nova poética”.
opiniões.
5. Você deve ter observado que o texto
2. Explique a frase: “O fato surpreende é uma poesia, escrita pelo poeta mo-
pelo ineditismo”. derno Manuel Bandeira, cuja obra
é marcada pela ironia e pessimismo
diante da vida. Pela forma do texto,
.........................................
em versos, e pelo nome do autor,
TEXTO 27
......................................... você deve ter concluído que se trata
de um texto literário, por isso o
NOVA POÉTICA significado conotativo deverá marcar
o texto. Se você levantou essa hipótese,
“Vou lançar a teoria do poeta sórdido. está correto. O título nos mostra
Poeta sórdido: que a intenção do poeta é propor
Aquele em cuja poesia há a marca suja um estilo diferente de poesia. Assim
da vida. o caminhão, o homem engomado,
Vai um sujeito, a mancha de lama só podem ser
Sai um sujeito de casa com a roupa de entendidos simbolicamente, ou seja,
[brim branco muito bem engomada, e no sentido conotativo. (veja teoria na
[na primeira esquina passa um página 106.)

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128 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Pergunta: interprete o que significa: E então de repente invadiram a avenida


[central
a. o caminhão.
Mas que legal
b. a mancha de lama.
E meu povo vestido de tanga adentrou
c. o homem de paletó branco.
[ao coral
Um velho cacique dos pampas sacou
6. Explique que tipo de leitor é represen-
[do pistom
tado pelo homem de paletó branco.
Retire um verso que comprove a sua E deu como decreto mais um carnaval
resposta. E assim a 22 daquele mês de abril
Fundaram a Escola de Samba do Pau-Brasil
7. Concluindo, explique que tipo de (Luís Gonzaga Jr. & Ivan Lins)
poesia é criticada e o que seria a
“nova poesia” proposta por Manuel A letra da música Desenredo, apesar
Bandeira. de ser contemporânea a nós, apresenta
pontos de contato com a 1a fase do
Modernismo. Justifique essa afirmação,
......................................... apontando nesse poema elementos co-
TEXTO 28 muns à 1a fase modernista.
......................................... A poesia dialoga com outros textos,
ou seja, há uma intertextualidade sobre
DESENREDO a qual fizemos comentários em nossa
(G.R.E.S. UNIDOS DO BRASIL) introdução teórica. É necessário um certo
conhecimento de mundo extratexto. Se
No dia em que Cabral chegou por aqui ô ô você não estudou nada da história do Bra-
Conforme diversos anúncios de televisão sil colonial, terá um pouco de dificuldade
Havia um coro afinado da tribo Tupi para analisá-la. O professor irá auxiliá-lo.
Formado na beira do cais cantando em Inglês
Caminha saltou do navio soprando um 1. O texto faz referência a qual fato
[apito em free ³ bemol histórico brasileiro?
Atrás vinha o resto empolgado da tripulação
Usando as tamancas no acerto da marcação 2. Existem no texto elementos que pa-
tomando garrafas inteiras de vinho escocês recem estranhos, fora de contexto.
Partiram num porre infernal por dentro Cite-os.
[das matas ô ô
Ao som de pandeiros, chocalhos e acordeom
3. A respeito desses elementos que você
Tamoios, tupis, tupiniquins, acarajés ou
localizou na questão anterior, que
[carijós
estão presentes no texto, explique:
(sei lá quem mais)
Chegaram e foram formando aquele a. por que são estranhos.
[imenso cordão b. a intenção do autor ao colocá-los
Meu Deus quibão no texto.

