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ORGANIZAÇÃO:
MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
JONES SOUZA DA SILVA
JANETE TERESINHA REIS
ALINE DE ALMEIDA MOTA
LEONARDO ROMERO MONTEIRO
_______________________________________________________________________________________
Kobiyama, Masato
Inclui bibliografia
Edição no Brasil
2014
ORGANIZADORES
Capítulos 1 e 2
10:00 às 10:30 h Café Café Café Café
10:30 às 12:30 h MASATO: LEONARDO: GEAN: JONES e JANETE:
Capítulos 2 e 3 Capítulo 5 (cont.) Capítulo 6 (cont.) Capítulo 7 (cont.)
12:30 às 13:30 h Almoço Almoço Almoço Almoço Almoço
13:30 às 15:30 h ALINE: LEONARDO: GEAN: MASATO e
Capítulo 4 Capítulo 5 (cont.) Capítulo 6 (cont.) GEAN:
Capítulo 8
15:30 às 16:00 h Café Café Café Café
16:00 às 17:30 h GEAN: LEONARDO: GEAN: MASATO:
Capítulo 4 Capítulo 5 (cont.) Capítulo 6 (cont.) Capítulo 9
Encerramento
PREFÁCIO
Masato Kobiyama
Contato:
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
2 HIDROLOGIA, HIDROGEOMORFOLOGIA E GEOBIOHIDROLOGIA ............. 43
3 DESASTRES NATURAIS E SEU GERENCIAMENTO .............................................. 65
4 SOLOS (PROPRIEDADES HIDRÁULICAS E PROFUNDIDADE) E BACIAS
HIDROGRÁFICAS ............................................................................................................. 148
5 INUNDAÇÃO .................................................................................................................. 204
6 ESCORREGAMENTO ................................................................................................... 258
7 MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE, PERIGO E RISCO ........................... 311
8 FLUXO DE DETRITOS ................................................................................................. 363
9 ASPECTOS FILOSÓFICOS .......................................................................................... 448
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS – Mapeamentos de Risco: Uma Discussão Inacabada 458
1 INTRODUÇÃO
MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
ALINE DE ALMEIDA MOTA
A “Engenharia de Água e Solo” pode ser definida como engenharia executada com
base na ciência e tecnologia que investigam: (i) situação real da dinâmica da água e sedimento
(solo) em bacias; (ii) mecanismos de ocorrência de tal dinâmica; (iii) técnicas de utilização de
água e solo na sociedade de maneira sustentável; (iv) medidas para reduzir desastres causados
por essa dinâmica. Ela pode ser bastante semelhante à Engenharia de Sedimentos, que por sua
vez, faz parte da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), como uma de suas
Comissões Técnicas. Também, ela pode ser bem similar à Engenharia Hídrica que hoje em
dia tem tido cursos de graduação criados em diversas universidades brasileiras.
De qualquer maneira, esta engenharia necessita de apoio técnico-científico de diversas
ciências puras (hidrologia, geomorfologia, pedologia, entre outras) e ciências aplicadas
(hidráulica, mecânica do solos, entre outras).
Assim, o tema principal do presente curso, ou seja, “Mapeamento de Áreas de Risco
para Prevenção de Desastres Hidrológicos com Ênfase em Modelagem Hidrogeomorfológica”
deve ser considerado como uma das principais atividades da engenharia de água e solo.
Portanto, este capítulo apresenta os seguintes artigos como aspecto geral e mais
abrangente:
Apostila Pag.1
CONTRIBUIÇÃO DA ENGENHARIA DE SEDIMENTOS AO
PLANEJAMENTO TERRITORIAL COM ÊNFASE EM REDUÇÃO DE
DESASTRES HIDROLÓGICOS
Masato Kobiyama1; Gisele Marilha Pereira Reginatto2; Gean Paulo Michel3
ABSTRACT --- The increase of occurrences of natural disasters, mainly hydrological, has been
leveraging the international scientific initiative to seek mitigation strategies. Thus the application of
hydrologic concepts for the watershed management is necessary. The scarcity of available flat areas
boosts the hillside occupation, where even free of flood, the population is susceptible to sediment-
related disasters such as mass movements. Strips of permanent preservation areas have been
reduced by the new state legislation in Santa Catarina, exacerbating the occupation’s problem of
improper areas. Moreover, the mass movements can cause large amount of sediment to water
bodies, deteriorating water quality. It is quite difficult to predict the mass movements’ occurrence,
because the techniques necessary for its understanding require skills in mathematical models and
the geotechnical engineering. These problems mentioned above are discussed with case studies. To
reduce them, the present paper proposes the implementation of the school catchments network.
Bringing information of soil mechanics and pedology to the hydrology, the sediment engineering
can contribute to the land planning.
1
Bolsista do CNPq, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-
SC, CEP 88040-900; kobiyama@ens.ufsc.br
2
Bolsista do REUNI, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC,
CEP 88040-900; gireginatto@gmail.com
3
Bolsista do CNPq, Curso de Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,
Florianópolis-SC, CEP 88040-900; gean_paulo@yahoo.com.br
O Emergency Disaster Data Base – EM-DAT do Centre for Research on the Epidemiology of
Disasters – CRED, órgão parceiro da Organização Mundial da Saúde (World Health Organization
– WHO), é responsável pela análise dos dados mundiais das ocorrências dos desastres naturais. Em
2008, o EM-DAT reclassificou os tipos de desastres em dois grandes grupos: naturais e
tecnológicos (Scheuren et al., 2008). Os naturais foram divididos em seis sub-grupos: biológicos,
geofísicos, climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrestres (meteoritos), e estes por
sua vez em doze tipos. Essa nova classificação resultou de uma iniciativa entre o CRED e Munich
Reinsurance Company (MunichRe), que decidiram implantar uma classificação em comum para os
seus respectivos bancos de dados. A principal mudança foi a separação dos movimentos de massa
em dois tipos: secos e molhados. O primeiro é associado apenas a eventos geofísicos (terremotos) e
o segundo a condicionantes hidrológicos e meteorológicos. De qualquer maneira, tais movimentos
de massa são chamados de escorregamentos. A UNISDR também adotou a nova classificação, visto
que o EM-DAT é o principal banco de dados utilizado pela ONU, como observado em UNDP
(2004). Em 2009 houve mais uma atualização da classificação pelo CRED, na qual não se encontra
o desastre extraterrestre (Below et al., 2009) (Tabela 1).
A Figura 2 mostra a distribuição anual de 1950 a 2008 das cinco principais categorias de
desastres naturais. Nota-se que, apesar de todos os itens apresentarem um aumento na sua
freqüência ao longo do tempo, os desastres hidrológicos seguidos dos meteorológicos, tais como as
inundações, escorregamentos e as tempestades severas são os que tiveram um maior aumento.
Os três princípios hidrológicos dos recursos hídricos são: (i) ciclo hidrológico que ocorre
naturalmente; (ii) variabilidade espacial; e (iii) variabilidade temporal. Esses princípios regem a
disponibilidade da água em cada região (Kobiyama et al., 2008). Em outras palavras, devido ao
ciclo hidrológico natural, excessos e escassez de água ocorrem naturalmente em qualquer lugar no
mundo e a qualquer momento. Tais ocorrências de excessos e escassezes causam naturalmente os
desastres.
Para minimizar os prejuízos causados pelos desastres naturais, Lamontagne (2002) destacou a
importância da popularização da ciência. Como os desastres naturais no Brasil ocorrem
principalmente devido à ação da água, acredita-se que a hidrologia possui uma grande contribuição
nesse assunto. Segundo UNESCO (2007), a hidrologia é uma das principais ciências envolvidas no
estudo de desastres naturais. Além de demonstrar os mecanismos desencadeadores desses desastres,
a hidrologia traz também a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados diariamente, e
evidencia a importância da água e do convívio integrado com a natureza.
Conscientização
(H idrologia)
Cidadão Professor
A lunos
(Crianças)
G erenciam ento de
P articipação P articipação D esastres
Intensificada In tensificada N aturais
Participação
Comunidades Intensificada
G erenciam ento
P articipativo de
D esastres
N aturais
Redução de D esastres
Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi discutir alguns aspectos gerais dos
desastres hidrológicos por meio de apresentação de quatro estudos de caso, e demonstrar o desafio
da engenharia de sedimentos no planejamento territorial.
Os resultados mostram que as ocorrências das inundações em Joinville possuem mais relação
com a urbanização do que com a pluviosidade (Figura 5). Em outras palavras, as ocorrências dos
desastres são associadas mais ao fator humano do que ao ambiental (ou climático). A Figura 5(b)
mostra uma leve tendência na diminuição da precipitação anual no município. Embora as
inundações sejam consideradas geralmente como desastres hidrológicos, em Joinville parece ser de
caráter mais humano do que hidrológico.
Conforme notícias nos jornais brasileiros, desastres hidrológicos (inundações e
escorregamentos) têm causado muitos danos sócio-ambientais no país inteiro nas últimas décadas,
mas especialmente nas regiões sul e sudeste. Além disso, existe uma tendência na qual o elevado
número de pessoas relacionam a quantia e a magnitude dos desastres hidrológicos e/ou outros
desastres naturais com a mudança climática. Hoje em dia, pulando a lógica científica, é comumente
falado que os desastres naturais ocorrem devido à mudança climática ou que a mudança climática e
os desastres naturais são sinônimos. Mas esse assunto deve ser mais estudado. Será que realmente a
mudança climática causa os desastres naturais?
Freqüência Inundação
Área urbanizada
25 125
20 100
15 75
10 50
5 25
0 0
1851 - 1860
1861 - 1870
1871 - 1880
1881 - 1890
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
1971 - 1980
1981 - 1990
1991 - 2000
2001 - 2008
(a)
40 2800
Freqüência inundação
35
Precipitação
30 2100
Freqüência Inundação
Precipitação em mm
25
20 1400
15
10 700
0 0
1851 - 1860
1861 - 1870
1871 - 1880
1881 - 1890
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
1971 - 1980
1981 - 1990
1991 - 2000
2001 - 2008
(b)
Figura 5 – Relação da freqüência das inundações no município de Joinville no período 1851 – 2008:
(a) com Área urbanizada; e (b) com a precipitação anual. (Fonte: Silveira et al., 2009)
100%
Área de ocupação ? ?
?
o ã
aç
nd
nu
ei
s ta
d
co
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níc
pla
0
Tempo
a
os
Ocorrência de desastres
en nad
a
gu
im cio
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tos
sed rela
dos
na
s
cio
tre
sas
ela
sr
De
tre s
sa
De
Implantação Tempo
da cidade Presente
Além disso, os fenômenos mais rápidos, isto é, inundação brusca e fluxo de detritos, também
possuem sua transição que caracteriza o fluxo hiper-concentrado, em termos de concentração de
sedimentos. A Figura 7 conceitualmente mostra a classificação e a relação dos diferentes tipos de
desastres hidrológicos em termos de velocidade e concentração de sedimentos. Embora ocorram de
forma transitória, as ocorrências gerais pela observação macroscópica demonstram a evolução dos
tipos dos desastres hidrológicos, essa ilustrada na Figura 6.
Concentrção de sedimentos
Fluxo de detritos
Fluxo
Hiperconcentrado
Inundação Inundação
Gradual Brusca
Velocidade
Figura 7 – Classificação conceitual dos desastres hidrológicos. (Fonte: Kobiyama et al., 2010a)
• Desastres hidrológicos;
• Iniciados por chuvas intensas; prejuízo à saúde pública;
Semelhanças
• Prevenção exige planejamento da ocupação da terra e popularização da hidrologia;
• Importância da ciência: monitoramento e modelagem hidrológica.
3.3. Mananciais
(a)
(b)
Figura 8 – Valores de turbidez e vazão no rio Cubatão do Norte: (a) antes da ocorrência do
escorregamento (21 a 28/10 de 2008); e (b) durante da ocorrencia do escorregamento (27/11 a 04/12
de 2008). (Modificado de Kobiyama et al., 2009b)
Nem sempre a ocorrência do escorregamento aumenta a turbidez e sólidos totais no rio. Caso
a área de deposição do escorregamento não alcance o rio, eles não aumentam. Portanto, a
conectividade hidrossedimentológica deve ser investigada.
Recentemente ocorreram alterações no Código Estadual do Meio Ambiente de SC. Com estas
alterações, a comunidade catarinense passou a discutir qual deveria ser a faixa de APP (área de
preservação permanente) ao longo dos rios. Por esta razão, deve-se enfatizar que “APP é APP!”.
Essa afirmação é baseada em observações feitas em campo após a ocorrência das tragédias no vale
do Itajaí, SC, em 2008. As APP’s apresentam alto risco de serem atingidas por fluxos de detritos
que contêm troncos, além de serem os primeiros locais a serem inundados em épocas de cheia.
(a)
(c)
(b)
Figura 9 – Destruição da APP devido ao fluxo de detritos: (a) antes da ocorrência do fluxo de
detritos, (b) transporte longitudinal dos troncos, e (c) transporte transversal dos troncos
(Fonte: Kobiyama et al., 2010a)
Recentemente, os fluxos de detritos ocorridos pela chuva intensa no município de Rio dos
Cedros (Figura 4) vêm sendo investigados por Goerl et al. (2009a, 2009b) e Kobiyama et al.
(2010b). Nos locais onde ocorreram tais fluxos, observações e análises em campo comprovam que
APP (Área de Preservação Permanente) é APP (Área de Perigo Permanente). Figura 10 mostra que
o fluxo de detritos retirou as florestais ripárias com faixa de aproximadamente 30 m. A situação
atual requer com urgência zoneamentos de áreas de perigo para então reduzir os prejuízos devido
aos desastres hidrológicos. O aumento da ocupação das APP certamente resultará no aumento
abrupto da ocorrência dos DRS.
4. BACIA-ESCOLA
Para melhor entendimento dos processos hidrológicos ocorridos em uma bacia e correto
gerenciamento de seus recursos, se faz necessária a realização de medições em campo de diversos
parâmetros. As medições geram as variáveis utilizadas em modelos que simulam o comportamento
da bacia para inúmeros eventos, sejam eles comuns ou extremos.
A medição de sedimentos em suspensão no corpo hídrico é de extrema importância. SILVA et
al. (2003) relatam que o sedimento é, possivelmente, o mais significativo de todos os poluentes,
devido a sua concentração na água, seus impactos no uso desta e seus efeitos no transporte de outros
poluentes. As atividades agrícolas e florestais em áreas com grande declividade e o desmatamento
de encostas e margens de rios, propiciam a redução da infiltração de água no solo e, por conseguinte
o aumento do escoamento superficial. Esses fatores acabam favorecendo os processos erosivos do
solo que desestabilizam encostas e conferem maior carga sedimentar ao fluxo de água no canal.
Portanto a análise de sedimentos pode evidenciar o melhor uso de solo e cobertura vegetal para a
bacia, a fim de assegurar a qualidade da água e prevenir movimentos de massa.
A granulometria do solo, outro parâmetro a ser medido, é a base para sua classificação.
Através dela, outros parâmetros podem ser estimados por meio de funções de pedo-transferência,
facilitando a aplicação de modelos de estabilidade e erosão. No corpo hídrico, a granulometria do
sedimento depositado ao longo do canal pode indicar o potencial de transporte do rio. A medida que
o rio se afasta de áreas declivosas adentrando em planícies, diminui a velocidade,
conseqüentemente sedimentos maiores vão se depositando. Portanto a estimativa deste potencial é
importante, entre outras finalidades, para avaliação da área de abrangência de um fluxo de detritos
que atinge o canal.
A espessura da camada de solo tem relação direta com a capacidade de armazenagem de
água na bacia, transmissividade e produção de sedimentos. Desta maneira, é necessário que se
conheça este parâmetro e que seja estimado na modelagem. A profundidade dos solos interfere no
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
AGRADECIMENTOS
Apostila Pag.20
Hydrological disasters reduction: lessons from hydrology
Masato Kobiyama
(Department of Sanitary and Environmental Engineering, Federal University of
Santa Catarina, Brazil)
Pedro Luiz Borges Chaffe
(Graduate School of Engineering, Kyoto University, Japan)
Roberto Fabris Goerl
(Graduate Program of Geography, Federal University of Paraná, Brazil)
Joana Nery Giglio
Undergraduate Course of Sanitary and Environmental Engineering, Federal
University of Santa Catarina, Brazil)
Gisele Marilha Pereira Reginatto
(Graduate Program of Civil Engineering, Federal University of Santa Catarina,
Brazil)
Abstract:
The hydrological disasters have increased in the last decades, in magnitude and
frequency. They are divided in two groups: water-related and sediment-related
disasters. Though the natural phenomena that cause such disasters have been
researched, their characteristics and hydrological processes are not completely
understood until now. Therefore, the distinction of these disasters is not simple,
and many societies have not been able to implement adequate mitigation
countermeasures. Historically, societies have first settled on the floodplains and
subsequently on the hillsides, thus being more used to coexist with floods than
landslides and debris flow. During the long development process, hillside areas
occupation is increased and some societies begin to suffer more from sediment-
related disasters (landslides and debris flows) than from water-related ones
(floods). By presenting three case studies done in Santa Catarina State, Brazil, the
present work describes the importance to apply the hydrology for the hydrological
disasters reduction, with the emphasis of school catchment network
implementation. Finally, the philosophical aspects which may be the most
important in disasters management are discussed.
Key-words: Hydrological disasters; sediment-related disasters; water-related
disasters; school catchment; hydrology.
Resumo:
Os desastres hidrológicos têm aumentado nas últimas décadas, em magnitude e
freqüência. Esses desastres são divididos em dois grupos: os relacionados a água
e os relacionados a sedimento. Embora os fenômenos que causam tais desastres
sejam amplamente estudados, suas características e os processos hidrológicos
relacionados a eles ainda não são completamente compreendidos. Assim, a
diferenciação desses desastres não é simples, e as sociedades ainda não
conseguem implementar medidas mitigadoras satisfatórias para a redução de
danos. Historicamente, ocupações são feitas nas planícies inundáveis antes das
áreas de encostas, por isso as comunidades aprendem a conviver mais com as
inundações do que com os escorregamentos. Ao longo do tempo, a ocupação das
áreas de encostas avança, e conseqüentemente as sociedades vêm sofrendo mais
com desastres relacionados a sedimentos do que com desastres relacionados a
água. Neste contexto, apresentamos três estudos de caso, realizados no estado de
Santa Catarina, Brasil, mostrando a importância da aplicação da hidrologia para a
Apostila Pag.21
redução de desastres hidrológicos, com ênfase de implementação de rede de
bacias-escola. Finalmente, alguns aspectos filosóficos que podem ser mais
importantes para o gerenciamento de desastres são discutidos.
Palavras-chave: Desastres hidrológicos; desastres relacionados a sedimento;
desastres relacionados à água; bacia escola; hidrologia.
1. Introduction
Apostila Pag.22
550
Figure 1 – Natural disasters occurrence in the World during the period from 1900
to 2009.
12 8
Biological
Events occurrence in Brazil (1964 - 2009)
Events occurrence in Brazil (1964 - 2009)
6 4
4
2
2
0 0
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009
1964
1967
1970
1973
1976
1979
1982
1985
1988
1991
1994
1997
2000
2003
2006
2009
Figure 2 - Events occurrence in Brazil during the period 1964 – 2009: (a) Natural
disasters; (b) Hydrological disasters.
In this chapter, we present three case-studies that have been carried out in
Santa Catarina State (SC), Southern Brazil. By doing so, we want to emphasize
the importance of hydrology application for reducing the hydrological disasters,
especially through the implementation of the school catchment network. Finally,
we discuss the philosophical aspects which we believe might be the most
important ones in disasters management.
2. Concept
Apostila Pag.23
disaster databases as a flood, not a mass movement (Figure 2b). Although many
mass movements and floods have occurred concurrently, many of them were only
registered as floods. It implies that the historical series for hydrological disasters
at least in Brazil may not demonstrate the occurrences of mass movement
correctly, and there is a tendency to underestimate the number of mass
movement occurrences.
The hydrological disasters consist of the flood and wet mass movement
types, and it could be argued that these disasters are water-related and sediment-
related, respectively. That is where the problems in distinction begin. Debris flow
is clearly considered as a sort of sediment-related disaster, however, it is treated
as water-related one because a rainfall triggers it. On the other hand, flood is
considered as water-related disaster. However, in occurring, it transports and
deposits lots of sediments that play an important role in watershed riparian
system. As we can see, there is a need to improve the methods of identification of
each type of the hydrological disasters.
Flood and flash flood are the main disasters that damage our society. Each
type requires its own structural and non-structural countermeasures. Flood occurs
when the water flow in a stretch of the river exceeds the bankfull flow. Then, the
water overflows the riverbanks and spreads through the floodplain. While the flood
occurrence depends on the physical and climatological characteristics of the river
basin, the flood disaster is a consequence of the human settlement on the
floodplain (Leopold, 1994).
Flash floods take place in a sudden, violent and unexpected way, usually in
small areas, and result in a greater danger to life and severe structural damages.
They are normally triggered by intense rainfalls. It must be emphasized that the
early warning system is indispensable for the reduction in damages associated
with flash floods (Kobiyama & Goerl, 2007).
The difficulty to distinguish the gradual (or river) flood and flash flood is
similar to the case to distinguish the water-related and sediment-related disasters.
There are various definitions for both of them. The definitions themselves are not
clear. Then, Kobiyama and Goerl (2007) proposed a quantitative method to
distinguish them, by introducing the Operation Efficiency Index which is defined as
the rate of the time of flood concentration (Tc) to the operational response time
(To) in the institution-community system. Tc and To are associated with physical
and social factors, respectively. This proposal remains to be examined in a
practical way.
The wet and dry mass movements are triggered mainly by heavy rainfall
and earthquakes, respectively. Though there are many different classifications for
the wet mass movements, the classification proposed by Varnes (1978) may be
the most common in use. In the Varnes classification, phenomena are classified in
terms of movement: falls, slides and flows. Furthermore, the slides are divided by
material (soil or rock) and the flows are divided by the water amount (from dry to
wet). According to the Varnes classification, landslide is the gravity-induced
movement of a portion of soil. And the debris flow is the gravity-induced flow
movement of wet and coarse debris. By no means this classification provides
definite clues about the boundaries between the different phenomena.
Focusing just on the flows, Costa (1988) classified the possible flow
processes into three categories: water floods, hyperconcentrated flows and debris
flows, and described them with the rheologic, geomorphic and sedimentologic
aspects in order to differentiate them. Since the author treated the flow processes
which occurred in small and mountainous basins, this flood might be equivalent to
the flash flood. The rheologic differentiation of these three types of flow is in Table
Apostila Pag.24
1. Nevertheless, even using rheology, the boundaries between these flow
processes are difficult to be understood.
1 - 40% by wt.
Water flood 1.01 - 1.33 0 - 100 Newtonian Turbulent Non-uniform
0.4-20% by vol.
Hyperconcentrated 40-70% by wt. Non-uniform to
1.33 - 1.80 100 - 400 Non-Newtonian Turbulent to laminar
flow 20-47% by vol. uniform
70-90% by wt. Non-Newtonian
Debris flow 1.80 - 2.30 > 400 Laminar Uniform
47-77% by vol. Viscoplastic or dilatant
Because of its destructive power and consequent disasters, the debris flow
has been studied intensively and widely, for example, by Jacob and Hungr (2005)
and Takahashi (2007). However, the understanding is not satisfactory, and more
field data are necessary to advance this understanding. The difficulty in
standardizing the phenomena classification brings problems to many actions on
disaster management: phenomena registration, database construction,
countermeasure choice, policy establishment, etc.
Based on the description above mentioned, Figure 3 shows the conceptual
classification of the hydrological disasters in terms of velocity and sediment
concentration. The speed of a phenomenon influences on the prediction
performance, and in general, it is more difficult to predict the phenomena that
occur rapidly. On the other hand, the sediment concentration influences the
impact characteristics. In SC in 2008, it was observed that the impacts of the
sediment-related disasters were much more severe and prolonged than those of
the water-related ones. Consequently, a recovery and reconstruction processes of
society damaged by the sediment-related disasters were more complicated than
those by the water-related ones.
Hyperconcentrated
flow
Velocity
Figure 3 – Conceptual classification of the hydrological disasters.
In the flooded areas, various plantations were lost, many buildings and
houses were inundated and various transport systems were out of function for a
few days. In these areas, the local inhabitants could return to their houses and
immediately started to clean the flooded areas and to reconstruct the destructed
structures when the water level fell down and the river presented its normal
Apostila Pag.25
course. The major damage was associated to the economic aspect, and the local
re-stabilization needed some days.
A situation of the areas where landslides and debris flows occurred is
different. There were economic damages as well as a lot of human losses. Besides,
a lot of refugees were not able to return to their houses, even after the rain
ceased, because of several reasons: the prohibition of house entrance by civil
defense because of new landslide occurrence possibility; structural impairment of
the house; complete destruction of the house, land loss by land-filling without the
possibility of reconstructing new residence on the same site, and so forth. More
than one year after the event, the disaster still remained.
As discussed above, when a sediment-related disaster occurs, the risk
assessment of involved houses and infrastructure is more difficult. This
assessment includes: evaluating whether the house/infrastructure is structurally
compromised by the mass movement; analyzing whether more landslides will
occur and whether these potential events will affect the house/infrastructure; and
deciding whether residents can stay at their houses. This assessment procedure
requires expertise and a very deep understanding of mass movements such as
landslides and debris flow. Moreover, the evaluation in general has to be carried
out for each house, which makes the procedure more slow.
The entrance prohibition decision of the civil defense must be as accurate as
possible, because both the overestimation an underestimation of risk may increase
the disaster. The risk underestimation leads to prohibition entrance to houses less
than necessary, which makes people more vulnerable to the next mass
movements. The risk overestimation leads to ban on larger areas than necessary.
This generates an overcrowding in shelters, and the refugees begin to distrust the
effectiveness of the Civil Defense. This distrust, in turn, puts in doubt the
necessity of the ban. In the case that families return to their forbidden houses,
they might become victims of future mass movements.
In the case of floods, the above mentioned difficulty is very rare, because
the risk is apparent. When the water level in a river rises, the inhabitants know
that they have to evacuate. And when the level goes down, they know that they
can return. The difficulty in the flood case is related to the process speed, not to a
lack of knowledge on the flood mechanism. Therefore, there is an evident need to
improve the understanding of mass movement mechanisms.
When the heavy rainfall occurs, natural phenomena (flood, landslide, flash
flood, hyperconcentrated flow and debris flow) that cause disasters are triggered.
If the occurrence localities of such phenomena possess any kind of relation with
human activities, these phenomena are considered as natural disasters. That is
why all the natural disasters always contain human or social factors; meanwhile
the natural phenomena have only natural factors. In other words, the natural
disaster analysis must consider human-related factors which are fundamental in
disaster occurrence and affect all of their prevention stages (i.e. mitigation,
preparedness, response and reconstruction) (Kobiyama & Goerl, 2007).
One of the most important human-related factors for triggering the
hydrological disasters must be the land-use. Normally, a settlement of a city starts
with floodplains occupation. It has been observed since the Four Ancient River
Civilizations (Tigris and Euphrates, Nile, Indus, and Yellow Rivers). It is very
natural that a community initially suffers from floods because of its settlement
locality. After occupying most of the floodplains, a growing community begins to
use hillside areas. These areas have much more potential for sediment-related
disasters than the floodplains, and that is when the sediment-related disasters
start to take place. After some time, the number of occurrences and/or the
Apostila Pag.26
damage quantity of sediment-related disasters might well overtake those of water-
related disasters.
Figure 4 shows the scenario of this disaster evolution (water-related to
sediment-related disasters) in a city due to the land occupation change. Analyzing
the disasters occurrences in SC, during the last decades, this evolution can be
observed. According to Tachini et al. (2009) the people in SC are historically
prepared for floods, but not for flash floods and for wet mass movements, which
were the principal cause of the tragedy which occurred in Itajaí Valley, SC, in
November 2008.
100%
? ?
Area of occupation
?
in
pl a
e
id
od
lls
flo
hi
0
Time
ers
a st
s
Disasters occurence
ter
dis
as
ted
dis
ela
ted
t-r
ela
en
r-r
dim
ate
W
Se
Time
City settlement Present
Dominance of Dominance of
water-related sediment-related
disasters disasters
3. Case study
Apostila Pag.27
Figure 5 – Localities of case study in Santa Catarina State, Brazil.
In terms of population and economy, Joinville (1135 km2) is the largest city
in Santa Catarina, with 497,331 inhabitants and a GDP per capita of US$ 7771.00.
The city was developed on a very flat fluvio-marine lowland and most of its urban
areas are located only 2 m above the sea level. Thus, Joinville is naturally
susceptible to flooding. Figure 6 shows that both the evolutions of population and
urban area are similar and that they started to grow quickly at the middle of the
twentieth century.
Apostila Pag.28
500 180
Inhabitants
160
Urbanized Area
400 140
Inhabitants (in thousands)
80
200
60
100 40
20
0 0
1851 - 1860
1861 - 1870
1871 - 1880
1881 - 1890
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
1971 - 1980
1981 - 1990
1991 - 2000
2001 - 2008
Figure 6 – Evolution of population and urban area during the period 1851 – 2008
(Source: Silveira et al., 2010).
This city has been suffering from floods and registering them since its
foundation in 1851. In order to contribute to flood management, Silveira et al.
(2009) searched all the documents that reported the floods in this city for the
period from 1851 to 2008. According to the authors, the floods in Joinville have
more relation with urbanization (human-related factor) than with annual rainfall
(natural factor) (Figures 7 and 8). Figure 8 shows that the annual rainfall is
slightly decreasing and the flood frequency is rapidly increasing.
Although the floods are usually considered as the hydrological disasters, the
floods in Joinville seem to be human-related disasters. Then Silveira et al. (2009)
alerted that the flood problems are not due to the climate change problem but due
to the human activities problems. In this sense, there is a solution, i.e., making
the watershed management more correct and adequate. If the flood problems
were only due to the climate change, the solutions could be much more difficult to
accomplish.
Apostila Pag.29
35 180
Flood Frequency
160
30 Urbanized Area
140
25
20 100
15 80
60
10
40
5
20
0 0
1851 - 1860
1861 - 1870
1871 - 1880
1881 - 1890
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
1971 - 1980
1981 - 1990
1991 - 2000
2001 - 2008
Figure 7 – Change of the flood frequency and the urban area of Joinville city
during the period 1851 – 2008 (Source: Silveira et al., 2010).
35 2700
2400
30
2100
25
1800
Flood Frquency
Rainfall (mm)
20 1500
15 1200
900
10
600
Flood Frequency
5
Rainfall 300
0 0
1851 - 1860
1861 - 1870
1871 - 1880
1881 - 1890
1891 - 1900
1901 - 1910
1911 - 1920
1921 - 1930
1931 - 1940
1941 - 1950
1951 - 1960
1961 - 1970
1971 - 1980
1981 - 1990
1991 - 2000
2001 - 2008
Figure 8 – Change of the flood frequency and the annual rainfall of Joinville city
during the period 1851 – 2008 (Source: Silveira et al., 2010).
The historical analysis done by Silveira et al. (2009) can be a good example
of how important it is to correctly register the disaster occurrences and that we
should also treat the disasters with a historical point of view. Then this work gives
a good lesson (the importance of disaster registration) to other Brazilian cities as
Apostila Pag.30
well as to hydrologists. Observation, measurement and registration are essential
activities in hydrology.
Figure 9 – Daily and accumulated rainfalls in Rio dos Cedros from October to
November 2008 (Source: Kobiyama et al., 2010).
Apostila Pag.31
The analyzed debris flow took place in three stages, the first at 1:15 a.m.,
the second at 2:00 a.m. and the third at 3:00 on 24th November. The observed
rainfall data in Rio dos Cedros showed that during the period from 0:00 a.m. to
3:00 a.m. on the same day, it rained 10 mm which might not be able to cause
such a terrible and intense phenomenon. The accumulated rainfall from 0:00 a.m.
on 23rd November to 3:00 a.m. on 24th November was 95 mm. Only for one week
from 18th to 24th November, it rained totally 256 mm, more than twice the value
of the mean monthly rainfall for November. October and November of 2008 had
the highest values of monthly rainfall in the same months during the period from
1942 to 2008, with 441 mm and 644 mm, respectively (Figure 10). It may be said
that in this case the triggering factor was the accumulated value of the rainfall, not
its intensity.
Figure 10 – Monthly rainfall data from Rio dos Cedros: Mean monthly rainfall from
1942 to 2007, maximum monthly record between 1942 and 2008, monthly rainfall
of 2008, and monthly rainfall of 1983 (Source: Kobiyama et al., 2010).
Kobiyama et al. (2010) carried out the field survey of two comparatively-
larger debris flows in the Cunha River watershed, Rio dos Cedros (Figure 11). Both
cases (Debris A and Debris B) had two different starting areas, i.e., two initial
movements. In other words, four landslides occurred and formed two large debris
flows. Based on the field observations, the volume (V) of mass movement,
elevation (H), travel distance (L) and reach angle (β) were estimated. The value of
V was also estimated by using the equations proposed by Corominas (1996) and
Rickenmann (1999). The V values obtained by three methods (field data analysis,
equation of Corominas and equation of Rickenmann) were all different, which
implies the difficulty to estimate the mass movement volume.
Apostila Pag.32
Figure 11 - Localities of two debris flows (Debris A and Debris B) in Cunha River
watershed (Source: Kobiyama et al., 2010).
Futhermore, Kobiyama et al. (2010) plotted the values of the Debris A and
B obtained with field data analysis, on the diagram originally elaborated by
Rickenmann (2005) which relates tanβ to V (Figure 12). In the tropical
environments, the soil layer tends to become thicker (~20 m) than that in the
temperate regions. In both the debris flow localities, the average of the soil layer
depth was 15 m. And the soil texture was characterized with large quantity of clay
and silt. Furthermore there was a lot of vegetation on the occurrence localities,
predominantly trunks with 20-30 m height, which might characterize the woody
debris flows. In spite of these conditions, it is observed that two cases of Rio dos
Cedros had the similar behavior to other cases shown by Rickenmann (2005),
especially to Swiss debris flows. It implies that the geomorphic effects are
predominant in the debris flow controls. Since debris flow disasters in Brazil have
been increasing in frequency and magnitude, their research must be more
enhanced in this country, by analyzing various aspects of this hydrological hazard.
Urgently, field survey database should be constructed. Since the event is very
rapid, automatic monitoring systems are necessary, which can be a great
contribution from hydrology.
Apostila Pag.33
Figure 12 – Relation between the travel angle and volume of the mass movement
(Source: Kobiyama et al., 2010).
Field survey provides a lot of opportunities to think what should be done for
disasters reduction in practice. In case of Rio dos Cedros, it was observed that a
kind of training course must be done at community levels. The inhabitants did not
know that debris flows have been frequently triggered in their city. The features of
the paleo-landslides and paleo-debris flows are encountered on a lot of hillsides in
rural areas. As most of these features are covered by vegetation, the inhabitants
cannot recognize the frequency in occurrence and that there are large areas
susceptible to the sediment-related disasters in their city. Thus, it is clear the
necessity to orient them how to observe the natural phenomena which cause the
natural disasters, especially debris flows and landslides.
Furthermore, it was noticed the importance to preserve the riparian zone. In
SC, the preserved buffer strip width for the riparian vegetation has been discussed
recently. According to the federal law, the minimum width for the riparian buffer
strip is 30 m, meanwhile, the SC state government has attempted to reduce it to 5
m. This reduction may induce some economical benefits to some, but certainly can
increase the hydrological disasters, especially those related to the debris flows.
