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Saberes profissionais dos professores

e conhecimentos universitários
Elementos para uma epistemologia da prática
profissional dos professores e suas conseqüências
em relação à formação para o magistério

Maurice Tardif
Faculté des Sciences de l’Éducation, Université Laval

Apresentação versitários, e entre os professores do ensino


básico e os professores universitários (pesqui-
Neste texto, abordaremos três questões que, sadores ou formadores), no que diz respeito à
nos últimos vinte anos, têm estado no centro da pro- profissionalização do ensino e à formação de
blemática da profissionalização do ensino e da for- professores?
mação de professores, em um grande número de
países ocidentais: A fim de proporcionar elementos que permi-
tam responder a essas três perguntas, vamos, em
> Quais são os saberes profissionais dos
um primeiro momento, fazer uma breve descrição
professores, isto é, quais são os saberes (conhe-
da conjuntura social na qual se vem desenvolven-
cimentos, competências, habilidades etc.) que
do, hoje, o movimento de profissionalização do
eles utilizam efetivamente em seu trabalho diá-
ensino. Em um segundo momento, proporemos
rio para desempenhar suas tarefas e atingir
uma definição daquilo que entendemos por “epis-
seus objetivos?
temologia da prática profissional”, especificando,
> Em que e como esses saberes profissio- de forma sucinta, algumas conseqüências dessa de-
nais se distinguem dos conhecimentos univer- finição para a pesquisa sobre o ensino. Em um ter-
sitários elaborados pelos pesquisadores da área ceiro momento, procuraremos ver de que modo
de ciências da educação, bem como dos conhe- essa definição permite destacar algumas das mais
cimentos incorporados nos cursos de forma- importantes características da prática dos profes-
ção universitária dos futuros professores? sores. Finalmente, como conclusão identificaremos
algumas conseqüências dessa análise da prática
> Que relações deveriam existir entre os
profissional em relação aos programas de forma-
saberes profissionais e os conhecimentos uni-
ção para o magistério, aos dispositivos de forma-

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ção e às práticas profissionais dos formadores de fissional tais como se acham expressas, nos últimos
professores. vinte anos, na literatura sobre as profissões (Bour-
doncle, 1994; Tardif e Gauthier, 1999):
A profissionalização do ensino:
> Em sua prática, os profissionais devem-
uma conjuntura paradoxal
se apoiar em conhecimentos especializados e
formalizados, na maioria das vezes, por inter-
Para começar, demoremo-nos um pouco na
médio das disciplinas científicas em sentido
atual conjuntura social, pois se trata de um contexto
amplo, incluindo, evidentemente, as ciências
bastante paradoxal, considerando que se pede aos
naturais e aplicadas, mas também as ciências
professores para se tornarem profissionais no mo-
sociais e humanas, assim como as ciências da
mento em que o profissionalismo, a formação pro-
educação.
fissional e as profissões mais bem assentadas atra-
vessam um período de crise profunda. > Esses conhecimentos especializados de-
vem ser adquiridos por meio de uma longa for-
O movimento de profissionalização mação de alto nível, a maioria das vezes de na-
busca renovar os fundamentos tureza universitária ou equivalente. Essa for-
epistemológicos do ofício de professor mação é sancionada por um diploma que pos-
sibilita o acesso a um título profissional, títu-
Na América do Norte e na maioria dos outros lo esse que protege um determinado território
países de cultura anglo-saxônica (Austrália, Ingla- profissional contra a invasão dos não-diplo-
terra etc.), bem como, de forma mais recente, na mados e dos outros profissionais.
Europa francófona (Bélgica, França, Suíça), toda a
> Embora possam basear-se em discipli-
área educacional está mergulhada em uma vasta
nas científicas ditas “puras”, os conhecimen-
corrente de profissionalização dos agentes da educa-
tos profissionais são essencialmente pragmá-
ção em geral e dos professores em particular (Gins-
ticos, ou seja, são modelados e voltados para
burg e Linday, 1995; Judge et al., 1994; Paquay et
a solução de situações problemáticas concre-
al., 1996; Tardif, Lessard e Gauthier, 1998; Tisher
tas, como, por exemplo, construir uma pon-
et al., 1990). Também encontramos essa corrente
te, ajudar um cliente a resolver seus conflitos
em vários países latino-americanos (Lüdke e Mo-
psicológicos, resolver um problema jurídico,
reira, 1999; Tato e Velez, 1997). A profissionaliza-
facilitar a aprendizagem de um aluno que está
ção do ensino e da formação para o ensino consti-
com dificuldades etc.
tui, portanto, um movimento quase internacional
e, ao mesmo tempo, um horizonte comum para o > Em princípio, só os profissionais, em
qual convergem os dirigentes políticos da área da oposição aos leigos e aos charlatães, possuem
educação, as reformas das instituições educativas e a competência e o direito de usar seus conhe-
as novas ideologias da formação e do ensino (Tar- cimentos, conhecimentos esses que são, de um
dif, Lessard e Gauthier, 1998; Lessard et al., 1999). certo modo, esotéricos: eles pertencem legal-
A questão da epistemologia da prática profis- mente a um grupo que possui o direito exclu-
sional se encontra, evidentemente, no cerne desse sivo de usá-los por ser, em princípio, o único
movimento de profissionalização. De fato, no mun- a dominá-los e a poder fazer uso deles.
do do trabalho, o que distingue as profissões das
> Isso significa também que só os profis-
outras ocupações é, em grande parte, a natureza dos
sionais são capazes de avaliar, em plena cons-
conhecimentos que estão em jogo. Lembremos aqui
ciência, o trabalho de seus pares. O profissio-
as principais características do conhecimento pro-

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nalismo acarreta, portanto, uma autogestão cípio, uma boa parte da carreira e os conheci-
dos conhecimentos pelo grupo dos pares, bem mentos profissionais partilham com os conhe-
como um autocontrole da prática: a competên- cimentos científicos e técnicos a propriedade
cia ou a incompetência de um profissional só de serem revisáveis, criticáveis e passíveis de
podem ser avaliadas por seus pares. aperfeiçoamento.

> Esses conhecimentos exigem também > Enfim, os profissionais podem ser con-
autonomia e discernimento por parte dos pro- siderados responsáveis pelo que os anglófonos
fissionais, ou seja, não se trata somente de co- chamam de malpractice, ou seja, pelo mau uso
nhecimentos técnicos padronizados cujos mo- de seus conhecimentos, causando, desse modo,
dos operatórios são codificados e conhecidos danos a seus clientes. A autonomia e a com-
de antemão, por exemplo, em forma de roti- petência profissionais têm, como contrapeso,
nas, de procedimentos ou mesmo de receitas. a imputabilidade dos profissionais e sua res-
Ao contrário, os conhecimentos profissionais ponsabilidade para com os clientes. Um pro-
exigem sempre uma parcela de improvisação fissional pode cometer erros pelos quais pode
e de adaptação a situações novas e únicas que ser considerado técnica e legalmente respon-
exigem do profissional reflexão e discernimen- sável, o que quer dizer que se pode, em prin-
to para que possa não só compreender o pro- cípio, estabelecer uma relação direta, e até cau-
blema como também organizar e esclarecer os sal, em certos casos, entre a realização de seus
objetivos almejados e os meios a serem usados atos e a aplicação de seus conhecimentos, em
para atingi-los. É o que Schön (1983) chama função dos padrões de competência aceitos
de “construção do problema”, em oposição à dentro de sua própria profissão (Office des
“resolução instrumental do problema”, que Professions, 1998). Aqui, não se trata somen-
seria baseada na aplicação de teorias e técni- te de erros deontológicos ou de falta de ética
cas prévias. De forma análoga, Jamous e Pe- profissional, mas sim de erros de julgamento
loille (1985) afirmam que todo processo de ou de manifestações de incompetência referen-
produção se caracteriza por um certo grau de tes ao uso judicioso dos conhecimentos acei-
indeterminação (I) no trabalho em relação a tos, em função das particularidades de uma si-
um grau de tecnicidade (T); eles afirmam que tuação concreta. A avaliação desse tipo de erro
aquilo que entendemos por profissão se carac- depende muito mais de um julgamento em-
teriza por uma razão I/T elevada, isto é, um pírico ou técnico do que de um julgamento
alto grau de indeterminação na realização do deontológico ou normativo e supõe a existên-
processo de trabalho, o que exige dos profis- cia, por mínima que seja, de um “repertório
sionais uma construção de julgamentos em si- de conhecimentos profissionais” à qual seja
tuações de ação. possível referir-se para julgar a importância do
erro cometido.
> Tanto em suas bases teóricas quanto
em suas conseqüências práticas, os conheci- Essas são, portanto, as principais característi-
mentos profissionais são evolutivos e progres- cas do conhecimento profissional. Ora, de uns vinte
sivos e necessitam, por conseguinte, uma for- anos para cá, o objetivo do movimento de profis-
mação contínua e continuada. Os profissio- sionalização do ofício de professor tem sido, exa-
nais devem, assim, autoformar-se e reciclar- tamente, o de conseguir desenvolver e implantar es-
se através de diferentes meios, após seus es- sas características dentro do ensino e na formação
tudos universitários iniciais. Desse ponto de de professores. Desse ponto de vista, em educação,
vista, a formação profissional ocupa, em prin- a profissionalização pode ser definida, em grande