3. free = livre, liberdade

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FIGURAS DE LINGUAGEM · 129

4. Explique o sentido crítico que podem — Então, doutor, não é possível tentar
ter as expressões no texto: [um pneumotórax?
a. “anúncios de televisão” — Não. A única coisa a fazer é dançar um
b. “cantando em Inglês” [tango argentino.”
(Manuel Bandeira)
5. Explique o sentido da expressão “Ca-
minha saltou do navio soprando um
Manuel Bandeira é um poeta moderno,
apito em free* bemol”.
do século XX (1886-1968). Entre outras
características, sua poesia é marcada pelo
6. “E deu como decreto mais um carna- pessimismo e ironia crítica diante da vida;
val” / “Fundaram a Escola de Samba expressão de sentimentos humanos e da
do Pau-Brasil” crítica aos problemas sociais, em muitos
Explique a crítica presente nos versos poemas.
acima. Ainda jovem tornou-se tuberculoso
– doença que não tinha cura na época
7. Explique o significado do título do – e isso explica em parte seu espírito
poema. irônico e crítico que não poupa nem a si
mesmo (veja o poema acima). Sentiu-se
perseguido por toda a vida pelo fantasma
......................................... da morte, por isso não se casou, não teve
TEXTO 29 filhos. Ele mesmo se define como uma
.........................................
“vida inteira que poderia ter sido e que não
foi”, no poema que você leu.
PNEUMOTÓRAX ⁴
Estas são informações extratexto, ou
exteriores ao texto, importantes para que
“Febre, hemoptise ⁵, dispneia ⁶ e suores
você faça a análise proposta, abaixo.
[noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que
1. Explique a função da linha pontilhada
que é colocada no meio do texto.
[não foi.
2. Qual é a expectativa do paciente
Tosse, tosse, tosse.
em relação à sua doença, antes de
Mandou chamar o médico:
procurar o médico?
— Diga trinta e três.
3. Explique o significado da resposta do
— Trinta e três ... trinta e três... trinta e
médico, recomendando ao paciente
[três...
que dançasse um tango.
— Respire. 4. O texto é um exemplo de uma nar-
......................................... rativa lírica em versos. Reescreva o
— O senhor tem uma escavação no texto em um pequeno parágrafo, com
[pulmão esquerdo e o direito infiltrado. discurso indireto, narrado.

4. pneumotórax: tipo de tratamento médico de doenças pulmonares.


5. hemoptise: eliminação de sangue de origem pulmonar, pela boca.
6. dispneia: dificuldade na respiração.

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130 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS


......................................... .........................................
TEXTO 30 TEXTO 31
......................................... .........................................

MÃOS DADAS TERESA

“Não serei poeta de um mundo caduco. A primeira vez que vi Teresa


Também não cantarei o mundo futuro. Achei que ela tinha pernas estúpidas
Estou preso à vida e olho meus Achei também que a cara parecia uma perna
[companheiros. Quando vi Teresa de novo
Estão taciturnos mas nutrem grandes Achei que os olhos eram muito mais
[esperanças. [velhos que o resto do corpo
Entre eles, considero a enorme realidade. (Os olhos nasceram e ficaram dez
O presente é tão grande, não nos afastemos [anos esperando que o resto do
Não nos afastemos muito, vamos de [corpo nascesse)
[mãos dadas. Da terceira vez não vi mais nada
Não serei o cantor de uma única mulher, Os céus se misturaram com a terra
[de uma história, E o espírito de Deus voltou a se mover
não direi os suspiros ao anoitecer, [sobre a face das águas.”
[a paisagem vista da janela, (Manuel Bandeira)
não distribuirei entorpecentes ou cartas
[de suicida, Sobre o poema acima, podemos dizer
não fugirei para as ilhas nem serei que todas as opções são corretas, EXCETO
[raptado por serafins (espécie de anjo). a que afirma que o texto de Bandeira:
O tempo é a minha matéria, o tempo a. dessacraliza a poesia romântica.
[presente, os homens presentes, b. expressa o modo infantil com que o
a vida presente. autor vê a realidade.
(Carlos Drummond de Andrade)
c. adota estruturas métricas anticonven-
cionais.
1. Explique o significado de “mundo d. trata o amor de uma forma inusitada.
caduco”. e. faz o tempo psicológico não correspon-
dente ao tempo real.
2. “O presente é tão grande, não nos afas- .........................................
temos. / Não nos afastemos muito, TEXTO 32
vamos de mãos dadas.” Nestes versos .........................................
o “eu lírico” faz um apelo aos leitores. “Quando eu tinha seis anos
Explique-o. Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
3. Explique o significado dos versos “Tam- Hoje não ouço mais as vozes daquele
bém não cantarei o mundo futuro” [tempo
“não fugirei para as ilhas nem serei Minha avó
raptado por serafins”. Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos?

