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Nossa América

José Martí

MARTÍ, José. Nossa América. Tradução de Maria Angélica de Almeida Triber. São Paulo:
HUCITEC, 1983.254p. p:194-201. (Texto original de 1891)

Comentário: Liliam Ramos (UFRGS)

NOSSA AMÉRICA

O aldeão vaidoso acha que o mundo inteiro é sua aldeia e desde que seja ele o prefeito, ou
podendo se vingar do rival que lhe tirou a noiva, ou desde que mantenha os cofres cheios,
acredita que é certa a ordem universal, ignorando os gigantes que possuem botas de sete léguas
e que podem lhe pôr a bota em cima, bem como a luta dos cometas lá no Céu, que voam pelo ar,
adormecidos, engolindo mundos. O que restar de aldeia na América deverá acordar. Estes não
são tempos para deitar de touca na cabeça, e sim com armas como travesseiro, como os varões
de Juan de Castellanos: as armas do discernimento, que vencem as outras. Trincheiras de idéias
valem mais do que trincheiras de pedra.

Não há proa que possa cortar uma nuvem de idéias. Uma idéia enérgica, acesa na hora
certa neste mundo, detém, como a bandeira mística do juízo final, um esquadrão de couraçados.
Os povos que não se conhecem devem ter pressa em se conhecer, como aqueles que vão lutar
juntos. Os que se enfrentam como irmãos ciumentos, que querem os dois a mesma terra, ou o da
casa menor que tem inveja do da casa melhor, devem se dar as mãos para que sejam um só. Os
que, ao amparo de uma tradição criminosa, cercearam, com o sabre banhado no sangue de suas
próprias veias, a terra do irmão vencido, do irmão castigado além de suas culpas, se não querem
ser chamados de ladrões pelo povo, que devolvam suas terras ao irmão. As dívidas de honra o
honrado não cobra em dinheiro, mas pela bofetada. Já não podemos ser o povo de folhas, que
vive no ar, carregado de flores, estalando ou zumbindo, conforme a acaricia o capricho da luz, ou
seja, açoitado ou podado pelas tempestades; as árvores devem formar fileiras, para que não
passe o gigante das sete léguas! É a hora da avaliação e da marcha unida, e deveremos marchar
bem unidos, como a prata nas raízes dos Andes.
Só aos deficientes faltará a coragem. Os que não acreditam em sua terra são homens
deficientes. Por lhes faltar a coragem, negam-na aos outros. Seu braço fraco, braço de unhas
pintadas e pulseira, o braço de Madri ou de Paris, não atinge a árvore difícil; e dizem que não é
passível atingir a árvore. É preciso acabar com esses insetos daninhos, que roem o osso da pátria
que os nutre. Se são parisienses ou madrilenhos, que vão para o Prado, com seus lampiões, ou a
Tortoni, com seus sorvetes. Estes filhos de marceneiro, que se envergonham de levar
indumentária indígena, da mãe que os criou, e que renegam - velhacos! - a mãe doente e a
deixam sozinha no leito da doença! Pois, quem é o homem? o que fica com a mãe, para curar-lhe
a doença, ou aquele que a faz trabalhar onde não a vejam, e vive de seu sustento nas terras
apodrecidas, rodeado pelos vermes, maldizendo o seio que o embalou e levando a pecha de
traidor nas costas da casaca improvisada? Estes filhos de nossa América, que deve se salvar com
seus índios e que vai de menos para mais; estes desertores que pedem fuzil aos exércitos da
América do Norte, que afoga em sangue seus índios e que vai de mal a pior! Estes delicados
homens que não querem fazer o trabalho de homens! Por acaso o Washington que lhes deu esta
terra foi viver com os ingleses, viver com os ingleses nos anos em que os via marchar contra sua
própria terra? Estes "incríveis" da honra, que a arrastam pelo chão estrangeiro, como os incríveis
da Revolução Francesa, dançando e regozijando-se, arrastando os erres!
