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Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais – GPDEN

Instituto de Pesquisas Hidráulicas – IPH


Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Mapeamento de Áreas de Risco para Prevenção de


Desastres Hidrológicos com Ênfase em Modelagem
Hidrogeomorfológica

ORGANIZAÇÃO:
MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
JONES SOUZA DA SILVA
JANETE TERESINHA REIS
ALINE DE ALMEIDA MOTA
LEONARDO ROMERO MONTEIRO

PORTO ALEGRE, NOVEMBRO DE 2014


1ª edição
2014

_______________________________________________________________________________________
Kobiyama, Masato

Mapeamento de Áreas de Risco para Prevenção de Desastres Hidrológicos com Ênfase em


Modelagem Hidrogeomorfológica – Porto Alegre: UFRGS/IPH/GPDEN, 2014.
460p.

Inclui bibliografia

1. Desastres hidrológicos. 2. Modelagem. 3. Mapeamento.


_________________________________________________________________________________

Edição no Brasil
2014
ORGANIZADORES

Aline de Almeida Mota (Doutoranda, Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e


Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), aline.mota@ufrgs.br)
Gean Paulo Michel (Doutorando, Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), geanpmichel@gmail.com)
Janete Teresinha Reis (Pós-doutoranda, Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), reis.janete@gmail.com)
Jones Souza da Silva (Doutorando, Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), joneswsilva@gmail.com)
Leonardo Romero Monteiro (Doutorando, Programa de Pós-graduação em Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), monteilo@hotmail.com)
Masato Kobiyama (Professor, Departamento de Obras Hidráulicas (DOH), Instituto de Pesquisas
Hidráulicas (IPH), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
masato.kobiyama@ufrgs.br)
CRONOGRAMA

Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira


Horário
03/11/2014 04/11/2014 05/11/2014 06/11/2014 07/11/2014
8:30 às 10:00 h MASATO: LEONARDO: Saída de Campo: GEAN: JONES e JANETE:
Apresentação Capítulo 5 Saída: 08:00 h Capítulo 6 Capítulo 7

Capítulos 1 e 2
10:00 às 10:30 h Café Café Café Café
10:30 às 12:30 h MASATO: LEONARDO: GEAN: JONES e JANETE:
Capítulos 2 e 3 Capítulo 5 (cont.) Capítulo 6 (cont.) Capítulo 7 (cont.)
12:30 às 13:30 h Almoço Almoço Almoço Almoço Almoço
13:30 às 15:30 h ALINE: LEONARDO: GEAN: MASATO e
Capítulo 4 Capítulo 5 (cont.) Capítulo 6 (cont.) GEAN:
Capítulo 8
15:30 às 16:00 h Café Café Café Café
16:00 às 17:30 h GEAN: LEONARDO: GEAN: MASATO:
Capítulo 4 Capítulo 5 (cont.) Capítulo 6 (cont.) Capítulo 9

Encerramento
PREFÁCIO

Quando eu ainda trabalhava na Univesidade Federal de Santa Catarina (UFSC),


organizei e realizei, com o enorme apoio de vários alunos do Laboratório de Hidrologia –
LabHidro do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, um curso de
capacitação como projeto de extensão da UFSC, intitulado “Curso de Capacitação em
Mapeamento de Áreas de Risco para Prevenção de Desastres Hidrológicos com Ênfase em
Modelagem Hidrogeomorfológica” no período de 31 de outubro a 04 de novembro de 2011.
No mês de abril de 2013, eu me mudei da UFSC para a Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Desde então, eu faço parte do Instituto de Pesquisas Hidráulicas
(IPH) da UFRGS, e continuo trabalhando com a aplicação da hidrologia para redução de
desastres naturais. Em outubro de 2013, criei o Grupo de Pesquisas em Desastres Naturais
(GPDEN) no IPH. Apesar de trabalhar no IPH, sinto a necessidade de continuar a divulgação
de técnicas de mapeamentos de áreas de risco. Embora o GPDEN ainda seja novo, felizmente
já possui capacidade suficiente para realizar cursos de capacitação na área de gerenciamento
de desastres naturais.
Assim, decidi organizar e realizar o “1º Curso de Capacitação em Mapeamento de
Áreas de Risco para Prevenção de Desastres Hidrológicos com Ênfase em Modelagem
Hidrogeomorfológica” aqui no IPH da UFRGS, no mês de novembro de 2014. Este é o “1º
curso de capacitação”, pois o GPDEN pretende realizar edições anuais deste curso
voluntariamente e gratuitamente.
Acredito que qualquer curso pode ter mais êxito quando é execuado com base no uso
de uma apositila ou um livro. Justamente por isso, decidi editar uma apositla que apoia este 1º
Curso de Capacitação. Como não tive tempo suficiente, decidi editar esta apostila na forma de
coletânia de diversos artigos publicados pelos membros do LabHidro e GPDEN. A partir
disso, um dia o GPDEN poderá publicar um livro mais estruturado.
De qualquer forma, desejo que esta apostila seja muito útil para os leitores.

Porto Alegre, 28 de outubro de 2014

Masato Kobiyama

Contato:

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS


Instituto de Pesaquisas Hidráulicas – IPH
Grupo de Pesquisas em Desastres Naturais – GPDEN
Av. Bento Gonçalves 9500
Caixa postal 15029 - CEP 91507-970, Porto Alegre – RS
Telefone: (51) 3308-6324
E-mail: masato.kobiyama@ufrgs.br
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
2 HIDROLOGIA, HIDROGEOMORFOLOGIA E GEOBIOHIDROLOGIA ............. 43
3 DESASTRES NATURAIS E SEU GERENCIAMENTO .............................................. 65
4 SOLOS (PROPRIEDADES HIDRÁULICAS E PROFUNDIDADE) E BACIAS
HIDROGRÁFICAS ............................................................................................................. 148
5 INUNDAÇÃO .................................................................................................................. 204
6 ESCORREGAMENTO ................................................................................................... 258
7 MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE, PERIGO E RISCO ........................... 311
8 FLUXO DE DETRITOS ................................................................................................. 363
9 ASPECTOS FILOSÓFICOS .......................................................................................... 448
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS – Mapeamentos de Risco: Uma Discussão Inacabada 458
1 INTRODUÇÃO

MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
ALINE DE ALMEIDA MOTA

A “Engenharia de Água e Solo” pode ser definida como engenharia executada com
base na ciência e tecnologia que investigam: (i) situação real da dinâmica da água e sedimento
(solo) em bacias; (ii) mecanismos de ocorrência de tal dinâmica; (iii) técnicas de utilização de
água e solo na sociedade de maneira sustentável; (iv) medidas para reduzir desastres causados
por essa dinâmica. Ela pode ser bastante semelhante à Engenharia de Sedimentos, que por sua
vez, faz parte da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), como uma de suas
Comissões Técnicas. Também, ela pode ser bem similar à Engenharia Hídrica que hoje em
dia tem tido cursos de graduação criados em diversas universidades brasileiras.
De qualquer maneira, esta engenharia necessita de apoio técnico-científico de diversas
ciências puras (hidrologia, geomorfologia, pedologia, entre outras) e ciências aplicadas
(hidráulica, mecânica do solos, entre outras).
Assim, o tema principal do presente curso, ou seja, “Mapeamento de Áreas de Risco
para Prevenção de Desastres Hidrológicos com Ênfase em Modelagem Hidrogeomorfológica”
deve ser considerado como uma das principais atividades da engenharia de água e solo.
Portanto, este capítulo apresenta os seguintes artigos como aspecto geral e mais
abrangente:

• KOBIYAMA, M.; REGINATTO, G,M.P.; MICHEL, G.P. Contribuição da engenharia


de sedimentos ao planejamento territorial com ênfase em redução de desastres
hidrológicos. In: IX Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos (2010: Brasília)
Brasília: EMBRAPA, Anais, 2010. 18p. (CD-rom)
• KOBIYAMA, M.; CHAFFE, P.L.B.; GOERL, R.F.; GIGLIO, J.N.; REGINATTO,
G.M.P. Hydrological disasters reduction: lessons from hydrology. In: SENS, M.L.;
MONDARDO, R.I. (Org.). Science and Technology for Environmental Studies:
Experiences from Brazil, Portugal and Germany. Florianópolis: Federal University
of Santa Catarina, 2010. p.49-72.

Apostila Pag.1
CONTRIBUIÇÃO DA ENGENHARIA DE SEDIMENTOS AO
PLANEJAMENTO TERRITORIAL COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE
DESASTRES HIDROLÓGICOS
Masato Kobiyama1; Gisele Marilha Pereira Reginatto2; Gean Paulo Michel3

RESUMO --- O aumento da ocorrência de desastres naturais, principalmente hidrológicos, vem


alavancando a iniciativa científica internacional em busca de estratégias de mitigação. Desta
maneira a aplicação de conceitos hidrológicos para o gerenciamento de bacias hidrográficas se faz
necessário. A escassez de áreas planas disponíveis impulsiona a ocupação de áreas de encosta,
onde, mesmo livre de inundações, a população fica susceptível à ocorrência de desastres
relacionados a sedimentos, tais como movimentos de massa. Faixas de áreas de preservação
permanente estão sendo reduzidas pela nova legislação catarinense, agravando o problema de
ocupação de áreas impróprias. Além disso, os movimentos de massa podem causar grande aporte de
sedimentos aos corpos hídricos, deteriorando a qualidade da água. Os movimentos de massa são de
difícil previsão, pois as técnicas necessárias para seu entendimento requerem habilidade com
modelos matemáticos e traquejo na área geotécnica. Esses problemas acima mencionados são
discutidos com estudos de caso, e para reduzi-los, o presente trabalho propõe a implementação da
rede de bacias-escola. Trazendo as informações de geotecnia e pedologia à hidrologia, a engenharia
de sedimentos poderá contribuir ao planejamento territorial.

ABSTRACT --- The increase of occurrences of natural disasters, mainly hydrological, has been
leveraging the international scientific initiative to seek mitigation strategies. Thus the application of
hydrologic concepts for the watershed management is necessary. The scarcity of available flat areas
boosts the hillside occupation, where even free of flood, the population is susceptible to sediment-
related disasters such as mass movements. Strips of permanent preservation areas have been
reduced by the new state legislation in Santa Catarina, exacerbating the occupation’s problem of
improper areas. Moreover, the mass movements can cause large amount of sediment to water
bodies, deteriorating water quality. It is quite difficult to predict the mass movements’ occurrence,
because the techniques necessary for its understanding require skills in mathematical models and
the geotechnical engineering. These problems mentioned above are discussed with case studies. To
reduce them, the present paper proposes the implementation of the school catchments network.
Bringing information of soil mechanics and pedology to the hydrology, the sediment engineering
can contribute to the land planning.

Palavras-chave: Desastres hidrológicos, bacia-escola, sedimentos.

1
Bolsista do CNPq, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-
SC, CEP 88040-900; kobiyama@ens.ufsc.br
2
Bolsista do REUNI, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC,
CEP 88040-900; gireginatto@gmail.com
3
Bolsista do CNPq, Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,
Florianópolis-SC, CEP 88040-900; gean_paulo@yahoo.com.br

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 1


Apostila Pag.2
1. INTRODUÇÃO

Os prejuízos econômicos na sociedade vêm sempre associados ao desastre natural que é,


segundo UNDP (2004), definido como um sério distúrbio desencadeado por um perigo natural que
causa perdas materiais, humanas, econômicas e ambientais excedentes à capacidade da comunidade
afetada de enfrentar o perigo. O aumento dramático de perdas e casualidades devido aos desastres
naturais após a década de 1950 (Figura 1) desencadeou a maior iniciativa científica internacional
em busca de possíveis estratégias de mitigação. Hoje, existe a Intenational Strategy for Disaster
Reduction – UNISDR na ONU

Figura 1 – Número de desastres naturais e seus prejuízos no mundo. (Fonte: Alcántara-Ayara,


2002).

O Emergency Disaster Data Base – EM-DAT do Centre for Research on the Epidemiology of
Disasters – CRED, órgão parceiro da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization
– WHO), é responsável pela análise dos dados mundiais das ocorrências dos desastres naturais. Em
2008, o EM-DAT reclassificou os tipos de desastres em dois grandes grupos: naturais e
tecnológicos (Scheuren et al., 2008). Os naturais foram divididos em seis sub-grupos: biológicos,
geofísicos, climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrestres (meteoritos), e estes por
sua vez em doze tipos. Essa nova classificação resultou de uma iniciativa entre o CRED e Munich
Reinsurance Company (MunichRe), que decidiram implantar uma classificação em comum para os
seus respectivos bancos de dados. A principal mudança foi a separação dos movimentos de massa
em dois tipos: secos e molhados. O primeiro é associado apenas a eventos geofísicos (terremotos) e
o segundo a condicionantes hidrológicos e meteorológicos. De qualquer maneira, tais movimentos
de massa são chamados de escorregamentos. A UNISDR também adotou a nova classificação, visto
que o EM-DAT é o principal banco de dados utilizado pela ONU, como observado em UNDP
(2004). Em 2009 houve mais uma atualização da classificação pelo CRED, na qual não se encontra
o desastre extraterrestre (Below et al., 2009) (Tabela 1).

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 2


Apostila Pag.3
Tabela 1 – Classificação dos desastres naturais.
Classificação antiga
Classificação atual Principais tipos
(até 2007)
Geológico Geofísico Terremotos, vulcões, movimentos de massa (secos)
Meteorológico Tempestades
Hidrometeorológico Hidrológico Inundações, movimentos de massa (úmidos)
Climatológico Temperaturas extremas, secas, incêndios
Biológico Biológico Epidemias, pragas e infestações de insetos

A Figura 2 mostra a distribuição anual de 1950 a 2008 das cinco principais categorias de
desastres naturais. Nota-se que, apesar de todos os itens apresentarem um aumento na sua
freqüência ao longo do tempo, os desastres hidrológicos seguidos dos meteorológicos, tais como as
inundações, escorregamentos e as tempestades severas são os que tiveram um maior aumento.

Figura 2 – Ocorrências de desastres naturais no mundo no período entre 1950-2008.

Os três princípios hidrológicos dos recursos hídricos são: (i) ciclo hidrológico que ocorre
naturalmente; (ii) variabilidade espacial; e (iii) variabilidade temporal. Esses princípios regem a
disponibilidade da água em cada região (Kobiyama et al., 2008). Em outras palavras, devido ao
ciclo hidrológico natural, excessos e escassez de água ocorrem naturalmente em qualquer lugar no
mundo e a qualquer momento. Tais ocorrências de excessos e escassezes causam naturalmente os
desastres.
Para minimizar os prejuízos causados pelos desastres naturais, Lamontagne (2002) destacou a
importância da popularização da ciência. Como os desastres naturais no Brasil ocorrem
principalmente devido à ação da água, acredita-se que a hidrologia possui uma grande contribuição
nesse assunto. Segundo UNESCO (2007), a hidrologia é uma das principais ciências envolvidas no
estudo de desastres naturais. Além de demonstrar os mecanismos desencadeadores desses desastres,
a hidrologia traz também a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados diariamente, e
evidencia a importância da água e do convívio integrado com a natureza.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 3


Apostila Pag.4
No contexto de gerenciamento de desastres naturais – GDN, é essencial que cada pessoa seja
responsável pela sua própria vida. Entretanto, como o poder de cada indivíduo é pequeno e
limitado, é necessário uni-los para criar uma força significativa. UNISDR (2007) discutiu o GDN
em três níveis: comunitário, nacional e internacional, concluindo que o mesmo com base
comunitária é essencial. Isto enfatiza a importância das comunidades estarem fortalecidas contra
desastres naturais.
O ideal é que todas as pessoas dentro de uma comunidade tenham conhecimento da aplicação
da hidrologia no cotidiano. O conhecimento de cada indivíduo poderá fortalecer sua auto-confiança
o que conseqüentemente intensificará a sua participação nas atividades comunitárias. A participação
fortalecida de cada um aumentará naturalmente a qualidade e a quantidade das ações das
comunidades, as quais conseguirão fazer o gerenciamento participativo de desastres naturais
(GPDN) (Figura 3).

Conscientização
(H idrologia)

Cidadão Professor

A lunos
(Crianças)

G erenciam ento de
P articipação P articipação D esastres
Intensificada In tensificada N aturais

Participação
Comunidades Intensificada

G erenciam ento
P articipativo de
D esastres
N aturais

Redução de D esastres

Figura 3 – Efeito da conscientização no gerenciamento participativo de desastres naturais.

Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi discutir alguns aspectos gerais dos
desastres hidrológicos por meio de apresentação de quatro estudos de caso, e demonstrar o desafio
da engenharia de sedimentos no planejamento territorial.

2. CAUSAS DOS DESASTRES HIDROLÓGICOS – ESTUDO DE CASO

Silveira et al. (2009) realizaram o levantamento dos registros históricos de inundações,


demografia, área urbana, e precipitação anual no município de Joinville (Figura 4), maior município
do Estado de Santa Catarina (SC) durante o período de 1851 (fundação do município) até 2008.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 4


Apostila Pag.5
Figura 4 – Locais dos municípios de estudo no estado de Santa Catarina.

Os resultados mostram que as ocorrências das inundações em Joinville possuem mais relação
com a urbanização do que com a pluviosidade (Figura 5). Em outras palavras, as ocorrências dos
desastres são associadas mais ao fator humano do que ao ambiental (ou climático). A Figura 5(b)
mostra uma leve tendência na diminuição da precipitação anual no município. Embora as
inundações sejam consideradas geralmente como desastres hidrológicos, em Joinville parece ser de
caráter mais humano do que hidrológico.
Conforme notícias nos jornais brasileiros, desastres hidrológicos (inundações e
escorregamentos) têm causado muitos danos sócio-ambientais no país inteiro nas últimas décadas,
mas especialmente nas regiões sul e sudeste. Além disso, existe uma tendência na qual o elevado
número de pessoas relacionam a quantia e a magnitude dos desastres hidrológicos e/ou outros
desastres naturais com a mudança climática. Hoje em dia, pulando a lógica científica, é comumente
falado que os desastres naturais ocorrem devido à mudança climática ou que a mudança climática e
os desastres naturais são sinônimos. Mas esse assunto deve ser mais estudado. Será que realmente a
mudança climática causa os desastres naturais?

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 5


Apostila Pag.6
40 200
Freqüência inundação
35 175
Área urbanizadas (km²)
30 150

Freqüência Inundação

Área urbanizada
25 125

20 100

15 75

10 50

5 25

0 0
1851 - 1860

1861 - 1870

1871 - 1880

1881 - 1890

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

1921 - 1930

1931 - 1940

1941 - 1950

1951 - 1960

1961 - 1970

1971 - 1980

1981 - 1990

1991 - 2000

2001 - 2008
(a)

40 2800
Freqüência inundação
35
Precipitação
30 2100
Freqüência Inundação

Precipitação em mm
25

20 1400

15

10 700

0 0
1851 - 1860

1861 - 1870

1871 - 1880

1881 - 1890

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

1921 - 1930

1931 - 1940

1941 - 1950

1951 - 1960

1961 - 1970

1971 - 1980

1981 - 1990

1991 - 2000

2001 - 2008

(b)

Figura 5 – Relação da freqüência das inundações no município de Joinville no período 1851 – 2008:
(a) com Área urbanizada; e (b) com a precipitação anual. (Fonte: Silveira et al., 2009)

O fato é que as inundações e os escorregamentos são fenômenos puramente naturais, nada


mais. Quando tais fenômenos geram danos à sociedade, são chamados desastres. Nesse processo de
transformação de apenas fenômeno natural para desastre natural, sempre existem fatores
antropogênicos. O aumento das ocorrências de desastres deve estar associado com ações humanas:
(i) crescimento populacional; (ii) exclusão social; (iii) expansão urbana; (iv) aumento de áreas
impermeáveis; (v) ocupação de encostas muito inclinadas; (vi) aumento do número de pessoas em
áreas de risco, entre outros. Assim, a magnitude e a freqüência das ocorrências dos desastres
naturais podem ser facilmente elevadas sem mudança climática, mas sim com ações humanas
inadequadas.
Por isso, Silveira et al. (2009) alertaram que os problemas de inundação não resultam da
mudança climática, mas sim dos problemas das ações humanas. Neste caso, pode-se dizer que
existem soluções, uma delas é fazer o gerenciamento de bacias hidrográficas de forma correta e

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 6


Apostila Pag.7
adequada. Se os problemas de inundações fossem somente devido à mudança climática, as soluções
seriam muito mais difíceis.

3. EVOLUÇÃO DE DESASTRES HIDROLÓGICOS

3.1. Água para sedimentos

Um dos mais relevantes fatores humanos que resultam em desastres hidrológicos é o


uso/ocupação de terras. Normalmente a implantação de uma cidade começa com a ocupação da
planície de inundação. Isto tem sido observado desde as primeiras grandes civilizações que se
desenvolveram às margens dos rios (Tigre e Eufrates na Mesopotâmia, Nilo no Egito, Indus na
Índia, e Amarelo na China) de onde garantiam o abastecimento de água e, conseqüentemente, seu
desenvolvimento social e econômico. Então, é natural que a comunidade inicialmente sofra com
inundações (desastres relacionados à água – DRA) devido ao local de ocupação.
Após a ocupação da maior parte da planície de inundação, a comunidade crescente começa
ocupar as áreas de encostas. Estas áreas possuem maior potencialidade de ocorrência de desastres
relacionados a sedimentos (DRS) em relação às áreas de planície. O momento da ocupação das
encostas condiz com o início dos DRS, e com o tempo, o número das ocorrências deste tipo de
desastre e os prejuízos associados a ele resultarão maiores do que DRA.
A Figura 6 ilustra a evolução dos desastres hidrológicos de DRA para DRS em uma cidade,
devido à mudança de ocupação de terras. Essa evolução vem tornando-se cada vez mais comum nos
municípios de SC.
Assim, esses dois tipos de desastres DRA e DRS podem ser conceitualmente definidos e
analisados. Entretanto, na prática, não é fácil distingui-los. O fato é que existem diversos
mecanismos que podem gerar tanto DRA e DRS.
Os DRA são normalmente chamados de inundações. No Brasil, as inundações são
classificadas em 4 tipos: inundação gradual, inundação brusca, inundação litorânea, e alagamento.
Aqui convencionalmente trata-se dos dois primeiros devido à freqüente ocorrência. Kobiyama &
Goerl (2007) mostraram a extrema complexidade e dificuldade de distinguir esses dois tipos de
inundações. Esses dois tipos ocorrem de forma transitória. A diferença entre inundações graduais e
bruscas pode ser em relação à velocidade.
Os DRS podem chamar-se de movimentos de massa que consistem em diversos tipos, tais
como: escorregamento, fluxo de detritos (debris flow), rastejamento, e queda de bloco. Os primeiros
dois são mais comuns. Similarmente ao caso da inundação, é observado que escorregamento e fluxo
de detritos ocorrem de forma transitória. Também uma das diferenças entre escorregamento e fluxo

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 7


Apostila Pag.8
de detrito é a velocidade. Assim sendo, pode-se encontrar dificuldade no momento de identificá-los
e classificá-los.

100%
Área de ocupação ? ?
?

o ã

nd
nu
ei

s ta
d

co
ie

en
níc
pla

0
Tempo

a
os
Ocorrência de desastres

en nad

a
gu
im cio


tos
sed rela

dos
na
s

cio
tre
sas

ela
sr
De

tre s
sa
De

Implantação Tempo
da cidade Presente

Dominância dos Dominância dos


desastres relacionados desastres relacionados
a água a sedimentos

Figura 6 – Evolução de desastres hidrológicos associada à mudança de ocupação da terra.


(Fonte: Kobiyama et al., 2010a)

Além disso, os fenômenos mais rápidos, isto é, inundação brusca e fluxo de detritos, também
possuem sua transição que caracteriza o fluxo hiper-concentrado, em termos de concentração de
sedimentos. A Figura 7 conceitualmente mostra a classificação e a relação dos diferentes tipos de
desastres hidrológicos em termos de velocidade e concentração de sedimentos. Embora ocorram de
forma transitória, as ocorrências gerais pela observação macroscópica demonstram a evolução dos
tipos dos desastres hidrológicos, essa ilustrada na Figura 6.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 8


Apostila Pag.9
Escorregamento

Concentrção de sedimentos
Fluxo de detritos

Fluxo
Hiperconcentrado

Inundação Inundação
Gradual Brusca
Velocidade

Figura 7 – Classificação conceitual dos desastres hidrológicos. (Fonte: Kobiyama et al., 2010a)

3.2. Dificuldade na redução de desastres naturais relacionados a sedimentos

Existem grandes diferenças no gerenciamento e na recuperação dos locais afetados pelos


DRA e DRS, sendo que os DRS apresentam maior dificuldade de avaliação e superação. Algumas
semelhanças e diferenças significativas entre os dois tipos de desastres são apresentadas na Tabela
2.
Com a realização de levantamentos em campo, Goerl et al. (2009b) relataram que muitos
escorregamentos ocorreram em virtude da ação antrópica sobre a paisagem, considerando-os mais
como desastres tecnológicos ou mistos, do que propriamente naturais. Nesse sentido, fica evidente
que a sociedade necessita de um correto entendimento dos fenômenos naturais a fim de reduzir os
desastres ocasionados pelos mesmos.

Tabela 2 - Semelhanças e diferenças entre desastres relacionados à água (DRA) e sedimentos


(DRS).
DRA DRS

• Desastres hidrológicos;
• Iniciados por chuvas intensas; prejuízo à saúde pública;
Semelhanças
• Prevenção exige planejamento da ocupação da terra e popularização da hidrologia;
• Importância da ciência: monitoramento e modelagem hidrológica.

• Conseqüências: danos materiais


• Conseqüências: danos materiais (objetos,
(residências inteiras, terrenos, plantações);
residências, plantações); desabrigados
desabrigados temporários e permanentes;
temporários; perdas humanas são raras.
muitas perdas humanas.
• Avaliação de risco: é visual, individual;
• Avaliação de risco: é difícil, o retorno da
Diferenças assim que o nível da água baixa, cada um
população às suas residências depende de
sabe que pode voltar para casa.
avaliação rigorosa por especialistas.
• Superação: pode ser superado poucos dias
• Superação: o solo fica instável por meses;
após ocorrência, assim que o rio se
superar o desastre pode demorar meses ou
normaliza.
anos.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 9


Apostila Pag.10
De acordo com Pinto (2002) a ruptura dos solos é quase sempre um fenômeno de
cisalhamento. Portanto, é necessário compreender bem a natureza da resistência ao cisalhamento do
solo para poder atuar na prevenção de DRS. Softwares como FLO-2D (O’Brien et al., 1993) e
SHALSTAB (Dietrich & Montgomery, 1998), utilizados para o mapeamento de áreas de perigo a
escorregamento, requerem como parâmetros de entrada propriedades mecânicas do solo. Nesses
modelos, tais propriedades são sensíveis, o que exige que seus valores sejam os mais corretos
possíveis nas simulações.
Para a determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo, as técnicas mais
utilizadas são o ensaio de cisalhamento direto e o ensaio tri-axial. A execução desses ensaios de
laboratório necessita a coleta de amostras não deformadas de dimensões e qualidades criteriosas.
Maccarini (1999) mencionou que a representatividade dos parâmetros obtidos em laboratório
depende fundamentalmente da qualidade das amostras coletadas em campo.
Hoje na prática, a maioria dos trabalhos técnico-científico opta pela utilização de dados já
existentes relativos à resistência dos solos, ao invés de executar os ensaios. Isso acontece devido à
dificuldade na determinação correta desses parâmetros, que segundo Das (2007) requer experiência
e conhecimento teórico adequado na área de engenharia geotécnica. Além disso, o peso das
amostras e o local de coleta das mesmas, que em trabalhos deste gênero são geralmente muito
íngremes e de difícil acesso, dificultam ainda mais a realização dos ensaios.
Na natureza, os parâmetros relativos à resistência dos solos são bastante heterogêneos. Cada
tipo de solo em cada local pode apresentar diferentes valores. Portanto, é muito importante realizar
amostragens adequadas e corretos ensaios em laboratório para gerar um banco de dados maior e
significativo.

3.3. Mananciais

Relatando a ocorrência de um escorregamento na bacia do rio Cubatão do Norte no município


de Joinville (Figura 4), Kobiyama et al. (2009b) trataram da influência do mesmo na turbidez e nos
sólidos totais no rio. Figura 8a mostra o comportamento normal da turbidez antes da ocorrência do
escorregamento, enquanto Figura 8b o comportamento bastante anormal da mesma durante da
ocorrência do escorregamento.
Deterioração da qualidade dos rios maiores obriga a comunidade procurar a captação de água
nas cabeceiras onde inclinação da encosta encontra-se maior e conseqüentemente maior freqüência
de escorregamento. Além disso, devido ao desenvolvimento regional descentralizado, cada vez mais
as estradas vêm sendo construídas. Essa construção pode gerar ainda mais escorregamentos.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 10


Apostila Pag.11
Portanto, os possíveis locais de escorregamento devem ser identificados, e modelos
hidrossedimentológicos que consideram escorregamentos devem ser desenvolvidos.

(a)

(b)
Figura 8 – Valores de turbidez e vazão no rio Cubatão do Norte: (a) antes da ocorrência do
escorregamento (21 a 28/10 de 2008); e (b) durante da ocorrencia do escorregamento (27/11 a 04/12
de 2008). (Modificado de Kobiyama et al., 2009b)
Nem sempre a ocorrência do escorregamento aumenta a turbidez e sólidos totais no rio. Caso
a área de deposição do escorregamento não alcance o rio, eles não aumentam. Portanto, a
conectividade hidrossedimentológica deve ser investigada.

3.4. APP é APP?

Recentemente ocorreram alterações no Código Estadual do Meio Ambiente de SC. Com estas
alterações, a comunidade catarinense passou a discutir qual deveria ser a faixa de APP (área de
preservação permanente) ao longo dos rios. Por esta razão, deve-se enfatizar que “APP é APP!”.
Essa afirmação é baseada em observações feitas em campo após a ocorrência das tragédias no vale
do Itajaí, SC, em 2008. As APP’s apresentam alto risco de serem atingidas por fluxos de detritos
que contêm troncos, além de serem os primeiros locais a serem inundados em épocas de cheia.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 11


Apostila Pag.12
Como em SC as árvores possuem em média 20 a 30 m de altura, uma faixa do mesmo valor a partir
da margem do rio deve ser considerada Área de Perigo Permanente, podendo também ser
denominada de APP (Figura 9). Para promover a conscientização, diz-se “APP é APP”. Assim,
através da hidrologia, é necessário discutir a relação entre água, meio ambiente e desastres naturais.

(a)

(c)

(b)
Figura 9 – Destruição da APP devido ao fluxo de detritos: (a) antes da ocorrência do fluxo de
detritos, (b) transporte longitudinal dos troncos, e (c) transporte transversal dos troncos
(Fonte: Kobiyama et al., 2010a)

Recentemente, os fluxos de detritos ocorridos pela chuva intensa no município de Rio dos
Cedros (Figura 4) vêm sendo investigados por Goerl et al. (2009a, 2009b) e Kobiyama et al.
(2010b). Nos locais onde ocorreram tais fluxos, observações e análises em campo comprovam que
APP (Área de Preservação Permanente) é APP (Área de Perigo Permanente). Figura 10 mostra que
o fluxo de detritos retirou as florestais ripárias com faixa de aproximadamente 30 m. A situação
atual requer com urgência zoneamentos de áreas de perigo para então reduzir os prejuízos devido
aos desastres hidrológicos. O aumento da ocupação das APP certamente resultará no aumento
abrupto da ocorrência dos DRS.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 12


Apostila Pag.13
Figura 10 – Ausência da floresta ripária logo após da ocorrência do fluxo de detritos.

4. BACIA-ESCOLA

Para o gerenciamento adequando de bacias hidrográficas com o intuito de reduzir os desastres


hidrológicos, uma série de atividades devem ser realizadas, tais como: planejamento territorial com
base no zoneamento de áreas de perigos e riscos; medidas estruturais adequadas; e implementação
de sistema de alerta com base na previsão do tempo. É importante salientar que todos os itens
necessitam de um monitoramento hidrológico. Sem os dados monitorados, é impossível obter o
gerenciamento desejado.
No caso de SC, empresas de reflorestamento normalmente possuem muitas bacias de
cabeceira nas suas propriedades. É de extrema importância a participação dessas empresas nos
projetos de hidrologia, uma vez que estas podem disponibilizar os locais de interesse (bacia de
cabeceira) para serem utilizados como áreas de estudo. É, portanto, muito difícil construir uma
bacia experimental sem a colaboração das empresas de reflorestamento e dos proprietários.
Nesta circunstância, no município de Rio Negrinho (Figura 4), a cooperação entre a
universidade e uma empresa de reflorestamento local transformou as bacias de cabeceiras em bacias
experimentais. Além disso, a realização de educação ambiental com a participação das comunidades
locais e da prefeitura possibilitou convertê-las em bacias-escola (Figura 11). Assim, através do
projeto de hidrologia florestal realizado nesse município, Kobiyama et al. (2007) definiram bacia-
escola como uma bacia experimental que serve para pesquisas científicas e atividades de educação
ambiental.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 13


Apostila Pag.14
Figura 11 – Transformação das bacias de cabeceira em bacias-escola.
(Fonte: Kobiyama et al., 2008).

A bacia-escola desperta na comunidade o interesse pela hidrologia, e conseqüentemente


aumenta o conhecimento nessa área de estudo, fazendo com que aumente a participação da
população no gerenciamento dos recursos hídricos. A Figura 12 mostra a relação entre a bacia-
escola e o gerenciamento participativo. Este tipo de cooperação entre universidades e empresas de
reflorestamento, atuando em conjunto com as comunidades locais, é indispensável para assegurar
um gerenciamento integrado dos recursos hídricos. É importante ressaltar que as bacias-escola são
importantes não só para as comunidades locais, mas também para os hidrólogos. Elas são campos
(objetos) fundamentais para a realização de pesquisas hidrológicas. Segundo Uhlenbrook (2006),
nessas pesquisas, interesses puramente científicos coincidem com práticas do gerenciamento dos
recursos hídricos para apoiar o desenvolvimento sustentável. Kobiyama et al. (2007) relataram que
a conscientização da comunidade sobre a hidrologia pode ser intensificada com uso de bacias-
escola.

Figura 12 – Relação entre bacia-escola e o gerenciamento participativo.


(Fonte: Kobiyama et al., 2008)
IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 14
Apostila Pag.15
Segundo Kobiyama et al. (2006), a prevenção de desastres naturais é dividida em dois
aspectos: (1) compreensão dos mecanismos dos fenômenos naturais que geram os desastres; e (2)
aumento do potencial de resistência da sociedade contra esses fenômenos. O primeiro item é a
execução da ciência, e o segundo necessita do apoio da ciência. Sendo assim, é bem claro que a
implementação da rede de bacias-escola certamente contribui no gerenciamento de desastres
naturais (Kobiyama et al., 2009a).

5. ITENS RELEVANTES PARA ESTUDOS AVANÇADOS

Para melhor entendimento dos processos hidrológicos ocorridos em uma bacia e correto
gerenciamento de seus recursos, se faz necessária a realização de medições em campo de diversos
parâmetros. As medições geram as variáveis utilizadas em modelos que simulam o comportamento
da bacia para inúmeros eventos, sejam eles comuns ou extremos.
A medição de sedimentos em suspensão no corpo hídrico é de extrema importância. SILVA et
al. (2003) relatam que o sedimento é, possivelmente, o mais significativo de todos os poluentes,
devido a sua concentração na água, seus impactos no uso desta e seus efeitos no transporte de outros
poluentes. As atividades agrícolas e florestais em áreas com grande declividade e o desmatamento
de encostas e margens de rios, propiciam a redução da infiltração de água no solo e, por conseguinte
o aumento do escoamento superficial. Esses fatores acabam favorecendo os processos erosivos do
solo que desestabilizam encostas e conferem maior carga sedimentar ao fluxo de água no canal.
Portanto a análise de sedimentos pode evidenciar o melhor uso de solo e cobertura vegetal para a
bacia, a fim de assegurar a qualidade da água e prevenir movimentos de massa.
A granulometria do solo, outro parâmetro a ser medido, é a base para sua classificação.
Através dela, outros parâmetros podem ser estimados por meio de funções de pedo-transferência,
facilitando a aplicação de modelos de estabilidade e erosão. No corpo hídrico, a granulometria do
sedimento depositado ao longo do canal pode indicar o potencial de transporte do rio. A medida que
o rio se afasta de áreas declivosas adentrando em planícies, diminui a velocidade,
conseqüentemente sedimentos maiores vão se depositando. Portanto a estimativa deste potencial é
importante, entre outras finalidades, para avaliação da área de abrangência de um fluxo de detritos
que atinge o canal.
A espessura da camada de solo tem relação direta com a capacidade de armazenagem de
água na bacia, transmissividade e produção de sedimentos. Desta maneira, é necessário que se
conheça este parâmetro e que seja estimado na modelagem. A profundidade dos solos interfere no

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 15


Apostila Pag.16
grau de estabilidade das encostas, sendo que grandes profundidades de solo acarretam em elevados
pesos.
Assim, a hidrologia necessita de informações da área de geotecnia e pedologia. Quando a
inserção dessas informações à hidrologia for obtida, a engenharia de sedimentos certamente
contribuirá ainda mais ao planejamento territorial, reduzindo desastres hidrológicos. Isto deve ser o
desafio principal da engenharia de sedimentos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No mundo a freqüência e a intensidade dos desastres hidrológicos vêm aumentando


consideravelmente. O presente trabalho ilustra como reduzir tais desastres através da aplicação da
hidrologia, embasado em vários estudos de caso no estado de Santa Catarina, Brasil.
O estudo de caso de Joinville mostra que as inundações resultam muito mais da ocupação
territorial mal planejada do que da pluviosidade. Isto implica que o principal fator que causa a
inundação não é a mudança climática, mas sim o fator humano. Para corrigir as ações antrópicas no
momento da implantação e ocupação de um local, é essencial que os resultados de estudos
hidrológicos sejam levados em consideração. Para tanto, a criação da rede de bacias-escola pode ser
fundamental. A importância das redes de bacias-escola foi justificada e comprovada através do
estudo de caso no município de Rio Negrinho.
Os desastres hidrológicos evoluem juntamente com a evolução da cidade. No início do
crescimento de uma cidade os desastres relacionados à água (inundação) são predominantes, porém
ao longo do tempo torna-se evidente a predominância de desastres relacionados a sedimentos. Essa
evolução pode ser observada em Rio dos Cedros, onde a redução dos desastres relacionados aos
sedimentos é um desafio para a comunidade e para os hidrólogos.
“Se não gerenciar a água, não será possível governar o país” é um dos antigos provérbios da
China. Este provérbio vem se tornando cada vez mais verdadeiro em todos os locais no mundo.
Através do mesmo pode-se dizer: “Se a sociedade entender a hidrologia e aplicar seus
conhecimentos em suas atividades, reduzirá os desastres hidrológicos, principais desastres naturais,
e conseqüentemente melhorará a qualidade de vida.”.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos membros do Laboratório de Hidrologia – LabHidro, do


Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina
pelas discussões sobre desastres naturais.

IX Encontro nacional de Engenharia de Sedimentos 16


Apostila Pag.17
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Apostila Pag.20
Hydrological disasters reduction: lessons from hydrology

Masato Kobiyama
(Department of Sanitary and Environmental Engineering, Federal University of
Santa Catarina, Brazil)
Pedro Luiz Borges Chaffe
(Graduate School of Engineering, Kyoto University, Japan)
Roberto Fabris Goerl
(Graduate Program of Geography, Federal University of Paraná, Brazil)
Joana Nery Giglio
Undergraduate Course of Sanitary and Environmental Engineering, Federal
University of Santa Catarina, Brazil)
Gisele Marilha Pereira Reginatto
(Graduate Program of Civil Engineering, Federal University of Santa Catarina,
Brazil)

Abstract:
The hydrological disasters have increased in the last decades, in magnitude and
frequency. They are divided in two groups: water-related and sediment-related
disasters. Though the natural phenomena that cause such disasters have been
researched, their characteristics and hydrological processes are not completely
understood until now. Therefore, the distinction of these disasters is not simple,
and many societies have not been able to implement adequate mitigation
countermeasures. Historically, societies have first settled on the floodplains and
subsequently on the hillsides, thus being more used to coexist with floods than
landslides and debris flow. During the long development process, hillside areas
occupation is increased and some societies begin to suffer more from sediment-
related disasters (landslides and debris flows) than from water-related ones
(floods). By presenting three case studies done in Santa Catarina State, Brazil, the
present work describes the importance to apply the hydrology for the hydrological
disasters reduction, with the emphasis of school catchment network
implementation. Finally, the philosophical aspects which may be the most
important in disasters management are discussed.
Key-words: Hydrological disasters; sediment-related disasters; water-related
disasters; school catchment; hydrology.

Resumo:
Os desastres hidrológicos têm aumentado nas últimas décadas, em magnitude e
freqüência. Esses desastres são divididos em dois grupos: os relacionados a água
e os relacionados a sedimento. Embora os fenômenos que causam tais desastres
sejam amplamente estudados, suas características e os processos hidrológicos
relacionados a eles ainda não são completamente compreendidos. Assim, a
diferenciação desses desastres não é simples, e as sociedades ainda não
conseguem implementar medidas mitigadoras satisfatórias para a redução de
danos. Historicamente, ocupações são feitas nas planícies inundáveis antes das
áreas de encostas, por isso as comunidades aprendem a conviver mais com as
inundações do que com os escorregamentos. Ao longo do tempo, a ocupação das
áreas de encostas avança, e conseqüentemente as sociedades vêm sofrendo mais
com desastres relacionados a sedimentos do que com desastres relacionados a
água. Neste contexto, apresentamos três estudos de caso, realizados no estado de
Santa Catarina, Brasil, mostrando a importância da aplicação da hidrologia para a

Apostila Pag.21
redução de desastres hidrológicos, com ênfase de implementação de rede de
bacias-escola. Finalmente, alguns aspectos filosóficos que podem ser mais
importantes para o gerenciamento de desastres são discutidos.
Palavras-chave: Desastres hidrológicos; desastres relacionados a sedimento;
desastres relacionados à água; bacia escola; hidrologia.

1. Introduction

During the period of 1992-2001, natural disasters killed in average 60,000


people per year. The total lives affected in those ten years were 200 million and
the economic losses sum up to US$ 61 billion (Twing, 2004). Ismail-Zadeh &
Takeuchi (2007) argued that there is a worldwide increasing trend of natural
disasters frequency and their negative impacts, mainly due to the population
growth and the high concentration of urban areas in natural hazards zones.
McDonald (2003) reported that the damages associated to the natural disasters
increased ten times in the last decades, partially because of the occupation of risk
areas due to the population growth, and partially because of the economic
conditions of people that occupy hazard zones forming a high vulnerability
settlement.
The International Strategy for Disaster Reduction (UN-ISDR) classifies the
natural disasters in five groups: hydrological, meteorological, geophysical,
climatological and biological. The hydrological disasters are those related to
extremes in the hydrological cycle, and are divided in two main-types: wet mass
movement and flood. The former includes landslides, debris flows and other
sediment-related disasters. And the latter includes river flood (or simply flood),
flash flood and coastal flood (Below et al., 2009).
An increase of the water-related disasters’ occurrence and magnitude has
been reported in the last decade (Rodriguez et al., 2009). Among all the natural
disasters, the hydrological ones are the most common in the world (Figure 1). The
same tendency can be seen in Brazil (Figure 2a), which implies an urgent
necessity to implement more structural and non-structural countermeasures for
reducing the hydrological disasters.

Apostila Pag.22
550

Events occurrence in the world (1900 - 2009)


500 Biological
450 Climatological
Geophysical
400
Meteorological
350 Hydrological
300
250
200
150
100
50
0
1900
1905
1910
1915
1920
1925
1930
1935
1940
1945
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
Year

Figure 1 – Natural disasters occurrence in the World during the period from 1900
to 2009.

12 8
Biological
Events occurrence in Brazil (1964 - 2009)
Events occurrence in Brazil (1964 - 2009)

Mass movement (wet)


Climatological
10 Flood
Geophysical
Meteorological 6
8 Hydrological

6 4

4
2
2

0 0
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009

(a) Year (b) Year

Figure 2 - Events occurrence in Brazil during the period 1964 – 2009: (a) Natural
disasters; (b) Hydrological disasters.

In this chapter, we present three case-studies that have been carried out in
Santa Catarina State (SC), Southern Brazil. By doing so, we want to emphasize
the importance of hydrology application for reducing the hydrological disasters,
especially through the implementation of the school catchment network. Finally,
we discuss the philosophical aspects which we believe might be the most
important ones in disasters management.

2. Concept

In case of a very large-scale and high intensity hydrological disaster, both


wet mass movement and flood occur simultaneously. It becomes quite difficult to
distinguish between one another, which may lead to errors in disasters
registration. For example, in November 2008, a heavy rainfall triggered wet mass
movements at many locations inside the Itajaí Valley, Santa Catarina State. These
movements were responsible for more than 97% of the deaths occurred in the
disaster (Brasil, 2009). However, this disaster was registered in the international

Apostila Pag.23
disaster databases as a flood, not a mass movement (Figure 2b). Although many
mass movements and floods have occurred concurrently, many of them were only
registered as floods. It implies that the historical series for hydrological disasters
at least in Brazil may not demonstrate the occurrences of mass movement
correctly, and there is a tendency to underestimate the number of mass
movement occurrences.
The hydrological disasters consist of the flood and wet mass movement
types, and it could be argued that these disasters are water-related and sediment-
related, respectively. That is where the problems in distinction begin. Debris flow
is clearly considered as a sort of sediment-related disaster, however, it is treated
as water-related one because a rainfall triggers it. On the other hand, flood is
considered as water-related disaster. However, in occurring, it transports and
deposits lots of sediments that play an important role in watershed riparian
system. As we can see, there is a need to improve the methods of identification of
each type of the hydrological disasters.
Flood and flash flood are the main disasters that damage our society. Each
type requires its own structural and non-structural countermeasures. Flood occurs
when the water flow in a stretch of the river exceeds the bankfull flow. Then, the
water overflows the riverbanks and spreads through the floodplain. While the flood
occurrence depends on the physical and climatological characteristics of the river
basin, the flood disaster is a consequence of the human settlement on the
floodplain (Leopold, 1994).
Flash floods take place in a sudden, violent and unexpected way, usually in
small areas, and result in a greater danger to life and severe structural damages.
They are normally triggered by intense rainfalls. It must be emphasized that the
early warning system is indispensable for the reduction in damages associated
with flash floods (Kobiyama & Goerl, 2007).
The difficulty to distinguish the gradual (or river) flood and flash flood is
similar to the case to distinguish the water-related and sediment-related disasters.
There are various definitions for both of them. The definitions themselves are not
clear. Then, Kobiyama and Goerl (2007) proposed a quantitative method to
distinguish them, by introducing the Operation Efficiency Index which is defined as
the rate of the time of flood concentration (Tc) to the operational response time
(To) in the institution-community system. Tc and To are associated with physical
and social factors, respectively. This proposal remains to be examined in a
practical way.
The wet and dry mass movements are triggered mainly by heavy rainfall
and earthquakes, respectively. Though there are many different classifications for
the wet mass movements, the classification proposed by Varnes (1978) may be
the most common in use. In the Varnes classification, phenomena are classified in
terms of movement: falls, slides and flows. Furthermore, the slides are divided by
material (soil or rock) and the flows are divided by the water amount (from dry to
wet). According to the Varnes classification, landslide is the gravity-induced
movement of a portion of soil. And the debris flow is the gravity-induced flow
movement of wet and coarse debris. By no means this classification provides
definite clues about the boundaries between the different phenomena.
Focusing just on the flows, Costa (1988) classified the possible flow
processes into three categories: water floods, hyperconcentrated flows and debris
flows, and described them with the rheologic, geomorphic and sedimentologic
aspects in order to differentiate them. Since the author treated the flow processes
which occurred in small and mountainous basins, this flood might be equivalent to
the flash flood. The rheologic differentiation of these three types of flow is in Table

Apostila Pag.24
1. Nevertheless, even using rheology, the boundaries between these flow
processes are difficult to be understood.

Table 1 – Rheologic differentiation of the flow types


Sediment Bulk density Shear strength Sediment
Flow 3 2 Fluid type Flow type
concentration (g/cm ) (dyne/cm ) con. profile

1 - 40% by wt.
Water flood 1.01 - 1.33 0 - 100 Newtonian Turbulent Non-uniform
0.4-20% by vol.
Hyperconcentrated 40-70% by wt. Non-uniform to
1.33 - 1.80 100 - 400 Non-Newtonian Turbulent to laminar
flow 20-47% by vol. uniform
70-90% by wt. Non-Newtonian
Debris flow 1.80 - 2.30 > 400 Laminar Uniform
47-77% by vol. Viscoplastic or dilatant

(Adapted from Costa, 1988)

Because of its destructive power and consequent disasters, the debris flow
has been studied intensively and widely, for example, by Jacob and Hungr (2005)
and Takahashi (2007). However, the understanding is not satisfactory, and more
field data are necessary to advance this understanding. The difficulty in
standardizing the phenomena classification brings problems to many actions on
disaster management: phenomena registration, database construction,
countermeasure choice, policy establishment, etc.
Based on the description above mentioned, Figure 3 shows the conceptual
classification of the hydrological disasters in terms of velocity and sediment
concentration. The speed of a phenomenon influences on the prediction
performance, and in general, it is more difficult to predict the phenomena that
occur rapidly. On the other hand, the sediment concentration influences the
impact characteristics. In SC in 2008, it was observed that the impacts of the
sediment-related disasters were much more severe and prolonged than those of
the water-related ones. Consequently, a recovery and reconstruction processes of
society damaged by the sediment-related disasters were more complicated than
those by the water-related ones.

Landslide Debris flow


Sediment concentration

Hyperconcentrated
flow

Flood Flash flood

Velocity
Figure 3 – Conceptual classification of the hydrological disasters.

In the flooded areas, various plantations were lost, many buildings and
houses were inundated and various transport systems were out of function for a
few days. In these areas, the local inhabitants could return to their houses and
immediately started to clean the flooded areas and to reconstruct the destructed
structures when the water level fell down and the river presented its normal

Apostila Pag.25
course. The major damage was associated to the economic aspect, and the local
re-stabilization needed some days.
A situation of the areas where landslides and debris flows occurred is
different. There were economic damages as well as a lot of human losses. Besides,
a lot of refugees were not able to return to their houses, even after the rain
ceased, because of several reasons: the prohibition of house entrance by civil
defense because of new landslide occurrence possibility; structural impairment of
the house; complete destruction of the house, land loss by land-filling without the
possibility of reconstructing new residence on the same site, and so forth. More
than one year after the event, the disaster still remained.
As discussed above, when a sediment-related disaster occurs, the risk
assessment of involved houses and infrastructure is more difficult. This
assessment includes: evaluating whether the house/infrastructure is structurally
compromised by the mass movement; analyzing whether more landslides will
occur and whether these potential events will affect the house/infrastructure; and
deciding whether residents can stay at their houses. This assessment procedure
requires expertise and a very deep understanding of mass movements such as
landslides and debris flow. Moreover, the evaluation in general has to be carried
out for each house, which makes the procedure more slow.
The entrance prohibition decision of the civil defense must be as accurate as
possible, because both the overestimation an underestimation of risk may increase
the disaster. The risk underestimation leads to prohibition entrance to houses less
than necessary, which makes people more vulnerable to the next mass
movements. The risk overestimation leads to ban on larger areas than necessary.
This generates an overcrowding in shelters, and the refugees begin to distrust the
effectiveness of the Civil Defense. This distrust, in turn, puts in doubt the
necessity of the ban. In the case that families return to their forbidden houses,
they might become victims of future mass movements.
In the case of floods, the above mentioned difficulty is very rare, because
the risk is apparent. When the water level in a river rises, the inhabitants know
that they have to evacuate. And when the level goes down, they know that they
can return. The difficulty in the flood case is related to the process speed, not to a
lack of knowledge on the flood mechanism. Therefore, there is an evident need to
improve the understanding of mass movement mechanisms.
When the heavy rainfall occurs, natural phenomena (flood, landslide, flash
flood, hyperconcentrated flow and debris flow) that cause disasters are triggered.
If the occurrence localities of such phenomena possess any kind of relation with
human activities, these phenomena are considered as natural disasters. That is
why all the natural disasters always contain human or social factors; meanwhile
the natural phenomena have only natural factors. In other words, the natural
disaster analysis must consider human-related factors which are fundamental in
disaster occurrence and affect all of their prevention stages (i.e. mitigation,
preparedness, response and reconstruction) (Kobiyama & Goerl, 2007).
One of the most important human-related factors for triggering the
hydrological disasters must be the land-use. Normally, a settlement of a city starts
with floodplains occupation. It has been observed since the Four Ancient River
Civilizations (Tigris and Euphrates, Nile, Indus, and Yellow Rivers). It is very
natural that a community initially suffers from floods because of its settlement
locality. After occupying most of the floodplains, a growing community begins to
use hillside areas. These areas have much more potential for sediment-related
disasters than the floodplains, and that is when the sediment-related disasters
start to take place. After some time, the number of occurrences and/or the

Apostila Pag.26
damage quantity of sediment-related disasters might well overtake those of water-
related disasters.
Figure 4 shows the scenario of this disaster evolution (water-related to
sediment-related disasters) in a city due to the land occupation change. Analyzing
the disasters occurrences in SC, during the last decades, this evolution can be
observed. According to Tachini et al. (2009) the people in SC are historically
prepared for floods, but not for flash floods and for wet mass movements, which
were the principal cause of the tragedy which occurred in Itajaí Valley, SC, in
November 2008.

100%
? ?
Area of occupation

?
in
pl a

e
id
od

lls
flo

hi
0
Time

ers
a st

s
Disasters occurence

ter
dis

as
ted

dis
ela

ted
t-r

ela
en

r-r
dim

ate
W
Se

Time
City settlement Present
Dominance of Dominance of
water-related sediment-related
disasters disasters

Figure 4 – Hydrological disasters evolution due to the land occupation change.

3. Case study

It is essential to apply hydrological knowledge for reducing the hydrological


disasters. Without this application, it is impossible to reduce them. In this section
we present three cases of the application of hydrology for disaster reduction in the
localities of Joinville city, Rio dos Cedros city and Rio Negrinho city, SC (Figure 5).

Apostila Pag.27
Figure 5 – Localities of case study in Santa Catarina State, Brazil.

3.1. Joinville city

In terms of population and economy, Joinville (1135 km2) is the largest city
in Santa Catarina, with 497,331 inhabitants and a GDP per capita of US$ 7771.00.
The city was developed on a very flat fluvio-marine lowland and most of its urban
areas are located only 2 m above the sea level. Thus, Joinville is naturally
susceptible to flooding. Figure 6 shows that both the evolutions of population and
urban area are similar and that they started to grow quickly at the middle of the
twentieth century.

Apostila Pag.28
500 180
Inhabitants
160
Urbanized Area
400 140
Inhabitants (in thousands)

Urbanized Area (km²)


120
300
100

80
200
60

100 40

20

0 0
1851 - 1860

1861 - 1870

1871 - 1880

1881 - 1890

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

1921 - 1930

1931 - 1940

1941 - 1950

1951 - 1960

1961 - 1970

1971 - 1980

1981 - 1990

1991 - 2000

2001 - 2008
Figure 6 – Evolution of population and urban area during the period 1851 – 2008
(Source: Silveira et al., 2010).

This city has been suffering from floods and registering them since its
foundation in 1851. In order to contribute to flood management, Silveira et al.
(2009) searched all the documents that reported the floods in this city for the
period from 1851 to 2008. According to the authors, the floods in Joinville have
more relation with urbanization (human-related factor) than with annual rainfall
(natural factor) (Figures 7 and 8). Figure 8 shows that the annual rainfall is
slightly decreasing and the flood frequency is rapidly increasing.
Although the floods are usually considered as the hydrological disasters, the
floods in Joinville seem to be human-related disasters. Then Silveira et al. (2009)
alerted that the flood problems are not due to the climate change problem but due
to the human activities problems. In this sense, there is a solution, i.e., making
the watershed management more correct and adequate. If the flood problems
were only due to the climate change, the solutions could be much more difficult to
accomplish.

Apostila Pag.29
35 180
Flood Frequency
160
30 Urbanized Area
140
25

Urbanized Area (km²)


120
Flood Frequency

20 100

15 80

60
10
40
5
20

0 0
1851 - 1860

1861 - 1870

1871 - 1880

1881 - 1890

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

1921 - 1930

1931 - 1940

1941 - 1950

1951 - 1960

1961 - 1970

1971 - 1980

1981 - 1990

1991 - 2000

2001 - 2008
Figure 7 – Change of the flood frequency and the urban area of Joinville city
during the period 1851 – 2008 (Source: Silveira et al., 2010).

35 2700

2400
30
2100
25
1800
Flood Frquency

Rainfall (mm)
20 1500

15 1200

900
10
600
Flood Frequency
5
Rainfall 300

0 0
1851 - 1860

1861 - 1870

1871 - 1880

1881 - 1890

1891 - 1900

1901 - 1910

1911 - 1920

1921 - 1930

1931 - 1940

1941 - 1950

1951 - 1960

1961 - 1970

1971 - 1980

1981 - 1990

1991 - 2000

2001 - 2008

Figure 8 – Change of the flood frequency and the annual rainfall of Joinville city
during the period 1851 – 2008 (Source: Silveira et al., 2010).

The historical analysis done by Silveira et al. (2009) can be a good example
of how important it is to correctly register the disaster occurrences and that we
should also treat the disasters with a historical point of view. Then this work gives
a good lesson (the importance of disaster registration) to other Brazilian cities as

Apostila Pag.30
well as to hydrologists. Observation, measurement and registration are essential
activities in hydrology.

3.2. Rio dos Cedros city

In November 2008, an extremely-intense rainfall event triggered floods and


landslides in SC, especially in the Itajaí Valley. This event might be the worst in
the whole history of SC. Rocha et al. (2009) analyzed the daily rainfall data
obtained in Blumenau city which is located in the Itajaí Valley, and concluded that
the daily rainfall of 347.2 mm registered on 23rd November corresponds to the
return period of more than 10,000 years for this city. Among 293 cities in SC, 63
declared a state of emergency and 14 a state of public calamity in November
2008. According to the State Civil Defense Report 31/Dec/2008 which presented
the total damages caused by these disasters in SC, there were 32,853 homeless,
135 dead and 2 missing.
Rio dos Cedros (10,170 inhabitants and 555.65 km2 in 2009), city located in
the Itajaí Valley, at a distance from Blumenau about 30 km, declared a state of
pubic calamity due to the intense rainfall in November 2008. It was reported that
8561 peoples were directly affected, 96 homeless, no dead, and economic losses
of agriculture, livestock, industry and basic sanitation infra-structures in the range
of US$1.34 million, 300 thousands, 40 thousands, and 390 thousands,
respectively. The floods occurred in the urban area, whereas the debris flows
occurred predominantly in many rural areas (Goerl et al., 2009).
Since the frequency of debris flow disasters has increased recently, there
are only a few studies on this phenomenon in Brazil until now. The debris flow
research can be, therefore, considered as one of the priorities in the Brazilian
society. In this context, Kobiyama et al. (2010) analyzed the meteorological and
geomorphic aspects of two debris flow features which occurred in Rio dos Cedros
city in November 2008.
An analysis of the historical data of the annual rainfall from 1942 to 2008
showed that the mean value was 1651 mm/year, the highest value was the total
of 2863 mm in the year 1983; meanwhile 2008 was the second rainiest year with
a total amount of 2509 mm The total rainfall of October and November 2008 was
1085 mm which represented about 43.3% of the 2008 annual rainfall. On 3rd
October, the most intense rainfall (122 mm/day) was recorded, and after this
event no high rainfall intensity took place. In November, the values of the daily
rainfall were not very high (less than 80 mm/day), but the occurrence was much
higher than in October and the accumulated rainfall was very high (Figure 9).

Figure 9 – Daily and accumulated rainfalls in Rio dos Cedros from October to
November 2008 (Source: Kobiyama et al., 2010).

Apostila Pag.31
The analyzed debris flow took place in three stages, the first at 1:15 a.m.,
the second at 2:00 a.m. and the third at 3:00 on 24th November. The observed
rainfall data in Rio dos Cedros showed that during the period from 0:00 a.m. to
3:00 a.m. on the same day, it rained 10 mm which might not be able to cause
such a terrible and intense phenomenon. The accumulated rainfall from 0:00 a.m.
on 23rd November to 3:00 a.m. on 24th November was 95 mm. Only for one week
from 18th to 24th November, it rained totally 256 mm, more than twice the value
of the mean monthly rainfall for November. October and November of 2008 had
the highest values of monthly rainfall in the same months during the period from
1942 to 2008, with 441 mm and 644 mm, respectively (Figure 10). It may be said
that in this case the triggering factor was the accumulated value of the rainfall, not
its intensity.

Figure 10 – Monthly rainfall data from Rio dos Cedros: Mean monthly rainfall from
1942 to 2007, maximum monthly record between 1942 and 2008, monthly rainfall
of 2008, and monthly rainfall of 1983 (Source: Kobiyama et al., 2010).

Kobiyama et al. (2010) carried out the field survey of two comparatively-
larger debris flows in the Cunha River watershed, Rio dos Cedros (Figure 11). Both
cases (Debris A and Debris B) had two different starting areas, i.e., two initial
movements. In other words, four landslides occurred and formed two large debris
flows. Based on the field observations, the volume (V) of mass movement,
elevation (H), travel distance (L) and reach angle (β) were estimated. The value of
V was also estimated by using the equations proposed by Corominas (1996) and
Rickenmann (1999). The V values obtained by three methods (field data analysis,
equation of Corominas and equation of Rickenmann) were all different, which
implies the difficulty to estimate the mass movement volume.

Apostila Pag.32
Figure 11 - Localities of two debris flows (Debris A and Debris B) in Cunha River
watershed (Source: Kobiyama et al., 2010).

Futhermore, Kobiyama et al. (2010) plotted the values of the Debris A and
B obtained with field data analysis, on the diagram originally elaborated by
Rickenmann (2005) which relates tanβ to V (Figure 12). In the tropical
environments, the soil layer tends to become thicker (~20 m) than that in the
temperate regions. In both the debris flow localities, the average of the soil layer
depth was 15 m. And the soil texture was characterized with large quantity of clay
and silt. Furthermore there was a lot of vegetation on the occurrence localities,
predominantly trunks with 20-30 m height, which might characterize the woody
debris flows. In spite of these conditions, it is observed that two cases of Rio dos
Cedros had the similar behavior to other cases shown by Rickenmann (2005),
especially to Swiss debris flows. It implies that the geomorphic effects are
predominant in the debris flow controls. Since debris flow disasters in Brazil have
been increasing in frequency and magnitude, their research must be more
enhanced in this country, by analyzing various aspects of this hydrological hazard.
Urgently, field survey database should be constructed. Since the event is very
rapid, automatic monitoring systems are necessary, which can be a great
contribution from hydrology.

Apostila Pag.33
Figure 12 – Relation between the travel angle and volume of the mass movement
(Source: Kobiyama et al., 2010).

Field survey provides a lot of opportunities to think what should be done for
disasters reduction in practice. In case of Rio dos Cedros, it was observed that a
kind of training course must be done at community levels. The inhabitants did not
know that debris flows have been frequently triggered in their city. The features of
the paleo-landslides and paleo-debris flows are encountered on a lot of hillsides in
rural areas. As most of these features are covered by vegetation, the inhabitants
cannot recognize the frequency in occurrence and that there are large areas
susceptible to the sediment-related disasters in their city. Thus, it is clear the
necessity to orient them how to observe the natural phenomena which cause the
natural disasters, especially debris flows and landslides.
Furthermore, it was noticed the importance to preserve the riparian zone. In
SC, the preserved buffer strip width for the riparian vegetation has been discussed
recently. According to the federal law, the minimum width for the riparian buffer
strip is 30 m, meanwhile, the SC state government has attempted to reduce it to 5
m. This reduction may induce some economical benefits to some, but certainly can
increase the hydrological disasters, especially those related to the debris flows.
Figure 13 shows how woody-debris flow destructs the riversides and the riparian
buffer strip. In general, the height of riparian forests characterized with the
Tropical and Subtropical Ombrophilous Forests in SC is about 20 – 30 m (Figure
13a).
When the debris flow occurs, woods are longitudinally transported along the
watercourse. In this case, the damage generated with wood transport can be
encountered very near the watercourse (Figure 13b). However, when woods are
transported transversely to the course, the woody-debris flow destroys larger
areas whose width is nearly equal to the wood height (Figure 13c). That is why the
riparian forest has the protection roles against the hydrological disasters as well as
the environmental roles. Though the riparian buffer zones have been treated as
permanent preservation areas in an environmental sense, it must be protected as

Apostila Pag.34
permanent hazard areas. It is a very important and evident lesson from the field
survey just after the debris flow occurrences.

(a)

(c)

(b)

Figure 13 – Riparian forest destruction due to debris flow: (a) before debris flow
occurrence, (b) longitudinal woody transport, and (c) transverse woody transport.

3.3. Rio Negrinho city and its neighboring areas

In possessing a high value of the specific discharge, the Iguaçu River basin
located in the Southern Brazil is characterized with a very high potential to
generate the hydroelectric energy. This basin is also characterized with the
Subtropical Ombrophilous Forest. Since the remainders of this forest which
formerly covered the plateau region of the Southern Brazil are now only 2% of its
original area, this ecosystem must be preserved. Recently the conversion of the
pine reforestation areas to the Subtropical Ombrophilous Forest has been strongly
requested without the consideration that the regional economy depends mainly on
the reforestation activities. Rio Negrinho city (42,144 inhabitants and 908.39 km2
in 2007), located in the Upper Iguaçu River basin and with an economy based in
the industrial reforestation, suffers with flood since its settlement. Therefore, the
ecological and hydrological researches in this basin are indispensable to reduce the
damages caused by the water-related disasters and it is necessary to comprehend
how the operations of the dams change the regional hydrological processes. In

Apostila Pag.35
these circumstances, seven small experimental catchments (0.1 to 10 km2 scales)
with hydrological monitoring in the Upper Negro River (UNR) basin (3552 km²)
which is one of the headwater areas of the Iguaçu River basin were constructed in
order to answer the question about what kind of land-use is best for the water
resources management. With these small experimental catchments and some
preexistent relatively-large experimental catchments, the school catchments
network has been implemented in the UNR basin (Kobiyama et al., 2009). Here
the school catchment is defined as an experimental catchment which serves for
scientific researches and environmental education activities. Figure 14 shows the
school catchment construction processes.
Headwater Catchments
Science Reforestation
+ Utility Permission
University Technology Company

Experimental Catchments
City Office
University Extension Participants +
Communities

School Catchments

Scientific Researches
Environmental Education

Figure 14 – Construction of school catchments (Source: Kobiyama et al., 2009).

In the case of the UNR, various school catchments were required because of
the necessity to understand hydrological effects of land-uses, dams’ operations
and catchment scales. This is the reason why the network (a set of school
catchments) has been implemented. The concept of catchment network is not
new. In justifying the catchment studies and the long term monitoring system for
the investigation of hydrological effects of forest, Whitehead and Robinson (1993)
reported some European examples of the catchment networks. Besides, O’Connell
et al. (2007) introduced the Catchment Hydrology and Sustainable Management
(CHASM) research program that contains the catchment network in the UK and
that adopts a common multiscale experimental design. These networks seem to be
established just for the scientific researches. The concept of such networks is,
therefore, very different from that proposed by Kobiyama et al. (2009) where the
school catchment network contributes not only to the scientific researches but also
to the environmental education activities.
Since the natural disasters management mainly aims (1) to understand the
natural phenomena that trigger the natural disasters and (2) to raise society’s
resistance to such phenomena, the School Catchment Network implementation
certainly contributes to the natural disasters management in the headwater
regions (Figure 15). In this way, school catchments increase an individual’s
knowledge of hydrology, which enhances his (or her) participation in the
community in terms of water resources management. Consequently, an enhanced
participation of each member elevates the quantity and quality of the community
action. According to Hillman and Brierley (2005), the community-based
management is essential for the recent stream rehabilitation programs. Such a
management with governmental supports must be executed for any program that
treats catchments and water resources.

Apostila Pag.36
School Catchment

Environmental Education
+
Hydrological Research

Capacity Building

Teachers Community

Pupils

Participatory
Natural Intensified
Disaster
Management
+ Community
Participation
= Natural
Disaster
Management

Effective Disaster Reduction

Figure 15 – Contribution of the school catchment network to disaster reduction.

It is worth mentioning that school catchments are important not only for
local communities but also for the hydrological sciences community. These
catchments are fundamental fields (objects) for achieving catchment hydrology.
According to Uhlenbrook (2006), in catchment hydrology pure scientific interests
overlap with practical water management to support sustainable development.
One of these examples is Chaffe et al. (2010) which investigated whether
interception information is important for simulating rainfall-runoff or not. The
interception and discharge data used were from one of the school catchments
described by Kobiyama et al. (2009). This study used three different model
formulations (Tank Model of Sugawara (1995) using gross rainfall as input; using
net rainfall as input; and coupled with the Sparse Rutter Model of Valente et al.
(1997) using gross rainfall as input) for the analysis of the effects of interception
information in rainfall-runoff modeling. The results permitted to conclude that: (i)
the interception information is more important to study the rainfall-runoff
processes in dry condition than in wet condition; and (ii) the consideration of the
interception information in the hydrological models results better performance in
any situation. Thus, it is very clear that the hydrological monitoring and modeling
are fundamental and they can be achieved by using the school catchment
network.

4. Philosophical aspects in hydrology

In all of the human (individual and social) actions, philosophy plays a very
important role. Philosophy might be a proper guide to direct our activities. In the
Apostila Pag.37
case of the water resources, watershed and natural disasters managements, a
kind of philosophy called “Small is Beautiful” and proposed by E.F. Schumacher
may be one of the most important guides. According to Schumacher (1973), the
methods and tools employed in education, urbanization, industry, agriculture, and
so on, should be low-priced and small enough that everyone can acquire, apply
and modify, thus encouraging his (her) own creativity.
In this similar sense, Tsuji (2001) wrote the book "Slow is beautiful". If such
a concept "Slow" is applied to hydrology, the necessity to reduce the water flux in
the hydrological processes, especially in the urban drainage system, emerges. This
reduction can be mainly achieved in three ways: (1) by increasing the roughness
coefficient with obstacles on the land and river surfaces; (2) by increasing the
meandering of the watercourses; and (3) by increasing the water storage capacity
in watersheds. Thus, the water dynamics in the hydrological cycle become slower.
However, in order to attempt to "solve" the problems caused by the rainwater
excess in urban areas, ordinal and usual drainage works were to reduce roughness
and sinuosity of the channels, and to increase the flow velocity, which
consequently resulted in increasing the frequency and magnitude of floods
downstream. Those drainage works are designed to reject rainwater in the urban
areas (Figure 16a). It is clear that there is a strong inconsistency between the
previous philosophy and the actual urban hydrology practice. To have slower
hydrologic cycle, the drainage network in watersheds must become the storage
network. In other words, the drainage basin must change to the STORAGE BASIN
(Figure 16b).

(a) (b)
Figure 16 – Watershed management concepts: (a) drainage basin; (b) storage
basin.

What type of countermeasures can slow the water flow at the smaller scale?
Probably, it is necessary to create as simple countermeasures as possible. It is
believed that in general the simplicity allows lower costs, larger accessibility and
lower energy consumption. Thus, there is "Simple is beautiful". Good examples of
the simple technology might be rainfall harvesting systems in urban areas and
agroforestry in rural areas.
To perform simple countermeasures at the small scale which allow the
slower water dynamics, the society needs a more adequate science. In other
words, the society requires more beauties for the water resources, watersheds and
natural disasters management, i.e., the science of hydrology. The more beautiful
hydrology is, the more it becomes useful, contributing to such managements and,
consequently, part of the sustainable development. Then, naturally appears

Apostila Pag.38
"Science is beautiful”. In this context, the university role should be to make a
more beautiful hydrology (research), to inform it to students (education) and to
disseminate it to the community (extension).
Historically, scientists have discovered the mechanisms of nature (beauties)
which have been later applied to various types of managements. In hydrology, the
runoff generation mechanism has been investigated as its main theme. Up to now,
it can be seen the concept evolution: Hortonian overland flow (Horton, 1933) –
Variable source area (Hewlett & Hibbert, 1967) – Hydrological connectivity
(Pringle, 2001, 2002). The beautiful hydrology surely contributes to obtain slow
hydrologic cycle and to realize the water resources and watershed managements
with small scale and simple technology, which is indispensable for the hydrological
disasters reduction. The sustainable development is the challenge of the humanity,
and needs these four beauties: Small, Slow, Simple and Science.

5. Final considerations

All the types of natural disasters taking place have been increasing in
frequency and magnitude. Among them, the increase of the hydrological disasters
is the most dominant both in the world and in Brazil. To reduce the hydrological
disasters, the water resources and watershed managements are essential. Then,
the application of hydrology emerges naturally.
In practice, each municipal should construct the school catchments network
for the two main purposes: (i) for the hydrological sciences community to advance
the knowledge on hydrological processes; and (ii) for educators to accomplish the
environmental education in local communities. These two purposes contribute to
understand the hydrological phenomena that trigger the hydrological disasters and
to raise society’s resistance to such phenomena, respectively. The information and
knowledge obtained through the hydrological researches with school catchments
network will let all the people recognize the natural catchment as STORAGE BASIN
not as DRAINAGE BASIN. We believe that a society must perform the hydrological
monitoring in such school catchment networks, whereas everybody must have a
capacity to register any kind of disaster by putting the historical aspects into the
hydrology.
An accumulation of the information and knowledge will make the hydrology
more beautiful. Then, the more beautiful hydrology will support to perform simple
countermeasures at a small scale which allow the slower water dynamics. Hence,
these four beauties (Small, Slow, Simple and Science) certainly contributes to
reduce the hydrological disasters.
Such hydrological disasters are conventionally classified into two groups:
water-related and sediment-related disasters which are usually represented with
flood and mass movements (landslide and debris flow), respectively. Since the
land occupation style normally changes during the municipal development
processes in a city, some society suffers from water-related disasters at the early
stage of the developing processes and sediment-related disasters at later stage.
This might be a kind of the disasters evolution. In this way, the sediment-related
disasters seem to be dominant in several cities in Santa Catarina State, Brazil.
Therefore, in this type of city, hydrologists and society must start to pay much
more attention for sediment-related phenomena.

Acknowledgements

Apostila Pag.39
This study was supported in part by the National Research Council of Brazil (CNPq)
and the Study and Project Financer (FINEP) through the Grant no. 479532/2009-5
and the Grant no. 520288/2006-8, respectively. The authors are thankful to the
members of the LabHidro-UFSC for support of field survey.

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Contact address
UFSC/CTC/ENS/LabHidro
Caixa Postal 476
Florianópolis-SC
CEP 88040-900, Brazil
www.labhidro.ufsc.br
e-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
Fone: +55 (48) 3721-7749
FAX: +55 (48) 3721-9823

Apostila Pag.42
2 HIDROLOGIA, HIDROGEOMORFOLOGIA E
GEOBIOHIDROLOGIA

MASATO KOBIYAMA
ALINE DE ALMEIDA MOTA
GEAN PAULO MICHEL

Para iniciar a International Hydrological Decade – IHD, UNESCO (1964) definiu a


hidrologia da seguinte maneira: “Hydrology is the science which deals with the waters of the
earth, their occurrence, circulation and distribution on the planet, their physical and
chemical properties and their interactions with the physical and biological environment,
including their responses to human activity. Hydrology is a field which covers the entire
history of the cycle of water on the earth”. Desde então, a hidrologia tem sido desenvolvida
internacionalmente e institucionalmente.
Devido ao sucesso da Década Hidrológica Internacional, a UNESCO criou o
Programa Hidrológico Internacional (International Hydrological Programm – IHP) para
continuar com novas edições da IHD. Este programa iniciou sua oitava fase (IHP-VIII) em
2014, com o principal objetivo: "Water security: Responses to local, regional, and global
challenges". Neste contexto, a segurança hídrica é definida como: “The capacity of a
population to safeguard access to adequate quantities of water of acceptable quality for
sustaining human and ecosystem health on a watershed basis, and to ensure efficient
protection of life and property against water related hazards – floods, landslides, land
subsidence and droughts.”
Para alcançar esse objetivo e com base em algumas prioridades elencadas em
discussão de grupos de trabalho da própria UNESCO, a IHP-VIII (2014-2021) possui seis
temas: (T1) Desastres relacionados a água e mudanças hidrológicas; (T2) Água subterrânea
em um ambiente que se altera; (T3) Abordar a escassez e a qualidade de água; (T4) Água e a
ocupação humana no futuro; (T5) Ecohidrologia, criação de harmonia para um mundo
sustentável; e (T6) Educação sobre a água, chave para a segurança hídrica.
Assim sendo, em menos de um século, percebe-se que a hidrologia vem avançando
com ênfase em certos temas guiados pelos problemas mundiais em relação aos aspectos
sócio-econômico-ambientais.
Neste capítulo, apresentamos conceitos sobre hidrologia e temas específicos
relacionados a mesma, utilizando os seguintes artigos já publicados:

• KOBIYAMA, M. Aplicando a hidrologia. Emergencia, fev/mar, 2010. p.42.


• KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; MICHEL,G.P. Bacias-escola e seu uso para a
geobiohidrologia. MICHEL,G.P. In: III Seminário dos Impactos da Agricultura nos
Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria: 2014) Santa
Maria: UFSM, Anais, 2014. 4p.

Apostila Pag.43
• GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M.; SANTOS, I. Hidrogeomorfologia: Princípios,
Conceitos, Processos e Aplicações. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13,
p.103-111, 2012.
• KOBIYAMA, M.; MONTEIRO, L.R.; MICHEL, G.P. Aprender Hidrologia para
Prevenção de Desastres Naturais. In: 28º Seminário de Extensão Universitária da
Região Sul. (2010: Florianópolis). Florianópolis: UDESC, Anais, 2010. 6p.

Apostila Pag.44
Masato Kobiyama - professor responsável pelo Laboratório
de Hidrologia do Departamento de Engenharia Sanitária e

DEFESA CIVIL Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina


kobiyama@ens.ufsc.br

O Aplicando a
CRED (Centre for Research on the Epide- lhor medida para reduzir esses desastres. Vale
miology of Disasters) é um órgão parcei- lembrar que a bacia hidrográfica é a unidade
ro da Organização Mundial da Saúde, que ana- ideal para gerenciamento de recursos naturais.

Hidrologia
lisa os dados mundiais das ocorrências dos de- O Laboratório de Hidrologia da Universidade
sastres naturais. Recentemente, o CRED esta- Federal de Santa Catarina tem feito um projeto
beleceu uma nova classificação dos desastres de extensão chamado “Aprender Hidrologia
naturais. Com base nessa classificação e nos para Prevenção de Desastres Naturais” desde
dados do CRED, pode-se fazer duas observa- 2006, realizando cursos de capacitação e pa-
ções sobre os desastres naturais no mundo ao que naturais. O caso de Joinville não deve ser lestras em vários municípios. Todos os partici-
longo do tempo: primeiro, houve um aumento exceção. Pelo contrário, casos como o do municí- pantes dos cursos e das palestras sentem a
abrupto da ocorrência desses após a década pio são típicos tanto no Brasil quanto no mundo. importância da Hidrologia e sua aplicação na
de 50 e esse aumento é exponencial ao longo Inundações e escorregamentos são, convencio- redução de desastres, manifestando interesse
do tempo; e, segundo, o tipo predominante de nalmente, tratados como desastres naturais. En- de mais cursos para eles.
desastres é hidrológico. Nessa nova classifica- tretanto, eles resultam de muitos fatores antropo- Então, na prática, o que órgãos de Defesa
ção, o CRED chama inundações e escorrega- gênicos. Civil podem e devem fazer? A palavra-chave
mentos de desastres hidrológicos. Na realidade, as inundações e os escorrega- pode ser bacia-escola. A bacia-escola é defini-
Conforme notícias na mídia brasileira, desas- mentos são fenômenos puramente naturais, nada da como bacia experimental que é construída
tres hidrológicos (inundações e escorregamen- mais. Quando esses fenômenos geram danos à para estudos científicos e também o local para
tos) têm causado muitos danos socioambientais sociedade, são chamados desastres. Nesse pro- realizar atividades de educação ambiental para
no País inteiro nas últimas décadas, mas, espe- cesso de transformação de apenas fenômeno comunidades locais. Em cada município ou re-
cialmente, nas regiões Sul e Sudeste. Além dis- natural para desastre natural, sempre existem gião, deve ser estabelecida a bacia-escola ou
so, existe uma tendência, a qual muitos relacio- fatores antropogênicos. O aumento das ocorrên- a rede de bacias-escola, nas quais moradores,
nam a quantia e a magnitude dos desastres hi- cias de desastres deve estar associado com cientistas e gestores junto com a Defesa Civil
drológicos e/ou outros desastres naturais com ações humanas: crescimento populacional, ex- façam o monitoramento hidrológico. Todos reco-
a mudança climática. Hoje em dia, pulando a clusão social, expansão urbana, aumento de áre- nhecerão os processos hidrológicos e conse-
lógica científica, é comum falar que os desas- as impermeáveis, ocupação de encostas muito quentemente a Hidrologia da região. Com esse
tres naturais ocorrem devido à mudança climá- inclinadas, aumento do número de pessoas em conhecimento adquirido, a população de cada
tica, ou que a mudança climática e os desastres áreas de risco, entre outros. Assim, a magnitude região pode procurar o gerenciamento adequa-
naturais são sinônimos. No entanto, esse assun- e a frequência das ocorrências dos desastres na- do de sua bacia hidrográfica.
to deve ser mais estudado. Será que realmente turais podem ser facilmente elevadas sem mu- A grande maioria dos relatórios sobre ocor-
a mudança climática causa desastres naturais? dança climática, mas sim com ações humanas rências de quaisquer desastres menciona que
Recentemente, nosso grupo publicou o livro inadequadas. a conscientização das populações é mais im-
História das Inundações em Joinville 1852- Isso pode ser uma grande sorte para a huma- portante para a redução dos danos. Isso já indi-
2008. Esse livro resultou do levantamento dos nidade. Se os desastres naturais ocorrerem so- ca que com base na implementação de bacias-
registros históricos de inundações, população mente por causa da mudança climática, então, escola e na execução do monitoramento hidro-
da cidade, área urbana e precipitação anual no não há mais solução. Entretanto, felizmente, os lógico nelas, cada indivíduo reconhece a Hidro-
período de 1852-2008. Suas análises mostram desastres naturais ocorrem devido a ações huma- logia e se conscientiza sobre os fenômenos hi-
que as inundações em Joinville têm relação com nas inadequadas. Então, há solução: corrigir as drológicos, e, por consequência, aprende a se
o aumento populacional e o aumento da área ações humanas erradas. Se a sociedade agir cor- proteger dos desastres hidrológicos.
urbana muito mais do que com a própria preci- retamente, é possível evitar o aumento dos de- Aqui, vale enfatizar que a conscientização da
pitação. Em outras palavras, as inundações em sastres naturais e também é possível reduzi-los. comunidade sobre a Hidrologia deverá ser enfo-
Joinville são desastres muito mais humanos do cada ainda mais nos escorregamentos do que
BACIAS nas inundações. Observa-se que, em geral, o
JAMES TAVARES/SECOM

Em relação aos desastres aumento da população vem pressionando a so-


hidrológicos, que trazem mais ciedade a viver em áreas de maior declividade
problemas para a sociedade, e próximas a encostas. Isso resultou na tragé-
uma das ações deve ser o dia do Vale do Itajaí/SC, em 2008, e, mais recen-
gerenciamento de bacias hi- temente, no Sudeste do País, que mostrou cla-
drográficas com base na Hi- ramente que os escorregamentos foram mais
drologia. Como os desastres fortemente presentes do que as inundações. A-
Hidrológicos são associados lém disso, os escorregamentos são bem mais
aos processos Hidrológicos, difíceis em sua avaliação e nas atividades de
que, por sua vez, constroem o recuperação, do que as inundações.
ciclo Hidrológico, então um ge- “Se não gerenciar a água, não vai conseguir
renciamento de bacias hidro- governar o país” é um dos antigos provérbios
A conscientização sobre Hidrologia deverá ser enfocada mais
gráficas que reconheça e res- da China. Sinto que esse provérbio vem se tor-
nos Apostila Pag.45
escorregamentos do que nas inundações peite esse ciclo deve ser a me- nando cada vez mais verdadeiro no Brasil.

42 Emergência FEV/MAR / 2010


III Seminário dos Impactos da Agricultura nos Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria/RS, 01 a 03/09/2014)

Bacias-escola e seu uso para a geobiohidrologia


Masato Kobiyama (Professor, IPH-UFRGS, masato.kobiyama@ufrgs.br)
Aline de Almeida Mota (Doutoranda, IPH-UFRGS, aline.mota@ufrgs.br)
Gean Paulo Michel (Doutorando, IPH-UFRGS, geanpmichel@gmail.com)

Palavras-chave: bacia-escola; geobiohidrologia; zona riparia; zona hiporreica

1. Introdução
Definindo a hidrologia, UNESCO (1964) iniciou a International Hydrolgical Decade – IHD
em 1965. Depois da IHD, a UNESCO vem se dedicando para a hidrologia por meio da realização
do International Hydrolgical Programme – IHP. Em 2014, o IHP iniciou sua oitava fase, ou seja,
IHP-VIII. Esta fase possui como meta principal “Segurança hídrica: respostas a desafios local,
regional e global”, consistindo em seis temas, entre os quais está: Educação de água, chave para
segurança hídrica (UNESCO, 2012).
Simultaneamente no mundo, a Internatinal Association of Hydrolocial Sciences – IAHS
iniciou em 2003 a Década Científica Prediction in Ungauged Basins – PUB (Sivapalan et al., 2003)
e encerrou-a com grande sucesso em 2012 (Hrachowitz et al., 2013). Tal sucesso motivou a IAHS
fazer outra década cientifica que abrange o ciclo hidrológico, risco hídrico e os recursos hídricos.
Assim em 2013, a IAHS iniciou outra Década Científica 2013-2022: “Panta Rhei – Todos fluem”
Mudança na hidrologia e sociedade (Montanari et al., 2013). Seu enfoque está nas dinâmicas
rápidas na hidrologia, as na sociedade e também na conexão entre a hidrologia e a sociedade.
Assim, encontra-se uma forte consideração sobre a sociedade na hidrologia. Recentemente essa
tendência de discutir os aspectos sociais na hidrologia se tornou mais intensa na comunidade dos
hidrólogos, por exemplo, Sivapalan et al. (2012) e Sivakumar (2012).
Para conectar mais efetivamente e adequadamente a hidrologia à sociedade, a educação deve
ser fundamental e indispensável em quaisquer níveis e para quaisquer setores. Assim, é necessário
discutir a educação na hidrologia. Na revista “Hydrology and Earth System Sciences” que é
administrada pela União Europeia de Geociências, já ocorreu uma discussão intensiva e extensiva
sobre esse assunto, a qual foi relatada por Seibert et al. (2013).
Portanto, salientando a educação, o presente trabalho propõe através de qual ferramenta a
hidrologia deve ser tratada e de quais processos ela deve tratar.

2. Bacias-escola
UNESCO-WMO-IAHS (1974) arbitrariamente considerou o ano de 1964, quando Pierre
Perrault, cientista francês, publicou o livro “De l'origine des fontaines” (A Origem das Fontes),

Apostila Pag.46
III Seminário dos Impactos da Agricultura nos Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria/RS, 01 a 03/09/2014)

como o início da hidrologia científica ou hidrologia quantitativa. Esse francês realizou medição de
chuva e de vazão no rio Sena e discutiu o balanço hídrico. Considerando este fato, pode-se dizer
que a hidrologia se baseia na medição ou no monitoramento. Para efetuar tal medição e discutir o
balanço hídrico, a bacia hidrográfica é considerada como unidade ideal. Assim, a bacia pode ser
considerada como o objeto fundamental tanto para os hidrólogos quanto para os gestores dos
recursos hídricos. Segundo Nakano (1976), na região Emmental, Suíça, já houve um estudo
comparativo com uso das bacias pareadas com e sem floresta no fim do século XIX.
Desde então, bacias hidrográficas, com diferentes rochas, solos, formas de encosta, usos e
coberturas do solo, climas e tamanhos, têm sido utilizadas para pesquisas cientificas, sendo
denominadas como pareadas, experimentais, representativas, entre outros.
Enfatizando o uso educativo, Kobiyama et al. (2007 e 2008) propuseram a implementação
de bacia-escola que é definida como bacia experimental que serve tanto para pesquisas científicas
como para atividades de educação ambiental. Para melhorar a qualidade da educação de todos os
cidadãos, a bacia experimental precisa ser utilizada em comunidades locais. Dessa maneira, pode-se
dizer que a hidrologia deve se apoiar não em bacias experimentais, mas sim em bacias-escola.

3. Geobiohidrologia
O avanço da hidrologia ao longo de vários séculos ocasionou um aumento em sua
quantidade de interesses, de abrangências, e até de suas funções sociais. Com isso, vêm surgindo
diversos novos nomes da ciência, os quais fazem parte da hidrologia, por exemplo ecohidrologia
(Wood et al., 2007), hidrogeomorfologia (Goerl et al., 2012), hidrologia florestal (McCulloch e
Robinson, 1993), entre outros. Nessa circunstância, na Universidade Federal do Paraná em Curitiba
no ano de 1998, o I Fórum Geo-Bio-Hidrologia foi realizado com participação de diversos
profissionais. Todos os trabalhos apresentados nesse evento estão em Kobiyama et al. (1998a).
Nessa ocasião, Kobiyama et al. (1998b) definiram a geobiohidrologia como uma ciência que estuda
os processos hidrológicos, biológicos e geomorfológicos e as interações entres esses processos em
bacias hidrográficas e apresentaram detalhadamente o que essa nova ciência pode e deve tratar na
natureza.
As atividades rurais, ou seja, agrícolas e florestais, além de conservação e preservação da
natureza, precisam aproveitar e respeitar o máximo possível os processos geobiohidrológicos. Em
outras palavras, a aproximação ao desenvolvimento sustentável na área rural depende dos
conhecimentos e técnicas adquiridas na geobiohidrologia.
Kobiyama (2003) mencionou que a zona ripária é o local onde os processos
geobiohidrológicos são mais intensos e mais complexos. Portanto, pode-se dizer que a

Apostila Pag.47
III Seminário dos Impactos da Agricultura nos Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria/RS, 01 a 03/09/2014)

geobiohidrologia deve estudar mais a zona ripária. O mesmo autor ainda salienta que a zona
hiporreica faz parte da zona riparia e que exerce importantes e várias funções no ecossistema. No
mundo já existe um manual sobre a zona hiporreica,
por exemplo, Environment Agency (2009). Para
entender melhor os mecanismos de geração de vazão,
de ocorrência de fluxo de detritos, de purificação de
água do rio, entre outros, ainda é necessário pesquisar
mais esta zona. Especialmente no Brasil existe uma
Regolito
Regolito Zona Hiporreica
Zona
“Hyporheic”
carência de estudos relacionados a este tema. (Horizontes A e B

Figura 1 – Zona ripária (Modificado de


Kobiyama, 2003)
O estabelecimento do método o mais adequado possível para delimitar a zona ripária em
bacias é de extrema dificuldade. Embora exista a opinião de que essa zona coincide com a Área de
Preservação Permanente (APP), na realidade não há nenhuma metodologia com base cientifica que
subsidie a delimitação. Mota et al. (2014) propuseram o conceito de zona topográfica fluvial – ZTF
que é diferente da APP estabelecida pelo Código Florestal no Brasil. Assim, o potencial de
contribuição científica dos estudos geobiohidrógicos no desenvolvimento do método de delimitação
da zona ripária é indiscutível.

4. Considerações finais
Enfatizando a importância dos trabalhos de diagnóstico para a atual hidrologia, muito mais
do que os de previsão, Kayane (2013) mencionou que a pesquisa em campo é apanhar os resultados
dos experimentos que Deus está realizando na escala 1:1 no espaço e em tempo real. Assim, para
avançar a hidrologia e também contribuir à gestão de recursos hídricos e consequentemente à
melhoria da qualidade da vida de cada cidadão, no presente momento é necessário enfocar o
monitoramento em bacias hidrográficas. Os objetos dos estudos devem ser os processos
geobiohidrológicos, especialmente na zona riparia. E nesse procedimento, todas as bacias
experimentais devem se tornar bacias-escola. A bacia-escola facilita a conexão sólida entre a
hidrologia e a sociedade.

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Apostila Pag.49
Revista Brasileira de Geomorfologia - v. 13, nº 2 (2012)

www.ugb.org.br
ISSN 2236-5664

HIDROGEOMORFOLOGIA: PRINCÍPIOS, CONCEITOS,


PROCESSOS E APLICAÇÕES

HYDROGEOMORPHOLOGY: PRINCIPLES, CONCEPTS,


PROCESSES AND APLICATIONS
Roberto Fabris Goerl
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná - Laboratório de
Hidrogeomorfologia - LHG - Bolsista REUNI - e-mail: roberto.fabris@gmail.com

Masato Kobiyama
Professor Associado III Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina
- Laboratório de Hidrologia - LabHidro - Bolsista do CNPq - e-mail: kobiyama@ens.ufsc.br

Irani dos Santos


Professor Adjunto I do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Paraná - Laboratório de
Hidrogeomorfologia - LHG - e-mail: irani@ufpr.br

Resumo
O presente trabalho apresenta uma revisão conceitual sobre a Hidrogeomorfologia. Esta ciência foi conceitualmente proposta
em 1973 e desde lá vem sido desenvolvida e aplicada em diversas pesquisas. A Hidrogeomorfologia pode ser considerada
como a união entre a Hidrologia e a Geomorfologia, sendo que a maneira como esta união ocorre ainda não é muito clara.
São apresentadas e analisadas diversas pesquisas que se intitulam de hidrogeomorfológicas e denotam que ainda não há um
consenso metodológico e conceitual sobre esta nova ciência. Por fim, o presente trabalho analisou a formação conceitual da
Hidrogeomorfologia, seus princípios, processos, aplicações e o seu objeto.

Palavras-chave: hidrogeomorfologia; geomorfologia; hidrologia.

Abstract
The present work is a conceptual review of the Hydrogeomorphology. This science was conceptually proposed in 1973 and
since then has been developed and applied in several studies. The Hydrogeomorphology could be considered as the union
between the Hydrology and Geomorphology, however this union is still not very clear. The present paper presents and analysis
several studies whose titles contains Hydrogeomorphological studies and consequently concludes that actually there is not a
conceptual and methodological consensus on this new branch of knowledge. Finally, the present study examined the conceptual
formation of Hydrogeomorphology, its principles, processes, applications and its object.

Keywords: hydrogeomorphology, geomorphology; hydrology.

Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012 103

Apostila Pag.50
Goerl, R. F. et al

Introdução • Geomorfologia Cárstica: estuda as rochas solúveis/


carbonáticas e os processos químicos de dissolução;
A palavra geomorfologia deriva de três palavras gregas:
γεω (Terra), μορφη (forma), e λογος (discurso) (Panizza, • Geomorfologia Costeira: estuda a linha de costa;
1996; Hugget, 2005). Assim, a geomorfologia trata do estudo os sistemas lacustres e marinhos;
das características físicas da superfície da Terra e suas formas, • Geomorfologia Eólica: estuda o transporte de areia
como os rios, montanhas, planícies, praias e dunas. Alguns e demais partículas sólidas pelo vento, principalmente em
pesquisadores incluem as formas de relevo submarino no ambientes áridos e semi-áridos.
âmbito da geomorfologia (Hugget, 2005).
De maneira geral a geomorfologia é uma área do co- Nota-se que, para o desenvolvimento dos estudos
nhecimento que trata do entendimento e avaliação/apreciação geomorfológicos, há a necessidade do auxílio de outras
das formas do relevo e da paisagem. Tanto a geomorfologia ciências. É praticamente impossível, por exemplo, o estudo
clássica como a moderna preocupam-se com a classificação e da geomorfologia fluvial ou de encosta sem o auxílio ou
descrição das formas do relevo, os processos e dinâmicas que complemento da hidrologia, climatologia ou meteorologia,
caracterizam a sua gênese e evolução, além da sua associação assim como para o estudo da geomorfologia tectônica, o
e relação com as demais formas e processos (hidrológicos, auxílio da física, geofísica e geologia. A geomorfologia
climáticos, bióticos, tectônicos, antrópicos, entre outros). A caracteriza-se assim como uma ciência multidisciplinar que
geomorfologia é uma ciência empírica que busca formular se comunica com outras ciências para o avanço dos seus
respostas para questões fundamentais, como: Qual a distinção conhecimentos.
entre uma forma de relevo e outra? Como as diferentes formas Ao analisar as principais linhas acima elencadas,
de relevo estão associadas? Como uma paisagem complexa observa-se que exceto a tectônica e a eólica não possuem
evolui? Quais os processos futuros que poderão agir sobre a água como um de seus agentes primordiais, e as duas
uma forma ou paisagem? Como o relevo evoluirá? Quais as primeiras são as que possuem uma maior influência do ciclo
implicações dos processos geomorfológicos para a sociedade? hidrológico. Neste contexto (geomorfologia + hidrologia) é
(Goudie, 2004). que Scheidegger (1973) introduz o termo Hidrogeomorfo-
Panizza (1996) argumenta que o principal objeto logia. Assim, o presente trabalho tem por objetivo analisar a
de estudo da geomorfologia é a superfície de contato formação conceitual da Hidrogeomorfologia, seus princípios,
entre a litosfera e a atmosfera ou/e hidrosfera, ou seja, a processos, aplicações e o seu objeto.
interface entre duas entidades físicas: um meio sólido e
outro líquido e/ou gasoso, pois é ao longo dessa superfície
de contato (interface) que os processos geomorfológicos Histórico da Hidrogeomorfologia
ocorrem. Apesar de alguma incerteza, pode-se considerar
Observa-se, assim, que a geomorfologia trata da paisa- Scheidegger (1973) como o primeiro pesquisador a usar
gem, especialmente a natural. Segundo Goudie (2004), para a palavra Hidrogeomorfologia em um artigo científico,
melhor entendimento das formas e processos e devido à va- publicado no Journal of Hydrology. Além do emprego
riação temporal e espacial dos mesmos, a geomorfologia mo- da palavra, Scheidegger também a conceitua. Na mesma
derna subdividiu-se em linhas e domínios especializados: década, Gregory (1979a; 1979b) faz uma reflexão crítica
sobre o emprego deste novo conceito e comenta como a
espacialização dos processos hidrológicos contribuiu para
• Geomorfologia Fluvial: trata das águas correntes,
o avanço dos estudos nas bacias inglesas. Praticamente
com ênfase em rios, córregos e canais, ou seja, com a parte
uma década se passa até o termo Hidrogeomorfologia
terrestre do ciclo hidrológico, evolução da bacia hidrográfica
ser empregado novamente, em Richards (1988), que
e seus processos fluviais correlatos;
argumenta que o estudo/conhecimento hidrogeomorfoló-
• Geomorfologia de Encosta: trata das propriedades gico regional proporciona o entendimento do cenário de
geotécnicas do solo e das rochas, os mecanismos de ocorrên- previsão do ajuste/evolução dos rios/sistema fluvial em
cia de deslizamentos e do movimento da água no solo; escala de bacia.
• Geomorfologia Tectônica: estuda a neotectonica, Okunishi (1994) realizou uma pesquisa bibliográfica
bacias sedimentares em escala continental, bordas continen- sobre artigos na temática da Hidrogeomorfologia e sobre os
tais ativas/passivas; que aplicaram em seus estudos conjuntamente a hidrologia
• Geomorfologia Glacial/Periglacial: trata das for- e geomorfologia (Tabela 1), em duas bases de indexação de
mas e processos resultantes da ação da neve, gelo/geleiras e periódicos (ISNPEC-A e MORPHO).
frost.

104 Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012

Apostila Pag.51
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações

Tabela 1 - Número de artigos com o termo Hidrogeomorfologia Assim, artigos selecionados de uma seção de um Simpósio
e aplicação conjunta da hidrologia e da geomorfologia por de geomorfologia foram publicados em um periódico de hi-
periódico drologia. Isto porque, conforme Sidle (comunicação pessoal),
alguns periódicos de geomorfologia não aceitaram a ideia de
Periódico Nº de Art.
Transactions, Japanese Geomorphology Union 15 publicar um número especial sobre Hidrogeomorfologia e,
Earth Surface Processes and Landforms 14 após recusas, a Hydrological Processes aceitou. Isto talvez
Water Resource Research 08 explique porque Scheidegger (1973) publicou o primeiro
Journal of Geophysical Research (AGU) 08 artigo que se tem registro sobre a Hidrogeomorfologia em
Disaster Prevention Research Institute, Kyoto um periódico de hidrologia (Journal of Hydrology).
05
Univ. (Annuals e Bulletins)
Hydrological Processes 03
IAHS Publication 02 Tabela 3 - Principais periódicos que contém o termo
Outros 15
Hidrogeomorfologia e sua evolução temporal
Fonte: Modificado de Okunishi (1994)

A partir desta coleta, este autor classificou os artigos


quanto a sua temática (Tabela 2) para inquirir sobre o estado
da arte da Hidrogeomorfologia e suas tendências científicas.
Observa-se que artigos relacionados à (A) e (B) não são
restritos a Hidrogeomorfologia. Artigos relacionados à (C)
e (D) abordam o principal objeto da Hidrogeomorfologia e Nota-se que há uma diferença entre a Tabela 2 e Tabela
a Hidrogeomorfologia aplicada, respectivamente (Okunishi, 3 referente ao número de artigos publicados na Hydrological
1994). Processes. Esta diferença ocorre devido às datas da pesquisa
bibliográfica e também das bases de indexação, pois Okunishi
Tabela 2 - Classificação dos artigos relacionados à publicou seu trabalho em 1994 e fez a pesquisa em apenas
Hidrogeomorfologia duas bases indexadoras.

Tema de pesquisa principal Nº de Art.


Princípios da Hidrogeomorfologia
(A) Controles topográficos ou litológicos de processos
13
hidrológicos Scheidegger (1973) foi o primeiro a definir Hidro-
(B) Efeitos hidrológicos em movimentos de massa e
10 geomorfologia como sendo o estudo das formas causadas
processos geomorfológicos
pela ação das águas, sendo que, por esta definição, quase
(C) Sistemas Hidrológicos e seus processos correlatos 38
toda a geomorfologia pode ser enquadrada como tal,
(D) Diagnóstico e Avaliação Ambiental de sistemas
hidrogeomorfológicos
7 pois a água é o principal agente modelador da paisagem.
Fonte: Modificado de Okunishi (1994) Aproximadamente duas décadas depois, Okunishi (1991,
1994) definiu-a como sendo o estudo entre as interações
dos processos hidrológicos e geomor fológicos, mais
A partir da década de 90 a Hidrogeomorfologia recebeu especifi camente a interação entre os sistemas fl uviais
uma maior notoriedade e, a partir do ano 2000, tornou-se um e de vertente. Propôs ainda uma escala temporal entre
tema recorrente e de maior evidência nos periódicos. A Ta- os processos hidrogeomorfológicos, geomorfológicos e
bela 3 apresenta a quantidade de artigos em que aparece, por geológicos. Nesta escala, os processos hidrológicos e os
periódico, o termo Hidrogeomorfologia. Foram escolhidos geomorfológicos interagem simultaneamente (hidroge-
os principais periódicos na temática hidrológica e geomor- omorfologicamente) em um intervalo de até 101 anos. Os
fológica. Apesar de não ser completa, a tabela apresenta a processos geomorfológicos ocorrem entre 101 a 105 anos e
evolução do uso do tema. Observa-se também que o periódico os geológicos após 106 anos. Contudo, processos geológi-
Hydrological Processes é o que mais se destaca. cos também podem ocorrer em escalas temporais menores,
Este elevado número de artigos na Hydrological podendo ser inferiores à escala hidrogeomorfológica, como
Processes deve-se, em parte, a uma edição especial sobre os terremotos e vulcanismo.
Hidrogeomorfologia em 2004. Neste número especial foram Modificando a escala apresentada por Okunishi (1994),
publicados 14 artigos selecionados e apresentados no eixo o presente trabalho propõe uma nova escala temporal (Figura
temático “Interaction between geomorphic changes and 1). Nesta proposta, os processos hidrogeomorfológicos (HG)
hydrological circulation” durante o “Fifth International Con- e hidrológicos (H) ocorrem em até 10¹ anos. Os processos
ference on Geomorphology (ICG-5)” (Sidle e Onda, 2004). geomorfológicos ocorrem em até 105anos. Já os processos

Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012 105

Apostila Pag.52
Goerl, R. F. et al

geológicos podem ocorrer em qualquer escala temporal, como lação sugere uma superposição das duas ciências entre suas
um terremoto (segundos) ou a formação de um continente áreas comuns (Figura 2a), sem necessariamente haver uma
(milhões de anos). interface entre elas, ou seja, cada ciência aplica métodos
semelhantes, mas sem interação entre si. O segundo modelo
trata da intersecção entre a hidrologia e geomorfologia, da-
quilo que se torna o objeto comum às duas ciências (Figura
2b). Neste sentido corrobora Okunishi (1994), para o qual
a Hidrogeomorfologia é um pouco hidrologia e um pouco
geomorfologia. O terceiro modelo diz respeito à Hidrogeo-
morfologia como ciência própria, que incorpora elementos
da hidrologia, da geomorfologia, além de possuir atributos
próprios (Figura 2c).
Figura 1 - Escala temporal dos processos hidrológicos (Hidrol.),
hidrogeomorfológicos (HG), geomorfológicos e geológicos.