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GABARITO · 131

— Estão todos dormindo TEXTO 2


Estão todos deitados
1. Vieira afirma que o coração humano,
Dormindo
ou seja, o seu mundo subjetivo ou
Profundamente.”
interior é maior que o mundo natural,
(Manuel Bandeira, Estrela da vida
inteira. 11. ed., Rio de Janeiro,1986.) exterior, apesar de ele ser grandeza: o
mar, apesar de “monstro indomável”,
1. “Hoje não ouço mais as vozes daquele é detido pelas areias; as árvores, apesar
tempo” de exuberantes, são fixas no solo;
Em relação ao verso acima, explique: cada espécie animal contenta-se com
seu hábitat. O “monstro-homem”,
a. de que tempo fala o “eu lírico”?
porém, é inconstante, mutável, não se
b. de quem seriam as vozes que não
contenta com nada, nada o satisfaz.
ouve mais, e o que elas representa-
vam para ele? 2. A visão que Vieira sustenta a respeito
do ser humano é negativa: sua am-
2. Responda aos itens a seguir:
bição e sede de poder e glória são
a. Levando em conta o contexto do insaciáveis.
poema, explique a diferença de
TEXTO 3
sentido entre adormecer (verso 3)
e dormir (verso 11). 1. As palavras do Pe. Vieira teriam por
b. Em qual dos versos prevalece o objetivo transformar para melhor o
significado conotativo? Explique ser humano.
por quê.
TEXTO 4
1. a. Farinha e erva, respectivamente
b. Os destinatários da mensagem
Gabarito são prisioneiros e o que eles mais
desejam é a liberdade. Ao criar a
TEXTO 1 comparação “saúde é como liber-
1. De repente o riso fez-se pranto / fez-se dade”, eleva ao grau máximo a im-
do amigo próximo o distante portância de se ter a saúde, de não
se pegar Aids. Quer convencer os
2. Silencioso e branco como a bruma presidiários de que só damos (eles
deram) valor à liberdade quando a
3. a. o vento perdemos, assim como só darão
b. Que desfez a última chama dos valor à vida quando estiverem
olhos condenados à morte pela Aids.
c. Todo o poema é marcado pela
antítese que revela a mudança de 2. a. Plínio Marcos utiliza-se da lingua-
estado de espírito do “eu lírico”: gem coloquial, com gírias e ex-
antes e depois da separação da pressões populares, que considera
pessoa amada. Antes era alegria, conhecida no universo margina-
prazer, amizade, paixão; depois, lizado do presidiário, geralmente
tristeza, sofrimento, indiferença, não escolarizado, sem acesso à
abatimento. língua culta.

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132 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

b. Resposta pessoal, orientada pelo uma entrevista para ser admitido em


professor. Observar o uso popular um emprego, a norma popular pode
do tu. Sugestão: significar não ser contratado.
Eu não lhes estou dando essa
mensagem para assustá-los, então, 2. O comentário do jornal questiona
conscientizem-se! Não é porque os o posicionamento do educador em
senhores estão presos que se tor- sua introdução, ao perguntar se não
naram puros ou inocentes. Muito haveria erro na construção sintática
pelo contrário, a prisão torna a “A gente cheguemos”. Influencia a
pessoa — que nela entra — pior do opinião do leitor, dá uma visão errada
que era antes! Mas é preciso que do pensamento do estudioso ao leitor.
cada um se cuide, ninguém pode
TEXTO 7
cuidar de seu próximo quando o
assunto é Aids! Então já sabem: 1. Não havia funcionários na loja, apa-
transem só com o consentimento rentemente.
do parceiro, e sempre usando pre-
servativo. (pausa) 2. Não, nenhuma das inferências estão
corretas. A primeira blusa seria para a
TEXTO 5 narradora, não por necessidade, mas
por ser “linda e original”; a segunda
1. b seria para presentear um amigo.

TEXTO 6 3. Segundo a narradora, a sua situação


financeira no momento em que narra
os fatos decaiu, quando diz “pensar
1. Paulo Freire defende o respeito à
que um dia tive dólares”.
Norma Popular que a criança aprende
em seu meio social, onde ela é utili- TEXTO 8
zada. Não se trata de tirar do aluno
a sua linguagem e colocar em seu 1. a
lugar a norma culta, e sim de somar
TEXTO 9
a ela outra norma, comum à classe
dominante escolarizada, que possui 1. Quando o mendigo diz “você mora
o status de excluir aqueles que não na casa do homem, come na casa do
a dominam do processo social: tra- homem” coloca o genro na mesma
balho, universidade, ascensão social. condição de “mendigo”, que vive à
A pessoa que não dominar a norma custa do deputado.
culta estará condenada à sua condição
social, excluída da ascensão social, TEXTO 10
da busca de sua dignidade como 1. (e), (a), (f), (d), (c), (b)
cidadã. Não se trata, em língua, de
certo ou errado, e sim de adequação 2. “se fôssemos veludos e quadrúpedes”
ao contexto social, de sobrevivência,
às vezes. Com os amigos, num bar 3. A expressão refere-se ao fato de o
popular, é errado utilizar a norma homem ter perdido os pelos e deixado
culta, se ninguém a usa; mas, em de ser quadrúpede.

