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O aval na cédula de produto rural

O AVAL NA CÉDULA DE PRODUTO RURAL


Revista de Direito Recuperacional e Empresa | vol. 11/2019 | Jan - Mar / 2019
DTR\2019\24622

Angelo Gamba Prata de Carvalho


Mestrando no programa de pós-graduação em Direito da Universidade de Brasília (UnB).
Membro da Comissão de Direito do Agronegócio da OAB/DF.
Advogado.angelogpc@gmail.com

Área do Direito: Bancário


Resumo: A Cédula de Produto Rural é instrumento jurídico de fundamental importância
para o financiamento e desenvolvimento da produção agrária brasileira. No entanto,
diversos institutos consagrados na teoria geral dos títulos de crédito não se aplicam de
maneira completamente adequada a este título, especialmente em virtude da
transferência da obrigação de entrega de produto rural na CPR física. Grande parte
dessas dificuldades se encontra no instituto do aval. O presente trabalho tem por
objetivo avaliar o cabimento do aval na Cédula de Produto Rural, bem como refletir
sobre soluções sobre seus efeitos.

Palavras-chave: Cédula de Produto Rural – Agronegócio – Aval – Títulos de crédito


Abstract: The Rural Product Note is an important legal instrument for financing and
developing the Brazilian agribusiness. However, many classical legal concepts do not
exactly fit into this instrument, especially because of its intrinsic obligation to deliver
agrarian goods. At a great extent, these difficulties come from the issuance of sureties.
This paper aims to analyze the possibility of giving sureties on these notes and also to
think about its effects.

Keywords: Rural Product Note – Agribusiness – Sureties – Credit notes


Sumário:

I.Introdução - II.As garantias cartulares na Cédula de Produto Rural - III.Efeitos do aval


na CPR física - IV.O aval na CPR e a recuperação judicial - V.Conclusão - Referências

I.Introdução

O Direito do Agronegócio é um ramo do direito em constante construção, de


desenvolvimento necessário em virtude das insuficiências do direito convencional (ou
“urbano”) perante às peculiaridades oriundas da atividade econômica empreendida no
campo. Tendo em vista o vazio normativo e a altíssima relevância econômica do setor
para a economia brasileira, paulatinamente desenvolveram-se, para além das linhas de
crédito subsidiadas e outras formas de intervenção do poder público no âmbito privado,
instrumentos econômicos privados destinados a facilitar a circulação de riqueza no meio
rural.

É este o caso da Cédula de Produto Rural (CPR), título de crédito representativo de


promessa de entrega de produto rural obrigatoriamente emitido por produtor rural. Ao
longo dos anos, a chamada CPR física – que efetivamente contém promessa de entrega
de produto rural – passa a ganhar relevância no setor financeiro, de maneira que a CPR
financeira – que igualmente representa produto rural, mas contém promessa de
pagamento relativo ao valor oriundo da liquidação financeira da mercadoria em questão
– passou a ser amplamente difundida. Por representar, em linhas gerais, promessa de
pagamento, a CPR financeira não apresenta grandes dificuldades para a recepção dos
institutos clássicos de direito cambiário.

Todavia, o caráter sui generis da CPR física produz uma série de desafios pouco
enfrentados pela doutrina e pela jurisprudência. Urge, dessa maneira, que se proceda à
análise das fontes normativas disponíveis e da prática comercial para verificar em que
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medida a teoria geral dos títulos de crédito se lhes aplica. Por certo, tal esforço
interpretativo decorre diretamente da falta de um desenvolvimento amplo de uma teoria
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geral dos títulos de crédito agrários , que de pouco a pouco vem sendo construída pela
doutrina brasileira, porém ainda de forma fragmentária.

O aval, nesse sentido, se apresenta como um dos grandes desafios do acolhimento de


institutos da teoria geral dos títulos de crédito pelos títulos agrários e, especificamente,
pela CPR. Considerando tais dificuldades, o presente cuidará do âmbito de aplicação e
dos efeitos do aval na CPR, tendo em vista a sua essencial serventia econômica para a
difusão do financiamento privado da produção agrícola. Assim, em um primeiro
momento, será analisada a possibilidade jurídica de prestação de aval na CPR. Por fim,
serão explorados os seus efeitos, propondo-se algumas soluções oriundas da autonomia
privada para lidar com o silêncio – muitas vezes eloquente – do legislador.

II.As garantias cartulares na Cédula de Produto Rural

O efetivo cumprimento da sua função, por parte dos títulos de crédito, de facilitação da
circulação da riqueza depende fundamentalmente da produção de certeza e segurança
no âmbito das relações comerciais. Assim, ao assegurar a certeza na existência do
direito e a segurança na sua realização, os títulos de créditos promovem o crescimento
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de ambientes comerciais que demandam rápida e intensa circulação de mercadorias .
Nesse sentido, pode-se afirmar que a transposição de obrigação meramente contratual
para a seara cambiária exerce essencial função de garantia, reforçando as exigências de
certeza e segurança ao criar vínculos de solidariedade entre os diversos integrantes das
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cadeias circulatórias dos títulos de crédito .