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parte, como uma tentativa de reformular e renovar seja, dos conhecimentos, estratégias e técnicas
os fundamentos epistemológicos do ofício de pro- profissionais por meio dos quais certos profis-
fessor e de educador, assim como da formação para sionais (médicos, engenheiros, psicólogos, for-
o magistério. Todos os esforços realizados nos úl- madores, professores etc.) procuram solucio-
timos vinte anos para construir um repertório de nar situações problemáticas concretas. A pe-
conhecimentos (knowledge base) específico ao en- rícia profissional perdeu progressivamente sua
sino vão nessa direção (Gauthier et al., 1998), bem aura de ciência aplicada para aproximar-se de
como as numerosas reformas visando a definir e a um saber muito mais ambíguo, de um saber
fixar padrões de competência para a formação dos socialmente situado e localmente construído.
professores e para a prática do magistério. Se esses Assimilada durante muito tempo ao exercício
esforços e reformas forem bem-sucedidos, o ensi- de uma racionalidade instrumental diretamen-
no deixará, então, de ser um ofício para tornar-se te baseada no modelo das ciências aplicadas,
uma verdadeira profissão, semelhantemente à pro- uma racionalidade capaz de calcular e combi-
fissão de médico ou às profissões de engenheiro e nar eficazmente meios e fins, a perícia profis-
de advogado. sional está sendo cada vez mais percebida hoje
Essa tentativa tem seus adeptos e seus adver- em dia de acordo com o modelo de uma racio-
sários, seus defensores e seus detratores (Tardif e nalidade limitada, de uma racionalidade im-
Gauthier, 1999). Os inúmeros debates a esse respei- provisada, na qual o processo reflexivo, a im-
to levantam problemas complexos cujo alcance ul- provisação, a indeterminação, a criatividade,
trapassa a intenção deste artigo, que busca discutir a intuição, o senso comum desempenham um
as características dos saberes profissionais dos pro- grande papel, apoiando-se, ao mesmo tempo,
fessores e suas conseqüências em relação à forma- em rotinas próprias a cada tradição profissio-
ção para o magistério e à pesquisa universitária. nal. O conhecimento profissional possui tam-
bém dimensões éticas (valores, senso comum,
A crise do profissionalismo saberes cotidianos, julgamento prático, interes-
ses sociais etc.) inerentes à prática profissional,
Entretanto, para compreender melhor os as- especialmente quando esta se aplica a seres hu-
pectos atuais dessa questão, parece-me necessário manos: pacientes, prisioneiros, alunos, usuá-
chamar a atenção para um fenômeno importante rios dos serviços sociais etc. Essas mudanças
de que pouco se fala em educação: historicamente na visão da perícia profissional suscitaram
falando, nos últimos vinte anos, a profissionali- controvérsias a respeito do valor dos funda-
zação da área educacional se desenvolveu em meio mentos epistemológicos das práticas profis-
a uma crise geral do profissionalismo e das profis- sionais. Houve, assim, uma multiplicação das
sões, inclusive das profissões mais bem assentadas escolas de pensamento e dos referenciais, pro-
como a medicina, o direito e a engenharia. Essa vocando uma intensificação nos debates entre
crise provocou muitos debates, análises e diagnós- profissionais e um aumento nos questionamen-
ticos que não retomaremos aqui de maneira por- tos do público com relação ao tipo e ao valor
menorizada (Bourdoncle, 1991, 1993; Fullan et dos saberes nos quais se apóiam os atos pro-
al., 1998; Laberree, 1992, 1997; Laberree e Pallas, fissionais. A ausência de referências comuns
1996; Schön, 1983). Podemos resumi-la em quatro gerou divisão e confusão entre os profissionais
pontos: e multiplicou os problemas de comunicação
entre os adeptos de diferentes correntes de pen-
> 1. A crise do profissionalismo é, em pri-
samento, o que dá agora a impressão de que
meiro lugar, a crise da perícia profissional, ou
muitas profissões não dispõem de um repertó-

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rio de saberes estável, codificado, consensual > 4. Enfim, a crise do profissionalismo é,


e portador de imputabilidade. em última instância, a crise da ética profissio-
nal, isto é, dos valores que deveriam guiar os
> 2. Essa crise da perícia profissional pro-
profissionais. Nos últimos trinta anos, obser-
voca um impacto profundo na formação pro-
va-se que a maioria dos setores sociais onde
fissional. Na maioria das profissões, esse im-
atuam profissionais tem sido permeada por
pacto se manifesta por meio de uma grande
conflitos de valores para os quais torna-se cada
insatisfação e de críticas muitas vezes ferrenhas
vez mais difícil achar ou inventar princípios
contra a formação universitária oferecida nas
reguladores e consensuais. Esses conflitos de
faculdades e institutos profissionais (Clark e
valores parecem ainda mais graves nas profis-
Neave, 1992; Lessard e Tardif, 1998). Em vá-
sões cujos “objetos de trabalho” são seres hu-
rios países, muitos se perguntam se as univer-
manos, como é o caso do magistério. Valores
sidades, dominadas por culturas disciplinares
como a saúde, a justiça e a igualdade perde-
(que são, além disso, e acima de tudo, cultu-
ram a sua transparência, seu poder de evidên-
ras “monodisciplinares”) e por imperativos de
cia e sua força de integração. Para os profissio-
produção de conhecimentos, ainda são real-
nais, essa situação se expressa por meio de uma
mente capazes de proporcionar uma formação
complexificação crescente do discernimento e
profissional de qualidade, ou seja, uma forma-
da atividade profissionais: se os valores que
ção assentada na realidade do mundo do tra-
devem guiar o agir profissional não são mais
balho profissional. No que diz respeito à edu-
evidentes, então a prática profissional supõe
cação, na América do Norte, um número ca-
uma reflexão sobre os fins almejados em opo-
da vez maior de pessoas reclama que a forma-
sição ao pensamento tecnoprofissional situa-
ção de professores seja feita fora dos modelos
do apenas no âmbito dos meios. A reflexão
dominantes da cultura universitária e, como na
sobre a ética profissional cessa de existir como
época das escolas normais, que seja ligada ao
um discurso que é exterior à prática e que do-
meio escolar, como já ocorre com as “escolas
mina a ação: ela reside doravante no próprio
associadas” no Quebec e com as Professional
cerne do discernimento profissional a ser exer-
Development Schools nos Estados Unidos.
cido na prática cotidiana e co-constitui essa
> 3. A crise do profissionalismo aponta prática.
também para a crise do poder profissional e
para a confiança que o público e os clientes de- A crise a respeito do valor dos saberes profis-
positam nele. É preciso entender, aqui, o ter- sionais, das formações profissionais, da ética pro-
mo “poder” tanto no sentido político quanto fissional e da confiança do público nas profissões
no sentido de capacidade ou competência. Por e nos profissionais constitui o pano de fundo do
um lado, no sentido político, o poder profis- movimento de profissionalização do ensino e da
sional parece, com demasiada freqüência, es- formação para o magistério. Ora, essa crise coloca
tar servindo muito mais aos interesses dos pro- atualmente os atores das reformas do ensino e da
fissionais do que aos interesses de seus clien- profissão docente em uma situação duplamente
tes e do público em geral. Por outro lado, se coercitiva: por um lado, há pressões consideráveis
pensarmos em termos de capacidade, o poder para profissionalizar o ensino, a formação e o ofí-
profissional perde tanto quanto ganha e, quan- cio de educador; por outro, as profissões perderam
do ganha, seus êxitos são muitas vezes ambí- um pouco de seu valor e de seu prestígio e já não
guos e portadores de efeitos imprevistos e às está mais tão claro que a profissionalização do en-
vezes perversos. sino seja uma opção tão promissora quanto seus

