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I.Introdução
Todavia, o caráter sui generis da CPR física produz uma série de desafios pouco
enfrentados pela doutrina e pela jurisprudência. Urge, dessa maneira, que se proceda à
análise das fontes normativas disponíveis e da prática comercial para verificar em que
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medida a teoria geral dos títulos de crédito se lhes aplica. Por certo, tal esforço
interpretativo decorre diretamente da falta de um desenvolvimento amplo de uma teoria
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geral dos títulos de crédito agrários , que de pouco a pouco vem sendo construída pela
doutrina brasileira, porém ainda de forma fragmentária.
O efetivo cumprimento da sua função, por parte dos títulos de crédito, de facilitação da
circulação da riqueza depende fundamentalmente da produção de certeza e segurança
no âmbito das relações comerciais. Assim, ao assegurar a certeza na existência do
direito e a segurança na sua realização, os títulos de créditos promovem o crescimento
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de ambientes comerciais que demandam rápida e intensa circulação de mercadorias .
Nesse sentido, pode-se afirmar que a transposição de obrigação meramente contratual
para a seara cambiária exerce essencial função de garantia, reforçando as exigências de
certeza e segurança ao criar vínculos de solidariedade entre os diversos integrantes das
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cadeias circulatórias dos títulos de crédito .
Não é por outra razão que garantias fidejussórias não são suficientes para assegurar a
segurança comumente desejada pelos agentes de mercado, que exigem mecanismos
mais eficientes na sua proteção contra a inadimplência, sejam os direitos reais em
garantia clássicos, sejam mecanismos mais modernos como a alienação fiduciária em
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garantia . Tal raciocínio se aplica completamente aos títulos de crédito, que passam a
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agregar, para além da tradicional garantia fidejussória do aval , garantias cedulares
reais, muitas vezes permitindo-se a sua constituição sem a observância dos
procedimentos comuns de registro, substituídos por regras específicas capazes de fazer
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aderir ao título as garantias reais, independentemente de qualquer outro documento . A
relevância das garantais especificamente nos títulos de crédito do agronegócio fica ainda
mais evidente quando se verifica o desenvolvimento de outros mecanismos contratuais
que fazem as vezes de garantias, como ocorre no Seguro-CPR – voltado essencialmente
ao título de crédito objeto do presente trabalho –, regulado pela Circular SUSEP
261/2004 (LGL\2004\92).
Vale recordar que, embora possa desempenhar essa função, a CPR não é um título de
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financiamento – como é o caso da Cédula de Crédito Rural –, muito embora possa
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cumprir tal função em sua modalidade financeira , mas sim um título representativo de
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mercadoria , motivo pelo qual a constituição de garantia cedular não é seu requisito
essencial. Por certo, a CPR apresenta algumas aproximações com relação às cédulas de
crédito em geral, na medida em que também tem por um de seus princípios a chamada
“cedularidade”, isto é, permite a constituição de garantia diretamente na cédula,
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prescindindo o registro inclusive para as garantias reais . No entanto, diferentemente
das cédulas de crédito em geral, a CPR igualmente admite garantias fidejussórias, entre
as quais se destaca, como se verá ao longo do presente trabalho, o aval.
Nesse sentido, dispõe o artigo 5º da Lei da CPR que “a garantia cedular da obrigação
poderá consistir em:” (i) hipoteca; (ii) penhor; e (iii) alienação fiduciária. Muito embora
o rol do artigo 5º se refira tão somente a garantais reais, apresentando a relevante
peculiaridade da CPR de comportar garantias cedularmente constituídas, trata-se de lista
meramente exemplificativa. Diversos elementos da CPR apontam para tal conclusão,
sendo o mais claro deles o texto expresso do inciso III do artigo 10, segundo o qual “é
dispensado o protesto cambial para assegurar o direito de regresso contra avalistas”. Por
óbvio, se há na lei a menção a avalistas significa que a CPR comporta o aval. Conforme
aduz Arnoldo Wald: “Ora, a lei não usa palavras inúteis, e se há regra sobre direitos em
face de avalistas, é porque o título em tela comporta a concessão de aval, como uma de
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suas cláusulas não-essenciais” . Porém, há algumas evidências que permitem inserir,
com maior rigor lógico, a CPR na sistemática geral dos títulos de crédito.