As obrigações cartulares, por si sós, já possuem o condão de viabilizar a circulação do


direito de crédito, motivo pelo qual promove, em nome da operacionalização do
enforcement daquele título, a coobrigação dos integrantes da cadeia. Daí o motivo pelo
qual se pode afirmar que a função de garantia dos títulos de crédito se posiciona na
denominada “teoria fidejussória”, segundo a qual cada devedor é garante da prestação
para com o credor, de sorte que o credor tem o direito de exigir de cada um dos
coobrigados a prestação por inteiro, uma vez que, em favor de todos e de cada um, se
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institui garantia de solução .

Partindo-se do pressuposto de que os títulos de crédito detêm a função econômica de


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reforçar e garantir a segurança do crédito originário da obrigação cambiária , fato
interessante é que, para além das peculiaridades decorrentes dessa função econômica, é
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possível intensificar a certeza do adimplemento tempestivo da obrigação . Mediante a
inserção de garantias à cártula, sejam elas reais ou fidejussórias, o detentor do título de
crédito terá em suas mãos maiores poderes para exigir o valor devido. Assim, as
garantias cartulares têm por finalidade reforçar o elemento de facilitação da circulação
de riquezas que já é ínsito aos títulos de crédito, ao traduzir dupla manifestação de
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confiança na solvabilidade de um devedor e, assim, viabilizar a obtenção de crédito .

As garantias, assim, constituem verdadeiros negócios jurídicos acessórios à obrigação


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subjacente que se pretende reforçar ou assegurar , podendo validar a consistência
prática da obrigação desde o momento do dever de prestar ou desde a constituição
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(superveniente) da relação de garantia . Considerando a natureza dinâmica e móvel dos
títulos de crédito, é natural que sejam as garantias apostas à cártula desde a sua
emissão, de maneira a conferir-lhe, originariamente, maior força. Por certo, conforme
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asseverou Arnoldo Wald , quanto mais “garantido” for o título, maiores serão os seus
atrativos no mercado, ensejando o acesso de seus emitentes a financiamentos em
melhores condições.

Não é por outra razão que garantias fidejussórias não são suficientes para assegurar a
segurança comumente desejada pelos agentes de mercado, que exigem mecanismos
mais eficientes na sua proteção contra a inadimplência, sejam os direitos reais em
garantia clássicos, sejam mecanismos mais modernos como a alienação fiduciária em
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garantia . Tal raciocínio se aplica completamente aos títulos de crédito, que passam a
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agregar, para além da tradicional garantia fidejussória do aval , garantias cedulares
reais, muitas vezes permitindo-se a sua constituição sem a observância dos
procedimentos comuns de registro, substituídos por regras específicas capazes de fazer
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aderir ao título as garantias reais, independentemente de qualquer outro documento . A
relevância das garantais especificamente nos títulos de crédito do agronegócio fica ainda
mais evidente quando se verifica o desenvolvimento de outros mecanismos contratuais
que fazem as vezes de garantias, como ocorre no Seguro-CPR – voltado essencialmente
ao título de crédito objeto do presente trabalho –, regulado pela Circular SUSEP
261/2004 (LGL\2004\92).

A Cédula de Produto Rural se destaca entre os títulos de acredito do agronegócio por


congregar características de diversos títulos para agilizar a negociação de mercadorias e
o financiamento da atividade agrária. Em síntese, a CPR é um título de crédito
representativo da promessa de entrega de produto rural, líquido e certo, exigível pela
quantidade e qualidade do produto nela previsto, emissível por produtor rural,
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cooperativa ou outra associação de produtores rurais . Nesse sentido, como já
entendeu o STJ, a CPR é um “título de crédito apto para formalizar o emprego do capital
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privado no fomento do setor do agronegócio” . A estrutura da CPR permite o
desempenho de uma série de funções, entre as quais, segundo Carlos Alberto Rosal de
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Ávila : (i) a instrumentalização da compra e venda do produto rural; (ii) a prestação de
garantia; (iii) o investimento especulativo; (iv) a função de documento assecuratório da
propriedade de produtos rurais; (v) a aquisição de insumos; e (vi) o financiamento da
produção.

A CPR, dessa maneira, congrega funções de títulos representativos de mercadorias e


títulos de financiamento para instrumentalizar eficientemente a circulação de
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mercadorias rurais, assim fomentando o agronegócio e o seu financiamento . Muito
embora a CPR tenha – como sói ocorrer com os títulos de crédito – força executiva e
simplifique em grande medida operações que antes de seu advento seriam muito mais
complexas, é preciso, ainda, imprimir maior segurança a tais operações. Daí a razão pela
qual a Lei da CPR (Lei 8.929/94 (LGL\1994\67)) dispõe, em seu artigo 5º, sobre as
garantias cedulares aptas a serem apostas à cártula, conferindo ao título credibilidade
muito maior do que sua forma quirografária.

Vale recordar que, embora possa desempenhar essa função, a CPR não é um título de
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financiamento – como é o caso da Cédula de Crédito Rural –, muito embora possa
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cumprir tal função em sua modalidade financeira , mas sim um título representativo de
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mercadoria , motivo pelo qual a constituição de garantia cedular não é seu requisito
essencial. Por certo, a CPR apresenta algumas aproximações com relação às cédulas de
crédito em geral, na medida em que também tem por um de seus princípios a chamada
“cedularidade”, isto é, permite a constituição de garantia diretamente na cédula,
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prescindindo o registro inclusive para as garantias reais . No entanto, diferentemente
das cédulas de crédito em geral, a CPR igualmente admite garantias fidejussórias, entre
as quais se destaca, como se verá ao longo do presente trabalho, o aval.

