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Análise de fonte

MARTINHO DE BARGA, Instrução Pastoral sobre


Superstições Populares: De Correctione Rusticorum

2018
A presente análise abarca o texto “Instrução pastoral sobre superstições populares: De
Correctione Rusticorum”, um sermão produzido por Martinho de Braga no noroeste da
Península Ibérica a pedido do Bispo Polêmio. Tal obra é comumente datada como proveniente
de meados do século VI, se inserindo, portanto, num contexto medieval. O autor, Martinho de
Braga, nasceu na Panónia, onde atualmente se situa o território reconhecido como a Hungria,
recebeu educação bizantina e, em função do segmento ortodoxo, dedicou-se à contribuição da
propagação da fé cristã, sendo reconhecido principalmente por suas práticas pastorais.

A fonte possui como principal objetivo se tratar de um direcionamento didático quanto


à prática pastoral. Tendo em vista de que, no período em questão, religião e política se
encontravam entrelaçadas, a fonte pode então ser caracterizada como um sermão de cunho
religioso, consequentemente político, que procurou exprimir em poucas palavras a origem dos
denominados ídolos pagãos. O foco da explanação se situa, concomitantemente, na
preocupação acerca das superstições, isto é, da presença de cultos considerados demoníacos e
demais práticas que eram repudiadas pela Igreja e que estavam presentes no universo dos povos
que se situavam nas regiões recém convertidas ao cristianismo.

O sermão em questão se dá no contexto do II Concílio de Braga, que legitima os


interesses e ações a serem realizadas pela Igreja. Portanto, havia naquele momento uma
urgência em reforçar a prática pastoral. Assim, Martinho de Braga reforça a condenação do
paganismo através de uma construção objetiva, enaltecendo crenças e comportamentos cristãos.
Por conseguinte, o autor busca reafirmar a consolidação do ritual do batismo e a imersão da
doutrina religiosa no universo mental das pessoas, dessa forma, ele busca em primeiro lugar
convergir a atenção de todos na sua explanação:

"Desejaríamos, filhos caríssimos, apresentar-vos, em nome do Senhor, algo de que ou


nunca ouvistes falar, ou que, se porventura ouvistes, votastes ao esquecimento.
Dirigimo-nos, por isso, à vossa caridade, a fim de que, quanto vos é proposto para
vossa salvação, o escuteis com a devida atenção." (BRAGA, Martinho de. De
Correctione Rusticorum, p. 107).

Buscando conferir uma fundamentação à lógica de conversão ao cristianismo e à


repressão das práticas pagãs, Martinho de Braga remonta a origem cristã, mostrando a presença
demoníaca nessa situação. Além disso, o autor procura trazer sua metodologia de uma forma
didática, numa tentativa de aproximar o público rural à compreensão da misericórdia de Deus.
Dessa forma, é possível se atentar a duas características: primeiramente, a complexidade da
implantação do cristianismo na civilização ocidental da Alta Idade Média e, em segundo lugar,
como a demonologia lida com as “superstições” citadas na fonte. Logo, Mário Jorge Bastos
(2013) explicita o primeiro ponto quando diz que:

"O anseio de implantação do cristianismo, originalmente vinculado à cultura de elite,


demandou a tarefa de "tradução" de seus preceitos essenciais à capacidade de
compreensão das plateias, o que deu origem à constituição de gêneros literários
particulares, como as narrativas de milagres, as hagiografias, os sermões, orientadores
para a reprodução da doutrina em níveis populares." (DA MOTTA BASTOS, Mário
Jorge. Assim na terra como no céu: paganismo, cristianismo, senhores e
camponeses na Alta Idade Média Ibérica (séculos IV-VIII), 2013, cap. III, pág.
113)

Diante dos fatores supracitados, se faz perceptível a intenção, dentro do sermão, de se


aplicar uma linguagem simples e acessível, condizendo também com os conteúdos que se
faziam presentes no universo mental dos receptores da mensagem. Portanto, é usual o encontro
entre estruturas no que tange à adaptação para diferentes tradições culturais no processo de
conversão dos povos. Retornando à primeira característica que fora apontada para análise, um
dos fatores que impactam o processo de cristianização da civilização ocidental era a forma como
a tradição escrita e a oral dialogavam entre si nesse contexto.