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partidários querem que se acredite (Tardif, Lessard ciado, do lado anglo-americano, ao desenvolvimen-
e Gauthier, 1998; Tardif e Gauthier, 1999). to da sociologia das ciências e a diversos estudos
Parafraseando uma frase célebre de Kant, ti- sobre o conhecimento comum, o senso comum etc.,
rada da Crítica da razão pura, em educação, essa oriundos da etnometodologia, do interacionismo
conjuntura paradoxal deveria pelo menos tirar-nos simbólico e da sociologia cognitiva, bem como do
do “sono dogmático da razão profissional”, man- linguistic turn da filosofia de expressão inglesa. Do
tendo-nos acordados e sobretudo alertas diante dos lado francófono e europeu continental, a epistemo-
riscos e perigos que ela comporta para a educação logia, dominada durante muito tempo pelo neokan-
e para a formação. É, portanto, nesse contexto du- tismo e pelo positivismo, vai também se libertar do
plamente coercitivo que a questão de uma episte- estudo estrito da lógica científica para incorporar,
mologia da prática profissional acha sua verdadei- em suas preocupações, a história das ciências (Gan-
ra pertinência. De fato, se admitirmos que o movi- guilhem), a psicologia (Bachelard, Piaget), a socio-
mento de profissionalização é, em grande parte, logia e a antropologia das ciências (Latour) etc., sem
uma tentativa de renovar os fundamentos episte- falar de pensadores mais radicais como Derrida,
mológicos do ofício de professor, então devemos Lyotard ou Foucault, que vão questionar profun-
examinar seriamente a natureza desses fundamen- damente a autonomia das ciências e da racionali-
tos e extrair daí elementos que nos permitam en- dade científica, esforçando-se para colocar em evi-
trar num processo reflexivo e crítico a respeito de dência a conivência delas com diferentes formas de
nossas próprias práticas como formadores e como poder. Desde a década de 1960, pode-se dizer que
pesquisadores. assistimos a um certo esfacelamento do campo tra-
dicional da epistemologia (as ciências psicomate-
A epistemologia da prática máticas) e sua abertura a diferentes “objetos epistê-
profissional: tentativa de definição micos”, especialmente o estudo dos saberes cotidi-
anos, do senso comum, dos jogos de linguagem e
Sem entrar em uma discussão profunda a res- dos sistemas de ação por meio dos quais a realidade
peito da noção de epistemologia, especifiquemos social e individual é constituída. O conhecimento
aqui alguns elementos conceituais que estão por trás dos profissionais (médicos, psicólogos, trabalhado-
da concepção defendida nesse texto. Depois da dis- res sociais, professores etc.) faz parte desses objetos
solução kantiana das teorias filosóficas metafísicas epistemológicos, e é nesse âmbito que nos situamos.
do conhecimento, no século XIX, e da ascensão do A definição que lhes propomos não é uma de-
positivismo, a epistemologia passa progressivamen- finição de palavras ou de coisas, mas uma defini-
te de teoria do conhecimento a teoria da ciência, e ção de pesquisa, isto é, uma proposta com o fim de
mais especificamente das ciências empíricas da na- construir e delimitar um objeto de pesquisa, um
tureza. Por meio do pensamento empirista anglo- compromisso em favor de certas posturas teóricas
saxão e alemão (Círculo de Viena), a epistemologia e metodológicas, assim como um vetor para a des-
torna-se uma reflexão normativa que busca estabe- coberta de realidades que sem ela não veríamos. Eis
lecer critérios de demarcação entre “a ciência e a aqui essa definição: chamamos de epistemologia da
não-ciência”. Pensadores como Karl Popper e sobre- prática profissional o estudo do conjunto dos sa-
tudo Thomas Kuhn vão pouco a pouco se distan- beres utilizados realmente pelos profissionais em seu
ciar dessa visão positivista para tentar propor con- espaço de trabalho cotidiano para desempenhar to-
cepções capazes de dar conta da atividade científi- das as suas tarefas.
ca real (contexto da descoberta, mudanças sociais Damos aqui à noção de “saber” um sentido
que afetam as transformações de paradigmas cientí- amplo, que engloba os conhecimentos, as compe-
ficos etc.). Esse movimento também pode ser asso- tências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes,

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Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários

isto é, aquilo que muitas vezes foi chamado de sa- como uma teoria se refere a um objeto ou a
ber, saber-fazer e saber-ser. Sublinhemos, como uma prática, mas vai mais longe, dizendo que
mostraremos adiante, que esse sentido amplo reflete os saberes profissionais são saberes trabalha-
o que os próprios profissionais dizem a respeito de dos, saberes laborados, incorporados no pro-
seus próprios saberes profissionais (Tardif, Lahaye cesso de trabalho docente, que só têm sentido
e Lessard, 1991; Tardif e Lessard, 1999). em relação às situações de trabalho e que é
A finalidade de uma epistemologia da prática nessas situações que são construídos, modela-
profissional é revelar esses saberes, compreender dos e utilizados de maneira significativa pelos
como são integrados concretamente nas tarefas dos trabalhadores. O trabalho não é primeiro um
profissionais e como estes os incorporam, produ- objeto que se olha, mas uma atividade que se
zem, utilizam, aplicam e transformam em função faz, e é realizando-a que os saberes são mobi-
dos limites e dos recursos inerentes às suas ativida- lizados e construídos. Esse enfoque considera
des de trabalho. Ela também visa a compreender a que o profissional, sua prática e seus saberes
natureza desses saberes, assim como o papel que não são entidades separadas, mas “co-perten-
desempenham tanto no processo de trabalho docen- cem” a uma situação de trabalho na qual “co-
te quanto em relação à identidade profissional dos evoluem” e se transformam. Querer estudar os
professores. saberes profissionais sem associá-los a uma
Na última parte do texto, indicaremos em que situação de ensino, a práticas de ensino e a um
sentido essa definição é suscetível de modificar nos- professor seria, então, um absurdo. É a mes-
sas concepções em relação à formação profissional ma coisa que querer estudar uma situação real
no magistério. No momento, queremos chamar bre- de trabalho, uma situação real de ensino, sem
vemente a atenção para certas conseqüências teó- levar em consideração a atividade do profes-
ricas e metodológicas daí decorrentes e que estão sor e os saberes por ele mobilizados. Finalmen-
relacionadas com a pesquisa universitária. Em ou- te, querer estudar os professores sem estudar
tras palavras, em que sentido essa definição da epis- o trabalho e os saberes deles seria um absurdo
temologia da prática profissional pode modificar maior ainda. Ora, uma boa parte da literatura
nossas concepções atuais sobre a pesquisa univer- da área da educação, nos últimos cinqüenta
sitária a respeito do ensino? Seis conseqüências pa- anos, está assentada nesses três absurdos...
recem ser particularmente importantes.
> 2. Uma conseqüência direta dessa de-
> 1. Conforme a palavra de ordem da fe- finição é que não se devem confundir os sabe-
nomenologia, em termos de postura de pesqui- res profissionais com os conhecimentos trans-
sa, essa definição propõe “uma volta à reali- mitidos no âmbito da formação universitária.
dade”, isto é, um processo centrado no estu- Na América do Norte, a situação é clara a esse
do dos saberes dos atores em seu contexto real respeito: trinta anos de pesquisa mostram que
de trabalho, em situações concretas de ação. há uma relação de distância entre os saberes
A hipótese subjacente a essa postura de pes- profissionais e os conhecimentos universitários
quisa é que os saberes profissionais são sabe- (Fenstermacher, 1994; Tardif e Lessard, 1999;
res da ação ou ainda, usando uma expressão Wideen et al., 1998; Schön, 1983; Zeichner e
que preferimos, saberes do trabalho, saberes Hoeft, 1996). Essa distância pode assumir di-
no trabalho: working knowledge, como tão versas formas, podendo ir da ruptura à rejei-
bem expressa Kennedy (1983). Essa hipótese ção da formação teórica pelos profissionais, ou
é forte, na medida em que não diz somente que então assumir formas mais atenuadas como
os saberes profissionais se referem ao trabalho, adaptações, transformações, seleção de certos