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4. Sim, define-o como um mamífero que 4. Sim, o objeto que o narrador tanto
deixou de ser quadrúpede: “Para os cultua colocou-o na prisão.
outros mamíferos a nossa nudez pode
parecer repugnante...”. 5. O fato de ter sido preso por conta de
um celular comprova o ponto de vista
5. Os vestuários, além de servir de pro- do narrador, afinal salvou o seu dono,
teção, abrigo, servem para esconder é a prova de sua modernidade.
a feiura ou degenerescência humana,
ou seja, curar sua vaidade ferida. 6. O texto, escrito no período inicial da
popularização do celular (1993/94),
6. Se a perda da beleza natural significa faz uma crítica ao mercado de con-
decadência da espécie em relação aos sumo que leva as pessoas a adquirir
mamíferos, a capacidade de criar e de um determinado produto ou marca,
se adaptar que ele possui é esplêndida, não por necessidade ou para a melhora
incomparável no reino animal. O ho- da condição básica de vida, mas por
mem criou uma cultura, conjunto de modismo, por status.
hábitos, valores, costumes e crenças,
um mundo artificial para que pudesse TEXTO 12
sobreviver, ainda que criticável em
1. As palavras colocadas entre parênteses
muitos aspectos.
ou, às vezes, entre travessões servem
TEXTO 11 para isolar informações complemen-
tares, secundárias, que explicam ou
1. a. “eu tenho ambições insignifican- ampliam um conceito dado anterior-
tes, mesquinhas”. mente. No texto quantifica o número
b. “uma sensação indescritível, de de caracteres do código genético hu-
poder” mano, expresso anteriormente.
c. “o homem rico, grã-fino, tinha
2. Identificar o código genético para
um celular”
“compreender melhor o funciona-
d. “celular é totalmente diferente,
mento da vida”.
superior”
3. Colhem-se amostras de material gené-
2. O celular é portátil, podemos levá-lo a
tico das várias partes do mundo, das
qualquer lugar.
diferentes raças.
3. O celular dá ao narrador a sensação de
4. As ideias antirracistas foram derru-
superioridade em relação aos outros,
badas pela confirmação de que o
dá status social, colocando-o numa
homem surgiu na África e espalhou-se
situação social superior àquela em que
pelos demais continentes, sofrendo
se encontra, é símbolo de moderni-
mutações físicas para adaptar-se ao
dade.
meio geográfico em que se fixou.
Observação: Aliás, esta é a marca Portanto, a aparente diversidade racial
registrada da propaganda, faz com é sustentada por uma única origem
que qualquer produto se torne indis- genética.
pensável.

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134 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