HG
Hidro. Geom. Hidro. Geom.
Para Sidle e Onda (2004), a Hidrogeomorfologia,
como o próprio nome indica, inclui as inter-relações en-
tre diversos processos hidrológicos e geomorfológicos e a b

pode ser definida como uma ciência interdisciplinar que


se concentra na ligação e interação de processos hidroló-
gicos com as formas da paisagem ou materiais terrestres e, Hidro. Geom.
ainda, a interação de processos geomorfológicos com as
águas superficiais ou subsuperficiais em diferentes escalas
espaciais e temporais. HidroGeom. c
Goudie (2004) designa a interação entre a hidrologia e
geomorfologia de Geomorfologia Hidrológica, ou seja, um
Figura 2 - Modelos conceituais de três interações entre a
ramo da geomorfologia. Este autor comenta que a dinâmica
Geomorfologia, Hidrologia e Hidrogeomorfologia: a) sobreposição,
das áreas superficiais é o principal elo de interação com a b) intersecção e c) nova ciência.
hidrologia e que recentemente pesquisas conjuntas entre a
geomorfologia e águas subterrâneas e/ou hidrogeologia tem
sido desenvolvidas. A questão a ser levantada é qual destes três modelos
Para Babar (2005), o termo Hidrogeomorfologia pode mais se aplica ao atual estágio da Hidrogeomorfologia. O
ser divido em três termos: “hidro” que incorpora as águas primeiro e o segundo modelo (Figura 2a e 2b) podem ser
superficiais e subterrâneas; “geo” que incorpora a terra e considerados os mais praticados na atualidade, incorporando
“morfologia”, que é expressão das características superficiais a água (processo hidrológico) como agente modelador da
nas formas da paisagem. Sintetizando, a Hidrogeomorfologia paisagem ou incorporando as formas da paisagem (geo-
trata dos aspectos da água, rochas e feições morfológicas da morfologia) nos estudos dos processos hidrológicos. Um
superfície. Este mesmo autor argumenta que, atualmente, pes- exemplo dessa intersecção/sobreposição das duas ciências
quisas na área da Hidrogeomorfologia tratam da explicação pode ser observado de maneira sistemática na Figura 3. Ao
da paisagem, suas formas e evolução: quais são as formas, estudar os processos hidrológicos de uma bacia, neste caso
qual sua função e como têm se desenvolvido em relação às o pico de vazão, tem-se uma variação da intensidade deste
condições hidrológicas. pico condicionada à forma da bacia. Assim, a bacia adquiriu
uma determinada forma, objeto de estudo da geomorfo-
DeBarry (2004) define a Hidrogeomorfologia como logia, que por sua vez pode explicar a variação temporal
sendo o estudo dos impactos dos processos hidrológicos e espacial de um processo hidrológico. Outro exemplo
sobre a superfície. do trabalho conjunto pode ser demonstrado no estudo de
Analisando as definições acima apresentadas, percebe- eventos hidrológicos pretéritos, cujas feições resultantes
se que é consenso que a Hidrogeomorfologia é a união da permitem reconstruir sua frequência e magnitude. Dessa
geomorfologia ou hidrologia, embora o entendimento dessa maneira, pode-se compilar um banco de dados de eventos
união não esteja ainda de forma clara. hidrológicos que vai além de séries históricas obtidas por
No presente trabalho são propostos três modelos da meio de monitoramento. A medição do transporte de se-
relação entre a Hidrologia e Geomorfologia. A primeira re- dimentos feitos inicialmente por hidrólogos pode auxiliar

106 Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012

Apostila Pag.53
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações

no entendimento das taxas de denudação e evolução da Como a Hidrogeomorfologia é ainda uma ciência
paisagem. emergente (Sidle e Onda, 2004), estas questões ainda não
se apresentam de maneira clara nas pesquisas que vem
sendo desenvolvidas com escopo hidrogeomorfológico.
Na tentativa de contribuir com a elucidação do conceito
de hidrogeomorfologia, o presente trabalho propõe a
seguinte definição: a Hidrogeomorfologia é uma ciência
que busca compreender como os processos hidrológicos
contribuem para a formação e evolução da paisagem e
ainda como as formas de relevo condicionam ou controlam
os processos hidrológicos em diferentes escalas temporais
e espaciais.
A Hidrogeomorfologia possui assim fundamentos
da hidrologia e da geomorfologia, mas deve também
Q Q Q possuir elementos próprios. Dessa maneira, um processo
Q1 Q2
Q3
hidrológico propicia a modificação, evolução ou formação
T T T
de uma feição que por sua vez condiciona a intensidade,
Figura 3 - Influência da forma da bacia nos processos hidrológicos. magnitude, duração do processo hidrológico. Ou seja, o
Fonte: Modificado de Patton (1988). processo modifica a forma que por sua vez condiciona o
processo. Neste contexto, Okunishi (1994) exemplifica
Dependendo do foco e escopo da pesquisa, ela será mais que o fluxo de água sobre uma superfície móvel (encosta
hidrológica ou mais geomorfológica, o que pode, contudo, inclinada ou superfície de fundo de um canal) provoca
incorporar as duas ciências. Neste sentido a pesquisa poderá a movimentação de sedimentos e consequentemente al-
ser ligada a Geomorfologia Hidrológica (Goudie, 2004; terações topográficas, que por sua vez irão controlar as
Pradhan et al., 2005; 2006) ou a Hidrologia Geomorfológica, características do fluxo de água.
sendo a primeira mais usual.
Um debate semelhante percorre a ecohidrologia e hi- Processos Hidrogeomorfológicos
droecologia. Kundzewicz (2002) comenta que, seguindo as De acordo com Montgomery e Bolton (2003) as
regras da língua inglesa, pode-se interpretar o prefixo “eco” inundações e os deslizamentos podem ser considerados
na ecohidrologia como uma modificação da palavra hidrolo- como processos hidrogeomorfológicos. Para Hungr et
gia, ou seja, passa a noção que se trata mais de hidrologia do al. (2001), os processos hidrogeomorfológicos podem
que ecologia. De maneira similar, “hidro” em hidroecologia ser as inundações, fluxos hiperconcentrados e fluxos de
modifica a palavra ecologia dando uma noção que trata mais detritos (debris flow). Wilford et al. (2004) argumentam
de ecologia. Por outro lado, essa lógica não necessariamen- que a diferenciação entre estes três tipos de processos
te se aplica as disciplinas científicas, pois existem termos pode ser feita pelo volume de sedimentos depositados
como biofísica ou bioquímica, mas não fisicobiologia ou relativos ao tamanho do canal e a orientação dos clastos.
químicobiologia. Para estes autores, as inundações possuem a concen-
Esta consideração pode ser aplicada à Hidrogeomorfo- tração de sedimentos menor que 20% e a orientação
logia, em que o prefixo “hidro” estaria modificando geomor- do sedimento depositado é perpendicular ao fluxo. Os
fologia, para a qual seria dada maior ênfase. Contudo, a pala- fluxos hiperconcentrados possuem concentração de 20%
vra geomorfohidrologia ou geomorhidrologia soaria estranha.
a 47% e imbricação pobre. Já os fluxos de detritos não
Assim, mesmo com o prefixo “hidro”, a Hidrogeomorfologia
possuem um único sentido de imbricação. Geralmente
dá ênfase nos processos hidrológicos que modificam e per-
mitem a evolução da paisagem (geomorfologia) pela ação da os blocos maiores são alinhados perpendicularmente ao
água, não favorecendo esta ou aquela ciência. fluxo e os seixos e blocos menores alinhados paralela-
O terceiro modelo (Figura 2c) é o mais complexo, pois mente. Wilford et al. (2005) propõem outros valores para
envolve a criação de uma nova ciência ou campo do conheci- a concentração de sedimentos. As inundações possuem
mento, com paradigmas e um corpo teórico e metodológico concentração que varia de 1% e 40%, os fluxos hiper-
próprio que também incorpora elementos da hidrologia e concentrados de 40% a 70% e os fluxos de detritos de
geomorfologia. 70% a 90%.

Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012 107

Apostila Pag.54
Goerl, R. F. et al

Além dos três processos acima citados, Sakals et al. (década de 60): erosão fluvial e superficial, efeito da tectô-
(2006) incluem avalanches de neve e queda de blocos como nica no sistema fluvial (represamento, mudança do curso),
processos hidrogeomorfológicos. Já Marchi et al. (2010) infiltração e percolação de águas subterrâneas, estabilidade
elencam apenas dois processos, os fluxos de detritos e os e formação de encosta e interação entre o sistema costeiro
fluxos hiperconcentrados. com o oceânico.
Com base nos trabalhos acima, nota-se que se podem Silde e Onda (2004) enumeraram os seguintes temas
classificar os processos hidrogeomorfológicos em três tipos chave desenvolvidos por pesquisas hidrogeomorfológicas:
principais: inundações, fluxos hiper-concentrados e fluxos de processos de escoamento superficial influenciados pela lito-
detritos. Estes três processos ainda carecem de entendimento logia e geomorfologia, processos erosivos superficiais ligados
do seu mecanismo e de seus impactos no sistema hidrológico a canais; fatores de modelagem hidrológica que afetam a
e geomorfológico, podendo a Hidrogeomorfologia contribuir deflagração de deslizamentos e avaliação das propriedades
para elucidar estas lacunas teórico-metodológicas. Ressalta-se hidrológicas dos solos associados a deslizamentos e a intera-
que qualquer processo hidrológico que modifica a paisagem e ção entre precipitação e ambiente terrestre. Ainda conforme
é simultaneamente condicionado por ela pode ser considerado Sidle e Onda (2004), os avanços atuais da Hidrogeomorfo-
hidrogeomorfológico. Por outro lado, os três processos acima logia podem contribuir para estudos nas seguintes temáticas:
citados se destacam por propiciarem maiores modificações desenvolvimento sustentável, desastres naturais e medidas
na paisagem em curtos espaços de tempo. Além disso, são mitigadoras, efeitos da mudança climática e planejamento
os que aparecem na literatura classificados explicitamente territorial. Possivelmente as contribuições mais importantes
como hidrogeomorfológicos. da Hidrogeomorfologia sejam os estudos conjunto dos proces-
Por fim, para compreender estes processos, deve-se sos hidrológicos e geomorfológicos em nível de bacia, pois a
fazer uso de métodos e pressupostos teóricos da hidrologia avaliação destes processos em escalas temporais e espaciais
bem como da geomorfologia, corroborando assim com a correlatas permite levantar questões relevantes para a sua
ideia da Hidrogeomorfologia como uma nova ciência (Fi- explicação e contribuir para a gestão da bacia.
gura 4). Por outro lado, os limites (L) de interação dentre as Brinson (1993) e Shafer e Yozzo (1998) desenvolveram
dimensões hidrológicas e geomorfológicas com a dimensão o “Guia de Avaliação Hidrogeomorfológica (HGM) para
hidrogeomorfológica e até mesmo entre si ainda permanecem Ambientes Estuarinos com influência de Maré”. Segundo
difusos. estes autores, a avaliação hidrogeomorfológica é um grupo
de conceitos e métodos utilizados no desenvolvimento de
índices que permitem a avaliação da funcionalidade destes
Dimensão Dimensão
Hidrológica Geomorfológica ambientes por intermédio de três focos principais: hidrodinâ-
Processo Condicionante mica, geomorfológica e fonte de água. O foco hidrodinâmico
L
Hidrológico Geomorfológico refere-se à energia e a dinâmica do fluxo da água dentro do
ambiente; o foco geomorfológico trata da paisagem e evo-
L L lução geológica da mesma e a fonte de água trata da fonte
primária de água (precipitação, águas superficiais ou águas
Fluxos subterrâneas). Shafer e Yozzo (1998) ainda destacam oito
Inundações Fluxos de Detritos
Hiperconcentrados funções principais para estes ambientes, agrupadas em dois
grupos: funções hidrogeomorfológicas e funções de habitat.
Dimensão Hidrogeomorfológica
As funções hidrogeomorfológicas são a atenuação dos efeitos
Figura 4 - Interação entre as dimensões hidrológicas, geomorfológica da amplitude de maré, ofertas de nutriente e troca de carbono
e hidrogeomorfológica. e sedimentação. NRCS (2008) comentou que este sistema de
classificação Hidrogeomorfológica dá ênfase em atributos
hidrológicos e geomorfológicos, ao invés de apenas limitar-se
Diante do exposto, pode-se dizer que a Hidrogeomor-
a atributos bióticos dos ambientes estuarinos.
fologia é uma nova ciência, mas ainda carece de um amadu-
recimento teórico, especialmente no que tange a definir qual Ojeda et al.(2007) propuseram um Índice Hidrogeo-
é o seu objeto, pois conforme Santos (1996) o corpus de uma morfológico para a avaliação do estado ecológico do sistema
disciplina deve estar subordinado ao objeto. fluvial. Este índice baseia-se em três parâmetros: qualidade
funcional do sistema fluvial, qualidade do canal e qualidade da
zona ripária. Para cada um desses parâmetros são atribuídos
A busca do objeto valores que determinam este índice hidrogeomorfológico,
que permitem avaliar a “vitalidade” dos sistemas fluviais e
Scheidegger (1973) demonstrou a aplicação da Hidro-
os impactos antrópicos sobre os mesmos.
geomorfologia no contexto da geomorfologia de sua época

108 Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012

Apostila Pag.55
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações

Marini e Piccolo (2005) e Marini et al. (2009) 2008, Kupfer et al.,2010) têm se caracterizado dentro de
elaboraram cartas hidrogeomorfológi cas de diferentes um escopo dito hidrogeomorfológico.
bacias hidrográficas argentinas. Segundo estes autores, No Brasil, pesquisas desenvolvidas por Suertegaray
as cartas hidrogeomorfológicas permitem determinar et al. (1996), Thomaz e Ross (2006) e Briguenti et al.
condições de escoamento em uma bacia, resultantes da (2007), apresentaram estudos intitulados de hidrogeomor-
combinação de diferentes processos que definem um fológicos, sem, no entanto, apresentá-las ou interligá-las
comportamento hidrológico. Para isto estas cartas devem ao conceito de Hidrogeomorfologia.
contemplar informações sobre as características hidro-
lógicas do terreno, a circulação superficial da água, os
tipos e formas de escoamento, características fisiográficas O objeto da Hidrogeomorfologia
das encostas da bacia hidrográfica, tipo de vegetação, Conforme demonstrado acima, diversos estudos têm
entre outros. Por fim, a carta hidrogeomorfológica deve aplicado métodos hidrogeomorfológicos ou intitulado o tra-
contemplar os fenômenos geomorfológicos que afetam balho como hidrogeomorfológico, sem o devido cuidado com
os cursos d’água. o objeto da Hidrogeomorfologia. De fato, por se tratar de uma
Investigando a bacia do rio Quequen Salado (Ar- nova ciência, seu objeto ainda não foi claramente definido.
gentina) Marini e Piccolo (2005) contemplaram em sua Por outro lado, para a Hidrogeomorfologia ser considerada
carta hidrogeomorfológica: 1) Características hidroló- uma ciência, ela deve possuir um objeto. Com base nos es-
gicas do terreno (área de infiltração média, baixa ou tudos e bibliografias aqui apresentadas, o presente trabalho
muito baixa); 2) Morfologia Fluvial, que se divide em: propõe que o objeto de estudo da Hidrogeomorfologia são
2a) tipo de escoamento (perenes ou intermitentes), 2b) os processos hidrogeomorfológicos. Definindo assim o
características dos canais (fundo arenoso, abandonado ou objeto, os estudos de escopo hidrogeomorfológico passam a
com/sem margens), 2c) natureza do fundo (fundo plano ser analisados de outra forma. O que se observa não é mais
ou com vegetação), 2d) Corpos d’água (lagos permanen- se podem ou não serem enquadrados dentro da definição
tes ou não) 2e) dinâmica das vertentes (deslizamentos clássica de Hidrogeomorfologia, mas se abordam ou não o
estabilizados); 3) Cobertura vegetal (entre 40-50% ou objeto, independendo do método.
entre 90-100%; 4) Elementos estruturais (anticlinal ou Ressalta-se que estes processos não são apenas os
sinclinal); 5) Topografia (áreas urbanizadas, limite da apresentados no item 4 (inundações, os fluxos hipercon-
bacia, direção da vertente). A partir destes elementos, centrados e os fluxos de detritos), apesar de serem os
foi inferido sobre a dinâmica hidrogeomorfológica da que mais aparecem em estudos como processos hidroge-
bacia, sugerindo medidas corretivas como revitalização omorfológicos. De uma forma abrangente, os processos
de rios, áreas que necessitam retificação, aumento da mata hidrogeomorfológicos devem ser aqueles que exercem
ciliar, reflorestamento de determinadas áreas da bacia, controle tanto sobre a evolução e formação da paisagem
entre outras medidas. Marini et al. (2009) fizeram um como sobre os processos hidrológicos (Figura 5). Justa-
estudo semelhante, mas enfatizando o controle geológico mente por isso os mesmos não se encaixam apenas nos
e características litológicas nos processos hidrológicos, três tipos acima elencados.
especialmente o controle geológico na direção dos rios.
Segundo Silde e Onda (2004), questões relacionadas
Nota-se que este tipo de mapeamento mantém o à Hidrogeomorfologia carecem de estudos aprofundados
foco no momento do estudo, possuindo uma limitação e precisam ser mais bem respondidas, como estudos
temporal e espacial, não apresentando a ideia de processo associados a fluxo preferencial e transporte de materiais
ou evolução. Dessa maneira, os processos não são estu- em diferentes escalas temporais e espaciais; interação
dados continuamente, mas sim inferidos e espacializados. entre encosta, canal e zona ripária; alterações no fluxo
Assim, este método hidrogeomorfoló gico e o índice superficial e erosão associados a diferentes uso do solo;
hidrogeomorfológi cos diferem conceitual mente e meto- processos erosivos; avaliação dos efeitos das mudanças
dologicamente das abordagens sugeridas por Scheidegger climáticas nos processos costeiros; entre outros. Neste
(1973), Sidle e Onda (2004) e o presente trabalho. contexto, cita-se o trabalho de Santos (2009) que, por meio
Os trabalhos supracitados são os que demonstraram do monitoramento e modelagem dos processos hidrogeo-
ou criaram um método hidrogeomorfológico próprio morfológicos, determinou os mecanismos de geração de
como o Índice Hidrogeomorfológico ou o Método Hi- escoamento e a conectividade hidrológica em uma pequena
drogeomorfológico (HGM). Além dessas abordagens, bacia, destacando-se como um dos trabalhos pioneiros na
pesquisas relacionadas à interação de ajuste de canais Hidrogeomorfologia brasileira, principalmente por abordar
a diferentes padrões de vegetação e disponibilidade de a gênese e dinâmica dos processos, ou seja, tratando os
sedimentos (Hupp e Osrterkamp, 1996, Morais et al., processos como objeto.

Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012 109

Apostila Pag.56
Goerl, R. F. et al

Controle sobre a evolução limitado espacial e temporalmente, mas fica embasada no


da paisagem e formas de objeto, que por sua vez acompanha toda a existência dessa
relevo
nova ciência.
Pesquisas relacionadas à Hidrogeomorfologia ainda
Processos são recentes no Brasil e as que abordam esta temática não
Hidrologia Geomorfologia
Hidrogeomorfológicos tem enfocado os processos hidrológicos e suas implicações
na transformação/evolução da paisagem. Neste sentido, o
presente trabalho buscou, por último, salientar a importân-
cia dessa nova forma de conhecimento e a necessidade de
Controle sobre os
processos se consolidar um corpo teórico metodológico próprio da
hidrológicos
Hidrogeomorfologia.
Figura 5 - Diagrama do conceito de Hidrogeomorfologia e do objeto
proposto no presente trabalho
Agradecimentos
Os autores agradecem aos membros do Laboratório de
Sidle (2004) argumenta que devido às particularidades
Hidrogeomorfologia da Universidade Federal do Paraná e do
da Hidrogeomorfologia, não se deve perder de vista o foco
Laboratório de Hidrologia da Universidade Federal de Santa
na compreensão dos processos, apesar da crescente popu-
Catarina pelas discussões, comentários e críticas ao presente
laridade dos mega-modelos ou da fascinação pelas novas
trabalho. O primeiro autor agradece ao Programa REUNI/
técnicas. Dessa maneira, apesar dos constantes avanços na
UFPR pela concessão da bolsa de pesquisa.
técnica, que contribuem para a busca de novos métodos, não
se deve perder o foco do objeto, para que não se tenha tantas
Hidrogeomorfologias quanto hidrogeomorfólogos. Referências bibliográficas
BABAR, M. Hydrogeomorphology: Fundamentals
Conclusões Applications and Techniques. Nova Delhi: NIPA, 2005,
274p.
O presente trabalho apresentou, em primeiro lugar,
uma revisão bibliográfica sobre o termo Hidrogeomorfo- BRIGUENTI, E. C.; CARPI JR., S.; DAGNINO, R. S.
Identificação de riscos hidrogeomorfológicos em unidades
logia. Este termo foi proposto/utilizado pela primeira vez
geossistêmicas da bacia do ribeirão das Anhumas, Campinas/
por Scheidegger (1973) e, especialmente nos últimos anos,
SP. In: Anais do XII Simpósio Brasileiro de Geografia Física
é utilizado com maior frequência. Observa-se na revisão
Aplicada: Natal, p. 1629-1648, 2007
bibliográfica que os periódicos relacionados à hidrologia
atêm-se com maior recorrência a essa temática, fato também BRINSON, M. M. A Hydrogeomorphic Classification for
Wetlands. Wetlands Research Program Technical Report
observado em um eixo temático sobre Hidrogeomorfologia
WRP-DE-4, U.S. Army Corps of Engineers, 1993, 101p.
ocorrido em um simpósio internacional de geomorfologia,
que teve seus principais artigos publicados em um periódico DEBARRY, P. A. Watershed: processes, assessment and
de hidrologia. management. John Wiley & Sons: New Jersey, 2004. 700p.
GOUDIE, A. Encyclopedia of Geomorphology. Routledge:
Esta nova ciência ou ramo do conhecimento trata da in-
London, 2004, 1200 p.
teração entre os processos hidrológicos e os geomorfológicos,
contudo, como esta interação ocorre ainda não está claro. GREGORY, K. J. Fluvial geomorphology. Progress in Physical
Geography. v. 3, p. 274-282, 1979b.
Assim, foram apresentados diversos estudos de caso
de pesquisas que envolvem a Hidrogeomorfologia como GREGORY, K. J. Hydrogeomorphology: how applied should
we become? Progress in Physical Geography, v.3, p. 84-101,
temática principal. Ficou demonstrado que a grande parte
1979a.
destes estudos não trata de processos hidrológicos, nem
como os mesmos modificam ou são condicionados pela (geo) HUGGET, R. J. Fundamentals of Geomorphology. Routledge:
morfologia da paisagem. Dessa maneira, não deveriam ser London, 2005, 386p.
considerados, a priori, como estudos hidrogeomorfológicos. HUNGR, O.; EVANS, S. G.; BOVIS, M. J.; HUTCHINSON,
Por outro lado, a análise crítica dos estudos aqui apresentados J.N. A review of the classification of landslides of the flow type.
careceu de fundamentação, pois o objeto da Hidrogeomor- Environmental and Engineering Geoscience, v. 7, n. 3, p.
fologia ainda não esta claro. Contribuindo nesta direção, 221-238, 2001.
o presente trabalho, definiu-o como sendo os processos HUPP, C. R.; OSRTERKAMP, W. R. Riparian vegetation and
hidrogeomorfológicos. Dessa maneira, a análise dos traba- fluvial geomorphic processes. Geomorphology, n. 14, p. 277-
lhos não fica condicionada ao método, que por sua vez está 295, 1996.

110 Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012

Apostila Pag.57
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações

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Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, n.2, (Abr-Jun) p.103-111, 2012 111

Apostila Pag.58
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

APRENDER HIDROLOGIA PARA PREVENÇÃO DE DESASTRES NATURAIS

Meio ambiente

Masato Kobiyama (Coordenador da Ação de Extensão)1


Masato Kobiyama
Leonardo Romero Monteiro2
Gean Paulo Michel3

Palavras-chave: Hidrologia, popularização, desastres naturais, bacias-escola

Resumo
Para reduzir os desastres naturais, especialmente hidrológicos (inundação e
escorregamento), é fundamental que as comunidades entendam e apliquem a
hidrologia no gerenciamento de desastres naturais. O presente projeto de extensão,
através de palestras e mini-cursos, busca a valorização e o ensino da hidrologia
para a conscientização da população quanto aos riscos e danos acarretados pelos
desastres naturais. Os cursos e as palestras tiveram resultados positivos e boa
aceitação.

Introdução
A saúde é definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não apenas a ausência de doença (WHO, 1946). Pela definição, fica bem claro que,
sem saúde, cada indivíduo não consegue alcançar a felicidade e consequentemente
uma boa qualidade da vida. Um dos fatores que influenciam na garantia da saúde é
o grau de segurança em relação a desastres naturais. Tal segurança deve ser direito
garantido de cada indivíduo. Portanto, é de extrema importância compreender os
desastres naturais.
O Emergency Disaster Data Base – EM-DAT do Centre for Research on the
Epidemiology of Disasters – CRED, um órgão parceiro da Organização Mundial da
Saúde (World Health Organization – WHO), analisa os dados mundiais das
ocorrências de desastres naturais. Em 2008, o EM-DAT reclassificou os tipos de
desastres em seu banco de dados em dois grandes grupos: naturais e tecnológicos
(SCHEUREN et al., 2008). Os naturais foram divididos em seis sub-grupos:
biológicos, geofísicos, climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrestres
(meteoritos), e estes por sua vez em doze tipos. Essa nova classificação resultou de
uma iniciativa entre o próprio CRED e a Munich Reinsurance Company (MunichRe),
que decidiram implantar uma classificação em comum para os seus respectivos
bancos de dados. A principal mudança foi separar em dois tipos os movimentos de
massa: secos e molhados. O primeiro associado apenas a eventos geofísicos
(terremotos), e o segundo a condicionantes hidrológicos e meteorológicos. De
qualquer maneira, tais movimentos de massa são chamados de escorregamentos. A
International Strategy for Disaster Reduction das Nações Unidas (UNISDR) também
adotou as mudanças na classificação, visto que o EM-DAT é o principal banco de
dados utilizado pela ONU, como observado pelo UNDP (2004). Em 2009 houve mais
uma atualização da classificação pelo CRED, na qual não se encontra o desastre
extraterrestre (BELOW et al., 2009) (Tabela 1).

1
Dr. Bolsista do CNPq, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, kobiyama@ens.ufsc.br
2
Bolsista de Extensão, Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC
3
Bolsista de PIBIC, Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC

Apostila Pag.59
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

Tabela 1 – Atual classificação dos desastres naturais.


Classificação Classificação
Principais tipos
antiga (até 2007) atual
Terremotos, vulcões, movimentos de massa
Geológico Geofísico
(secos)
Meteorológico Tempestades
Hidrometeorológico Hidrológico Inundações, movimentos de massa (úmidos)
Climatológico Temperaturas extremas, secas, incêndios
Biológico Biológico Epidemias, pragas e infestações de insetos

A Figura 1 mostra a distribuição anual de 1950 a 2008 das cinco principais


categorias de desastres naturais. Nota-se que, apesar de todas as categorias
apresentarem aumento em sua freqüência ao longo do tempo, os desastres
hidrológicos seguido dos meteorológicos, como as inundações, escorregamentos e
as tempestades severas, são os que tiveram um maior acréscimo.

Figura 1 – Ocorrências de desastres naturais no mundo no período 1950-2008.

Então, fica bastante claro que a sociedade vem sofrendo com os desastres
hidrológicos e meteorológicos. Para contribuir na mitigação destes, o Laboratório de
Hidrologia (LabHidro) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) iniciou o
Projeto de Extensão Universitária “Aprender Hidrologia para Prevenção de
Desastres Naturais” oficialmente em 2006. Como os desastres naturais no Brasil
ocorrem principalmente devido à ação da água, acredita-se que a hidrologia possui
uma grande contribuição a esse assunto. Segundo UNESCO (2007), a hidrologia é
uma das principais ciências envolvidas no estudo de desastres naturais.
LAMONTAGNE (2002) destacou a importância da popularização da ciência para
minimizar os prejuízos causados pelos desastres naturais.
KOBIYAMA et al. (2006) dividiram a prevenção de desastres naturais em dois
aspectos: (1) compreensão dos mecanismos de fenômenos naturais que geram os
desastres; e (2) aumento do potencial de resistência da sociedade contra esses
fenômenos. O primeiro item é a execução da ciência, e o segundo item pode ser
realizado com apoio da ciência.
No contexto de gerenciamento de desastres naturais (GDN), é essencial que cada
pessoa seja responsável pela sua própria vida. Entretanto, como o poder de cada
indivíduo é pequeno e limitado, é necessário uni-los para criar uma comunidade. A

Apostila Pag.60
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

UNISDR (2007) discutiu o GDN em três níveis: comunitário, nacional e internacional,


concluindo que a base comunitária é essencial. Isto claramente indica a importância
de as comunidades estarem fortalecidas contra desastres naturais.
Assim, o ideal é que os indivíduos das comunidades tenham conhecimento da
aplicação da hidrologia no cotidiano. O conhecimento de cada indivíduo poderá
fortalecer a auto-confiança e conseqüentemente intensificará sua participação nas
atividades comunitárias. Essa participação fortalecida de cada indivíduo aumentará
naturalmente a qualidade e a quantidade das ações das comunidades, as quais
conseguirão fazer o gerenciamento participativo de desastres naturais (GPDN)
(Figura 2).
Conscientização
(Hidrologia)

Cidadão Professor

Alunos
(Crianças)

Gerenciamento de
Participação Participação Desastres
Intensificada Intensificada Naturais

Participação
Comunidades Intensificada

Gerenciamento
Participativo de
Desastres
Naturais

Redução de Desastres

Figura 2 – Efeito da conscientização no gerenciamento participativo de desastres


naturais. (Fonte: KOBIYAMA et al., 2009)

Metodologia
O presente projeto visa a popularização da hidrologia nas comunidades locais,
esclarecendo os riscos e danos causados por desastres hidrológicos e levando o
conhecimento adquirido e desenvolvido pela universidade às comunidades.
Durante seu desenvolvimento, foram realizados cursos e palestras, e para isso
foram produzidos materiais didáticos. Além do livro “Prevenção de desastres
naturais: Conceitos básicos” de KOBIYAMA et al. (2006), mais dois livros
(KOBIYAMA et al., 2008; SILVEIRA et al., 2009) foram criados e utilizados como
base para a realização dos cursos. Esses materiais estão disponibilizados no site do
LabHidro da UFSC (www.labhidro.ufsc.br).
Em princípio, os cursos consistem em aulas teóricas. Entretanto, conforme a
duração do curso e o interesse dos participantes podem ocorrer outras atividades
como estudo de grupo, aula dinâmica, aula prática, entre outros. A fim de avaliar o
desempenho do curso e também para melhorar os materiais didáticos e a
organização de futuros eventos, um questionário é aplicado antes e depois da
atividade para cada participante.
A Tabela 2 apresenta os cursos relacionados à hidrologia e sua aplicação na
prevenção de desastres naturais para comunidades internas e externas à UFSC.

Apostila Pag.61
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

Tabela 2 – Cursos de capacitação e palestras realizados


Município Período Duração Público participante
Rio Negrinho, SC 19/10/06 4 horas Professores da rede pública
Rio Negrinho, SC 20/10/06 4 horas Professores da rede pública
Tubarão, SC 7 a 9/03/07 16 horas Profissionais da área* e estudantes
Itaiópolis, SC 3 a 11/08/07 40 horas Professores da rede pública
Rio do Sul, SC 27 e 28/09/07 12 horas Profissionais da área* e ONGs
Florianópolis, SC 23 a 25/10/07 12 horas Estudantes (V ENEEAmb)
Rio Negrinho, SC 19 e 20/05/08 8 horas Profissionais da área* e estudantes
Gaspar, SC 21/05/08 3 horas Profissionais da prefeitura
Campinas, SP 14/07/08 4 horas Crianças (16ª SBPC Jovem)
Belo Horizonte, MG 02/08/08 8 horas Geomorfólogos (SINAGEO)
Florianópolis, SC 16/08/08 8 horas Moradores locais e estudantes
Florianópolis, SC 28 a 30/10/08 9 horas Estudantes (SEMESAM)
São José, SC 31/03 a 08/04/09 16 horas Profissionais da prefeitura
Viçosa, MG 28 a 31/07/09 16 horas Estudantes (VII ENEEAmb)
Florianópolis, SC 22 e 23/10/09 8 horas Estudantes (SEPEX)
Presidente Prudente, SP 23/10/09 8 horas Estudantes (V SEAUPP)
Porto Alegre, RS 26 a 30/10/09 40 horas Engenheiros (Ministério Público)
Blumenau, SC 01/11/09 2 horas Estudantes (OASIS-SC)
Lages, SC 13/11/09 4 horas Estudantes (I SAEA)
Joinville, SC 30/11/09 1,5 horas Profissionais da área
Canindé de São
04/12/09 4 horas Moradores locais e estudantes
Francisco, SE
Chapecó, SC 01/06/10 3 horas Moradores locais
Rio dos Cedros, SC 07/06/10 1,5 horas Crianças do ensino fundamental
Foz do Iguaçu, PR 23/07/10 4 horas Estudantes (VIII ENEEAmb)
* Engenheiros, agrônomos, defesa civil, corpo de bombeiros, polícia militar.

Resultados e discussão
Conforme a Tabela 2, tanto o público participante quanto a duração dos cursos
foram variados. Além disso, entre os municípios, há obviamente diferenças
ambientais (clima, topografia, geologia, etc.) e sociais (economia, cultura, etc.), o
que gera desastres naturais com características diferentes. Portanto, não é tão
simples analisar o desempenho dos cursos. Entretanto, em geral, pode-se dizer que
os cursos tiveram resultados positivos e boa aceitação. Os participantes mostraram-
se dispostos a repassar e utilizar as informações no campo de trabalho e convívio
social, bem como expressaram necessidade de realização de mais cursos abertos a
toda a comunidade. Algumas avaliações estatísticas se encontram em KOBIYAMA
et al. (2009).
Nos cursos, há dois itens que recentemente têm sido destacados: (i) bacias-escola;
e (ii) APP (área de preservação permanente). Segundo KOBIYAMA et al. (2008), a
bacia-escola é definida como uma bacia hidrográfica experimental que serve tanto
para pesquisas científicas quanto para atividades de educação ambiental. A
utilização desse conceito é de extrema relevância para que se crie uma ligação entre
teoria e realidade, facilitando o entendimento de eventos hidrológicos.

Apostila Pag.62
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

Recentemente ocorreram alterações no Código Estadual do Meio Ambiente de


Santa Catarina. Com estas alterações, a comunidade catarinense passou a discutir
qual deveria ser a faixa de APP ao longo dos rios. Por esta razão, nos cursos e
palestras realizados recentemente, é dito que “APP é APP!”. Esta afirmação está
baseada em observações feitas em campo após a ocorrência das tragédias no vale
do Itajaí em 2008. As APP’s exibem alto risco de serem atingidas por fluxos de
detritos (debris flow) que incluem troncos, além de serem os primeiros locais a
serem inundados em épocas de cheia. Como em SC as árvores possuem em média
20 a 30 m de altura, uma faixa do mesmo valor a partir da margem do rio deve ser
considerada Área de Perigo Permanente, podendo também ser denominada de APP
(Figura 3). Para promover a conscientização diz-se “APP é APP”. Assim, através da
hidrologia, está sendo discutida a relação entre água, meio ambiente e desastres
naturais.

(a)

(c)

(b)
Figura 3 – Destruição da APP devido ao fluxo de detritos: (a) antes da ocorrência do
fluxo de detritos, (b) transporte longitudinal dos troncos, e (c) transporte transversal
dos troncos (Fonte: KOBIYAMA et al., 2010)

Conclusões
Com a elaboração de materiais didáticos e a realização de cursos de capacitação,
foi confirmada ainda mais a importância do fator humano na prevenção de desastres
naturais. A convivência com esses desastres é inevitável, e o que o ser humano
pode fazer é apenas reduzir os prejuízos. Tal redução é possível somente quando
cada indivíduo participa do gerenciamento e realiza o GPDN. Dessa maneira, a
realização do curso de capacitação para prevenção de desastres naturais
certamente contribui para o aumento da eficácia das medidas preventivas contra

Apostila Pag.63
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

esses desastres. Os materiais elaborados para uso no curso foram bastante


elogiados por seus usuários, embora ainda necessitem de melhorias. De qualquer
maneira, acredita-se que a popularização da ciência e a conscientização da
população através da realização de cursos de capacitação é a melhor maneira para
prevenção de desastres naturais.
“Se não gerenciar a água, não conseguirá governar o país” é um dos antigos
provérbios da China. Este provérbio vem se tornando cada vez mais verdadeiro no
Brasil. Alterando as palavras, pode-se dizer: “Se a sociedade entender a hidrologia e
aplicar seus conhecimentos em suas atividades, reduzirá os desastres hidrológicos,
principais desastres naturais, e conseqüentemente melhorará sua qualidade de vida,
adquirindo a felicidade”.

Agradecimentos
Os autores agradecem aos membros do Laboratório de Hidrologia – LabHidro, do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de
Santa Catarina pelas discussões sobre desastres naturais.

Referências
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peril Terminology for Operational Purposes. Brussels: Center for Research of
Epidemiology of Disasters / Munich: Munich Re Foundation, 2009. 19p.
KOBIYAMA, M.; MENDONÇA, M.; MORENO, D.A.; MARCELINO, I.P.V.O.;
MARCELINO, E.V.; GONÇALVES, E.F.; BRAZETTI, L.L.P.; GOERL, R.F.;
MOLLERI, G.; RUDORFF, F. Prevenção de desastres naturais: Conceitos
básicos. Curitiba: Organic Trading, 2006. 109p.
KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; CORSEUIL, C.W. Recursos hídricos e saneamento.
Curitiba: Organic Trading, 2008. 160p.
KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; GIGLIO, J.N.; MICHEL, G.P.; GOERL, R.F.;
CORSEUIL, C.W. Aprender hidrologia para prevenção de desastres naturais. In
X Congreso Iberoamericano de Extensión Universitaria (2009: Montevidéu)
Montevidéu: Universidad de La República, Anais, 2009. 13p. CD-rom.
KOBIYAMA, M.; CHAFFE, P.L.B.; GOERL, R.F.; GIGLIO, J.N.; REGINATTO, G.M.P.
Hydrological disasters reduction: lessons from hydrology. 22p. (a ser publicado
em um livro).
LAMONTAGNE, M. An overview of some significant eastern Canadian
earthquakes and their impacts on the geological environment, buildings and
the public. Natural Hazards, v.26, p.55–67, 2002.
SCHEUREN, J-M.; WAROUX, O.P.; BELOW, R.; GUHA-SAPIR, D. Annual Disaster
Statistical Review: the Numbers and Trends 2007. Brussels: Center for Research
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SILVEIRA, W.N.; KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F.; BRANDENBURG, B. História de
Inundações em Joinville 1851 - 2008. Curitiba: Organic Trading, 2009. 153p.
UNDP Reducing disaster risk: a challenge for development. New York: UNDP,
2004. 130p.
UNESCO About natural disasters. Disponível em
<http://www.unesco.org/science/disaster/about_disaster.shtml#prevention>. Acesso
em 01 maio 2007.
UNISDR Guidelines for reducing flood losses. Gênova: UNISDR, 2007. 79p.
WHO Constitution of the World Health Organization. Basic Documents.
Genebra: WHO, 1946. 19p.

Apostila Pag.64
3 DESASTRES NATURAIS E SEU GERENCIAMENTO

MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
ALINE DE ALMEIDA MOTA

Os desastes naturais vêm aumentando cada vez mais em número de ocorrência


(frequência) e magnitude. Então, diversos setores discutem este assunto e tentam reduzir seus
impactos negativos.
Como todos os desastres possuem características de acordo com aspectos humano-
sociais e ambientais, para reduzir os desastres, é necessário unir as ciências humanas, sociais e
naturais. Também para aprimorar nossa compreensão sobre desastes naturais, devem ser
tratadas interfaces entre os recursos hídricos e desastres e também entre os recursos florestais
e desastres. Assim, este assunto exige tratamento interdisciplinar e transdisciplinar. Neste
sentido, são indicados os seguintes artigos:

• GOERL, R.F.; KOBIYAMA, M. Redução dos desastres naturais: desafio dos


geógrafos. Ambiência, v.9, n.1, p.145-172, 2013.
• KOBIYAMA, M.; MICHEL, G.P.; GOERL, R.F. Relação entre desastres naturais e
floresta. Revista GeoNorte, v.6, p.17-48, 2012.
• VENDRUSCOLO, S.; KOBIYAMA, M. Interfaces entre a Política Nacional de
Recursos Hídricos e a Política Nacional de Defesa Civil, com relação aos desastres
hidrológicos, no Brasil. In: Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de
Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. São Carlos: USP/EESC/NIBH, Anais,
2007. 22p. CD-rom.

Apostila Pag.65
Redução dos desastres naturais: desafio dos geógrafos

Natural disaster reduction: the challenge of geographers

Roberto Fabris Goerl1(*)


Masato Kobiyama2

Resumo

Nos últimos anos, os desastres naturais tornaram-se mais frequentes e ocasionaram


mais danos. Para a prevenção destes desastres existem dois tipos de medidas: as
estruturais e não estruturais, sendo que as últimas se destacam pelo baixo custo.
Dentre as não estruturais cita-se o sistema de alerta, mapeamento de risco e
educação ambiental. O geógrafo, pela sua formação, possui plena capacidade de
atuar na prevenção de desastres. Contudo, observa-se que a sua atuação está aquém
das suas possibilidades. Assim, o presente trabalho procurou demonstrar o papel
que o geógrafo pode desempenhar no gerenciamento dos desastres principalmente
em relação às medidas não estruturais.
Palavras-chave: Geografia; desastres naturais; gerenciamento de risco.

Abstract

In recent years, natural disasters have become more frequent and caused more
damage. To prevent such disasters there are two types of measures: the structural
and non-structural, being that the latter stands at low cost. The principals of
these measures are the early warning system, risk mapping and environmental
education. The geographers, through their training, have full capacity to act in
the disaster prevention. It is, however, observed that their performance falls short
of their possibilities. Thus, this study sought to demonstrate the role that the
geographers can play in the disaster management especially in relation to non-
structural measures.
Key words: Geography; natural disasters; risk management.

1 Geógrafo; Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná,


UFPR; Endereço: Av. Cel. Francisco H. dos Santos, 100, Centro Politécnico, Bloco 5, Caixa Postal: 19001,
CEP: 81531-980, Curitiba, Paraná, Brasil; E-mail: roberto.fabris@gmail.com (*) Autor para correspondência.
2 Dr.; Ciências Especiais; Professor do Departamento de Engenharia Sanitária do Centro Tecnológico da
Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC; Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq; Endereço:
Caixa Postal, 476, Campus Universitário, Trindade, CEP: 88040-900, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil;
E-mail: kobiyama@ens.ufsc.br

Recebido para publicação em 30/07/2012 e aceito em 191/12/2012


Ambiência Guarapuava (PR) v.9 n.1 p. 145 - 172 Jan./Abr. 2013 ISSN 1808 - 0251
DOI:10.5777/ambiencia.2013.01.10

Apostila Pag.66
Introdução Um desastre é resultado de evento adverso,
natural ou provocado pelo homem, sobre
Recentemente, a mídia tem reportado um ecossistema vulnerável, causando
a ocorrência de diversas tragédias associadas danos humanos, materiais e ambientais e
a eventos naturais extremos. Terremotos, consequentes prejuízos econômicos e sociais
inundações e escorregamentos têm sido (CASTRO; CALHEIROS, 2007).
noticiados nacional e internacionalmente. Por definição, os desastres envolvem
Devido à globalização da informação duas esferas: a social e a ambiental, ou seja, as
tem-se acesso a mais notícias de eventos principais etapas de análise de risco. Diversas
extremos, e a preocupação sobre seus disciplinas e ciências podem contribuir para
efeitos também tem aumentado. Temas o gerenciamento do risco como a hidrologia,
chave como intensidade e frequência de geomorfologia, geologia, sociologia,
desastres, mudanças climáticas, crescimento meteorologia, antropologia, entre outras. A
populacional, vulnerabilidade, entre outros, geografia, por ser uma ciência de síntese, e
têm estado na pauta de discussões de órgãos por historicamente abarcar em seu currículo
internacionais como o Escritório das Nações diversas ciências acima citadas, tanto físicas
Unidas para Redução de Risco e Desastres quanto humanas, pode contribuir de maneira
(UNISDR) e de órgãos nacionais como a significativa no gerenciamento de desastres.
Defesa Civil e Ministério da Integração Neste contexto, o presente trabalho teve por
Nacional. Duas ações resultaram desta objetivo apresentar as possíveis contribuições
preocupação. A primeira delas foi à criação dos geógrafos (físicos e humanos e/ou
da Década Internacional de Redução de bacharéis e licenciados) no gerenciamento do
Desastres entre 1990 e 1999 (ROSENFELD, risco e nas ações de prevenção dos desastres
1994). A segunda, mais recente, refere-se ao naturais.
Marco de Ação de Hyogo, que tem como
principal meta o aumento da resiliência dos Desastres Naturais
países e comunidades frente aos desastres.
Os principais objetivos estabelecidos foram: Conceitos
priorizar nacionalmente e localmente
a redução de risco; identificar, avaliar e Os perigos naturais (natural hazards)
monitorar o risco e incrementar o sistema de são processos ou fenômenos naturais
alerta; utilizar de conhecimento, inovação e potencialmente prejudiciais que ocorrem
educação para criar uma cultura de prevenção na biosfera, que podem causar sérios danos
e resiliência; e tornar as comunidades mais sócio-econômicos ás comunidades expostas
fortes para uma efetiva resposta aos desastres (UNISDR, 2002; UNDP, 2004).
(UNISDR, 2007). Inundações, escorregamentos e outros
Dessa maneira, as principais ações tipos de fenômenos naturais causadores de
relacionadas aos desastres referem-se à desastres podem ser denominados perigos
identificação e análise de risco. Ao se naturais e têm como principal característica
analisar o risco, duas etapas complementares a de colocar em risco diferentes entidades e
devem ser abordadas: a mensuração da classes sociais. Este risco não se refere aos
vulnerabilidade e a dos perigos naturais. fenômenos naturais per si, mas a junção dos

146 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.67
fenômenos naturais com os sistemas humanos tendência. Assim, uma alteração em uma
e suas vulnerabilidades (ALCÁNTARA- parte do sistema produzirá um ajuste em
AYALA, 2002). Apesar do consenso em outra parte para que o mesmo se mantenha
relação ao conceito de perigo natural (GOERL em equilíbrio (SCHUMM, 1979). Esta
et al., 2012), a melhor tradução para o termo situação permanece até que uma alteração
natural hazard ainda é contraditória, sendo grande o suficiente produza uma nova
geralmente utilizados os termos acidente, situação de equilíbrio. Supõe-se que a
evento adverso, acaso, azares naturais, ameaça, ocorrência de X números de eventos, apenas
perigos naturais (CASTRO; CALHEIROS, X-Y causarão desastres por afetarem ou
2007; MARANDOLA; HOGAN, 2004; interagirem com a sociedade (Figura 1). Dois
CHRISTOFOLETTI, 1999). cenários podem então ser estabelecidos. O
Deve-se atentar ao fato que os primeiro, onde a frequência de fenômenos
perigos naturais são a priori fenômenos naturais se mantem constante, sem alteração
naturais, objetos de estudo de diversas na tendência do equilíbrio dinâmico. Por
ciências. As inundações são importantes outro lado, há o crescimento populacional, ou
processos fluviais, formadores de feições seja, mais pessoas habitando áreas propensas
como a planície de inundação, terraços à ocorrência destes fenômenos, como as
e diques marginais, além de contribuir planícies de inundações e encostas. Dessa
para a manutenção do ecossistema fluvial maneira, há um aumento da ocorrência dos
(CHRISTOFOLETTI, 1980; 1981). Os desastres naturais ocasionado diretamente
escorregamentos são processos modeladores pelo crescimento populacional (Figura 1a).
da paisagem responsável pela oferta de Contudo, há de se considerar que
sedimentos (KOBIYAMA et al., 2011), a frequência de fenômenos naturais pode
pela manutenção de canais de primeira aumentar, ou seja, uma nova tendência de
ordem (DIETRICH et al., 1986), pelo equilíbrio. Assim, neste cenário, o aumento
recuo das vertentes e modificação da forma de desastres não estará associado apenas ao
da encosta. Terremotos e vulcanismo são crescimento populacional, mas também ao
responsáveis pela criação, destruição e aumento da ocorrência dos fenômenos ao
deslocamento de ilhas, por desencadearem longo do tempo (Figura 1b).
escorregamentos, tsunamis, entre outros Os fenômenos naturais ocorrem
processos modificadores da paisagem. dentro de uma tendência de equilíbrio (E1)
Furacões impactam anualmente a economia que podem manter a mesma tendência
dos EUA, mas podem ser analisados como ao longo do tempo (E1, E2 e E3). A
importantes agentes dispersores de sementes partir de uma significativa alteração no
(KENDALL et al., 2004). sistema o mesmo passa a adquirir um novo
Dentro de determinadas circunstâncias estado de equilíbrio (E2’ e E3’) (Figura
o sistema natural e seus processos mantém 1c). A população mundial tem crescido
um estado de equilíbrio dinâmico que se continuamente (Figura 1d), conforme as
auto-ajusta ao longo do tempo. A ocorrência estimativas entre 1950 e 2100 da Divisão de
e características dos fenômenos estão População do Departamento de Ação Social
condicionadas ao equilíbrio do sistema, ou da Organização das Nações Unidas (www.
seja, oscilarão dentro de uma determinada un.org/esa/population). Dessa maneira,

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 147

Apostila Pag.68
DN
FN FN FN
E1 E2 E3

DN DN
Pop Pop Pop

a)

DN
FN FN FN
E1 E2’ E3’
DN DN
Pop Pop Pop

b)

Tempo

c) d)
E3'
Frequencia de Eventos

Fen. Natural Pop. Mundial


População Mundial

E2'

E1 E2 E3

Tempo Tempo

Figura 1. Interação entre fenômenos naturais e população: a) fenômenos constantes e crescimento


populacional ao longo do tempo, b) aumento dos fenômenos e crescimento populacional
ao longo do tempo, c) tendências de equilíbrio e d) crescimento populacional com base
na estimativa da ONU (1950-2100)

para uma mesma situação de equilíbrio dos Rutherford e Boer (1983) definiram os
fenômenos naturais (E1 ou E2’) há mais desastres como um evento destrutivo que, em
pessoas que potencialmente serão afetadas, ou relação aos recursos disponíveis, geralmente
seja, na ocorrência de um desastre os fatores ocasionam muitas perdas em um curto
humanos são predominantes. período de tempo. Para Benson e Clay (2003),
Todos os fenômenos que causam desas- um desastre natural é a ocorrência de um
tres, ou seja, todos os perigos naturais, são ine- anormal e não frequente perigo que impacta
rentes à própria dinâmica terrestre. Isso implica comunidades ou áreas vulneráveis, causando
que cedo ou tarde os mesmos irão ocorrem, va- danos substanciais, alterando o estado de
riando em intensidade, magnitude, frequência e funcionalidade da comunidade afetada.
local. Quando os perigos naturais ocorrem em Pelling (2003) definiu os desastres
um local habitado com determinada intensida- como sendo um estado de interrupção
de e magnitude e interagem com a sociedade nas funções de um sistema, resultado da
ocasionando danos, ocorrem desastres naturais coincidência do perigo e da vulnerabilidade.
(WEICHSELGARTNER, 2001). Estas funções do sistema operam em várias

148 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.69
escalas, desde indivíduos, aglomerações Larson (2008), entre diversos outros autores
socioeconômicas locais até toda a rede de propõem ou adotam definições muito
infraestrutura urbana bem como economia semelhantes à sugerida pela ONU.
global. Ainda para este autor, o que é Recentemente, a ONU (UNISDR,
considerado um desastre pode ser analisado 2009) reformulou sua definição, onde os
em diferentes escalas. Um simples evento que desastres são definidos como um sério
causa uma única morte, como um pequeno distúrbio na funcionalidade de uma
escorregamento pode ser considerado um comunidade ou sociedade ocasionando
desastre para os dependentes desta pessoa impactos e perdas humanas, econômicas e
falecida. Dessa maneira, um desastre pode ambientais generalizadas, os quais excedem
ser mensurado de inúmeras maneiras e a capacidade da comunidade afetada de se
perspectivas. Conforme ECLAC (2003), recuperar com seus próprios recursos. Esta
desastres são súbitos e inesperados eventos, concepção de que os desastres são função
geralmente acompanhados de perdas de vidas, de um perigo e vulnerabilidade traz consigo
que ocasionam em parte ou em toda uma uma perspectiva otimista, pois caso o risco
comunidade, prejuízos, ruptura temporária for avaliado adequadamente e as medidas de
nos sistemas vitais, danos materiais e prevenção e de redução da vulnerabilidade
consideráveis distúrbios nas atividades forem implementadas, o impacto negativo
econômicas e sociais. e até mesmo a frequência dos desastres
Desastres, também, podem ser con- podem ser reduzidos (ASIAN DISASTER
siderados uma ruptura no desenvolvimento REDUCTION CENTER, 2003).
social e econômico em nível familiar, quan- Apesar da semelhança entre as de-
do casas, plantações, utilitários domésticos finições apresentadas, Quarantelli (1998)
são destruídos sucessivamente, ou em nível demonstrou que a concepção e a definição do
nacional quando estradas, pontes, escolas, que é um desastre depende diretamente da
hospitais e outras infra-estruturas são seria- disciplina que o estuda. Assim, a antropolo-
mente danificadas (WISNER et al., 2004). gia, hidrologia, geografia, geologia, sociologia
Devido à complexidade dos fenômenos bem como outras áreas de conhecimento de-
naturais e sua interação com um sistema finem e abordam os desastres sob a sua ótica.
ainda mais complexo, a sociedade, diversos
conceitos de desastres podem ser propostos. Classificação
A Organização das Nações Unidas (ONU),
através do Programa das Nações Unidas Em 2008, o Emergency Disaster Data
para o Desenvolvimento sugere que um Base (EM-DAT) do Centre for Research
desastre natural pode ser entendido como on the Epidemiology of Disasters (CRED),
os efeitos da ocorrência de um perigo reclassificou os tipos de desastres em seu
natural, onde os danos e prejuízos gerados banco de dados (SCHEUREN et al., 2008).
excedem a capacidade de uma comunidade Os desastres foram classificados primeiro
ou sociedade em lidar com o desastre em dois grandes grupos: os naturais e os
(UNDP, 2004). Cutter (2001), Alcantara- tecnológicos. Os naturais foram subdivididos
Ayala (2002), Kohler et al. (2004), Coppola em seis grupos: biológicos, geofísicos,
(2007), Middelmann (2007), Eshghi e climatológicos, hidrológicos, meteorológicos

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 149

Apostila Pag.70
e extraterrenos (meteoritos), e estes por sua e intensidade. Além destes atributos, os
vez em outros 12. Esta nova classificação desastres podem ser classificados quanto à
foi resultado de uma iniciativa entre o duração (SIDLE et al., 2004; KOBIYAMA
próprio CRED e Munich Reinsurance et al., 2006). Geralmente os desastres
Company – MunichRe, que decidiram denominados episódicos tais como terremoto,
implantar uma classificação em comum vulcanismo, tsunami, inundação e fluxo
para os seus respectivos bancos de dados de detrito, chamam mais atenção pela sua
(SCHEUREN et al., 2008; BELOW et al., magnitude. Entretanto, desastres crônicos
2009). A principal alteração foi separar em tais como a erosão do solo, geram sérios
dois tipos os movimentos de massa: “secos” prejuízos ambientais, especialmente em
e “úmidos”. O primeiro associado apenas a longo prazo. O quadro 1 apresenta um
eventos geofísicos (terremotos/vulcanismo) resumo de cada classificação acima citada,
e o segundo os condicionantes hidrológicos com ênfase nos desastres naturais, além da
e meteorológicos. Como o EM-DAT é o proposta por Rutherford e Boer (1983).
principal banco de dados utilizado pela ONU
(UNDP, 2004) o UNISDR também adotou Estatísticas e Tendências
as mudanças na classificação.
A Defesa Civil brasileira, por meio Para catalogar a ocorrência de um
de Castro e Calheiros (2007) e Ministério desastre, o EM-DAT adota alguns critérios,
da Integração Nacional (2007), classifica os sendo que pelo menos um deles precisa ser
desastres quanto à origem/tipologia, evolução atendido: 10 ou mais pessoas falecidas; 100

Quadro 1. Diferentes propostas de classificação dos desastres com ênfase nos naturais
Scheuren et al., 2008 Castro e Calheiros, 2007
Rutherford e Boer (1983).
EM-DAT Minist. Integr. Nacional, 2007
Defesa Civil

Tecnológicos Naturais Origem Efeitos


Natural Simples
Acidentes Biológicos Tecnológico Complexos
Industriais/Trab. Epidemias e Pragas Misto
Mob. de recursos
Transporte
Hidrológicos Evolução Local
Diversos
Inundações Súbitos Regional
Graduais Nacional
Mov. Massa úmidos
Efeitos Parciais Internacional
Meteorológicos Origem
Intensidade
Tempestades Natural
Pequeno Porte ou Nível I
Médio Porte ou Nível II Atrópico
Climatológicos
Temp. Extremas; Estiagem; Grande Porte ou Nível III
Muito Grande Porte ou Nível IV Duração
Incêndios Curto <1h
Rel. Longo 1h-24hs
Geofísicos Longo > 24hs
Terremoto; Vulcanismo;
Mov. Massa secos Extensão (raio)
1km
Extraterrenos 1km a 10km
Meteoritos Maior que 10km

Afetados (pessoas)
Pequeno: 25 – 100
Moderado: 100 - 1000
Grande: Mais de 1000

150 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.71
ou mais pessoas afetadas; declarar situação de desastres hidrológicos ocorrem com maior
emergência e requisitar auxílio internacional. frequência que os demais, representando
Marcelino et al. (2006) compararam os dados 42% (4503 registros) de todos os desastres
de EM-DAT com os dados registrados entre registrados desde 1900.
1980-2003 na Defesa Civil do estado de Os prejuízos relacionados a estes
Santa Catarina e demonstraram que muitos desastres (Figura 3) não apresentam a
registros que atendiam os critérios do EM- mesma tendência da frequência. Nota-se
DAT não foram computados pelo mesmo, o que os danos, apesar de estarem aumentando,
que pode estar relacionado à falta de acesso possuem um comportamento irregular. Além
aos dados por parte dos órgãos internacionais disso, enquanto a ocorrência de desastres
bem como ao entendimento dos registros, começa a aumentar significativamente a partir
que estão na língua portuguesa. Por outro da década de 1970, os prejuízos crescem a
lado estes mesmos autores apontaram que partir de 1980, sendo mais expressivo a partir
a tendência dos dados da Defesa Civil e da década de 90. Os desastres meteorológicos
do EM-DAT são semelhantes, ou seja, o e os geofísicos são responsáveis pelos picos
aumento dos desastres ocorre em ambos os no gráfico. Tempestades severas como o
níveis. Furacão Katrina (em 2005) nos EUA bem
A figura 2 apresenta este aumento, como os terremotos de Kobe (em 1995) e
que ocorreu principalmente após a Segunda o terremoto+tsunami em Fukushima (em
Guerra Mundial, sendo que a partir da década 2011), ambos no Japão, explicam estes picos.
de 1970 começa a ser mais expressivo. Nota- Países ricos ou desenvolvidos são os que
se também que nas ultimas duas décadas os reportam as maiores perdas econômicas totais

600 14000
5000
4500
4000 12000
500
3500
3000
2500
10000
Número de Registros Acumulado

2000
400
Número de Registros

1500
1000
8000
500

300 0

6000

200
4000

100
2000

0 0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011

Meteorológico Hidrológico Geofisico Climatológico Biológico Acumulado

Figura 2. Registro de desastres naturais por ano e acumulado por tipo de desastre
Fonte: EM-DAT.

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 151

Apostila Pag.72
400 2500

US$ Bilhões 900


350 800
700
600 2000
Prejuizos Economicos (US$ Bilhões)

300 500

Prejuizo Acumulado (US$ Bilhões)


400
300
250 200
1500
100
0
200

1000
150

100
500

50

0 0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
Meteorológico Hidrológico Geofisico Climatológico Biológico Acumulado

Figura 3. Prejuízos econômicos anuais e acumulados por tipo de desastre


Fonte: EM-DAT

relacionadas a desastres. Antes de Fukushima situada no Oceano Pacifico, representaram


(em 2011), o desastre que causou maiores cerca de 40% do seu PIB (GUHA-SAPIR
prejuízos econômicos foi o terremoto de et al., 2004).
Kobe, em 1995, com perdas estimadas em Diferente da tendência encontrada em
US$ 131 bilhões. relação à frequência e prejuízos econômicos,
Países ricos tendem a estar nos o número de mortos tem diminuído nos
primeiros lugares da lista dos que mais últimos anos (Figura 4). Kobiyama et al.
sofreram prejuízos econômicos. Contudo, (2004) mencionaram que esta redução é
estes países possuem recursos para a reflexo das ações de defesa civil. Além disso,
reconstrução e estes prejuízos acabam diversas políticas públicas internacionais
representando uma pequena porcentagem aprovadas e ratificadas pela maioria dos
do PIB. O terremoto de Kobe, por exemplo, Estados membros da ONU possuem, dentro
representou apenas 3% do PIB do Japão. do seu escopo, a redução dos impactos
De maneira semelhante, o furacão Andrew negativos dos desastres naturais.
(Categoria 5), que afetou os estados da Políticas de saneamento básico e
Flórida e Louisiana em 1992, foi classificado saúde têm auxiliado na redução de desastres
como o terceiro evento que mais causou biológicos, como a epidemia do vírus
prejuízos econômicos nos EUA desde 1974 influenza, que matou 2.500.000 pessoas
até 2003, mas representou apenas 0,3% do em 1918, no Canadá, Bangladesh e Nova
PIB deste país. Os prejuízos causados pelo Zelândia, e a epidemia de cólera e peste
Ciclone Tropical Ofa (Categoria 3), que bubônica que vitimou o mesmo número
atingiu Niue, uma pequena ilha Estado apenas na Índia em 1920. O investimento

152 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.73
4 35

3.5
30

12

Pessoas Mortas Acumulado (Milhões)


3

Milhões
10 25
Pessoas Mortas (Milhões)

2.5 6

4 20
2
2 0

15
1.5

10
1

5
0.5

0 0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
Meteorológico Hidrológico Geofisico Climatológico Biológico Acumulado

Figura 4. Número de mortos anual e acumulado ao longo da série


Fonte: EM-DAT

tecnológico na prevenção, como construção Por meio de medidas estruturais,


de diques para inundações e sistemas de como diques e barragens, a sociedade tenta
amortecimento de terremotos somados a modificar esta relação. Devido ao custo das
mapeamentos de risco e educação ambiental obras, são construídas para determinado
voltada à prevenção, pode também ser uma tempo de retorno. Eventos de magnitude
das causas desta redução do número de inferior a este tempo de retorno não irão
vitimas. ocorrer ou não ocasionarão danos expressivos.
De maneira geral, eventos de maior Esta falsa sensação de segurança, de que os
magnitude ocorrem com menor frequência fenômenos se tornaram menos frequentes,
do que os de menor magnitude (HUGGET, faz com que a sociedade ocupe intensamente
2003; GOUDIE, 2004). Essa premissa pode locais susceptíveis a sua ocorrência. Como o
ser aplicada a todos os processos terrestres problema foi “resolvido”, a sociedade “relaxa”
(WOLLMAN; MILLER, 1960), ou seja, em termos de prevenção. Quando então
também àqueles que causam desastres. Por ocorre um fenômeno extremo que ultrapassa
exemplo, uma inundação que ocorre com a capacidade da medida estrutural ou a
maior frequência possui menor magnitude, mesma falha, associada ao despreparo e a falta
e os danos associados a ela geralmente são de ações de prevenção, os danos e prejuízos
menores. Já os eventos de grande magnitude tendem a ser maiores do que o esperado.
são mais raros, mas ocasionam maiores Mustafa (2009) exemplificou que não
danos. Assim, a relação entre frequência e foram os ventos e a chuva do Furacão Katrina
magnitude tende a ser constante. que inundaram Nova Orleans (EUA), mas
sim a falha catastrófica nos diques projetados

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 153

Apostila Pag.74
para prevenir inundações locais, os quais tom literário; compêndios de curiosidades
estimularam a urbanização de áreas abaixo sobre lugares exóticos; relatórios estatísticos
do nível do mar. Com base nas características de órgãos de administração; obras sintéticas
deste Furacão, foi estimado que cerca de agrupando os conhecimentos existentes a
90.000 pessoas sofreriam danos ou prejuízos, respeito dos fenômenos naturais; catálogos
mas 1,3 milhão de pessoas requisitaram sistemáticos sobre os continentes e os países
auxílio ao governo (ELLIOTT; PAIS, 2006). (MORAES, 2007).
A Geografia como um ramo autônomo
Geografia da ciência tem suas raízes no final do século
XVIII e início do século XIX, quando
Histórico foi estruturada de forma organizada e
lógica (ANDRADE,1999). Moraes (2007)
A existência da Geografia como ramo enumerou alguns pressupostos históricos
de conhecimento data desde a Antiguidade que contribuíram com a estruturação da
Clássica. Diversos filósofos como Tales Geografia. O primeiro pressuposto diz
de Mileto (procurando os elementos da respeito ao conhecimento efetivo da real
natureza), Anaximandro (discutindo a extensão do planeta, pois era necessário que
medição do espaço e a forma da Terra), a Terra em sua totalidade fosse conhecida.
Heródoto (descrição dos lugares numa Esta condição concretizou-se com as grandes
perspectiva regional), Hipócrates (discussão navegações, ou seja, a constituição de um
da relação entre o homem e o meio), espaço mundial, onde a determinação das
produziram conhecimentos geográficos de dimensões e formas dos continentes foi base
caráter descritivo e informativo (COSTA; para a ideia de um conjunto terrestre. O
ROCHA, 2010). Contudo, foram Estrabão e segundo era a existência de um repositório
Cláudio Ptolomeu que melhor sistematizaram de informações sobre vários lugares da Terra.
este conhecimento e cujas obras serviram Este banco de dados rudimentar permitiria
de modelo na retomada da produção de discorrer, com base em evidências concretas,
conhecimento geográfico ocorrido a partir sobre a diversidade de superfícies e as
do século XV (ROCHA, 1997). realidades de cada local, contribuindo assim
Pode-se dizer que o conhecimento para a apropriação e domínio de determinado
geográfico estava disperso, sem um conteúdo território. Com o desenvolvimento do
unitário e as matérias apresentadas sob a comércio colonial, houve a necessidade de
designação geográfica eram diversificadas. inventários dos recursos naturais presentes
Além disso, muito do que se entende hoje por nas suas possessões (colônias), gerando
Geografia não era assim denominado. Até o informações mais sistemáticas e científicas.
final do século XVIII, não era possível falar Consequentemente surgiu a necessidade
de conhecimento geográfico padronizado, de um local para agrupar as informações e
com unidade temática e continuidade nas materiais recolhidos. Assim, foram então
formulações. Os trabalhos deste período criadas por meio do incentivo dos Estados
pré-científico não sistematizado ou conforme as sociedades geográficas e os escritórios
Sodré (1987), pré-história da geografia, coloniais. A elaboração deste material era
abrangeram relatos de viagem, escritos em

154 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.75
tarefa da Geografia até a metade do século econômico de novos espaços, o que denota o
XIX. papel estratégico da Geografia para os povos
Um bom exemplo que retrata este que a desenvolviam (COSTA; ROCHA,
período é a fundação da Sociedade Geográfica 2010).
Real (RGS), em 1830 na Inglaterra, cujas A sistematização do conhecimen-
atividades estavam relacionadas com as to em forma da Geografia como ciência
explorações coloniais na África, Índia, ocorre principalmente com Alexander von
regiões polares e Ásia Central (http://www. Humboldt e Carl Ritter, na Alemanha, no
rgs.org). Explorações e expedições como as final do século XVIII e início do XIX, onde
de David Livingstone (expedição à África), aparecem os primeiros institutos e cátedras
Henry Stanley (expedição à procura de destinadas a ela (MORAES, 2007; AN-
Livinsgtone), Robert Scott (expedição ao DRADE, 2009). Humboldt e Ritter deram
Polo Sul) e Ernest Shackleton (expedição às o impulso inicial, forneceram os primeiros
regiões polares) foram subsidiadas pela RGS. delineamentos claros do domínio desta
Cardoso (2005) argumentou que na Europa, disciplina em sua acepção moderna, elabo-
a multiplicação das sociedades geográficas ram as primeiras tentativas de lhe definir
relacionava-se à expansão colonial, pois o objeto e realizaram as primeiras padro-
se buscava conhecer melhor as colônias nizações conceituais (MORAES, 2002).
e conquistar novos territórios, visando o No Brasil, as primeiras atividades
intercâmbio comercial e à difusão da cultura geográficas datam do descobrimento, quando
européia. Assim, foram criadas as Sociedades a frota de Cabral empreendeu uma exploração
Geográficas da França em 1821, Alemanha de 10 léguas de costa (50 km), na direção sul-
em 1828, Portugal em 1875, Espanha em norte. Posteriormente explorações semelhantes
1876, Canadá em 1877 e a do Brasil em 1883. proporcionaram uma descrição geral do litoral.
O t e rc e i ro p re s s u p o s t o f o i o Os demais estudos de caráter geográfico no
aprimoramento das técnicas cartográficas, Brasil estiveram vinculados aos interesses
instrumento por excelência do geógrafo. econômicos e disputas territoriais por parte
Era necessário representar os fenômenos dos colonizadores (GONÇALVEZ, 1995).
geográficos bem como a localização do A partir de 1808, com a chegada
território e dos seus recursos. Assim, do rei de Portugal Dom João VI, foi dado
a representação gráfica, padronizada e um grande impulso aos empreendimentos
precisa era requisito da reflexão geográfica. artísticos e científicos que, na área geográfica,
Posteriormente, com a melhoria das técnicas culminou com a criação da primeira escola
de impressão difundiram-se e popularizaram- de formação de Engenheiros Geógrafos
se as cartas e atlas. Militares na Academia Real Militar, que
O objetivo principal da geografia formava profissionais com o objetivo de
pré-científica era o conhecimento e a mapear o território brasileiro (ARCHELA,
descrição dos locais descobertos para, entre 2007). Como a profissão de Geógrafo ou
outros aspectos, a elaboração de rotas que cursos e cátedras de geografia ainda não
possibilitassem a ampliação do comércio. Os existiam no Brasil, o trabalho desenvolvido
colonizadores também estavam preocupados pelo Engenheiro Geógrafo não se diferenciava
com a expansão territorial e o domínio do exercido pelo Geógrafo na atualidade.

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 155

Apostila Pag.76
Durante o período imperial e da Primeira que traz uma influência direta na temática
República os geógrafos se dedicaram a dos desastres, a dicotomia Geografia Física
estudos descritivos, levantamentos estatísticos e Humana.
e à produção de atlas (ANDRADE, 1993; Conforme Andrade (2009) há uma
GONÇALVES, 1995). eterna disputa entre geógrafos naturalistas e
A geografia brasileira organizou-se humanistas. Das discussões entre estas duas
institucionalmente e academicamente com a linhas ocorrem à cisão interna que resulta na
criação do Instituto Brasileiro de Geografia fragmentação do método. A Geografia passou
e Estatística - IBGE (em 1930) e dos cursos a se adaptar a um sistema de trabalho realizado
de Geografia na Universidade de São Paulo – em colaboração com outras especialidades.
USP (em 1934) e na Universidade do Distrito Christofoletti (1985) argumentou que
Federal (em 1935, atual Universidade Federal objetivando estudar a distribuição dos
do Rio de Janeiro – UFRJ) (SOUZA NETO, fenômenos na superfície da Terra, a Geografia
2005; MACHADO, 2000). Atualmente Geral analisava cada categoria de fenômenos
existem no Brasil 50 cursos de pós-graduação de maneira autônoma. Essa segmentação
em Geografia reconhecidos pelo Ministério da resultou na Geografia sistemática ou tópica e na
Educação, o que demonstra a sua importância subdivisão da Geografia em diversas disciplinas
no âmbito científico nacional. (geomorfologia, hidrologia, climatologia,
biogeografia, geografia da população,
Sistematização da Geografia (Física econômica, urbana, industrial, entre outras).
e Humana) A segmentação da Geografia nas
mais diversas correntes do pensamento
De maneira geral, os autores que geográfico e a falta de unidade em termos
escrevem sobre a história da Geografia de objeto e paradigma é uma questão
concordam que Humbodt e Ritter são os pais que ainda não está resolvida. Por outro
da Geografia. Em relação ao método, objeto lado, corroborando com Pitman (2005),
e à definição ainda não existe consenso, pois, estas questões são inerentes da própria
conforme Serra (1985), o que é Geografia está Geografia e devem ser resolvidas dentro
atrelado à corrente que faz a definição, segundo dela. Assim, o presente trabalho não tem
uma própria escala de valores, variando o por objetivo determinar o que a Geografia
objeto, fontes de conhecimento, campos de é ou irá ser, mas demonstrar o papel do
atuação e formas de manifestação. Os debates geógrafo (licenciado ou bacharel) frente
relativos a essa temática são contínuos e aos desastres naturais, independente de
sempre reabertos, sem chegar a uma conclusão ser físico ou humano, credenciado ou não
definitiva (CHRISTOFOLETTI, 1985). ao Conselho Regional de Engenharia,
Autores como Christofoletti (1985), Andrade Arquitetura, e Agronomia – CREA.
(1987), Moreira (1987), Castro et al. (1995),
Moraes (2002, 2007) demonstraram as O papel do geógrafo e os desastres
dicotomias e complexidades geográficas ou naturais
as muitas Geografias e correntes geográficas
que existiram ao longo de sua própria história. O conjunto de ações destinadas à
Contudo, destaca-se uma destas dicotomias prevenção e mitigação dos desastres pode

156 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.77
ser denominado de Ciclo de Gerenciamento (GREGORY, 1992), ou seja, no estudo
de Desastres Naturais (RAFAELLI NETO, de desastres as Geografias encontram-se e
2000). Este ciclo é composto por três etapas trabalham em conjunto.
a serem implementadas: pré-evento, evento Herbert e Matthews (2004) elencam
e pós-evento (Tabela 1). Na prática, existem três tradições geográficas: a cartográfica,
ações que são específicas de cada etapa e a do trabalho de campo e a holística. A
outras que são comuns a todas as etapas. tradição cartográfica enfatiza o registro,
Kobiyama et al. (2006) exemplificaram a representação e a interpretação dos
cada uma das práticas em suas respectivas fenômenos da superfície. A tradição do
etapas. Estas práticas passam desde ações trabalho de campo reflete a integração
individuais como o auxílio aos vizinhos, ter do geógrafo com a sua fonte primária de
conhecimento sobre o mapeamento de risco dados, sejam quantitativos ou qualitativos,
de seu município até ações governamentais, e a formulação de teorias com base nas
como implementação de sistemas de alerta, observações de campo. A tradição holística
mapeamento e fiscalização das áreas de risco, permite entender a totalidade da superfície
levantamento de danos durante eventos, da Terra. Estas tradições materializam-se
entre outros. em métodos e técnicas de mapeamento,
Um geógrafo (bacharel ou licenciado) elaboração de banco de dados, inventário de
quando se forma, hipoteticamente, deve características sócio-ambientais e podem ser
possuir uma base teórico/metodológica atualmente aplicadas no estudo dos desastres,
tanto da geografia física quanto da humana, ou seja, na identificação do risco, do perigo e
mesmo que ao longo de sua vida acadêmica da vulnerabilidade.
Tabela 1. Etapas fundamentais na prevenção e mitigação de desastres naturais

Etapa Descrição
Antes de ocorrer os desastres são realizadas atividades e ações
Pré-Evento de prevenção para reduzir os possíveis prejuízos.
Durante e logo após o evento, são realizadas ações
Evento emergências até o restabelecimento dos serviços básicos.
Após os desastres atua-se na restauração, reconstrução e
Pós-Evento compensação dos prejuízos.
Fonte: Modificado de Kobiyama et al. (2006)

demonstre afinidade por uma ou outra A vulnerabilidade pode ser definida


área. Como um desastre é resultado de como as características socioeconômicas
fatores ambientais (geografia física) e e/ou estruturais que em conjunto com
sociais (geografia humana), o geógrafo, por os atributos do perigo natural ditarão os
abranger em seu currículo estas duas áreas, danos e prejuízos de um desastre. Existem
está plenamente habilitado para trabalhar diversos tipos de vulnerabilidade, como
no seu gerenciamento. Além disso, a partir social, física, ambiental, econômica, cultural
da década de 60 as pesquisas sobre os acasos (AYSAN, 1993; ALEXANDER, 1997;
ambientais facilitaram o estreitamento de HILL; CUTTER, 2001). Na prática, há
laços entre a Geografia Física e a Humana inúmeros tipos e definições de vulnerabilidade

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 157

Apostila Pag.78
explicadas pelos seus aspectos específicos que pode subsidiar a implementação de medidas
dependem do tipo de estudo, da análise estruturais, bem como verificar a influência
e resultado requerido, do tipo de perigo das alterações antrópicas sobre os processos
(fenômeno natural), da escala temporal físicos (ALEXANDER, 2004).
e espacial e das especificidades do local O avanço do conhecimento relacionado
de estudo (BARROCA et al., 2006). aos processos físicos vem contribuindo para
Goerl et al. (2012) demonstraram que uma mudança de postura relacionada às
apesar das inúmeras definições e tipos de medidas estruturais. Os geógrafos físicos
vulnerabilidades, a maior parte dos estudos contribuíram para o melhor entendimento
utiliza indicadores socioeconômicos como dos processos hidrológicos e geomorfológicos
renda, PIB, escolaridade, idade, gênero, e sua significância ecológica, o que ocasionou
etnia, taxa de pobreza para estimá-la. a queda da popularidade das obras de
Assim, utilizam-se dados obtidos por meio engenharia (MUSTAFA, 2009). Atualmente
de questionários e bancos de dados oficiais há a discussão sobre os efeitos das barragens
como o Censo, pois a vulnerabilidade de uma na quantidade de sedimentos a jusante da
comunidade geralmente é determinada por mesma e seu efeito no equilíbrio dinâmico
atributos sociais, econômicos e demográficos. do sistema fluvial, o que tem levantando
A análise do perigo natural trata das questionamentos e iniciativas para a sua
características físicas do fenômeno, e possui retirada, mesmo as elaboradas para contenção
uma forte ligação com a geografia física, pois de cheias (LIGON et al., 1995; KONDOLF,
a mesma aborda disciplinas como hidrologia, 1997; POFF; HART, 2002)
pedologia, geomorfologia, climatologia Po r m e i o d e i n d i c ad o re s
e biogeografia. Frequência, magnitude, socioambientais e características físicas
intensidade e duração são características do fenômeno, a vulnerabilidade e o perigo
atribuídas aos perigos naturais que estão podem ser estimados e espacializados,
diretamente relacionadas com os danos. principalmente através de mapas. A
Além disso, características específicas de cada elaboração de mapas percorre toda a história
fenômeno como altura, velocidade, presença geográfica e é uma das tradições mais
de detritos (inundação), volume, tipo de importantes e enfatiza a interface entre as
sedimento e alcance (escorregamentos), áreas física e humana (VINCENT; WHITE,
velocidade dos ventos (furacão e tornados), 2004) sendo de fundamental importância
déficit hídrico e duração (seca e estiagem) para o gerenciamento dos desastres. Por meio
são utilizadas para elaborar índices de de mapas de risco, perigo e vulnerabilidade, as
perigo (STEPHENSON, 2002, SAHA et políticas públicas de ordenamento territorial,
al., 2002; GOERL;KOBIYAMA, 2005; obras de engenharia, ações de prevenção e
LEE; PRADHAN, 2007; GOERL et al., mitigação podem ser implementadas. Por
2012). Desta maneira, a geografia física pode exemplo, utilizando dados socioeconômicos
contribuir na temática dos desastres com do censo (Figura 5a) para determinar a
base: a) entendimento dos processos físicos; vulnerabilidade (Figura 5b) e informações
b) monitoramento dos processos; c) predição históricas (registros) das inundações (cota
da evolução dos processos físicos a longo e máxima da cheia), Goerl et al. (2012)
médio prazo. Além disso, esta análise física elaboraram um mapa de perigo (Figura 5c)

158 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.79
Figura 5. Espacialização de parâmetros de análise de risco a) dados socioeconômicos, b)
vulnerabilidade, c) perigo e d) risco

e posteriormente de risco (Figura 5d) do avanços tecnológicos, a qualidade dos dados


perímetro urbano de Rio Negrinho (SC) esta relacionada à outra tradição geográfica,
adotando como unidade territorial o setor que é o trabalho de campo (STODDART;
censitário. ADAMS, 2004).
Para elaboração destes mapas ou A coleta de dados pré- e pós-
espacialização, um inventário ou banco de evento é de fundamental importância no
dados é necessário. Esta tradição geográfica gerenciamento dos desastres. Por meio de
é proveniente desde as primeiras expedições questionários com moradores, Marcelino
e viagens exploratórias/colonialistas et al. (2004; 2005) elaboraram um mapa de
onde era importante o levantamento dos danos provocados pela passagem do Furacão
recursos e das características fisiografias Catarina no sul do estado de Santa Catarina.
das novas terras descobertas. Atualmente, A avaliação pós-desastre subsidia a alocação
a coleta e armazenamento/gerenciamento de recursos bem como determina os danos
de dados ficaram mais dinâmicos e sofrido pela comunidade.
precisos, principalmente com o auxilio Quarantelli (2001) demonstrou a
das geotecnologias. Contudo, apesar dos disparidade entre informações coletadas em

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 159

Apostila Pag.80
campo. Citando como exemplo um evento inferir que o número de desastres aumentará
de inundação e fluxo de detritos ocorrido na potencialmente em função do crescimento
Venezuela em 1999, este autor argumentou populacional. A partir desta projeção, alguns
que alguns relatórios do Banco Mundial cenários podem ser elaborados. Caso ocorra
reportaram 50.000 mortos para este evento, uma redução de investimentos em termos
já outros relatórios da mesma instituição de prevenção (C1) o número de desastres
reportaram 5.000 mortos. A Defesa Civil poderá aumentar consideravelmente. Caso
nacional da Venezuela estimou em 5.800 o haja investimentos em prevenção seguindo
número de vitimas, já as autoridades locais o atual modelo, ou seja, enfatizando ações
estimaram entre 20.000 a 25.000 enquanto de reconstrução e mapeamentos sem a
pesquisadores que realizaram trabalhos de conciliação com as políticas públicas e de
campo estimaram em 3.500 mortos, que pro- ordenamento territorial, os desastres tendem
vavelmente foi o mais próximo da realidade. a aumentar de maneira suave (C2). O melhor
Esta disparidade de informações demonstra cenário possível é a junção das ações de
a importância dos trabalhos de campo e dos prevenção como mapeamentos de risco,
levantamentos de danos pós-desastre tendo obras de engenharia e educação ambiental
por base critérios científicos, ou seja, tradição que subsidiem políticas públicas e que sejam
e método indispensável da Geografia. embasadas em pesquisas acadêmicas (C3).
Por meio da coleta de dados em cam- Dessa maneira, há uma probabilidade que
po e posterior cruzamento de informações, os desastres se estabilizem com posterior
é possível elaborar análises dinâmicas e pro- redução de sua ocorrência.
jeções evocando conhecimentos fundamen- Apesar da descrição ser histórica
tados pela Geografia Econômica, Urbana e na Geografia, a quantificação surge, na
da População. Através de comparações da atualidade, como extremamente necessária
evolução das características de bairros, mu- nos estudos de desastres. Como os desastres
nicípios ou até mesmos de países é possível estão intrinsecamente ligados ao crescimento
analisar temporal e espacialmente a dinâ- populacional, deve-se entender o quanto e
mica socioeconômica de um determinando como a população irá crescer para que ações
território, avaliando conexões, redes e fluxos de prevenção sejam tomadas de maneira
que auxiliam a estabelecer condicionantes correta. Assim, é de fundamental importância
históricos ou atuais que determinarão uma que a Geografia Humana responda questões
maior ou menor vulnerabilidade e conse- ligadas à dinâmica populacional com suas
quentemente o risco. características demográficas, sociais e
Como demonstrado anteriormente, econômicas para que cenários futuros sejam
umas das prováveis causas do aumento do propostos.
número de desastres naturais é o crescimento Dessa maneira, é preciso que a
populacional. Nota-se que há uma forte Geografia produza dados que possam ser
correlação (R²=0,95) entre o total anual utilizados pelos tomadores de decisão.
de desastres registrados pelo EM-DAT a Na esfera acadêmica, o pesquisador tem
e população mundial estimada pela ONU liberdade em escolher o melhor método e
entre 1950 e 2011 (Figura 6). Por meio técnica para discursar sobre o seu objeto,
desta correlação é possível extrapolar (C0) e mas ao se abordar os desastres naturais, o

160 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.81
1800

1600
Projeção (Tendência Atual)
Observado
1400
Ocorrência de Desastres

1200

1000

800

600
1950 - 2011 2012 - 2100

400

200 y = 9E-29x3.126
R² = 0.952
0
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
População Mundial (Bilhões)

Figura 6. Correlação entre ocorrência de desastres e população mundial e cenários futuros

pesquisador precisa dar respostas concretas Geografia Humana. Contudo, para este autor,
que permitam a comparabilidade, análises mesmo que a Geografia tenha produzido
temporais e espaciais e que demonstrem o conhecimento nestas áreas, geralmente
problema de uma maneira objetiva, ou seja, estes estudos são qualitativos e em virtude
dados quantitativos. disso não são incorporados nos modelos de
Segundo Pitman (2005), a falta mudança climática.
de disciplinas exatas nos currículos da Outro argumento de Pitman (2005)
Geografia prejudica a sua comunicação com é que por mais que a Geografia atue em
as demais ciências. Citando, como exemplo, diversas áreas que podem contribuir com as
a questão das mudanças climáticas, este demais Ciências da Terra, a disseminação
autor argumenta que a falta de disciplinas dos resultados das pesquisas ainda é feita
como cálculo, física e química faz com que em periódicos cujo principal leitor é o
as Ciências da Terra deixem de buscar o geógrafo, ou ainda, geógrafos que atuam em
conhecimento da Geografia. Por meio da áreas específicas buscam revistas específicas
observação e espacialização de parâmetros para apresentarem seus resultados. Esta
chaves como tipo de solo e vegetação, dados tendência é demonstrada por Agnew e
hidrológicos, datações quaternárias e análises Spencer (1999) ao analisarem as publicações
climáticas, a Geografia Física pode contribuir do “Transactions of the Institute of British
para a redução das incertezas dos cenários de Geographers” que deveriam refletir as
mudanças climáticas. Como estes cenários atividades e pesquisas realizadas por todos
podem ter relação com a emissão de CO2, os geógrafos, especialmente na Inglaterra,
a quantificação desta emissão necessita de demonstraram que 90% dos artigos
projeções populacionais, econômicas, de uso submetidos são predominantes da Geografia
da terra, mudanças tecnológicas e de padrão Humana. Fergunson (2003) explica que
de consumo, que são foco do estudo da geógrafos físicos têm buscado periódicos

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 161

Apostila Pag.82
nas áreas de hidrologia e geomorfologia pelo menos danos; 7) prestar assistência para as
fato de preferirem que suas pesquisas sejam vitimas das inundações; e 8) seguro contra
debatidas em uma esfera interdisciplinar. os prejuízos.
O debate acima demonstra que a relação Durante 15 anos, White coordenou
entre Geografia Física e Humana ainda é estudos sobre sua proposta, iniciando com a
conturbada, porém para alguns autores, como identificação dos usos das áreas inundáveis,
Thrift (2002), a Geografia está entrando em analisando medidas pouco utilizadas contra
um momento de reavivamento, cujas técnicas as inundações e observando a percepção e
têm sido recicladas e incorporadas a novos escolha das ações das pessoas frente a este
conhecimentos. Contudo, nenhum dos problema. Seus estudos serviram de base
autores acima (AGNEW; SPENCER, 1999; para o Programa Nacional Unificado de
THRIF T, 2002; FERGUNSON, 2003; Gerenciamento da Planície de Inundação
PITMAN, 2005) cita os desastres naturais que, além das ações propostas por White
como área de contribuição da Geografia, (1945), incluiu uma série de medidas como
cujo maior expoente foi Gilbert White. mapeamento das planícies de inundação,
Em 1945, White publica Human restrição de alturas, obrigatoriedade de
Adjustment to Floods: A Geographical Approach seguros e zoneamento dos usos da terra.
to the Flood Problem in the United State, Apesar das suas pesquisas serem pouco
que é reconhecido como um dos estudos difundidas, desde White, os geógrafos têm se
geográficos mais influentes nos EUA. dedicado à temática dos desastres. Enquanto
White procurou demonstrar um novo que nos Estados Unidos, White demonstrou
posicionamento às políticas de controle de que apenas as medidas estruturais não
inundação e de redução de danos que eram promovem a solução ideal para o problema,
amplamente baseadas em medidas estruturais no Brasil estas medidas ainda são as mais
como diques, barragens e retificação de populares, o que provavelmente coloca
canais. White argumentava que os danos o Engenheiro Civil como profissional
relacionados às inundações eram um mais requisitado para “resolver” problemas
problema inerente às ações da sociedade, ou relacionados aos desastres. Contudo, as
seja, à crescente ocupação desordenada da medidas não estruturais como mapeamento e
planície de inundação (KATES, 2011). sistema de alertas possuem grande vantagem
Com base nesta premissa, White na relação custo-benefício, o que torna o
(1945) propôs oito ações como medidas de geógrafo amplamente habilitado para atuar
prevenção: 1) elevação dos terrenos acima do na prevenção de desastres.
provável nível das inundações; 2) gestão das Embora todas as medidas, estruturais
terras de montante para atenuar o pico de e não estruturais, possuam sua importância,
cheia; 3) proteger a planície de inundação com uma das mais importantes é a conscienti-
diques, melhorias no canal e reservatórios; 4) zação e/ou educação ambiental, papel fun-
elaborar medidas emergenciais para evacuar damental do licenciado em Geografia. Um
pessoas e propriedades; 5) construções mapa de risco ou sistema de alerta possui
deveriam ser fisicamente menos expostas sua importância para os planejadores, mas
(vulneráveis) às inundações; 6) utilizar áreas caso a população não saiba interpretá-lo e
inundáveis para usos alternativos que sofram efetivamente utiliza-lo, o mesmo se tornará

162 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.83
obsoleto ou desacreditado. Um exemplo de mapa de risco sem o devido esclarecimento
um mapa de risco ineficaz foi o da tragédia à população e aos lideres comunitários
ocasionado pela erupção do vulcão Nevado tornou-o uma informação sem muita
del Ruiz, na Colômbia. Hall (1990) fez um utilidade. Mesmo com monitoramento e
relato cronológico desta tragédia desde o ini- mapeamento, a tragédia não pode ser evitada,
cio das atividades vulcânicas (Dez. de 1984) devido à falta de comunicação e ensinamento.
até o dia da erupção (15 Nov. 1985) que Assim, o treinamento da comunidade
causou a morte de 23.000 habitantes, 67% deve ser sistemático e continuo, para que a
da população total do município de Armero mesma esteja preparada para a ocorrência
e mais 1.000 pessoas em localidades vizinhas. de qualquer evento súbito, ou seja, deve ser
Hall foi um dos pesquisadores que realizado desde as séries escolares iniciais.
forneceu diversos pareceres sobre as atividades Um exemplo do quão importante
vulcânicas e sobre os procedimentos de são as ações de conscientização e educação
emergência. Por meio de suas observações in ambiental ocorreu durante o tsunami que
loco, ele chegou as seguintes conclusões. O atingiu o Sul e Sudeste da Ásia em 2004. Tilly
vulcão Nevado Del Ruiz era cientificamente Smith, que na época tinha apenas 10 anos,
conhecido, pois duas teses de doutorado ao observar em uma praia da Tailândia o mar
e diversos relatórios sobre as atividades recuando avisou seus pais que este fenômeno
geotérmicas foram publicados antes do início era um dos sinais da vinda de um tsunami.
das erupções. O ceticismo era generalizado Tilly aprendeu sobre tsunamis durante as
dentro e fora do governo, não apenas sobre a aulas de Geografia e “emitiu” o alerta aos
possibilidade de uma catástrofe, mas também seus pais salvando cerca de 100 turistas.
sobre o que o governo estava fazendo a Tilly é da Inglaterra, onde a ocorrência de
respeito. A maneira como a mídia reportava tsunamis não é comum, o que não impediu
os acontecimentos influenciava a opinião que o seu professor ensinasse sobre o mesmo.
popular, pois, muitas vezes, opiniões de Ainda que um fenômeno não seja recorrente
celebridades locais divergiam das elaboradas em determinados locais, todos devem ter
pelos cientistas, confundido a população. A conhecimento sobre as suas características
publicação do mapa de risco cerca de um mês para poder tomar atitudes concretas quando o
antes da tragédia encontrou grande oposição mesmo ocorrer. Isto demonstra à importância
do interesse econômico, pois toda a área de de se abordar a temática dos desastres
Armero foi considerada como local de alto naturais no ensino fundamental e médio.
risco. A distribuição limitada e o curto espaço Os professores de Geografia podem exercer
de tempo ente a publicação do mapa de risco um papel fundamental na disseminação do
e a tragédia impediu as autoridades locais de se conhecimento sobre fenômenos extremos,
organizarem efetivamente. Hall (1990) conclui para que tragédias como a de Armero sejam
que a falta de preparo das comunidades que evitadas.
possivelmente seriam afetadas foi a maior falha, Cada geógrafo quer seja bacharel ou
pois grande parte das defesas civis não estavam licenciado quer seja humano ou físico, pode
aptas para lidar com o desastre. exercer papel fundamental na prevenção
O que fica evidente na descrição dos desastres naturais. Como demonstrado
de Hall (1990) é que a publicação de um anteriormente, a ocorrência destes desastres

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 163

Apostila Pag.84
tende a aumentar com o crescimento naturais (Tabela 2). O geógrafo pode, de fato,
populacional. Isto evidencia que as medidas atuar diretamente em todas as medidas não
de prevenção ainda precisam ser mais estruturais e indiretamente colaborar com
eficientes. A Geografia por sua história e as estruturais.
seu caráter holístico possui significativa Assim, é preciso que haja uma auto
contribuição a dar. As iniciativas ainda são valorização da Geografia para que a mesma
incipientes e geralmente estão no âmbito de seja também valorizada pelas outras ciências e
dissertações e teses. Os desastres precisam ser seja vista como peça fundamental nas ações de
abordados dentro dos currículos de graduação redução de desastre. Um recente exemplo da
de forma mais enfática para que o profissional importância do geógrafo pode ser observado
ou pesquisador formado possa integrar no concurso realizado no Brasil pelo Centro
equipes multidisciplinares de gerenciamento Nacional de Monitoramento e Alerta de
de risco, participar da elaboração de planos de Desastres Naturais – CEMADEN, cujo
prevenção, mapeamentos de risco e sistemas edital abriu diversas vagas para geógrafos. Isto
de alerta bem como repassar informações demonstra que de certa maneira a sociedade
corretas em sala de aula. Assim, diversas reconhece a importância da Geografia na
são as atividades onde a Geografia pode temática dos desastres, necessitando ela dar
contribuir no gerenciamento dos desastres a si mesmo o devido valor.

Tabela 2. Papel do geógrafo no gerenciamento de desastres naturais


Fase Atividades
mapeamento de perigo, vulnerabilidade e risco;
implementação de Sistema de Alerta;
monitoramento;
simulação de Cenários (modelagem);
banco de dados de desastres;
banco de dados de variáveis ambientais e socioeconômicas que subsidiem o
Pré-evento mapeamento de risco;
fiscalização de áreas de perigo e risco;
pesquisa científica para subsidiar medidas estruturais e não estruturais;
integração de equipes multidisciplinares de análise de risco;
educação Ambiental;
educação escolar sobre ações de prevenção;
elaboração de materiais didáticos e informativos.
divulgar informações corretas sobre o evento;
realizar levantamento preliminar de danos;
Evento participar de ações emergenciais;
monitoramento in loco da evolução do desastre quando necessário.
realizar levantamento oficial de danos;
identificar as características das pessoas atingidas;
identificar os condicionantes que deflagraram o desastre.
analisar dados ambientais (chuva, vazão, etc);
Pós-evento mapear a área atingida;
revisar o plano diretor da área atingida;
revisar os mapas de perigo, vulnerabilidade e risco e atualizá-los se
necessário;
colaborar com projetos de reconstrução;
implementar novas redes de monitoramento e alerta se necessário.

164 Ambiência - Revista do Setor de Ciências Agrárias e Ambientais V. 9 N. 1 Jan./Abr. 2013

Apostila Pag.85
Por fim, em abril de 2012 foi aprovada a Embora de maneira geral a sociedade prefira
Lei 12.608/12 que instituiu a Política Nacional as medidas estruturais, a não estruturais tem
de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, dispõe ganhado popularidade principalmente pela sua
sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa relação custo-benefício.
Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Ao longo de sua história, a Geografia
Proteção e Defesa Civil – CONPDEC, além desenvolveu tradições e métodos que se
de autorizar a criação de sistema de informa- traduzem em mapeamento, trabalho de
ções e monitoramento de desastres. Esta Lei campo, armazenamento e análise de dados,
indica entre diversas diretrizes: a) priorizar as registros históricos e análises holísticas.
ações preventivas relacionadas à minimização Estes métodos e tradições podem também
de desastres; b) incorporar a redução do risco ser aplicados no mapeamento de áreas de
nos elementos da gestão territorial e do plane- risco, no estudo de processos físicos que
jamento das políticas setoriais; c) identificar e se tornarão perigos naturais bem como na
avaliar o perigo, a vulnerabilidade e o risco; d) análise de dados socioeconômicos pelos quais
monitorar os eventos meteorológicos, hidroló- a vulnerabilidade poderá ser estimada. Assim,
gicos, geológicos e demais eventos causadores a Geografia possui todas as ferramentas para
dos desastres; e) estimular o ordenamento da atuar na temática dos desastres. Além disso,
ocupação do solo urbano e rural; f ) orientar o licenciado em Geografia possuiu papel
as comunidades a adotar comportamentos essencial na disseminação do conhecimento
adequados de prevenção; g) identificar as ba- sobre eventos extremos, ações de prevenção
cias hidrográficas susceptíveis à ocorrência de bem como na formação de cidadãos críticos
desastres; e h) identificar e mapear as áreas de que saibam cobrar dos órgãos responsáveis
risco. Observa-se que as principais diretrizes medidas que contribuam com a redução dos
propostas por esta Lei podem ser diretamente desastres e agir durante a ocorrência dos
executadas pelos geógrafos. Dessa maneira, fica mesmos, a exemplo de Tilly Smith.
evidenciada a demanda por este profissional, O fortalecimento dos currículos e
cabendo ao geógrafo atendê-la de maneira valorização da classe geográfica pode ser um
satisfatória e competente. primeiro passo para que o geógrafo venha
a desempenhar um papel fundamental na
Considerações Finais redução dos desastres naturais.

Os desastres naturais são por definição


fenômenos essencialmente geográficos
Agradecimentos
(Hewitt, 1997). Pela natureza do seu
mecanismo, ou seja, por envolver fatores Os autores agradecem ao Professor Dr.
humanos e ambientais, os mesmos devem Leandro Redin Vestena, do Departamento
também ser objeto da Geografia. Isto implica de Geografia – UNICENTRO, Guarapuava
que a Geografia possui o embasamento (PR), pelo convite para palestrar na XX
teórico e metodológico para auxiliar no Semana de Geografia e III Seminário da Pós-
gerenciamento destes desastres. Graduação em Geografia da UNICENTRO,
Para reduzir os danos materiais e sobre o tema Geografia e Desastres Naturais
culturais e também a perda da vida humana que resultou no presente trabalho. O primeiro
associados aos desastres naturais, existem dois autor agradece ao Programa REUNI/UFPR
tipos de medidas: as estruturais e não estruturais. pela bolsa de doutorado.

GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M. 165

Apostila Pag.86
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Apostila Pag.93
Relação entre desastres naturais e floresta

RELAÇÃO ENTRE DESASTRES NATURAIS E FLORESTA

Relation between natural disasters and forest

Masato Kobiyama
Dep. de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC - Bolsista CNPq
kobiyama@ens.ufsc.br

Gean Paulo Michel


Mestrando em Engenharia Ambiental, UFSC, Bolsista CNPq
geanpmichel@gmail.com

Roberto Fabris Goerl


Doutorando em Geografia, UFPR, Bolsista REUNI
Roberto.fabris@gmail.com

RESUMO
Os desastres naturais são sérios distúrbios desencadeados por perigos naturais
que causam perdas socioambientais e podem ser classificados em diversos
grupos (geofísico, hidrológicos, meteorológicos, etc.) e tipos (terremoto, tsunami,
escorregamento, inundação, incêndio, etc.). Os registros destes desastres
demonstram que os hidrológicos ocorrem com maior frequência no mundo. Os
desastres podem ocorrer em qualquer lugar do planeta, ou seja, não apenas em
ambientes urbanizados, mas também em ecossistemas florestais. Os principais
componentes deste ecossistema são árvores (copa + tronco + raiz), arbustos,
faunas, solos florestais, entre outros. Dependendo dos componentes de uma
floresta e também das condições destes componentes, a mesma pode exercer
efeitos positivos e/ou negativos para cada tipo de desastre. Para inserir a floresta
como um elemento primordial no gerenciamento de desastres naturais, é
necessário compreender melhor as suas funções. Uma das ações relevantes e
urgentes para atender esta necessidade deve ser a implementação de rede de
bacias-escola, pois, por meio dela, a comunidade aumentará o conhecimento
sobre hidrologia florestal que por sua vez procura entender quais as relações
entre a floresta e a água que contribuem para desencadear os desastres
hidrológicos.

Palavras-chave: bacia-escola, hidrologia florestal, desastres hidrológicos

ABSTRACT
Natural disasters are serious disturbances triggered by natural hazards that cause
social and environmental losses. They are classified into several groups
(geophysical, hydrological, meteorological, etc.) and types (earthquake, tsunami,
landslide, flood, fire, etc.) The statistical data demonstrate that the hydrological

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Apostila Pag.94
Relação entre desastres naturais e floresta

disasters occur more frequently in the world. In places where these disasters
occur, there are forests that consist in trees (canopy + trunk + root), shrubs, fauna,
forest soils, etc. Depending upon the components of the forest and also upon the
condition of these components, the forest exerts positive and/or negative effects
for each type of disaster. To take advantage of the forest in the natural disasters
management, it is necessary to better understand the forest functions. One of the
important and urgent actions to meet this need can be the implementation of
school catchment network for each region, with which the local community will
increase the knowledge of forest hydrology that researches the relationship
between forest and water which triggers the hydrological disasters.

Keywords: School catchment, forest hydrology, hydrological disasters

INTRODUÇÃO

Os desastres naturais vêm sendo frequentemente noticiados na mídia, e a


preocupação da sociedade em relação a eles está tornando-se cada vez maior.
Usando os dados disponíveis no Emergency Disaster Data Base – EM-DAT do
Centre for Research on the Epidemiology of Disasters – CRED, órgão parceiro da
Organização Mundial da Saúde, pode-se elaborar a distribuição temporal dos
desastres naturais do mundo no período de 1900 a 2011 (Figura 1). Observa-se
claramente o aumento considerável dos desastres naturais a partir da década de
50 e dos prejuízos econômicos a partir da década de 70.

600 0

50
500 Número de Desastres Registrados
Prejuízos Economicos
Prejuízos Economicos ( US$ Bilhões)

100
Ocorrencia de Desastres

400
150

300 200

250
200

300

100
350

0 400
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011

Figura 1 – Número de desastres naturais e seus prejuízos registrados entre 1900 e 2011.

REVISTA GEONORTE, V.1, N.6, p.17 – 48, 2012. 18

Apostila Pag.95
Relação entre desastres naturais e floresta

Em virtude deste aumento, a Organização das Nações Unidas – ONU criou


a UN Disaster Relief Organization – UNDRO. Este fato desencadeou a maior
iniciativa científica internacional até então desenvolvida para criar estratégias
mitigadoras para todo o globo. A US National Academy of Sciences – NAS
apresentou a iniciativa à ONU em dezembro de 1987. A ONU então criou junto
com a UNDRO, a Secretaria para a International Decade for Natural Disaster
Reduction – IDNDR em abril de 1989, em Genebra, Suíça (ROSENFELD, 1994).
As atividades da IDNDR geraram grande sucesso durante o seu período de
execução (1990 - 1999) e alguns resultados foram relatados por Alcántara-Ayala
(2002). Após o término da década de redução de desastres, a ONU manteve a
partir do ano 1999 a Intenational Strategy for Disaster Reduction – UNISDR que
existe ainda hoje.
Frequentemente observa-se a presença da floresta nos locais onde os
desastres naturais ocorrem. Justamente por isso, existe uma perspectiva,
expectativa, esperança, desejo, mito, ou qualquer sentimento humano no qual a
floresta pode reduzir os desastres naturais. Entretanto, este assunto deve ser
cientificamente analisado, avaliado, e discutido. No Brasil, existem poucos
trabalhos que tratam esta questão, como os de Coelho Netto (2005) e Michel et
al. (2012). Contudo, o reconhecimento dos papéis que a floresta exerce
possibilitará um uso e manejo adequado da mesma no contexto do
gerenciamento de desastres naturais. Assim, o objetivo do presente trabalho foi
avaliar os papeis da floresta na redução de desastres naturais, com ênfase em
desastres hidrológicos. Após a discussão sobre a relação entre desastres e
floresta, a implementação de rede de bacias-escola é proposta como uma
alternativa para redução de desastres.

1. CONCEITOS BÁSICOS
1.1. Desastres naturais

Desastre natural é definido como um sério distúrbio desencadeado por um


perigo natural que causa perdas materiais, humanas, econômicas e ambientais
excedentes à capacidade da comunidade afetada de enfrentar o perigo (UNDP,

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Apostila Pag.96
Relação entre desastres naturais e floresta

2004). Em Goerl et al. (2012) e Goerl e Kobiyama (2012), encontra-se a descrição


mais detalhada sobre os desastres naturais, sua classificação e conceitos
associados tais como vulnerabilidade, perigo, e risco.
Em 2008, o EM-DAT reclassificou os tipos de desastres em dois grandes
grupos: naturais e tecnológicos (SCHEUREN et al., 2008). Os naturais foram
divididos em seis sub-grupos: biológicos, geofísicos, climatológicos, hidrológicos,
meteorológicos e extraterrenos (meteoritos), e estes por sua vez em outros doze
subtipos. Esta nova classificação resultou de uma iniciativa entre os dois
principais bancos de dados de desastres, o CRED e Munich Reinsurance
Company – MunichRe, os quais decidiram adotar uma classificação em comum
para os seus respectivos bancos de dados (BELOW et al., 2009).
A principal mudança foi a separação dos movimentos de massa em dois
tipos: secos e úmidos. O primeiro está associado apenas aos eventos geofísicos
(terremotos) e o segundo aos condicionantes hidrológicos e meteorológicos.
Independente da origem, tais movimentos de massa são chamados de
escorregamentos. A UNISDR também adotou a nova classificação, visto que o
EM-DAT é o principal banco de dados utilizado pela ONU, como observado em
UNDP (2004). Além disso, houve mais uma atualização da classificação pelo
CRED, na qual não se encontra mais os desastres extraterrenos (GUHA-SAPIR et
al., 2012). Kobiyama et al. (2010a) mostraram que dentre todos os tipos de
desastres naturais, os desastres hidrológicos (inundações + escorregamentos)
são os que acarretam maiores problemas tanto no Brasil quanto no mundo.
Nota-se que inundações, escorregamentos, estiagens entre outros são
fenômenos naturais que ocorrem devido às características de determinadas
regiões do planeta (vegetação, clima, topografia, solo, etc). Estes fenômenos
podem ser considerados perigos naturais (natural hazards) quando ocorrem em
locais onde o ser humano se encontra, possuindo a probabilidade de provocar
danos materiais e humanos. Caso tais fenômenos causem danos, são tratados
como desastres naturais.
A Figura 2 mostra a relação entre os fenômenos (perigos) naturais, os
desastres naturais e a sociedade. Há três maneiras de reduzir os desastres: (I)
diminuir a ocorrência dos fenômenos; (II) afastar a sociedade das áreas onde

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Apostila Pag.97
Relação entre desastres naturais e floresta

ocorrem tais fenômenos; e (III) combinação dos casos I e II. Aqui, como exemplo,
cita-se a dinâmica das inundações. Para diminuir ocorrência das inundações a
sociedade pode construir uma barragem (caso I), um dique (caso II), reduzindo
assim à frequência de eventos de pequena e média magnitude ou permitindo a
ocupação de áreas propensas à inundação, respectivamente. Aparentemente, por
meio de obras hidráulicas, a sociedade está conseguindo realizar o caso III da
figura 2. Este método é denominado de medidas estruturais, as quais a
engenharia prefere exercer.

Figura 2 – Relação entre os fenômenos naturais (FN), os desastres naturais (DN) e a sociedade
(S).

Nessa circunstância, existem outras medidas como o uso da floresta para


redução de desastres. Fazendo o reflorestamento ou mantendo a floresta nas
encostas, a sociedade tenta regular a vazão do rio (caso I). Preservando a zona
riparia como área de preservação permanente (APP) ou reconstruindo a floresta
riparia, tenta-se impedir a ocupação e urbanização da área de inundação, ou seja,
área de perigo permanente (também APP, proposto por Kobiyama et al., 2010c)
(caso II). Assim, a sociedade pode utilizar a floresta para este tipo de medida.
Esta ação pode ser chamada de engenharia ecológica ou eco-engenharia ou bio-
engenharia, conforme Morgan e Rickson (2005).

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Relação entre desastres naturais e floresta

1.2. Florestas

As florestas surgiram no planeta há cerca de 350 milhões de anos, e


apresentaram seu maior volume entre 320 milhões e 299 milhões de anos atrás
durante o Período Carbonífero. O que atualmente entende-se por floresta é o
resultado (aparência atual) de sua própria evolução ao longo da história geológica
da Terra.
Embora existam diversas definições sobre floresta, uma definição lato sensu
pode ser a proposta por FAO (2005), onde a floresta é uma área que cobre mais
de 0,5 ha com árvores que por sua vez possuem altura maior que 5 m e cuja copa
cobre mais de 10% da área, ou árvores que por si só satisfaçam essas condições.
Entretanto, esta definição não inclui áreas que são predominantemente de uso
agrícola e/ou urbano.
Em relação aos recursos, as florestas são classificadas em dois tipos: os
materiais (ou biológicos) e os ambientais (Tabela 1). Os primeiros podem ser
aproveitados adequadamente quando as florestas estão inseridas no ciclo de
materiais e de energia de maneira harmônica. O segundo exerce sua função
somente quando as florestas ocupam e permanecem nas diferentes regiões do
planeta.

Tabela 1 – Florestas como recursos


Recursos materiais (biológicos) Recursos ambientais
Produção primária  Mitigação do clima
 Mitigação do regime hídrico
Papel  Purificação do ar
Celulose  Melhoria da qualidade da água
Fertilizantes  Conservação do solo
Remédios  Proteção contra movimentos de ar
Alimentos (vento, barulho), água (chuva, neve,
etc. tsunami) e solo + rocha
(escorregamento), calor (incêndio)
Produção de solo (pedogênese)  Recreação
 Saúde
 Estética
 Educação/cultura
 Bioindicador/história

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Apostila Pag.99
Relação entre desastres naturais e floresta

Ambos os recursos são importantes para a sociedade. Devido à pressão do


movimento ambiental tem se dado grande ênfase somente aos recursos
ambientais. Entretanto, sem duvida alguma, a sobrevivência da sociedade
depende totalmente do aproveitamento dos recursos materiais que a floresta
possui.
Enfocando somente a árvore e considerando que a mesma consiste no
sistema copa-tronco-raiz, Chang (2002) apresentou os papeis das árvores em
termo de funções biológicas e ambientais (Tabela 2).

Tabela 2 – Funções biológicas e ambientais dos componentes de árvores.


Componente Funções biológicas Funções ambientais
Copa  Fotossíntese  Fixação de carbono
 Transpiração  Interceptação de chuva e radiação
 Respiração  Valor estético
 Reprodução  Abrigos para pássaros e insetos
 Armazenamento alimentar  Barreira contra vento
 Condensação de serração
 Redução da velocidade da gota da
chuva
 Acumulação de neve
Tronco  Transporte de água e  Barreira ao vento, chuva
nutrientes  Bioindicador para paleoclima e
 Suporte à copa paleomovimento de massa
 Regeneração das plantas  Suporte mecânico e
 Transpiração abastecimento de nutrientes para
pregadores
Raiz  Absorção de água e  Reforçamento de solos
nutrientes  Aumento de permeabilidade
 Transporte de água e  Melhoria da estrutura do solo
nutrientes  Adição de matéria orgânica após
 Ancoramento de plantas morte
 Armazenamento de materiais  Redução da velocidade do
 Uso para regeneração escoamento superficial
 Respiração  Manutenção da umidade do solo
 Fixação de N (espécies
leguminosas)
(Modificado de CHANG, 2002)

Nota-se claramente que as árvores exercem importantes funções.