E em que pátria pode o homem ter mais orgulho do que em nossas repúblicas dolorosas da
América, levantadas entre as massas mudas de índios, ao rumor da luta do livro contra o círio,
sobre os braços ensangüentados de uma centena de apóstolos? De fatores tão desordenados,
jamais, em menos tempo histórico, criaram-se nações tão adiantadas e compactas. Os orgulhosos
pensam que a terra foi feita para servir-lhes de pedestal, por terem a pena fácil e a palavra
colorida, e acusam de incapaz e irremediável sua república nativa, pois não lhes dá suas selvas
novas, uma maneira contínua de marchar pelo mundo como cacique famoso, guiando cavalos
persas e derramando champanhe. A incapacidade não está no país nascente, que pede formas
adequadas e grandeza útil, e sim naqueles que querem reger povos originais, de composição
singular e violenta, com leis herdadas de quatro séculos de prática livre nos Estados Unidos e de
dezenove séculos de monarquia na França. Com um decreta de Hamilton não se detém a marcha
do potro do boiadeiro. Com uma frase de Sieyès não se faz novamente fluir o sangue estancado
da raça indígena. Para tudo isso, onde quer que se governe, é preciso prestar atenção para
governar bem; e o bom governante na América não é o que sabe como se governam o alemão e o
francês, mas sim aquele que sabe de quais elementos está constituído seu país, e como pode
guiá-los conjuntamente para chegar, por métodos e instituições nascidas do próprio país, àquele
estado desejado, onde cada homem se conhece e acumpre sua função, e todos desfrutam da
abundância que a Natureza colocou para todos no povo que fecundam com seu trabalho e
defendem com suas vidas. O governo deve nascer do país. O espírito do governo deve ser o do
país. A forma de governo deverá concordar com a constituição própria do país. O governo não é
mais que o equilíbrio dos elementos naturais do país.
É por isso que o livro importado foi vencido, na América, pelo homem natural. Os homens
naturais venceram os letrados artificiais. O mestiço autóctone venceu o crioulo exótico. Não há
batalha entre a civilização e a barbárie, mas sim entre a falsa erudição e a natureza. O homem
natural é bom, e acata, e premia a inteligência superior, enquanto esta não se vale de sua
submissão para prejudicá-lo, ou não o ofende prescindindo dele, coisa que o homem natural não
perdoa, disposto a recuperar pela força o respeito do que lhe fere a suscetibilidade ou lhe
prejudica os interesses. Por esta concordância com os elementos naturais desdenhados, subiram
ao poder os tiranos da América; e caíram logo após tê-los traído. As repúblicas purgaram, nas
tiranias, sua incapacidade de conhecer os elementos verdadeiros do país, de derivar deles a
forma de governo, e de governar com eles. Governante, num povo novo, quer dizer criador.
Em povos instituídos por elementos cultos e incultos, os incultos governarão, graças a seu
hábito de agredir e de resolver dúvidas com a própria mão, enquanto os cultos não aprenderem a
arte de governar. A massa inculta é preguiçosa e tímida nas coisas da inteligência, e quer ser bem
governada; mas se o governo a fere, sacode-o e então governa. Como poderão sair das
universidades os governantes, se não há universidades na América onde se ensine o rudimentar
da arte de governo, que não é mais do que a análise dos elementos peculiares dos povos da
América? Os jovens saem pelo mundo adivinhando as coisas com óculos ianques ou franceses, e
pretendem dirigir um povo que não conhecem. Na carreira política dever-se-ia negar entrada aos
que desconhecem os rudimentos da política. O prêmio dos concursos não deverá ser para a
melhor ode, mas para o melhor estudo dos fatores do país em que se vive. No jornal, na cátedra,
na academia, deve-se levar adiante o estudo dos fatores reais do país. Basta conhecê-los, sem
vendas nem disfarces; pois aquele que, por vontade ou esquecimento, deixa de lado uma parte da
verdade, tomba, afinal, vítima da verdade que lhe faltou. e cresce na negligência e cresce na
negligência e derruba aquele que se levanta sem ela. Resolver o problema depois de conhecer
seus elementos é mais fácil do que resolver o problema sem conhecê-los. Vem o homem natural,
indignado e forte e derruba a justiça acumulada nos livros, porque não é administrada de acordo
com as necessidades patentes do país. Conhecer é resolver. Conhecer o país, e governá-lo
conforme o conhecimento, é o único modo de livrá-lo de tiranias. A universidade européia deve
dar lugar à universidade americana. A história da América, dos incas para cá, deve ser ensinada
minuciosamente, mesmo que não se ensine a dos arcontes da Grécia. A nossa Grécia é preferível
à Grécia que não é nossa. Nos é mais necessária. Os políticos nacionais substituirão os políticos
exóticos. Enxerte-se em nossas repúblicas o mundo; mas o tronco terá que ser o de nossas
repúblicas. E cale-se o pedante vencido; pois não há pátria na qual o homem possa ter mais
orgulho do que em nossas doloridas repúblicas americanas.
