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Sérgio Aguiar Montalvão (Organizador)

Educação Física na Ciência da Religião


Disputas, Discussões e Novas Perspectivas

Primeira Edição

2017
Dados Internacionais de Publicação

Montalvão, Sérgio Aguiar (Org.)

Educação Física na Ciência da Religião. - Itapecerica da Serra/SP: Edição


do Autor, 2017.

240 páginas.

ISBN 978-85-93588-01-3

1. Educação 2. Educação Física 3. Desenvolvimento humano. I. Título.

CDD 370.1

índice para Catálogo Sistemático:


1.Educação CDD 370.1

Copyright © 2 0 1 7
Sérgio Aguiar Montalvão

Revisão
Sérgio Aguiar Montalvão

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial, de


qualquer forma ou por qualquer meio, salvo com autorização, por escrito, do editor e
do autor.

Impresso no Brasil
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Prefácio

Um livro que se dedica a investigar a relação entre a Educação Física e a Ciência


da Religião está à altura do tempo. Sua atualidade se deve à concentração em um campo
de intersecção de três temas que apenas recentemente acabaram de ocupar uma posição
adequada nas agendas do estudo das religiões.
O primeiro assunto, não muito popular entre cientistas da religião das gerações
anteriores, está relacionado à dimensão do corpo. O segundo elemento tem a ver com o
fato de que, devido a seu interesse na educação física, os autores desta coletânea abordam
um setor que cientistas da religião clássicos não consideravam propício. O terceiro
aspecto consta na compatibilidade entre a discussão incentivada pelo livro e a tendência
recente de cientistas da religião brasileiros de incluir nas suas operações intelectuais um
diálogo com atores sociais engajados em espaços extra-acadêmicos, com o objetivo de
fornecer para tais “leigos” um conhecimento sistemático capaz de enriquecer a prática
cotidiana.
Quanto aos primeiros dois pontos supracitados, deve-se lembrar que, na
tradicional, negligência do corpo como objeto digno de estudo científico repercutiu um
conceito da religião que privilegia a experiência subjetiva no interior da mente do fiel
como dimensão decisiva da religiosidade humana. Trata-se de uma herança problemática
de Friedrich Schleiermacher (1768-1834) e sua obra Über die Religion: Reden an die
Gebildeten unter ihren Verächtern (1798). A publicação foi lançada em reação ao
racionalismo unilateral do iluminismo e defende a hipótese de que o motivo da existência
da religião no mundo não é a busca de explicações da nossa existência ou a necessidade
do indivíduo de pertencer a um grupo. Em vez disso, a religião está enraizada nos
sentimentos do indivíduo. Esta tradição de associar a religião a uma experiência interior
subjetiva ganhou sua expressão mais popular na abordagem de Rudolf Otto (1869-1937)
caracterizada pela abstração altamente problemática das manifestações “materiais” da
religião e do destaque do contato com o “sagrado” através de uma espécie de “sexto
sentido” inato em nossa natureza, chamado sensus numinis. Naturalmente equipado com
esta faculdade, o indivíduo “experimenta” o “divino” como algo ambíguo, isto é,
simultaneamente assustador c fascinante (tremendnm et fascinans).
O fato dc que a partir das décadas 1960 e 1970 este conceito “romântico” entrou
em uma crise profunda tem a ver não apenas com uma série de problemas epistemológicos
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e metodológicos inerentes à fenomenologia “clássica” da religião, mas também com