Segundo Mário Jorge Bastos (2013), a Igreja acaba se perdendo em alguns


condicionalismos diante do fator globalizante. A organização hierárquica entra em uma espécie
de nevoeiro frente ao embate de múltiplas correntes de pensamento sendo propagadas, fazendo
com que seja encontrada uma dificuldade na preservação das condições morais pela
comunicação e, devido a esses fatores, a legitimação nos concílios é de vital importância
principalmente para a definição de conceitos.

"À sua fonte primordial, o rico e variegado manancial constituído pela Bíblia,
impunha-se a característica fundamental de todo e qualquer texto: o sentido que
encerra não é unívoco, mas múltiplo e diversificado em suas possibilidades de
interpretação". (DA MOTTA BASTOS, Mário Jorge. Assim na terra como no céu:
paganismo, cristianismo, senhores e camponeses na Alta Idade Média Ibérica
(séculos IV-VIII), 2013, cap. III, pág. 117)

Explicitado no trecho supracitado, as relações e interpretações cunhadas a partir das


escrituras, que por diversas vezes também faziam parte da cultura oral, são probabilísticas. Na
Idade Média, a tradição oral é predominante dentro da cultura, mas também possuía relações
com os aspectos textuais. Brian Stock, em “Implications of literacy” (1993), conceitua literacy
como a relação complexa entre a cultura oral e os modelos textuais, com o objetivo de propagar
a herança cultural através das gerações.

"The study of medieval literacy´s implication pressupposes an understanstanding of


the broader transition to a type of society in which oral discourse exist largely within
a framwork of conventions determined by texts". (STOCK, Brian. The implications
of literacy. 1993, p. 12).

Relacionando esse conceito com a fonte em análise, é perceptível o âmbito da oralidade


no sermão, tendo em vista de que a pregação possuía um sentido de forma de acesso ao ensino.
Deste modo, está contida nesses fatores a representação da tradição oral fortemente ligada na
lógica medieval. Na tentativa de conversão dos pagãos, as práticas orais e escritas se encontram
sempre ligadas. Naquele contexto, não é o texto em si que denota autoridade, mas sim a leitura,
pois quem lê, detém o poder. É a partir da leitura de forma oral que o âmbito popular é
alcançado. Logo, por mais que tenha sido denominada com mais importância apenas no século
XII, a literacy sempre foi um fator existente e contribui largamente para a problemática da
heresia e da superstição. Assim, a maior parte das heresias vão se tratar de problemas com
relação à organização e interpretação dos textos bíblicos.

Partindo nesse momento mais especificamente para a narrativa de Martinho de Braga, é


possível notar que em sua retomada da origem cristã, exaltando costumes cristãos ortodoxos, o
autor explicita a intervenção do diabo e dos demônios que assombram o ser humano buscando
desvia-los do caminho da salvação. Ao separar a concepção de anjos bons e maus e da queda
de um anjo, caracterizando o Diabo, ele vincula a noção das práticas supersticiosas com a
tentação do que é considerado ruim, com o objetivo de demonstrar que se dedicar à doutrina
cristã e se manter longe de tais práticas pode aproximar a pessoa de Deus e conceder a salvação.

"Eis que é a Escritura Sagrada que o diz, e é bem verdade assim, pois que os demónios
tantas vezes persuadem os homens na sua infelicidade através do piar das aves que,
por coisas frívolas e vãs perdem a fé de Cristo, e, sem se aperceberem, caem no abismo
da sua morte". (MARTINHO DE BRAGA. De Correctione Rusticorum. p. 115).

No que tange a heresia, percebe-se que o autor não utiliza diretamente do conceito na
fonte – bem como não se obtém um conceito delimitado de heresia, mas é possível perceber na
construção do argumento que as práticas repudiadas e tratadas como crimes, heresias como as
superstições, vão estar entre o que deveria ser destruído naquele período. Outra questão é o
embate com o arianismo, que se trata de um exemplo do repúdio de elementos que saíam de
dentro da própria Igreja.