Nesse sentido, dispõe o artigo 5º da Lei da CPR que “a garantia cedular da obrigação
poderá consistir em:” (i) hipoteca; (ii) penhor; e (iii) alienação fiduciária. Muito embora
o rol do artigo 5º se refira tão somente a garantais reais, apresentando a relevante
peculiaridade da CPR de comportar garantias cedularmente constituídas, trata-se de lista
meramente exemplificativa. Diversos elementos da CPR apontam para tal conclusão,
sendo o mais claro deles o texto expresso do inciso III do artigo 10, segundo o qual “é
dispensado o protesto cambial para assegurar o direito de regresso contra avalistas”. Por
óbvio, se há na lei a menção a avalistas significa que a CPR comporta o aval. Conforme
aduz Arnoldo Wald: “Ora, a lei não usa palavras inúteis, e se há regra sobre direitos em
face de avalistas, é porque o título em tela comporta a concessão de aval, como uma de
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suas cláusulas não-essenciais” . Porém, há algumas evidências que permitem inserir,
com maior rigor lógico, a CPR na sistemática geral dos títulos de crédito.
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O aval na cédula de produto rural

Em primeiro lugar, após a enumeração dos elementos essenciais da CPR pelo artigo 3º
de sua lei de regência, o § 1º estabelece que “Sem caráter de requisito essencial, a CPR
poderá conter outras cláusulas lançadas em seu contexto, as quais poderão constar de
documento à parte, com a assinatura do emitente, fazendo-se, na cédula, menção a
essa circunstância”. Além disso, indica o artigo 10 da mesma lei que se aplicam à CPR,
no que couber, as normas de direito cambial, salvo algumas exceções. Considerando que
as normas gerais de direito cambial no direito brasileiro são ditadas pelo Código Civil de
2002, é perfeitamente aplicável à CPR o artigo 897 do Código Civil (LGL\2002\400), que
dispõe que “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma
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determinada, pode ser garantido por aval” .

Cabe notar, porém, que, muito embora o argumento anterior apresentado seja sedutor,
ele demonstra séria deficiência: sendo a CPR título de crédito representativo de
mercadoria rural, não necessariamente a obrigação insculpida no título corresponderá a
obrigação de pagar soma determinada, mas sim de entregar certa quantidade de
determinada qualidade de produto rural. Seria possível, nesse ponto, argumentar que o
aval somente seria cabível no âmbito da chamada “CPR financeira”, isto é, aquela que,
muito embora represente produto rural, tem sua liquidação mediante o pagamento de
quantia certa. No entanto, não parece adequada a interpretação do Código Civil
(LGL\2002\400) segundo a qual o artigo 897 seria destinado a vedar o aval nas
obrigações de entregar coisa certa – notadamente quando se trata de produtos rurais
que, regra geral, têm sua cotação registrada em bolsas de mercadorias –, mas tão
somente a afastar a garantia do aval das obrigações de fazer, que não contam com a
liquidez que é ínsita (e desejável) aos títulos de crédito.

Por fim, o cabimento do aval na CPR se justifica a partir de leitura funcional dos títulos
de crédito do agronegócio e do instituto do aval: partindo-se do pressuposto de que o
aval não se aplica à cédula de produto rural, pode-se limitar o emprego de tal título de
crédito aos produtores rurais capazes de fornecer garantias reais, assim prejudicando
em grande medida o pequeno produtor. Não é outro o entendimento do STJ, que, em
precedente referente à Cédula de Crédito Rural Pignoratícia, entendeu que “Vedar a
possibilidade de oferecimento de crédito rural direto mediante a constituição de garantia
de natureza pessoal (aval) significa obstruir o acesso a ele pelo pequeno produtor ou só
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o permitir em linhas de crédito menos vantajosas” . Por óbvio, aqui se está falando da
CPR destinada a fomentar propriamente a atividade produtiva, e não a chamada “CPR
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fraudulenta” ou “alugada”, instrumento meramente especulativo .

Assim, sustenta-se ser cabível o aval entre as garantias a serem constituídas no âmbito
da CPR. Todavia, conforme já se adiantou, o aval na CPR apresenta importantes
particularidades em virtude da natureza sui generis do título, que em sua modalidade
física enfeixa não uma obrigação de pagar quantia líquida e certa, mas de entregar coisa
certa. Daí os diversos questionamentos sobre a natureza e a forma de operacionalização
do aval na CPR, como se verá a seguir.

III.Efeitos do aval na CPR física

Conforme exposto previamente, dúvidas não há de que o aval é garantia cabível na


Cédula de Produto Rural, seja por se tratar de instituto amplamente aplicável aos títulos
de crédito, seja pela regência supletiva do Código Civil (LGL\2002\400), seja por sua
função econômica, ao propiciar garantia viável ao pequeno produtor rural com
dificuldades de acesso a linhas de crédito bancário. No entanto, igualmente se viu que a
Lei da CPR não traz quaisquer disposições sobre o aval, limitando-se a mencionar tal
garantia tímida e lateralmente em dispositivo que sequer serve à sua disciplina. Tal
lacuna produz questões de alta indagação sobre o modus operandi do aval na CPR,
considerando a natureza peculiar desse título de crédito.