TEXTO 13 b. A lua é redonda e suas pequenas


manchas parecem os furinhos de
1. d um queijo.
2. A mãe julgou que o filho estava men- 6. c
tindo.
TEXTO 14
3. A mãe achou que o filho não aprendeu
a lição porque a punição inicial de 1. Desculpe a pergunta, mas o senhor
colocá-lo de castigo foi pequena. Por não teria alguma enxada meio velha
isso, considerou que cortar a sobre- para nos ceder?
mesa e proibir futebol seriam punições TEXTO 15
maiores já que o filho ficaria privado
do que mais gostava: doce e lazer. 1. b
Desta forma esperava que o filho se
TEXTO 16
corrigisse.
1. Os pais pensam que os adolescentes
4. A poesia, como uma forma de arte, agem apenas para contrariar as suas
recria a realidade pela imaginação e opiniões, “o contrário do que eles
criatividade do poeta, para expressar desejam”.
uma visão de mundo, uma interpreta-
ção da realidade concreta dos fatos. 2. Os filhos julgam que nem tudo o
Não há preocupação com a lógica que os pais fazem ou dizem deve ser
dos fatos e da linguagem, quer criar entendido literalmente, ao pé da letra,
uma beleza de imagens gerada pela mas há uma segunda intenção não
associação de ideias ou sonoridade revelada e compete a eles interpretá-la.
das palavras, por exemplo. Pode não
ser uma verdade racional, mas é uma 3. Ilustrar ou exemplificar seu ponto de
verdade humana, uma revelação do vista a respeito do comportamento do
interior do ser humano. Por isso, o adolescente.
médico falou que o menino era um
TEXTO 17
caso de poesia, ou seja, era muito
criativo e conseguia voar nas asas da 1. “a ordem” ( estudar, trabalhar...)
imaginação. Aliás, é muito comum a
criança confundir realidade e imagina- 2. Eram parecidos com os atuais ado-
ção, e os adultos interpretarem como lescentes, não davam importância à
mentira. ordem social estabelecida: estudar,
trabalhar, casar, ter filhos. Usavam
5. a. O dragão é um animal mitológico, drogas e a liberdade sexual. Porém,
personagem comum das histórias esse comportamento fazia parte de
medievais, que cospe fogo. Assim o uma ideologia, com a intenção de
menino utilizou-se de seu conheci- protestar e romper com a ordem
mento de mundo, desconhecendo social estabelecida, burguesa, da qual
que dragões da independência é discordavam. Já os atuais adolescentes
o nome dados aos soldados da são vazios ideologicamente, não têm
cavalaria. objetivos, não querem nada.

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TEXTO 18 TEXTO 20

1. O princípio foi apresentado a fim 1. Pensa-se erroneamente que as leis são


de criticar o abuso da ação violenta criadas com o objetivo de defender os
dos policiais na execução de suas direitos do povo, da coletividade.
funções que resultam em mortes de
delinquentes perseguidos. 2. O objetivo da lei é trazer vantagens
à classe dominante, aos poderosos,
2. A polícia deve despertar o respeito, não atender aos seus interesses.
o medo.
3. A violência organizada é o mecanismo
3. O comandante da polícia decidiu afas- “legal” de impor as leis quando não são
tar os policiais envolvidos em mortes acatadas pelo povo: violência física,
de civis da atividade de policiamento perda de liberdade (prisão) ou mesmo
nas ruas, remanejando-os para outras a morte.
funções internas ou burocráticas da
polícia. TEXTO 21

4. Esses políticos pretendem criar um 1. O narrador encontra-se em uma casa


clima de insegurança entre a popula- confortável, na paz de seu belo jardim,
ção, a fim de se elegerem prometendo sem problema aparente: o perfume
segurança aos eleitores. das plantas, as borboletas, o reflexo
da luz do sol. Nenhum problema ou
conflito transparece. Esse ambiente
TEXTO 19
de conforto e paz é quebrado pela
presença de um cão “triste” “doente”,
1. A presença da especialização gera
“com todo o corpo ferido”, “pelo ralo”,
consequências negativas em nossa
“o olhar dorido e profundo”, como
sociedade.
“olhos das pessoas muito idosas”.

2. As pessoas tornam-se dependentes 2. Sentiu-se envergonhado de interrom-


dos especialistas para executar as per o sono do pobre cão.
atividades mais corriqueiras e práticas,
como o conserto e funcionamento de 3. O narrador sabe que o cão necessita
eletrodomésticos. de ajuda, mas sente-se impotente para
fazê-lo, ou porque não pode mesmo
3. Por não sermos especialistas nos pro- ou porque não quer se envolver, perder
dutos que compramos, no seu custo tempo. Luta com sua consciência.
de produção, seu valor e até mesmo na
sua utilidade, fazemos compras sem 4. Apesar da presença do cão mexer com
saber se tal produto realmente vale o a consciência do narrador, levá-lo à
que pagamos e se de fato é importante reflexão, a sua situação não se altera,
para nós. Somos manipulados pela volta ao estado inicial. Foi uma queda
propaganda, simplesmente. passageira: o cão seguira o seu destino
e o narrador, ao seu conforto inicial.

