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05/06/2019 Javé e El: os dois Deuses da Bíblia | Superinteressante

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Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma
Breve História da Economia", nalista do Prêmio Jabuti.

Javé e El: os dois Deuses da Bíblia


O Deus do monoteísmo não é só grande. Ele é dois.  A prova disso está
bem no comecinho da Bíblia.  O Gênesis deixa claro: o primeiro homem do
 Bíblia não foi Adão, mas outro sujeito, com outra mulher. Depois de
moldar o céu, a terra, as plantas e os animais ao longo da semana, Deus, o
[…]
Por Alexandre Versignassi
 21 dez 2016, 08h51 - Publicado em 20 jul 2016, 20h19

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O Deus do monoteísmo não é só grande. Ele é dois. 

A prova disso está bem no comecinho da Bíblia.  O Gênesis deixa claro: o


primeiro homem do  Bíblia não foi Adão, mas outro sujeito, com outra
mulher. Depois de moldar o céu, a terra, as plantas e os animais ao longo
da semana, Deus, o Criador, naliza o Universo na sexta-feira. E deixa
dois gerentes a cargo da operação: um homem e uma mulher. Mas não
eram Adão nem Eva. Os primeiros humanos da Bíblia são um casal sem
nome, sem personalidade. Criado ao mesmo por tempo.

Não é a história clássica, com Adão forjado a partir da terra, e Eva só


depois, da costela do marido. E mais importante: o Deus que faz o casal
anônimo não é o Deus de Adão. É outro sujeito – ainda que se trate de
um Sujeito, com “s” maiúsculo.

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O fato é que existem dois deuses com “d” maiúsculo nas páginas do
primeiro livro da Bíblia. E cada um cria seu próprio mundo.

O primeiro mundo, do primeiro Deus, é o do comecinho da Bíblia. O


Criador ali surge num cenário vazio, pairando sobre um mar negro, no
escuro. Mas não por muito tempo.

– Que haja luz – ele diz.

E houve luz.

Foi o primeiro dia da criação (um domingo, se considerarmos que a obra


termina seis dias depois, e esse dia é o sábado). Na segunda-feira, vem a
parte mais pesada da construção divina. O Criador fatia o mar em duas
partes. Uma em cima, outra embaixo. E instala a abóboda celeste no
espaço aberto entre as duas massas de água, como se fosse uma
redoma de vidro. “A essa divisão Deus pôs o nome de ´céu`”, segue o
Gênesis. Depois de deixar metade do oceano primordial lá em cima,
amparado pela abóboda, e metade aqui embaixo, com uma novidade
chamada “céu” separando uma coisa da outra, Deus encerra os trabalhos
do segundo dia. Na manhã do terceiro, quando o mundo ainda é só céu e
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mar, ele faz brotar terra seca. Então aproveita o espaço recém-inagurado

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para criar os vegetais. Quarta-feira é dia de instalar o Sol, a Lua e as


 na redoma celeste. Exato: na visão do Gênesis, não
estrelas existeAssine
um
“espaço sideral”. O mundo, o Universo todo, na verdade, é só uma
planície enorme com uma cúpula em cima. Além dessa abóboda, o que
existe é aquele mar suspenso. E m de papo. A própria palavra
“ rmamento”, que às vezes confundida como uma espécie de de coletivo
para estrelas, é só uma tradução para o latim para raqiya, a palavra
hebraica que signi ca “cúpula”, ou “domo”, e que aparece nesse trecho do
Gênesis original. Nas Bíblias em Latim, raqiya virou rmamentum, no
sentido de “ rme” mesmo, já que essa era a palavra romana para “domo
de sustentação” – a interpretação mais comum em português, de que
“ rmamento” vem do fato de que as estrelas parecem “ xas”, “ rmes”, no
céu, é só um mito liguístico.

Mas vamos voltar para o Gênesis que ainda falta muito mundo para
construir. Na quinta-feira, as águas ganham a fauna marinha e o céu
recebe as aves. Na sexta é a vez dos animais terrestres.

Semana praticamente encerrada e… nada de humanos. Nós chegamos


só no nalzinho mesmo. É quando Deus ordena o surgimento de um
homem e de uma mulher, feitos “à imagem e semelhança” dele próprio. E
abençoa o casal: “Tenham muitos lhos; espalhem-se por toda a terra e
dominem. E tenham poder sobre os peixes, as aves e os animais”. A
Bíblia continua: “E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom.
Assim terminou a criação do céu, da terra e de tudo o que há neles”.

E pronto. Acabou. Sem Adão, sem Eva, sem Jardim do Éden.

——–

Mas não termina aí, claro. A partir do segundo capítulo do Gênesis, o


tempo rebobina. Estamos de novo num vazio. O mundo volta a ser uma
folha em branco. O Deus que fez a luz e criou o mundo em sete dias não
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existe mais. Quem entra no lugar é a outra divindade, com um projeto



diferente.  Assine
Depois de construir o céu e o chão, esse outro Deus já cria o homem de
cara, bem antes de plantar a ora e produzir a fauna. Ele deixa o rapaz
solteiro, inclusive, enquanto naliza o resto do mundo. E só depois decide
que não seria mal sua criatura ter uma fêmea como companheira. Aí sim:
é a história que todo mundo conhece: Adão, Eva, Éden, Serpente…. O que
nem todo mundo sabe é que os dois Deuses envolvidos em cada uma
das histórias da criação têm até nomes diferentes.