Entretanto, a árvore por si só não é a floresta, mas apenas um dos componentes

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Apostila Pag.100
Relação entre desastres naturais e floresta

da floresta. Pode-se dizer que a floresta é composta por árvores (copa (folha +
galho), tronco, e raiz), arbustos, matos, solos florestais, fauna (macro, meso, e
micro) e rochas. Neste aspecto, a floresta é também chamada de ecossistema
florestal. Aqui, deve-se enfatizar que a floresta não é somente um conjunto de
árvores. Cada componente de tal ecossistema exerce a sua função com maior ou
menor magnitude.
Considerando essas diferentes funções em diferentes componentes do
ecossistema florestal, Kobiyama (2000) resumidamente apresentou que as
funções das florestas são: (1) mitigação do clima (temperatura e umidade), (2)
mitigação do hidrograma (redução da enchente e recarga ao rio), (3) controle de
erosão, (4) melhoramento da qualidade da água no solo e no rio, (5) redução da
poluição atmosférica, (6) fornecimento de oxigênio (O2) e fixação do gás carbono
(CO2), (7) prevenção do vento e barulho, (8) amenidade, recreação e educação,
(9) produção de biomassa, remédios, alimentos, etc. (10) fornecimento de
energia, (11) indicação (testemunha) da história, entre outras. A principal
característica da floresta pode resultar da ocorrência simultânea de todas as suas
funções, mesmo que em maior ou menor grau. Por exemplo, uma barragem pode
funcionar para a mitigação do hidrograma muito melhor do que a floresta.
Entretanto, a barragem não fixa gás carbono nem produz remédios. Já a floresta
pode exercer ambas as funções. Além disso, como medidas estruturais, a floresta
pode apresentar longevidade maior do que aquelas construídas pela sociedade,
pois há espécies de árvores que vivem mais de 1000 anos. Assim, este tipo de
árvore com vida longa faz também parte da historia mundial.
Como as florestas possuem diversas funções ambientais, o governo
taiwanês, por exemplo, classifica oficialmente as florestas de proteção em:
conservação de mananciais, controle de erosão, estabilidade de areias,
estética/paisagem, quebra vento, proteção contra maré, outros (CHENG et al.,
2002). Outro exemplo ocorre no Japão, onde o governo protege por meios legais
17 diferentes tipos de florestas de proteção (Tabela 3) (TADAKI, 1992).

REVISTA GEONORTE, V.1, N.6, p.17 – 48, 2012. 24

Apostila Pag.101
Relação entre desastres naturais e floresta

Tabela 3 – Tipos de floresta de proteção no Japão e suas respectivas áreas


Tipo Área (dados em 1992)
(x 1000 ha) (%)
Conservação de mananciais 6052 68,3
Controle de erosão 1945 22,0
Estabilidade de encostas 46 0,5
Estabilidade de areias 16 0,2
Quebra vento 55 0,6
Proteção contra inundação 1 0,0
Proteção contra maré 13 0,2
Proteção contra estiagem 42 0,5
Proteção contra nevasca - -
Proteção contra neblina 51 0,6
Proteção contra avalanche 19 0,2
Proteção contra queda de blocos 2 0,0
Proteção contra incêndio 0 0,0
Manutenção do ecossistema fluvial para 28 0,3
peixes
Marcação para navegação 1 0,0
Preservação do ambiente saudável 561 6,3
Estética/paisagem 27 0,3
Total 8860 100,0
Taxa sobre área total coberta por florestas no Japão 33,0
Taxa sobre área territorial total do Japão 22,0
(Modificado de TADAKI, 1992)

2. PAPEL DE FLORESTA NA OCORRÊNCIA DE DESASTRES NATURAIS.

A Tabela 4 demonstra os efeitos da floresta sobre diferentes tipos de


desastres naturais. Foi adotada a mesma classificação de desastres proposta
pelo EM-DAT. Os nomes do grupo, principal tipo, subtipo, e subdivisão na Tabela
4 são idênticos aos adotados pelo CRED, os quais se encontram em Below et al.
(2009). Apesar de haverem 6 diferentes grupos de desastres conforme a
classificação do CRED, a Tabela 4 aborda apenas 4 grupos, ignorando os
extraterrenos e biológicos. Na última coluna da Tabela 4, no item efeitos de
floresta, se encontram os sinais ++ (muito positivo), + (positivo), – (negativo) e – –
(muito negativo). Quando não há efeito, estes sinais estão ausentes.
Nota-se que para uma determinada subdivisão de desastres naturais, a
floresta possui efeitos muito positivos e também muito negativos. Estes efeitos
opostos podem ser claramente explicados com ocorrência de fluxo de escombros

REVISTA GEONORTE, V.1, N.6, p.17 – 48, 2012. 25

Apostila Pag.102
Relação entre desastres naturais e floresta

(debris flow) que faz parte dos desastres hidrológicos. Enquanto a floresta possui
árvores grandes em pé, cada árvore funciona mecanicamente para reduzir a
velocidade e energia cinética do fluxo. Entretanto, quando o fluxo de escombros
vencer a resistência mecânica das árvores, derrubando-as e levando-as junto
com seus próprios escombros, a presença de árvores como escombros (woody
debris) aumenta o poder destrutivo do próprio fluxo e conseqüentemente aumenta
o dano associado. Assim, a floresta pode exercer efeitos positivos e negativos
para um mesmo fenômeno natural.
A floresta normalmente auxilia a mitigar o microclima, tendo efeito positivo
contra a temperatura extrema (desastres climatológicos). Para melhorar seu
desempenho, esperam-se árvores com maiores alturas e maiores áreas de copa,
construindo o elevado Índice e Área Foliar (IAF). A floresta pode reduzir a
velocidade do vento e aumentar a temperatura da massa fria e úmida, reduzindo
a possibilidade de formação de neblinas.
Normalmente, é dito que a árvore é frágil contra o fogo. Entretanto, a árvore
que possui muita umidade no seu corpo apresenta alta resistência contra o fogo.
Em vários países, por exemplo, Japão, bosques vêm sendo utilizados contra
incêndios (desastres climatológicos). Assim, dependendo do tipo e manejo
florestal, a floresta possui o efeito positivo contra o incêndio.
Embora não conste na Tabela 4 o efeito da floresta em relação aos
desastres biológicos, o presente trabalho sugere uma hipótese. Quando ocorrem
desastres biológicos (epidemia, infestação de insetos, e estouro de manada), às
vezes é constatado que a redução de área florestal causou a imigração de
insetos, pragas, etc., aos locais onde se encontram muitas atividades humanas.
Então, neste sentido, pode-se dizer que a floresta possui efeito muito positivo
para reduzir os desastres biológicos, ou um efeito positivo em potencial. Dessa
maneira, os efeitos positivos e/ou negativos da floresta variam de acordo com o
tipo de floresta bem como o tipo de fenômeno/desastre.

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Apostila Pag.103
Relação entre desastres naturais e floresta

Tabela 4 – Efeitos da floresta em diferentes desastres naturais


Efeitos
Grupo Principal tipo Subtipo Subdivisão da
floresta
Tremor de terra –
Terremoto
Tsunami ++, – –
Vulcanismo Erupção vulcânica
Queda de Bloco ++, – –
Avalanche de neve ++, – –
Avalanche
Geofísico Avalanche de escombros +, – –
Movimento de Escorregamento de lama ++, – –
Massa (seco) Escorregamento Lahar +, – –
Fluxo de escombros ++, – –
Subsidência repentina –
Subsidência
Subsidência prolongada –
Tempestade
+, –
Tropical
Ciclone Extra
+, –
Tropical
Raio e trovoada –
Tempestade de
Meteorológico Tempestade
neve/Nevasca
Tempestade Tempestade de areia/Poeira
Local/Convectiva Tempestade severa +, –
Tornado ––
Tempestade orográfica
+, –
(ventos fortes)
Inundação gradual
++, – –
(fluvial)
Inundação Inundação brusca ++, – –
Inundação costeira
+, –
(Ressaca)
Hidrológico Queda de bloco ++, – –
Escorregamento Fluxo de escombros ++, – –
Movimento de Avalanche de neve +, – –
Avalanche
massa (úmido) Avalanche de escombros +, – –
Subsidência repentina –
Subsidência
Subsidência duradoura –
Onda de calor +
Onda de frio Geada +
Temperatura Pressão de neve +
Condições
extrema Congelamento +
extremas de
Chuva congelada
inverno
Avalanche de escombros +, – –
Climatológico
Seca/Estiagem –
Incêndio florestal ––
Incêndio terrestre
Incêndio (grama, vegetação
––
rasteira, arbusto,
etc...)
Obs.: ++ (muito positivo), + (positivo), – (negativo), – – (muito negativo)

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Apostila Pag.104
Relação entre desastres naturais e floresta

3. MITOS E FATOS

A floresta ou o ecossistema florestal é tão complexa que muitos assuntos


relacionados às suas funções ainda são desconhecidos. Isto obriga as ciências
florestais a avançar ainda mais para atender as demandas que a sociedade tem.
Sidle et al. (2006) discutiram vários fatos, mitos e incertezas em termo de relação
entre manejo florestal, erosão superficial e escorregamento na região sudeste da
Ásia. O presente trabalho trata de quatro tópicos associados à relação entre
desastres hidrológicos e floresta, avaliando mitos e/ou fatos.

3.1. Floresta aumenta água no rio?

O ciclo hidrológico consiste em diversos processos hidrológicos. Uma parte


da chuva que cai sobre a floresta sofre a interceptação pela copa das árvores. A
chuva interceptada evapora e volta diretamente à atmosfera sem molhar a
superfície da terra. O restante da chuva chega à superfície. Em uma floresta bem
preservada, existem horizontes H e O muito espessos e encontra-se uma boa
estrutura do solo com alto teor de agregado, o que permite a água da chuva não
interceptada infiltrar pela superfície da terra, evitando o escoamento superficial
hortoniano. Nesta condição, a floresta bem preservada diminuí o escoamento
superficial, reduzindo o pico do hidrograma e recarregando lentamente a água
subterrânea por meio da água retida nos poros dos solos florestais. Assim, é difícil
ocorrer o secamento de um córrego dentro da bacia com floresta. Essa
regularização da vazão que a floresta naturalmente exerce é chamada como
função de mitigação do hidrograma.
Enquanto as árvores exercem a fotossíntese, elas necessitam realizar
também a transpiração, ou seja, as árvores absorvem a água do solo pelas
raízes. Segundo Moore et al. (2011), a fotossíntese possui uma relação linear e
positiva com a transpiração. Pode-se dizer que quanto maior produção de
biomassa, maior a transpiração das árvores. Além disso, devido à interceptação,
a chuva que chega à superfície da terra é menor do que a chuva que cai acima da
copa. Nessa situação, é bastante normal que a vazão total em uma bacia com
floresta ser menor do que aquela da bacia sem floresta (ou com solo exposto).

REVISTA GEONORTE, V.1, N.6, p.17 – 48, 2012. 28

Apostila Pag.105
Relação entre desastres naturais e floresta

Embora seja popularmente dito e acreditado que a floresta produz ou


aumente a água no rio, o fato é que a floresta reduz a água no rio. Isto, contudo
não é novidade. Na década de 1960 existiam aproximadamente 40 bacias
experimentais que utilizavam o método comparativo. Analisando os resultados
obtidos nestas bacias, Hibbert (1967) concluiu que (1) o desmatamento aumenta
a vazão anual; (2) o reflorestamento na área com vegetação pobre reduz a vazão
anual; e (3) o aumento da vazão anual devido à alteração da vegetação varia
muito e, por isso, não é possível estimá-lo quantitativamente. Analisando 94
exemplos no mundo, Bosch e Hewlett (1982) relataram que (1) o aumento da
vazão anual devido ao desmatamento é confirmado; (2) o aumento da vazão
anual é proporcional à taxa da área desmatada em relação à área total; e (3) o
aumento da vazão anual devido ao desmatamento torna-se maior em regiões com
maior precipitação. A Figura 3 apresenta o famoso gráfico elaborado por Bosch e
Hewlett (1982).

Figura 3 – Aumento da vazão com redução da cobertura florestal (Modificado de


BOSCH e HEWLETT, 1982).

As bacias experimentais analisadas por Bosch e Hewlett (1982) eram de


pequeno tamanho e de região temperada. Utilizando bacias experimentais
maiores, Trimble e Weirich (1987) e Troendle et al. (2001) confirmaram os
resultados obtidos por Bosch e Hewlett (1982). Em bacias tropicais, Bruijnzeel
(1996) confirmou que o aumento da vazão anual, logo após o corte, é

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Relação entre desastres naturais e floresta

proporcional à quantidade de biomassa removida. Além disso, Sahin e Hall (1996)


aumentaram o número das bacias experimentais analisadas para 145 e obtiveram
os mesmos resultados de Bosch e Hewlett (1982).
Calder (2007) discutiu a relação entre a ciência e política florestal,
mencionando para isto aspectos gerais associados ao efeito da floresta sobre os
recursos hídricos. Esses aspectos são: (1) a floresta consome mais água do que
outros cultivos agrícolas, e especialmente as espécies com rápido crescimento
utilizadas para o reflorestamento reduzem ainda mais a vazão no rio; (2) a floresta
exerce a função de reduzir inundação em bacias pequenas, o desempenho dessa
função é pequeno nas bacias maiores; (3) a maioria dos resultados científicos
demonstra que a floresta diminui a vazão no período de estiagem; (4) na floresta
nativa a taxa de erosão é menor, entretanto, na área de reflorestamento com mau
manejo essa taxa não é pequena; e (5) normalmente a qualidade de água que sai
da bacia florestada é melhor do que aquela com outros usos de terra.
Assim, a função da floresta não é aumentar a vazão no rio, mas sim mitigar
o hidrograma e facilitar a sociedade a utilizar a sua água.

3.2. Floresta segura o solo? – Relação magnitude x requência na evolução


de paisagem

A fórmula de Gutenberg–Richter que relaciona a magnitude de terremotos e


sua frequência acumulada é expressa como:
logN(m) = a – BM (1)
onde N(m) é o número acumulado dos eventos de terremoto com a magnitude
igual ou maior que M; e a e b são os coeficientes de ajuste.
Turcotte (1997) demonstrou que essa fórmula é equivalente à relação fractal
entre o número de terremotos e o tamanho da ruptura, ou seja, Power Law.
Analogamente aplicando a relação obtida na área da sismologia para o estudo de
escorregamentos, diversos pesquisadores como Hungr et al. (1999), Guzzetti et
al. (2002), Malamud et al. (2004), Picarelli et al. (2005), e Petley (2012)
demonstraram que a relação magnitude e requência (M-F) dos escorregamentos
é semelhante àquela dos terremotos. Resumindo esses resultados, pode-se dizer
que a relação M-F em termo de escorregamentos é constante (Figura 4). Em

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Relação entre desastres naturais e floresta

outras palavras, escorregamentos de maior magnitude ocorrem raramente


enquanto que escorregamentos com menor magnitude ocorrem frequentemente.
Este conceito é de extrema relevância no estudo da evolução de paisagem.

Figura 4 – Relação entre magnitude e requência em relação aos


escorregamentos no mundo no período de 2004 a 2010 (Modificado de PETLEY,
2012)

A floresta certamente evita a erosão superficial, permitindo a água infiltrar


mais profundamente e consequentemente favorecendo a pedogênese. Assim,
enquanto a pedogênese continua ativa, o solo cresce, aumentando sua
espessura. Contudo não existe o crescimento ilimitado da sua espessura, ou seja,
o solo deve perder parte ou totalidade de seu volume em um determinado
momento. Nesse momento os escorregamentos ocorrem. Em outras palavras, a
pedogênese é acelerada pela função da floresta. Entretanto, quando o solo torna-
se pesado ou espesso suficiente para se movimentar, ocorre o escorregamento e
a pedogênese volta ao seu estágio inicial (Figura 5).

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Relação entre desastres naturais e floresta

Figura 5 – Pedogênese e floresta.

Neste exemplo fica claro que a floresta não consegue evitar o movimento de
massa. O que ocorre é a diminuição de um processo hidrológico (escoamento
superficial) em detrimento da intensificação de outro processo (escoamento
subterrâneo), modificando assim um processo geomorfológico (erosão superficial)
de menor magnitude e maior frequência para outro processo (escorregamento) de
maior magnitude e menor frequência (Figura 6).

Figura 6 – Processos hidrogeomorfológicos na evolução de paisagem

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Relação entre desastres naturais e floresta

Tanto os escorregamentos quanto a erosão superficial resultam na produção


de sedimentos. Do ponto de vista de movimento de material (massa ou partícula),
estes processos podem ser considerados semelhantes. Entretanto, devido aos
diferentes mecanismos de ocorrência destes fenômenos, convencionalmente os
mesmos vêm sendo tratados separadamente. Analisando a produção de
sedimento, a relação M-F pode ser demonstrada por uma linha contínua (Figura
7a) ou duas linhas separadas (Figura 7b) quando tratam-se ambos os
fenômenos. Caso ocorram duas linhas separadas como demonstrado no gráfico,
ambos os fenômenos devem ser tratados separadamente. Entretanto, caso ocorra
apenas uma linha reta contínua capaz de expressar o comportamento dos dois
processos, pode-se dizer que eles são fenômenos semelhantes em relação a
produção sedimentos. Há espaço para investigar essa questão.

a) b)
Figura 7 – Relação M-F com escorregamentos e erosão: (a) erosão e
escorregamento são semelhantes; (b) erosão e escorregamento são diferentes.

Empiricamente, por meio de observações de campo, percebeu-se que os


escorregamentos no vale do Itajaí-SC no ano 2008 ocorreram mais em áreas de
floresta nativa do que em áreas caracterizadas pelas atividades antrópicas
(reflorestamento, pastagem e agricultura). A preservação do meio ambiente pode
promover a pedogênese por meio das funções da floresta. Quando o solo fica
pesado, com elevada espessura e umidade, se rompe, escorregando. Então,
ironicamente, a ação dessa preservação sem levar em consideração a relação
pedogênese/morfogênese pode amplificar a ocorrência de escorregamentos.
Contudo, isto não é por si só uma ironia, mas uma relação associada aos

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Relação entre desastres naturais e floresta

processos hidrogeomorfológicos (GOERL et al., 2012) ou geobiohidrológicos


(KOBIYAMA et al., 1998) que, por sua vez, fazem parte da evolução da paisagem.

3.3. Floresta reduz o escorregamento?

A floresta, mais especificamente as compostas por grandes árvores,


possui, além dos efeitos hidrológicos, efeitos mecânicos, os quais contribuem
para conservação de solo e água, respectivamente (Figura 8). Os efeitos
mecânicos exercidos pelas árvores podem ser classificados em dois tipos: (1)
aumento de coesão devido ao raizamento; e (2) peso exercido pela própria
árvore, especialmente seu tronco.

Figura 8 – Efeitos mecânicos e hidrológicos das árvores.

Existem vários métodos para verificar esses efeitos mecânicos. Por


exemplo, Michel et al. (2012) modificaram o modelo SHALSTAB (Shallow
Landsliding Stability Model) proposto por Dietrich e Montgomery (1998), inserindo
ao mesmo a equação de Borga et al. (2002) que consideraram os efeitos da
vegetação no cálculo do fator de segurança (FS) para encostas infinitas. Esta
equação é:

Fs 
 
Cr  Cs   s g Z  h cos2    s   w gh cos2   W cos tan
Z s g cos  W sin  (2)
onde Cr e Cs são as coesões de raízes e de solo, respectivamente; ρs e ρw são as
densidades de solo úmido e de água, respectivamente; g é a aceleração
gravitacional; Z é a profundidade vertical do solo; h é a altura vertical do lençol
freático na camada do solo; θ é o ângulo da encosta; W é a sobrecarga exercida
pelo peso das árvores; e  é o ângulo de atrito interno do solo.
Assim, o SHALSTAB modificado foi aplicado para a bacia hidrográfica do Rio
Cunha (16,2 km2) no município de Rio dos Cedros – SC. Considerando que Cs =

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Relação entre desastres naturais e floresta

11,9 kPa,  = 31,2º, e ρs = 1815 kg/m3, os autores realizaram a análise de


sensibilidade do modelo relacionada aos dois parâmetros Cr = 0 a 20 kPa e W = 0
a 2 kPa. Além disso, foi analisado o comportamento do modelo frente a diferentes
valores de Z (5, 10 e 20 m). O resultado demonstrou que o aumento da coesão
das raízes eleva a estabilidade das encostas (Figura 9). Observa-se que quanto
menor a profundidade do solo, maior o efeito da coesão das raízes no sentido de
elevar o FS da encosta.
A redução da efetividade da coesão total (combinação entre coesão do solo
e das raízes) com o incremento da profundidade do solo para modelos de
encostas infinitas já foi descrita por Pack et al. (1998),\. Hammond et al. (1992) e
Borga et al. (2002) além de relatarem o crescimento do FS com o aumento da
coesão das raízes, igualmente mencionaram a influência exercida pelo aumento
da profundidade do solo no sentido de atenuar este efeito. Contudo, o aumento da
coesão das raízes sempre resulta em incremento na estabilidade das encostas.
Diferentemente da coesão, o modelo é pouco sensível à sobrecarga devido
ao peso, o que foi também demonstrado por Hammond et al. (1992) e Borga et al.
(2002). De qualquer forma, pode-se dizer que a estabilidade da encosta depende
muito mais da raiz do que do tronco. Isto implica que uma encosta pode manter
sua estabilidade logo depois ao desmatamento, onde o efeito mecânico do
raizamento está ainda bem ativo.

Figura 9 – Análise de sensibilidade do modelo (Modificado de MICHEL et al.,


2012)

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Relação entre desastres naturais e floresta

Tsukamoto e Minematsu (1987) avaliaram os efeitos mecânicos do


desmatamento e reflorestamento em termo de FS (Figura 10). Logo após o
desmatamento, a raiz começa a perder lentamente a sua função na estabilidade.
No caso do cedro japonês, a perda da funcionalidade leva aproximadamente 20
anos após o corte. Supondo que o plantio das mudas seja feito logo após o
desmatamento, as novas raízes iniciam lentamente a sua função na estabilidade
e adquirem o máximo desempenho aproximadamente 20 a 30 anos após o
plantio. Então, com a combinação de desmatamento seguido do rápido plantio, os
autores concluíram que 10 anos depois do desmatamento, a encosta chega à
condição mais instável e no período 20 a 30 anos após plantio, a estabilidade da
encosta é máxima. Após isto a estabilidade diminui lentamente.
A análise de sensibilidade do modelo de estabilidade aos diversos
parâmetros, realizada por Hammond et al. (1992), Borga et al. (2002) e Michel et
al. (2012) apresentou que o aumento da espessura do solo diminui a estabilidade
da encosta e também que o aumento da espessura do solo diminui o efeito
mecânico da coesão de raiz. Então, a produção do solo, ou seja, a pedogênese
deve também ser pesquisada em termos de desastres naturais. A figura 11
demonstra o aumento da espessura do solo em regiões temperadas após a
ocorrência de escorregamento com base nos trabalhos de Shimokawa (1984),
Trustrum e De Rose (1988) e Smale et al. (1997). Como a pedogênese é
influenciada pelo clima, este tipo de crescimento da espessura na região tropical e
subtropical tende a ser diferente da região temperada. Então, a relação entre a
pedogênese e os escorregamentos deve ser investigada no Brasil que possui em
sua vasta extensão territorial diferentes tipos de clima. A estimativa da velocidade
de aumento da espessura do solo e também da profundidade média do plano de
ruptura possibilitará a estimativa da freqüência do escorregamento em cada
região.

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Relação entre desastres naturais e floresta

Figura 10 – Alteração de FS após o desmatamento e reflorestamento.


(Modificado de TSUKAMOTO e MINEMATSU, 1987). O FS foi calculado em três
condições: Solo sem raízes (FSs), solo com cobetura vegetal extraída e raízes em
decomposição (FSv) e solo com inserção de nova cobertura vegetal (FSn). O FS
total (FSt) representa a soma entre FSv e FSn.

Figura 11 – Desenvolvimento do solo em termo de espessura ao longo do tempo.

Assim, unindo as informações das Figuras 9 a 11, pode-se dizer que a


preservação da floresta nativa ao longo do tempo (mais do que alguns séculos)
facilitará ocorrência de escorregamentos. Isto deve ser muito mais evidente nos
locais mais inclinados.

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Relação entre desastres naturais e floresta

4.4. APP é APP?

Recentemente têm sido discutidas popularmente as alterações do Código


Florestal Brasileiro. Uma das maiores atenções para esta discussão é qual
deveria ser o tamanho ou largura da faixa da Área de Preservação Permanente -
APP ao longo dos rios. Nas observações feitas em campo após a ocorrência das
tragédias no Vale do Itajaí – SC, em 2008 (GOERL et al., 2009a, 2009b;
KOBIYAMA et al., 2010b), as APPs apresentam alto risco de serem atingidas por
fluxos de escombros que contêm troncos, além de serem os primeiros locais a
serem inundados em épocas de cheia (KOBIYAMA et al., 2010a). Como no
Estado de Santa Catarina as árvores possuem em média 20 a 30 m de altura,
uma faixa do mesmo valor a partir da margem do rio deve ser considerada Área
de Perigo Permanente, podendo também ser denominada de APP (Figura 12).

Figura 12 – Destruição da APP devido ao fluxo de escombros: (a) antes da


ocorrência do fluxo de escombros, (b) transporte longitudinal dos troncos, e (c)
transporte transversal dos troncos. (Fonte: KOBIYAMA et al., 2010a)

Para promover a conscientização, por exemplo, no projeto de extensão


universitária da Universidade Federal de Santa Catarina, “Aprender hidrologia
para prevenção de desastres naturais” (KOBIYAMA et al., 2012), diz-se “APP

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Relação entre desastres naturais e floresta

(Área de Preservação Permanente) é APP (Área de Perigo Permanente)”


(KOBIYAMA et al., 2010c).
A Figura 13 mostra que o fluxo de escombros retirou as florestais ripárias
em uma faixa de aproximadamente 30 m. A situação atual requer com urgência
zoneamentos de áreas de perigo para então reduzir os prejuízos devido aos
desastres hidrológicos. O aumento da ocupação das APP certamente resultará no
aumento abrupto da ocorrência dos desastres hidrológicos.

Figura 13 – Ausência da floresta ripária logo após da ocorrência do fluxo de


escombros.
5. BACIA-ESCOLA

Para o gerenciamento adequado de bacias hidrográficas com o intuito de


reduzir os desastres naturais, devem ser realizadas diversas medidas: medidas
estruturais (reflorestamento, manutenção de estradas não pavimentadas,
barragens, entre outras) e medidas não-estruturais (planejamento territorial com
base no zoneamento de áreas de perigos e riscos; implementação de sistema de
alerta com base na previsão do tempo; conscientização da população com dados
locais). É importante salientar que a maioria dessas medidas necessita de um
monitoramento hidrológico. Sem os dados hidrológicos monitorados, é muito difícil
exercer o gerenciamento desejado.
No caso da região sul do Brasil, empresas de reflorestamento normalmente
possuem muitas bacias de cabeceira em suas propriedades. É de extrema
importância a participação destas empresas nos projetos de hidrologia, uma vez
que estas podem disponibilizar os locais de interesse (bacia de cabeceira) para
serem utilizados como áreas de estudo.

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Relação entre desastres naturais e floresta

Para os estudos hidrológicos, procura-se o uso de bacias experimentais. O


primeiro estudo com bacias experimentais no mundo, as quais foram pareadas
(uma de floresta e a outra de pasto), foi realizado na região de Emmental, Suíça,
em 1902 (WHITEHEAD e ROBINSON, 1993). O segundo foi em 1906 no Japão
(NAKANO, 1976). Após isso, iniciaram-se no início do século XX estudos
semelhantes nos EUA, Europa, África do Sul. Hoje, tanto no mundo quanto no
Brasil, encontram-se diversas bacias experimentais.
No município de Rio Negrinho – SC, a cooperação entre a universidade e
uma empresa de reflorestamento local transformou as bacias de cabeceiras em
bacias experimentais. Além disso, a realização de educação ambiental com a
participação das comunidades locais e da prefeitura possibilitou convertê-las em
bacias-escola (Figura 14). Assim, através do projeto de hidrologia florestal
realizado neste município, Kobiyama et al. (2007) definiram bacia-escola como
uma bacia experimental que serve para pesquisas científicas e para atividades de
educação ambiental.

Figura 14 – Transformação das bacias de cabeceira em bacias-escola. (Fonte:


KOBIYAMA et al., 2008).

Com diversos interesses científicos de compreender efeitos hidrológicos do


tamanho de bacia (PILGRIM et al., 1982; LAUDON et al., 2007), dos diferentes
usos do solo, e da operação de barragem, na região do Alto Rio Negro na divisa
entre os estados de Santa Catarina e Paraná, a rede de bacias-escola vem sendo
implementada (KOBIYAMA et al., 2008 e 2009). Haigh (2009) relatou essa
atividade em uma conferencia internacional com grande interesse e como um
exemplo a ser seguido, sugerindo a implementação da mesma na Europa.
O conceito de rede de bacias não é novo. Justificando estudos de bacias e o
sistema de monitoramento a longo prazo para investigar os efeitos hidrológicos da

REVISTA GEONORTE, V.1, N.6, p.17 – 48, 2012. 40

Apostila Pag.117
Relação entre desastres naturais e floresta

floresta, Whitehead e Robinson (1993) relataram alguns exemplos europeus de


redes de bacias experimentais. Além disso, O'Connell et al. (2007) apresentaram
um programa de pesquisa “Hidrologia de Bacia e Gerenciamento Sustentável”
que contém a rede de bacias experimentais no Reino Unido e que adota um
método experimental comum em multi-escala. Estas redes foram estabelecidas
apenas para as pesquisas científicas. O objetivo dessas redes é, portanto,
diferente do que aquele de Kobiyama et al. (2009), ou seja, a rede de bacias-
escola deve contribuir não apenas para as pesquisas científicas, mas também
para as atividades de educação ambiental.
A bacia-escola desperta na comunidade o interesse pela hidrologia, e
consequentemente, amplia o conhecimento nessa área de estudo fazendo com
que aumente a participação da população no gerenciamento dos recursos
hídricos. A Figura 15 mostra a relação entre a bacia-escola e o gerenciamento
participativo. Este tipo de cooperação entre universidades e empresas de
reflorestamento, atuando em conjunto com as comunidades locais, é
indispensável para assegurar um gerenciamento integrado dos recursos hídricos.

Figura 15 – Relação entre bacia-escola e o gerenciamento participativo. (Fonte:


KOBIYAMA et al., 2008)

É importante ressaltar que as bacias-escola são importantes não só para as


comunidades locais, mas também para os hidrólogos. Elas são campos (objetos)
fundamentais para a realização de pesquisas hidrológicas. Segundo Uhlenbrook
(2006), nessas pesquisas, interesses puramente científicos coincidem com
práticas do gerenciamento dos recursos hídricos que apoiam o desenvolvimento
sustentável. Kobiyama et al. (2007) relataram que a conscientização da
comunidade sobre a hidrologia pode ser intensificada com uso de bacias-escola.

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Apostila Pag.118
Relação entre desastres naturais e floresta

Segundo Kobiyama et al. (2006), a prevenção de desastres naturais é


dividida em dois aspectos: (1) compreensão dos mecanismos dos fenômenos
naturais que geram os desastres; e (2) aumento do potencial de resistência da
sociedade contra esses fenômenos. O primeiro item é a execução da ciência, e o
segundo necessita do apoio da ciência. Assim, é bem claro que a implementação
da rede de bacias-escola certamente contribui no gerenciamento de desastres
naturais (KOBIYAMA et al., 2009).
Para minimizar os prejuízos causados pelos desastres naturais,
Lamontagne (2002) destacou a importância da popularização da ciência. Como os
desastres naturais no Brasil ocorrem principalmente devido à ação da água,
acredita-se que a hidrologia possui um importante papel na redução dos mesmos.
Além de demonstrar os mecanismos desencadeadores destes desastres, a
hidrologia traz também a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados
diariamente, e evidencia a importância da água e do convívio integrado com a
natureza.
Nesse contexto, a implementação da rede de bacias-escola deve ser uma
ação urgente no Brasil, a fim de reduzir os desastres naturais, especialmente os
hidrológicos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A floresta é uma das maiores, mais belas e mais importantes obras que a
natureza produz. Então, ela é um dos bens mais preciosos da humanidade e
herança que deve ser repassada para gerações futuras.
Os recursos florestais devem ser utilizados na civilização ou
desenvolvimento social. Entretanto, tais recursos devem ser também mantidos ou
conservados. Então, o desafio do setor florestal é minimizar o conflito entre
desenvolvimento econômico (uso dos recursos materiais) e a preservação
ambiental, procurando uma maneira adequada dos usos destes recursos através
do manejo florestal sustentável.
O aproveitamento dos recursos ambientais da floresta, que ocorre entre 10
e 100 anos, e o aproveitamento dos recursos materiais da floresta, que ocorre de
alguns anos até algumas décadas, devem ser executados de maneira harmônica.
Se essa execução harmônica for planejada em termos de dimensão espaço-
temporal, a convivência de ambos recursos é exeqüível. Através do manejo da
floresta precisa-se conservar a água e o solo. Caso contrário, a existência da
humanidade estará ameaçada. “Se não gerenciar a água, não conseguirá
governar o país” é um dos antigos provérbios da China. Este provérbio vem se
tornando cada vez mais verdadeiro no Brasil.
Para a floresta exercer suas funções com a maior eficiência, independente
de como ela esteja tratada, é necessário uma boa compreensão dos mecanismos
de suas funções. As ciências florestais e/ou geociências precisam avançar ainda

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Apostila Pag.119
Relação entre desastres naturais e floresta

mais. A implementação da rede de bacias-escola certamente possui papel


fundamental nesse avanço.

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

INTERFACES ENTRE A POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS


HÍDRICOS E A POLÍTICA NACIONAL DE DEFESA CIVIL, COM
RELAÇÃO AOS DESASTRES HIDROLÓGICOS, NO BRASIL

Ms. Simone Vendruscolo1, Prof. Dr. Masato Kobiyama2


1
Secretária de Recursos Hídricos/Ministério do Meio Ambiente, SGAN 601, Lote 1, Ed. CODEVASF, Brasília-DF,
CEP 70830-901, Brasil
2
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,
Florianópolis – SC, CEP 88040-900, Brasil
e-mail: simone.vendruscolo@mma.gov.br, kobiyama@ens.ufsc.br

Resumo
As soluções para mitigação dos efeitos apontados pelas mudanças climáticas devem ser
pactuadas a nível global, mas cada país deve atuar em suas próprias políticas no sentido de
diminuírem suas vulnerabilidades. Partiu-se do princípio de que o Brasil possui políticas que agem
na redução dos efeitos dos desastres, mas estas atuam de forma desarticulada. O objetivo do
presente trabalho foi a busca de interfaces entre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
e a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC), com relação aos desastres hidrológicos, no Brasil.
Em um primeiro momento, a Lei das águas foi dividida em cinco níveis: fundamentos, diretrizes,
objetivos, instrumentos e sistemas de gestão. Em um segundo momento utilizou-se da estratégia
para redução de desastres da Secretaria Interinstitucional da Estratégia Internacional para a
Redução de Riscos (EIRD)/ONU, que desenvolveu essa a metodologia a partir da observação da
experiência de diferentes países. Na estratégia da EIRD/ONU, o cruzamento entre as políticas foi
feito segundo áreas temáticas envolvendo os principais aspectos como: compromisso político e
desenvolvimento institucional (governabilidade); identificação e avaliação de riscos; gestão do
conhecimento; aplicação e instrumentos na gestão de riscos. Constatou-se que para efetiva
implementação, tanto da PNRH, quanto da PNDC, necessita-se da interação com outros setores e
principalmente com a sociedade. Observou-se coerência nas etapas de Prevenção e Preparação
para Emergências, e grande potencial de aproximação entre as estruturas institucionais
descentralizadas, como COMDECs/NUDECs e Comitês de Bacias. Os Planos de Bacia, por
estarem mais próximos do âmbito local, são os que têm maior potencial de aproximação com os
instrumentos da PNDC. Ao tratar de temas como a prevenção de eventos hidrológicos críticos, os
Planos contribuem na articulação de Políticas, para que as medidas sejam interiorizadas pelos
setores.

Palavras-chave

Política Nacional de Recursos Hídricos, Política Nacional de Defesa Civil, Desastres


Hidrológicos, Gestão Integrada dos Recursos Hídricos.

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

1. INTRODUÇÃO

Os últimos estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC)


apontaram que grande parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é causada
por atividades humanas. Dentre as projeções estão o aumento da temperatura, e a maior
possibilidade de ocorrência de secas e intensas precipitações. Nesse contexto, a
tendência dos governos locais é de justificarem as tragédias ocorridas como culpa das
mudanças climáticas, mas é responsabilidade de cada nação atuar na redução da
vulnerabilidade de suas regiões.

No Brasil, uma cultura de prevenção ainda não está interiorizada pelas Políticas Públicas
e pela própria sociedade, e sim o predomínio de ações emergenciais. O atendimento aos
desastres afeta os gastos sociais do governo, pois além dos danos imediatos a serem
reparados, há deslocamento das prioridades de gasto e de intervenção pública para
demandas de curto prazo, em detrimento dos investimentos de longo prazo e da adoção
de estratégias de desenvolvimento sustentável.

O Brasil possui leis em diversas áreas que podem atuar na melhoria das condições de
vulnerabilidade, como legislação urbanística e de ordenamento do solo, da Defesa Civil,
assim como, vasta legislação ambiental e de recursos hídricos. É consenso que a ação de
proteção de uma comunidade, além da participação de múltiplos atores, deve partir dos
esforços de diversas políticas públicas e, nesse sentido, a coerência de ações entre
órgãos públicos se torna importante para a prevenção de desastres. Partiu-se do princípio
de que as políticas que agem na redução dos efeitos dos desastres atuam de forma
desarticulada, o que dispende recursos públicos em soluções paliativas.

O presente artigo busca compatibilizar esforços comuns na prevenção de desastres entre


as Políticas Públicas que tratam do tema. O intuito é a busca de interfaces entre a Política
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC), com
relação aos desastres hidrológicos. Em um primeiro momento utilizou-se da metodologia
trabalhada por Silva (2005), na qual divide a lei das águas em cinco níveis: fundamentos,
diretrizes, objetivos, instrumentos e sistemas de gestão. Em um segundo momento
utilizou-se da estratégia da EIRD/ONU (2004), na qual o cruzamento entre as políticas foi
feito segundo áreas temáticas envolvendo os principais aspectos como: compromisso
político e desenvolvimento institucional (governabilidade); identificação e avaliação de
riscos; gestão do conhecimento; aplicação e instrumentos na gestão de riscos.

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

2. POLÍTICAS PÚBLICAS

2.1. Política Nacional de Defesa Civil - PNDC

O inciso XVIII do Artigo 21 da Constituição Federal estabelece que compete à


União planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas,
especialmente as secas e as inundações. Para isso, estabeleceu-se a PNDC cujo objetivo
é a redução de desastres. Esse objetivo atende ao que se preconiza internacionalmente,
que é a ação de reduzir, porque a ação de eliminar definiria algo inatingível. A Doutrina
Brasileira de Defesa Civil divide os objetivos em duas linhas gerais: minimização de
desastres e restabelecimento da situação de normalidade. Observa-se uma relação entre
os objetivos e as ações, definidas por Castro (1999) para a redução de desastres e sua
divisão em relação à dimensão tempo, feita por Kobiyama et al. (2006). Neto (2000)
chamou o conjunto dessas etapas na redução de desastres como o Ciclo de
Gerenciamento de Desastres Naturais (Tabela 1).
Tabela 1 - Objetivos e etapas na prevenção de desastres naturais.

Gerencia Objetivo Objetivos Ações para Etapa5 Descrição


mento de central2 Gerais3 redução dos
Desastres desastres 4
Naturais Redução Minimização -Prevenção Pré - evento-“Antes”
Antes de ocorrer os desastres são
(GDN)1 de de Desastres -Preparação realizadas atividades para reduzir
Desastres os futuros possíveis prejuízos.
Restabelecim -Resposta Evento-“Durante” Durante e logo depois de
ento da ocorrência de desastres são
situação de realizadas ações emergenciais.
normalidade Uma das ações é o levantamento
(registro).
-Reconstrução Pós – Evento-“Depois” Após os desastres, atua-se na
restauração e/ou reconstrução e/ou
compensação dos prejuízos.

Observação: (1) Neto (2000), (2) Política Nacional de Defesa Civil, (3) Doutrina Brasileira de Defesa Civil, (4) Castro
(1999), (5) Kobiyama et al.(2006)

Fonte: Adaptado de Kobiyama et al. (2006)

A participação popular tem um importante papel na prevenção de desastres, não só para


ter ciência dos perigos, mas para a cobrança das autoridades públicas medidas que
minimizem os riscos. Nesse aspecto, os Núcleos Comunitários de Defesa Civil (NUDECs)
tem a finalidade de desenvolver um processo de orientação permanente junto à
população e tem como principal objetivo a prevenção e a minimização dos riscos e
desastres nas áreas de maior vulnerabilidade nos municípios. Favorecem a co-gestão no
planejamento e execução das ações, e disseminam o princípio da prevenção no tocante
às áreas de risco. O aumento a resistência e aos perigos naturais, não são os sistemas

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

(medidas estruturais e não estruturais), nem os manuais escritos, mas sim a cultura da
população.

Instrumentos da Política Nacional de Defesa Civil

Para implementação da PNDC, o Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), juntamente


com os Recursos Financeiros (FUNCAP) e os Planos constituem-se nos instrumentos da
Política (Figura 1). As bases do Planejamento em Defesa Civil são os Planos Diretores de
Defesa Civil, em nível municipal, regional e federal, e que deverão ser implementados
mediante programas específicos considerando os seguintes aspectos globais (que
traduzem a lógica expressa na Tabela 1): prevenção de desastres; preparação para
emergências e desastres; resposta aos desastres; e reconstrução.

O SINDEC aparece na Política como um instrumento, mas na realidade trata-se da


estrutura institucional, e que também possui seu instrumento de apoio, representado pelo
Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (CENAD), que foi instituído
pelo Decreto n° 5.376, de 17.02.2005. Este tem por objetivo promover a consolidação e a
interligação das informações de riscos e desastres no âmbito do SINDEC. É composto
por: Sistema de Informações sobre Desastres no Brasil (SINDESB), Sistema de
Monitorização, Sistema de Alerta e Alarme, Sistema de Resposta, Sistema de Auxílio e
Atendimento à População e Sistema de Prevenção e Reconstrução de Desastres (Figura
1 e 2).

O FUNCAP é um instrumento financeiro previsto para o atendimento emergencial,


em ações de Resposta aos Desastres, mas atualmente se encontra inativo, por decisão
do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que entende que o sistema pode
recorrer a outros mecanismos previstos na Constituição Federal (CF), como: empréstimos
compulsórios para atender às despesas extraordinárias; abertura de crédito extraordinário
para atender a despesas imprevisíveis e urgentes; e em caso de relevância e urgência, o
Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo
submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. Mas apesar desse arcabouço na CF, há
certos desastres que exigem medidas emergenciais que não podem esperar o tramite de
tempo de uma medida provisória, o que torna relevante a presença de um Fundo para o
atendimento emergencial.

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

Figura 1 - Instrumentos da Política Nacional de Defesa Civil, Brasil

Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC

Para se atingir aos objetivos da Política Nacional de Defesa Civil estruturou-se o


SINDEC que tem como base os órgãos municipais, que são os responsáveis pela gestão
para redução de desastres no município e pela coordenação das ações de resposta aos
desastres, quando ocorrem. Sua estrutura foi formalizada após a promulgação da CF de
1988, pelo Decreto n° 97.274 de 12 de dezembro de 1988 (Figura 2). A partir do início da
década de 1990, fundamentando-se na legislação federal, houve avanços na organização
institucional das estruturas de Defesa Civil nos estados e municípios. Observa-se,
ademais, que o SINDEC, no período de 11 anos – de 1990 a 2001 – pertenceu a 7
diferentes pastas ministeriais, com diferentes estruturas e denominações, reformas
administrativas tais que afetam a continuidade de qualquer política setorial ou nacional.
Atualmente se encontra na estrutura do Ministério da Integração Nacional. O Decreto n°
5.376, de 17.02.2005 dispõe sobre o SINDEC cuja estrutura se encontra na Figura 2. O
CONDEC possui interface com vários órgãos da Administração Federal, mas, desde
2003, encontra-se inativo.

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

Figura 2 - Estrutura do Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), Brasil.

2.2. Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH

O inciso XIX do Artigo 21 da Constituição Federal estabelece que compete à União


instituir Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e definir critérios de
outorga de direitos de uso. A Lei Federal, de 9.433/1997, regulamenta esse inciso e
institui a PNRH, e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
(SINGREH). Um aspecto importante da legislação brasileira de recursos hídricos foi a
criação de um sistema que possibilite à União, aos estados, aos municípios, aos usuários
de recursos hídricos e à sociedade civil de atuar, de forma harmônica e integrada, na
resolução dos conflitos, e na definição das regras para o uso da água em nível de bacia
hidrográfica. O poder decisório passa a ser compartilhado nos colegiados.

O SINGREH é, portanto, o arcabouço institucional para a gestão descentralizada e


compartilhada do uso da água no Brasil, do qual fazem parte o Conselho Nacional de
Recursos Hídricos (CNRH), a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/MMA), a Agência
Nacional de Águas (ANA), os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (CERHs), os

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

órgãos gestores federais, estaduais e municipais, cujas competências se relacionem com


a gestão das águas, os Comitês de Bacia e as Agências de Água (Figura 3).

A Lei Federal n° 9.984 de 17 de julho de 2000 dispõe sobre a criação da ANA, entidade
de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Algumas de suas
atribuições são: planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos
de secas e inundações, no âmbito do SINGREH, em articulação com o órgão central do
SINDEC, em apoio a Estados e Municípios, além de organizar, implantar e gerir o Sistema
Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. A ANA é vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente (MMA), que por meio da SRH estabelece as políticas de recursos hídricos
e ações como o Plano Nacional de Recursos Hídricos.

Figura 3 - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). Fonte: Modificado de Barth (2002).

A Lei também definiu uma série de instrumentos envolvidos na gestão das águas com o
propósito de obter melhoria dos resultados no planejamento, implantação e
operacionalização dos empreendimentos que utilizam os recursos hídricos. Os Planos de
Recursos Hídricos devem buscar uma visão de longo prazo, compatibilizando aspectos
quantitativos e qualitativos da água. O enquadramento trata de definição da
compatibilidade da qualidade da água e os usos da mesma, buscando a minimização dos

Apostila Pag.132 7
Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

impactos de qualidade da água. O processo de outorga trata de assegurar o controle


quantitativo e qualitativo dos usos da água. A cobrança visa incentivar o uso racional e o
reconhecimento de que a água é um recurso natural dotado de valor econômico e os
Sistemas de Informações, segundo Christofidis (2001), mantem uma relação de suporte
recíproco entre os instrumentos (Figura 4).

Figura 4 - Relação de suporte entre os instrumentos de gestão da Lei n° 9.433/97. Fonte: Modificado de Christofidis
(2001).

3.1. Interfaces entre a PNRH e a PNDC, segundo níveis estruturais da Lei

Para Silva (2005) identificar a estrutura da lei significa ver a sua organização, e esta nos
fornece os sentidos e a finalidade da lei. A relação epistêmica que existe entre estrutura e
organização está no fato que toda organização possui uma finalidade, um fim a realizar,
uma meta a cumprir, um resultado a apresentar. Para o autor, a estrutura de uma
organização pode mudar quantas vezes for necessária e mesmo evoluir, mas sempre
para adequar a organização no cumprimento de suas finalidades, de seus fundamentos.
Se uma mudança na estrutura vai contra estes fundamentos, a organização mudará,
passará a ser outra coisa, com outra natureza, com outras finalidades. Para identificação
dos níveis hierárquicos de relações, o autor apresenta cinco níveis estruturais da lei:
fundamentos, objetivos, diretrizes, instrumentos e sistemas de gestão.

Fundamentos

Para a busca de uma estrutura que expresse o espírito das águas, um dos
questionamentos colocados por Silva (2005), é a de quais os fundamentos, conceitos,

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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007

princípios e valores encontrados na lei. Nesse aspecto, ambas as leis tem como princípios
a impossibilidade de dissociação entre bem estar social (econômica e social) e proteção
ambiental, além da ênfase nas etapas de planejamento.

Objetivos

Os objetivos possuem uma implicação organizacional, de finalidade e servem para


esclarecer o que se procura com a aplicação da lei (Silva, 2005). A Política Nacional de
Defesa Civil tem como objetivo geral a redução de desastres. Como objetivos específicos
têm-se: promover a defesa permanente contra desastres naturais ou provocados pelo
homem, prevenir ou minimizar danos, socorrer e assistir populações atingidas, reabilitar e
recuperar áreas deterioradas por desastres, atuar na iminência ou em situações de
desastres, promover a articulação e a coordenação do SINDEC, em todo o território
nacional.

Na PNRH, o primeiro inciso objetiva assegurar água necessária e na qualidade adequada


ao seu uso, às atuais e futuras gerações de brasileiros; o segundo objetiva a utilização
sustentável da água e o terceiro objetivo trata do princípio básico de proteção da
população contra as secas e inundações. Em resumo, a relação entre os fundamentos e
objetivos da Lei 9.433 revela seu espírito, que segundo Silva (2005) seria o de
proporcionar uma seguridade hídrica à população brasileira. Enquanto a Defesa Civil,
tem em seu espírito promover a seguridade à população.
O sentido de seguridade pode ser diferente dependendo das circunstâncias, para a
Política de Recursos Hídricos a seguridade hídrica refere-se à garantia de usos da água,
enquanto que para a Defesa Civil o sentido é de proteção. Mas no que tange ao aspecto
da prevenção dos efeitos dos eventos hidrológicos críticos, há similaridade entre ambas
as políticas.

Diretrizes

Diretrizes são orientações que resultam de um olhar prospectivo do futuro sobre o


presente, e fornecem orientações e os cuidados que se deve ter no momento de realizar
as ações (Silva, 2005). O autor salienta que os objetivos esclarecem o que se busca
como resultado, enquanto as diretrizes apontam o como fazer, de modo a evitar a
continuidade de uma prática histórica. Quando num processo de planejamento são dadas
as diretrizes, a formulação de estratégias deve considerá-las como elemento histórico
com valor determinante. A afinidade nas diretrizes de ambas as leis esta na indicação de
caminhos similares como, a busca da articulação com o uso do solo, a adequação da
Política à realidade local, a ênfase no planejamento e às etapas de prevenção, e o

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esforço de se buscar a integração com outras políticas nacionais de desenvolvimento


social e econômico e com as políticas de proteção ambiental;
Instrumentos

Os instrumentos de uma lei são os recursos que a própria lei dispõe para sua
materialização (Silva, 2005). Dessa forma, os instrumentos são os meios, jamais os fins
de uma lei ou política, e possuem uma importância crucial no momento de suas
operacionalizações, podendo decidir o sucesso ou fracasso de uma política.

Na interface entre os instrumentos das PNRH e PNDC há maior sintonia nas etapas de
Prevenção de Desastres e Preparação para Emergências. Devido a sua ampla
abrangência de temas, os Planos de Recursos Hídricos são os que apresentam maior
sintonia com a Defesa Civil. De acordo com a Lei 9.433/1997, os Planos visam
fundamentar e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento dos recursos
hídricos. Na prática, tem grande influência sobre os outros instrumentos, pois estabelece
prioridades para a outorga, diretrizes e critérios para a cobrança, além de ser
constantemente retroalimentado pelos Sistemas de Informações.
Os Planos de Bacia, por estarem mais próximos do âmbito local, são os que têm maior
potencial de aproximação com os instrumentos da PNDC. Na etapa de Prevenção isto
estaria relacionado aos estudos de riscos, que é importante, pois dá base às alternativas
de proposição de medidas estruturais e não estruturais de redução das vulnerabilidades
no contexto da bacia.

Em um Plano de Recursos Hídricos aspectos como desenvolvimento institucional, de


recursos humanos, científico e tecnológico e, sobretudo mudança cultural também são
abordados, pois são as bases para se atingir aos objetivos do planejamento. Isso estaria
relacionado à etapa de Preparação para Emergências, que também aborda o estudo
sobre os desastres e monitorização, alerta e alarme, que são esforços que podem ser
feitos em conjunto por ambas as políticas.

No âmbito federal, o Plano Nacional de Recursos Hídricos, devido a sua abrangência,


possui diversas diretrizes e Programas que têm relação indireta com a prevenção de
desastres, e em concreto, há um subprograma específico que trata do tema. Atualmente,
o Plano em si, é apenas a expressão do que a sociedade quer para a gestão dos recursos
hídricos. Sua concretização é um novo desafio a ser vencido para que seja incorporado
pelas Políticas Públicas como um Plano permanente de Estado, e não como um Plano de
Governo.

Sistemas de gestão

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Na interface entre os dois sistemas de gestão, o caráter político estaria representado


pelos Conselhos Nacionais (Recursos Hídricos e de Defesa Civil), e por meio dos
colegiados dos recursos hídricos (Conselhos Estaduais e Comitês de Bacia) com os
órgãos setoriais e de apoio da Defesa Civil. Também há interface entre os órgãos
gestores de Recursos Hídricos e órgão central (SEDEC), órgãos estaduais (CEDECs) e
municipais (COMDECs), pois em ambas as Políticas, são instituições que tem
competência similar como articulação e coordenação do Sistema no seu âmbito de
atuação (Tabela 2).

A Gestão de Recursos Hídricos sob coordenação do MMA representa um avanço, pois


garante o enfoque ambiental e de usos múltiplos na gestão dos recursos hídricos. A
SRH/MMA atua como formulador de políticas e, na ação de redução de vulnerabilidades
às secas e estiagens, uma de suas importantes iniciativas foi o Programa de Ação
Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN), além de
alguns Programas específicos do Plano Nacional de Recursos Hídricos relacionados aos
eventos hidrológicos críticos.

Também há interface técnica entre ANA e SEDEC, instituída na Lei 9.984, e que dá a
Agência, a competência de planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar
os efeitos das secas e inundações, no âmbito do SINGREH, em articulação com o órgão
central do SINDEC.

Tabela 2 - Sistematização das interfaces entre a Política Nacional de Recursos Hídricos e a Política Nacional de Defesa
Civil, com base nos Sistemas de Gestão

Política Nacional de Defesa Civil


Gestão
SINDEC
Órgãos de Apoio
Órgãos Setoriais
COMDEC
CONDEC

NUDEC
CEDEC
SEDEC
Política Nacional de

Órgãos de gestão a
Recursos Hídricos

RH
SINGREH

ANA
Gestão

CNRH
CERHs
Comitês
Agências de Água

Segundo a Lei 9.433/97 compete ao CNRH promover a articulação do planejamento de


recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estadual e dos setores

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usuários. O CNRH desenvolve regras de mediação entre os diversos usuários da água


sendo, assim, um dos grandes responsáveis pela implementação da gestão dos recursos
hídricos no País. Mas apesar da prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos
serem um dos objetivos da Política, não há no CNRH uma representação da Defesa Civil
em específico, somente do Ministério da Integração como um todo, o que não garante que
o assunto seja tratado com ênfase, devido a grande quantidade de temas de interesse
deste Ministério no CNRH. Na esfera da Defesa Civil, o Conselho Nacional que é um
órgão colegiado com interface em diferentes políticas, encontra-se inativo.

A atuação mais próxima do SINGREH a um município é através do Comitê de Bacia, que


promove o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e a articulação da
atuação das entidades intervenientes. Mas o descasamento das unidades territoriais,
entre municípios e bacias hidrográficas, dificulta a articulação do SINGREH com todas as
políticas de base municipal, o que pode comprometer a aproximação com a Defesa Civil.

Os Comitês podem estabelecer associações com redes locais, organizações comunitárias


e grupos de defesa que conheçam como organizar-se localmente para reduzir os efeitos
dos desastres. Esse elo pode ser feito através dos COMDECs e os NUDECs com as
agências de água para a busca conjunta de soluções no âmbito da bacia hidrográfica.
Essas entidades municipais da Defesa Civil são fundamentais para que a população
esteja organizada, preparada e orientada sobre “o que fazer” e “como fazer”, pois
somente, assim, a comunidade poderá prevenir e dar resposta eficiente aos desastres.
Uma das importantes contribuições dessa união pode ser a definição dos mapas de risco
pela própria comunidade, a participação na elaboração de Planos de Bacia, atividades
educativas, e a pressão que essas entidades podem fazer dentro de seu próprio
município para que certas medidas de redução de vulnerabilidade (tanto estruturais como
não estruturais) sejam aplicadas. Essa aproximação também pode estimular a
participação conjunta de instituições governamentais, técnicos especializados e
residentes para a avaliação dos desastres quando estes ocorrerem, diminuindo o grau de
incerteza frente ao preenchimento do AVADAN (Avaliação de Danos). A avaliação
sistemática das perdas, particularmente o impacto social e econômico dos desastres, e a
confecção de mapas de riscos são fundamentais para compreender onde focar as
atuações de prevenção.

Para EIRD/ONU (2004), as medidas de redução de risco produzem melhores resultados


quando envolvem a participação direta de pessoas com maiores possibilidades de
estarem expostas às ameaças. Os dirigentes locais, de ambos os sexos, dos setores

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políticos, sociais e econômicos devem assumir uma responsabilidade fundamental na


proteção de suas próprias comunidades. A participação da sociedade na tomada de
decisões na esfera local é essencial para promover um compromisso frente às políticas
adotadas. Nesse sentido, apesar das dificuldades de integração proporcionadas pelas
diferenças dos contornos territoriais, a estrutura descentralizada da Política Nacional de
Recursos Hídricos favorece a redução de riscos de desastres. Os órgãos setoriais e de
apoio que fazem parte do SINDEC, também podem ter interface com os Colegiados da
área de Recursos Hídricos na forma de representantes em sua composição.

3.2. Interfaces entre a PNRH e a PNDC, com base na estratégia desenvolvida pela
EIRD/ONU para redução de desastres

Em 2003, a Secretaria Interinstitucional da EIRD, juntamente com o Programa das


Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), elaborou uma estrutura de ação para
orientar e monitorar a redução de riscos de desastres. Por meio do estudo das iniciativas
mundiais sistematizou uma estratégia geral que inclui as atividades fundamentais e os
elementos necessários para a gestão de riscos. Chegou-se a conclusão de que as
práticas que asseguram um uso adequado dos recursos naturais podem gerar soluções
para reduzir a vulnerabilidade que beneficiam tanto aos grupos que se ocupam do meio
ambiente como dos desastres. Assim, a estratégia é dividida em quatro áreas temáticas:
1) Compromisso Político e Desenvolvimento Institucional; 2) Identificação e Avaliação de
Riscos; 3) Gestão do Conhecimento e 4) Aplicação e instrumentos na gestão de riscos.

Área Temática 1: Compromisso Político e Desenvolvimento Institucional


(governabilidade)
Segundo EIRD/ONU (2004), a governabilidade é considerada uma área chave para o
sucesso na redução sustentável dos riscos. Definida em termos de compromisso político
e institucional fortes, se espera que uma boa governabilidade eleve a redução do risco de
desastres como prioridade política, e destine recursos para isto, que a ponha em vigor e
assuma responsabilidade por suas possíveis falhas, assim também como facilite a
participação da sociedade civil e do setor privado.

A demanda para diminuição da vulnerabilidade local é um esforço que cabe às políticas


nacionais, e é o que se identifica na PNRH e na PNDC. A definição de um dos objetivos
da Lei 9.433/1997 relacionados aos eventos hidrológicos críticos, além de que um de
seus fundamentos é a prioridade do uso da água para o consumo humano e animal em
caso de escassez, coloca, teoricamente, a redução de riscos como uma prioridade
política.

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A integração das estratégias de redução de desastres ao planejamento e as políticas


setoriais pode ser feita pelo Plano Diretor de Defesa Civil e pelos Planos de Recursos
Hídricos. Esse elo entre as duas políticas responde a necessidade que a EIRD/ONU
identificou de serem estudadas formas de se assegurar que as leis ambientais e de
estratégias de redução de desastres se complementem, porque ambas as políticas tem
características similares, pois devem satisfazer as necessidades locais de
desenvolvimento sustentável e produzir benefícios múltiplos.

Para Le Preste (2000) a implementação de uma política bem-sucedida depende da


clareza de diretivas legais, dos objetivos da política e da sua estabilidade, e as
dificuldades da implementação aumentarão, se as mudanças legislativas forem
freqüentes. A Lei 9.433/1997 é uma lei ordinária, e exige que qualquer modificação seja
debatida nas duas casas do Legislativo no Congresso Nacional, o que lhe confere certa
estabilidade. Ao contrário da PNDC que possui uma fragilidade política por ser
fundamentada por meio de Decretos Presidenciais.

O autor também comenta que há vários problemas que podem dificultar a implementação
de uma política, e um deles é a disponibilidade de recursos financeiros. Além dos
recursos da União, também há a cobrança pelo uso da água que é um mecanismo que
prevê o retorno dos recursos prioritariamente para a própria bacia hidrográfica sendo,
portanto, um mecanismo para a implementação das decisões acordadas pelos próprios
comitês por meio dos Planos de Bacia.

Os recursos da Defesa Civil são provenientes do Orçamento da União e dos recursos


extraordinários e adicionais. O funcionamento do SINDEC esta sintonizado com a etapa
de Planejamento. É no nível federal que se determina o enfoque (Prevenção, Preparação
para Emergências, Resposta, e Reconstrução) que será dado para a Programação Anual
e o Orçamento da Defesa Civil. O Brasil é um país que historicamente não privilegiou
ações preventivas. A CF abre uma série de exceções para os casos de emergência ou
situação de calamidade pública, que são medidas necessárias, mas que de certa maneira
acentuou a cultura emergencial, de tomar atitudes somente em situações extremas, em
detrimento das medidas preventivas. É consenso mundial que quanto mais se investe nas
etapas prévias, menor a vulnerabilidades das áreas frente aos desastres e maior a
capacidade de recuperação dessas áreas.

A interface das estruturas institucionais foi comentada no item anterior, e é um dos


principais aspectos para a garantia da governabilidade. Na área de recursos hídricos a
descentralização e participação da sociedade por meio de colegiados facilitam a interface

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com outras políticas, inclusive com a Defesa Civil, mas por outro lado, há dificuldade de
aproximação devido às diferenças das unidades territoriais de gestão (municípios e bacias
hidrográficas).

Área Temática 2: Identificação e Avaliação de Riscos


Segundo EIRD/ONU (2004), o grau de conhecimento do risco depende em grande
medida da quantidade e qualidade da informação disponível e das distintas maneiras em
que as pessoas percebem o risco. A sociedade torna-se mais vulnerável quando não tem
consciência das ameaças que põe em perigo suas vidas, e a percepção do risco varia
segundo a sensibilidade de cada pessoa, comunidade ou governo. Ter conhecimento das
ameaças e da vulnerabilidade real, assim como dispor de informação precisa pode
influenciar esta percepção. A avaliação sistemática das perdas, particularmente o impacto
social e econômico dos desastres, e a confecção de mapas de riscos são fundamentais
para compreender onde focar a atuação de prevenção.

A análise das ameaças na PNRH tem interface com a Defesa Civil por meio dos
Sistemas de Informações. Atualmente os dados monitorados não são utilizados em
conjunto com modelos hidrológicos, mas há previsão de ações para que isto ocorra como
a “Sala de Situação” da ANA, que poderá ser o elo dos Sistemas de Informações de
Recursos Hídricos com o CENAD da Defesa Civil. O CENAD é um Centro Nacional, em
operação 24 horas, para coordenar as informações de risco de desastre e monitorar os
parâmetros dos eventos adversos, em articulação com o centro de previsão que permite a
difusão de alerta e alarme, além da mobilização de recursos para a pronta resposta ao
atendimento de desastres. A idéia da Sala de Situação vai ao encontro do que propõe
Tucci (2005) em seu Programa de Alerta de Inundações e Defesa Civil, que envolve as
seguintes etapas: monitoramento em tempo real dos rios e das bacias brasileiras
(precipitação e vazão ao longo do tempo); sistema operacional de recebimento de dados
e previsão com modelos matemáticos hidrológicos (associado a banco de dados) e
transferência das previsões à Secretaria de Defesa Civil para alerta e redução dos
impactos devido às inundações e às secas.

A análise de vulnerabilidade de um local pode ser feita por meio dos Planos de Recursos
Hídricos. O Plano Nacional e Estadual, tem caráter mais estratégico, enquanto que os
Planos de Bacia são predominantemente operacionais. O Plano de Bacia é um elemento
que pode conectar o ambiente externo e interno às cidades, pois tem condições de
estabelecer medidas que norteiam os Planos municipais de drenagem urbana, resíduos
sólidos e esgotamento sanitário, de forma que o problema de uma cidade não seja

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transferido para um município à jusante. Mas é importante que os Planos Diretores


considerem, com grande prioridade, os aspectos relacionados com a redução dos riscos
de desastres.

No caso do Sistema de Alerta, que é um meio de informar sobre os riscos iminentes para
que os impactos sejam reduzidos, como ações concretas e que tem relação com a Defesa
Civil tem-se: a Sala de Situação da ANA (em fase de implementação) e o Sistema de
alerta precoce do PAN (em fase de elaboração da estratégia de implementação).

Área Temática 3: Gestão do Conhecimento


De acordo com EIRD/ONU (2004), a gestão e comunicação da informação, a educação, a
capacitação, a consciência política e a pesquisa são parte do aperfeiçoamento e da
gestão do conhecimento sobre os riscos de desastres e sua redução. A inclusão da
redução dos desastres a todos os âmbitos de educação, a consciência política, o
compromisso dos meios de comunicação na difusão da informação, capacitação para as
comunidades em risco e dos grupos interessados, além da pesquisas especificas são os
ingredientes de apoio para o conhecimento das bases para uma redução efetiva dos
desastres.

Ambas as Políticas desenvolvem em paralelo diversas atividades educativas e seria


benéfico se houvesse integração entre as áreas de Defesa Civil e Recursos Hídricos, já
que capacitação na área de recursos hídricos é interdisciplinar, Dourojeanni e Jouravlev
(2001), em seu trabalho sobre os desafios das águas na América Latina e Caribe,
mencionam que muitas vezes pensou-se que estar bem informado bastaria para tomar
boas decisões. Mas para os autores, o ser humano tem uma reação tardia ao
conhecimento dos efeitos de suas ações. Citam, como exemplo, que muitos desastres
causados por eventos naturais na realidade se deve porque a população ignora as
advertências do perigo e do risco de localizar-se em zonas de inundações, ou não crêem
nas estatísticas hidrológicas. Para os autores, o paradigma de que a informação conduz a
tomar boas decisões não é, portanto, absoluto. Nesse aspecto, a gestão da comunicação
tem o papel de conscientizar a população sobre os reais riscos e ajudá-los a interpretar
uma informação relevante.

Apesar de não estar no âmbito da PNRH, não se pode deixar de mencionar o CTHidro,
criado pela Lei 9.938/2000 e regulamentada pelo Decreto n° 3.874/2001, cujos objetivos
são: “financiamento de projetos científicos e de desenvolvimento tecnológico destinados a
aperfeiçoar os diversos usos da água, de modo a garantir à atual e às futuras gerações
alto padrão de qualidade, utilização racional e integrada com vistas ao desenvolvimento

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sustentável e à prevenção contra fenômenos hidrológicos críticos ou devido ao uso


inadequado de recursos naturais”.

No âmbito do Programa de Preparação para Emergências e Desastres (PPED) da Defesa


Civil, há diversos Projetos que podem contribuir para a pesquisa como: Desenvolvimento
de Recursos Humanos; Mudança Cultural; Informações e Estudos Epidemiológicos sobre
Desastres e Desenvolvimento Tecnológico. Nesse aspecto o CEPED e o CENAD são
fundamentais para pesquisa. O CENAD promove a consolidação e a interligação das
informações de riscos e desastres no âmbito do SINDEC. O CENAD pode subsidiar
estudos fornecendo as informações necessárias para seu desenvolvimento, enquanto os
CEPEDs, como o próprio nome indica, Centros Universitários de Estudos e Pesquisas
sobre Desastres, são entidades que podem desenvolver as pesquisas na área. Como
sugestão, a pesquisa sobre desastres hidrológicos pode ser impulsionada, utilizando-se
as informações do CENAD, o potencial técnico do CEPED e os recursos para pesquisas
do CTHidro.

Área Temática 4: Aplicações e Instrumentos na Gestão dos Riscos


Segundo EIRD/ONU (2004), os instrumentos da gestão de riscos proliferaram
especialmente com o reconhecimento da gestão ambiental, da redução da pobreza e das
ferramentas de gestão financeira complementares. Para obter resultados mais efetivos,
devem ser criadas sinergias entre a gestão de recursos hídricos e as práticas de gestão
de riscos, que basicamente visam a redução das vulnerabilidades.

A outorga é necessária para “usos e/ou interferências, que alterem o regime, a quantidade
ou a qualidade de água existente em um corpo d’água”. A proposta de outorga para as
cidades, feita por Tucci (2005), é de que haja exigência de parâmetros básicos
necessários a outorga de efluentes como um todo e não somente da drenagem urbana, já
que os impactos devido ao esgotamento sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos
não são separáveis. Determinam-se prazos e metas, condicionadas à sua renovação,
para que os municípios atuem ativamente na resolução de seus problemas relacionados
ao saneamento ambiental (abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem
urbana e resíduos sólidos). Se for regulamentada pelo CNRH, a outorga para as cidades
pode ser um instrumento de interface entre a PNRH e a PNDC, pois ao atuar na
drenagem urbana, diminuiria a vulnerabilidade da cidade frente às inundações.

A cobrança pelo uso da água em uma bacia hidrográfica pode viabilizar o custeio de
intervenções identificadas pelo processo de planejamento. Neste sentido, a cobrança do
uso da água também contribuiria na implementação da Política de Defesa Civil, ao atuar

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na diminuição da vulnerabilidade, tanto às secas quanto às inundações, a partir do


momento em que seus recursos são destinados à implantação de medidas estruturais ou
não estruturais na bacia hidrográfica.

Os Planos de Recursos Hídricos são os instrumentos que podem trazer medidas


concretas como a avaliação de riscos e a redução das vulnerabilidades frente aos eventos
hidrológicos críticos. Le Preste (2000) menciona que a implementação de uma política
bem sucedida depende da compatibilidade entre as prioridades e interesses locais com as
prioridades dos responsáveis pelas decisões no nível central, além de uma adequação
entre as expectativas geradas pela política nacional e a vontade política local de
corresponder a tais expectativas. O autor alerta que a implementação não deve ser
concebida independentemente da formulação da política, por isso, a realização
participativa dos Planos de Recursos Hídricos torna-se importante para a sociedade se
mobilizar no sentido de se interarem da vulnerabilidade de sua própria região e na busca
de medidas preventivas que minimizem os efeitos dos eventos adversos.

Observa-se que os instrumentos da Política de Recursos Hídricos (outorga, cobrança e


planos) determinam ações que têm grande coerência com os Projetos de Redução de
Vulnerabilidade da Defesa Civil. O intuito de ambos é o mesmo, portanto, pode-se
otimizar esforços na busca de atividades em comum, e até suprir a carência de recursos,
para que independente de qual Política esteja atuando, as ações para a redução das
vulnerabilidades locais sejam realizadas.

4. ANÁLISE DAS INTERFACES ENTRE A PNRH E A PNDC, COM RELAÇÃO AOS


DESASTRES HIDROLÓGICOS

A visão que se tem da Defesa Civil é a de que suas ações sempre foram ligadas às
questões emergenciais, de socorro, de assistência às vitimas e de recuperação dos
danos. Mas segundo a visão moderna, acentuada pela Década da Redução de
Desastres, sua atuação é mais ampla e deve privilegiar principalmente as etapas de
Prevenção e Preparação, e é onde se identificou que há maior interface com a gestão de
Recursos Hídricos.

Ambas as políticas requerem modalidades de cooperação que agregam muitas disciplinas


e setores. Le Preste (2000) cita que as dificuldades nas políticas ambientais são maiores
que em outros, pois um dos aspectos é a de que não existe um único responsável por
decisões acerca de como os recursos naturais são utilizados. Além de que a política
pública é uma seqüência de atividades de numerosos atores, que tem perspectivas,

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interesses e recursos diferentes.

Torna-se difícil que as ações da Defesa Civil sejam realmente efetivas em termos de
prevenção se não houver o apoio de outros setores. Isso demandaria uma mudança de
cultura que atualmente surge após a ocorrência de determinado desastre, mas que é
esquecida, tanto pelas autoridades públicas quanto pela população, logo que se retorna a
situação de normalidade. O agir na emergência também pode estar acentuado devido a
uma série de facilidades para os casos de decretação de Emergência e Situação de
Calamidade Pública, que são importantes concessões, mas muitas vezes usadas
indevidamente pelos municípios. A estrutura institucional da Defesa Civil atende às
recomendações da ONU, mas se esta atua isoladamente, sempre estará ligada a
medidas emergenciais, o que pode prejudicar sua interação com a gestão de recursos
hídricos, já que a coerência entre ambas as Políticas esta nas etapas de Prevenção e
Preparação.

Para o cumprimento do objetivo que se refere a prevenção e controle de eventos


hidrológicos críticos, o SINGREH teria que buscar aproximação com os municípios, que
no caso, o nível mais próximo seriam os Comitês. O conflito de competências, rios de
domínio estadual ou federal, e gestão de Recursos Hídricos feita por bacias hidrográficas,
além da competência da União para a prevenção com relação às secas e inundações, e
gestão do espaço e da infra-estrutura urbana feita pelo município pode dificultar a
aproximação de ambas as políticas.

A identificação de áreas de risco, a proposição de medidas estruturais e não estruturais,


campanhas de educação ambiental, pesquisa sobre os desastres podem ser feitos pelos
Comitês de Bacia, em sintonia com as Agências de Bacia e as estruturas municipais da
Defesa Civil, como os COMDECS e os NUDECs. Obviamente que nada disso terá efeito
se o município não incorporar em seus Planos Diretores e ações as sugestões dessas
instituições. Como questiona Valencio et al (2004): “que importa a certeza acerca das
chuvas que irão cair se as políticas públicas não as alcançam protegendo quem se fixa e
quem se move no território?”. As ações da Defesa Civil sempre serão emergenciais se
não houver esforço conjunto de diversas políticas.

A participação da sociedade tem importância para pressionar seu município a adotar as


medidas preventivas estudadas no âmbito da bacia hidrográfica. O espaço institucional
para planejar o que se deseja na própria bacia hidrográfica está criado, resta o exercício
da sociedade em colocar em prática os mecanismos disponíveis para exercer sua
cidadania. Juntamente com a ocupação dos espaços institucionais pela sociedade

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também deve haver uma maior conscientização. A falta de conhecimento pode afastar a
população dos mecanismos que a ajudem solucionar os problemas de sua comunidade.

Observou-se que os instrumentos da Política de Recursos Hídricos (outorga, cobrança e


planos) determinam ações que têm grande coerência com os Projetos de Redução de
Vulnerabilidade da Defesa Civil. O intuito de ambos é o mesmo, portanto, pode-se
otimizar esforços na busca de atividades em comum, e até suprir a carência de recursos,
para que independente de qual Política esteja atuando, as ações para a redução das
vulnerabilidades locais sejam realizadas. Os Planos são instrumentos “chaves” que
podem contribuir na articulação de Políticas para que as medidas de redução de riscos
sejam interiorizadas pelos outros setores.

Quanto aos Sistemas de Informações, tanto da Defesa Civil quanto da área de recursos
hídricos, são fundamentais para o planejamento, monitoramento das ações e gestão do
conhecimento sobre os riscos de desastres e sua redução. Uma das linhas da EIRD/ONU
(2004) é “aprender sobre os desastres de hoje para fazer frente aos perigos de amanhã”,
que reflete a necessidade de conscientizar a população sobre as opções existentes para
a redução dos riscos. Considera-se que os sistemas de alerta como um meio de informar
as autoridades e o público sobre os riscos iminentes para que seus impactos sejam
reduzidos, e nesse aspecto, a ANA, como a SRH tem buscado sintonia com a Defesa
Civil.

Observou-se a presença de um Fundo (CTHidro) que subsidia pesquisa na área de


recursos hídricos, e engloba os eventos hidrológicos críticos. Um Sistema de Informações
bem estruturado, com informações fidedignas pode contribuir como fonte para as
pesquisas, da mesma forma como o produto das pesquisas pode aperfeiçoar
constantemente o Sistema. Esse instrumento também pode servir como um meio de
capacitação se for traduzido para uma linguagem que provoque sensibilização.

Na proposta de análise da política sugerida por Le Preste (2000) mencionou-se que uma
das etapas importantes é a dos impactos e a avaliação. Com 10 anos de existência,
talvez seja o momento do Governo e a sociedade fazerem uma profunda avaliação da Lei
9.433/1997. É certo que há uma série de desafios identificados na implementação da
PNRH, mas há objetivos que são emergenciais, como a redução dos efeitos dos eventos
críticos, pois coloca em risco a vida humana e traz uma série de prejuízos ao país. Há
necessidade de se priorizar ações, pois seguindo a lógica de análise de Le Preste (2000),
a Lei 9.433/1997 atende a uma demanda internacional clara de gestão integrada de
recursos hídricos, é reconhecida no texto constitucional, e esta formulada por meio de Lei

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ordinária, e há todo um esforço político na sua implementação, tanto da parte institucional


como de seus instrumentos.

Como verificado nesta pesquisa, a Lei 9.433/1997 se enquadra em vários aspectos na


Estratégia Internacional de Redução de Desastres da ONU, e com a PNDC. Ou seja, há
mecanismos para que o Brasil possa atuar na prevenção dos efeitos dos desastres
hidrológicos, o que falta é sincronismo de ações entre diferentes setores e uma cultura de
prevenção que envolva o âmbito político, técnico, e, sobretudo, o engajamento da
sociedade no tema.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalhou realizou uma interface entre a Política Nacional de Recursos


Hídricos com Política Nacional de Defesa Civil no Brasil, com relação aos desastres
hidrológicos. Com os resultados obtidos, recomenda-se: (1) estímulo às pesquisas que
busquem compatibilizar políticas (nível técnico e institucional) que gerenciem os efeitos da
modificação climática na sociedade e no meio ambiente; (2) criação de alternativas que
sensibilizem a comunidade para maior participação nas estruturas institucionais da
Defesa Civil e dos Recursos Hídricos; (3) busca de interfaces entre a criação de mapas
de risco e a opinião das populações afetadas como forma de legitimar os trabalhos; (4)
reforço no enfoque da Prevenção no âmbito das políticas analisadas e de outras
correlatas; (5) orientação aos COMDECs e Comitês, por meio das Agências de Bacia,
para a identificação das áreas de risco, para a correta identificação dos danos
ocasionados pelos desastres e preenchimento do AVADAN; e (6) construção de cultura
de Prevenção de Desastres Hidrológicos que sensibilize desde o nível político, até os
técnicos que trabalham na área, quanto à própria população.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

– BARTH, F.T.. Aspectos Institucionais do Gerenciamento de Recursos Hídricos, IN: REBOUÇAS, A.C.;
BRAGA, B.; TUNDISI, J.G. Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. São Paulo:
Escrituras Editora, 2002. p. 563-597.

– CASTRO, A.L.C. Manual de planejamento em defesa civil. Vol.1. Brasília: Secretaria Nacional de
Defesa Civil, Ministério da Integração Nacional, 1999.

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Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais, UFSCar, n. 44 e 45, jan/jul/2004.

Apostila Pag.147 22
4 SOLOS (PROPRIEDADES HIDRÁULICAS E
PROFUNDIDADE) E BACIAS HIDROGRÁFICAS

ALINE DE ALMEIDA MOTA


GEAN PAULO MICHEL
MASATO KOBIYAMA

Na aplicação da hidrologia para estudos de fenômenos naturais que causam desastres


naturais, por exemplo, inundações, escorregamentos e estiagens, o entendimento das
caracteristicas do solo em bacias hidrográficas é indispensavel. Entre tais características, as
propriedades hidraúlicas do solo, mais especificamente a curva característica e
permeabilidade (condutividade hidráulica), e a profundidade são de extrema importância.
Se a condutividade hidráulica e a profundidade do solo são características importantes,
consequentemente, a transmissividade também deve ser, pois resulta da multiplicação entre
condutividade hidráulica saturada e espessura da camada de solo.
Muitos cientistas tentam estimar as propriedades hidráulicas por meio de funções de
pedotransferência, e as variações espaço-temporais da profundidade do solo em bacias com
base em conhecimento geomorfológico. Embora ainda existam problemas nessas estimativas,
é necessário utilizá-las ainda mais para tentar aprimorá-las e identificar suas limitações e
pontos fortes. Abaixo apresentamos alguns resultados obtidos em trabalhos do LabHidro e do
GPDEN:

• MOTA, A.A.; KOBIYAMA, M. Avaliação da dinâmica da água na zona vadosa em


solos de diferentes usos com o modelo HYDRUS-1D. In: XIX Simpósio Brasileiro de
Recursos Hídricos (Maceió: 2014), Maceió, ABRH, Anais, 2011. 16p. (CD-rom)
• MOTA, A.A.; GRISON, F.; KOBIYAMA, M. Relação entre sinuosidade e índices
topográficos na zona topográfica fluvial. Revista Geonorte, v.9, p.42-60, 2013.
• MICHEL, G.P.; KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F. Formulação do fator de segurança
considerando a presença de vegetação. In: XX Simpósio Brasileiro de Recursos
Hídricos, (2013, Bento Gonçalves), Porto Alegre: ABRH, Anais, 2013. 8p.
• MICHEL, G.P.; KOBIYAMA, M. Estabelecimento de limites para profundidade do
solo de encostas com base no Fator de Segurança. In: X Simpósio Nacional de
Geomorfologia (Manaus: 2014), Manaus, UFAM, Anais, 2014. 6p.
• GOERL, R. F.; MICHEL, G. P.; KOBIYAMA, M.; SANTOS, I. O Papel dos
processos hidrogeomorfológicos extremos na evolução da paisagem. In: IX Simpósio
Nacional de Geomorfologia (2012: Rio de Janeiro) Rio de Janeiro: SINAGEO, Anais,
2012. CD-rom. 6p.

Apostila Pag.148
AVALIAÇÃO DA DI
ÂMICA DA ÁGUA
A ZO
A VADOSA EM SOLOS
DE DIFERE
TES USOS COM O MODELO HYDRUS-1D

Aline de Almeida Mota1 & Masato Kobiyama2

RESUMO --- O uso do solo é um fator importante no planejamento territorial, pois influencia
diretamente no movimento da água no solo. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo
avaliar a influência do uso do solo na dinâmica da água na zona vadosa com a aplicação do modelo
HYDRUS-1D, na região de Rio Negrinho/SC. Foram considerados quatro tipos de uso do solo para
comparação: pastagem, reflorestamento, floresta nativa e agricultura (solo nu). Foram determinadas
textura, condutividade hidráulica saturada e porosidade total em laboratório de cada tipo de solo.
Com a aplicação do Rosetta Lite Version 1.1, que implementa funções de pedotransferência,
estimou-se os parâmetros das equações de van Genuchten. Os perfis de potencial matricial e
umidade volumétrica ilustram a variabilidade da dinâmica da água no solo. Entre os tipos de solo a
variabilidade é evidente, sendo que entre eles o perfil de Pinus é o único que se satura, e mata nativa
é o que apresenta a frente de molhamento mais lenta.

ABSTRACT --- Land use is an important issue in the land planning, because it influences directly
on hydrological processes. Thus, the present study aimed to evaluate the water dynamics in the
vadose zone in different land uses by applying the HYDRUS-1D model in the region of Rio
Negrinho/SC. For a comparative study, four types of land use were considered: pasture,
reforestation, native forest and agriculture (bare soil). In laboratory, texture, saturated hydraulic
conductivity, and saturated water content (total porosity) of soils at two different depths for each
land use were determined. The parameters of van Genuchten equations were estimated by using
Rosetta Lite Version 1.1 that implements pedotransfer functions. The time-variation profiles of
pressure head and soil-water content illustrate the variability of soil water dynamics. Among the
land uses, the reforestation was the only profile that was saturated, and the native forest presented
the slower wetting front movement.

Palavras-chave – Dinâmica da água no solo, manejo do solo, HYDRUS-1D.

1
Bolsista do CNPq, Mestranda no Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da UFSC, CTC/ENS/LabHidro, Caixa Postal 476,
Florianópolis/SC, 88040-900, Brasil. E-mail: alinemota10@gmail.com
2
Bolsista do CNPq, Professor associado III, UFSC, CTC/ENS/LabHidro, Caixa Postal 476, Florianópolis/SC, 88040-900, Brasil. E-mail:
kobiyama@ens.ufsc.br
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

Apostila Pag.149
1 I
TRODUÇÃO

As propriedades hidráulicas do solo são alteradas de acordo com seu uso e cobertura.
Diversos estudos comprovaram essa variação das propriedades do solo. Por exemplo, Abreu et al.
(2003) verificaram que a variabilidade espacial de propriedades físico-hídricas do solo apresenta
relação direta com fatores de formação e manejo do solo e afeta a produção de culturas. Souza e
Alves (2003) concluíram que as diferentes formas de uso e manejo do solo promovem alterações no
movimento da água no solo. É notável que a maioria dos estudos tenta auxiliar na escolha do
manejo mais adequado para as culturas agrícolas, e poucos tratam da influência dos diferentes usos
do solo (pastagem, reflorestamento, entre outros) na variação das propriedades hidráulicas do
mesmo.
O uso e manejo do solo influenciam no que diz respeito à qualidade e quantidade dos recursos
hídricos (Tucci e Clarke, 1997; Merten e Minella, 2002). Atualmente, a questão da escolha do uso
de solo mais adequado é uma das temáticas mais discutidas. Essa também é a situação atual na
região do município de Rio Negrinho/SC, onde a cobertura vegetal original, caracterizada
predominantemente pela floresta de araucária (Floresta Ombrófila Mista), foi degradada pela
exploração de seus espécimes e pela substituição para reflorestamento e agricultura. Com isso,
ambientalistas e comunidades começaram a questionar sobre o uso de solo mais adequado para a
preservação dos recursos hídricos. Neste caso, uma base para a tomada de decisões pode ser o
estudo da influência do uso do solo nos processos hidrológicos (Nosetto et al., 2011).
Assim, deve haver um planejamento para que sejam dados o uso e manejo mais adequados
para determinada área. Para isso, deve-se conhecer a influência dos diversos usos/manejos do solo
no movimento da água nesse meio, com base em estudos científicos. Um de tais estudos pode ser
feito através da modelagem que é uma importante ferramenta de estimativa e previsão dos
processos hidrológicos. Especialmente quando se trata de um processo que apresenta uma
variabilidade temporal e espacial como o movimento da água no solo.
Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a dinâmica da água na zona vadosa
em diferentes manejos do solo utilizando o modelo HYDRUS-1D proposto por Šimůnek et al.
(2008), na região de Rio Negrinho/SC.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Área de estudo


Esse trabalho foi desenvolvido na Bacia do Rio Preto que faz parte da Rede de Bacias-escola
de Kobiyama et al. (2008). Essa rede se localiza na região do município de Rio Negrinho,

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

Apostila Pag.150
aproximadamente entre os paralelos 25º55’00’’ e 26º42’00’’ de latitude sul e meridianos 48º57’00’’
e 49º55’30’’ de longitude oeste (Figura 1).
A região se caracteriza por rochas sedimentares pertencentes aos Grupos Itararé, do Super-
Grupo Tubarão. As formações pertencentes a este grupo são: Formação Campo do Tenente, Mafra e
Rio do Sul. A principal unidade geomorfológica encontrada na região é Patamar de Mafra, cujas
características são: relevo com superfície regular, quase plana, de baixa energia de relevo (SANTA
CATARINA, 1986).
Segundo EMBRAPA (2004) e Santa Catarina (1986), os solos da região se classificam
predominantemente por Cambissolos, sendo que uma pequena porção é Gleissolos. Os Cambissolos
compreendem os solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B incipiente bastante
heterogêneo, em relação à cor, espessura e textura, e em respeito à atividade química da fração
argila e saturação por bases.

Figura 1 – Localização de coleta (AG: agricultura, PT: pastagem, PN: pinus, e N: mata nativa)

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

Apostila Pag.151
O modelo econômico do município de Rio Negrinho contribuiu para a alteração da paisagem
natural. Atualmente restam apenas poucas áreas de mata nativa (Floresta Ombrófila Mista), e
muitas áreas são utilizadas pelo reflorestamento de pinus. As atividades agropecuárias também são
praticadas na região. As principais culturas agrícolas encontradas são: milho, soja, feijão e fumo. As
áreas de pastagem são para criação de bonivos, suínos, caprinos. Além disso, são criadas aves na
região (PREFEITURA DE RIO NEGRINHO, 2009). Assim, os usos e cobertura do solo
predominantes na região são Floresta Ombrófila Mista, reflorestamento de pinus e agricultura,
sendo encontradas também áreas de pastagem.

2.2 Análise do solo


2.2.1 Coleta em campo
Foram coletadas amostras de solo deformadas e não-deformadas em quatro pontos (Figura 1).
Para a coleta das amostras deformadas se utilizou o trado holandês. As amostras não-deformadas
foram coletadas com a utilização de um conjunto de instrumentos composto por: 1 trado
SoilControl modelo TAI capacidade para cilindro com cabo de 15 cm, 2 hastes prolongadoras de 40
cm, 1 Cabo extrator, 1 marreta de ferro revestida com borracha, cilindro de inox de 52 mm de altura
x 50 mm de diâmetro, 2 chaves com boca 16 mm e 1 espátula fina. A amostragem foi realizada em
duplicata nas profundidades de 15 e 45 cm.

2.2.2 Ensaio das amostras em laboratório


A análise granulométrica (amostras deformadas) foi realizada segundo a NBR7181. Com as
amostras não-deformadas obteve-se dois parâmetros hidráulicos dos solos: condutividade hidráulica
saturada (KS) e porosidade total (θs). As amostras saturadas foram submetidas ao ensaio com
permeâmetro de carga variável (Cauduro e Dorfman, 1986), pois se tratam de solos com baixos
valores de KS. Após a realização desse ensaio, as amostras foram completamente secas em estufa. A
partir da diferença entre a massa da amostra totalmente saturada e seca foi obtida a porosidade total
dos solos.

2.3 Caracterização do solo com as equações de van Genuchten


O modelo computacional Rosetta Lite Version 1.1, baseado em redes neurais, foi aplicado a
fim de obterem-se as equações de van Genuchten (1980), para a retenção de água:
θs − θr
θ (Ψ ) = θ r +
[1 + (αΨ ) ]
(1)
n m

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

Apostila Pag.152
onde θ é a umidade volumétrica do solo (cm3/cm3); θr é a umidade residual (cm3/cm3); θs é a
umidade saturada (cm3/cm3) que é igual á porosidade total; Ψ é o potencial matricial (cm); α, m e n
são os parâmetros de ajuste sendo que m=1-(1/n).
E para permeabilidade:

[ )]
2
1 − (α Ψ )n −1 1 + (α Ψ n −m 
 
K (Ψ ) = K s   (2)
[ ]
m

1 + (α Ψ )
n 2

onde Ks é a condutividade hidráulica saturada (cm/s) e K é a condutividade hidráulica não saturada


(cm/s).
Além disso, derivando a Equação 1, obtemos a capacidade específica da água, definida como
C (Ψ ) = (∂θ ∂Ψ ) :

− m ⋅ n ⋅ α n ⋅ (θ s − θ r ) ⋅ Ψ
n −1

C (Ψ ) =
[1 + (α Ψ ) ]
(3)
n m +1

O modelo Rosetta Lite Version 1.1 está inserido no modelo HYDRUS-1D e implementa
funções de pedotranferência hierárquicas cujos dados de entrada podem ser classe textural,
distribuição de textura, densidade do solo e um ou dois pontos de retenção de água (Schaap et al.,
2001).
Esse modelo não permite estimar os parâmetros das equações de retenção e de KS aplicando θS
e KS como dados entrada. Então, por tentativa, foram utilizados valores de textura que
correspondessem a uma aproximação dos valores de θS e KS medidos em laboratório.
Portanto, foram considerados dois casos para estimativa das equações de van Genuchten. O
primeiro corresponde àquelas estimadas a partir dos dados de textura obtidos em laboratório; e no
segundo caso, a partir de tentativas de textura, foram obtidas as curvas de retenção e permeabilidade
cujos parâmetros θS e KS são muito próximos àqueles dos ensaios de laboratório.

2.4 Simulação da dinâmica da água na zona vadosa


O HYDRUS-1D é um modelo numérico para simulação unidimensional do fluxo de água,
calor e múltiplos solutos em meios saturados e/ou não saturados. Além disso, permite considerar a
absorção de água pelas raízes, o crescimento das raízes e o transporte de CO2. O modelo resolve a
equação de Richards para fluxo unidimensional (Equação 4) e tipos de equação de advecção-
dispersão para transporte de calor e soluto.
∂θ ∂Ψ ∂  ∂Ψ 
= C (Ψ ) =  K (Ψ ) ∂z − K (Ψ ) (4)
∂t ∂t ∂z

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

Apostila Pag.153
onde z é a profundidade da camada orientada positivamente para baixo; t é o tempo; e C(Ψ) é a
capacidade específica, representada pela derivada da umidade em função da tensão (∂θ/∂Ψ),
(Equação 3). A Equação 4 considera apenas fluxo de água na fase líquida e desconsidera os efeitos
do vapor no balaço geral de massa. A Figura 2 apresenta o fluxograma da simulação com
HYDRUS-1D.

Classe textural Condições de contorno


ou
% de areia, silte e argila Critérios de iteração
ou
% de areia, silte e argila e ρss Parâmetros hidráulicos das
equações de van Genuchten (1980)
ou
% de areia, silte e argila, ρss e θ33KPa
Informações geométricas
ou do perfil
% de areia, silte e argila, ρss, θ33KPa e θ1500KPa
Discretização no tempo

Funções de
pedotransferência
Equação de Richards

Informações de saída:
Sendo: • Tensão matricial;
ρss: densidade do solo; • Umidade;
θ33KPa: umidade volumétrica na tensão de 33 KPa; • Condutividade hidráulica;
θ1500KPa: umidade volumétrica na tensão de 1500 KPa. • Capacidade hidráulica.
Figura 2 – Fluxograma da aplicação do modelo HYDRUS-1D

A profundidade dos perfis de solo considerados na simulação foi verificada em campo


(Tabela 1). Foram consideradas duas camadas para cada uso, sendo a camada superior com
profundidade de 15 cm, e a inferior varia de acordo com a profundidade total correspondente a cada
uso de solo. Na simulação, foi utilizada a discretização no tempo de intervalos de 1 s, e no espaço,
dz varia para cada perfil, portanto o modelo divide a profundidade do perfil automaticamente em
100 células iguais (Tabela 1).

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

Apostila Pag.154
Tabela 1 – Discretização no espaço utilizada nas simulações e a profundidade dos perfis
dz Profundidade do perfil
Uso do solo
(cm) (cm)
Mata nativa 0,90 90
Agricultura 0,92 92
Pastagem 1,10 110
Pinus 0,65 65

A respeito das condições de contorno, foi simulada uma precipitação de 50 mm/dia constante
durante toda a simulação com duração de 1,5 dias. Na parte inferior do perfil foi considerada a
condição de contorno de drenagem livre. Além disso, como condição inicial se considerou uma
carga de pressão = – 100 cm.
Como para cada uso do solo a interceptação varia, os dados de precipitação na simulação da
dinâmica da água na zona vadosa devem ser diferenciados. Chaffe (2009) investigou a interceptação
de pinus através de monitoramento, mostrando que houve uma média da perda de 21,4% por
interceptação. Então, o presente estudo aplicou uma chuva com 21,4% de redução no caso do solo
com pinus.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Ensaios de laboratório


A Tabela 2 apresenta os resultados dos ensaios de textura de cada uso do solo nas
profundidades de 15 e 45 cm. O solo que mais apresenta diferença entre as duas profundidades é
aquele que se caracteriza pelo reflorestamento de pinus. Segundo o clássico triângulo de
classificação textural (MONIZ, 1972), os solos se classificam majoritariamente como franco. Sendo
que o solo cujo uso é reflorestamento de pinus se classifica como argiloso ou franco argiloso na
profundidade de 45 cm.

Tabela 2 – Resultados das análises de textura dos solos

Profundidade Areia grossa Areia fina Silte Argila Classificação


Uso do solo
(cm) (%) textural
15 8 58 20 14 *
Mata nativa
45 6 54 25 15 *
15 3 40 27 30 **
Agricultura
45 3 36 37 24 ***
15 6 46 30 18 ***
Pastagem
45 12 40 23 25 ****
15 4 21 35 40 **
Pinus
45 9 31 19 41 **
*Franco-arenoso; **Franco-argiloso; ***Franco; **** Franco argilo-arenoso

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

Apostila Pag.155
Os parâmetros hidráulicos θS e KS obtidos em laboratório são apresentados na Tabela 3. Na
profundidade de 15 cm, o solo na mata nativa resultou no mais poroso, e com a menor KS. Essas
características indicam que esse solo deve apresentar alta capacidade de retenção alta. Por outro
lado, o solo do reflorestamento de pinus possivelmente possui baixa capacidade de retenção,
apresentando os maiores valores para os dois parâmetros.

Tabela 3 – Propriedades hidráulicas do solo obtidas nos ensaios de laboratório.


θS (cm3/cm3) KS (cm/s)
Uso do solo
15 cm 45 cm 15 cm 45 cm
Mata nativa 0,46 0,38 1,13E-03 2,51E-03
Agricultura 0,38 0,44 3,35E-03 5,16E-03
Pastagem 0,42 0,39 1,51E-03 3,17E-03
Pinus 0,44 0,42 5,31E-03 6,82E-03

3.2 Aplicação do Rosetta Lite Version 1.1


Como resultado da aplicação do Rosetta Lite Version 1.1 obteve-se os parâmetros da equação
de retenção e KS (Tabela 4). Quando consideradas as equações estimadas a partir da textura, o solo
com menor KS é aquele caracterizado por agricultura, e o maior é o coberto por mata nativa.
Inversamente, o perfil de mata nativa apresentou a menor θs, e o de pinus o maior. Uma possível
razão para isso é o fato de a área de mata nativa, onde foi feita a amostragem, já não se apresentar
na sua forma mais natural, e então não ser tão argiloso como esperado.

Tabela 4 – Parâmetros da equação de van Genuchten: (a) estimados pela textura aplicando Rosetta Lite Version 1.1; e
(b) aproximação dos medidos, por tentativas de textura.
(a)
Profundidade θr θs α n KS
Uso do solo
(cm) (cm3/cm3) (cm3/cm3) (cm-1) (-) (cm/s)
15 0,049 0,38 0,0304 1,3876 3,74E-04
Mata nativa
45 0,051 0,39 0,0252 1,3867 2,98E-04
15 0,076 0,41 0,0179 1,3578 7,36E-05
Agricultura
45 0,069 0,41 0,0113 1,4604 8,72E-05
15 0,057 0,39 0,0183 1,4092 1,89E-04
Pastagem
45 0,068 0,40 0,0218 1,3506 1,29E-04
15 0,089 0,46 0,0136 1,3573 1,07E-04
Pinus
45 0,085 0,43 0,0233 1,2604 8,84E-05

(b)
Profundidade θr θs α n KS
Uso do solo
(cm) (cm3/cm3) (cm3/cm3) (cm-1) (-) (cm/s)
15 0,042 0,38 0,0391 1,6974 1,13E-03
Mata nativa
45 0,045 0,38 0,0380 2,2159 2,51E-03
15 0,041 0,39 0,0413 2,4918 3,36E-03
Agricultura
45 0,047 0,38 0,0364 2,8494 5,14E-03
15 0,042 0,38 0,0399 1,8590 1,50E-03
Pastagem
45 0,040 0,40 0,0429 2,4433 3,19E-03
15 0,056 0,37 0,0301 2,8060 5,42E-03
Pinus
45 0,052 0,38 0,0327 3,0831 6,82E-03
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8

Apostila Pag.156
O perfil de pinus apresentou alto teor de argila e silte, o que influencia nas propriedades
hidráulicas do solo. Além disso, como o solo é heterogêneo, essa amostra pode não representar
satisfatoriamente este solo.
Comparando os valores de θS estimados por funções de pedotransferência (textura como dado
de entrada), o maior erro encontrado em relação aos dados medidos em laboratório foi de 8%. Por
outro lado, os valores de KS, estimados da mesma maneira, apresentam um erro da ordem entre 10-1
e 10-2 cm/s em relação aos valores medidos (Tabela 3). Esta variação relativamente alta na
estimativa de KS também foi observada por Sonneveld et al. (2003). Uma explicação para essa
variação é que, muitas vezes, as funções de pedotransferência não conseguem considerar a
existência de fluxos preferenciais.
Nas simulações foram utilizados os parâmetros das equações de van Genuchten
correspondentes aos apresentados na Tabela 4(a) e 4(b), identificados como estimados e medidos,
respectivamente. Os valores de KS obtidos pela aproximação com tentativas de textura (Tabela 4(b))
apresentam erros menores que 1% em relação aos medidos (Tabela 3).
Foi observada uma alta correlação entre os valores de KS para as duas profundidades (Figura
3). Assim, pode-se dizer que nessa região, a variação dessa propriedade com a profundidade é
uniforme. Essa linearidade pode se dar pelo fato de os parâmetros hidráulicos do solo desta região
serem mais influenciados pela pedogênese que propriamente pelas características da rocha mãe.

8.0E-03 4.0E-04

6.0E-03 3.0E-04
KS 45 (cm/s)

KS 45 (cm/s)

4.0E-03 y = 1.0169x + 0.0015 2.0E-04


y = 0.7295x + 1E-05
R² = 0.9911 R² = 0.9654
2.0E-03 1.0E-04

0.0E+00 0.0E+00
0.0E+00 1.0E-03 2.0E-03 3.0E-03 4.0E-03 5.0E-03 6.0E-03 5.0E-05 1.5E-04 2.5E-04 3.5E-04 4.5E-04
KS 15 (cm/s) KS 15 (cm/s)
(a) (b)

Figura 3 – Correlação entre KS das camadas de 15 e 45 cm de profundidade. (a) medidos no ensaio de laboratório, e (b)
obtidos pela aplicação do Rosetta Lite Version 1.1 utilizando a textura como dado de entrada

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9

Apostila Pag.157
3.3 Simulações com HYDRUS-1D
Nas simulações foram considerados 3 critérios de comparação:
(1) Perfis de diferentes usos de solo, porém com θS e KS obtidos da mesma forma;
(2) Perfis de mesmo uso do solo, para comparar os resultados de θS e KS obtidos de ensaio
em laboratório e aqueles obtidos pelo Rosetta Lite Version 1.1;
(3) Perfis caracterizados pelo reflorestamento de Pinus, porém considerando a
interceptação obtida por Chaffe (2009).
Com relação ao critério de comparação (1), os perfis de Ψ se apresentam bem diferentes para
cada uso do solo (Figura 4). Sendo que as maiores diferenças são encontradas no caso dos medidos.
O único perfil que se satura inteiramente para as condições dessa simulação é PN (Figura 4(e)),
sendo que no tempo de 28,8 horas já se apresentava saturado. Além disso, o perfil AG (Figura 4(a))
no tempo total de simulação se apresenta também quase saturado. Entre todos os usos analisados,
aquele caracterizado por mata nativa apresentou maiores características de retenção.
Comparando os perfis de mesmo uso de solo, e com parâmetros medido e estimado
(comparação (2)), a alteração na dinâmica da água é em termos de magnitude, porém a forma de
saturação se mantém parecida. Apenas para os perfis AG e PN, no caso das propriedades KS e θS
estimados, chega próximo da saturação. E quando são consideradas as propriedades medidas em
laboratório, a água infiltra rapidamente se afastando da condição de saturação. Nos outros perfis,
apesar de os valores serem diferentes, a tendência se mantém.
Nas Figuras 4(i) e 4(j) são apresentados os perfis de PNI, em que foi considerada
interceptação. Assim, observa-se que o perfil, no caso das propriedades estimadas, também chega à
saturação, porém 7,2 h depois.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 10

Apostila Pag.158
Agricultura (AG)
Estimado Medido LEGENDA
0 0 Tempo (h)
0
T0
-18.4 -18.4 7,2
T1
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
14,4
T2
-36.8 -36.8 21,6
T3
T4
28,8
-55.2 -55.2 36
T5

-73.6 -73.6

-92 -92
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
h [cm]
Ψh(cm)
[cm] Ψ (cm)
(a) (b)

Pastagem (PT)
Estimado Medido
0 0

-22 -22
Profundidade (cm)

-44 Profundidade (cm) -44

-66 -66

-88 -88

-110 -110
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
Ψh(cm)
[cm]
Ψh(cm)
[cm]
(c) (d)

Pinus (PN)
Estimado Medido
0 0

-13 -13
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)

-26 -26

-39 -39

-52 -52

-65 -65
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
h [cm]
Ψh (cm)
[cm] Ψ (cm)
(e) (f)

Figura 4 – Perfis de Ψ obtidos com HYDRUS-1D, sendo (a) AG estimado; (b) AG medido; (c) PT estimado; (d) PT medido;
(e) PN estimado; (f) PN medido; (g) N estimado; (h) N medido; (i) PNI estimado; e (j) PNI medido

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11

Apostila Pag.159
Mata Nativa (N)
Estimado Medido LEGENDA
0 0 Tempo (h)
0
T0
-18 -18 T1
7,2

Profundidade (cm)
Profundidade (cm)

14,4
T2
-36 -36 21,6
T3
T4
28,8
-54 -54 36
T5

-72 -72

-90 -90
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
Ψh (cm)
[cm]
Ψh (cm)
[cm]

(g) (h)

Pinus com Interceptação (PNI)


Estimado Medido
0 0

-13 -13
Profundidade (cm)

-26 Profundidade (cm) -26

-39 -39

-52 -52

-65 -65
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
h [cm] h [cm]
Ψ (cm) Ψ (cm)
(i) (j)

Figura 4 – Continuação

A Figura 5 apresenta a mesma organização da Figura 4, porém para os perfis de θ. Como


foram consideradas duas camadas com diferentes θS e KS, existe uma descontinuidade que aparece
mais evidente nos perfis de θ que nos de Ψ, principalmente nos quais se consideraram θS e KS
medidos. Embora essa variação possa ser gradativa na condição real, ela aparece mais bruscamente
na simplificação do perfil em 2 camadas.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 12

Apostila Pag.160
Agricultura (AG)
Estimado Medido LEGENDA
0 0 Tempo (h)
0
T0
-18.4 -18.4
7,2
T1
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
14,4
T2
-36.8 -36.8 21,6
T3
T4
28,8
-55.2 -55.2 36
T5

-73.6 -73.6

-92 -92
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Theta [-] Theta [-]
θ (cm) θ (cm)
(a) (b)

Pastagem (PT)
Estimado Medido
0 0

-22 -22
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
-44 -44

-66 -66

-88 -88

-110 -110
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

θTheta
(cm)[-]
θTheta
(cm)[-]

(c) (d)

Pinus (PN)
Estimado Medido
0 0

-13 -13
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)

-26 -26

-39 -39

-52 -52

-65 -65
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

θTheta
(cm) [-]
θTheta
(cm)[-]

(e) (f)

Figura 5 – Perfis de θ obtidos com HYDRUS-1D, sendo (a) AG estimado; (b) AG medido; (c) PT estimado; (d) PT medido;
(e) PN estimado; (f) PN medido; (g) N estimado; (h) N medido; (i) PNI estimado; e (j) PNI medido

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 13

Apostila Pag.161
Mata Nativa (N)
Estimado Medido
0 0

-18 -18
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
-36 -36

-54 -54

-72 -72

-90 -90
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Theta [-]
θ (cm) θTheta
(cm) [-]

(g) (h)

Pinus com Interceptação (PNI)


Estimado Medido
0 0

-13 -13
Profundidade (cm)

Profundidade (cm)
-26 -26

-39 -39

-52 -52

-65 -65
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5

θTheta
(cm) [-] Theta [-]
θ (cm)
(i) (j)

Figura 5 – Continuação

Considerando o critério de comparação (1), os perfis apresentam dinâmicas bem diferentes,


para θS e KS estimados, porém, a faixa de variação de θ é estreita. No caso do critério de
comparação (2), a diferença é muito mais marcante entre os perfis de mesmo uso do solo. Porém, os
perfis “medidos” se aproximam mais aos resultados esperados, que aqueles estimados pela textura.
Portanto, pode-se pensar que a estimativa por funções de pedotranferência não tenha apresentados
resultados satisfatórios, ou os ensaios de textura (dados de entrada para estimativas no Rosetta Lite
Version 1.1) tenham erros embutidos.
No caso da comparação (3), praticamente não se pode verificar alteração nos perfis. Assim,
pode-se dizer que a intensidade da chuva não influencia muito nos perfis de θ.

XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 14

Apostila Pag.162
4 CO
CLUSÕES

O presente trabalho avaliou a influência do uso do solo na dinâmica da água no solo. Para
isso, mediram-se textura, condutividade hidráulica saturada (KS) e porosidade total (θs) em
laboratório. A textura do solo foi utilizada para estimar os parâmetros de van Genuchten por
funções de pedotransferência. Os valores de θS estimados por pedotranferência foram muito
próximos aos medidos por ensaio de laboratório. Porém, os valores de KS estimados se
apresentaram entre 10-1 e 10-2 cm/s menores que aqueles medidos em laboratório. Isto implica uma
fragilidade das funções de pedotransferência, ao não considerar possíveis caminhos preferenciais,
geometria e dimensão dos poros. Ou pode estar ligado a um erro embutido nos ensaios de textura.
Com a aplicação do modelo HYDRUS-1D, foi feita a simulação da dinâmica da água na zona
vadosa. O movimento da água no solo se altera de acordo com as propriedades hidráulicas do solo.
Como o uso do solo altera as propriedades hidráulicas do solo, então a dinâmica da água varia com
o uso do solo. Entre todos os usos analisados, aquele caracterizado por mata nativa apresentou
maiores características de retenção. Além disso, considerando a interceptação de 21,4% na área de
reflorestamento de Pinus, o perfil se satura mais lentamente.
Com relação à condutividade hidráulica saturada, a alta correlação entre valores de KS nas
profundidades 15 e 45 cm, indica uma variação uniforme desse parâmetro ao longo da profundidade
na região de estudo.

5 AGRADECIME
TOS

Os autores agradecem ao Prof. Antônio Augusto Alves Pereira, coordenador do Laboratório


de Irrigação e Drenagem do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) pela disponibilização do laboratório para a realização dos ensaios de solo.

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XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 16

Apostila Pag.164
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

RELAÇÃO ENTRE SINUOSIDADE E ÍNDICES TOPOGRÁFICOS NA ZONA


TOPOGRÁFICA FLUVIAL

Relationship between sinuosity and topographic indices in the Fluvial


Topographic Zone

Aline de Almeida Mota


Bolsista do CNPq, Doutoranda do PPG - Recursos Hídricos e Saneamento
Ambiental, IPH/UFRGS
aline.mota@ufrgs.br

Fernando Grison
Professor Adjunto-A, Engenharia Ambiental, UFFS - Campus Chapecó
fernandogrison78@gmail.com

Masato Kobiyama
Bolsista do CNPq, Professor associado IV, IPH/UFRGS
masato.kobiyama@ufrgs.br

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo analisar a relação de algumas propriedades do


solo e da topografia com a sinuosidade do rio principal na Bacia Hidrográfica do Rio
dos Bugres (79,5 km2), Rio Negrinho/SC, utilizando o Índice Topográfico (TI) e o
Índice Topográfico de Solo (STI). Os índices foram gerados a partir da aplicação do
software ArcGis 9.3 e a sinuosidade foi calculada com o uso da ferramenta
computacional AutoCAD. Para melhor avaliar a relação entre os índices e a
sinuosidade a bacia de estudo foi subdividida em 20 pequenas áreas de drenagem.
Além disso, foi determinada a Zona Topográfica Fluvial próxima ao rio principal. Os
resultados mostraram que as variações dos índices são semelhantes. A sinuosidade
acumulada apresentou maior correlação com o TI médio acumulado do que com o
STI médio correspondente. Verificou-se também que o comportamento da
sinuosidade é mais fortemente influenciado pela topografia do que pelas
propriedades do solo. Além disso, essa influência se tornou mais significativa na
área denominada como Zona Topográfica Fluvial que é a área próxima ao canal
principal.

Palavras - chave: sinuosidade, índices topográficos, Zona Topográfica Fluvial.

ABSTRACT

The objective of the present study was to analyze the relation of some soil properties
and topography with the sinuosity of the main river of the Bugres River Watershed
(79.5 km2), Rio Negrinho/SC, by using the Topographic Index (TI) and the Soil

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Apostila Pag.165
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Topographic Index (STI). The indices were estimated by applying the ArcGis 9.3
Software, and the sinuosity was calculated by using the computational tool AutoCAD.
This watershed was divided into 20 small drainage areas in order to adequately
assess the relation between the indices and the sinuosity. Furthermore, a
topographic fluvial band near the main river was delimited. The results showed that
the variations of the indices were similar. The accumulated sinuosity presented a
better correlation with the mean accumulated TI than with the correspondent STI. It
was verified that the behavior of the sinuosity is more strongly influenced by the
topography than by the soil properties. Besides, this influence increased in the area
called Fluvial Topographic Zone which is the area near by the main river.

Key words: sinuosity, topographic indices, Fluvial Topographic Zone.

1. INTRODUÇÃO

Problemas sócio-ambientais no contexto de manejo de águas pluviais em áreas


urbanas vem se tornando cada vez mais sérios tanto no Brasil, como no mundo.
Uma das soluções para tais problemas é a renaturalização, a revitalização ou até
restauração dos sistemas fluviais (WOHL et al., 2005). Kondolf (2006) relatou que
muitos projetos de reconstrução de rios tem como objetivo criar um canal único, não-
ramificado (single-thread), estável e meandrado, e que a reconstrução dos
meandros sem conhecimento científico causou diversos efeitos ambientais
negativos, enfatizando a necessidade de avançar os estudos sobre meandros de
rios.
A determinação dos padrões de canais fluviais (retilíneo, sinuoso, meandrado,
trançado, etc) assim como a compreensão da dinâmica de modificação das margens
dos rios pode ser obtida pelo índice de sinuosidade. Cientificamente esse índice está
relacionado com características morfológicas, sedimentológicas e hidráulicas de um
rio (RATZLAFF, 1991). Assim, a erodibilidade das margens de um rio tem ligação
com sua granulometria (KNIGHTON, 1998). Schumm (1963) mostrou que com o
aumento da porcentagem de silte e argila no perímetro do canal ocorre um
incremento da sinuosidade. Neste sentido, o estudo do índice de sinuosidade pode
subsidiar a compreensão da dinâmica de modificação das margens.
As características topográficas e de uso e cobertura do solo são fatores que
influenciam diretamente a velocidade e a magnitude das respostas hídricas das
bacias hidrográficas (RENNÓ e SOARES, 2003). Segundo Dunne (1978), a

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Apostila Pag.166
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

topografia da bacia é uma variável que exerce grande influência no movimento de


água subterrânea e que deve controlar igualmente o movimento de água superficial.
A fim de representar de forma distribuída características topográficas de uma
bacia, Beven e Kirkby (1979) criaram o Índice Topográfico (Topographic Index – TI),
um parâmetro hidrogeomorfológico que mostra áreas com potencialidade para
geração de escoamento superficial por saturação. Esse índice foi inicialmente
testado no modelo TOPMODEL (Topographic-based hydrological model), um
modelo hidrológico do tipo chuva-vazão, semi-distribuído e baseado no conceito de
área variável de contribuição e em princípios físicos de conservação de massa. O
TOPMODEL foi criado com base na idéia de que a topografia exerce um controle
dominante sobre o escoamento que se propaga em uma bacia hidrográfica (BEVEN
e KIRKBY, 1979). Beven (1986), a fim de espacializar as características de solos
heterogênicos e melhor prever o comportamento da infiltração no solo, criou o Índice
Topográfico de Solo (Soil Topographic Index – STI) e o implementou no
TOPMODEL. O STI se diferencia do TI pela introdução do parâmetro de
transmissividade do solo. A transmissividade é o resultado da multiplicação da
profundidade do solo pela condutividade hidráulica saturada.
Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo analisar a relação de
propriedades do solo e da topografia com a sinuosidade do rio principal na Bacia
Hidrográfica do Rio dos Bugres (BHRB), Rio Negrinho/SC, por meio dos índices TI e
STI, com enfoque especial na região próxima ao rio, que será posteriormente
definida como Zona Topográfica Fluvial.
O Município de Rio Negrinho-SC vem sofrendo constante processo de
urbanização e industrialização. Consequentemente, a preocupação com o aumento
da demanda de água para abastecimento também vem se intensificando. O atual
manancial de abastecimento do município é o rio Negrinho, que tem como um de
seus principais afluentes o rio dos Bugres. Além disso, atualmente este rio se
apresenta em bom estado de conservação. Assim, é considerado o principal
manancial alternativo para abastecimento de água do município. Nesse sentido,
estudos científicos que possam auxiliar na preservação ambiental desse sistema
hídrico são muito importantes, e também podem servir como subsídio para futura
ampliação do sistema de abastecimento de água do município. Por estar

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Apostila Pag.167
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

relativamente conservado, o rio dos Bugres pode ser considerado um sistema fluvial
natural. Logo, o presente trabalho trata de um rio natural e, portanto poderá
contribuir significativamente para a melhoria de projetos de renaturalização dos rios.

2. CONCEITO DE ZONA TOPOGRÁFICA FLUVIAL

Para melhor analisar a relação dos índices TI e STI com a sinuosidade do rio
dos Bugres, o presente trabalho propõe uma zona de área ao longo do canal do rio,
denominada Zona Topográfica Fluvial (ZTF). O procedimento de traçado da ZTF é
simples, sendo necessário apenas considerar a primeira curva de nível mais próxima
do canal e delimitar a área de drenagem correspondente (Figura 1).

Figura 1 – Delimitação da Zona Topográfica Fluvial

Schreiber e Demuth, (1997) também delimitaram uma área ao longo do rio


principal para posterior análise. Eles consideraram “áreas da rede de drenagem”
(river network areas) no intuito de propor uma nova metodologia de regionalização
de vazões mínimas. Porém, o critério de delimitação utilizado por eles é diferente do
adotado neste trabalho para delimitar a ZTF. As áreas foram definidas por 5
corredores ao longo do rio principal com 1 km de largura e de comprimento.

REVISTA GEONORTE, V.9, N.1, p.42-60, 2013. (ISSN – 2237-1419) 45

Apostila Pag.168
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Da mesma maneira, através da ZTF, busca-se identificar uma região na bacia


que se relaciona de maneira mais direta com o rio principal. Nesse sentido, a ZTF é
considerada uma área que sofre diretamente as influências hidrogeomorfológicas do
rio. É importante ressaltar que esse procedimento de delimitação da ZTF foi testado
para a escala em questão que é 1:50.000.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de estudo

A Bacia Hidrográfica do Rio dos Bugres (BHRB) está localizada no norte do


estado de Santa Catarina, no município de Rio Negrinho/SC. Seus limites estão
entre as latitudes 26° 26’ 24,6’’ S e 26° 15’ 0,3’’ S e longitudes 49° 34’ 40,8’’ W e 49°
34’ 3,1’’ W, e sua área é de 79,5 km² (Figura 2).

Figura 2 – Localização da bacia do rio dos Bugres


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Apostila Pag.169
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Os solos predominantes da BHRB são Cambissolos. Os Cambissolos


compreendem solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B incipiente
bastante heterogêneo, tanto no que se refere à cor, espessura e textura, quanto no
que diz respeito à atividade química da fração argila e saturação por bases. Além
disso, esses solos são derivados de materiais relacionados a rochas de composição
e natureza bastante variáveis, desde as mais antigas que constituem o
embasamento do Complexo Brasileiro até as de origem recente, passando pelas
rochas metamórficas do Complexo Brusque, intrusivas graníticas referidas ao Eo-
Paleozóico, sedimentares do Paleozóico, pelo arenito Botucatu e efusivas da
Formação Serra Geral (EMBRAPA, 1998).
A Figura 3 apresenta o modelo digital de elevação (MDE) da BHRB. Observa-
se que a altimetria da bacia varia de 800 a 980 m aproximadamente. Encontra-se
altimetria bastante variada nas proximidades da cabeceira, e o talvegue principal se
mostra encaixado, com exceção do trecho mais próximo da exutória da bacia.

Figura 3 – Modelo digital de elevação da bacia do rio dos Bugres

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Apostila Pag.170
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

3.2 Materiais

As cartas topográficas digitais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), na escala 1:50.000, editadas e disponibilizadas em meio digital no site da
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI),
foram utilizadas para: delimitar a bacia, determinar a rede de drenagem e gerar o
MDE. Os nomes das cartas utilizadas são Rio Negrinho e São Bento do Sul.
O MNT com resolução de 30x30 m foi gerado no ArcGIS 9.3.1 e em seguida,
hidrologicamente consistido. Como verificaram Silva et al. (2007), quanto maior a
grade utilizada, maior é a incidência dos valores maiores e a generalização adotada.
Neste sentido adotou-se a maior resolução espacial possível para a escala das
bases disponíveis de altimetria, rede de drenagem e levantamento de solos, que foi
30 m.

3.3 Subdivisão da bacia

A fim de melhor analisar os índices TI e STI, a BHRB foi subdividida em 20


áreas de drenagem (Figura 4). O critério aplicado na subdivisão e delimitação
dessas áreas foi que a cada junção de um rio de segunda ordem com o rio principal
é a “exutória” da área de drenagem. Por exemplo, a área A1 foi delimitada da
cabeceira da bacia em direção à jusante até logo após a primeira junção de um rio
de segunda ordem com o rio principal (rio dos Bugres), de forma a delimitar toda a
área de drenagem correspondente a essa junção. Em seguida, após o término da
área A1 começa a área A2, que vai até logo após a próxima junção de segunda
ordem, e assim sucessivamente até a exutória da bacia.

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Apostila Pag.171
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Figura 4 – Delimitação das áreas de drenagem (entre parênteses suas respectivas


extensões em km2)

3.4 Espacialização das propriedades do solo

Para estimar o STI são necessários dados distribuídos de profundidade do solo


(D) e condutividade hidráulica saturada (Ks). Por isso, primeiramente foi elaborado
um mapa de tipos de solos da BHRB com base no levantamento de solos
disponibilizado pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais e de
Hidrometeorologia de Santa Catarina (CIRAM/EPAGRI, 2008) em escala 1:250.000
(Figura 5). Nesse levantamento, também estão disponíveis algumas propriedades
físicas de cada tipo de solo, além do número de camadas e faixa de variação da
profundidade (Tabela 1).

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Apostila Pag.172
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Figura 5 – Tipos de solos da BHRB

Tabela 1 – Faixa de variação da profundidade de cada tipo de solo encontrado na


BHRB
Profundidade da camada (cm)
Tipo de solo
1 2
Ca22, Ca23 e Ca54 60 -150 60 -150
Ca51 e Ca62 60 -150 < 60
Ca37, Ca47, Ca9 60 -150 -

Após elaborar o mapa de solos e verificar a variação das profundidades de


cada tipo de solo foi realizada a distribuição espacial dessas profundidades na
BHRB. Para isso, aplicou-se a equação proposta por Saulnier et al. (1997), isto é,

 D  Dmín 
Di  Dmáx   máx   zi  z mín  (1)
 z máx  z mín 
onde Di é a profundidade no pixel (m); Dmáx e Dmín são as profundidades de solo
máxima e mínima encontradas na bacia, respectivamente (m); zi é a elevação no
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Apostila Pag.173
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

pixel (m); zmáx e zmín são as elevações máxima e mínima encontradas na bacia,
respectivamente (m). Nessa equação, os valores de Dmáx e Dmín utilizados foram 3,0
e 0,6 m, respectivamente, obtidos a partir da verificação do número de camadas e
respectiva variação de profundidade para cada tipo de solo apresentadas na Tabela
1.
O valor de Ks foi estimado com a aplicação do programa computacional
Rosetta Lite Version 1.1 proposto por Schaap et al. (2001). O programa está inserido
no modelo HYDRUS-1D e implementa 5 funções de pedotranferência hierárquicas
para estimar parâmetros de retenção de água, e condutividade hidráulica saturada e
não-saturada do solo. Os dados de entrada podem ser apenas classe textural, ou
porcentagem de areia, silte e argila, densidade do solo, e um ou dois pontos da
curva de retenção de água no solo.
No presente trabalho, o levantamento (CIRAM/EPAGRI, 2008) forneceu a
informação de classe textural, que foi o dado de entrada para a estimativa de Ks
(Tabela 2). Assim, para cada tipo de solo obteve-se um valor médio de Ks. Em
seguida esses valores foram interpolados pelo método do vizinho mais próximo para
gerar uma distribuição da condutividade hidráulica saturada na BHRB.

Tabela 2 – Resultado da estimativa de Ks através do Rosetta Lite Version 1.1


Textura* Classe Textural** Ks (m/dia)
Média Silt 0,4374
Argilosa Clay 0,1475
Muito argilosa Clay loam 0,0818
*Levantamento de solos (CIRAM/EPAGRI, 2008).
**Dado de entrada no Rosetta Lite Version 1.1.

3.5 Cálculo do índice topográfico e índice topográfico de solo

As formulações para o cálculo de TI e STI são apresentadas a seguir.

 a 
TI  ln   (2)
 tan  

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Apostila Pag.174
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

onde a = ( A c ) é a área por unidade de contorno; A é a área de drenagem até a

seção considerada (m²); c é o comprimento do contorno da parcela de área


considerada (m); e β é a declividade da parcela de área (graus).

 a 
STI  ln   (3)
 tan   T0 
onde T0 = Ks ∙ D é a transmissividade (m²/dia); Ks é condutividade hidráulica
saturada (m/dia); e D é a profundidade do solo (m).
Para calcular os índices TI e STI foi utilizado software ArcGIS 9.3.1. A obtenção
dos valores deu-se a partir da aplicação das ferramentas da extensão de análise
espacial (Spatial Analyst tools) e da calculadora para raster (Raster Calculator). O
procedimento desse cálculo se encontra no esquema da Figura 6.

MDT

MDT_Fill

Flow direction Slope

Flow accumulation tan (slope) = tanB

Raster Calculator
Raster Calculator
Solos
TI
Ks D

STI

Figura 6 – Fluxograma de cálculo no software ArcGIS para TI e STI

O mapa de TI revela as áreas com potencialidade para gerar escoamento


superficial (ou subsuperficial) por saturação (AMBROISE et al., 1996). No mapa de
STI, as áreas com maiores valores também são identificadas como áreas de
contribuição para escoamento. Estes valores foram calculados para a bacia inteira, e
também somente para a Zona Topográfica Fluvial.

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Apostila Pag.175
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

3.6 Cálculo da sinuosidade

Para analisar a sinuosidade, o presente trabalho tratou somente do rio principal


da BHRB, ou seja, o rio dos Bugres. A sinuosidade de um curso d’água é definida
pela razão entre o comprimento do rio principal (CRP) e o comprimento do talvegue
em linha reta (CT) (Figura 7). Este parâmetro foi calculado para cada área de
drenagem da bacia de estudo (Figura 4) através do software AutoCAD.

CT

CRP

Figura 7 – Esquema representativo das grandezas envolvidas no cálculo de


sinuosidade

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 8 são apresentadas as distribuições da profundidade do solo e da


condutividade hidráulica saturada na BHRB. No mapa de condutividade hidráulica
saturada, os maiores valores são encontrados na porção mais próxima à exutória da
bacia. A profundidade do solo apresenta uma relação direta com a altimetria. Ao
analisar a metodologia aplicada para distribuição desse atributo, percebe-se que
esse resultado está de acordo com o esperado.

Figura 8 – Distribuição das propriedades do solo na BHRB. (a) Ks; e (b) D

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Apostila Pag.176
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Conforme o fluxograma da Figura 6 nas etapas intermediárias dos cálculos de


TI e STI foram gerados alguns mapas (Figura 9). No mapa de direção de fluxo (Flow
direction) (Figura 9(a)) é atribuído um valor inteiro para cada célula de acordo com a
direção do fluxo correspondente a partir da mesma, conforme o esquema da Figura
10. Nota-se que a direção de fluxo apresenta coerência com a topografia e
hipsometria da bacia.
No mapa referente à acumulação de fluxo (Flow accumulation) (Figura 9(b)), o
valor atribuído à célula corresponde ao número de células que direcionaram o fluxo
para a célula em questão. Assim, o canal do rio principal é o que apresenta valores
mais elevados com relação à acumulação de fluxo. Além dos mapas de direção e
acumulação do fluxo também foram calculados os mapas de declividade (β) (Figura
9(c)) e da tangente da declividade (tg β) (Figura 9(d)).

Figura 9 – Mapas das etapas para cálculo de TI e STI. (a) Direção de fluxo (Flow
direction); (b) Acumulação de fluxo (Flow accumulation); (c) Declividade (β); e (d)
Tangente da declividade (tg(β))

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Apostila Pag.177
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

32 64 128

16 0 1

8 4 2
Figura 10 – Representação gráfica do algoritmo de resolução da direção de fluxo

Nas Figuras 11(a) e 11(b) observa-se que as variações de TI e STI são


praticamente iguais para a BHRB. Sendo que o STI apresenta faixa de variação
menor que TI. Porém, utilizando os dois índices não há diferença significativa na
indicação de áreas de geração de escoamento por saturação. Ao mesmo tempo,
observou-se que o TI médio aumenta quando a declividade média diminui. Além
disso, os maiores valores tanto de TI como de STI se encontram nas células
associadas à rede de drenagem e os menores valores nas células associadas a
regiões com elevada declividade. E nas Figuras 11(c) e 11(d) apresentam-se os
mapas de TI e STI na ZTF do rio dos Bugres. A delimitação da ZTF do rio principal
da BHRB foi gerada considerando o conceito de ZTF e é apresentada na Figura 12.

Figura 11 – Mapas dos índices para a bacia do rio dos Bugres e a delimitação das
áreas de drenagem. (a) TI; e (b) STI; e para a Zona Topográfica Fluvial. (c) TI; e (d)
STI.

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Apostila Pag.178
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

Figura 12 – Zona Topográfica Fluvial na BHRB

A Figura 13 mostra o comportamento de TI, STI e da sinuosidade do rio dos


Bugres com o acúmulo de área de drenagem da bacia. Observa-se na Figura 13(a)
que ao longo da bacia os dois índices variam de modo semelhante entre si. Sendo
que o TI, a partir de A6 até A20apresenta um aumento gradativo como a
sinuosidade. Por outro lado, o STI se mantém estável nessa mesma região. Isso
pode acontecer porque a partir de A6, Ks aumenta em direção à exutória (Figura 8),
assim o efeito da declividade no aumento de STI é atenuado. Na Figura 13b são
considerados TI e STI apenas na área de ZTF. Novamente, observa-se que TI sofre
maior variação que STI a partir de A6. Porém, neste caso os dois índices se
comportam de maneira semelhante à sinuosidade.

(a)

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Apostila Pag.179
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

11 STI médio acum. 1,4


A1
TI médio acum.
Sinuosidade acum. A20
10 A10 1,3
A15

Sinuosidade
A5 A20
TI e STI

9 A1 A15 A20 1,2


A10
A5
A15
8 1,1
A1 A10
A5
7 1,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Fração de área acumulada

(b)
15 A20 1,4
A15
A20
14
A15 1,3
A10 A20

Sinuosidade
13 A5 A15
TI e STI

A1
A10 1,2
12 A10
A5
A1 A5 STI médio acum. 1,1
11 A1 TI médio acum.
Sinuosidade acum.
10 1,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Fração de área acumulada - ZTF

Figura 13 – Comportamento dos índices médios acumulados (TI e STI) e da


sinuosidade ao longo do rio principal: (a) toda a bacia; e (b) ZTF.
A Figura 14 mostra as relações entre a média de TI e STI acumulados e a
sinuosidade acumulada do rio principal. Observa-se na Figura 14(a) que TI e
sinuosidade possuem correlação significativa. Por outro lado, na Figura 14(b)
observa-se que STI e sinuosidade não se correlacionam significativamente, ou seja,
quando os parâmetros de D e Ks são considerados há uma tendência de não haver
nenhuma relação. É importante notar que o TI médio na A1 se apresentou maior que
a média do mesmo índice nas áreas de cabeceira, e por isso pode ser considerado
um outlier. Isso pode acontecer, pois apesar de estar na cabeceira, em comparação
com A2 e A3, por exemplo, a A1 apresenta declividade média menor. A declividade
é um parâmetro que influencia no cálculo de TI e STI.

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Apostila Pag.180
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

(a) (b)
1,4 1,4
y = 0,15x - 0,07 y = -0,05x + 1,69

Sinuosidade acum.
R² = 0,04
Sinuosidade acum.

R² = 0,63
1,3 1,3

1,2 1,2

A1
1,1 1,1

1,0 1,0
7,5 7,8 8,1 8,4 8,7 9,0 9,2 9,4 9,6 9,8 10,0 10,2 10,4 10,6
TI médio acum. STI médio acum.
Figura 14 – Relação entre a sinuosidade do rio principal e a média acumulada dos
índices nas áreas de drenagem. (a) TI médio acumulado; e (b) STI médio
acumulado.

Para melhor analisar a relação entre TI, STI e a sinuosidade do rio principal
foram consideradas apenas as ZTFs apresentadas nas Figuras 11(c) e 11(d). Dessa
forma, observa-se nas Figuras 15(a) e 15(b) que existe correlação significativa dos
índices com a sinuosidade. Isso pode ocorrer porque se considera a topografia
próxima ao canal do rio principal e que pode influenciar mais diretamente na
sinuosidade do canal. Além disso, este resultado sugere a potencialidade de uso do
conceito de ZTF para futuros trabalhos sobre rede fluvial. Os pontos referentes às
áreas A1, A10 e A20 em ambos os gráficos da Figura 15 evidenciam a tendência de
aumento da sinuosidade e dos índices em direção a jusante do rio dos Bugres. Essa
tendência também foi verificada na Figura 13(b).

(a) (b)
1,4 1,4
y = 0,05x + 0,59 y = 0,07x + 0,21
Sinuosidade acum.

Sinuosidade acum.

R² = 0,92 R² = 0,90 A20


A20
1,3 1,3

1,2 1,2
A10 A10
A1 A1
1,1 1,1

1,0 1,0
10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 12,0 12,5 13,0 13,5 14,0 14,5 15,0
TI médio acum. - ZTF STI médio acum. - ZTF
Figura 15 – Relação entre a sinuosidade do rio principal e a média acumulada dos
índices na ZTF. (a) TI médio acumulado; e (b) STI médio acumulado.

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Apostila Pag.181
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial

5. CONCLUSÕES

A análise da influência de algumas propriedades do solo e da topografia na


sinuosidade do rio dos Bugres utilizando o TI e o STI mostrou que esses índices
podem ser muito importantes para o entendimento da sinuosidade desse rio.
Os mapas de TI e STI revelaram uma grande variação desses índices na área
da bacia. Os maiores valores ocorreram nas células associadas à rede de drenagem
e os menores nas células de alta declividade. Em geral, observou-se que o STI se
mantém praticamente estável, mesmo quando a declividade diminui, pois
corresponde às área de aumento de Ks nesta bacia. Ao longo da bacia, TI aumenta
quando a declividade da bacia diminui, ou seja, no sentido de jusante da bacia.
Verificou-se também que o comportamento da sinuosidade é mais fortemente
influenciado pela topografia do que pelas propriedades do solo. E essa influência se
tornou mais significativa quando foi considerada a topografia nas ZTFs do canal
principal do rio dos Bugres.
Recentemente os modelos de evolução de paisagem vem chamando atenção
de cientistas, tanto devido ao avanço tecnológica na áreas de informática e
topografia, quanto devido ao aumento de problemas ambientais e territoriais
(TUCKER e HANCOCK, 2010). Cada modelo procura informações em relação aos
mecanismos de formação de meandros, relação entre índices topográficos e
sinuosidade do rio, função da área mais próxima ao rio, ou seja, ZTF, entre outros.
Portanto, os resultados obtidos no presente trabalho poderão contribuir para o
desenvolvimento de tais modelos.

REFERÊNCIAS

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Catarina/Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de
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<http://ciram.epagri.rctsc.br/portal/website/index.jsp?url=jsp/agricultura/zoneAgroecol
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Apostila Pag.183
FORMULAÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA CONSIDERANDO A
PRESENÇA DE VEGETAÇÃO
Gean Paulo Michel 1* & Masato Kobiyama 2& Roberto Fabris Goerl 3

Resumo – Os escorregamentos são desastres hidrológicos que constantemente geram prejuízos à


sociedade. A susceptibilidade de uma encosta a escorregamentos pode ser afetada pela presença de
vegetação, entretanto, este efeito normalmente é desconsiderado na análise de estabilidade. O
presente trabalho teve por objetivo adicionar parâmetros relacionados aos efeitos mecânicos
oriundos da presença de vegetação à equação do Fator de Segurança (FS). Os parâmetros inseridos
foram coesão das raízes (cr), sobrecarga das árvores (Sw), e tensão gerada pelo vento (Ve).
Considerando as características hipotéticas estabelecidas para a encosta, o FS mostrou grande
sensibilidade a cr. A sensibilidade a Sw foi moderada e a Ve foi pequena. A sensibilidade de FS aos
parâmetros inseridos diminui com o aumento da profundidade do solo da encosta.

Palavras-Chave – Escorregamentos, Fator de Segurança, Vegetação

SAFETY FACTOR FORMULATION WITH VEGETATION-RELATED


PARAMETERS
Abstract – The landslides are hydrological disasters that constantly cause damages to the society.
Although the slope susceptibility to landslides can be affected by the vegetation, this effect is
usually neglected in slope stability analysis. The present work aims to insert parameters related to
the mechanical effects of the vegetation into Safety Factor (FS) formulation. The inserted
parameters were root cohesion (cr), tree surcharge (Sw) and wind load (Ve). The sensitivity analysis
of FS indicated the strong influence of cr, moderate influence of Sw, and small influence of Ve. The
sensitivity of FS to the inserted parameters decreases with the increase of the soil thickness.

Keywords – Landslides, Safety Factor, Vegetation

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, nos últimos anos, os escorregamentos de terra vitimaram centenas de pessoas. A


identificação e o mapeamento de áreas susceptíveis a estes desastres hidrológicos são
procedimentos importantes no gerenciamento tanto de desastres naturais quanto de bacias
hidrográficas. Tais procedimentos podem ser realizados de diversas maneiras, entre as quais,
encontra-se o uso dos modelos computacionais.
Os modelos comumente utilizados para essa finalidade são SHALSTAB (Dietrich &
Montgomery, 1998), SINMAP (Pack et al.,1998), e TRIGRS (Baum et al., 2002), os quais baseiam-
se no acoplamento da formulação de estabilidade de encosta infinita a uma formulação hidrológica.
As formulações que demonstram a estabilidade de encostas infinitas geralmente são expressas em
termos de Fator de Segurança (FS). Em geral, na formulação do FS, a presença de vegetação é
desconsiderada. Entretanto, nos locais onde o clima é quente e úmido, como em boa parte do
território brasileiro, esta presença deveria não deveria ser negligenciada. A influência da vegetação
1
Bolsista CNPq, Doutorando do Programa de Pós Graduação em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, Instituto de Pesquisas Hidráulicas
(IPH), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) geanpmichel@gmail.com
2
Bolsista CNPq, Professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
masato.kobiyama@ufrgs.br
3
Bolsista Reuni, Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Federal do Paraná (UFPR) roberto.fabris@gmail.com

1
Apostila Pag.184
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
pode ser positiva ou negativa para a estabilidade das encostas, dependendo das condições da
encosta e da própria vegetação. Segundo Greenway (1987), a vegetação pode gerar dois tipos de
efeitos em relação à estabilidade das encostas: mecânicos e hidrológicos.
Dentre os efeitos mecânicos destacam-se a coesão originada pelas raízes, a sobrecarga
originada pelo pesa da vegetação e a tensão cisalhante gerada pela incidência do vento na copa das
árvores. Dentre os hidrológicos, são mais relevantes a interceptação da chuva pela copa das árvores,
aumento da evapotranspiração e aumento da capacidade de infiltração.
Os efeitos mecânicos da vegetação podem ser inseridos na formulação que descreve a
estabilidade de encostas infinitas (representada pelo FS). Os efeitos hidrológicos não são
considerados diretamente pelo FS, por isso, geralmente, são contemplados por uma formulação
hidrológica a parte. Assim, o objetivo do presente trabalho foi construir uma nova formulação de FS
considerando os efeitos mecânicos gerados pela presença da vegetação e discutir seus efeitos na
estabilidade por meio de análise de sensibilidade.

2. TEORIA
2.1. Fator de segurança sem vegetação

O FS é definido como a soma das forças resistentes sobre a somas das forças cisalhantes em
uma encosta. Desta maneira, quando as forças que promovem a estabilidade são exatamente iguais
às forças que promovem a instabilidade, o FS é igual a um; quando o FS é menor que um, a encosta
está em condição de falha; e quando FS é maior que um, a encosta está estável. Por isso, FS é um
parâmetro muito utilizado para avaliar a probabilidade de ocorrência de falhas em encostas.
Devido aos diferentes tipos de escorregamentos, o FS pode assumir diversos
equacionamentos. Para análise de escorregamentos translacionais, emprega-se o conceito de
estabilidade de encostas infinitas (Selby, 1993). Neste conceito considera-se uma possível
superfície de ruptura. A profundidade desta superfície é considerada relativamente pequena
comparada ao comprimento da encosta e, por isso, o conceito é chamado de encosta infinita. Há
também o pressuposto de que a superfície do lençol freático é paralela à superfície de ruptura e à
superfície do solo. Esta superfície de ruptura muitas vezes forma-se em locais onde a água encontra
dificuldade para infiltrar verticalmente devido a um alto contraste na condutividade hidráulica.
Desta maneira há fluxo lateral, e nestas condições a suposição de fluxo paralelo à superfície torna-
se razoável. A Fig. 1 mostra um esquema do modelo de encosta infinita.

Figura 1 – Representação do Modelo de Encosta Infinita

2
Apostila Pag.185
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
A formulação do modelo de estabilidade de encosta infinita baseia-se na lei de Mohr-
Coulomb em uma abordagem bidimensional, onde, no momento da ruptura de uma encosta, o peso
do solo torna-se igual a resultante das forcas estabilizadoras:
  C  (  u)  tan (1)
onde τ é a tensão cisalhante no momento da ruptura [N/m²]; C é a coesão total [N/m²]; σ é a tensão
normal [N/m²]; u é a poro-pressão [N/m²]; e ϕ é o ângulo de atrito interno do solo [°].
O peso do solo por unidade de largura pode ser expresso por:
W  g  l  s  p (2)
onde l é o comprimento da encosta [m]; ρs é a densidade do solo úmido [kg/m³]; g é a aceleração
gravitacional [m/s²]; e p é a espessura do solo [m].
A profundidade vertical do solo (z) pode ser representada da seguinte maneira:
p
z (3)
cos
onde θ é a declividade da encosta [graus].
A componente do peso paralela à encosta representa τ, enquanto que a componente do peso
perpendicular à encosta representa σ. Tensões são expressas em força por unidade de área, portanto,
ao decompor os vetores do peso, pressupõem-se uma análise bidimensional de talude infinito, onde
é considerada uma largura unitária para a massa de solo estendendo-se por toda extensão (l) da
encosta analisada. Desta maneira, ao dividir as componentes da força peso por l, obtém-se a tensão
cisalhante e a tensão normal por unidade de largura.
W  sin 
 (4)
l
W  cos
 (5)
l
Substituindo as Eqs. (2) e (3) nas Eqs. (4) e (5) obtém-se.
  g   s  z  cos  sin  (6)
  g   s  z  cos 
2
(7)
A poro-pressão (u) é caracterizada pela pressão a que a água situada no interior dos poros do
solo está submetida, e atua no sentido de aliviar a tensão normal da encosta. Esta variável pode ser
expressa de diversas maneiras e sua formulação depende da complexidade com a qual os fenômenos
hidrológicos que ocorrem na bacia serão abordados. A pressão dos poros pode ser expressa por:
u  g  w  h  cos2  (8)
onde ρw é a densidade da água [kg/m³] e h é a altura da coluna d’água dentro da camada de solo [m].
Selby (1993) substituiu as Eqs. (6), (7) e (8) na Eq. (1) aplicando-a a modelos de
estabilidade de encosta infinita:
s  g  z  sin   cos  C  ( s  g  z  cos²  g  w  h  cos2  )  tan (9)
Considerando que a expressão à esquerda da igualdade na Eq. (9) representa as forças
cisalhantes e a expressão apresentada à direita representa as forças estabilizantes, a razão entre as
duas expressões gera o FS.
C  (  s  g  z  cos²  g   w  h  cos2  )  tan
FS 
 s  g  z  sin   cos (10)
A Eq. (10) é a formulação para o fator de segurança de uma encosta infinita através de uma
abordagem bidimensional. Nela são desconsiderados os efeitos gerados pelas laterais do bloco de
solo a ser desestabilizado. Esta aproximação é válida para blocos de solo com larguras superiores a
10 m (Hammond et al., 1992). Em rupturas mais estreitas que 10 m, a análise bidimensional pode

3
Apostila Pag.186
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
ser considerada conservadora, pois prediz fatores de segurança menores do que os reais ou aqueles
calculados através de uma análise tridimensional.

2.2. Fator de segurança com vegetação

Os efeitos mecânicos gerados pela presença da vegetação na estabilidade das encostas


podem ser inseridos na equação utilizada para cálculo do FS para encostas infinitas. A coesão
gerada pela presença das raízes no solo pode ser adicionada a coesão do solo, aumentando dessa
maneira o valor total do termo de coesão.
C  cs  cr (11)
onde cs é a coesão do solo e cr é a coesão gerada pela presença das raízes. O efeito mecânico das
raízes consiste no aumento da resistência pela ligação das fibras das raízes com o solo, gerando a
chamada coesão das raízes (cr). O ϕ permanece inalterado neste processo (Fig. 2). Neste caso, o
reforço originado pela presença das raízes (ΔS) é igual a cr, já que ϕ é igual nas parcelas de solo
com e sem presença de raízes.

Figura 2 – Efeito do reforço do solo originado pelas raízes (Adaptado de Coppin e Richards, 1990)

Diferentemente de cs, que apresenta um comportamento não muito variável ao longo de


solos homogêneos, cr varia diretamente com a variação da Razão de Área de Raízes (RAR). A RAR
é o quociente entre a área ocupada pelas raízes (Ar) e a área do solo (A). A resistência ao
cisalhamento cresce com o aumento da concentração de raízes presentes no solo (Wu et al., 1979).
A RAR proporciona uma medida da concentração das raízes e, como consequência, é fortemente
influenciada pelo solo local, características climáticas, manejo e uso do solo e principalmente pelas
espécies vegetais. Em geral, a RAR decresce com o aumento da profundidade do solo e da distância
em relação ao tronco da árvore (Greenway, 1987; Bischetti et al., 2005).
Diversos autores comentaram que a RAR pode atingir valores próximos de 1% (Bischetti,
2005; Abernethy e Rutherfurd, 2001). De Baets et al. (2008) relataram que a RAR é mais
importante, até mesmo, que a resistência à tração individual de cada raiz para o aumento da
resistência do solo ao cisalhamento.
Estudos pioneiros indicavam que a contribuição de cr para a estabilidade das encostas situa-
se em torno de 5 kPa (Wu et al., 1979; Waldron, 1977). Atualmente, estima-se que, em
determinados locais, cr pode alcançar valores muito mais significativos (próximos de 100 kPa e em
alguns casos ultrapassando 300 kPa) sob determinadas circunstâncias (Bischetti et al., 2009; Ji et
al., 2012; De Baets et al., 2008).
Considerando que a RAR geralmente sofre um decaimento com o aumento da profundidade
e que a presença significativa das raízes pode ser encontrada até uma profundidade de 3 metros, o
4
Apostila Pag.187
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
presente trabalho adotou uma taxa de decaimento linear da RAR com o aumento da profundidade.
Desta maneira, próximo à superfície a RAR é máxima. Ao aproximar-se de 3 metros de
profundidade a RAR tende a ser nula. Portanto, em razão do decréscimo da RAR, há a redução em
igual proporção da coesão originada pela presença das raízes. A partir de 3 m de profundidade cr
passou a ser desconsiderada.
Hammond et al. (1992) relataram que em uma situação real, a superfície de ruptura de um
escorregamento estende-se até a superfície do solo, passando provavelmente por uma zona de
raízes. Desta maneira, mesmo em superfícies de ruptura que se estabelecem abaixo da zona de
raízes ainda há certa contribuição de cr para a elevação do FS. Em se tratando de modelagem de
estabilidade de encostas, os mesmos autores relataram que para superfícies de ruptura maiores que
aproximadamente 10 metros, onde a resistência basal é muito mais significativa que a lateral,
análises tridimensionais e bidimensionais equivalem-se.
A presença da vegetação nas encostas gera uma sobrecarga devido ao seu peso (Sw). Esta
sobrecarga tem uma componente paralela à encosta, a qual favorece o cisalhamento do solo, e uma
componente perpendicular à encosta, a qual favorece sua estabilização. Em geral considera-se o
peso das árvores distribuído uniformemente sobre a encosta. Bishop e Stevens (1964) estimaram
uma tensão média aplicada pelo peso das árvores em toda a extensão da encosta. O valor
encontrado aproximava-se de 2,5 kPa. Wu et al. (1979), através de medições e contagens em
campo, obtiveram um valor médio de 5,2 kPa para Sw.
A Sw pode exercer influência positiva ou negativa a uma encosta. O efeito depende de ϕ e θ.
Selby (1993) comentou que a tensão cisalhante atuante em uma encosta pode ser expressa por
Sw senθ e a tensão normal por Sw cosθ A resistência gerada pelo atrito entre as camadas do solo
pode ser expressa por Sw cosθ tanϕ. Portanto, quando θ for maior que ϕ o efeito é prejudicial. Caso
contrário o efeito é benéfico.
A incidência do vento na copa das árvores gera uma tensão cisalhante no solo (Ve). Hsi e
Nath (1970) realizaram estudos para quantificação desta tensão.Para correntes de ar movimentando-
se paralelamente a uma superfície plana, a tensão cisalhante por unidade de área da copa transmitida
para o solo devido à pressão exercida pelo vento (tv) pode ser descrita por:
tv  0,5  a  U 2  CD (12)
onde ρa é densidade do ar (1,22 kg/m³ a 20°C e 1013 mb); U é a velocidade do vento [m/s] e CD é o
coeficiente de arrasto. Hsi e Nath (1970) demonstraram que embora o perfil de velocidade do vento
que incide diretamente na copa das árvores nas bordas de uma floresta seja variável, em meio a uma
floresta este perfil torna-se praticamente uniforme. O coeficiente de arrasto foi definido por Hsi e
Nath (1970) a partir da medição da tensão cisalhante causada na superfície do solo pela incidência
do vento na copa das árvores do modelo reduzido de floresta. Desta maneira, CD tem grande
variabilidade nas bordas da floresta, indo de valores próximos a 0,2 até valores bem menores,
próximos de 0,002. Em meio à floresta, os valores de CD estabilizam-se em um intervalo entre 0,01
e 0,02.
Considerando uma corrente de ar soprando paralela a uma superfície inclinada, a tensão
gerada pelo vento na superfície do solo pode ser expressa por:
tv  0,5  a  U 2  CD  cos2  (13)
A tensão cisalhante total (Ve) transmitida para uma encosta infinita é:
Ve  tv  Ac (14)
onde Ac é a área da copa das árvores. Em uma análise de encosta infinita, Ac pode ser expressa pela
altura das árvores (ha) multiplicada pela unidade, já que este tipo de análise baseia-se no
pressuposto de largura unitária.

5
Apostila Pag.188
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
Considerando que ha = 20 m e CD = 0,1 (próximo do maior valor estimado por Hsi e Nath,
1970), o valor máximo de Ve alcança 1,1 kPa para uma velocidade de vento de 30 m/s.
Escorregamentos de terra são fenômenos que quase sempre ocorrem em locais de declividade
acentuada. Considerando a Eq. (13), pode-se dizer que, nestes locais, a declividade faz com que a
influência do vento seja atenuada.
Para inserção dos parâmetros relacionados à vegentação no FS, a componente paralela à
encosta de Sw e Ve foram adicionadas às tensões cisalhantes da encosta. Portanto a Eq. (6) torna-se:
  g  s  z  cos  sin   Sw  sin   Ve (15)
A componente perpendicular à encosta de Sw deve ser adicionada às tensões normais da
encosta. Assim, a Eq. (7) torna-se:
  g  s  z  cos2   Sw  cos (16)
Utilizando as Eqs. (15) e (16), a Eq. (10) pode ser reescrita:
cs  cr  ( g   s  z  cos²  g   w  h  cos2   S w cos )  tan
FS 
g   s  z  sin   cos  S w  sin   Ve (17)
Os efeitos hidrológicos da presença da vegetação afetam indiretamente o FS através da
variação da altura da coluna d’água (h). Por esse motivo, estes efeitos não foram contemplados pela
Eq. (17).

3. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE

A sensibilidade da Eq. (17) à variação dos parâmetros foi conduzida segundo metodologia
estabelecida por Hammond et al. (1992) e posteriormente aplicada por Borga et al. (2002). Este tipo
de análise pode ser de grande utilidade na identificação das variáveis mais importantes e então
servir de guia para coleta de dados em campo.
Esta metodologia baseia-se no estabelecimento de valores médios para os parâmetros de
entrada, chamados valores centrais (Xcentral) e, posteriormente, na variação de cada parâmetro
individualmente, enquanto todos os outros permanecem constantes. A variação dos parâmetros de
entrada também gera variação no FS (ΔFS). Desta maneira, pode-se estabelecer uma hierarquização
de sensibilidade do FS à variação dos parâmetros de entrada. Assim, a variação do FS e dos
parâmetros de entrada podem ser estabelecidas segundo as Eqs. (18) e (19), respectivamente.
FSX  FSXcentral
FS   100 (18)
FSXcentral
X  X central
X   100 (19)
X central
onde X é o valor alterado do parâmetro de entrada; FSXcentral é o FS obtido com os valores centrais
dos parâmetros; e FSX é o FS obtido após variação do parâmetro em análise.
Os valores utilizados para os parâmetros da formulação do FS foram determinados a partir
de valores da bibliografia (Coppin e Richards, 1990; Wu et al., 1979). Os valores centrais, mínimos
e máximos utilizados para avaliação da sensibilidade do FS estão na Tab. 2.

Tabela 2 – Parâmetros utilizados na análise de sensibilidade do FS.


Parâmetro Valor Central Δ Parâmetro Valor Central Δ
cs (kPa) 12 ±100% cr (kPa) 10 ±100%
ϕ (°) 30 ±70% Sw (kPa) 2,6 ±100%
ρs (kg/m³) 1750 ±20% Ve (kPa) 0,5 ±100%
z (m) 1; 2; 5; 10 ±100% θ (°) 25 -50; +100%
h/z (%) 50 ±100%

6
Apostila Pag.189
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Fig. 3 mostra a análise de sensibilidade do FS à variação dos parâmetros para a


profundidade de 1 e 5 m. Observa-se que o aumento da resistência do solo (cs e ϕ) e da contribuição
das raízes (cr) eleva os valores do FS. Em contrapartida, o aumento de θ, z, h/z, Sw e Ve, reduzem os
valores do FS. Em relação aos parâmetros relacionados à vegetação, há grande sensibilidade de FS
à cr (±40% em z = 1 m). A sensibilidade de FS à Sw e Ve é menor (±10% e ±5%, respectivamente,
em z = 1 m). Em profundidades mais elevadas, a sensibilidade de FS aos parâmetros relacionados à
vegetação diminui, sendo que, a 5 m de profundidade, a influência de cr já não existe e Sw e Ve são
praticamente nulas.

a) b)

Figura 3 – Análise de Sensibilidade do FS (Valor central de z igual a 1 m (a) e 5 m (b))

O FS é extremamente dependente de θ nas duas condições simuladas. Sendo assim, a correta


estimativa da declividade é de grande relevância. Os termos relacionados à coesão afetam o FS de
maneira mais acentuada em solos rasos que em solos espessos. De maneira recíproca, o FS é mais
afetado pela variação de ϕ em solos mais espessos. Esta condição se estabelece por que a resistência
devido ao atrito entre as partículas (relacionada a ϕ) eleva-se com o aumento da tensão normal à
encosta aplicada pelo peso do solo. Desta maneira, encostas com baixa declividade também
contribuem para o aumento da resistência devido ao atrito.
Devido à dependência linear entre cr e z adotada pelo presente trabalho, a sensibilidade do
FS à variação de z demonstrou ser muito mais acentuada do que a apresentada por Hammond et al.
(1992) e Borga et al. (2002). Esta sensibilidade é ainda mais pronunciada em solos rasos, onde há
maior presença de raízes. Em solos com profundidades maiores que 3 m (profundidade limite na
qual foi computada a ação das raízes) a variação de FS devido a z segue dois comportamentos
distintos. O primeiro comportamento mostra uma grande sensibilidade do FS e isto ocorre até que z
aproxime-se da profundidade limite. A partir da profundidade limite é observado um padrão de
variação de FS muito mais ameno.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os escorregamentos cada vez mais vêm causando desastres no Brasil e no mundo. A


vegetação pode exercer influência relevante sobre a estabilidade das encostas modificando sua
susceptibilidade à ocorrência de escorregamentos. A análise de sensibilidade do equacionamento
proposto para o FS demonstrou que cr pode influenciar fortemente, de maneira positiva, no

7
Apostila Pag.190
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
resultado das análises de estabilidade. A influência deste parâmetro decai com o aumento de z. Por
isso, ao considerar a atuação das raízes no reforço da encosta, observar a profundidade do solo na
qual poderá se formar a superfície ruptura é de extrema importância. A sensibilidade do FS ao
parâmetro Sw foi moderada em condições de solos pouco espessos, onde influencia negativamente o
FS. O aumento de z gera atenuação da sensibilidade de FS à Sw. Em geral, o efeito de Sw somente
será adverso nos casos onde θ é maior que ϕ. O FS mostrou-se pouco sensível ao parâmetro Ve,
além disso, a presença deste efeito está vinculada a uma série de condições como velocidade e
direção do vento, e características da cobertura vegetal. Por isso, sua consideração não é de grande
relevância no processo de análise de susceptibilidade a escorregamentos.

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8
Apostila Pag.191
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
Estabelecimento de limites para profundidade do solo de encostas com base no
Fator de Segurança (FS)

Gean Paulo Michel (IPH-UFRGS)


Masato Kobiyama (IPH-UFRGS)

Resumo
A estimativa da profundidade do solo é uma tarefa essencial para entendimentos dos
fenômenos hidrogeomorfológicos. O presente trabalho propôs uma nova formulação
para estimativa da profundidade do solo através da inserção de um modelo hidrológico
na equação do Fator de Segurança. A equação foi aplicada e comparada com outras
equações de embasamento similar. Os resultados mostraram que dentro de sua faixa de
aplicabilidade a equação proposta demonstra comportamento adequado.

Palavras-Chaves
Profundidade do solo; modelagem; estabilidade de encosta

Abstract
The soil depth estimate is an essential task on understanding hydro-geomorphological
phenomena. The present study proposed a new formulation for estimating the soil depth
through the insertion of a hydrological model in the Safety Factor equation. The
proposed equation was applied and compared with other equations with similar
approach. The results demonstrated that the proposed equation has an appropriate
behavior inside its application boundary.

Keywords
Soil depth; modeling; slope stability

Apostila Pag.192
1. Introdução
A compreensão sobre a evolução e a distribuição espacial da profundidade do solo é de
extrema importância para o estudo da evolução da paisagem (Willgoose et al., 1991),
processos hidrológicos em encosta (Tromp-Van Meerveld e McDonnell, 2006) e erosão
(Riggins et al., 2011).
A profundidade do solo pode ser entendida como o resultado final da atual pedogênese.
Conforme Addiscott (1994), a modelagem da pedogênese não é uma tarefa simples,
pois esta é resultado da combinação de muitos processos. Mesmo que a formulação
utilizada para cálculo da profundidade seja extremamente complexa, diversos métodos
para sua estimativa vêm sendo propostos até hoje, por exemplo, Trustrum e De Rose
(1988), Saulnier et al. (1997), D’Odorico (2000), Iida (1999), e Riggins et al. (2011).
Entretanto, nenhum desses modelos é capaz de explicar a totalidade da distribuição da
profundidade dos solos de uma bacia hidrográfica.
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi propor uma nova metodologia para estimar
a profundidade do solo a partir da formulação do Fator de Segurança (FS) e discutir
problemas existentes nesta formulação por meio de sua comparação com outras
metodologias que se baseiam em princípios similares. No presente trabalho, inicia-se a
dedução desta formulação a partir da equação do FS para um modelo de encosta
infinita, discutida detalhadamente por Michel et al. (2014) que tiveram por base as
equações apresentadas por Selby (1994).

2. Material e Métodos
Segundo Michel et al. (2014), o FS é expresso pela Eq. (1). Veja todas as equações na
Figura 1. Modificando a Eq. (1), obtêm-se a Eq. (2).
Na Eq. (2), a razão entre a altura da camada d’água dentro do solo e a profundidade do
solo representa o grau de saturação do solo da encosta. Através de seu modelo
hidrológico de recarga uniforme, O’loughlin (1986) definiu que a umidade da encosta
pode ser estimada através da Eq. (3).
Caso a condutividade hidráulica saturada seja constante ao longo de todo o perfil do
solo, a Eq. (3) se torna a Eq. (4).
A Eq. (4), por se tratar de uma representação permanente do balanço hídrico da camada
de solo, é capaz de estimar um comportamento médio do nível de saturação do solo ao
longo do tempo. Substituindo a Eq. (4) na Eq. (2), obtém-se a Eq. (5).
Considerando que para uma encosta o limite de estabilidade ocorre quando o FS é igual
a um, é possível estimar a profundidade máxima que o solo poderá alcançar, sem gerar
instabilidade, embasado nas características de resistência do solo, nas características
geomorfológicas da encosta e nas condições hidrológicas que se desenvolvem. Assim,
igualando o FS a um na Eq. (5) e isolando a profundidade do solo, obtém-se a Eq. (6).
A Eq. (6) apresenta uma nova formulação para estimar a profundidade máxima
alcançada pelo solo da encosta em determinada condição hidrológica. Considerando que
a chuva média anual que incide sobre uma bacia não é capaz de deflagrar

Apostila Pag.193
escorregamentos, um valor de taxa de recarga uniforme igual à precipitação média anual
é um cenário aceitável para estimativa da profundidade máxima do solo de uma encosta.
O presente trabalho realizou um calculo com a Eq. (6). Para verificar seu desempenho
duas fórmulas (Eqs. (7) e (8)) propostas por Iida (1999) também foram testadas.

Figura 1 – Equações desenvolvidas para estimar a profundidade do solo.

3. Resultados e Discussão
A Figura 2 demonstra o resultado da estimativa da profundidade máxima do solo para
diferentes declividades de encosta, através da aplicação de três diferentes equações. As
Eqs. (7) e (8) foram desenvolvidas seguindo os pressupostos de solo completamente
saturado e completamente seco, respectivamente (Iida, 1999). Entretanto, a formulação
proposta (Eq. (6)) não possui, nenhum destes pressupostos, representando uma condição
mais próxima da realidade. Além disso, ao incorporar parâmetros hidrológicos e
geomorfológicos, a Eq. (6) adquire aptidão para representar a influência destes
processos na estimativa da profundidade do solo. Tendo isto em vista, a aplicação da
Eq. (6) pode ser mais adequada em relação às demais para encostas que não apresentam
tendências de completa saturação ou ausência de água.
Como a profundidade do solo é sempre positiva, a Figura 2 claramente demonstra que,
ao mínimo, a aplicação das Eqs. (6) e (8) requer que a declividade da encosta seja maior
que o ângulo de atrito interno do solo. Para aplicação da Eq. (7) é pelo menos necessário

Apostila Pag.194
que a tangente da declividade da encosta seja maior que o produto entre a tangente do
ângulo de atrito interno do solo e a diferença entre uma unidade e a razão entre o peso
específico da água e do solo. Percebe-se que a faixa de valores de declividade para os
quais o valor da profundidade do solo calculado é positivo é muito maior com a Eq. (7)
que com as Eqs. (6) e (8).
Para valores de declividade maiores que os descritos acima, a profundidade do solo
assume valores positivos. Entretanto, quando o valor da declividade da encosta tende
pela direita aos limites descritos, as equações tornam-se assíntotas verticais, ou seja, os
valores da profundidade do solo tendem a valores infinitos, o que certamente não
descreve uma situação real. Por isso, mesmo gerando valores de profundidade do solo
positivos, alguns valores de declividade da encosta devem ser descartados da faixa de
aplicabilidade de tais equações. Tais problemas encontrados nos resultados destas
equações são gerados pela existência de diferença de dois termos no denominador das
equações, assim, quando este é negativo, nulo ou está se aproximando de zero
inviabiliza a aplicação das mesmas.
Por outro lado, dentro das faixas de aplicabilidade dessas equações, a tendência de
redução de profundidade do solo com o aumento da declividade encontra-se bastante
satisfatória. Pode-se dizer que dentro das faixas de aplicabilidade, essas equações são
válidas. Especialmente, a nova formulação apresenta considerável utilidade por causa de
sua relação com as reais condições hidrológicas que se desenvolvem na camada do solo.
Percebe-se uma grande coerência dos resultados encontrados com a aplicação da Eq.
(6). Para qualquer que seja a declividade da encosta, a máxima profundidade possível
sempre será maior ao considerar o solo completamente seco ao invés de considera-lo
completamente saturado. Ao considerar uma condição de saturação intermediária, os
valores calculados de máxima profundidade também deverão ser intermediários, o que
foi demonstrado com a aplicação da Eq. (6).
Entretanto, a aplicação da Eq. (6) não exclui a utilidade das demais. Quando não existe
nenhum tipo de aporte de água no solo e este se encontra completamente seco, alguns
termos da Eq. (6) anulam-se, e esta passa a ser idêntica a Eq. (8). Quando há demasiado
aporte de água e a camada de solo encontra-se completamente saturada, os resultados
obtidos com a Eq. (6) não serão coerentes, pois o máximo valor de saturação possível é
igual a uma unidade, e a elaboração da Eq. (6) desconsidera esta limitação. Portanto,
para aplicação da Eq. (6), é necessário verificar que a camada do solo não estará
completamente saturada através da Eq. (4). Entretanto, a resolução iterativa da Eq. (5),
assumindo que o valor máximo da saturação se limita a uma unidade, é uma
metodologia alternativa que não exige nenhum tipo de ressalva.

Apostila Pag.195
Figura 2 – Variação da profundidade do solo em função da declividade da encosta. Para
elaboração do gráfico foi utilizado um valor de coesão igual 11,9 kPa; de peso
específico da água e do solo iguais a 1.000 e 1.800 kg/m³, respectivamente; de ângulo
de atrito interno do solo igual a 30,5°; de taxa de recarga uniforme igual a 0,005 m/dia;
de condutividade hidráulica saturada igual a 0,38 m/dia; de área de contribuição igual a
300 m²; e de comprimento de contorno igual a 5 m.

4. Considerações Finais
A estimativa da profundidade do solo é uma tarefa muito importante para qualquer tipo
de modelagem hidrogeomorfológica, principalmente na avaliação da estabilidade de
encostas. Embora muitos autores dediquem-se para fazê-la adequadamente, explicar a
profundidade para todos os pontos de uma bacia é ainda uma meta a ser alcançada.
Os resultados obtidos no presente trabalho mostraram que existem limitações de uso
para todas as equações testadas. Entretanto, a nova formulação (Eq. (6)) demonstrou
grande coerência dentro de sua faixa de aplicabilidade, podendo ser uma metodologia
aplicável para o estudo de processos hidrológicos e geomorfológicos em encostas. Esta
aplicabilidade deve-se principalmente ao embasamento dado a Eq. (6), onde, para sua
obtenção, parâmetros hidrológicos e geomorfológicos foram inseridos na formulação do
FS. Recomenda-se que estudos de estabilidade de encostas utilizem tais equações para
minimização de erros por superestimar a profundidade do solo das encostas.

Apostila Pag.196
5. Agradecimentos
Os autores agradecem ao Prof. Ricardo Rigon, Universidade de Trento, por ter sempre
disponibilizado seus pensamentos sobre a hidrologia e geomorfologia no seu site (blog)
na internet e também aos membros do Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais
(GPDEN) do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul pela discussão cotidiana sobre a formação do solo associada ao escorregamento.

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9º SINAGEO - Simpósio Nacional de Geomorfologia
21 à 24 de Outubro de 2012 RIO DE JANEIRO / RJ

O Papel dos processos hidrogeomorfológicos extremos na evolução


de paisagem

Goerl, R.F. (UFPR) ; Michel, G.P. (UFSC) ; Kobiyama, M. (UFSC) ; Santos, I. (UFPR)

RESUMO
Processos hidrogeomorfológicos extremos afetam freqüentemente a sociedade. Como estes
processos fazem parte da evolução da paisagem devem ser analisados sob esta ótica. O presente
trabalho analisou as alterações morfométricas em duas bacias no município de Rio dos Cedros/SC.
Foi observado que as modificações estão relacionadas com a área. A hipsômetria e declividade na
maior bacia não se alteraram, enquanto que em uma sub-bacia alteraram significativamente

PALAVRAS CHAVES
Processos hidrogeomorfoló; Fluxo de detritos; Evolução da paisagem

ABSTRACT
Hydrogeomorphic extreme processes affect society frequently.. Since these processes are part of the
landscape evolution, they must be analyzed under this perspective. The present work analyzed the
morphometric changes in two watershed, Rio dos Cedros city, Santa Catarina state. It was noticed
that the chances are related to the area. In the bigger watershed, hypsometry and slope were not
changed, while in a sub-basin changed significantly

KEYWORDS
Hydrogeomorphic processes; Debris Flow; Landscape evolution

INTRODUÇÃO
Cada vez mais a sociedade sofre com processos hidrogeomorfológicos extremos, especialmente os
deslizamentos. Prejuízos econômicos e perdas de vidas têm sido noticiados com maior freqüência,
como em Santa Catarina (2008) e Região Serrana do RJ (2011). Por outro lado, estes eventos fazem
parte da dinâmica terrestre e são importantes processos modeladores da paisagem. Assim, os
mesmos devem ser abordados sob ambos os aspectos, dos desastres e dos processos naturais. A
abordagem sob o ponto de vista dos desastres geralmente se faz por meio de mapeamentos de risco
ou susceptibilidade através de modelagem ou mapeamento geotécnico (Guzzetti et al., 1999;
Fernandes et al., 2004; Augusto Filho, 2006; Guimarães et al., 2009; Viera et al., 2010). Já a
abordagem em relação ao processo natural faz-se freqüentemente por meio de relações de
magnitude e frequência (Johnson et al., 1991; Steijn, 1996), persistência (Guthrie e Evans, 2007)
volume de sedimento movimentado (Korup et al., 2004; Corsini et al., 2009; Kobiyama et al., 2011)
conectividade com o sistema fluvial e evolução da paisagem (Jacobson et al., 1989; Crozier, 2010).
Por possuírem condicionantes hidrológicos e geomorfológicos, os deslizamentos podem também ser
analisados como processos hidrogeomorfológicos (Hungr et al., 2001; Sidle e Onda, 2004; Wilford et
al., 2004, 2005; Sakals et al., 2006). Dessa maneira, passa-se a analisar o quanto um deslizamento
altera a paisagem em termos de forma e geometria e o quanto esta alteração na paisagem altera os
processos hidrogeomorfológicos (Willgoose et al., 1994). Esta abordagem hidrogeomorfológica vem
ao encontro do conceito de persistência (Guthrie e Evans, 2007, Crozier, 2010) que trata justamente
em mensurar as modificações espaço-temporais na paisagem ocasionadas pelos deslizamentos.
Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo quantificar o quanto uma bacia hidrográfica é
alterada morfométricamente por fluxos de detritos.

MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo é a bacia do rio Cunha, SC, na qual em novembro de 2008 ocorreram quatro fluxos
de detritos (Goerl et al, 2009). A bacia possui aproximadamente 16 km², a altimetria varia de 112 m
a 877 m e a declividade média é 16º. Além da bacia do rio Cunha, a sub-bacia Debris B (0,65 km²)

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também foi analisada. Esta sub-bacia foi escolhida, pois apresentou o maior deslizamento. Para as
análises comparativas pré e pós-evento foi utilizada a base cartográfica digital em escala 1:50000
disponibilizada pela EPAGRI. Através desta base foi gerado um Modelo Digital de Terreno (MDT) com
resolução de 10m utilizando o interpolador Topo to Raster, do qual foram extraídas curvas de nível
em intervalos de 10m. A topografia pós-deslizamento foi elaborada através de sucessivos
levantamentos topográficos realizados com a estação total Leica TPS 400 e o GPS Diferencial Trimble
5700 e R3. Foram coletados cerca de 10.000 pontos nos 4 fluxos de detritos, tanto na área deslizada
como na borda da mesma. As cotas destes pontos foram comparadas com as curvas de 10m pré
evento, garantindo a compatibilidade espacial. Utilizando a extensão spatial analyst do ArcGIS 9.3 as
curvas originais dentro do deslizamento foram “excluídas” e re- interpoladas novamente as curvas
10m geradas com os pontos coletados, tendo assim o MDT pós-evento. As curvas 10m originais
foram re-interpoladas, gerando o MDT pré-evento. Três atributos foram analisados: curva
hipsométrica, altimetria e declividade. Para isto, foi elaborado um histograma em intervalos
regulares de 10m para a altimetria e de 1º para a declividade. Foram então comparados os
histogramas, determinando a diferença de área por classe. Através destas análises as diferenças
entre a paisagem pré e pós-evento foram mensuradas, determinando assim quantitativamente a
evolução da paisagem associada a um evento hidrogeomorfológico extremo e o quão significativa foi
esta alteração.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observar-se nas Figs. 1a (pré-evento) e 1b (pós-evento) que os deslizamentos provocam assinaturas
na paisagem através de suas cicatrizes. Apesar de extensos, variando entre 350 m a 1,3 km, a soma
das áreas deslizadas é pouco representativa em relação à área total da bacia, apenas 1,1% (0,18
km²). Devido à extensão e distribuição espacial dos deslizamentos, todas as classes hipsométricas
foram modificadas (Fig. 1c). Os deslizamentos Debris A e B, devido a sua maior extensão, alteraram
mais classes altimétricas do que o Debris C e D. Por outro lado, por estarem à montante, o Debris C
e D modificaram cotas mais altas. A maior variação se concentrou em dois intervalos: até 260 m e
entre 440 m e 560 m. Em relação à declividade (Fig. 1d), houve a alteração das classes de menor
valor, associado à deposição irregular do material deslizado. As áreas planas foram recobertas por
sedimentos grosseiros, dispostos de forma caótica, o que explica a redução das áreas totalmente
planas (0º). Em relação às demais classes, houve a redução das áreas de declividade intermediária e
um aumento das áreas mais declivosas. As alterações foram maiores nas classes mais baixas e
posteriormente apresentaram um comportamento relativamente homogêneo. Apesar das alterações
na altimetria e na declividade, a curva hipsométrica manteve-se constante (Fig. 1e), explicado
principalmente pela pequena área alterada pelos deslizamentos em relação à área da bacia. Dessa
maneira, o comportamento médio da bacia manteve-se inalterado, apesar de haver um aumento da
declividade máxima (Fig. 1f). Na bacia Debris B (Figs. 2a e 2b) a área deslizada abrangeu cerca de
10% da bacia (0,06 km²), se estendendo por 1,3 km desde o divisor até próximo à exutória. Devido à
forma da bacia, alongada, larga nas cabeceiras se estreitando em direção à exutória, houve uma
maior alteração nas cotas mais baixas (Fig. 2c), pois a área deslizada recobre maior extensão neste
último trecho. A declividade apresentou uma variação em dois blocos (Fig. 2d). Houve uma
diminuição da área entre 10º e 25º e um aumento entre 26º e 49º. As áreas menos declivosas
apresentaram pouca alteração. Após a ocorrência de um deslizamento, geralmente sua cabeceira
fica côncava, aumentando a declividade na parte superior e diminuindo em sua deposição,
geralmente convexa. Contudo, como nesta bacia ocorreram fluxos de detritos, o trecho de
transporte também sofreu erosão, escavando o fundo de vale, aumentando assim a declividade não
apenas na cabeceira. Além disso, devido à presença de blocos e a seleção pobre dos sedimentos,
aliada a rápida erosão hídrica sedimentos inconsolidados, a área de deposição não apresenta feições
bem planas. Dessa maneira, não há um aumento de áreas relativamente planas, mas uma redução
delas. Na bacia Debris B a curva hipsométrica ficou ligeiramente alterada (Fig. 2e), diminuindo as
áreas de cotas menores, explicado principalmente pelo leque de deposição e pela forma da bacia.
Isto fica evidente na alteração da altimetria média e da declividade máxima e média (Fig. 2f). Este
aumento na declividade média pode sugerir uma retomada dos processos erosivos, aumento da taxa
de denudação e redução do equilíbrio. Comparando a variação das duas bacias, fica claro que a
bacia do rio Cunha apresentou pouca alteração em relação à morfometria, associada principalmente

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a relação entre a área deslizada com a área da bacia. Já a bacia Debris B apresentou maior
alteração. Isto evidencia que a distribuição espacial dos processos hidrogeomorfológicos também
exerce controle sobre a evolução da paisagem além da relação entre área deslizada e área da bacia.
Assim, a magnitude de tal evento deve levar em consideração a área da bacia, e não apenas o
volume e alcance do deslizamento

Figura 1

Alterações morfométricas da bacia do rio Cunha

Figura 2

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Alterações morfométricas da bacia Debris B

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou demonstrar as alterações na paisagem associada à ocorrência de quatro
fluxos de detritos. Para isto, a altimetria e declividade pré e pós evento foram analisadas em duas
escalas, bacia do rio Cunha (16 km2) e sub- bacia Debris B (0,65 km2). Apesar de magnitude do
evento, o mesmo não alterou significativamente as características da bacia do rio Cunha. Já em
relação à bacia Debris B, houve uma modificação substancial, principalmente na declividade média e
a máxima. Isto implica um aumento das taxas de erosão e conseqüentemente da denudação da
bacia. Nota-se assim que existe uma dependência espacial na evolução da bacia, principalmente em
relação à razão entre a área da bacia e a do deslizamento. Dessa maneira, apesar de extremos, os
fluxos de detritos não causaram grandes modificações na bacia do rio Cunha. Este resultado sugere

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que eventos de média magnitude e de maior freqüência são agentes mais efetivos na evolução da
paisagem

AGRADECIMENTOS
O primeiro autor agradece ao programa REUNI/UFPR pela bolsa de doutorado. O segundo autor
agradece ao CNPq pela bolsa de mestrado. Os autores agradecem ainda aos membros do
Laboratório de Hidrogeomorfologia da UFPR e do Laboratório de Hidrologia da UFSC pelas criticas ao
presente trabalho

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5 INUNDAÇÃO

LEONARDO ROMERO MONTEIRO


MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL

As inundações são consideradas os desastres naturais que causam maiores perdas no


mundo. No Brasil, este fenômeno ocorre com alta frequencia afetando diversos municípios
que, por causa dos grandes danos provocados, declaram estado de emergência ou até situação
de calamidade pública. A maior ocorrência desses fenêmonos se dá em áreas planas (planície
de inundação) onde a maior parte da população mundial está instalada. As inundações são
ainda mais intensas e frequentes em cidades que não possuem um planejamento adequado
para a drenagem ou gerenciamento destas águas. Assim, por causa do interesse da sociedade,
as inundações são investigadas intensamente, principalmente com o intuito de prevenção de
desastres naturais.
O Índice de Perigo, proposto por Stephenson (2002), indica qual a intensidade de
destruição de escoamentos relacionando a altura e a velocidade do mesmo. Este é um forte
indicador para criação de mapas de perigo, pois ao mesmo tempo que fornece uma
informação importante é de fácil tratamento matemático. O mapa de perigo de inundações é
criado a partir de mapas de inundação com diferentes períodos de retorno e apresenta os locais
onde existe probabilidade de determinada área ser inundada e qual é o potencial destrutivo do
escoamento. Este mapa é útil para o planejamento de cidades e deve fazer parte do plano
diretor para evitar a ocupação de áreas com alto índice de perigo.
Os seguintes artigos apresentam metodologias para identificar os tipos de inundação e
mapear o perigo de inundações, além de discutir e analisar os efeitos de fatores hidrológicos
nas inundações:

• KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F. Quantitative method to distinguish flood and flash
flood as disasters. SUISUI Hydrological Research Letters, v.1, p.11-14, 2007.
• KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F. Identificação dos riscos. Emergencia, fev/mar, p.48-
51, 2011.
• SANTOS, I.; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de
áreas saturadas da bacia do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista
Ambi-Água, v.3, n.2, p.77-89, 2008.
• MONTEIRO, L.R.; KOBIYAMA, M. Proposta de metodologia de mapeamento de
perigo de inundação. REGA, v.10, n.2, p.13-25, 2013.
• MONTEIRO, L.R.; KOBIYAMA, M. Influências da distribuição temporal de
precipitação no mapeamento de inundações, REGA, 16p. (submetido)

Apostila Pag.204
SUISUI Hydrological Research Letters 1, 11 14 (2007)
Published online in J-STAGE (www.jstage.jst.go.jp/browse/suisui). DOI: 10.3178/suisui.1.11

Quantitative method to distinguish flood and flash flood as disasters


Masato Kobiyama1 and Roberto Fabris Goerl2
1
Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Sanitaria e Ambiental
2
Instituto de Pesquisa e Prevenç
ao em Desastres Naturais

between the flood and the flash flood. Due to different


Abstract: perceptions and terminologies used for the floods, there
is a difficulty in standardizing the flood categories (Few
The Civil Defense in Brazil needs to identify and dif- et al., 2004). The complexities of the floods as natural
ferentiate floods and flash floods for the official registry. phenomena generate several definitions both for floods
This study aims to quantitatively define and differenti- and for flash floods. The characteristics of the floods as
ate between floods and flash floods. Floods and flash disasters still more increase the number of definitions.
floods are characterized by factors including the speed The objective of this study is to review various defi-
of water level rise and water flow; the hydrological nitions on the flood and the flash flood, and to propose
response time to a rainfall event and the extension of the Operation Efficiency Index (OEI) to quantitatively
the flood affected area. The hydrological definitions are distinguish between these events. Though floods are
ambiguous and make it difficult to distinguish between typical natural phenomena, the interactions between
a flood and flash flood event. Even though some papers the flood hazard and the human system result in the
have mentioned that flash floods occur within 6 hours flood disasters. The human system is frequently the
after an intense rainfall event, there is still certain sub- most important factor in disaster assessment. The
jectivity. This study proposes the use of the Operation proposed distinction method through use of the OEI,
Efficiency Index (OEI) as a quantitative means to distin- considers the human-related factor.
guish between a flood and flash flood event. The OEI is
defined as the rate of the time of flood concentration
(Tc) to the operational response time (To) in the institu- TERMINOLOGY OF FLOODS
tion-community system. Tc and To are associated with AND FLASH FLOODS
environmental and human factors, respectively. When
the OEI value is smaller than one, then flash floods Floods
occur. Otherwise the event can be defined as a flood.
According to Few et al. (2004), each flood acquires
some particular and inherent characteristics of the oc-
KEYWORDS flood; flash flood; Operation Efficiency
currence locality such as flow velocity and height,
Index
duration, and rate of water-level rise. In Table I flood
and similar terms are presented with their respective
INTRODUCTION definitions. It is noticed that there is a little variation of
definitions of this flood type. Many of them show some
common aspects: for example, the flood water usually
In Brazil, the National, State and Municipal Civil
covers a dry area denominated floodplain and this type
Defenses are governmental organisations responsible
of flood is caused by continuing rains. The water-level
for disaster management. One of the most important
rising is so slow that it usually occurs in large river
services of the Civil Defense is the official registry of
catchments, allowing sufficient time for people to be
natural disaster occurrences. As part of this registration
alerted. However, it also occurs in small river catch-
process, a damage assessment form (AVADAN) is used
ments, because the main trigger factor is persistent
to record each natural disaster. According to the
rains. The associated damages are in high totality,
Brazilian legislation, the Municipal Commissions of
because the waters reach great extensions adjacent to
Civil Defense (COMDEC) is responsible for completing
the river. Since there is time to alert and consequently
the AVADAN form. It can be a good registration
time to take people far away from the probable reached
method if it is filled out in a correct way for all the types
areas, the human losses in floods are relatively smaller
of disasters, because the disasters registry can contrib-
than in the flash floods.
ute significantly to the scientific research and the
planning that make part of the actions of the pre-event
and post-event stages in disaster management. Flash Floods
The first information to be filled out on the Flash floods occur in a sudden, violent and unex-
AVADAN is the disaster type and its code (CODAR). In pected way, usually in small areas, resulting in a greater
the CODAR, the Civil Defense classifies the floods into danger to life and severe structural damages. They are
four types: gradual flood, flash flood, urban pond and provoked by intense rainfalls. It must be emphasized
coastal flood. Gradual floods and flash floods are the that the early warning system is indispensable for the
most commonly registered floods. Since each type reduction in damages associated with flash floods.
requires different structural and non-structural mea- The damage potential of flash floods is confined to
sures, it is important to identify which type of flood (i.e. the direct neighborhood of the river: the total damage is
gradual flood or flash flood) has occurred. However, to usually not very extensive although due to the high ve-
identify them is not a simple exercise. Georgakakos locities the individual damage to structures or persons
(1986) commented that there is no sharp distinction is very large (Plate, 2002). Because flash floods usually
affect relatively small areas, losses resulting from them
Correspondence to: Masato Kobiyama, Departamento de
Engenharia Sanit aria e Ambiental, Universiade Federal de
Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianopolis-SC, CEP 88040-
900, Brazil. E-mail: kobiyama@ens.ufsc.br. ©2007, Japan Received 9 May 2007
Society of Hydrology and Water Resources. Accepted 3 October 2007
Apostila Pag.205
― 11 ―
M. KOBIYAMA AND R. F. GOERL

Table I. Some terms and definitions of floods

Term Author Definition

Flood Office of Technology An overflow of lands not normally covered by water and that are used or usable by
Assessment (1980) man.

Flood FEMA (1981) Flooding results when the flow of water is greater than the normal carrying capacity
of a stream, or where coastal waters exceed the normal high tide.

Gradual flood Castro (1996) Occur when the waters rise in a slow and previsible way, keeping in this situation for
some time, and after that they are drained gradually.

River flood Kron (2002) Is the result of intense and/or persistent rain for several days or even weeks over large
areas sometimes combined with snowmelt. River floods build up gradually, though
sometimes within a short time.

Flood Dhar and Nandargi A flood is defined when at a gauge/discharge (G/D) site the flood waters flow above a
(2002) certain level which is called danger level (D.L.) or warning level. Danger levels at G/D
sites indicate the level above which flood waters will start inundating the areas along
the river.

Flood European Spatial Flood is a high-water stage in which water overflows its natural or artificial banks
Planning Observation onto normally dry land such as a river inundating its floodplain.
Network (2003)

Riparian flood Tucci and Bertoni When the precipitation is intense and soil can not infiltrate it, large part of the precipi-
(2003) tation flows to the drainage system, getting superior to its natural capacity of the flow.
This excess of this volume that can not be drained occupies lowlands, flooding areas
very near the rivers.

Flood National Disaster Flooding occurs in known floodplains when prolonged rainfall over several days,
Education Coalition intense rainfall over a short period of time, or an ice or debris jam causes a river or
(2004) stream to overflow and flood the surrounding area.

River flood Choudhury et al. River flooding occurs due to heavy monsoon rainfall and melting snow in the upper
(2004) catchments areas of the major rivers of Bangladesh. Resultant runoff causes these
rivers to rise, over-flow their banks, and spread water to floodplain zones.

River flood Mendiondo (2005) The overflow of river courses is usually the result of prolonged, copious precipitation
over a large area. Usually, a warning can be given a few hours or days beforehand on
the basis of flood forecasts.

Flood NWS/NOAA (2007) Any high flow, overflow, or inundation by water which causes or threatens damage.

can be overcome by the municipal district. Kelsh (2001)


analyzed 22 flash flood cases in USA and showed that OPERATION EFFICIENCY INDEX
the average size of the watersheds for the flash flood
events was 46 km2. Previously, normal floods have been registered as
Responsible factors for the short duration of the flash floods, and vise verse. This kind of mistake fre-
flash flood include intense rains that persist on an area quently occurs not because of a shortage of knowledge,
for a few hours, steep slope, impermeable surfaces, but because of the complexity of the phenomena and
and sudden release of impounded water (Georgakakos, the ambiguous definitions listed in Tables I and II. This
1986). Hence, particular hydrological characteristics situation requires establishing a quantitative method to
such as small basins, steep slopes and low infiltration distinguish the normal (or gradual) flood and the flash
capacity combined with a meteorological event contrib- flood by reducing the degree of subjectivity. Remember-
ute to the flash flood formation. ing the description of Georgakakos (1986); “the flash
Table II shows some definitions for flash floods, floods require a rapid alarm (early warning) system of
where only three papers (WMO, 1994; NDEC, 2004; the local forecasting center”, the present work proposes
NWS/NOAA, 2007) define the flash floods with the a quantitative method to identify these two types of
value of 6 hours. Georgakakos (1986) adopted 12 hours floods by use of the Operation Efficiency Index (OEI).
as the upper bound of the time interval between the This index is defined as:
time of occurrence of the causative event and the time 
of occurrence of the flash flood. According to KP. OEI = (1)
Georgakakos (personal communication), these values (6 ,
and 12 hours) are just empirical. It might be, therefore where Tc is the time of flood concentration and To is the
said that they must be suitable for one local and must operational response time in the institution-community
not for another one. In other words, it is not simple to system. Tc considers some environmental factors such
determine the critical time for differentiation between as precipitation, topography, and land use (McCuen
floods and flash floods. et al., 1984), whereas To is determined by some human
factors:
To = Ta + Tt + Tal + Te , (2)
Apostila Pag.206
― 12 ―
QUANTITATIVE METHOD TO DISTINGUISH FLOOD AND FLASH FLOOD AS DISASTERS

Table II. Definitions of flash floods

Term Author Definition

Flash flood IAHS-UNESCO-WMO Sudden floods with high peak discharges, produced by severe thunderstorms that are
(1974) generally of limited areal extent.

Flash flood Office of Technology A flood that follows the causative event (this might be excessive rains, a dam failure,
Assessment (1980) etc.) within a few hours.

Flash flood NOAA (1981) Operationally, flash floods are floods that are short fused and require the issuance of
warnings by the local warning and forecast offices rather than by the regional River
Forecast Centers.

Flash flood FEMA (1981) Flash flooding usually consists of a quick rise in water surface elevation with abnor-
mally high water velocity often creating a 'wall' of water moving down the channel
and floodplain.

Flash flood Georgakakos (1986) Any flood that occurs at a certain location within a few hours after the causative event
(e.g., rainfall, dam break). The time interval of 12 hours is adopted as the upper bound
of the time interval between the time of occurrence of the causative event and the time
of occurrence of the flash flood at a certain location.

Flash flood WMO (1994) In small catchment, with the time of concentration less than 6 hours, intense precipita-
tion can generate a flash flood.

Flash flood K
om
usç
u et al. (1998) Are usually produced by intense convective storms which cause very rapid runoff, and
the damaging flood usually occurs within hours of the causative rainfall and affects
very limited areas.

Flash or Rapid Castro (1996) Are caused by intense and concentrated rainfall in steep slope regions, and character-
flood ized with rapid and violent rising of level of water which flows rapidly.

Flash flood Doswell (1997) Flood events where the rising water occurs during or a matter of a few hours after the
associated rainfall. If the damaging water level increases occur more than a few hours
after the rainfall, the event is considered to be a flood, not a flash flood.

Flash Flood AMS (2000) A flash flood is a flood that rises and falls quite rapidly with little or no advance
warning, usually the result of intense rainfall over a relatively small area.
Flash flood Kelsch et al. (2001) Phenomena in which the important hydrologic processes area occurring on the same
spatial and temporal scales as the intense precipitation.
Flash flood Kron (2002) They are produced by intense rainfall over a small area. Typically, flash floods have an
extremely sudden onset.

Flash flood National Disaster Flash floods occur within 6 hours of a rain event, or after a dam or levee failure, or fol-
Education Coalition lowing a sudden release of water held by an ice or debris jam.
(2004)

Flash flood Choudhury et al. Flash floods are very short-lived floods lasting from several hours to a few days. Water
(2004) in such flooding rises and falls rapidly.

Flash flood Mendiondo (2005) Is a flood event of short duration with a rapidly rising flood wave and a rapidly rising
water level. Flash floods are caused by heavy, usually short precipitation, as a torren-
tial rain, in an area that is often very small, typically in conjunction with a thunder-
storm.

Flash flood NWS/NOAA (2007) A rapid and extreme flow of high water into a normally dry area, or a rapid water level
rise in a stream or creek above a predetermined flood level, beginning within 6 hours
of the causative event (e.g., intense rainfall, dam failure, ice jam).

where Ta is the antecedent time of weather forecasting tially smaller damages). If OEI < 1, there is a very short
with high precision; Tt is the transmission time of the time for saving lives (i.e. potentially larger damages).
forecasting from the forecasting center to the Civil Hence, this index is used to differentiate flood and flash
Defence; Tal is the time necessary for the Civil Defence floods as disasters, not as natural phenomenon.
to alert the community; and Te is the time necessary for In the study of Marcelino et al. (2006) which used the
the communities to move to safe places. Thus, the OEI AVADAN data for elaborating a natural disaster risk
involves some of the factors that trigger natural disas- map of the Santa Catarina State, Brazil, some incorrect
ters (i.e. the environmental and human factors). registries of normal flood events have been made. For
Usually To > 0, thus in the case where OEI > 1, the example, the data showed that the state capital,
flood is defined as “normal” flood, while in the case Florianopolis city, has suffered from a high occurrence
where OEI < 1, the flood is defined as a “flash” flood. If of gradual floods. Based on Kobiyama et al. (2006)
OEI > 1, there is enough time to save lives (i.e. poten- which investigated the Tc values for the small experi-
Apostila Pag.207
― 13 ―
M. KOBIYAMA AND R. F. GOERL

mental catchment in Florian opolis, the values of Tc in FEMA. 1981. Design guidelines for flood damage reduction.
Florianopolis are about half an hour. There is no system Federal Emergency Management Agency: Washington,
in place to evacuate the population within one hour in DC; 102. http://www.fema.gov/hazards/floods/lib15.shtm.
this city. It means that OEI is always smaller than one in Accessed: 27 March 2007.
Few R, Ahern M, Matthies F, Kovats S. 2004. Floods, health and
this city, which automatically indicates that this city climate change: a strategic review. Tyndall Centre: Norwich;
has only flash floods. Hence, the normal or gradual 138 (Working Paper 63).
floods registered in a certain locality can be considered Georgakakos KP. 1986. On the design of natural, real-time
flash floods if Tc values are within a few hours. warning systems with capability for site-specific, flash-
flood forecasts. Bulletin American Meteorological Society
67: 1233 1239.
CONCLUSION IAHS-UNESCO-WMO (ed.) 1974. Flash Floods. In: Proceedings
of the Paris Symposium. UNESCO: Paris; 119 (Publication
Not only in Brazil but also in various other countries, No. 112).
Kelsch M. 2001. Hydrometeorological characteristics of flash
the distinction between floods and flash floods is essen- floods. In Coping with Flash Floods, Gruntfest E., Handmer
tial for optimal flood disaster management. This work J. (eds.) Kluwer Academic Publishers: Dordrecht; 181 194.
proposes a quantitative method to distinguish between Kelsch M, Lanza L, Caporali E. 2001. Hydrometeorology of
floods and flash floods by using the OEI. flash floods. In Coping with Flash Floods, Gruntfest E.,
Floods are natural phenomena, and frequently con- Handmer J. (eds.) Kluwer Academic Publishers: Dordrecht;
sidered as natural disasters. The floods as natural phe- 19 35.
nomenon are caused only by the environmental factor, Kobiyama M, Grison F, Lino JFL, Silva RV. 2006. Time of con-
whereas the floods as disasters are caused by the envi- centration in the UFSC Campus catchment, Florian opolis-
SC (Brazil), calculated with morphometric and hydro-
ronmental and human factors. Therefore the flood logical methods. In Proceedings of Regional Conference on
disaster analysis must consider human-related factors Geomorphology, UFG-IUG, Goi ania; 1 10. CD-ROM.
which are fundamental in disaster occurrence and affect Komusçu AU, Erkan A, Çelik S. 1998. Analysis of meteorologi-
all of their prevention stages (i.e. mitigation, prepared- cal and terrain features leading to the Izmir flash flood,
ness, response and reconstruction). In this sense, the OEI 3 4 November 1995. Natural Hazards 18: 1 25.
is coherent, because it considers both environmental Kron W. 2002. Flood risk = hazard × exposure × vulnerability.
and human factors. In Proceedings of the Second International Conference on
For gaining a good mitigation result, it would be Flood Defense, Science Press New York Ltd: New York;
ideal that, in terms of the OEI, when floods occur, more 82 97.
McCuen RH, Wong SL, Rawls WJ. 1984. Estimating urban time
lives can be saved compared with flash floods. In this of concentration. Journal of Hydraulic Engineering 110:
way, at a certain place whose Tc value is known, but 887 904.
where an alert system has not been established yet, the Marcelino, EV, Nunes LH, Kobiyama M. 2006. Mapeamento de
OEI use can determine what Ta is necessary to trans- risco de desastres naturais no estado de Santa Catarina.
form flash floods to just floods. Caminhos de Geografia 8(17): 72 84.
Mendiondo, EM. 2005. Flood risk management of urban waters
in humid tropics: early warning, protection and rehabilita-
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in Humid Tropics, Tucci CE., Goldenfum J. (orgs.) UNESCO
IHP-VI: Foz do Iguaçu; 1 14.
AMS. 2000. Glossary of Meteorology. 2 ed. American Meteoro- National Disaster Education Coalition. 2004. Talking about
logical Society: Boston; 855. disaster: Guide for standard messages. Washington, DC.
Castro ALC. 1996. Manual de desastres Vol. 1. Desastres http://www.redcross.org/disaster/disasterguide/. Accessed:
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Choudhury NY, Poul A, Poul BK. 2004. Impact of costal em- Government Printing Office: Washington, DC; 249.
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Dhar ON, Nandargi S. 2002. Flood study of the Himalayan Office of Technology Assessment. 1980. Issues and Options in
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1.3.1 The spatial effects and management of natural and (Publication No. 168).
technological hazards in general and in relation to climate
change. First Interim Report; 99.

Apostila Pag.208
― 14 ―
ARTIGO

Identificação dos riscos


◗É preciso registrar corretamente as inundações graduais e bruscas
para construir a verdadeira história e evitar futuras tragédias
ANTÔNIO CRUZ/ABr

S egundo o Programa das Nações


Unidas para o Desenvolvimento,
os desastres naturais podem ser
definidos como um sério distúrbio de-
deou a maior iniciativa científica interna-
cional em busca de possíveis estratégias
de mitigação. Hoje, a ONU possui a
UNISDR (Intenational Strategy for Disaster
Devido à grande escala de ocorrência
de tal fenômeno, a terminologia associa-
da a ele acaba variando de local para lo-
cal. No Brasil, os termos associados às
sencadeado por um perigo natural que Reduction). inundações são: cheia, enchente, enxur-
causa perdas materiais, humanas, eco- No Brasil, entre todos os tipos de de- rada, inundação gradual, inundação
nômicas e ambientais excedentes à ca- sastres naturais, as inundações têm o brusca, alagamentos, inundações ribei-
pacidade da comunidade afetada de en- maior número de ocorrências, sendo as rinhas, inundações urbanas, enchentes
frentar o perigo. Por esta definição, po- principais responsáveis por perdas de repentinas entre outros. Esta diversida-
de-se afirmar que os desastres naturais vida e danos socioambientais e econô- de de termos causa uma divergência e
estão sempre associados a prejuízos de micos. Elas são fenômenos naturais, re- até a confusão quanto à caracterização
grande ou pequena intensidade. As ocor- sultados do ciclo hidrológico e forne- das inundações. Sendo assim, o objetivo
rências registradas em banco de dados cem grandes quantidades de fertilizan- deste trabalho foi analisar algumas defi-
mundiais como o EM-DAT, demons- tes e sedimentos às planícies, atuando nições dos dois principais tipos de inun-
tram um aumento dramático da frequên- como agentes modificadores da paisa- dações, isto é, inundações bruscas e gra-
cia dos desastres naturais a partir da gem, trazendo, assim, benefícios à soci- duais, propondo um método de identi-
década de 50 e dos prejuízos econômi- edade. No entanto, muitas vezes, as ficar estas duas inundações e apresentar
cos a partir de 70. Tal aumento desenca- águas da inundação atingem a comuni- algumas considerações relacionadas à
dade em virtude da ocupação sobre a inundação brusca com experiências na
Masato Kobiyama - Departamento de Engenharia Sanitária e
planície de inundação e áreas próximas tragédia no Vale do Itajaí em 2008.
Ambiental – UFSC – kobiyama@ens.ufsc.br aos rios, causando prejuízos e, conse-
quentemente, caracterizando-se como CONCEITOS
Apostila Pag.209
Roberto Fabris Goerl - Doutorando em Geografia – UFPR -
rofabris@yahoo.com.br desastre natural. As palavras cheia e enchente têm co-
48 Emergência FEV/MAR / 2011
mo origem o verbo encher, do Latim Figura 1 - Enchente e inundação
implere, que significa: ocupar o vão, a ca-
pacidade ou a superfície de; e tornar
cheio ou repleto. Quando as águas do
rio elevam-se até a altura de suas mar-
gens, contudo, sem transbordar nas áre-
as adjacentes, é correto dizer que ocor-
re uma enchente. A partir do momento Normal
em que as águas transbordam, ocorre
uma inundação. A Figura 1 demonstra
a diferença entre as enchentes e inunda-
ções. Enchente
A Defesa Civil classifica as inundações
em função da magnitude (excepcionais,
de grande magnitude, normais ou regu-
lares e de pequena magnitude) e em fun-
ção do padrão evolutivo (inundações Inundação
graduais, inundações bruscas, alagamen-
tos e inundações litorâneas), segundo o
pesquisador Antônio Luiz Coimbra de Fonte: Goerl & Kobiyama, 2005
Castro. Apesar desta diferenciação, a
maior parte das situações de emergên- ximo ao evento da chuva que a causa. A devido à falta de conhecimento, mas sim
cia ou estado de calamidade pública é elevação das águas ocorre repentina- devido à dificuldade de identificação do
causada pelas inundações graduais e mente, causando mais mortos, apesar da fenômeno em campo e à ambiguidade
bruscas. De acordo com Castro, as inun- área de impacto ser bem menor do que das definições existentes. Além dos pro-
dações graduais ocorrem quando a água as inundações graduais. A Tabela 2 apre- blemas tipicamente conceituais e etimo-
eleva-se de forma lenta e previsível, senta algumas definições sobre inunda- lógicos, algumas características compor-
mantêm-se em situação de cheia duran- ção brusca por diversos autores. tamentais são similares para ambas as
te algum tempo, e a seguir escoa gradu- inundações, ou seja, ocorrem tanto nas
almente. Citando os rios Amazonas, Ni- DÚVIDAS inundações graduais como nas brus-
lo e Mississippi como exemplos, o mes- Neste contexto, surgem alguns ques- cas.
mo autor mencionou que este tipo de tionamentos: as definições das inunda- Assim, há uma grande dificuldade em
inundação possui uma sazonalidade (pe- ções graduais e bruscas estão bem cla- estabelecer um limiar, ou seja, um tem-
riodicidade). Aparentemente, essa inun- ras e elucidativas? É fácil diferenciar i- po limite que diferencie as inundações
dação não é tão violenta, mas sua área nundações graduais e bruscas em cam- bruscas das graduais. Este tempo limite
de impacto é extensa. A Tabela 1 mos- po? Infelizmente a resposta é não. Existe pode variar muito de acordo com a ba-
tra algumas definições utilizadas para as uma grande divergência entre os cien- cia hidrográfica, pois não apenas a quan-
inundações graduais. tistas sobre as definições a serem adota- tidade de precipitação é que determina
Por outro lado, popularmente conhe- das. Devido às diferentes percepções e a ocorrência de um desastre devido a
cida como enxurrada, a inundação brus- terminologias utilizadas para as inunda- uma inundação, mas também as carac-
ca ocorre devido às chuvas intensas, ções, há uma dificuldade em padronizar terísticas fisiográficas da bacia e as ca-
principalmente em regiões de relevo as categorias. O fato é que até hoje diver- racterísticas socioeconômicas da comu-
acidentado. Castro cita que a elevação sas vezes as inundações graduais vêm nidade.
dos caudais é súbita e seu escoamento é sendo registradas como inundações Contudo, faz-se necessária a distinção
violento. Ela ocorre em um tempo pró- bruscas e vice-versa. Isto nem sempre é entre as inundações bruscas e graduais,
visto que há um sistema de registro para
Tabela 1 - Conceitos utilizados para definir as inundações graduais cada tipo de inundação criado e
Autor Definição gerenciado pela Defesa Civil Nacional.
Castro (1999) As águas elevam-se de forma paulatina e previsível, mantém em situação de cheia durante algum tempo e, Este sistema era feito com base em re-
a seguir, escoam gradualmente. Normalmente, as inundações graduais são cíclicas e nitidamente sazonais
(inundação gradual ou enchente).
latórios de avaliação de danos (AVA-
Tucci e Bertoni (2003) Quando a precipitação é intensa e o solo não tem capacidade de infiltrar, grande parte do volume escoa
DAN) enviados à Defesa Civil quando
para o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de escoamento. O excesso de volume que um município decretava a situação de
não consegue ser drenado ocupa a várzea, inundando de acordo com a topografia áreas próximas aos rios
(inundação ribeirinha).
emergência ou o estado de calamidade
Mendiondo (2005) O transbordamento do curso do rio é, normalmente, o resultado de prolongada e copiosa precipitação sobre
pública em virtude da ocorrência de um
uma grande área. Inundações de rio acontecem associadas a sistemas de grandes rios em trópicos úmidos desastre natural. Este registro era impor-
(inundação fluvial).
tante fonte de dados, pois era o único
NWS/ NOAA (2005) A inundação de uma área normalmente seca causada pelo aumento do nível das águas em um curso
d’água estabelecido, como um rio, um córrego ou um canal de drenagem, ou um dique, perto ou no local reconhecido oficialmente. Em dezem-
onde a chuvas precipitaram (inundação). bro de 2010 entrou em vigor a lei nº
Apostila Pag.210 Adaptado de Goerl & Kobiyama (2005) e Kobiyama & Goerl (2007) 12.340, que dispõe sobre o Sindec (Siste-
FEV/MAR / 2011 Emergência 49
ARTIGO
tre natural, isto é, os fatores ambientais
e sociais.
Por meio desta relação, as inundações
bruscas e graduais podem ser identi-
ficadas. Quando IEO > 1, as inunda-
ções são graduais e IEO < 1, ocorrem
inundações bruscas. Do ponto de vista
de prevenção de desastres naturais,
quando IEO < 1, ou seja, quanto me-
nor valor de IEO, pode-se ter maior
dano, pois a população não teria tempo
hábil para tomar as medidas preventi-
ma Nacional de Defesa Civil), sobre as da comunidade, pois para as inundações vas. Por exemplo, sabendo que em uma
transferências de recursos para ações de bruscas o tempo de resposta deve ser bacia o Tc é de quatro horas, deve-se
socorro, assistência às vítimas, restabele- muito curto, em um intervalo de horas estabelecer um tempo de resposta me-
cimento de serviços essenciais e recons- após o início das chuvas. nor que isto, o que resultará em IEO >
trução nas áreas atingidas por desastre Devido o grande impasse que existe 1. Dessa maneira, o To deve ser menor
e sobre o Fundo Especial para Calami- em determinar a diferença entre as duas que quatro horas, por exemplo, duas ho-
dades Públicas. Conforme o artigo 17 inundações, propusemos uma maneira ras. Assim, teríamos, IEO = 4/2 = 2,
da referida lei, para o município ou o simples e quantitativa de diferenciar es- ou seja, IEO > 1, resultando em inunda-
estado receber recursos para a execução tas inundações, criando o IEO (Índice ções graduais.
de ações de reconstrução destinadas ao de Eficiência de Operação). Este índice As inundações em si são fenômenos
atendimento de áreas afetadas por de- é definido como: IEO = Tc / To. Nele, naturais. No entanto, como a sociedade
sastres, ele deve enviar para a Secretaria Tc é o tempo de concentração, que é brasileira exige a identificação destes
Nacional de Defesa Civil do Ministério definido como o tempo necessário para dois tipos de inundação para tratar os
da Integração Nacional três docu- chuva que cai no local mais distante do desastres, a diferenciação entre os dois
mentos: o decreto declaratório do esta- exutório escoar até ele e To é o tempo pode ser feita com IEO que inclui con-
do de calamidade pública ou da situa- operacional de resposta no sistema ins- siderações ambientais e humanas. As-
ção de emergência; NOPRED (Notifi- tituição-comunidade. Nota-se que o Tc sim, este índice pode ser utilizado para
cação Preliminar de Desastre), emitido é um fator que contém influências am- identificar estes dois tipos de inundações
pelo órgão público competente; e pla- bientais de precipitação, topografia, uso como desastres, não como apenas fenô-
no de trabalho, com proposta de ações de solo, etc. Já o To é determinado pelos menos naturais. Além disso, o IEO pode
de reconstrução em áreas atingidas por fatores humanos e proposto como: To ser utilizado para estabelecer o sistema
desastres. = -Ta + Tt + Tal + Te. de alerta.
Nota-se que o AVADAN não é mais O Ta é o tempo antecedente da pre- Sabendo-se o tempo de concentração
necessário para o registro da ocorrência visão do tempo com alta precisão. Tt é de uma bacia para precipitações de di-
de um desastre, mas ainda é uma im- o tempo de transmissão levado do Cen- ferentes intensidades e tempos de retor-
portante fonte de informações históri- tro de Previsão até Defesa Civil. O Tal no, pode-se estabelecer o tempo de ação
cas. Além disso, mesmo no NOPRED é o tempo necessário para alertar a co- e resposta da comunidade e também o
ainda deve-se colocar o código do tipo munidade. Por último, Te é o tempo tempo mínimo do sistema de alerta ne-
de desastre, ou seja, ainda deve-se con- necessário para a comunidade se deslo- cessário para aquela comunidade. Ou,
tinuar a distinguir as inundações entre car para local seguro. Desta maneira, ainda, otimizando ao máximo o tempo
graduais e bruscas. esse índice envolve aqueles fatores que de resposta e alerta, e caso ele não fique
determinam a ocorrência de um desas- menor que o tempo de concentração,
PROPOSTAS medidas estruturais podem ser im-
O autor Konstantine Georgakakos ad- plementadas para aumentar o tempo de
mite que as inundações bruscas requei- concentração, adequando-o ao tempo de
ram a emissão de alertas pelos centros ação e resposta.
locais de previsão. O sistema de monito- O Tc no campus da Universidade
ramento, previsão e consequente alerta Federal de Santa Catarina, em Floria-
da ocorrência de inundação deve ser lo- nópolis, é, em média, de 30 minutos.
cal. Assim, um dos aspectos que pode- Como não existe nenhum lugar que To
ria determinar a diferença entre as duas seja menor do que 30 minutos em Flo-
inundações é que as bruscas necessitam rianópolis, pode-se concluir que Floria-
de centros de monitoramento, previsão nópolis possui praticamente só inunda-
e alerta local, e não em escala regional. ções bruscas. Isto implica que este muni-
Outro fator que pode ser utilizado para cípio deveria ter o sistema de alerta junto
diferenciar os dois tipos de inundações com a previsão do tempo e previsão de
aqui Apostila Pag.211
tratados seria o tempo de resposta inundação.
50 Emergência FEV/MAR / 2011
ARTIGO

Aprendizagens na tragédia história trate dos eventos ocorridos no


passado, são pessoas no presente mo-
mento que a constrói. Dependendo da
ZInundação brusca junto com fluxo de detritos interpretação do momento atual, a his-
são características da tragédia do Vale do Itajaí em 2008 tória pode ser modificada e até distorci-
da. Para construir uma história mais pró-
Na nova classificação dos desastres sável identificá-las, caracterizá-las e re- xima à verdade, é preciso descrever ocor-
naturais feita pelo CRED (Center for duzi-las com medidas adequadas. rências mais precisas possíveis.
Research on the Epidemiology of Disasters) e Além disso, a inundação brusca ocor- Segundo o jornalista norte americano
também adotada pela UNISDR, as inun- re em áreas próximas aos rios, onde as Norman Cousins, “a história é um enor-
dações junto com escorregamentos (ou árvores e os solos constituem a zona ri- me sistema de aviso prévio”. Para ter
mais precisamente falando, movimen- pária (comumente falado mata ciliar). um bom sistema de aviso (alerta), é pre-
tos de massa úmidos) constituem os Caso ocorra a inundação brusca, pode ciso identificar as inundações e registrá-
desastres hidrológicos que são vistos co- também ocorrer fluxos de detritos de- las corretamente.
mo maior ocorrência entre todos os ti- vido à mobilização desse material da Com base nos corretos registros,
pos de desastres naturais. zona ripária, aumentando a concentra- pode-se entender a história. Enfim, vale
As inundações e os escorregamentos ção de sedimentos da inundação. Neste a pena introduzir pensamento de Ma-
ocorrem com o excesso de chuva em caso, a beira do rio torna-se uma área hatma Gandhi, “Se queremos progre-
bacias hidrográficas. Então, muitas ve- extremamente perigosa. Por isso, a APP dir, não devemos repetir a história, mas
zes, não é possível separá-los. Em ter- (Área de Preservação Permanente) deve fazer uma história nova.” Desta manei-
mos de concentração de sedimentos e ser também considerada como Área de ra, fazer uma nova história significa
velocidade de fluxos, podemos classifi- Perigo Permanente (APP). Então, além mudar de postura frente aos desastres,
cá-los conceitualmente (Figura 2). Os de diferenciar cada tipo, deve-se tam- compreendendo a sua dinâmica, regis-
escorregamentos rotacionais não neces- bém fazer o zoneamento de área de pe- trando a sua ocorrência e mitigando os
sariamente ocorrem junto com as inun- rigo associado a cada tipo de inunda- seus danos, reescrevendo assim a nossa
dações graduais, mas inundações brus- ção. nova história.
cas podem ocorrer junto com fluxos de Em janeiro de 2011, ocorreu a tragé-
detritos. HISTÓRIA dia no estado de Rio de Janeiro. A quan-
Os fenômenos que causaram maiores Já foi mencionado que a identificação tidade total e a intensidade da chuva
danos na tragédia no Vale do Itajaí, em é importante para caracterizar os fenô- nesta tragédia podem ser menores do
2008, foram fluxos de detritos, cuja ve- menos e estabelecer suas respectivas me- que aquelas do Vale do Itajaí em 2008.
locidade é semelhante à da inundação didas adequadas tanto estruturais quan- Contudo, a ocupação da terra ou densi-
brusca. to não-estruturais. Além disso, a identi- dade populacional da região da tragédia
Cada vez mais a sociedade está ocu- ficação é importante para os registros a no Rio de Janeiro é bem maior que a do
pando áreas de encostas (Figura 3). En- fim de construir a história. Embora a Vale do Itajaí. Este fato também clara-
tão, pode-se prever que a inundação mente implica que os prejuízos devidos
brusca junto com fluxo de detritos tor- aos fenômenos hidrogeomorfológicos
na-se mais problemática do que inunda- (inundações e movimentos de massas,
ção gradual. Nesta figura, entende-se especialmente fluxos de escombros)
que enquanto há uma dominância dos vêm aumentando em termos de fre-
desastres relacionados à água, o tipo de quência e magnitude, por causa dos fato-
inundação pode ser mais gradual. No en- res humanos.
tanto, após a evolução da cidade, começa A história demonstra que as tragédias
a dominância dos desastres relacionados no Rio de Janeiro não são recentes, pois
a sedimentos, principalmente quando a desde 1756 há registros sobre inunda-
ocupação urbana migra da planície para ções e escorregamentos.
as encostas. Nesta fase, o tipo de inunda- Este fato nos faz lembrar de uma im-
ção deve ser predominantemente brus- portante lição: “os desastres naturais
ca. voltam quando os esquecemos”
Para obter as medidas estruturais e (Torahiko Terada). Assim, a nossa futu-
não-estruturais adequadas na prevenção ra história depende totalmente da co-
de desastres associados aos dois tipos munidade, e que cada comunidade re-
de inundações, é necessário identificá- gistre corretamente os fenômenos para
las. Segundo o autor Mario Tachini e co- jamais esquecer deles.
laboradores, uma das falhas na redução
de desastres em 2008 foi falta de conhe-
cimento sobre inundação brusca em
Blumenau e sua consequente falta de
Apostila
preparação Pag.212
contra ela. Então, é indispen-
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Irani dos Santos, Masato Kobiyama


Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia do rio Pequeno, São José dos
Pinhais, PR, Brasil
Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of Applied Science, vol. 3, núm. 2, 2008, pp. 77-89,
Universidade de Taubaté
Brasil

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Ambiente & Água - An Interdisciplinary Journal of


Applied Science,
ISSN (Versão impressa): 1980-993X
ambi-agua@agro.unitau.br
Universidade de Taubaté
Brasil

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Aplicação do TOPMODEL para determinação de


áreas saturadas da bacia do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR,
Brasil
Irani dos Santos1; Masato Kobiyama2
1
Departamento de Geografia, Universidade Federal do Paraná
E-mail: irani@ufpr.br
2
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina
E-mail: kobiyama@ens.ufsc.br

RESUMO
O presente trabalho mostra a aplicação do modelo hidrológico TOPMODEL para
determinar as áreas saturadas da bacia hidrográfica do rio Pequeno, com área de 104 km²,
localizada no município de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, Paraná.
O TOPMODEL pressupõe que a dinâmica da água é influenciada pelas características do solo
e do relevo de toda a bacia contribuinte, fornecendo como resultado, além da vazão do rio, a
distribuição espacial da umidade no sistema (zonas saturadas e áreas secas) ao longo do
tempo. Os mapas de áreas saturadas foram analisados frente ao uso do solo e às áreas de
preservação permanente de mata ciliar. O TOPMODEL apresentou boa aderência entre as
vazões observadas e calculadas (R²=0,75), confirmando sua eficiência em regiões de clima
úmido e relevo suave. Os resultados das simulações mostram o grande potencial de
aplicabilidade desse modelo no planejamento ambiental, pois permitem discutir e orientar as
ações antrópicas sobre o meio físico com base no entendimento dos processos naturais.