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136 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

5. A simples “pena” ou dor pelo so- 5. (Sugestão) São homens perseguidos


frimento humano é inútil, se não pelo sofrimento, pela pobreza, pela
resultar em atitudes práticas. Não falta de perspectiva de vida.
podemos passar a vida intocáveis
pelo sofrimento humano, é necessário TEXTO 23
sermos solidários. Apesar do desejo
que muitas vezes temos de ajudar 1. O texto apresenta a estrutura de uma
o próximo, sentimo-nos impotentes, carta dirigida. O narrador dirige-se
impossibilitados de socorrer. Às vezes constantemente à destinatária que
não podemos mesmo, às vezes não está distante.
queremos comprometer a paz de nosso
jardim. Geralmente falta iniciativa, 2. O narrador apela para que a mulher
organização comunitária e o exemplo que o deixou volte para casa.
governamental, incapaz de mobilizar
a sociedade. 3. Em nenhum momento o narrador fala
em sentimentos, amor, paixão. Sente
TEXTO 22 a falta da mulher na organização,
limpeza da casa. Sente falta da mulher
1. Moreira, recém-saído da prisão, onde “empregada”, “cozinheira”.
passou um mês, sendo até espancado.
Usava roupas sujas, tinha um cheiro 4. “...eu ficava só, sem o perdão de sua
desagradável, abatido. O amigo, nar- presença a todas as aflições do dia,
rador, apesar de saber que está em como a última luz na varanda.”
melhor aparência, é pobre, mora na
periferia ou num bairro pobre: “ruas 5. O narrador refere-se aos convidados
de paralelepípedos desnivelados”. à mesa, seus amigos: a mulher é uma
grande anfitriã: sabe conversar.
2. Ele estava receoso de ir até ao aparta-
mento, com vontade de desistir de ir TEXTO 24
lá: “Moreira esboçou um gesto como
se quisesse deter meu braço, evitar que 1. O texto fala de transformações em seu
eu tocasse outra vez; sua mão estava corpo, no rosto, nas mãos, mas, na ver-
trêmula, ele parecia ter medo”. dade, deseja falar de transformações
interiores, das suas emoções, da sua
3. Há um clima de tensão e mistério, visão de mundo.
silêncio. Não há diálogos, só reflexões
do narrador. 2. Antes o “eu lírico” tinha alegria de
viver e forças interiores, era feliz; agora
4. O apartamento era muito luxuoso, está triste, abatido ou desmotivado e
digno de admiração, mas não “me infeliz.
espantara”. O que mais marcou o
narrador foi a visão do mar: o mar 3. A palavra espelho pode ser entendida
privilegiado dos ricos parecia mais como “experiências amargas vividas”
bonito, mais azul. Até o ar era mais e face pode significar “meu eu origi-
limpo, contrastando com o ar poluído nal”, o que “eu era antes”.
dos pobres.

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TEXTO 25 5. a. O poeta.
b. A poesia.
1. R. Explicar a sigla OAB, citada anteri- c. O leitor.
ormente.
6. É o leitor sem consciência crítica,
2. Sim, ao dizer que o governo tem alienado dos problemas do mundo ou
a maioria na comissão, o título já dos problemas sociais, que acha a vida
denuncia que a comissão é “viciada”, um mar de rosas. É o que nos revela
ou seja, ela tenderá a favor do prefeito. o verso: “Fazer o leitor satisfeito de si
dar o desespero”.
TEXTO 26
7. Bandeira crítica o poeta que idealiza o
1. Os dois primeiros parágrafos são mundo, que não desperta consciência
informações e os dois últimos são crítica no leitor, e o leitor sem visão
comentários sobre a notícia. crítica da realidade.

2. A multa aplicada pela Receita Federal TEXTO 28


ao TRT foi um fato inédito, nunca a
Receita agiu assim. 1. Refere-se ao desembarque de Pedro Ál-
vares de Cabral e de sua tripulação no
TEXTO 27 descobrimento do Brasil e o encontro
com os índios, nativos brasileiros, em
1. Poeta sórdido. 1500.