Adiante-se, desde já, que a grande peculiaridade do aval na CPR reside na possibilidade
de tal título poder ser emitido por duas formas básicas fundamentalmente distintas: a
CPR física, que contém obrigação de entregar produto rural; e a CPR financeira, que, por
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O aval na cédula de produto rural

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mais que esteja lastreada também em produto rural, é liquidada em dinheiro .
Evidentemente não há grandes peculiaridades no aval aposto à CPR financeira, uma vez
que, da mesma forma que ocorre com os títulos de crédito em geral, tornará o avalista
devedor solidário com relação aos demais membros da cadeia, obrigando-se a pagar a
quantia devida pelo sujeito avalizado. No caso das CPR físicas, surgem diversas
dificuldades sobre a aplicação automática dos pressupostos do aval, como se
demonstrará na sequência.

Segundo João Eunápio Borges, o aval é um instituto de direito cambial que tem por
finalidade garantir o pagamento de obrigação alheia, do mesmo modo que o garantiria o
coobrigado cambial, porém sem qualquer vínculo de acessoriedade com a obrigação
27
principal . Dessa maneira, o aval tem por característica distintiva o fato de que “O
avalista é um obrigado cambial que ocupa, no contexto cambiário, a mesma posição
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jurídica objetiva da pessoa a favor de quem avalizou e à qual se equipara” . É esse,
inclusive, o entendimento fixado na Lei Uniforme de Genebra – diploma que o STJ já
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entendeu ser aplicável subsidiariamente à CPR –, cujo artigo 32 estabelece que “O
dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada”.

Acrescenta o autor: “Perante o portador do título, vencido e devidamente protestado,


são todos devedores da mesma espécie, jungidos igualmente, pela solidariedade
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cambial, à obrigação de pagar” . Todavia, o desenvolvimento dos títulos de crédito
produziu elementos como a CPR, que servem não apenas para a constituição de
promessas ou ordens de pagamento, mas também para representar promessas de
entrega de produtos rurais. Daí, inclusive, sua grande importância econômica: a CPR
traz para o financiamento do agronegócio diversos novos players¸ tais como as trading
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companies¸ empresas de insumos e fertilizantes e cooperativas agrícolas .

Uma primeira indagação a respeito da aplicação do aval na CPR, nesse sentido, é sobre
os sujeitos capazes de fazê-lo. Relembre-se que, na forma do artigo 2º da Lei da CPR,
“Têm legitimação para emitir CPR o produtor rural e suas associações, inclusive
cooperativas”. Dessa forma, exigindo a lei que o emitente seja produtor rural e sendo o
aval obrigação cambiária por meio do qual o avalista se torna devedor da mesma
espécie do que o avalizado, seria possível que o avalista não fosse produtor rural? A
resposta para essa questão pode ser retirada da teoria geral dos títulos de crédito. Muito
embora a natureza da obrigação do avalista seja de mesma natureza que a do avalizado,
“Os dispositivos legais não devem ser interpretados no sentido de que o avalista tem a
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mesma obrigação que o avalizado” . Por conseguinte, sendo o aval dotado de
autonomia, seu fundamento decorre não dos requisitos da Lei da CPR, mas dos
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requisitos para o aval que se retiram da legislação específica . Não é por outra razão
que a emissão de CPR em larga medida é realizada mediante a prestação de aval por
parte de instituições bancárias.

A conclusão para a indagação anterior pode ser útil para a reflexão sobre outra questão
fundamental da aplicação do aval à CPR física: ocupando o avalista posição idêntica à do
emissor, fica também o avalista obrigado a entregar produto rural da mesma quantidade
e qualidade estipuladas na cártula? Pode-se exigir isso do avalista, considerando que
este sequer precisa ser produtor rural? Considerando que o pagamento por parte do
avalista faz com que este se sub-rogue nos direitos do credor, sua dívida também será
cobrada cambiariamente do emitente na forma de produtos rurais? Todas essas
questões são decorrências diretas da indefinição jurisprudencial e doutrinária sobre o
aval na CPR física.

Já se falou sobre a viabilidade da garantia da CPR física mediante aval. Resta, agora,
esclarecer seus efeitos. De acordo com Arnoldo Wald, “aquele que avalizar uma CPR
estará assumindo a obrigação de entrega de produtos rurais, da mesma forma que o
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emitente ou o eventual endossatário” . Tendo em vista que a Lei da CPR, em seu artigo
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10, expressamente liberou o endossante da obrigação de entrega do produto rural ,
respondendo tão somente pela existência da obrigação, seria possível sustentar que o
diploma incorreu em silêncio eloquente: sendo da natureza do aval que o avalista tenha
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O aval na cédula de produto rural

as mesmíssimas obrigações que o emitente – ainda que de maneira autônoma –, o


avalista da CPR física igualmente se obriga a entregar produtos rurais. Tal entendimento,
inclusive, é consentâneo com o chamado princípio da especialidade da execução,
segundo o qual não se pode compelir nem o devedor nem o credor a pagar ou receber
prestação diversa da constante do título executivo, de sorte que não se poderia cogitar,
por exemplo, da possibilidade de execução por quantia certa em CPR física – raciocínio
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que igualmente se aplica aos avalistas .