Nessa medida, a questão da veneração demoníaca, retomada várias vezes dentro da fala
de Martinho de Braga, se torna ponto chave para a compreensão do seu objetivo. Dentro dessa
questão, se destaca a concepção do Diabo como anjo caído, como é explicitado na fonte:

"Um de entre eles, que, por ser o primeiro de todos, fora feito arcanjo, ao ver-se em
tamanha glória, não prestou honra a Deus, seu criador, mas proclamou-se igual a Ele;
foi por causa desta arrogância que, juntamente com outros anjos que lhe deram
assentimento, foi derribado daquele assento celestial para o firmamento que fica
debaixo do céu; e ele que antes era arcanjo perdeu a luz da sua glória e tornou-se em
diabo tenebroso e horrível. (MARTINHO DE BRAGA. De Correctione
Rusticorum. p. 107 e 109).

Concomitantemente, se aliando à concepção de demônios e do Diabo, Martinho de


Braga consegue exemplificar a urgência da conversão ao cristianismo com o objetivo de se
distanciar dessas tradições pagãs. Assim, além de mostrar a habilidade de persuasão que os
demônios e os ídolos pagãos são dotados, o autor utiliza a personificação dos tais como a
negação do bem.

"Então o diabo e os seus ministros, os demónios, que tinham sido lançados fora do
céu, vendo que os homens, na sua ignorância, haviam abandonado o seu Criador e
andavam errantes pelas criaturas, começaram aparecer-lhes em diversas formas, a
falar com eles e a reclamar-lhes que lhes oferecessem sacrifícios no cimo dos montes
e florestas frondosas e lhes prestassem culto como a Deus, disfarçando-se com nomes
de homens criminosos, que tinham passado a sua vida em toda a sorte de crimes e
delitos” (MARTINHO DE BRAGA. De Correctione Rusticorum. p. 111).

Dessa forma, a força política e religiosa da Igreja é explicitada na fonte, demonstrando


que, ao exemplificar as questões do embuste demoníaco, a atividade pastoral busca atingir seu
objetivo. Martinho de Braga procura exemplificar o que é certo e o que é errado, para direcionar
o foco para a interrupção da adoração dos chamados ídolos pagãos, devido à preocupação
eclesiástica com as regiões recém convertidas. Assim, a separação desses polos é explicitada
como uma ponte de comunicação e divulgação da misericórdia divina.

Portanto, é com a trajetória discursiva dos fatores demoníacos que se busca a mudança,
tentando inserir o batismo como ritual principal e como função pragmática da busca pela
conversão. O sermão se inicia com a narrativa acerca da origem e criação e se encerra com a
concepção do juízo final, no qual a salvação depende apenas da vontade individual de manter-
se na graça divina. Logo, a tentativa de inserção da moral cristã dentro do universo mental
desses povos rústicos, objetivando a globalização da hierarquia eclesiástica, acaba esbarrando
em diversos problemas enfrentados pela Igreja no século VI. Existe, entre outras coisas, o
choque dos elementos cristãos com a tradição de vivência das regiões pagãs. Martinho de Braga,
nesse contexto, escreve uma espécie de convite, no qual a prática pastoral consolida um
chamado de interrupção das práticas pagãs para seguir no caminho da salvação.

"Cabe-vos a vós agora pensar e procurar como cada um a quanto recebeu irá
apresentá-lo com juros quando o senhor vier no dia de juízo. Rogamos, pois, à
clemência do Senhor, que vos proteja de todo o mal e vos faça dignos companheiros
dos seus santos anjos, no seu reino. Isso vos conceda Aquele que vive e reina pelos
séculos dos séculos. Amen." (MARTINHO DE BRAGA. De Correctione
Rusticorum. p. 125).
Referências Bibliográficas

a. Fonte

MARTINHO DE BRAGA. Instrução pastoral sobre superstições populares: De correctione


rusticorum. Ed. NASCIMENTO, Aires A. In NASCIMENTO, Aires A. Instrução pastoral
sobre superstições populares. Lisboa: Cosmos, 1997.

b. Bibliografia

DA MOTTA BASTOS, Mário Jorge. Assim na terra como no céu: paganismo, cristianismo,
senhores e camponeses na Alta Idade Média Ibérica (séculos IV-VIII). EDUSP, 2013.

STOCK, Brian. The implications of literacy. Written language and models of interpretation in
the Eleventh and Twelfth Centuries. New Jersey: Princeton University Press, 1983.

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