Figure 13 shows how woody-debris flow destructs the riversides and the riparian
buffer strip. In general, the height of riparian forests characterized with the
Tropical and Subtropical Ombrophilous Forests in SC is about 20 – 30 m (Figure
13a).
When the debris flow occurs, woods are longitudinally transported along the
watercourse. In this case, the damage generated with wood transport can be
encountered very near the watercourse (Figure 13b). However, when woods are
transported transversely to the course, the woody-debris flow destroys larger
areas whose width is nearly equal to the wood height (Figure 13c). That is why the
riparian forest has the protection roles against the hydrological disasters as well as
the environmental roles. Though the riparian buffer zones have been treated as
permanent preservation areas in an environmental sense, it must be protected as
Apostila Pag.34
permanent hazard areas. It is a very important and evident lesson from the field
survey just after the debris flow occurrences.
(a)
(c)
(b)
Figure 13 – Riparian forest destruction due to debris flow: (a) before debris flow
occurrence, (b) longitudinal woody transport, and (c) transverse woody transport.
In possessing a high value of the specific discharge, the Iguaçu River basin
located in the Southern Brazil is characterized with a very high potential to
generate the hydroelectric energy. This basin is also characterized with the
Subtropical Ombrophilous Forest. Since the remainders of this forest which
formerly covered the plateau region of the Southern Brazil are now only 2% of its
original area, this ecosystem must be preserved. Recently the conversion of the
pine reforestation areas to the Subtropical Ombrophilous Forest has been strongly
requested without the consideration that the regional economy depends mainly on
the reforestation activities. Rio Negrinho city (42,144 inhabitants and 908.39 km2
in 2007), located in the Upper Iguaçu River basin and with an economy based in
the industrial reforestation, suffers with flood since its settlement. Therefore, the
ecological and hydrological researches in this basin are indispensable to reduce the
damages caused by the water-related disasters and it is necessary to comprehend
how the operations of the dams change the regional hydrological processes. In
Apostila Pag.35
these circumstances, seven small experimental catchments (0.1 to 10 km2 scales)
with hydrological monitoring in the Upper Negro River (UNR) basin (3552 km²)
which is one of the headwater areas of the Iguaçu River basin were constructed in
order to answer the question about what kind of land-use is best for the water
resources management. With these small experimental catchments and some
preexistent relatively-large experimental catchments, the school catchments
network has been implemented in the UNR basin (Kobiyama et al., 2009). Here
the school catchment is defined as an experimental catchment which serves for
scientific researches and environmental education activities. Figure 14 shows the
school catchment construction processes.
Headwater Catchments
Science Reforestation
+ Utility Permission
University Technology Company
Experimental Catchments
City Office
University Extension Participants +
Communities
School Catchments
Scientific Researches
Environmental Education
In the case of the UNR, various school catchments were required because of
the necessity to understand hydrological effects of land-uses, dams’ operations
and catchment scales. This is the reason why the network (a set of school
catchments) has been implemented. The concept of catchment network is not
new. In justifying the catchment studies and the long term monitoring system for
the investigation of hydrological effects of forest, Whitehead and Robinson (1993)
reported some European examples of the catchment networks. Besides, O’Connell
et al. (2007) introduced the Catchment Hydrology and Sustainable Management
(CHASM) research program that contains the catchment network in the UK and
that adopts a common multiscale experimental design. These networks seem to be
established just for the scientific researches. The concept of such networks is,
therefore, very different from that proposed by Kobiyama et al. (2009) where the
school catchment network contributes not only to the scientific researches but also
to the environmental education activities.
Since the natural disasters management mainly aims (1) to understand the
natural phenomena that trigger the natural disasters and (2) to raise society’s
resistance to such phenomena, the School Catchment Network implementation
certainly contributes to the natural disasters management in the headwater
regions (Figure 15). In this way, school catchments increase an individual’s
knowledge of hydrology, which enhances his (or her) participation in the
community in terms of water resources management. Consequently, an enhanced
participation of each member elevates the quantity and quality of the community
action. According to Hillman and Brierley (2005), the community-based
management is essential for the recent stream rehabilitation programs. Such a
management with governmental supports must be executed for any program that
treats catchments and water resources.
Apostila Pag.36
School Catchment
Environmental Education
+
Hydrological Research
Capacity Building
Teachers Community
Pupils
Participatory
Natural Intensified
Disaster
Management
+ Community
Participation
= Natural
Disaster
Management
It is worth mentioning that school catchments are important not only for
local communities but also for the hydrological sciences community. These
catchments are fundamental fields (objects) for achieving catchment hydrology.
According to Uhlenbrook (2006), in catchment hydrology pure scientific interests
overlap with practical water management to support sustainable development.
One of these examples is Chaffe et al. (2010) which investigated whether
interception information is important for simulating rainfall-runoff or not. The
interception and discharge data used were from one of the school catchments
described by Kobiyama et al. (2009). This study used three different model
formulations (Tank Model of Sugawara (1995) using gross rainfall as input; using
net rainfall as input; and coupled with the Sparse Rutter Model of Valente et al.
(1997) using gross rainfall as input) for the analysis of the effects of interception
information in rainfall-runoff modeling. The results permitted to conclude that: (i)
the interception information is more important to study the rainfall-runoff
processes in dry condition than in wet condition; and (ii) the consideration of the
interception information in the hydrological models results better performance in
any situation. Thus, it is very clear that the hydrological monitoring and modeling
are fundamental and they can be achieved by using the school catchment
network.
In all of the human (individual and social) actions, philosophy plays a very
important role. Philosophy might be a proper guide to direct our activities. In the
Apostila Pag.37
case of the water resources, watershed and natural disasters managements, a
kind of philosophy called “Small is Beautiful” and proposed by E.F. Schumacher
may be one of the most important guides. According to Schumacher (1973), the
methods and tools employed in education, urbanization, industry, agriculture, and
so on, should be low-priced and small enough that everyone can acquire, apply
and modify, thus encouraging his (her) own creativity.
In this similar sense, Tsuji (2001) wrote the book "Slow is beautiful". If such
a concept "Slow" is applied to hydrology, the necessity to reduce the water flux in
the hydrological processes, especially in the urban drainage system, emerges. This
reduction can be mainly achieved in three ways: (1) by increasing the roughness
coefficient with obstacles on the land and river surfaces; (2) by increasing the
meandering of the watercourses; and (3) by increasing the water storage capacity
in watersheds. Thus, the water dynamics in the hydrological cycle become slower.
However, in order to attempt to "solve" the problems caused by the rainwater
excess in urban areas, ordinal and usual drainage works were to reduce roughness
and sinuosity of the channels, and to increase the flow velocity, which
consequently resulted in increasing the frequency and magnitude of floods
downstream. Those drainage works are designed to reject rainwater in the urban
areas (Figure 16a). It is clear that there is a strong inconsistency between the
previous philosophy and the actual urban hydrology practice. To have slower
hydrologic cycle, the drainage network in watersheds must become the storage
network. In other words, the drainage basin must change to the STORAGE BASIN
(Figure 16b).
(a) (b)
Figure 16 – Watershed management concepts: (a) drainage basin; (b) storage
basin.
What type of countermeasures can slow the water flow at the smaller scale?
Probably, it is necessary to create as simple countermeasures as possible. It is
believed that in general the simplicity allows lower costs, larger accessibility and
lower energy consumption. Thus, there is "Simple is beautiful". Good examples of
the simple technology might be rainfall harvesting systems in urban areas and
agroforestry in rural areas.
To perform simple countermeasures at the small scale which allow the
slower water dynamics, the society needs a more adequate science. In other
words, the society requires more beauties for the water resources, watersheds and
natural disasters management, i.e., the science of hydrology. The more beautiful
hydrology is, the more it becomes useful, contributing to such managements and,
consequently, part of the sustainable development. Then, naturally appears
Apostila Pag.38
"Science is beautiful”. In this context, the university role should be to make a
more beautiful hydrology (research), to inform it to students (education) and to
disseminate it to the community (extension).
Historically, scientists have discovered the mechanisms of nature (beauties)
which have been later applied to various types of managements. In hydrology, the
runoff generation mechanism has been investigated as its main theme. Up to now,
it can be seen the concept evolution: Hortonian overland flow (Horton, 1933) –
Variable source area (Hewlett & Hibbert, 1967) – Hydrological connectivity
(Pringle, 2001, 2002). The beautiful hydrology surely contributes to obtain slow
hydrologic cycle and to realize the water resources and watershed managements
with small scale and simple technology, which is indispensable for the hydrological
disasters reduction. The sustainable development is the challenge of the humanity,
and needs these four beauties: Small, Slow, Simple and Science.
5. Final considerations
All the types of natural disasters taking place have been increasing in
frequency and magnitude. Among them, the increase of the hydrological disasters
is the most dominant both in the world and in Brazil. To reduce the hydrological
disasters, the water resources and watershed managements are essential. Then,
the application of hydrology emerges naturally.
In practice, each municipal should construct the school catchments network
for the two main purposes: (i) for the hydrological sciences community to advance
the knowledge on hydrological processes; and (ii) for educators to accomplish the
environmental education in local communities. These two purposes contribute to
understand the hydrological phenomena that trigger the hydrological disasters and
to raise society’s resistance to such phenomena, respectively. The information and
knowledge obtained through the hydrological researches with school catchments
network will let all the people recognize the natural catchment as STORAGE BASIN
not as DRAINAGE BASIN. We believe that a society must perform the hydrological
monitoring in such school catchment networks, whereas everybody must have a
capacity to register any kind of disaster by putting the historical aspects into the
hydrology.
An accumulation of the information and knowledge will make the hydrology
more beautiful. Then, the more beautiful hydrology will support to perform simple
countermeasures at a small scale which allow the slower water dynamics. Hence,
these four beauties (Small, Slow, Simple and Science) certainly contributes to
reduce the hydrological disasters.
Such hydrological disasters are conventionally classified into two groups:
water-related and sediment-related disasters which are usually represented with
flood and mass movements (landslide and debris flow), respectively. Since the
land occupation style normally changes during the municipal development
processes in a city, some society suffers from water-related disasters at the early
stage of the developing processes and sediment-related disasters at later stage.
This might be a kind of the disasters evolution. In this way, the sediment-related
disasters seem to be dominant in several cities in Santa Catarina State, Brazil.
Therefore, in this type of city, hydrologists and society must start to pay much
more attention for sediment-related phenomena.
Acknowledgements
Apostila Pag.39
This study was supported in part by the National Research Council of Brazil (CNPq)
and the Study and Project Financer (FINEP) through the Grant no. 479532/2009-5
and the Grant no. 520288/2006-8, respectively. The authors are thankful to the
members of the LabHidro-UFSC for support of field survey.
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Apostila Pag.40
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Contact address
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Caixa Postal 476
Florianópolis-SC
CEP 88040-900, Brazil
www.labhidro.ufsc.br
e-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
Fone: +55 (48) 3721-7749
FAX: +55 (48) 3721-9823
Apostila Pag.42
2 HIDROLOGIA, HIDROGEOMORFOLOGIA E
GEOBIOHIDROLOGIA
MASATO KOBIYAMA
ALINE DE ALMEIDA MOTA
GEAN PAULO MICHEL
Apostila Pag.43
• GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M.; SANTOS, I. Hidrogeomorfologia: Princípios,
Conceitos, Processos e Aplicações. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13,
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• KOBIYAMA, M.; MONTEIRO, L.R.; MICHEL, G.P. Aprender Hidrologia para
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Região Sul. (2010: Florianópolis). Florianópolis: UDESC, Anais, 2010. 6p.
Apostila Pag.44
Masato Kobiyama - professor responsável pelo Laboratório
de Hidrologia do Departamento de Engenharia Sanitária e
O Aplicando a
CRED (Centre for Research on the Epide- lhor medida para reduzir esses desastres. Vale
miology of Disasters) é um órgão parcei- lembrar que a bacia hidrográfica é a unidade
ro da Organização Mundial da Saúde, que ana- ideal para gerenciamento de recursos naturais.
Hidrologia
lisa os dados mundiais das ocorrências dos de- O Laboratório de Hidrologia da Universidade
sastres naturais. Recentemente, o CRED esta- Federal de Santa Catarina tem feito um projeto
beleceu uma nova classificação dos desastres de extensão chamado “Aprender Hidrologia
naturais. Com base nessa classificação e nos para Prevenção de Desastres Naturais” desde
dados do CRED, pode-se fazer duas observa- 2006, realizando cursos de capacitação e pa-
ções sobre os desastres naturais no mundo ao que naturais. O caso de Joinville não deve ser lestras em vários municípios. Todos os partici-
longo do tempo: primeiro, houve um aumento exceção. Pelo contrário, casos como o do municí- pantes dos cursos e das palestras sentem a
abrupto da ocorrência desses após a década pio são típicos tanto no Brasil quanto no mundo. importância da Hidrologia e sua aplicação na
de 50 e esse aumento é exponencial ao longo Inundações e escorregamentos são, convencio- redução de desastres, manifestando interesse
do tempo; e, segundo, o tipo predominante de nalmente, tratados como desastres naturais. En- de mais cursos para eles.
desastres é hidrológico. Nessa nova classifica- tretanto, eles resultam de muitos fatores antropo- Então, na prática, o que órgãos de Defesa
ção, o CRED chama inundações e escorrega- gênicos. Civil podem e devem fazer? A palavra-chave
mentos de desastres hidrológicos. Na realidade, as inundações e os escorrega- pode ser bacia-escola. A bacia-escola é defini-
Conforme notícias na mídia brasileira, desas- mentos são fenômenos puramente naturais, nada da como bacia experimental que é construída
tres hidrológicos (inundações e escorregamen- mais. Quando esses fenômenos geram danos à para estudos científicos e também o local para
tos) têm causado muitos danos socioambientais sociedade, são chamados desastres. Nesse pro- realizar atividades de educação ambiental para
no País inteiro nas últimas décadas, mas, espe- cesso de transformação de apenas fenômeno comunidades locais. Em cada município ou re-
cialmente, nas regiões Sul e Sudeste. Além dis- natural para desastre natural, sempre existem gião, deve ser estabelecida a bacia-escola ou
so, existe uma tendência, a qual muitos relacio- fatores antropogênicos. O aumento das ocorrên- a rede de bacias-escola, nas quais moradores,
nam a quantia e a magnitude dos desastres hi- cias de desastres deve estar associado com cientistas e gestores junto com a Defesa Civil
drológicos e/ou outros desastres naturais com ações humanas: crescimento populacional, ex- façam o monitoramento hidrológico. Todos reco-
a mudança climática. Hoje em dia, pulando a clusão social, expansão urbana, aumento de áre- nhecerão os processos hidrológicos e conse-
lógica científica, é comum falar que os desas- as impermeáveis, ocupação de encostas muito quentemente a Hidrologia da região. Com esse
tres naturais ocorrem devido à mudança climá- inclinadas, aumento do número de pessoas em conhecimento adquirido, a população de cada
tica, ou que a mudança climática e os desastres áreas de risco, entre outros. Assim, a magnitude região pode procurar o gerenciamento adequa-
naturais são sinônimos. No entanto, esse assun- e a frequência das ocorrências dos desastres na- do de sua bacia hidrográfica.
to deve ser mais estudado. Será que realmente turais podem ser facilmente elevadas sem mu- A grande maioria dos relatórios sobre ocor-
a mudança climática causa desastres naturais? dança climática, mas sim com ações humanas rências de quaisquer desastres menciona que
Recentemente, nosso grupo publicou o livro inadequadas. a conscientização das populações é mais im-
História das Inundações em Joinville 1852- Isso pode ser uma grande sorte para a huma- portante para a redução dos danos. Isso já indi-
2008. Esse livro resultou do levantamento dos nidade. Se os desastres naturais ocorrerem so- ca que com base na implementação de bacias-
registros históricos de inundações, população mente por causa da mudança climática, então, escola e na execução do monitoramento hidro-
da cidade, área urbana e precipitação anual no não há mais solução. Entretanto, felizmente, os lógico nelas, cada indivíduo reconhece a Hidro-
período de 1852-2008. Suas análises mostram desastres naturais ocorrem devido a ações huma- logia e se conscientiza sobre os fenômenos hi-
que as inundações em Joinville têm relação com nas inadequadas. Então, há solução: corrigir as drológicos, e, por consequência, aprende a se
o aumento populacional e o aumento da área ações humanas erradas. Se a sociedade agir cor- proteger dos desastres hidrológicos.
urbana muito mais do que com a própria preci- retamente, é possível evitar o aumento dos de- Aqui, vale enfatizar que a conscientização da
pitação. Em outras palavras, as inundações em sastres naturais e também é possível reduzi-los. comunidade sobre a Hidrologia deverá ser enfo-
Joinville são desastres muito mais humanos do cada ainda mais nos escorregamentos do que
BACIAS nas inundações. Observa-se que, em geral, o
JAMES TAVARES/SECOM
1. Introdução
Definindo a hidrologia, UNESCO (1964) iniciou a International Hydrolgical Decade – IHD
em 1965. Depois da IHD, a UNESCO vem se dedicando para a hidrologia por meio da realização
do International Hydrolgical Programme – IHP. Em 2014, o IHP iniciou sua oitava fase, ou seja,
IHP-VIII. Esta fase possui como meta principal “Segurança hídrica: respostas a desafios local,
regional e global”, consistindo em seis temas, entre os quais está: Educação de água, chave para
segurança hídrica (UNESCO, 2012).
Simultaneamente no mundo, a Internatinal Association of Hydrolocial Sciences – IAHS
iniciou em 2003 a Década Científica Prediction in Ungauged Basins – PUB (Sivapalan et al., 2003)
e encerrou-a com grande sucesso em 2012 (Hrachowitz et al., 2013). Tal sucesso motivou a IAHS
fazer outra década cientifica que abrange o ciclo hidrológico, risco hídrico e os recursos hídricos.
Assim em 2013, a IAHS iniciou outra Década Científica 2013-2022: “Panta Rhei – Todos fluem”
Mudança na hidrologia e sociedade (Montanari et al., 2013). Seu enfoque está nas dinâmicas
rápidas na hidrologia, as na sociedade e também na conexão entre a hidrologia e a sociedade.
Assim, encontra-se uma forte consideração sobre a sociedade na hidrologia. Recentemente essa
tendência de discutir os aspectos sociais na hidrologia se tornou mais intensa na comunidade dos
hidrólogos, por exemplo, Sivapalan et al. (2012) e Sivakumar (2012).
Para conectar mais efetivamente e adequadamente a hidrologia à sociedade, a educação deve
ser fundamental e indispensável em quaisquer níveis e para quaisquer setores. Assim, é necessário
discutir a educação na hidrologia. Na revista “Hydrology and Earth System Sciences” que é
administrada pela União Europeia de Geociências, já ocorreu uma discussão intensiva e extensiva
sobre esse assunto, a qual foi relatada por Seibert et al. (2013).
Portanto, salientando a educação, o presente trabalho propõe através de qual ferramenta a
hidrologia deve ser tratada e de quais processos ela deve tratar.
2. Bacias-escola
UNESCO-WMO-IAHS (1974) arbitrariamente considerou o ano de 1964, quando Pierre
Perrault, cientista francês, publicou o livro “De l'origine des fontaines” (A Origem das Fontes),
Apostila Pag.46
III Seminário dos Impactos da Agricultura nos Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria/RS, 01 a 03/09/2014)
como o início da hidrologia científica ou hidrologia quantitativa. Esse francês realizou medição de
chuva e de vazão no rio Sena e discutiu o balanço hídrico. Considerando este fato, pode-se dizer
que a hidrologia se baseia na medição ou no monitoramento. Para efetuar tal medição e discutir o
balanço hídrico, a bacia hidrográfica é considerada como unidade ideal. Assim, a bacia pode ser
considerada como o objeto fundamental tanto para os hidrólogos quanto para os gestores dos
recursos hídricos. Segundo Nakano (1976), na região Emmental, Suíça, já houve um estudo
comparativo com uso das bacias pareadas com e sem floresta no fim do século XIX.
Desde então, bacias hidrográficas, com diferentes rochas, solos, formas de encosta, usos e
coberturas do solo, climas e tamanhos, têm sido utilizadas para pesquisas cientificas, sendo
denominadas como pareadas, experimentais, representativas, entre outros.
Enfatizando o uso educativo, Kobiyama et al. (2007 e 2008) propuseram a implementação
de bacia-escola que é definida como bacia experimental que serve tanto para pesquisas científicas
como para atividades de educação ambiental. Para melhorar a qualidade da educação de todos os
cidadãos, a bacia experimental precisa ser utilizada em comunidades locais. Dessa maneira, pode-se
dizer que a hidrologia deve se apoiar não em bacias experimentais, mas sim em bacias-escola.
3. Geobiohidrologia
O avanço da hidrologia ao longo de vários séculos ocasionou um aumento em sua
quantidade de interesses, de abrangências, e até de suas funções sociais. Com isso, vêm surgindo
diversos novos nomes da ciência, os quais fazem parte da hidrologia, por exemplo ecohidrologia
(Wood et al., 2007), hidrogeomorfologia (Goerl et al., 2012), hidrologia florestal (McCulloch e
Robinson, 1993), entre outros. Nessa circunstância, na Universidade Federal do Paraná em Curitiba
no ano de 1998, o I Fórum Geo-Bio-Hidrologia foi realizado com participação de diversos
profissionais. Todos os trabalhos apresentados nesse evento estão em Kobiyama et al. (1998a).
Nessa ocasião, Kobiyama et al. (1998b) definiram a geobiohidrologia como uma ciência que estuda
os processos hidrológicos, biológicos e geomorfológicos e as interações entres esses processos em
bacias hidrográficas e apresentaram detalhadamente o que essa nova ciência pode e deve tratar na
natureza.
As atividades rurais, ou seja, agrícolas e florestais, além de conservação e preservação da
natureza, precisam aproveitar e respeitar o máximo possível os processos geobiohidrológicos. Em
outras palavras, a aproximação ao desenvolvimento sustentável na área rural depende dos
conhecimentos e técnicas adquiridas na geobiohidrologia.
Kobiyama (2003) mencionou que a zona ripária é o local onde os processos
geobiohidrológicos são mais intensos e mais complexos. Portanto, pode-se dizer que a
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III Seminário dos Impactos da Agricultura nos Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria/RS, 01 a 03/09/2014)
geobiohidrologia deve estudar mais a zona ripária. O mesmo autor ainda salienta que a zona
hiporreica faz parte da zona riparia e que exerce importantes e várias funções no ecossistema. No
mundo já existe um manual sobre a zona hiporreica,
por exemplo, Environment Agency (2009). Para
entender melhor os mecanismos de geração de vazão,
de ocorrência de fluxo de detritos, de purificação de
água do rio, entre outros, ainda é necessário pesquisar
mais esta zona. Especialmente no Brasil existe uma
Regolito
Regolito Zona Hiporreica
Zona
“Hyporheic”
carência de estudos relacionados a este tema. (Horizontes A e B
4. Considerações finais
Enfatizando a importância dos trabalhos de diagnóstico para a atual hidrologia, muito mais
do que os de previsão, Kayane (2013) mencionou que a pesquisa em campo é apanhar os resultados
dos experimentos que Deus está realizando na escala 1:1 no espaço e em tempo real. Assim, para
avançar a hidrologia e também contribuir à gestão de recursos hídricos e consequentemente à
melhoria da qualidade da vida de cada cidadão, no presente momento é necessário enfocar o
monitoramento em bacias hidrográficas. Os objetos dos estudos devem ser os processos
geobiohidrológicos, especialmente na zona riparia. E nesse procedimento, todas as bacias
experimentais devem se tornar bacias-escola. A bacia-escola facilita a conexão sólida entre a
hidrologia e a sociedade.
Referências
ENVIRONMENT AGENCY The Hyporheic Handbook: A handbook on the groundwater–
surface water interface and hyporheic zone for environment managers. Bristol: Environment
Agency, 2009. 264p.
GOERL, R. F.; KOBIYAMA, M.; SANTOS, I. Hidrogeomorfologia: Princípios, Conceitos,
Processos e Aplicações. Revista Brasileira de Geomorfologia, v.13, p.103-111, 2012.
HRACHOWITZ, M. et al. A decade of Predictions in Ungauged Basins (PUB)—A review.
Hydrological Sciences Journal, v.58, n.6, p.1198-1255, 2013.
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III Seminário dos Impactos da Agricultura nos Recursos Hídricos e II Fórum de Geo-Bio-Hidrologia (Santa Maria/RS, 01 a 03/09/2014)
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Revista Brasileira de Geomorfologia - v. 13, nº 2 (2012)
www.ugb.org.br
ISSN 2236-5664
Masato Kobiyama
Professor Associado III Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina
- Laboratório de Hidrologia - LabHidro - Bolsista do CNPq - e-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
Resumo
O presente trabalho apresenta uma revisão conceitual sobre a Hidrogeomorfologia. Esta ciência foi conceitualmente proposta
em 1973 e desde lá vem sido desenvolvida e aplicada em diversas pesquisas. A Hidrogeomorfologia pode ser considerada
como a união entre a Hidrologia e a Geomorfologia, sendo que a maneira como esta união ocorre ainda não é muito clara.
São apresentadas e analisadas diversas pesquisas que se intitulam de hidrogeomorfológicas e denotam que ainda não há um
consenso metodológico e conceitual sobre esta nova ciência. Por fim, o presente trabalho analisou a formação conceitual da
Hidrogeomorfologia, seus princípios, processos, aplicações e o seu objeto.
Abstract
The present work is a conceptual review of the Hydrogeomorphology. This science was conceptually proposed in 1973 and
since then has been developed and applied in several studies. The Hydrogeomorphology could be considered as the union
between the Hydrology and Geomorphology, however this union is still not very clear. The present paper presents and analysis
several studies whose titles contains Hydrogeomorphological studies and consequently concludes that actually there is not a
conceptual and methodological consensus on this new branch of knowledge. Finally, the present study examined the conceptual
formation of Hydrogeomorphology, its principles, processes, applications and its object.
Apostila Pag.50
Goerl, R. F. et al
Apostila Pag.51
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações
Tabela 1 - Número de artigos com o termo Hidrogeomorfologia Assim, artigos selecionados de uma seção de um Simpósio
e aplicação conjunta da hidrologia e da geomorfologia por de geomorfologia foram publicados em um periódico de hi-
periódico drologia. Isto porque, conforme Sidle (comunicação pessoal),
alguns periódicos de geomorfologia não aceitaram a ideia de
Periódico Nº de Art.
Transactions, Japanese Geomorphology Union 15 publicar um número especial sobre Hidrogeomorfologia e,
Earth Surface Processes and Landforms 14 após recusas, a Hydrological Processes aceitou. Isto talvez
Water Resource Research 08 explique porque Scheidegger (1973) publicou o primeiro
Journal of Geophysical Research (AGU) 08 artigo que se tem registro sobre a Hidrogeomorfologia em
Disaster Prevention Research Institute, Kyoto um periódico de hidrologia (Journal of Hydrology).
05
Univ. (Annuals e Bulletins)
Hydrological Processes 03
IAHS Publication 02 Tabela 3 - Principais periódicos que contém o termo
Outros 15
Hidrogeomorfologia e sua evolução temporal
Fonte: Modificado de Okunishi (1994)
Apostila Pag.52
Goerl, R. F. et al
geológicos podem ocorrer em qualquer escala temporal, como lação sugere uma superposição das duas ciências entre suas
um terremoto (segundos) ou a formação de um continente áreas comuns (Figura 2a), sem necessariamente haver uma
(milhões de anos). interface entre elas, ou seja, cada ciência aplica métodos
semelhantes, mas sem interação entre si. O segundo modelo
trata da intersecção entre a hidrologia e geomorfologia, da-
quilo que se torna o objeto comum às duas ciências (Figura
2b). Neste sentido corrobora Okunishi (1994), para o qual
a Hidrogeomorfologia é um pouco hidrologia e um pouco
geomorfologia. O terceiro modelo diz respeito à Hidrogeo-
morfologia como ciência própria, que incorpora elementos
da hidrologia, da geomorfologia, além de possuir atributos
próprios (Figura 2c).
Figura 1 - Escala temporal dos processos hidrológicos (Hidrol.),
hidrogeomorfológicos (HG), geomorfológicos e geológicos.
HG
Hidro. Geom. Hidro. Geom.
Para Sidle e Onda (2004), a Hidrogeomorfologia,
como o próprio nome indica, inclui as inter-relações en-
tre diversos processos hidrológicos e geomorfológicos e a b
Apostila Pag.53
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações
no entendimento das taxas de denudação e evolução da Como a Hidrogeomorfologia é ainda uma ciência
paisagem. emergente (Sidle e Onda, 2004), estas questões ainda não
se apresentam de maneira clara nas pesquisas que vem
sendo desenvolvidas com escopo hidrogeomorfológico.
Na tentativa de contribuir com a elucidação do conceito
de hidrogeomorfologia, o presente trabalho propõe a
seguinte definição: a Hidrogeomorfologia é uma ciência
que busca compreender como os processos hidrológicos
contribuem para a formação e evolução da paisagem e
ainda como as formas de relevo condicionam ou controlam
os processos hidrológicos em diferentes escalas temporais
e espaciais.
A Hidrogeomorfologia possui assim fundamentos
da hidrologia e da geomorfologia, mas deve também
Q Q Q possuir elementos próprios. Dessa maneira, um processo
Q1 Q2
Q3
hidrológico propicia a modificação, evolução ou formação
T T T
de uma feição que por sua vez condiciona a intensidade,
Figura 3 - Influência da forma da bacia nos processos hidrológicos. magnitude, duração do processo hidrológico. Ou seja, o
Fonte: Modificado de Patton (1988). processo modifica a forma que por sua vez condiciona o
processo. Neste contexto, Okunishi (1994) exemplifica
Dependendo do foco e escopo da pesquisa, ela será mais que o fluxo de água sobre uma superfície móvel (encosta
hidrológica ou mais geomorfológica, o que pode, contudo, inclinada ou superfície de fundo de um canal) provoca
incorporar as duas ciências. Neste sentido a pesquisa poderá a movimentação de sedimentos e consequentemente al-
ser ligada a Geomorfologia Hidrológica (Goudie, 2004; terações topográficas, que por sua vez irão controlar as
Pradhan et al., 2005; 2006) ou a Hidrologia Geomorfológica, características do fluxo de água.
sendo a primeira mais usual.
Um debate semelhante percorre a ecohidrologia e hi- Processos Hidrogeomorfológicos
droecologia. Kundzewicz (2002) comenta que, seguindo as De acordo com Montgomery e Bolton (2003) as
regras da língua inglesa, pode-se interpretar o prefixo “eco” inundações e os deslizamentos podem ser considerados
na ecohidrologia como uma modificação da palavra hidrolo- como processos hidrogeomorfológicos. Para Hungr et
gia, ou seja, passa a noção que se trata mais de hidrologia do al. (2001), os processos hidrogeomorfológicos podem
que ecologia. De maneira similar, “hidro” em hidroecologia ser as inundações, fluxos hiperconcentrados e fluxos de
modifica a palavra ecologia dando uma noção que trata mais detritos (debris flow). Wilford et al. (2004) argumentam
de ecologia. Por outro lado, essa lógica não necessariamen- que a diferenciação entre estes três tipos de processos
te se aplica as disciplinas científicas, pois existem termos pode ser feita pelo volume de sedimentos depositados
como biofísica ou bioquímica, mas não fisicobiologia ou relativos ao tamanho do canal e a orientação dos clastos.
químicobiologia. Para estes autores, as inundações possuem a concen-
Esta consideração pode ser aplicada à Hidrogeomorfo- tração de sedimentos menor que 20% e a orientação
logia, em que o prefixo “hidro” estaria modificando geomor- do sedimento depositado é perpendicular ao fluxo. Os
fologia, para a qual seria dada maior ênfase. Contudo, a pala- fluxos hiperconcentrados possuem concentração de 20%
vra geomorfohidrologia ou geomorhidrologia soaria estranha.
a 47% e imbricação pobre. Já os fluxos de detritos não
Assim, mesmo com o prefixo “hidro”, a Hidrogeomorfologia
possuem um único sentido de imbricação. Geralmente
dá ênfase nos processos hidrológicos que modificam e per-
mitem a evolução da paisagem (geomorfologia) pela ação da os blocos maiores são alinhados perpendicularmente ao
água, não favorecendo esta ou aquela ciência. fluxo e os seixos e blocos menores alinhados paralela-
O terceiro modelo (Figura 2c) é o mais complexo, pois mente. Wilford et al. (2005) propõem outros valores para
envolve a criação de uma nova ciência ou campo do conheci- a concentração de sedimentos. As inundações possuem
mento, com paradigmas e um corpo teórico e metodológico concentração que varia de 1% e 40%, os fluxos hiper-
próprio que também incorpora elementos da hidrologia e concentrados de 40% a 70% e os fluxos de detritos de
geomorfologia. 70% a 90%.
Apostila Pag.54
Goerl, R. F. et al
Além dos três processos acima citados, Sakals et al. (década de 60): erosão fluvial e superficial, efeito da tectô-
(2006) incluem avalanches de neve e queda de blocos como nica no sistema fluvial (represamento, mudança do curso),
processos hidrogeomorfológicos. Já Marchi et al. (2010) infiltração e percolação de águas subterrâneas, estabilidade
elencam apenas dois processos, os fluxos de detritos e os e formação de encosta e interação entre o sistema costeiro
fluxos hiperconcentrados. com o oceânico.
Com base nos trabalhos acima, nota-se que se podem Silde e Onda (2004) enumeraram os seguintes temas
classificar os processos hidrogeomorfológicos em três tipos chave desenvolvidos por pesquisas hidrogeomorfológicas:
principais: inundações, fluxos hiper-concentrados e fluxos de processos de escoamento superficial influenciados pela lito-
detritos. Estes três processos ainda carecem de entendimento logia e geomorfologia, processos erosivos superficiais ligados
do seu mecanismo e de seus impactos no sistema hidrológico a canais; fatores de modelagem hidrológica que afetam a
e geomorfológico, podendo a Hidrogeomorfologia contribuir deflagração de deslizamentos e avaliação das propriedades
para elucidar estas lacunas teórico-metodológicas. Ressalta-se hidrológicas dos solos associados a deslizamentos e a intera-
que qualquer processo hidrológico que modifica a paisagem e ção entre precipitação e ambiente terrestre. Ainda conforme
é simultaneamente condicionado por ela pode ser considerado Sidle e Onda (2004), os avanços atuais da Hidrogeomorfo-
hidrogeomorfológico. Por outro lado, os três processos acima logia podem contribuir para estudos nas seguintes temáticas:
citados se destacam por propiciarem maiores modificações desenvolvimento sustentável, desastres naturais e medidas
na paisagem em curtos espaços de tempo. Além disso, são mitigadoras, efeitos da mudança climática e planejamento
os que aparecem na literatura classificados explicitamente territorial. Possivelmente as contribuições mais importantes
como hidrogeomorfológicos. da Hidrogeomorfologia sejam os estudos conjunto dos proces-
Por fim, para compreender estes processos, deve-se sos hidrológicos e geomorfológicos em nível de bacia, pois a
fazer uso de métodos e pressupostos teóricos da hidrologia avaliação destes processos em escalas temporais e espaciais
bem como da geomorfologia, corroborando assim com a correlatas permite levantar questões relevantes para a sua
ideia da Hidrogeomorfologia como uma nova ciência (Fi- explicação e contribuir para a gestão da bacia.
gura 4). Por outro lado, os limites (L) de interação dentre as Brinson (1993) e Shafer e Yozzo (1998) desenvolveram
dimensões hidrológicas e geomorfológicas com a dimensão o “Guia de Avaliação Hidrogeomorfológica (HGM) para
hidrogeomorfológica e até mesmo entre si ainda permanecem Ambientes Estuarinos com influência de Maré”. Segundo
difusos. estes autores, a avaliação hidrogeomorfológica é um grupo
de conceitos e métodos utilizados no desenvolvimento de
índices que permitem a avaliação da funcionalidade destes
Dimensão Dimensão
Hidrológica Geomorfológica ambientes por intermédio de três focos principais: hidrodinâ-
Processo Condicionante mica, geomorfológica e fonte de água. O foco hidrodinâmico
L
Hidrológico Geomorfológico refere-se à energia e a dinâmica do fluxo da água dentro do
ambiente; o foco geomorfológico trata da paisagem e evo-
L L lução geológica da mesma e a fonte de água trata da fonte
primária de água (precipitação, águas superficiais ou águas
Fluxos subterrâneas). Shafer e Yozzo (1998) ainda destacam oito
Inundações Fluxos de Detritos
Hiperconcentrados funções principais para estes ambientes, agrupadas em dois
grupos: funções hidrogeomorfológicas e funções de habitat.