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Em primeiro lugar, após a enumeração dos elementos essenciais da CPR pelo artigo 3º
de sua lei de regência, o § 1º estabelece que “Sem caráter de requisito essencial, a CPR
poderá conter outras cláusulas lançadas em seu contexto, as quais poderão constar de
documento à parte, com a assinatura do emitente, fazendo-se, na cédula, menção a
essa circunstância”. Além disso, indica o artigo 10 da mesma lei que se aplicam à CPR,
no que couber, as normas de direito cambial, salvo algumas exceções. Considerando que
as normas gerais de direito cambial no direito brasileiro são ditadas pelo Código Civil de
2002, é perfeitamente aplicável à CPR o artigo 897 do Código Civil (LGL\2002\400), que
dispõe que “O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma
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determinada, pode ser garantido por aval” .
Cabe notar, porém, que, muito embora o argumento anterior apresentado seja sedutor,
ele demonstra séria deficiência: sendo a CPR título de crédito representativo de
mercadoria rural, não necessariamente a obrigação insculpida no título corresponderá a
obrigação de pagar soma determinada, mas sim de entregar certa quantidade de
determinada qualidade de produto rural. Seria possível, nesse ponto, argumentar que o
aval somente seria cabível no âmbito da chamada “CPR financeira”, isto é, aquela que,
muito embora represente produto rural, tem sua liquidação mediante o pagamento de
quantia certa. No entanto, não parece adequada a interpretação do Código Civil
(LGL\2002\400) segundo a qual o artigo 897 seria destinado a vedar o aval nas
obrigações de entregar coisa certa – notadamente quando se trata de produtos rurais
que, regra geral, têm sua cotação registrada em bolsas de mercadorias –, mas tão
somente a afastar a garantia do aval das obrigações de fazer, que não contam com a
liquidez que é ínsita (e desejável) aos títulos de crédito.
Por fim, o cabimento do aval na CPR se justifica a partir de leitura funcional dos títulos
de crédito do agronegócio e do instituto do aval: partindo-se do pressuposto de que o
aval não se aplica à cédula de produto rural, pode-se limitar o emprego de tal título de
crédito aos produtores rurais capazes de fornecer garantias reais, assim prejudicando
em grande medida o pequeno produtor. Não é outro o entendimento do STJ, que, em
precedente referente à Cédula de Crédito Rural Pignoratícia, entendeu que “Vedar a
possibilidade de oferecimento de crédito rural direto mediante a constituição de garantia
de natureza pessoal (aval) significa obstruir o acesso a ele pelo pequeno produtor ou só
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o permitir em linhas de crédito menos vantajosas” . Por óbvio, aqui se está falando da
CPR destinada a fomentar propriamente a atividade produtiva, e não a chamada “CPR
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fraudulenta” ou “alugada”, instrumento meramente especulativo .
Assim, sustenta-se ser cabível o aval entre as garantias a serem constituídas no âmbito
da CPR. Todavia, conforme já se adiantou, o aval na CPR apresenta importantes
particularidades em virtude da natureza sui generis do título, que em sua modalidade
física enfeixa não uma obrigação de pagar quantia líquida e certa, mas de entregar coisa
certa. Daí os diversos questionamentos sobre a natureza e a forma de operacionalização
do aval na CPR, como se verá a seguir.
Adiante-se, desde já, que a grande peculiaridade do aval na CPR reside na possibilidade
de tal título poder ser emitido por duas formas básicas fundamentalmente distintas: a
CPR física, que contém obrigação de entregar produto rural; e a CPR financeira, que, por
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mais que esteja lastreada também em produto rural, é liquidada em dinheiro .
Evidentemente não há grandes peculiaridades no aval aposto à CPR financeira, uma vez
que, da mesma forma que ocorre com os títulos de crédito em geral, tornará o avalista
devedor solidário com relação aos demais membros da cadeia, obrigando-se a pagar a
quantia devida pelo sujeito avalizado. No caso das CPR físicas, surgem diversas
dificuldades sobre a aplicação automática dos pressupostos do aval, como se
demonstrará na sequência.