2. a. Compara a uma mancha de lama 2. “anúncios de televisão”, “coro afinado


ou barro. da tribo Tupi / Formado na beira do
b. A mancha foi produzida pela cais cantando em Inglês”, “acarajés
roda de um caminhão que passou (comida baiana)”, “invadiram a ave-
numa poça de água. nida central (centro urbano, prova-
c. A mancha de lama foi espirrada velmente RJ)”, “Um velho cacique
pelo caminhão no terno branco dos pampas (RS: talvez referência à
e engomado de um homem que ditadura de Getúlio Vargas) sacou do
passava pela rua. pistom (instrumento musical)”/ “E
deu como decreto mais um carnaval”.
3. a. Sinal de identificação sem lim- “Fundaram a Escola de Samba do
peza (por exemplo: uma placa Pau-Brasil.”
que marca quilômetro nas es-
tradas sem limpeza, empoeirada, 3. a. São estranhos porque esses ele-
riscada), ou seja, uma vida empo- mentos não pertencem ao século
eirada, cheia de lixo. XV, estão presentes na história
b. Poesia que expressa os aspectos moderna e atual do nosso país.
negativos, desgraças, infelicidades b. A autor tem uma intenção de
da vida ou do ser humano. provocar sátira crítica sobre a colo-
nização portuguesa, estendendo-a
4. Nova forma de fazer poesia. até nossos dias.

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138 · CAPÍTULO 4 — INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

4. a. Refere-se ao consumismo desen- TEXTO 29


freado de nossa sociedade, provo-
cado pelos meios de comunicação, 1. Representa o silêncio em que só per-
especialmente pelas propagandas cebe a respiração do paciente.
de TV. Relaciona o descobrimento
do Brasil ao consumismo e apetite 2. Ele acha que sua doença não é tão
de lucro que marcou a coloni- grave, ficaria curado com um simples
zação, que buscava riquezas em tratamento.
novas terras, ouro e produtos
comerciais. 3. Olhe, meu amigo, você vai morrer
b. Faz referência à moderna coloni- logo, sua doença não tem cura. Apro-
zação americana, especialmente veite o pouco de vida que você tem,
nos países de terceiro mundo, divirta-se, vá dançar. (Há uma espécie
na grande corrida capitalista, ini- de humor negro nas palavras do
ciada, especialmente, depois da médico.)
Segunda Guerra. Fomos colônia
4. (Sugestão) Um paciente com pneu-
portuguesa e americana, sugere o
monia, apresentando febre, dificulda-
texto. No fundo seria o mesmo
des para respirar, vomitando sangue
processo: no passado levaram pau-
procura um médico. Enquanto o mé-
-brasil, hoje dólares.
dico examina sua respiração com um
estetoscópio, ele pergunta se dá para
5. Liberdade em meio-tom, ou falsa liber- fazer tratamento por pneumotórax.
dade, eram as promessas que Caminha Terminando de examiná-lo, o médico
fez aos índios para conquistá-los, explica-lhe o estágio de sua doença e
dando espelhos e bugigangas e com responde à sua pergunta dizendo que
o pretexto de evangelizá-los. deveria divertir-se, dançar um tango
argentino...
6. No Brasil nada é sério. Temos até as TEXTO 30
expressões “terminar em pizza”, “levar
vantagem em tudo”. Os colonizadores 1. O poeta quer dizer o mundo, ou
não levavam a sério a cultura dos seja, os homens agem irracionalmente,
índios, queriam apenas as riquezas da “perderam o juízo” são responsáveis
nova terra: o Pau-Brasil, como é no pelos problemas sociais, as guerras, as
capitalismo moderno. desgraças em que vivemos.

7. Desenredo pode ser entendido como 2. Ele convida os leitores, ou os homens,


resultados finais, o desfecho negativo a unirem-se, a darem-se as mãos,
da colonização primitiva e moderna serem solidários e assumirem com ele
do Brasil. O texto tem a intenção de a responsabilidade pela transformação
narrar novamente a história do Brasil, do presente.
negando a história oficial ensinada
3. R. O “eu lírico” quer dizer que sua
pelos dominadores.
poesia não é sonhadora, que fica
idealizando um futuro melhor. Ele

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GABARITO · 139

não quer fugir da realidade presente, b. São vozes de pessoas queridas de


sonhar com ilhas distantes ou com sua infância que estão em sua
anjos, ele quer enfrentar os problemas lembrança. Essas pessoas represen-
do presente. tam amor, carinho, segurança que
tinha na sua infância, quando era
TEXTO 31 feliz.

2. a. No verso 3 significa o sono normal


1. b
de todos os dias para descansar
o corpo; no verso 11, dormir
TEXTO 32 significa morrer, deixar de viver.
b. No verso 13, pois o sentido é
1. a. Ele fala do tempo de sua infância. simbólico, figurado.

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