No entanto, muito embora o aval seja modalidade de garantia capaz de integrar


pequenos produtores rurais nessa forma de financiamento privado da produção, tal
leitura funcional do aval na CPR física pode ter a relevante repercussão de afastar outros
players importantes, como é o caso dos bancos que, como já se viu, se oferecem como
avalistas para CPR. Não parece razoável, a partir da leitura sistemática e funcional do
aval na Lei da CPR, sustentar posição contrária a essa, igualmente defendida pelo
professor Arnoldo Wald. Porém, sendo os títulos de crédito instrumentos do Direito
Comercial e, por conseguinte, de domínio de ampla vigência da autonomia privada,
pode-se cogitar de soluções capazes de contornar tais efeitos.

Vale lembrar que a obrigação do avalista é autônoma em relação à do emitente, muito


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embora exista uma relação de acessoriedade formal . Acrescente-se, ainda, que o
ordenamento brasileiro já admite que, em certas circunstâncias, o aval seja prestado
parcialmente. Verifica-se, portanto, que a própria teoria geral dos títulos de crédito
permite que a garantia do aval seja modificada para comportar adequadamente as
prestações a que o avalista pretende se obrigar. Dessa maneira, o que se propõe é que o
aval, mesmo na CPR física, possa ser prestado “na forma financeira”.

Assim, emitida uma CPR física, um avalista do emitente poderia manifestar sua garantia
na cártula junto de inscrição indicativa de que se obrigará não a entregar produtos
rurais, mas a pagar a quantia monetária correspondente à liquidação financeira dos
produtos rurais descritos na cártula. Seria necessário, para tanto, inserir na cártula
expressão que inequivocamente indique a garantia da obrigação na forma financeira, por
exemplo, “liquidação financeira”, “pagamento em dinheiro”, ou equivalente. Com isso,
além de se contornar o problema da obrigação de entrega de produto por parte do
avalista, confere-se aos agentes econômicos um maior espaço de autonomia para a
realização desses negócios.

Convém recordar, mesmo para a manutenção da coerência das colocações ora expostas,
que a posição do avalista na Cédula de Produto Rural é, como sói ocorrer com títulos de
créditos, a mesma do sujeito por ele garantido. Dessa maneira, regra geral, a obrigação
do avalista será a mesma do devedor subjacente, isto é: sendo a obrigação de entregar
coisa (certa ou incerta), a mesma obrigação será transferida ao avalista. Acrescente-se,
ainda, que o aval na CPR é dotado de plena autonomia, de maneira que, ainda que a
obrigação a ele subjacente seja nula, este permanecerá em vigor, situação que decorre
da natureza abstrata da CPR, que, diferentemente dos títulos causais, não vincula a
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promessa de entrega de produtos a uma causa .

Em síntese, verifica-se que a Lei da CPR apresenta, sim, um regime legal para o aval,
que se depreende da sua leitura sistemática e funcional, inclusive em conjunto com a
teoria geral dos títulos de crédito. Porém, muitas vezes, tais efeitos podem não ser
adequados às necessidades do produtor rural, uma vez que a passagem da obrigação
contida na CPR física de entregar produto rural pode afastar avalistas em potencial,
mormente instituições financeiras. Assim, admitindo-se a possibilidade de liquidação
financeira também mediante aval, tal problema pode ser superado e, ainda, pode a
autonomia privada ganhar campo mais amplo de aplicação.

IV.O aval na CPR e a recuperação judicial

Demonstradas as dificuldades de operacionalização do aval na CPR em virtude de sua


parca regulamentação na legislação específica, resta comentar sobre outro importante
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O aval na cédula de produto rural

elemento dessa garantia para a empresa rural como um todo: seus efeitos no âmbito de
processos de recuperação judicial. A já mencionada autonomia das obrigações do
avalista, bem como alguns dispositivos específicos da Lei 11.101/2005
(LGL\2005\2646), fazem com que as garantias cambiais recebam tratamento peculiar no
âmbito do Direito Falimentar. Importa, portanto, acrescentar a tais peculiaridades as
notas distintivas do aval na CPR.

De acordo com o artigo 6º da Lei 11.101/2005 (LGL\2005\2646), “A decretação da


falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da
prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos
credores particulares do sócio solidário”. No entanto, conforme aduz Manoel Justino
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Bezerra Filho , trata-se de regra geral decorrente do princípio da universalidade do
juízo falimentar que, porém, comporta diversas exceções. Basta verificar que, de acordo
com o § 1º do artigo 49 da mesma lei, “Os credores do devedor em recuperação judicial
conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de
regresso”. Significa dizer que muito embora a regra da universalidade do juízo da
falência busque evitar que determinado credor ou grupo de credores seja preterido, a Lei
11.101/2005 (LGL\2005\2646) contém disposições destinadas a proteger os credores
por intermédio de autorização de execução dos garantidores do crédito.