Segundo João Eunápio Borges, o aval é um instituto de direito cambial que tem por
finalidade garantir o pagamento de obrigação alheia, do mesmo modo que o garantiria o
coobrigado cambial, porém sem qualquer vínculo de acessoriedade com a obrigação
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principal . Dessa maneira, o aval tem por característica distintiva o fato de que “O
avalista é um obrigado cambial que ocupa, no contexto cambiário, a mesma posição
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jurídica objetiva da pessoa a favor de quem avalizou e à qual se equipara” . É esse,
inclusive, o entendimento fixado na Lei Uniforme de Genebra – diploma que o STJ já
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entendeu ser aplicável subsidiariamente à CPR –, cujo artigo 32 estabelece que “O
dador de aval é responsável da mesma maneira que a pessoa por ele afiançada”.
Uma primeira indagação a respeito da aplicação do aval na CPR, nesse sentido, é sobre
os sujeitos capazes de fazê-lo. Relembre-se que, na forma do artigo 2º da Lei da CPR,
“Têm legitimação para emitir CPR o produtor rural e suas associações, inclusive
cooperativas”. Dessa forma, exigindo a lei que o emitente seja produtor rural e sendo o
aval obrigação cambiária por meio do qual o avalista se torna devedor da mesma
espécie do que o avalizado, seria possível que o avalista não fosse produtor rural? A
resposta para essa questão pode ser retirada da teoria geral dos títulos de crédito. Muito
embora a natureza da obrigação do avalista seja de mesma natureza que a do avalizado,
“Os dispositivos legais não devem ser interpretados no sentido de que o avalista tem a
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mesma obrigação que o avalizado” . Por conseguinte, sendo o aval dotado de
autonomia, seu fundamento decorre não dos requisitos da Lei da CPR, mas dos
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requisitos para o aval que se retiram da legislação específica . Não é por outra razão
que a emissão de CPR em larga medida é realizada mediante a prestação de aval por
parte de instituições bancárias.
A conclusão para a indagação anterior pode ser útil para a reflexão sobre outra questão
fundamental da aplicação do aval à CPR física: ocupando o avalista posição idêntica à do
emissor, fica também o avalista obrigado a entregar produto rural da mesma quantidade
e qualidade estipuladas na cártula? Pode-se exigir isso do avalista, considerando que
este sequer precisa ser produtor rural? Considerando que o pagamento por parte do
avalista faz com que este se sub-rogue nos direitos do credor, sua dívida também será
cobrada cambiariamente do emitente na forma de produtos rurais? Todas essas
questões são decorrências diretas da indefinição jurisprudencial e doutrinária sobre o
aval na CPR física.
Já se falou sobre a viabilidade da garantia da CPR física mediante aval. Resta, agora,
esclarecer seus efeitos. De acordo com Arnoldo Wald, “aquele que avalizar uma CPR
estará assumindo a obrigação de entrega de produtos rurais, da mesma forma que o
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emitente ou o eventual endossatário” . Tendo em vista que a Lei da CPR, em seu artigo
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10, expressamente liberou o endossante da obrigação de entrega do produto rural ,
respondendo tão somente pela existência da obrigação, seria possível sustentar que o
diploma incorreu em silêncio eloquente: sendo da natureza do aval que o avalista tenha
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O aval na cédula de produto rural
Assim, emitida uma CPR física, um avalista do emitente poderia manifestar sua garantia
na cártula junto de inscrição indicativa de que se obrigará não a entregar produtos
rurais, mas a pagar a quantia monetária correspondente à liquidação financeira dos
produtos rurais descritos na cártula. Seria necessário, para tanto, inserir na cártula
expressão que inequivocamente indique a garantia da obrigação na forma financeira, por
exemplo, “liquidação financeira”, “pagamento em dinheiro”, ou equivalente. Com isso,
além de se contornar o problema da obrigação de entrega de produto por parte do
avalista, confere-se aos agentes econômicos um maior espaço de autonomia para a
realização desses negócios.