Dimensão Hidrogeomorfológica
As funções hidrogeomorfológicas são a atenuação dos efeitos
Figura 4 - Interação entre as dimensões hidrológicas, geomorfológica da amplitude de maré, ofertas de nutriente e troca de carbono
e hidrogeomorfológica. e sedimentação. NRCS (2008) comentou que este sistema de
classificação Hidrogeomorfológica dá ênfase em atributos
hidrológicos e geomorfológicos, ao invés de apenas limitar-se
Diante do exposto, pode-se dizer que a Hidrogeomor-
a atributos bióticos dos ambientes estuarinos.
fologia é uma nova ciência, mas ainda carece de um amadu-
recimento teórico, especialmente no que tange a definir qual Ojeda et al.(2007) propuseram um Índice Hidrogeo-
é o seu objeto, pois conforme Santos (1996) o corpus de uma morfológico para a avaliação do estado ecológico do sistema
disciplina deve estar subordinado ao objeto. fluvial. Este índice baseia-se em três parâmetros: qualidade
funcional do sistema fluvial, qualidade do canal e qualidade da
zona ripária. Para cada um desses parâmetros são atribuídos
A busca do objeto valores que determinam este índice hidrogeomorfológico,
que permitem avaliar a “vitalidade” dos sistemas fluviais e
Scheidegger (1973) demonstrou a aplicação da Hidro-
os impactos antrópicos sobre os mesmos.
geomorfologia no contexto da geomorfologia de sua época
Apostila Pag.55
Hidrogeomorfologia: princípios, conceitos, processos e aplicações
Marini e Piccolo (2005) e Marini et al. (2009) 2008, Kupfer et al.,2010) têm se caracterizado dentro de
elaboraram cartas hidrogeomorfológi cas de diferentes um escopo dito hidrogeomorfológico.
bacias hidrográficas argentinas. Segundo estes autores, No Brasil, pesquisas desenvolvidas por Suertegaray
as cartas hidrogeomorfológicas permitem determinar et al. (1996), Thomaz e Ross (2006) e Briguenti et al.
condições de escoamento em uma bacia, resultantes da (2007), apresentaram estudos intitulados de hidrogeomor-
combinação de diferentes processos que definem um fológicos, sem, no entanto, apresentá-las ou interligá-las
comportamento hidrológico. Para isto estas cartas devem ao conceito de Hidrogeomorfologia.
contemplar informações sobre as características hidro-
lógicas do terreno, a circulação superficial da água, os
tipos e formas de escoamento, características fisiográficas O objeto da Hidrogeomorfologia
das encostas da bacia hidrográfica, tipo de vegetação, Conforme demonstrado acima, diversos estudos têm
entre outros. Por fim, a carta hidrogeomorfológica deve aplicado métodos hidrogeomorfológicos ou intitulado o tra-
contemplar os fenômenos geomorfológicos que afetam balho como hidrogeomorfológico, sem o devido cuidado com
os cursos d’água. o objeto da Hidrogeomorfologia. De fato, por se tratar de uma
Investigando a bacia do rio Quequen Salado (Ar- nova ciência, seu objeto ainda não foi claramente definido.
gentina) Marini e Piccolo (2005) contemplaram em sua Por outro lado, para a Hidrogeomorfologia ser considerada
carta hidrogeomorfológica: 1) Características hidroló- uma ciência, ela deve possuir um objeto. Com base nos es-
gicas do terreno (área de infiltração média, baixa ou tudos e bibliografias aqui apresentadas, o presente trabalho
muito baixa); 2) Morfologia Fluvial, que se divide em: propõe que o objeto de estudo da Hidrogeomorfologia são
2a) tipo de escoamento (perenes ou intermitentes), 2b) os processos hidrogeomorfológicos. Definindo assim o
características dos canais (fundo arenoso, abandonado ou objeto, os estudos de escopo hidrogeomorfológico passam a
com/sem margens), 2c) natureza do fundo (fundo plano ser analisados de outra forma. O que se observa não é mais
ou com vegetação), 2d) Corpos d’água (lagos permanen- se podem ou não serem enquadrados dentro da definição
tes ou não) 2e) dinâmica das vertentes (deslizamentos clássica de Hidrogeomorfologia, mas se abordam ou não o
estabilizados); 3) Cobertura vegetal (entre 40-50% ou objeto, independendo do método.
entre 90-100%; 4) Elementos estruturais (anticlinal ou Ressalta-se que estes processos não são apenas os
sinclinal); 5) Topografia (áreas urbanizadas, limite da apresentados no item 4 (inundações, os fluxos hipercon-
bacia, direção da vertente). A partir destes elementos, centrados e os fluxos de detritos), apesar de serem os
foi inferido sobre a dinâmica hidrogeomorfológica da que mais aparecem em estudos como processos hidroge-
bacia, sugerindo medidas corretivas como revitalização omorfológicos. De uma forma abrangente, os processos
de rios, áreas que necessitam retificação, aumento da mata hidrogeomorfológicos devem ser aqueles que exercem
ciliar, reflorestamento de determinadas áreas da bacia, controle tanto sobre a evolução e formação da paisagem
entre outras medidas. Marini et al. (2009) fizeram um como sobre os processos hidrológicos (Figura 5). Justa-
estudo semelhante, mas enfatizando o controle geológico mente por isso os mesmos não se encaixam apenas nos
e características litológicas nos processos hidrológicos, três tipos acima elencados.
especialmente o controle geológico na direção dos rios.
Segundo Silde e Onda (2004), questões relacionadas
Nota-se que este tipo de mapeamento mantém o à Hidrogeomorfologia carecem de estudos aprofundados
foco no momento do estudo, possuindo uma limitação e precisam ser mais bem respondidas, como estudos
temporal e espacial, não apresentando a ideia de processo associados a fluxo preferencial e transporte de materiais
ou evolução. Dessa maneira, os processos não são estu- em diferentes escalas temporais e espaciais; interação
dados continuamente, mas sim inferidos e espacializados. entre encosta, canal e zona ripária; alterações no fluxo
Assim, este método hidrogeomorfoló gico e o índice superficial e erosão associados a diferentes uso do solo;
hidrogeomorfológi cos diferem conceitual mente e meto- processos erosivos; avaliação dos efeitos das mudanças
dologicamente das abordagens sugeridas por Scheidegger climáticas nos processos costeiros; entre outros. Neste
(1973), Sidle e Onda (2004) e o presente trabalho. contexto, cita-se o trabalho de Santos (2009) que, por meio
Os trabalhos supracitados são os que demonstraram do monitoramento e modelagem dos processos hidrogeo-
ou criaram um método hidrogeomorfológico próprio morfológicos, determinou os mecanismos de geração de
como o Índice Hidrogeomorfológico ou o Método Hi- escoamento e a conectividade hidrológica em uma pequena
drogeomorfológico (HGM). Além dessas abordagens, bacia, destacando-se como um dos trabalhos pioneiros na
pesquisas relacionadas à interação de ajuste de canais Hidrogeomorfologia brasileira, principalmente por abordar
a diferentes padrões de vegetação e disponibilidade de a gênese e dinâmica dos processos, ou seja, tratando os
sedimentos (Hupp e Osrterkamp, 1996, Morais et al., processos como objeto.
Apostila Pag.56
Goerl, R. F. et al
Apostila Pag.57
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Apostila Pag.58
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul
Meio ambiente
Resumo
Para reduzir os desastres naturais, especialmente hidrológicos (inundação e
escorregamento), é fundamental que as comunidades entendam e apliquem a
hidrologia no gerenciamento de desastres naturais. O presente projeto de extensão,
através de palestras e mini-cursos, busca a valorização e o ensino da hidrologia
para a conscientização da população quanto aos riscos e danos acarretados pelos
desastres naturais. Os cursos e as palestras tiveram resultados positivos e boa
aceitação.
Introdução
A saúde é definida como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não apenas a ausência de doença (WHO, 1946). Pela definição, fica bem claro que,
sem saúde, cada indivíduo não consegue alcançar a felicidade e consequentemente
uma boa qualidade da vida. Um dos fatores que influenciam na garantia da saúde é
o grau de segurança em relação a desastres naturais. Tal segurança deve ser direito
garantido de cada indivíduo. Portanto, é de extrema importância compreender os
desastres naturais.
O Emergency Disaster Data Base – EM-DAT do Centre for Research on the
Epidemiology of Disasters – CRED, um órgão parceiro da Organização Mundial da
Saúde (World Health Organization – WHO), analisa os dados mundiais das
ocorrências de desastres naturais. Em 2008, o EM-DAT reclassificou os tipos de
desastres em seu banco de dados em dois grandes grupos: naturais e tecnológicos
(SCHEUREN et al., 2008). Os naturais foram divididos em seis sub-grupos:
biológicos, geofísicos, climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrestres
(meteoritos), e estes por sua vez em doze tipos. Essa nova classificação resultou de
uma iniciativa entre o próprio CRED e a Munich Reinsurance Company (MunichRe),
que decidiram implantar uma classificação em comum para os seus respectivos
bancos de dados. A principal mudança foi separar em dois tipos os movimentos de
massa: secos e molhados. O primeiro associado apenas a eventos geofísicos
(terremotos), e o segundo a condicionantes hidrológicos e meteorológicos. De
qualquer maneira, tais movimentos de massa são chamados de escorregamentos. A
International Strategy for Disaster Reduction das Nações Unidas (UNISDR) também
adotou as mudanças na classificação, visto que o EM-DAT é o principal banco de
dados utilizado pela ONU, como observado pelo UNDP (2004). Em 2009 houve mais
uma atualização da classificação pelo CRED, na qual não se encontra o desastre
extraterrestre (BELOW et al., 2009) (Tabela 1).
1
Dr. Bolsista do CNPq, Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, kobiyama@ens.ufsc.br
2
Bolsista de Extensão, Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC
3
Bolsista de PIBIC, Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC
Apostila Pag.59
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul
Então, fica bastante claro que a sociedade vem sofrendo com os desastres
hidrológicos e meteorológicos. Para contribuir na mitigação destes, o Laboratório de
Hidrologia (LabHidro) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) iniciou o
Projeto de Extensão Universitária “Aprender Hidrologia para Prevenção de
Desastres Naturais” oficialmente em 2006. Como os desastres naturais no Brasil
ocorrem principalmente devido à ação da água, acredita-se que a hidrologia possui
uma grande contribuição a esse assunto. Segundo UNESCO (2007), a hidrologia é
uma das principais ciências envolvidas no estudo de desastres naturais.
LAMONTAGNE (2002) destacou a importância da popularização da ciência para
minimizar os prejuízos causados pelos desastres naturais.
KOBIYAMA et al. (2006) dividiram a prevenção de desastres naturais em dois
aspectos: (1) compreensão dos mecanismos de fenômenos naturais que geram os
desastres; e (2) aumento do potencial de resistência da sociedade contra esses
fenômenos. O primeiro item é a execução da ciência, e o segundo item pode ser
realizado com apoio da ciência.
No contexto de gerenciamento de desastres naturais (GDN), é essencial que cada
pessoa seja responsável pela sua própria vida. Entretanto, como o poder de cada
indivíduo é pequeno e limitado, é necessário uni-los para criar uma comunidade. A
Apostila Pag.60
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul
Cidadão Professor
Alunos
(Crianças)
Gerenciamento de
Participação Participação Desastres
Intensificada Intensificada Naturais
Participação
Comunidades Intensificada
Gerenciamento
Participativo de
Desastres
Naturais
Redução de Desastres
Metodologia
O presente projeto visa a popularização da hidrologia nas comunidades locais,
esclarecendo os riscos e danos causados por desastres hidrológicos e levando o
conhecimento adquirido e desenvolvido pela universidade às comunidades.
Durante seu desenvolvimento, foram realizados cursos e palestras, e para isso
foram produzidos materiais didáticos. Além do livro “Prevenção de desastres
naturais: Conceitos básicos” de KOBIYAMA et al. (2006), mais dois livros
(KOBIYAMA et al., 2008; SILVEIRA et al., 2009) foram criados e utilizados como
base para a realização dos cursos. Esses materiais estão disponibilizados no site do
LabHidro da UFSC (www.labhidro.ufsc.br).
Em princípio, os cursos consistem em aulas teóricas. Entretanto, conforme a
duração do curso e o interesse dos participantes podem ocorrer outras atividades
como estudo de grupo, aula dinâmica, aula prática, entre outros. A fim de avaliar o
desempenho do curso e também para melhorar os materiais didáticos e a
organização de futuros eventos, um questionário é aplicado antes e depois da
atividade para cada participante.
A Tabela 2 apresenta os cursos relacionados à hidrologia e sua aplicação na
prevenção de desastres naturais para comunidades internas e externas à UFSC.
Apostila Pag.61
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul
Resultados e discussão
Conforme a Tabela 2, tanto o público participante quanto a duração dos cursos
foram variados. Além disso, entre os municípios, há obviamente diferenças
ambientais (clima, topografia, geologia, etc.) e sociais (economia, cultura, etc.), o
que gera desastres naturais com características diferentes. Portanto, não é tão
simples analisar o desempenho dos cursos. Entretanto, em geral, pode-se dizer que
os cursos tiveram resultados positivos e boa aceitação. Os participantes mostraram-
se dispostos a repassar e utilizar as informações no campo de trabalho e convívio
social, bem como expressaram necessidade de realização de mais cursos abertos a
toda a comunidade. Algumas avaliações estatísticas se encontram em KOBIYAMA
et al. (2009).
Nos cursos, há dois itens que recentemente têm sido destacados: (i) bacias-escola;
e (ii) APP (área de preservação permanente). Segundo KOBIYAMA et al. (2008), a
bacia-escola é definida como uma bacia hidrográfica experimental que serve tanto
para pesquisas científicas quanto para atividades de educação ambiental. A
utilização desse conceito é de extrema relevância para que se crie uma ligação entre
teoria e realidade, facilitando o entendimento de eventos hidrológicos.
Apostila Pag.62
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul
(a)
(c)
(b)
Figura 3 – Destruição da APP devido ao fluxo de detritos: (a) antes da ocorrência do
fluxo de detritos, (b) transporte longitudinal dos troncos, e (c) transporte transversal
dos troncos (Fonte: KOBIYAMA et al., 2010)
Conclusões
Com a elaboração de materiais didáticos e a realização de cursos de capacitação,
foi confirmada ainda mais a importância do fator humano na prevenção de desastres
naturais. A convivência com esses desastres é inevitável, e o que o ser humano
pode fazer é apenas reduzir os prejuízos. Tal redução é possível somente quando
cada indivíduo participa do gerenciamento e realiza o GPDN. Dessa maneira, a
realização do curso de capacitação para prevenção de desastres naturais
certamente contribui para o aumento da eficácia das medidas preventivas contra
Apostila Pag.63
28° Seminário de Extensão Universitária da Região Sul
Agradecimentos
Os autores agradecem aos membros do Laboratório de Hidrologia – LabHidro, do
Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de
Santa Catarina pelas discussões sobre desastres naturais.
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Apostila Pag.64
3 DESASTRES NATURAIS E SEU GERENCIAMENTO
MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
ALINE DE ALMEIDA MOTA
Apostila Pag.65
Redução dos desastres naturais: desafio dos geógrafos
Resumo
Abstract
In recent years, natural disasters have become more frequent and caused more
damage. To prevent such disasters there are two types of measures: the structural
and non-structural, being that the latter stands at low cost. The principals of
these measures are the early warning system, risk mapping and environmental
education. The geographers, through their training, have full capacity to act in
the disaster prevention. It is, however, observed that their performance falls short
of their possibilities. Thus, this study sought to demonstrate the role that the
geographers can play in the disaster management especially in relation to non-
structural measures.
Key words: Geography; natural disasters; risk management.
Apostila Pag.66
Introdução Um desastre é resultado de evento adverso,
natural ou provocado pelo homem, sobre
Recentemente, a mídia tem reportado um ecossistema vulnerável, causando
a ocorrência de diversas tragédias associadas danos humanos, materiais e ambientais e
a eventos naturais extremos. Terremotos, consequentes prejuízos econômicos e sociais
inundações e escorregamentos têm sido (CASTRO; CALHEIROS, 2007).
noticiados nacional e internacionalmente. Por definição, os desastres envolvem
Devido à globalização da informação duas esferas: a social e a ambiental, ou seja, as
tem-se acesso a mais notícias de eventos principais etapas de análise de risco. Diversas
extremos, e a preocupação sobre seus disciplinas e ciências podem contribuir para
efeitos também tem aumentado. Temas o gerenciamento do risco como a hidrologia,
chave como intensidade e frequência de geomorfologia, geologia, sociologia,
desastres, mudanças climáticas, crescimento meteorologia, antropologia, entre outras. A
populacional, vulnerabilidade, entre outros, geografia, por ser uma ciência de síntese, e
têm estado na pauta de discussões de órgãos por historicamente abarcar em seu currículo
internacionais como o Escritório das Nações diversas ciências acima citadas, tanto físicas
Unidas para Redução de Risco e Desastres quanto humanas, pode contribuir de maneira
(UNISDR) e de órgãos nacionais como a significativa no gerenciamento de desastres.
Defesa Civil e Ministério da Integração Neste contexto, o presente trabalho teve por
Nacional. Duas ações resultaram desta objetivo apresentar as possíveis contribuições
preocupação. A primeira delas foi à criação dos geógrafos (físicos e humanos e/ou
da Década Internacional de Redução de bacharéis e licenciados) no gerenciamento do
Desastres entre 1990 e 1999 (ROSENFELD, risco e nas ações de prevenção dos desastres
1994). A segunda, mais recente, refere-se ao naturais.
Marco de Ação de Hyogo, que tem como
principal meta o aumento da resiliência dos Desastres Naturais
países e comunidades frente aos desastres.
Os principais objetivos estabelecidos foram: Conceitos
priorizar nacionalmente e localmente
a redução de risco; identificar, avaliar e Os perigos naturais (natural hazards)
monitorar o risco e incrementar o sistema de são processos ou fenômenos naturais
alerta; utilizar de conhecimento, inovação e potencialmente prejudiciais que ocorrem
educação para criar uma cultura de prevenção na biosfera, que podem causar sérios danos
e resiliência; e tornar as comunidades mais sócio-econômicos ás comunidades expostas
fortes para uma efetiva resposta aos desastres (UNISDR, 2002; UNDP, 2004).
(UNISDR, 2007). Inundações, escorregamentos e outros
Dessa maneira, as principais ações tipos de fenômenos naturais causadores de
relacionadas aos desastres referem-se à desastres podem ser denominados perigos
identificação e análise de risco. Ao se naturais e têm como principal característica
analisar o risco, duas etapas complementares a de colocar em risco diferentes entidades e
devem ser abordadas: a mensuração da classes sociais. Este risco não se refere aos
vulnerabilidade e a dos perigos naturais. fenômenos naturais per si, mas a junção dos
Apostila Pag.67
fenômenos naturais com os sistemas humanos tendência. Assim, uma alteração em uma
e suas vulnerabilidades (ALCÁNTARA- parte do sistema produzirá um ajuste em
AYALA, 2002). Apesar do consenso em outra parte para que o mesmo se mantenha
relação ao conceito de perigo natural (GOERL em equilíbrio (SCHUMM, 1979). Esta
et al., 2012), a melhor tradução para o termo situação permanece até que uma alteração
natural hazard ainda é contraditória, sendo grande o suficiente produza uma nova
geralmente utilizados os termos acidente, situação de equilíbrio. Supõe-se que a
evento adverso, acaso, azares naturais, ameaça, ocorrência de X números de eventos, apenas
perigos naturais (CASTRO; CALHEIROS, X-Y causarão desastres por afetarem ou
2007; MARANDOLA; HOGAN, 2004; interagirem com a sociedade (Figura 1). Dois
CHRISTOFOLETTI, 1999). cenários podem então ser estabelecidos. O
Deve-se atentar ao fato que os primeiro, onde a frequência de fenômenos
perigos naturais são a priori fenômenos naturais se mantem constante, sem alteração
naturais, objetos de estudo de diversas na tendência do equilíbrio dinâmico. Por
ciências. As inundações são importantes outro lado, há o crescimento populacional, ou
processos fluviais, formadores de feições seja, mais pessoas habitando áreas propensas
como a planície de inundação, terraços à ocorrência destes fenômenos, como as
e diques marginais, além de contribuir planícies de inundações e encostas. Dessa
para a manutenção do ecossistema fluvial maneira, há um aumento da ocorrência dos
(CHRISTOFOLETTI, 1980; 1981). Os desastres naturais ocasionado diretamente
escorregamentos são processos modeladores pelo crescimento populacional (Figura 1a).
da paisagem responsável pela oferta de Contudo, há de se considerar que
sedimentos (KOBIYAMA et al., 2011), a frequência de fenômenos naturais pode
pela manutenção de canais de primeira aumentar, ou seja, uma nova tendência de
ordem (DIETRICH et al., 1986), pelo equilíbrio. Assim, neste cenário, o aumento
recuo das vertentes e modificação da forma de desastres não estará associado apenas ao
da encosta. Terremotos e vulcanismo são crescimento populacional, mas também ao
responsáveis pela criação, destruição e aumento da ocorrência dos fenômenos ao
deslocamento de ilhas, por desencadearem longo do tempo (Figura 1b).
escorregamentos, tsunamis, entre outros Os fenômenos naturais ocorrem
processos modificadores da paisagem. dentro de uma tendência de equilíbrio (E1)
Furacões impactam anualmente a economia que podem manter a mesma tendência
dos EUA, mas podem ser analisados como ao longo do tempo (E1, E2 e E3). A
importantes agentes dispersores de sementes partir de uma significativa alteração no
(KENDALL et al., 2004). sistema o mesmo passa a adquirir um novo
Dentro de determinadas circunstâncias estado de equilíbrio (E2’ e E3’) (Figura
o sistema natural e seus processos mantém 1c). A população mundial tem crescido
um estado de equilíbrio dinâmico que se continuamente (Figura 1d), conforme as
auto-ajusta ao longo do tempo. A ocorrência estimativas entre 1950 e 2100 da Divisão de
e características dos fenômenos estão População do Departamento de Ação Social
condicionadas ao equilíbrio do sistema, ou da Organização das Nações Unidas (www.
seja, oscilarão dentro de uma determinada un.org/esa/population). Dessa maneira,
Apostila Pag.68
DN
FN FN FN
E1 E2 E3
DN DN
Pop Pop Pop
a)
DN
FN FN FN
E1 E2’ E3’
DN DN
Pop Pop Pop
b)
Tempo
c) d)
E3'
Frequencia de Eventos
E2'
E1 E2 E3
Tempo Tempo
para uma mesma situação de equilíbrio dos Rutherford e Boer (1983) definiram os
fenômenos naturais (E1 ou E2’) há mais desastres como um evento destrutivo que, em
pessoas que potencialmente serão afetadas, ou relação aos recursos disponíveis, geralmente
seja, na ocorrência de um desastre os fatores ocasionam muitas perdas em um curto
humanos são predominantes. período de tempo. Para Benson e Clay (2003),
Todos os fenômenos que causam desas- um desastre natural é a ocorrência de um
tres, ou seja, todos os perigos naturais, são ine- anormal e não frequente perigo que impacta
rentes à própria dinâmica terrestre. Isso implica comunidades ou áreas vulneráveis, causando
que cedo ou tarde os mesmos irão ocorrem, va- danos substanciais, alterando o estado de
riando em intensidade, magnitude, frequência e funcionalidade da comunidade afetada.
local. Quando os perigos naturais ocorrem em Pelling (2003) definiu os desastres
um local habitado com determinada intensida- como sendo um estado de interrupção
de e magnitude e interagem com a sociedade nas funções de um sistema, resultado da
ocasionando danos, ocorrem desastres naturais coincidência do perigo e da vulnerabilidade.
(WEICHSELGARTNER, 2001). Estas funções do sistema operam em várias
Apostila Pag.69
escalas, desde indivíduos, aglomerações Larson (2008), entre diversos outros autores
socioeconômicas locais até toda a rede de propõem ou adotam definições muito
infraestrutura urbana bem como economia semelhantes à sugerida pela ONU.
global. Ainda para este autor, o que é Recentemente, a ONU (UNISDR,
considerado um desastre pode ser analisado 2009) reformulou sua definição, onde os
em diferentes escalas. Um simples evento que desastres são definidos como um sério
causa uma única morte, como um pequeno distúrbio na funcionalidade de uma
escorregamento pode ser considerado um comunidade ou sociedade ocasionando
desastre para os dependentes desta pessoa impactos e perdas humanas, econômicas e
falecida. Dessa maneira, um desastre pode ambientais generalizadas, os quais excedem
ser mensurado de inúmeras maneiras e a capacidade da comunidade afetada de se
perspectivas. Conforme ECLAC (2003), recuperar com seus próprios recursos. Esta
desastres são súbitos e inesperados eventos, concepção de que os desastres são função
geralmente acompanhados de perdas de vidas, de um perigo e vulnerabilidade traz consigo
que ocasionam em parte ou em toda uma uma perspectiva otimista, pois caso o risco
comunidade, prejuízos, ruptura temporária for avaliado adequadamente e as medidas de
nos sistemas vitais, danos materiais e prevenção e de redução da vulnerabilidade
consideráveis distúrbios nas atividades forem implementadas, o impacto negativo
econômicas e sociais. e até mesmo a frequência dos desastres
Desastres, também, podem ser con- podem ser reduzidos (ASIAN DISASTER
siderados uma ruptura no desenvolvimento REDUCTION CENTER, 2003).
social e econômico em nível familiar, quan- Apesar da semelhança entre as de-
do casas, plantações, utilitários domésticos finições apresentadas, Quarantelli (1998)
são destruídos sucessivamente, ou em nível demonstrou que a concepção e a definição do
nacional quando estradas, pontes, escolas, que é um desastre depende diretamente da
hospitais e outras infra-estruturas são seria- disciplina que o estuda. Assim, a antropolo-
mente danificadas (WISNER et al., 2004). gia, hidrologia, geografia, geologia, sociologia
Devido à complexidade dos fenômenos bem como outras áreas de conhecimento de-
naturais e sua interação com um sistema finem e abordam os desastres sob a sua ótica.
ainda mais complexo, a sociedade, diversos
conceitos de desastres podem ser propostos. Classificação
A Organização das Nações Unidas (ONU),
através do Programa das Nações Unidas Em 2008, o Emergency Disaster Data
para o Desenvolvimento sugere que um Base (EM-DAT) do Centre for Research
desastre natural pode ser entendido como on the Epidemiology of Disasters (CRED),
os efeitos da ocorrência de um perigo reclassificou os tipos de desastres em seu
natural, onde os danos e prejuízos gerados banco de dados (SCHEUREN et al., 2008).
excedem a capacidade de uma comunidade Os desastres foram classificados primeiro
ou sociedade em lidar com o desastre em dois grandes grupos: os naturais e os
(UNDP, 2004). Cutter (2001), Alcantara- tecnológicos. Os naturais foram subdivididos
Ayala (2002), Kohler et al. (2004), Coppola em seis grupos: biológicos, geofísicos,
(2007), Middelmann (2007), Eshghi e climatológicos, hidrológicos, meteorológicos
Apostila Pag.70
e extraterrenos (meteoritos), e estes por sua e intensidade. Além destes atributos, os
vez em outros 12. Esta nova classificação desastres podem ser classificados quanto à
foi resultado de uma iniciativa entre o duração (SIDLE et al., 2004; KOBIYAMA
próprio CRED e Munich Reinsurance et al., 2006). Geralmente os desastres
Company – MunichRe, que decidiram denominados episódicos tais como terremoto,
implantar uma classificação em comum vulcanismo, tsunami, inundação e fluxo
para os seus respectivos bancos de dados de detrito, chamam mais atenção pela sua
(SCHEUREN et al., 2008; BELOW et al., magnitude. Entretanto, desastres crônicos
2009). A principal alteração foi separar em tais como a erosão do solo, geram sérios
dois tipos os movimentos de massa: “secos” prejuízos ambientais, especialmente em
e “úmidos”. O primeiro associado apenas a longo prazo. O quadro 1 apresenta um
eventos geofísicos (terremotos/vulcanismo) resumo de cada classificação acima citada,
e o segundo os condicionantes hidrológicos com ênfase nos desastres naturais, além da
e meteorológicos. Como o EM-DAT é o proposta por Rutherford e Boer (1983).
principal banco de dados utilizado pela ONU
(UNDP, 2004) o UNISDR também adotou Estatísticas e Tendências
as mudanças na classificação.
A Defesa Civil brasileira, por meio Para catalogar a ocorrência de um
de Castro e Calheiros (2007) e Ministério desastre, o EM-DAT adota alguns critérios,
da Integração Nacional (2007), classifica os sendo que pelo menos um deles precisa ser
desastres quanto à origem/tipologia, evolução atendido: 10 ou mais pessoas falecidas; 100
Quadro 1. Diferentes propostas de classificação dos desastres com ênfase nos naturais
Scheuren et al., 2008 Castro e Calheiros, 2007
Rutherford e Boer (1983).
EM-DAT Minist. Integr. Nacional, 2007
Defesa Civil
Afetados (pessoas)
Pequeno: 25 – 100
Moderado: 100 - 1000
Grande: Mais de 1000
Apostila Pag.71
ou mais pessoas afetadas; declarar situação de desastres hidrológicos ocorrem com maior
emergência e requisitar auxílio internacional. frequência que os demais, representando
Marcelino et al. (2006) compararam os dados 42% (4503 registros) de todos os desastres
de EM-DAT com os dados registrados entre registrados desde 1900.
1980-2003 na Defesa Civil do estado de Os prejuízos relacionados a estes
Santa Catarina e demonstraram que muitos desastres (Figura 3) não apresentam a
registros que atendiam os critérios do EM- mesma tendência da frequência. Nota-se
DAT não foram computados pelo mesmo, o que os danos, apesar de estarem aumentando,
que pode estar relacionado à falta de acesso possuem um comportamento irregular. Além
aos dados por parte dos órgãos internacionais disso, enquanto a ocorrência de desastres
bem como ao entendimento dos registros, começa a aumentar significativamente a partir
que estão na língua portuguesa. Por outro da década de 1970, os prejuízos crescem a
lado estes mesmos autores apontaram que partir de 1980, sendo mais expressivo a partir
a tendência dos dados da Defesa Civil e da década de 90. Os desastres meteorológicos
do EM-DAT são semelhantes, ou seja, o e os geofísicos são responsáveis pelos picos
aumento dos desastres ocorre em ambos os no gráfico. Tempestades severas como o
níveis. Furacão Katrina (em 2005) nos EUA bem
A figura 2 apresenta este aumento, como os terremotos de Kobe (em 1995) e
que ocorreu principalmente após a Segunda o terremoto+tsunami em Fukushima (em
Guerra Mundial, sendo que a partir da década 2011), ambos no Japão, explicam estes picos.
de 1970 começa a ser mais expressivo. Nota- Países ricos ou desenvolvidos são os que
se também que nas ultimas duas décadas os reportam as maiores perdas econômicas totais
600 14000
5000
4500
4000 12000
500
3500
3000
2500
10000
Número de Registros Acumulado
2000
400
Número de Registros
1500
1000
8000
500
300 0
6000
200
4000
100
2000
0 0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
Figura 2. Registro de desastres naturais por ano e acumulado por tipo de desastre
Fonte: EM-DAT.
Apostila Pag.72
400 2500
300 500
1000
150
100
500
50
0 0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
Meteorológico Hidrológico Geofisico Climatológico Biológico Acumulado
Apostila Pag.73
4 35
3.5
30
12
Milhões
10 25
Pessoas Mortas (Milhões)
2.5 6
4 20
2
2 0
15
1.5
10
1
5
0.5
0 0
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
Meteorológico Hidrológico Geofisico Climatológico Biológico Acumulado
Apostila Pag.74
para prevenir inundações locais, os quais tom literário; compêndios de curiosidades
estimularam a urbanização de áreas abaixo sobre lugares exóticos; relatórios estatísticos
do nível do mar. Com base nas características de órgãos de administração; obras sintéticas
deste Furacão, foi estimado que cerca de agrupando os conhecimentos existentes a
90.000 pessoas sofreriam danos ou prejuízos, respeito dos fenômenos naturais; catálogos
mas 1,3 milhão de pessoas requisitaram sistemáticos sobre os continentes e os países
auxílio ao governo (ELLIOTT; PAIS, 2006). (MORAES, 2007).
A Geografia como um ramo autônomo
Geografia da ciência tem suas raízes no final do século
XVIII e início do século XIX, quando
Histórico foi estruturada de forma organizada e
lógica (ANDRADE,1999). Moraes (2007)
A existência da Geografia como ramo enumerou alguns pressupostos históricos
de conhecimento data desde a Antiguidade que contribuíram com a estruturação da
Clássica. Diversos filósofos como Tales Geografia. O primeiro pressuposto diz
de Mileto (procurando os elementos da respeito ao conhecimento efetivo da real
natureza), Anaximandro (discutindo a extensão do planeta, pois era necessário que
medição do espaço e a forma da Terra), a Terra em sua totalidade fosse conhecida.
Heródoto (descrição dos lugares numa Esta condição concretizou-se com as grandes
perspectiva regional), Hipócrates (discussão navegações, ou seja, a constituição de um
da relação entre o homem e o meio), espaço mundial, onde a determinação das
produziram conhecimentos geográficos de dimensões e formas dos continentes foi base
caráter descritivo e informativo (COSTA; para a ideia de um conjunto terrestre. O
ROCHA, 2010). Contudo, foram Estrabão e segundo era a existência de um repositório
Cláudio Ptolomeu que melhor sistematizaram de informações sobre vários lugares da Terra.
este conhecimento e cujas obras serviram Este banco de dados rudimentar permitiria
de modelo na retomada da produção de discorrer, com base em evidências concretas,
conhecimento geográfico ocorrido a partir sobre a diversidade de superfícies e as
do século XV (ROCHA, 1997). realidades de cada local, contribuindo assim
Pode-se dizer que o conhecimento para a apropriação e domínio de determinado
geográfico estava disperso, sem um conteúdo território. Com o desenvolvimento do
unitário e as matérias apresentadas sob a comércio colonial, houve a necessidade de
designação geográfica eram diversificadas. inventários dos recursos naturais presentes
Além disso, muito do que se entende hoje por nas suas possessões (colônias), gerando
Geografia não era assim denominado. Até o informações mais sistemáticas e científicas.
final do século XVIII, não era possível falar Consequentemente surgiu a necessidade
de conhecimento geográfico padronizado, de um local para agrupar as informações e
com unidade temática e continuidade nas materiais recolhidos. Assim, foram então
formulações. Os trabalhos deste período criadas por meio do incentivo dos Estados
pré-científico não sistematizado ou conforme as sociedades geográficas e os escritórios
Sodré (1987), pré-história da geografia, coloniais. A elaboração deste material era
abrangeram relatos de viagem, escritos em
Apostila Pag.75
tarefa da Geografia até a metade do século econômico de novos espaços, o que denota o
XIX. papel estratégico da Geografia para os povos
Um bom exemplo que retrata este que a desenvolviam (COSTA; ROCHA,
período é a fundação da Sociedade Geográfica 2010).