mudanças no nível “êmico” da religião no decorrer dos últimos 50 anos. Devido à
acessibilidade imediata a um enorme espectro de tradições espirituais de diferentes
origens geográficas, aquilo que hoje se apresenta como “religião” foge de uma
categorização simplificada no sentido de Friedrich Schleiermacher e Rudolf Otto. O
espectro de opções religiosas na contemporaneidade abrange inúmeras abordagens
espirituais que valorizam o corpo como dimensão crucial do desenvolvimento do
potencial humano e exigem de cientistas da religião uma “flexibilização” do conceito do
seu objeto que, por sua vez, permite reflexões sobre manifestações religiosas que
fenomenólogos da religião teriam omitido como “irrelevantes”.
Basta comparar o foco do livro O Sagrado de Rudolf Otto em “virtuosos
religiosos” e suas peak experiences causadas por estados alterados da consciência
subjetiva, por um lado, e o interesse empírico e analítico que moveu as autoras e os autores
do presente livro, por outro lado, para intuir em que direção nosso campo disciplinar se
desenvolveu e em que sentido estas mudanças repercutem nos esforços científicos de
representantes de uma geração mais recente de cientistas da religião.
Além do mérito da coletânea, organizada por Sérgio Aguiar Montalvão, no
sentido supracitado, a obra é uma expressão de outra tendência que tem marcado a Ciência
da Religião brasileira dos últimos anos. Trata-se da discussão sobre a aplicabilidade extra-
acadêmica do conhecimento produzido por cientistas da religião no âmbito universitário.
Um dos resultados desta discussão é a crescente atenção para a relação e os
papéis de três contextos constitutivos para a geração de um saber científico, isto é: o
contexto de descoberta; o contexto de justificação; e o contexto de aplicação. Cada um
desses contextos tem sua função específica. O primeiro é o “lugar” em que um problema
científico é identificado. O segundo é o ambiente em que este problema é submetido à
busca sistemática de uma solução. O terceiro refere-se ao momento em que a solução
elaborada é divulgada. É possível que estes três contextos se limitem ao trabalho
universitário no sentido estrito. Neste caso, o problema identificado é fruto de uma
discussão entre membros de um grupo de pesquisa familiarizados com o estado da arte
do seu campo, inclusive as lacunas deixadas pelo trabalho coletivo da comunidade
acadêmica até então. Uina determinada lacuna atrai um integrante do grupo, que a
transforma no tema da sua dissertação ou tese. O terceiro passo consta na publicação do
trabalho em linguagem “técnica”, por meio de editora especializada, para público-alvo
interessado na área em questão.
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Este exemplo não é típico para a maioria dos projetos realizados no nível do
mestrado. Geralmente, o problema sugerido pelo aluno é diretamente vinculado à sua
prática cotidiana (contexto de descoberta), o que é absolutamente legítimo desde que a
solução do problema siga estritamente as regras acadêmicas impostas pela disciplina
(contexto de justificação). O grau da repercussão posterior dos resultados da pesquisa
(contexto de aplicação) na prática extra-acadêmica depende de diversos fatores. Um deles
é a “natureza” do problema.
Há temas de dissertações e teses explicitamente designados para enriquecer a
discussão acadêmica propriamente dita e, sem dúvida, o progresso intelectual de qualquer
disciplina universitária depende deste tipo de trabalhos. Porém, uma ciência cujos
representantes se contentam com discursos “abstratos”, não apenas perderia sua
legitimidade enquanto empreendimento público, sustentado por recursos comuns, mas
também seria incapaz de fornecer perspectivas que transcendam os limites da
universidade como único campo de atuação profissional. Sob estas circunstâncias, a
chamada “Ciência da Religião aplicada” esforça-se para demonstrar a relevância
sociopolítica do conhecimento produzido por integrantes da área universitária.
Independente da contribuição “puramente” intelectual de cada um dos capítulos
aqui reunidos, a presente coletânea merece atenção porque contribui de maneira original
para o avanço da Ciência da Religião aplicada. Cada texto cria pontes entre uma área
acadêmica e práticas sociais categorizadas como “Educação Física”. Esta, diferentemente
do ensino religioso, por exemplo, representa um campo até então negligenciado por
pesquisadores “engajados” no sentido de uma Ciência da Religião aplicada.
Parabenizo os autores deste livro pelo reconhecimento da necessidade de uma
atualização permanente dos nossos esforços conceituais diante de um objeto em constante
modificação, bem como pela ênfase nos benefícios que uma Ciência da Religião moderna
traz para a sociedade maior.

Frank Usarski
Coordenador do Programa de Pós-graduação
em Ciência da Religião da PUC-SP
Dezembro de 2016

* As traduções de obras estrangeiras para o português são de responsabilidade de cada


um dos autores. (Nota do organizador.)

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