Apoiados no rosário, a cabeça branca, corpo mestiço de índio e de crioulo, chegamos,
denodados, ao mundo das nações. Com o estandarte da Virgem saímos à conquista da liberdade.
Um padre, alguns tenentes e uma mulher levantam no México a república sobre os ombros dos
índios. Um cônego espanhol, à sombra de sua capa, ensina a liberdade francesa a alguns
bacharéis magníficos, que colocam como chefe da América Central, contra a Espanha, o general
da Espanha. Com roupagens monárquicas, e o Sol no peito, a levantar povos se lançaram os
venezuelanos pelo Norte e os argentinos pelo Sul. Quando os dois heróis se chocaram, e o
continente ia tremer, um deles, que não foi o menor, desviou as rédeas. E como o heroísmo é
mais raro na paz, por ser menos glorioso que o da guerra; por ser para o homem é mais fácil
morrer com honra que pensar com ordem; bem como governar com os sentimentos exaltados e
unânimes ê mais fácil que controlar, depois da batalha, os pensamentos de todo tipo. arrogantes,
exóticos ou ambiciosos; dado que os poderes conquistados na arremetida épica solapavam, com
a cautela felina da espécie e com o peso do real, o edifício que levantara nas regiões rudes e
singulares de nossa América mestiça, nos povoados de calças curtas e casaco de Paris, a
bandeira dos povos nutridos pela seiva governante na prática contínua da razão e da liberdade,
dado que a constituição hierárquica das colônias resistia à organização democrática da República,
ou as capitais engravatadas deixavam na soleira da porta o campo de botas de montaria, ou os
redentores bíblicos não entenderam que a revolução triunfante com a alma da terra, desatada da
voz do salvador, com a alma da terra tinha que governar, e não contra ela nem sem ela, a
América começou a padecer, e padece, pelo cansaço da acomodação entre os elementos
discordantes e hostis, herdados de um colonizador despótico e avesso, e as idéias e formas
importadas que vieram retardando, por sua falta de realismo local, o governo lógico. O continente,
desarticulado durante três séculos por uma ordem que negava o direito do homem ao exercício de
sua razão, entrou, não atendendo ou não escutando os ignorantes que o tinham ajudado a se
redimir, num governo que tinha por base a razão; a razão de todos nas coisas de todos, e não a
razão universitária de alguns sobre a razão camponesa de outros. O problema da independência
não era uma mudança de forma, mas uma mudança de espírito.
Com os oprimidos era preciso fazer causa comum, para afiançar o sistema oposto aos
interesses e hábitos de mando dos opressores. O tigre, espantado pelo clarão do disparo, volta de
noite ao lugar da presa. Morre soltando fogo pelos olhos e com as garras ao ar. Não se escuta
quando se aproxima, pois vem com garras de veludo. Quando a presa acorda o tigre já está
atacando. A colônia continuou vivendo na república; e nossa América está se salvando de seus
grandes erros - da soberba das cidades capitais, do triunfo cego dos camponeses desdenhados,
da importação excessiva das idéias e fórmulas alheias, do desprezo injusto e grosseiro pela raça
aborígine, - pela virtude superior, adubada com o sangue necessário, da república que luta contra
a colônia. O tigre espera, atrás de cada árvore, agachado na esquina. Morrerá, garras ao ar,
soltando fogo pelos olhos.
Mas, "estes países têm salvação", como anunciou Rivadavia, o argentino, que foi delicado
demais em tempos duros: ao facão não cabe bainha de seda, nem no país que se ganhou com a
lança se pode jogar fora a lança, pois se enfurece e vai para a porta do Congresso de Itúrbide,
pedindo "para que nomeiem imperador ao loiro". Estes países têm salvação porque, com o gênio
de moderação que parece imperar, pela harmonia serena da Natureza, no continente da luz, e
pela influência da leitura critica que sucedeu na Europa à leitura de procura e falanstério em que
se embebeu a geração anterior, está nascendo na América, nesses tempos reais, o homem real.