Palavras-chave: TOPMODEL; área saturada; planejamento ambiental.

Determination of saturated areas using TOPMODEL in the Pequeno


river watershed, Southern Brazil

ABSTRACT
This work presents the determination of saturated areas in the Pequeno River watershed
(104 km2), located in the São José dos Pinhais District, Metropolitan Region of Curitiba,
Paraná State, Brazil. We employed the hydrological model TOPMODEL which assumes that
the water dynamics are influenced by soil and hillslope characteristics of the entire watershed.
It calculates the runoff and the spatial distribution (saturated and unsaturated areas) of the soil
humidity in the system throughout the considered time period. The maps of the saturated
areas were analyzed taking into account the land use and riparian vegetation (permanent
preservation). The computations showed a good adherence between calculated and observed
runoff (R²=0.75), thus confirming the model efficiency in regions of humid climate and
smooth topography. The simulation results reveal a potential application for environmental
planning because they allow the discussion and further orientation for human interventions in
the environment based on the understanding of the natural processes.
Apostila Pag.214
Keywords: TOPMODEL; saturated area; environmental planning.
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

1. INTRODUÇÃO

As distribuições espaciais e temporais dos recursos hídricos vêm se tornando mais


heterogêneas devido à ação humana intensa e sem planejamento correto, prejudicando os
sistemas naturais e a própria sociedade. No Brasil, a bacia hidrográfica foi definida, de acordo
com a Lei Federal N° 9433/97, como “a unidade territorial para implantação da Política
Nacional de Recursos Hídricos e a atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos”. Esse arcabouço legal altera, também, a demanda por produção científica.
Assim, estudos em bacias hidrográficas tornam-se fundamentais para o planejamento
ambiental.
A bacia do rio Pequeno, com uma área de 134 km², localiza-se no município de São
José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, estado do Paraná, Brasil. Devido ao
crescimento populacional acelerado da região, essa bacia vem sofrendo pressões ambientais,
principalmente pela expansão da ocupação urbana sem planejamento. Nesse contexto, torna-
se necessário um zoneamento ambiental com base em conhecimento técnico relativo aos
processos naturais atuantes na bacia.
O procedimento para estabelecer tal zoneamento é complexo e requer tempo, recursos
humanos e financeiros, sendo, portanto, vantajosa a utilização de técnicas de modelagem
computacional. Os modelos que tratam dos processos precipitação-vazão apresentam grande
capacidade de representar conceitualmente a dinâmica da água em bacias hidrográficas. A
modelagem desses processos pressupõe o conhecimento detalhado do ciclo hidrológico dentro
de uma bacia hidrográfica. Com base no conhecimento desses processos, surgiu o conceito de
área variável de afluência e o fluxo subsuperficial foi reconhecido como um dos processos
mais importantes na geração do escoamento (Kirkby, 1978), pela própria contribuição do
escoamento de retorno e a sua influência preponderante no escoamento direto.
Considerando que a topografia apresenta uma grande influência no movimento de
água subterrânea e que controla igualmente o movimento de água na superfície, pode-se
fundamentar um modelo de dinâmica de bacias na idéia de que a topografia é a característica
de paisagem mais importante no controle do fluxo de água. Essas considerações tornam o
relevo um elemento importante no ciclo hidrológico e permitiram o desenvolvimento de
modelos que levassem em consideração esses processos, sendo o TOPMODEL (Beven e
Kirkby, 1979) um dos mais difundidos entre os que possuem essa característica.
O TOPMODEL é um modelo do tipo determinístico, semidistribuído e fisicamente
baseado. Esse modelo pressupõe que a dinâmica da água resulta das características do solo e
do relevo de toda a bacia contribuinte, o que fornece como resultado, além da vazão do rio, a
distribuição espacial da umidade no sistema (zonas saturadas e áreas secas) ao longo do
tempo, e permite estimar por meio de calibragem valores característicos de algumas
propriedades físico-hídricas do solo (por exemplo, transmissividade).
Em sua formulação, o TOPMODEL utiliza relações físicas para reproduzir o
comportamento de alguns dos processos hidrológicos e também para representar a bacia
hidrográfica. Com base em Beven et al. (1995), Mine e Clarke (1996), Beven (1997), Tucci
(1998), Hornberger et al. (1998) e Beven (2001), Santos (2001) sintetizou um resumo da base
conceitual do modelo, cujos principais componentes são: armazenamentos e fluxos na zona
não-saturada; armazenamentos e fluxos na zona saturada; e propagação do fluxo na sub-bacia.
O modelo considera as seguintes hipóteses:

Apostila Pag.215
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

(1) A dinâmica da zona saturada pode ser obtida por sucessivas representações de estados
uniformes.
(2) O gradiente hidráulico da zona saturada é igual a declividade local do terreno.
(3) A distribuição da transmissividade com a profundidade do solo ocorre segundo uma
função exponencial.
(4) No intervalo de tempo existe homogeneidade espacial da taxa de recarga que contribui
para a área saturada.

O presente trabalho mostra a aplicação do modelo hidrológico TOPMODEL para


determinar as áreas saturadas da bacia hidrográfica do rio Pequeno.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de estudo


A bacia hidrográfica do rio Pequeno está compreendida integralmente nos limites do
município de São José dos Pinhais, entre as coordenadas 25°29’ e 25°37’ de latitude sul e os
meridianos 48°58’ e 49°11’ de longitude oeste. A área total de drenagem é de 134 km², tendo
como limites, ao norte, a bacia do rio Itaqui, ao sul, a bacia do rio Miringuava, a leste, o
relevo montanhoso da Serra do Mar e a oeste, o rio Iguaçu.
A bacia está localizada no Primeiro Planalto Paranaense (Maack, 1968), com as
nascentes localizadas na encosta ocidental da Serra do Mar sobre a formação geológica de
migmatitos e granitos associados do período pré-cambriano. Desenvolve-se no sentido geral
leste-oeste atravessando a formação Guabirotuba do pleistoceno, indo desaguar no rio Iguaçu,
que possui em suas planícies sedimentos recentes (holoceno) denominados aluviões
(CODEPAR, 1967).
A bacia do rio Pequeno, segundo a classificação de Köppen, apresenta o tipo climático
Cfb que se caracteriza como “clima temperado propriamente dito; temperatura média do mês
mais frio abaixo de 18ºC (mesotérmico), com verões frescos, temperatura média no mês mais
quente abaixo de 22°C e sem estação seca definida” (IAPAR, 1994). A precipitação média
anual da região é de aproximadamente 1400 mm, bem distribuídos ao longo do ano.
A Figura 1 mostra a localização da bacia hidrográfica do rio Pequeno, destacando
também a localização dos pontos de monitoramento localizados na bacia: estação
pluviométrica Chácara Guajubi (Código: 02549123, localizada nas coordenadas 25°33’ de
latitude sul e 49°04’ de longitude oeste) e estação fluviométrica Fazendinha (Código:
65010000, nas coordenadas 25°31’ de latitude sul e 49°11’ de longitude oeste). O presente
trabalho considera a “bacia hidrográfica do rio Pequeno” como a área afluente à estação
fluviométrica Fazendinha com 104 km².

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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

23°

24°

25°

RMC

CURITIBA
26°

49°
54°

50°
SÃO JOSÉ
53°

ESCALA GRÁFICA DOS PINHAIS


51°
52°

0 50 100 km

ESCALA GRÁFICA
0 25 50 km

25°29'

48°58'
0 1 2 3 4 5 km
Fazendinha
T
$ (65010000)

Chácara Guajubi
S
# (02549123)
49°11'

25°37'

Figura 1. Localização da bacia do rio Pequeno.

2.2. Aplicação do TOPMODEL


O presente trabalho utilizou a versão (97.01) do TOPMODEL elaborado pela
University of Lancaster (Beven, 1997). O modelo possui cinco parâmetros de entrada que
exigem calibração com valores médios para a bacia (Tabela 1).

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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

Tabela 1. Parâmetros de entrada no TOPMODEL.


Parâmetro Descrição Unidade
m Parâmetro da função de transmissividade exponencial ou curva m
de recessão
ln(T0) Transmissividade efetiva do solo saturado m2 / h
SRmax Capacidade de água na zona de raízes m
SRinit Déficit de armazenamento inicial na zona de raízes (proporção m
de SRmax)
ChVel Velocidade da propagação superficial (assume propagação m/h
linear)

O modelo utiliza também dois parâmetros de bacia, distribuídos espacialmente e


obtidos a partir das características geomorfológicas, um dado pela distribuição do índice
topográfico e outro pelas características da bacia de propagação.
As variáveis de entrada necessárias para calibração/simulação do modelo são
precipitação, vazão e evapotranspiração potencial.
Em função das características do modelo e do tamanho da área da bacia, optou-se pela
utilização de dados horários. Assim, foram utilizados dados de vazões médias horárias entre
agosto de 1999 e dezembro de 2000 da estação fluviométrica Fazendinha, automatizada pela
Superintendência de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do estado do Paraná.
Foram utilizados também na modelagem os dados horários de precipitação da estação
Chácara Guajubi. Como essa estação está localizada na região central da bacia do rio
Pequeno, optou-se por não fazer correção espacial da precipitação, ou seja, a precipitação
observada nesse local foi considerada como sendo igual a média sobre a bacia.
A evapotranspiração potencial diária foi calculada pelo método de Penman
Modificado (Doorenbos e Pruit, 1992) a partir dos dados meteorológicos diários da estação
meteorológica Piraquara/Pinhais (02549041) operada pelo Instituto Tecnológico SIMEPAR,
localizada no município de Pinhais com 25°25’ de latitude sul e 49°08’ de longitude oeste e
altitude de 930 m.
Para entrada no modelo, os valores de evapotranspiração diária foram convertidos em
dados horários, sendo distribuídos entre os horários de maior insolação (07h às 17h) a partir
de coeficientes de ponderação utilizados por Mine (1998) e mostrados na Tabela 2. A Figura
2 mostra o fluxograma de integração das atividades e dados necessários para simulação do
modelo.

Tabela 2. Coeficientes de ponderação para evapotranspirações horárias.


Hora do dia 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17
Coeficientes 0,034 0,066 0,094 0,114 0,127 0,132 0,127 0,114 0,094 0,066 0,034

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SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

Bibliografia:
Mapa
m, ln(T 0), SR max
topográfico
SR init , ChVel

Vazão:
Digitalização
dados horários

Áreas e
Espacialização
comprimento de
(x, y, cota)
canais

Índice
[ln a / tg β] Vazão
topográfico
observada
GRIDATB.EXE

[Q(h)]

MNT

Parâmetros [m, ln(T 0), SR max


de modelo SR init , ChVel]
Modelo
[P(h)]
Precipitação Chuva - Vazão

[Ep(h)]
TOPMODEL
Evapotranspiração

Base de Mapa de áreas


saturadas
Dados

Distribuição
horária
Vazão

Precipitação: Evaporação:
dados horários dados diários
Tempo

Figura 2. Fluxograma de atividades para utilização do TOPMODEL (Modificado de Varella e


Campana, 2000).
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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Parâmetros
A versão do TOPMODEL utilizada possui o limite de 2500 intervalos de tempo em
cada simulação. Em função dessa limitação a série de dados foi dividida em seis períodos,
conforme mostra a Tabela 3.

Tabela 3. Valores dos parâmetros obtidos na calibração do TOPMODEL.


Período Início Final m ln (T0) SRmax SRinit ChVel E
1 14/08/99 30/09/99 0,030 0,05 0,0030 0,001 500 0,776
2 26/09/99 25/12/99 0,030 0,05 0,0005 0,001 460 0,528
3 22/12/99 03/04/00 0,070 0,05 0,0040 0,001 460 0,576
4 31/03/00 08/07/00 0,070 0,05 0,0040 0,001 500 0,732
5 05/07/00 01/10/00 0,024 0,05 0,0020 0,001 500 0,874
6 28/09/00 31/12/00 0,030 0,05 0,0020 0,001 480 0,702
Média 0,042 0,05 0,0026 0,001 483 0,698

Para cada período foi ajustado o melhor conjunto de valores dos parâmetros para a
estimativa das vazões. A Tabela 3 apresenta esses valores juntamente com os valores de
eficiência medidos pelo índice de Nash e Sutcliffe (E).
A análise da qualidade de uma simulação é, em geral, realizada pela medida de
aderência entre as vazões observadas e simuladas. O índice E indica que quanto melhor o
ajuste entre os dois conjuntos de valores, mais próximo de 1 é o valor E. Valores de E ≥ 0,7
indicam alta eficiência no ajuste do modelo (Iorgulescu e Jordan, 1994; Mine e Clarke, 1996).
De maneira geral, os valores dos parâmetros mantiveram-se coerentes com as grandezas
físicas às quais estão associados.
Para o parâmetro ln(T0), foi encontrado o valor de 0,05 m²/h para todos os períodos, o
que representa uma transmissividade do solo de: T0 = e0,05 ≅ 1,05 m²/h.
Essa transmissividade equivale a condutividade hidráulica saturada de 0,03 e 0,015
cm/s para solos com profundidade média de 1 e 2 m, respectivamente. Esses valores são
condizentes com valores obtidos em medições diretas, como mostrado a seguir.
Montgomery e Dietrich (1995) calcularam a condutividade hidráulica a partir de dados
piezométricos e encontraram valores de 0,1 a 0,01 cm/s em solos rasos e abaixo de 10-7 até
10-8 cm/s em depósitos coluviais. Wu e Sidle (1995) encontraram valores de condutividade
hidráulica saturada em torno de 0,8 m/h ≅ 0,02 cm/s para diferentes profundidades e tipos de
solo. Assim, é razoável o valor de T0 obtido no presente trabalho, supondo-se que a
profundidade do solo varia entre 1 e 2 m.

3.2. Hidrograma
A Figura 3 mostra os hidrogramas das vazões horárias observadas e calculadas, a
Figura 4 apresenta um gráfico com as vazões acumuladas no tempo e a Figura 5 mostra a
correlação entre as vazões observadas e calculadas. Esses resultados indicam um bom ajuste
do modelo à bacia estudada, com coeficiente de determinação R² = 0,75 entre as vazões
calculadas e observadas.

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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

16

14

12
Observado
Calculado
10
Vazão (m³/s)

0
1 2001 4001 6001 8001 10001 12001
Tempo (horas)

Figura 3. Hidrogramas de vazões observadas e calculadas.


40000

35000

30000

25000
Q calculada (m³/s)

20000

15000 y = 0.9882x
2
R = 0.9997

10000

5000

0
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000
Q observada (m³/s)

Figura 4. Vazões observadas e calculadas acumuladas no tempo.

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SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

Figura 5. Coeficiente de determinação entre vazões observadas e calculadas.

3.3. Zoneamento
A simulação do TOPMODEL resulta também em um mapa com as áreas saturadas
para cada intervalo de tempo definido na modelagem. Como o intervalo de tempo adotado foi
de uma hora, obtiveram-se 12.000 mapas que reproduzem a dinâmica das áreas saturadas no
tempo e no espaço. No período simulado de 14/08/99 a 31/12/00, a porcentagem de áreas
saturadas em relação à área total da bacia variou entre 15,8% e 32,8%. A Figura 6 mostra o
mapa de áreas saturadas, mínima e máxima, para o período simulado.
O valor mínimo de 15,8% se manteve constante durante os períodos mais secos. Esse
valor está coerente com o observado na bacia, pois a sua configuração topográfica favorece a
formação de banhados, que estão presentes ao longo de todo o vale formado por aluviões.

Apostila Pag.222
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

Figura 6. Mapa de áreas saturadas.

As áreas de preservação permanente correspondentes à mata ciliar da bacia do rio


Pequeno possuem uma área de 21 km², que equivale a 20% da área total da bacia (Figura 7).
Comparando-se os mapas de áreas de preservação permanente e de áreas saturadas fica
evidente que, em grande parte, elas não coincidem espacialmente.
Pode-se considerar que as áreas saturadas da bacia apresentam função hidrológica
distinta, ou seja, toda a precipitação sobre essas áreas escoa diretamente para os cursos de
água, sem passar pelos processos de infiltração e escoamento subsuperficial, o que pode
provocar o carreamento de possíveis contaminantes existentes na superfície do solo
diretamente para os rios.
Outro aspecto ambientalmente importante é que essas áreas apresentam uma condição
de biodiversidade também distinta, com flora e fauna adaptadas às condições de permanência
e/ou variação do lençol freático. Portanto, essas áreas possuem uma importante função
ambiental e devem ser preservadas.
Considerando-se a possibilidade de preservação ou de uso do solo diferenciado nas
áreas saturadas, a Figura 8 mostra um mapa que reúne as áreas de preservação permanente de
mata ciliar, definidas por lei, com as áreas saturadas da bacia. Assim, a área de 21 km² (20%)
equivalente às áreas de preservação permanente é acrescida de 7,95 km² (8%) de área
permanentemente saturada (área saturada mínima) e de 12,71 km² (12%) de áreas saturadas
eventualmente por ocasião dos eventos de cheias (área saturada máxima), ambas localizadas
fora do limite das áreas de preservação permanente.

Apostila Pag.223
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

Figura 7. Mapa de áreas de preservação permanente.

Apostila Pag.224
Figura 8. Comparação entre áreas de preservação permanente e áreas saturadas.
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.

4. CONCLUSÕES

O TOPMODEL respondeu de forma bastante eficiente às condições ambientais da


área de estudo, confirmando a aplicabilidade desse modelo em regiões de clima úmido e
relevo suave.
A medida de aderência entre as vazões observadas e simuladas, que indica a qualidade
da simulação, resultou em um valor E ≅ 0,7, ficando acima desse valor em quatro dos seis
períodos simulados. Esse resultado indica alta eficiência no ajuste do modelo.
De maneira geral, os valores dos parâmetros de entrada do TOPMODEL ficaram
muito próximos dos valores calculados previamente, ou seja, mantiveram-se coerentes com as
grandezas físicas às quais estão associados. O modelo apresentou sensibilidade à
inconsistência dos dados observados de precipitação, ressaltando a necessidade de dados
observados de boa qualidade e com discretização temporal adequada.
No período simulado, a porcentagem de áreas saturadas em relação à área total da
bacia variou entre 15,8% e 32,8%. O valor mínimo de 15,8% manteve-se constante durante os
períodos mais secos e, apesar de aparentemente alto, está coerente com o observado na bacia,
pois a configuração topográfica dela favorece a formação de banhados.
O modelo utilizado mostrou grande potencial de aplicabilidade no planejamento
ambiental, pois permite discutir e orientar as ações antrópicas sobre o meio físico com base
no entendimento dos processos naturais. Portanto, esse modelo torna-se uma ferramenta de
grande utilidade para o diagnóstico e análise ambiental, bem como para subsidiar projetos de
ordenamento territorial.

5. REFERÊNCIAS

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Apostila Pag.226
Proposta de metodologia de mapeamento
de perigo de inundação
Recebido: 20/10/12
revisado: 12/05/13
aceito: 06/01/14
Leonardo Romero Monteiro
Masato Kobiyama

RESUMO: O Brasil tem sofrido com a ocorrência de Abstract: Brazil has been suffering from several
diversos de desastres naturais, principalmente as inundações. natural disasters, especially floods. Decree No. 7,257 of
O Decreto Nº 7.257 de Agosto de 2010, considera as ações August 2010, considers the natural disaster prevention
de prevenção de desastres naturais por meio da identificação, actions by identifying, mapping and risk, hazard and
mapeamento e monitoramento de risco, perigo e vulnera‑ vulnerability monitoring. The present paper proposes
bilidades. O presente trabalho propõe uma metodologia a methodology to map flood hazard areas, presenting
para mapear áreas de perigo a inundação, apresentando a case study in Braço do Baú basin, located in Ilhota
um estudo de caso na Bacia do Braço do Baú, localizada no city, Santa Catarina state. The methodology consists
município de Ilhota/SC. A metodologia consiste na criação in creating a storm design and using hydrological and
da precipitação de projeto e na utilização da modelagem hydrodynamic modeling. For mapping the hazard areas,
hidrológica e hidrodinâmica. Para mapear as áreas de perigo a hazard index which is a function only of the water
é utilizado o Índice de Perigo, função da profundidade da depth and flow velocity is used. Finally, a flood hazard
lâmina de água e da velocidade de escoamento. Por fim, é map is created based on three flood maps of 5, 20 and
criado um mapa de perigo de inundação baseado em três ma‑ 100 return period years.
pas de inundação de 5, 20 e 100 anos de período de retorno. KEY WORDS: Flood Hazard Mapping Proposal
Palavras‑chave: Mapa de Perigo; Modelagem;
Inundação

INTRODUÇÃO Nº 7.257 de Agosto de 2010, considera as ações de


prevenção de desastres naturais por meio da iden‑
Entre 1999 e 2008, no Brasil, ocorreram pelo tificação, mapeamento e monitoramento de riscos,
menos 49 grandes episódios de desastres naturais, perigos e vulnerabilidade locais. Com isso, torna‑se
totalizando 5,2 milhões de pessoas atingidas, 1.168 clara a necessidade da criação de mapas de perigo
óbitos e um prejuízo econômico de US$ 3,5 bilhões em âmbito nacional.
(EM‑DAT, 2011). Dois episódios recentes no país Na bacia do rio Itajaí‑Açu, na década de 80, foi
foram as tragédias nos estados de Santa Catarina na desenvolvido pela CPRM para o DNAEE um estudo
Bacia do Itajaí em 2008 (FRANK; SEVEGNANI, de mapeamento das áreas de inundação em nove ci‑
2009) e no Rio de Janeiro, em sua Região Serrana, no dades da região que poderiam orientar o zoneamento.
início de 2011 (FREITAS et al., 2012 ). Através da No entanto, não houve interesse das cidades no de‑
análise do banco de dados do Emergency Disasters Data senvolvimento de medidas não‑estruturais (TUCCI;
Base (EM‑DAT), pode‑se observar que o desastre BERTONI, 2003). Nas décadas de 70 e 90, ainda
natural mais relevante no Brasil é o de inundações, para esta região, foram construídas três barragens de
responsável por mais de 60% dos mortos e das perdas controle de enchentes. Porém, como visto em 2008,
patrimoniais entre os anos de 1982 e 2010, em relação elas não foram suficientes para evitar os desastres
a todos os desastres naturais. naturais que provocaram inúmeras perdas. Desta
No Brasil não existe nenhum programa siste‑ forma, torna‑se evidente a necessidade da adoção
mático de controle de enchentes que envolva seus de medidas não‑estruturais.
diferentes aspectos. O que se observa são ações O zoneamento propriamente dito é a definição
isoladas. (TUCCI; BERTONI, 2003). O Decreto de um conjunto de regras para a ocupação das áreas
Apostila Pag.227
REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013

de risco de inundação, visando à minimização futura de perigo de inundação, utilizando, em grande parte,
das perdas materiais e humanas em face das grandes dados disponíveis nacionalmente, e (ii) demonstrar
cheias (TUCCI, 2007). De acordo com Goerl et al. a aplicabilidade dessa metodologia por meio de um
(2012), o risco é usualmente definido como função estudo de caso bacia do Braço do Baú, no município
do perigo e da vulnerabilidade. Assim sendo, o risco de Ilhota – SC.
representa a suscetibilidade de uma comunidade de
sofrer danos ou perdas devido a um perigo. METODOLOGIA PROPOSTA
Existe uma diferenciação entre mapa de inunda‑
14 ção, mapa de perigo de inundação e mapa de risco A Figura 1 mostra as etapas do mapeamento de pe‑
de inundação. O mapa de inundação consiste na rigo de inundações através da metodologia proposta.
limitação das áreas inundadas com a altura da lâmina
de água. Este está atrelado a um único período de Processos principais
retorno. De acordo com de Moel et al. (2009), o Os processos principais são a parte vital desta
mapa de perigo de inundação contem informações metodologia. Pode‑se entender que eles são a coluna
sobre a probabilidade e/ou magnitude de um even‑ vertebral metodológica, pois ligam todos os pro‑
to, enquanto o mapa de risco contem informações cessos físicos com o banco de dados para se obter
adicionais sobre as consequências (danos econômi‑ o resultado final. Os outros itens garantem o bom
cos, número de pessoas afetadas). Neste sentido, os funcionamento destes processos.
mapas de inundação são utilizados para a criação do
mapa de perigo de inundação que, junto com fatores
de vulnerabilidade, é utilizado para criar o mapa de Precipitação de projeto
risco de inundação. Pode‑se estimar uma precipitação hipotética pro‑
Mesmo existindo inúmeros modelos hidráuli‑ vável para uma área de estudo. Para se esta precipi‑
co‑hidrológicos, não há uma metodologia brasi‑ tação são necessárias a equação i‑d‑f e a distribuição
leira para padronizar o mapeamento de perigo a temporal da precipitação. Outra informação que
inundações, visto que este fornece informações pode auxiliar nesta tarefa é a distribuição espacial
valiosas e claras para gestão urbana. O desenvol‑ da precipitação.
vimento da pesquisa em desastres naturais no Equação i‑d‑f: Na criação do mapa de perigo,
Brasil ainda é tímido, mas tem ganhado destaque são utilizados os períodos de retorno de 5, 20 e 100
nos últimos anos. anos. O tempo da duração da precipitação deve ser o
Desta forma, os objetivos do presente trabalho tempo de duração crítica, ou seja, o tempo de preci‑
são (i) propor uma metodologia para o mapeamento pitação que causará a maior vazão de pico. A duração

Figura 1.
Etapas do
mapeamento
de perigo de
inundações
através da
metodologia
proposta.

Apostila Pag.228
Monteiro, L. R.; Kobiyama, M. Proposta de metodologia de mapeamento de perigo de inundação

crítica é o tempo ideal em que a intensidade, em uma As limitações dos modelos hidrológicos estão princi‑
Equação i‑d‑f, é elevada e a área de contribuição da palmente relacionadas ao tamanho da bacia simulada.
bacia também é grande. Simulação hidrodinâmica: A simulação hidro‑
Visto que a Equação i‑d‑f é um método concen‑ dinâmica é responsável pela interação das proprie‑
trado, aconselha‑se utilizar mais do que uma quando dades topográficas, com as propriedades hidroló‑
se trabalha com bacias grandes e existe banco de gicas e hidráulicas. Aconselha‑se utilizar modelos
dados para isso. bidimensionais ou tridimensionais, visto que mapas
de inundação são criados, necessitando assim da
Distribuição temporal: Loukas (2002) comen‑
tou sobre a importância da variação temporal da simulação do escoamento em no mínimo duas dire‑ 15
precipitação e aplicou análises estatísticas realizando ções, característica que os modelos unidimensionais
comparações entre os dados observados para estimar não reproduzem com exatidão. No uso de modelo
a distribuição temporal. Monteiro & Kobiyama (2011) bidimensional ou tridimensional em grandes áreas
afirmaram que quanto mais tardar o pico do hietogra‑ aconselha‑se a simulação em computadores com
ma ocorrer, maior será a vazão de pico que este pro‑ bom processamento
duzirá e, consequentemente, maior será a importância
em inundações. A partir desta consideração, os autores Mapeamento de Inundação
adotaram o quarto quartil do Método de Huff que
O mapa de inundação pode ser criado de duas
representa a distribuição temporal da precipitação com
maneiras diferentes, através da confecção de uma
o pico de intensidade mais tardio. Caso exista algum
mancha de inundação a partir de dados observados da
estudo de distribuição temporal na área de estudo em
inundação ou através da modelagem hidrodinâmica.
questão este deve ser utilizado primordialmente.
O primeiro método fornece um mapa com
mais exatidão, porém é de difícil criação, pois os
Modelagem Matemática dados precisam ser adquiridos em pleno evento de
A modelagem matemática é realizada através de inundação (GIGLIO; KOBIYAMA, 2011). Ainda,
simulações hidrológicas e hidrodinâmicas. Para isso, pode‑se recuperar os dados das inundações através
a bacia de estudo deve ser dividida em: sub‑bacias de registros deste evento, ou seja, além da coleta em
de contribuição (BCs) e área inundável (AI). As campo, estes dados também podem ser recuperados
simulações hidrológicas são realizadas para as BCs e através de fotografias, vídeos, jornais ou declaração
as hidrodinâmicas para a AI. de pessoas presentes no evento. Outro ponto nega‑
tivo deste método é a inflexibilidade em criar mapas
As BCs são diferenciadas da AI pelo elevado
com períodos de retorno pré‑estabelecidos.
potencial de inundação que a segunda possui. Isto
ocorre por causa da grande declividade média dos No segundo método, referente à modelagem
rios principais das BCs e por estas serem bacias de hidrodinâmica, utiliza‑se modelos físicos ou mate‑
cabeceira. Como auxílio para esta diferenciação, máticos para a criação dos mapas de inundação. Na
deve‑se realizar visitas de campo e obter informações metodologia proposta pelo presente trabalho, este
em entrevistas com moradores. mapa é resultado da modelagem hidrodinâmica. De
qualquer forma, para a calibração e validação do
As áreas que constituírem o mapa de inundação
modelo hidrodinâmico, é recomendada a utilização
não podem ser consideradas como BCs. Os mapas
cotas do evento de inundação.
de perigo são confeccionados apenas para a AI,
visto que não há necessidade deste estudo nas BCs. O mapa de inundação sempre está relacionado a
Independente do modelo matemático a ser utilizado, um período de retorno que é utilizado diretamente na
este deve ser sempre calibrado e validado para o local confecção do mapa de perigo. A qualidade do mapa
e condições do problema. depende da qualidade dos procedimentos que o ante‑
cedem, e é muito sensível ao modelo digital de terreno.
Simulação hidrológica: Qualquer modelo hidro‑
lógico de precipitação‑vazão pode ser utilizado para
esta metodologia, desde que ele seja adequado para a Dados para modelagem
bacia de estudo. Aconselha‑se utilizar modelos de le‑ Os dados de entrada na modelagem podem ser
vem em consideração as características de infiltração, adquiridos de formas distintas. No presente trabalho
de escoamento superficial e de escoamento básico. os dados foram separados em dados de campo, dados
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REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013

calculados e dados adquiridos (Tabela 1). Os dados de Mapa de Perigo


campo possuem maior confiabilidade, porém quando
O mapa de perigo é o produto final desta pro‑
difíceis ou impossíveis de serem adquiridos, torna‑se
posta metodológica. Para sua criação é necessário
necessário utilizar os dados calculados ou adquiridos.
quantificar este perigo, pois existem diferentes níveis
de perigo que podem causar diferentes tipos de dano
Otimização dos modelos (Tabela 2).
As técnicas de otimização são utilizadas em dife‑ PRENEVE (2001) propôs uma caracterização
16 rentes áreas do conhecimento para a busca da melhor
solução de uma função matemática sujeita ou não a
do mapa de perigo de inundação que estabelece três
zonas para identificar os diferentes níveis de perigo,
restrições (TUCCI, 1998). Para a modelagem hidro‑ que variam com o período de retorno. Desta forma,
lógica, deve‑se escolher qual o principal aspecto do o mapa de perigo é uma função de frequência de
hidrograma a ser aperfeiçoado. Como exemplos de inundação (período de retorno) e intensidade (índice
aspectos do hidrograma, encontram‑se a vazão de de perigo).
pico, a ascensão, a recessão ou o volume total escoado. O Índice de Perigo (IP) proposto por Stephenson
Já, para a modelagem hidrodinâmica dirigida ao (2002) é expresso por:
estudo de inundação, tornam‑se necessários dados
de cotas ou limite de algum evento de inundação que
possa ser simulado. Através de vídeos, podem‑se es‑ IP = h ⋅ v (1)
timar também a velocidade aparente do escoamento.
O objetivo da otimização nesta modelagem é apro‑ onde h é a profundidade de inundação em metros; e
ximar dados calculados de área, cota ou velocidade v é a velocidade do escoamento em m/s. Percebe‑se
aos dados observados. que o IP é expressado pela vazão unitária.

Tabela 2
Tabela 1
Níveis de Perigo de Inundação (PREVENE, 2001)
Principais formas com que os dados de modelagem
são adquiridos
Definição do Perigo de Inundação
Dados de Dados Dados Nível do Cor do
  Descrição
campo obtidos calculados Perigo Mapa
Séries históricas de
X X   As pessoas estão em perigo, tanto
precipitação
dentro quanto fora de suas casas.
Alto (3) Vermelho
Equação i‑d‑f   X X As construções estão em alta
Distr.temporal  X X X possibilidade de serem destruídas.

Dados de infiltração X X X As pessoas correm possibilidade


de fatalidades fora de suas casas.
Escoamento de base X X X Médio (2) Laranja Construções talvez sofram danos e
Hidrograma unitário     X podem ser destruídas.
Séries históricas de A possibilidade de fatalidades é
X X  
vazão Baixo (1) Amarelo baixa ou inexistente. Construções
podem sofrer danos.
Modelo digital de
X X  X
terreno*
Características Este índice está ligado diretamente à energia do
X X X
hidráulicas
escoamento, ou seja, ao seu potencial destrutivo. O IP
Informações sobre foi inicialmente criado para indicar qual o local mais
X X  
inundação adequado para o desenvolvimento urbano. Usando
esse índice, Stephenson (2002) propôs diferentes
* O modelo digital de terreno foi um dado calculado através de tipos de perigos (Figura 2), que pode ser relacionado
dados de campo (GPS) e dados obtidos (IBGE). aos níveis apresentados na Tabela 2.
Apostila Pag.230
Monteiro, L. R.; Kobiyama, M. Proposta de metodologia de mapeamento de perigo de inundação

Eventos mais severos, com maior profundidade ESTUDO DE CASO


da lâmina da água e velocidade, ocorrem com menor
frequência. Pequenos eventos de inundação são mais Área de estudo
frequentes, porém possuem um menor potencial des‑ A área de estudo é composta pela bacia hidro‑
trutivo. Desta forma, o mapa de perigo de inundação gráfica do Braço do Baú (48 km²), que faz parte
é elaborado como a combinação de intensidade e do Complexo do Baú e se localiza no município de
período de retorno de diversos mapas de inundação. Ilhota, estado de Santa Catarina. O município possui
Os valores do período de retorno podem ser 12.324 habitantes (IBGE, 2010) e está inteiramente
alterados conforme o interesse do estudo. Embora dentro da bacia do Rio Itajaí (Figura 4). Tanto o 17
PRENEVE (2001) adotou 10, 100 e 500 anos (Tabela município como o Rio Itajaí são marcados por um
3 e Figura 3), o presente trabalho adota os períodos histórico de problemas com inundações.
de retorno de 5, 20 e 100 anos para adequar o método Os usos do solo da bacia consistem em 50% de
à realidade brasileira, onde precipitações com alta mata (capoeira, capoeirão, mata secundária e clímax),
intensidade ocorrem com uma frequência elevada. 15% de plantação de banana, 13% de capoeirinha,
11% de reflorestamento, 9% cultivo de arroz, 1% de
Tabela 3 outros cultivos e 1% solo exposto (LIMA et al., 2010).
Probabilidade de Perigo (PREVENE, 2001) Diversos relatos foram elaborados referenciando os
desastres naturais ocorridos no Complexo do Baú
em 2008, alguns deles com intuitos científicos, como
Período de Probabilidade
Probabilidade Lima et al. (2010) e Frank e Sevegnani (2009), além
Retorno (anos) de Superar
de outros com intuito social, por exemplo, Menezes
(2009) e Pereira (2009).
Alta 10 10%
Para a aplicação da metodologia a bacia do Braço
do Baú foi dividida em 16 BCs e uma AI (Figura 5
Média 100 1%
e Tabela 4). Por meio de observação em campo e
entrevistas com moradores locais, verificou‑se quais
Baixa 500 0,2% áreas foram inundadas no evento extremo de 2008.
Com um GPS de precisão, coletou‑se 12 pontos
Muito Baixa > 500 < 0,2% geográficos onde os moradores informaram ser o
limite da inundação de novembro de 2008.

Figura 2. Diagrama do perigo de inundação (Adap‑ Figura 3. Níveis de perigo discretizados (PREVENE,
tado de Stephenson, 2002). 2001).

Apostila Pag.231
REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013

18
83880000

2648002

2648001

2648000

Figura 4. Mapa de localização do Complexo do Baú. Figura 5. Divisão de estudo da bacia do Braço do Baú.

Tabela 4
Características das sub‑bacias

Declividade Rio Declividade Rio


Sub‑bacias Área (km²) Sub‑bacias Área (km²)
Principal (%) Principal (%)
BC1 0,40 9,0 BC10 4,12 12,5
BC2 0,16 13,9 BC11 1,96 11,0
BC3 1,56 9,5 BC12 0,55 6,0
BC4 1,25 13,3 BC13 3,28 3,3
BC5 0,87 6,5 BC14 0,30 7,0
BC6 0,89 4,3 BC15 2,95 7,0
BC7 4,20 5,7 BC16 0,23 11,9
BC8 0,53 13,3
AI 14,65 0,4
BC9 9,96 6,0
Apostila Pag.232
Monteiro, L. R.; Kobiyama, M. Proposta de metodologia de mapeamento de perigo de inundação

Dados Utilizados estações 02648001 e 02648002 através do Método


de Thiessen. Com isso foi elaborada a Equação i‑d‑f.
Os dados calculados, adquiridos e de campo,
utilizados nesse estudo de caso se encontram nas A fórmula de Ven te Chow adaptada pela MOPU
Tabelas 5, 6 e 7, respectivamente. (1987) foi utilizada para o cálculo do Tc da bacia,
levando em conta as considerações de Silveira (2005)
sobre as características de bacias para a utilização de
Precipitação de Projeto fórmulas de Tc. O valor encontrado foi de 6 horas.
Optou‑se em utilizar apenas 2 estações 2648001
e 2648002 para este estudo. Em ambas, falhas fo‑
Desta forma, simulações foram realizadas
acrescentando uma hora ao tempo de duração da
19
ram encontradas nos dados. Todas as falhas destas precipitação, até que pelo menos o valor de uma das
estações foram preenchidas através do Método considerações, de volume ou de vazão de pico, fosse
da Distância Inversa com estas e 5 estações vizi‑ menor do que o calculado anteriormente. A duração
nhas (02648019, 02648024, 0269007, 02649010 e da precipitação que forneceu a maior vazão de pico
02748000). foi a de 15 horas. Assim, para o presente trabalho,
Com as falhas preenchidas criou‑se uma única considerou‑se que 15 horas é o tempo de duração
série histórica referente à bacia de estudo com as crítica da precipitação.

Tabela 5 Tabela 6
Informações sobre os dados calculados Informações sobre os dados adquiridos

Dado Método Dado Fonte


ANA (2010)
Séries históricas de precipi- Estação 2648001
Método da Distância Inverti-
tações ao redor e na bacia 09/1927 até 12/2006
das (SINGH, 1992) Séries históricas de
de estudo
precipitação

Série histórica de precipita- Método de Thiessen (SIN- Estação 2648002


ção para bacia de estudo GH, 1992) 01/1941 até 12/2006
ANA (2010)
Equação de i‑d‑f (BER- Série histórica de
NARD, 1932) e Estação 83880000
Precipitação de projeto vazão
Método de Huff (HUFF, 04/1929 até 10/2004
1967)
IBGE (2010)
Fórmula de Ven te Chow Mapa topográfico
Tempo de concentração Gaspar 28823/ Escala 1:50.000
(MOPU, 1987)
IBGE (2010)
Coeficiente de armazena- Proposição de Dooge Mapa hidrológico
Gaspar 28823/ Escala 1:50.000
mento (1973)
Uso do solo Lima et al. (2010)
Vazões das BCs HEC‑HMS 3.5

Número de Deflúvio USDA (1986) e Uso do solo Tabela 7


Informações sobre os dados de campo
Observações em campo
Manning e Proposição de Cowan Dado Equipamento
(1956)
Perfil hidráulico dos rios Haste numerada e trena
Métodos de regionalização Escoamento de base Flowtracker Sontek
Escoamento de base
de vazão (TUCCI, 1995) Pontos topográficos GPS diferencial Trimble
Apostila Pag.233
REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013

Modelo Hidrológico Modelo Hidrodinâmico


Para a modelagem hidrológica utilizou‑se o software O modelo hidrodinâmico escolhido foi o
HEC‑HMS (Hydrologic Modeling System) desen‑ FLO‑2D, proposto por O’Brien et al. (1993). Este
volvido por USACE‑HEC (2000). Este programa é modelo é uma efetiva ferramenta para delimitar
gratuito e está disponível em http://www.hec.usace. perigo de inundação e determinar formas de mi‑
army.mil/software/hec‑hms/ nimizar inundações. Diversos hidrogramas podem
ser adicionados para a mesma simulação, sendo
O HEC‑HMS simula processos de precipita‑
20 ção‑vazão de sistemas de bacias hidrográficas den‑
eles referentes ao canal ou à planície de inundação
(FLO‑2D SOFTWARE INC., 2009).
dríticas, e pode ser aplicado em uma ampla variedade
de áreas geográficas (USACE‑HEC, 2010). FLO‑2D é um modelo de conservação de volume.
Ele transporta o volume da inundação dividido em
A modelagem hidrológica foi realizada utilizando uma série de grids para o escoamento superficial ou
os modelos e os parâmetros referenciados na Tabela através de segmentos de canais. A progressão de uma
8. O Número de Deflúvio (CN) foi obtido através onda de cheia sobre o fluxo dominante é controlada
do auxílio dos estudos de Lima et al. (2010) que rea‑ pela topografia e resistência ao fluxo. (FLO‑2D
lizaram a discriminação do uso do solo para a área SOFTWARE INC., 2009).
do Braço do Baú. Nesta etapa, os parâmetros de entrada foram: os
pontos de elevação retirados do mapa topográfico e
Tabela 8
aperfeiçoados com pontos coletados em campo; as
Estrutura do HEC‑HMS
informações hidrográficas como perfis transversais e
longitudinais dos rios; as informações dos hidrogramas
Modelo Método Parâmetros
das sub‑bacias obtidos através da modelagem hidro‑
Precipitação de lógica; as próprias precipitações que causaram estas
Modelo da
projeto; vazões; as informações referentes ao uso do solo e seu
Retenção Po-
Perdas de Número de Deflúvio;
tencial Máxima nível de saturação; e o coeficiente de Manning do canal
Precipitação
‑ SCS Curve Perdas Iniciais; e da planície de inundação. O método adotado para
Number estimar a infiltração foi o Modelo da Retenção Poten‑
Áreas impenetráveis
cial Máxima, igual ao caso da modelagem hidrológica.
Precipitação efetiva;
Método do Para a modelagem 2D sempre é necessário criar as
Transformação Área da bacia;
Hidrograma condições de contorno. Também é necessário definir
do Escoamento Tempo de concentra-
Unitário de o tamanho do grid que está diretamente relacionado
Superficial ção; Coeficiente de
Clark à escala do mapa topográfico. Pode‑se definir o ta‑
armazenamento manho do grid como o tamanho mínimo do pixel do
Escoamento de Constante Vazão do escoamento mapa topográfico utilizado. Para mapas com escala
base Mensalmente de base mensal de 1:50.000 é aconselhado utilizar pixels mínimos
de 20 metros, ou seja, 400 m² (CASTAÑON, 2003).
Detalhes como pontes, estradas e construções foram
O escoamento de base foi obtidos através do desconsiderados.
Método de Regionalização de Vazões proposto por Os parâmetros variados na calibração foram o
Tucci et al. (1995) utilizando a bacia vizinha, de Luiz número de Manning e o perfil transversal dos canais.
Alves. Nas entrevistas, diversos moradores afirmaram que,
A calibração e validação foram realizadas apenas na inundação de 2008, praticamente todos os rios
para a bacia de Luiz Alves, a qual teve seus parâme‑ foram assoreados devido à ocorrência de inúmeros
tros de entrada calculados de forma semelhante do escorregamentos. Desta forma, foram realizadas
que a bacia de estudo. Esta medida foi necessária, simulações com os perfis transversais dos rios e sem
porque apenas esta bacia possuía dados de vazões eles, somente utilizando os talvegues topográficos.
observadas. Foram alterados na calibração somente
os parâmetros do modelo de perda, pois os valores Mapa de perigo
destes parâmetros foram considerados iguais para Para mapear as áreas de perigo foram utilizados
todas as sub‑bacias. o Índice de Perigo proposto por Stephenson (2002)
Apostila Pag.234
Monteiro, L. R.; Kobiyama, M. Proposta de metodologia de mapeamento de perigo de inundação

e as considerações de PREVENE (2001). O perigo Tabela 9


da inundação é função da profundidade da lâmina Comparação dos volumes totais
de água e de sua velocidade. O mapa de perigo foi
criado para os períodos de retorno de 5, 20 e 100 Período de Retorno Diferença de 5
anos. A intensidade (Índice de Perigo) é de 0,1 a 0,5   (anos) a 100 anos do
m²/s para a baixa, 0,5 a 1,0 m²/s para a média e mais 5 20 50 100 volume total
do que 1,0 m²/s para a alta.
BC2 (m³) 13 19 25 31 138%
Resultados e Discussões do Estudo de Caso BC9 (m³) 326 488 642 788 142% 21
BC11 (m³) 63 94 125 154 144%
Hidrogramas de Contribuição
para uma Área Inundável
A equação i‑d‑f gerada para calcular precipitações Tabela 10
intensas é: Comparação das vazões de pico

Período de Retorno Diferença de 5


(2)   (anos) a 100 anos da
5 20 50 100 vazão de pico

BC2 (m³/s) 0,4 0,6 0,9 1,1 175%


Na calibração do modelo hidrológico se deu prio‑
ridade para a minimização dos erros relacionados à BC9 (m³/s) 16,7 26,3 35,2 43,7 162%
ascensão e ao pico dos hidrogramas. BC11 (m³/s) 4,4 6,9 9,2 11,4 159%
Para analisar a variação dos hidrogramas com os
diferentes períodos de retorno, apenas três sub‑bacias
representativas do conjunto total foram contempla‑
das, isto é, BC2, BC9 e BC11, pois BC2 é a menor
sub‑bacia, BC9 é a maior sub‑bacia e BC11 é uma
sub‑bacia com área mediana. Foram verificadas as
variações dos resultados em função dos diferentes
períodos de retorno. Os itens analisados foram o vo‑
lume total do hidrograma e a vazão de pico (Tabelas
9 e 10). Através destas comparações, identifica‑se
como principal ponto a grande variação do volume
total e da vazão de pico, sendo que estes dois itens
possuem variação muito parecida, cerca de 150%.

Identificação, Detalhamento
e Comparação das Áreas Inundadas
O FLO‑2D foi calibrado a partir do evento extre‑
mo de novembro de 2008. A mancha de inundação
que melhor se ajustou aos pontos coletados foi a
produzida pela simulação sem os perfis transversais,
a qual foi utilizada para a criação dos mapas de
inundação.
As áreas inundadas foram identificadas e deta‑
lhadas através da ferramenta FLO‑2D Mapper, que
faz parte do pacote do próprio software FLO‑2D.
Para uma área ser considerada inundada é necessário Figura 6. Mapa de Inundação ‑ Período de Retorno
que em algum momento da simulação do modelo de 5 anos.

Apostila Pag.235
REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013

hidrodinâmico, o grid possuísse uma profundidade de


lâmina de água maior ou igual a três centímetros. As
Figuras 6, 7 e 8 ilustram as áreas inundadas detalha‑
das para os períodos de retorno de 5, 20 e 100 anos,
respectivamente. A comparação das áreas inundadas
foi realizada através da área máxima inundada e o
volume máximo armazenado (Tabela 11).

22
Tabela 11
Comparação para os períodos de retorno

Área Volume
Período Dif. para Dif. para
Máxima Máximo de
de Retor‑ AMI de VMI de
Inundada Inundação
no TR 5 TR 5
(AMI) (VMI)
anos km² m³ % %
5 2,89 1.572.112 ‑ ‑
20 3,08 2.191.556 7 39
50 3,21 2.698.792 11 72
100 3,31 3.147.212 14 100
Figura 8. Mapa de Inundação ‑ Período de Retorno
de 100 anos.

Nota‑se a pequena variação da área inundada e a


elevada variação do volume de inundação. Observan‑
do apenas a área inundada, as vazões das sub‑bacias
em função do período de retorno, não demonstram
grande importância para as inundações. Porém, em
relação ao volume, esta hipótese é desmentida. Uma
das justificativas para este comportamento distinto
de ambos os parâmetros é a característica geomor‑
fológica na própria bacia. Esta bacia possui muitas
áreas declivosas, criando uma forma encaixada na
região de inundação.

Mapeamento das Áreas de Perigo de Inundação


O mapa de perigo, produto final, foi criado com o
auxílio da ferramenta Mapper FLO2‑D e com os ma‑
pas de inundação de tempos de retorno de 5, 20 e 100
anos (Figura 9). Os níveis de perigo são identificados
da seguinte maneira: 3 para Perigo Alto (vermelho);
2 para Perigo Médio (laranja); 1 para Perigo Pequeno
(amarelo) e 0 para Perigo Inexistente (sem cor).
Foi observado na Figura 9 que as BC1, BC2, BC5,
Figura 7. Mapa de Inundação ‑ Período de Retorno
de 20 anos.
BC6, BC8, BC12, BC14 e BC16 possuem participação
pequena na área do mapeamento de perigo. Estas
Apostila Pag.236
Monteiro, L. R.; Kobiyama, M. Proposta de metodologia de mapeamento de perigo de inundação

sub‑bacias possuem vazão de pico menor do que 2 em Santa Catarina deveriam possuir de 20 a 30 metros
m³/s para o período de retorno de 5 anos e menor do a partir da margem dos rios. As APPs estão dentro
que 5 m³/s para o período de retorno de 100 anos. A das áreas de inundação. Assim, as APPs devem ser
consideração da baixa importância dessas sub‑bacias preservadas devido à segurança humana (Figura 10).
despreza o efeito da sinergia das vazões de contribuição.
Para a localização de vias de transporte não se Tabela 12
deve adotar nenhum perigo como aceitável, pois em Áreas de perigo para as diferentes categorias
casos de desastres naturais estas devem estar sempre
acessíveis para a evacuação de pessoas. As obras de Categoria 0 1 2 3 Total 23
importância pública, como hospitais e escolas, devem Área (km²) 45,65 0,11 1,52 0,72 48,00
ser localizadas em locais onde existe no máximo o
perigo baixo. Obras, como parques para lazer, que   95% 0% 3% 2% 100%
são utilizadas apenas quando não existe ocorrência
da precipitação, podem ser construídas aceitando o CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
perigo alto, desde que após um evento de inundação
estes locais sejam reconstituídos. As demais obras O presente trabalho propôs uma metodologia
devem ser realizadas aceitando o perigo médio, mas para o mapeamento de perigo de inundação e apli‑
sempre tentando reduzir este ao máximo. cou‑a para a Bacia do Braço do Baú, no município
de Ilhota – SC, como estudo de caso. A metodologia
consiste em: determinar a equação de precipitações
intensas, gerar hidrogramas de contribuição para a
área inundável delimitada, detalhar a área inundável
e então estruturar um mapa de perigo em função de
diferentes períodos de retorno de precipitação. Nesta
metodologia, é necessário realizar a modelagem hi‑
drológica e hidrodinâmica. Para isso, foram utilizados
os modelos HEC‑HMS e FLO‑2D, respectivamente.

Figura 9. Mapa de Perigo de Inundação.

Com base nessas considerações, as vias de trans‑


porte estão em situação precária, pois possuem
partes com o nível de perigo 3. Algumas residências
estão localizadas em áreas com nível de perigo 2 e
3. De uma forma geral, a localidade possui poucas
construções em áreas indevidas, mas isso se deve por
ser uma bacia rural.
A Tabela 12 mostra a área de cada categoria para Figura 10. Mapa de Perigo de Inundação e das
cada período de retorno. De acordo com Kobiyama áreas de proteção permanente (APP).
et al. (2010) as áreas de proteção permanente (APP)
Apostila Pag.237
REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013

Os hidrogramas gerados tiveram uma variação zadas em áreas com nível de perigo 2 e 3. De uma
do volume total e da vazão de pico de cerca de forma geral, a localidade possui poucas construções
150% na comparação das precipitações com TR de em áreas indevidas, mas isso se deve por ser uma área
5 e 100 anos para as mesmas sub‑bacias. Também rural. As áreas de proteção permanente (APP) coin‑
considerando a comparação das precipitações com cidem com as áreas de inundação. Assim, as APPs
TR de 5 e 100 anos, a variação da AMI foi de 14% devem ser preservadas devido à segurança humana.
e a variação do VMI de 100% de 5 a 100 anos. Ou
seja, a variação da profundidade da lâmina de água AGRADECIMENTO
24 foi mais expressiva do que a da área inundada.
O presente trabalho faz parte do projeto “Análise
A profundidade da água não é o único fator que e Mapeamento das Áreas de Risco a Movimentos
oferece riscos para a vida das pessoas. De acordo com de Massa e Inundações nos Municípios de Gaspar,
Stephenson (2002), a velocidade também fornece Ilhota e Luiz Alves (complexo do morro do baú), SC”
potencial destrutivo da inundação. (209/2009) financiado pela Fundação de Amparo à
As vias de transporte estão em situação precária, Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina
próximas ao rio. Algumas residências estão locali‑ (FAPESC).

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Leonardo Romero Monteiro  Instituto de Pesquisas Hidráulicas – IPH/


UFRGS. E-mail: leonardoromeromonteiro@gmail.com
Masato Kobiyama  Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental –
ENS/UFSC. E-mail: masato.kobiyama@ufrgs.br

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Apostila Pag.254
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Apostila Pag.257
6 ESCORREGAMENTO

MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
ALINE DE ALMEIDA MOTA

No Brasil, a maioria dos escorregamentos ocorre quando chove intensamente ou


quando ocorrem eventos de chuva subsequentes em um determinado período de tempo, que
isoladamente não são tão intensos, mas resultam em um elevado volume de chuva acumulado.
Justamente por isso, os escorregamentos são classificados como desastres hidrológicos em
termos globais. Entretanto, na classificação brasileira, são considerados como desastres
geológicos.
De qualquer forma, os escorregamentos geram danos sócio-econômico-ambientais no
Brasil. Justamente por isso, é necessário identificar e mapear suas ocorrências e também os
mecanismos e limites associados a suas causas.
Os seguintes artigos demonstram alguns resultados sobre isso:

• MICHEL, G.P.; GOERL, R.F.; KOBIYAMA, M. Critical rainfall to trigger landslides


in Cunha River basin, southern Brazil. Natural Hazards, DOI 10.1007/s11069-014-
1435-6
• MICHEL, G.P.; KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F. Comparative analysis of
SHALSTAB and SINMAP for landslide susceptibility mapping in the Cunha River
basin, southern Brazil. Journal of Soils and Sediments, v.14, p.1266–1277, 2014.
• SANTOS, I.; KOBIYAMA, M. Delimitação espacial de diferentes processos erosivos
na bacia do rio Pequeno, São José dos Pinhais - PR. In: I Simpósio Brasileiro de
Desastres Naturais (2004, Florianópolis), Florianópolis : UFSC/GCN/GEDN, Anais,
2004. p.174-187.
• KOBIYAMA, M.; MOTA, A.A.; GRISON, F.; GIGLIO, J.N. Landslide influence on
turbidity and total solids in Cubatão do Norte River, Santa Catarina, Brazil. Natural
Hazards, v.59, p.1077–1086, 2011.

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Nat Hazards
DOI 10.1007/s11069-014-1435-6

ORIGINAL PAPER

Critical rainfall to trigger landslides in Cunha River


basin, southern Brazil

Gean Paulo Michel • Roberto Fabris Goerl • Masato Kobiyama

Received: 22 May 2014 / Accepted: 10 September 2014


Ó Springer Science+Business Media Dordrecht 2014

Abstract In 2008, Rio dos Cedros city in Santa Catarina State, Brazil, suffered from
numerous landslides. The objective of the present study was, therefore, to apply the slope
stability model SHALSTAB to the Cunha River basin, which is located in this city, and to
estimate the rainfall necessary to trigger the landslides, which is defined as critical rainfall.
Some geotechnical parameters were determined through field survey and laboratory test. The
slope stability map elaborated with SHALSTAB was compared to the landslide inventory
map, which confirmed the good performance of this model for the study area. In the model
calibration, the values of the hydrologic ratio (q/T), which is the steady-state recharge (q) per
transmissivity (T), were determined in order to rearrange the classification of the slope
stability–instability conditions. After determining these values, the q value which is equiv-
alent to the critical rainfall was estimated. Based on the rainfall time series data from 1941 to
2011, the critical rainfall was determined 1,042.55 mm in 68 days, equivalent to a steady-
state recharge of 15.33 mm/day. This result implies that landslides in Rio dos Cedros city in
2008 were triggered by an association between intense rainfall and a long rainy period.

Keywords Landslides  SHALSTAB  Steady-state recharge  Critical rainfall

1 Introduction

There is a worldwide increase in life loss and material damages associated with natural
disasters. According to McDonald (2003), this increase is due to the rise in the number of

G. P. Michel (&)  M. Kobiyama


Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves,
9500, Caixa Postal 15029, Porto Alegre, RS 91501-970, Brazil
e-mail: geanpmichel@gmail.com

R. F. Goerl
Departamento de Geociências, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário,
Trindade, Florianópolis, SC 88040-900, Brazil

Apostila Pag.259 123


Nat Hazards

people occupying susceptible areas as well as their low economic conditions that permit to
construct only very poor and unsafe houses. By using the available data of the Emergency
Disaster Data Base—EM-DAT of the Centre for Research on the Epidemiology of Disas-
ters—CRED, the temporal distribution of the world natural disasters during the period from
1900 to 2013 can be seen in Fig. 1. Though all kinds of disasters increase in frequency, the
hydrological disasters such as floods and landslides show the largest increase. It is noted that
about 50 % of people affected by the natural disasters suffered from the hydrological ones.
In Brazil, the recent occurrences of natural disasters have been more serious and det-
rimental, e.g., the landslides and floods in Santa Catarina State in 2008 (Frank and Se-
vegnani 2009), landslides in Angra dos Reis and Morro do Bumba regions in Rio de
Janeiro State in 2010 and landslides and floods in Teresópolis, Nova Friburgo and Pet-
rópolis cities in Rio de Janeiro State in 2011 (Avelar et al. 2011; Coelho Netto et al. 2011).
These disasters demonstrated that the Brazilian society is still unprepared to deal with such
hydrologically extreme events. Hence, it becomes more important to comprehend the
mechanisms that trigger the hydrological disasters and to establish adequate counter-
measures focusing on damage reduction.
Demonstrating how the disaster evolution performs during a city implementation from
floods to landslides, Kobiyama et al. (2010a) emphasized that the more attention might be
paid for landslides in Brazil. One of the most efficient countermeasures for reducing
landslide-related disasters is the mapping of susceptible areas.
To identify the locality of potential shallow landslide occurrence, there are several slope
stability models, e.g., SHALSTAB (Dietrich and Montgomery 1998; Montgomery and
Dietrich 1994), SINMAP (Pack et al. 1998) and TRIGRS (Baum et al. 2008). These models
have been worldwide accepted and utilized in the slope stability analysis (Cervi et al. 2010;
Chacón et al. 2006; D’Amato Avanzi et al. 2009; Huang and Kao 2006; Sorbino et al.
2009; Tarolli and Tarboton 2006; Terhorst and Kreja 2009; Yilmaz and Keskin 2009).
Applied for some Brazilian basins, SHALSTAB showed better performance than other
stability models (Vieira et al. 2009), specially on Cunha River basin (Michel et al. 2014);
thus, SHALSTAB was adopted in the present study.
SHALSTAB, in relation to the hydrological condition, adopts the assumption of O’loughlin
(1986), which considers a steady-state recharge that occurs when there is equilibrium between
inflows and outflows in the soil layer situated at a slope. This recharge allows predicting the
saturation level of the slopes. The above-mentioned condition never occurs naturally. However,
this assumption permits to simulate the effect of transient storms in increasing the water table,
generally responsible for triggering of landslides (Dietrich and Montgomery 1998; Hammond
et al. 1992). Though the effect of a transient storm could be simulated by the steady-state
recharge, there is no consensus about the numeric relation between them. According to Pack
et al. (2005), in the landslide modeling, the steady-state recharge is not related to a long-term
(e.g., annual) average of recharge, but related to a critical period of rainfall that can trigger
landslides. In the tropics where the soil is generally thicker, transient storms cannot trigger
landslides frequently because of the difficulty to significantly elevate the water table. Fur-
thermore, long rainy periods that resemble real steady-state recharge could lead the hillslope to
an unstable condition, allowing that a less intense storm triggers the landslide.
Dhakal and Sidle (2004) listed many studies about the characteristics of rainfall and
recharge associated with landslides. Some of them investigated the relationships between
the landslide occurrences and threshold values of rainfall for landslide hazard assessment,
prediction and warning systems. These studies generally consider the topographic and
geotechnical characteristics of the basin. Others studies are empirical and show the relation
between intensity and duration of the rainfall to trigger landslides (Caine 1980; Guzzetti

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Nat Hazards

Fig. 1 Natural disaster occurrences and percentage of people affected by them from 1900 to 2013

et al. 2008; Saito et al. 2010). However, the relationship between the rainfall characteristics
(duration and amount) and the landslide triggering is still not very clear in cases where the
physical characteristics of the basin are considered.
In this context, the objectives of the present study were (1) to analyze the rainfall
associated with an extreme event occurred in Cunha River basin, Rio dos Cedros city,
Santa Catarina State, Brazil, in November 2008, by using some hydrological, geotechnical
and geomorphic analysis in association with SHALSTAB and (2) to determine the critical
rainfall necessary to trigger landslides.

2 Theory of SHALSTAB with soil cohesion

The Shallow Landsliding Stability Model (SHALSTAB) developed by Dietrich and


Montgomery (1998) is a mathematical computational model based on the combination
between a slope stability model and a hydrological model and freely available in the
internet. For stability analysis, this model uses the infinity slope theory and assumes the
hydrological steady state, the flow parallel to the surface and the Darcy’s law to estimate
the spatial distribution of the pore pressure. The simulations are performed in the ArcView
version 3.2, and the digital elevation model (DEM) provides data to calculate the upslope
drainage area and slope. Therefore, each pixel that composes the terrain contains a single
value to each morphometric parameter, enabling a discrete analysis.
The infinite slope analysis considers a uniform layer of soil over an infinite inclined
surface and ignores the effects caused by the boundaries. This analysis can be done in each
local where the slope length is much larger than the soil width, and only tangential stress
and normal stress at the base of the soil are considered.
The stability slope model is based on the Mohr–Coulomb law, in which, during the
rupture, the tangential stress is equal to the sum of the stabilizers efforts, i.e.,
s ¼ c þ ðr ÿ uÞ  tan / ð1Þ
where s is the shear stress; c is the soil cohesion; r is the normal stress; u is the pore
pressure; and / is the soil internal friction angle. Considering the root strength and the
height of water table, Selby (1993) rewrote Eq. (1) and applied it to infinite slopes:

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Nat Hazards

qs  g  z  sin h  cos h ¼ cr þ cs þ ðqs  g  z  cos2 h ÿ qw  g  h  cos2 hÞ  tan / ð2Þ


where cr is the root cohesion; cs is the soil cohesion; h is the slope; qs is the soil density; qw
is the water density; g is the gravitational acceleration; z is the soil depth; and h is the water
table level above the failure plane.
Dietrich et al. (1995) solved Eq. (2) for h/z that represents the proportion of the satu-
rated soil column at instability condition. Though in their formulations the cohesion term
was ignored, the present study considers soil cohesion term because it can play an
important role in stability of tropical soils. Then, it is obtained:
 
h qs tan h c
¼  1ÿ þ 2
ð3Þ
z qw tan / cos h  tan /  qw  g  z

When the soil layer is completely dry, the term h/z in Eq. (3) is set to zero, and a
minimum slope angle for unconditional instability is obtained. When the slope is steeper, it
is classified as unconditionally unstable:
c
tan h  tan / þ 2
ð4Þ
cos h  qs  g  z

When the soil layer is saturated, the term h/z in Eq. (3) is set to one, and a maximum
angle for unconditional stability can be obtained:
 
qw c
tan h  tan /  1 ÿ þ 2
ð5Þ
qs cos h  qs  g  z

If the situation does not correspond to Eqs. (4) or (5), the hydrological model is
incorporated to predict the wetness necessary to cause the instability. The hydrological
model used in SHALSTAB follows the principles of Beven and Kirkby (1979) and
O’loughlin (1986), where the soil saturation (w) is related to the upslope drainage area (a),
the unit contour length (b), the slope steepness (h), the soil transmissivity (T) and the
steady-state recharge (q) of a certain point, i.e.,
qa h
w¼ ¼ ð6Þ
b  T sin h z

Replacing w for h/z, Eqs. (3) and (6) can be equated. Then, combining the infinite slope
stability model and the hydrological model, a hydrologic ratio (q/T) can be obtained:
   
q b qs tan h c
¼  sin h   1ÿ þ ð7Þ
T a qw tan / cos2 h  tan /  qw  g  z

This is the main equation applied in SHALSTAB, which considers the soil cohesion.
Hence, it is very clear that only rainfall data are not sufficient to predict the stability
level of a slope. The slope stability depends on many hydrological, geotechnical and
topographic variables. Based on geotechnical and topographic input data, SHALSTAB
calculates a minimal hydrologic ratio (q/T) where the conditions for instability are satis-
fied. The higher the ratio q/T, the lower the probability of a slope destabilization.

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123 Pag.262
Nat Hazards

3 Materials and methods

3.1 Study area

Many cities in Santa Catarina were affected by landslides and floods in November 2008,
mainly those located in Itajaı́ Valley (Frank and Sevegnani 2009). The Rio dos Cedros city
was severely damaged, having 8,561 people directly affected by the event and 96 people
homeless. The disaster damaged 191 low-class and 96 middle-class houses, and the eco-
nomic losses reached around US$ 1,754,272, of which US$ 1,138,187 in agriculture, US$
250,553 in cattle raising, US$ 33,191 in industry and US$ 332,340 in basic services (Goerl
et al. 2009). The present study area is the Cunha River basin, a rural basin in Rio dos
Cedros city, where seven large rapid shallow translational landslides occurred (Fig. 2).
Due to the great accumulation of water in the soil, the material released from the slopes
turned into debris flows that delivered a lot of sediment to the main channels. Kobiyama
et al. (2010b) measured the geometry and estimated the initial volume of four landslides/
debris flows that occurred in this basin. Among these, the volume of the biggest was
estimated in 50,000 m3 with a width of approximately 60 m and a thickness of 10 m, while
the smallest volume was estimated in 6,000 m3, 40 m wide and 10 m thick. All the
landslides occurred in the basin are rainfall-induced without anthropic contribution.
The Cunha River basin has 16.35 km2, and its altimetry varies from 90 m to 860 m. The
Cunha River has a mean slope of 8 % and altimetric amplitude of 640 m. The basin is
composed of gneiss (94 %) and shale (6 %). The inceptisols, classified as cambisoils by the
Brazilian System of Soil Classification (EMBRAPA 2009), are predominant and occupy
about 75 % of the basin area (IBGE 2003). These soils are mainly associated with steep
slopes and are composed by clayey material in this basin. The other 25 % of the basin area
is occupied by ultisols (classified as argisols in Brazilian classification).

3.2 Input data

3.2.1 Topographic data

The digital terrain model (DTM) was elaborated based on 5-m contour lines, obtained
through field survey with a Leica ADS-40 airborne digital sensor. The contour lines were
interpolated by the ArcGis version 9.3 Topo to Raster extension resulting in a raster map
consisting in cells of 5 m of resolution.
The landslide scars were determined by visual analysis of the basin orthophotos in
1:5,000 scale and from more than 3,000 georeferenced points collected by field survey with
a D-GPS and a total station. All the points collected showed a subcentimetric precision in
plan-altimetry. After identifying three parts of landslides (initiation, transport and depo-
sition) in the field, the present study plotted only the initiation areas on the landslide
inventory map which was used for calibrating the SHALSTAB model.

3.2.2 Rainfall data

Even though SHALSTAB can be applied without rainfall data, the contextualization of the
results depends on the rainfall analysis. Therefore, the hourly rainfall data were extracted
from three rain gauge stations located in Rio dos Cedros city (Fig. 2). Although the rain
gauges were not situated in Cunha River basin and were distant about 6–12 km from the

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Nat Hazards

Fig. 2 Location and altimetry of Cunha River basin

basin and among them, the rainfall series was analyzed and the measured values were very
similar among them. During the field survey in the basin, ravines, grooves or overland flow
were not observed, which permits to conclude that there is no surface flow with rainfalls of
low–medium intensity in the major part of Cunha River basin. That is why the present
study assumes that all the rainfall infiltrates into the soil layer.

3.2.3 Geotechnical data

The present study assumed that the landslide faces represent the failure triggering condi-
tions. Ten undisturbed soil samples were collected in the landslide scars, all of which are
situated in the same type of soil (cambisoil) that covers approximately 75 % of the basin
area. These soil samples were conducted to laboratory where tests were carried out to
obtain the geotechnical information. The shear strength parameters of soil (internal friction
angle and cohesion) were determined by direct shear test with undisturbed saturated soil
samples in drained conditions.

Apostila
123 Pag.264
Nat Hazards

By the relation between mass and volume of the saturated soil, the saturated soil bulk
density was determined. The particle size distributions of soil samples were determined
and used to estimate the saturated hydraulic conductivity (Ks) by the HYDRUS-1D soft-
ware that contains the Rosetta Lite Version 1.1 model proposed by Schaap et al. (2001).
This model generates the soil hydraulic properties from soil textural data. Though Ks
generally decreases with soil depth, the present study considered its value constant along
the soil depth.
The estimation of soil depth of the basin was done by field observations on the land-
slides scars. All the landslides in the basin occurred at a similar depth (*10 m).The mean
depth where the slope failures occurred was considered the soil layer depth for the entire
basin (Fig. 3).

3.3 Critical rainfall determination procedure

SHALSTAB uses Eq. (7) to designate the stability degree of the slope. This equation is
solved for two hydrological variables: q and T. Hence, it is a parameter-free model where
the stability classification is determined by the q/T ratio. According to Dietrich et al.
(1995), the amount of rainfall necessary to destabilize the slope, which is called the critical
rainfall in the present study, is directly proportional to Ks of the soil at the ground surface
and inversely proportional to the decline rate of Ks by the increment of soil depth. Con-
sidering the variability of Ks, T can be obtained by the integration of this parameter along
the soil depth. This study considered that there is no variation of Ks, and then, T was
calculated by the product between Ks and the soil thickness. The transmissivity is a
parameter that estimates the facility how the water in the soil is drained by the slope.
Slopes where soils have high T can rapidly lower the water table level during or after a
heavy rainfall, which contributes positively to the slope stability. Therefore, the effective
application of the model requires the estimation of T.
Dietrich and Montgomery (1998) originally proposed seven stability classes in
SHALSTAB. The two extreme classes refer to Eqs. (4) and (5) which represent uncon-
ditionally unstable and unconditionally stable areas, respectively. The other five classes are
established according to the q/T ratio. The standard values of q/T used by SHALSTAB as
thresholds of the stability classification were set by statistical analysis of landslides which
occurred in predicted unstable areas and total unstable areas in the basin (Dietrich et al.,
1995). The q/T values were determined so that the results included the largest number of
landslides and the smallest total unstable areas in the basin. These values were set as
stability thresholds. The higher value of q/T implies the lower probability of instability.
For a better understanding of the mechanism involved in critical rainfall, the present
study reduced the five classes of stability established by q/T values to two. Thus, the terrain
is here classified in four classes: unconditionally unstable, unstable, stable and uncondi-
tionally stable. This classification requires only one value of q/T as stability threshold.
Table 1 shows a comparison between the original and proposed classification.
In SHALSTAB application, the present study compared the landslide inventory map
with the unstable areas identified by the model. The q/T values that represented the stability
threshold were determined when unstable pixels coincide with the landslides occurrences
of the inventory map. By changing the q/T values, a reclassification of the SHALSTAB
results was performed. Hence, four values of q/T were established for the stability
threshold, resulting in four different stability maps.
The variation in q/T values also causes to vary the number of unstable pixels within
landslide scars, as well as the total unstable area within the basin. The present study

Apostila Pag.265 123


Nat Hazards

Fig. 3 Head of a landslide in Cunha River basin

assumed that only one unstable pixel within the landslide scar is sufficient for the model
success in prediction. The destabilization of a small area represented by few pixels can
destabilize a much larger volume of soil due to the relaxing of the slope strengths. When
there were different stability classes inside the same scar, the less stable class inside it
finally defined its classification.
In landslide modeling, the steady-state recharge (q) refers to a value to mimics the
behavior of ground saturation during a large storm (Dietrich and Montgomery 1998).
However, O’loughlin (1986) explained that a quasi-steady state occurs in basins where
drainage flux, hillslope outflow and the boundaries of saturation zones slightly vary. Then,
the present study considered that the conditions of the Cunha River basin during the
analyzed period resembled a quasi-steady state; thus, the real values of the rainfall series
were used in the modeling.
The determination of an actual q value requires the recognition of a rainfall period. The
ratio between the amount of rainfall and total time of this period may represents q (mm/
day). Though this period is associated with successive rainfall events which are capable to
trigger landslides, it is quite difficult to estimate its amplitude. To estimate the period able
to trigger landslides, a value of q was extracted from each q/T ratio which characterized the
four threshold conditions. The selection of q/T threshold values was executed by observing
the coincidence of predict unstable areas and registered landslides scars. After establishing
the q/T threshold values, the q values were calculated with the estimated value of T. These
values of q are related to an accumulated rainfall or critical rainfall.
Each value of q was sought within the rainfall series of the basin. A retrospective
accumulation of the rainfall from the triggering moment of landslides (9 a.m. of November
23, 2008) was calculated. Dividing the rainfall accumulated by the accumulated time,
several rainfall rate values that really occurred in the basin were obtained. When the value

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123 Pag.266
Nat Hazards

Table 1 Comparison between original and proposed classification


Original classification Proposed classification

Unconditionally unstable (Eq. 4) Unconditionally unstable (Eq. 4)


log q/T \ -3.1 Unstable
n o
-3.1 [ log q/T [ -2.8 q
 ba  sin h  qs tan h
 ð1 ÿ tan c
T qw /Þ þ cos2 htan /q w gz

-2.8 [ log q/T [ -2.5 or


-2.5 [ log q/T [ -2.2 Stable
n o
log q/T [ -2.2 q
\ ba  sin h  qs tan h
 ð1 ÿ tan c
T qw /Þ þ cos2 htan /q
w gz

Unconditionally stable (Eq. 5) Unconditionally unstable (Eq. 5)

of the rainfall rate becomes equal to the q value calculated from the ratio q/T, the period
and the critical rainfall related to the landslides triggering were determined.

4 Results and discussion

4.1 Geotechnical characteristics of soils

The mean of each input parameter was used in the modeling. According to Ohta et al.
(1983), the values of Ks on the hydrological modeling can be considered an order of
magnitude (about 10 times) higher than those obtained in laboratory measurement due to
the preferential pathways. The Ks values estimated by HIDRUS-1D are, on average, one
order of magnitude smaller than measured (Schaap and Leij 2000). Mota and Kobiyama
(2011) compared the values of Ks measured in laboratory with those estimated by HY-
DRUS-1D of some Brazilian soils whose sampling locations are very close to the present
study. They reported that the values of Ks estimated by HYDRUS-1D were, in general,
from 10 to 100 times smaller than the measured ones. Thus, the value of Ks obtained with
HYDRUS-1D was raised in one order of magnitude for the present study.
Since the values measured for soil strength were similar for all soil samples, their mean
values were applied for the entire basin. The values adopted in the present study are
showed in Table 2.

4.2 Analysis of the stability model

The results of SHALSTAB simulation, using the parameters of Table 2, are shown in
Fig. 4 where the classification is based on seven stability classes established originally by
Dietrich and Montgomery (1998). The model considered most of the flat areas as
unconditionally stable, even in saturation conditions. Steeper areas were classified as
unstable areas, even in low soil moisture conditions. The unconditionally unstable areas are
extremely steep areas. In the areas where topography is not very flat or very steep, the
hydrological parameters determined the classification. The upslope drainage area has a
large influence on the classification determination. Regions with high flow concentration
due to the relief convergent curvature are almost classified as unstable areas.
All the seven inventoried landslides coincided with the two more unstable classes.
Among them, only one was in the unconditionally unstable class and the others in the
second more unstable class. Although the unconditionally unstable class areas did not

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Nat Hazards

Table 2 Model input values of


Parameter Value
soil parameters
Internal friction angle of soil (/) 31°
Cohesion (c) 11,900 N/m2
Saturated soil density (qs) 1,815 kg/m3
Soil depth (z) 10 m
Saturated hydraulic conductivity (Ks) 0.38 m/day

contain more incidences of landslides than the second unstable class, it can be said that
SHALSTAB performance was satisfactory for the Cunha River basin. The mathematical
condition that leads an area to be classified as unconditionally unstable is physically unreal.
The classification of an area as unconditionally unstable indicates an error in the estimation
of parameters, generally soil thickness or soil strength. In a lot of cases, the places where
the model indicated unconditionally instability are sites of bedrock exposure (Dietrich and
Montgomery 1998).

4.3 Critical rainfall

The rainfall condition in Rio dos Cedros city during the second semester of 2008 played a
relevant role for triggering landslides. The daily and accumulated rainfalls from August 1
to November 23, 2008 are demonstrated in Fig. 5. The accumulated rainfall during this
period reached 1,200 mm which is about 2/3 of the mean annual rainfall in the city.
The stability map generated by SHALSTAB was reclassified to obtain the correct
q/T value which could be thought to trigger landslides in this basin. This value of q/T was
varied for four different patterns of classification. The value of log q/T used in each
reclassification was as follows: -3.4, -3.3, -3.1 and -2.8. For selecting these values,
some criteria were used. The smallest value of log q/T (= -3.4) was established when at
least one unstable pixel remained inside each landslide scar. The largest value of log
q/T (= -2.8) was obtained when the unstable area in the basin became larger than stable
area and the simulation results became unreal. The other values were adopted based on
Dietrich and Montgomery (1998). The variation on the log q/T values caused the variation
of density of unstable pixels in the landslide scars (Fig. 6) as well as the total unstable area
in the basin (Table 3).
Using the q/T values adopted for the reclassifications, the value of T and rainfall data,
the values of q, the time period (total number of days) and critical rainfall were calculated
(Table 4). The rainfall series of the basin from 1941 to 2011 was analyzed. Analogous
rainfall periods with the same or higher accumulated rainfall were searched in order to
verify the singularity of the events related to the q values shown in Table 4. In the rainfall
series of the basin, any event similar to the one with the critical rainfall (1,042.55 mm) and
the period (68 days) related to the steady-state recharge of 15.33 mm/day was not found.
Furthermore, 14, 30 and 6 analogous events were identified for log q/T = -3.3, -3.1 and
-2.8, respectively.
Figure 7 shows the complete rainfall series of the basin with daily rainfall values
grouped for 3, 8, 28 and 68 days of accumulation. It is clearly noted that only the critical
rainfall related to 68 days of accumulation had never occurred till November 2008. The
dwellers of the region and the local media had not reported the occurrence of landslides
with similar magnitude in this basin. Therefore, those landslides in Cunha River basin in

Apostila
123 Pag.268
Nat Hazards

Fig. 4 Stability map of Cunha River basin, with seven original classes

Fig. 5 Daily and accumulates rainfall in Cunha River basin during the period from August 01, 2008, to
November 23, 2008

November 23, 2008, were supposed to be triggered by the critical rainfall of 1,042.55 mm
in 68 days. It confirms quantitatively the conclusion of Kobiyama et al. (2010b) where, in
the case of landslides/debris flows in Cunha River basin, the triggering factor was not only
the rainfall intensity but also its accumulated value.

Apostila Pag.269 123


Nat Hazards

Fig. 6 Reclassification of stability map with different values of log q/T: a -3.4; b -3.3; c -3.1; and d -
2.8

Table 3 Areas in four stability classes in Cunha River basin with different values of log q/T
Class Percentage of area (%)

log q/T = -3.4 log q/T = -3.3 log q/T = -3.1 log q/T = -2.8

Unconditionally unstable 1.46 1.46 1.46 1.46


Unstable 5 6.61 11.51 22.2
Stable 34.51 40.97 28 17.31
Unconditionally stable 59.03 59.03 59.03 59.03

For a complementary analysis, the accumulated rainfall and log q/T were calculated for
periods that vary from 1 to 100 days before the landslides occurrence. The rainfall data
series from 1941 to 2008 were verified in order to find the analogous rainfall periods for
each corresponding accumulated rainfall value. Figure 8 shows that in the range from 37 to
92 days of accumulation, there is no analogous period with the same accumulated rainfall,
except the period of 50 days that has one analogous. Although there are other periods
without analogous, the accumulation of 68 days (log q/T = -3.4) is the unique one that
can be supported by a log q/T threshold value adequate to the proposed method. Periods
shorter than 68 days are related to higher log q/T values. If these values are used as rainfall
threshold, excessive unstable area could be created in the basin. On the other hand, periods

Apostila
123 Pag.270
Nat Hazards

Table 4 Values of q, period and


log q/T q (mm/day) Number of days Critical rainfall (mm)
accumulated rainfall correspond-
ing to four different values of log
q/T -3.4 15.33 68 1042.55
-3.3 19.06 28 533.66
-3.1 27.09 8 216.76
-2.8 55.59 3 166.76

Fig. 7 Rainfall amount series: a 3 days; b 8 days; c 28 days; and d 68 days

longer than 68 days are related to smaller log q/T values. If used as rainfall threshold, it
could not detect the actual localities of landslides occurrence in this basin.
There are several empirical studies that proposed relations between rainfall thresholds
and triggering landslides (Caine 1980; Innes 1983; Larsen and Simon 1993; Aleotti 2004;
Cannon et al. 2008; Guzzetti et al. 2008; Dahal and Hasegawa 2008; Saito et al. 2010).
Although none of them could be applied for 68 days (1,632 h) of duration rainfall, all of
them were tested. The results obtained vary from -87 to ?30 % of the value estimated by
the physically based methodology adopted by this work (*0.64 mm/h). The most similar
value is from the equation proposed by Aleotti (2004), with a difference of approximately
26 %.
Other values of intensity tested and discarded by the present study (related to the
accumulated rainfall of 3, 8 and 28 days) were compared to the values obtained by the
empirical equations. The difference showed variability similar to the early comparison
between empirical equation and the selected intensity calculated by the present study.
Thus, for this case, it is difficult to define the specific rainfall intensity responsible for
triggering the landslides only with the empirical equation. This way, the physically based
methodology proposed in the present study can help to define it.
The q value responsible for triggering the landslides is under the condition of log q/
T = -3.4. This value is the smallest among the four conditions (Table 4) and is related to

Apostila Pag.271 123


Nat Hazards

Fig. 8 Values of log q/T and number of analogous rainfall periods for different ranges of rainfall
accumulation period

the longer period. Then, it is said that a long rainy period can be as significant as shorter
periods of heavy rainfall for triggering landslides in tropical thicker soils. Heavy rainfalls
that occurred during a short period have higher q values that did not match to the calculated
recharges responsible for triggering landslides. In case of these larger recharges remain for
longer periods; the number of landslides in the studied basin would be much larger. The
landslides which occurred in Cunha River basin were triggered by a smaller recharge that
remains sufficient time to lead some slopes to a less stable condition. In tropical soils,
generally much thicker, the triggering of landslides requires a significant elevation of the
water table which often is not likely to be caused by isolated transient storms.

5 Conclusion

Heavy rainfalls and/or long rainy periods are the main triggering factors for landslides in
Brazil. Then, the present study focused on the Cunha River basin, Rio dos Cedros city
(Brazil), in which a lot of landslides occurred with these factors in 2008. After gaining
several geotechnical parameters through field survey and laboratory test, SHALSTAB with
soil cohesion was applied to identify the areas susceptible to landslides. The simulation
results were compared to the landslides inventory map, which confirmed that this model
had a good performance for this basin.
Rearranging the stability classes from seven to four and comparing the stability map
with the landslide inventory, the log q/T value responsible for triggering the landslides was
determined. After that, assuming that the conditions in the basin resemble a quasi-steady-
state subsurface flow, the q value which is equivalent to the critical rainfall was estimated,
i.e., 15.33 mm/day. By a retrospective accumulation of the rainfall series from the moment
of the landslides occurrence, this q value corresponds to 68 days of accumulation and a
total rainfall of 1,042.55 mm. Analyzing the rainfall series in the study basin from 1941 to
2008, any period with similar characteristics was not found. The calculated q value refers
to a long period of accumulation. It indicates the importance of the water accumulation in
the soil layer since larger recharges for shorter periods which occurred many times since

Apostila
123 Pag.272
Nat Hazards

1941 did not trigger large landslides. This result permits to emphasize that the accumulated
rainfall plays a very important role in the landslide triggering mechanism.
Although the steady-state recharge never really occurs in a basin, its value is used by
SHALSTAB to predict unstable areas. According to Dietrich and Montgomery (1998), this
recharge value is not real, but must represents the effect of large transient storms in the
wetness. However, the relation between steady state of recharge and transient storms still
remains unclear, and more work should be done for the question.
Notwithstanding the good performance of SHALSTAB in the present study, there are
still some uncertainties in the analysis. Due to the difficulty to estimate the variability of
several hydrological and geotechnical input parameters in the basin, they were all con-
sidered homogenous in the present study. It could lead to underestimation or overesti-
mation of parameters, which could consequently cause some incoherence to the modeling
results.
The stability map generated by the SHALSTAB classifies the area by a hydrologic ratio
(q/T), which is not very easy to interpret and requires that its results are contextualized for
each basin with different hydrological characteristics. Therefore, in addition to geotech-
nical and topographic parameters, the hydrological data should be measured for a more
precise landslide prediction. In case there is a large error in estimating q/T values, the final
error would spread to the calculation of steady-state recharge, critical rainfall and related
period.

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J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277
DOI 10.1007/s11368-014-0886-4

PROGRESS IN EROSION AND SEDIMENTATION IN LATIN AMERICA

Comparative analysis of SHALSTAB and SINMAP for landslide


susceptibility mapping in the Cunha River basin, southern Brazil
Gean Paulo Michel & Masato Kobiyama & Roberto Fabris Goerl

Received: 1 February 2013 / Accepted: 1 March 2014 / Published online: 18 March 2014
# Springer-Verlag Berlin Heidelberg 2014

Abstract Conclusions The analysis of maps based on the results of the


Purpose The Shallow Landsliding Stability Model two models shows that if SHALSTAB is correctly calibrated,
(SHALSTAB) and Stability Index Mapping (SINMAP) based on hydrological parameters, its results could be more
models have been applied to various landslide management accurate than SINMAP in the prediction of landslide areas.
and research studies. Both models combine a hydrological Although SINMAP showed better calibration of the landslide
model with an infinite slope stability model for predicting scars, its classification over the basin results in an overestima-
landslide occurrence. The objectives of the present study were tion of stability areas. The conclusion is that SHALSTAB is
to apply these two models to the Cunha River basin, Santa more suitable than SINMAP for the prediction of landslides in
Catarina State, southern Brazil, where many landslides oc- the Cunha River basin, Brazil.
curred in November 2008, and perform a comparative analy-
sis of their results.
Keywords Landslides . SHALSTAB . SINMAP . Slope
Materials and methods Soil samples were collected to deter-
stability
mine the input parameters. The models were calibrated with a
landslide scar inventory, and rainfall data were obtained from
three rain gauges. A comparison of their results obtained from
the models was undertaken with the success and error index. 1 Introduction
Results and discussion Based on the maps of stability and
instability areas for the study basin, the models performed Landslides are natural processes responsible for landscape
well. Since the initial equations of both models are not partic- formation and evolution, channel maintenance and sediment
ularly different, their results are similar. Locations with steep supply and are one of the main mechanisms for sediment
slopes, as well as areas with concave relief that tend to have release from the hillslope to the fluvial system (Cendrero
larger contribution areas and moisture, have lower stability and Dramis 1996; Petley 2010). Their processes and effects
indexes. SHALSTAB classified only ~13 % of the total area of can be assessed and addressed in several ways, such as fre-
the Cunha River basin as unstable, while SINMAP classified quency and magnitude analysis (Steijn 1996), sediment deliv-
~30 % as unstable. ery (Corsini et al. 2009) and fluvial connectivity (Crozier
2010).
As erosion processes, landslides contribute strongly to the
Responsible editor: Cristiano Poleto
total sediment yield and their impacts can be observed in high
G. P. Michel (*) : M. Kobiyama rates of sedimentation of reservoirs, dams and river beds
Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio
(Bathurst et al. 2005). Chen et al. (2010) showed that torrential
Grande do Sul, Avenida Bento Gonçalves, 9500, Caixa Postal,
15029, Porto Alegre, RS 91501-970, Brazil rains induced hazards in a reservoir, such as high suspended
e-mail: geanpmichel@gmail.com sediment concentration, which stopped the water supply, and
caused floating timbers in the reservoir that shut off the power
R. F. Goerl
generation. Kobiyama et al. (2011) reported that in the
Programa de Pós Graduação em Geografia, Universidade Federal do
Paraná, Centro Politécnico, Jardim das Américas, Curitiba, Cubatão do Norte River basin in Brazil, an area covered by
PR 81531-990, Brazil natural forests, the sediment yield due to a landslide

Apostila Pag.275
J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277 1267

occurrence was approximately five times higher than that parallel to the soil surface, ignoring the edge effect. The
without the phenomenon. infinite slope stability model (Fig. 1) is based on the Mohr-
Despite the fact that landslide conditioning and triggering Coulomb law in which, at the moment of failure, the shear
factors are well-known (Cendrero and Dramis 1996), the stress, τ (N m−2), due to the downslope component of the soil
prediction and mapping of their occurrences are still a chal- weight, is equal to the resistance strength caused by cohesion,
lenge for science and technology communities (Petley 2012). c (N m−2), and by frictional resistance due to the effective
Maps of areas susceptible to landslides are important in basin normal stress on the failure plane:
management. They can provide information for the develop-
ment and elaboration of risk maps and support planning of τ ¼ c þ ðσ−uÞ⋅tanϕ ð1Þ
structural and non-structural measures (Korup 2005).
Bathurst et al. (2005) emphasized the need for hydrologi- where σ is the normal stress (N m−2); u is the pore pressure
cal, physically-based and spatially-distributed models to pre- opposing the normal load (N m−2); and φ is the angle of
dict the occurrence of landslides and to understand their internal friction of the soil (degrees).
relationship with basin characteristics and sediment yield. Selby (1993) proposed a modification to Eq. (1) for an
Generally, hydrological models are coupled with slope stabil- infinite slope:
ity models to predict landslide occurrence. Furthermore, the 
ρs ⋅g⋅z⋅sinθ⋅cosθ ¼ cr þ cs þ ρs ⋅g⋅z⋅cos2 θ−ρw ⋅g⋅h⋅cos2 θ ⋅tanϕ ð2Þ
outputs from the coupled models can be combined with digital
topography and implemented in a GIS platform. These models where ρs is the wet soil density (kg m−3), z is the soil depth
compute the factor of safety (FS) for each cell at any time (m), θ is the slope (degrees), ρw is the water bulk density
during a rainstorm and incorporate the results in maps show- (kg m−3), h is the water level (m), cr is the root cohesion
ing the FS values of the slopes. This type of approach allows (N m−2), cs is the soil cohesion (N m−2) and g is the gravita-
the analysis of possible scenarios (rainfall events) with differ- tional acceleration (m s−2). It is noted that the wet soil density
ent probabilities of occurrence (Corominas and Moya 2008). parameter is used due to its similarity to field conditions when
There are several stability models, such as CHASM, a landslide is triggered.
SHALSTAB, SINMAP, TRIGRS, SHETRAN, GEOtop-FS Dividing the portion of the equation (right side of Eq. (2))
and SUSHI (Safaei et al. 2011). Among these models, that represents the soil structuring forces by the portion of the
Shallow Landsliding Stability Model (SHALSTAB) equation that represents the destabilizing forces (left side), the
(Dietrich and Montgomery 1998) and Stability Index FS of the infinite slope can be obtained:
Mapping (SINMAP) (Pack et al. 1998) have a similar con-
struction that utilise hydrological, geomorphic and geotechni- cr þ cs þ ðρs ⋅g⋅z⋅cos2 θ−ρw ⋅g⋅h⋅cos2 θÞ⋅tanϕ
cal features and involve the same input parameters. Although FS ¼ ð3Þ
ρs ⋅g⋅z⋅sinθ⋅cosθ
similar, SHALSTAB has a deterministic approach, while
SINMAP is probabilistic. In this equation, FS=1 is a balanced state, i.e. failure is
The objectives of the present study were, therefore, to: (1) imminent; at FS<1, slope failure takes place and at FS>1, the
summarize SHALSTAB and SINMAP, (2) apply them to the slope is stable. It must be noted that this value does not
Cunha River basin, Santa Catarina State, Brazil and (3) per- represent absolute stability or instability. The stability in-
form a comparative analysis of the results obtained with these creases with an increase of FS values (Selby 1993).
two models. There are some investigations that have com-
pared SHALSTAB and SINMAP (e.g. Meisina and Scarabelli
2007; Andriola et al. 2009). However, since both models are
very important for landslide management, it is still necessary
to carry out this type of comparison with different regional
characteristics.

2 Theory

2.1 Infinite slope stability model

Since shallow landslides, in which the slope length is greater


than the soil depth, occur frequently in Brazil, the infinite
slope stability model can be very useful. This model compares Fig. 1 Representation of an infinite slope model. P represents the weight
the destabilizing and restorative components on a plane of the soil block. See text for definition of symbols

Apostila Pag.276
1268 J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277

The decrease of FS occurs with an increase of the water 2.3 Shallow Landsliding Stability Model (SHALSTAB)
column due to the reduction of effective stress. Thus, during a
rainfall event, the water table elevation reduces FS. The higher The Shallow Landslide Stability Model (SHALSTAB) is a
the intensity and the longer the duration of the rainfall event, deterministic and distributed model based on a combination of
the higher the probability of slope failure. infinite slope and steady-state hydrological models.
SHALSTAB is integrated into a GIS (ArcView 3.2) through
which the upslope drainage area, elevation and slope values
2.2 Steady-state hydrological model are calculated by using a digital elevation model (DEM), and
these values are assigned to each pixel.
The slope stability/instability condition is directly related to Solving Eq. (2) in terms of h/z (saturated soil layer) results
hydrological factors; therefore, it is essential to have a hydro- in the saturation amount necessary for the landslide to occur:
logical model to estimate soil moisture. The commonest hy-
drological concept adopted for modelling slope stability is the  
h ρ tanθ c
steady-state shallow subsurface flow which is described in ¼ s ⋅ 1− þ ð6Þ
TOPMODEL (Beven and Kirkby 1979) and TOPOG z ρw tanϕ cos θ⋅tanϕ⋅ρw ⋅g⋅z
2

(O’Loughlin 1986). This concept assumes a uniform recharge


state that simulates the spatial moisture variation (water level)
during a rainfall event. Figure 2 demonstrates this concept, Applying Eq. (6) to a slope, two extreme conditions are
where a (m2), b (m) and q (m d−1) represent the upslope established: unconditionally unstable and unconditionally sta-
drainage area, the contour length and the recharge uniform ble. The first condition takes place when h/z is set to 0
rate, respectively. (absence of water column), and the relation between the soil
Defining the wetness as the portion of saturated soil sub- parameters cannot compensate the destabilizing effect of the
mitted to a uniform recharge state, O’Loughlin (1986) pro- steep slope (Eq. (7)). The second condition happens when h/z
posed that it is given by the relation between the water inlet in is set to 1 (totally saturated), and the relation between the soil
the form of uniform recharge and the water outlet that exits parameters overcomes the effect of the slope (Eq. (8)).
through the soil saturated layer. Equation (4) shows the final
c
formulation of the steady-state hydrological model. tanθ ≥ tanϕ þ ð7Þ
cos2 θ⋅ρ s ⋅g⋅z

q⋅a h
W ¼ ¼ ð4Þ
b⋅T ⋅sinθ z
 
ρw c
tanθ ≤ tanϕ⋅ 1− þ ð8Þ
ρs cos2 θ⋅ρs ⋅g⋅z
∵T ¼ K s ⋅z⋅cosθ ð5Þ

where W is the soil wetness (m m−1), T is the soil transmissiv- When the unconditionally unstable and stable conditions
ity (m−2 d−1) and Ks (m d−1) is the saturated hydraulic con- are not established, a partial soil saturation can lead to slope
ductivity, considered homogeneous along the soil depth. failure, and Eqs. (4) and (6) can be equated. Thus, the infinite

Fig. 2 Representation of
hydrological model (after
Montgomery and Dietrich 1994)

Apostila Pag.277
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slope and steady-state hydrological models are coupled: water. Although the term “steady-state” is used to name the
  model, the q value does not represent a long-term average of
q⋅a ρs tanθ c
¼ ⋅ 1− þ ð9Þ recharge (e.g. annual). It is a rate of effective recharge, for a
T ⋅b⋅sinθ ρw tanϕ cos2 θ⋅tanϕ⋅ρw ⋅g⋅z critical period, required to trigger landslides (Pack et al. 1998).
By replacing Eq. (11) with Eq. (3) and rearranging, the
final formulation of SINMAP is established:
A modification of Eq. (9) in terms of the parameters q and T h  q⋅a  i
generates the final formulation of SHALSTAB: ca þ cosθ⋅ 1−Min ; 1 ⋅r ⋅tanϕ
FS ¼ T ⋅b⋅sinθ ð12Þ
   
q b ρs tanθ c sinθ
¼ ⋅sinθ⋅ ⋅ 1− þ ð10Þ
T a ρw tanϕ cos2 θ⋅tanϕ⋅ρw ⋅g⋅z
cr þcs
where ca is the dimensionless cohesion (ca ¼ ρ ⋅g⋅z⋅cosθ ), and r
is the relation between water and wet soil density (r ¼ ρρw ).
s

The input parameters required by SHALSTAB are c, φ, ρs s


Some input parameters of SINMAP are described in terms of
and z. The other variables (a, b and θ) are extracted from the
maximum and minimum thresholds, like T/q (m), ca and φ
DEM. Therefore, SHALSTAB classifies the terrain as a func-
(degrees). For ρs, only its mean value is used.
tion of a hydrologic ratio (q/T) required to instability. Dietrich
Random variations of the input parameters between their
and Montgomery (1998) originally proposed seven stability
boundaries generate a probability distribution of terrain sta-
classes. The most extreme classes—unconditionally unstable
bility (probability of FS>1). Assuming that the variable T/q is
and unconditionally stable—are related to Eqs. (7) and (8),
represented by x, then x1 is the lower boundary and x2 is the
and the other five classes are established as a function of q/T.
upper boundary. Likewise, by representing tan ϕ by t, then t1
and t2 are the lower and the upper boundary, respectively;
2.4 Stability Index Mapping (SINMAP)
similarly, c1 and c2 represent the lower and upper boundary of
the dimensionless cohesion, respectively.
The Stability Index Mapping (SINMAP) is a stochastic and
The worst scenario (most conservative) is the combination
distributed model that is used for mapping slope stability. Like
of the lower values of c and t (c1 and t1) with the highest x
SHALSTAB, this model also applies a steady-state hydrolog-
value (x2):
ical model coupled to an infinite slope model (Pack et al. 1998).
SINMAP is also a GIS-integrated (ArcGIS 9.2) model. The h  a  i
topographic variables are obtained from the DEM. SINMAP c1 þ cosθ⋅ 1−Min x2 ; 1 ⋅r ⋅t 1
SI ¼ FS min ¼ b⋅sinθ ð13Þ
derives its terrain stability classification from topographic, hy- sinθ
drological and soil characteristics. An uncertainty range can be
established for the hydrological and soil parameters.
By assuming uniform distributions of the parameters over
Under this condition, if FS >1, the location is considered
uncertainty ranges, this model calculates, as the principal
unconditionally stable. At any locations where the minimum
output, the Stability Index (SI) which is defined as the prob-
FS is <1, there is a failure probability. In this case, the SI is
ability that a location is stable. This value normally ranges
defined as:
between 0 (most unstable) and 1 (least unstable). However, at
places where the most conservative (destabilizing) set of SI ¼ ProbðFS > 1Þ ð14Þ
parameters in the model still results in stability, the SI values
become >1. The stability classes adopted by SINMAP are
shown in Table 1.
SINMAP is based on Eq. (3) to calculate the FS. The The best scenario combines the upper boundary of c and t
steady-state hydrological model (Eq. (11)) is used to estimate (c2 and t2) with the lower boundary of x (x1). Thus, the
soil saturation, assuming that the maximum value of h/z is maximum value of FS is obtained:
equal to 1. Then, if the value is >1, overland flow is formed. h  a  i
  c2 þ cosθ⋅ 1−Min x1 ; 1 ⋅r ⋅t 2
h q⋅a SI ¼ FS max ¼ b⋅sinθ ð15Þ
W ¼ ¼ Min ;1 ð11Þ
0

z T ⋅b⋅sinθ sinθ

The q/T rate determines the relative wetness in terms of Under this condition, if FS<1, the location is considered
uniform recharge state in relation to soil capability in drain unconditionally unstable.

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Table 1 Stability classes in the SINMAP model

Stability Stability classes Parameter range Possible influence of factors not modelled
index

SI>1.5 Unconditionally stable Range cannot model instability Significant destabilizing factors are required for
instability
1.5>SI>1.25 Moderately stable Range cannot model instability Moderate destabilizing factors are required for instability
1.25>SI>1.0 Quasi-stable Range cannot model instability Minor destabilizing factors could lead to instability
1.0>SI>0.5 Lower threshold of stability Pessimistic half of range required for instability Destabilizing factors are not required for instability
0.5>SI>0.0 Upper threshold of stability Optimistic half of range required for stability Stabilizing factors may be responsible for stability
0.0>SI Unconditional instability Range cannot model instability Stabilizing factors are required for stability

Modified from (Pack et al. 1998)

3 Materials and methods area at each point. Slope values decrease with coarser DEM
resolutions (Claessens et al. 2005; Wu et al. 2008). The higher
3.1 Study area description the topographic resolution, the more accurately the map re-
produces the drainage area and slope (Dietrich et al. 2001).
In November 2008, an extreme rainfall event triggered floods Dietrich et al. (2001) performed SHALSTAB validation using
and landslides in Santa Catarina state, Brazil, especially in the 10-m grids and suggested that the grid size influences the
Itajaí Valley. The town of Rio dos Cedros, in the Itajaí Valley, critical uniform recharge rate. Although there is no such thing
was declared a state of public calamity due to this rainfall as a ‘perfect’ DEM resolution, and no resolution can represent
event. In this city, 8,561 people (83 % of the total population) the dimensions of all the possible slope failures (Claessens
were directly affected. The floods occurred in the urban area et al. 2005), the resolution adopted by the present study
and the landslides, mainly debris flows, occurred in rural areas possibly represents the more significant landslides that oc-
(Kobiyama et al. 2010). curred in the basin.
Four large landslides and three other minor ones were The landslide scars were determined by visual analysis of
recorded in the Cunha River basin (16.35 km2), in which this the basin orthophotos (1:5,000 scale). Furthermore, several
town in located (Fig. 3). The Cunha River basin is 70 % points of the landslide crown scars were measured using a
covered by dense rainforest and another 20 % is covered by Differential GPS Trimble R3 and 5700 and a Leica TPS-407
pasture. Among the seven significant landslides, six were total station. By delineating the scars and by identifying their
triggered in forested areas and one in pasture. Therefore, the source, transport and deposition areas, a landslide inventory
present study chose this basin for a comparative analysis of the map was made and used to calibrate the models. In the present
SHALSTAB and SINMAP models. study, the area delimited by the inventory considered only the
This basin varies from 90 to 860 m a.m.s.l., with a mean source of the landslides. The transport and depositional areas
slope of 8 %. The basin is composed of gneiss (94 %) and were not treated.
shale (6 %). The inceptisols, classified as cambisoils by the
Brazilian System of Soil Classification (EMBRAPA 2009), 3.2.2 Rainfall data
are predominant and occupy about 75 % of the basin (IBGE
2003). These soils are mainly associated with steep slopes and The hourly rainfall data obtained at three rain gauge stations
are composed of clayey material in this basin. The other 25 % located in the town of Rio dos Cedros (Fig. 3) were converted
of the basin is occupied by ultisols (classified as argisols in the to a daily uniform recharge rate. The extension of the rainfall
Brazilian classification). period was determined by Michel et al. (2011). A uniform
recharge rate of 15.33 mm day−1 was adopted as input data.
3.2 Input parameters No evidence of rills, ravines or any overland flow was observed
during the field survey. Therefore, it was assumed that no
3.2.1 Topographic data significant overland flow occurs in the basin and, consequently,
that the soil recharge rate is equal to the rainfall intensity.
The DEM was made using 5 m-counter lines obtained in a
survey with a Leica ADS-40 sensor set-up in an airplane. The 3.2.3 Soil data
Topo to Raster toolbox in ArcGis 9.3 was used to interpolate
the contour and to create the DEM with a pixel resolution of Soil samples were collected at 10 sites inside the landslide
5 m. The DEM was used to determine the slope and drainage source areas whose soil characteristics represent the slope

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Fig. 3 Location and altimetry of the Cunha River basin, Brazil

failure conditions. Laboratory tests were carried out on the soil by Schaap and Leij (2000); Mota and Kobiyama (2011)
samples to obtain the shear strength parameters, density and compared the values of Ks measured in the laboratory with
particle size distribution of the soil. The shear strength param- those estimated by HYDRUS-1D of some Brazilian soils
eters of soil (φ and c) were determined by the direct shear test whose sampling locations are very close to the present study.
with undisturbed soil samples. The value of ρs was determined They reported that the values of Ks estimated by HYDRUS-
from the relation between mass and volume of the wet undis- 1D were, in general, 10 to 100 times smaller than the mea-
turbed soil. sured ones. To take into account the HYDRUS-1D estimation
Due to the difficulty of performing the Ks tests in situ uncertainty, the value of Ks adopted by the present study was
because the landslides occurred at very steep and remote 10 times larger than the estimated one. Though the Ks value
localities, the particle size distribution of soil samples was generally decreases with depth of forest soils, the present
used to estimate Ks by the HYDRUS-1D software that con- study considered its value constant. The soil depth was esti-
tains the Rosetta Lite Version 1.1 model proposed by Schaap mated through field observations of the landslide scars. The
et al. (2001). The Ks values estimated by HIDRUS-1D are, on value adopted for the entire basin was considered equal to the
average, one order of magnitude smaller than those measured soil depth where the slope failure occurred.

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1272 J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277

The mean value of each parameter is presented in Table 2.


Since SHALSTAB is a deterministic model, the values of
Table 2 were used directly. As a stochastic model, SINMAP
requires the maximum and minimum parameter values. Thus,
their values vary by +/−20 %.