Convém recordar, mesmo para a manutenção da coerência das colocações ora expostas,
que a posição do avalista na Cédula de Produto Rural é, como sói ocorrer com títulos de
créditos, a mesma do sujeito por ele garantido. Dessa maneira, regra geral, a obrigação
do avalista será a mesma do devedor subjacente, isto é: sendo a obrigação de entregar
coisa (certa ou incerta), a mesma obrigação será transferida ao avalista. Acrescente-se,
ainda, que o aval na CPR é dotado de plena autonomia, de maneira que, ainda que a
obrigação a ele subjacente seja nula, este permanecerá em vigor, situação que decorre
da natureza abstrata da CPR, que, diferentemente dos títulos causais, não vincula a
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promessa de entrega de produtos a uma causa .
Em síntese, verifica-se que a Lei da CPR apresenta, sim, um regime legal para o aval,
que se depreende da sua leitura sistemática e funcional, inclusive em conjunto com a
teoria geral dos títulos de crédito. Porém, muitas vezes, tais efeitos podem não ser
adequados às necessidades do produtor rural, uma vez que a passagem da obrigação
contida na CPR física de entregar produto rural pode afastar avalistas em potencial,
mormente instituições financeiras. Assim, admitindo-se a possibilidade de liquidação
financeira também mediante aval, tal problema pode ser superado e, ainda, pode a
autonomia privada ganhar campo mais amplo de aplicação.
elemento dessa garantia para a empresa rural como um todo: seus efeitos no âmbito de
processos de recuperação judicial. A já mencionada autonomia das obrigações do
avalista, bem como alguns dispositivos específicos da Lei 11.101/2005
(LGL\2005\2646), fazem com que as garantias cambiais recebam tratamento peculiar no
âmbito do Direito Falimentar. Importa, portanto, acrescentar a tais peculiaridades as
notas distintivas do aval na CPR.
Não é por outra razão que o STJ, no âmbito do rito de resolução de demandas
repetitivas, fixou a tese de que a recuperação judicial do devedor principal não obsta o
prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas
contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real
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ou fidejussória . No caso específico do aval, a possibilidade de exercício do direito dos
credores contra os garantidores decorre diretamente da autonomia que qualifica a
obrigação resultante do aval, o que, com maior razão, autoriza que o credor persiga seu
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crédito contra o avalista ainda que o devedor principal esteja em recuperação judicial .
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Observe-se que, segundo alguns autores , o artigo 49 da aludida lei constituiria
fortíssimo desestímulo à prestação de aval e mesmo aos pedidos de recuperação judicial,
uma vez que tal medida tão somente postergaria a cobrança do crédito do devedor
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principal mediante o exercício de direito de regresso . No entanto, por mais que tais
argumentos façam sentido, o entendimento do STJ supra exposto é perfeitamente
consentâneo com a natureza e as peculiaridades da CPR e dos títulos de crédito do
agronegócio em geral, pois atribui às garantias o papel suplementar de preservação da
obrigação de entrega de produto rural, de maneira a preservar a eficiência da cadeia de
produção do agronegócio.
Por fim, é importante traçar breve comentário sobre a situação oposta, quando o sujeito
submetido a processo de recuperação judicial é o avalista, e não o avalizado. Nesse
ponto, parece ser aplicável o disposto no § 4º do artigo 6º da Lei 11.101/2005
(LGL\2005\2646), segundo o qual serão suspensas as ações e execuções contra o
devedor (no caso, o avalista em recuperação judicial). Dessa maneira, eventuais
incursões de credores contra os avalistas em recuperação judicial serão inseridas no
conjunto de credores habilitados à execução concursal, devendo já ser previstos na
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Com isso, por óbvio não se pretendeu esgotar e tampouco resolver questões relativas
aos avalistas em CPR na recuperação judicial, mas apenas levantar alguns problemas
nesse sentido, considerando a peculiar natureza do aval na CPR e as dificuldades de sua
operacionalização diante da teoria geral dos títulos de crédito.
V.Conclusão
Neste trabalho, concluiu-se não apenas que a Lei da CPR admite o instituto do aval,
como também se demonstrou que o aval deve ser aplicado na forma do que se
desenvolve sobre este instituto na teoria geral dos títulos de crédito. Significa dizer que
o aval prestado na CPR física tem o condão de obrigar o avalista a entregar produtos
rurais, da mesma forma que o emitente. Tendo em vista as dificuldades oriundas dessa
conclusão, apresentou-se proposta de alteração do aval mediante o exercício legítimo da
autonomia provada, inscrevendo-se ao título que o avalista se obrigaria não a entregar
produtos rurais, mas a pagar a quantia correspondente ao valor da liquidação financeira
dos produtos em questão. Dessa maneira, entende-se que foi possível esclarecer alguns
pontos de dúvida que imperavam no âmbito da CPR, de maneira a abrir novos caminhos
para o desenvolvimento normativo e didático do Direito do Agronegócio.