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conhecimentos universitários a fim de incor- diante das condições e das conseqüências de


porá-los à prática. Desse ponto de vista, a prá- seu trabalho, o que lhes possibilita tirar par-
tica profissional nunca é um espaço de aplica- tido dele, a maior parte do tempo, para atin-
ção dos conhecimentos universitários. Ela é, na gir seus objetivos. O conceito de professor co-
melhor das hipóteses, um processo de filtração mo ator e profissional dotado de competências
que os dilui e os transforma em função das tem servido de base, aliás, às reformas efetua-
exigências do trabalho; ela é, na pior das hipó- das na formação para o magistério, na Amé-
teses, um muro contra o qual se vêm jogar e rica do Norte, desde meados dos anos 1980.
morrer conhecimentos universitários conside- Ele provocou, por exemplo, um aumento sig-
rados inúteis, sem relação com a realidade do nificativo da contribuição da formação práti-
trabalho docente diário nem com os contex- ca nos currículos, a origem de novas práticas
tos concretos de exercício da função docente. de formação reflexiva e o reconhecimento do
valor dos saberes profissionais dos professo-
> 3. Do ponto de vista metodológico, essa
res. É preciso, portanto, que a pesquisa univer-
definição exige o que poderíamos chamar de
sitária se apóie nos saberes dos professores a
um distanciamento etnográfico em relação aos
fim de compor um repertório de conhecimen-
conhecimentos universitários. Dizendo de ma-
tos para a formação de professores.
neira polêmica, se os pesquisadores universi-
tários querem estudar os saberes profissionais > 5. Essa definição é também não-nor-
da área do ensino, devem sair de seus labora- mativa. A nosso ver, um dos maiores proble-
tórios, sair de seus gabinetes na universidade, mas da pesquisa em ciências da educação é o
largar seus computadores, largar seus livros e de abordar o estudo do ensino de um ponto
os livros escritos por seus colegas que definem de vista normativo, o que significa dizer que
a natureza do ensino, os grandes valores edu- os pesquisadores se interessam muito mais pelo
cativos ou as leis da aprendizagem, e ir dire- que os professores deveriam ser, fazer e saber
tamente aos lugares onde os profissionais do do que pelo que eles são, fazem e sabem real-
ensino trabalham, para ver como eles pensam mente. Essa visão normativa está alicerçada em
e falam, como trabalham na sala de aula, como uma visão sociopolítica do ensino: historica-
transformam programas escolares para torná- mente, os professores foram ou um corpo da
los efetivos, como interagem com os pais dos Igreja ou um corpo do Estado a serviço de cau-
alunos, com seus colegas etc. sas e finalidades maiores do que eles. De um
certo modo, as ciências da educação assumi-
> 4. Parafraseando Garfinkel (1984), essa
ram essa visão sociopolítica, dando-lhe, po-
definição também propõe que se pare de con-
rém, uma aura científica, tecnocrática, refor-
siderar os profissionais, isto é, os professores,
mista, inovadora e ao mesmo tempo huma-
como “idiotas cognitivos” cuja atividade é de-
nista. A legitimidade da contribuição das ciên-
terminada pelas estruturas sociais, pela cultura
cias da educação para a compreensão do en-
dominante, pelo inconsciente, mesmo sendo
sino não poderá ser garantida enquanto os pes-
ele prático, e outras realidades do gênero. Os
quisadores construírem discursos longe dos
profissionais do ensino são, evidentemente,
atores e dos fenômenos de campo que eles afir-
determinados em parte por todas essas realida-
mam representar ou compreender.
des, mas são também, ao mesmo tempo, ato-
res que possuem saberes e um saber-fazer (Gid- > 6. Por fim, a epistemologia da prática
dens, 1987) e que dão provas, em seus atos profissional sustenta que é preciso estudar o
cotidianos, de uma competência significativa conjunto dos saberes mobilizados e utilizados

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Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários

pelos professores em todas as suas tarefas. Po- e que tipos de resultados de pesquisa é susceptível
demos chamar essa perspectiva de “ecológi- de produzir. Nas páginas seguintes, vamos nos re-
ca”, em referência aos trabalhos de William ferir a trabalhos recentes sobre o ensino nos Esta-
Doyle (1986). Todavia, em relação à de Doy- dos Unidos, àquilo que os americanos chamam de
le, trata-se de uma perspectiva ecológica in- sínteses de pesquisa, que são resenhas sistemáticas
tegral, pois ele limitava a ecologia à da sala e críticas de pesquisas empíricas, bem como às nos-
de aula. A perspectiva ecológica integral se sas próprias pesquisas sobre o trabalho docente.
situa mais na linha das propostas de Wideen Não queremos fazer aqui uma apresentação siste-
et al. (1998), no tocante à formação para o mática desses resultados, mas organizá-los por meio
magistério, e de outros pesquisadores norte- de constatações que possibilitem a caracterização
americanos, no tocante ao estudo do ensino dos saberes profissionais dos professores.
(Erickson, 1986). Ela deseja ampliar e ultra-
passar as duas portas de entrada tradicionais Os saberes profissionais
da análise do ensino, que são a didática e a pe- dos professores são temporais
dagogia ou a psicopedagogia, as quais foram,
durante muito tempo, as duas tetas da forma- Um dos primeiros resultados que sobressaem
ção de professores na universidade. Noutras dessa perspectiva epistemológica e ecológica é que
palavras, o conhecimento da matéria ensina- os saberes profissionais dos professores são tempo-
da e o conhecimento pedagógico (que se re- rais, ou seja, são adquiridos através do tempo. Eles
fere a um só tempo ao conhecimento dos alu- são temporais pelo menos em três sentidos (Tardif,
nos, à organização das atividades de ensino e Raymond, Lessard e Mukamurera, no prelo).
aprendizagem e à gestão da classe) são certa- Em primeiro lugar, uma boa parte do que os
mente conhecimentos importantes, mas estão professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis
longe de abranger todos os saberes dos profes- do professor e sobre como ensinar provém de sua
sores no trabalho. A didática e a psicopeda- própria história de vida, e sobretudo de sua histó-
gogia são construções de pesquisadores uni- ria de vida escolar (Butt e Raymond, 1989; Carter
versitários e não de professores ou de alunos e Doyle, 1996; Jordel, 1987, Raymond, no prelo a,
dos cursos de formação de professores (La- no prelo b; Richardson, 1996). Os professores são
rose, Spallanzani, Lenoir, Grenon e Hasni, no trabalhadores que foram mergulhados em seu espa-
prelo). O estudo do ensino em uma perspec- ço de trabalho durante aproximadamente 16 anos
tiva ecológica deveria fazer emergir as cons- (em torno de 15 mil horas), antes mesmo de come-
truções dos saberes docentes que refletem as çarem a trabalhar (Lortie, 1975). Essa imersão se
categorias conceituais e práticas dos próprios manifesta através de toda uma bagagem de conhe-
professores, constituídas no e por meio do seu cimentos anteriores, de crenças, de representações
trabalho no cotidiano. e de certezas sobre a prática docente. Esses fenôme-
nos permanecem fortes e estáveis ao longo do tem-
Algumas características po. Na América do Norte, percebe-se que a maio-
dos saberes profissionais ria dos dispositivos de formação inicial dos pro-
segundo essa definição fessores não conseguem mudá-los nem abalá-los
(Wideen et al., 1998). Os alunos passam pelos cur-
Limitamo-nos até aqui a uma discussão con- sos de formação de professores sem modificar suas
ceitual e polêmica a respeito da epistemologia da crenças anteriores sobre o ensino. E, quando come-
prática profissional. Queremos, agora, mostrar co- çam a trabalhar como professores, são principal-
mo ela se aplica à análise do saber dos professores mente essas crenças que eles reativam para solu-

