Os dados são alarmantes. Várias pesquisas indicam resultados comuns:
as pessoas estão cada vez mais infelizes em suas atividades profissionais. No livro “Como alcançar a felicidade no trabalho”, o autor entrevistou mais de 300 profissionais, dos quais cerca de 90% confessaram estarem frustrados com a atividade que realizam ou gostariam de fazer algo diferente do que fazem atualmente. Nos EUA, o Deloitte´s Shift Index revelou que 80% das pessoas ouvidas estão insatisfeitas profissionalmente. Em outro levantamento, o Instituto Locomotiva indicou que a mesma insatisfação chega a 56% entre homens e mulheres. Muitos estão insatisfeitos com o trabalho que têm e muitos estão em busca de um novo trabalho, em um momento no qual Brasil atinge o número de 13,7 milhões de desempregados. Para aqueles que estão empregados, algumas reclamações são recorrentes: “não sou valorizado como profissional”; “não estou satisfeito com o meu salário”; “o meu trabalho é estafante”; “não faço o que eu gosto”; “o meu chefe não é legal comigo”; “não gosto dos meus colegas de equipe”. Diante dessa realidade, a proposta hoje não é discutir a condição estressante dos ambientes de trabalho, que é uma realidade incontestável, e as dificuldades inerentes a um mercado cada vez mais competitivo. A ideia é tratar da parcela de responsabilidade que precisamos ter com a nossa própria carreira, com a nossa qualidade de vida e com as atitudes que temos no âmbito profissional. A pergunta é o que podemos fazer para diminuir a frustração com as atividades profissionais que realizamos? Encontraremos inúmeras “receitas”, mas o que é certo é que as mudanças não começam no ambiente externo. O primeiro passo que devemos dar para estarmos em paz com o trabalho que executamos é assumir que as primeiras transformações devem ocorrer em nosso mundo interior, na forma de encarar a nossa realidade atual e no estabelecimento dos objetivos para o futuro. Isso significa mudar a maneira de pensar e, portanto, a maneira de criar nossa realidade. Pensemos que todo ser humano é energia, portanto, tudo o que produzimos também o é. Esse é o caso dos nossos pensamentos, que pelo poder da intenção, tornam-se tangíveis e têm a força para alterar a nossa condição e o ambiente a nossa volta. O problema é que muitas pessoas confundem intenção com desejo, intencionar com desejar. O desejo é uma ambição, um anseio, uma aspiração. Ele é incentivador, motivador, mas não possuí, sozinho, poder realizador. Ficar apenas no campo dos desejos, leva-nos a criar condições propícias para que ocorra a frustração com a nossa condição. Vejamos um exemplo. Uma pessoa pode passar uma vida inteira ouvindo que tem uma voz linda, que deveria cantar profissionalmente. Os elogios acalentam nela o desejo de atuar nesse campo. Embora ela idealize uma condição possível, permanece estagnada e não realiza o movimento necessário para transformar o ideal em real. Com a intenção é diferente, estabelecemos um alvo, uma finalidade. Ao intencionar nós planejamos, o que significa agimos conscientemente em prol de algo. A nossa mente se coloca em ação, movimentando energia e provocando transformações. Voltando ao exemplo da pessoa que deseja cantar, se as pregas vocais não forem colocadas em ação, não haverá som, porque não houve esforço para o aprimoramento e para a realização. Ao ficar apenas no campo dos desejos, essa pessoa passará a vida reclamando que seu sonho sempre foi cantar, mas não sairá do sofá para se matricular em uma aula de canto. Perdemos muito tempo alimentando desejos e gastamos pouco tempo colocando nossa atenção em nossa intenção. Ouvimos muitas pessoas desejando ter um trabalho melhor, ou um salário mais alto todos os dias quando chegam em casa, cansadas depois de um dia estressante. O desejo é nobre e todos devemos sonhar com a melhoria profissional contínua. Contudo, acalentamos o trabalho dos sonhos, o chefe dos sonhos, a equipe dos sonhos e o salário dos sonhos, enquanto assistimos a novela em nosso sofá. No outro dia, acordamos e retornamos as nossas atividades, mantendo a rotina diária, sem prestar atenção aos nossos sentimentos, aos relacionamentos com as outras pessoas e às oportunidades que estamos perdendo. Permanecemos assim, como se estivéssemos no piloto automático, sem planejar a mudança desejada, transformando-a em uma intenção, em uma força capaz de colocar em movimento o que for necessário para construir a realidade profissional que desejamos. “Eu quero”, “eu peço”, “eu preciso”, “eu mereço” são frases que repetimos ao longo do dia. Entretanto, é essencial que estejam acompanhadas de ação, que resulta de reais intenções de transformação interna. Mergulhados em nossos desejos, estagnamos. Ficamos afogados em emoções que nos colocam no lugar da vítima, levando-nos a entrar na fila para pedir, para esperar de uma força maior ou de alguém, a solução para os nossos problemas. Ao não conseguirmos o que desejamos, ficamos frustrados, reclamamos e revoltamo-nos contra aqueles que acreditamos não estarem atendendo aos nossos desejos: o chefe, a família, Deus, a vida, enfim, todos que podem ser caracterizados como “os outros”. Sair dessa postura, significa enfrentar o medo da mudança e dar o primeiro passo, colocando-nos a caminho, abandonando a fila de espera. Para isso é preciso deixar de lado o desejo, quase infantil, de que os outros resolvam nossos problemas, e sair em busca de soluções. Estar pronto para deixar de estender a mão apenas para receber e pedir, para abandonar o campo dos desejos. Fazendo isso, colocamos em prática a nossa intenção e iniciamos o processo de transformação daquilo que não está fazendo-nos felizes em nossas escolhas profissionais.