Referências
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ASCARELLI, Tullio. Teoria geral dos títulos de crédito. São Paulo: Saraiva, 1943.
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Paulo: Ed. RT, 2005.
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sobre as garantias prestadas por terceiros. Cadernos Jurídicos, v. 16, n. 39, p. 33-58,
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MANDEL, Júlio Kahan. Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas anotada. São
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MOREIRA ALVES, José Carlos. Da alienação fiduciária em garantia. São Paulo: Saraiva,
1973.
PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
REIS, Marcus. Manual jurídico da CPR: teoria e prática da cédula de produto rural. Belo
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TRENTINI, Flavia. Teoria geral do direito agrário contemporâneo. São Paulo: Atlas, 2012.
VILLANUEVA, Pedro Alfonso Labariega. El aval. ¿Fianza sui generis o garantia cambiaria
típica? Boletín Mexicano de Derecho Comparado, v. 38, n. 110, p. 611-661, maio-ago.
2004.
2 Ver: ASCARELLI, Tullio. Teoria geral dos títulos de crédito. São Paulo: Saraiva, 1943.
p. 5-6. No mesmo sentido: “Realmente, para dotar de certeza e segurança a realização
de operações de crédito, bastam os institutos de direito comum. Todo o esforço no
aperfeiçoamento dos títulos de crédito esteve voltado para dotar de certeza, segurança e
rapidez a transmissão, a terceiro, de direitos nascidos de uma relação jurídica inter allios
, de que não participou, sujeitos a variadas mutações que tornam difícil ou quase
impossível a previsão de realização futura da prestação a que se referem” (GONÇALVES
NETO, Alfredo de Assis. Aval: alcance da responsabilidade do avalista. São Paulo: Ed.
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O aval na cédula de produto rural
4 PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense,
2012. v. II, p. 85.
5 Entre as diversas obrigações cartulares, segundo Alfredo de Assis Gonçalves Neto (Op.
cit., p. 55), distinguem-se: (i) aquelas que se destinam a permitir a circulação do direito
a que correspondem; e (ii) aquelas que têm por fim garantir ou reforçar sua realização.
Segundo o autor: “Dentre as primeiras estão a do emitente, a do aceitante, a do sacador
e a do endossante; dentre as últimas arrolam-se a do aceitante por intervenção e a do
avalista” (GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Op. cit., p. 55).
11 Ver: MOREIRA ALVES, José Carlos. Da alienação fiduciária em garantia. São Paulo:
Saraiva, 1973. p. 21-42. Ver também: VIEGAS DE LIMA, Frederico Henrique. Da
alienação fiduciária em garantia de bens imóveis. Revista de direito imobiliário, v. 44, p.
7-14, maio-ago. 1998.
12 De acordo com Cesare Vivante (Trattato di diritto commerciale. Torino: Fratelli Bocca,
1904. v. III, p. 339-340): “L'avallo è una garanzia data nelle forme cambiarie. Esso non
fa parte del nesso normale di una cambiale; questa può compiere interamente il suo
còmpito nella circolazione senza avalli; anzi se tutte le sue firme sono solide non porterà
avalli che sono un segno di poco credito per chi ne abbisogna. La disciplina giuridica
dell'avallo è fra le più controverse sia perchè ci manca il sussidio della legislazione e della
dottrina tedesca, cui à quasi sconosciuto questo istituto, sia perchè esse ha due aspetti
giuridici diversi secondo che si consideri l'avallante di fronte al possessore della
cambiale, o di fronte all'avallato: gli autori non si accordano nel definirlo perchè l'uno
considera maggiormente quell'aspetto che l'altro pone in seconda linea. A mio avviso, la
la vera dottrina dell'avallo non si può determinare se non si tien conto distintamente di
queste due specie di rapport. Entrambi sono di natura cabiaria, ma mentre il rapporto fra
l'avallante e il possessore può essere di sola natura cambiaria, il rapporto fra l'avallante
e l'avallato è dominato dal complesso dei rapporti personali per cui fu dato l'avallo; essi
ne determinano i limiti e ne prendono il posto, quando l'avallo ha perdto la sua forza
cambiaria"
15 STJ, REsp 1.049.984/MS, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, 4ª T., j. 03.10.2017, DJe
09.10.2017.