Real (RGS), em 1830 na Inglaterra, cujas A sistematização do conhecimen-
atividades estavam relacionadas com as to em forma da Geografia como ciência
explorações coloniais na África, Índia, ocorre principalmente com Alexander von
regiões polares e Ásia Central (http://www. Humboldt e Carl Ritter, na Alemanha, no
rgs.org). Explorações e expedições como as final do século XVIII e início do XIX, onde
de David Livingstone (expedição à África), aparecem os primeiros institutos e cátedras
Henry Stanley (expedição à procura de destinadas a ela (MORAES, 2007; AN-
Livinsgtone), Robert Scott (expedição ao DRADE, 2009). Humboldt e Ritter deram
Polo Sul) e Ernest Shackleton (expedição às o impulso inicial, forneceram os primeiros
regiões polares) foram subsidiadas pela RGS. delineamentos claros do domínio desta
Cardoso (2005) argumentou que na Europa, disciplina em sua acepção moderna, elabo-
a multiplicação das sociedades geográficas ram as primeiras tentativas de lhe definir
relacionava-se à expansão colonial, pois o objeto e realizaram as primeiras padro-
se buscava conhecer melhor as colônias nizações conceituais (MORAES, 2002).
e conquistar novos territórios, visando o No Brasil, as primeiras atividades
intercâmbio comercial e à difusão da cultura geográficas datam do descobrimento, quando
européia. Assim, foram criadas as Sociedades a frota de Cabral empreendeu uma exploração
Geográficas da França em 1821, Alemanha de 10 léguas de costa (50 km), na direção sul-
em 1828, Portugal em 1875, Espanha em norte. Posteriormente explorações semelhantes
1876, Canadá em 1877 e a do Brasil em 1883. proporcionaram uma descrição geral do litoral.
O t e rc e i ro p re s s u p o s t o f o i o Os demais estudos de caráter geográfico no
aprimoramento das técnicas cartográficas, Brasil estiveram vinculados aos interesses
instrumento por excelência do geógrafo. econômicos e disputas territoriais por parte
Era necessário representar os fenômenos dos colonizadores (GONÇALVEZ, 1995).
geográficos bem como a localização do A partir de 1808, com a chegada
território e dos seus recursos. Assim, do rei de Portugal Dom João VI, foi dado
a representação gráfica, padronizada e um grande impulso aos empreendimentos
precisa era requisito da reflexão geográfica. artísticos e científicos que, na área geográfica,
Posteriormente, com a melhoria das técnicas culminou com a criação da primeira escola
de impressão difundiram-se e popularizaram- de formação de Engenheiros Geógrafos
se as cartas e atlas. Militares na Academia Real Militar, que
O objetivo principal da geografia formava profissionais com o objetivo de
pré-científica era o conhecimento e a mapear o território brasileiro (ARCHELA,
descrição dos locais descobertos para, entre 2007). Como a profissão de Geógrafo ou
outros aspectos, a elaboração de rotas que cursos e cátedras de geografia ainda não
possibilitassem a ampliação do comércio. Os existiam no Brasil, o trabalho desenvolvido
colonizadores também estavam preocupados pelo Engenheiro Geógrafo não se diferenciava
com a expansão territorial e o domínio do exercido pelo Geógrafo na atualidade.
Apostila Pag.76
Durante o período imperial e da Primeira que traz uma influência direta na temática
República os geógrafos se dedicaram a dos desastres, a dicotomia Geografia Física
estudos descritivos, levantamentos estatísticos e Humana.
e à produção de atlas (ANDRADE, 1993; Conforme Andrade (2009) há uma
GONÇALVES, 1995). eterna disputa entre geógrafos naturalistas e
A geografia brasileira organizou-se humanistas. Das discussões entre estas duas
institucionalmente e academicamente com a linhas ocorrem à cisão interna que resulta na
criação do Instituto Brasileiro de Geografia fragmentação do método. A Geografia passou
e Estatística - IBGE (em 1930) e dos cursos a se adaptar a um sistema de trabalho realizado
de Geografia na Universidade de São Paulo – em colaboração com outras especialidades.
USP (em 1934) e na Universidade do Distrito Christofoletti (1985) argumentou que
Federal (em 1935, atual Universidade Federal objetivando estudar a distribuição dos
do Rio de Janeiro – UFRJ) (SOUZA NETO, fenômenos na superfície da Terra, a Geografia
2005; MACHADO, 2000). Atualmente Geral analisava cada categoria de fenômenos
existem no Brasil 50 cursos de pós-graduação de maneira autônoma. Essa segmentação
em Geografia reconhecidos pelo Ministério da resultou na Geografia sistemática ou tópica e na
Educação, o que demonstra a sua importância subdivisão da Geografia em diversas disciplinas
no âmbito científico nacional. (geomorfologia, hidrologia, climatologia,
biogeografia, geografia da população,
Sistematização da Geografia (Física econômica, urbana, industrial, entre outras).
e Humana) A segmentação da Geografia nas
mais diversas correntes do pensamento
De maneira geral, os autores que geográfico e a falta de unidade em termos
escrevem sobre a história da Geografia de objeto e paradigma é uma questão
concordam que Humbodt e Ritter são os pais que ainda não está resolvida. Por outro
da Geografia. Em relação ao método, objeto lado, corroborando com Pitman (2005),
e à definição ainda não existe consenso, pois, estas questões são inerentes da própria
conforme Serra (1985), o que é Geografia está Geografia e devem ser resolvidas dentro
atrelado à corrente que faz a definição, segundo dela. Assim, o presente trabalho não tem
uma própria escala de valores, variando o por objetivo determinar o que a Geografia
objeto, fontes de conhecimento, campos de é ou irá ser, mas demonstrar o papel do
atuação e formas de manifestação. Os debates geógrafo (licenciado ou bacharel) frente
relativos a essa temática são contínuos e aos desastres naturais, independente de
sempre reabertos, sem chegar a uma conclusão ser físico ou humano, credenciado ou não
definitiva (CHRISTOFOLETTI, 1985). ao Conselho Regional de Engenharia,
Autores como Christofoletti (1985), Andrade Arquitetura, e Agronomia – CREA.
(1987), Moreira (1987), Castro et al. (1995),
Moraes (2002, 2007) demonstraram as O papel do geógrafo e os desastres
dicotomias e complexidades geográficas ou naturais
as muitas Geografias e correntes geográficas
que existiram ao longo de sua própria história. O conjunto de ações destinadas à
Contudo, destaca-se uma destas dicotomias prevenção e mitigação dos desastres pode
Apostila Pag.77
ser denominado de Ciclo de Gerenciamento (GREGORY, 1992), ou seja, no estudo
de Desastres Naturais (RAFAELLI NETO, de desastres as Geografias encontram-se e
2000). Este ciclo é composto por três etapas trabalham em conjunto.
a serem implementadas: pré-evento, evento Herbert e Matthews (2004) elencam
e pós-evento (Tabela 1). Na prática, existem três tradições geográficas: a cartográfica,
ações que são específicas de cada etapa e a do trabalho de campo e a holística. A
outras que são comuns a todas as etapas. tradição cartográfica enfatiza o registro,
Kobiyama et al. (2006) exemplificaram a representação e a interpretação dos
cada uma das práticas em suas respectivas fenômenos da superfície. A tradição do
etapas. Estas práticas passam desde ações trabalho de campo reflete a integração
individuais como o auxílio aos vizinhos, ter do geógrafo com a sua fonte primária de
conhecimento sobre o mapeamento de risco dados, sejam quantitativos ou qualitativos,
de seu município até ações governamentais, e a formulação de teorias com base nas
como implementação de sistemas de alerta, observações de campo. A tradição holística
mapeamento e fiscalização das áreas de risco, permite entender a totalidade da superfície
levantamento de danos durante eventos, da Terra. Estas tradições materializam-se
entre outros. em métodos e técnicas de mapeamento,
Um geógrafo (bacharel ou licenciado) elaboração de banco de dados, inventário de
quando se forma, hipoteticamente, deve características sócio-ambientais e podem ser
possuir uma base teórico/metodológica atualmente aplicadas no estudo dos desastres,
tanto da geografia física quanto da humana, ou seja, na identificação do risco, do perigo e
mesmo que ao longo de sua vida acadêmica da vulnerabilidade.
Tabela 1. Etapas fundamentais na prevenção e mitigação de desastres naturais
Etapa Descrição
Antes de ocorrer os desastres são realizadas atividades e ações
Pré-Evento de prevenção para reduzir os possíveis prejuízos.
Durante e logo após o evento, são realizadas ações
Evento emergências até o restabelecimento dos serviços básicos.
Após os desastres atua-se na restauração, reconstrução e
Pós-Evento compensação dos prejuízos.
Fonte: Modificado de Kobiyama et al. (2006)
Apostila Pag.78
explicadas pelos seus aspectos específicos que pode subsidiar a implementação de medidas
dependem do tipo de estudo, da análise estruturais, bem como verificar a influência
e resultado requerido, do tipo de perigo das alterações antrópicas sobre os processos
(fenômeno natural), da escala temporal físicos (ALEXANDER, 2004).
e espacial e das especificidades do local O avanço do conhecimento relacionado
de estudo (BARROCA et al., 2006). aos processos físicos vem contribuindo para
Goerl et al. (2012) demonstraram que uma mudança de postura relacionada às
apesar das inúmeras definições e tipos de medidas estruturais. Os geógrafos físicos
vulnerabilidades, a maior parte dos estudos contribuíram para o melhor entendimento
utiliza indicadores socioeconômicos como dos processos hidrológicos e geomorfológicos
renda, PIB, escolaridade, idade, gênero, e sua significância ecológica, o que ocasionou
etnia, taxa de pobreza para estimá-la. a queda da popularidade das obras de
Assim, utilizam-se dados obtidos por meio engenharia (MUSTAFA, 2009). Atualmente
de questionários e bancos de dados oficiais há a discussão sobre os efeitos das barragens
como o Censo, pois a vulnerabilidade de uma na quantidade de sedimentos a jusante da
comunidade geralmente é determinada por mesma e seu efeito no equilíbrio dinâmico
atributos sociais, econômicos e demográficos. do sistema fluvial, o que tem levantando
A análise do perigo natural trata das questionamentos e iniciativas para a sua
características físicas do fenômeno, e possui retirada, mesmo as elaboradas para contenção
uma forte ligação com a geografia física, pois de cheias (LIGON et al., 1995; KONDOLF,
a mesma aborda disciplinas como hidrologia, 1997; POFF; HART, 2002)
pedologia, geomorfologia, climatologia Po r m e i o d e i n d i c ad o re s
e biogeografia. Frequência, magnitude, socioambientais e características físicas
intensidade e duração são características do fenômeno, a vulnerabilidade e o perigo
atribuídas aos perigos naturais que estão podem ser estimados e espacializados,
diretamente relacionadas com os danos. principalmente através de mapas. A
Além disso, características específicas de cada elaboração de mapas percorre toda a história
fenômeno como altura, velocidade, presença geográfica e é uma das tradições mais
de detritos (inundação), volume, tipo de importantes e enfatiza a interface entre as
sedimento e alcance (escorregamentos), áreas física e humana (VINCENT; WHITE,
velocidade dos ventos (furacão e tornados), 2004) sendo de fundamental importância
déficit hídrico e duração (seca e estiagem) para o gerenciamento dos desastres. Por meio
são utilizadas para elaborar índices de de mapas de risco, perigo e vulnerabilidade, as
perigo (STEPHENSON, 2002, SAHA et políticas públicas de ordenamento territorial,
al., 2002; GOERL;KOBIYAMA, 2005; obras de engenharia, ações de prevenção e
LEE; PRADHAN, 2007; GOERL et al., mitigação podem ser implementadas. Por
2012). Desta maneira, a geografia física pode exemplo, utilizando dados socioeconômicos
contribuir na temática dos desastres com do censo (Figura 5a) para determinar a
base: a) entendimento dos processos físicos; vulnerabilidade (Figura 5b) e informações
b) monitoramento dos processos; c) predição históricas (registros) das inundações (cota
da evolução dos processos físicos a longo e máxima da cheia), Goerl et al. (2012)
médio prazo. Além disso, esta análise física elaboraram um mapa de perigo (Figura 5c)
Apostila Pag.79
Figura 5. Espacialização de parâmetros de análise de risco a) dados socioeconômicos, b)
vulnerabilidade, c) perigo e d) risco
Apostila Pag.80
campo. Citando como exemplo um evento inferir que o número de desastres aumentará
de inundação e fluxo de detritos ocorrido na potencialmente em função do crescimento
Venezuela em 1999, este autor argumentou populacional. A partir desta projeção, alguns
que alguns relatórios do Banco Mundial cenários podem ser elaborados. Caso ocorra
reportaram 50.000 mortos para este evento, uma redução de investimentos em termos
já outros relatórios da mesma instituição de prevenção (C1) o número de desastres
reportaram 5.000 mortos. A Defesa Civil poderá aumentar consideravelmente. Caso
nacional da Venezuela estimou em 5.800 o haja investimentos em prevenção seguindo
número de vitimas, já as autoridades locais o atual modelo, ou seja, enfatizando ações
estimaram entre 20.000 a 25.000 enquanto de reconstrução e mapeamentos sem a
pesquisadores que realizaram trabalhos de conciliação com as políticas públicas e de
campo estimaram em 3.500 mortos, que pro- ordenamento territorial, os desastres tendem
vavelmente foi o mais próximo da realidade. a aumentar de maneira suave (C2). O melhor
Esta disparidade de informações demonstra cenário possível é a junção das ações de
a importância dos trabalhos de campo e dos prevenção como mapeamentos de risco,
levantamentos de danos pós-desastre tendo obras de engenharia e educação ambiental
por base critérios científicos, ou seja, tradição que subsidiem políticas públicas e que sejam
e método indispensável da Geografia. embasadas em pesquisas acadêmicas (C3).
Por meio da coleta de dados em cam- Dessa maneira, há uma probabilidade que
po e posterior cruzamento de informações, os desastres se estabilizem com posterior
é possível elaborar análises dinâmicas e pro- redução de sua ocorrência.
jeções evocando conhecimentos fundamen- Apesar da descrição ser histórica
tados pela Geografia Econômica, Urbana e na Geografia, a quantificação surge, na
da População. Através de comparações da atualidade, como extremamente necessária
evolução das características de bairros, mu- nos estudos de desastres. Como os desastres
nicípios ou até mesmos de países é possível estão intrinsecamente ligados ao crescimento
analisar temporal e espacialmente a dinâ- populacional, deve-se entender o quanto e
mica socioeconômica de um determinando como a população irá crescer para que ações
território, avaliando conexões, redes e fluxos de prevenção sejam tomadas de maneira
que auxiliam a estabelecer condicionantes correta. Assim, é de fundamental importância
históricos ou atuais que determinarão uma que a Geografia Humana responda questões
maior ou menor vulnerabilidade e conse- ligadas à dinâmica populacional com suas
quentemente o risco. características demográficas, sociais e
Como demonstrado anteriormente, econômicas para que cenários futuros sejam
umas das prováveis causas do aumento do propostos.
número de desastres naturais é o crescimento Dessa maneira, é preciso que a
populacional. Nota-se que há uma forte Geografia produza dados que possam ser
correlação (R²=0,95) entre o total anual utilizados pelos tomadores de decisão.
de desastres registrados pelo EM-DAT a Na esfera acadêmica, o pesquisador tem
e população mundial estimada pela ONU liberdade em escolher o melhor método e
entre 1950 e 2011 (Figura 6). Por meio técnica para discursar sobre o seu objeto,
desta correlação é possível extrapolar (C0) e mas ao se abordar os desastres naturais, o
Apostila Pag.81
1800
1600
Projeção (Tendência Atual)
Observado
1400
Ocorrência de Desastres
1200
1000
800
600
1950 - 2011 2012 - 2100
400
200 y = 9E-29x3.126
R² = 0.952
0
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
População Mundial (Bilhões)
pesquisador precisa dar respostas concretas Geografia Humana. Contudo, para este autor,
que permitam a comparabilidade, análises mesmo que a Geografia tenha produzido
temporais e espaciais e que demonstrem o conhecimento nestas áreas, geralmente
problema de uma maneira objetiva, ou seja, estes estudos são qualitativos e em virtude
dados quantitativos. disso não são incorporados nos modelos de
Segundo Pitman (2005), a falta mudança climática.
de disciplinas exatas nos currículos da Outro argumento de Pitman (2005)
Geografia prejudica a sua comunicação com é que por mais que a Geografia atue em
as demais ciências. Citando, como exemplo, diversas áreas que podem contribuir com as
a questão das mudanças climáticas, este demais Ciências da Terra, a disseminação
autor argumenta que a falta de disciplinas dos resultados das pesquisas ainda é feita
como cálculo, física e química faz com que em periódicos cujo principal leitor é o
as Ciências da Terra deixem de buscar o geógrafo, ou ainda, geógrafos que atuam em
conhecimento da Geografia. Por meio da áreas específicas buscam revistas específicas
observação e espacialização de parâmetros para apresentarem seus resultados. Esta
chaves como tipo de solo e vegetação, dados tendência é demonstrada por Agnew e
hidrológicos, datações quaternárias e análises Spencer (1999) ao analisarem as publicações
climáticas, a Geografia Física pode contribuir do “Transactions of the Institute of British
para a redução das incertezas dos cenários de Geographers” que deveriam refletir as
mudanças climáticas. Como estes cenários atividades e pesquisas realizadas por todos
podem ter relação com a emissão de CO2, os geógrafos, especialmente na Inglaterra,
a quantificação desta emissão necessita de demonstraram que 90% dos artigos
projeções populacionais, econômicas, de uso submetidos são predominantes da Geografia
da terra, mudanças tecnológicas e de padrão Humana. Fergunson (2003) explica que
de consumo, que são foco do estudo da geógrafos físicos têm buscado periódicos
Apostila Pag.82
nas áreas de hidrologia e geomorfologia pelo menos danos; 7) prestar assistência para as
fato de preferirem que suas pesquisas sejam vitimas das inundações; e 8) seguro contra
debatidas em uma esfera interdisciplinar. os prejuízos.
O debate acima demonstra que a relação Durante 15 anos, White coordenou
entre Geografia Física e Humana ainda é estudos sobre sua proposta, iniciando com a
conturbada, porém para alguns autores, como identificação dos usos das áreas inundáveis,
Thrift (2002), a Geografia está entrando em analisando medidas pouco utilizadas contra
um momento de reavivamento, cujas técnicas as inundações e observando a percepção e
têm sido recicladas e incorporadas a novos escolha das ações das pessoas frente a este
conhecimentos. Contudo, nenhum dos problema. Seus estudos serviram de base
autores acima (AGNEW; SPENCER, 1999; para o Programa Nacional Unificado de
THRIF T, 2002; FERGUNSON, 2003; Gerenciamento da Planície de Inundação
PITMAN, 2005) cita os desastres naturais que, além das ações propostas por White
como área de contribuição da Geografia, (1945), incluiu uma série de medidas como
cujo maior expoente foi Gilbert White. mapeamento das planícies de inundação,
Em 1945, White publica Human restrição de alturas, obrigatoriedade de
Adjustment to Floods: A Geographical Approach seguros e zoneamento dos usos da terra.
to the Flood Problem in the United State, Apesar das suas pesquisas serem pouco
que é reconhecido como um dos estudos difundidas, desde White, os geógrafos têm se
geográficos mais influentes nos EUA. dedicado à temática dos desastres. Enquanto
White procurou demonstrar um novo que nos Estados Unidos, White demonstrou
posicionamento às políticas de controle de que apenas as medidas estruturais não
inundação e de redução de danos que eram promovem a solução ideal para o problema,
amplamente baseadas em medidas estruturais no Brasil estas medidas ainda são as mais
como diques, barragens e retificação de populares, o que provavelmente coloca
canais. White argumentava que os danos o Engenheiro Civil como profissional
relacionados às inundações eram um mais requisitado para “resolver” problemas
problema inerente às ações da sociedade, ou relacionados aos desastres. Contudo, as
seja, à crescente ocupação desordenada da medidas não estruturais como mapeamento e
planície de inundação (KATES, 2011). sistema de alertas possuem grande vantagem
Com base nesta premissa, White na relação custo-benefício, o que torna o
(1945) propôs oito ações como medidas de geógrafo amplamente habilitado para atuar
prevenção: 1) elevação dos terrenos acima do na prevenção de desastres.
provável nível das inundações; 2) gestão das Embora todas as medidas, estruturais
terras de montante para atenuar o pico de e não estruturais, possuam sua importância,
cheia; 3) proteger a planície de inundação com uma das mais importantes é a conscienti-
diques, melhorias no canal e reservatórios; 4) zação e/ou educação ambiental, papel fun-
elaborar medidas emergenciais para evacuar damental do licenciado em Geografia. Um
pessoas e propriedades; 5) construções mapa de risco ou sistema de alerta possui
deveriam ser fisicamente menos expostas sua importância para os planejadores, mas
(vulneráveis) às inundações; 6) utilizar áreas caso a população não saiba interpretá-lo e
inundáveis para usos alternativos que sofram efetivamente utiliza-lo, o mesmo se tornará
Apostila Pag.83
obsoleto ou desacreditado. Um exemplo de mapa de risco sem o devido esclarecimento
um mapa de risco ineficaz foi o da tragédia à população e aos lideres comunitários
ocasionado pela erupção do vulcão Nevado tornou-o uma informação sem muita
del Ruiz, na Colômbia. Hall (1990) fez um utilidade. Mesmo com monitoramento e
relato cronológico desta tragédia desde o ini- mapeamento, a tragédia não pode ser evitada,
cio das atividades vulcânicas (Dez. de 1984) devido à falta de comunicação e ensinamento.
até o dia da erupção (15 Nov. 1985) que Assim, o treinamento da comunidade
causou a morte de 23.000 habitantes, 67% deve ser sistemático e continuo, para que a
da população total do município de Armero mesma esteja preparada para a ocorrência
e mais 1.000 pessoas em localidades vizinhas. de qualquer evento súbito, ou seja, deve ser
Hall foi um dos pesquisadores que realizado desde as séries escolares iniciais.
forneceu diversos pareceres sobre as atividades Um exemplo do quão importante
vulcânicas e sobre os procedimentos de são as ações de conscientização e educação
emergência. Por meio de suas observações in ambiental ocorreu durante o tsunami que
loco, ele chegou as seguintes conclusões. O atingiu o Sul e Sudeste da Ásia em 2004. Tilly
vulcão Nevado Del Ruiz era cientificamente Smith, que na época tinha apenas 10 anos,
conhecido, pois duas teses de doutorado ao observar em uma praia da Tailândia o mar
e diversos relatórios sobre as atividades recuando avisou seus pais que este fenômeno
geotérmicas foram publicados antes do início era um dos sinais da vinda de um tsunami.
das erupções. O ceticismo era generalizado Tilly aprendeu sobre tsunamis durante as
dentro e fora do governo, não apenas sobre a aulas de Geografia e “emitiu” o alerta aos
possibilidade de uma catástrofe, mas também seus pais salvando cerca de 100 turistas.
sobre o que o governo estava fazendo a Tilly é da Inglaterra, onde a ocorrência de
respeito. A maneira como a mídia reportava tsunamis não é comum, o que não impediu
os acontecimentos influenciava a opinião que o seu professor ensinasse sobre o mesmo.
popular, pois, muitas vezes, opiniões de Ainda que um fenômeno não seja recorrente
celebridades locais divergiam das elaboradas em determinados locais, todos devem ter
pelos cientistas, confundido a população. A conhecimento sobre as suas características
publicação do mapa de risco cerca de um mês para poder tomar atitudes concretas quando o
antes da tragédia encontrou grande oposição mesmo ocorrer. Isto demonstra à importância
do interesse econômico, pois toda a área de de se abordar a temática dos desastres
Armero foi considerada como local de alto naturais no ensino fundamental e médio.
risco. A distribuição limitada e o curto espaço Os professores de Geografia podem exercer
de tempo ente a publicação do mapa de risco um papel fundamental na disseminação do
e a tragédia impediu as autoridades locais de se conhecimento sobre fenômenos extremos,
organizarem efetivamente. Hall (1990) conclui para que tragédias como a de Armero sejam
que a falta de preparo das comunidades que evitadas.
possivelmente seriam afetadas foi a maior falha, Cada geógrafo quer seja bacharel ou
pois grande parte das defesas civis não estavam licenciado quer seja humano ou físico, pode
aptas para lidar com o desastre. exercer papel fundamental na prevenção
O que fica evidente na descrição dos desastres naturais. Como demonstrado
de Hall (1990) é que a publicação de um anteriormente, a ocorrência destes desastres
Apostila Pag.84
tende a aumentar com o crescimento naturais (Tabela 2). O geógrafo pode, de fato,
populacional. Isto evidencia que as medidas atuar diretamente em todas as medidas não
de prevenção ainda precisam ser mais estruturais e indiretamente colaborar com
eficientes. A Geografia por sua história e as estruturais.
seu caráter holístico possui significativa Assim, é preciso que haja uma auto
contribuição a dar. As iniciativas ainda são valorização da Geografia para que a mesma
incipientes e geralmente estão no âmbito de seja também valorizada pelas outras ciências e
dissertações e teses. Os desastres precisam ser seja vista como peça fundamental nas ações de
abordados dentro dos currículos de graduação redução de desastre. Um recente exemplo da
de forma mais enfática para que o profissional importância do geógrafo pode ser observado
ou pesquisador formado possa integrar no concurso realizado no Brasil pelo Centro
equipes multidisciplinares de gerenciamento Nacional de Monitoramento e Alerta de
de risco, participar da elaboração de planos de Desastres Naturais – CEMADEN, cujo
prevenção, mapeamentos de risco e sistemas edital abriu diversas vagas para geógrafos. Isto
de alerta bem como repassar informações demonstra que de certa maneira a sociedade
corretas em sala de aula. Assim, diversas reconhece a importância da Geografia na
são as atividades onde a Geografia pode temática dos desastres, necessitando ela dar
contribuir no gerenciamento dos desastres a si mesmo o devido valor.
Apostila Pag.85
Por fim, em abril de 2012 foi aprovada a Embora de maneira geral a sociedade prefira
Lei 12.608/12 que instituiu a Política Nacional as medidas estruturais, a não estruturais tem
de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC, dispõe ganhado popularidade principalmente pela sua
sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa relação custo-benefício.
Civil - SINPDEC e o Conselho Nacional de Ao longo de sua história, a Geografia
Proteção e Defesa Civil – CONPDEC, além desenvolveu tradições e métodos que se
de autorizar a criação de sistema de informa- traduzem em mapeamento, trabalho de
ções e monitoramento de desastres. Esta Lei campo, armazenamento e análise de dados,
indica entre diversas diretrizes: a) priorizar as registros históricos e análises holísticas.
ações preventivas relacionadas à minimização Estes métodos e tradições podem também
de desastres; b) incorporar a redução do risco ser aplicados no mapeamento de áreas de
nos elementos da gestão territorial e do plane- risco, no estudo de processos físicos que
jamento das políticas setoriais; c) identificar e se tornarão perigos naturais bem como na
avaliar o perigo, a vulnerabilidade e o risco; d) análise de dados socioeconômicos pelos quais
monitorar os eventos meteorológicos, hidroló- a vulnerabilidade poderá ser estimada. Assim,
gicos, geológicos e demais eventos causadores a Geografia possui todas as ferramentas para
dos desastres; e) estimular o ordenamento da atuar na temática dos desastres. Além disso,
ocupação do solo urbano e rural; f ) orientar o licenciado em Geografia possuiu papel
as comunidades a adotar comportamentos essencial na disseminação do conhecimento
adequados de prevenção; g) identificar as ba- sobre eventos extremos, ações de prevenção
cias hidrográficas susceptíveis à ocorrência de bem como na formação de cidadãos críticos
desastres; e h) identificar e mapear as áreas de que saibam cobrar dos órgãos responsáveis
risco. Observa-se que as principais diretrizes medidas que contribuam com a redução dos
propostas por esta Lei podem ser diretamente desastres e agir durante a ocorrência dos
executadas pelos geógrafos. Dessa maneira, fica mesmos, a exemplo de Tilly Smith.
evidenciada a demanda por este profissional, O fortalecimento dos currículos e
cabendo ao geógrafo atendê-la de maneira valorização da classe geográfica pode ser um
satisfatória e competente. primeiro passo para que o geógrafo venha
a desempenhar um papel fundamental na
Considerações Finais redução dos desastres naturais.
Apostila Pag.86
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Apostila Pag.93
Relação entre desastres naturais e floresta
Masato Kobiyama
Dep. de Engenharia Sanitária e Ambiental, UFSC - Bolsista CNPq
kobiyama@ens.ufsc.br
RESUMO
Os desastres naturais são sérios distúrbios desencadeados por perigos naturais
que causam perdas socioambientais e podem ser classificados em diversos
grupos (geofísico, hidrológicos, meteorológicos, etc.) e tipos (terremoto, tsunami,
escorregamento, inundação, incêndio, etc.). Os registros destes desastres
demonstram que os hidrológicos ocorrem com maior frequência no mundo. Os
desastres podem ocorrer em qualquer lugar do planeta, ou seja, não apenas em
ambientes urbanizados, mas também em ecossistemas florestais. Os principais
componentes deste ecossistema são árvores (copa + tronco + raiz), arbustos,
faunas, solos florestais, entre outros. Dependendo dos componentes de uma
floresta e também das condições destes componentes, a mesma pode exercer
efeitos positivos e/ou negativos para cada tipo de desastre. Para inserir a floresta
como um elemento primordial no gerenciamento de desastres naturais, é
necessário compreender melhor as suas funções. Uma das ações relevantes e
urgentes para atender esta necessidade deve ser a implementação de rede de
bacias-escola, pois, por meio dela, a comunidade aumentará o conhecimento
sobre hidrologia florestal que por sua vez procura entender quais as relações
entre a floresta e a água que contribuem para desencadear os desastres
hidrológicos.
ABSTRACT
Natural disasters are serious disturbances triggered by natural hazards that cause
social and environmental losses. They are classified into several groups
(geophysical, hydrological, meteorological, etc.) and types (earthquake, tsunami,
landslide, flood, fire, etc.) The statistical data demonstrate that the hydrological
Apostila Pag.94
Relação entre desastres naturais e floresta
disasters occur more frequently in the world. In places where these disasters
occur, there are forests that consist in trees (canopy + trunk + root), shrubs, fauna,
forest soils, etc. Depending upon the components of the forest and also upon the
condition of these components, the forest exerts positive and/or negative effects
for each type of disaster. To take advantage of the forest in the natural disasters
management, it is necessary to better understand the forest functions. One of the
important and urgent actions to meet this need can be the implementation of
school catchment network for each region, with which the local community will
increase the knowledge of forest hydrology that researches the relationship
between forest and water which triggers the hydrological disasters.
INTRODUÇÃO
600 0
50
500 Número de Desastres Registrados
Prejuízos Economicos
Prejuízos Economicos ( US$ Bilhões)
100
Ocorrencia de Desastres
400
150
300 200
250
200
300
100
350
0 400
1900
1903
1906
1909
1912
1915
1918
1921
1924
1927
1930
1933
1936
1939
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
Figura 1 – Número de desastres naturais e seus prejuízos registrados entre 1900 e 2011.
Apostila Pag.95
Relação entre desastres naturais e floresta
1. CONCEITOS BÁSICOS
1.1. Desastres naturais
Apostila Pag.96
Relação entre desastres naturais e floresta
Apostila Pag.97
Relação entre desastres naturais e floresta
ocorrem tais fenômenos; e (III) combinação dos casos I e II. Aqui, como exemplo,
cita-se a dinâmica das inundações. Para diminuir ocorrência das inundações a
sociedade pode construir uma barragem (caso I), um dique (caso II), reduzindo
assim à frequência de eventos de pequena e média magnitude ou permitindo a
ocupação de áreas propensas à inundação, respectivamente. Aparentemente, por
meio de obras hidráulicas, a sociedade está conseguindo realizar o caso III da
figura 2. Este método é denominado de medidas estruturais, as quais a
engenharia prefere exercer.
Figura 2 – Relação entre os fenômenos naturais (FN), os desastres naturais (DN) e a sociedade
(S).
Apostila Pag.98
Relação entre desastres naturais e floresta
1.2. Florestas
Apostila Pag.99
Relação entre desastres naturais e floresta
Apostila Pag.100
Relação entre desastres naturais e floresta
da floresta. Pode-se dizer que a floresta é composta por árvores (copa (folha +
galho), tronco, e raiz), arbustos, matos, solos florestais, fauna (macro, meso, e
micro) e rochas. Neste aspecto, a floresta é também chamada de ecossistema
florestal. Aqui, deve-se enfatizar que a floresta não é somente um conjunto de
árvores. Cada componente de tal ecossistema exerce a sua função com maior ou
menor magnitude.
Considerando essas diferentes funções em diferentes componentes do
ecossistema florestal, Kobiyama (2000) resumidamente apresentou que as
funções das florestas são: (1) mitigação do clima (temperatura e umidade), (2)
mitigação do hidrograma (redução da enchente e recarga ao rio), (3) controle de
erosão, (4) melhoramento da qualidade da água no solo e no rio, (5) redução da
poluição atmosférica, (6) fornecimento de oxigênio (O2) e fixação do gás carbono
(CO2), (7) prevenção do vento e barulho, (8) amenidade, recreação e educação,
(9) produção de biomassa, remédios, alimentos, etc. (10) fornecimento de
energia, (11) indicação (testemunha) da história, entre outras. A principal
característica da floresta pode resultar da ocorrência simultânea de todas as suas
funções, mesmo que em maior ou menor grau. Por exemplo, uma barragem pode
funcionar para a mitigação do hidrograma muito melhor do que a floresta.
Entretanto, a barragem não fixa gás carbono nem produz remédios. Já a floresta
pode exercer ambas as funções. Além disso, como medidas estruturais, a floresta
pode apresentar longevidade maior do que aquelas construídas pela sociedade,
pois há espécies de árvores que vivem mais de 1000 anos. Assim, este tipo de
árvore com vida longa faz também parte da historia mundial.
Como as florestas possuem diversas funções ambientais, o governo
taiwanês, por exemplo, classifica oficialmente as florestas de proteção em:
conservação de mananciais, controle de erosão, estabilidade de areias,
estética/paisagem, quebra vento, proteção contra maré, outros (CHENG et al.,
2002). Outro exemplo ocorre no Japão, onde o governo protege por meios legais
17 diferentes tipos de florestas de proteção (Tabela 3) (TADAKI, 1992).