Para quem lê a Bíblia em português, ou em qualquer outra língua que não


seja o hebraico, é impossível perceber. Mas no idioma original está
nítido. Ali, o Deus da primeira narrativa da criação se chama “Elohim”. Na
segunda história, a que tem Adão e Eva, o nome dele é outro: “Javé”. O
texto número um chama Deus de “Elohim” 35 vezes. O seguinte, de
“Javé”. Onze vezes. E sem jamais voltar a usar “Elohim”. Em português
Só que as traduções da Bíblia não usam os nomes hebraicos. “Elohim”
virou “Deus”. E “Javé” foi traduzido como “Senhor”.

E a mudança de nome não é uma alteração cosmética. A maior parte dos


pesquisadores bíblicos concorda: cada história foi escrita por um autor.
O que indica isso são duas ciências: a arqueologia e a linguística. Na
ponto da arqueologia, está claro hoje que os proto-israelitas, os povos
que deram origem aos autores da Bíblia, reverenciavam El, o deus
supremo da região onde viviam. E “El”, na Bíblia, virou “Elohim”.
Engraçado que “Elohim” é o plural de “El”. Porque plural? Não existe uma
explicação. O fato é que a evolução das línguas está cheia de exemplos
em que o plural se tornou sinônimo do singular – “calça” e “calças”, por
exemplo, são duas formas de ser referir ao singular daquilo que veste as
nossas pernas (outro caso, mais célebre, é o da palavra “chopps”, que já
foi sinônimo de “chopp”, até cair em desuso). “Elohim, em suma, virou
sinônimo de gratuito
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A linguística também é útil para dissecar a origem do outro deus, Javé. A


 do texto original da Bíblia, em hebraico, revela quais
leitura são osAssine
trechos mais antigos. Natural. O livro foi escrito ao longo de 500 anos. Se
fosse hoje, seria como se um livro iniciado quando Cabral aportou na
Bahia só ganhasse sua versão nal hoje. Os trechos compostos há 5
séculos soariam como Camões. Os do século 19, como Machado de
Assis (mais provavelmente como Osório Duque Estrada…). Daria para
dizer o quã antiga é cada parte do livro. Com  a Bíblia acontece a mesma
coisa. E aí que vem o pulo do gato. Os trechos mais antigos ali, feitos por
volta de 1.200 a.C., dizem que “Javé” é nome de um deus “que veio de
Edom e de Teiman”. Edom cava onde hoje está o sul da Jordânia.
Teiman, mais longe, na atual Arábia Saudita. Diante disso, a conclusão
dos especialistas mais citados de hoje, como Israel Finkelstein, da
Universidade de Tel Aviv, e Bart Ehrman, da Universidade da Carolina do
Norte, é uma só: “Javé” é uma divindade importada pelos proto-israelitas.
Algum povo vindo do sul, e que venerava um certo Javé, misturou-se aos
ancestrais dos autores da Bíblia. Tudo isso por volta de 1.200 a.C., a
transição da Idade do Bronze para a Idade do Ferro, e, como mostra a
arquelogia, um período de reviravoltas climáticas que causou secas
violentas, fome e, por consequência, gandes migrações humanas. A
viagem dos adoradores de Javé até Canaã, onde hoje cam Israel e
Palestina, teria sido uma dessas grandes migrações – outra hipótese é
que a história registrada no livro do Êxodo seja uma espécie de
romantização desse período histórico de grandes migrações.

Seja como for, o fato é que os editores da Bíblia, os israelitas de 500 a.C.,
foram respeitosos com os textos antigos que tinham como fonte. Tão
respeitosos que El e Javé aparecem no texto com personalidades nem
distintas: enquanto Elohim é uma gura onipotente e onipresente, que
age dando instruções para o Universo (“Que haja luz!”), Javé é uma
divindade mais humana. Ele não ca o tempo todo distante, no céu. É um
personagem pé-no-chão, que está mais para um síndico de meia-idade:
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faz caminhadas pelo Jardim do Eden à tarde, checando se está tudo indo

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bem no Paraíso (ao cruzar com Adão num desses passeios e ver que ele
 está pelado, como deveria, percebe que existe algo de
não Assine
podre no reino
da Criação).

O ponto é que El e Javé eram dois deuses tão distintos quanto Ganesh, o


elefante hindu da sorte, e Odin, o chefe do panteão escandinavo – são
divindades diferentes, cada uma criada por um povo especí co. A
dupla acabaria fundida numa única gura: justamente aquela que os
ocidentais hoje chamam de “Deus”, e os muçulmanos de “Alá”. O nome
da divindade única do Islã, vale lembrar,  é outra variação de “El”, mas
criada em outro tempo e outro espaço – a Arábia tribal onde, no século 7,
nasceria Maomé, o homem que reinterpretou o Deus bíblico a seu modo,
tal como Jesus de Nazaré havia feito 600 anos antes.

El, Javé, Alá, Deus… Não importa. Todas essas palavras atestam uma
coisa só: deuses são como os homens. Deuses se transformam. Se
adaptam. Evoluem, en m. Junto com seus criadores.

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