Revista Brasileira de Educação 13


Maurice Tardif

cionar seus problemas profissionais. Por exemplo, tucionalizadas dos grupos de trabalho. Ora, esses
Raymond, Butt e Yamagishi (1993) observaram grupos — a equipe de professores da escola, a dire-
que, quando ocorriam problemas de disciplina em ção do estabelecimento etc. — exigem que os indi-
sala de aula, a tendência dos professores era reati- víduos se adaptem a eles e não o contrário. Em ter-
var modelos de solução de conflitos que vinham de mos profissionais e de carreira, saber como viver em
sua história familiar e escolar. uma escola é tão importante quanto saber ensinar
Os saberes profissionais também são tempo- na sala de aula (Zeichner e Gore, 1990; Zeichner e
rais no sentido de que os primeiros anos de práti- Hoeft, 1996).
ca profissional são decisivos na aquisição do senti-
mento de competência e no estabelecimento das ro- Os saberes profissionais dos professores
tinas de trabalho, ou seja, na estruturação da prá- são plurais e heterogêneos
tica profissional. Ainda hoje, a maioria dos profes-
sores aprendem a trabalhar na prática, às apalpa- Um segundo resultado de trabalhos realizados
delas, por tentativa e erro. É a fase dita de explo- de acordo com essa perspectiva epistemológica e
ração (Huberman, 1989; Huberman et al., 1989), ecológica é que os saberes profissionais dos profes-
caracterizada pela aprendizagem intensa do ofício. sores são variados e heterogêneos, em três sentidos.
Essa aprendizagem, freqüentemente difícil e ligada Em primeiro lugar, eles provêm de diversas
àquilo que denominamos sobrevivência profissio- fontes. Em seu trabalho, um professor se serve de
nal, quando o professor deve dar provas de sua ca- sua cultura pessoal, que provém de sua história de
pacidade, ocasiona a chamada edificação de um vida e de sua cultura escolar anterior; ele também
saber experiencial, que se transforma muito cedo em se apóia em certos conhecimentos disciplinares ad-
certezas profissionais, em truques do ofício, em roti- quiridos na universidade, assim como em certos co-
nas, em modelos de gestão da classe e de transmis- nhecimentos didáticos e pedagógicos oriundos de
são da matéria (Feinman Nemser, 1983; Huberman sua formação profissional; ele se apóia também na-
et al., 1989; Ryan et al., 1980; Zeichner e Gore, quilo que podemos chamar de conhecimentos cur-
1990; Zeichner e Hoeft, 1996). riculares veiculados pelos programas, guias e ma-
Finalmente, os saberes profissionais são tem- nuais escolares; ele se baseia em seu próprio saber
porais em um terceiro sentido pois são utilizados e ligado à experiência de trabalho, na experiência de
se desenvolvem no âmbito de uma carreira, isto é, certos professores e em tradições peculiares ao ofí-
de um processo de vida profissional de longa du- cio de professor.
ração do qual fazem parte dimensões identitárias e Os saberes profissionais também são variados
dimensões de socialização profissional, bem como e heterogêneos porque não formam um repertório
fases e mudanças. Na América do Norte, muitos de conhecimentos unificado, por exemplo, em tor-
pesquisadores se interessaram pelas relações entre no de uma disciplina, de uma tecnologia ou de uma
saberes profissionais e carreira, principalmente no concepção do ensino; eles são, antes, ecléticos e sin-
que se refere aos professores. Por exemplo, esses créticos. Um professor raramente tem uma teoria
estudos colocam em evidência o caráter narrativo ou uma concepção unitária de sua prática; ao con-
do saber, com suas metáforas e imagens centrais trário, os professores utilizam muitas teorias, con-
como a relação com as crianças, a questão da au- cepções e técnicas, conforme a necessidade, mesmo
toridade, o sentimento de caring (a ideologia do que pareçam contraditórias para os pesquisadores
serviço) etc. (Elbaz, 1991, 1993). Por outro lado, universitários. Sua relação com os saberes não é de
a carreira também é um processo de socialização, busca de coerência, mas de utilização integrada no
isto é, um processo de identificação e de incorpo- trabalho, em função de vários objetivos que pro-
ração dos indivíduos às práticas e rotinas insti- curam atingir simultaneamente.

14 Jan/Fev/Mar/Abr 2000 N º 13
Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários

Finalmente, os saberes profissionais são va- sinada, objetivos coletivos ligados ao projeto edu-
riados e heterogêneos porque os professores, na cacional da escola etc.
ação, no trabalho, procuram atingir diferentes ti- Finalmente, se os saberes profissionais dos pro-
pos de objetivos cuja realização não exige os mes- fessores têm uma certa unidade, não se trata de uma
mos tipos de conhecimento, de competência ou de unidade teórica ou conceitual, mas pragmática: co-
aptidão. Dizendo de outra maneira, a prática pro- mo as diferentes ferramentas de um artesão, eles
fissional dos professores é heterogênea ou heterô- fazem parte da mesma caixa de ferramentas, por-
noma no tocante aos objetivos internos da ação e que o artesão pode precisar deles no exercício de
aos saberes mobilizados. Por exemplo, quando ob- suas atividades. A natureza da relação entre o ar-
servamos professores trabalhando em sala de aula, tesão e todas as suas ferramentas é, portanto, prag-
na presença dos alunos, percebemos que eles pro- mática: essas ferramentas constituem recursos con-
curam atingir, muitas vezes de forma simultânea, cretos integrados ao processo de trabalho, porque
diferentes tipos de objetivos: procuram controlar podem servir para fazer alguma coisa específica re-
o grupo, motivá-lo, levá-lo a se concentrar em uma lacionada com as tarefas que competem ao artesão.
tarefa, ao mesmo tempo em que dão uma atenção Ocorre o mesmo com os saberes profissionais dos
particular a certos alunos da turma, procuram orga- professores: eles estão a serviço da ação (Durand,
nizar atividades de aprendizagem, acompanhar a 1996) e é na ação que assumem seu significado e
evolução da atividade, dar explicações, fazer com sua utilidade.
que os alunos compreendam e aprendam etc. Ora,
esse conjunto de tarefas evolui durante o tempo da Os saberes profissionais são
aula de acordo com uma trama dinâmica de intera- personalizados e situados
ções humanas entre professores e alunos. Essa tra-
ma é bem conhecida hoje graças a inúmeros traba- Um terceiro conjunto de resultados de pesqui-
lhos sobre o ensino em sala de aula (Doyle, 1986; sas indica que os saberes profissionais são persona-
Tardif e Lessard, 1999). Esses trabalhos mostram lizados e situados. Por isso, o estudo dos saberes
que o trabalho na sala de aula, na presença dos profissionais não pode ser reduzido ao estudo da
alunos, exige uma variedade de habilidades ou de cognição ou do pensamento dos professores (tea-
competências. A gestão de classe exige a capacida- cher’s thinking). Os professores dispõem, evidente-
de de implantar um sistema de regras sociais nor- mente, de um sistema cognitivo, mas eles não são
mativas e de fazer com que sejam respeitadas, gra- somente sistemas cognitivos, coisa que é muitas ve-
ças a um trabalho complexo de interações com os zes esquecida! Um professor tem uma história de
alunos que prossegue durante todo o ano letivo. vida, é um ator social, tem emoções, um corpo, po-
Para respeitar os programas escolares, os professo- deres, uma personalidade, uma cultura, ou mesmo
res precisam interpretá-los, adaptá-los e transfor- culturas, e seus pensamentos e ações carregam as
má-los em função das condições concretas da tur- marcas dos contextos nos quais se inserem.
ma e da evolução das aprendizagens dos alunos. O que a pesquisa sobre os saberes profissio-
Quer se trate de uma aula ou do programa a ser nais mostra é que eles são fortemente personali-
ministrado durante o ano inteiro, percebe-se que o zados, ou seja, que se trata raramente de saberes
professor precisa mobilizar um vasto cabedal de formalizados, de saberes objetivados, mas sim de
saberes e de habilidades, porque sua ação é orien- saberes apropriados, incorporados, subjetivados,
tada por diferentes objetivos: objetivos emocionais saberes que é difícil dissociar das pessoas, de sua
ligados à motivação dos alunos, objetivos sociais experiência e situação de trabalho. Essa caracterís-
ligados à disciplina e à gestão da turma, objetivos tica é um resultado do trabalho docente (Carter,
cognitivos ligados à aprendizagem da matéria en- 1990).