Apostila Pag.101
Relação entre desastres naturais e floresta
Apostila Pag.102
Relação entre desastres naturais e floresta
(debris flow) que faz parte dos desastres hidrológicos. Enquanto a floresta possui
árvores grandes em pé, cada árvore funciona mecanicamente para reduzir a
velocidade e energia cinética do fluxo. Entretanto, quando o fluxo de escombros
vencer a resistência mecânica das árvores, derrubando-as e levando-as junto
com seus próprios escombros, a presença de árvores como escombros (woody
debris) aumenta o poder destrutivo do próprio fluxo e conseqüentemente aumenta
o dano associado. Assim, a floresta pode exercer efeitos positivos e negativos
para um mesmo fenômeno natural.
A floresta normalmente auxilia a mitigar o microclima, tendo efeito positivo
contra a temperatura extrema (desastres climatológicos). Para melhorar seu
desempenho, esperam-se árvores com maiores alturas e maiores áreas de copa,
construindo o elevado Índice e Área Foliar (IAF). A floresta pode reduzir a
velocidade do vento e aumentar a temperatura da massa fria e úmida, reduzindo
a possibilidade de formação de neblinas.
Normalmente, é dito que a árvore é frágil contra o fogo. Entretanto, a árvore
que possui muita umidade no seu corpo apresenta alta resistência contra o fogo.
Em vários países, por exemplo, Japão, bosques vêm sendo utilizados contra
incêndios (desastres climatológicos). Assim, dependendo do tipo e manejo
florestal, a floresta possui o efeito positivo contra o incêndio.
Embora não conste na Tabela 4 o efeito da floresta em relação aos
desastres biológicos, o presente trabalho sugere uma hipótese. Quando ocorrem
desastres biológicos (epidemia, infestação de insetos, e estouro de manada), às
vezes é constatado que a redução de área florestal causou a imigração de
insetos, pragas, etc., aos locais onde se encontram muitas atividades humanas.
Então, neste sentido, pode-se dizer que a floresta possui efeito muito positivo
para reduzir os desastres biológicos, ou um efeito positivo em potencial. Dessa
maneira, os efeitos positivos e/ou negativos da floresta variam de acordo com o
tipo de floresta bem como o tipo de fenômeno/desastre.
Apostila Pag.103
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Apostila Pag.104
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3. MITOS E FATOS
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Neste exemplo fica claro que a floresta não consegue evitar o movimento de
massa. O que ocorre é a diminuição de um processo hidrológico (escoamento
superficial) em detrimento da intensificação de outro processo (escoamento
subterrâneo), modificando assim um processo geomorfológico (erosão superficial)
de menor magnitude e maior frequência para outro processo (escorregamento) de
maior magnitude e menor frequência (Figura 6).
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a) b)
Figura 7 – Relação M-F com escorregamentos e erosão: (a) erosão e
escorregamento são semelhantes; (b) erosão e escorregamento são diferentes.
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Fs
Cr Cs s g Z h cos2 s w gh cos2 W cos tan
Z s g cos W sin (2)
onde Cr e Cs são as coesões de raízes e de solo, respectivamente; ρs e ρw são as
densidades de solo úmido e de água, respectivamente; g é a aceleração
gravitacional; Z é a profundidade vertical do solo; h é a altura vertical do lençol
freático na camada do solo; θ é o ângulo da encosta; W é a sobrecarga exercida
pelo peso das árvores; e é o ângulo de atrito interno do solo.
Assim, o SHALSTAB modificado foi aplicado para a bacia hidrográfica do Rio
Cunha (16,2 km2) no município de Rio dos Cedros – SC. Considerando que Cs =
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A floresta é uma das maiores, mais belas e mais importantes obras que a
natureza produz. Então, ela é um dos bens mais preciosos da humanidade e
herança que deve ser repassada para gerações futuras.
Os recursos florestais devem ser utilizados na civilização ou
desenvolvimento social. Entretanto, tais recursos devem ser também mantidos ou
conservados. Então, o desafio do setor florestal é minimizar o conflito entre
desenvolvimento econômico (uso dos recursos materiais) e a preservação
ambiental, procurando uma maneira adequada dos usos destes recursos através
do manejo florestal sustentável.
O aproveitamento dos recursos ambientais da floresta, que ocorre entre 10
e 100 anos, e o aproveitamento dos recursos materiais da floresta, que ocorre de
alguns anos até algumas décadas, devem ser executados de maneira harmônica.
Se essa execução harmônica for planejada em termos de dimensão espaço-
temporal, a convivência de ambos recursos é exeqüível. Através do manejo da
floresta precisa-se conservar a água e o solo. Caso contrário, a existência da
humanidade estará ameaçada. “Se não gerenciar a água, não conseguirá
governar o país” é um dos antigos provérbios da China. Este provérbio vem se
tornando cada vez mais verdadeiro no Brasil.
Para a floresta exercer suas funções com a maior eficiência, independente
de como ela esteja tratada, é necessário uma boa compreensão dos mecanismos
de suas funções. As ciências florestais e/ou geociências precisam avançar ainda
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Relação entre desastres naturais e floresta
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
Resumo
As soluções para mitigação dos efeitos apontados pelas mudanças climáticas devem ser
pactuadas a nível global, mas cada país deve atuar em suas próprias políticas no sentido de
diminuírem suas vulnerabilidades. Partiu-se do princípio de que o Brasil possui políticas que agem
na redução dos efeitos dos desastres, mas estas atuam de forma desarticulada. O objetivo do
presente trabalho foi a busca de interfaces entre a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH)
e a Política Nacional de Defesa Civil (PNDC), com relação aos desastres hidrológicos, no Brasil.
Em um primeiro momento, a Lei das águas foi dividida em cinco níveis: fundamentos, diretrizes,
objetivos, instrumentos e sistemas de gestão. Em um segundo momento utilizou-se da estratégia
para redução de desastres da Secretaria Interinstitucional da Estratégia Internacional para a
Redução de Riscos (EIRD)/ONU, que desenvolveu essa a metodologia a partir da observação da
experiência de diferentes países. Na estratégia da EIRD/ONU, o cruzamento entre as políticas foi
feito segundo áreas temáticas envolvendo os principais aspectos como: compromisso político e
desenvolvimento institucional (governabilidade); identificação e avaliação de riscos; gestão do
conhecimento; aplicação e instrumentos na gestão de riscos. Constatou-se que para efetiva
implementação, tanto da PNRH, quanto da PNDC, necessita-se da interação com outros setores e
principalmente com a sociedade. Observou-se coerência nas etapas de Prevenção e Preparação
para Emergências, e grande potencial de aproximação entre as estruturas institucionais
descentralizadas, como COMDECs/NUDECs e Comitês de Bacias. Os Planos de Bacia, por
estarem mais próximos do âmbito local, são os que têm maior potencial de aproximação com os
instrumentos da PNDC. Ao tratar de temas como a prevenção de eventos hidrológicos críticos, os
Planos contribuem na articulação de Políticas, para que as medidas sejam interiorizadas pelos
setores.
Palavras-chave
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, uma cultura de prevenção ainda não está interiorizada pelas Políticas Públicas
e pela própria sociedade, e sim o predomínio de ações emergenciais. O atendimento aos
desastres afeta os gastos sociais do governo, pois além dos danos imediatos a serem
reparados, há deslocamento das prioridades de gasto e de intervenção pública para
demandas de curto prazo, em detrimento dos investimentos de longo prazo e da adoção
de estratégias de desenvolvimento sustentável.
O Brasil possui leis em diversas áreas que podem atuar na melhoria das condições de
vulnerabilidade, como legislação urbanística e de ordenamento do solo, da Defesa Civil,
assim como, vasta legislação ambiental e de recursos hídricos. É consenso que a ação de
proteção de uma comunidade, além da participação de múltiplos atores, deve partir dos
esforços de diversas políticas públicas e, nesse sentido, a coerência de ações entre
órgãos públicos se torna importante para a prevenção de desastres. Partiu-se do princípio
de que as políticas que agem na redução dos efeitos dos desastres atuam de forma
desarticulada, o que dispende recursos públicos em soluções paliativas.
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2. POLÍTICAS PÚBLICAS
Observação: (1) Neto (2000), (2) Política Nacional de Defesa Civil, (3) Doutrina Brasileira de Defesa Civil, (4) Castro
(1999), (5) Kobiyama et al.(2006)
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(medidas estruturais e não estruturais), nem os manuais escritos, mas sim a cultura da
população.
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
A Lei Federal n° 9.984 de 17 de julho de 2000 dispõe sobre a criação da ANA, entidade
de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos. Algumas de suas
atribuições são: planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar os efeitos
de secas e inundações, no âmbito do SINGREH, em articulação com o órgão central do
SINDEC, em apoio a Estados e Municípios, além de organizar, implantar e gerir o Sistema
Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos. A ANA é vinculada ao Ministério do
Meio Ambiente (MMA), que por meio da SRH estabelece as políticas de recursos hídricos
e ações como o Plano Nacional de Recursos Hídricos.
Figura 3 - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH). Fonte: Modificado de Barth (2002).
A Lei também definiu uma série de instrumentos envolvidos na gestão das águas com o
propósito de obter melhoria dos resultados no planejamento, implantação e
operacionalização dos empreendimentos que utilizam os recursos hídricos. Os Planos de
Recursos Hídricos devem buscar uma visão de longo prazo, compatibilizando aspectos
quantitativos e qualitativos da água. O enquadramento trata de definição da
compatibilidade da qualidade da água e os usos da mesma, buscando a minimização dos
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
Figura 4 - Relação de suporte entre os instrumentos de gestão da Lei n° 9.433/97. Fonte: Modificado de Christofidis
(2001).
Para Silva (2005) identificar a estrutura da lei significa ver a sua organização, e esta nos
fornece os sentidos e a finalidade da lei. A relação epistêmica que existe entre estrutura e
organização está no fato que toda organização possui uma finalidade, um fim a realizar,
uma meta a cumprir, um resultado a apresentar. Para o autor, a estrutura de uma
organização pode mudar quantas vezes for necessária e mesmo evoluir, mas sempre
para adequar a organização no cumprimento de suas finalidades, de seus fundamentos.
Se uma mudança na estrutura vai contra estes fundamentos, a organização mudará,
passará a ser outra coisa, com outra natureza, com outras finalidades. Para identificação
dos níveis hierárquicos de relações, o autor apresenta cinco níveis estruturais da lei:
fundamentos, objetivos, diretrizes, instrumentos e sistemas de gestão.
Fundamentos
Para a busca de uma estrutura que expresse o espírito das águas, um dos
questionamentos colocados por Silva (2005), é a de quais os fundamentos, conceitos,
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
princípios e valores encontrados na lei. Nesse aspecto, ambas as leis tem como princípios
a impossibilidade de dissociação entre bem estar social (econômica e social) e proteção
ambiental, além da ênfase nas etapas de planejamento.
Objetivos
Diretrizes
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
Os instrumentos de uma lei são os recursos que a própria lei dispõe para sua
materialização (Silva, 2005). Dessa forma, os instrumentos são os meios, jamais os fins
de uma lei ou política, e possuem uma importância crucial no momento de suas
operacionalizações, podendo decidir o sucesso ou fracasso de uma política.
Na interface entre os instrumentos das PNRH e PNDC há maior sintonia nas etapas de
Prevenção de Desastres e Preparação para Emergências. Devido a sua ampla
abrangência de temas, os Planos de Recursos Hídricos são os que apresentam maior
sintonia com a Defesa Civil. De acordo com a Lei 9.433/1997, os Planos visam
fundamentar e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento dos recursos
hídricos. Na prática, tem grande influência sobre os outros instrumentos, pois estabelece
prioridades para a outorga, diretrizes e critérios para a cobrança, além de ser
constantemente retroalimentado pelos Sistemas de Informações.
Os Planos de Bacia, por estarem mais próximos do âmbito local, são os que têm maior
potencial de aproximação com os instrumentos da PNDC. Na etapa de Prevenção isto
estaria relacionado aos estudos de riscos, que é importante, pois dá base às alternativas
de proposição de medidas estruturais e não estruturais de redução das vulnerabilidades
no contexto da bacia.
Sistemas de gestão
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
Também há interface técnica entre ANA e SEDEC, instituída na Lei 9.984, e que dá a
Agência, a competência de planejar e promover ações destinadas a prevenir ou minimizar
os efeitos das secas e inundações, no âmbito do SINGREH, em articulação com o órgão
central do SINDEC.
Tabela 2 - Sistematização das interfaces entre a Política Nacional de Recursos Hídricos e a Política Nacional de Defesa
Civil, com base nos Sistemas de Gestão
NUDEC
CEDEC
SEDEC
Política Nacional de
Órgãos de gestão a
Recursos Hídricos
RH
SINGREH
ANA
Gestão
CNRH
CERHs
Comitês
Agências de Água
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
3.2. Interfaces entre a PNRH e a PNDC, com base na estratégia desenvolvida pela
EIRD/ONU para redução de desastres
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
O autor também comenta que há vários problemas que podem dificultar a implementação
de uma política, e um deles é a disponibilidade de recursos financeiros. Além dos
recursos da União, também há a cobrança pelo uso da água que é um mecanismo que
prevê o retorno dos recursos prioritariamente para a própria bacia hidrográfica sendo,
portanto, um mecanismo para a implementação das decisões acordadas pelos próprios
comitês por meio dos Planos de Bacia.
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
com outras políticas, inclusive com a Defesa Civil, mas por outro lado, há dificuldade de
aproximação devido às diferenças das unidades territoriais de gestão (municípios e bacias
hidrográficas).
A análise das ameaças na PNRH tem interface com a Defesa Civil por meio dos
Sistemas de Informações. Atualmente os dados monitorados não são utilizados em
conjunto com modelos hidrológicos, mas há previsão de ações para que isto ocorra como
a “Sala de Situação” da ANA, que poderá ser o elo dos Sistemas de Informações de
Recursos Hídricos com o CENAD da Defesa Civil. O CENAD é um Centro Nacional, em
operação 24 horas, para coordenar as informações de risco de desastre e monitorar os
parâmetros dos eventos adversos, em articulação com o centro de previsão que permite a
difusão de alerta e alarme, além da mobilização de recursos para a pronta resposta ao
atendimento de desastres. A idéia da Sala de Situação vai ao encontro do que propõe
Tucci (2005) em seu Programa de Alerta de Inundações e Defesa Civil, que envolve as
seguintes etapas: monitoramento em tempo real dos rios e das bacias brasileiras
(precipitação e vazão ao longo do tempo); sistema operacional de recebimento de dados
e previsão com modelos matemáticos hidrológicos (associado a banco de dados) e
transferência das previsões à Secretaria de Defesa Civil para alerta e redução dos
impactos devido às inundações e às secas.
A análise de vulnerabilidade de um local pode ser feita por meio dos Planos de Recursos
Hídricos. O Plano Nacional e Estadual, tem caráter mais estratégico, enquanto que os
Planos de Bacia são predominantemente operacionais. O Plano de Bacia é um elemento
que pode conectar o ambiente externo e interno às cidades, pois tem condições de
estabelecer medidas que norteiam os Planos municipais de drenagem urbana, resíduos
sólidos e esgotamento sanitário, de forma que o problema de uma cidade não seja
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
No caso do Sistema de Alerta, que é um meio de informar sobre os riscos iminentes para
que os impactos sejam reduzidos, como ações concretas e que tem relação com a Defesa
Civil tem-se: a Sala de Situação da ANA (em fase de implementação) e o Sistema de
alerta precoce do PAN (em fase de elaboração da estratégia de implementação).
Apesar de não estar no âmbito da PNRH, não se pode deixar de mencionar o CTHidro,
criado pela Lei 9.938/2000 e regulamentada pelo Decreto n° 3.874/2001, cujos objetivos
são: “financiamento de projetos científicos e de desenvolvimento tecnológico destinados a
aperfeiçoar os diversos usos da água, de modo a garantir à atual e às futuras gerações
alto padrão de qualidade, utilização racional e integrada com vistas ao desenvolvimento
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
A outorga é necessária para “usos e/ou interferências, que alterem o regime, a quantidade
ou a qualidade de água existente em um corpo d’água”. A proposta de outorga para as
cidades, feita por Tucci (2005), é de que haja exigência de parâmetros básicos
necessários a outorga de efluentes como um todo e não somente da drenagem urbana, já
que os impactos devido ao esgotamento sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos
não são separáveis. Determinam-se prazos e metas, condicionadas à sua renovação,
para que os municípios atuem ativamente na resolução de seus problemas relacionados
ao saneamento ambiental (abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem
urbana e resíduos sólidos). Se for regulamentada pelo CNRH, a outorga para as cidades
pode ser um instrumento de interface entre a PNRH e a PNDC, pois ao atuar na
drenagem urbana, diminuiria a vulnerabilidade da cidade frente às inundações.
A cobrança pelo uso da água em uma bacia hidrográfica pode viabilizar o custeio de
intervenções identificadas pelo processo de planejamento. Neste sentido, a cobrança do
uso da água também contribuiria na implementação da Política de Defesa Civil, ao atuar
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
A visão que se tem da Defesa Civil é a de que suas ações sempre foram ligadas às
questões emergenciais, de socorro, de assistência às vitimas e de recuperação dos
danos. Mas segundo a visão moderna, acentuada pela Década da Redução de
Desastres, sua atuação é mais ampla e deve privilegiar principalmente as etapas de
Prevenção e Preparação, e é onde se identificou que há maior interface com a gestão de
Recursos Hídricos.
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
Torna-se difícil que as ações da Defesa Civil sejam realmente efetivas em termos de
prevenção se não houver o apoio de outros setores. Isso demandaria uma mudança de
cultura que atualmente surge após a ocorrência de determinado desastre, mas que é
esquecida, tanto pelas autoridades públicas quanto pela população, logo que se retorna a
situação de normalidade. O agir na emergência também pode estar acentuado devido a
uma série de facilidades para os casos de decretação de Emergência e Situação de
Calamidade Pública, que são importantes concessões, mas muitas vezes usadas
indevidamente pelos municípios. A estrutura institucional da Defesa Civil atende às
recomendações da ONU, mas se esta atua isoladamente, sempre estará ligada a
medidas emergenciais, o que pode prejudicar sua interação com a gestão de recursos
hídricos, já que a coerência entre ambas as Políticas esta nas etapas de Prevenção e
Preparação.
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
também deve haver uma maior conscientização. A falta de conhecimento pode afastar a
população dos mecanismos que a ajudem solucionar os problemas de sua comunidade.
Quanto aos Sistemas de Informações, tanto da Defesa Civil quanto da área de recursos
hídricos, são fundamentais para o planejamento, monitoramento das ações e gestão do
conhecimento sobre os riscos de desastres e sua redução. Uma das linhas da EIRD/ONU
(2004) é “aprender sobre os desastres de hoje para fazer frente aos perigos de amanhã”,
que reflete a necessidade de conscientizar a população sobre as opções existentes para
a redução dos riscos. Considera-se que os sistemas de alerta como um meio de informar
as autoridades e o público sobre os riscos iminentes para que seus impactos sejam
reduzidos, e nesse aspecto, a ANA, como a SRH tem buscado sintonia com a Defesa
Civil.
Na proposta de análise da política sugerida por Le Preste (2000) mencionou-se que uma
das etapas importantes é a dos impactos e a avaliação. Com 10 anos de existência,
talvez seja o momento do Governo e a sociedade fazerem uma profunda avaliação da Lei
9.433/1997. É certo que há uma série de desafios identificados na implementação da
PNRH, mas há objetivos que são emergenciais, como a redução dos efeitos dos eventos
críticos, pois coloca em risco a vida humana e traz uma série de prejuízos ao país. Há
necessidade de se priorizar ações, pois seguindo a lógica de análise de Le Preste (2000),
a Lei 9.433/1997 atende a uma demanda internacional clara de gestão integrada de
recursos hídricos, é reconhecida no texto constitucional, e esta formulada por meio de Lei
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Jornadas Internacionales sobre Gestión del Riesgo de Inundaciones y Deslizamientos de Laderas. Brasil. Mayo 2007
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Apostila Pag.147 22
4 SOLOS (PROPRIEDADES HIDRÁULICAS E
PROFUNDIDADE) E BACIAS HIDROGRÁFICAS
Apostila Pag.148
AVALIAÇÃO DA DI
ÂMICA DA ÁGUA
A ZO
A VADOSA EM SOLOS
DE DIFERE
TES USOS COM O MODELO HYDRUS-1D
RESUMO --- O uso do solo é um fator importante no planejamento territorial, pois influencia
diretamente no movimento da água no solo. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo
avaliar a influência do uso do solo na dinâmica da água na zona vadosa com a aplicação do modelo
HYDRUS-1D, na região de Rio Negrinho/SC. Foram considerados quatro tipos de uso do solo para
comparação: pastagem, reflorestamento, floresta nativa e agricultura (solo nu). Foram determinadas
textura, condutividade hidráulica saturada e porosidade total em laboratório de cada tipo de solo.
Com a aplicação do Rosetta Lite Version 1.1, que implementa funções de pedotransferência,
estimou-se os parâmetros das equações de van Genuchten. Os perfis de potencial matricial e
umidade volumétrica ilustram a variabilidade da dinâmica da água no solo. Entre os tipos de solo a
variabilidade é evidente, sendo que entre eles o perfil de Pinus é o único que se satura, e mata nativa
é o que apresenta a frente de molhamento mais lenta.
ABSTRACT --- Land use is an important issue in the land planning, because it influences directly
on hydrological processes. Thus, the present study aimed to evaluate the water dynamics in the
vadose zone in different land uses by applying the HYDRUS-1D model in the region of Rio
Negrinho/SC. For a comparative study, four types of land use were considered: pasture,
reforestation, native forest and agriculture (bare soil). In laboratory, texture, saturated hydraulic
conductivity, and saturated water content (total porosity) of soils at two different depths for each
land use were determined. The parameters of van Genuchten equations were estimated by using
Rosetta Lite Version 1.1 that implements pedotransfer functions. The time-variation profiles of
pressure head and soil-water content illustrate the variability of soil water dynamics. Among the
land uses, the reforestation was the only profile that was saturated, and the native forest presented
the slower wetting front movement.
1
Bolsista do CNPq, Mestranda no Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da UFSC, CTC/ENS/LabHidro, Caixa Postal 476,
Florianópolis/SC, 88040-900, Brasil. E-mail: alinemota10@gmail.com
2
Bolsista do CNPq, Professor associado III, UFSC, CTC/ENS/LabHidro, Caixa Postal 476, Florianópolis/SC, 88040-900, Brasil. E-mail:
kobiyama@ens.ufsc.br
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1
Apostila Pag.149
1 I
TRODUÇÃO
As propriedades hidráulicas do solo são alteradas de acordo com seu uso e cobertura.
Diversos estudos comprovaram essa variação das propriedades do solo. Por exemplo, Abreu et al.
(2003) verificaram que a variabilidade espacial de propriedades físico-hídricas do solo apresenta
relação direta com fatores de formação e manejo do solo e afeta a produção de culturas. Souza e
Alves (2003) concluíram que as diferentes formas de uso e manejo do solo promovem alterações no
movimento da água no solo. É notável que a maioria dos estudos tenta auxiliar na escolha do
manejo mais adequado para as culturas agrícolas, e poucos tratam da influência dos diferentes usos
do solo (pastagem, reflorestamento, entre outros) na variação das propriedades hidráulicas do
mesmo.
O uso e manejo do solo influenciam no que diz respeito à qualidade e quantidade dos recursos
hídricos (Tucci e Clarke, 1997; Merten e Minella, 2002). Atualmente, a questão da escolha do uso
de solo mais adequado é uma das temáticas mais discutidas. Essa também é a situação atual na
região do município de Rio Negrinho/SC, onde a cobertura vegetal original, caracterizada
predominantemente pela floresta de araucária (Floresta Ombrófila Mista), foi degradada pela
exploração de seus espécimes e pela substituição para reflorestamento e agricultura. Com isso,
ambientalistas e comunidades começaram a questionar sobre o uso de solo mais adequado para a
preservação dos recursos hídricos. Neste caso, uma base para a tomada de decisões pode ser o
estudo da influência do uso do solo nos processos hidrológicos (Nosetto et al., 2011).
Assim, deve haver um planejamento para que sejam dados o uso e manejo mais adequados
para determinada área. Para isso, deve-se conhecer a influência dos diversos usos/manejos do solo
no movimento da água nesse meio, com base em estudos científicos. Um de tais estudos pode ser
feito através da modelagem que é uma importante ferramenta de estimativa e previsão dos
processos hidrológicos. Especialmente quando se trata de um processo que apresenta uma
variabilidade temporal e espacial como o movimento da água no solo.
Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a dinâmica da água na zona vadosa
em diferentes manejos do solo utilizando o modelo HYDRUS-1D proposto por Šimůnek et al.
(2008), na região de Rio Negrinho/SC.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Apostila Pag.150
aproximadamente entre os paralelos 25º55’00’’ e 26º42’00’’ de latitude sul e meridianos 48º57’00’’
e 49º55’30’’ de longitude oeste (Figura 1).
A região se caracteriza por rochas sedimentares pertencentes aos Grupos Itararé, do Super-
Grupo Tubarão. As formações pertencentes a este grupo são: Formação Campo do Tenente, Mafra e
Rio do Sul. A principal unidade geomorfológica encontrada na região é Patamar de Mafra, cujas
características são: relevo com superfície regular, quase plana, de baixa energia de relevo (SANTA
CATARINA, 1986).
Segundo EMBRAPA (2004) e Santa Catarina (1986), os solos da região se classificam
predominantemente por Cambissolos, sendo que uma pequena porção é Gleissolos. Os Cambissolos
compreendem os solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B incipiente bastante
heterogêneo, em relação à cor, espessura e textura, e em respeito à atividade química da fração
argila e saturação por bases.
Figura 1 – Localização de coleta (AG: agricultura, PT: pastagem, PN: pinus, e N: mata nativa)
Apostila Pag.151
O modelo econômico do município de Rio Negrinho contribuiu para a alteração da paisagem
natural. Atualmente restam apenas poucas áreas de mata nativa (Floresta Ombrófila Mista), e
muitas áreas são utilizadas pelo reflorestamento de pinus. As atividades agropecuárias também são
praticadas na região. As principais culturas agrícolas encontradas são: milho, soja, feijão e fumo. As
áreas de pastagem são para criação de bonivos, suínos, caprinos. Além disso, são criadas aves na
região (PREFEITURA DE RIO NEGRINHO, 2009). Assim, os usos e cobertura do solo
predominantes na região são Floresta Ombrófila Mista, reflorestamento de pinus e agricultura,
sendo encontradas também áreas de pastagem.
Apostila Pag.152
onde θ é a umidade volumétrica do solo (cm3/cm3); θr é a umidade residual (cm3/cm3); θs é a
umidade saturada (cm3/cm3) que é igual á porosidade total; Ψ é o potencial matricial (cm); α, m e n
são os parâmetros de ajuste sendo que m=1-(1/n).
E para permeabilidade:
[ )]
2
1 − (α Ψ )n −1 1 + (α Ψ n −m
K (Ψ ) = K s (2)
[ ]
m
1 + (α Ψ )
n 2
− m ⋅ n ⋅ α n ⋅ (θ s − θ r ) ⋅ Ψ
n −1
C (Ψ ) =
[1 + (α Ψ ) ]
(3)
n m +1
O modelo Rosetta Lite Version 1.1 está inserido no modelo HYDRUS-1D e implementa
funções de pedotranferência hierárquicas cujos dados de entrada podem ser classe textural,
distribuição de textura, densidade do solo e um ou dois pontos de retenção de água (Schaap et al.,
2001).
Esse modelo não permite estimar os parâmetros das equações de retenção e de KS aplicando θS
e KS como dados entrada. Então, por tentativa, foram utilizados valores de textura que
correspondessem a uma aproximação dos valores de θS e KS medidos em laboratório.
Portanto, foram considerados dois casos para estimativa das equações de van Genuchten. O
primeiro corresponde àquelas estimadas a partir dos dados de textura obtidos em laboratório; e no
segundo caso, a partir de tentativas de textura, foram obtidas as curvas de retenção e permeabilidade
cujos parâmetros θS e KS são muito próximos àqueles dos ensaios de laboratório.
Apostila Pag.153
onde z é a profundidade da camada orientada positivamente para baixo; t é o tempo; e C(Ψ) é a
capacidade específica, representada pela derivada da umidade em função da tensão (∂θ/∂Ψ),
(Equação 3). A Equação 4 considera apenas fluxo de água na fase líquida e desconsidera os efeitos
do vapor no balaço geral de massa. A Figura 2 apresenta o fluxograma da simulação com
HYDRUS-1D.
Funções de
pedotransferência
Equação de Richards
Informações de saída:
Sendo: • Tensão matricial;
ρss: densidade do solo; • Umidade;
θ33KPa: umidade volumétrica na tensão de 33 KPa; • Condutividade hidráulica;
θ1500KPa: umidade volumétrica na tensão de 1500 KPa. • Capacidade hidráulica.
Figura 2 – Fluxograma da aplicação do modelo HYDRUS-1D
Apostila Pag.154
Tabela 1 – Discretização no espaço utilizada nas simulações e a profundidade dos perfis
dz Profundidade do perfil
Uso do solo
(cm) (cm)
Mata nativa 0,90 90
Agricultura 0,92 92
Pastagem 1,10 110
Pinus 0,65 65
A respeito das condições de contorno, foi simulada uma precipitação de 50 mm/dia constante
durante toda a simulação com duração de 1,5 dias. Na parte inferior do perfil foi considerada a
condição de contorno de drenagem livre. Além disso, como condição inicial se considerou uma
carga de pressão = – 100 cm.
Como para cada uso do solo a interceptação varia, os dados de precipitação na simulação da
dinâmica da água na zona vadosa devem ser diferenciados. Chaffe (2009) investigou a interceptação
de pinus através de monitoramento, mostrando que houve uma média da perda de 21,4% por
interceptação. Então, o presente estudo aplicou uma chuva com 21,4% de redução no caso do solo
com pinus.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apostila Pag.155
Os parâmetros hidráulicos θS e KS obtidos em laboratório são apresentados na Tabela 3. Na
profundidade de 15 cm, o solo na mata nativa resultou no mais poroso, e com a menor KS. Essas
características indicam que esse solo deve apresentar alta capacidade de retenção alta. Por outro
lado, o solo do reflorestamento de pinus possivelmente possui baixa capacidade de retenção,
apresentando os maiores valores para os dois parâmetros.
Tabela 4 – Parâmetros da equação de van Genuchten: (a) estimados pela textura aplicando Rosetta Lite Version 1.1; e
(b) aproximação dos medidos, por tentativas de textura.
(a)
Profundidade θr θs α n KS
Uso do solo
(cm) (cm3/cm3) (cm3/cm3) (cm-1) (-) (cm/s)
15 0,049 0,38 0,0304 1,3876 3,74E-04
Mata nativa
45 0,051 0,39 0,0252 1,3867 2,98E-04
15 0,076 0,41 0,0179 1,3578 7,36E-05
Agricultura
45 0,069 0,41 0,0113 1,4604 8,72E-05
15 0,057 0,39 0,0183 1,4092 1,89E-04
Pastagem
45 0,068 0,40 0,0218 1,3506 1,29E-04
15 0,089 0,46 0,0136 1,3573 1,07E-04
Pinus
45 0,085 0,43 0,0233 1,2604 8,84E-05
(b)
Profundidade θr θs α n KS
Uso do solo
(cm) (cm3/cm3) (cm3/cm3) (cm-1) (-) (cm/s)
15 0,042 0,38 0,0391 1,6974 1,13E-03
Mata nativa
45 0,045 0,38 0,0380 2,2159 2,51E-03
15 0,041 0,39 0,0413 2,4918 3,36E-03
Agricultura
45 0,047 0,38 0,0364 2,8494 5,14E-03
15 0,042 0,38 0,0399 1,8590 1,50E-03
Pastagem
45 0,040 0,40 0,0429 2,4433 3,19E-03
15 0,056 0,37 0,0301 2,8060 5,42E-03
Pinus
45 0,052 0,38 0,0327 3,0831 6,82E-03
XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8
Apostila Pag.156
O perfil de pinus apresentou alto teor de argila e silte, o que influencia nas propriedades
hidráulicas do solo. Além disso, como o solo é heterogêneo, essa amostra pode não representar
satisfatoriamente este solo.
Comparando os valores de θS estimados por funções de pedotransferência (textura como dado
de entrada), o maior erro encontrado em relação aos dados medidos em laboratório foi de 8%. Por
outro lado, os valores de KS, estimados da mesma maneira, apresentam um erro da ordem entre 10-1
e 10-2 cm/s em relação aos valores medidos (Tabela 3). Esta variação relativamente alta na
estimativa de KS também foi observada por Sonneveld et al. (2003). Uma explicação para essa
variação é que, muitas vezes, as funções de pedotransferência não conseguem considerar a
existência de fluxos preferenciais.
Nas simulações foram utilizados os parâmetros das equações de van Genuchten
correspondentes aos apresentados na Tabela 4(a) e 4(b), identificados como estimados e medidos,
respectivamente. Os valores de KS obtidos pela aproximação com tentativas de textura (Tabela 4(b))
apresentam erros menores que 1% em relação aos medidos (Tabela 3).
Foi observada uma alta correlação entre os valores de KS para as duas profundidades (Figura
3). Assim, pode-se dizer que nessa região, a variação dessa propriedade com a profundidade é
uniforme. Essa linearidade pode se dar pelo fato de os parâmetros hidráulicos do solo desta região
serem mais influenciados pela pedogênese que propriamente pelas características da rocha mãe.
8.0E-03 4.0E-04
6.0E-03 3.0E-04
KS 45 (cm/s)
KS 45 (cm/s)
0.0E+00 0.0E+00
0.0E+00 1.0E-03 2.0E-03 3.0E-03 4.0E-03 5.0E-03 6.0E-03 5.0E-05 1.5E-04 2.5E-04 3.5E-04 4.5E-04
KS 15 (cm/s) KS 15 (cm/s)
(a) (b)
Figura 3 – Correlação entre KS das camadas de 15 e 45 cm de profundidade. (a) medidos no ensaio de laboratório, e (b)
obtidos pela aplicação do Rosetta Lite Version 1.1 utilizando a textura como dado de entrada
Apostila Pag.157
3.3 Simulações com HYDRUS-1D
Nas simulações foram considerados 3 critérios de comparação:
(1) Perfis de diferentes usos de solo, porém com θS e KS obtidos da mesma forma;
(2) Perfis de mesmo uso do solo, para comparar os resultados de θS e KS obtidos de ensaio
em laboratório e aqueles obtidos pelo Rosetta Lite Version 1.1;
(3) Perfis caracterizados pelo reflorestamento de Pinus, porém considerando a
interceptação obtida por Chaffe (2009).
Com relação ao critério de comparação (1), os perfis de Ψ se apresentam bem diferentes para
cada uso do solo (Figura 4). Sendo que as maiores diferenças são encontradas no caso dos medidos.
O único perfil que se satura inteiramente para as condições dessa simulação é PN (Figura 4(e)),
sendo que no tempo de 28,8 horas já se apresentava saturado. Além disso, o perfil AG (Figura 4(a))
no tempo total de simulação se apresenta também quase saturado. Entre todos os usos analisados,
aquele caracterizado por mata nativa apresentou maiores características de retenção.