3.2.4 Model calibration

Model calibration is normally carried out by evaluating the


spatial coincidence between mapped landslide scars and sim-
ulated unstable areas. The more coincidences are observed,
the better a calibration performance is considered. An usual Fig. 4 Conceptual illustration of success and error indexes (after Sorbino
et al. 2010)
calibration procedure is to vary the input parameters by in-
creasing the spatial coincidence between landslide scars and
simulated unstable areas. However, this procedure may result
between these indices. The higher ratio indicates the better
in large unstable areas over the entire basin, which can be
performance of the model.
unrealistic. Thus, the variation of the input parameters should
be done carefully. Since the soil data were obtained from
laboratory tests with samples collected in a field and the
obtained values possess less uncertainty, the model calibration 4 Results and discussion
was undertaken by changing the uniform recharge rate (hy-
drological parameter). This procedure was described in detail 4.1 SHALSTAB
by Michel et al. (2011).
Figure 5 shows the results of the SHALSTAB simulation, i.e.
3.2.5 Efficiency evaluations of the models a stability map of the Cunha River basin with the seven
different classes as established by Dietrich and Montgomery
The efficiency of the models was evaluated with two indexes (1998). All the gentle and plane areas were classified as stable,
proposed by Sorbino et al. (2010): index (SuI) and error index even in saturation conditions. Areas with a steep slope are
(ErI) (Fig. 4). SuI represents the percentage of area considered strongly related to instability, even in areas of poor saturation
as unstable by the model (Ain) within the real landslide scar area condition. It is noted that the upslope drainage area has a
(Aunst) while ErI is the percentage rate between the unstable strong influence on the terrain stability classification. At the
areas defined by the model outside the landslide scar (Aout) and flow accumulation locations where the slope is convergent,
the basin area that was not affected by the landslides (Astab): there is a relatively high concentration of unstable areas.
All the landslide scars are identified in two higher instabil-
Ain ity classes in Fig. 5. Among the mapped landslides, one
SuI ¼ ⋅100 ð16Þ
Aunst coincided with the unconditionally unstable class and the
other six with the second class of higher instability. On the
Aout other hand, only 12.84 % of the total area of the Cunha River
ErI ¼ ⋅100 ð17Þ
Astable basin was identified as these unstable classes. Therefore, the
SHALSTAB calibration was considered satisfactory for the
Cunha River basin. Table 3 presents the area distribution for
Furthermore, Sorbino et al. (2010) suggested calculating each class and the number of landslides per class. The stability
the ratio between SuI and ErI in the case of similar values classification was determined as a function of log q/T. Thus,
hydrological parameters were used to estimate the slope satu-
Table 2 Mean value of each soil parameter ration, which consequently permitted the calculation of its
stability degree. The spatial correlation between the mapped
Parameter Mean value
landslide scars and the two most unstable classes, and the
Internal friction angle of soil (φ) 31.2° small area classified as these two classes over the whole basin,
Cohesion (c) 11.9 kPa indicate that SHALSTAB correctly described the
Saturated hydraulic conductivity (Ks) 3.8 m day−1 hydrogeomorphological effects on slope instability for the
Wet soil density (ρs) 1,815 kg m−3 Cunha River basin.
Soil depth (z) 10 m When a place is classified as unconditionally unstable,
some specific conditions need to be addressed, for example

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Fig. 5 Stability map obtained from the SHALSTAB model

a substantial soil layer on a steep slope. However, this partic- class represents the range of SI which in turn represents the
ular situation is not usually observed naturally because steep probability for each pixel to obtain an FS>1. Since the initial
slopes normally suffer from high rates of surface erosion. equations of SINMAP and SHALSTAB are not very different,
Therefore, this situation, as described by the mathematical their results are quite similar. Locations with steep slopes, as
model, is not consistent with the real world. well as the concave relief that tend to have larger contribution
areas and higher soil moisture, have lower stability indexes.
4.2 SINMAP The recorded landslide scars coincide with the three classes
of lower stability, where, according to SINMAP classification,
The stability map resulting from SINMAP simulation is char- the SI value is <1. None of the recorded landslides were
acterized with six classes for the studied basin (Fig. 6). Each identified as unconditionally unstable. Similar to an

Table 3 Landslide and areas per


stability class Classes Area (km2) Area (%) Number of landslides Landslides (%)

Uncond. unstable 0.23 1.43 1 14.29


log q/T<−3.1 1.85 11.41 6 85.71
−3.1<log q/T<−2.8 1.73 10.67 0 0.00
−2.8<log q/T<−2.5 1.69 10.45 0 0.00
−2.5<log q/T<−2.2 0.91 5.65 0 0.00
logq/T>−2.2 0.20 1.21 0 0.00
Uncond. stable 9.58 59.18 0 0.00
Total 16.2 100.00 7 100.00

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Fig. 6 Stability map obtained from the SINMAP model

interpretation of the SHALSTAB simulation result, this class 4.3 Comparison


requires a certain specific condition that does not commonly
occur in the real world. To perform a comparative analysis of the models, two criteri-
The class with the largest number of landslides is the upper ons were established. In SHALSTAB, unconditionally unsta-
threshold of stability (0.0<SI <0.5) with five landslide scars in ble and log q/T<−3.4 classes were merged into a single
this class, followed by the lower threshold of stability with unstable class. Similarly, for SINMAP, the unconditionally
two landslide scars (Table 4). The 71.43 % of correspondence unstable class and the classes where the value of SI<1 were
between the second more unstable class and landslide scars and merged into a single class. Then by using these two new
also the classification of only 4.4 % of the basin area as this class classes, the values of SuI and ErI were calculated from the
of SINMAP indicated that the calibration was satisfactory. On maps obtained by both models.
the other hand, to match all the landslides inside the unstable Even with the similar initial equations, the values of SuI
classes, SINMAP classified 30 % of the entire basin as unstable. and ErI from SHALSTAB and SINMAP are very different

Table 4 Different stability clas-


ses and landslide occurrence Classes Area (km2) Area (%) Number of landslides Landslides (%)
distribution
Uncond. unstable 0.03 0.20 0 0.00
0.0<SI<0.5 0.71 4.40 5 71.43
0.5<SI<1.0 4.16 25.70 2 28.57
1.0<SI<1.25 2.43 15.00 0 0.00
1.25<SI<1.5 1.80 11.10 0 0.00
Uncond. stable 7.08 43.60 0 0.00
Total 16.2 100.00 7 100.00

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Table 5 Success and error indexes for the SHALSTAB and SINMAP witnesses and other kinds of records makes it very difficult
simulation results
to say exactly where the movement began. Thus, only a few
SHALSTAB SINMAP areas (pixels) inside the scar could be really unstable, and
relaxation of tensions after the beginning of the movement
Success index (SuI) (%) 19.55 94.12 could propagate the instability to the surrounding areas,
Error index (ErI) (%) 6.35 30.22 resulting in a large landslide area. Therefore, there is some
uncertainty in applying the SuI/ErI relation which is based on
the unstable area inside the scar.
According to Dietrich et al. (2001), the best results of a
(Table 5). The calibration processes for SHALSTAB resulted slope stability model are gained when the landslide scars
in a reduction of unstable areas in the Cunha River basin until coincide with the unstable areas and at the same time these
the point that only a few unstable pixels could be found inside unstable areas represent a minor area over the whole basin.
the landslide scar. Consequently, the calibration generated a Figure 7 presents the cumulative percentage of the area and
small value of ErI because a few locations were classified as landslides in each stability class. In the SHALSTAB case, all
unstable over the basin. Furthermore the SuI value was also the landslides coincide with the unconditionally stable and log
small, compared with the value obtained with SINMAP. q/T<−3.4 classes (Fig. 7a). In a reclassification of the stability
Since SINMAP is a probabilistic model, its simulation map by considering these two classes as unstable, only 6 % of
results refer to a probability of failure. In other words, the the area of the basin was unstable. On the other hand, in the
probabilistic distribution makes several combinations in the case of SINMAP, the landslides were included in the uncon-
input parameters, which causes a tendency to classify a rela- ditionally unstable, 0.0<SI<0.5 and 0.5<SI<1.0 classes
tively large area in the basin, as unstable. Thus, the value of (Fig. 7b). Grouping these three classes in a single unstable
SuI is very high (94 %) in the SINMAP simulation. On the class, 30 % of the total area of the basin was classified as
other hand, SINMAP has also a high value of ErI, which unstable. In the comparative map, the area considered as
means that a lot of the areas identified as unstable do not unstable by both models represents 6 % of the total basin area,
coincide with the landslide scars. while the stable area identified by both represents 70 %
According to Sorbino et al. (2010), a higher value of the (Fig. 8). The areas characterized as SHALSTAB stable/
SuI/ErI relation indicates a better performance of a model. For SINMAP unstable are encountered in 24 % of the total area.
the SHALSTAB and SINMAP calibrations, the SuI/ErI values Thus, for each single pixel classified as unstable by
were 3.08 and 3.11, respectively. Therefore, the SINMAP SHALSTAB, there are about five SINMAP unstable pixels.
model has a better performance than SHALSTAB for the From the analysis of maps made with the two models, if
Cunha River basin. However, the SuI/ErI values of the two SHALSTAB is correctly calibrated based on hydrological
models were very similar. Thus, it is not appropriate to make parameters (q/T), its results could be used more accurately in
such a conclusive statement about model performance. In fact, the prediction of landslide areas. Although SINMAP showed
there is a question as to whether all the areas inside the better calibration related to landslide scars, its classification
landslide scar can be considered unstable. The absence of over the basin results in an overestimation of stability areas.

Fig. 7 Cumulative percentage of the area of landslide scars and the area of each stability class. a SHALSTAB and b SINMAP

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Fig. 8 Comparative map between stable and unstable areas as determined by SHALSTAB and SINMAP

Therefore, SINMAP should be applied at the preliminary SHALSTAB obtained better results than SINMAP. Only 6 %
assessment stage or for the first approach to landslide of the total area of the basin was classified as unstable by
management. SHALSTAB, while 30 % was classified by SINMAP.
The SHALSTAB results appropriately represent topo- Besides the uncertainties related to the difficult determina-
graphic and hydrological factors that control landslide occur- tion of the values of the input parameters—because of their
rences. Thus, all landslide scars match unstable classes and the heterogeneous distribution over the basin and also related to
basin was not classified excessively as unstable. Thus, topographic features that the DEM cannot perfectly repre-
SHALSTAB is recommended over SINMAP for predicting sent—stochastic models such as SINMAP possess a certain
landslides in the Cunha River basin. range for each input parameter. This can potentially increase
the uncertainty of the results. The SHALSTAB model is more
able to identify specific areas prone to shallow landslides and
5 Conclusions can be used by managers as an additional tool in fieldwork.
The conclusion is that SHALSTAB is better than SINMAP in
The present study compared two slope stability models, predicting landslides in the Cunha River basin.
SHALSTAB and SINMAP, by mapping areas susceptible to It is important to mention that the values of all input
landslides (stability and instability areas) in the Cunha River parameters of both models contain uncertainties. The greater
basin, Brazil. The results obtained from the simulation of both the number of soil samples and laboratory tests, the more
models are satisfactory for the prediction of landslides in this appropriate is the representation of parameter variability over
basin. All landslide scars matched the SHALSTAB and the basin; however, the description cannot be perfect. The
SINMAP unstable classes. present study confirms that, because of the actual difficulty
In a comparative analysis, the best values of SuI/ErI ob- in recognizing the subsurface conditions that dictate pore-
tained from maps generated with SHALSTAB and SINMAP pressure evolution and material strength, no slope failure
were 3.08 and 3.11, respectively. Reclassifying the stability model can predict a landslide with certainty at high spatial
map to match all landslide scars with the unstable classes, and temporal resolution (Wilcock et al. 2003).

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Apostila Pag.286
DELIMITAÇÃO ESPACIAL DE DIFERENTES PROCESSOS EROSIVOS NA
BACIA DO RIO PEQUENO, SÃO JOSÉ DOS PINHAIS – PR

IRANI DOS SANTOS1


MASATO KOBIYAMA2
1
Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza – CEHPAR
Convênio UFPR/COPEL/LACTEC
C.P. 1309, CEP 80011-970, Curitiba - PR, Brasil
2
Depto. de Engenharia Sanitária e Ambiental
Universidade Federal de Santa Catarina,
Caixa Postal 476, Florianópolis – SC, Brasil. CEP 88040-900
irani@lactec.org.br; kobiyama@ens.ufsc.br

SANTOS, I.; KOBIYAMA, M. D. Delimitação espacial de diferentes processos erosivos na bacia do rio
Pequeno, São José dos Pinhais – PR. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1., 2004,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 174-187. (CD-ROM)

RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo aplicar o modelo geomorfológico UMBRAL para delimitar quatro tipos
de processos erosivos (erosão difusa; por lixiviação; linear; e por deslizamento) da bacia hidrográfica do rio
Pequeno, no município de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, Paraná, Brasil. O modelo
UMBRAL pressupõe que a evolução do relevo está intimamente ligada à dinâmica da água na bacia, sendo
que a determinação de onde e quando acontecem os diferentes processos erosivos depende das propriedades
hidráulicas e mecânicas do solo, das características do relevo e dos processos hidrológicos. As propriedades
hidráulicas do solo foram determinadas através da simulação do TOPMODEL e as propriedades mecânicas
por ensaios geotécnicos de cisalhamento direto. Assim, através de expressões simples foi possível combinar
estas características da paisagem e delimitar espacialmente onde ocorrem os diferentes processos erosivos. O
mapa de processos erosivos, obtido com o UMBRAL, foi analisado frente ao mapa de uso do solo. O
UMBRAL permitiu a delimitação dos processos erosivos atuantes na bacia e apresentou resultados bastante
coerentes com as características ambientais.
Palavras-chave: UMBRAL, erosão, encosta, dinâmico da água.

SPATIAL DELIMITATION OF DIFFERENT EROSION PROCESSES IN THE PEQUENO RIVER


WATERSHED, SÃO JOSÉ DOS PINHAIS – PR

ABSTRACT
The objective of the present work was to apply the geomorphologic model UMBRAL to delimitate four types
of erosion processes (diffusive erosion, seepage erosion, overland flow erosion, and landslide erosion) in the
Pequeno river watershed in the municipal of São José dos Pinhais, Metropolitan Region of Curitiba, Paraná
State, Brazil. The UMBRAL model supposes that the relief evolution is strongly linked to the water
dynamics in the watershed. In this model, the determination of where and when these four erosion processes
occur depends on the hydraulic and mechanical properties of the soil, the relief characteristics and the
hydrological processes. The hydraulic and mechanical properties of the soil were determined through the
TOPMODEL simulation and the geotechnical study with the direct shear test, respectively. By using simple
expressions, it was possible to combine these landscape characteristics and to delimitate spatially where the
different erosion processes (diffusive erosion; seepage erosion; overland flow erosion; and landslide erosion)
occur. A map of erosion processes, obtained with the UMBRAL, was analyzed with the land use map. The
UMBRAL showed the delimitation of the actual erosion processes in the watershed, which is a quite coherent
result compared to the environmental characteristics.
Key-words: UMBRAL, erosion, hillslope, water dynamics.

1. INTRODUÇÃO
A erosão é um conjunto de processos que envolvem o desprendimento, transporte e
deposição de partículas sólidas do solo e da rocha, cujos agentes erosivos são a água, o

Apostila Pag.287 174


vento, as geleiras e a gravidade. No caso da erosão hídrica, encontram-se diferentes
mecanismos causadores tais como: ação direta do salpico das gotas de chuva; ação do
escoamento superficial; ação do escoamento subsuperficial em ductos e túneis (associados
à atividade biogênica, às descontinuidades lito-pedológicas e ao fissuramento dos solos);
excesso de pressão hídrica dos poros nas faces de exfiltração do escoamento
subsuperficial; ação gravitacional direta, ou movimentos de massa, especialmente quando
as pressões hídricas dos poros positivas se tornam críticas dentro do regolito (COELHO
NETO, 1998).
Dado a complexidade e ao grande número de mecanismos físicos relacionados aos
processos erosivos, a identificação e o mapeamento destes processos tornam-se uma
importante ferramenta no planejamento ambiental. Esta forma alternativa de abordagem da
erosão consiste na modelagem para identificação e delimitação espacial dos diferentes
processos erosivos atuantes na bacia hidrográfica. A partir da identificação dos diferentes
processos erosivos torna-se possível o estabelecimento de umbrais (thresholds) de erosão,
isto é, a determinação de regiões onde podem ocorrer cada tipo de processo e
conseqüentemente o limite espacial (umbral) entre as mesmas. Este limite espacial entre os
diferentes processos erosivos é denominado de “umbral de erosão”.
O presente trabalho apresenta a delimitação espacial dos diferentes processos
erosivos que potencialmente ocorrem na bacia do rio Pequeno, localizada na região
metropolitana de Curitiba, no estado do Paraná. O produto final do trabalho é um
zoneamento desses processos erosivos que podem causar desastres naturais.

2. ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo é a “bacia hidrográfica do rio Pequeno” como área afluente à
estação fluviométrica Fazendinha (65010000) que se localiza nas coordenadas 25°31’ de
latitude sul e 49°11’ de longitude oeste. Sendo sua área de 104 km², ela está compreendida
integralmente nos limites do município de São José dos Pinhais, no estado do Paraná. A
descrição detalhada da área de estudo consta de SANTOS & KOBIYAMA (2004).
O uso/ocupação do solo é apresentado na Tabela 1 e na Figura 1. Pode-se observar
que as atividades de maior impacto, vinculadas com as classes de uso do solo Urbano e
Agricultura/solo exposto correspondem a uma pequena parcela (7%) da bacia e estão
localizadas principalmente no baixo curso.

Apostila Pag.288 175


Tabela 1 - Uso/ocupação do solo da bacia o rio Pequeno
Classes de uso/ ocupação do solo Área (km²) Porcentagem
Água 0,94 1
Urbano 3,86 4
Agricultura / solo exposto 3,63 3
Mata / floresta 56,26 54
Campo 36,88 35
Banhado / várzea 3,12 3
Área total 104,68 100

Figura 1 - Mapa de uso de solos.

3. MATERIAIS E MÉTODO
3.1. Modelagem de processos erosivos
Através de dados detalhados do modelo numérico de terreno (MNT) e de equações
que descrevem fisicamente os processos hidrológicos e erosivos, torna-se possível fazer a
delimitação espacial dos diferentes processos erosivos que ocorrem na bacia. Processos
hidrológicos como escoamento superficial hortoniano e escoamento superficial por
saturação (tipo Dunne -saturation excess overland flow), combinados com características
geomorfológicas do local como declividade e área de contribuição da encosta de montante,

Apostila Pag.289 176


permitem o estabelecimento dos umbrais de erosão com base em algumas características
do solo local.
As equações permitem mapear os limites (umbrais) das regiões onde o solo não
atinge condições saturadas (erosão difusa); de solo saturado (erosão por lixiviação
(seepage) e ravinamento por escoamento superficial); e regiões sujeitas a deslizamentos de
solo.
Considerando-se algumas suposições simplificadoras, o umbral de saturação do
solo pode ser determinado, sendo que o solo será saturado quando o valor da área de
contribuição por unidade de contorno, A/c=a, também chamado de índice geomorfológico,
for maior ou igual ao valor do lado direito da equação (1), conforme apresentado por
DIETRICH et al. (1992) e MONTGOMERY & DIETRICH (1989 e 1994):

T
a≥ ⋅M (1)
R
onde a é a área de contribuição por unidade de contorno (m); T é a transmissividade do
solo (m2/s); R é o escoamento lateral subsuperficial do solo saturado, equivalente a
precipitação não interceptada (m/s); e M é o gradiente hidráulico, sendo considerado igual
a declividade do terreno (m/m).
O procedimento para obter a equação (1) é igual aos de BEVEN & KIRKBY
(1979) e O’LOUGHLIN (1986) para estimar a distribuição da umidade superficial do solo
em bacias hidrográficas. Esta equação indica que, quanto maior a precipitação (R), menor o
valor a necessário para gerar área saturada. Também mostra uma relação log-linear
positiva entre a e M.
Plotando-se em um gráfico valores do índice geomorfológico, a, contra valores de
M, para cada pixel no MNT (modelo numérico do terreno), pode-se traçar uma linha a
partir dos parâmetros hidrológicos T/R, sobre a qual os pontos apresentam condição
saturada (Figura 6). Nas regiões abaixo deste limite, ou seja, que não se encontram
saturadas à superfície, apresentam potencial para desenvolver somente erosão do tipo
laminar ou difusa.
Nas regiões saturadas a precipitação incidente irá provocar, juntamente com o
escoamento de retorno, o escoamento superficial por saturação que potencialmente pode
provocar erosão superficial. Nas regiões saturadas podem ocorrer erosões subsuperficiais
do tipo Dunne (seepage), quando as condições de coesão do solo permitem a liquefação.

Apostila Pag.290 177


A inicialização de canais de erosão (ravinas) provocada por escoamento superficial
ocorre quando a resistência mecânica do solo, representada pela tensão de cisalhamento
crítica (τc) é excedida.
Pode-se considerar que em bacias de clima úmido, relevo suave e com cobertura
vegetal, ocorre o predomínio do escoamento superficial dunniano em detrimento do
escoamento superficial hortoniano e que, mesmo que seja rápido, o escoamento superficial
em locais com cobertura vegetal pode ser considerado laminar, conforme DUNNE &
DIETRICH (1980) e MONTGOMERY & DIETRICH (1994).
Pode-se assim estimar a área crítica por unidade de contorno necessária para a
ocorrência de erosão por escoamento superficial por saturação:

2 ⋅ τ c3 T ⋅M
acs ≥ + (2)
k ⋅υ ⋅ ρa ⋅ g ⋅ R ⋅ M
3 2 2
R
onde acs é a área crítica por unidade de contorno necessária para a ocorrência de erosão por
escoamento superficial por saturação (m); τc é a tensão de cisalhamento crítica (N/m²); k é
a constante ligada à geometria da superfície (adimensional); υ é a viscosidade cinemática
(m²/s); ρa é a densidade da água (=1000 kg/m³); e g é a aceleração da gravidade (=9,8
m/s²). A constante k está relacionada com o número de Reynolds e seu significado físico é
discutido em MORRE & FOSTER (1990) e GERITS et al. (1990).
A equação (2) mostra o limite denominado de umbral de erosão linear. Os valores
posicionados acima e a direita desta linha apresentam erosão linear (Figura 6).
Um dos modelos mais simples e mais utilizados para determinar a instabilidade de
vertentes é o modelo da vertente infinita (MONTGOMERY & DIETRICH, 1994). Unindo-
se hidrologia de vertente com um modelo de instabilidade de vertente, chega-se na seguinte
equação para obter a área crítica para deslizamento:

z ⋅ K ⋅ sen β ⋅ cos β  C ρ  tan β 


a cd ≥ ⋅ + s ⋅ 1 −  (3)
R  ρ a ⋅ g ⋅ z ⋅ cos β ⋅ tan φ ρ a
2
 tan φ 
onde acd é a área crítica por unidade de contorno necessária para a ocorrência de erosão por
deslizamento (m); z é a espessura do solo (m); K é a condutividade hidráulica saturada
(m/s); ß é a declividade da superfície do solo (grau); C é a coesão efetiva do solo (N/m2); φ
é o ângulo interno de fricção do solo (grau); ρs é a densidade global do solo saturado
(kg/m3).; e ρa é a densidade da água (kg/m3).
A equação (3) é válida somente quando,

Apostila Pag.291 178


 ρ − ρa  tan φ
tan β ≥  s  ⋅ tan φ ≥ (4)
 ρs  2

Dados de campo indicam que (ρs-ρa)/ρs é aproximadamente 0.5 (DIETRICH et al.,


1992). Então, admitindo-se que C = 0 e considerando-se que tanβ = M a equação (3) pode
ser escrita como:

 M  T ⋅M
acd ≥ 2 ⋅ 1 −  ⋅ (5)
 tan φ  R
Através de dados detalhados do modelo numérico do terreno e das equações (1), (2)
e (5) é possível delimitar na paisagem regiões com predominância dos diferentes processos
de produção e transporte de sedimentos e dos diferentes mecanismos de inicialização de
canais, ou seja, é possível fazer a delimitação espacial dos diferentes processos erosivos
que ocorrem em bacias hidrográficas.

3.2. Modelo UMBRAL


Com base na teoria apresenta acima, SANTOS (2001) criou o programa
computacional UMBRAL, que simula esses processos erosivos. As variáveis necessárias
para simulação do modelo são “precipitação de projeto” e os seguintes parâmetros
geotécnicos e hidrológicos de solo: ângulo interno de fricção; transmissividade do solo;
constante ligada à geometria da superfície; e tensão de cisalhamento crítica. O modelo
utiliza também informações distribuídas espacialmente e obtidas a partir das características
geomorfológicas, sendo estas a distribuição do índice geomorfológico e da declividade.
A Figura 2 mostra o fluxograma de integração das atividades para delimitação dos
processos erosivos com o modelo UMBRAL.

Apostila Pag.292 179


Bibliografia:

Mapa Mapa
de solo Topográfico

Coleta de Digitalização
amostras
Espacialização
Análise de (x, y, cota)
laboratório
Índice [ ]
geomorfológico

[ ]
MNT Declividade
Modelo de
Parâmetros [ C, C ]
Geotécnicos Processos
Parâmetros [ ]
Hidrológicos Erosivos
[ ] UMBRAL
Precipitação

BASE Análise Mapa de processos


DE DADOS Estatística erosivos

TOPMODEL: Precipitação:
Dados históricos Umbral de erosão
Log a

Log M

Figura 3 - Fluxograma de atividades para delimitação dos umbrais de erosão

Para estimativa do valor médio do ângulo interno de fricção (φ) foram reunidos os
dados dos 18 ensaios de cisalhamento direto realizados em amostras representativas dos
solos da bacia. Foi estabelecida a envoltória média de resistência, resultando em um ângulo
interno de fricção de 28,14° e coesão de 13,6 kPa.

Apostila Pag.293 180


A tensão de cisalhamento crítica foi obtida a partir dos dados de coesão do solo,
utilizando uma equação construída a partir de dados apresentados por KOMURA (1982),
que se encontram na Figura 3. Esta figura mostra dois ajustes, um feito com todos os dados
e outro utilizando somente as informações de solos coesivos. No presente trabalho adotou-
se a equação para solos coesivos, resultando em uma tensão de cisalhamento crítica de 25,3
Pa para uma coesão 13,6 kPa.

100

y = 0.7059x0.3761
R2 = 0.1742
Tensão de Cisalhamento Crítica (Pa)

y = 0.0068x0.8095
R2 = 0.2084

10

Todos os ensaios
Solos coesivos
Potência (Todos os ensaios)
Potência (Solos coesivos)

1
1000 10000 100000
Coesão (Pa)
Figura 3 – Relação entre coesão e tensão de cisalhante crítica.

A precipitação de projeto (R) foi estimada a partir dos dados históricos de


precipitações diárias da estação pluviométrica Fazendinha (02549017), localizada na
exutória da bacia, do período de 07/1964 a 07/2000. O valor médio das máximas diárias
anuais foi adotado. Para a transmissividade do solo (T) foi adotado o valor obtido na
calibração do TOPMODEL para a bacia em estudo (SANTOS & KOBIYAMA, 2004) e
para a constante relacionada com a geometria da superfície (k) o mesmo valor adotado por
DIETRICH et al. (1992).
A Tabela 2 mostra os cinco parâmetros com valores médios para a bacia utilizados
na simulação do modelo UMBRAL.

Apostila Pag.294 181


Tabela 2 – Parâmetros de entrada do modelo UMBRAL.
Parâmetro Descrição Valor adotado Unidade
φ Ângulo interno de fricção 28 grau
T Transmissividade do solo 25,2 m2 dia-1
K Constante ligada à geometria da superfície 10000 Adimensional
τc Tensão de cisalhamento crítica 25 N m-2
R Precipitação de projeto 0,07 m dia-1

O modelo utilizou também informações distribuídas espacialmente e obtidas a


partir das características geomorfológicas, sendo estas a distribuição do índice
geomorfológico e a distribuição da declividade. Os mapas de declividade (Figura 4) e de
índice geomorfológico (Figura 5) foram obtidos a partir do modelo numérico do terreno
com pixel de 40m, construído a partir de cartas topográficas em escala 1:10.000.

Figura 4 - Mapa de declividade (tanß).

Apostila Pag.295 182


Figura 5 - Mapa de índice geomorfológico (a = A/C).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 6 mostra o gráfico resultante da simulação do modelo UMBRAL para a
bacia do rio Pequeno, contendo os umbrais de delimitação dos diferentes processos
erosivos em função da declividade e da área de contribuição unitária. A Figura 7 mostra o
mesmo gráfico juntamente com os pontos que representam os pixels do MNT da bacia
estudada. Pode-se perceber uma grande concentração de pontos no entorno da declividade
0,1 m/m e com área de drenagem unitária próxima de 100 m²/m.
A partir da simulação do modelo UMBRAL é possível estabelecer um zoneamento
dos processos erosivos, espacializando os resultados apresentados na Figura 7. Para isso os
pixels foram classificados segundo a região erosiva, resultando no mapa apresentado na
Figura 8.

Apostila Pag.296 183


Figura 6 – Umbrais de erosão da bacia do rio Pequeno.

Figura 7 – Umbrais de erosão e pixels do MNT da bacia do rio Pequeno.

Apostila Pag.297 184


Figura 8 - Mapa de processos erosivos.

O UMBRAL permitiu a delimitação dos processos erosivos atuantes na bacia e


apresentou resultados bastante coerentes com as características ambientais. Isso indica que
os parâmetros, que possuem representatividade física, foram estimados de forma correta.
Indica também que o modelo é adequado para estabelecer umbrais de erosão e a
delimitação espacial dos processos erosivos.
A erosão difusa atinge 17,3% da área total e está presente em toda a extensão da
bacia, localizada nos divisores das microbacias internas; a erosão por lixiviação atinge
65,3% da área total, está mais presente nas partes inferior e média da bacia, junto às áreas
saturadas de relevo plano; a erosão linear atinge 8,3% da área total e está presente em toda
a extensão da bacia, localizada ao longo da rede de drenagem; e a erosão por deslizamento
atinge 9,1% da área total e está mais presente no alto curso do rio Pequeno, localizada
junto às maiores declividades.
A partir dos mapas de processos erosivos e de uso do solo é possível estabelecer um
diagnóstico ambiental da bacia. Para tanto o uso do solo foi agrupado em duas categorias,
natural (mata, campo, banhado e água) e antrópico (urbano e agricultura/solo exposto) e
comparado com os processos erosivos atuantes na bacia. A Tabela 8 mostra o uso do solo
nas áreas de ocorrência dos diferentes processos erosivos. Nota-se a predominância do uso

Apostila Pag.298 185


do solo considerado natural, notadamente nas áreas com erosão linear e por deslizamentos
e conseqüentemente mais sujeitas à ocorrência de desastres naturais.

Tabela 8 - Características do uso do solo nas regiões de diferentes processos erosivos.


Tipo de processo erosivo Uso/ocupação Área (km²) Porcentagem
do solo
Total Parcial
Erosão difusa Natural 15,42 14,8 95,8
Antrópico 0,68 0,7 4,2
Erosão por lixiviação Natural 32,70 31,3 88,4
Antrópico 4,29 4,1 11,6
Erosão linear Natural 44,87 43,0 94,8
Antrópico 2,44 2,3 5,2
Erosão por deslizamento Natural 3,93 3,8 99,3
Antrópico 0,03 0,0 0,7
Área total 104,37 100

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O UMBRAL permitiu a delimitação dos processos erosivos atuantes na bacia e
apresentou resultados bastante coerentes com as características ambientais. Isso indica que
os parâmetros, que possuem representatividade física, foram estimados de forma correta.
Indica também que o modelo é adequado para estabelecer umbrais de erosão e a
delimitação espacial dos processos erosivos.
Dos resultados da simulação do modelo UMBRAL, destaca-se: a erosão difusa
atinge 15,4% da área total e está presente em toda a extensão da bacia, localizada nos
divisores das microbacias internas; a erosão por lixiviação atinge 35,6% da área total, está
mais presente nas partes inferior e média da bacia, junto às áreas saturadas de relevo plano;
a erosão linear atinge 45,2% da área total e está presente em toda a extensão da bacia,
localizada ao longo da rede de drenagem; e a erosão por deslizamento atinge 3,8% da área
total e está mais presente no alto curso do rio Pequeno, localizada junto às maiores
declividades.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Apostila Pag.300 187


Nat Hazards (2011) 59:1077–1086
DOI 10.1007/s11069-011-9818-4

ORIGINAL PAPER

Landslide influence on turbidity and total solids


in Cubatão do Norte River, Santa Catarina, Brazil

Masato Kobiyama • Aline de Almeida Mota • Fernando Grison •

Joana Nery Giglio

Received: 11 January 2011 / Accepted: 9 April 2011 / Published online: 1 May 2011
Ó Springer Science+Business Media B.V. 2011

Abstract The rainfall events that occurred in the Cubatão do Norte River watershed,
Santa Catarina State, Brazil, in 2008, were characterized by both high intensities and
amounts and triggered landslides in this watershed. The objective of the present study was
to analyze the influence of landslides on the turbidity and the total solid concentration (TS)
in this river using turbidity, TS, and river discharge data obtained from March 23, 2008, to
June 11, 2010. The comparison between turbidity and discharge patterns implies that the
landslide process was not continuous and increased the turbidity intermittently and
irregularly. The sediment yield during the landslide occurrence was approximately five
times higher than without the landslide, even though the discharges were similar. The
turbidity/discharge relationship during the landslide occurrence was markedly different
from that before and after the occurrence. The correlation coefficients between turbidity
and TS showed that the landslide significantly changed the sediment yield in this water-
shed. The result indicates that sediment yield estimations at the watershed level should be
treated more carefully when landslides occur.

Keywords Landslide  Turbidity  Total solids  Cubatão do Norte River  Brazil

M. Kobiyama (&)  A. de Almeida Mota  F. Grison  J. Nery Giglio


Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa
Postal 476, Florianopolis, SC 88040-900, Brazil
e-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
A. de Almeida Mota
e-mail: alinemota10@gmail.com
F. Grison
e-mail: fernando@ens.ufsc.br
J. Nery Giglio
e-mail: joana_n_g@yahoo.com.br

Apostila Pag.301 123


1078 Nat Hazards (2011) 59:1077–1086

1 Introduction

Sediment yield results from erosion processes (detachment, transport, and sedimentation)
that naturally occur in watersheds. Environmental factors such as water and wind dissect
the landscape, and materials are transported and deposited. The floodplains where the
majority of the world’s population lives are formed by such processes over geologic time.
The sediments carry nutrients that fertilize the land and transport microorganisms and
organic matter, which may result in improved fluvial ecology. Hence, it can be said that the
sediments may exercise beneficial effects and that societal development might not happen
without sediment yield.
When an abrupt and high yield of sediment occurs and adversely affects a society, this
phenomenon is called sediment disaster. Excessive suspended sediment concentration (SS)
can degrade water quality. The light and heat interception in the water due to the high SS
reduces photosynthesis, which is essential to the health of water bodies, and modifies the
aquatic ecosystem. Furthermore, bedload and deposited suspended sediment can decrease
water depth, hampering navigation and causing local floods more frequently. Since a
society is embedded in the sediment production ecosystem, the instability of this system
contributes to sediment disasters.
To reduce losses associated with natural disasters, it is important to understand the
mechanisms that cause these phenomena (Kobiyama et al. 2006). One of the typical
sediment disasters is the landslide. Recently, its influence on sediment supply and delivery
has been investigated both in the laboratory and through field observations (Peart et al.
2005; Schwab et al. 2008; Acharya et al. 2009). However, these kinds of investigations are
still rare.
The objective of the present study was to analyze how the landslides changed the
turbidity and the total solid concentration (TS) in the Cubatão do Norte River watershed,
Santa Catarina State, Brazil, which occurred at the end of 2008. The intensity and total
amount of rainfall in this state were extremely high at that time (Kobiyama et al. 2010). It
is important to report the sediment-related behavior in the context of the hydrological
cycle, especially in the hydrograph.

2 Methods

2.1 Study area

The Cubatão do Norte River watershed (total area of 492 km2) encompasses Garuva and
Joinville cities in Santa Catarina state, Brazil; 80% of the watershed is in Joinville. The
main channel of this watershed is 88 km long. Its headwater and mouth are in the Quei-
mada Sierra (at an altitude of 1,100 m) and at the estuary of Babitonga Bay, respectively
(Gonçalves et al. 2006). Silveira et al. (2009) analyzed the history of floods in Joinville and
showed that this watershed had frequently suffered from them since its foundation in 1851.
At the middle of this watershed, it was installed an infrastructure for water capture and
treatment by the Water Company of Joinville (CAJ), which is responsible for the drinking
water supply in this city. The Cubatão Drinking Water Treatment (DWT) plant normally
provides 10 L/s to Araquari city and 1,200 L/s to Joinville city, which currently accounts
for 70% of the total water consumption in the latter. At the convenience of the present
study, the DWT plant location is considered the outlet of the Cubatão do Norte River
watershed (CNRW). At this point, the CNRW has an area of 375 km2, the main river is

Apostila
123 Pag.302
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1079

Fig. 1 Location of the Cubatão do Norte River watershed, Santa Catarina State, Brazil

56 km long, and its minimum, mean and maximum altitudes are 40, 750, and 1,500 m,
respectively (Fig. 1).
The CNRW is in the Santa Catarina Granulite Complex, in a metamorphic embasement
from the Archean/Proterozoic composed mainly of granulitic gneisses, magmatic gneisses,
and quartzites, with iron formations and dykes of metabasic rock. Furthermore, there are
alkaline granite batholiths from the Proterozoic/Paleozoic, and in the Serra do Mar region
occur the Campo Alegre and Corupá volcano-sedimentary basins, with diabase dykes and
quaternary sediments (Gonçalves and Kaul 2003).
The CNRW is inserted in the Atlantic Tropical Forest domain, which features a high
biodiversity. The Atlantic Tropical Forest is one of the most threatened forests in the
world, recognized by the UNESCO as a biosphere reserve (Trein 2003; UNESCO 2010).
The CNRW relief is characterized by the São Bento do Sul Plateau (landscape with a
dense drainage network), the Serra do Mar (an arrangement of crests, peaks, ridges,
mountains, and scarps), and the Serras Cristalinas Litorâneas (mountainous terrain and
scarps) (Rosa 2003). The native forests in the Serra do Mar and in the São Bento do Sul
Plateau are extensively transformed to pine reforestation. However, the native forests are
well preserved in the Serras Cristalinas Litorâneas (Trein 2003).
The climate in the region is subtropical humid, characterized by two seasons: winter and
summer. The mean annual precipitation amount is 1,900 mm. During summer, the pre-
cipitation events are predominantly intense convective rainfall storms. Furthermore, there
is an important orographic effect due to Serra do Mar. During winter, there is a decrease in
the precipitation (Veado et al. 2003).

2.2 Hydrologic and water quality monitoring system

At the DWT plant, the CAJ automatically measures various water quality parameters for
both raw and treated water, including the turbidity at 30-min intervals. Moreover, the total
solid concentration (TS) of raw water is monitored monthly. TS and turbidity were ana-
lyzed by the methods outlined in the Standard Methods for the Examination of water and
Wastewater (2540B–total solids dried, and 2130B–turbidity) (APHA et al. 1998). At the
same location, the Hydrology Laboratory (LabHidro) of Federal University of Santa

Apostila Pag.303 123


1080 Nat Hazards (2011) 59:1077–1086

49°11'45"W
26°00'30"S N

r
ve
Ri
te
Nor
do

tão
ba
Cu

r
ve
Ri
rte
No
DWT plant

do
tão
ba
Cu
23°13'45"S
0 10 km
Landslide 48°56'00"W

Fig. 2 Location of the Drinking Water Treatment (DWT) plant and the landslide

Fig. 3 Aerial photographs. a Landslide near the Cubatão River. b Confluence of Quiriri River to Cubatão
do Norte River

Catarina (UFSC) installed a river and rain gauge station that automatically measures river
water level and rainfall every 10 min (Fig. 2).
The present study used the rainfall, river water level, turbidity, and TS data obtained
from March 23, 2008, to June 11, 2010.

2.3 Field survey

Since surface access to their localities by land was extremely difficult, the landslides that
initiated the mass movements in late November 2008 were first observed by helicopter
(Fig. 3). Thereafter, the extent of the largest landslide was surveyed with a GPS. It was a

Apostila
123 Pag.304
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1081

rotational landslide followed by a debris flow that transported the sediment to the Cubatão
do Norte River. The dimensions of the landslide are approximately 35 m (width) by 3 m
(depth) by 750 m (debris flow travel distance). The mass movements were evaluated by
comparing hydrographs, turbidity, and TS. Figure 3b clearly shows the influence of
landslides on the river turbidity.

2.4 Data analysis

In this study, the rainfall data of the gauge located at the DWT plant were used as mean
rainfall over the whole CNRW. Based on the data presented by Grison et al. (2008), the
stage–discharge curve was established as follows:
Q ¼ 10:945  H 2:9 ð1Þ
where Q is the discharge (m3/s), and H is the water level (m).
By using 28 contemporaneous data of turbidity and TS, which were obtained before and
after the landslide occurrence, it was verified that the probability distributions of both the
variables were not normal. Therefore, its normality could be gained by applying the Box–
Cox transformations (Box and Cox 1964). Based on the maximum log likelihood, the best
value for the parameter k was determined (Table 1). After confirming that its normality
was guaranteed, the correlation coefficients, Pearson’s r and Spearman’s R, were calcu-
lated between these two variables.

3 Results and discussion

Figure 4 shows the 10-min hydrograph and hyetograph for the period November 1, 2008,
to December 31, 2008. During this period, landslides occurred and caused a sudden
increase in turbidity. It should be noted that rainfall values were very high, reaching up to
60 mm/h.
Before and after the landslide occurrences, both discharge and turbidity were well
correlated (Fig. 5a, c). On the other hand, this correlation can be disrupted by some
external factors. For example, when landslides occur, turbidity values sometimes markedly
increase, while discharge displays a little or no change. Figure 5b illustrates how the
turbidity sharply increased on two days: November 30, 2008, and December 3, 2008. The
turbidity pattern implies that mass movement process was not continuous. In other words, a
landslide can trigger an increase in sediment concentration intermittently and irregularly.
The linear correlation between turbidity and discharge can be observed under different
conditions (with and without landslides) (Fig. 6). With landslides, the correlation is not
significant at 95% confidence interval. Without landslides, the correlations are consider-
ably high at the same confidence interval.
Lewis (1996), Pavanelli and Bigi (2005), and Wass and Leeks (1999) found a statis-
tically significant relationship between turbidity and suspended sediment concentration

Table 1 Variables and their k


Variable k
values for the Box–Cox
transformation
Turbidity -0.5
TS 0.0

Apostila Pag.305 123


1082 Nat Hazards (2011) 59:1077–1086

4
Rainfall (mm/10 min)

10

12

14

16

18
0.7

0.6
Discharge (mm/10 min)

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0.0
1-Nov 7-Nov 13-Nov 19-Nov 25-Nov 1-Dec 7-Dec 13-Dec 19-Dec 25-Dec 31-Dec
Time (10 min)

Fig. 4 Ten-minute hyetograph and hydrograph in the Cubatão do Norte River watershed during the period
November 1, 2008, to 31 December 31, 2008

(SS). The present study compared turbidity with TS, considering that there were no SS data
available and TS value can include SS information. The turbidity and TS behaviors during
the whole period are shown in Fig. 7. Though the period before the landslide occurrence is
shorter than that after its occurrence, it can be observed that the behavior of the variables
before the occurrence is rather different from that after its occurrence.
Table 2 shows the correlation coefficients between turbidity and TS. The linear cor-
relation (Pearson’s r) is a little higher than the nonparametric statistics (Spearman’s R). By
considering the whole period, it is affirmed that both the variables do not have any kind of
correlation. Then, the data were divided into two phases: before and after the landslide
occurrence. A statistically significant correlation between turbidity and TS before the
occurrence can be found at 90% confidence interval. On the other hand, after the occur-
rence, this correlation does not exist anymore. Thus, the landslide represents a kind of
rupture at the sediment yield process in this watershed.
The TS mean value during the landslide occurrence period was much higher than that
without the landside (Table 3). The sediment yield during the occurrence was

Apostila
123 Pag.306
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1083

(a) 0.16 250


Discharge (mm/ 30 min) Discharge
0.14
Turbidity
200
0.12

Turbidity (NTU)
0.10 150
0.08

0.06 100

0.04
50
0.02

0.00 0
29-Oct-08 30-Oct-08 31-Oct-08 1-Nov-08 2-Nov-08 3-Nov-08 4-Nov-08 5-Nov-08 6-Nov-08

(b) 0.28 1400


Discharge
Discharge (mm/ 30 min)

0.26
Turbidity 1200
0.24

Turbidity (NTU)
0.22 1000

0.20
800
0.18
600
0.16
0.14 400
0.12
200
0.10
0.08 0
27-Nov-08 28-Nov-08 29-Nov-08 30-Nov-08 1-Dec-08 2-Dec-08 3-Dec-08 4-Dec-08 5-Dec-08

(c) 0.10 300


Discharge
Discharge (mm/ 30 min)

0.09
Turbidity 250
0.08

Turbidity (NTU)
0.07
200
0.06
0.05 150
0.04
100
0.03
0.02
50
0.01
0.00 0
21-Oct-09 22-Oct-09 23-Oct-09 24-Oct-09 25-Oct-09 26-Oct-09 27-Oct-09 28-Oct-09 29-Oct-09

Fig. 5 Discharge and turbidity: a October 29, 2008, to November 5, 2008 (before the landslide occurrence);
b November 27, 2008, to December 4, 2008 (during the landslide); c October 21–28, 2009 (after the
landslide occurrence)

approximately five times higher than without the landslide, although the discharges are
similar among the compared days.
This landslide raised serious problems at the DWT plant. Part of raw water is normally
used to clean the DWT plant filters by the backwash process. However, the landslide
affected the raw water quality, which caused the necessity to use the treated water for
cleaning the filters during the disaster period. Then, the drinking water supply was inter-
rupted on December 3, 2008, and was reduced about 20–25% for a few hours. Figure 8
shows the water with extremely high turbidity upstream of the DWT plant.

Apostila Pag.307 123


1084 Nat Hazards (2011) 59:1077–1086

(a) (b)
0.16 0.27

Discharge (mm / 10min)


Discharge (mm / 10min)
R2 = 0.001
0.24 CI = 95%
0.14
n = 384
0.21
0.12
R2 = 0.749 0.18
CI = 95%
0.10 n = 384
0.15

0.08
0.12

0.06 0.09
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Turbidity (NTU) Turbidity (NTU)
(c)
0.10
Discharge (mm / 10min)

0.09
0.08
0.07
0.06
0.05
0.04
0.03 R2 = 0.791
CI = 95%
0.02
n = 384
0.01
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Turbidity (NTU)

Fig. 6 Correlation between discharge and turbidity. a October 21–28, 2008 (before the landslide
occurrence); b November 27, 2008, to December 4, 2008 (during the landslide); c October 21–28, 2009
(after the landslide occurrence)

80
Turbidity 120
TS
Turbidity (NTU)

03-Dec-08:
60 landslide occurrence 100
TS (mg/L)

80
40
60

40
20
20

0 0

Fig. 7 Turbidity and TS concentration

Table 2 Correlation coefficients between turbidity and TS for the considered periods
Period n Pearson’s r p-level Spearman’s R p-level CI

Whole 28 0.17 0.40 0.16 0.42 0.1


Before 8 0.79 0.02 0.66 0.08 0.1
After 20 0.14 0.56 0.16 0.49 0.1

Apostila
123 Pag.308
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1085

Table 3 Mean daily discharge


Period Day Qmean (m3/s) TSmean (mg/L)
and TS concentration during dif-
ferent periods
Without landslide 6/Nov/2008 70 133
24/Nov/2008 104 77
17/Dec/2008 83 87
Mean 86 99
With landslide 28/Nov/2008 111 487
30/Nov/2008 83 429
03/Dec/2008 71 552
Mean 88 497

Fig. 8 High turbidity at the DWT plant: a flocculants and decanters, b water capture point, and c Parshall
flume

3.1 Final considerations

The landslide occurrence in the Cubatão do Norte River watershed and its influence on
water turbidity and total solid concentration were reported and discussed. The landslide
yields sediments in rivers. Hence, it can be considered a kind of erosion process. It was
found that the sediment yield by the landslides was intermittent and irregular. Thus, the
mechanism of sediment yield by the landslide is very different from that of surface erosion
such as sheet and rill erosion. It implies that models that consider only these types of
erosion cannot properly simulate the sediment yield in watersheds where landslide
occurrences yield substantial quantities of sediment (Bathurst et al. 2007; Acharya et al.
2009).
Furthermore, it was found that TS and turbidity were correlated before the landslide
occurrence, but not anymore after the occurrence. Therefore, landslides can represent a
kind of rupture in the sediment yield processes.

Apostila Pag.309 123


1086 Nat Hazards (2011) 59:1077–1086

Although this is only a preliminary study, it is sufficient to draw the attention of


watershed sediment yield modelers in terms of the importance of studying the influence of
landslides on the sediment yield.

Acknowledgments The present work was supported in part by the National Research Council of Brazil
(CNPq) through the Grant No. 555421/2006-6. The authors are thankful to the Water Company of Joinville
and the members of the LabHidro-UFSC for advice and support.

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Apostila
123 Pag.310
7 MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE, PERIGO E
RISCO

JONES SOUZA DA SILVA


JANETE TERESINHA REIS
GEAN PAULO MICHEL

Mapeamento é uma das importantes medidas não estruturais no gerenciamento de


riscos e de desastres naturais. Justamente por isso, a Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil (PNPDEC) exige que cada município elabore o mapa de risco de seu território.
Entretanto, o conceito de risco e também os conceitos de seus componentes (vulnerabilidade e
perigo) não estão sendo discutidos adequadamente com base na ciência. Sem um conceito
adequado, é impossível elaborar mapeamentos perigo, vulnerabilidade e risco. Com a
ausência de clareza em suas definições, de medologia adequada, e de consenso conceitual, os
mapeamentos tendem a ser elaborados de maneira equivocada pela iniciativa pública.
O mapeamento da vulnerabilidade a desastres naturais pode ser visto como um dos
requisitos para a gestão de risco em um município. Para sua elaboração, devem ser
considerados elementos socio-econômicos básicos como: educação, renda, dependência,
demografia e, sobretudo, entrevistas (variáveis) in loco para o conhecimento da realidade
local.
O mapa de perigo, que é produzido com base em eventos naturais extremos (aqui, em
especial, inundações, escorregamentos e fluxo de detritos) que podem causar muitos danos ao
ser humano, também é indispensável para o mapeamento de risco. O mapeamento de perigo é,
muitas vezes, confundido com o mapeamento de risco, que é o mapa mais completo e
complexo.
Segundo a EIRD/ONU (2009), a gesão de risco de desatre é um processo sistemático
de utilização de diretrizes administrativas, organizacionais, habilidades e capacidades
operacionais para implementação de políticas e fortalecimento da capacidade de reação, com
a finalidade de redução do impacto negativo das ameaças naturais e da possilidade de
desastre.
Conforme Kobiyama et al. (2004), através do mapeamento de risco é possível a
elaboração de medidas preventivas, a planificação de situações de emergência e o
estabelecimento de ações conjuntas entre poder público e comunidade, com o intuito de
promover a defesa permanente contra os desastres naturais. As medidas preventivas estão
associadas à identificação das áreas com maior potencial de serem afetadas, em que são
hierarquizados os cenários de risco e propostas medidas corretivas. Exemplos dessas medidas
são: implantação de obras de engenharia, regulamentação e controle das formas de uso da
terra, redirecionamento de políticas públicas, entre outros. Para a planificação das situações de
emergência, os mapas de risco também podem contribuir com as ações de caráter logístico no

Apostila Pag.311
enfrentamento das situações emergenciais, na evacuação da população frente a um perigo
eminente, nas operações de resgate, na restauração das áreas afetadas, etc. Além disso, nas
ações conjuntas entre poder público e comunidade, pode-se identificar as comunidades mais
afetadas e realizar trabalhos de educação, capacitação e conscientização, visando sempre à
diminuição do número de pessoas afetadas.
A seguir, encontram-se artigos que demonstram os conceitos de parâmetros e a
metodologia para elaboração de mapas da temática em questão:

• MARCELINO, E.V.; NUNES, L.H.; KOBIYAMA, M. (2006). Mapeamento de risco


de desastres naturais do estado de Santa Catarina. Caminhos da Geografia (UFU),
Uberlândia, v.7, n.17, 72-84.
• GOERL, R.F.; KOBIYAMA, M.; PELLERIN, J.R.G.M. Proposta metodológica para
mapeamento de áreas de risco a inundação: Estudo de caso do município de Rio
Negrinho - SC. Boletim de Geografia (UEM), v.30, n.1, p.81-100, 2012.
• REIS, J.T.; SILVA, J.S.; MICHEL, G.P.; KOBIYAMA, M. Mapeamento da
vulnerabilidade a desastres hidrológicos nos municípios de Alto Feliz e São
Vendelino/RS como forma de contribuição à engenharia de sedimentos. In: XI
Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos (2014: João Pessoa) João Pessoa:
ABRH, Anais, 2014. 17p. (submetido)

Apostila Pag.312
CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line
http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html Instituto de Geografia ufu
ISSN 1678-6343 Programa de Pós-graduação em Geografia

MAPEAMENTO DE RISCO DE DESASTRES NATURAIS DO ESTADO DE SANTA CATARINA1


Emerson Vieira Marcelino
Doutorando em Geografia (IG/UNICAMP)
emersonm@ige.unicamp.br

Luci Hidalgo Nunes


Profa. Dra. Departamento de Geografia (IG/UNICAMP)
luci@ige.unicamp.br

Masato Kobiyama
Prof. Dr. Departamento de Eng. Sanitária e Ambiental (CTC/UFSC)
kobiyama@ens.ufsc.br
RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo realizar o mapeamento de risco de desastres


naturais para o Estado de Santa Catarina, associados às instabilidades atmosféricas
severas. Para a obtenção do índice de risco foram calculados os índices de perigo, de
vulnerabilidade e de reposta para cada município catarinense. O índice de perigo foi obtido
através da freqüência de desastres naturais; o índice de vulnerabilidade através da soma
das variáveis DD, IP e PI; e o índice resposta é dado pelo IDH-Municipal. No total foram
computados 2.881 desastres associados a instabilidades atmosféricas (120 eventos/ano).
Destes episódios, 1.299 foram associados à inundação gradual, - o que representa 45 % do
total, - seguido pela inundação brusca e vendaval com 19 e 17%, respectivamente. As
mesorregiões mais afetadas foram Oeste Catarinense, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis.
Com relação ao índice de risco, os municípios mais problemáticos, que carecem de medidas
preventivas a curto prazo, localizam-se nas mesorregiões Oeste e Norte Catarinense.
Dentre os municípios que apresentaram maior índice de risco destaca-se Florianópolis
(1,74), Blumenau (1,54), São José dos Cedros (1,03), Joinville (1,03) e Chapecó (0,71). Com
exceção de São José dos Cedros, estes municípios apresentaram elevada densidade
demográfica e freqüência de desastres naturais.

Palavras-chaves: perigo, vulnerabilidade, resposta, mapa de risco, desastres naturais.

NATURAL DISASTERS RISK MAPPING OF SANTA CATARINA STATE

ABSTRACT

The aim of this work was to realize the risk mapping of natural disasters for the Santa
Catarina State, Brazil. These natural disasters are associated to severe atmospheric
instabilities. The risk index was obtained for each municipality using hazard, vulnerability, and
resilience parameters. The hazard index was obtained through the frequency of natural
disasters; the vulnerability index through the sum of the DD, IP and PI variables; and the
resilience index was given by the IDHM. The 2,881 disasters were associated to atmospheric
instabilities, presenting a mean value of 120 events/year. 1,299 disasters were associated to
flood, which represents 45% of the total, following by flash flood and windstorm with 19 and
17 %, respectively. The most affected regions were Oeste Catarinense, Vale do Itajaí and
Grande Florianópolis. The municipalities that presented high risk index were Florianópolis
(1.74), Blumenau (1.54), São José dos Cedros (1.03), Joinville (1.03) and Chapecó (071).
Except for São José dos Cedros, these municipalities presented high demographic density
and natural disasters frequency.

Key-words: hazard, vulnerability, resilience, risk map, natural disaster.

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Recebido em 21/11/2005
Aprovado para publicação em 12/01/2005

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Mapeamento de risco de desastres naturais do estado Emerson Vieira Marcelino, Luci Hidalgo Nunes,
de Santa Catarina Masato Kobiyama

INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas houve um incremento na freqüência e na intensidade dos desastres naturais
em todo o globo. Conforme dados da OFDA (US Office of Foreign Disaster Assistance) e do CRED
(Centre for Research on the Epidemiology of Disaster), que mantém um grande banco de dados
sobre desastres naturais, nota-se um aumento significativo de ocorrências desses eventos a partir
da década de 70 (EM-DAT, 2004). Analisando dados do mesmo banco para o período de 1900-
1998, Smith (2000) coloca que a média anual de desastres no mundo salta de 50 para 250 casos
por ano a partir da década de 1980.
Ressalta-se que a maioria destes eventos teve como gênese instabilidades atmosféricas severas,
que são eventos atmosféricos intensos que podem causar grandes danos sócioeconômicos, em
virtude dos episódios pluviais intensos, vendavais, granizo e tornados (EASTERLING et al., 2000;
SMITH, 2000; BERZ et al., 2001; MCBEAN, 2004). Apesar de não haver ainda um consenso sobre
a relação direta entre as instabilidades atmosféricas e as mudanças climáticas globais no século
XX (LIGHTHILL, 1994; MCBEAN, 2004), entende-se que o aumento das tempestades nas últimas
décadas também foi significativo. Easterling et al. (2000) e Nicholls (2001) afirmam que em
algumas partes do globo (escala regional) já existem indícios significativos do aumento de eventos
atmosféricos extremos.
Diversos modelos climáticos também têm apontado para um aumento de ocorrência de
tempestades severas para as regiões Sul e Sudeste do Brasil (SINCLAIR e WATTERSON, 1999;
MET. OFFICE, 2004). Dentre os estados que compõem estas regiões destaca-se Santa Catarina,
conforme verificado no “Levantamento dos Desastres Naturais Causados pelas Adversidades
Climáticas no Estado de Santa Catarina (período 1980-2000)”, organizado por Herrmann (2001).
Segundo a autora, para o período 1980-2000 a maioria dos desastres naturais computados está
associada às instabilidades atmosféricas severas, isto é, aqueles associados a decretação de
situação de emergência e estado de calamidade pública. Destes destacam-se as inundações
graduais como as mais freqüentes, com 1.215 episódios, seguido pelos vendavais e inundações
bruscas, com 352 e 322 episódios, respectivamente.
Grande parte destes eventos calamitosos não pode ser evitada. Entretanto, podem-se identificar
padrões comportamentais com o intuito de elaborar métodos preventivos para a atenuação e
redução dos efeitos destrutivos dos mesmos (ALCÁNTARA-AYALA, 2002; ISDR, 2002). Por
exemplo, em uma análise de risco, busca-se correlacionar a probabilidade de ocorrência de
eventos futuros com a estimativa de danos potenciais.
Para a realização deste tipo de análise, Alexander (1995) comenta que é necessário obter-se um
conhecimento detalhado da freqüência (tempo), características (tipologia), magnitude
(abrangência) e intensidade (impacto) dos fenômenos. Além disso, através da definição da
vulnerabilidade local e da resposta do sistema social sob impacto, é possível gerenciar o risco com
o intuito de minimizar as conseqüências adversas de um desastre natural (ISDR, 2002).
Um dos instrumentos de análise de risco mais eficientes é o mapeamento de áreas de risco. A
partir deste mapa é possível elaborar medidas preventivas, planificar as situações de emergência e
estabelecer ações conjuntas entre a comunidade e o poder público, com o intuito de promover a
defesa permanente contra os desastres naturais. As medidas preventivas estão associadas à
identificação das áreas com maior potencial de serem afetadas, onde são hierarquizados os
cenários de risco e a proposição de medidas corretivas. Como exemplo, cita-se a implantação de
obras de engenharia, regulamentação e controle das formas de uso da terra, redirecionamento de
políticas públicas, entre outros. Para a planificação das situações de emergência, os mapas de
risco também podem contribuir com as ações de caráter logístico no enfrentamento das situações
emergenciais, na evacuação da população frente a um perigo eminente, nas operações de
resgate, na restauração das áreas afetadas, etc. Além do mais, nas ações conjuntas entre
comunidade e poder público, pode-se identificar as comunidades mais afetadas e realizar
trabalhos de educação, capacitação e conscientização, visando sempre à diminuição do número

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de pessoas afetadas (KOBIYAMA, 2004).


Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo realizar o mapeamento de risco de
desastres naturais para o Estado de Santa Catarina associados às instabilidades atmosféricas
severas.
METODOLOGIA
Índice de risco
Einstein (1997) e Castro (2003), analisando as relações conceituais entre risco (risk), perigo
(hazard) e desastre (disaster), comentam que o desastre é formado por um conjunto de prejuízos,
produto de um perigo, derivado de um risco. Ogura e Macedo (2002) comentam que um fenômeno
atmosférico extremo como um tufão (ciclone tropical), que ocorre em épocas e regiões conhecidas,
é um perigo (hazard), uma ameaça potencial a pessoas e bens que estão em exposição
(vulnerabilidade – vulnerability). Caso este se deslocar na direção de uma área povoada, teremos
então uma situação de risco (risk), ou seja, existe uma possibilidade real de perdas e danos. Se o
furacão atingir a área povoada, provocando danos materiais e vítimas, será denominado como um
desastre natural (natural disaster). Caso o mesmo ocorra e não ocasione danos sócioeconômicos,
será considerado como um evento natural (natural event).
ISDR (2002) define risco como a probabilidade de ocorrer danos (as pessoas, bens, atividades
econômicas e ao meio ambiente) resultantes da interação entre os perigos naturais ou induzidos
pelos homens e as condições de vulnerabilidade de um sistema social. Numa análise de risco
também pode ser levada em consideração a habilidade de uma dada população em resistir e
recuperar-se de um perigo natural, denominada como resposta ou resiliência (resilience). Assim,
quanto maior for a capacidade de resposta de um sistema social, menores serão os danos e
prejuízos, o que diminuiria o risco. Desta forma, a análise de risco proposta neste trabalho tem
como base a equação proposta por ISDR (2002):
R = (P x V)/Re, (1)
onde, R é o risco; P é o perigo; V é a vulnerabilidade; e Re é a resposta.
UNDP (2004) propõe um indicador de risco que utiliza uma série de variáveis ambientais e
socioeconômicas como indicadores de vulnerabilidade. Estes indicadores estão divididos em tipos
de perigos e categorias de vulnerabilidade. Entretanto, ressalta-se que esta proposta de âmbito
global de análise de risco refere-se exclusivamente a perda de vidas, em função da vulnerabilidade
e da exposição física (physical exposure). Esta última é obtida pelo produto entre a população total
e a freqüência de perigos de uma determinada área.
Levando em consideração tais indicadores, a análise de risco proposta no presente trabalho visa
não somente o número de pessoas mortas, mas sim o número de pessoas afetadas. Pois,
conforme Herrmann (2001), os tipos desastres associados às instabilidades atmosféricas que
ocorreram em Santa Catarina no período 1980-2000, apesar dos danos e prejuízos gerados, não
ocasionaram um número tão elevado de vítimas fatais, mais sim de desabrigados.
No Brasil a Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC) define pessoas afetadas como o número
de pessoas vitimadas, de alguma forma (desalojados, desabrigados, deslocados, mortos, feridos,
etc.), em conseqüência de um desastre (MIN, 1999). Assim, visando fornecer um indicativo dos
municípios com grau de risco de pessoas afetadas, foi proposta uma adaptação da equação (1),
onde:
P ∗ ( DD + IP + PI )
R= (2)
IDHM
onde, R é o risco; P é o perigo; DD é a densidade demográfica; IP é a intensidade da pobreza; PI é
a população idosa; e IDHM é o índice de desenvolvimento humano municipal. O P é expresso pelo
número de eventos ocorridos por ano; DD é a razão entre a população residente total e a área do
município (hab/km²); IP fornece o desvio entre a renda per capita média dos pobres (R$ 75,50) em

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relação ao valor da linha de pobreza; PI é o número de pessoas com 65 anos ou mais; e IDHM é
obtido pela média aritmética de três sub-índices, referentes às dimensões Longevidade (IDH-
Longevidade), Educação (IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda). Assim, comparando com as
equações (1) e (2), tem-se:
V = DD + IP + PI (3)

Re = IDHM (4)

Ressalta-se que todas as variáveis e parâmetros foram escalonados entre 0 e 1, onde o valor
mínimo é representado pelo 0 e o valor máximo pelo 1. Este escalonamento foi realizado com a
seguinte equação:
(Vobservado − Vmínimo)
Indice = (5)
(Vmáximo − Vmínimo)
Índices de perigo, vulnerabilidade e resposta
a) Perigo
Para calcular o P foram utilizados dados de desastres naturais ocorridos nos municípios
catarinenses no período 1980-2003. Este levantamento foi uma atualização do apresentado por
Herrmann (2001), que foi realizado pelo Grupo de Estudos de Desastres Naturais (GEDN) da
Universidade Federal de Santa Catarina junto ao Departamento Estadual de Defesa Civil (DEDC-
SC).
Ressalta-se que estes eventos são somente os casos que ocasionaram danos significativos,
gerando uma Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP) nos
municípios afetados. A SE é uma situação anormal provocada por desastre, dando origem a
prejuízos vultosos e causando danos suportáveis (ou superáveis) pela comunidade afetada
(Desastre Nível III). Já o ECP é uma situação anormal provocada por desastre, dando origem a
prejuízos muito vultosos e causando danos dificilmente suportáveis (ou superáveis) pela
comunidade afetada (Desastre Nível IV), sem ajuda externa (CASTRO, 2003).
b) Vulnerabilidade e resposta
Os dados das variáveis DD, IP, PI e IDHM utilizadas para o cálculo da vulnerabilidade e da
resposta foram obtidos através do software Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (ADHB)
disponibilizado gratuitamente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
em seu site na Internet (http://www.pnud.org.br/atlas/). Este Atlas utiliza dados dos censos de 1991
e 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Geração dos mapas
Os mapas das variáveis utilizadas na vulnerabilidade e da resposta foram gerados
automaticamente através do software ADHB. Cada mapa possui 4 classes que foram definidas
pelo método do Desvio Quartílico. Este método, conforme Ramos e Sanchez (2000), divide a série
de dados em quatro grupos com igual número de ocorrências, cada um compreendendo 25% do
total de valores. Desta forma, o fatiamento é definido quantitativamente, excluindo a subjetividade
no processo de definição do limiar de corte.
Para a geração dos mapas de desastres naturais, vulnerabilidade e risco foram adotadas 4
classes: Baixa, Média, Alta e Muito Alta. Estas classes também foram fatiadas utilizando o Desvio
Quartílico.
No software SPRING 4.1.1, os atributos não espaciais, como as ocorrências dos desastres, foram
inseridos em um sistema de gerenciamento de banco de dados relacional, onde cada entidade
gráfica (município) foi ligada aos seus respectivos atributos não-espaciais armazenados em
tabelas no sistema. Uma vez estabelecidas as classes, foram realizadas consultas ao banco de

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dados para visualização, geração de planos temáticos e posterior geração dos mapas.
A base cartográfica estadual utilizada foi produzida pela Secretaria do Estado do Desenvolvimento
Econômico e Integração do Mercosul. A base digital de Santa Catarina foi importada para o
SPRING 4.1.1, onde foi criado um modelo cadastral dos municípios de Santa Catarina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análise da ocorrência de desastres naturais
Para o período 1980-2003 foram registrados em Santa Catarina 3.373 desastres naturais, sendo
2.881 associados às instabilidades atmosféricas severas, o que representa 85% do total de
desastres ocorridos. Entretanto, acredita-se que o número de desastres provocados por
instabilidades atmosféricas é bem maior, visto que os desastres computados foram somente os de
Nível III e IV. Como exemplo, analisando as ocorrências de escorregamentos em Santa Catarina,
Herrmann et al. (2004) verificaram uma grande diferença entre os registros da Defesa Civil e os
obtidos junto ao jornal A Notícia. Conforme citam os autores, no ano de 2001 não houve nenhum
registro junto a Defesa Civil; entretanto, ao se analisar as matérias do jornal A Notícia, foram
registrados 12 casos de escorregamentos.
Com relação à distribuição anual, vê-se na Figura 1 que ao longo do período 1980-2003 ocorreu
um aumento gradativo do número de desastres naturais. A média de desastres naturais para este
período foi de 120 eventos por ano. É importante frisar que a média saltou de 109,5 para 127,4
eventos/anos em relação aos decênios 1984-1993 e 1994-2003, respectivamente.
Entretanto, este aumento dos desastres naturais nos últimos anos não foi mais significativo devido
aos picos anômalos ocorridos em 1983 e 1984 (Figura 1), onde a maioria dos municípios
catarinenses foi severamente atingida pelas inundações graduais. Somente no ano de 1983, houve
197.790 desabrigados e 49 mortos, com destaque para Blumenau, com 50.000 desabrigados e 9
mortos, o que representou 29,3% da população total deste município. Esse grande desastre foi
desencadeado por precipitações anômalas ocorridas na Região Sul do Brasil devido à atuação do
fenômeno El Niño, considerado de forte intensidade (KOUSK et al., 1984; VOITURIEZ e
JACQUES, 2000). Este fenômeno tem influenciado significativamente as ocorrências de desastres
naturais no território catarinense (HERRMANN, 2001). Na Figura 1 também pode-se notar que os
maiores picos de desastres (pontos quadrados) estão associados aos anos de El Niño. As únicas
exceções foram 1984 e 2001 que se referem a anos de La Niña, que é a fase negativa do ENOS –
El Niño Oscilação Sul.

Figura 1 – Distribuição anual de desastres naturais em Santa Catarina (1980-2003).

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Dentre os desastres associados as instabilidades atmosféricas severas, a inundação gradual (IG)


tem predominado em relação aos demais tipos de desastres, com 1.299 casos, o que representa
45 % do total (Figura 2). As inundações bruscas (IB) e os vendavais (VE) também se destacaram,
respondendo por 19 e 17 % dos desastres naturais ocorridos. Os casos de granizo (GR) foram
relativamente inferiores aos demais, com 12 % das ocorrências, que somado aos escorregamentos
(ES) e tornados (TO) alcançaram 18 % do total das ocorrências.

Figura 2 – Desastres naturais ocorridos em Santa Catarina associados às instabilidades


atmosféricas (1980-2003).

As inundações graduais estão associadas principalmente a passagens de sistemas frontais que


atuam no inverno em escala regional. Quanto à circulação atmosférica em escala global, a atuação
do fenômeno El Niño também desencadeia este tipo de fenômeno em Santa Catarina. Já as
inundações bruscas, granizo, vendaval e tornados ocorrem principalmente na primavera e verão
associadas a intensas instabilidades atmosféricas, como os sistemas convectivos isolados, os
Complexos Convectivos de Mesoescala e as frentes frias. Por sua vez, os escorregamentos
podem ocorrer associados a qualquer dos sistemas atmosféricos acima citados; entretanto, estão
associados principalmente à ocorrência das inundações bruscas, em função das elevadas taxas de
precipitação pluviométrica (MONTEIRO e FURTADO, 1995; HERRMANN, 2001; MARCELINO,
2003; HERRMANN et al, 2004).
Com relação à distribuição espacial destes desastres naturais em Santa Catarina (Figura 3), as
mesorregiões mais afetadas foram a Oeste Catarinense, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis, o
que resulta nos maiores índices de perigo. A mesorregião Oeste Catarinense é fortemente afetada
pelas tempestades severas que desencadeiam elevadas taxas de precipitação, o que favorece a
ocorrência de inundações bruscas, bem como eventos de vendaval, granizo e tornado. No Vale do
Itajaí e Grande Florianópolis têm-se principalmente a ocorrência das inundações e
escorregamentos associados as fortes chuvas, decorrentes da passagem dos sistemas frontais e
da formação de sistemas convectivos, e ao relevo acidentado da vertente atlântica (MARCELINO,
2003; MARCELINO e GOERL, 2004; MARCELINO et al., 2004; HERRMANN et al, 2004). Dentre
os municípios mais afetados destaca-se Blumenau, com 47 casos, seguido por Florianópolis (37),
Canoinhas (36), Xanxerê (34), Chapecó (33), Anchieta (28), Ituporanga (28), Palma Sola (28),
Campo Erê (25) e Joinville (25).

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Figura 3 – Distribuição espacial dos desastres naturais em Santa Catarina (1980-2003).

Análise da vulnerabilidade
De acordo com a Figura 4, as mesorregiões Norte Catarinense e Serrana foram as que se
apresentaram como as mais vulneráveis aos desastres naturais, ou seja, caso ocorra um desastre
natural estas são as áreas mais propensas a terem um grande número de pessoas afetadas. Isto
deve-se principalmente a variável IP, que está relacionada principalmente a renda insuficiente da
população, ou seja, consideradas sem renda suficiente para garantir a sua própria alimentação.
Salienta-se que esta problemática é significativamente mais grave nas áreas rurais do que nas
áreas urbanas. Por exemplo, na região de Lages, as famílias com renda insuficiente na área rural
correspondem a 30% contra 15% na área urbana (BORCHARDT, 2003). Além disso, também
verificou-se nestas mesorregiões a existência de muitos municípios com elevado número de
pessoas idosas, principalmente na Norte Catarinense.
Alguns municípios litorâneos também apresentaram elevados índices de vulnerabilidade, que
estão correlacionados principalmente com a elevada densidade demográfica e a grande presença
de pessoas idosas. Os municípios que apresentaram as maiores densidades demográficas estão
localizados na zona costeira, que representa 65% da população catarinense. Nesta região
desenvolvem-se atividades relacionadas principalmente ao turismo e às indústrias de tecido e
cerâmica (ICEPA/SC, 2002). Dentre estes destaca-se Balneário Camboriú, com 1.579 hab./km2,
seguido por São José (1.473), Criciúma (810,8), Florianópolis (760,1) e Blumenau (513,2).
Também é importante comentar que nos municípios catarinenses o número de pessoas idosas é
altamente correlacionado à população urbana (97%), como mostrado na Figura 5. Dessa forma,
conforme a população urbana aumenta, maior será a população idosa.

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Figura 4 – Mapa da vulnerabilidade, da População Idosa, da Intensidade da Pobreza e da


Densidade Demográfica de Santa Catarina.

Figura 5 – Correlação entre a população urbana e a idosa para os municípios catarinenses.

Análise da resposta
Com base na Figura 6, pode-se notar que a maioria dos municípios que apresentam os maiores
índices de IDHM concentra-se principalmente na costa catarinense, com destaque para as
mesorregiões Grande Florianópolis, Vale do Itajaí e porção leste da Norte Catarinense. Os
municípios que apresentaram os melhores índices foi Florianópolis (0,875), Balneário Camboriú
(0,867), Joaçaba (0,866), Joinville (0,857) e Luzerna (0,855). Vale destacar que apesar da

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similaridade visual entre os mapas, o IDH-Longevidade apresentou uma baixa correlação com o
IDHM e com os demais índices. Enquanto que o IDH-Renda foi o que apresentou a melhor
correlação com o IDHM, chegando a 0,80.
Apesar de existirem alguns municípios com elevados índices na porção sul da mesorregião Oeste
Catarinense, não foi suficiente para destacar esta parte do território catarinense em sua totalidade.
Já a mesorregião Serrana e a porção oeste da Norte Catarinense foram as áreas que
apresentaram os piores índices de IDHM, como já refletido na Figura 4.

Figura 6 – Mapa do IDH-Municipal (resposta), IDH-Educação, IDH-Longevidade e IDH-Renda do


Estado de Santa Catarina.

Análise do risco
Realizando uma análise comparativa entre os diversos índices utilizados para a elaboração do
mapa de risco, verificou-se que o índice de perigo foi o que mais influenciou no resultado final
(Figura 7), apresentando uma correlação de 0,60, seguido pelo índice de vulnerabilidade, com
0,51. Entretanto, destaca-se que entre estes dois índices a correlação foi extremamente baixa,
praticamente nula (0,08), indicando que as variáveis utilizadas no processo de construção do
índice de risco não são tendenciosas.
Apesar da similaridade visual entre algumas variáveis do índice de resposta (IDHM) e o de
vulnerabilidade (Figuras 4 e 6), o que indicaria uma certa tendência, acredita-se que pouco
influenciou no resultado final, visto que a maior correlação encontrada foi 0,24 (não significativa)
entre as variáveis IP e IDH-Renda. Entretanto, dos índices utilizados o que menos afetou o
resultado final foi o da resposta (IDHM), apresentando uma correlação praticamente nula (0,06).
Isto indica que em estudos futuros devem ser revistas as variáveis utilizadas no índice de risco, ou

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mesmo acrescentadas novas variáveis. Outra hipótese a ser testada é a adoção de pesos para
que todos os índices apresentem um comportamento adequado, isto é, coeficientes de correlação
semelhantes.
A adoção do IDHM como índice de resposta está vinculado com a capacidade de um município
propor, discutir e absorver, através de campanhas de educação ambiental, métodos de prevenção
de desastres naturais. Isto reflete também a possibilidade de uma comunidade estar preparada
para aprender lições com as experiências vividas por ela e por outras comunidades. Com relação
ao IDH-Renda, quanto maior o índice de resposta, maior é a possibilidade do município preparar-
se e recuperar-se do impacto de um fenômeno natural extremo como as inundações.

Figura 7 – Correlação entre os índices utilizados na análise do risco.

Na Figura 8 é apresentado o mapa de risco de desastres naturais, onde verifica-se que os


municípios mais problemáticos, que estão inseridos na classe Muito Alto, estão localizados na
porção oeste das mesorregiões Oeste e Norte Catarinense. Na zona costeira também encontram-
se diversos municípios, principalmente na porção leste do Vale do Itajaí, e no litoral das demais
mesorregiões do estado. Dentre os municípios que apresentaram maior índice de risco, destaca-se
Florianópolis, com 1,74, seguido por Blumenau (1,54), São José do Cedro (1,03), Joinville (1,03) e
Chapecó (0,71). Os índices de risco dos demais municípios da classe Muito Alto estão abaixo de
0,53. Com exceção de São José dos Cedros, os demais municípios destacaram-se principalmente
devido a elevada densidade demográfica e freqüência de desastres naturais, o que indica a
necessidade de estabelecimento urgente de medidas não-estruturais, como a implantação de
sistema de monitoramento e alerta de tempestades severas, identificação das áreas mais seguras
no município para a instalação de abrigos, elaboração de planos de evacuação e campanhas
educativas sobre o que fazer antes, durante e depois de um desastre natural (KOBIYAMA, 2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No total foram computados 2.881 desastres naturais associados a instabilidades atmosféricas, o
que representa uma freqüência de 120 casos por ano. Destes episódios, 1.299 foram associados a
inundação gradual, o que representa 45 % do total, seguida pela inundação brusca e vendaval
com 19 e 17%, respectivamente. As mesorregiões mais afetadas foram a Oeste Catarinense, Vale

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do Itajaí e Grande Florianópolis, o que resultou nas áreas com maiores índices de perigo.
As mesorregiões Norte Catarinense e Serrana foram as que apresentaram maior número de
municípios com elevados índices de vulnerabilidade e com os piores índices de reposta. Com
relação ao índice de risco, a porção oeste das mesorregiões Oeste e Norte Catarinense foram as
áreas do estado onde estão localizados os municípios mais problemáticos, que carecem de
medidas preventivas a curto prazo.

Figura 8 – Mapa de risco de desastres naturais do Estado de Santa Catarina.

Associando o conhecimento do perigo, da vulnerabilidade e da resposta do sistema social aos


desastres naturais, como elementos chaves na equação de risco, é possível capacitar as
comunidades para enfrentar, resistir e recuperar-se de um desastre natural, através de medidas
preventivas e políticas públicas, que visem principalmente diminuir o número de pessoas afetadas.
Além disso, cabe ao poder público aplicar e fiscalizar as diretrizes já existentes com respeito ao
ordenamento territorial, planejamento urbano, plano diretor, zoneamento ambiental e Defesa Civil.
Em estudos futuros devem ser realizados novos testes com estas e outras variáveis, como
também testar a adoção de pesos, para que se obtenha um comportamento mais adequado dos
índices, isto é, apresentando coeficientes de correlação semelhantes.

AGRADECIMENTOS
O autor agradece ao Grupo de Estudos de Desastres Naturais (GEDN) da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) pelo fornecimento dos dados de desastres naturais utilizado no presente artigo.

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REFERÊNCIAS
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BORCHARDT, I. Diagnóstico da exclusão social em Santa Catarina: mapa da fome.
Florianópolis : SDS/Instituto Cepa/SC, 2003. 235p.
CASTRO, A. L. C. Manual de desastres: desastres naturais. Brasília: Ministério da Integração
Nacional, 2003. 174 p.
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Caminhos de Geografia 8 (17) 72 - 84, fev/2006 Página 83

Apostila Pag.324
Mapeamento de risco de desastres naturais do estado Emerson Vieira Marcelino, Luci Hidalgo Nunes,
de Santa Catarina Masato Kobiyama

MARCELINO, I. P. V. O.; MENDONÇA, M.; RUDORFF, F. M. Ocorrências de granizo no Estado de


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Apostila Pag.325
doi: 10.4025/bolgeogr.v30i1.13519

PROPOSTA METODOLÓGICA PARA MAPEAMENTO DE ÁREAS DE


RISCO A INUNDAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE RIO
NEGRINHO – SC

Methodological proposal for mapping flood risk areas: case study of Rio Negrinho
city - SC

Roberto Fabris Goerl1


Masato Kobiyama2
Joel Robert Georges Marcel Pellerin3
1
Universidade Federal do Paraná
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia - Bolsista Reuni
Av. Francisco H dos Santos, s/n – Centro Politécnico – Bloco 5, Sala PH14,
CEP 81531-990, Caixa Postal 19001,
Jardim da Américas – Curitiba – Paraná
roberto.fabris@gmail.com
2
Universidade Federal de Santa Catarina
Professor Associado III, Laboratório de Hidrologia - LabHidro - Bolsista do CNPq,
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima,
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – ENS/CTC,
CEP 88040-900, Caixa Postal 476,
Trindade – Florianópolis – Santa Catarina
kobiyama@ens.ufsc.br
3
Universidade Federal de Santa Catarina
Professor Emérito, Programa de Pós-Graduação em Geografia.
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima,
Programa de Pós-Graduação em Geografia GCN/CFH,
CEP 88040-900, Caixa Postal 476,
Trindade – Florianópolis – Santa Catarina
pellerin@cfh.ufsc.br

RESUMO

Inundações são fenômenos naturais que afetam a vida da humanidade desde a antiguidade. Entre todos os tipos de
desastres naturais, as inundações são os que impactam o maior número de pessoas, deixando centenas de milhares de
desabrigados todos os anos. Dentre as medidas mitigadoras relacionadas às inundações, destaca-se o mapeamento de
áreas de risco pelo seu baixo custo e alta aplicabilidade. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo propor e
aplicar uma nova metodologia para mapeamento de áreas de risco a inundação. A área de estudo abrange o município
de Rio Negrinho, SC, devido ao seu histórico extenso de eventos de inundações. A mensuração de risco, de maneira
geral, compreende a análise da vulnerabilidade e do perigo. Assim, tendo como unidade territorial o setor censitário, foi
elaborado um Índice de Vulnerabilidade através do qual os setores foram classificados. Posteriormente, realizou-se a
análise do perigo respaldada na legislação municipal. Com base na relação vulnerabilidade e perigo foi estimado o
risco. Através da presente metodologia, determinaram-se quais os setores censitários possuem maior risco, os quais
devem ser alvos de políticas públicas e medidas mitigadoras. Além disso, através do índice de vulnerabilidade pode-se
analisar o município em relação às características socioeconômicas, determinando as áreas prioritárias para
investimentos públicos. Ressalta-se que a presente metodologia, devido a seu baixo custo e da realização do censo em
todo o território nacional, pode ser aplicada em qualquer município brasileiro.

Palavras chave: Risco, perigo, vulnerabilidade, mapeamento.

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 81
ABSTRACT

Floods are natural phenomena that affect the human life since antiquity. Among all the types of natural disasters, floods
impact the largest number of people and making hundreds of thousands homeless every year. Despite the fact that there
are many mitigation measures related to floods, flood risk mapping is distinguished by its low cost and easy application.
In this context, the present study aimed to develop and implement a methodology for mapping flood risk areas. Because
of its floods records, Rio Negrinho city, Santa Catarina state, was chosen as study area. The risk determination
generally involves the analysis of vulnerability and hazard. Thus, having the census block as territorial unit of analysis,
a Vulnerability Index was created, by which all the census blocks were classified. After that, by observing the municipal
law, the hazard area was estimated. Through the relationship between vulnerability and hazard, the risk was established.
The present methodology was performed to determine which census blocks have the highest risk and should be target of
public policy and mitigation measure. Moreover, with the Vulnerability Index the city can be analyzed in terms of the
socioeconomic characteristics, which determines the priority areas for public investment. Thus, the present
methodology can be applied in all municipalities due to its low cost characteristic and because the census is conducted
over the whole Brazilian territory.

Keywords: Risk, hazard, vulnerability, mapping.

1 INTRODUÇÃO acessíveis, objetivando diminuir os danos e o


número de pessoas afetadas. Segundo Yalcin e
Inundações são fenômenos naturais Akyurek (2004), alguns problemas relaciona-
que afetam a vida da humanidade desde a dos às inundações podem ser solucionados
antiguidade. Entre todos os tipos de desastres através de estudos planejados e projetos
naturais, as inundações são os que impactam o detalhados sobre as áreas propensas a estes
maior número de pessoas, deixando centenas eventos. Oliveira et al. (2004) comentam que o
de milhares de desabrigados todos os anos zoneamento do território baseado na avaliação
(Tung, 2002; Moore et al., 2005). Conforme da susceptibilidade e do risco é considerado
UN (2004), as inundações causaram, nas um instrumento fundamental para a integração
últimas décadas, no mundo, cerca de um terço dos riscos no planejamento ambiental.
dos prejuízos e danos causados por todos os Analisando dados do EM-DAT –
tipos de desastres e foram também International Disaster Database, observa-se
responsáveis por dois terços das pessoas que nos últimos 46 anos houve um grande
afetadas por estes desastres. aumento no número de pessoas afetadas pelas
Kron (2002) comenta que as inundações, bem como o número de eventos
inundações se tornaram extremamente severas severos (Figura 1). Entre os anos de 1976 e
nas décadas recentes. Isto evidencia que 2006, as inundações ocasionaram aproximada-
ambos, a intensidade e a freqüência, vêm mente US$ 337.833.848.000,00 de prejuízos
aumentando. Este incremento pode estar em todo mundo (EM-DAT, 2006)
associado principalmente ao crescimento Como esse banco de dados registra
populacional ocorrido nas últimas décadas. apenas desastres de grande magnitude, estes
Muitas planícies de inundações foram danos são certamente maiores, pois um vasto
ocupadas por parques industriais e áreas número de pequenos e médios eventos
residências. Além disto, os centros urbanos ocasiona cerca de US$ 10 bilhões de prejuízos
desenvolveram-se, fato que diminui a econômicos todos os anos (KRON, 2002). No
capacidade de infiltração, aumenta o volume estado de Santa Catarina, entre 2000 e 2003, as
do escoamento superficial e, inundações causaram prejuízo de
consequentemente, o pico da vazão das cheias aproximadamente US$ 137.502.686,00.
(VENDRAME e LOPES, 2005). (HERRMANN et al., 2007; MARCELINO et
Não é possível controlar o aumento do al., 2004)
número de ocorrências das inundações severas. Diante desta problemática, faz-se
Por outro lado, medidas preventivas e necessário elaborar medidas preventivas e
mitigadoras devem se tornar mais eficazes e mitigadoras que possam diminuir os impactos

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Figura 1: Número de pessoas afetadas e de eventos de inundações entre 1963-2009

destes eventos sobre as áreas consideradas de O município de Rio Negrinho - SC


risco. Podem-se distinguir essas medidas entre sofre ao longo das últimas décadas com
estruturais e não-estruturais. As estruturais são diversas inundações. No Plano Diretor do
caracterizadas pelas obras de engenharia como município, aprovado em 2007, as inundações
diques, barragens, piscinões, etc. As demais são tratadas de maneira incipiente. Apesar
medidas que envolvem políticas públicas, destas dificuldades, estudos relacionados às
mapeamento de áreas de risco, educação inundações devem ser feitos, visto que a sua
ambiental, etc., são enquadradas nas não- intensidade e freqüência têm aumentado.
estruturais. As medidas não estruturais se Neste contexto, o presente trabalho
destacam pelo seu baixo custo de teve por objetivo apresentar uma proposta
implementação. Segundo Shidawara (1999), o metodológica para mapeamento de áreas de
mapeamento de áreas susceptíveis a inundação risco de inundação através do setor censitário
é uma das etapas mais importantes dentre como unidade de análise. Aplicou-se essa
todas as medidas existentes. proposta metodológica ao município de Rio
O Decreto Federal Nº 5.376 de 2005, Negrinho.
que dispõe sobre o Sistema Nacional de
Defesa Civil e o Conselho Nacional de Defesa 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Civil, recomendam a identificação e inclusão
das áreas de risco no plano diretor dos 2.1 Perigos Naturais e Desastres Naturais
municípios. Nos municípios que ainda estão
em fase de desenvolvimento urbano, o Os perigos naturais (natural hazards)
mapeamento de áreas susceptíveis a são processos ou fenômenos naturais
fenômenos naturais é de suma importância potencialmente prejudiciais que ocorrem na
para que os mesmos não se desenvolvam sobre biosfera, que podem causar sérios danos sócio-
as áreas de risco. econômicos às comunidades expostas (ISDR,
2002; UNDP, 2004).

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 83
Inundações, deslizamentos e outros Segundo Benson e Clay (2003),
tipos de fenômenos naturais causadores de desastre natural é a ocorrência de um anormal
desastres podem ser denominados perigos e não freqüente perigo que impacta
naturais e têm como principal característica a comunidades ou áreas vulneráveis, causando
de colocar em risco diferentes entidades e danos substanciais, alterando o estado de
classes sociais. Este risco não se refere aos funcionalidade da comunidade afetada.
fenômenos naturais per si, mas a junção dos Conforme ECLAC (2003), desastres
fenômenos naturais com os sistemas humanos são súbitos e inesperados eventos, geralmente
e suas vulnerabilidades (ALCÁNTARA- acompanhados de perdas de vidas, que
AYALA, 2002) ocasiona em parte ou em toda uma
Conforme Monteiro (1991), é comunidade, prejuízos, ruptura temporária nos
imprescindível considerar que a existência de sistemas vitais, danos materiais e
perigos naturais é uma função do ajustamento consideráveis distúrbios nas atividades
humano a eles, posto que sempre envolvem econômicas e sociais. A Organização das
iniciativa e decisão humana, ou seja, Nações Unidas, através do Programa das
“enchentes não seriam danosas se o homem Nações Unidas para o Desenvolvimento
evitasse as planícies de inundação” sugere que um desastre natural pode ser
(MONTEIRO, 1991, p. 08). entendido como os efeitos da ocorrência de um
O termo perigo é uma categoria que se perigo natural, onde os danos e prejuízos
destaca pela dificuldade de precisá-la gerados excedem a capacidade de uma
conceitualmente. O emprego do conceito de comunidade ou sociedade em lidar com o
perigo pode abranger fenômenos como desastre (UNDP, 2004)
avalanches, terremotos, erupções vulcânicas,
ciclones, deslizamentos, tornados, enchentes, 2.2 Risco
epidemias, pragas, fome e muitos outros
(MATTEDI e BUTZKE, 2001). A ocorrência de um desastre natural
A Tabela 1 apresenta algumas está sempre associada às perdas, sejam elas
definições do termo perigo (hazard) e perigo econômicas, sociais ou ambientais. Neste
natural (natural hazard). Nota-se que, apesar contexto, adota-se o termo risco, que pode ser
de pequenas singularidades, há certo consenso considerado com a probabilidade de
nas definições do termo perigo e o que ele conseqüências prejudiciais ou perdas
representa: Um evento natural com potencial (econômicas, sociais ou ambientais) resultan-
de causar danos. tes da interação entre perigos naturais e os
A partir da interação entre perigos sistemas humanos (UNDP, 2004). Usualmente
naturais e sistema humano tem-se os desastres para a definição de risco, adota-se a seguinte
naturais (WEICHSELGARTNER, 2001). Um função:
desastre natural sempre se origina de uma
relação conflituosa entre homem e natureza. R = f(H,V) (1)
Devido à dinâmica natural do rio, por
exemplo, sempre haverá ocorrência de Onde R é risco, H é perigo (hazard), e V é
inundações, variando especialmente quanto à vulnerabilidade. Chen et al. (2004) sugerem
magnitude e ao intervalo de recorrência. No que risco pode ser visto como uma função do
entanto, devido ao aumento populacional das perigo, exposição e vulnerabilidade.
últimas décadas e a expansão urbana, as Stephenson (2002) adota risco como sendo a
planícies de inundação começaram a ser probabilidade de ocorrência de um perigo,
intensamente ocupadas. Deste conflito de considerando para isso o tempo de retorno do
interesses em que o homem ocupa áreas mesmo (intensidade). UNDP (2004) sugere
propensas a eventos naturais, sabendo muitas ainda uma modificação da relação apresentada
vezes da ocorrência dos mesmos, é que se dá a anteriormente (Equação 1), sendo risco (R)
ocorrência dos desastres naturais. uma função da probabilidade da ocorrência de

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Tabela 1: Termos e definições utilizadas para o termo perigo/perigo natural
Autor Termo Definição
Refere-se ao risco ou perigo potencial, o qual geralmente é
Schumm (1994) Perigo assumido como sendo uma catástrofe ou desastre em
potencial, que envolve grandes danos e perda de vidas.
Pode ser definido como uma ameaça potencial para o ser
Smith (1996) Perigo
humano e seu bem-estar
Perigo Representa uma interação potencial entre a sociedade e
Tobin e Montz (1997)
Natural eventos naturais extremos.
São eventos capazes de produzir danos ao espaço físico e
Alcântara-Ayala Perigo social, não apenas durante a sua ocorrência, mas também
(2002) Natural posteriores a sua ocorrência, pelas associações de duas
conseqüências.
Perigo Um evento geofísico, atmosférico ou hidrológico que tem o
Benson e Clay (2003)
Natural potencial de causar prejuízos e danos.
Evento físico, fenômeno ou atividade humana
potencialmente danosa, que pode causar mortes, danos às
ISDR (2004) Perigo
propriedades, distúrbios sociais e econômicos ou degradação
ambiental.
Pode ser considerado como sendo um específico evento
Perigo
Dwyer et al. (2004) natural caracterizado por certa magnitude e probabilidade de
Natural
ocorrência.
É um fenômeno físico natural que pode ocasionar perda de
Koeler et al. (2004) Perigo
vidas e danos aos objetos, construções e ao ambiente.
Perigo Processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera e
UNDP (2004)
Natural que podem constituir um evento danoso.
Twigg (2004) Perigo Uma ameaça potencial para o ser humano e seu bem-estar.
Schmidt-Thomé et al. Perigo São definidos como eventos naturais extremos que podem
(2006) Natural causar danos.
É um elemento físico que é intrinsecamente nocivo ao ser
humano e é causado por forças alheias a ele. Mais
Perigo especificamente, este termo refere-se a todos os eventos
Telesca (2007)
Natural atmosféricos, hidrológicos, geológicos e de queimadas que
tem o potencial de afetar adversamente a sociedade, suas
estruturas e atividades.

um perigo (H), do elemento em risco termos de zoneamento e outras medidas não-


(população) (Pop) e da vulnerabilidade estruturais (FRIESECKE, 2004).
(V).Dessa forma, tem-se: Um dos pontos positivos dos mapas de
risco, conforme Andjelkovic (2001), é que,
R = H∙Pop∙V (2) tendo por base os mesmos, pode-se iniciar a
construção de estruturas que previnam os
2.3 Mapeamento das áreas de risco danos, alertar atuais e futuros proprietários de
terras sujeitas às inundações, bem como
Conforme Enomoto (2004), o auxiliar as autoridades e tomadores de
mapeamento de áreas de risco de inundação é decisões a desenvolver novas idéias de
uma ferramenta auxiliar muito poderosa no desenvolvimento sustentável para estas áreas.
controle e prevenção de inundações. Estes Marcelino et al. (2006) argumentam
mapas deveriam ser a base para todos os que um dos instrumentos de análise de risco
programas de redução de danos, pois mais eficiente é o mapeamento de áreas de
freqüentemente têm uma importância legal em risco. A partir deste mapa é possível elaborar
medidas preventivas, planificar as situações de

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 85
emergência e estabelecer ações conjuntas entre tecnológica, vulnerabilidade residual e a
a comunidade e o poder público, com o intuito vulnerabilidade criminal. Esta última refere-se
de promover a defesa permanente contra os à ocorrência de crimes devido ao caos gerado
desastres naturais. por um desastre natural.
Shidawara (1999) argumenta que os Na prática, há inúmeras definições de
mapas de risco possuem um grande papel no vulnerabilidade explicadas pelos seus aspectos
sistema de prevenção de inundação, pois em específicos que dependem do tipo de estudo,
municípios pequenos e com poucos recursos da análise e resultado requerido, do tipo de
econômicos torna-se muito difícil a perigo (fenômeno natural), da escala temporal
implantação de sistemas mais sofisticados, e espacial e das especificidades do local de
como monitoramento e sistemas de alerta. estudo (BARROCA et al., 2006).
Para Kobiyama et al. (2006), os mapas Conforme Hill e Cutter (2001), há
de risco visam suprir uma das maiores muitos tipos de vulnerabilidade no que tange o
deficiências relacionadas aos desastres naturais estudo de perigos naturais, embora os três
no Brasil, que é a ausência de sistemas de tipos mais importantes sejam: individual,
alertas, uma das ferramentas fundamentais social e biofísico. A vulnerabilidade
para a prevenção de desastres naturais, individual, segundo estes dois autores, diz
especialmente os súbitos. respeito à susceptibilidade de uma pessoa ou
uma estrutura sofrer um dano potencial. As
2.4 Vulnerabilidade características de uma estrutura (tipo de
material, projeto) ou de uma pessoa (idade,
Segundo Pelling (2003), a condição de saúde, fumante, estilo de vida,
vulnerabilidade denota a exposição ao risco e à alimentação) são levadas em conta para
incapacidade de evitar ou absorver danos em determinar a vulnerabilidade individual. Em
potencial, sendo dividida em três tipos: física uma escala mais geral tem-se a vulnerabilidade
(relacionada às construções), social social. Esta se baseia nas características
(relacionada ao sistema social, econômico e demográficas de grupos sociais, as quais os
político) e humana (união entre a física e a fazem mais ou menos vulneráveis. Para se
social). CRID (2001) define a vulnerabilidade determinar esta vulnerabilidade, utilizam-se
como o grau de susceptibilidade ou de risco a características socioeconômicas como idade,
que está exposta uma população a sofrer danos renda, gênero, educação, naturalidade
por um desastre natural. (imigrantes) dos grupos sociais. A
Weichselgartner (2001) analisou uma vulnerabilidade biofísica pode ser considerada
variedade de definições para o termo sinônimo de exposição física, ou seja, o quanto
“vulnerabilidade”, concluindo que o um local ou área é susceptível à ocorrência de
significado desse termo ainda não é claro. Na um perigo natural. Aysan (1993) elenca 8 tipos
Tabela 2 observam-se algumas definições de vulnerabilidade:
propostas para o termo vulnerabilidade com  Econômica/material: falta de acesso a
base nos trabalhos de Weichselgartner (2001) recursos;
e Musser (2002), onde se observa que ainda  Social: desigualdade nos padrões
não há consenso sobre o seu conceito. sociais;
A severidade de um evento, de acordo  Ecológica: falta de acesso à informação
com Koeler et al. (2004), é diretamente e conhecimento;
proporcional à vulnerabilidade e depende de  Motivacional: falta de ação/consciência
quatro fatores (físico, ambiental, econômico e pública;
social) que podem ser subdivididos em  Política: falta de políticas públicas e
diversas categorias. Alexander (1997) comenta falta de acesso aos representantes
que a vulnerabilidade pode ser subdividida em públicos;
vários tipos, como vulnerabilidade total,  Cultural: determinadas crenças e
vulnerabilidade econômica, vulnerabilidade culturas;

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Apostila Pag.331 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
 Física: fraquezas dos indivíduos e das estar pessoal, meios de subsistência,
construções. resistência a eventos adversos, auto-proteção e
De acordo com o National Research redes políticas, sociais e institucionais. Este
Council (2006), há dois principais tipos de nível de bem-estar de indivíduos, comunidades
vulnerabilidade: física e social. A física e da sociedade, inclui aspectos relacionados ao
representa as ameaças às estruturas físicas e grau de instrução, escolaridade, segurança e
infra-estruturais, ao meio ambiente e aos políticas públicas, respeito aos direitos
prejuízos na economia. A social representa as humanos, igualdade social, entre outros
ameaças ao bem-estar/normalidade da (ISDR, 2004).
população, como mortes, feridos, necessidade Conforme Hill e Cutter (2001), a
de atendimento médico e os impactos no vulnerabilidade social descreve as
funcionamento e na normalidade do sistema características demográficas de diferentes
social devido à ocorrência de um desastre. grupos sociais que os fazem mais ou menos
Alcantara-Ayala (2002) comenta que susceptíveis aos impactos negativos de um
há, de fato, inúmeros tipos de vulnerabilidade, evento extremo. Para estes autores a
mas que quase todos os tipos podem ser vulnerabilidade social sugere que as pessoas
incluídos em quatro principais grupos: social, criam a sua própria vulnerabilidade, através de
econômico, político e cultural. suas ações e decisões.
Cutter et al. (2003) argumentam que a
2.3.1 Vulnerabilidade Social vulnerabilidade a perigos naturais pode ser
estudada a partir de dois princípios: a)
Cannon et al. (2003) propõem que a identificando as condições que fazem pessoas
vulnerabilidade social é uma configuração ou locais vulneráveis a perigos naturais; b)
complexa de características que incluem bem

Tabela 2: Definições de vulnerabilidade sugerida por diferentes autores


Autor Definição
Timmerman Vulnerabilidade é o grau em que o sistema age adversamente em virtude da ocorrência de
(1981) um evento perigoso.
São as diferentes capacidades de grupos e indivíduos para lidar com perigos naturais, com
Dow (1992)
base em suas posições dentro da sociedade e no espaço.
Alexander Vulnerabilidade humana são os custos e benefícios de habitar áreas de risco a um desastre
(1993) natural.
Probabilidade de um grupo ou um indivíduo de estar exposto a um efeito adverso
Cutter (1993)
provocado por um perigo natural.
Warmington Uma condição que, adversamente, afeta a habilidade das pessoas de se preparar para
(1995) enfrentar ou responder a um perigo.
É o produto de um conjunto de condições prevalecentes no qual os desastres podem
Lewis (1999)
ocorrer.
Comfort et al. São as circunstâncias que colocam as pessoas em risco enquanto reduzem sua capacidade
(1999) de resposta ou negam-lhe a proteção disponível.
Sarewitz e Refere-se à susceptibilidade de mudança de um sistema perante a ocorrência de um
Pielke 2000 evento extremo
Uma condição ou processo resultante de fatores físicos, sociais, econômicos e ambientais,
UNDP (2004) os quais determinam a probabilidade e escala dos danos causados pelo impacto de um
determinado perigo.

NOAA (2009) O nível de exposição da vida, propriedade, e recursos ao impacto de um perigo natural.

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 87
assumindo que a vulnerabilidade é uma decisões da comunidade modificam a condição
condição social. Neste sentido, nota-se que não de vulnerabilidade, pois se pode observar se a
haveria vulnerabilidade sem sociedade. Ou vulnerabilidade está aumentando, declinando
seja, as características que fazem uma ou permanecendo estática. Este autor cita
sociedade, localidade ou mesmo uma única como bons indicadores de vulnerabilidade
residência mais ou menos vulneráveis são social a porcentagem de jovens e idosos,
reflexos de decisões e/ou condições sociais. pessoas com rendimento baixo, minorias
Por exemplo, analisar o PIB de um país e étnicas, turistas, sem tetos, pessoas recém
compará-lo com outros países para classificá- chegadas, entre outros, e argumenta que
lo como mais ou menos vulnerável faz parte nenhum conjunto de indicadores consegue ser
do escopo da vulnerabilidade econômica. Por totalmente inclusivo.
outro lado, o baixo ou alto PIB de um país é Birkmann (2006) e Dwyer et al. (2004)
reflexo das condições e processos sociais sugerem alguns critérios para a utilização de
A mesma questão pode ser levantada um indicador de vulnerabilidade, tais como:
para a vulnerabilidade física. Por exemplo, mensurabilidade, relevância, ser entendível,
Kelman (2002) analisou a vulnerabilidade fácil interpretação, caráter analítico e
física às inundações em residências inglesas, estatístico, disponibilidade de dados,
determinando para isso qual o impacto das comparabilidade, validade/precisão,
características físicas das inundações (como capacidade de ser reproduzida em outras
velocidade e altura) na estruturas das pesquisas, estar de acordo com a problemática
residências. Contudo, as características de uma da pesquisa e simplicidade.
residência que afazem mais ou menos Conforme Schmidt-Thomé e Jarva
vulnerável são reflexos de fatores sociais. O (2004), ainda não existe consenso entre os
poder aquisitivo e o nível de instrução de uma pesquisadores sobre quais variáveis que devem
família determinarão os padrões e qualidade de ser utilizadas para mensurar a vulnerabilidade
sua residência e, conseqüentemente, a sua social, sendo comumente utilizado o status
vulnerabilidade. Assim, características sociais socioeconômico, idade, raça e gênero. Na
são propagadas para os demais tipos de pesquisa realizada por estes autores foram
vulnerabilidade. Dessa maneira, a utilizadas as seguintes variáveis:
vulnerabilidade determinada de social não  Densidade populacional;
difere conceitualmente da geral e pode, em  PIB per capita;
muitos aspectos, ser vista como sinônimo.  Razão de dependência (população
Determinando a vulnerabilidade jovem e idosa, que provavelmente
através de características sociais estar-se-á, ao precisa de ajuda durante um evento
mesmo tempo, inferindo de maneira indireta as extremo,);
demais vulnerabilidades. Além disso, fatores  Educação.
como renda e instrução também são utilizados Coppola (2007) considera os seguintes
como indicadores da vulnerabilidade social, ou fatores na análise da vulnerabilidade: religião,
seja, ela não trata apenas de fatores raça, gênero, saúde, taxa de analfabetismo,
demográficos. políticas públicas, direitos humanos,
desigualdades sociais, cultura, tradição, entre
2.3.2 Indicadores de Vulnerabilidade outros. ISDR (2004), com base em Dwyer et
al. (2004), cita como exemplo os seguintes
Segundo Pine (2008), um indicador indicadores para determinar a vulnerabilidade:
reflete quantitativamente um fenômeno e pode idade, renda, gênero, tipo de residência, tipo
ser utilizado para entender a capacidade de de casa, condição da residência (alugada,
uma determinada comunidade de absorver, própria, cedida), seguro da casa, seguro saúde,
enfrentar ou recuperar-se de um desastre. O portadores de necessidades especiais, domínio
estudo da variação dos indicadores ao longo da língua pátria.
do tempo auxilia a entender como as ações e Cutter et al. (2000) utilizaram as

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seguintes variáveis para mensurar a município.
vulnerabilidade: a) população total; b) número Qualquer impacto causado pela
total de casas; c) número de pessoas do sexo ocorrência de um desastre na área urbana
feminino; d) número de pessoas não-brancas; certamente causará um grande impacto em
e) número de pessoas abaixo de 18 anos; f) todo o município, pois é na área urbana que se
número de pessoas acima dos 65 anos; g) valor encontram estações de tratamento de água,
médio da casa; h) número de mobile-homes. serviços básicos, bancos, a administração
Estas variáveis, além de muitas outras, municipal, entre outros.
também foram consideradas nos estudos de
Adger (1998), Clark et al. (1998), Cutter et al. 3.1.1 Inundações em Rio Negrinho
(2003), Azar e Rain (2007), Simpson e Human
(2008), para estimar a vulnerabilidade. As inundações em Rio Negrinho são
eventos recorrentes desde o inicio do século
3 MATERIAIS E MÉTODOS passado. Nos anos de 1911 e 1913, há registros
de inundações que atingiram o município de
3.1 Área de Estudo Rio Negrinho. No mês de janeiro de 1926, o
rio subiu novamente, destruindo uma ponte,
O município de Rio Negrinho está inundando ruas e casas de comércio, assim
localizado no planalto norte de Santa Catarina, como nos anos de 1937 e 1946. Entre 1946 e
entre as latitudes 26º12’29” e 26º42’14”S e 1983 ocorreram inundações ordinárias, que
longitudes 49º26’39” e 49º46’28” W (Figura não trouxeram prejuízos significativos a
2). Possui uma área de 908 km², dos quais, população. Em julho de 1983 ocorreu a maior
4,3% é considerado urbano e 95,7% rural inundação registrada até aquele momento, que
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e foi associada ao El Niño e atingiu inúmeros
Estatística - IBGE, Rio Negrinho possui municípios em Santa Catarina, assim como as
atualmente 42.237 habitantes, o que demonstra inundações de agosto 1984, que ocorreram
um aumento de sua população em também em Rio Negrinho. Em maio de 1992,
aproximadamente 65% desde 1991 (Figura 3). outra inundação, considerada a mais severa,
Segundo Schoeffel (2004), o município de Rio trouxe muitos danos e prejuízos ao município.
Negrinho tem índices percentuais de Em julho de 1995, janeiro de 1997 e 1998,
crescimento anual (média de 2,78% a.a) maior ocorreram novamente inundações ordinárias,
que a média de todos os municípios que embora não tenham ocorridos maiores
compõem a Associação de Municípios do prejuízos para a sociedade (SCHOEFFEL,
Nordeste de Santa Catarina – AMUNESC 2004).
(2,29% a.a) e mais ainda se comparado ao
índice do estado de Santa Catarina, que é, em 3.2 Análise da Vulnerabilidade
valores médios, de 1,61% a.a. Atualmente, a
densidade demográfica é de 46,5 hab/km². Como já demonstrado, o conceito de
Quando analisadas as áreas urbana e vulnerabilidade e os fatores que a compõem
rural separadamente, nota-se que há uma ainda não são precisos. Contudo, estimar a
maior concentração populacional na área vulnerabilidade é imprescindível para que se
urbana, onde a densidade demográfica sobe possa realizar a análise e mapeamento de risco.
para 812 hab/km². Assim, utilizaram-se indicadores para
Assim, a área urbana do município mensurar a vulnerabilidade, com base nas
possui alta densidade demográfica, quando características socioeconômicas coletadas
comparada com o município inteiro. Com base durante o Censo de 2000 pelo Instituto
nos dados coletados pelo IBGE no censo de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2000, 85 % da população de Rio Negrinho O IBGE utiliza como unidade de análise o
reside na área urbana. Por esta razão, o setor censitário, que é a menor unidade
presente trabalho enfoca a área urbana do territorial, com limites físicos identificáveis

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 89
em campo, com dimensão adequada à
operação de pesquisas. A área urbana do
município de Rio Negrinho foi dividida em 35
setores (Figura 4), os quais englobam um ou
mais bairros.