Revista Brasileira de Educação 15


Maurice Tardif

De fato, nas atividades e profissões de intera- Giddens (1987), poderíamos falar aqui de “con-
ção humana como o magistério, o trabalhador está textualidade” dos saberes profissionais. Ora, no
presente pessoalmente no local de trabalho e sua ensino, esse fenômeno é de suma importância, pois
pessoa constitui um elemento fundamental na rea- as situações de trabalho colocam na presença uns
lização do processo de trabalho em interação com dos outros seres humanos que devem negociar e
outras pessoas, isto é, com os alunos, os estudan- compreender juntos o significado de seu trabalho
tes. Em outras palavras, nas profissões de interação coletivo. Essa compreensão comum supõe que os
humana, a personalidade do trabalhador é absor- significados atribuídos pelos professores e pelos alu-
vida no processo de trabalho e constitui, até certo nos às situações de ensino sejam elaborados e par-
ponto, a principal mediação da interação (Tardif e tilhados dentro dessas próprias situações; noutras
Lessard, 1999). Esse fenômeno permite, justamen- palavras, eles estão ancorados, situados nas situa-
te, compreender por que os professores, ao serem ções que ajudam a definir. São esses fenômenos de
interrogados sobre suas próprias competências pro- ancoragem que levam hoje, depois de Lave (1988;
fissionais, falam, muitas vezes, primeiro de sua per- 1991, 1993), muitos pesquisadores a se interessa-
sonalidade, suas habilidades pessoais, seus talentos rem pela cognição situada, pela aprendizagem con-
naturais, como fatores importantes de êxito em seu textualizada, onde os saberes são construídos pe-
trabalho. los atores em função dos contextos de trabalho.
Além disso, nas atividades e profissões de in-
teração humana, os trabalhadores dificilmente po- O objeto do trabalho do docente
dem se apoiar em conhecimentos objetivos que pro- são seres humanos e, por conseguinte,
duzam concretamente tecnologias operatórias e efi- os saberes dos professores carregam
cazes nas situações de trabalho. Até agora, as ciên- as marcas do ser humano
cias sociais e humanas e as ciências da educação não
conseguiram construir, como as ciências naturais e O quarto e último resultado de pesquisa para
aplicadas, tecnologias eficazes e operatórias de con- o qual vale a pena chamar a atenção é o seguinte:
trole das situações humanas e dos seres humanos. o objeto do trabalho docente são seres humanos e,
As pessoas — e é o que ocorre com os professores conseqüentemente, os saberes dos professores tra-
— que trabalham com seres humanos devem habi- zem consigo as marcas de seu objeto de trabalho.
tualmente contar consigo mesmas, com seus recur- Essa proposição acarreta conseqüências importan-
sos e com suas capacidades pessoais, com sua pró- tes e raramente discutidas quanto à prática profis-
pria experiência e com a de sua categoria para con- sional dos professores. Mencionaremos somente
trolar seu ambiente de trabalho. duas delas.
Mas os saberes profissionais dos professores Em primeiro lugar, os seres humanos têm a
não são somente personalizados, eles também são particularidade de existirem como indivíduos. Mes-
situados, isto é, como dizíamos anteriormente, cons- mo que pertençam a grupos, a coletividades, eles
truídos e utilizados em função de uma situação de existem primeiro por si mesmos como indivíduos.
trabalho particular, e é em relação a essa situação Esse fenômeno da individualidade está no cerne do
particular que eles ganham sentido. Em outras pa- trabalho dos professores, pois, embora eles traba-
lavras, diferentemente dos conhecimentos univer- lhem com grupos de alunos, devem atingir os indi-
sitários, os saberes profissionais não são construídos víduos que os compõem, pois são os indivíduos que
e utilizados em função de seu potencial de transfe- aprendem. Do ponto de vista epistemológico, essa
rência e de generalização; eles estão encravados, situação é muito interessante. É ela que orienta a
embutidos, encerrados em uma situação de traba- existência, no professor, de uma disposição para
lho à qual devem atender. Usando as palavras de conhecer e para compreender os alunos em suas

16 Jan/Fev/Mar/Abr 2000 N º 13
Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários

particularidades individuais e situacionais, bem co- professor uma grande disponibilidade afetiva e uma
mo em sua evolução a médio prazo no contexto da capacidade de discernir suas reações interiores por-
sala de aula. Ao invés de se centrar nos fenômenos tadoras de certezas sobre os fundamentos de sua
que possibilitam o acúmulo de conhecimentos de or- ação. O trabalho diário com os alunos provoca no
dem geral, como ocorre com a construção de sabe- professor o desenvolvimento de um “conhecimento
res codificados sobre os alunos (por exemplo, em de si”, de um conhecimento de suas próprias emo-
psicologia infantil, nas teorias da aprendizagem), a ções e valores, da natureza, dos objetos, do alcan-
disposição do professor para conhecer seus alunos ce e das conseqüências dessas emoções e valores na
como indivíduos deve estar impregnada de sensibi- sua “maneira de ensinar” (Fenstermacher, 1999).
lidade e de discernimento a fim de evitar as gene- Em seguida, porque os estudantes, os alunos,
ralizações excessivas e de afogar a percepção que são seres humanos cujo assentimento e cooperação
ele tem dos indivíduos em um agregado indistinto devem ser obtidos para que aprendam e para que
e pouco fértil para a adaptação de suas ações. Essa o clima da sala de aula seja impregnado de tolerân-
disposição para conhecer os alunos como indivíduos cia e de respeito pelo outros. Embora seja possível
parece, aliás, muito pouco desenvolvida nos alunos- manter os alunos fisicamente presos em uma sala
professores, que são acusados de não conhecerem de aula, não se pode forçá-los a aprender. Para que
suficientemente os alunos (Kagan, 1992), de não aprendam, eles mesmos devem, de uma maneira ou
saberem usar de discernimento para com eles (Mo- de outra, aceitar entrar em um processo de apren-
rine-Dershimer, 1988) e de projetarem neles os in- dizagem. Ora, essa situação põe os professores dian-
teresses e motivações característicos de suas pró- te de um problema que a literatura chama de mo-
prias histórias escolares (Raymond, no prelo b). A tivação dos alunos: para que os alunos se envolvam
aquisição da sensibilidade relativa às diferenças en- em uma tarefa, eles devem estar motivados. Moti-
tre os alunos constitui uma das principais caracterís- var os alunos é uma atividade emocional e social
ticas do trabalho docente. Essa sensibilidade exige que exige mediações complexas da interação hu-
do professor um investimento contínuo e a longuís- mana: a sedução, a persuasão, a autoridade, a retó-
simo prazo, assim como a disposição de estar cons- rica, as recompensas, as punições etc. Essas me-
tantemente revisando o repertório de saberes adqui- diações da interação levantam vários tipos de pro-
ridos por meio da experiência. blemas éticos, principalmente problemas de abuso,
A segunda conseqüência decorrente do obje- mas também problemas de negligência ou de in-
to humano do trabalho docente reside no fato de o diferença em relação a certos alunos. Por exemplo,
saber profissional comportar sempre um compo- várias pesquisas evidenciaram o fato de que certos
nente ético e emocional. Um componente ético e professores tinham espontaneamente menos tendên-
emocional, primeiro porque, como explica Denzin cia a se dirigir em classe a certas categorias de alu-
(1984, apud Hargreaves, 1998), o ensino é uma nos (Baudoux e Noircent, 1998; Zeichner e Hoeft,
prática profissional que produz mudanças emo- 1996). Aliás, a repartição da atenção do professor
cionais inesperadas na trama experiencial da pes- entre os alunos na sala de aula é um dos mais impor-
soa docente. As práticas profissionais que envolvem tantes dilemas éticos constitutivos do ensino (Lam-
emoções suscitam questionamentos e surpresa na pert, 1985).
pessoa, levando-a, muitas vezes de maneira invo- Podemos resumir agora nossas palavras da se-
luntária, a questionar suas intenções, seus valores guinte maneira: uma perspectiva epistemológica e
e suas maneiras de fazer. Esses questionamentos ecológica do estudo do ensino e da formação para
sobre a maneira de ensinar, de entrar em relação o ensino permite conceber uma postura de pesqui-
com os outros, sobre os efeitos de suas ações e so- sa que leva ao estudo dos saberes docentes tais como
bre os valores nos quais elas se apóiam exigem do são mobilizados e construídos em situações de tra-