Comparando os perfis de mesmo uso de solo, e com parâmetros medido e estimado
(comparação (2)), a alteração na dinâmica da água é em termos de magnitude, porém a forma de
saturação se mantém parecida. Apenas para os perfis AG e PN, no caso das propriedades KS e θS
estimados, chega próximo da saturação. E quando são consideradas as propriedades medidas em
laboratório, a água infiltra rapidamente se afastando da condição de saturação. Nos outros perfis,
apesar de os valores serem diferentes, a tendência se mantém.
Nas Figuras 4(i) e 4(j) são apresentados os perfis de PNI, em que foi considerada
interceptação. Assim, observa-se que o perfil, no caso das propriedades estimadas, também chega à
saturação, porém 7,2 h depois.
Apostila Pag.158
Agricultura (AG)
Estimado Medido LEGENDA
0 0 Tempo (h)
0
T0
-18.4 -18.4 7,2
T1
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
14,4
T2
-36.8 -36.8 21,6
T3
T4
28,8
-55.2 -55.2 36
T5
-73.6 -73.6
-92 -92
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
h [cm]
Ψh(cm)
[cm] Ψ (cm)
(a) (b)
Pastagem (PT)
Estimado Medido
0 0
-22 -22
Profundidade (cm)
-66 -66
-88 -88
-110 -110
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
Ψh(cm)
[cm]
Ψh(cm)
[cm]
(c) (d)
Pinus (PN)
Estimado Medido
0 0
-13 -13
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
-26 -26
-39 -39
-52 -52
-65 -65
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
h [cm]
Ψh (cm)
[cm] Ψ (cm)
(e) (f)
Figura 4 – Perfis de Ψ obtidos com HYDRUS-1D, sendo (a) AG estimado; (b) AG medido; (c) PT estimado; (d) PT medido;
(e) PN estimado; (f) PN medido; (g) N estimado; (h) N medido; (i) PNI estimado; e (j) PNI medido
Apostila Pag.159
Mata Nativa (N)
Estimado Medido LEGENDA
0 0 Tempo (h)
0
T0
-18 -18 T1
7,2
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
14,4
T2
-36 -36 21,6
T3
T4
28,8
-54 -54 36
T5
-72 -72
-90 -90
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
Ψh (cm)
[cm]
Ψh (cm)
[cm]
(g) (h)
-13 -13
Profundidade (cm)
-39 -39
-52 -52
-65 -65
-100 -78 -56 -34 -12 10 -100 -78 -56 -34 -12 10
h [cm] h [cm]
Ψ (cm) Ψ (cm)
(i) (j)
Figura 4 – Continuação
Apostila Pag.160
Agricultura (AG)
Estimado Medido LEGENDA
0 0 Tempo (h)
0
T0
-18.4 -18.4
7,2
T1
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
14,4
T2
-36.8 -36.8 21,6
T3
T4
28,8
-55.2 -55.2 36
T5
-73.6 -73.6
-92 -92
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Theta [-] Theta [-]
θ (cm) θ (cm)
(a) (b)
Pastagem (PT)
Estimado Medido
0 0
-22 -22
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
-44 -44
-66 -66
-88 -88
-110 -110
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
θTheta
(cm)[-]
θTheta
(cm)[-]
(c) (d)
Pinus (PN)
Estimado Medido
0 0
-13 -13
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
-26 -26
-39 -39
-52 -52
-65 -65
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
θTheta
(cm) [-]
θTheta
(cm)[-]
(e) (f)
Figura 5 – Perfis de θ obtidos com HYDRUS-1D, sendo (a) AG estimado; (b) AG medido; (c) PT estimado; (d) PT medido;
(e) PN estimado; (f) PN medido; (g) N estimado; (h) N medido; (i) PNI estimado; e (j) PNI medido
Apostila Pag.161
Mata Nativa (N)
Estimado Medido
0 0
-18 -18
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
-36 -36
-54 -54
-72 -72
-90 -90
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
Theta [-]
θ (cm) θTheta
(cm) [-]
(g) (h)
-13 -13
Profundidade (cm)
Profundidade (cm)
-26 -26
-39 -39
-52 -52
-65 -65
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
θTheta
(cm) [-] Theta [-]
θ (cm)
(i) (j)
Figura 5 – Continuação
Apostila Pag.162
4 CO
CLUSÕES
O presente trabalho avaliou a influência do uso do solo na dinâmica da água no solo. Para
isso, mediram-se textura, condutividade hidráulica saturada (KS) e porosidade total (θs) em
laboratório. A textura do solo foi utilizada para estimar os parâmetros de van Genuchten por
funções de pedotransferência. Os valores de θS estimados por pedotranferência foram muito
próximos aos medidos por ensaio de laboratório. Porém, os valores de KS estimados se
apresentaram entre 10-1 e 10-2 cm/s menores que aqueles medidos em laboratório. Isto implica uma
fragilidade das funções de pedotransferência, ao não considerar possíveis caminhos preferenciais,
geometria e dimensão dos poros. Ou pode estar ligado a um erro embutido nos ensaios de textura.
Com a aplicação do modelo HYDRUS-1D, foi feita a simulação da dinâmica da água na zona
vadosa. O movimento da água no solo se altera de acordo com as propriedades hidráulicas do solo.
Como o uso do solo altera as propriedades hidráulicas do solo, então a dinâmica da água varia com
o uso do solo. Entre todos os usos analisados, aquele caracterizado por mata nativa apresentou
maiores características de retenção. Além disso, considerando a interceptação de 21,4% na área de
reflorestamento de Pinus, o perfil se satura mais lentamente.
Com relação à condutividade hidráulica saturada, a alta correlação entre valores de KS nas
profundidades 15 e 45 cm, indica uma variação uniforme desse parâmetro ao longo da profundidade
na região de estudo.
5 AGRADECIME
TOS
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Apostila Pag.164
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Fernando Grison
Professor Adjunto-A, Engenharia Ambiental, UFFS - Campus Chapecó
fernandogrison78@gmail.com
Masato Kobiyama
Bolsista do CNPq, Professor associado IV, IPH/UFRGS
masato.kobiyama@ufrgs.br
RESUMO
ABSTRACT
The objective of the present study was to analyze the relation of some soil properties
and topography with the sinuosity of the main river of the Bugres River Watershed
(79.5 km2), Rio Negrinho/SC, by using the Topographic Index (TI) and the Soil
Apostila Pag.165
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Topographic Index (STI). The indices were estimated by applying the ArcGis 9.3
Software, and the sinuosity was calculated by using the computational tool AutoCAD.
This watershed was divided into 20 small drainage areas in order to adequately
assess the relation between the indices and the sinuosity. Furthermore, a
topographic fluvial band near the main river was delimited. The results showed that
the variations of the indices were similar. The accumulated sinuosity presented a
better correlation with the mean accumulated TI than with the correspondent STI. It
was verified that the behavior of the sinuosity is more strongly influenced by the
topography than by the soil properties. Besides, this influence increased in the area
called Fluvial Topographic Zone which is the area near by the main river.
1. INTRODUÇÃO
Apostila Pag.166
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Apostila Pag.167
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
relativamente conservado, o rio dos Bugres pode ser considerado um sistema fluvial
natural. Logo, o presente trabalho trata de um rio natural e, portanto poderá
contribuir significativamente para a melhoria de projetos de renaturalização dos rios.
Para melhor analisar a relação dos índices TI e STI com a sinuosidade do rio
dos Bugres, o presente trabalho propõe uma zona de área ao longo do canal do rio,
denominada Zona Topográfica Fluvial (ZTF). O procedimento de traçado da ZTF é
simples, sendo necessário apenas considerar a primeira curva de nível mais próxima
do canal e delimitar a área de drenagem correspondente (Figura 1).
Apostila Pag.168
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
3. MATERIAIS E MÉTODOS
Apostila Pag.169
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Apostila Pag.170
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
3.2 Materiais
Apostila Pag.171
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Apostila Pag.172
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
D Dmín
Di Dmáx máx zi z mín (1)
z máx z mín
onde Di é a profundidade no pixel (m); Dmáx e Dmín são as profundidades de solo
máxima e mínima encontradas na bacia, respectivamente (m); zi é a elevação no
REVISTA GEONORTE, V.9, N.1, p.42-60, 2013. (ISSN – 2237-1419) 50
Apostila Pag.173
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
pixel (m); zmáx e zmín são as elevações máxima e mínima encontradas na bacia,
respectivamente (m). Nessa equação, os valores de Dmáx e Dmín utilizados foram 3,0
e 0,6 m, respectivamente, obtidos a partir da verificação do número de camadas e
respectiva variação de profundidade para cada tipo de solo apresentadas na Tabela
1.
O valor de Ks foi estimado com a aplicação do programa computacional
Rosetta Lite Version 1.1 proposto por Schaap et al. (2001). O programa está inserido
no modelo HYDRUS-1D e implementa 5 funções de pedotranferência hierárquicas
para estimar parâmetros de retenção de água, e condutividade hidráulica saturada e
não-saturada do solo. Os dados de entrada podem ser apenas classe textural, ou
porcentagem de areia, silte e argila, densidade do solo, e um ou dois pontos da
curva de retenção de água no solo.
No presente trabalho, o levantamento (CIRAM/EPAGRI, 2008) forneceu a
informação de classe textural, que foi o dado de entrada para a estimativa de Ks
(Tabela 2). Assim, para cada tipo de solo obteve-se um valor médio de Ks. Em
seguida esses valores foram interpolados pelo método do vizinho mais próximo para
gerar uma distribuição da condutividade hidráulica saturada na BHRB.
a
TI ln (2)
tan
Apostila Pag.174
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
a
STI ln (3)
tan T0
onde T0 = Ks ∙ D é a transmissividade (m²/dia); Ks é condutividade hidráulica
saturada (m/dia); e D é a profundidade do solo (m).
Para calcular os índices TI e STI foi utilizado software ArcGIS 9.3.1. A obtenção
dos valores deu-se a partir da aplicação das ferramentas da extensão de análise
espacial (Spatial Analyst tools) e da calculadora para raster (Raster Calculator). O
procedimento desse cálculo se encontra no esquema da Figura 6.
MDT
MDT_Fill
Raster Calculator
Raster Calculator
Solos
TI
Ks D
STI
Apostila Pag.175
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
CT
CRP
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apostila Pag.176
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Figura 9 – Mapas das etapas para cálculo de TI e STI. (a) Direção de fluxo (Flow
direction); (b) Acumulação de fluxo (Flow accumulation); (c) Declividade (β); e (d)
Tangente da declividade (tg(β))
Apostila Pag.177
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
32 64 128
16 0 1
8 4 2
Figura 10 – Representação gráfica do algoritmo de resolução da direção de fluxo
Figura 11 – Mapas dos índices para a bacia do rio dos Bugres e a delimitação das
áreas de drenagem. (a) TI; e (b) STI; e para a Zona Topográfica Fluvial. (c) TI; e (d)
STI.
Apostila Pag.178
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
(a)
Apostila Pag.179
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
Sinuosidade
A5 A20
TI e STI
(b)
15 A20 1,4
A15
A20
14
A15 1,3
A10 A20
Sinuosidade
13 A5 A15
TI e STI
A1
A10 1,2
12 A10
A5
A1 A5 STI médio acum. 1,1
11 A1 TI médio acum.
Sinuosidade acum.
10 1,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Fração de área acumulada - ZTF
Apostila Pag.180
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
(a) (b)
1,4 1,4
y = 0,15x - 0,07 y = -0,05x + 1,69
Sinuosidade acum.
R² = 0,04
Sinuosidade acum.
R² = 0,63
1,3 1,3
1,2 1,2
A1
1,1 1,1
1,0 1,0
7,5 7,8 8,1 8,4 8,7 9,0 9,2 9,4 9,6 9,8 10,0 10,2 10,4 10,6
TI médio acum. STI médio acum.
Figura 14 – Relação entre a sinuosidade do rio principal e a média acumulada dos
índices nas áreas de drenagem. (a) TI médio acumulado; e (b) STI médio
acumulado.
Para melhor analisar a relação entre TI, STI e a sinuosidade do rio principal
foram consideradas apenas as ZTFs apresentadas nas Figuras 11(c) e 11(d). Dessa
forma, observa-se nas Figuras 15(a) e 15(b) que existe correlação significativa dos
índices com a sinuosidade. Isso pode ocorrer porque se considera a topografia
próxima ao canal do rio principal e que pode influenciar mais diretamente na
sinuosidade do canal. Além disso, este resultado sugere a potencialidade de uso do
conceito de ZTF para futuros trabalhos sobre rede fluvial. Os pontos referentes às
áreas A1, A10 e A20 em ambos os gráficos da Figura 15 evidenciam a tendência de
aumento da sinuosidade e dos índices em direção a jusante do rio dos Bugres. Essa
tendência também foi verificada na Figura 13(b).
(a) (b)
1,4 1,4
y = 0,05x + 0,59 y = 0,07x + 0,21
Sinuosidade acum.
Sinuosidade acum.
1,2 1,2
A10 A10
A1 A1
1,1 1,1
1,0 1,0
10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 12,0 12,5 13,0 13,5 14,0 14,5 15,0
TI médio acum. - ZTF STI médio acum. - ZTF
Figura 15 – Relação entre a sinuosidade do rio principal e a média acumulada dos
índices na ZTF. (a) TI médio acumulado; e (b) STI médio acumulado.
Apostila Pag.181
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
5. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
Apostila Pag.182
Relação entre sinuosidade e índices topográficos na zona topográfica fluvial
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Apostila Pag.183
FORMULAÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA CONSIDERANDO A
PRESENÇA DE VEGETAÇÃO
Gean Paulo Michel 1* & Masato Kobiyama 2& Roberto Fabris Goerl 3
1. INTRODUÇÃO
1
Apostila Pag.184
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
pode ser positiva ou negativa para a estabilidade das encostas, dependendo das condições da
encosta e da própria vegetação. Segundo Greenway (1987), a vegetação pode gerar dois tipos de
efeitos em relação à estabilidade das encostas: mecânicos e hidrológicos.
Dentre os efeitos mecânicos destacam-se a coesão originada pelas raízes, a sobrecarga
originada pelo pesa da vegetação e a tensão cisalhante gerada pela incidência do vento na copa das
árvores. Dentre os hidrológicos, são mais relevantes a interceptação da chuva pela copa das árvores,
aumento da evapotranspiração e aumento da capacidade de infiltração.
Os efeitos mecânicos da vegetação podem ser inseridos na formulação que descreve a
estabilidade de encostas infinitas (representada pelo FS). Os efeitos hidrológicos não são
considerados diretamente pelo FS, por isso, geralmente, são contemplados por uma formulação
hidrológica a parte. Assim, o objetivo do presente trabalho foi construir uma nova formulação de FS
considerando os efeitos mecânicos gerados pela presença da vegetação e discutir seus efeitos na
estabilidade por meio de análise de sensibilidade.
2. TEORIA
2.1. Fator de segurança sem vegetação
O FS é definido como a soma das forças resistentes sobre a somas das forças cisalhantes em
uma encosta. Desta maneira, quando as forças que promovem a estabilidade são exatamente iguais
às forças que promovem a instabilidade, o FS é igual a um; quando o FS é menor que um, a encosta
está em condição de falha; e quando FS é maior que um, a encosta está estável. Por isso, FS é um
parâmetro muito utilizado para avaliar a probabilidade de ocorrência de falhas em encostas.
Devido aos diferentes tipos de escorregamentos, o FS pode assumir diversos
equacionamentos. Para análise de escorregamentos translacionais, emprega-se o conceito de
estabilidade de encostas infinitas (Selby, 1993). Neste conceito considera-se uma possível
superfície de ruptura. A profundidade desta superfície é considerada relativamente pequena
comparada ao comprimento da encosta e, por isso, o conceito é chamado de encosta infinita. Há
também o pressuposto de que a superfície do lençol freático é paralela à superfície de ruptura e à
superfície do solo. Esta superfície de ruptura muitas vezes forma-se em locais onde a água encontra
dificuldade para infiltrar verticalmente devido a um alto contraste na condutividade hidráulica.
Desta maneira há fluxo lateral, e nestas condições a suposição de fluxo paralelo à superfície torna-
se razoável. A Fig. 1 mostra um esquema do modelo de encosta infinita.
2
Apostila Pag.185
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
A formulação do modelo de estabilidade de encosta infinita baseia-se na lei de Mohr-
Coulomb em uma abordagem bidimensional, onde, no momento da ruptura de uma encosta, o peso
do solo torna-se igual a resultante das forcas estabilizadoras:
C ( u) tan (1)
onde τ é a tensão cisalhante no momento da ruptura [N/m²]; C é a coesão total [N/m²]; σ é a tensão
normal [N/m²]; u é a poro-pressão [N/m²]; e ϕ é o ângulo de atrito interno do solo [°].
O peso do solo por unidade de largura pode ser expresso por:
W g l s p (2)
onde l é o comprimento da encosta [m]; ρs é a densidade do solo úmido [kg/m³]; g é a aceleração
gravitacional [m/s²]; e p é a espessura do solo [m].
A profundidade vertical do solo (z) pode ser representada da seguinte maneira:
p
z (3)
cos
onde θ é a declividade da encosta [graus].
A componente do peso paralela à encosta representa τ, enquanto que a componente do peso
perpendicular à encosta representa σ. Tensões são expressas em força por unidade de área, portanto,
ao decompor os vetores do peso, pressupõem-se uma análise bidimensional de talude infinito, onde
é considerada uma largura unitária para a massa de solo estendendo-se por toda extensão (l) da
encosta analisada. Desta maneira, ao dividir as componentes da força peso por l, obtém-se a tensão
cisalhante e a tensão normal por unidade de largura.
W sin
(4)
l
W cos
(5)
l
Substituindo as Eqs. (2) e (3) nas Eqs. (4) e (5) obtém-se.
g s z cos sin (6)
g s z cos
2
(7)
A poro-pressão (u) é caracterizada pela pressão a que a água situada no interior dos poros do
solo está submetida, e atua no sentido de aliviar a tensão normal da encosta. Esta variável pode ser
expressa de diversas maneiras e sua formulação depende da complexidade com a qual os fenômenos
hidrológicos que ocorrem na bacia serão abordados. A pressão dos poros pode ser expressa por:
u g w h cos2 (8)
onde ρw é a densidade da água [kg/m³] e h é a altura da coluna d’água dentro da camada de solo [m].
Selby (1993) substituiu as Eqs. (6), (7) e (8) na Eq. (1) aplicando-a a modelos de
estabilidade de encosta infinita:
s g z sin cos C ( s g z cos² g w h cos2 ) tan (9)
Considerando que a expressão à esquerda da igualdade na Eq. (9) representa as forças
cisalhantes e a expressão apresentada à direita representa as forças estabilizantes, a razão entre as
duas expressões gera o FS.
C ( s g z cos² g w h cos2 ) tan
FS
s g z sin cos (10)
A Eq. (10) é a formulação para o fator de segurança de uma encosta infinita através de uma
abordagem bidimensional. Nela são desconsiderados os efeitos gerados pelas laterais do bloco de
solo a ser desestabilizado. Esta aproximação é válida para blocos de solo com larguras superiores a
10 m (Hammond et al., 1992). Em rupturas mais estreitas que 10 m, a análise bidimensional pode
3
Apostila Pag.186
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
ser considerada conservadora, pois prediz fatores de segurança menores do que os reais ou aqueles
calculados através de uma análise tridimensional.
Figura 2 – Efeito do reforço do solo originado pelas raízes (Adaptado de Coppin e Richards, 1990)
5
Apostila Pag.188
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
Considerando que ha = 20 m e CD = 0,1 (próximo do maior valor estimado por Hsi e Nath,
1970), o valor máximo de Ve alcança 1,1 kPa para uma velocidade de vento de 30 m/s.
Escorregamentos de terra são fenômenos que quase sempre ocorrem em locais de declividade
acentuada. Considerando a Eq. (13), pode-se dizer que, nestes locais, a declividade faz com que a
influência do vento seja atenuada.
Para inserção dos parâmetros relacionados à vegentação no FS, a componente paralela à
encosta de Sw e Ve foram adicionadas às tensões cisalhantes da encosta. Portanto a Eq. (6) torna-se:
g s z cos sin Sw sin Ve (15)
A componente perpendicular à encosta de Sw deve ser adicionada às tensões normais da
encosta. Assim, a Eq. (7) torna-se:
g s z cos2 Sw cos (16)
Utilizando as Eqs. (15) e (16), a Eq. (10) pode ser reescrita:
cs cr ( g s z cos² g w h cos2 S w cos ) tan
FS
g s z sin cos S w sin Ve (17)
Os efeitos hidrológicos da presença da vegetação afetam indiretamente o FS através da
variação da altura da coluna d’água (h). Por esse motivo, estes efeitos não foram contemplados pela
Eq. (17).
3. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE
A sensibilidade da Eq. (17) à variação dos parâmetros foi conduzida segundo metodologia
estabelecida por Hammond et al. (1992) e posteriormente aplicada por Borga et al. (2002). Este tipo
de análise pode ser de grande utilidade na identificação das variáveis mais importantes e então
servir de guia para coleta de dados em campo.
Esta metodologia baseia-se no estabelecimento de valores médios para os parâmetros de
entrada, chamados valores centrais (Xcentral) e, posteriormente, na variação de cada parâmetro
individualmente, enquanto todos os outros permanecem constantes. A variação dos parâmetros de
entrada também gera variação no FS (ΔFS). Desta maneira, pode-se estabelecer uma hierarquização
de sensibilidade do FS à variação dos parâmetros de entrada. Assim, a variação do FS e dos
parâmetros de entrada podem ser estabelecidas segundo as Eqs. (18) e (19), respectivamente.
FSX FSXcentral
FS 100 (18)
FSXcentral
X X central
X 100 (19)
X central
onde X é o valor alterado do parâmetro de entrada; FSXcentral é o FS obtido com os valores centrais
dos parâmetros; e FSX é o FS obtido após variação do parâmetro em análise.
Os valores utilizados para os parâmetros da formulação do FS foram determinados a partir
de valores da bibliografia (Coppin e Richards, 1990; Wu et al., 1979). Os valores centrais, mínimos
e máximos utilizados para avaliação da sensibilidade do FS estão na Tab. 2.
6
Apostila Pag.189
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
a) b)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
Apostila Pag.190
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
resultado das análises de estabilidade. A influência deste parâmetro decai com o aumento de z. Por
isso, ao considerar a atuação das raízes no reforço da encosta, observar a profundidade do solo na
qual poderá se formar a superfície ruptura é de extrema importância. A sensibilidade do FS ao
parâmetro Sw foi moderada em condições de solos pouco espessos, onde influencia negativamente o
FS. O aumento de z gera atenuação da sensibilidade de FS à Sw. Em geral, o efeito de Sw somente
será adverso nos casos onde θ é maior que ϕ. O FS mostrou-se pouco sensível ao parâmetro Ve,
além disso, a presença deste efeito está vinculada a uma série de condições como velocidade e
direção do vento, e características da cobertura vegetal. Por isso, sua consideração não é de grande
relevância no processo de análise de susceptibilidade a escorregamentos.
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8
Apostila Pag.191
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos
Estabelecimento de limites para profundidade do solo de encostas com base no
Fator de Segurança (FS)
Resumo
A estimativa da profundidade do solo é uma tarefa essencial para entendimentos dos
fenômenos hidrogeomorfológicos. O presente trabalho propôs uma nova formulação
para estimativa da profundidade do solo através da inserção de um modelo hidrológico
na equação do Fator de Segurança. A equação foi aplicada e comparada com outras
equações de embasamento similar. Os resultados mostraram que dentro de sua faixa de
aplicabilidade a equação proposta demonstra comportamento adequado.
Palavras-Chaves
Profundidade do solo; modelagem; estabilidade de encosta
Abstract
The soil depth estimate is an essential task on understanding hydro-geomorphological
phenomena. The present study proposed a new formulation for estimating the soil depth
through the insertion of a hydrological model in the Safety Factor equation. The
proposed equation was applied and compared with other equations with similar
approach. The results demonstrated that the proposed equation has an appropriate
behavior inside its application boundary.
Keywords
Soil depth; modeling; slope stability
Apostila Pag.192
1. Introdução
A compreensão sobre a evolução e a distribuição espacial da profundidade do solo é de
extrema importância para o estudo da evolução da paisagem (Willgoose et al., 1991),
processos hidrológicos em encosta (Tromp-Van Meerveld e McDonnell, 2006) e erosão
(Riggins et al., 2011).
A profundidade do solo pode ser entendida como o resultado final da atual pedogênese.
Conforme Addiscott (1994), a modelagem da pedogênese não é uma tarefa simples,
pois esta é resultado da combinação de muitos processos. Mesmo que a formulação
utilizada para cálculo da profundidade seja extremamente complexa, diversos métodos
para sua estimativa vêm sendo propostos até hoje, por exemplo, Trustrum e De Rose
(1988), Saulnier et al. (1997), D’Odorico (2000), Iida (1999), e Riggins et al. (2011).
Entretanto, nenhum desses modelos é capaz de explicar a totalidade da distribuição da
profundidade dos solos de uma bacia hidrográfica.
Portanto, o objetivo do presente trabalho foi propor uma nova metodologia para estimar
a profundidade do solo a partir da formulação do Fator de Segurança (FS) e discutir
problemas existentes nesta formulação por meio de sua comparação com outras
metodologias que se baseiam em princípios similares. No presente trabalho, inicia-se a
dedução desta formulação a partir da equação do FS para um modelo de encosta
infinita, discutida detalhadamente por Michel et al. (2014) que tiveram por base as
equações apresentadas por Selby (1994).
2. Material e Métodos
Segundo Michel et al. (2014), o FS é expresso pela Eq. (1). Veja todas as equações na
Figura 1. Modificando a Eq. (1), obtêm-se a Eq. (2).
Na Eq. (2), a razão entre a altura da camada d’água dentro do solo e a profundidade do
solo representa o grau de saturação do solo da encosta. Através de seu modelo
hidrológico de recarga uniforme, O’loughlin (1986) definiu que a umidade da encosta
pode ser estimada através da Eq. (3).
Caso a condutividade hidráulica saturada seja constante ao longo de todo o perfil do
solo, a Eq. (3) se torna a Eq. (4).
A Eq. (4), por se tratar de uma representação permanente do balanço hídrico da camada
de solo, é capaz de estimar um comportamento médio do nível de saturação do solo ao
longo do tempo. Substituindo a Eq. (4) na Eq. (2), obtém-se a Eq. (5).
Considerando que para uma encosta o limite de estabilidade ocorre quando o FS é igual
a um, é possível estimar a profundidade máxima que o solo poderá alcançar, sem gerar
instabilidade, embasado nas características de resistência do solo, nas características
geomorfológicas da encosta e nas condições hidrológicas que se desenvolvem. Assim,
igualando o FS a um na Eq. (5) e isolando a profundidade do solo, obtém-se a Eq. (6).
A Eq. (6) apresenta uma nova formulação para estimar a profundidade máxima
alcançada pelo solo da encosta em determinada condição hidrológica. Considerando que
a chuva média anual que incide sobre uma bacia não é capaz de deflagrar
Apostila Pag.193
escorregamentos, um valor de taxa de recarga uniforme igual à precipitação média anual
é um cenário aceitável para estimativa da profundidade máxima do solo de uma encosta.
O presente trabalho realizou um calculo com a Eq. (6). Para verificar seu desempenho
duas fórmulas (Eqs. (7) e (8)) propostas por Iida (1999) também foram testadas.
3. Resultados e Discussão
A Figura 2 demonstra o resultado da estimativa da profundidade máxima do solo para
diferentes declividades de encosta, através da aplicação de três diferentes equações. As
Eqs. (7) e (8) foram desenvolvidas seguindo os pressupostos de solo completamente
saturado e completamente seco, respectivamente (Iida, 1999). Entretanto, a formulação
proposta (Eq. (6)) não possui, nenhum destes pressupostos, representando uma condição
mais próxima da realidade. Além disso, ao incorporar parâmetros hidrológicos e
geomorfológicos, a Eq. (6) adquire aptidão para representar a influência destes
processos na estimativa da profundidade do solo. Tendo isto em vista, a aplicação da
Eq. (6) pode ser mais adequada em relação às demais para encostas que não apresentam
tendências de completa saturação ou ausência de água.
Como a profundidade do solo é sempre positiva, a Figura 2 claramente demonstra que,
ao mínimo, a aplicação das Eqs. (6) e (8) requer que a declividade da encosta seja maior
que o ângulo de atrito interno do solo. Para aplicação da Eq. (7) é pelo menos necessário
Apostila Pag.194
que a tangente da declividade da encosta seja maior que o produto entre a tangente do
ângulo de atrito interno do solo e a diferença entre uma unidade e a razão entre o peso
específico da água e do solo. Percebe-se que a faixa de valores de declividade para os
quais o valor da profundidade do solo calculado é positivo é muito maior com a Eq. (7)
que com as Eqs. (6) e (8).
Para valores de declividade maiores que os descritos acima, a profundidade do solo
assume valores positivos. Entretanto, quando o valor da declividade da encosta tende
pela direita aos limites descritos, as equações tornam-se assíntotas verticais, ou seja, os
valores da profundidade do solo tendem a valores infinitos, o que certamente não
descreve uma situação real. Por isso, mesmo gerando valores de profundidade do solo
positivos, alguns valores de declividade da encosta devem ser descartados da faixa de
aplicabilidade de tais equações. Tais problemas encontrados nos resultados destas
equações são gerados pela existência de diferença de dois termos no denominador das
equações, assim, quando este é negativo, nulo ou está se aproximando de zero
inviabiliza a aplicação das mesmas.
Por outro lado, dentro das faixas de aplicabilidade dessas equações, a tendência de
redução de profundidade do solo com o aumento da declividade encontra-se bastante
satisfatória. Pode-se dizer que dentro das faixas de aplicabilidade, essas equações são
válidas. Especialmente, a nova formulação apresenta considerável utilidade por causa de
sua relação com as reais condições hidrológicas que se desenvolvem na camada do solo.
Percebe-se uma grande coerência dos resultados encontrados com a aplicação da Eq.
(6). Para qualquer que seja a declividade da encosta, a máxima profundidade possível
sempre será maior ao considerar o solo completamente seco ao invés de considera-lo
completamente saturado. Ao considerar uma condição de saturação intermediária, os
valores calculados de máxima profundidade também deverão ser intermediários, o que
foi demonstrado com a aplicação da Eq. (6).
Entretanto, a aplicação da Eq. (6) não exclui a utilidade das demais. Quando não existe
nenhum tipo de aporte de água no solo e este se encontra completamente seco, alguns
termos da Eq. (6) anulam-se, e esta passa a ser idêntica a Eq. (8). Quando há demasiado
aporte de água e a camada de solo encontra-se completamente saturada, os resultados
obtidos com a Eq. (6) não serão coerentes, pois o máximo valor de saturação possível é
igual a uma unidade, e a elaboração da Eq. (6) desconsidera esta limitação. Portanto,
para aplicação da Eq. (6), é necessário verificar que a camada do solo não estará
completamente saturada através da Eq. (4). Entretanto, a resolução iterativa da Eq. (5),
assumindo que o valor máximo da saturação se limita a uma unidade, é uma
metodologia alternativa que não exige nenhum tipo de ressalva.
Apostila Pag.195
Figura 2 – Variação da profundidade do solo em função da declividade da encosta. Para
elaboração do gráfico foi utilizado um valor de coesão igual 11,9 kPa; de peso
específico da água e do solo iguais a 1.000 e 1.800 kg/m³, respectivamente; de ângulo
de atrito interno do solo igual a 30,5°; de taxa de recarga uniforme igual a 0,005 m/dia;
de condutividade hidráulica saturada igual a 0,38 m/dia; de área de contribuição igual a
300 m²; e de comprimento de contorno igual a 5 m.
4. Considerações Finais
A estimativa da profundidade do solo é uma tarefa muito importante para qualquer tipo
de modelagem hidrogeomorfológica, principalmente na avaliação da estabilidade de
encostas. Embora muitos autores dediquem-se para fazê-la adequadamente, explicar a
profundidade para todos os pontos de uma bacia é ainda uma meta a ser alcançada.
Os resultados obtidos no presente trabalho mostraram que existem limitações de uso
para todas as equações testadas. Entretanto, a nova formulação (Eq. (6)) demonstrou
grande coerência dentro de sua faixa de aplicabilidade, podendo ser uma metodologia
aplicável para o estudo de processos hidrológicos e geomorfológicos em encostas. Esta
aplicabilidade deve-se principalmente ao embasamento dado a Eq. (6), onde, para sua
obtenção, parâmetros hidrológicos e geomorfológicos foram inseridos na formulação do
FS. Recomenda-se que estudos de estabilidade de encostas utilizem tais equações para
minimização de erros por superestimar a profundidade do solo das encostas.
Apostila Pag.196
5. Agradecimentos
Os autores agradecem ao Prof. Ricardo Rigon, Universidade de Trento, por ter sempre
disponibilizado seus pensamentos sobre a hidrologia e geomorfologia no seu site (blog)
na internet e também aos membros do Grupo de Pesquisa em Desastres Naturais
(GPDEN) do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul pela discussão cotidiana sobre a formação do solo associada ao escorregamento.
Referências Bibliográficas
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21 à 24 de Outubro de 2012 RIO DE JANEIRO / RJ
Goerl, R.F. (UFPR) ; Michel, G.P. (UFSC) ; Kobiyama, M. (UFSC) ; Santos, I. (UFPR)
RESUMO
Processos hidrogeomorfológicos extremos afetam freqüentemente a sociedade. Como estes
processos fazem parte da evolução da paisagem devem ser analisados sob esta ótica. O presente
trabalho analisou as alterações morfométricas em duas bacias no município de Rio dos Cedros/SC.
Foi observado que as modificações estão relacionadas com a área. A hipsômetria e declividade na
maior bacia não se alteraram, enquanto que em uma sub-bacia alteraram significativamente
PALAVRAS CHAVES
Processos hidrogeomorfoló; Fluxo de detritos; Evolução da paisagem
ABSTRACT
Hydrogeomorphic extreme processes affect society frequently.. Since these processes are part of the
landscape evolution, they must be analyzed under this perspective. The present work analyzed the
morphometric changes in two watershed, Rio dos Cedros city, Santa Catarina state. It was noticed
that the chances are related to the area. In the bigger watershed, hypsometry and slope were not
changed, while in a sub-basin changed significantly
KEYWORDS
Hydrogeomorphic processes; Debris Flow; Landscape evolution
INTRODUÇÃO
Cada vez mais a sociedade sofre com processos hidrogeomorfológicos extremos, especialmente os
deslizamentos. Prejuízos econômicos e perdas de vidas têm sido noticiados com maior freqüência,
como em Santa Catarina (2008) e Região Serrana do RJ (2011). Por outro lado, estes eventos fazem
parte da dinâmica terrestre e são importantes processos modeladores da paisagem. Assim, os
mesmos devem ser abordados sob ambos os aspectos, dos desastres e dos processos naturais. A
abordagem sob o ponto de vista dos desastres geralmente se faz por meio de mapeamentos de risco
ou susceptibilidade através de modelagem ou mapeamento geotécnico (Guzzetti et al., 1999;
Fernandes et al., 2004; Augusto Filho, 2006; Guimarães et al., 2009; Viera et al., 2010). Já a
abordagem em relação ao processo natural faz-se freqüentemente por meio de relações de
magnitude e frequência (Johnson et al., 1991; Steijn, 1996), persistência (Guthrie e Evans, 2007)
volume de sedimento movimentado (Korup et al., 2004; Corsini et al., 2009; Kobiyama et al., 2011)
conectividade com o sistema fluvial e evolução da paisagem (Jacobson et al., 1989; Crozier, 2010).