Éramos uma visão, com peito de atleta, mãos de janota e cara de criança. Éramos uma
máscara, com as calças de Inglaterra, o colete parisiense, o jaquetão da América do Norte e o
chapéu da Espanha. O índio, mudo, andava ao nosso redor e ia para a montanha, para o cume da
montanha, para batizar seus filhos. O negro, policiado, cantava na noite a música de seu coração,
só e desconhecido, entre as ondas e as feras. O camponês, o criador, revoltava, cego de
indignação, contra a cidade desdenhosa, contra as suas criaturas. Éramos dragonas e togas, em
países que vinham ao mundo com alpargatas nos pés e fitas na cabeça. Teria sido genial irmanar
a caridade do coração e a ousadia dos fundadores, a fita e a toga; desestagnar o índio; ir dando
espaço ao negro suficiente; adaptar a liberdade ao corpo dos que se levantaram e venceram por
ela. Ficou-nos o ouvidor, e o general, e o letrado, e o prebendado. A juventude angelical, como
dos braços de um polvo, lançava ao Céu, para cair com glória estéril, a cabeça coroada de
nuvens. O povo nativo, com o impulso do instinto, carregava, cegado pelo triunfo, os bastões de
ouro. Nem o livro europeu, nem o livro ianque davam a chave do enigma hispano-americano.
Apareceu o ódio e os países pioraram a cada ano. Cansados do ódio inútil, da resistência do livro
contra a lança, da razão contra os círios, da cidade contra o campo; do império impossível das
castas urbanas divididas sobre a nação natural, tempestuosa ou inerte, começa-se,
inconscientemente, a experimentar o amor. Os povos se levantam e se cumprimentam. "Como
somos?" se perguntam; e uns a outros vão dizendo como são. Quando aparece um problema em
Cojimar, não vão buscar a solução em Dantzig. As levitas ainda são da França, mas o
pensamento começa a ser da América. Os jovens da América arregaçam as mangas, põem as
mãos na massa e a fazem crescer com a levedura de seu suor. Entendem que se imita demais e
que a salvação é criar. Criar é a palavra-chave desta geração. O vinho é de banana; e se sair
ácido, é o nosso vinho! Entende-se que as formas de governo de um país deverão se acomodar a
seus elementos naturais; que as idéias absolutas, para não pecar por erros de forma, devem ser
postas em formas relativas; que a liberdade, para ser viável, tem que ser sincera e plena; que, se
a república não abre os braços a todos, morre a república. O tigre de dentro e o tigre de fora
entram pelas frestas. O general faz parar a cavalaria à passagem dos infantes. Ou, se deixa para
trás os infantes, o inimigo lhe envolve a cavalaria. Estratégia é política. Os povos devem viver
criticando-se, porque a crítica é a saúde; mas com um só peito e uma só mente. Descer até os
infelizes e levantá-los nos braços! Com o fogo do coração, degelar a América coagulada! Verter,
fervendo e latejando nas veias, o sangue nativo do país! De pé, com o olhar alegre dos
trabalhadores, saúdam-se, de um povo a outro, os novos homens americanos. Surgem os
estadistas naturais do estudo direto da Natureza. Lêem para aplicar, não para copiar. Os
economistas estudam os problemas nas suas origens. Os oradores começam a ser sóbrios. Os
dramaturgos levam à cena os personagens nativos. As academias discutem temas nossos. A
poesia corta a cabeleira zorrillesca e pendura na árvore gloriosa o colete vermelho. A prosa,
faiscante e depurada, está carregada de idéias. Os governadores, nas repúblicas de índios,
aprendem a linguagem dos índios.