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18 Não é por outra razão que a jurisprudência do STJ firmou orientação de que a CPR
tem a mesma natureza jurídica da Cédula de Crédito Rural e, portanto, está submetida
ao mesmo regramento. Ver: STJ, AgInt no AREsp 906.114/PR, Rel. Min. Raul Araújo, 4ª
T., j. 06.10.2016, DJe 21.10.2016; STJ, RMS 10.272/RS, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, 4ª
T., j. 28.06.2001, DJ 15.10.2001.
23 Nesse sentido, já entendeu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul pelo cabimento
de aval na CPR. Ver: TJRS, Ap. cív. 70052753118, Rel. Des. Elaine Harzheim Macedo,
17ª CC, j. 11.04.2013.
24 STJ, REsp 1.483.853/RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, 3ª T., j. 04.11.2014, DJe
18.11.2014.
25 Ver: STJ, REsp 1.685.453/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ acórdão Min. Moura
Ribeiro, 3ª T., j. 24.10.2017, DJe 07.12.2017.
27 BORGES, João Eunápio. Do aval. Rio de Janeiro: Forense, 1955. p. 43. Nesse sentido:
“Na própria cambial, a obrigação dos endossadores, e até a do sacador, quando o título
fôr aceito é simples obrigação de garantia, embora suas firmas não tenham a garantia
como fim direto e imediato. Característico da fiança é a dependência estreita entre a
obrigação de garantia e a da pessoa garantida, de sorte que a existência daquela
depende da existência desta de modo tão íntimo, que a fiança não pode subsistir sem a
obrigação principal, sem cuja existência material ou jurídica não existirá tampouco a
fiança. Nula por qualquer motivo a obrigação principal, será igualmente nula a obrigação
acessória de garantia. A acessoriedade não pode de modo algum ser considerada caráter
acidental da fiança, ou caráter da fiança propriamente dita, como se fosse admissível
uma outra espécie de fiança, menos verdadeira ou menos própria, isenta daquele
caráter” (BORGES, João Eunápio. Op. cit., p. 30-31).
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29 STJ, REsp 1.435.979/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª T., j. 30.03.2017,
DJe 05.05.2017.
32 ROSA JR., Luiz Emygdio F. Títulos de crédito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 300.
No mesmo sentido: STJ, REsp 147.157/ES, Rel. Min. Waldemar Zveiter, j. 04.06.1998,
DJ 10.06.1998.
33 Nesse sentido: “De qualquer forma, nada impede que o avalista seja qualquer
pessoa, mesmo alguém desvinculado da produção rural. Na hipótese de vir a ser
executado o aval, não só o avalista pode adquirir os produtos no mercado para entregar
ao devedor como, pelas regras processuais da execução para entrega de coisa incerta, já
analisadas acima, sua obrigação acaba se convertendo em perdas e danos (pecuniárias)
na ausência dos produtos para entrega” (WALD, Arnoldo. Op. cit., p. 242).
35 Nesse sentido: STJ, REsp 1.177.968/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., j.
12.04.2011, DJe 25.04.2011.
36 STJ, REsp 1.538.139/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª T., j. 05.05.2016,
DJe 13.05.2016; STJ, REsp 1.097.242/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, 4ª T., j. 20.08.2013;
DJe 03.09.2013.
38 REIS, Marcus. Manual jurídico da CPR: teoria e prática da cédula de produto rural.
Belo Horizonte: Fórum, 2016. p. 93-94.
39 BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Nova lei de recuperação e falências comentada. São
Paulo: Ed. RT, 2005. p. 60.
40 STJ, REsp 1.333.349/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, j. 26.11.2014, DJe
02.02.2015.
42 MANDEL, Júlio Kahan. Nova lei de falências e recuperação de empresas anotada. São
Paulo: Atlas, 2006. p. 102.
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