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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

Curso de Direito
Disciplina: Criminologia – Turma Vespertina 2018.2
Professora: Dra. SHIRLEY SILVEIRA ANDRADE
Discente: FERNANDO SANTOS BEZERRA
Tema: Justiça Restaurativa

Entre os anos 60 e 70, num contexto histórico-social em que se verificou que o


sistema penal retributivo não tem sido capaz de cumprir com suas funções
precípuas, prevenir a criminalidade e ressocializar o infrator, surgiram diversas
críticas a esse sistema. Entre as principais, sustenta-se que o próprio modelo
retributivo é um dos catalisadores da criminalidade, na medida em que impõe a
violência estatal contra a liberdade e dignidade do infrator. Corroborou também,
o argumento de que o contato entre infratores decorrente do cárcere leva-lhes
a aprimorar as habilidades criminosas, promovendo uma espécie de
ressocialização para o crime.
Ademais, o modelo hodierno hegemônico negligenciou tanto a lesão da vítima
quanto a reabilitação ou reintegração social do infrator. Uma vez que não se
mostrou hábil em provocar efeitos positivos a nenhum dos sujeitos envolvidos
no fato delituoso. Segundo ZEHR (2008, p. 8)

“Nós vemos o crime através da lente retributiva. O processo penal,


valendo-se desta lente, não consegue atender a muitas das
necessidades da vítima e do ofensor. O processo negligencia as
vítimas enquanto fracassa no intento declarado de responsabilizar
os ofensores e coibir o crime.”

Ainda de acordo ZEHR apud PALLAMOLLA (2009, p.34)

“A expansão da rede e a ineficácia das alternativas para alterar a


situação do sistema penal, ocorrem porque tanto a pena de prisão
quanto as alternativas se apoiam numa mesma compreensão de
crime e justiça, que abrange os seguintes pressupostos: a culpa
deve ser atribuída; a justiça deve vencer e esta não se desvincula
da imposição da dor; a justiça é medida pelo processo; e é a
violação da lei que define o crime.”

No entanto, o ocaso deste sistema foi o ponto de partida de uma série de


teorias criminológicas que adotaram perspectivas diversas deste ideário,

1
especialmente no que se refere: à necessidade de penas que subjuguem o
infrator; ao papel da vítima nesse sistema e; ao que o direito define como
crime. São exemplos: a Teoria Abolicionista, da Vitimologia e a Teoria do
Etiquetamento (Labeling Approach Theory).
Com a mesma origem, surge a concepção de Justiça Restaurativa. Inspirado
no pensamento de Albert Eglash, concebeu-se um modelo de justiça pelo qual
todos os interessados na solução de uma determinada violação (a vítima, a
comunidade e o infrator) devem concorrer para restauração e reparação das
consequências.
Ressalte, todavia, que, mesmo possuindo diversos sítios de confluências com
as aludidas teorias criminológicas, a justiça restaurativa não se confunde com
estas.
Enquanto para Justiça Restaurativa o crime deve ser encarado como uma
violação de pessoas e relacionamentos. Na perspectiva da Teoria do
Etiquetamento, o crime consubstancia-se apenas no desvio de conduta frente a
um determinado regramento social. Destarte, para a Labeling Approach
Theory, o nascedouro do crime não estaria na conduta, mas no ordenamento
legal que definiu o desvio como crime. Conforme evidencia BECKER (2008,
p.21-22) “... grupos sociais criam desvio ao fazer regras cuja infração constitui
desvio, e ao aplicar essas regras a pessoas particulares e rotulá-las como
outsiders”.
Ainda que a Justiça Restaurativa esteja atenta a estigmatização social
evidenciada em grande medida pela Teoria do Etiquetamento. Seu cerne não é
discutir o que se define crime ou violação, nem como ocorre sua definição. Seu
foco é achar soluções reparadoras para este.
John Braithwaite, relevante expoente do renascimento da Justiça Restaurativa
na década de 90, compreende inclusive que a vergonha oriunda da
estigmatização social do infrator é um importante instrumento de controle do
crime. Assim, teria falhado a Teoria do Labeling Approach na medida em que
somente percebeu a face negativa do etiquetamento.
Segundo BRAITHWAITE (2006, p. 4)

“Contrary to the claims of some labeling theorists, potent shaming


directed at offenders is the essential necessary condition for low
crime rates. Yet shaming can be counterproductive if it is

2
disintegrative rather than reintegrative. Shaming is
counterproductive when it pushes offenders into the clutches of
criminal subcultures; shaming controls crime when it is at the same
time powerful and bounded by ceremonies to reintegrate the
offender back into the community of responsible citizens”1

Por outro lado, embora o modelo restaurativo compreenda o crime numa


perspectiva de violação das pessoas e relacionamentos, diferentemente da
perspectiva atual de infração da norma legal, conforme já antecipado. Em certa
medida, ele apropria-se das definições de crimes já determinadas pelo sistema
penal retributivo, sem adentrar em uma das vertentes de discussão da Teoria
do Etiquetamento: quem definiu o que é crime?
Assim é que, partindo-se dessa potencial falha, pode-se questionar: Estariam
prejudicados os avanços propostos pela Justiça Restaurativa quanto à
perspectiva do crime e sua forma de tratamento, na medida em que este
modelo não demonstrou a preocupação necessária com a multiplicidade de
fatores (especialmente as relações sociais de poder) que levam a sociedade a
alçar determinadas condutas a categoria de crime?

3
REFERÊNCIAS

BECKER, Howard s. Outsiders. Estudos de Sociologia do Desvio. Tradução


de Maria Luiza X. de A Borges. 1ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editora
Ltda., 2008.

BRAITHWAITE, John. Crime, shame and reintegration. 16ª Ed. Nova Iorque
(EUA): Imprensa da Universidade de Cambridge, 2006. Disponível em:
http://johnbraithwaite.com/wp-content/uploads/2016/06/Crime-Shame-and-
Reintegration.pdf. Acesso em 26 jan, 2019.

PALLAMOLLA, Raffaella da Porciuncula. Justiça Restaurativa: Da Teoria à


Prática. 1ª ed. São Paulo, SP: IBCCRIM, 2009.

ZEHR, Howard. Trocando as Lentes. Um Novo Foco sobre o Crime e a


Justiça. Justiça Restaurativa. Capitulo 10. Tradução de Tônia VanAcker.
Editora Palas Athena, 2008. Disponível em: http://johnbraithwaite.com/wp-
content/uploads/2016/06/Crime-Shame-and-Reintegration.pdf. Acesso em 26
jan, 2019.

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