Não é por outra razão que o STJ, no âmbito do rito de resolução de demandas
repetitivas, fixou a tese de que a recuperação judicial do devedor principal não obsta o
prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas
contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real
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ou fidejussória . No caso específico do aval, a possibilidade de exercício do direito dos
credores contra os garantidores decorre diretamente da autonomia que qualifica a
obrigação resultante do aval, o que, com maior razão, autoriza que o credor persiga seu
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crédito contra o avalista ainda que o devedor principal esteja em recuperação judicial .
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Observe-se que, segundo alguns autores , o artigo 49 da aludida lei constituiria
fortíssimo desestímulo à prestação de aval e mesmo aos pedidos de recuperação judicial,
uma vez que tal medida tão somente postergaria a cobrança do crédito do devedor
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principal mediante o exercício de direito de regresso . No entanto, por mais que tais
argumentos façam sentido, o entendimento do STJ supra exposto é perfeitamente
consentâneo com a natureza e as peculiaridades da CPR e dos títulos de crédito do
agronegócio em geral, pois atribui às garantias o papel suplementar de preservação da
obrigação de entrega de produto rural, de maneira a preservar a eficiência da cadeia de
produção do agronegócio.

Seria possível, porém, sustentar que a causalidade da declaração de vontade avalizada


poderia ser invocada para, “mitigando-se a autonomia do aval, estender a suspensão
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também aos avalistas, sobretudo quando não ocorre a circulação do título” . Já se viu
que a jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que os efeitos da recuperação não
alcançam os avalistas. No entanto, indaga-se se no âmbito da CPR, título fortemente
ligado à circulação de produtos agrícolas e à efetiva entrega dessas mercadorias, não
teria características suficientemente marcantes para que se afirme a causalidade do aval
com relação à obrigação principal. Ainda que aparentemente razoável, tal raciocínio não
merece prosperar: a CPR é, como já se viu, título de crédito abstrato e, portanto,
independe da obrigação contratual a ele subjacente, de maneira que não há que se falar
em qualquer relação de causalidade no tocante às obrigações do avalistas, que
permanecem plenamente autônomas.

Por fim, é importante traçar breve comentário sobre a situação oposta, quando o sujeito
submetido a processo de recuperação judicial é o avalista, e não o avalizado. Nesse
ponto, parece ser aplicável o disposto no § 4º do artigo 6º da Lei 11.101/2005
(LGL\2005\2646), segundo o qual serão suspensas as ações e execuções contra o
devedor (no caso, o avalista em recuperação judicial). Dessa maneira, eventuais
incursões de credores contra os avalistas em recuperação judicial serão inseridas no
conjunto de credores habilitados à execução concursal, devendo já ser previstos na
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O aval na cédula de produto rural

petição inicial da recuperação, na forma do inciso III do artigo 51 da Lei 11.101/2005


(LGL\2005\2646). Aqui, por óbvio, o entendimento segundo o qual o avalista será
obrigado da mesma forma e medida que o devedor principal deve ser, com maior razão,
mitigado na CPR, uma vez que não se pode pressupor que um avalista em recuperação
judicial terá as mesmas condições de um avalista sadio para proceder à entrega de
produtos agrícolas. Assim, reforça-se a necessidade de tal obrigação ser mitigada por
disposições contratuais ou mesmo anotações à cártula.

Com isso, por óbvio não se pretendeu esgotar e tampouco resolver questões relativas
aos avalistas em CPR na recuperação judicial, mas apenas levantar alguns problemas
nesse sentido, considerando a peculiar natureza do aval na CPR e as dificuldades de sua
operacionalização diante da teoria geral dos títulos de crédito.

V.Conclusão

A Cédula de Produto Rural é título de crédito sui generis de enorme importância


econômica para ao agronegócio brasileiro, porém o legislador deixou de tratar de
aspectos importantes desse título, mormente a possibilidade jurídica e os efeitos da
prestação da garantia pessoal do aval nesses títulos. Com isso, surgem diversas
dificuldades oriundas desse vazio normativo, especialmente no que tange à CPR física,
que fundamentalmente contém promessa de entrega de produtos rurais especificados na
cártula.

Neste trabalho, concluiu-se não apenas que a Lei da CPR admite o instituto do aval,
como também se demonstrou que o aval deve ser aplicado na forma do que se
desenvolve sobre este instituto na teoria geral dos títulos de crédito. Significa dizer que
o aval prestado na CPR física tem o condão de obrigar o avalista a entregar produtos
rurais, da mesma forma que o emitente. Tendo em vista as dificuldades oriundas dessa
conclusão, apresentou-se proposta de alteração do aval mediante o exercício legítimo da
autonomia provada, inscrevendo-se ao título que o avalista se obrigaria não a entregar
produtos rurais, mas a pagar a quantia correspondente ao valor da liquidação financeira
dos produtos em questão. Dessa maneira, entende-se que foi possível esclarecer alguns
pontos de dúvida que imperavam no âmbito da CPR, de maneira a abrir novos caminhos
para o desenvolvimento normativo e didático do Direito do Agronegócio.

Referências

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1 Ver, em sentido semelhante: TRENTINI, Flavia. Teoria geral do direito agrário


contemporâneo. São Paulo: Atlas, 2012.