Revista Brasileira de Educação 17


Maurice Tardif

balho. Os trabalhos realizados de acordo com essa sores universitários a fim de reconstituir o campo
perspectiva mostram que os saberes docentes são epistemológico da formação para o magistério.
temporais, plurais e heterogêneos, personalizados
e situados, e que carregam consigo as marcas do seu Problemas epistemológicos do
objeto, que é o ser humano. Ora, os conhecimentos modelo universitário de formação
teóricos construídos pela pesquisa em ciências da
educação, em particular os da pedagogia e da di- Os cursos de formação para o magistério são
dática que são ministradas nos cursos de formação globalmente idealizados segundo um modelo apli-
para o ensino, não concedem ou concedem muito cacionista do conhecimento: os alunos passam um
pouca legitimidade aos saberes dos professores, sa- certo número de anos a assistir a aulas baseadas em
beres criados e mobilizados por meio de seu traba- disciplinas e constituídas de conhecimentos pro-
lho. Na formação inicial, os saberes codificados das posicionais. Em seguida, ou durante essas aulas, eles
ciências da educação e os saberes profissionais são vão estagiar para “aplicarem” esses conhecimentos.
vizinhos mas não se interpenetram nem se inter- Enfim, quando a formação termina, eles começam
pelam mutuamente. Se admitirmos a legitimidade a trabalhar sozinhos, aprendendo seu ofício na prá-
dessa tese, não podemos deixar de considerar cer- tica e constatando, na maioria das vezes, que esses
tas questões importantes para a pesquisa e para a conhecimentos proposicionais não se aplicam bem
formação universitária. São essas questões que va- na ação cotidiana (Wideen et al., 1998).
mos examinar agora à guisa de conclusão. Esse modelo aplicacionista não é somente ideo-
lógico e epistemológico, é também um modelo ins-
Conclusão: formação dos professores titucionalizado através de todo o sistema de práti-
e saberes profissionais cas e de carreiras universitárias. Por exemplo, a
pesquisa, a formação e a prática constituem, nes-
Na América do Norte, os problemas da for- se modelo, três pólos separados: os pesquisadores
mação para o magistério em contexto universitário produzem conhecimentos que são em seguida trans-
são conhecidos, discutidos e examinados de maneira mitidos no momento da formação e finalmente
recorrente. Há pouco tempo, no contexto das re- aplicados na prática: produção dos conhecimen-
centes reformas da formação inicial, os professores tos, formação relativa a esses conhecimentos e mo-
universitários, tanto americanos quanto canaden- bilização dos conhecimentos na ação tornam-se, a
ses, fizeram grandes balanços e prognósticos som- partir desse momento, problemáticas e questões
brios, motivados, em grande parte, pelo conserva- completamente separadas, que competem a dife-
dorismo e pela estagnação das faculdades e dos de- rentes grupos de agentes: os pesquisadores, os for-
partamentos de educação (Fullan, Galluzzo, Mor- madores e os professores. Por sua vez, cada um
ris e Watson, 1998; Lessard, Lenoir, Martin, Tardif desses grupos de agentes é submetido a exigências
e Voyer, 1999; Tom, 1997). As dificuldades iden- e a trajetórias profissionais conforme os tipos de
tificadas abrangem todo o espectro das armadilhas carreira em jogo. De modo geral, os pesquisadores
que podem ser encontradas nos ambientes institu- têm interesse em abandonar a esfera da formação
cionais. Entretanto, nós nos limitaremos à discussão para o magistério e em evitar investir tempo nos
de problemas de natureza epistemológica, proble- espaços de prática: eles devem antes de tudo escre-
mas que se tornaram ainda mais patentes median- ver e falar diante de seus pares, conseguir subven-
te os resultados de estudos sobre as características ções e formar outros pesquisadores por meio de
dos saberes profissionais dos professores. Após a uma formação de alto nível, doutoral ou pós-dou-
discussão desses problemas, proporemos opções de toral, cujos candidatos não se destinam ao ensino
trabalho e tarefas a serem realizadas pelos profes- primário e secundário.

18 Jan/Fev/Mar/Abr 2000 N º 13
Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários

Esse modelo aplicacionista comporta um cer- ber empírico disponível. Em ambos os casos, o lo-
to número de problemas fundamentais bastante cutor (por exemplo, um biólogo) e o ator (por exem-
conhecidos e documentados hoje — lembremos plo, um engenheiro) referem-se a um saber propo-
somente dois dentre os mais importantes. Primei- sicional: no primeiro caso, o locutor sustenta que
ro problema: ele é idealizado segundo uma lógica suas proposições a respeito do objeto são válidas
disciplinar e não segundo uma lógica profissional (por exemplo, A causa B); no segundo caso, o ator
centrada no estudo das tarefas e realidades do tra- sustenta que essas proposições são eficazes na ação
balho dos professores. Ora, a lógica disciplinar (por exemplo, se A então B). Esse modelo é o da
comporta duas limitações maiores para a forma- ciência empírica da natureza, segundo a concepção
ção profissional: positivista-instrumental (Habermas, 1987). Ele se
assemelha àquilo que Durand (1999) chama de mo-
> por um lado, por ser monodisciplinar,
delo da encomenda, as situações de ação são abor-
ela é altamente fragmentada e especializada:
dadas de acordo com o postulado da existência, no
as disciplinas (psicologia, filosofia, didática
ator, de estruturas cognitivas prévias à ação e a par-
etc.) não têm relação entre elas, pois consti-
tir das quais o ator age, dirigindo de um certo mo-
tuem unidades autônomas fechadas em si mes-
do a ação em função de suas estruturas cognitivas.
mas e de curta duração e, portanto, têm pou-
Ora, na ação, o pensamento humano não pa-
co impacto sobre os alunos;
rece funcionar como sugerem esses modelos. Como
> por outro lado, a lógica disciplinar é já mostramos anteriormente, um professor mergu-
regida por questões de conhecimento e não por lhado na ação, em sala de aula, não pensa, como
questões de ação. Em uma disciplina, aprender afirma o modelo positivista do pensamento, como
é conhecer. Mas, em uma prática, aprender é um cientista, um engenheiro ou um lógico. Os co-
fazer e conhecer fazendo. No modelo aplica- nhecimentos proposicionais sobre o ensino basea-
cionista, o conhecer e o fazer são dissociados dos na lógica disciplinar, conhecimentos esses vei-
e tratados separadamente em unidades de for- culados durante a formação, constituem, portanto,
mação distintas e separadas. Além disso, o fa- uma falsa representação dos saberes dos profissio-
zer está subordinado temporal e logicamente nais a respeito de sua prática.
ao conhecer, pois ensina-se ao alunos dos cur- Segundo problema: esse modelo trata os alu-
sos de formação de professores que, para fa- nos como espíritos virgens e não leva em conside-
zer bem feito, eles devem conhecer bem e em ração suas crenças e representações anteriores a res-
seguida aplicar seu conhecimento ao fazer. peito do ensino.1 Ele se limita, na maioria das ve-
zes, a fornecer-lhes conhecimentos proposicionais,
Do ponto de vista epistemológico, esse mo- informações, mas sem executar um trabalho pro-
delo dominante do conhecimento baseia-se na re- fundo sobre os filtros cognitivos, sociais e afetivos
lação sujeito/objeto. Ele parte do princípio de que através dos quais os futuros professores recebem e
um sujeito dotado de um equipamento mental —
por exemplo, estruturas cognitivas, representações,
mecanismos de processamento da informação etc.
1 De acordo com o sentido amplo que damos ao termo
— se posiciona, de um certo modo, diante do ob-
saber neste texto, atribuímos, no âmbito da formação ini-
jeto do qual ele extrai e filtra certas informações a
cial para o magistério, um estatuto epistemológico às cren-
partir das quais ele emite proposições mais ou me-
ças e representações que os alunos-professores possuem a
nos válidas sobre o objeto. Essas proposições po- respeito do ensino. Essas crenças e representações agem co-
dem ser asserções empíricas sobre o objeto ou ain- mo conhecimentos prévios que calibram as experiências de
da proposições de ação concebidas a partir do sa- formação e orientam seus resultados.