Por possuírem condicionantes hidrológicos e geomorfológicos, os deslizamentos podem também ser
analisados como processos hidrogeomorfológicos (Hungr et al., 2001; Sidle e Onda, 2004; Wilford et
al., 2004, 2005; Sakals et al., 2006). Dessa maneira, passa-se a analisar o quanto um deslizamento
altera a paisagem em termos de forma e geometria e o quanto esta alteração na paisagem altera os
processos hidrogeomorfológicos (Willgoose et al., 1994). Esta abordagem hidrogeomorfológica vem
ao encontro do conceito de persistência (Guthrie e Evans, 2007, Crozier, 2010) que trata justamente
em mensurar as modificações espaço-temporais na paisagem ocasionadas pelos deslizamentos.
Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo quantificar o quanto uma bacia hidrográfica é
alterada morfométricamente por fluxos de detritos.
MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo é a bacia do rio Cunha, SC, na qual em novembro de 2008 ocorreram quatro fluxos
de detritos (Goerl et al, 2009). A bacia possui aproximadamente 16 km², a altimetria varia de 112 m
a 877 m e a declividade média é 16º. Além da bacia do rio Cunha, a sub-bacia Debris B (0,65 km²)
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também foi analisada. Esta sub-bacia foi escolhida, pois apresentou o maior deslizamento. Para as
análises comparativas pré e pós-evento foi utilizada a base cartográfica digital em escala 1:50000
disponibilizada pela EPAGRI. Através desta base foi gerado um Modelo Digital de Terreno (MDT) com
resolução de 10m utilizando o interpolador Topo to Raster, do qual foram extraídas curvas de nível
em intervalos de 10m. A topografia pós-deslizamento foi elaborada através de sucessivos
levantamentos topográficos realizados com a estação total Leica TPS 400 e o GPS Diferencial Trimble
5700 e R3. Foram coletados cerca de 10.000 pontos nos 4 fluxos de detritos, tanto na área deslizada
como na borda da mesma. As cotas destes pontos foram comparadas com as curvas de 10m pré
evento, garantindo a compatibilidade espacial. Utilizando a extensão spatial analyst do ArcGIS 9.3 as
curvas originais dentro do deslizamento foram “excluídas” e re- interpoladas novamente as curvas
10m geradas com os pontos coletados, tendo assim o MDT pós-evento. As curvas 10m originais
foram re-interpoladas, gerando o MDT pré-evento. Três atributos foram analisados: curva
hipsométrica, altimetria e declividade. Para isto, foi elaborado um histograma em intervalos
regulares de 10m para a altimetria e de 1º para a declividade. Foram então comparados os
histogramas, determinando a diferença de área por classe. Através destas análises as diferenças
entre a paisagem pré e pós-evento foram mensuradas, determinando assim quantitativamente a
evolução da paisagem associada a um evento hidrogeomorfológico extremo e o quão significativa foi
esta alteração.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observar-se nas Figs. 1a (pré-evento) e 1b (pós-evento) que os deslizamentos provocam assinaturas
na paisagem através de suas cicatrizes. Apesar de extensos, variando entre 350 m a 1,3 km, a soma
das áreas deslizadas é pouco representativa em relação à área total da bacia, apenas 1,1% (0,18
km²). Devido à extensão e distribuição espacial dos deslizamentos, todas as classes hipsométricas
foram modificadas (Fig. 1c). Os deslizamentos Debris A e B, devido a sua maior extensão, alteraram
mais classes altimétricas do que o Debris C e D. Por outro lado, por estarem à montante, o Debris C
e D modificaram cotas mais altas. A maior variação se concentrou em dois intervalos: até 260 m e
entre 440 m e 560 m. Em relação à declividade (Fig. 1d), houve a alteração das classes de menor
valor, associado à deposição irregular do material deslizado. As áreas planas foram recobertas por
sedimentos grosseiros, dispostos de forma caótica, o que explica a redução das áreas totalmente
planas (0º). Em relação às demais classes, houve a redução das áreas de declividade intermediária e
um aumento das áreas mais declivosas. As alterações foram maiores nas classes mais baixas e
posteriormente apresentaram um comportamento relativamente homogêneo. Apesar das alterações
na altimetria e na declividade, a curva hipsométrica manteve-se constante (Fig. 1e), explicado
principalmente pela pequena área alterada pelos deslizamentos em relação à área da bacia. Dessa
maneira, o comportamento médio da bacia manteve-se inalterado, apesar de haver um aumento da
declividade máxima (Fig. 1f). Na bacia Debris B (Figs. 2a e 2b) a área deslizada abrangeu cerca de
10% da bacia (0,06 km²), se estendendo por 1,3 km desde o divisor até próximo à exutória. Devido à
forma da bacia, alongada, larga nas cabeceiras se estreitando em direção à exutória, houve uma
maior alteração nas cotas mais baixas (Fig. 2c), pois a área deslizada recobre maior extensão neste
último trecho. A declividade apresentou uma variação em dois blocos (Fig. 2d). Houve uma
diminuição da área entre 10º e 25º e um aumento entre 26º e 49º. As áreas menos declivosas
apresentaram pouca alteração. Após a ocorrência de um deslizamento, geralmente sua cabeceira
fica côncava, aumentando a declividade na parte superior e diminuindo em sua deposição,
geralmente convexa. Contudo, como nesta bacia ocorreram fluxos de detritos, o trecho de
transporte também sofreu erosão, escavando o fundo de vale, aumentando assim a declividade não
apenas na cabeceira. Além disso, devido à presença de blocos e a seleção pobre dos sedimentos,
aliada a rápida erosão hídrica sedimentos inconsolidados, a área de deposição não apresenta feições
bem planas. Dessa maneira, não há um aumento de áreas relativamente planas, mas uma redução
delas. Na bacia Debris B a curva hipsométrica ficou ligeiramente alterada (Fig. 2e), diminuindo as
áreas de cotas menores, explicado principalmente pelo leque de deposição e pela forma da bacia.
Isto fica evidente na alteração da altimetria média e da declividade máxima e média (Fig. 2f). Este
aumento na declividade média pode sugerir uma retomada dos processos erosivos, aumento da taxa
de denudação e redução do equilíbrio. Comparando a variação das duas bacias, fica claro que a
bacia do rio Cunha apresentou pouca alteração em relação à morfometria, associada principalmente
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a relação entre a área deslizada com a área da bacia. Já a bacia Debris B apresentou maior
alteração. Isto evidencia que a distribuição espacial dos processos hidrogeomorfológicos também
exerce controle sobre a evolução da paisagem além da relação entre área deslizada e área da bacia.
Assim, a magnitude de tal evento deve levar em consideração a área da bacia, e não apenas o
volume e alcance do deslizamento
Figura 1
Figura 2
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou demonstrar as alterações na paisagem associada à ocorrência de quatro
fluxos de detritos. Para isto, a altimetria e declividade pré e pós evento foram analisadas em duas
escalas, bacia do rio Cunha (16 km2) e sub- bacia Debris B (0,65 km2). Apesar de magnitude do
evento, o mesmo não alterou significativamente as características da bacia do rio Cunha. Já em
relação à bacia Debris B, houve uma modificação substancial, principalmente na declividade média e
a máxima. Isto implica um aumento das taxas de erosão e conseqüentemente da denudação da
bacia. Nota-se assim que existe uma dependência espacial na evolução da bacia, principalmente em
relação à razão entre a área da bacia e a do deslizamento. Dessa maneira, apesar de extremos, os
fluxos de detritos não causaram grandes modificações na bacia do rio Cunha. Este resultado sugere
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que eventos de média magnitude e de maior freqüência são agentes mais efetivos na evolução da
paisagem
AGRADECIMENTOS
O primeiro autor agradece ao programa REUNI/UFPR pela bolsa de doutorado. O segundo autor
agradece ao CNPq pela bolsa de mestrado. Os autores agradecem ainda aos membros do
Laboratório de Hidrogeomorfologia da UFPR e do Laboratório de Hidrologia da UFSC pelas criticas ao
presente trabalho
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Flood Office of Technology An overflow of lands not normally covered by water and that are used or usable by
Assessment (1980) man.
Flood FEMA (1981) Flooding results when the flow of water is greater than the normal carrying capacity
of a stream, or where coastal waters exceed the normal high tide.
Gradual flood Castro (1996) Occur when the waters rise in a slow and previsible way, keeping in this situation for
some time, and after that they are drained gradually.
River flood Kron (2002) Is the result of intense and/or persistent rain for several days or even weeks over large
areas sometimes combined with snowmelt. River floods build up gradually, though
sometimes within a short time.
Flood Dhar and Nandargi A flood is defined when at a gauge/discharge (G/D) site the flood waters flow above a
(2002) certain level which is called danger level (D.L.) or warning level. Danger levels at G/D
sites indicate the level above which flood waters will start inundating the areas along
the river.
Flood European Spatial Flood is a high-water stage in which water overflows its natural or artificial banks
Planning Observation onto normally dry land such as a river inundating its floodplain.
Network (2003)
Riparian flood Tucci and Bertoni When the precipitation is intense and soil can not infiltrate it, large part of the precipi-
(2003) tation flows to the drainage system, getting superior to its natural capacity of the flow.
This excess of this volume that can not be drained occupies lowlands, flooding areas
very near the rivers.
Flood National Disaster Flooding occurs in known floodplains when prolonged rainfall over several days,
Education Coalition intense rainfall over a short period of time, or an ice or debris jam causes a river or
(2004) stream to overflow and flood the surrounding area.
River flood Choudhury et al. River flooding occurs due to heavy monsoon rainfall and melting snow in the upper
(2004) catchments areas of the major rivers of Bangladesh. Resultant runoff causes these
rivers to rise, over-flow their banks, and spread water to floodplain zones.
River flood Mendiondo (2005) The overflow of river courses is usually the result of prolonged, copious precipitation
over a large area. Usually, a warning can be given a few hours or days beforehand on
the basis of flood forecasts.
Flood NWS/NOAA (2007) Any high flow, overflow, or inundation by water which causes or threatens damage.
Flash flood IAHS-UNESCO-WMO Sudden floods with high peak discharges, produced by severe thunderstorms that are
(1974) generally of limited areal extent.
Flash flood Office of Technology A flood that follows the causative event (this might be excessive rains, a dam failure,
Assessment (1980) etc.) within a few hours.
Flash flood NOAA (1981) Operationally, flash floods are floods that are short fused and require the issuance of
warnings by the local warning and forecast offices rather than by the regional River
Forecast Centers.
Flash flood FEMA (1981) Flash flooding usually consists of a quick rise in water surface elevation with abnor-
mally high water velocity often creating a 'wall' of water moving down the channel
and floodplain.
Flash flood Georgakakos (1986) Any flood that occurs at a certain location within a few hours after the causative event
(e.g., rainfall, dam break). The time interval of 12 hours is adopted as the upper bound
of the time interval between the time of occurrence of the causative event and the time
of occurrence of the flash flood at a certain location.
Flash flood WMO (1994) In small catchment, with the time of concentration less than 6 hours, intense precipita-
tion can generate a flash flood.
Flash flood K
om
usç
u et al. (1998) Are usually produced by intense convective storms which cause very rapid runoff, and
the damaging flood usually occurs within hours of the causative rainfall and affects
very limited areas.
Flash or Rapid Castro (1996) Are caused by intense and concentrated rainfall in steep slope regions, and character-
flood ized with rapid and violent rising of level of water which flows rapidly.
Flash flood Doswell (1997) Flood events where the rising water occurs during or a matter of a few hours after the
associated rainfall. If the damaging water level increases occur more than a few hours
after the rainfall, the event is considered to be a flood, not a flash flood.
Flash Flood AMS (2000) A flash flood is a flood that rises and falls quite rapidly with little or no advance
warning, usually the result of intense rainfall over a relatively small area.
Flash flood Kelsch et al. (2001) Phenomena in which the important hydrologic processes area occurring on the same
spatial and temporal scales as the intense precipitation.
Flash flood Kron (2002) They are produced by intense rainfall over a small area. Typically, flash floods have an
extremely sudden onset.
Flash flood National Disaster Flash floods occur within 6 hours of a rain event, or after a dam or levee failure, or fol-
Education Coalition lowing a sudden release of water held by an ice or debris jam.
(2004)
Flash flood Choudhury et al. Flash floods are very short-lived floods lasting from several hours to a few days. Water
(2004) in such flooding rises and falls rapidly.
Flash flood Mendiondo (2005) Is a flood event of short duration with a rapidly rising flood wave and a rapidly rising
water level. Flash floods are caused by heavy, usually short precipitation, as a torren-
tial rain, in an area that is often very small, typically in conjunction with a thunder-
storm.
Flash flood NWS/NOAA (2007) A rapid and extreme flow of high water into a normally dry area, or a rapid water level
rise in a stream or creek above a predetermined flood level, beginning within 6 hours
of the causative event (e.g., intense rainfall, dam failure, ice jam).
where Ta is the antecedent time of weather forecasting tially smaller damages). If OEI < 1, there is a very short
with high precision; Tt is the transmission time of the time for saving lives (i.e. potentially larger damages).
forecasting from the forecasting center to the Civil Hence, this index is used to differentiate flood and flash
Defence; Tal is the time necessary for the Civil Defence floods as disasters, not as natural phenomenon.
to alert the community; and Te is the time necessary for In the study of Marcelino et al. (2006) which used the
the communities to move to safe places. Thus, the OEI AVADAN data for elaborating a natural disaster risk
involves some of the factors that trigger natural disas- map of the Santa Catarina State, Brazil, some incorrect
ters (i.e. the environmental and human factors). registries of normal flood events have been made. For
Usually To > 0, thus in the case where OEI > 1, the example, the data showed that the state capital,
flood is defined as “normal” flood, while in the case Florianopolis city, has suffered from a high occurrence
where OEI < 1, the flood is defined as a “flash” flood. If of gradual floods. Based on Kobiyama et al. (2006)
OEI > 1, there is enough time to save lives (i.e. poten- which investigated the Tc values for the small experi-
Apostila Pag.207
― 13 ―
M. KOBIYAMA AND R. F. GOERL
mental catchment in Florian opolis, the values of Tc in FEMA. 1981. Design guidelines for flood damage reduction.
Florianopolis are about half an hour. There is no system Federal Emergency Management Agency: Washington,
in place to evacuate the population within one hour in DC; 102. http://www.fema.gov/hazards/floods/lib15.shtm.
this city. It means that OEI is always smaller than one in Accessed: 27 March 2007.
Few R, Ahern M, Matthies F, Kovats S. 2004. Floods, health and
this city, which automatically indicates that this city climate change: a strategic review. Tyndall Centre: Norwich;
has only flash floods. Hence, the normal or gradual 138 (Working Paper 63).
floods registered in a certain locality can be considered Georgakakos KP. 1986. On the design of natural, real-time
flash floods if Tc values are within a few hours. warning systems with capability for site-specific, flash-
flood forecasts. Bulletin American Meteorological Society
67: 1233 1239.
CONCLUSION IAHS-UNESCO-WMO (ed.) 1974. Flash Floods. In: Proceedings
of the Paris Symposium. UNESCO: Paris; 119 (Publication
Not only in Brazil but also in various other countries, No. 112).
Kelsch M. 2001. Hydrometeorological characteristics of flash
the distinction between floods and flash floods is essen- floods. In Coping with Flash Floods, Gruntfest E., Handmer
tial for optimal flood disaster management. This work J. (eds.) Kluwer Academic Publishers: Dordrecht; 181 194.
proposes a quantitative method to distinguish between Kelsch M, Lanza L, Caporali E. 2001. Hydrometeorology of
floods and flash floods by using the OEI. flash floods. In Coping with Flash Floods, Gruntfest E.,
Floods are natural phenomena, and frequently con- Handmer J. (eds.) Kluwer Academic Publishers: Dordrecht;
sidered as natural disasters. The floods as natural phe- 19 35.
nomenon are caused only by the environmental factor, Kobiyama M, Grison F, Lino JFL, Silva RV. 2006. Time of con-
whereas the floods as disasters are caused by the envi- centration in the UFSC Campus catchment, Florian opolis-
SC (Brazil), calculated with morphometric and hydro-
ronmental and human factors. Therefore the flood logical methods. In Proceedings of Regional Conference on
disaster analysis must consider human-related factors Geomorphology, UFG-IUG, Goi ania; 1 10. CD-ROM.
which are fundamental in disaster occurrence and affect Komusçu AU, Erkan A, Çelik S. 1998. Analysis of meteorologi-
all of their prevention stages (i.e. mitigation, prepared- cal and terrain features leading to the Izmir flash flood,
ness, response and reconstruction). In this sense, the OEI 3 4 November 1995. Natural Hazards 18: 1 25.
is coherent, because it considers both environmental Kron W. 2002. Flood risk = hazard × exposure × vulnerability.
and human factors. In Proceedings of the Second International Conference on
For gaining a good mitigation result, it would be Flood Defense, Science Press New York Ltd: New York;
ideal that, in terms of the OEI, when floods occur, more 82 97.
McCuen RH, Wong SL, Rawls WJ. 1984. Estimating urban time
lives can be saved compared with flash floods. In this of concentration. Journal of Hydraulic Engineering 110:
way, at a certain place whose Tc value is known, but 887 904.
where an alert system has not been established yet, the Marcelino, EV, Nunes LH, Kobiyama M. 2006. Mapeamento de
OEI use can determine what Ta is necessary to trans- risco de desastres naturais no estado de Santa Catarina.
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Apostila Pag.208
― 14 ―
ARTIGO
Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista
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Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto
Apostila Pag.213
ISSN = 1980-993X – www.agro.unitau.br/ambi-agua
E-mail: ambi-agua@agro.unitau.br; Tel.: (12) 3625-4116
RESUMO
O presente trabalho mostra a aplicação do modelo hidrológico TOPMODEL para
determinar as áreas saturadas da bacia hidrográfica do rio Pequeno, com área de 104 km²,
localizada no município de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, Paraná.
O TOPMODEL pressupõe que a dinâmica da água é influenciada pelas características do solo
e do relevo de toda a bacia contribuinte, fornecendo como resultado, além da vazão do rio, a
distribuição espacial da umidade no sistema (zonas saturadas e áreas secas) ao longo do
tempo. Os mapas de áreas saturadas foram analisados frente ao uso do solo e às áreas de
preservação permanente de mata ciliar. O TOPMODEL apresentou boa aderência entre as
vazões observadas e calculadas (R²=0,75), confirmando sua eficiência em regiões de clima
úmido e relevo suave. Os resultados das simulações mostram o grande potencial de
aplicabilidade desse modelo no planejamento ambiental, pois permitem discutir e orientar as
ações antrópicas sobre o meio físico com base no entendimento dos processos naturais.
ABSTRACT
This work presents the determination of saturated areas in the Pequeno River watershed
(104 km2), located in the São José dos Pinhais District, Metropolitan Region of Curitiba,
Paraná State, Brazil. We employed the hydrological model TOPMODEL which assumes that
the water dynamics are influenced by soil and hillslope characteristics of the entire watershed.
It calculates the runoff and the spatial distribution (saturated and unsaturated areas) of the soil
humidity in the system throughout the considered time period. The maps of the saturated
areas were analyzed taking into account the land use and riparian vegetation (permanent
preservation). The computations showed a good adherence between calculated and observed
runoff (R²=0.75), thus confirming the model efficiency in regions of humid climate and
smooth topography. The simulation results reveal a potential application for environmental
planning because they allow the discussion and further orientation for human interventions in
the environment based on the understanding of the natural processes.
Apostila Pag.214
Keywords: TOPMODEL; saturated area; environmental planning.
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
1. INTRODUÇÃO
Apostila Pag.215
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
(1) A dinâmica da zona saturada pode ser obtida por sucessivas representações de estados
uniformes.
(2) O gradiente hidráulico da zona saturada é igual a declividade local do terreno.
(3) A distribuição da transmissividade com a profundidade do solo ocorre segundo uma
função exponencial.
(4) No intervalo de tempo existe homogeneidade espacial da taxa de recarga que contribui
para a área saturada.
2. MATERIAL E MÉTODOS
Apostila Pag.216
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
23°
24°
25°
RMC
CURITIBA
26°
49°
54°
50°
SÃO JOSÉ
53°
0 50 100 km
ESCALA GRÁFICA
0 25 50 km
25°29'
48°58'
0 1 2 3 4 5 km
Fazendinha
T
$ (65010000)
Chácara Guajubi
S
# (02549123)
49°11'
25°37'
Apostila Pag.217
SANTOS, I. dos; KOBIYAMA, M. Aplicação do TOPMODEL para determinação de áreas saturadas da bacia
do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
Bibliografia:
Mapa
m, ln(T 0), SR max
topográfico
SR init , ChVel
Vazão:
Digitalização
dados horários
Áreas e
Espacialização
comprimento de
(x, y, cota)
canais
Índice
[ln a / tg β] Vazão
topográfico
observada
GRIDATB.EXE
[Q(h)]
MNT
[Ep(h)]
TOPMODEL
Evapotranspiração
Distribuição
horária
Vazão
Precipitação: Evaporação:
dados horários dados diários
Tempo
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Parâmetros
A versão do TOPMODEL utilizada possui o limite de 2500 intervalos de tempo em
cada simulação. Em função dessa limitação a série de dados foi dividida em seis períodos,
conforme mostra a Tabela 3.
Para cada período foi ajustado o melhor conjunto de valores dos parâmetros para a
estimativa das vazões. A Tabela 3 apresenta esses valores juntamente com os valores de
eficiência medidos pelo índice de Nash e Sutcliffe (E).
A análise da qualidade de uma simulação é, em geral, realizada pela medida de
aderência entre as vazões observadas e simuladas. O índice E indica que quanto melhor o
ajuste entre os dois conjuntos de valores, mais próximo de 1 é o valor E. Valores de E ≥ 0,7
indicam alta eficiência no ajuste do modelo (Iorgulescu e Jordan, 1994; Mine e Clarke, 1996).
De maneira geral, os valores dos parâmetros mantiveram-se coerentes com as grandezas
físicas às quais estão associados.
Para o parâmetro ln(T0), foi encontrado o valor de 0,05 m²/h para todos os períodos, o
que representa uma transmissividade do solo de: T0 = e0,05 ≅ 1,05 m²/h.
Essa transmissividade equivale a condutividade hidráulica saturada de 0,03 e 0,015
cm/s para solos com profundidade média de 1 e 2 m, respectivamente. Esses valores são
condizentes com valores obtidos em medições diretas, como mostrado a seguir.
Montgomery e Dietrich (1995) calcularam a condutividade hidráulica a partir de dados
piezométricos e encontraram valores de 0,1 a 0,01 cm/s em solos rasos e abaixo de 10-7 até
10-8 cm/s em depósitos coluviais. Wu e Sidle (1995) encontraram valores de condutividade
hidráulica saturada em torno de 0,8 m/h ≅ 0,02 cm/s para diferentes profundidades e tipos de
solo. Assim, é razoável o valor de T0 obtido no presente trabalho, supondo-se que a
profundidade do solo varia entre 1 e 2 m.
3.2. Hidrograma
A Figura 3 mostra os hidrogramas das vazões horárias observadas e calculadas, a
Figura 4 apresenta um gráfico com as vazões acumuladas no tempo e a Figura 5 mostra a
correlação entre as vazões observadas e calculadas. Esses resultados indicam um bom ajuste
do modelo à bacia estudada, com coeficiente de determinação R² = 0,75 entre as vazões
calculadas e observadas.
Apostila Pag.220
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16
14
12
Observado
Calculado
10
Vazão (m³/s)
0
1 2001 4001 6001 8001 10001 12001
Tempo (horas)
35000
30000
25000
Q calculada (m³/s)
20000
15000 y = 0.9882x
2
R = 0.9997
10000
5000
0
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000
Q observada (m³/s)
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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
3.3. Zoneamento
A simulação do TOPMODEL resulta também em um mapa com as áreas saturadas
para cada intervalo de tempo definido na modelagem. Como o intervalo de tempo adotado foi
de uma hora, obtiveram-se 12.000 mapas que reproduzem a dinâmica das áreas saturadas no
tempo e no espaço. No período simulado de 14/08/99 a 31/12/00, a porcentagem de áreas
saturadas em relação à área total da bacia variou entre 15,8% e 32,8%. A Figura 6 mostra o
mapa de áreas saturadas, mínima e máxima, para o período simulado.
O valor mínimo de 15,8% se manteve constante durante os períodos mais secos. Esse
valor está coerente com o observado na bacia, pois a sua configuração topográfica favorece a
formação de banhados, que estão presentes ao longo de todo o vale formado por aluviões.
Apostila Pag.222
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Apostila Pag.224
Figura 8. Comparação entre áreas de preservação permanente e áreas saturadas.
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4. CONCLUSÕES
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do rio Pequeno, São José dos Pinhais, PR, Brasil. Revista Ambi-Água, Taubaté, v. 3, n. 2, p. 77-89, 2008.
Apostila Pag.226
Proposta de metodologia de mapeamento
de perigo de inundação
Recebido: 20/10/12
revisado: 12/05/13
aceito: 06/01/14
Leonardo Romero Monteiro
Masato Kobiyama
RESUMO: O Brasil tem sofrido com a ocorrência de Abstract: Brazil has been suffering from several
diversos de desastres naturais, principalmente as inundações. natural disasters, especially floods. Decree No. 7,257 of
O Decreto Nº 7.257 de Agosto de 2010, considera as ações August 2010, considers the natural disaster prevention
de prevenção de desastres naturais por meio da identificação, actions by identifying, mapping and risk, hazard and
mapeamento e monitoramento de risco, perigo e vulnera‑ vulnerability monitoring. The present paper proposes
bilidades. O presente trabalho propõe uma metodologia a methodology to map flood hazard areas, presenting
para mapear áreas de perigo a inundação, apresentando a case study in Braço do Baú basin, located in Ilhota
um estudo de caso na Bacia do Braço do Baú, localizada no city, Santa Catarina state. The methodology consists
município de Ilhota/SC. A metodologia consiste na criação in creating a storm design and using hydrological and
da precipitação de projeto e na utilização da modelagem hydrodynamic modeling. For mapping the hazard areas,
hidrológica e hidrodinâmica. Para mapear as áreas de perigo a hazard index which is a function only of the water
é utilizado o Índice de Perigo, função da profundidade da depth and flow velocity is used. Finally, a flood hazard
lâmina de água e da velocidade de escoamento. Por fim, é map is created based on three flood maps of 5, 20 and
criado um mapa de perigo de inundação baseado em três ma‑ 100 return period years.
pas de inundação de 5, 20 e 100 anos de período de retorno. KEY WORDS: Flood Hazard Mapping Proposal
Palavras‑chave: Mapa de Perigo; Modelagem;
Inundação
de risco de inundação, visando à minimização futura de perigo de inundação, utilizando, em grande parte,
das perdas materiais e humanas em face das grandes dados disponíveis nacionalmente, e (ii) demonstrar
cheias (TUCCI, 2007). De acordo com Goerl et al. a aplicabilidade dessa metodologia por meio de um
(2012), o risco é usualmente definido como função estudo de caso bacia do Braço do Baú, no município
do perigo e da vulnerabilidade. Assim sendo, o risco de Ilhota – SC.
representa a suscetibilidade de uma comunidade de
sofrer danos ou perdas devido a um perigo. METODOLOGIA PROPOSTA
Existe uma diferenciação entre mapa de inunda‑
14 ção, mapa de perigo de inundação e mapa de risco A Figura 1 mostra as etapas do mapeamento de pe‑
de inundação. O mapa de inundação consiste na rigo de inundações através da metodologia proposta.
limitação das áreas inundadas com a altura da lâmina
de água. Este está atrelado a um único período de Processos principais
retorno. De acordo com de Moel et al. (2009), o Os processos principais são a parte vital desta
mapa de perigo de inundação contem informações metodologia. Pode‑se entender que eles são a coluna
sobre a probabilidade e/ou magnitude de um even‑ vertebral metodológica, pois ligam todos os pro‑
to, enquanto o mapa de risco contem informações cessos físicos com o banco de dados para se obter
adicionais sobre as consequências (danos econômi‑ o resultado final. Os outros itens garantem o bom
cos, número de pessoas afetadas). Neste sentido, os funcionamento destes processos.
mapas de inundação são utilizados para a criação do
mapa de perigo de inundação que, junto com fatores
de vulnerabilidade, é utilizado para criar o mapa de Precipitação de projeto
risco de inundação. Pode‑se estimar uma precipitação hipotética pro‑
Mesmo existindo inúmeros modelos hidráuli‑ vável para uma área de estudo. Para se esta precipi‑
co‑hidrológicos, não há uma metodologia brasi‑ tação são necessárias a equação i‑d‑f e a distribuição
leira para padronizar o mapeamento de perigo a temporal da precipitação. Outra informação que
inundações, visto que este fornece informações pode auxiliar nesta tarefa é a distribuição espacial
valiosas e claras para gestão urbana. O desenvol‑ da precipitação.
vimento da pesquisa em desastres naturais no Equação i‑d‑f: Na criação do mapa de perigo,
Brasil ainda é tímido, mas tem ganhado destaque são utilizados os períodos de retorno de 5, 20 e 100
nos últimos anos. anos. O tempo da duração da precipitação deve ser o
Desta forma, os objetivos do presente trabalho tempo de duração crítica, ou seja, o tempo de preci‑
são (i) propor uma metodologia para o mapeamento pitação que causará a maior vazão de pico. A duração
Figura 1.
Etapas do
mapeamento
de perigo de
inundações
através da
metodologia
proposta.
Apostila Pag.228
Monteiro, L. R.; Kobiyama, M. Proposta de metodologia de mapeamento de perigo de inundação
crítica é o tempo ideal em que a intensidade, em uma As limitações dos modelos hidrológicos estão princi‑
Equação i‑d‑f, é elevada e a área de contribuição da palmente relacionadas ao tamanho da bacia simulada.
bacia também é grande. Simulação hidrodinâmica: A simulação hidro‑
Visto que a Equação i‑d‑f é um método concen‑ dinâmica é responsável pela interação das proprie‑
trado, aconselha‑se utilizar mais do que uma quando dades topográficas, com as propriedades hidroló‑
se trabalha com bacias grandes e existe banco de gicas e hidráulicas. Aconselha‑se utilizar modelos
dados para isso. bidimensionais ou tridimensionais, visto que mapas
de inundação são criados, necessitando assim da
Distribuição temporal: Loukas (2002) comen‑
tou sobre a importância da variação temporal da simulação do escoamento em no mínimo duas dire‑ 15
precipitação e aplicou análises estatísticas realizando ções, característica que os modelos unidimensionais
comparações entre os dados observados para estimar não reproduzem com exatidão. No uso de modelo
a distribuição temporal. Monteiro & Kobiyama (2011) bidimensional ou tridimensional em grandes áreas
afirmaram que quanto mais tardar o pico do hietogra‑ aconselha‑se a simulação em computadores com
ma ocorrer, maior será a vazão de pico que este pro‑ bom processamento
duzirá e, consequentemente, maior será a importância
em inundações. A partir desta consideração, os autores Mapeamento de Inundação
adotaram o quarto quartil do Método de Huff que
O mapa de inundação pode ser criado de duas
representa a distribuição temporal da precipitação com
maneiras diferentes, através da confecção de uma
o pico de intensidade mais tardio. Caso exista algum
mancha de inundação a partir de dados observados da
estudo de distribuição temporal na área de estudo em
inundação ou através da modelagem hidrodinâmica.
questão este deve ser utilizado primordialmente.
O primeiro método fornece um mapa com
mais exatidão, porém é de difícil criação, pois os
Modelagem Matemática dados precisam ser adquiridos em pleno evento de
A modelagem matemática é realizada através de inundação (GIGLIO; KOBIYAMA, 2011). Ainda,
simulações hidrológicas e hidrodinâmicas. Para isso, pode‑se recuperar os dados das inundações através
a bacia de estudo deve ser dividida em: sub‑bacias de registros deste evento, ou seja, além da coleta em
de contribuição (BCs) e área inundável (AI). As campo, estes dados também podem ser recuperados
simulações hidrológicas são realizadas para as BCs e através de fotografias, vídeos, jornais ou declaração
as hidrodinâmicas para a AI. de pessoas presentes no evento. Outro ponto nega‑
tivo deste método é a inflexibilidade em criar mapas
As BCs são diferenciadas da AI pelo elevado
com períodos de retorno pré‑estabelecidos.
potencial de inundação que a segunda possui. Isto
ocorre por causa da grande declividade média dos No segundo método, referente à modelagem
rios principais das BCs e por estas serem bacias de hidrodinâmica, utiliza‑se modelos físicos ou mate‑
cabeceira. Como auxílio para esta diferenciação, máticos para a criação dos mapas de inundação. Na
deve‑se realizar visitas de campo e obter informações metodologia proposta pelo presente trabalho, este
em entrevistas com moradores. mapa é resultado da modelagem hidrodinâmica. De
qualquer forma, para a calibração e validação do
As áreas que constituírem o mapa de inundação
modelo hidrodinâmico, é recomendada a utilização
não podem ser consideradas como BCs. Os mapas
cotas do evento de inundação.
de perigo são confeccionados apenas para a AI,
visto que não há necessidade deste estudo nas BCs. O mapa de inundação sempre está relacionado a
Independente do modelo matemático a ser utilizado, um período de retorno que é utilizado diretamente na
este deve ser sempre calibrado e validado para o local confecção do mapa de perigo. A qualidade do mapa
e condições do problema. depende da qualidade dos procedimentos que o ante‑
cedem, e é muito sensível ao modelo digital de terreno.
Simulação hidrológica: Qualquer modelo hidro‑
lógico de precipitação‑vazão pode ser utilizado para
esta metodologia, desde que ele seja adequado para a Dados para modelagem
bacia de estudo. Aconselha‑se utilizar modelos de le‑ Os dados de entrada na modelagem podem ser
vem em consideração as características de infiltração, adquiridos de formas distintas. No presente trabalho
de escoamento superficial e de escoamento básico. os dados foram separados em dados de campo, dados
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REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013
Tabela 2
Tabela 1
Níveis de Perigo de Inundação (PREVENE, 2001)
Principais formas com que os dados de modelagem
são adquiridos
Definição do Perigo de Inundação
Dados de Dados Dados Nível do Cor do
Descrição
campo obtidos calculados Perigo Mapa
Séries históricas de
X X As pessoas estão em perigo, tanto
precipitação
dentro quanto fora de suas casas.
Alto (3) Vermelho
Equação i‑d‑f X X As construções estão em alta
Distr.temporal X X X possibilidade de serem destruídas.
Figura 2. Diagrama do perigo de inundação (Adap‑ Figura 3. Níveis de perigo discretizados (PREVENE,
tado de Stephenson, 2002). 2001).
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REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013
18
83880000
2648002
2648001
2648000
Figura 4. Mapa de localização do Complexo do Baú. Figura 5. Divisão de estudo da bacia do Braço do Baú.
Tabela 4
Características das sub‑bacias
Tabela 5 Tabela 6
Informações sobre os dados calculados Informações sobre os dados adquiridos
Identificação, Detalhamento
e Comparação das Áreas Inundadas
O FLO‑2D foi calibrado a partir do evento extre‑
mo de novembro de 2008. A mancha de inundação
que melhor se ajustou aos pontos coletados foi a
produzida pela simulação sem os perfis transversais,
a qual foi utilizada para a criação dos mapas de
inundação.