2 Ver: ASCARELLI, Tullio. Teoria geral dos títulos de crédito. São Paulo: Saraiva, 1943.
p. 5-6. No mesmo sentido: “Realmente, para dotar de certeza e segurança a realização
de operações de crédito, bastam os institutos de direito comum. Todo o esforço no
aperfeiçoamento dos títulos de crédito esteve voltado para dotar de certeza, segurança e
rapidez a transmissão, a terceiro, de direitos nascidos de uma relação jurídica inter allios
, de que não participou, sujeitos a variadas mutações que tornam difícil ou quase
impossível a previsão de realização futura da prestação a que se referem” (GONÇALVES
NETO, Alfredo de Assis. Aval: alcance da responsabilidade do avalista. São Paulo: Ed.
Página 9
O aval na cédula de produto rural

RT, 1993. p. 17).

3 GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Op. cit., p. 54.

4 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense,
2012. v. II, p. 85.

5 Entre as diversas obrigações cartulares, segundo Alfredo de Assis Gonçalves Neto (Op.
cit., p. 55), distinguem-se: (i) aquelas que se destinam a permitir a circulação do direito
a que correspondem; e (ii) aquelas que têm por fim garantir ou reforçar sua realização.
Segundo o autor: “Dentre as primeiras estão a do emitente, a do aceitante, a do sacador
e a do endossante; dentre as últimas arrolam-se a do aceitante por intervenção e a do
avalista” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Op. cit., p. 55).

6 VILLANUEVA, Pedro Alfonso Labariega. El aval. ¿Fianza sui generis o garantia


cambiaria típica? Boletín mexicano de derecho comparado, v. 38, n. 110, maio-ago.
2004. p. 619.

7 VILLANUEVA, Pedro Alfonso Labariega. Op. cit., p. 620.

8 GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Op. cit., p. 56.

9 ANTUNES VARELA, João de Matos. Das obrigações em geral. Coimbra: Almedina,


1997. v. II, p. 420.

10 WALD, Arnoldo. Do regime legal da Cédula de Produto Rural (CPR). Revista de


informação legislativa, v. 34, n. 136, p. 237-252, out.-dez. 1997.

11 Ver: MOREIRA ALVES, José Carlos. Da alienação fiduciária em garantia. São Paulo:
Saraiva, 1973. p. 21-42. Ver também: VIEGAS DE LIMA, Frederico Henrique. Da
alienação fiduciária em garantia de bens imóveis. Revista de direito imobiliário, v. 44, p.
7-14, maio-ago. 1998.

12 De acordo com Cesare Vivante (Trattato di diritto commerciale. Torino: Fratelli Bocca,
1904. v. III, p. 339-340): “L'avallo è una garanzia data nelle forme cambiarie. Esso non
fa parte del nesso normale di una cambiale; questa può compiere interamente il suo
còmpito nella circolazione senza avalli; anzi se tutte le sue firme sono solide non porterà
avalli che sono un segno di poco credito per chi ne abbisogna. La disciplina giuridica
dell'avallo è fra le più controverse sia perchè ci manca il sussidio della legislazione e della
dottrina tedesca, cui à quasi sconosciuto questo istituto, sia perchè esse ha due aspetti
giuridici diversi secondo che si consideri l'avallante di fronte al possessore della
cambiale, o di fronte all'avallato: gli autori non si accordano nel definirlo perchè l'uno
considera maggiormente quell'aspetto che l'altro pone in seconda linea. A mio avviso, la
la vera dottrina dell'avallo non si può determinare se non si tien conto distintamente di
queste due specie di rapport. Entrambi sono di natura cabiaria, ma mentre il rapporto fra
l'avallante e il possessore può essere di sola natura cambiaria, il rapporto fra l'avallante
e l'avallato è dominato dal complesso dei rapporti personali per cui fu dato l'avallo; essi
ne determinano i limiti e ne prendono il posto, quando l'avallo ha perdto la sua forza
cambiaria"

13 WALD, Arnoldo. Op. cit., p. 238.

14 ÁVILA, Carlos Alberto Rosal. A estruturação jurídica das operações de barter do


agronegócio brasileiro. 2017. Monografia (Graduação em direito). Faculdade de Direito,
Universidade de Brasília, Brasília. p. 32-33.

15 STJ, REsp 1.049.984/MS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, 4ª T., j. 03.10.2017, DJe
09.10.2017.
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O aval na cédula de produto rural

16 ÁVILA, Carlos Alberto Rosal. Op. cit., p. 33.

17 Não se descarta, porém, a possibilidade de emprego da CPR para outras finalidades,


tais como a quitação de débitos anteriores do emitente ou operações de hedge, nas
quais o emitente pretende se proteger contra contingências futuras. Ver,
respectivamente: STJ, AgInt no AREsp 946.792/PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 4ª T.,
j. 23.05.2017, DJe 02.06.2017; STJ, AgInt no AREsp 447.091/GO, Rel. Min. João Otávio
de Noronha, 3ª T., j. 16.08.2016, DJe 26.08.2016.

18 Não é por outra razão que a jurisprudência do STJ firmou orientação de que a CPR
tem a mesma natureza jurídica da Cédula de Crédito Rural e, portanto, está submetida
ao mesmo regramento. Ver: STJ, AgInt no AREsp 906.114/PR, Rel. Min. Raul Araújo, 4ª
T., j. 06.10.2016, DJe 21.10.2016; STJ, RMS 10.272/RS, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4ª
T., j. 28.06.2001, DJ 15.10.2001.