Revista Brasileira de Educação 19


Maurice Tardif

processam essas informações. Ora, esses filtros, co- radores (pesquisadores e professores), bem como a
mo indicamos há pouco, permanecem fortes e está- capacidade de navegarem à vontade em culturas
veis ao longo do tempo, pois provêm da história de profissionais e organizacionais até agora mantidas
vida dos indivíduos e de sua história escolar. Con- à distância (Raymond e Lenoir, 1998). Para os pro-
seqüentemente, a formação para o magistério tem fessores, por exemplo, nem sempre é fácil teorizar
um impacto pequeno sobre o que pensam, crêem e a sua prática e formalizar seus saberes, que eles
sentem os alunos antes de começar. Na verdade, eles vêem como pessoais, tácitos e íntimos. Para os pes-
terminam sua formação sem terem sido abalados quisadores, a legitimação dos saberes dos professo-
em suas crenças, e são essas crenças que vão se rea- res está longe de ter terminado. A tarefa de cons-
tualizar no momento de aprenderem a profissão na trução de um repertório de saberes baseado no es-
prática, crenças essas que serão habitualmente re- tudo dos saberes profissionais dos professores su-
forçadas pela socialização na função de professor põe, portanto, um exame crítico das premissas que
e pelo grupo de trabalho nas escolas, a começar fundamentam as crenças de uns e de outros em rela-
pelos pares, os professores experientes. ção à natureza dos conhecimentos profissionais. Ela
leva igualmente a um questionamento crítico a res-
Possibilidades promissoras peito das concepções e da relação com os saberes
e campo de trabalho para os nos quais os pesquisadores e professores foram so-
pesquisadores universitários cializados em sua formação e carreiras respectivas.
A segunda tarefa consiste em introduzir dis-
Várias possibilidades vêm sendo exploradas positivos de formação, de ação e de pesquisa que
em diferentes países há uns vinte anos, no intuito não sejam exclusivamente ou principalmente regi-
de reconstituir os fundamentos epistemológicos da dos pela lógica que orienta a constituição dos sa-
profissão. Essas possibilidades se referem a vastos beres e as trajetórias de carreira no meio universi-
campos de trabalho que resultam em tarefas con- tário. Em outras palavras, esses dispositivos devem
cretas para os professores universitários. ser pertinentes para os professores e úteis para sua
A primeira tarefa já vem sendo realizada há prática profissional. Eles devem levar em conta
mais ou menos vinte anos nos Estados Unidos e suas necessidades e ser coerentes no que se refere
consiste na elaboração de um repertório de conhe- à sua bagagem, aos seus saberes, aos seus modos
cimentos para o ensino, repertório de conhecimen- de simbolização e de ação. O que chamamos no
tos baseado no estudo dos saberes profissionais dos Quebec de “escolas de pesquisa” e “escolas asso-
professores tais como estes os utilizam e mobilizam ciadas”, e nos Estados Unidos de “escolas de de-
nos diversos contextos do seu trabalho cotidiano. senvolvimento profissional”, constituem espaços
Essa tarefa supõe que os pesquisadores universitá- para a implantação desses dispositivos. Entretan-
rios trabalhem nas escolas e nas salas de aula em to, é preciso levar mais adiante essas iniciativas e
colaboração com os professores, vistos não como fazer com que as faculdades de educação ou de
sujeitos ou objetos de pesquisa, mas como colabo- ciências da educação façam parte de tais espaços,
radores dos pesquisadores, isto é, como co-pesqui- o que supõe, principalmente, que os professores
sadores ou, melhor ainda, como co-elaboradores da participem, de diversas maneiras, da formação de
pesquisa sobre seus próprios saberes profissionais seus futuros pares (Raymond e Lenoir, 1998). A
(Boles, Karmii e Troen, 1999; Gauthier et al., 1997; ampliação dos papéis dos professores associados
Zeichner e Caro-Bruce, 1999). Esse campo de tra- na formação para o magistério, em particular sua
balho é promissor e ao mesmo tempo repleto de participação nas comissões de elaboração e de ava-
armadilhas, pois exige um questionamento dos fun- liação de programas de formação e nas equipes de
damentos das identidades profissionais dos colabo- pesquisa sobre a formação e sobre o ensino, cons-

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Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários

tituem espaços férteis para os debates sobre o ca- po de os professores universitários da educação co-
ráter plural e heterogêneo dos saberes docentes. meçarem também a realizar pesquisas e reflexões
A terceira tarefa é, por enquanto, utópica, se críticas sobre suas próprias práticas de ensino. Na
bem que ela tenha sido tentada em diversos lu- universidade, temos com muita freqüência a ilusão
gares, particularmente na Inglaterra, onde, desde de que não temos práticas de ensino, que nós mes-
1992, a responsabilidade de dois terços da forma- mos não somos profissionais do ensino ou que nos-
ção inicial foi transferida para o meio escolar. Os sas práticas de ensino não constituem objetos legí-
balanços ainda incertos dessa iniciativa do gover- timos para a pesquisa. Esse erro faz que evitemos
no britânico, que alguns atribuem a motivos polí- os questionamentos sobre os fundamentos de nos-
ticos, não poderiam nos eximir da responsabilida- sas práticas pedagógicas, em particular nossos pos-
de nem do trabalho de dar a nossa contribuição: é tulados implícitos sobre a natureza dos saberes re-
preciso quebrar a lógica disciplinar universitária lativos ao ensino. Não problematizada, nossa pró-
nos cursos de formação profissional. Não estamos pria relação com os saberes adquire, com o passar
dizendo que é preciso fazer as disciplinas da for- do tempo, a opacidade de um véu que turva nossa
mação de professores desaparecerem; dizemos so- visão e restringe nossas capacidades de reação. En-
mente que é preciso fazer com que contribuam de fim, essa ilusão faz que exista um abismo enorme
outra maneira e tirar delas, onde ainda existe, o entre nossas “teorias professadas” e nossas “teo-
controle total na organização dos cursos. Essa ta- rias praticadas”: elaboramos teorias do ensino e da
refa é difícil, entre outras coisas porque exige uma aprendizagem que só são boas para os outros, para
transformação dos modelos de carreira na univer- nossos alunos e para os professores. Então, se elas
sidade, com todos os prestígios simbólicos e ma- só são boas para os outros e não para nós mesmos,
teriais que os justificam. Ela supõe, por exemplo, talvez isso seja a prova de que essas teorias não va-
que o valor real do trabalho de formação e do tra- lem nada do ponto de vista da ação profissional, a
balho de pesquisa em colaboração com os profes- começar pela nossa.
sores seja reconhecido nos critérios de promoção
universitária. Além disso, para impedir a fragmen-
tação dos saberes, característica da lógica discipli-
MAURICE TARDIF é pesquisador e diretor do Cen-
nar, essa tarefa implicaria a criação de equipes de tre de Recherche Interuniversitaire sur la Formation et la
formação pluricategoriais (responsáveis de discipli- Profession Enseignante (CRIFPE), Université Laval, Que-
nas, professores, diretores de escola, pedagogos, bec, Canadá.
didatas) estáveis e responsáveis pelos muitos alu-
nos que permanecem juntos durante toda a dura-
ção de sua formação. A lógica da socialização pro- Referências bibliográficas
fissional, com seus ciclos de continuidades e de
rupturas, suas experiências de iniciação (a primei- BEAUDOUX, C.; NOIRCENT, A., (1997). L’école et le cur-
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ca disciplinar como fundamento da formação. teachers conduct research that matters to them. Con-
Finalmente, a quarta e última tarefa nos pa- gresso Anual da AERA. Montreal, abr.
rece ser a mais urgente: acreditamos que já é tem-

Revista Brasileira de Educação 21


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