Figura 4: Setores censitários de Rio Negrinho.

Em 2007 foi realizada pelo IBGE a


contagem da população nos municípios
brasileiros com até 170 mil habitantes,
incluindo, logo, Rio Negrinho. Apesar destes
dados serem mais atualizados do que os de
2000, os mesmos apresentam apenas o número
de moradores nos setores censitários.
Para estimar a vulnerabilidade, outras
variáveis foram utilizadas, como sociais
(educação, renda) e econômicas. Assim, apesar
de estarem relativamente desatualizados, os
dados de 2000 são mais completos e
representativos.
Figura 2: Localização de Rio Negrinho - SC Foram selecionadas 8 variáveis
coletadas no censo para construir um índice de
vulnerabilidade, as quais foram agrupadas em
6 variáveis (Tabela 3).
O IBGE utiliza-se de uma data de
referência para determinar a quantidade de
moradores que residiam no domicilio/setor,
que foi dia 1º de agosto de 2000. Além disso,
observam-se alguns critérios para a coleta de
dados:
 Pessoa alfabetizada: pessoa capaz de
ler e escrever um bilhete simples no
Figura 3: Crescimento populacional de Rio idioma que conhece. Aquela que
Negrinho entre 1991 e 2009. aprendeu a ler e escrever, mas
esqueceu e a que apenas assina o
O IBGE considera como área urbana as próprio nome é considerada analfabeta.
delimitações propostas pelo plano diretor e  Pessoa responsável: homem ou a
pelo código de postura do município. Assim, a mulher responsável pelo domicílio
área urbana do município e a do IBGE devem particular permanente ou que assim é
ser coincidentes. Em virtude dos dados considerado(a) pelos demais
tabulados e disponibilizados pelo IBGE moradores.
estarem agrupados por setor, utilizaram-se os  Rendimento: a soma do rendimento
setores censitários para análise do município. nominal mensal de trabalho com o
proveniente de outras fontes.

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Apostila Pag.335 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
No quesito dependência adotou-se como do município. O IDHM de Rio Negrinho foi
limite 12 e 65 anos. 12 anos porque o Estatuto utilizado como indicador desta capacidade. O
da Criança e do Adolescente considera as IDHM é estimado pela ONU através do
pessoas abaixo dessa idade como crianças, Programa das Nações Unidas para o
sendo totalmente dependentes, perante a lei e Desenvolvimento – PNUD, e é dividido em
sociedade, de seus pais ou responsáveis. três classes: de 0 a 0,499 (baixo
Considerou-se 65 anos porque, segundo a desenvolvimento), 0,5 a 0,799 (médio
Organização Mundial de Saúde, a partir dessa desenvolvimento) e 0,8 a 1 (alto
idade as pessoas são consideradas idosas. desenvolvimento). Rio Negrinho possui o
Com base nestas 6 variáveis construiu- IDHM 0,789, demonstrando que apesar de
se o Índice de Vulnerabilidade (IV): possuir médio desenvolvimento, está mais
próximo do alto do que do baixo
Dd  Nm  Mm  TxD  E  R desenvolvimento.
IV  (3) A escolha do IDHM de Rio Negrinho
IDHM
como capacidade de suporte/resposta para
onde Dd é a densidade demográfica, Nm é o todos os setores deu-se pelos seguintes fatores.
número de moradores no setor, Mm é média de Quando ocorre um desastre, apesar dele
moradores por residência, TxD é a taxa de possuir limites espaciais e temporais, toda a
dependência (idosos e jovens), E é a educação normalidade do município é afetada. Aulas
(analfabetos acima de 12 anos), R é a renda podem ser suspensas, estradas fechadas, falta
(responsável sem rendimento ou com até 1 de água, luz, etc. Assim, a primeira resposta ao
salário mínimo) e IDHM é o Índice de desastre baseia-se na capacidade do município,
Desenvolvimento Humano do Município. que no presente trabalho traduziu-se no IDH-
O IDHM é obtido pela média aritmética M.
de três sub-índices, referentes às dimensões Para uniformizar as unidades, todas as
Longevidade (IDH- Longevidade), Educação variáveis foram escalonadas de 0 a 1, sendo 0
(IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda). o valor mínimo de cada variável e 1 o valor
Ressalta-se que IDHM é um valor único para máximo.
todo o município. Após escalonado, o Índice de
Assume-se neste presente trabalho, Vulnerabilidade foi agrupado em quatro
com base nos conceitos expostos, que a classes, baixa, média, alta e muito alta,
vulnerabilidade é inversamente proporcional a definidas pelo desvio quartílico, que,
capacidade de suporte/resposta ou de preparo segundo Ramos e Sanchez (2000), divide a

Tabela 3: Variáveis censitárias e variáveis utilizadas para mensurar a vulnerabilidade


Variáveis Censitárias Variáveis de Vulnerabilidade
Número de moradores no setor Número de moradores no setor
Média de moradores por domicílio Média de moradores por domicílio
Densidade Demográfica Densidade Demográfica
% da população acima de 65 anos Soma da porcentagem da população acima de 65
% da população abaixo de 12 anos e abaixo de 12 anos
% de pessoas analfabetas acima de 12 anos % de pessoas analfabetas acima de 12 anos
% de Responsáveis sem rendimento Soma da porcentagem dos responsáveis sem
% de responsável com rendimento até 1 Salário rendimento e com rendimento de até 1 Salário
Mínimo Mínimo

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 91
série de dados em quatro grupos com igual
número de ocorrências, cada um AI
compreendendo 25% do total de valores. Desta PE  (5)
AT
forma, o fatiamento é definido
quantitativamente, excluindo a subjetividade Onde AI é a área do setor inundada e AT é a
no processo de definição do limiar de corte. área total do setor.
Esta etapa de escalonamento e classificação
pelo desvio quartílico foi baseada em 3.4 Análise do Risco
Marcelino et al. (2006).
Conforme já exposto, risco é uma
Vobservado  Vmínimo
Vescalonad o  (4) função da vulnerabilidade e do perigo. A
Vmáximo  Vmínimo vulnerabilidade foi determinada para cada
setor censitário através do Índice de
3 Delimitação das áreas inundáveis Vulnerabilidade. O perigo foi determinado a
partir do Perigo Estimado. A partir da relação
O Plano Diretor de Rio Negrinho entres estes dois parâmetros obteve-se o Índice
determina como áreas inundáveis as terras de Risco (IR) para cada setor censitário, ou
situadas abaixo da cota de 792 m seja:
(SECRETARIA MUNICIPAL DO
PLANEJAMENTO, 2006; SCHOEFFEL, IR  IV  PE (6)
2009, comunicação pessoal). Esta cota foi
estabelecida com base em dois grandes 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
eventos, os de 1983 e 1992.
Em virtude desses eventos, a linha 4.1 Vulnerabilidade
férrea foi deslocada para acima dessa cota,
constituindo-se em uma referência para a Foram compiladas 6 variáveis com
população local como sendo terras base nos dados do censo para construir o
“totalmente” seguras. Com base nisso, traçou- índice de vulnerabilidade. Escolheram-se essas
se um polígono que abrangeu esta área dentro variáveis por serem representativas das três
dos limites da área urbana, estabelecendo a esferas principais que compõem a
área urbana considerada como inundada vulnerabilidade: demografia, educação e
(Figura 5). economia.
A Figura 6 apresenta a distribuição
espacial dos parâmetros de vulnerabilidade.
Nota-se na Figura 6a que não há uma
tendência na distribuição da população total
dos setores, apesar de alguns setores centrais
apresentarem a menor população, associada a
setores com predomínio de comércio ou
bairros mais tradicionais (antigos). Por outro
lado, estes setores centrais apresentam a maior
densidade populacional (Figura 6b). Em
relação à média de moradores por residência
(Figura 6c), notam-se dois grupos de setores
principais, os centrais e os periféricos,
Figura 5: Delimitação da área inundável segundo
principalmente na porção Norte, Noroeste. O
o plano diretor.
primeiro com uma baixa média de moradores e
o segundo com alta média.
Com base nas áreas inundáveis de cada
De maneira geral, esta mesma
setor determinou-se o Perigo Estimado (PE):
espacialização entre setores centrais e

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92
Apostila Pag.337 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
periféricos é observada na População identificar setores prioritários para a
Dependente (Figura 6d) e na Taxa de implementação de políticas públicas e ações de
Analfabetismo (Figura 6e), onde os setores educação ambiental, o que demonstra a
periféricos apresentam valores mais elevados. importância desse tipo de análise. Assim, o
Por último, vê-se uma relação direta mapeamento da vulnerabilidade torna-se
entre alguns setores em relação à Taxa de essencial para o gerenciamento de desastres,
Analfabetos e a População com Baixa Renda pois é através dele que se podem identificar
(Figura 6f). Assim, apesar de haver certa áreas que potencialmente serão mais
heterogeneidade da distribuição espacial dos prejudicadas.
parâmetros quando analisados individual- Além disso, esta ferramenta indica
mente, observa-se algumas correlações áreas que necessitam de mais investimentos do
espaciais entre certas variáveis, tais como poder público, não apenas relacionados a
renda e escolaridade; população dependente e desastres, mas também relacionadas à
média de moradores por residência. qualidade de vida. A vulnerabilidade aqui
Com base no IV, foi elaborado o mapa dimensionada envolveu parâmetros como
de vulnerabilidade de Rio Negrinho (Figura 7). educação e renda, que são indicadores de
Os setores que apresentaram vulnerabilidade desenvolvimento social.
muito alta foram: 0030, 0020, 0011, 0004, Salienta-se que estas análises de
0033 e 0031. Já os setores centrais foram os vulnerabilidade devem ser tomadas apenas em
que apresentaram a menor vulnerabilidade, âmbito municipal, ou seja, em escala local.
como os setores 0001, 0015, 0009 e 0035. Para efeitos comparativos, deve-se aplicar o
Através deste mapeamento, podem-se mesmo índice de vulnerabilidade nos demais

Figura 6: Parâmetros do Índice de Vulnerabilidade: a) População total do setor, b) Densidade demográfica,


c) Média de moradores por residência, d) População dependente, e) Taxa de analfabetismo, f) % da
população com baixa renda.

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 93
municípios catarinenses, ou até mesmo nos Nota-se que os setores centrais são os que
brasileiros, para determinar o maior ou menor apresentam maior PE, áreas estas que se
grau de vulnerabilidade e, assim, compará-los desenvolveram às margens do rio Negrinho.
aos setores ou municípios dentro da mesma Nota-se também que há setores que estão
escala. quase que totalmente acima desta cota. O PE
Dessa maneira, apesar de um setor ser pode ser útil no gerenciamento de áreas
classificado como muito alto no presente inundáveis, pois desconsidera áreas de baixo
trabalho, em uma análise regional o mesmo perigo.
poderia ser classificado como baixo ou médio.
Demonstra-se, assim, que uma lacuna no 4.3 Risco
estudo e gerenciamento de riscos ainda precisa
ser preenchida, especialmente no Brasil. Risco é uma função do Perigo e da
Vulnerabilidade. Comparando o risco, a
4.2 Perigo Estimado (PE) vulnerabilidade e o perigo de cada setor
censitário e analisando as suas correlações,
O Plano Diretor de Rio Negrinho fica clara a influência que o Perigo teve na
determina que as terras situadas abaixo da cota construção do Risco. Na Figura 9 observa-se
792 m são consideradas como sendo áreas de uma forte correlação (R² = 0.72) entre Risco e
inundação. Com base nisso, a partir do Perigo. Já entre Risco e Vulnerabilidade
levantamento planialtimétrico realizado pela (Figura 10) e Vulnerabilidade e Perigo (Figura
AGRITEC S.A., delimitou-se o polígono da 11) as correlações são fracas. Assim, o que
área inundada. Determinou-se a área inundada mais influenciou no Risco foi o Perigo. Já
de cada setor (Tabela 4), sua proporção em entre Risco e Vulnerabilidade (Figura 10) e
relação à área total e por sua vez, o PE. Vulnerabilidade e Perigo (Figura 11) as
A Figura 8 apresenta a distribuição correlações são fracas.
espacial do PE segundo os setores censitários.

Figura 7: Distribuição espacial da vulnerabilidade na área urbana de Rio Negrinho.

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Assim, o que mais influenciou no tiveram o mesmo peso. Dessa maneira, setores
Risco foi o Perigo. Isto demonstra que, nas que possuem alto grau de vulnerabilidade,
inundações, as características físicas da bacia embora não possuam alto perigo, foram
têm um papel mais importante na construção classificados como de baixo risco. O contrário
do Risco do que as condições socioeconômicas também ocorreu, pois setores que possuem
(Vulnerabilidade). Assim, um setor ou baixa vulnerabilidade e alto perigo foram
qualquer outra unidade de análise pode possuir classificados como alto ou médio risco.
alta vulnerabilidade, mas caso possua um
baixo grau de perigo o risco será baixo. Tabela 4: Área inundada para cada setor
Ressalta-se que o Risco foi construído Setor Área Inundada (km²) Setor Área Inundada (km²)
01 0,49 19 0,05
sem levar em conta as características 02 0,20 20 0,00
hidrológicas das inundações. Usou-se uma 03 0,05 21 0,07
cota máxima para determinar a área inundada, 04 0,00 22 0,15
05 0,01 23 0,10
superestimando o risco. A utilização do risco a 06 0,07 24 0,00
partir desta premissa restringe algumas áreas 07 0,05 25 0,14
que poderiam ser de baixo ou médio risco, mas 08 0,33 26 0,31
09 0,58 27 0,31
que proporcionaria uma prevenção mais 10 0,38 28 0,13
efetiva, pois abrange mais setores como áreas 11 0,00 29 0,01
de risco. 12 0,03 30 0,05
Por fim, elaborou-se um mapa de risco 13 0,00 31 0,44
14 0,00 32 0,02
da área urbana de Rio Negrinho (Figura 12). 15 0,00 33 0,00
Em primeiro lugar, vê-se que os setores 16 0,00 34 0,00
centrais foram os que apresentaram maior 17 0,00 35 0,00
18 0,35 Total 4,23
risco, mesmo possuindo uma vulnerabilidade
baixa e média. Isto porque na função aqui
adotada, tanto a vulnerabilidade como o perigo

Figura 8: Distribuição espacial do perigo estimado na área urbana de Rio Negrinho.

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Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 95
1,8 legislação de Rio Negrinho, que determina
1,6
R² = 0,7249 uma cota máxima como área de inundação.
1,4
1,2
Como unidade de análise utilizou-se o setor
1 censitário, que, segundo o IBGE, é a menor
Risco

0,8 unidade territorial, com limites físicos


0,6
0,4
identificáveis em campo.
0,2 Foi observado que setores que
0 apresentaram alto risco não necessariamente
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
apresentaram altos valores de perigo e
Indice de Perigo
vulnerabilidade. Uma análise de correlação
Figura 9: Correlação entre Risco e Perigo demonstrou que o risco apresentou maior
correlação com o perigo do que com a
1,8
R² = 0,0042
vulnerabilidade. Isto porque a área de
1,6
inundação não abrange todos os setores.
1,4
1,2
Assim, setores com alta vulnerabilidade
1 podem apresentar baixo risco, pois não estão
Risco

0,8 susceptíveis a ocorrência de um perigo


0,6
(inundação). Por outro lado, como a
0,4
0,2
vulnerabilidade é analisada a partir de
0 parâmetros socioeconômicos, a mesma pode
0 1 2 3 4 5 6 7 8
ser tomada como base para implementação de
Vulnerabilidade
políticas públicas.
Figura 10: Correlação entre Risco e Na análise de perigo não foram
Vulnerabilidade
observados parâmetros hidrológicos, pois em
8
Rio Negrinho não há dados hidrológicos
7
R² = 0,0999 consistentes ou séries longas que permitam um
6 estudo hidrológico aprofundado. Dessa
Vulnerabilidade

5 maneira, o perigo, como aqui foi estimado,


4 enquadra-se na realidade brasileira, onde
3 apenas grandes bacias são contempladas com
2 estações hidrológicas.
1
Os desastres naturais aumentaram em
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7
intensidade e frequência em todo mundo.
Indice de Perigo Metodologias de baixo custo e fácil
implementação, como o mapeamento de risco,
Figura 11: Correlação entre Vulnerabilidade e
destacam-se entre as medidas mitigadoras.
Perigo
Assim, observa-se que o presente método pode
ser aplicado nas mais diversas localidades,
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
pois o censo é realizado em todo o território
brasileiro e a falta de dados hidrológicos não é
O presente trabalho propôs uma
um impedimento, contribuindo dessa maneira
metodologia para mapeamento de risco
para a prevenção de inundações e a mitigação
relacionado a inundações no município de Rio
de seus danos.
Negrinho, SC. O risco é definido como uma
função do perigo e da vulnerabilidade. Assim,
estes dois fatores foram estimados para a sua AGRADECIMENTOS
análise. A vulnerabilidade foi determinada
O primeiro autor agradece ao Programa
através do Índice de Vulnerabilidade, que
REUNI pela concessão da bolsa de Doutorado.
engloba principalmente parâmetros
socioeconômicos.
O perigo foi determinado com base na

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Apostila Pag.341 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
Figura 12: Distribuição espacial do risco na área urbana de Rio Negrinho.

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MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE A DESASTRES
HIDROLÓGICOS NOS MUNICÍPIOS DE ALTO FELIZ E SÃO
VENDELINO/RS COMO FORMA DE CONTRIBUIÇÃO À
ENGENHARIA DE SEDIMENTOS
Janete Teresinha Reis1; Jones Souza da Silva2; Gean Paulo Michel3; Masato Kobiyama4

RESUMO --- No Brasil, a ocorrência de desastres naturais vem se intensificando nos últimos anos.
As chuvas intensas, aliadas à alta declividade e à ocupação humana de locais inadequados, facilitam
a ocorrência de movimentos de massa, tornando as pessoas que residem nessas áreas mais
propensas a sofrerem com os desastres naturais. Embora as inundações sejam mais frequentes, os
escorregamentos geram maior número de vítimas fatais. Além disso, um grande aporte de
sedimentos aos corpos hídricos pode ser causado por escorregamentos e fluxos de detritos. Nesse
contexto, o presente estudo prevê o mapeamento da vulnerabilidade a desastres hidrológicos
(inundações e escorregamentos) na serra gaúcha, nos municípios de Alto Feliz e São Vendelino,
através de uma metodologia desenvolvida para um município catarinense. Essa metodologia foi
aplicada de forma separada e integrada para os dois municípios. Os resultados demonstraram que a
metodologia gera resultados distintos, dependendo da unidade de análise. Na análise feita de forma
separada, as áreas mais vulneráveis se concentraram na zona urbana. Ao integrar os municípios, a
mais alta vulnerabilidade ocorreu somente no município de São Vendelino. De maneira geral, o
mapeamento de vulnerabilidade é importante na gestão de risco, pois auxilia gestores públicos na
tomada de decisões frente aos desastres naturais.

ABSTRACT --- In Brazil, the occurrence of natural disasters has been increasing in recent years.
Heavy rains, combined with steep slopes and human occupation of unsuitable locations, facilitate
the occurrence of mass movements, making people who live in these areas more prone to suffer
from natural disasters. While floods are more frequent, and also cause social, economic and
environmental damages, landslides generate the highest number of fatalities. Furthermore, a large
amount of sediments to water bodies may be caused by landslides and debris flow. In this context,
the present study provides vulnerability mapping to hydrological disasters (floods and landslides) in
the mountainous region of Rio Grande do Sul, in the cities of Alto Feliz and São Vendelino,
through a methodology developed for a municipality of Santa Catarina. This methodology was
applied separately and integrated for the two municipalities. The results showed that the
methodology produces different results, depending on the analysis unit. In the separate analysis, the
most vulnerable areas concentrated in the urban area. By integrating the municipalities, the highest
vulnerability occurred only in São Vendelino. In general, vulnerability mapping is important in risk
management, as it assists public managers in decision making to natural disasters.

Palavras-chave: mapeamento, vulnerabilidade, desastres naturais.

1
Pós-doutoranda - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: reis.janete@gmail.com
2
Doutorando - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: joneswsilva@gmail.com
3
Doutorando - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: geanpmichel@gmail.com
4
Prof. Dr. - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: masato.kobiyama@ufrgs.br
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 1
Apostila Pag.346
1. INTRODUÇÃO

O estado do Rio Grande do Sul vem enfrentando graves problemas decorrentes dos desastres
naturais, tais como estiagens, vendavais, granizo, inundações, escorregamentos e fluxos de detritos.
Nesse Estado, os escorregamentos e fluxos de detritos são mais frequentes na região serrana,
tornando-se, cada vez mais, objeto de estudo para a redução de desastres naturais e avaliação da
produção de sedimentos.
Kobiyama et al. (2010) e Michel et al. (2012) comentaram sobre a relevância que os
fenômenos causadores de desastres podem ter na produção e transporte de sedimentos em uma
bacia hidrográfica. De maneira mútua, a Engenharia de Sedimentos cumpre papel essencial na
tentativa de minimizar o impacto de alguns dos desastres hidrológicos (escorregamento e fluxo de
detritos), principalmente através da aplicação de medidas estruturais, como as barragens para
sedimentos. Entretanto, segundo Kobiyama et al. (2012), para o gerenciamento desses desastres, a
fim de reduzi-los, é necessário que medidas não estruturais, que envolvem essencialmente ações
voltadas à redução da vulnerabilidade da população, sejam implementadas juntamente às
estruturais. Assim, a realização do mapeamento da vulnerabilidade, uma importante medida não
estrutural, pode orientar um conjunto de ações a serem tomadas a fim de minimizar o risco a
desastres hidrológicos.
Embora as discussões sobre perigo, vulnerabilidade e as variáveis a eles associados tenham
evoluído, existem desafios a serem desvendados quanto ao mapeamento de risco, principalmente no
que se refere ao mapeamento da vulnerabilidade.
Segundo Centro Regional de Información sobre Desastres - CRID (2001), a vulnerabilidade
consiste no grau de susceptibilidade a que está exposta uma população a sofrer danos na ocorrência
de um desastre natural. Goerl et al. (2012) utilizaram a mesma definição em seu trabalho e
analisaram vários conceitos sobre vulnerabilidade baseados em Weichselgartner (2001) e Musser
(2002). Além disso, propuseram um método para mapeamento de áreas de risco à inundação válido
para um município catarinense, elegendo algumas variáveis para definição da vulnerabilidade
(Goerl et al., 2012).
O conceito de vulnerabilidade pode ser utilizado, entre outros, para descrever a exposição ao
risco e a gestão de risco, incluindo a prevenção de choques e a diversificação de ativos e fontes de
receita (PNUD, 2014). De acordo com Barroca et al. (2006), existem várias definições de
vulnerabilidade explicando aspectos específicos que dependem do tipo de estudo, da análise
realizada e resultado obtido, do tipo de perigo, assim como, da escala temporal e espacial, além das
especificidades do local estudado. No relatório de desenvolvimento humano (PNUD, 2014), consta
que uma das maiores causas de vulnerabilidade é a desigualdade, a qual pode causar instabilidade
________________________________________________________________________________________________________________________
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 2
Apostila Pag.347
em um sistema, nas suas várias dimensões (renda, faixa etária, educação, densidade demográfica,
etc.).
Visto que atualmente existe um aumento no número de desastres, os governos demandam
metodologias mais eficazes para prevenir a ocorrência dos mesmos. A utilização de mapeamentos
como subsídio para a gestão de risco pode otimizar os resultados. O mapeamento da vulnerabilidade
para a gestão de risco requer o entendimento dos conceitos básicos de risco, vulnerabilidade e
perigo. A falta de consenso tem contribuído na elaboração de mapas técnicos de forma equivocada.
Muitas vezes, mapas de perigo são elaborados ao invés de mapas de risco. Cabe ressaltar que o
mapeamento de risco consiste na integração dos mapas de vulnerabilidade e de perigo.
De acordo com Reis et al. (2012), os desastres naturais mais frequentes no estado do Rio
Grande do Sul, no período de 2007 a 2011, foram as inundações com um total de 588 ocorrências.
Porém, os escorregamentos, associados às chuvas intensas, geralmente causam maior número de
vítimas. Portanto, no presente estudo, elegeu-se como área piloto os municípios de Alto Feliz e São
Vendelino, localizados na região serrana no Rio Grande do Sul, em virtude da ocorrência dos
desastres hidrológicos nesses locais.
O mapeamento das áreas vulneráveis é um importante instrumento que complementa a análise
de risco. Assim, o objetivo do presente estudo consiste no mapeamento da vulnerabilidade a
desastres hidrológicos nos municípios de Alto Feliz e São Vendelino. A partir desse mapeamento,
os gestores públicos poderão tomar medidas estruturais e não estruturais preventivas, como a
implantação de obras de engenharia e planejamento do uso da terra, no intuito de evitar ou
minimizar os danos decorrentes desses desastres.

2. METODOLOGIA

2.1 Área de Estudo


A área de estudo localiza-se na porção leste do Rio Grande do Sul, mais precisamente nos
municípios de Alto Feliz e São Vendelino (Figura 1) e compreende parte da bacia do arroio
Forromeco, que é cabeceira da bacia hidrográfica do Rio Caí. Estudos nessa área são importantes,
devido à ocorrência de escorregamentos, predominantemente nos trechos alto e médio Caí, segundo
Comitê Caí, (2008) e, de inundações que ocorrem com freqüência no trecho baixo Caí de acordo
com Pedrollo et al. (2011).
Alto Feliz possui uma população total de 2.917 habitantes, dos quais 816 residem na zona
urbana e 2.101 na área rural (IBGE, 2010). Apresenta maior densidade demográfica na zona urbana
(setores censitários 1 e 6 da Figura 1). Sua economia está baseada na indústria moveleira, calçadista
e têxtil. Na pecuária destaca-se a criação de aves, suínos e gado, e, na agricultura, a produção de
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 3
Apostila Pag.348
mudas de uvas, caquis e kiwis, bem como a produção de hortaliças (Prefeitura Municipal de Alto
Feliz, 2014).

Figura 1: Localização dos municípios de Alto Feliz e São Venelino, RS.

O município de São Vendelino possui uma população total de 1.994 habitantes, sendo que
1.353 residem na zona urbana e 591 na zona rural (IBGE, 2010). A maior densidade demográfica
também é registrada na zona urbana (setores 1 e 2 da Figura 1). Sua economia se baseia no setor
agrícola e industrial de pequeno porte. Na indústria, destaca-se o ramo calçadista, moveleiro e
metalúrgico; na agricultura, a produção de milho, feijão, mandioca, trigo, batata e alfafa, com o
predomínio do minifúndio (Brasil Channel, 2014).

2.2 Análise da vulnerabilidade


A vulnerabilidade foi estimada a partir de dados Socioeconômicos coletados no Censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010). As oito variáveis Censitárias
selecionadas, para determinar o índice de vulnerabilidade, foram agrupadas em seis variáveis,
conforme a Tabela 1.

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 4
Apostila Pag.349
Tabela 1: Variáveis censitárias e variáveis utilizadas para mensurar a vulnerabilidade.
Variáveis censitárias Variáveis de vulnerabilidade
Número de moradores por setor Número de moradores no setor
Média de moradores por domicílio Média de moradores por domicílio
Densidade demográfica (hab/km²) Densidade Demográfica
Percentual da população acima de 60 anos Soma da porcentagem da população acima de
Percentual da população abaixo de 14 anos 60 e abaixo de 14 anos
Percentual de pessoas analfabetas acima de
Percentual de pessoas analfabetas acima de 12 anos
12 anos
Percentual de responsáveis sem rendimento Soma da porcentagem dos responsáveis sem
Percentual de responsáveis com rendimento até 1 rendimento e com rendimento de até 1
Salário Mínimo Salário Mínimo
Adaptado de Goerl et al. (2012)

As variáveis selecionadas foram as mesmas utilizadas por Goerl et al. (2012). Porém, o
diferencial dos parâmetros consiste na idade definida para determinação da população dependente.
Enquanto Goerl et al. (2012) adotaram as idades superior a 65 e inferior a 12 anos, aqui elegeram-se
as idades superiores a 60 e inferiores a 14 anos, em virtude da disponibilidade de dados junto ao
IBGE.
Como unidade de análise, o IBGE identifica e analisa os dados a partir das unidades
censitárias, caracterizada como a menor unidade territorial com limites físicos identificáveis a
campo. A investigação realizada pelo IBGE (2010), referente às características dos domicílios e das
pessoas neles residentes, teve como data de referência o dia 31 de julho de 2010, de acordo com os
seguintes critérios:
♦ Pessoa alfabetizada: aquela pessoa capaz de ler e escrever um bilhete simples no idioma que
conhece. A pessoa que aprendeu a ler e escrever, mas que esqueceu pelo fato de ter passado por um
processo de alfabetização que não se consolidou, e a que apenas assina o próprio nome, foi
considerada analfabeta;
♦ Pessoa responsável: para a pessoa (homem ou a mulher) de 10 anos ou mais de idade,
reconhecida pelos moradores como responsável pela unidade domiciliar;
♦ Rendimento: a soma do rendimento nominal mensal de trabalho com o proveniente de
outras fontes;

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 5
Apostila Pag.350
♦ Dependência: nesse quesito adotou-se como limite 14 e 60 anos. Os 14 anos porque o
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, proíbe o trabalho para menores de 14 anos,
salvo na condição de aprendiz. São pessoas vulneráveis o homem ou a mulher que ainda não
completou quatorze (14) anos de idade. Considerou-se 60 anos porque segundo o estatuto do idoso,
lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, em seu art. 1°, considera-se como idoso a pessoa com idade
igual ou superior a 60 anos. Esse estatuto tem como propósito tutelar de forma específica os direitos
do idoso, estabelecendo direitos e medidas de proteção dessa categoria.
A partir desses quesitos, foram determinadas 6 variáveis que constituíram o Índice de
Vulnerabilidade (IV):
Dd + Ms + Mm + PD + PA + R
IV = (1)
IDHM
onde IV é o índice de vulnerabilidade; Dd é a densidade demográfica; Ms é o número de moradores
no setor; Mm é a média de moradores por residência; PD é o percentual de dependência de idosos e
jovens; PA é o percentual de analfabetos acima de 12 anos; R é a renda do responsável sem
rendimento e até 1 salário mínimo e IDHM é o índice de desenvolvimento humano municipal.
O IDHM (2014) é obtido pela média aritmética de três sub-índices: IDHM longevidade,
IDHM educação e IDHM renda. Esse índice é único para cada município e é estimado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) através do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
Com base ao afirmado e nos conceitos expostos neste trabalho, considera-se que a
vulnerabilidade é inversamente proporcional a capacidade de suporte/resposta ou de preparo do
município. O IDHM de Alto Feliz e São Vendelino foi utilizado como indicador dessa capacidade.
Esse índice é de 0,734 para o município de Alto Feliz e 0,754 para São Vendelino (PNUD, 2014).
O IDHM é dividido em cinco classes: de 0 a 0,499 (Muito baixo desenvolvimento), 0,5 a
0,599 (Baixo desenvolvimento); 0,6 a 0,699 (Médio desenvolvimento); 0,7 a 0,799 (Alto
desenvolvimento) e 0,8 a 1,00 (Muito Alto desenvolvimento). Dessa forma, Alto Feliz com 0,734 e
São Vendelino com 0,754 demonstram que têm alto desenvolvimento.
Para normalizar as unidades, todas as variáveis foram escalonadas de 0 a 1, sendo 0 o valor
mínimo de cada variável e 1 o valor máximo. Posteriormente, aplicou-se a equação do índice de
vulnerabilidade e novamente realizou-se a normalização para definir a vulnerabilidade final. Assim,
o índice de vulnerabilidade foi agrupado em cinco classes: muito baixa, baixa, média, alta e muito
alta para Alto Feliz e baixa, média, alta e muito alta para São Vendelino. A classe muito baixa para
São Vendelino foi excluída, pois esse município possui somente 4 unidades censitárias.

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 6
Apostila Pag.351
Os índices de vulnerabilidade, resultantes das variáveis, foram definidos através do método
estatístico Natural Breaks nas classes acima mencionadas. Esse método consiste em “minimizar a
variância dentro de cada classe pelo método estatístico, fornecendo categorias que apresentam
valores mais homogêneos possíveis dentro das classes” (Souza et al., 2006).
O presente método difere do Desvio Quartílico, adotado por Goerl et al. (2012). A
normalização, que varia de 0 a 1, foi calculada a partir da Equação 2 proposta por Marcelino et al.
(2006), que consiste:
Vo − Vmin
Vn = (2)
Vmax − Vmin
onde Vn é o valor normalizado; Vo é o valor observado; Vmín é o valor mínimo e Vmáx é o valor
máximo.
Como resultado, foram obtidos os mapas de vulnerabilidade de Alto Feliz e São Vendelino,
de forma separada e de forma integrada, por meio da aplicação da Equação 1, seguida da
normalização adotando-se a Equação 2.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir dos dados do censo do IBGE (2010), selecionaram-se as variáveis que agrupadas em
seis resultaram no índice de vulnerabilidade. Essas variáveis são consideradas importantes por
comporem os principais níveis de vulnerabilidade, a saber: educação, economia e demografia do
município.
Nas Figuras 2 e 3, estão representadas as variáveis utilizadas para determinação da
vulnerabilidade nos municípios de Alto Feliz e São Vendelino. Essa distribuição espacial permitiu
identificar as áreas mais representativas de cada parâmetro selecionado. Desse modo, na Figura 2a
constatou-se que a unidade censitária 5, localizada ao sul, foi a mais representativa, com maior
registro populacional. Por outro lado, o setor 7, a oeste, foi identificado como de menor ocorrência
populacional, apresentando um total de 160 habitantes. Referindo-se a mesma variável, no
município de São Vendelino (Figura 3a), a porção central foi a mais representativa, totalizando 787
moradores, e o setor periférico, a leste, o menos representativo, com 280 moradores no setor 3.

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Apostila Pag.352
Figura 2: Parâmetros de identificação do índice de vulnerabilidade em Alto Feliz: a) População total
por setor; b) Densidade demográfica (habitantes/km²); c) Média de moradores por residência; d)
Percentual da população dependente; e) Taxa de analfabetismo; f) Percentual da população com
renda baixa.

Figura 3: Parâmetros de identificação do índice de vulnerabilidade no município de São Vendelino:


a) População total por setor; b) Densidade demográfica (habitantes/km²); c) Média de moradores
por residência; d) Percentual da população dependente; e) Taxa de analfabetismo; f) Percentual da
população com renda baixa.
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Apostila Pag.353
Portanto, é de comum acordo que a densidade habitacional é mais representativa na zona
urbana. Sendo assim, os setores centrais (1 e 6 da Figura 2b, assim como 1 e 2 da Figura 3b)
identificados pela zona urbana dos municípios de Alto Feliz e São Vendelino, ocupam maior
número de habitantes por quilometro quadrado, tornando-os mais representativos para determinação
o índice de vulnerabilidade. Em relação à média de moradores por unidade censitária (Figura 2c),
parte da porção central e norte de Alto Feliz ocupa a maior média, assim como a menor
representatividade se situa na porção central e sudeste. No trabalho de Goerl et al. (2012), a porção
central apresenta a menor média de moradores por residência e os periféricos a média mais alta.
Diferenciando-se do presente trabalho, uma vez que a média de moradores, de maior e menor
representatividade se localiza na porção central. Enquanto que no município de São Vendelino, a
média mais alta e a média mais baixa de moradores ocorrem em setores periféricos (Figura 3c).
Na população dependente (Figura 2d), o setor 8, na periferia do município, é o mais
representativo em Alto Feliz. Em São Vendelino, a população que apresenta maior dependência
localiza-se no setor 3 (Figura 3d). A distribuição espacial da taxa de analfabetismo (Figura 2e) se
concentra em dois setores diferenciais: o central, com as menores taxas, e o Nordeste, com as
maiores taxas de analfabetismo em Alto Feliz. Assim, a taxa de analfabetismo em Alto feliz
superou 8%. Já, no município de São Vendelino, esse percentual é muito inferior, não ultrapassando
2,84% (Tabela 2) no setor 3. Esse município é um dos mais alfabetizados do Brasil (Brasil Channel,
2014).

Tabela 2: Valores das variáveis no município de Alto Feliz e São Vendelino por setor censitário.
Alto Feliz - RS São Vendelino - RS
Variáveis Valor mais Valor menos Valor mais Valor menos
representativo representativo representativo representativo
Pop. do setor 576 160 778 280
Dens. demográfica 320 15 27,9 20
Média de moradores 6,07 4,48 6,59 5,13
Pop. dependente (%) 45,41 30,90 38,92 28,97
Tx. analfabetos (%) 8,33 0,63 2,84 0,4
Renda baixa (%) 47,22 23,62 21,50 15,41

Da população com renda baixa (Figura 2f) no município de Alto Feliz o setor periférico é o
mais representativo, assim como no município de São Vendelino (Figura 3f). Porém, os valores de
representatividade, entre ambos os municípios, são muito dispares. Enquanto que o setor 3 do
município de Alto Feliz apresenta um percentual de 47,22, o município de São Vendelino, em seu
setor 4, possui um percentual de 21,50 (Tabela 2). Constata-se, porém, que o município de São

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 9
Apostila Pag.354
Vendelino possui população mais alfabetizada, menor população de baixa renda, maior número e
média de moradores por setor e setores com menos população dependente do que Alto Feliz.
Assim, como identificado no trabalho de Goerl et al. (2012), constatou-se uma relação direta
entre algumas variáveis analisadas, pois a distribuição espacial de maior representatividade se
concentra em duas unidades diferenciais, central e periférica. Embora apresente uma
heterogeneidade na distribuição espacial dos parâmetros, constatou-se uma correlação entre as
seguintes variáveis: população dependente, taxa de analfabetismo e população de baixa renda.
Porém, acrescenta-se que a variável população dependente foi mais representativa no setor 8
(Figura 2d) e no setor 3 (Figura 3d) nos municípios de Alto feliz e São Vendelino, respectivamente.
A taxa de analfabetismo foi mais significativa nos setores 3 e 8 de Alto Feliz (Figura 2e), e no setor
4 do município de São Vendelino (Figura 3e).
Ao confirmar a relação direta de algumas variáveis, a sobreposição alternada foi uma
alternativa encontrada para verificar a possibilidade de reduzir o número de variáveis ou melhorar
os resultados na identificação das áreas mais vulneráveis por unidade censitária (Figuras 4 e 5).
Dessa forma, os gestores públicos poderão realizar o mapeamento de vulnerabilidade a desastres
naturais hidrológicos de forma rápida e eficiente.

Figura 4: Identificação do índice de vulnerabilidade com adoção dos parâmetros alternadamente, no


município de Alto Feliz, RS.

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 10
Apostila Pag.355
Figura 5: Identificação do índice de vulnerabilidade com adoção dos parâmetros alternadamente, no
município de São Vendelino, RS.

Com a integração aleatória das variáveis, constatou-se que, no município de Alto Feliz, todas
as figuras síntese, com exceção a 4b e 4e, apontam como área mais vulnerável os setores 8 e 3. Isso
se deve a relação direta entre algumas variáveis analisadas, embora ocorra certa heterogeneidade na
distribuição espacial dentro de um mesmo setor. A partir da análise conjunta das variáveis
população dependente, taxa de analfabetismo, média de moradores e baixa renda (Figura 4f), nota-
se que os setores centrais, situados na zona urbana, apresentam a menor vulnerabilidade, mesmo
excluindo-se a variável média de moradores, como pode ser verificado na Figura 4a.
Verificou-se que a densidade demográfica é um parâmetro que tende a influenciar na
determinação da área de maior vulnerabilidade no município. Ao incluir essa variável na avaliação,
as áreas de maior vulnerabilidade passaram a ocorrer nos setores centrais do município de Alto
Feliz (Figuras 4b e 4e).
O município de São Vendelino seguiu a mesma tendência, pois apresentou certa
homogeneidade com relação aos resultados de Alto Feliz As áreas mais vulneráveis ocorrem na
zona rural e menos vulneráveis concentram-se na zona urbana, porção nordeste e central,
respectivamente, (Figuras 5a, 5c, 5d e 5f). Salienta-se que isso ocorre sem a inclusão da densidade
demográfica. Porém, no momento da inclusão dessa variável, a zona urbana torna-se a mais

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 11
Apostila Pag.356
vulnerável. Isso demonstra que a definição das variáveis é extremamente importante na análise da
vulnerabilidade.
Aplicando a equação do índice de vulnerabilidade, todos os parâmetros para o município de
Alto Feliz (Figura 6) e São Vendelino (Figura 7) foram contemplados. As classes adotadas foram:
muito baixa, baixa, média, alta e muito alta vulnerabilidade para o município de Alto Feliz, sendo
esse um diferencial metodológico de Goerl et al. (2012) pelo fato dos autores não incluírem a classe
muito baixa aos diferentes níveis. Entretanto, para o município de São Vendelino, foram definidas
as mesmas classes que Goerl et al.(2012) utilizaram.

Figura 6: Espacialização da vulnerabilidade no município de Alto Feliz, RS.

Analisando os índices de vulnerabilidade de Alto Feliz, os setores que apresentaram índice de


vulnerabilidade muito alta foram os setores centrais 1 e 6, ambos da zona urbana. Por outro lado, o
setor que apresentou vulnerabilidade muito baixa foi o 7, situado na zona rural. Para o município de
São Vendelino (Figura 7), a área de maior vulnerabilidade também se concentra na parte central,
nos setores 1 e 2, ambos na zona urbana.

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 12
Apostila Pag.357
Figura 7: Espacialização da vulnerabilidade no município de São Vendelino, RS.

Por meio da espacialização da vulnerabilidade, constatou-se que os setores prioritários para


ações públicas no município de Alto Feliz são os setores 1 e 6 e para São Vendelino o setor 1. Esses
setores merecem maiores investimentos e atenção por parte dos gestores municipais na prevenção
de desastres naturais.
Ao confrontar os resultados dos dois municípios da análise feita de forma separada, utilizando
os mesmos parâmetros, verificou-se que as áreas mais vulneráveis ocorrem na zona urbana em
ambos. Porém, o desafio consiste em integrar os municípios em uma única unidade para verificar
qual o município apresenta a área mais vulnerável e onde essa área se concentra.
Com a integração dos municípios de Alto Feliz e São Vendelino (Figura 8) verificou-se que a
área de vulnerabilidade muito alta ocorreu somente na zona urbana de São Vendelino. Isso
demonstra que a vulnerabilidade varia com essa integração, uma vez que os valores dos parâmetros
são redistribuídos nas classes.
A vulnerabilidade alta ocorre tanto no município de São Vendelino (setor 1) como em Alto
Feliz (setores 1, 5 e 6). Os setores 1 e 6 de Alto Feliz, que isoladamente apresentaram

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 13
Apostila Pag.358
vulnerabilidade muito alta, passaram a uma classe inferior com a integração dos dois municípios, ou
seja, de muito alta para alta vulnerabilidade.

Figura 8: Vulnerabilidade dos municípios de São Vendelino e Alto Feliz, RS.

Analisando a classe de vulnerabilidade média, nota-se que somente ocorrem no município de


Alto Feliz (setores 4 e 2), assim como a vulnerabilidade muito baixa (setores 8 e 7). Entretanto, a
vulnerabilidade baixa é encontrada tanto em São Vendelino (setores 3 e 4) quanto em Alto Feliz
(setor 3). Portanto, confirmou-se que São Vendelino não apresenta vulnerabilidade muito baixa, em
relação a Alto Feliz (Tabela 3).

Tabela 3: Classes de vulnerabilidade obtidas com a integração dos municípios.


Alto Feliz São Vendelino
Vulnerabilidade Setores
Muito baixa 7e8 -
Baixa 3 3e4
Média 2e4 -
Alta 1, 5 e 6 2
Muito alta - 1

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 14
Apostila Pag.359
A partir do mapeamento integrado dos dois municípios, constatou-se que Alto Feliz concentra
setores de vulnerabilidade alta, média, baixa e muito baixa. Já no município de São Vendelino
encontram-se somente setores de vulnerabilidade muito alta, alta e baixa.

4. CONCLUSÕES

O mapeamento da vulnerabilidade frente a desastres naturais demonstrou que, embora


aplicada a mesma metodologia de Goerl et al. (2012), alterando-se somente o método de
classificação, os resultados variaram. No município de São Vendelino, as classes de vulnerabilidade
adotadas foram iguais as de Goerl et al. (2012). Porém, os resultados demonstraram que a área mais
vulnerável ocorre na parte central, enquanto que Goerl et al. (2012) constataram que ocorre nas
porções periféricas dos setores censitários. Cabe destacar que a metodologia de Goerl et al. (2012)
foi aplicada somente na área urbana, e no presente trabalho foi utilizada em todo município, tanto
zona rural quanto urbana.
A metodologia aplicada para os municípios de forma isolada apontou que as áreas mais
vulneráveis se concentraram na zona urbana. Ao integrar os dois municípios, observaram-se
resultados divergentes, principalmente pela ausência de algumas classes.
Ao confirmar a relação direta de algumas variáveis, a sobreposição alternada foi uma
alternativa encontrada para verificar a possibilidade de reduzir o número de variáveis ou melhorar
os resultados na identificação das áreas mais vulneráveis por unidade censitária.
A metodologia deve ser utilizada com muito cuidado por ser muito relativa, pois os resultados
dependem da área escolhida. Os resultados para um único município, um conjunto de municípios,
bacia hidrográfica ou um Estado tendem a variar. Sendo assim, sugerem-se estudos aplicando a
referida metodologia para essas diferentes áreas como forma comparativa dos graus de
vulnerabilidade.
Em nível municipal, a aplicação da metodologia estudada possibilita aos técnicos das
prefeituras realizarem mapeamentos de vulnerabilidade a desastres naturais hidrológicos de forma
rápida e eficiente. Dessa forma, os gestores públicos poderão realizar investimentos nos setores
prioritários para prevenir a ocorrência de vítimas fatais.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq pelo auxílio na


Pesquisa do projeto “Aperfeiçoamento metodológico de mapeamento de risco a desastres naturais
na Bacia do Rio Caí/RS”.

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 15
Apostila Pag.360
BIBLIOGRAFIA

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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 17
Apostila Pag.362
8 FLUXO DE DETRITOS

GEAN PAULO MICHEL


MASATO KOBIYAMA

Atualmente, os fluxos de detritos têm causado inúmeras mortes em todo o mundo. No


Brasil, a ocorrência de desastres causados por esse fenômeno está aumentando, e,
consequentemente, seu estudo tem se intensificado. Mesmo assim, ainda observa-se que
poucas pesquisas têm sido destinadas a abordar os fatores relacionados a tal fenômeno. A
comunidade brasileira precisa, urgentemente, organizar-se para estimular a criação de grupos
de pesquisas e a realização de eventos cientificos relacionados a estes fenômenos, para, por
conseguinte, aumentar o número de pesquisadores e de publicações científicas.
Aqui apresenta-se alguns trabalhos voltados ao estudo dos fluxos de detritos:

• KOBIYAMA, M.; MICHEL, G.P. Histórico de ocorrência de fluxos de detritos e seus


estudos no Brasil. In: XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos (2014: João
Pessoa) João Pessoa: ABRH, Anais, 2014. 20p. (submetido)
• KOBIYAMA, M.; SILVA, R.V.; CHECCHIA, T.; ALVES, A. Mapeamento de área
de perigo com consideração do alcance da massa deslizada: Estudo de caso. In: 1
Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais (2004: Florianópolis). Florianópolis:
GEDN/UFSC, Anais, 2004. p.117 – 128. (CD-rom)
• GOERL, R.F.; KOBIYAMA, M.; CORREA, G.P.; ROCHA, H.L.; GIGLIO, J.N.
Desastre hidrológico resultante das chuvas intensas em Rio dos Cedros – SC. In XVIII
Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos (2009: CampoGrande) Campo Grande:
ABRH, Anais, 2009. CD-rom. 19p.
• KOBIYAMA, M.; GOERL, R.F.; CORREA, G.P.; MICHEL, G.P. Debris flow
occurrences in Rio dos Cedros, Southern Brazil: meteorological and geomorphic
aspects. In: WRACHIEN, D.; BREBBIA, C.A. (Orgs.) Monitoring, Simulation,
Prevention and Remediation of Dense Debris Flows III. Southampton: WITpress,
2010. p.77-88.
• ROCHA, H.L.; MICHEL, G.P.; KOBIYAMA, M. Aplicação do modelo FLO-2D para
simulação de fluxos de detirtos na bacia do rio Cunha, Rio dos Cedros/SC. In: XI
Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos (2014: João Pessoa) João Pessoa:
ABRH, Anais, 2014. 20p. (submetido)
• MICHEL, G.P.; KOBIYAMA, M. GOREL, R.F. Effectiveness analysis of small
artificial reservoir for reducing sediment delivery due to debris flow with KANAKO
model. In: 6th International Conference on Debris-Flow Hazards Mitigation:
Mechanics, Prediction and Assessment (2015: Tsukuba) Tsukuba, Proceedings, 2015.
1p. (aceito)

Apostila Pag.363
HISTÓRICO DE OCORRÊNCIA DE FLUXOS
FLUXO DE DESTRITOS E SEUS
ESTUDOS NO BRASIL
Masato Kobiyama1 & Gean Paulo Michel2

RESUMO --- Considerando o fluxo de detritos como um fluxo altamente destrutivo composto por
uma mistura de sedimento e água, o presente trabalho realizou um levantamento de estudos técnico-
técnico
científicos disponíveis na internet que abordaram fluxos de detritos ocorridos no Brasil no período
de 1900-2013.
2013. Embora exista um aumento na ocorrência destes fenômenos a partir da década de 90,
que resultou no aumento do número de publicações, este número ainda é pequeno, especialmente
em revistas cientificas. A análise histórica dos estudos no Brasil demonstra a situação atual no país
e traz diversas ações que deveriam ser implementadas urgentemente. Dentre ntre elas, destacam-se
destacam (1)
estabelecimento de conceito e terminologia; (2) sistematização de monitoramento
hidrometeorológico e levantamento
vantamento topográfico; (3) registros de ocorrências e construção de banco
de dados; e (4) pesquisas sobre fluxo de detritos lenhosos.

ABSTRACT --- Considering the debris flow as highly-destructive


highly destructive flow of mixture of sediment and
water in a way where it is a gravity-governed
gravity governed continuous flow, the present work conducted a Web
survey of technical-scientific
scientific studies that treated these phenomenons which occurred in Brazil
during the period 1900-2013.
2013. Although the increase of occurrence from the 90´s decade caused
cause the
increase in the number of publication, there is still a small number of publications, especially in
scientific journals. A historical analysis about Brazilian studies demonstrates an actual situation in
Brazil and lets us know various necessary and urgenturgent actions. Among them, the more important
actions are: (1) establishment of terminology and concept about debris flow in Brazil; (2)
systematization of hydrometeorological monitoring and topographic survey; survey (3) occurrence
registration and data-base construction;
struction; and (4) woody debris flows researches.

Palavras-chave: fluxo de detritos, estudos científicos, histórico.

1
Professor Dr. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
masato.kobiyama@ufrgs.br
2
Doutorando. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
geanpmichel@gmail.com

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 1

Apostila Pag.364
INTRODUÇÃO

Os fluxos de detritos (debris flows) cada vez mais vêm causando graves prejuízos à sociedade
e ao meio ambiente tanto no Brasil quanto no mundo. Isto implica na importância de se desenvolver
um maior número de pesquisas para compreender os mecanismos de tais fenômenos naturais e as
medidas necessárias para reduzir os desastres relacionados aos mesmos. Nestas circunstâncias, a
International Conference on Debris-Flow Hazards Mitigation: Mechanics, Prediction and
Assessment foi realizada em San Francisco (EUA) em 1997, Taipei (Taiwan) em 2000, Davos
(Suíça) em 2003, Chengdu (China) em 2007, e Pádova (Itália) em 2011. Sua sexta edição será em
Tsukuba (Japão) em 2015. Um evento similar chamado International Conference on Monitoring,
Simulation, Prevention and Remediation of Dense and Debris Flow foi realizado quatro vezes: em
Rhodes (Grécia) em 2006, New Forest (Inglaterra) em 2008, Milano (Itália) em 2010 e Dubrovnik
(Croácia) em 2012.

Antigamente, cientistas que se dedicavam ao estudo dos fluxos de detritos não tinham
nenhuma oportunidade de ver este fenômeno ao vivo. Então, as informações eram extraídas de
depoimentos de um número reduzido de testemunhas e de observações da área de deposição do
fluxo de detritos após sua ocorrência. Então, de fato, os cientistas podiam apenas imaginar como o
fluxo se desenvolvia. Okuda et al. (1977) mostraram pela primeira vez ao mundo uma filmagem de
um fluxo de detritos, o que significativamente facilitou o entendimento dos mecanismos do mesmo.
Neste sentido, a contribuição do trabalho de Okuda e seu grupo foi bastante significativa.

Uma obra intitulada "Debris flows" de Takahashi (1991), publicada na série de monografias
da International Association of Hydraulic Engineering and Research (IAHR), foi o primeiro livro
escrito no mundo que exclusivamente abordava esse fenômeno sistematicamente e representou um
grande estímulo para a comunidade científica. Hoje existem diversos livros que tratam
exclusivamente deste fenômeno (por exemplo, Armanini & Michiue, 1997; Jacob & Hungr, 2005;
Takahashi, 2007), além de artigos em forma de revisão (Innes, 1983; Davies et al., 1992; Hutter et
al., 1996; Coussot & Meunier, 1996; Iverson, 1997; Iverson et al., 1997; Hungr et al., 2001;
Vandine & Bovis, 2002; Takahashi, 2009).

Analisando os desastres relacionados a escorregamentos, Petley (2012) e Sepúlveda & Petley


(submetido) demonstraram uma tendência onde países que possuem elevado número de publicações
de artigos científicos sobre escorregamentos sofrem menos com estes desastres. Isso indica que a
sociedade brasileira também precisa avançar mais em seus estudos relacionados a fluxos de detritos
a fim de reduzir os desastres gerados pelos mesmos.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 2

Apostila Pag.365
Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar o conceito de fluxo de detritos e realizar
uma investigação histórica e quantitativa sobre trabalhos técnico-científicos que abordaram tal
fenômeno no Brasil. Segundo Alexander (1989), o fluxo de detritos é o tipo mais destrutivo dentre
os movimentos de massa, responsável por causar o maior número de mortes na área urbana. Esta
constatação provavelmente ainda hoje é verdadeira no Brasil e também no mundo.

TERMINOLOGIA E CONCEITOS

Takahashi (2007) definiu o fluxo de detritos como um fluxo composto por uma mistura de
sedimento e água que flui continuamente por ação da gravidade, e comentou que tal fenômeno tem
enorme mobilidade. Segundo Iverson (2004), o fluxo de detritos é um fenômeno transicional de
movimento de massa cujas características alternam-se entre escorregamento e inundação. Coussot
& Meunier (1996) consideraram que o fluxo de detritos é um fenômeno intermediário entre fluxo
hiperconcentrado e escorregamento. Justamente por seu caráter transicional ou intermediário,
existem diversas definições, e consequentemente imprecisões.

Devido à natureza de fluxo e de transição, diversos trabalhos procuraram estabelecer


diferenças entre fluxos de detritos e outros similares, por exemplo, Costa (1988) tentou diferenciar
fluxos de detritos, fluxos hiperconcentrados e inundações. Imaizumi et al. (2008) diferenciou fluxos
de detritos de escorregamentos. De quaisquer formas, existem diversas tentativas de estabelecer
conceitos relacionados a este fenômeno. A Tabela 1 mostra alguns exemplos.

O fluxo de detritos é muito comum na região montanhosa. No Japão, “doseki-ryu” que


significa fluxo de solo-rocha e “yama-tsunami” que significa tsunami de montanha são termos que
correspondem a “debris flow”. No Brasil, os termos que correspondem a “debris flow” são diversos,
constituídos por uma combinação de termos que substituem a palavra fluxo
(corrida/movimento/torrente) e a palavra detritos (escombros/massas), ou seja, fluxo de detritos,
fluxo de escombros, corrida de detritos, corrida de escombros, corrida de massa, entre outros.

Conforme o dicionário HOUAISS, “escombros” são entulhos ou destroços, e “detritos” são


resíduos de alguma substância, sendo que na geologia, são “sedimentos ou fragmentos
desagregados de uma rocha, que irão constituir os depósitos sedimentares”. Embora o dicionário
MICHAELIS traduza “debris” como escombros, entulhos e fragmentos, o presente trabalho usa o
termo técnico “fluxo de detritos” como a tradução mais adequada para “debris flow”.

De fato, é necessário discutir as características do material que flui, isto é, “debris”, traduzido
no presente trabalho como detritos. Hungr et al. (2001) definiram os detritos como materiais soltos

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Apostila Pag.366
e não uniformizados de baixa plasticidade. Texturalmente, os detritos são uma mistura de areias,
seixos, matacões, e siltes. Muitas vezes, os detritos podem conter materiais orgânicos como troncos,
galhos, entre outros. Para Cruden & Varnes (1996), há dois tipos de materiais que constituem os
fluxos: detritos (debris) e terras (earth). Os detritos são solos que contém seixos e outras partículas
de tamanhos grosseiros em uma proporção maior que 20%, enquanto as terras seriam compostas por
esta proporção menor que 20%.

Tabela 1 – Diferentes conceitos elaborados para definir os fluxos de detritos.

Autores Conceitos
Varnes (1978) O fluxo é o movimento rápido de material viscoso. Existe o fluxo de
detritos, fluxo de lama e avalanche de rochas, dependendo da natureza do
material envolvido no movimento.
Costa (1988) O fluxo de detritos é fluido não newtoniano viscoplástico ou dilantante
fluindo de maneira laminar e com perfil de concentração de sedimento
uniforme. A concentração de sedimento varia de 70 a 90% do peso total (47
a 77% do volume). A tensão cisalhante é maior que 400 dinas/cm2.
Jan & Shen (1997) O fluxo de detritos é um fluxo gravitacional de material composto por uma
mistura de solo, rocha, água e/ou ar, oriundo de escorregamento com
elevada quantidade de escoamento superficial. Suas propriedades variam de
acordo com a quantidade de água e argila, tamanho do sedimento e
distribuição granulométrica.
USGS (1997) Os fluxos de detritos são escorregamentos de movimento rápido, os quais
ocorrem nos mais diversos locais do mundo. Eles são particularmente
perigosos à vida e à propriedade, pois se movimentam abruptamente e
destroem objetos no seu caminho, além de frequentemente ocorrerem sem
alerta.
Vandine & Bovis, O fluxo de detritos é um tipo de movimento de massa, o qual envolve o
(2002) movimento rápido dos materiais orgânico e inorgânico (predominantemente
materiais grosseiros), saturados pela água em canal confinado e declivoso.
Imaizumi et al. Os movimentos de massa são divididos em dois tipos: de encostas e de
(2008) canais. Os movimentos de encostas e de canais são considerados
escorregamentos e fluxos de detritos, respectivamente.
IRDR (2014) O fluxo de detritos é um tipo de escorregamento que ocorre quando uma
chuva intensa provoca a descida de uma grande quantidade de detritos
(troncos, rochas, lamas, etc.) em encostas por ação da força gravitacional.
Hungr et al. (2014) O fluxo de detritos é um fenômeno muito perigoso nas regiões
montanhosas. Este fenômeno se difere dos outros tipos de escorregamento
por ocorrer periodicamente em trajetos estabelecidos, normalmente
voçorocas, e canais de primeira ou segunda ordem.

Como o fluxo de detritos é um fenômeno causador de desastres, ele pode ser tratado do ponto
de vista de desastres naturais e de defesa civil. Em 2008, o Emergency Disaster Data Base (EM-
DAT) do Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), órgão parceiro da
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Apostila Pag.367
Organização Mundial da Saúde, reclassificou os tipos de desastres em dois grandes grupos: naturais
e tecnológicos (Scheuren et al., 2008). Os naturais foram divididos em seis sub-grupos: biológicos,
geofísicos, climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrenos (meteoritos), e estes, por
sua vez, em outros doze subtipos. Esta nova classificação resultou de uma iniciativa entre os dois
principais bancos de dados de desastres, o CRED e a Munich Reinsurance Company (MunichRe),
os quais decidiram adotar uma classificação em comum para os seus respectivos bancos de dados
(Below et al., 2009).

A principal mudança foi a separação dos movimentos de massa em dois tipos: seco e úmido.
O primeiro está associado apenas aos eventos geofísicos (terremotos) e o segundo aos
condicionantes hidrológicos (lençol freático). Independente da origem, tais movimentos de massa
são comumente chamados de escorregamentos. A UN-Intenational Strategy for Disaster Reduction
(UNISDR) também adotou a nova classificação, visto que o EM-DAT é o principal banco de dados
utilizado pela ONU, como observado em UNDP (2004). Além disso, uma atualização posterior da
classificação utilizada CRED foi realizada, na qual não se encontra mais os desastres extraterrenos
(Guha-Sapir et al., 2012). Assim sendo, a Tabela 2 mostra sucintamente o resumo das classificações
antiga e atual dos desastres naturais estabelecidas pelo CRED e ONU. Nesta classificação, o fluxo
de detritos faz parte dos movimentos de massa úmida. Isto significa que o fluxo de detritos é
considerado um tipo de desastre hidrológico pela ONU.

Tabela 2 – Classificações antiga e atual dos desastres naturais no CRED - ONU

Classificação antiga Classificação atual Principais tipos


Geológico Geofísico Terremotos, vulcões, movimentos de massa (seca)
Meteorológico Tempestades
Hidrometeorológico Hidrológico Inundações, movimentos de massa (úmida)
Climatológico Temperaturas extremas, secas, incêndios
Biológico Biológico Epidemias, pragas, infestações de insetos

Recentemente, Brasil (2012) lançou a Lei 12.608/12 que institui a Política Nacional de
Proteção de Defesa Civil (PNPDEC). Em decorrência do histórico brasileiro, com grandes prejuízos
associados aos desastres naturais, no texto da PNPDEC encontram-se vários aspectos, citações, e
intenções que se relacionam com os recursos hídricos e seu gerenciamento. Como Venderuscolo &
Kobiyama (2007) apontaram, as interfaces entre a PNPDEC e a Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH), que foi estabelecida pela Lei nº 9.433/97 (Brasil, 1997), devem ser analisadas
mais detalhadamente.

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Apostila Pag.368
Para uma melhor explanação de alguns aspectos da PNPDEC, Ministério da Integração
Nacional (2012) publicou Instrução Normativa No. 01. Nesta Instrução Normativa, encontram-se
vários fragmentos de texto onde o governo federal expressa a maneira como realizará a
classificação brasileira dos desastres naturais:

“Art. 7º A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil adotará a classificação


dos desastres constante do Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-
DAT), do Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres (CRED) da
Organização Mundial de Saúde (OMS/ONU) e a simbologia correspondente.”

“Art. 8º Para atender à classificação dos desastres do Banco de Dados


Internacional de Desastres (EM-DAT), a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa
Civil passa a adotar a Codificação Brasileira de Desastres – COBRADE, que
segue como Anexo I desta Instrução Normativa.”

“ANEXO I – CLASSIFICAÇÃO E CODIFICAÇÃO BRASILEIRA DE


DESASTRES (COBRADE) .......... Adequar a classificação brasileira à
classificação utilizada pela ONU representa o acompanhamento da evolução
internacional na classificação de desastres e o nivelamento do país aos demais
organismos de gestão de desastres do mundo. Além disto, a classificação adotada
pela ONU é mais simplificada do que a Codificação dos Desastres (CODAR)
utilizada hoje pelo SINDEC.”

A partir das três expressões acima citadas, fica nítido que o governo federal tinha a intenção
de tornar a classificação e codificação brasileira (COBRADE) muito semelhante à classificação
internacional utilizada pela ONU, embora a classificação brasileira seja mais detalhada. Entretanto,
pode-se dizer que a classificação brasileira não acompanha a alteração da classificação realizada
pelo CRED, e mantém um estilo mais próximo à classificação antiga (Tabela 3).

Como já mencionado acima, na classificação internacional, o fluxo de detritos corresponde a


um tipo de escorregamento que se enquadra na categoria de movimentos de massa úmida, que por
sua vez pertence à classe de desastres hidrológicos. Por outro lado, na Classificação e Codificação
Brasileira de Desastres (COBRADE), é a categoria de desastres geológicos que inclui os
movimentos de massa que, por sua vez, englobam, entre outros, os deslizamentos e as corridas de
massa. Aqui salienta-se que a COBRADE usa os termos deslizamentos e corridas de massa em vez
de escorregamentos e fluxos de detritos, respectivamente. Estas corridas de massa subdividem-se
em dois tipos: solo/lama e rocha/detrito cujos COBRADEs são 1.1.3.3.1 e 1.1.3.3.2,

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Apostila Pag.369
respectivamente. Assim, observa-se que a classificação brasileira não coincide com a classificação
internacional em relação aos fluxos de detritos. Como este fenômeno é um tipo de movimento de
massa úmida, para respeitar o Art. 7º do PNPDEC, os fluxos de detritos deveriam ser classificados
como desastres hidrológicos. Aqui vale lembrar que Kobiyama et al. (2010a) mostraram que dentre
todos os tipos de desastres naturais, os desastres hidrológicos (inundações + escorregamentos) são
os que acarretam em maiores problemas tanto no Brasil quanto no mundo.

Tabela 3 – Diferenças entre as classificações brasileira e internacional dos desastres naturais.

Classificação Brasileira Classificação Internacional

Classe Exemplo Classe Exemplo


• Terremotos • Terremoto
• Vulcanismos • Vulcanismo
Geológico Geofísico
• Movimentos de massa • Movimentos de massa
• Erosão (seca)
• Sistemas de grande escala
Meteorológico • Tempestades Meteorológico • Tempestades
• Temperaturas extremas
• Inundações • Inundações
Hidrológico • Enxurradas Hidrológico • Movimentos de massa
• Alagamentos (úmida)
• Temperaturas extremas
Climatológico • Secas Climatológico • Secas/estiagens
• Incêndios
• Epidemias
• Epidemias
Biológico Biológico • Infestações de insetos
• Infestações/pragas
• Debandadas de animais

Em relação ao fenômeno em si, ao tipo de material que flui, à categoria de desastre associado
a tal fenômeno, entre outros, encontra-se uma grande variedade de terminologias e conceitos.
Brunsden (1979) comentou que a terminologia e a classificação dos fluxos de detritos não são
satisfatórias. A análise bibliográfica realizada pelo presente estudo mostra que este problema ainda
hoje permanece na comunidade cientifica. Além da complexidade e dificuldade na identificação dos
fenômenos, a não concordância administrativa torna o levantamento de trabalhos na literatura uma
tarefa bastante ainda mais onerosa e complicada.

Com base em todos os exemplos acima mencionados, o presente estudo usa o termo técnico
“fluxo de detritos” como correspondente ao termo inglês debris flow, e define-o como um

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fenômeno de fluxo que se dá a partir da ocorrência de um escorregamento de solo e rocha. Devido à
fluidez da mistura, seu alcance frequentemente é elevado, entretanto o presente trabalho não discute
este valor detalhadamente.

MATERIAIS E MÉTODOS

Considerando a diversidade de termos (fluxos de detritos, fluxos de escombros, corridas de


massa, escorregamentos, deslizamentos, etc.), o presente realizou uma busca nos bancos de dados
disponíveis na Internet, de trabalhos de conclusão de curso (TCC), dissertações e teses elaborados
nas universidades brasileiras. Também foram buscados artigos publicados em encontros científicos,
revistas e livros internacionais e nacionais na área de geociências e engenharias, buscando
colecionar o maior número possível de trabalhos que abordaram os fluxos de detritos, tanto em
português quanto em inglês.

As informações contidas em cada trabalho, por exemplo, descrição do fenômeno e fotos,


também foram utilizadas para julgar se o tema do trabalho realmente estava relacionado aos fluxos
de detritos. No caso de algum trabalho abordar somente escorregamentos translacionais, por
exemplo, este não foi considerado como uma publicação relacionada a fluxos de detritos, sendo
excluído da análise final realizada pelo presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSÃO

Registro antigo
Takahashi (1983) relatou que Schlumberger (1882) elaborou um dos primeiros relatos sobre
fluxos de detritos na literatura mundial. Buscando na literatura brasileira antiga, um relato do Padre
Anchieta descrevendo sua experiência em Piratininga em 1560 foi encontrado (Corrêa Filho, 1954):

“........., caiu com tanta violência que parecia ameaçar-nos o Senhor com a
destruição; abalou as casas, arrebatou os telhados e derribou as matas; a
árvores de colossal altura arrancou pelas raízes, partiu pelo meio outras
menores, despedaçou outras, de tal maneira que ficaram obstruídas as estradas, e
nenhuma passagem havia pelos bosques, era para admirar quantos estragos de
árvores e casas produziu no espaço de meia hora........”

Observa-se que essa descrição possivelmente relata a ocorrência de um evento chuvoso de grande
magnitude seguido de um ou uma série de fluxos de detritos (ou lamas). Portanto, esse registro pode

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Apostila Pag.371
ser considerado o mais antigo relacionado a este fenômeno no Brasil. Depois dele,
d várias pessoas
registraram os fluxos de detritos de forma mais ou menos científica.

Análise histórica
No levantamento realizado através de buscas na
n Internet e também em bibliotecas,
bibliotecas
encontraram-se, no total, 151 trabalhos que foram publicados no período de 1949 até 2013. A
descrição de todas as publicações encontra-se
encontra em Kobiyama & Michel (2014). Embora o período de
investigação estenda-se
se a partir do início do século XX, nenhum trabalho técnico-científico
técnico foi
encontrado até o ano de 1949. Observou-se
se que muitos trabalhos brasileiros,
brasileiros direta ou
indiretamente, adotam a classificação de Varnes (1978). A Figura 1 mostra o número de trabalhos
dividido em quatro categorias: livros; artigos em revistas; artigos em anais; e monografias (TCC,
dissertação, tese, e relatório técnico).
técnico Observa-se claramente que a maior parte das
da publicações é de
artigos em anais. Isto implica em uma qualidade limitada da produção
o cientifica relacionada a tal
fenômeno no Brasil. Além disso, o número de livros científicos é pequeno,
pequeno o que demonstra a
dificuldade inerente ao estudo de tal assunto.

Figura 1 – Distribuição das publicações dos trabalhos científicos sobre fluxo de detritos no Brasil
no período de 1900-2013
1900 em diferentes categorias.

A Figura 2 apresenta a tendência histórica dos trabalhos no período de 1900 a 2013. Embora
várias publicações tenham sido realizadas no período de 1966 a 1975, na década de 90 iniciou-se
iniciou
um aumento significativo das publicações.

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Apostila Pag.372
Figura 2 – Histórico dos trabalhos científicos sobre fluxos
fluxo de detritos no Brasil no período de 1900-
1900
2013.

Analisando Marcelino et al. (2006) e Tominaga et al. (2009), entre


ntre outros, buscou-se
informação sobre ocorrências de fluxos
fluxo de detritos no Brasil no período 1900-2013.
1900 Pode-se dizer
que o mais antigo desastre causado por fluxo de detritos no Brasil, registrado tecnicamente,
tecnicamen
aconteceu em Santos em 1928, causando 80 mortes e destruição parcial do hospital Santa Casa.
Apesar disto, a comunidade cientifica não o investigou. Na Tabela 4,, observa-se
observa que no período
1966-1975
1975 ocorreram desastres relacionados a fluxos de detritos de grande porte. Além disso, a
partir da década de 90, fluxos de
d detritos que causam elevado número
mero de fatalidades vêm
acontecendo mais frequentemente. Observando a Figura 2 e a Tabela 4, pode--se dizer que o número
das publicações foi elevado com o aumento da ocorrência de fluxos de detritos.

Sugestões para ações necessárias no Brasil


A análise histórica dos estudos sobre fluxos de detritos no Brasil demonstra a situação atual e
traz diversas ações que deveriam ser implementadas urgentemente. Com
Com base no fato de que os
estudos sobre fluxos de detritos podem ser relevantes no entendimento do mecanismo de produção
de sedimentos e no gerenciamento de desastres naturais causados pelo mesmo, o presente trabalho
sugere (1) estabelecimento de conceito e terminologia padrão; (2) sistematização do monitoramento
hidrometeorológico e levantamento topográfico; (3) registro de ocorrências e construção de banco
de dados; e (4) pesquisas sobre fluxos de detritos lenhosos.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 10

Apostila Pag.373
Tabela 4 – Desastres com fluxo de detritos no Brasil (1900-2013).

Ano Local N° de mortes (aproximado)


1928 Santos (SP) 80
1948 Vale do Paraíba (SP/RJ) 250
1956 Santos (SP) 64
1966 Rio de Janeiro (RJ) 100
1967 Serra das Araras (RJ) 1700
1967 Caraguatatuba (SP) 120
1971 Salvador (BA) 104
1972 Campos do Jordão (SP) 10
1974 Tubarão (SC) 40
1986 Lavrinhas (SP) 11
1988 Cubatão (SP) 10
1988 Petrópolis (RJ) 171
1988 Rio de Janeiro (RJ) 30
1989 Salvador (BA) 100
1990 Blumenau (SC) 14
1992 Contagem (MG) 36
1995 Timbé do Sul (SC) 29
2001 Petrópolis (RJ) 51
2008 Vale do Itajaí (SC) 135
2010 Angula dos Reis (RJ) 30
2011 Serra Fluminense (RJ) 978
2013 Petropolis (RJ) 33
Modificação de Marcelino (2003) e Rosa Filho & Cortez (2008)

Estabelecimento de conceito e terminologia padrão


Embora o presente estudo adote o termo fluxo de detritos, a Defesa Civil no Brasil utiliza o
termo corrida de massa, estabelecido pela COBRADE. Em termos de desastre, este fenômeno é
classificado como hidrológico pelo CRED (nível internacional) e como geológico pela COBRADE
(nível nacional). Assim, existe uma divergência na terminologia e conceito relacionados a este
fenômeno.

Os fluxos de detritos possuem um caráter transicional e de fluidez. Assim, na comunidade


cientifica, encontra-se subjetividade na sua definição, identificação e descrição. Para reduzir a
subjetividade na identificação destes fenômenos, poderiam ser utilizados como critério diversos
trabalhos, por exemplo, Wilford et al. (2004) que consideraram o fluxo de detritos, a inundação de
detritos e a inundação como processos hidrogeomorfológicos e buscaram um método quantitativo
para diferenciá-los através da morfometria. Este tipo de metodologia quantitativa será cada vez mais
procurado no Brasil, a fim de melhorar a metodologia de registro. Como o ambiente brasileiro é

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 11

Apostila Pag.374
caracterizado por alta temperatura, pluviosidade e biodiversidade, os fluxos de detritos que aqui
ocorrem podem ser diferentes daqueles que ocorrem fora do Brasil, especialmente na Europa e
América do Norte. Justamente por isso, a comunidade cientifica brasileira deve discutir ainda mais
a terminologia e o conceito utilizados.

Sistema de monitoramento hidrometeorológico e levantamento topográfico


É comumente dito que chuvas intensas podem causar fluxos de detritos (Znamensky, 2014).
Justamente por isso, a chuva necessária para originar fluxos de detrito (por exemplo, Suzuki et al.,
1979; Suzuki & Kobashi, 1981; Kobashi & Suzuki, 1987; Wieczorek & Glade, 2005) e
escorregamentos (por exemplo, Tatizana et al., 1987; Michel et al., 2014) é um dos temas principais
abordados atualmente na ciência e tecnologia voltada ao gerenciamento de desastres.

Para se avançar ainda mais, é necessário que se implemente um sistema de monitoramento


automático de chuva e vazão. Devido ao fato de que os fluxos de detritos são fenômenos que
ocorrem bruscamente, principalmente nas regiões montanhosas, esse sistema deve ser
implementado mais intensamente nas cabeceiras das bacias e preferencialmente deverá ter alta
intensidade temporal de coleta de dados (intervalos de medição igual a 10 minutos ou menor).

Os fluxos de detritos ocorrem quase sempre relacionados à chuvas intensas. Devido a este
fato, o CRED reformulou sua classificação de desastres naturais, inserindo os fluxos de detritos na
categoria de desastres hidrológicos. Então, o monitoramento hidrológico, especialmente de chuva,
deve ser ainda mais intensificado no Brasil.

A produção de sedimentos, associada a um evento do fluxo de detritos normalmente é


elevada, o que claramente pode ser observado em campo. Entretanto, o reconhecimento sobre uma
perspectiva mais quantitativa dos eventos ocorridos está longe se ser satisfatório. Isto ocorre devido
à falta de informações topográfica pré e pós evento. Então, as regiões mais declivosas, as quais
exibem uma maior tendência à ocorrência de fluxos de detritos, deveriam ser descritas
topograficamente com maior precisão e frequência. Além disso, a realização de levantamentos
topográficos nas zonas de iniciação, transporte e deposição de fluxos de detritos recém ocorridos
poderia prover informações importantes no avanço dos estudos que abordam o fenômeno.

Registros de ocorrências e construção de banco de dados


A ciência ou um estudo científico sobre um fenômeno quase sempre inicia a partir de
observações do mesmo. Por isso, para avançar a ciência dos fluxos de detritos, é fundamental
realizar o registro de todas as ocorrências, independente do evento ter causado um desastre. Existem

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Apostila Pag.375
diversas equações que foram estabelecidas somente a partir de bancos de dados contendo registros
de ocorrências. Por exemplo, a equação que relaciona o ângulo de percurso do fluxo com o volume
total de sedimento produzido (Corominas, 1996; Rickenmann, 1999). Como uma equação que
descreve a situação brasileira ainda não foi elaborada, Kobiyama et al. (2010b) compararam seu
resultado com fenômenos que ocorreram na Europa, usando uma figura de Rickenmann (2005).
Para verificar a semelhança entre a situação brasileira e a européia e/ou para gerar a própria equação
a fim de descrever a condição dos fluxos brasileiros, é imprescindível que um banco de dados
contendo registros de ocorrências de fluxos de detritos seja criado e disponibilizado totalmente a
todos interessados.

Na elaboração dos registros e construção de banco de dados, é necessário que alguns


parâmetros mínimos sejam apontados. Existem, de maneira geral, sugestões e manuais para
registros de escorregamentos, por exemplo, o manual de Highland & Bobrowsky (2008) e
Corominas et al. (2014). Entretanto, um manual detalhado para registrar a ocorrência de fluxos de
detritos não foi encontrado. Regime pluviométrico, informação topográfica, e horário de ocorrência
são as características fundamentais a serem registradas. Além disso, caso for possível, informações
pedológicas, geológicas, sedimentológicas, reológicas, hidráulicas, e outras características
hidrológicas também devem ser registradas.

Pesquisas sobre fluxos de detritos lenhosos


Normalmente, os fluxos de detritos possuem uma mistura de duas fases (sedimentos e água).
No caso de uma região montanhosa coberta por floresta, os troncos representam uma presença
significativa. Entretanto, os efeitos dos troncos, ou ainda da vegetação em geral, nos mecanismos de
ocorrência dos fluxos de detritos ainda não são reconhecidos cientificamente de maneira satisfatória
(Lancaster et al., 2003; Stoffel & Wilford, 2013). Embora existam diversas tentativas de modelar a
dinâmica dos troncos no fluxo (Wallerstein, 2003; Mazzorana et al., 2011; Shrestha et al., 2012),
nenhum modelo ainda é capaz de fazê-lo satisfatoriamente. Para a condição de clima temperado,
Seo et al.(2010) realizaram uma revisão de literatura sobre a dinâmica dos troncos em nível de
bacias hidrográficas.

O clima tropical e subtropical do Brasil facilita o aumento tanto da biodiversidade quanto da


biomassa nas bacias, especialmente nas zonas ripárias. Como a vegetação ripária é muito rica, a
presença de vegetação e de troncos na ocorrência de fluxos de detritos pode ser excepcionalmente
significativa. Isto permite nos dizer que, quando ocorre um fluxo de detritos no Brasil, ele pode ser

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 13

Apostila Pag.376
categorizado como um fluxo de detritos lenhosos (woody debris flow). Assim, os estudos realizados
no Brasil devem enfocar a dinâmica dos troncos no contexto integral do fluxo de detritos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fluxos de detritos não ocorrem frequentemente. Porém, quando ocorrem, são capazes de gerar
grandes prejuízos e fatalidades. Portanto, a fim de reduzir desastres associados a fluxos de detritos,
diversas medidas são necessárias, dentre as quais destaca-se o registro e descrição de tal fenômeno
no momento de sua ocorrência e também a educação/conscientização previamente a sua ocorrência.
Para promover a educação relacionada aos fluxos de detritos, são necessários materiais didáticos
que por sua vez dependem da existência dos registros. Normalmente tais fenômenos ocorrem em
regiões montanhosas, por isso, cidadãos comuns precisam receber uma boa educação sobre o tema
para que possam registrá-los mais adequada e detalhadamente. Assim sendo, como Goerl et al.
(2012) comentaram que o fluxo de detritos pode ser um dos principais objetos de estudo da
hidrogeomorfologia; a geomorfologia, especialmente a hidrogeomorfologia, deve ser mais
difundida em todos os níveis de ensino no Brasil, e essa ciência deve avançar no entendimento de
tal fenômeno.

Devido à alta velocidade e enorme extensão, o fluxo de detrito é considerado um importante


agente geomorfológico. Sua ocorrência pode ser fonte de grande quantidade de sedimentos para a
rede fluvial (Gabet & Dunne, 2003). Segundo Benda et al. (2003), o fluxo de detritos altera a
morfologia fluvial e afeta ecologia aquática. A longo prazo, este fenômeno contribui
significativamente à produção de sedimentos e conseqüentemente à evolução de paisagem em
bacias declivosas (Stock & Dietrich, 2003). Justamente por isso, do ponto de vista técnico
(gerenciamento de desastres, conservação de água e solo, etc.) e científico (hidrologia,
geomorfologia, e hidrogeomorfologia), é necessário aumentar o número de estudos e publicações
relacionadas a fluxos de detritos a fim de popularizar e conscientizar a comunidade acerca de tal
fenômeno.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos membros do Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais (GPDEN)


do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul pela
discussão cotidiana sobre fluxo de detritos e também ao CNPq pela concessão de bolsas.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 14

Apostila Pag.377
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 20

Apostila Pag.383
MAPEAMENTO DE ÁREA DE PERIGO COM CONSIDERAÇÃO DO ALCANCE
DA MASSA DESLIZADA: ESTUDO DE CASO

MASATO KOBIYAMA1
ROBERTO VALMIR DA SILVA1
TATIANE CHECCHIA1
ALEXANDRE ALVES1
1
Depto. de Eng. Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina
Caixa Postal 476, Florianópolis – SC, Brasil. CEP 88040-900
{kobiyama, roberto, tatiane, alexandre}@ens.ufsc.br

KOBIYAMA, M.; SILVA, R. V.; CHECCIA, T.; ALVES, A. Mapeamento de áreas de perigo com
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(CD-ROM)

RESUMO
O movimento de massa é considerado um fenômeno natural e o principal formador da superfície terrestre.
Além disso, há mais prejuízos sócio-econômicos e ambientais nas áreas de deposição do que nas áreas de
ocorrência. Desta forma, as áreas de perigo não devem conter apenas as áreas de ocorrência, mas também as
áreas de deposição. Para tanto, os processos de iniciação, transporte e deposição devem ser estudados. Este
trabalho apresentou um método topográfico modificado para estimativa da distância de alcance máxima
alcançada pela massa deslizada. Esta técnica poderá melhorar a elaboração de mapas de áreas de perigo para
deslizamentos. Este método foi aplicado a uma região com potencialidade em deslizamentos, no município
de Florianópolis - SC. Duas áreas do local de estudo foram analisadas e as áreas de ocorrência de
deslizamento e deposição foram levantadas.
Palavras-chave: deslizamento, distância de alcance, mapa de perigo.

HAZARD MAP WITH CONSIDERATION ON LANDSLIDE RUNOUT DISTANCE: CASE STUDY

ABSTRACT
The mass movement is a natural phenomenon and is the main landscape-surface generator. It is noted that
there are more social, economic and environmental damages on the deposition areas in this phenomenon than
on the occurrence areas. That is why the hazard areas must content not only the occurrence areas, but also the
deposition areas. The initiation, transport and deposition processes have to be considered. This work presents
a modified topographic method to estimate the maximum runout distance of the slided mass. This method
will be able to improve the hazard maps confection. This method was applied to one region with potential
landslides, in Florianópolis City, Santa Catarina State. Two areas within the study region were analyzed and
both landslides areas and deposition areas were mapped.
Key-words: landslide, runout distance, hazard map.

1. INTRODUÇÃO
O movimento de massa em vertente é um fenômeno natural e faz parte da evolução
da paisagem. BIGARELLA (2003) colocou que este fenômeno é o mais importante
processo geomórfológico modelador da superfície terrestre. Portanto, viver com esse
fenômeno é inevitável. O aumento da população nas áreas urbanas causa as ocupações de
áreas inadequadas, obrigando a população ao convívio com esse fenômeno.
Recentemente, FERNANDES & AMARAL (1998), BIGARELLA (2003),
CHECCHIA et al. (2004) entre outros realizaram um levantamento bibliográfico da
termologia relacionada ao movimento de massa em encosta. Como FERNANDES &

Apostila Pag.384 117


AMARAL (1998) mencionaram, há uma grande confusão na literatura devido a diversas
definições de vários termos. Entretanto, observando esses levantamentos bibliográficos,
fenômenos relacionados a movimento de massa podem ser classificados a quatros tipos:
rastejamento (creep), quedas de blocos (rock fall), corrida ou enxurrada (debris flow), e
deslizamento ou escorregamento (landslide).
O rastejamento é um fenômeno bem lento e a energia destrutiva conseqüentemente
é menor que a dos demais tipos. Mesmo assim, o mecanismo do fenômeno tem chamado
atenção dos pesquisadores há muito tempo (SELBY, 1993). Mas não foi investigado onde
pode ocorrer este fenômeno. No caso de quedas de blocos, a preocupação maior é a
trajetória de bloco que cai na vertente. Por exemplo, GUZZETTI et al. (2002) realizaram
uma boa revisão sobre modelagem computacional desse fenômeno, propondo seu modelo
tridimensional (STONE) que trata desse fenômeno como cinemático.
Comparado com quedas de blocos, o fenômeno de corrida é bem mais complexo.
Normalmente ele é investigado em três aspectos: ocorrência (geração), fluxo
(transportação), e depósito (sedimentação). Como sua energia é extremamente alta e
conseqüentemente esse fenômeno torna-se tão violento, existem diversas pesquisas tanto
com modelagens numérica e física como com levantamento em campo, para saber onde o
fenômeno ocorre, como flui e onde se deposita. Estas pesquisas podem ser informadas em
TAKAHASHI (1991).
Deslizamento (escorregamento) deve ser o fenômeno mais comumente observado
em todo mundo. Como sua ocorrência é bastante freqüente e altera a topografia da região,
a sociedade tenta mapear sua ocorrência. Classificando quatro tipos de mapas de
deslizamento: mapa de inventário, mapa de movimento atual de deslizamento, mapa de
susceptibilidade e mapa de vulnerabilidade, PARISE (2001) discutiu definição,
funcionamentos, papeis e utilidades de cada tipo.
GUZZETTI et al. (1999) mencionaram a importância de mapeamento de área de
perigo (hazard) para mitigar desastres devido à ocorrência de deslizamentos. Com o
avanço tecnológico na área de geoprocessamento, o mapeamento de áreas de perigo com
deslizamento vem sendo cada vez mais popular (por exemplo, TURRINI &
VISINTAINER, 1998; LEE et al., 2002; e PEROTTO-BALDIVIEZO et al., 2004).
Entretanto, estes trabalhos trataram apenas os locais de ocorrência de deslizamento.
Quando as imagens de desastres naturais com deslizamentos são observadas, parece que
em áreas de deposição de deslizamento há mais prejuízos sócio-econômico e ambiental do
que nas áreas de suas ocorrências. Em outras palavras, na elaboração de mapa de área de

Apostila Pag.385 118


perigo com deslizamento, esta área deve conter não somente área de ocorrência, mas
também área de deposição.
No Brasil, por exemplo, FERNANDES et al. (2001, 2004) e GUIMARÃES et al.
(2003) aplicaram o modelo SHALSTAB para verificar onde pode ocorrer deslizamento em
duas bacias no Estado de Rio de Janeiro. Esse modelo foi elaborado com bases nas teorias
de DIETRICH et al. (1992) e MONTGOMERY & DIETRICH (1994). Usando as mesmas
teorias, SANTOS & KOBIYAMA (2002) construíram o modelo UMBRAL e o aplicaram
para uma bacia no Estado de Paraná. Também seu resultado mostrou onde poderá ocorrer o
deslizamento além de outros tipos de erosão. Como estes trabalhos brasileiros investigaram
apenas os locais de ocorrência de deslizamento, seus resultados de mapas não podem ser
diretamente utilizados para área de perigos.
Sendo assim, o presente trabalho apresenta um método topográfico bem simples
para elaborar mapas de áreas mais completas de perigo com deslizamento e aplicá-lo a uma
região que possui potencialidade em deslizamento.

2. TEORIA
Os métodos de investigação da distância que a enxurrada de origem do
deslizamento atinge podem ser classificados em dois tipos: topográfico e numérico com
base física. A descrição do método numérico encontra-se no livro de TAKAHASHI
(1991). Embora ele seja muito útil, exige alto conhecimento de técnicas computacionais e
também necessita dados com enorme número de parâmetros, muitas vezes inviabilizando
sua execução.
Por outro lado, o método topográfico é de fácil execução, necessitando apenas de
mapas topográficos. Embora a precisão nesse método pode ser menor do que no numérico,
o método topográfico é bastante útil para estudos preliminares e também para estudos dos
locais onde não há dados dos parâmetros. Portanto, o presente trabalho trata do método
topográfico.
A Figura 1 mostra a geometria do deslizamento e sua deposição que
SCHEIDEGGER (1973, 1990) propôs de uma maneira simples. Imagina-se que uma
pequena massa inicialmente parada escoa ao longo de uma distância pequena e ganha uma
energia cinética. Considerando a perda de energia devido à fricção, obtém-se uma equação
de conservação de energia, isto é:
1 
mg∆s ⋅ sin β = ∆ mv 2  + fmg∆s ⋅ cos β (1)
2 

Apostila Pag.386 119


na qual m é a massa de pequeno elemento; g é a aceleração gravitacional; e v é a
velocidade; f é o coeficiente de fricção dinâmica que é considerado constante. Como
∆s ⋅ sin β = ∆h e ∆s ⋅ cos β = ∆x na Figura 1, a equação (1) torna-se:

1 1 2
∆ v  = ∆h − f∆x (2)
g 2 
SCHEIDEGGER (1973, 1990) considerou que a velocidade seja nula em ambos momentos
inicial e final do movimento, e integrando a equação (2) obteve:
h
f = = tan α (3)
x
na qual x representa a distância máxima da área de deposição e h o desnível entre a parte
superior do deslizamento e o nível do local de alcance máximo da área de deposição. A
equação (3) indica que o coeficiente de fricção dinâmica é igual à razão de altura total de
movimento sobre a distância total de movimento. HSÜ (1975) chamou este f como
coeficiente equivalente de fricção.
Se a equação (3) é correta, seria importante estimar o valor de f. Sob o aspecto da
engenharia, o valor de f pode ser relacionado com o valor do coeficiente de fricção f*.
ASHIDA et al. (1984), realizando experimentos laboratoriais, mostraram a seguinte
relação:
f
0,65 < < 0,85 (4)
f*

Figura 1 – Geometria de deslizamento e sua deposição.


Fonte: Modificação de SCHEIDEGGER (1973) e MORIWAKI (1987).

Apostila Pag.387 120


Além disso, eles concluíram que o valor desta relação é independente do tipo de
material e do valor de velocidade. Assim, o coeficiente de fricção dinâmica está
relacionado com o de fricção.
Considerando em equilíbrio a massa na encosta linear antes da iniciação do
movimento, MORIWAKI (1987) supõe que o valor de f* podia ser igual à tangente da
declividade da encosta. No caso deste autor, a geometria de deslizamento foi tratada como
o ilustrado na Figura 1.
Aplicando essa geometria para 33 casos ocorridos em diversos paises no mundo,
MORIWAKI encontrou a seguinte equação:
h
f = = 0,73 tan θ − 0,07 (R2 = 0,938) (5)
x
na qual tanθ corresponde à declividade do local susceptível ao deslizamento (razão entre h’
e x’). Esta equação (5) foi obtida com o levantamento de deslizamentos causados pela
chuva, pelo terremoto, pelo degelo e pelo vulcanismo. Como deslizamentos ocorrem por
causa de água no Brasil, o presente trabalho extraiu, no trabalho de MORIWAKI (1987),
somente os dados relacionados à água, ou seja, chuva e degelo. Estes dados estão na
Tabela 1. Seguindo a mesma analise que MORIWAKI (1987) realizou, o presente trabalho
relacionou o coeficiente de fricção dinâmica e a declividade de encosta. O resultado é a
seguir:
h
f = = 0,5522 tan θ + 0,0314 (R2 = 0,5981) (6)
x
Comparando com a equação (5), a equação (6) possui o menor valor de R2, mas seu
valor é razoavelmente alto. Portanto, o presente trabalho adota a equação (6).

Apostila Pag.388 121


Tabela 1 – Dados de levantamento de deslizamento
No. do Geologia Vol. desmoronado (m3) h/x tanθ
caso
7 - 5x106 0,370 0,520
8 Arenito, siltito 1,3x105 0,584 0,726
9 sílex 1,0x105 0,435 0,662
10 Solo arenoso - 0,265 0,600
12 Andesito, riorito 8,8x105 0,297 0,456
13 Andesito 2,1x103 0,527 1,030
20 Solo arenoso 3,7 0,554 0,839
21 Filito 6,6x104 0,364 0,700
22 Congromelito 2,7x103 0,404 0,577
23 Filito 1,0x103 0,364 0,675
24 Folhelho 6,1x105 0,435 0,543
25 Rocha metamorfica 2,4x104 0,333 0,726
26 Solo coluvial 7,5x104 0,510 0,754
27 cinza 3,5x106 0,280 0,394
28 Calcário 3,65x107 0,260 0,600
29 Arenito 4,0x10 0,203 0,435
31 Argilito 1,3x108 0,416 0,577
32 Arenito 1,0x109 0,226 0,466
33 Les 4,5x107 0,184 0,335
Fonte: Parte de MORIWAKI (1987)

Ainda na comparação entre as equações (5) e (6), nota-se que o valor de inclinação
da linha da equação (6) é menor que aquele da (5). Aquele valor (0,5522) é ainda menor
que a faixa obtida por ASHIDA et al. (1984). Isso pode ser devido ao fato que a equação
(6) foi obtida somente com os casos nos quais a massa no deslizamento estava bem úmida
e a água reduziu a rugosidade do material.
Além disso, analisando os dados da Tabela 1, obtém-se:
h
= − logV + 0,4892 (R2 = 0,1709) (7)
x
tan θ = −0,0396 logV + 0,8176 (R2 = 0,2691) (8)

h
V = 295167036 − 708228887  + 62332844 tan θ (R2 = 0,1073) (9)
 x
Como se pode notar o valor de R2 para a equação (9) é muito baixo, deduz-se que
para a estimativa do volume deslizado, outros parâmetros devem ser levados em
consideração, tal como o tipo de solo.

Apostila Pag.389 122


3. APLICAÇÃO
3.1. Área de estudo
O presente trabalho aplicou esse procedimento (eq. (6)) para duas áreas
classificadas como de alta susceptibilidade por DIAS (2000) e DIAS & HERRMANN
(2002), no bairro Saco Grande, atualmente denominado João Paulo, no município de
Florianópolis. Estado de Santa Catarina (Figura 2). Nesse município, o clima é subtropical
úmido com a precipitação anual de aproximadamente 1500 mm.
Esses autores, usando a técnica de SIG, classificaram esse bairro em quatro
categorias em termos de susceptibilidade a deslizamento: nula/baixa, moderada, alta e
muito alta. Segundo os mesmos autores, as áreas com susceptibilidade muito alta e alta
possuem uma combinação de declividade 30 a 100% e encostas retilíneas, sendo
consideradas áreas de perigo. A área total desta categoria foi estimada em 3.006.367 m2 o
que corresponde a 17,82% da área total do bairro.

Figura 2. Localização da área de estudo.

Apostila Pag.390 123


3.2. Mapeamento de área de perigo
O presente trabalho selecionou dois locais que foram apontados como áreas de
susceptibilidade muito alta ou alta. Os dois locais, denominados de “a” e “b” possuem
áreas de 187.132 m2 e 289.550 m2 respectivamente (Figura 3).

Figura 3. Localização dos locais selecionados para análise.

Para cada local selecionado foram traçados perfis longitudinais ao sentido do


deslizamento para extração dos parâmetros: h’ e x’ (Figura 1). Com estes parâmetros foi
possível calcular o ângulo θ, f, e utilizando a equação (5), o ângulo α de cada perfil.
Para cada perfil foram traçadas linhas a partir da parte superior do deslizamento
com declividade igual ao ângulo α. Quando esta linha intercepta a superfície topográfica,
acha-se x e conseqüentemente h. Para os pontos extremos foram utilizadas as linhas com
declividade dos perfis vizinhos. A Tabela 2 apresenta os perfis e parâmetros para as duas
áreas.

Apostila Pag.391 124


Para a área “a” foi encontrada uma área de deslizamento e deposição de 520.672 m2
e para a área “b” 816.946 m2. Estas áreas são apresentadas na Figura 4.

Tabela 2. Perfis da área e parâmetros. (a) Área “a”; (b) Área “b”.
(a)
Perfil h' [m] x' [m] tan θ θ [º] f α [º]
1 66 135,4 0,487445 25,98667 0,300567 16,72904
2 86 173,6 0,495392 26,35343 0,304955 16,95936
3 103 220,5 0,46712 25,03823 0,289344 16,13747
4 150 323,1 0,464253 24,90321 0,28776 16,05372
5 139 319,2 0,435464 23,53138 0,271863 15,20902
6 102 185,9 0,548682 28,75279 0,334382 18,48902
7 145 368,8 0,393167 21,46312 0,248507 13,9557
8 123 274,1 0,448741 24,16775 0,279195 15,59947
9 70 173,2 0,404157 22,00644 0,254576 14,28271
10 40 85,1 0,470035 25,17518 0,290953 16,22254
Média -> 24,73782 0,285825 15,95128
(b)
Perfil h' [m] x' [m] tan θ θ [º] f α [º]
1 50 119,78 0,417432 22,65722 0,261906 14,67646
2 60 149,54 0,40123 21,86216 0,252959 14,19572
3 70 196,37 0,35647 19,61962 0,228243 12,8571
4 110 275,56 0,399187 21,76125 0,251831 14,13494
5 120 275,03 0,436316 23,57242 0,272334 15,23413
6 120 288,03 0,416623 22,61775 0,261459 14,65251
7 110 280,38 0,392325 21,4213 0,248042 13,93059
8 110 262,48 0,41908 22,73756 0,262816 14,72523
9 80 225,95 0,354061 19,49705 0,226912 12,78463
Média -> 21,74959 0,251701 14,12793

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento de locais onde se iniciam os movimentos de massa (deslizamento) é
de grande importância. É fato que a massa que desliza deposita-se bem abaixo do local
inicial. Isto implica que as áreas de perigo devido a deslizamentos abrangem áreas totais de
iniciação, transporte (fluxo) e deposição de deslizamento. Então, o mapa de área de perigo
devido a deslizamentos deve levar em consideração todas as áreas.

Apostila Pag.392 125


Figura 4. Traçado dos perfis e determinação da área de deposição.

Com este intuito, o presente trabalho estabeleceu um método simples com base de
informação topográfica. Para isso, modificou uma equação estabelecida por MORIWAKI
(1987) que incluiu os efeitos sismológicos, pois no Brasil praticamente não se necessita
desta consideração. A equação estabelecida para o alcance da massa escorrida no
h
deslizamento é f = = 0,5522 tan θ + 0,0314 . O presente trabalho aplicou esta equação a
x
alguns locais de susceptibilidade muito alta e alta a deslizamentos, no bairro Saco Grande
no município de Florianópolis.
Para melhorar esta equação, deve-se realizar levantamentos em campo sobre
deslizamentos em diversos locais.

5. AGRADECIMENTO
Os autores agradecem a Profa. Maria Lúcia Herrmann da UFSC, pela discussão
sobre conceito de susceptibilidade a deslizamento.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Apostila Pag.395 128


DESASTRE HIDROLÓGICO RESULTATE DAS CHUVAS ITESAS
EM RIO DOS CEDROS – SC

Roberto Fabris Goerl1, Masato Kobiyama2, Gabriela Pacheco Correa3,


Henrique Lucini Rocha4, Joana !ery Giglio5

RESUMO --- Em novembro de 2008, o estado de Santa Catarina foi cenário de uma tragédia
vinculada em toda a mídia nacional devido à ocorrência de desastres hidrológicos (inundações e
escorregamentos). Os municípios mais atingidos são os localizados no Vale do Itajaí. Rio dos
Cedros foi um destes municípios atingidos. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo
analisar um fluxo de detritos (um tipo de escorregamento) ocorrido na localidade de Rio Cunha
nesse município. Em campo foram medidos os seguintes parâmetros: largura do escorregamento,
tamanho dos blocos, altura do depósito e declividade dos trechos do movimento. Notou-se que,
dentre estes parâmetros medidos, apenas a declividade do inicio do escorregamento foi semelhante
à indicada na literatura científica. Levantamentos tais como o apresentado no presente trabalho
visam suprir uma deficiência no registro oficial de desastres naturais, que é a descrição do evento.

ABSTRACT --- In November, 2008, the Santa Catarina State was central of the national media
because of the occurrence of hydrological disasters (floods and landslides). The strongly-affected
cities are located in the Itajaí Valley. Rio dos Cedros city is one of them. In this context, the
objective of the present work was to analyze a debris flow (one type of landslide) occurred in Rio
Cunha catchment in this city. Several parameters (the landslide width, the block size, deposition
height, and the landslide reaches slope) were measured on the field. It was noted that slope of the
upper part of landslide coincide with the patterns reported in the scientific literature. Surveys like
the present work aim to address a deficiency in the official record (event description) of natural
disasters.

Palavras-chave: Fluxo de detritos, desastre hidrológico, chuva

1)Bolsista CNPQ – Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-970,
E-mail: roberto.fabris@gmail.com
2)Bolsista do CNPq, Professor Associado II Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa
Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-900, E-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
3)Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil,
CEP 88040-900, E-mail: gabrielapaco@yahoo.com.br
4)Bolsista do Capes, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,
Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-900, E-mail: henrique.lucini@gmail.com
5)Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil,
CEP 88040-900, E-mail: joana_n_g@yahoo.com.br

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

Apostila Pag.396
1. ITRODUÇÃO

Em novembro de 2008, intensas chuvas causaram inundação e escorregamentos em diversos


municípios do Estado de Santa Catarina. A maior parte dos municípios atingidos localiza-se na
região do Vale do Itajaí. Rio dos Cedros, localizado nesta região, também foi severamente atingido.
Segundo os dados do relatório de Avaliação de Danos (AVADAN) enviado pelo município a
Defesa Civil Estadual, 96 pessoas ficaram desabrigados, e 8561 pessoas foram diretamente afetadas
por este evento. Além disso, 191 casas consideradas de classe popular e 92 de classe média foram
danificadas. Os prejuízos econômicos chegaram a R$ 4.121.940,00, sendo R$ 2.674.740,00 na
agricultura, R$ 588.800,00 na pecuária, R$ 78.000,00 na indústria e R$ 781.000,00 nos serviços
básicos (rede de água, esgoto, coleta de resíduos sólidos). Conforme a Defesa Civil de Rio dos
Cedros, as inundações ficaram localizadas na área urbana central, e os escorregamentos ocorreram
em diversos bairros do município, sendo que os fluxos de detritos foram os mais recorrentes entre
os tipos de escorregamentos.
Como pode ser visto, é através deste AVADAN é que as informações sobre os danos e as
características do evento são registradas oficialmente. Além disso, é através deste registro que o
município decreta situação de emergência ou estado de calamidade pública. Kobiyama e Goerl
(2007) demonstram a importância do correto registro e preenchimento do AVADAN. Estes autores
também demonstraram que há diversos problemas neste registro, principalmente quanto à correta
descrição do evento. Assim, levantamentos de campo como o aqui apresentado visa contemplar
uma lacuna dentro do AVADAN. Pois esta correta caracterização do evento também é uma etapa de
fundamental importância na prevenção de desastres naturais.
Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo realizar o levantamento de campo,
analisando as principais características de um fluxo de detritos ocorrido na localidade de Rio
Cunha, Rio dos Cedros - SC.

2. FUDAMETAÇÃO TEÓRICA

2.1 Desastres naturais

Para ISDR (2002) desastres podem ser definidos como sendo um sério distúrbio no
funcionamento de uma comunidade ou sociedade, causando perdas humanas, materiais, econômicas
e materiais, que excedem a capacidade da comunidade afetada de se recuperar com seus próprios

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

Apostila Pag.397
recursos. Benson e Clay (2003) definem desastre como sendo a ocorrência de um anormal e não
freqüente perigo que impacta comunidades ou áreas vulneráveis, causando danos substanciais e
possíveis mortes, deixando a comunidade afetada fora do seu estado de normalidade. Conforme
UNPD (2004) um desastre natural é definido como um sério distúrbio desencadeado por um perigo
natural que causa perdas materiais, humanas, econômicas e ambientais, que excedem a capacidade
da comunidade afetada de enfrentar o perigo. A Secretária Nacional de Defesa Civil, com base no
trabalho de Castro (1998) define desastre como sendo o resultado de eventos adversos, naturais ou
provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais
e/ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais.

2.2 Freqüência e Intensidade

Atualmente se está em um período marcado pelo aumento da perda de vidas a dos danos
associados a inundações e outros tipos de catástrofes naturais. Este problema pode estar
parcialmente ligado as mudanças climáticas, mas certamente está associado à propensão humana de
construir em áreas susceptíveis a ocorrência de fenômenos naturais potencialmente danosos.
Alcântara-Ayala (2002) comenta que, apesar dos desastres naturais ocorrem no mundo inteiro, os
seus maiores impactos ocorrem em países em desenvolvimento, devidos a dois fatores, a
localização geográfica e as características geológico-geomorfológicas. Para MacDonald (2003), nas
últimas décadas tem havido uma aumento de cerca de dez vezes nos danos causados pelos desastres
naturais, em virtude dos seguintes fatores: a) aumento das pessoas que ocupam áreas susceptíveis a
perigos naturais em virtude do crescimento populacional; b) as condições econômicas das pessoas
que ocupam estas áreas susceptíveis, implicando em construções com alto grau de vulnerabilidade.
Os desastres naturais, segundo Twing (2004), mataram uma média de 60.000 pessoas por ano,
entre 1992 e 2001. Para o mesmo período, segundo o mesmo autor, os desastres afetaram
diretamente 200 milhões de pessoas e causara prejuízos em torno de US$ 69 bi. por ano. Rosenfeld
(1994) comenta que os danos provocados por desastres naturais aumentaram cerca de três vezes
desde a década de 1960, deixando mais de 3 milhões de mortos e 800 milhões de desabrigados. O
Banco Mundial, entre os anos de 1980 e 2003, fez empréstimos emergenciais relacionados a
desastres de aproximadamente US$ 14,4 bilhões. Deste montante, segundo Dilley et al. (2005), US$
12 bilhões foram destinados para apenas 20 países, que possuem cerca de metade de sua população
em áreas de alto risco.

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

Apostila Pag.398
A Figura 1 apresenta o número de registros de desastres naturais bem como o total de pessoas
afetadas pelos mesmos. Nota-se um crescimento acentuado do número de registros, principalmente
após 1975. Ressalta-se que este aumento do número de desastres e da intensidade não
necessariamente está associado ao aumento da freqüência do fenômeno natural que origina o
desastre. Como pode estar havendo a ocupação de áreas susceptíveis antes desocupas, pode ocorrer
um aumento do número de desastres, e não de fenômenos naturais per si, visto que a freqüência do
fenômeno pode permanecer a mesma. Além disso, o aumento populacional ocasiona um maior
número de pessoas expostas aos fenômenos naturais e quando ocorre um desastre há um maior
número de pessoas afetadas e de prejuízos econômicos. Este fato pode ser exemplificado pelos
estudos de Silveira (2008), que analisou o histórico das inundações em Joinville – SC entre 1851 e
2007, e demonstrou que, neste município, o aumento da freqüência das inundações está mais
correlacionado com o aumento populacional e conseqüente expansão urbana do que com o aumento
da precipitação, pois não houve uma mudança considerável no regime pluviométrico que explicasse
este aumento de freqüência.