19 BRUM, Argemiro Luís; DALFOVO, Wylmor Constantino Tives; MARZEQUIM, William


Ricardo. A cédula de produto rural como alternativa de financiamento de produção e
comercialização do milho no centro-oeste mato-grossense: o caso do município de Lucas
do Rio Verde/MT. Revista brasileira de gestão e desenvolvimento regional, v. 8, n. 2, p.
199-228, maio-ago. 2012.

20 STJ, REsp 910.537/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., j. 25.05.2010, DJ


07.06.2010.

21 Ver: COELHO, Fábio Ulhoa. Parecer. Disponível em:


[www.quebradecontrato.com.br/caso-bb/DocumentosBB/2006-04-26%20-%20Parecer%20Fabio%20Ulh
Acesso em: 04.03.2018. Ver também: OLIVEIRA, Marcelo Salaroli. Cédulas de crédito e
o registro imobiliário. Revista de direito imobiliário, v. 62, p. 266-275, jan.-jun. 2007.

22 WALD, Arnoldo. Op. cit., p. 242.

23 Nesse sentido, já entendeu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul pelo cabimento
de aval na CPR. Ver: TJRS, Ap. cív. 70052753118, Rel. Des. Elaine Harzheim Macedo,
17ª CC, j. 11.04.2013.

24 STJ, REsp 1.483.853/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, 3ª T., j. 04.11.2014, DJe
18.11.2014.

25 Ver: STJ, REsp 1.685.453/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ acórdão Min. Moura
Ribeiro, 3ª T., j. 24.10.2017, DJe 07.12.2017.

26 Há quem sustente, ainda, a autonomia conceitual da chamada CPR exportação,


instrumento que não será objeto de análise no presente trabalho.

27 BORGES, João Eunápio. Do aval. Rio de Janeiro: Forense, 1955. p. 43. Nesse sentido:
“Na própria cambial, a obrigação dos endossadores, e até a do sacador, quando o título
fôr aceito é simples obrigação de garantia, embora suas firmas não tenham a garantia
como fim direto e imediato. Característico da fiança é a dependência estreita entre a
obrigação de garantia e a da pessoa garantida, de sorte que a existência daquela
depende da existência desta de modo tão íntimo, que a fiança não pode subsistir sem a
obrigação principal, sem cuja existência material ou jurídica não existirá tampouco a
fiança. Nula por qualquer motivo a obrigação principal, será igualmente nula a obrigação
acessória de garantia. A acessoriedade não pode de modo algum ser considerada caráter
acidental da fiança, ou caráter da fiança propriamente dita, como se fosse admissível
uma outra espécie de fiança, menos verdadeira ou menos própria, isenta daquele
caráter” (BORGES, João Eunápio. Op. cit., p. 30-31).

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O aval na cédula de produto rural

28 BORGES, João Eunápio. Op. cit., p. 146.

29 STJ, REsp 1.435.979/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª T., j. 30.03.2017,
DJe 05.05.2017.

30 BORGES, João Eunápio. Op. cit., p. 148.

31 BURANELLO, Renato. Manual do direito do agronegócio. São Paulo: Saraiva, 2013. p.


109.

32 ROSA JR., Luiz Emygdio F. Títulos de crédito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 300.
No mesmo sentido: STJ, REsp 147.157/ES, Rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 04.06.1998,
DJ 10.06.1998.

33 Nesse sentido: “De qualquer forma, nada impede que o avalista seja qualquer
pessoa, mesmo alguém desvinculado da produção rural. Na hipótese de vir a ser
executado o aval, não só o avalista pode adquirir os produtos no mercado para entregar
ao devedor como, pelas regras processuais da execução para entrega de coisa incerta, já
analisadas acima, sua obrigação acaba se convertendo em perdas e danos (pecuniárias)
na ausência dos produtos para entrega” (WALD, Arnoldo. Op. cit., p. 242).

34 WALD, Arnoldo. Op. cit., p. 242.

35 Nesse sentido: STJ, REsp 1.177.968/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., j.
12.04.2011, DJe 25.04.2011.

36 STJ, REsp 1.538.139/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª T., j. 05.05.2016,
DJe 13.05.2016; STJ, REsp 1.097.242/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., j. 20.08.2013;
DJe 03.09.2013.

37 ROSA JR., Luiz Emygdio F. Op. cit., p. 304.

38 REIS, Marcus. Manual jurídico da CPR: teoria e prática da cédula de produto rural.
Belo Horizonte: Fórum, 2016. p. 93-94.

39 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova lei de recuperação e falências comentada. São
Paulo: Ed. RT, 2005. p. 60.

40 STJ, REsp 1.333.349/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, j. 26.11.2014, DJe
02.02.2015.

41 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à nova lei de falência e recuperação de empresas.


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Salles; ABRÃO, Carlos Henrique. Comentários à lei de recuperação de empresas e
falências. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 136.

42 MANDEL, Júlio Kahan. Nova lei de falências e recuperação de empresas anotada. São
Paulo: Atlas, 2006. p. 102.

43 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. A responsabilidade do garantidor na recuperação


judicial do garantido. Revista do advogado, n. 105, set. 2009. p. 131.

44 BORTOLINI, Pedro Rebello; DEZEM, Renata Mota Maciel. Efeitos da recuperação


judicial sobre as garantias prestadas por terceiros. Cadernos jurídicos, v. 16, n. 39,
jan.-mar. 2015. p. 47.

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