A América vai se salvando de todos os seus perigos. Sobre algumas repúblicas está
dormindo o polvo. Outras, pela lei do equilíbrio, se lançam ao mar, para recuperar, com pressa
louca e sublime, os séculos perdidos. Outras, esquecendo que Juárez passeava numa carruagem
de mulas, fazem uma carruagem de vento e colocam como cocheiro uma bolha de sabão; o luxo
venenoso, inimigo da liberdade, apodrece o homem leviano e abre a porta ao estrangeiro. Outras
apuram, com o espírito épico da independência ameaçada, o caráter viril. Outras, na guerra
rapace contra o vizinho, criam a soldadesca que poderá devorá-las. Mas talvez corra outro perigo
a nossa América, que não lhe vem de si mesma, e sim da diferença de origens, métodos e
interesses entre os dois fatores continentais e está chegando a hora em que dela se aproxima,
demandando relações íntimas, um povo empreendedor e pujante que a desconhece e desdenha.
E como os povos viris, que se formaram por si mesmos, com a escopeta e com a lei, amam, e só
amam, aos povos viris, como a hora do desenfreio e da ambição, de que talvez se livre, pelo
predomínio da pureza de seu sangue, a América do Norte, ou na qual poderia ser lançada por
suas massas vingativas e sórdidas, pela tradição de conquista e pelos interesses de um caudilho
hábil, não está ainda tão próxima aos olhos dos mais afoitos, de modo a não dar tempo para a
prova de altivez, contínua e discreta com a qual seria possível encará-la e desviá-la; já que o seu
decoro de república impõe à América do Norte, perante os povos atentos do Universo, um freio
que não pode tirar a provocação pueril ou a arrogância ostensiva, ou a discórdia parricida de
nossa América, - o dever urgente de nossa América é mostrar-se como é, unida em alma e
intenção, vencedora veloz de um passado sufocante, manchada apenas com o sangue do adubo,
arrancado das mãos, na luta com as ruínas, e o das veias que nossos donos furaram. O desprezo
do formidável vizinho, que nos desconhece, é o maior perigo de nossa América; e é urgente, já
que o dia da visita está próximo, que o vizinho a conheça, que a conheça logo, para que não a
despreze. Talvez por ignorância chegasse a cobiçá-la. Por respeito, tão logo a conhecesse, tiraria
as mãos dela. É preciso ter fé no melhor do homem e desconfiar do pior dele. É preciso dar
oportunidade ao melhor para que se revele e prevaleça sobre o pior. Senão, o pior prevalece. Os
povos devem ter um pelourinho para aqueles que o incitam a ódios inúteis; e outro para aqueles
que não lhes dizem a verdade a tempo.
Não existe ódio de raças, porque não existem raças. Os pensadores raquíticos, os
pensadores de lampiões, tecem e requentam as raças de livraria, que o viajante justo e o
abobservador cordial procuram em vão na justiça da Natureza, onde se destaca no amor vitorioso
e no apetite turbulento, a identidade universal do homem. A alma emana, igual e eterna, de corpos
diversos em forma e em cor. Peca contra a Humanidade quem fomenta e propaga a oposição e o
ódio das raças. Mas ria mistura dos povos, na aproximação com outros povos diversos, se
condensam características peculiares e ativas de idéias e de hábitos, de abertura e de aquisição,
de vaidade e de avareza, que um estado latente de preocupações nacionais poderia, num período
de desordem interna ou de precipitação do caráter acumulado do país, transformar-se numa grave
ameaça para as terras vizinhas, isoladas e fracas, que o país forte declara destrutíveis e
inferiores. Pensar é servir. Não devemos supor, por antipatia provinciana, uma maldade congênita
e fatal no povo loiro do continente, só por não falar nosso idioma, nem ver as coisas como nós as
vemos, nem se parecer a nós em seus defeitos políticos, que são diferentes dos nossos; nem
porque despreze os homens biliosos e morenos, e olhe indulgentemente, de sua eminência ainda
insegura, aqueles que, menos favorecidos pela História, sobem em lances heróicos pelos
caminhos das repúblicas; - nem serão escondidos os dados patentes do problema que pode ser
resolvido, para a paz dos séculos, com o estudo oportuno e a união tácita e urgente da alma
continental. Porque já ressoa o hino unânime; a atual geração leva às costas, pelo caminho
adubado por seus pais sublimes, a América trabalhadora; do rio Bravo ao estreito de Magalhães,
sentado no dorso do condor, espalhou o Grande Semi, nas nações românticas do continente e
nas ilhas doloridas do mar, a semente da América nova!
El Partido Liberal, 30 de janeiro de 1891.
Obras Completas, t. VI, pp. 15-23.

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