500 0

450
100

Total de Pessoas Afetadas em Milhões


400

350 200
Número de Registros

300
300
Desastres Naturais
250
Pessoas Afetadas
400
200

150 500

100
600
50

0 700
1960

1963

1966

1969

1972

1975

1978

1981

1984

1987

1990

1993

1996

1999

2002

2005

Figura 1 – Total de registros de desastres naturais e número total de pessoas afetadas entre 1960-
2008.
Fonte dos dados: EM-DAT

2.3 Classificação de desastres naturais

Em 2008, o Emergency Disaster Data Base (EM-DAT) do Centre for Research on the
Epidemiology of Disasters (CRED), re-classificou os tipos de desastres em seu banco de dados

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

Apostila Pag.399
(Scheuren et al., 2008). Os desastres foram classificados primeiro em dois grandes grupos: os
naturais e os tecnológicos. Os naturais foram subdivididos em seis grupos: biológicos, geofísicos,
climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrestres (meteoritos), e estes por sua vez em
outros 12.
1. Biológicos: a) Epidemias; b) Infestações por Insetos
2. Hidrológico: a) Inundações; b) Movimentos de Massa “úmidos”
3. Meteorológicos: Tempestades
4. Climatológicos: a) Temperaturas Extremas; b) Estiagens; c) Incêndios
5. Geofísicos: a) Terremotos; b) Vulcanismo; c) Movimentos de Massa “seco”
6. Extraterrestres: Meteoritos

Segundo Scheuren et al. (2008), esta nova classificação foi resultado de uma iniciativa entre o
próprio CRED e Munich Reinsurance Company – MunichRe, que decidiram implantar uma
classificação em comum para os seus respectivos bancos de dados. A MunichRe mantém o
NATCAT, um banco de dados que registra grandes catástrofes naturais. Com esta nova
classificação, 17000 entradas no banco de dados de EM-DAT foram alteradas, contudo sem alterar
significativamente a sua distribuição entre os grupos e a tendência em relação à classificação
anterior. A principal mudança foi separar em dois tipos os movimentos de massa: “secos” e
“molhados”. O primeiro associado apenas a eventos geofísicos (terremotos) e o segundo a
condicionantes hidrológicos e meteorológicos. Além disso, a International Strategy for Disaster
Reduction das Nações Unidas também adotou as mudanças na classificação, visto que o EM-DAT é
o principal banco de dados utilizado pela ONU, como observado em UNPD (2004)
Na Figura 2 pode-se observar a distribuição anual em relação às quatro principais categorias
de desastres para o período de 1960 a 2007. Nota-se que, apesar de todos os tipos apresentarem
aumento em sua freqüência, os desastres hidrológicos seguido dos meteorológicos, como as
inundações, escorregamentos e as tempestades severas são os tiveram um maior aumento. Esta
mesma tendência também é apresentada pelo banco de dados NATCAT. No Brasil, o tipo de
desastre que mais ocorre são os hidrológicos (inundações e escorregamentos), conforme Kobiyama
et al. (2004). Assim, a hidrologia tem um papel fundamental na prevenção dos desastres e na
mitigação dos seus danos, pois a inclusão dos desastres dentro da ciência hidrológica é de suma
importância caso se queira tentar reduzir a freqüência dos desastres no Brasil.

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

Apostila Pag.400
450

Climatológico Geofísico
400
Meteorológico Hidrológico

350

úmero de eventos 300

250

200

150

100

50

0
1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

2001

2004

2007
Figura 2 – Ocorrências de desastres naturais no mundo, por tipo de desastre entre 1950-2008.
Fonte dos dados: EM-DAT

Ressalta-se que, apesar dessa tentativa de padronizar a classificação, cada banco de dados,
possui critérios de registro diferentes. Para um desastre natural ser registrado no EM-DAT, os
seguintes critérios tem que ser levados em consideração: a) 10 ou mais vítimas fatais; b) 100 ou
mais pessoas afetadas; c) declaração de estado de emergência; e c) pedido de assistência
internacional. No NATCAT, os critérios são: a) ajuda inter-regional ou internacional; b) milhares de
mortos; c) centenas de milhares de desabrigados; d) danos e perdas generalizadas. Como os critérios
de registro são diferentes, estes bancos de dados poderão apresentar tendências diferentes
relacionados a parâmetros específicos, como número total de desabrigados, de mortos e de prejuízos
totais. Marcelino et al. (2006), comparando os bancos de dados globais com o mantido pela Defesa
Civil de Santa Catarina - DEDC, demonstraram que muitos eventos que atendiam aos critérios
estabelecidos pelo EM-DAT não foram contabilizados para o estado de Santa Catarina. Entre 1980
e 2003, os autores comentam que foram registrados pela DEDC 3.373 desastres naturais, e apenas
89 no EM-DAT, uma discrepância muito grande que não é representada nas estimativas mundiais.

XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

Apostila Pag.401
2.2 Fluxo de detritos
Fenômenos como escorregamentos e inundações, são processos naturais e fazem parte de
dinâmica superficial terrestre. Juntamente com outros fenômenos naturais, são os principais
processos modeladores da paisagem. A partir do momento que ocorre a ocupação em ares
susceptíveis a estes fenômenos, os mesmos são considerados perigos naturais, ou seja, possuem o
potencial de causar danos. Quando um fenômeno destes ocorre e causa danos ambientais,
econômicos e sociais, passa a ser considerado como desastre natural. O presente trabalho aborda
principalmente o fenômeno como desastre, e não apena como processo natural.
Os escorregamentos, como comentando acima, são inseridos dentro de duas classes: os
escorregamentos secos (geofísico) e úmidos (hidrológicos). O primeiro relacionado a eventos da
dinâmica interna da terra, como terremotos e o segundo a dinâmica externa, associados à presença
de água no solo. No Brasil, os escorregamentos que mais ocorrem são os “úmidos”, assim, apenas
estes serão tratados no presente trabalho.
Adotando a classificação proposta por Augusto Filho (1994), distinguem-se os
escorregamentos em quatro tipos: rastejos, deslizamentos (rotacional e translacional), quedas e
corridas (fluxos). Segundo Fernandes e Amaral (1996), as corridas estão geralmente associadas à
concentração excessiva dos fluxos de água superficiais, provenientes de precipitações anômalas,
que deflagram em algum ponto da encosta um processo de fluxo contínuo de material terroso.
Conforme Marcelino (2004) apesar de serem mais raras de ocorrer, as corridas produzem estragos
maiores que os escorregamentos translacionais. No entanto, a distinção entre os dois nem sempre é
fácil, pois, em alguns casos, as corridas iniciam-se sob a forma de um escorregamento e, ao atingir
um curso d’água, o material deslocado ganha velocidade e fluidez, passando a se comportar como
uma corrida.
No Brasil, adota-se comumente o termo corrida para fenômenos como fluxo de detritos, fluxo
de lama, fluxo de terra. Contudo, segundo Avelar et al. (2006), a melhor terminologia para designar
as corridas é fluxo, visto que a tradução mais coerente para o termo debris flow é fluxo de detritos.
Além disso, os autores comentam que o termo corrida não se refere a um processo físico, não sendo
muito adequado para designar os fluxos. O presente trabalho, adotando o termo proposto por Avelar
et al. (2006), enfocará apenas os fluxos de detritos.
Segundo Takahashi (1991) fluxo de detritos é um fluxo de uma mistura de sedimentos e água
que se comporta como um fluido de fluxo continuo impulsionado pela gravidade. Citando Jakob e
Bovis (1996), Skermer et al. (2002), definem os fluxo de detritos como sendo um rápido fluxo

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Apostila Pag.402
saturado de detritos em um canal com alto gradiente de declividade. Para Goudie (2004), um fluxo
de detritos consiste numa mistura de água e sedimentos pobremente selecionados, além de outros
tipos de detritos, fluindo por um canal de forma abrupta, com velocidades em torno de 10m/s,
apresentando cerca de 70% do seu volume de partículas sólidas. O mesmo autor ainda comenta que
como conseqüências negativas, os fluxos de detritos podem denudar encostas, causar danos
estruturais, alterar drasticamente canais e colocar em risco a vida humana. Dentro da literatura
cientifica, ainda utiliza-se o termo avalanche de detritos. Segundo Slaymaker (1988), a principal
diferença entre fluxo de detritos e avalanche de detritos é que o primeiro é canalizado enquanto que
o segundo não.
Conforme Avelar et al. (2006), três mecanismos são considerados na iniciação dos fluxos de
detritos:
1. Erosão fluvial em canais de drenagem: atua sob vazões críticas instabilizadoras,
causadas pelo efeito cisalhante da água corrente no depósito abaixo do canal, advindas
de chuvas intensas, derretimento de neve ou ruptura de barragens;
2. Aumento de poro-pressão pela infiltração: súbito acréscimo de poro-pressão devido à
recarga da zona saturada durante chuvas muito intensas;
3. Aumento de poro-pressão causado por carregamento muito rápido: se dá pelo impacto
causado a partir de movimentos de massa ocorrido a montante sobre depósitos em
fundos de vale.
Slaymaker (1988) elenca quatro critérios ambientais para a ocorrência de fluxo de detritos:
a) Pequenas bacias hidrográficas, com a área variando de 0,1 a 10 km²;
b) Declividade do canal, que pode ser dividido em três zonas: inicio do escorregamento,
com declividades maiores que 25º, zona de erosão e transporte, com declividade
variando de 10-25º e zona de deposição, nas declividades menores que 12º. Neste ponto
há algumas divergências entre alguns autores. Bryant (2005) assume os seguintes valores
para a declividade do canal, 30-40º para haver o inicio do fluxo, 12-20º para transporte e
menor que 12º para deposição. Bridge e Demico (2008) comentam que pode haver
transporte de material mesmo em zonas de declividade baixa, em torno de 1-2º.
c) Grande quantidade de escoamento superficial, havendo a saturação do solo na bacia.
Assim, a precipitação antecedente e durante o evento é um fator determinante para a
ocorrência.

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Apostila Pag.403
d) Quantidade substancial de detritos disponíveis para a mobilização, dependendo este
critério das características do leito, das margens do canal e das paredes do vale adjacente
ao canal, alem do uso do solo na localidade de ocorrência, tipo de solo, litologia e
presença de blocos no canal.
Nota-se, que os fluxos de detritos geralmente irão ocorrer em áreas montanhosas, pois são os
locais que mais se enquadram nestes critérios. Além disso, as áreas montanhosas também
favorecem a ocorrência precipitações intensas, associadas à formação de sistemas convectivos
locais, ocasionando a rápida saturação do solo e conseqüente escoamento superficial concentrado.
Tratando-se do volume de sedimentos, ainda não existe uma clara distinção entre fluxo de
detritos e inundação, principalmente no que diz respeito à porcentagem total. Segundo o Federal
Office for Water and Geology (2001), a concentração de sedimentos em um fluxo de detritos varia
de 30 a 70% do volume total, o que é um intervalo muito grande para aproximar alguma distinção.
Para Wilford et al (2004), uma inundação possuí uma concentração de sedimentos em torno de 20%
do seu volume. Uma inundação de detritos (fluxo hiperconcentrado) tem concentração entre 20 a
47% e um fluxo de detritos mais de 47%. Kelman e Spence (2004) assumem valores semelhantes,
inundação entre 0,4 a 20%, fluxo hiperconcentrado (inundação de detritos) entre 20-47% e fluxo de
detritos entre 47-77% do volume total de sedimentos. Ressalta-se que a distinção entre inundação e
inundação de detritos não é muito clara, podendo se aproximar o termo inundação de detritos ao que
é comumente chamado de enxurrada no Brasil.
Devido à complexidade do fenômeno e as feições da bacia, a concentração de sedimento, a
quantidade de chuva necessária para desencadear o evento, a velocidade do fluxo, e demais feições,
as características dos fluxos de detritos irão varia de local para local, evento para evento. É também
devido a esta complexidade que este tipo de fenômeno se torna de difícil previsão.

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de estudo


O município de Rio dos Cedros (Figura 3) se encontra no Vale do Itajaí – SC, e possui a área
de 556 km², destes apenas 18 km² de área urbana. A temperatura média é de 22 ºC e a precipitação
média anual é de 1800 mm. As altitudes do município variam de 75 m a 1050 m, sendo que a área
urbana esta localizada nas altitudes mais baixas. Com base no Mapa de Solos (1:250.000) elaborado
pela Unidade de Planejamento Regional Litoral Norte Catarinense da EPARGI, os solos
encontrados no município de Rio dos Cedros são Cambissolos, Argissolos, Gleissolos e Nitossolos.

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Apostila Pag.404
Como relação à geologia, tendo por base o Levantamento Geológico 1:1.000.000 do Serviço
Geológico do Brasil (CPRM), na área do município encontram-se as seguintes litologias: Complexo
Granulítico de Santa Catarina, Formação Taciba, Formação Campo Mourão, Corpo Granito
Cabeceira do Cedros e Depósitos Aluvionares (principalmente areia e cascalho).

Figura 3 – Localização do município de Rio dos Cedros - SC

Conforme mencionado acima, ocorreram chuvas anômalas que causaram inundações e


escorregamentos que atingiram diversos municípios de Santa Catarina, principalmente na região do
Vale do Itajaí. Rio dos Cedros foi um desses municípios. Analisando os dados de chuva de 2008,
observa-se que a partir do mês de agosto começou a chover continuamente. Entre agosto e
dezembro de 2008, choveu 1674,8 mm, sendo que em outubro e novembro choveu 475 mm e 747,7
mm respectivamente.
Rocha et al. (2009) analisaram os dados de três estações pluviométricas situadas em Rio dos
Cedros, Com base nestes dados, demonstraram que a partir de agosto de 2008 os acumulados
mensais começaram a se desviar da média climatológica mensal (Figura 4a). Os mesmos autores,
analisando ainda os dados de precipitação apenas de novembro de 2008, demonstraram que em

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Apostila Pag.405
apenas dois dias do mês não houve chuva, dias 03 e 15. Analisando a Figura 4b, observa-se que as
maiores chuvas ocorreram em dois períodos, o primeiro entre os dias 10/11 e 14/11, com 169,2 mm,
e o segundo entre 19/11 e 30/11 com 347,9, totalizando a soma dos dois períodos, 70% da chuva de
novembro. Além disso, observa-se que o dia em que mais choveu foi 22/11, com 100,8 mm, cerca
de 13% do total mensal.

80

a 70
b
60

Chuva em mm
50

40

30

20

10

1/11
2/11
3/11
4/11
5/11
6/11
7/11
8/11
9/11
10/11
11/11
12/11
13/11
14/11
15/11
16/11
17/11
18/11
19/11
20/11
21/11
22/11
23/11
24/11
25/11
26/11
27/11
28/11
29/11
30/11
Figura 4 – Dados de precipitação em Rio dos Cedros – a) comparação entre a média mensal
climatológica e a média mensal de 2008; b) chuva diária de novembro de 2008.
Fonte: Rocha et al. (2009)

3.2 Procedimentos de campo.


Para a coleta dos dados foram realizados dois campos, nos dias 16/05 e 07/06/2009. Ressalta-
se que como este escorregamento ocorreu em 24/11/2009, muitos parâmetros já foram alterados
pelos processos físicos, mas dentro do município, este movimento é o que mais preserva as
características iniciais do movimento. Assim, escolheu-se um fluxo de detritos ocorrido na
localidade de Rio Cunha. Com um GPS Garmin 76CSx, foram coletadas coordenadas ao redor de
todo o escorregamento para mapear a sua área, desde o seu inicio até a sua deposição. Também
foram coletadas coordenadas ao longo do canal por onde o fluxo escoou. Com base nestes pontos,
mediu-se a inclinação das áreas do inicio do escorregamento, de transporte e de deposição, através
do Modelo Digital de Terreno (MDT) gerado a partir das cartas do IBGE, 1:50.000, digitalizadas
pela EPAGRI. Nota-se que o MDT mostra a inclinação da encosta entes de escorregar. Adotou-se
este método, pois não há outro tipo de levantamento topográfico no município, além de já ter
ocorrido considerável erosão do material escorregado, sendo a inclinação medida em campo
diferente da inclinação do material escorregado logo após o movimento. Além disso, coletou-se
parâmetros associados à dinâmica do escorregamento, como altura do depósito, dimensão dos
maiores blocos e a variação da largura do movimento ao longo do canal.

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Apostila Pag.406
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Percepção dos moradores


Segundo o Morador Rui Mayer, o movimento ocorreu em três etapas, a primeira à 1h15min
da manhã, a segunda às 2h00min e a terceiro as 3h00min do dia 24/11/2008. Comparando os dados
de chuva em Rio dos Cedros, como as informações dos moradores, observa-se que entre a 00:00 hs
e às 03:00 hs da madrugada do dia 24/11 choveu 10 mm, o que não explicaria a intensidade do
fenômeno. Analisando os dados de chuva, o acumulado desde o dia 23/11 até às 03:00 hs do dia
24/11, foi de 95,3 mm. No mês de novembro, o acumulado mensal do mensal foi 747,7 mm, que
conforme Rocha et al. (2009) foi o mês em que as chuvas ficaram muito acima da média mensal.
Conforme as informações do Sr Genésio Zoboli, morador do local, desde setembro de 2008 as
águas do córrego por onde fluiu o fluxo de escombros já apresentavam alta turbidez. Além disso,
segundo este mesmo morador, em 1974, houve, neste mesmo local um escorregamento de menores
proporções. Segundo o Sr Genésio, a cada movimento, sua casa de alvenaria, localizada a 80 m do
fluxo de detritos, tremia como se estivesse ocorrendo um terremoto. Este morador e sua família se
abrigaram em um rancho no meio do mato durante a ocorrência do evento, onde passaram quase
toda a madrugada.

4.2 Aspectos físicos do escorregamento


O movimento analisado no presente trabalho ocorreu em uma bacia hidrográfica com a área
de 0,7 km² (Figura 5). Segundo a Carta do IBGE, na escala 1:50.000, esta é uma bacia de 1ª ordem,
mas em campo, verificou-se que se trata de uma bacia de 2ª ordem. A Figura 5 também apresenta os
pontos coletados com GPS ao longo do escorregamento. Analisando os pontos coletados através do
MDT, averiguo-se que o ponto mais alto do escorregamento, e conseqüentemente seu inicio, está a
uma altitude de 655 m. O último ponto da deposição que pode ser aferido em campo foi a uma
altitude de 160 m, havendo uma diferença de 495 m do inicio ao final do movimento. A distância
total percorrida pelo movimento foi de aproximadamente 1390 m. Nota-se ainda pela Figura 5 que o
escorregamento ocorreu em duas vertentes distintas, como indicam os números 1 e 2. Além disso, o
movimento iniciado em 1 se dividiu em dois canais, formando uma ilha de vegetação, juntando-se
em 3, cerca de 100 m acima de 1 e 2 se unirem. Pelo MDT, o movimento iniciado em 1 até 3, ou
seja, antes de se unir com 2, possui a declividade média de 29º. Já o movimento iniciado em 2
possui 25º de declividade. A declividade média de 2, na área inicial do escorregamento, obtida em
campo com um clinômetro, foi de 43º. Esta diferença de declividade se deu em virtude da escala do

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Apostila Pag.407
levantamento topográfico disponível (1:50.000). Apesar da diferença entre a declividade medida em
campo e a obtidas através do MDT, nota-se que os intervalos estão coerentes com os apresentados
por Slaymaker (1988) e Bryant (2005). Em campo, observou-se também que ao longo de todo o
fluxo, ocorreu transporte e deposição, independente da declividade. De maneira geral, no final do
movimento a deposição foi maior do que ao longo do fluxo, mas a relação declividade –
deposição/transporte, não seguiu o padrão adotado por Slaymaker (1988) e Bryant (2005).
Com base nas observações de campo, tanto no lado 1 como no lado 2, ocorreu um
escorregamento rotacional na cabeceira do movimento (Figura 6a e 6b). Atribui-se a este
movimento rotacional a principal fonte de sedimentos transportados pelo canal no fluxo de detritos.

Figura 5 – Localização dos pontos obtidos em campo por GPS

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Apostila Pag.408
Figura 6 – Inicio do fluxo de detritos – a) Ponto 1 e b) Ponto 2

Na Figura 6a e 6b observa-se que o movimento iniciou em uma área de pastagem e de floresta


secundária, respectivamente. Assim, não há como estabelecer uma correlação com a ação antrópica
para explicar a ocorrência deste movimento. Também não foi encontrada nenhuma diferença
litológica, entre os dois pontos de inicio. Assim, sugere-se que este movimento foi causado devido à
intensa precipitação, e conseqüentemente a dinâmica da água no solo, e também as características
geomorfológicas dessa bacia. Estes parâmetros condicionaram que o material movimentado fosse
deslocado pelo canal e evoluísse de um movimento rotacional para um fluxo de detritos.
Em relação aos depósitos de sedimentos, não foi possível estabelecer um padrão de altura,
sendo que ao longo do fluxo, a altura de deposição variou muito, de cerca 2 m a mais de 7 m. Foram
medidos o tamanho dos blocos maiores, sendo que o maior encontrado foi um de diâmetro
aproximado de 5,41 m, além de outros um pouco menores, com diâmetro de 4 m e 3,18 m.
Observou-se também que ao longo do fluxo, seleção dos tamanho de blocos, sendo encontrados
blocos e seixos de diversos tamanhos por toda a área movimentada Contudo, notou-se em campo
que, principalmente na área de deposição, o tamanho dos blocos diminuía do centro para a margem,
ou seja, próximo as margens o tamanho do blocos era menor do que no centro.
Tratando-se da extensão alcançada pelo fluxo, notou-se que a mesma teve forte controle das
características do canal. Nos locais onde o canal estava mais encaixado, a extensão foi menor,
variando de 6 a 12 m. Nas cotas mais baixas da bacia, onde a declividade foi menor, a extensão
lateral do movimento chegou a aproximadamente 80 m. Devido à intensidade do fluxo, o

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Apostila Pag.409
movimento não seguiu a direção preferencial do canal, nem ficou confinado, mesmo nos locais
onde o canal estava mais encaixado (Figura 7). Nesta figura, observa-se que o movimento passou
por cima da encosta, chegando a mais de 27 m de altura. Nota-se também pela figura que o
movimento não foi simétrico, pois na margem direita houve completa retirada da vegetação,
enquanto que na margem oposta foi preservada.

Figura 7 – Vista do canal do por onde se movimentou o fluxo de detritos.

A Figura 8 apresenta o mapa topográfico com a área do escorregamento elaborado a partir dos
pontos coletados em campo. O números 1 e 2 os dois movimentos que se uniram. Com base nas
observações em campo, o escorregamento 1 iniciou primeiro, pois próximo ao inicio do
escorregamento 2 há muito sedimento depositado, apesar da alta declividade (43º). Assim, supõem-
se que o material movimentado em 1 formou uma barreira, impedindo que todo o sedimento
proveniente de 2 se descolasse para o canal principal.
Além disso, a Figura 8 apresenta as características mais importantes observadas em campo, a
saber: a) principal trecho de deposição, com aproximadamente 80 m de largura; b) o final da
segmentação do movimento 1 em duas partes, formando uma ilha de vegetação no meio; c) inicio
da segmentação do movimento 1; d) maior bloco exposto encontrado, e) cabeceira do movimento 1;
f) cabeceira do movimento 2; g) trecho de afunilamento do canal.

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Apostila Pag.410
Figura 8 – Principal características observadas em campo do fluxo de detritos

5. COSIDERAÇÕES FIAIS

No presente trabalho, foi realizado um levantamento de campo para caracterizar um fluxo de


detritos ocorrido na localidade de Rio Cunha, no município de Rio dos Cedros – SC. Este tipo de
levantamento é de suma importância, pois visa contemplar uma lacuna no registro oficial da

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Apostila Pag.411
ocorrência de desastres naturais, que é a descrição do evento, principalmente quanto as suas
características físicas. Além disso, com base nas informações levantadas, espera-se estar
contribuindo para a previsão deste tipo de evento.
Contudo, ressalta-se que processos hidrogeomorfológicos, como os fluxos de detritos fazem
parte da dinâmica natural da paisagem, sendo importantes processos modeladores do relevo. Devido
à brusca mudança na forma do relevo, pode ocorrer uma mudança no sistema de drenagem, como
mudança de ordem ou o deslocamento da nascente, processo este correlacionado com a evolução e
recuo da vertente. Além disso, devido à quantidade de material mobilizado por este tipo de
fenômeno, há uma súbita oferta de sedimentos no rio, podendo modificar, após a ocorrência do
fenômeno, diversos parâmetros hidráulicos e hidrológicos. Em campo, foi observada uma grande
redução do volume dos depósitos de sedimentos. Volume este que ao entrar no sistema de
drenagem, pode causar assoreamento dos rios, além da formação de barras, step - pool, pool - riffel,
entre outros. Dessa maneira deve-se observar fluxos de detritos também como fenômenos que
fazem parte da dinâmica terrestre.
Com o avanço da urbanização, tem havido um aumento da ocupação de áreas susceptíveis a
estes fenômenos. Assim, analisar e compreender estes fenômenos são de suma importância para a
sociedade, especialmente para contribuir com a prevenção de desastres naturais e a mitigação dos
danos causados pelos mesmos.

AGRADECIMETOS
Os autores do presente trabalho agradecem a Jonas Jeremias Corrente, da Defesa Civil de
Rio dos Cedros, e ao mestrando do PPGEA/UFSC Fernando Grison pelo apoio durante o
levantamento de campo.

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Apostila Pag.414
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X E X K A 8 9 < E 6 U ` I = X ; < 6 J < X 8 A X I = 6 E L = 6 E 6 ; = G X E 6 G < N A = H E ; 9 I = G = F < G 8 G 9 = ; G a 8 G 9 I =

F = N ; < G H A E a U 5 6 9 I < G J E 6 9 = b 9 C H < = A F G K ; P = O G a = ; = J E 6 F K J 9 = F 9 I ; E K M I E K 9 9 I = J < 9 O < 6

E ; F = ; 9 E < 6 P = G 9 < M 8 9 = 9 I = X E G G < N < A < 9 O H E ; I E K G = G 9 E N = 8 H H = J 9 = F N O A 8 6 F G A < F = G 8 6 F

V
F = N ; < G H A E a G U H 9 = ; 9 I = X ; = A < L < 6 8 ; O = P 8 A K 8 9 < E 6 C 9 a E J 8 G = G E H F = N ; < G H A E a a I E G =

= b 9 = 6 G < E 6 G a = ; = E P = ; \ c L a = ; = J I E G = 6 H E ; 8 L E ; = F = 9 8 < A = F G K ; P = O U ` I =

E N d = J 9 < P = E H 9 I = X ; = G = 6 9 G 9 K F O a 8 G 9 E 8 6 8 A O @ = 9 I = L = 9 = E ; E A E M < J 8 A 8 6 F M = E L E ; X I < J

8 G X = J 9 G E H 9 I = G = J 8 G = G U ` I = 9 E 9 8 A ; 8 < 6 H 8 A A < 6 D < E F E G : = F ; E G < 6 Q E P = L N = ; R S S T

V
8 6 F 9 I = = 6 9 < ; = O = 8 ; E H R S S T a = ; = ^ e e L L 8 6 F R f S ] L L C ; = G X = J 9 < P = A O U 6

8 6 8 A O G < G E H 9 I = F 8 < A O ; 8 < 6 H 8 A A F K ; < 6 M g J 9 E N = ; 8 6 F Q E P = L N = ; R S S T 8 6 F 9 I = F = N ; < G

H A E a E J J K ; ; = 6 J = 9 < L = < 6 F < J 8 9 = G 9 I 8 9 9 I = H 8 J 9 E ; 9 ; < M M = ; < 6 M F = N ; < G H A E a G < 6 D < E F E G

: = F ; E G < 6 R S S T a 8 G 9 I = 8 J J K L K A 8 9 = F ; 8 < 6 H 8 A A C 6 E 9 < 9 G < 6 9 = 6 G < 9 O U ` a E F = N ; < G H A E a G

8 6 8 A O @ = F < 6 9 I = X ; = G = 6 9 G 9 K F O I 8 F F < H H = ; = 6 9 M = E L E ; X I < J J E 6 F < 9 < E 6 G C E 6 = N = < 6 M

V
J E 6 H < 6 = F < 6 9 I = J I 8 6 6 = A 8 6 F G I E a < 6 M E ; F < 6 8 A F = N ; < G H A E a > Y = N ; < G B C 8 6 F 9 I =

E 9 I = ; K 6 J E 6 H < 6 = F C X ; = G = 6 9 < 6 M 9 I = F = N ; < G 8 P 8 A 8 6 J I = H = 8 9 K ; = > Y = N ; < G ? B U ` I = A 8 ; M = ;

F = 6 G < 9 O E H J A 8 G 9 < J N A E J c G a 8 G E N G = ; P = F 8 9 9 I = F = X E G < 9 < E 6 8 A 8 ; = 8 E H Y = N ; < G ? U ? E 9 I

9 I = A E J 8 A < 9 < = G 8 ; = J I 8 ; 8 J 9 = ; < @ = F a < 9 I L < M L 8 9 < 9 = U ` E X E M ; 8 X I < J 8 6 8 A O G < G G I E a = F 9 I 8 9

9 I = P E A K L = E H 9 I = L 8 G G L E P = L = 6 9 < G ; = A 8 9 = F a < 9 I 9 E X E M ; 8 X I < J X 8 ; 8 L = 9 = ; G

> = A = P 8 9 < E 6 F < H H = ; = 6 J = 8 6 F 9 ; 8 P = A F < G 9 8 6 J = B U ` I < G ; = A 8 9 < E 6 G I < X < L X A < = G 9 I 8 9 9 I = 9 a E

J 8 G = G E H D < E F E G : = F ; E G I 8 F G < L < A 8 ; N = I 8 P < E ; 9 E E 9 I = ; J 8 G = G ; = X E ; 9 = F < 6 9 = L X = ; 8 9 =

8 6 F J E A F ; = M < E 6 G U 5 9 < G C 9 I = ; = H E ; = C J E 6 J A K F = F 9 I 8 9 9 I = ; = < G M = E L E ; X I < J J E 6 9 ; E A E 6


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GRL'(%

Apostila Pag.415
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V
9 I = F = N ; < G H A E a N = I 8 P < E ; U ` I = G < L < A 8 ; < 9 O E H Y = N ; < G 8 6 F ? < L X A < = G 9 I = I < M I

X E 9 = 6 9 < 8 A = H H = J 9 G E H a E E F O P = M = 9 8 9 < E 6 E 6 9 I = F = N ; < G H A E a H = 8 9 K ; = U

h i j k l m n o p n i q m r o s t l k u v l t w x i l s x y o o x l v i x i z { u { l | l } m y | ~ r  o w m v i j u m y r z s y t t u

k l l n j v i } i { y { r l z u € m y  r t ‚

ƒ „ … 1 2 † ‡ ˆ 4 1 ‰ † …

? O = A 8 N E ; 8 9 < 6 M 8 6 8 9 A 8 G E H 6 8 9 K ; 8 A F < G 8 G 9 = ; G E H 7 8 6 9 8 : 8 9 8 ; < 6 8 7 9 8 9 = > 7 : B C ? ; 8 @ < A C

Š = ; ; L 8 6 6 ‹ ^ Œ G I E a G 9 I 8 9 7 : I 8 G H ; =  K = 6 9 A O G K H H = ; = F H ; E L I O F ; E A E M < J 8 A F < G 8 G 9 = ; G U

5 6 Q E P = L N = ; R S S T C 9 I = = b 9 ; = L = A O < 6 9 = 6 G = ; 8 < 6 H 8 A A = P = 6 9 9 ; < M M = ; = F H A E E F G 8 6 F

A 8 6 F G A < F = G < 6 7 : C = G X = J < 8 A A O < 6 9 I = 5 9 8 d 8 Ž  8 A A = O U ` I < G = P = 6 9 L < M I 9 N = 9 I = a E ; G 9 < 6

9 I = a I E A = I < G 9 E ; O E H 7 : U D E J I 8 i { y t ‚ ‹ ] Œ 8 6 8 A O @ = F 9 I = F 8 < A O ; 8 < 6 H 8 A A F 8 9 8 E N 9 8 < 6 = F

< 6 ? A K L = 6 8 K J < 9 O C a I < J I < G A E J 8 9 = F < 6 9 I = 5 9 8 d 8 Ž  8 A A = O C 8 6 F J E 6 J A K F = F 9 I 8 9 9 I =

Q E P = L N = ; J E ; ; = G X E 6 F G 9 E 8 ; = 9 K ; 6
F 8 < A O ; 8 < 6 H 8 A A E H  e ‘ U R L L ; = M < G 9 = ; = F E 6 R  ’ “

V
X = ; < E F E H L E ; = 9 I 8 6 \ S C S S S O = 8 ; G H E ; 9 I < G J < 9 O U L E 6 M R ]  J < 9 < = G < 6 7 : C ^ 

F = J A 8 ; = F 8 G 9 8 9 = E H = L = ; M = 6 J O 8 6 F \ e 8 G 9 8 9 = E H X K N A < J J 8 A 8 L < 9 O < 6 Q E P = L N = ;

V
R S S T U J J E ; F < 6 M 9 E 9 I = 7 9 8 9 = : < P < A Y = H = 6 G = D = X E ; 9  \ ” Y = J ” R S S T C a I < J I

X ; = G = 6 9 = F 9 I = 9 E 9 8 A F 8 L 8 M = G J 8 K G = F N O 9 I = G = F < G 8 G 9 = ; G C 9 I = ; = a = ; =  R C T f 

I E L = A = G G C \  f F = 8 F 8 6 F R L < G G < 6 M < 6 7 : U

5 6 9 I = I O F ; E A E M < J 8 A 8 6 F G E J < E • = J E 6 E L < J 8 G X = J 9 G C 9 I = 5 9 8 d 8 Ž  8 A A = O < G E 6 = E H 9 I =

V
L E G 9 < L X E ; 9 8 6 9 ; = M < E 6 G < 6 7 : 8 6 F J E 6 G < G 9 G E H f  J < 9 < = G U J J E ; F < 6 M 9 E – ; 8 M 8 ‹  Œ

8 6 F – ; 8 6 c 8 6 F — < 6 I = < ; E ‹ e Œ C 9 I = H A E E F G < 6 9 I < G P 8 A A = O I 8 P = N = = 6 ; = M < G 9 = ; = F H E ;

L E ; = 9 I 8 6 \ f S O = 8 ; G U Z X 9 E 6 E a C 9 I = I < G 9 E ; < J 8 A A O A 8 ; M = H A E E F G < 6 9 I = 5 9 8 d 8 Ž  8 A A = O

E J J K ; ; = F < 6 \ T f f C \ T T S C \ ] \ \ C \ ] R ‘ C \ ] f ‘ C \ ] T  C \ ] T e C \ ] ] R 8 6 F R S S T U

D < E F E G : = F ; E G C J < 9 O A E J 8 9 = F < 6 9 I = 5 9 8 d 8 Ž  8 A A = O C 8 9 8 F < G 9 8 6 J = H ; E L ? A K L = 6 8 K

8 N E K 9  S c L C F = J A 8 ; = F 8 G 9 8 9 = E H X K N < J J 8 A 8 L < 9 O F K = 9 E 9 I = < 6 9 = 6 G = ; 8 < 6 H 8 A A < 6

Q E P = L N = ; R S S T U 5 9 a 8 G ; = X E ; 9 = F 9 I 8 9 T C f ^ \ X = E X A = G a = ; = F < ; = J 9 A O 8 H H = J 9 = F C ] ^

I E L = A = G G C 6 E F = 8 F C 8 6 F = J E 6 E L < J A E G G = G E H 8 M ; < J K A 9 K ; = C A < P = G 9 E J c C < 6 F K G 9 ; O 8 6 F

N 8 G < J G 8 6 < 9 8 9 < E 6 < 6 H ; 8 • G 9 ; K J 9 K ; = G < 6 9 I = ; 8 6 M = E H Z 7 [ \ U  e L < A A < E 6 C  S S 9 I E K G 8 6 F G C

e S 9 I E K G 8 6 F G C 8 6 F  ] S 9 I E K G 8 6 F G C ; = G X = J 9 < P = A O U ` I = H A E E F G E J J K ; ; = F < 6 9 I = K ; N 8 6

8 ; = 8 8 6 F 9 I = 9 O X < J 8 A A 8 6 F G A < F = 9 O X = 9 I 8 9 E J J K ; ; = F < 6 L 8 6 O ; K ; 8 A E 6 = G a 8 G 9 I =

F = N ; < G H A E a < 6 9 I < G J < 9 O U

` I E K M I 9 I = H ; =  K = 6 J O E H < 9 G E J J K ; ; = 6 J = I 8 G < 6 J ; = 8 G = F ; = J = 6 9 A O C 9 I = ; = 8 ; = E 6 A O

8 H = a G 9 K F < = G E 6 9 I = F = N ; < G H A E a < 6 ? ; 8 @ < A K 6 9 < A 6 E a U ` I = F = N ; < G H A E a ; = G = 8 ; J I J 8 6

N = C 9 I = ; = H E ; = C J E 6 G < F = ; = F 8 G E 6 = E H 9 I = X ; < E ; < 9 < = G < 6 9 I = ? ; 8 @ < A < 8 6 G E J < = 9 O U 5 6 9 I < G

J E 6 9 = b 9 C 9 I = E N d = J 9 < P = E H 9 I = X ; = G = 6 9 G 9 K F O a 8 G 9 E 8 6 8 A O @ = 9 I = L = 9 = E ; E A E M < J 8 A 8 6 F

M = E L E ; X I < J 8 G X = J 9 G E H 9 a E F = N ; < G H A E a H = 8 9 K ; = G a I < J I E J J K ; ; = F < 6 D < E F E G

: = F ; E G J < 9 O < 6 Q E P = L N = ; R S S T U

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5 6 D < E F E G : = F ; E G J < 9 O C 9 I = X E X K A 8 9 < E 6 8 6 F 9 I = 8 ; = 8 8 ; = ] C ^ T f 8 6 F f f ^ c L § C

; = G X = J 9 < P = A O U W E G 9 E H 9 I = < 6 I 8 N < 9 8 6 9 G A < P = < 6 9 I = K ; N 8 6 8 ; = 8 > \ T c L § B A E J 8 9 = F E 6


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Apostila Pag.416
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– < M K ; = \ ¨ © E J 8 A < 9 < = G E H D < E F E G : = F ; E G J < 9 O C : K 6 I 8 a 8 9 = ; G I = F 8 6 F ; 8 < 6 M 8 K M =

G 9 8 9 < E 6 G U

9 I = H A E E F X A 8 < 6 U ` I K G C 9 I = H A E E F G I 8 P = H ; =  K = 6 9 A O 8 H H = J 9 = F I K L 8 6 A < P = G U ` I =

I < M I A 8 6 F < G K G = F H E ; 8 M ; < J K A 9 K ; = C ; = H E ; = G 9 8 9 < E 6 8 6 F I O F ; E • = 6 = ; M O M = 6 = ; 8 9 < E 6 U

V
` I = ; = 8 ; = 9 a E F 8 L G > — 8 A L = < ; 8 G 8 6 F — < 6 I 8 A B < 6 9 I < G J < 9 O U G 9 I = 8 F L < 6 < G 9 ; 8 9 < E 6

N E K 6 F 8 ; O E H 9 I = J < 9 O J E < 6 J < F = G 8 A L E G 9 a < 9 I 9 I = : = F ; E D < P = ; a 8 9 = ; G I = F F < P < F = C 9 I =

a 8 9 = ; G I = F L 8 6 8 M = L = 6 9 L 8 O N = I < M I A O K G = H K A H E ; 9 I = J < 9 O I 8 A A > – < M K ; = \ B U ` I = ; =

8 ; = 9 E X E M ; 8 X I < J L 8 X G E 6 A O 8 9 8 \ ” f S U S S S G J 8 A = H E ; 9 I = G 9 K F O 8 ; = 8 U

` I = ; = A < = H E H D < E F E G : = F ; E G J < 9 O J 8 6 N = F < P < F = F < 6 9 E 9 I ; = = @ E 6 = G ¨ > < B 9 I = A 8 a

A 8 6 F G H E ; L = F N O H A E E F X A 8 < 6 8 6 F N O G L 8 A A I < A A G a < 9 I 8 A 9 < 9 K F = H ; E L ‘ f 9 E \ f S L 8 6 F

M = 6 9 A = G A E X = G > ª \ R « B ¬ > < < B 9 I = I < M I A 8 6 F G a < 9 I 8 A 9 < 9 K F = H ; E L ^ S S 9 E \ \ S S L 8 6 F

M = 6 9 A = G A E X = G < 6 L E G 9 E H 9 I = 8 ; = 8 G > ª \ ^ « B ¬ 8 6 F > < < < B 9 I = 9 ; 8 6 G < 9 < E 6 @ E 6 = N = 9 a = = 6 9 I =

9 a E H E ; L = ; A 8 6 F G C a < 9 I G 9 = = X G A E X = G 8 6 F = L N = F F = F P 8 A A = O G U 5 6 9 I < G 9 ; 8 6 G < 9 < E 6 @ E 6 =

9 I = L 8 d E ; A 8 6 F G A < F = G E J J K ; ; = F U ­ E = ; A i { y t ‚ ‹ f Œ ; = X E ; 9 = F \ f G = P = ; = A 8 6 F G A < F = G

9 ; < M M = ; = F N O 9 I = < 6 9 = 6 G = ; 8 < 6 H 8 A A < 6 9 I < G J < 9 O < 6 Q E P = L N = ; R S S T U ` I = < ; L 8 < 6 9 O X =

a 8 G 9 I = F = N ; < G H A E a C 8 6 F L E G 9 E H 9 I = L E J J K ; ; = F E 6 G 9 = = X G A E X = G a < 9 I J E A A K P < K L


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Apostila Pag.417
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F = X E G < 9 G E 6 9 I = < ; N 8 G = U – ; E L 9 I < G = P < F = 6 J = 9 I = 8 K 9 I E ; G ‹ f Œ J E 6 J A K F = F 9 I 8 9

A 8 6 F G A < F = G 8 ; = P = ; O H ; =  K = 6 9 8 6 F 6 8 9 K ; 8 A X I = 6 E L = 6 8 < 6 9 I = M = E A E M < J 8 A 8 6 F

M = E L E ; X I E A E M < J 9 < L = G J 8 A = U ` I = H 8 J 9 9 I 8 9 9 I = ; = 8 ; = 8 A E 9 E H N < M N A E J c G 8 A E 6 M 9 I =

L 8 < 6 J I 8 6 6 = A G < 6 9 I = a 8 9 = ; G I = F C = G X = J < 8 A A O < 6 9 I = @ E 6 = G > < < B 8 6 F > < < < B C < L X A < = G 9 I =

I < M I G K G J = X 9 < N < A < 9 O 9 E 9 I = F = N ; < G H A E a G < 6 9 I = G = 9 a E @ E 6 = G U

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` E 8 6 8 A O @ = 9 I = ; 8 < 6 H 8 A A J I 8 ; 8 J 9 = ; < G 9 < J G < 6 D < E F E G : = F ; E G C 9 I = X ; = G = 6 9 G 9 K F O K G = F

V
9 I = L E 6 9 I A O F 8 9 8 E N 9 8 < 6 = F 8 9 9 I = ; 8 < 6 M 8 K M = G 9 8 9 < E 6 > ; ; E @ = < ; 8 B E H 9 I = Q 8 9 < E 6 8 A

V V V
M = 6 J O E H ´ 8 9 = ; µ Q H ; E L \ ] e R 9 E R S S ^ 8 6 F 9 I = I E K ; A O F 8 9 8 H ; E L R S S ‘ 9 E

R S S T ; = J E ; F = F 8 9 9 I ; = = ; 8 < 6 M 8 K M = G 9 8 9 < E 6 G > ? 8 ; ; 8 M = L — < 6 I 8 A C ? 8 ; ; 8 M = L D < E

V
? E 6 < 9 E C : = F ; E ¶ K G 8 6 9 = B E H 9 I = : E L X 8 6 O E H M ; < J K A 9 K ; 8 A D = G = 8 ; J I 8 6 F D K ; 8 A

V
· b 9 = 6 G < E 6 E H 7 8 6 9 8 : 8 9 8 ; < 6 8 µ · — ­ D 5 U ` I = < ; A E J 8 A < 9 < = G 8 ; = G I E a 6 < 6 – < M K ; = \ U

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5 6 9 I = : K 6 I 8 D < P = ; a 8 9 = ; G I = F C 9 a E J E L X 8 ; 8 9 < P = A O • A 8 ; M = ; F = N ; < G H A E a G a = ; =

< 6 P = G 9 < M 8 9 = F U – < M K ; = R G I E a G 9 I = F < M < 9 8 A = A = P 8 9 < E 6 L E F = A E H 9 I < G a 8 9 = ; G I = F 8 6 F

V
9 a E F = N ; < G H A E a G a I < J I 8 ; = I = ; = J 8 A A = F Y = N ; < G 8 6 F Y = N ; < G ? U 5 9 8 A G E X ; = G = 6 9 G

V
Y = N ; < G > \ 8 6 F R B 8 6 F Y = N ; < G ? > \ 8 6 F R B < 6 F = 9 8 < A U

V
– < M K ; = R ¨ © E J 8 A < 9 < = G E H 9 a E F = N ; < G H A E a G > Y = N ; < G 8 6 F Y = N ; < G ? B < 6 9 I =

: K 6 I 8 ; < P = ; a 8 9 = ; G I = F U


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Apostila Pag.418
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` I = H < = A F G K ; P = O a < 9 I 9 I = © = < J 8 ` E 9 8 A 7 9 8 9 < E 6 8 6 F 9 I = ` ; < L N A = Y < H H = ; = 6 9 < 8 A

­ — 7 > Y ­ — 7 B a 8 G J 8 ; ; < = F E K 9 F K ; < 6 M 7 = X 9 = L N = ; R S S ] C 8 N E K 9 \ S L E 6 9 I G 8 H 9 = ; 9 I =

E J J K ; ; = 6 J = C N = J 8 K G = < 9 a 8 G 6 = J = G G 8 ; O 9 E a 8 < 9 H E ; 9 I = J E L X A = 9 = G 9 8 N < A < @ 8 9 < E 6 E H 9 I =

I < A A G A E X = G U ` I = Y ­ — 7 a 8 G K G = F 9 E J E A A = J 9 G = P = ; 8 A X E < 6 9 G 8 ; E K 6 F 8 6 F < 6 9 I = L < F F A =

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Apostila Pag.419
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Apostila Pag.420
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Apostila Pag.421
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Apostila Pag.422
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Apostila Pag.423
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Apostila Pag.424
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Apostila Pag.425
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Apostila Pag.426
APLICAÇÃO DO MODELO FLO-2D
FLO 2D PARA SIMULAÇÃO DE FLUXOS DE
DETRITOS NA BACIA DO RIO CUNHA, RIO DOS CEDROS/SC
Henrique Lucini Rocha1 ; Masato Kobiyama2; Gean Paulo Michel3

RESUMO --- Em 2008, o município de Rio dos Cedros/SC registrou a ocorrência de diversos
movimentos de massa, dentre os quais, dois fluxos de detritos.
detritos As informações referentes a estes
dois fluxos foram utilizadas no desenvolvimento do presente estudo. O objetivo foi determinar
de o
alcance da massa deslizada e avaliar os fatores condicionantes para este tipo de fenômeno. Para
isso, foram realizados levantamentos do trajeto percorrido pelos fluxos, desde a ruptura até a
deposição para posterior comparação com dados encontrados dos na bibliografia e dados de saída do
modelo FLO-2D.2D. Além disso; foi verificada a aplicabilidade e consistência dos dados gerados pelo
modelo FLO-2D.2D. O modelo FLO-2D
FLO foi calibrado e validado, apresentando um erro máximo de
118 m em termos de alcance, o queque representa uma diferença de 8,22% entre o valor obtido em
campo e a pior simulação. Apesar de os resultados obtidos com o modelo terem sido satisfatórios,
alguns pontos de não reproduçãoo física do fenômeno ocorreram.

ABSTRACT --- In 2008, Rio dos Cedros city, Santa Catarina state, suffered from several mass
movements, among which, two debris flows were used as case study for the the present study. Then, the
objective of this study was to determine the total travel distance of the disrupted mass and to
evaluate the conditional factors for this type of phenomenon. Field
ield surveys were carried out in the
entire debris flow path, from the failure to the deposit
deposit for comparison with data found in the
bibliographic and modeled FLO--2D output. Furthermore, the applicability and consistency of data
generated by the FLO-2D2D model were verified. The FLO-2D 2D model was calibrated and validated
where the biggest error foundd amongst all the simulations was of about 118 m in the total travel
distance, which represents a difference of 8.22% between the value obtained in the field and the
worst simulation. Despite the satisfactory results obtained with the model, some points of no
physical reproduction of the phenomenon took place.

Palavras-chave: Fluxo de detritos


etritos, FLO-2D, alcance.

1
Engenheiro, MSc. Fractal Engenharia, Rua Lauro Linhares, 2055. Florianópolis (SC). Email: rocha@fractaleng.com.br
@fractaleng.com.br
2
Professor Dr. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
masato.kobiyama@ufrgs.br
3
Doutorando. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
geanpmichel@gmail.com

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 1

Apostila Pag.427
INTRODUÇÃO

No mundo, diversos eventos de fluxos de detritos já ocasionaram mortes e grandes prejuízos


econômicos. García et al. (2004) relataram a morte de mais de 10 mil pessoas em um evento de
fluxo de detritos que atingiu a Venezuela em 1999. Além da Venezuela, outros países também vêm
sendo afetados por estes fenômenos, por exemplo, Japão (JITOUSONO et al. 2008), Itália
(BONIELLO et al., 2010) e Taiwan (LEE et al., 2008). No Brasil, diversos eventos vêm
acontecendo ao longo dos anos, como os apresentados por Jones (1973), Lopes et al. (2007), Kanji
et al. (2008), dentre outros. E, no início de 2011, a região serrana do Rio de Janeiro voltou a sofrer
com desastres naturais de grande magnitude, nos quais se incluem os fluxos de detritos (FREITAS
et al., 2012). Kobiyama et al. (2010) demonstraram a importância do monitoramento dos fluxos de
detritos, bem como a necessidade de se estimar o alcance da massa fluída.

Neste intuito, a propagação de dois fluxos de detritos, os quais ocorreram na bacia do Rio
Cunha, município de Rio dos Cedros, em 2008, foi analisada pelo presente estudo através do
modelo FLO-2D (O’Brien et al., 1993). Este estudo teve o objetivo de determinar o alcance da
massa deslizada e a área afetada, além de avaliar os fatores condicionantes relacionados a este tipo
de fenômeno.

MÉTODOS E MATERIAIS

Área de estudo
O local de estudo é a bacia hidrográfica do Rio Cunha (16,3 km2) no município de Rio dos
Cedros, SC (Figura 1). Esta bacia foi escolhida pela ocorrência de diversos fluxos de detritos em
novembro de 2008. Dentre os fluxos ocorridos, dois foram analisados e nomeados de Fluxo A e B
pelo presente estudo. Embora estes fluxos não tenham gerado grandes prejuízos à população, se
propagaram por mais de 1 km antes de sua completa deposição. Todas as figuras apresentadas neste
trabalho estão na projeção geográfica SAD69 22 S.

A Figura 2 apresenta o mapa altimétrico da bacia do Rio Cunha. Nesta bacia a altitude varia
de aproximadamente 120 a 860 m, contando com regiões planas e encostas íngremes. A escala da
fonte altimétrica é 1:50.000.

Levantamentos topográficos
Foram realizados diversos levantamentos em campo para caracterização dos fluxos de
detritos. Durante os levantamentos foram utilizadas uma estação total Leica TPS 400 e um GPS
diferencial (DGPS) Trimble R3 (L1) e 5700 (L1 e L2). Com o DGPS foram realizados

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 2

Apostila Pag.428
levantamentos nas áreas abertas e sem cobertura do trajeto dos fluxos, ou seja, locais em que a
vegetação não afetava na qualidade do sinal. Nas bordas dos canais e em locais onde o sinal do
DGPS não possuía qualidade adequada, foram levantados pontos com o uso da estação total.

A partir dos pontos levantados, o volume deslocado, volume erodido, trajeto percorrido, local
de deposição e alcance foram calculados. Além disso, através da delimitação da área de abrangência
dos fluxos, fez-se o reconhecimento de algumas peculiaridades. Em ambos os fluxos ocorreram
formações de ilhas, ou seja, locais não afetados, por onde os detritos passaram em ambos os lados.
Além das ilhas, existia uma lagoa com volume aproximado de 1.800 m³ e profundidade média de 3
m próximo ao final do Fluxo A. Estes dados complementares foram utilizados durantes as
simulações a fim de melhor reproduzir o evento ocorrido.

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7054000

7054000

Barragem Pinhal

Barragem Rio Bonito


7048000

7048000

Ü Arrozeira
7042000

7042000

Legenda
Bacia Rio Cunha Km
0 2 4 8 12

645000 654000 663000 672000

Figura 1 – Localização geográfica da bacia do Rio Cunha com indicação das estações
meteorológicas utilizadas neste estudo.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 3

Apostila Pag.429
664000 665000 666000 667000 668000 669000

Área A

7045900

7045900
7045000

7045000
7044100

7044100
Elevação (m)
786 - 860
Área B
712 - 786
7043200

7043200
638 - 712
564 - 638
490 - 564

Ü 416 - 490
342 - 416
7042300

7042300
268 - 342
194 - 268
120 - 194
0 0.5 1 2
km Cursos d'água
664000 665000 666000 667000 668000 669000

Figura 2 – Mapa altimétrico com indicação das cicatrizes dos fluxos de detritos.

Na Figura 3 são apresentados os pontos levantados em campo, situados dentro da bacia do


Rio Cunha, com a indicação da lagoa, o ponto de coleta (PRC4) para análise do solo.
664000 665000 666000 667000 668000 669000 670000

Fluxo A
7046000

7046000
7045000

7045000
7044000

7044000

Fluxo B
Fluxo B
7043000

7043000

Legenda Fluxo A
PRC4
Pontos Fluxo B
7042000

7042000

Pontos Fluxo A B2
Cursos d'água
Lagoa

Ü
7041000

7041000

0 0.5 1 2
Km
664000 665000 666000 667000 668000 669000 670000

Figura 3 – Levantamento em campo: mapa da bacia do Rio Cunha com indicação dos pontos
levantados em campo e da lagoa.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 4

Apostila Pag.430
Hidrograma de entrada
Após estimar o volume total deslocado em cada fluxo, foi necessário transformá-lo em um
hidrograma para ser utilizados no modelo. Como método de estimativa dos hidrogramas, adotou-se
o hidrograma com formato triangular, baseado na metodologia apresentada por Whipple (1992).
Nestes hidrogramas o tempo de ascensão é menor que o tempo de recessão o que representa bem a
disponibilidade de material de um fluxo de detritos. Além disso, o tempo total de duração do
hidrograma é curto, também com o intuito de reproduzir o fenômeno de maneira mais adequada.

O formato triangular já vem sendo aplicado para simulação de fluxos de detritos como
verificado em D’Agostino e Tecca (2006), Gentile et al. (2008), dentre outros. Como não foi
possível realizar análises durante o acontecimento dos fluxos de detritos para determinar a vazão de
pico, foram aplicadas as equações empíricas (1) a (8) apresentadas na Tabela 1 com a concentração
volumétrica variando de 0,2 a 0,65. Com a vazão de pico estimada, a variação da concentração
volumétrica estabelecida e o formato do hidrograma adotado, foram criados os hidrogramas de
entrada para as simulações. Vale ressaltar que estes hidrogramas sofreram alterações com relação a
valores, já que foram utilizados para transportar o valor de volume total deslocado para cada fluxo e
deveriam se enquadrar aos limites computacionais impostos pelo modelo.

Tabela 1 – Equações empíricas para estimar vazão de pico


Autores Equação
 500 
Forti (1920) Q p = A 2,35 + 0,5  (1)
 A + 125 
Rickenmann (1999) Q p = 0,1.M 5 / 6 (2)

Mizuyama et al. (1992) Q p = 0,135.M 0,78 (3)

Mizuyama et al. (1992) Q p = 0,0188.M 0,79 (4)

Jitousono et al. (1996) Q p = 0,00558.M 0,831 (5)

Jitousono et al. (1996) Q p = 0,00135.M 0,870 (6)

Costa (1988) Q p = 0,293.M 0w,56 (7)

Costa (1988) Q p = 0,0163.M 0w,64 (8)

onde Qp é a vazão de pico (m³/s); A é a área da bacia (km²); M é volume total deslocado (m³); e Mw
é volume de água (m³)

Simulações com FLO-2D


As simulações com o FLO-2D necessitam de dados topográficos, reológicos além do
hidrograma para reproduzir os eventos de fluxos de detritos. Para facilitar a compreensão do
funcionamento e utilização do modelo, as etapas de entrada de dados são demonstradas na Figura 4.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 5

Apostila Pag.431
Figura 4 – Fluxograma com passos realizados para simulação com modelo FLO-2D.
FLO

Inserção do hidrograma, rugosidade do canal, concentração volumétrica e resistência ao fluxo


laminar
Após a criação do grid (10 e 20 m) sobre a área a ser simulada, foram
f identificadas as
células que correspondiam ao local de início do fluxo, ou seja, situadas sobre a área de ruptura. A
estas células foram atribuídos os hidrogramas
hidrograma de entrada.. Estes hidrogramas consideram a carga
líquida, mais a carga de sedimentos,
sedimentos estimada através da concentração volumétrica, de modo que o
volume total de sedimento fosse igual ao estimado por Kobiyama et al. (2010),
(2010) acrescido do valor
estimado de erosão sofrida pelo canal. Para propagar o volume de cada fluxo de detritos,
detritos foi variada
a concentração volumétrica de sedimento conforme a variação da vazão para que no final o valor
simulado de volume correspondesse
correspondesse ao volume total propagado para cada fluxo. Além de propagar
o volume total obtido, os hidrogramas
ogramas apresentam dois picos, um menor inicial e um maior
posterior acrescido em uma hora de simulação. Esta medida foi tomada após diversas conversas
com moradores locais que constataram a ocorrência de um pequeno escorregamento inicial seguido
de um movimento
imento maior. Esta hipótese é válida,
válida já que uma pequena instabilidade facilitaria a
desestabilização e ruptura de uma área maior.

Foi
oi variada também a concentração volumétrica de sedimentos (Cv) com o valor de vazão
apresentado nos hidrogramas. Esta hipótese
hipó se baseia na ocorrência de umaa frente mais úmida, ou

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 6

Apostila Pag.432
seja, com maior presença de água, como um fluxo de lama de grande mobilidade; seguida de um
corpo rochoso com maior presença de detritos; e posteriormente a calda novamente mais úmida.

O valor de coeficiente de Manning foi uniformemente atribuído para toda a área


computacional por se tratar de um terreno com predominância de floresta, como pode ser verificado
na Figura 5. Baseado em valores obtidos por Chow (1959) e FLO Engineering Inc (2009) foi
adotado um valor igual a 0,35 para ambos os fluxos de detritos, o que representa o valor médio de
rugosidade obtido em locais com vegetação densa.

Figura 5 – Imagem aérea nos locais de ocorrências.

Baseado em valores propostos por FLO Engineering Inc (2009) com relação ao parâmetro
de resistência ao fluxo laminar (K), foi adotado um valor igual a 10.000. Este valor foi obtido após
testes de calibração, tomando como hipótese a conformação que levasse a ocorrência de bons
resultados. FLO Engineering Inc (2009) recomendou o valor de K=2.285 para um evento de fluxo
de lama que ocorreu em uma região urbana. Como as características do canal e da região onde
ocorreram dos fluxos A e B trazem a presença de florestas, com elevada rugosidade, atribuiu-se
também um elevado valor para K.

Em algumas simulações foram delimitadas as ilhas formadas pela propagação dos fluxos.
Para definir estes locais no processo de modelagem, foi utilizada a ferramenta de Fator de Redução
de área. Como nestes setores o fluxo passou pelas laterais, as áreas foram completamente
bloqueadas obrigando o fluxo a se dividir, assim como verificado em campo. Essa hipótese foi
adotada na tentativa de reproduzir os pontos de deposição próximos às ilhas.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 7

Apostila Pag.433
Dados de reologia
O presente trabalho não realizou análise de viscosidade e tensão cisalhante de amostras dos
locais de ocorrência. Sendo assim, os valores utilizados foram os obtidos por O’Brien (1986)
conforme a Tabela 2. Segundo O’Brien e Julien (1988), a tensão cisalhante e a viscosidade são
obtidas por uma função exponencial. Com os valores propostas por O’Brien (1986) foi realizada a
calibração do modelo, escolhendo a melhor opção reológica para a bacia do Rio Cunha.

Tabela 2 – Valores das constantes reológicas encontrados na bibliografia.

τ y = αe β C
v
(dynes/cm²) η = αe βCv
(poises)
Local
α β α β
Dados de Campo
Aspen Pit 1 0,181 25,7 0,0360 22,1
Aspen Pit 2 2,72 10,4 0,0538 14,5
Aspen Natural Soil 0,152 18,7 0,00136 28,4
Aspen MineFill 0,0473 21,1 0,128 12,0
Aspen Watershed 0,0383 19,6 0,000495 27,1
Aspen Mine Source Area 0,291 14,3 0,000201 33,1
Glenwood 1 0,0345 20,1 0,00283 23,0
Glenwood 2 0,0765 16,9 0,0648 6,2
Glenwood 3 0,000707 29,8 0,00632 19,9
Glenwood 4 0,00172 29,5 0,000602 33,1
Fonte: O'Brien (1986)

Dados finais para simulação


Finalizado o passo anterior, foram atribuídos os dados finais necessários para a simulação.
Nesta etapa foi determinado: (i) o tempo computacional de simulação; (ii) o intervalo de saída, ou
seja, o intervalo no qual o modelo salva os dados nos arquivos de saída; (iii) os componentes a
serem utilizados para simulação, tanto processos físicos envolvidos como componentes locais e
hidráulicos; (iv) caso o operador solicite a saída de dados gráficos durante a simulação, os
parâmetros como intervalo de atualização e os tipos de dados; e (v) os dados de estabilidade
dinâmica do modelo, para determinação do intervalo computacional. Para o item (v), encontram-se
o coeficiente de Courant (C); o coeficiente de estabilidade dinâmica (ζ); a tolerância de alteração de
altura; e a altura mínima de sedimento.

A Tabela 3 apresenta os valores atribuídos aos parâmetros do modelo para a simulação de


ambos os fluxos de detritos. Os quatro últimos parâmetros apresentados são responsáveis por
manter a estabilidade numérica durante a simulação. Estes valores foram adotados por realizarem as
simulações sem apresentar problemas e com baixo dispêndio de tempo computacional.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 8

Apostila Pag.434
Tabela 3 – Parâmetros utilizados nas simulações com o FLO-2D.

Parâmetro Unidades Fluxo A Fluxo B

Tempo de Simulação h 4,5 5


Intervalo Computacional min 1,2 1,2
Coeficiente de Manning m-1/3s 0,35 0,35
Densidade dos grãos g/cm³ 2,72 2,72
Coeficiente de resistência em fluxo laminar ad 10.000 10.000
Coeficiente de Courant ad 0,6 0,6
Altura mínima de sedimento m 0,1 0,1
Coeficiente de estabilidade dinâmica ad 1 1
Tolerância de alteração de altura % 20 20

Calibração do modelo
Para calibração do modelo foram testados diversos valores das constantes reológicas
apresentadas por O’Brien (1986) encontradas na Tabela 2. Foram comparados o alcance da massa, a
área inundada, o perímetro, o fator de forma (Kf) e o índice de compacidade (Kc) da área inundada:

Aa
Kf = (9)
L2

0,28 P
Kc = (10)
Aa

onde Aa é a área inundada (m²); e P é o perímetro da área molhada (m).

Foi calculada a diferença percentual entre os valores obtidos nas simulações com os dados
medidos em campo no Fluxo A. Para a escolha da melhor calibração adotou-se o critério de menor
erro percentual com relação ao alcance da massa, já que os outros critérios somente foram adotados
para fins de comparação. O fator de forma e o índice de compacidade foram utilizados, já que um
deslizamento pode apresentar diversas formas com relação a sua área inundada.

Determinado qual conjunto de constantes reológicas melhor reproduziu o alcance e


características de área inundada no Fluxo A, foi verificada a validação destes dados através da
simulação e comparação com os valores do Fluxo B. Para as simulações de calibração foram
considerados o grid com 10 m de aresta, com a presença das ilhas encontradas em campo e da lagoa
que havia no trajeto do Fluxo A.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 9

Apostila Pag.435
RESULTADOS E DISCUSÃO

Estimativa de volume total dos fluxos


Para determinação do volume total de sedimentos para ambos os fluxos foram considerados
os volumes estimados nos locais de ruptura acrescidos dos volumes de erosão dos canais. Com o
volume total de sedimentos, foi considerada a hipótese de uma concentração volumétrica de 50%, o
que facilitaria a obtenção do volume total transportado. Com isso basta-se duplicar o valor total de
sedimentos para se obter o volume total transportado para cada fluxo.

Segundo os moradores locais a altura de deposição logo após os eventos foi de 6 a 11 m em


ambos os fluxos. Com estes valores, estimou-se uma magnitude de volume total transportado na
casa de 300.000 m³ para o Fluxo A (Área de deposição com aproximadamente 50.000 m²) e
250.000 m³ para o Fluxo B (Área de deposição apresentada na Figura 6). Com isso partia-se com
uma magnitude aproximada de volume total transportado para cada fluxo, o que justifica a
simplificação de 50% de concentração volumétrica de sedimentos.

Para determinação do volume erodido, foi estimado um valor de altura erodida durante a
passagem do fluxo B baseada em medições de altura de deposição (Figura 6). Com uma altura de
deposição média gerada a partir das medições em campo, atribuiu-se este valor para toda a área de
deposição. Multiplicando-se a altura pela área de deposição estimou-se o volume de sedimentos
transportado. Estimando-se uma altura média de deposição de 2,5 m, obteve-se um volume
aproximado de 75.000 m³ de sedimentos depositados. Como estas medições de altura de deposição
foram realizadas após aproximadamente 2 anos do ocorrido, parte do sedimento já foi erodido e
transportado, sendo assim decidiu-se adotar este valor como o referente ao valor produzido somente
por erosão. Desta forma dividindo-se este volume pela área de erosão do Fluxo B obtém-se a altura
de erosão com aproximadamente 1,6 m, sendo arredondado para 1,5 m. Encontrado o valor de
altura de erosão para o Fluxo B, foi adotado o mesmo valor para o Fluxo A, pois as áreas
apresentam as mesmas características geológicas e geomorfológicas.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 10

Apostila Pag.436
Legenda
Cursos d'água

Área de Deposição B

Área Limite B

Área de Deposição B 4m
30.105,71 m²

Ü
0 50 100 200
m

Figura 6 – Estimativa de volume total de sedimentos para o Fluxo B.

Sendo assim, a Tabela 4 apresenta algumas características relacionadas à erosão e


sedimentação.

Tabela 4 – Volumes estimados de erosão causada pela passagem do fluxo de detritos.

Ae he Me Mi Ms Lt Ε
(m²) (m) (m³) (m³) (m³) (m) (m³/m)
Fluxo A 69.565 1,5 104.347 55.915 160.263 1.061 98,39
Fluxo B 46.736 1,5 70.104 61.336 131.441 1324 52,96
Obs.: Ae é a área de erosão; he é a altura erodida; Me é o volume total erodido; Mi é o volume inicial
de ruptura baseado em Kobiyama et al. (2010); Ms é o volume total de sedimentos; Lt é o alcance
(igual à distância total percorrida); e Ε é a taxa de erosão média no percurso.

Hidrograma de entrada
Para geração dos hidrogramas, foram aplicadas as equações de vazão de pico (1 a 8)
apresentadas na Tabela 1. Os resultados são apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 – Vazões (m3/s) de pico estimadas com 8 equações para Fluxos A e B.

Equação 1 2 3 4 5 6 7 8 Média
A 1362 3874 2660 420 209 83 9 34 1081
B 1416 3284 2279 359 178 70 9 30 953

Com estes valores, foi calculado o valor médio para ser adotado como vazão de pico do
hidrograma de entrada preliminar de ambos os fluxos. Além disso, adotou-se para os tempos inicial

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 11

Apostila Pag.437
e final, vazão igual a zero por ser uma condição de contorno do modelo, e, para o primeiro e
penúltimo minuto vazão igual a 0,1 m³/s. Baseado nos hidrogramas apresentados por Whipple
(1992), adotou-se que a vazão de pico ocorreria no quinto minuto de simulação para que a ascensão
tivesse menor duração que a recessão. O passo seguinte foi gerar dois hidrogramas consecutivos
separados em uma hora. Este intervalo de uma hora foi determinado através de uma análise
preliminar de simulação onde o objetivo era que a massa desestabilizada anteriormente já estivesse
depositada. Esta etapa foi realizada tomando como base a hipótese de uma pequena desestabilização
inicial, para posterior movimento de grandes proporções. Para isto, a primeira onda foi obtida
tomando como hipótese uma relação direta e igual a 10% dos valores da segunda onda. Este valor
de 10% é apenas um dado simbólico para representar uma pequena desestabilização, já que no final
não representará grandes valores de deposição.

Como foram verificados dois pontos de ruptura em cada fluxo, há 4 hidrogramas (A1, A2, B1
e B2) com 2 ondas cada, e com a variação da concentração volumétrica com relação à vazão, ou
seja, quanto maior a vazão, maior a concentração de sedimentos. Para o fluxo A, foi adotada a
hipótese de produção de detritos na ruptura A2 equivalente a 10% do montante produzido em A1,
baseado nos levantamento de campo. Já para o fluxo B, o volume transportado na ruptura B1 é de
40% do valor transportado em B2, também baseado nos valores de volume obtidos nos locais de
ruptura. Além da diferença de volume, o início de ambas as rupturas também foi separado em meia
hora. Este valor foi adotado para que a parte da massa da ruptura anterior já não estivesse mais em
movimento quando ocorresse a desestabilização e início do movimento seguinte. Este valor de 30
minutos também foi obtido após uma análise preliminar para dar garantia da deposição da massa
deslizada anteriormente. No fluxo A, foi observado em campo que a ruptura se deu primeiro em A1
e depois em A2. Já para o fluxo B a ruptura ocorreu primeiramente em B2. Estas diferenças são
importantes para a reprodução das características das deposições, bem como para o alcance da
massa deslizada.

Ao tentar simular os hidrogramas com os valores de vazão média apresentados na Tabela 5, o


modelo apresentou erro e foi finalizado, pois gerava-se uma altura de escoamento acima do limite
computacional (>100 m). Como primeira tentativa, para solucionar esse problema, foram divididos
os hidrogramas em dois. Desta forma, com vazões divididas à metade, foram utilizadas duas células
de grids em cada ponto de ruptura. Com esta configuração o modelo finalizou sua simulação, mas
transportando o volume total muito acima do estimado (>900 mil m³ para o Fluxo A, por exemplo).
Para acertar este valor, foi feita uma relação direta entre valor simulado com o valor total estimado.
Esta relação foi multiplicada a cada valor de vazão dos hidrogramas divididos em dois obtendo-se
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 12

Apostila Pag.438
assim o hidrograma final para simulação. A Figura 8 apresenta o hidrograma B2, onde pode ser
visto a variação da vazão, o intervalo entre o início dos hidrogramas e a variação da concentração
volumétrica no tempo.

250 0.7
Q 0.6
200
Cv 0.5

Cv (m³/m³)
150
Q (m³/s)

0.4

100 0.3

0.2
50
0.1

0 0
0 0.25 0.5 0.75 1 1.25 1.5
Tempo (h)

Figura 8 – Hidrograma B2 e a variação da concentração volumétrica com o tempo.

Por fim, a metodologia aplicada para geração dos hidrogramas está condizente com a
metodologia aplicada por Rickenmann et al. (2006), tanto na geometria triangular, quanto na
magnitude da vazão de pico (centenas de m³/s). Além disso, o hidrograma apresenta um curto
intervalo de duração, o que melhor representa um fenômeno de fluxo de detritos.

Calibração do modelo
Para calibração foram realizadas simulações com as constantes reológicas apresentadas na
Tabela 2. Como critério de aceitação, foi realizado teste para que durante as simulações, os detritos
não interceptassem os limites computacionais estabelecidos. Com isso, apenas os resultados obtidos
com as características reológicas em Aspen Mine Source (a), Aspen Natural Soil (b) e Aspen Pit 1
(c) passaram neste teste.

A Tabela 6 apresenta os resultados obtidos após as simulações. Além disso, a Figura 9


demonstra o resultado espacial da deposição final dos detritos simulados no Fluxo A.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 13

Apostila Pag.439
Tabela 6 – Caracterização das áreas da ocorrência obtida pela simulação com FLO-2D para o Fluxo
A: (a) características; (b) comparação com o medido em campo.

(a)
Área Perímetro Alcance
Local Kf Kc
(m²) (m) (m)
Campo 120.241 2.319 1.061 0,11 1,87
Aspen Natural Soil 242.687 2.587 1.145 0,22 1,47
Aspen Pit 1 158.968 2.203 1.033 0,15 1,55
Aspen Mine
227.023 2.455 1.092 0,19 1,45
Source
(b)
Diferença Percentual Diferença
Aspen Natural Soil 101,83 11,57 7,97 0,11 -0,40
Aspen Pit 1 32,21 -4,98 -2,61 0,04 -0,32
Aspen Mine
88,81 6,28 2,95 0,08 -0,42
Source

Ilhas

Lagoa
(a) (c)
Deposição (m)
0-2
2-4
4-6
6-8
8 - 10
> 10
Área Limite A

Ü (b)
0 100 200 400
m

Figura 9 – Resultados da deposição e áreas limites simuladas para o Fluxo A com as reologias: (a)
Aspen Mine Source; (b) Aspen Natural Soil; e (c) Aspen Pit 1.

Como o critério para escolha da melhor característica reológica foi o alcance da massa, ficou-
se com duas opções que apresentaram resultados muito semelhantes; a Aspen Mine Source e Aspen
Pit 1 (2,95 e 2,61%, respectivamente). Então, optou-se por realizar as simulações de validação do
fluxo B com ambas as opções reológicas a fim de confirmar qual se comporta melhor para a bacia
do Rio Cunha. Nota-se que para a reologia (a) e (b) ao final da deposição ocorre um espalhamento
dos detritos. Isto ocorre, pois a partir da base utilizada, nas regiões próximas aos leitos do rio
formam-se planícies com a mesma elevação. Este tipo de resultado demonstra a necessidade de

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 14

Apostila Pag.440
MDTs de maior precisão quando o intuito é melhor reproduzir este tipo de fenômeno, já que
conforme verificado em campo o terreno ainda apresentava desníveis e a formação de pequenos
canais com cursos d’água nestas regiões de deposição (Figura 9). Nesta figura, observa-se também a
presença das ilhas utilizadas nas simulações, bem como a presença da lagoa. Estas variações
topográficas foram usadas na calibração como forma de reproduzir o verificado em campo.

Simulações com o FLO-2D


Determinadas as duas opções de características reológicas procedeu-se para as simulações de
validação do fluxo B. Nestas simulações foram realizados testes variando o grid em 10 e 20 m de
aresta e também o bloqueio ou não das células que representavam as ilhas encontradas em campo.
A Figura 10 apresenta os resultados de simulação utilizando o grid de 10 m (a e b) e 20 m (c e d) e
as reologias de Aspen Pit 1 e Aspen Mine Source.

Deposição (m) Deposição (m)


0-1 0-1
1-2 1-2
2-3 2-3
3-4 3-4
4-5 4-5
5-6 5-6
6-7 6-7
7-8 7-8
8-9 8-9
9 - 10 9 - 10
10 - 11 10 - 11
11 - 12 11 - 12
> 12 > 12
Área Limite B Área Limite B
Cursos d'água Cursos d'água

(a)
(a)
(b)
(b)
Ü
0(c)
(a) 125 250 500
m
(d)
(b)
Ü
0 125 250 500
m

Figura 10 – Mapa de deposição e área inundada simuladas para o Fluxo B com as reologias de (a)
Aspen Pit 1; (b) Aspen Mine Source. Grid:10m. (c) Aspen Pit 1; (d) Aspen Mine Source. Grid:20m.

Mais uma vez ambos os resultados obtiveram as mesmas características de deposição com
relação ao caminho percorrido e área limite, mas a reologia de Aspen Pit 1, quando o grid apresenta
aresta de 10 m, é a que melhor se enquadra, dentre as reologias testadas, para reprodução de fluxos
de detritos na bacia do Rio Cunha. Este resultado pode ser confirmado conforme diferença
percentual apresentado na Tabela 6 e Tabela 7. Ao compararmos somente a diferença percentual
entre a distância percorrida, verifica-se que a reologia Aspen Mine Source apresenta os menores
erros. Apesar disso, esta reologia tem a tendência de aumentar o percurso da massa deslizada.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 15

Apostila Pag.441
Tabela 7 – Valores de alcance obtidos durante etapa de validação com as reologias testadas.

Local Grid 10 (ilha) Grid 10 Grid 20 (ilha) Grid 20


Campo 1.437 m
Mine Source 1.528 m 1.531 m 1.454 m 1.452 m
Pit 1 1.392 m 1.392 m 1.322 m 1.319 m
Diferença Percentual
Mine Source 6,3% 6,5% 1,2% 1,0%
Pit 1 3,1% 3,1% 8,0% 8,2%

De maneira geral, é necessário ressaltar que além das propriedades reológicas dos detritos, os
fatores topográficos, como a localização dos pontos de ruptura são cruciais para a descrição do
fenômeno, pois o modelo simula o percurso do fluxo a partir da localização da célula de grid de
entrada. Além dos locais de ruptura, um maior detalhamento da topografía, através de dados
altimétricos mais precisos, também iria influenciar na descrição do trajeto percorrido pela massa
deslizada. Mesmo assim, notam-se bons resultados mesmo com os dados altimétricos gerados com
curvas espaçadas de 20 em 20 metros e escala da fonte de 1:50.000.

Não foi possível gerar os dados de deposição detalhados já que os levantamentos de campo
necessitam de bastante tempo e foram realizados durante um longo período, em um intervalo de
poucos meses cerca de um ano e sete meses após o ocorrido, causando assim alterações
significativas nas características de deposição. Isto pode ser observado na Figura 11 onde são
apresentadas fotos tiradas de quase mesmo ângulo, mas em dias diferentes que demonstram esta
modificação.

(a) (b)

Figura 11 – Alteração das características de percurso e deposição verificadas no Fluxo B: (a)


29/01/2009; (b) 07/06/2010.

XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 16

Apostila Pag.442
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao proceder às simulações no modelo FLO-2D ficou evidenciado a não reprodução, em parte,


do fenômeno físico envolvido no fluxo de detritos. Esta conclusão parte da não reprodução da
erosão da massa que será transportada, nem a reprodução das velocidades e tempo de percurso.
Entretanto, o modelo conseguiu obter bons resultados quanto ao alcance e descrição do trajeto dos
fluxos analisados, mesmo partindo de uma informação altimétrica de baixa precisão.

O erro percentual do alcance para os valores calibrados não superou 10% para ambos os grids
utilizados (10 e 20 m). Este erro representou uma subestimativa do alcance em 118 m quando
utilizado o grid com aresta de 20 m e a reologia proposta por O’Brien (1986) para Aspen Pit 1. Ao
analisar os grids de 20 m de aresta ocorreu uma inversão na melhor reologia proposta, com Aspen
Mine Source apresentando erro percentual na casa de 1% (~ 18 m). Stolz e Huggel (2008), ao
analisarem fluxos ocorridos na Suíça, afirmaram que para um grid de 25 m ocorre apenas a
descrição do caminho, com extrapolação da área afetada e erro de deposição. Os resultados para a
bacia do Rio Cunha são condizentes com relação à área afetada, mas apresentam melhor precisão
com relação ao alcance. Sendo assim, ambos os grids podem ser utilizados para representar fluxo de
detritos em bacias com características semelhantes à bacia do Rio Cunha, quando o modelo FLO-
2D já possuir os demais parâmetros calibrados e as informações altimétricas em escala 1:50.000 ou
melhor.

Desta forma, a metodologia para definição da área afetada pode ser replicada em grande parte
do Brasil ao analisarmos os dados de topografia disponíveis. Ao associar a simulação hidrodinâmica
da massa deslizada com a modelagem para identificação de locais de ruptura com ferramentas como
SHALSTAB, SINMAP, dentre outros, têm-se uma metodologia fisicamente embasada para o
mapeamento de áreas de perigo para o gerenciamento de risco associados a movimentos de
encostas.

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Apostila Pag.446
Effectiveness analysis of small artificial reservoir for reducing sediment
delivery due to debris flow with KANAKO model

1 1 2
Gean P. MICHEL , Masato KOBIYAMA and Roberto F. GOERL

1 Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Av. Bento Gonçalves 9500, Caixa Postal 15029,
Porto Alegre/RS, CEP91507-970, Brazil)
E-mail: geanpmichel@gmail.com
2 Departamento de Geociências, Universidade Federal de Santa Catarina (Caixa Postal 476, Florianópolis/SC, CEP88040-970,
Brazil)

The debris flow is a natural phenomenon which can deliver large amount of sediment with very high velocity and
cause severe disasters. In Southern and Southeastern Brazil, many people in mountainous areas have been recently
killed by debris flows triggered by heavy rainfalls. On the other hand, in rural sides it is very common to construct
small artificial reservoirs, made with clay, used for fish production and water storage. Therefore, an intrinsic
function of these reservoirs can be thought the storage of sediment delivered by debris flow routing and
consequently the protection of the downstream houses and infrastructures. In fact, many cases where debris flows
stopped inside the reservoirs and the destruction of housing and infrastructure was avoided are frequently
observed in rural and mountainous areas. The objective of the present study was, therefore, to investigate the
effectiveness of such reservoirs to reduce sediment delivery due to debris flows by using the KANAKO 2D model.
Then, one debris flow which occurred in the Cunha river basin, Santa Catarina state, in 2008, was analyzed. The
model was applied for two different scenarios: (I) there is a reservoir (approximate volume of 5.000 m³) at the
bottom of the hillslope on the debris flow route (actual scenario); and (II) there is no reservoir. The digital terrain
model (5 m x 5 m grid) was obtained from a laser profiling of the area, and the real debris flow route was
constructed by field survey in detail with a differential GPS and a total station. Topographic information of the
debris flow’s head was used to estimate the volume of sediment delivery and to determine the hydrograph input to
the model. The model was calibrated with the scenario (I) and posteriorly applied to the scenario (II). Then, the
route, reach, flow depth, velocity, concentration and sedimentation thickness were compared between the two
scenarios. It is observed that the reservoir´s absence resulted in a substantial change in the flow characteristics
(route, velocity and flow depth) over the depositional area (alluvial fan). In the scenario (II) some of the buildings
located over the alluvial fan could be destroyed. Furthermore, the debris flow connected completely to the main
river channel and delivered much larger amount of sediments than in the scenario (I). Finally, it is concluded that
the construction of small reservoirs on the route of debris flow can reduce significantly the damages caused by
this phenomenon. Although the KANAKO describes the stony debris flows, the present study shows that this
model has a good performance for a woody debris flow.

Key words: KANAKO, debris flow, reservoir, disaster reduction

Apostila Pag.447
9 ASPECTOS FILOSÓFICOS

MASATO KOBIYAMA
ALINE DE ALMEIDA MOTA

Qualquer desenvolvimento técnico-científico se torna inútil ou inadequado caso não


tenha como base a filosofia correta. Justamente por isso, todos os cientistas e gestores da área
de ciência e tecnologia para prevenção de desastres precisam aprender e refletir sobre os
aspectos filosóficos mais adequados. Neste sentido, a filosofia de “Small is beautiful” de E.
Schumacher deve ser indispensável.
Aqui, apresenta-se um artigo que discute “Small is beuatiful” e suas reflexões:

• KOBIYAMA, M. “Science is beautiful”: aplicação da hidrologia no gerenciamento de


desastres naturais.. In: V Oficina Internacional sobre Enfoques Regionais para o
Desenvolvimento e Gestão de Reservatórios na Bacia do Prata (2008, Foz do Iguaçu)
localmente: do diagnóstico às soluções de maior impacto. Buenos Aires: IARH,
Proceedings, 2008. 9p. CD-rom

Apostila Pag.448
“Science is beautiful”: aplicação da hidrologia no

gerenciamento de desastres naturais


Masato Kobiyama
Dept. de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina
kobiyama@ens.ufsc.br

RESUMO
A partir da idéia “Small is beautiful”, de Ernst Friedrich Schumacher, o presente trabalho
discute os aspectos filosóficos envolvidos no gerenciamento de desastres naturais.
Conclui-se que “Small is beautiful”, “Slow is beautiful”, “Simple is beautiful” e “Science is
beautiful” são aspectos relevantes para conseguir a redução de desastres naturais. Como os
desastres naturais no Brasil ocorrem principalmente devido à ação da água, acredita-se que
a hidrologia possui uma grande contribuição para esse assunto. Segundo UNESCO, a
hidrologia é uma das principais ciências envolvidas no estudo de desastres naturais. Além
de demonstrar os mecanismos desencadeadores desses desastres, a hidrologia traz também
a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados diariamente, e evidencia a
importância da água e do convívio integrado com a natureza. Assim sendo, a melhoria da
hidrologia com belas teorias possibilitará bom desempenho nas execuções de medidas
tanto estruturais quanto não-estruturais.

Palavras-chave: hidrologia, desastres naturais, small is beautiful.

1. INTRODUÇÃO
Inundação, deslizamento, estiagem, entre outros são fenômenos naturais
freqüentemente observados na natureza. Quando estes fenômenos ocorrem em locais onde
o ser humano atua, eles provocam danos materiais e humanos à sociedade; neste caso, são
tratados como desastres naturais. O número de ocorrência destes desastres vem
aumentando ao longo da história. Este aumento pode estar associado com o crescimento
populacional, concentração da população nos centros urbanos e com o mau planejamento e
utilização das bacias hidrográficas pelo homem (Kobiyama et al., 2006). Além disso,
existem evidências que a mudança climática global aumenta a freqüência e a intensidade
de eventos hidrológicos extremos, contribuindo no aumento da incidência de desastres
naturais. Nestas circunstâncias, é necessário tomar medidas para reduzir os prejuízos
causados pelos desastres naturais. Para isto, precisa-se ter uma orientação filosófica

Apostila Pag.449
adequada.

2. ASPECTOS ORIUNDOS DE “SMALL IS BEAUTIFUL”


Neste caso, a orientação mais adequada pode ser encontrada no livro “Small is
beautiful” que o economista alemão Ernst Friedrich Schumacher (1911-1977) escreveu em
1973. Segundo Schumacher (1983), o mundo atual que vem sendo construído com a
filosofia, a ciência e a tecnologia moderna está começando a enfrentar três crises: (1) a
natureza do ser humano está sufocada nas tecnologias e organizações não-humanas; (2) o
ambiente que sustenta a vida do ser humano está danificado e já evidencia o diagnóstico do
início do colapso; (3) os recursos naturais não-renováveis indispensáveis, no modelo atual,
para o crescimento econômico, em especial o petróleo, estão no fim. As causas destas
crises são o materialismo e a fé nas gigantes tecnologias, os quais são gerados num
contexto de ambição, de individualismo e de concentração de riqueza. O cenário no qual o
capitalismo e as mega-tecnologias causam um exagerado consumo de energia e
conseqüentemente geram uma grande quantidade de entropia foi discutido por Rifkin
(1981) e Georgescu-Roegen (1999). Segundo os mesmos autores, o mundo entra em
colapso quando a quantidade da entropia ultrapassa a sua capacidade de assimilação. Para
evitar essa crise, esses autores recomendam introduzir o novo conceito de Schumacher
“Small is beautiful” à sociedade atual.

Em relação à educação, tecnologia, urbanização, indústria, agricultura, economia,


entre outros, Schumacher (1983) enfatizou que os métodos e as ferramentas empregadas na
tecnologia devem ser suficientemente baratos para que quase todas as pessoas possam
adquirir e aplicar em uma pequena escala, incentivando a criatividade das mesmas. Assim,
o mesmo autor criou esse novo conceito “Small is beautiful”, que hoje é um slogan
internacional. Comentando esse conceito, Kobiyama (2000) justificou que o sistema de
aproveitamento de água da chuva no gerenciamento de recursos hídricos é mais adequado
do que as obras convencionais, ou seja, barragens. Esta técnica é válida também no
gerenciamento de desastres naturais (GDN), mitigando o excesso e a escassez de recursos
hídricos, com baixo custo. As medidas estruturais devem ser substituídas por planejamento,
ou quando imprescindíveis, realizadas de forma distribuída e em escalas as menores
possíveis. Assim, atingirão maior eficiência do sistema com menos impacto ambiental.

Na mesma linha filosófica de desenvolvimento sustentável, mas com outro


aspecto, o antropólogo japonês Shinichi Tsuji (1952-) escreveu o livro “Slow is beautiful”
em 2001. Com base na descrição de Tsuji (2001), Kobiyama et al. (2007a) destacaram a
necessidade de aumentar a rugosidade no curso da água e retardar (armazenar) a água na

Apostila Pag.450
drenagem urbana. O aumento da rugosidade pode ser realizado de duas maneiras: (1)
aumentar o coeficiente de rugosidade devido à inserção de obstáculo na superfície; e (2)
evitar a retificação do fluxo (por exemplo, tornar o canal artificial retificado em
meandrante). Em condições naturais a bacia normalmente possui o coeficiente de
rugosidade mais alto e o canal mais sinuoso. Tendo sua capacidade de armazenamento
elevada, a bacia natural deixa o fluxo mais lento. Assim, a dinâmica da água torna-se lenta
no ciclo hidrológico. Como intuito de “resolver” problemas causados pelo o excesso da
água pluvial na área urbana, a drenagem clássica e ordinária, que faz parte da urbanização,
tem reduzido a rugosidade e a sinuosidade dos canais, conseqüentemente aumentando a
velocidade do fluxo. Isto tudo é para tentar retirar (drenar) a água da chuva do local de
interesse o mais rápido possível. Kobiyama et al. (2007a) sugerem uma inversão desta
lógica, cunhando o termo ARMAZENAMENTO urbano, em contraposição à drenagem
urbana. Isto foi justamente para enfatizar a busca de velocidade mais lenta no ciclo
hidrológico na área urbana com uso de sistema de armazenamento.

Quais as medidas estruturais (obras) e não estruturais de menor escala que


diminuem a velocidade do fluxo de água? Talvez, seja preciso realizar medidas mais
simples possíveis. A simplicidade permite obter custos mais baixos, maior acessibilidade e
menor consumo de energia, entre outros.

Para conseguir executar medidas simples em pequena escala, que permitem a


dinâmica da água mais lenta, a sociedade precisa de uma ciência mais adequada. Então
vale citar as palavras da química polonesa, naturalizada francesa, Marie Curie (1867-1934)
(descobridora da radioatividade e duas vezes ganhadora do Nobel), isto é, “Não podemos
esquecer que quando o (elemento) rádio foi descoberto, ninguém sabia que ele seria útil em
hospitais (para tratar câncer). Era um trabalho de ciência pura, e isso é a prova de que um
trabalho científico não deve ser avaliado do ponto de vista de sua utilidade direta. Ele
precisa ser feito por si só, pela beleza da ciência”. Neste sentido, pode-se dizer que a
sociedade precisa de muito mais beleza na ciência do GDN.

3. APLICAÇÃO DE HIDROLOGIA PARA PREVENÇÃO DE DESASTRS


A hidrologia é uma ciência que trata de todos os aspectos da água como as
propriedades físico-químicas, ocorrência, circulação e distribuição. Assim como a água é
de grande importância, interessante e bela, a hidrologia também é de grande importância,
interessante e bela. É consenso geral que a hidrologia é útil para a sociedade. Quanto mais
bonita ela for, mais útil se torna, contribuindo ao GDN e conseqüentemente fazendo parte
do desenvolvimento sustentável. Neste contexto, o papel da universidade deve ser o de

Apostila Pag.451
fazer uma hidrologia mais bonita (pesquisa), repassá-la para alunos (ensino) e disseminá-la
para a comunidade (extensão).

Todas as pessoas têm o direito de conhecer o quanto essa ciência é bonita.


Realizando o curso de capacitação “Hidrologia para prevenção de desastres naturais”, que
faz parte do projeto de extensão, Kobiyama et al. (2007b) descrevem a importância de
divulgação da hidrologia na sociedade e relataram o interesse da mesma em saber mais
sobre o assunto.

A iniciativa deste projeto surgiu após um episódio ocorrido no momento da


tragédia causada pelo tsunami no sul e sudeste da Ásia. Duas semanas antes da ocorrência
deste tsunami, uma menina inglesa (Tilly Smith) de 10 anos teve uma aula de geografia,
onde seu professor mostrou um vídeo de um tsunami. Nesta aula, ele demonstrou e ensinou
como diagnosticar o mar, um pouco antes da chegada do tsunami. No dia 26/12/04, pouco
antes da chegada do tsunami, ela observou o mesmo diagnóstico que aprendeu com o
professor e avisou seu imenso perigo aos pais. Então, seus pais agiram rapidamente para
alertar diversas pessoas que estavam na praia. Assim, uma menina de apenas 10 anos
salvou aproximadamente 100 pessoas numa praia na Tailândia. Foi uma vitória da ciência!
Nesse episódio se encontra uma lição, isto é, a ciência é útil no GDN. Segundo UNESCO
(2007), as disciplinas científicas e tecnológicas envolvidas no estudo de desastres naturais
incluem as ciências básicas, de engenharia, as naturais, as sociais e as humanas. Elas
relacionam-se com o perigo ambiental (hidrologia, geografia, geologia, geofísica,
sismologia, vulcanologia, meteorologia e biologia), com o ambiente construído
(engenharia e arquitetura) e com o ambiente da política (sociologia, ciências humanas,
ciências políticas e ciência de gerência).

4. EXEMPLO DE “SMALL, SLOW, SIMPLE, SCIENCE ARE BEAUTIFUL”


Como acima mencionado, para deixar os processos hidrológicos mais lentos, a
transformação de “drenagem” urbana em “armazenamento” urbano a fim da obtenção da
sustentabilidade deve ser sugerida em bacias urbanas. Aqui, tenta-se tratar aqueles quatro
aspectos filosóficos na prática.

Para argumentar esta transformação, precisa-se ver uma breve história da


hidrologia sobre o escoamento superficial. Horton (1933) mostrou um mecanismo da
geração do escoamento superficial, no qual este ocorre quando a intensidade da chuva
excede a taxa de infiltração. A esse escoamento deu-se o nome de hortoniano. A hipótese
de Horton influenciou a hidrologia no mundo durante bastante tempo. Mas, na década de
70, observações em campo mostraram que em bacias florestais não ocorre o escoamento

Apostila Pag.452
hortoniano. Por exemplo, Dunne & Black (1970a e b) propuseram um mecanismo de
escoamento superficial no qual este ocorre quando a camada do solo torna-se saturada.
Esse processo chama-se escoamento tipo Dunne. Muitos estudos em campo confirmaram
que, em bacias florestais, não ocorre o escoamento hortoniano. Isto porque nessas bacias as
taxas de infiltração em geral são maiores do que as intensidades de chuva.

As ênfases do escoamento hortoniano e do tipo Dunne são infiltração e


armazenamento, respectivamente. No início da hidrologia moderna, o armazenamento não
foi muito considerado, o que fica claro não somente no estudo de escoamento, mas também
no conceito de bacia hidrográfica. Em inglês, a bacia é denominada “Drainage Basin”.

Então, precisa-se mudar o conceito. A bacia não é aquela que drena a água, mas
sim aquela que a ARMAZENA. Em inglês, a bacia não é Drainage basin, e sim Storage
basin. Hoje em dia, essa mudança de conceito encontra-se em diversos países, inclusive no
Brasil (Ferguson, 1998; Canholi, 2005).

A capacidade de armazenamento de água da bacia hidrográfica está associada ao


uso e ao tipo de solo. Em relação ao uso do solo, em uma bacia pode-se encontrar usos
provenientes da ação humana (áreas cultiváveis, destinadas ao lazer, comerciais, industriais,
residenciais, etc.) e usos da natureza (florestas, campos de altitude, etc.). Como o Plano
Diretor interfere diretamente sobre o uso do solo, permitindo ou negando determinado tipo
de uso em determinada localização da bacia ou região, precisa-se também introduzir o
conceito de ARMAZENAMENTO URBANO ao Plano Diretor de “Drenagem Urbana”.
Um Plano Diretor que leve em consideração o conceito de armazenamento trata da
manutenção deste ao longo do tempo independente do crescimento urbano. Tomando como
exemplo uma bacia hipotética cujas capacidades de armazenamento de cada uso de solo
são estimadas, o armazenamento total desta bacia será o somatório do produto do
armazenamento de cada uso pela respectiva área. A Figura 1 mostra a situação de
armazenamento de uma bacia rural hipotética. Esta bacia hipotética possui três tipos de uso
de solo: (1) cidade, (2) floresta e (3) agricultura. Respectivamente a percentagem de área
da área total são 10, 40 e 50% e os armazenamentos de 0,5, 20 e 5 cm. Nota-se que a
capacidade de armazenamento é o produto da porosidade efetiva e da espessura do solo. A
bacia possui um armazenamento total de 10,55 cm.

Apostila Pag.453
Área Armazenamento
Uso
[%] [cm]

10 0,5
Cidade

40 20
Floresta

50 5
Agricultura
Média = (0,10*0,5) + (0,40*20) + (0,50*5) =
10,55cm

Figura 1. Situação de armazenamento inicial de uma bacia rural hipotética.

Após um intervalo de tempo, essa mesma bacia hipotética, sob gerência de um


Plano Diretor que não considera o armazenamento e suportando um crescimento urbano
desordenado, teria seu armazenamento total reduzido a 4,625 cm (Figura 2). Isso porque
com a urbanização, a bacia teve suas áreas de agricultura e floresta reduzidas a 20 e 5%,
respectivamente. O uso do solo de cidade teve um aumento de 65% do total da área da
bacia, resultando em um total de 75%. O armazenamento total da bacia foi reduzido a
4,625 cm.

Com ciência de que um Plano Diretor não pode ou não consegue implementar
alterações nas áreas já ocupadas, o gerenciamento do armazenamento deve ser realizado
para as novas áreas. A Figura 3 mostra a situação de armazenamento da bacia com gerência
de um Plano Diretor que considera o armazenamento. Nesse caso, o gerenciamento do
armazenamento é realizado sobre a área que passará a ter uso do solo de cidade. Essa área,
65% da área total, deverá ter um armazenamento A de forma que o armazenamento total da
bacia permaneça inalterado, isto é, igual a 10,55 cm. Então, o valor de A é
aproximadamente 9,62 cm. Este deve ser o armazenamento total para a área adicional para
o uso de cidade. Esse valor de armazenamento deve ser implementado pelo Plano Diretor
em função do tipo de construção (captação da água da chuva com cisternas) e/ou através da
introdução de piscinões.

Apostila Pag.454
Área Armazenamento
Uso
[%] [cm]

10 + 65 =
0,5
75
Cidade

40 – 20 =
20
20*
Floresta

50 – 45 =
5
5
Agricultura
Média = (0,75*0,5) + (0,20*20) + (0,05*5) =
4,625cm
*Considerando APP.

Figura 2. Situação de armazenamento de uma bacia hipotética com Plano Diretor sem
consideração de armazenamento.

Área Armazenamento
Uso
[%] [cm]

10 + 65 =
A
75
Cidade

40 – 20 =
20
20*
Floresta

50 – 45 =
5
5
Agricultura
Média = (0,65*A) + (0,10*0,5) + (0,20*20) +
(0,05*5) = 10,55 cm ∴ A = 9,62 cm
* Considerando APP.

Figura 3. Situação de armazenamento de uma bacia hipotética com plano diretor com
armazenamento.

Canholi (2005) descreveu detalhadamente o funcionamento de reservatórios


(detenção e retenção), estruturas que funcionam relativamente bem. Entretanto, esse tipo
de medida estrutural, além de ter elevado custo, é geograficamente concentrada. Quanto
mais distribuído o sistema de armazenamento de água, melhor será o controle de enchentes.
Se a mudança climática global torna a chuva cada vez mais geograficamente concentrada,
a concentração do armazenamento terá falhas no seu funcionamento.

Apostila Pag.455
Assim sendo, a introdução de medidas estruturais distribuídas de armazenamento
urbano, com sistema de aproveitamento de água da chuva, pode colaborar para o Impacto
Hidrológico Zero no contexto de urbanização. O Impacto Hidrológico Zero tem o mesmo
significado de uma ação de emissão zero para o desenvolvimento sustentável.

No cenário apresentado neste capítulo, pode-se encontrar a reflexão de todos os


aspectos “Small is beautiful”, “Slow is beautiful”, “Simple is beautiful” e “Science is
beautiful”. A hidrologia contribui significativamente para um melhor desempenho dessa
medida estrutural distribuída. A fim de melhorar a qualidade da vida, ainda deve-se fazer a
hidrologia mais bela.

5. FINAL CONSIDERATIONS
O presente trabalho faz uma pequena introdução aos aspectos filosóficos
envolvidos no GDN. Cada leitor deve ter sua própria visão de mundo. A minha pode ser
resumida em:

Small is beautiful.

Slow is beautiful.

Simple is beautiful.

Science is beautiful.

O desenvolvimento sustentável é o desafio da humanidade, e precisa dessas quatro belezas:


Small, Slow, Simple e Science.

6. REFERENCES
Canholi, A.P. (2005) Drenagem urbana e controle de enchentes. São Paulo: Oficina de
Textos, 302p.

Dunne, T. & Black, R.D. (1970a) An experimental investigation of runoff production in


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England watershed. Water Resoures. Research, Washington, v.6, p.1296-1311.

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OESP Construção, São Paulo, Ano 5, n.32, p.112-117.

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Santa Catarina, Brasil. In: XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, (2007,
São Paulo), Anais, 13p. CD-rom.

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Schumacher, E.F. (1983) O negócio é ser pequeno (Small is beautiful). Rio de Janeiro:
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<http://www.unesco.org/science/disaster/about_disaster.shtml#prevention>. Acesso
em: 01 mai. 2007.

Apostila Pag.457
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS – Mapeamentos de Risco: Uma
Discussão Inacabada

GEAN PAULO MICHEL


ALINE DE ALMEIDA MOTA

Atualmente, no Brasil, passamos por uma fase de transição. Um país que,


anteriormente, era visto apenas como um retrato do paraíso em termos de belezas naturais,
hoje experimenta a consequência de não saber como manejar tais paisagens. Os desastres
naturais intensificaram-se na última década e trouxeram uma sensação de insegurança que
paira sobre a população. Esta intensificação pode estar relacionada a diversos fatores, mas,
certamente, tem uma relação mais íntima com a ocupação desordenada de áreas de ocorrência
de fenômenos naturais e com ações antrópicas que intensificam tais fenômenos.
É importante ressaltar que os fenômenos naturais são inerentes a dinâmica da terra, até
por isso recebem tal denominação. Existem sim trabalhos que relacionam o aumento dos
fenômenos naturais extremos a efeitos da mudança climática global (Anderson e Bausch,
2006; Min et al., 2011), porém a comprovação estatística desta relação não é uma tarefa
trivial, já que os fenômenos naturais extremos são, em sua essência, raros. Portanto, havendo,
ou não, um aumento na frequência e intensidade destes fenômenos, é fato que a sociedade
deve atuar na prevenção da ocorrência de desastres relacionados a tais fenômenos, e, caso
ocorram, deve estar preparada para enfrentá-los.
Neste sentido, foram e estão sendo executadas pelo governo medidas estruturais e não-
estruturais, na forma de um plano, na intenção de minimizar a ocorrência destes desastres.
Dentre as medidas estruturais destacam-se a construção de muros de contenção de encostas,
obras de drenagem, barragens, contenção de cheias, adutoras, entre outros. Dentre as medidas
não-estrurais têm-se a criação de centros de pesquisa e monitoramento, elaboração de mapas
de risco, expansão da rede de monitoramento, fortalecimento da Defesa Civil, entre outros.
Todas as ações propostas são de grande valor e geram um grande potencial para que a gestão
de risco seja implementada e fortalecida em nível nacional.
Entretanto, existe a possibilidade na qual a urgência na execução de tais ações
prejudicaria o objetivo final do plano. Mais especificamente abordando a questão de
mapeamento de áreas de risco, temos que as metodologias implementadas atualmente no
Brasil diferem substancialmente de uma análise de risco. Segundo a definição da UNDP
(2004), o risco é a probablilidade de perdas (econômicas, sociais ou ambientais) decorrentes
da interação entre perigos naturais e sistemas humanos. Ou seja, o risco é uma função de
perigo e vulnerabilidade, logo, seu mapeamento deve considerar ambos os fatores. Em
muitos mapeamentos apresentados percebe-se apenas uma análise de perigo realizada de
maneira heurística qualitativa, na qual, segundo Westen et al. (1997), a partir da experiência
do observador são definidos os fatores causadores dos fenômenos. Isto torna a metodologia

Apostila Pag.458
demasiadamente subjetiva e dificulta a comparação entre diferentes áreas e localidades, já que
diferentes observadores desenvolvem o trabalho em locais distintos. Além disso, os aspectos
humanos do risco não estão sendo avaliados, deixando de fora da análise o fator de risco no
qual há maior possibilidade de intervenção.
Os mapeamentos de risco realizados no Brasil têm sido relacionados aos desastres que
afetam maior número de pessoas: inundações e escorrregamentos. Ambos são desencadeados,
no Brasil, por períodos chuvosos, tornando evidente a fundamental consideração dos
processos hidrológicos na ocorrência de tais fenômenos. Esta consideração é tão fundamental
que, em nível global, diferentemente da classificação adotada no Brasil, tais desastres são
classificados como desastres hidrológicos. No Brasil, os escorregamentos são classificados
como desastres geológicos. Esta imprecisão de classificações acaba por dificultar a
comparação de informações dos bancos de dados nacionais com dados utilizados
globalmente, tornando as estatísticas elaboradas incongruentes. Além disso, a falta de
dissernimento entre os diversos tipos de desastres e a dificuldade em identificá-los em campo
geram equívocos nos registros que podem prejudicar análises posteriores. Um grande
exemplo é o registro no EM-DAT – International Disaster Database, banco de dados do
Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), do desatre de Janeiro de 2011
na região serrana do Rio de Janeiro, que consta neste banco de dados como uma desastre
causado por inundações, quando, na verdade, foram os fluxos de detritos os principais
responsáveis pela tragédia.
Desta maneira, considerando a classe na qual se enquadram os movimentos de massa
na classificação brasileira, há uma carência de abordagens que considerem também os
aspectos hidrológicos nos mapeamentos de perigo e risco relacionados a tais fenômenos.
Tendo em conta que os fatores deflagradores dos movimentos de massa ocorrem pela
dinâmica hidrológica, a análise deveria se desenvolver incluindo o detalhamento da mesma.
Neste âmbito, as universidades e os centros de pesquisa deveriam ter sua participação
intensificada neste processo, buscando utilizar técnicas mais atuais e engenhosas, com atuação
de uma rede de profissionais capaz de desenvolver, através de diferentes perspectivas,
análises de risco mais holísticas.
Além disso, em um cenário de mitigação e preparação para os desastres, é necessário
que os mapeamentos de risco sejam complementados por meio de sistemas de alerta mais
eficazes. Sabemos que os fenômenos hidrológicos ocorrem em escala de bacia hidrográfica, e
a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), avançou consideravelmente
ao estabelecer esta área fisiográfica como unidade ideal para implementação de ações visando
a redução de desastres relacionados à água. Entretanto, em pequenas bacias, os fenômenos
hidrológicos ocorrem mais bruscamente, desencadeando desastres que ocorrem de maneira
abrupta, como as enxurradas e os escorregamentos translacionais seguidos de fluxos de
detritos. Nestes casos, o apoio de centros de monitoramento e alerta locais e regionais
possibilitaria uma rapidez maior no fluxo de informações entre os extremos do sistema, além
de geração de informações com maior nível de confiabilidade, possibilitando uma resposta
mais eficaz. Ademais, sistemas de escala local têm uma capacidade maior para manejar as
peculiaridades de cada região e incorporar os mapeamentos de risco locais em seus alertas.
Portanto, embora estejamos caminhando no sentido de alcançar um patamar mais
elevado no que diz respeito a gestão de risco no Brasil, ainda esbarramos em algumas

Apostila Pag.459
adversidades oriundas da urgência das medidas tomadas, e, consequentemente, de sua adoção
sem um debate mais crítico e profundo. Desta maneira, o mapeamento de áreas de risco se
caracteriza por ser uma atividade que requer amplo conhecimento interdisciplinar e, por isso,
é de difícil execução. Através das técnicas repassadas durante esta formação espera-se que os
profissionais responsáveis pelo mapemaneto das áreas de risco nos mais diversos órgãos em
todo o país possam desenvolver um trabalho ainda mais preciso e com aplicabilidade ainda
maior para a administração pública no sentido de gerir o risco.

REFERÊNCIAS
ANDERSON, J.; BAUSCH, C. Climate Change and Natural Disasters: Scientific evidence
of a possible relation between recent natural disasters and climate change. Brussels:
European Parliament, 2006. 30p.
BRASIL. Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012.
MIN, S.; ZHANG, X.; ZWIERS, F.W.; HEGERL, G.C. Human contribution to more-intense
precipitation extremes. Nature, v. 470, p.378-381, 2011. doi:10.1038/nature09763
UNDP – United Nations Development Program. Reducing disaster risk: a challenge for
development. New York: UNDP, 2004. 130p.
WESTEN, C. J.; RENGERS, N.; TERLIEN, M. T. J.; SOETERS, R. Predicition of the
occurence of solope instability phenomena trough GIS-based hazard zonation. Geologische
Rundschau, v.86, n.2, p.404-414, 1997.

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