As áreas inundadas foram identificadas e deta‑
lhadas através da ferramenta FLO‑2D Mapper, que
faz parte do pacote do próprio software FLO‑2D.
Para uma área ser considerada inundada é necessário Figura 6. Mapa de Inundação ‑ Período de Retorno
que em algum momento da simulação do modelo de 5 anos.
Apostila Pag.235
REGA – Vol. 10, no. 2, p. 13-25, jul./dez. 2013
22
Tabela 11
Comparação para os períodos de retorno
Área Volume
Período Dif. para Dif. para
Máxima Máximo de
de Retor‑ AMI de VMI de
Inundada Inundação
no TR 5 TR 5
(AMI) (VMI)
anos km² m³ % %
5 2,89 1.572.112 ‑ ‑
20 3,08 2.191.556 7 39
50 3,21 2.698.792 11 72
100 3,31 3.147.212 14 100
Figura 8. Mapa de Inundação ‑ Período de Retorno
de 100 anos.
sub‑bacias possuem vazão de pico menor do que 2 em Santa Catarina deveriam possuir de 20 a 30 metros
m³/s para o período de retorno de 5 anos e menor do a partir da margem dos rios. As APPs estão dentro
que 5 m³/s para o período de retorno de 100 anos. A das áreas de inundação. Assim, as APPs devem ser
consideração da baixa importância dessas sub‑bacias preservadas devido à segurança humana (Figura 10).
despreza o efeito da sinergia das vazões de contribuição.
Para a localização de vias de transporte não se Tabela 12
deve adotar nenhum perigo como aceitável, pois em Áreas de perigo para as diferentes categorias
casos de desastres naturais estas devem estar sempre
acessíveis para a evacuação de pessoas. As obras de Categoria 0 1 2 3 Total 23
importância pública, como hospitais e escolas, devem Área (km²) 45,65 0,11 1,52 0,72 48,00
ser localizadas em locais onde existe no máximo o
perigo baixo. Obras, como parques para lazer, que 95% 0% 3% 2% 100%
são utilizadas apenas quando não existe ocorrência
da precipitação, podem ser construídas aceitando o CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
perigo alto, desde que após um evento de inundação
estes locais sejam reconstituídos. As demais obras O presente trabalho propôs uma metodologia
devem ser realizadas aceitando o perigo médio, mas para o mapeamento de perigo de inundação e apli‑
sempre tentando reduzir este ao máximo. cou‑a para a Bacia do Braço do Baú, no município
de Ilhota – SC, como estudo de caso. A metodologia
consiste em: determinar a equação de precipitações
intensas, gerar hidrogramas de contribuição para a
área inundável delimitada, detalhar a área inundável
e então estruturar um mapa de perigo em função de
diferentes períodos de retorno de precipitação. Nesta
metodologia, é necessário realizar a modelagem hi‑
drológica e hidrodinâmica. Para isso, foram utilizados
os modelos HEC‑HMS e FLO‑2D, respectivamente.
Os hidrogramas gerados tiveram uma variação zadas em áreas com nível de perigo 2 e 3. De uma
do volume total e da vazão de pico de cerca de forma geral, a localidade possui poucas construções
150% na comparação das precipitações com TR de em áreas indevidas, mas isso se deve por ser uma área
5 e 100 anos para as mesmas sub‑bacias. Também rural. As áreas de proteção permanente (APP) coin‑
considerando a comparação das precipitações com cidem com as áreas de inundação. Assim, as APPs
TR de 5 e 100 anos, a variação da AMI foi de 14% devem ser preservadas devido à segurança humana.
e a variação do VMI de 100% de 5 a 100 anos. Ou
seja, a variação da profundidade da lâmina de água AGRADECIMENTO
24 foi mais expressiva do que a da área inundada.
O presente trabalho faz parte do projeto “Análise
A profundidade da água não é o único fator que e Mapeamento das Áreas de Risco a Movimentos
oferece riscos para a vida das pessoas. De acordo com de Massa e Inundações nos Municípios de Gaspar,
Stephenson (2002), a velocidade também fornece Ilhota e Luiz Alves (complexo do morro do baú), SC”
potencial destrutivo da inundação. (209/2009) financiado pela Fundação de Amparo à
As vias de transporte estão em situação precária, Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina
próximas ao rio. Algumas residências estão locali‑ (FAPESC).
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6 ESCORREGAMENTO
MASATO KOBIYAMA
GEAN PAULO MICHEL
ALINE DE ALMEIDA MOTA
Apostila Pag.258
Nat Hazards
DOI 10.1007/s11069-014-1435-6
ORIGINAL PAPER
Abstract In 2008, Rio dos Cedros city in Santa Catarina State, Brazil, suffered from
numerous landslides. The objective of the present study was, therefore, to apply the slope
stability model SHALSTAB to the Cunha River basin, which is located in this city, and to
estimate the rainfall necessary to trigger the landslides, which is defined as critical rainfall.
Some geotechnical parameters were determined through field survey and laboratory test. The
slope stability map elaborated with SHALSTAB was compared to the landslide inventory
map, which confirmed the good performance of this model for the study area. In the model
calibration, the values of the hydrologic ratio (q/T), which is the steady-state recharge (q) per
transmissivity (T), were determined in order to rearrange the classification of the slope
stability–instability conditions. After determining these values, the q value which is equiv-
alent to the critical rainfall was estimated. Based on the rainfall time series data from 1941 to
2011, the critical rainfall was determined 1,042.55 mm in 68 days, equivalent to a steady-
state recharge of 15.33 mm/day. This result implies that landslides in Rio dos Cedros city in
2008 were triggered by an association between intense rainfall and a long rainy period.
1 Introduction
There is a worldwide increase in life loss and material damages associated with natural
disasters. According to McDonald (2003), this increase is due to the rise in the number of
R. F. Goerl
Departamento de Geociências, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Universitário,
Trindade, Florianópolis, SC 88040-900, Brazil
people occupying susceptible areas as well as their low economic conditions that permit to
construct only very poor and unsafe houses. By using the available data of the Emergency
Disaster Data Base—EM-DAT of the Centre for Research on the Epidemiology of Disas-
ters—CRED, the temporal distribution of the world natural disasters during the period from
1900 to 2013 can be seen in Fig. 1. Though all kinds of disasters increase in frequency, the
hydrological disasters such as floods and landslides show the largest increase. It is noted that
about 50 % of people affected by the natural disasters suffered from the hydrological ones.
In Brazil, the recent occurrences of natural disasters have been more serious and det-
rimental, e.g., the landslides and floods in Santa Catarina State in 2008 (Frank and Se-
vegnani 2009), landslides in Angra dos Reis and Morro do Bumba regions in Rio de
Janeiro State in 2010 and landslides and floods in Teresópolis, Nova Friburgo and Pet-
rópolis cities in Rio de Janeiro State in 2011 (Avelar et al. 2011; Coelho Netto et al. 2011).
These disasters demonstrated that the Brazilian society is still unprepared to deal with such
hydrologically extreme events. Hence, it becomes more important to comprehend the
mechanisms that trigger the hydrological disasters and to establish adequate counter-
measures focusing on damage reduction.
Demonstrating how the disaster evolution performs during a city implementation from
floods to landslides, Kobiyama et al. (2010a) emphasized that the more attention might be
paid for landslides in Brazil. One of the most efficient countermeasures for reducing
landslide-related disasters is the mapping of susceptible areas.
To identify the locality of potential shallow landslide occurrence, there are several slope
stability models, e.g., SHALSTAB (Dietrich and Montgomery 1998; Montgomery and
Dietrich 1994), SINMAP (Pack et al. 1998) and TRIGRS (Baum et al. 2008). These models
have been worldwide accepted and utilized in the slope stability analysis (Cervi et al. 2010;
Chacón et al. 2006; D’Amato Avanzi et al. 2009; Huang and Kao 2006; Sorbino et al.
2009; Tarolli and Tarboton 2006; Terhorst and Kreja 2009; Yilmaz and Keskin 2009).
Applied for some Brazilian basins, SHALSTAB showed better performance than other
stability models (Vieira et al. 2009), specially on Cunha River basin (Michel et al. 2014);
thus, SHALSTAB was adopted in the present study.
SHALSTAB, in relation to the hydrological condition, adopts the assumption of O’loughlin
(1986), which considers a steady-state recharge that occurs when there is equilibrium between
inflows and outflows in the soil layer situated at a slope. This recharge allows predicting the
saturation level of the slopes. The above-mentioned condition never occurs naturally. However,
this assumption permits to simulate the effect of transient storms in increasing the water table,
generally responsible for triggering of landslides (Dietrich and Montgomery 1998; Hammond
et al. 1992). Though the effect of a transient storm could be simulated by the steady-state
recharge, there is no consensus about the numeric relation between them. According to Pack
et al. (2005), in the landslide modeling, the steady-state recharge is not related to a long-term
(e.g., annual) average of recharge, but related to a critical period of rainfall that can trigger
landslides. In the tropics where the soil is generally thicker, transient storms cannot trigger
landslides frequently because of the difficulty to significantly elevate the water table. Fur-
thermore, long rainy periods that resemble real steady-state recharge could lead the hillslope to
an unstable condition, allowing that a less intense storm triggers the landslide.
Dhakal and Sidle (2004) listed many studies about the characteristics of rainfall and
recharge associated with landslides. Some of them investigated the relationships between
the landslide occurrences and threshold values of rainfall for landslide hazard assessment,
prediction and warning systems. These studies generally consider the topographic and
geotechnical characteristics of the basin. Others studies are empirical and show the relation
between intensity and duration of the rainfall to trigger landslides (Caine 1980; Guzzetti
Apostila
123 Pag.260
Nat Hazards
Fig. 1 Natural disaster occurrences and percentage of people affected by them from 1900 to 2013
et al. 2008; Saito et al. 2010). However, the relationship between the rainfall characteristics
(duration and amount) and the landslide triggering is still not very clear in cases where the
physical characteristics of the basin are considered.
In this context, the objectives of the present study were (1) to analyze the rainfall
associated with an extreme event occurred in Cunha River basin, Rio dos Cedros city,
Santa Catarina State, Brazil, in November 2008, by using some hydrological, geotechnical
and geomorphic analysis in association with SHALSTAB and (2) to determine the critical
rainfall necessary to trigger landslides.
When the soil layer is completely dry, the term h/z in Eq. (3) is set to zero, and a
minimum slope angle for unconditional instability is obtained. When the slope is steeper, it
is classified as unconditionally unstable:
c
tan h tan / þ 2
ð4Þ
cos h qs g z
When the soil layer is saturated, the term h/z in Eq. (3) is set to one, and a maximum
angle for unconditional stability can be obtained:
qw c
tan h tan / 1 ÿ þ 2
ð5Þ
qs cos h qs g z
If the situation does not correspond to Eqs. (4) or (5), the hydrological model is
incorporated to predict the wetness necessary to cause the instability. The hydrological
model used in SHALSTAB follows the principles of Beven and Kirkby (1979) and
O’loughlin (1986), where the soil saturation (w) is related to the upslope drainage area (a),
the unit contour length (b), the slope steepness (h), the soil transmissivity (T) and the
steady-state recharge (q) of a certain point, i.e.,
qa h
w¼ ¼ ð6Þ
b T sin h z
Replacing w for h/z, Eqs. (3) and (6) can be equated. Then, combining the infinite slope
stability model and the hydrological model, a hydrologic ratio (q/T) can be obtained:
q b qs tan h c
¼ sin h 1ÿ þ ð7Þ
T a qw tan / cos2 h tan / qw g z
This is the main equation applied in SHALSTAB, which considers the soil cohesion.
Hence, it is very clear that only rainfall data are not sufficient to predict the stability
level of a slope. The slope stability depends on many hydrological, geotechnical and
topographic variables. Based on geotechnical and topographic input data, SHALSTAB
calculates a minimal hydrologic ratio (q/T) where the conditions for instability are satis-
fied. The higher the ratio q/T, the lower the probability of a slope destabilization.
Apostila
123 Pag.262
Nat Hazards
Many cities in Santa Catarina were affected by landslides and floods in November 2008,
mainly those located in Itajaı́ Valley (Frank and Sevegnani 2009). The Rio dos Cedros city
was severely damaged, having 8,561 people directly affected by the event and 96 people
homeless. The disaster damaged 191 low-class and 96 middle-class houses, and the eco-
nomic losses reached around US$ 1,754,272, of which US$ 1,138,187 in agriculture, US$
250,553 in cattle raising, US$ 33,191 in industry and US$ 332,340 in basic services (Goerl
et al. 2009). The present study area is the Cunha River basin, a rural basin in Rio dos
Cedros city, where seven large rapid shallow translational landslides occurred (Fig. 2).
Due to the great accumulation of water in the soil, the material released from the slopes
turned into debris flows that delivered a lot of sediment to the main channels. Kobiyama
et al. (2010b) measured the geometry and estimated the initial volume of four landslides/
debris flows that occurred in this basin. Among these, the volume of the biggest was
estimated in 50,000 m3 with a width of approximately 60 m and a thickness of 10 m, while
the smallest volume was estimated in 6,000 m3, 40 m wide and 10 m thick. All the
landslides occurred in the basin are rainfall-induced without anthropic contribution.
The Cunha River basin has 16.35 km2, and its altimetry varies from 90 m to 860 m. The
Cunha River has a mean slope of 8 % and altimetric amplitude of 640 m. The basin is
composed of gneiss (94 %) and shale (6 %). The inceptisols, classified as cambisoils by the
Brazilian System of Soil Classification (EMBRAPA 2009), are predominant and occupy
about 75 % of the basin area (IBGE 2003). These soils are mainly associated with steep
slopes and are composed by clayey material in this basin. The other 25 % of the basin area
is occupied by ultisols (classified as argisols in Brazilian classification).
The digital terrain model (DTM) was elaborated based on 5-m contour lines, obtained
through field survey with a Leica ADS-40 airborne digital sensor. The contour lines were
interpolated by the ArcGis version 9.3 Topo to Raster extension resulting in a raster map
consisting in cells of 5 m of resolution.
The landslide scars were determined by visual analysis of the basin orthophotos in
1:5,000 scale and from more than 3,000 georeferenced points collected by field survey with
a D-GPS and a total station. All the points collected showed a subcentimetric precision in
plan-altimetry. After identifying three parts of landslides (initiation, transport and depo-
sition) in the field, the present study plotted only the initiation areas on the landslide
inventory map which was used for calibrating the SHALSTAB model.
Even though SHALSTAB can be applied without rainfall data, the contextualization of the
results depends on the rainfall analysis. Therefore, the hourly rainfall data were extracted
from three rain gauge stations located in Rio dos Cedros city (Fig. 2). Although the rain
gauges were not situated in Cunha River basin and were distant about 6–12 km from the
basin and among them, the rainfall series was analyzed and the measured values were very
similar among them. During the field survey in the basin, ravines, grooves or overland flow
were not observed, which permits to conclude that there is no surface flow with rainfalls of
low–medium intensity in the major part of Cunha River basin. That is why the present
study assumes that all the rainfall infiltrates into the soil layer.
The present study assumed that the landslide faces represent the failure triggering condi-
tions. Ten undisturbed soil samples were collected in the landslide scars, all of which are
situated in the same type of soil (cambisoil) that covers approximately 75 % of the basin
area. These soil samples were conducted to laboratory where tests were carried out to
obtain the geotechnical information. The shear strength parameters of soil (internal friction
angle and cohesion) were determined by direct shear test with undisturbed saturated soil
samples in drained conditions.
Apostila
123 Pag.264
Nat Hazards
By the relation between mass and volume of the saturated soil, the saturated soil bulk
density was determined. The particle size distributions of soil samples were determined
and used to estimate the saturated hydraulic conductivity (Ks) by the HYDRUS-1D soft-
ware that contains the Rosetta Lite Version 1.1 model proposed by Schaap et al. (2001).
This model generates the soil hydraulic properties from soil textural data. Though Ks
generally decreases with soil depth, the present study considered its value constant along
the soil depth.
The estimation of soil depth of the basin was done by field observations on the land-
slides scars. All the landslides in the basin occurred at a similar depth (*10 m).The mean
depth where the slope failures occurred was considered the soil layer depth for the entire
basin (Fig. 3).
SHALSTAB uses Eq. (7) to designate the stability degree of the slope. This equation is
solved for two hydrological variables: q and T. Hence, it is a parameter-free model where
the stability classification is determined by the q/T ratio. According to Dietrich et al.
(1995), the amount of rainfall necessary to destabilize the slope, which is called the critical
rainfall in the present study, is directly proportional to Ks of the soil at the ground surface
and inversely proportional to the decline rate of Ks by the increment of soil depth. Con-
sidering the variability of Ks, T can be obtained by the integration of this parameter along
the soil depth. This study considered that there is no variation of Ks, and then, T was
calculated by the product between Ks and the soil thickness. The transmissivity is a
parameter that estimates the facility how the water in the soil is drained by the slope.
Slopes where soils have high T can rapidly lower the water table level during or after a
heavy rainfall, which contributes positively to the slope stability. Therefore, the effective
application of the model requires the estimation of T.
Dietrich and Montgomery (1998) originally proposed seven stability classes in
SHALSTAB. The two extreme classes refer to Eqs. (4) and (5) which represent uncon-
ditionally unstable and unconditionally stable areas, respectively. The other five classes are
established according to the q/T ratio. The standard values of q/T used by SHALSTAB as
thresholds of the stability classification were set by statistical analysis of landslides which
occurred in predicted unstable areas and total unstable areas in the basin (Dietrich et al.,
1995). The q/T values were determined so that the results included the largest number of
landslides and the smallest total unstable areas in the basin. These values were set as
stability thresholds. The higher value of q/T implies the lower probability of instability.
For a better understanding of the mechanism involved in critical rainfall, the present
study reduced the five classes of stability established by q/T values to two. Thus, the terrain
is here classified in four classes: unconditionally unstable, unstable, stable and uncondi-
tionally stable. This classification requires only one value of q/T as stability threshold.
Table 1 shows a comparison between the original and proposed classification.
In SHALSTAB application, the present study compared the landslide inventory map
with the unstable areas identified by the model. The q/T values that represented the stability
threshold were determined when unstable pixels coincide with the landslides occurrences
of the inventory map. By changing the q/T values, a reclassification of the SHALSTAB
results was performed. Hence, four values of q/T were established for the stability
threshold, resulting in four different stability maps.
The variation in q/T values also causes to vary the number of unstable pixels within
landslide scars, as well as the total unstable area within the basin. The present study
assumed that only one unstable pixel within the landslide scar is sufficient for the model
success in prediction. The destabilization of a small area represented by few pixels can
destabilize a much larger volume of soil due to the relaxing of the slope strengths. When
there were different stability classes inside the same scar, the less stable class inside it
finally defined its classification.
In landslide modeling, the steady-state recharge (q) refers to a value to mimics the
behavior of ground saturation during a large storm (Dietrich and Montgomery 1998).
However, O’loughlin (1986) explained that a quasi-steady state occurs in basins where
drainage flux, hillslope outflow and the boundaries of saturation zones slightly vary. Then,
the present study considered that the conditions of the Cunha River basin during the
analyzed period resembled a quasi-steady state; thus, the real values of the rainfall series
were used in the modeling.
The determination of an actual q value requires the recognition of a rainfall period. The
ratio between the amount of rainfall and total time of this period may represents q (mm/
day). Though this period is associated with successive rainfall events which are capable to
trigger landslides, it is quite difficult to estimate its amplitude. To estimate the period able
to trigger landslides, a value of q was extracted from each q/T ratio which characterized the
four threshold conditions. The selection of q/T threshold values was executed by observing
the coincidence of predict unstable areas and registered landslides scars. After establishing
the q/T threshold values, the q values were calculated with the estimated value of T. These
values of q are related to an accumulated rainfall or critical rainfall.
Each value of q was sought within the rainfall series of the basin. A retrospective
accumulation of the rainfall from the triggering moment of landslides (9 a.m. of November
23, 2008) was calculated. Dividing the rainfall accumulated by the accumulated time,
several rainfall rate values that really occurred in the basin were obtained. When the value
Apostila
123 Pag.266
Nat Hazards
of the rainfall rate becomes equal to the q value calculated from the ratio q/T, the period
and the critical rainfall related to the landslides triggering were determined.
The mean of each input parameter was used in the modeling. According to Ohta et al.
(1983), the values of Ks on the hydrological modeling can be considered an order of
magnitude (about 10 times) higher than those obtained in laboratory measurement due to
the preferential pathways. The Ks values estimated by HIDRUS-1D are, on average, one
order of magnitude smaller than measured (Schaap and Leij 2000). Mota and Kobiyama
(2011) compared the values of Ks measured in laboratory with those estimated by HY-
DRUS-1D of some Brazilian soils whose sampling locations are very close to the present
study. They reported that the values of Ks estimated by HYDRUS-1D were, in general,
from 10 to 100 times smaller than the measured ones. Thus, the value of Ks obtained with
HYDRUS-1D was raised in one order of magnitude for the present study.
Since the values measured for soil strength were similar for all soil samples, their mean
values were applied for the entire basin. The values adopted in the present study are
showed in Table 2.
The results of SHALSTAB simulation, using the parameters of Table 2, are shown in
Fig. 4 where the classification is based on seven stability classes established originally by
Dietrich and Montgomery (1998). The model considered most of the flat areas as
unconditionally stable, even in saturation conditions. Steeper areas were classified as
unstable areas, even in low soil moisture conditions. The unconditionally unstable areas are
extremely steep areas. In the areas where topography is not very flat or very steep, the
hydrological parameters determined the classification. The upslope drainage area has a
large influence on the classification determination. Regions with high flow concentration
due to the relief convergent curvature are almost classified as unstable areas.
All the seven inventoried landslides coincided with the two more unstable classes.
Among them, only one was in the unconditionally unstable class and the others in the
second more unstable class. Although the unconditionally unstable class areas did not
contain more incidences of landslides than the second unstable class, it can be said that
SHALSTAB performance was satisfactory for the Cunha River basin. The mathematical
condition that leads an area to be classified as unconditionally unstable is physically unreal.
The classification of an area as unconditionally unstable indicates an error in the estimation
of parameters, generally soil thickness or soil strength. In a lot of cases, the places where
the model indicated unconditionally instability are sites of bedrock exposure (Dietrich and
Montgomery 1998).
The rainfall condition in Rio dos Cedros city during the second semester of 2008 played a
relevant role for triggering landslides. The daily and accumulated rainfalls from August 1
to November 23, 2008 are demonstrated in Fig. 5. The accumulated rainfall during this
period reached 1,200 mm which is about 2/3 of the mean annual rainfall in the city.
The stability map generated by SHALSTAB was reclassified to obtain the correct
q/T value which could be thought to trigger landslides in this basin. This value of q/T was
varied for four different patterns of classification. The value of log q/T used in each
reclassification was as follows: -3.4, -3.3, -3.1 and -2.8. For selecting these values,
some criteria were used. The smallest value of log q/T (= -3.4) was established when at
least one unstable pixel remained inside each landslide scar. The largest value of log
q/T (= -2.8) was obtained when the unstable area in the basin became larger than stable
area and the simulation results became unreal. The other values were adopted based on
Dietrich and Montgomery (1998). The variation on the log q/T values caused the variation
of density of unstable pixels in the landslide scars (Fig. 6) as well as the total unstable area
in the basin (Table 3).
Using the q/T values adopted for the reclassifications, the value of T and rainfall data,
the values of q, the time period (total number of days) and critical rainfall were calculated
(Table 4). The rainfall series of the basin from 1941 to 2011 was analyzed. Analogous
rainfall periods with the same or higher accumulated rainfall were searched in order to
verify the singularity of the events related to the q values shown in Table 4. In the rainfall
series of the basin, any event similar to the one with the critical rainfall (1,042.55 mm) and
the period (68 days) related to the steady-state recharge of 15.33 mm/day was not found.
Furthermore, 14, 30 and 6 analogous events were identified for log q/T = -3.3, -3.1 and
-2.8, respectively.
Figure 7 shows the complete rainfall series of the basin with daily rainfall values
grouped for 3, 8, 28 and 68 days of accumulation. It is clearly noted that only the critical
rainfall related to 68 days of accumulation had never occurred till November 2008. The
dwellers of the region and the local media had not reported the occurrence of landslides
with similar magnitude in this basin. Therefore, those landslides in Cunha River basin in
Apostila
123 Pag.268
Nat Hazards
Fig. 4 Stability map of Cunha River basin, with seven original classes
Fig. 5 Daily and accumulates rainfall in Cunha River basin during the period from August 01, 2008, to
November 23, 2008
November 23, 2008, were supposed to be triggered by the critical rainfall of 1,042.55 mm
in 68 days. It confirms quantitatively the conclusion of Kobiyama et al. (2010b) where, in
the case of landslides/debris flows in Cunha River basin, the triggering factor was not only
the rainfall intensity but also its accumulated value.
Fig. 6 Reclassification of stability map with different values of log q/T: a -3.4; b -3.3; c -3.1; and d -
2.8
Table 3 Areas in four stability classes in Cunha River basin with different values of log q/T
Class Percentage of area (%)
log q/T = -3.4 log q/T = -3.3 log q/T = -3.1 log q/T = -2.8
For a complementary analysis, the accumulated rainfall and log q/T were calculated for
periods that vary from 1 to 100 days before the landslides occurrence. The rainfall data
series from 1941 to 2008 were verified in order to find the analogous rainfall periods for
each corresponding accumulated rainfall value. Figure 8 shows that in the range from 37 to
92 days of accumulation, there is no analogous period with the same accumulated rainfall,
except the period of 50 days that has one analogous. Although there are other periods
without analogous, the accumulation of 68 days (log q/T = -3.4) is the unique one that
can be supported by a log q/T threshold value adequate to the proposed method. Periods
shorter than 68 days are related to higher log q/T values. If these values are used as rainfall
threshold, excessive unstable area could be created in the basin. On the other hand, periods
Apostila
123 Pag.270
Nat Hazards
longer than 68 days are related to smaller log q/T values. If used as rainfall threshold, it
could not detect the actual localities of landslides occurrence in this basin.
There are several empirical studies that proposed relations between rainfall thresholds
and triggering landslides (Caine 1980; Innes 1983; Larsen and Simon 1993; Aleotti 2004;
Cannon et al. 2008; Guzzetti et al. 2008; Dahal and Hasegawa 2008; Saito et al. 2010).
Although none of them could be applied for 68 days (1,632 h) of duration rainfall, all of
them were tested. The results obtained vary from -87 to ?30 % of the value estimated by
the physically based methodology adopted by this work (*0.64 mm/h). The most similar
value is from the equation proposed by Aleotti (2004), with a difference of approximately
26 %.
Other values of intensity tested and discarded by the present study (related to the
accumulated rainfall of 3, 8 and 28 days) were compared to the values obtained by the
empirical equations. The difference showed variability similar to the early comparison
between empirical equation and the selected intensity calculated by the present study.
Thus, for this case, it is difficult to define the specific rainfall intensity responsible for
triggering the landslides only with the empirical equation. This way, the physically based
methodology proposed in the present study can help to define it.
The q value responsible for triggering the landslides is under the condition of log q/
T = -3.4. This value is the smallest among the four conditions (Table 4) and is related to
Fig. 8 Values of log q/T and number of analogous rainfall periods for different ranges of rainfall
accumulation period
the longer period. Then, it is said that a long rainy period can be as significant as shorter
periods of heavy rainfall for triggering landslides in tropical thicker soils. Heavy rainfalls
that occurred during a short period have higher q values that did not match to the calculated
recharges responsible for triggering landslides. In case of these larger recharges remain for
longer periods; the number of landslides in the studied basin would be much larger. The
landslides which occurred in Cunha River basin were triggered by a smaller recharge that
remains sufficient time to lead some slopes to a less stable condition. In tropical soils,
generally much thicker, the triggering of landslides requires a significant elevation of the
water table which often is not likely to be caused by isolated transient storms.
5 Conclusion
Heavy rainfalls and/or long rainy periods are the main triggering factors for landslides in
Brazil. Then, the present study focused on the Cunha River basin, Rio dos Cedros city
(Brazil), in which a lot of landslides occurred with these factors in 2008. After gaining
several geotechnical parameters through field survey and laboratory test, SHALSTAB with
soil cohesion was applied to identify the areas susceptible to landslides. The simulation
results were compared to the landslides inventory map, which confirmed that this model
had a good performance for this basin.
Rearranging the stability classes from seven to four and comparing the stability map
with the landslide inventory, the log q/T value responsible for triggering the landslides was
determined. After that, assuming that the conditions in the basin resemble a quasi-steady-
state subsurface flow, the q value which is equivalent to the critical rainfall was estimated,
i.e., 15.33 mm/day. By a retrospective accumulation of the rainfall series from the moment
of the landslides occurrence, this q value corresponds to 68 days of accumulation and a
total rainfall of 1,042.55 mm. Analyzing the rainfall series in the study basin from 1941 to
2008, any period with similar characteristics was not found. The calculated q value refers
to a long period of accumulation. It indicates the importance of the water accumulation in
the soil layer since larger recharges for shorter periods which occurred many times since
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123 Pag.272
Nat Hazards
1941 did not trigger large landslides. This result permits to emphasize that the accumulated
rainfall plays a very important role in the landslide triggering mechanism.
Although the steady-state recharge never really occurs in a basin, its value is used by
SHALSTAB to predict unstable areas. According to Dietrich and Montgomery (1998), this
recharge value is not real, but must represents the effect of large transient storms in the
wetness. However, the relation between steady state of recharge and transient storms still
remains unclear, and more work should be done for the question.
Notwithstanding the good performance of SHALSTAB in the present study, there are
still some uncertainties in the analysis. Due to the difficulty to estimate the variability of
several hydrological and geotechnical input parameters in the basin, they were all con-
sidered homogenous in the present study. It could lead to underestimation or overesti-
mation of parameters, which could consequently cause some incoherence to the modeling
results.
The stability map generated by the SHALSTAB classifies the area by a hydrologic ratio
(q/T), which is not very easy to interpret and requires that its results are contextualized for
each basin with different hydrological characteristics. Therefore, in addition to geotech-
nical and topographic parameters, the hydrological data should be measured for a more
precise landslide prediction. In case there is a large error in estimating q/T values, the final
error would spread to the calculation of steady-state recharge, critical rainfall and related
period.
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J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277
DOI 10.1007/s11368-014-0886-4
Received: 1 February 2013 / Accepted: 1 March 2014 / Published online: 18 March 2014
# Springer-Verlag Berlin Heidelberg 2014
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occurrence was approximately five times higher than that parallel to the soil surface, ignoring the edge effect. The
without the phenomenon. infinite slope stability model (Fig. 1) is based on the Mohr-
Despite the fact that landslide conditioning and triggering Coulomb law in which, at the moment of failure, the shear
factors are well-known (Cendrero and Dramis 1996), the stress, τ (N m−2), due to the downslope component of the soil
prediction and mapping of their occurrences are still a chal- weight, is equal to the resistance strength caused by cohesion,
lenge for science and technology communities (Petley 2012). c (N m−2), and by frictional resistance due to the effective
Maps of areas susceptible to landslides are important in basin normal stress on the failure plane:
management. They can provide information for the develop-
ment and elaboration of risk maps and support planning of τ ¼ c þ ðσ−uÞ⋅tanϕ ð1Þ
structural and non-structural measures (Korup 2005).
Bathurst et al. (2005) emphasized the need for hydrologi- where σ is the normal stress (N m−2); u is the pore pressure
cal, physically-based and spatially-distributed models to pre- opposing the normal load (N m−2); and φ is the angle of
dict the occurrence of landslides and to understand their internal friction of the soil (degrees).
relationship with basin characteristics and sediment yield. Selby (1993) proposed a modification to Eq. (1) for an
Generally, hydrological models are coupled with slope stabil- infinite slope:
ity models to predict landslide occurrence. Furthermore, the
ρs ⋅g⋅z⋅sinθ⋅cosθ ¼ cr þ cs þ ρs ⋅g⋅z⋅cos2 θ−ρw ⋅g⋅h⋅cos2 θ ⋅tanϕ ð2Þ
outputs from the coupled models can be combined with digital
topography and implemented in a GIS platform. These models where ρs is the wet soil density (kg m−3), z is the soil depth
compute the factor of safety (FS) for each cell at any time (m), θ is the slope (degrees), ρw is the water bulk density
during a rainstorm and incorporate the results in maps show- (kg m−3), h is the water level (m), cr is the root cohesion
ing the FS values of the slopes. This type of approach allows (N m−2), cs is the soil cohesion (N m−2) and g is the gravita-
the analysis of possible scenarios (rainfall events) with differ- tional acceleration (m s−2). It is noted that the wet soil density
ent probabilities of occurrence (Corominas and Moya 2008). parameter is used due to its similarity to field conditions when
There are several stability models, such as CHASM, a landslide is triggered.
SHALSTAB, SINMAP, TRIGRS, SHETRAN, GEOtop-FS Dividing the portion of the equation (right side of Eq. (2))
and SUSHI (Safaei et al. 2011). Among these models, that represents the soil structuring forces by the portion of the
Shallow Landsliding Stability Model (SHALSTAB) equation that represents the destabilizing forces (left side), the
(Dietrich and Montgomery 1998) and Stability Index FS of the infinite slope can be obtained:
Mapping (SINMAP) (Pack et al. 1998) have a similar con-
struction that utilise hydrological, geomorphic and geotechni- cr þ cs þ ðρs ⋅g⋅z⋅cos2 θ−ρw ⋅g⋅h⋅cos2 θÞ⋅tanϕ
cal features and involve the same input parameters. Although FS ¼ ð3Þ
ρs ⋅g⋅z⋅sinθ⋅cosθ
similar, SHALSTAB has a deterministic approach, while
SINMAP is probabilistic. In this equation, FS=1 is a balanced state, i.e. failure is
The objectives of the present study were, therefore, to: (1) imminent; at FS<1, slope failure takes place and at FS>1, the
summarize SHALSTAB and SINMAP, (2) apply them to the slope is stable. It must be noted that this value does not
Cunha River basin, Santa Catarina State, Brazil and (3) per- represent absolute stability or instability. The stability in-
form a comparative analysis of the results obtained with these creases with an increase of FS values (Selby 1993).
two models. There are some investigations that have com-
pared SHALSTAB and SINMAP (e.g. Meisina and Scarabelli
2007; Andriola et al. 2009). However, since both models are
very important for landslide management, it is still necessary
to carry out this type of comparison with different regional
characteristics.
2 Theory
Apostila Pag.276
1268 J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277
The decrease of FS occurs with an increase of the water 2.3 Shallow Landsliding Stability Model (SHALSTAB)
column due to the reduction of effective stress. Thus, during a
rainfall event, the water table elevation reduces FS. The higher The Shallow Landslide Stability Model (SHALSTAB) is a
the intensity and the longer the duration of the rainfall event, deterministic and distributed model based on a combination of
the higher the probability of slope failure. infinite slope and steady-state hydrological models.
SHALSTAB is integrated into a GIS (ArcView 3.2) through
which the upslope drainage area, elevation and slope values
2.2 Steady-state hydrological model are calculated by using a digital elevation model (DEM), and
these values are assigned to each pixel.
The slope stability/instability condition is directly related to Solving Eq. (2) in terms of h/z (saturated soil layer) results
hydrological factors; therefore, it is essential to have a hydro- in the saturation amount necessary for the landslide to occur:
logical model to estimate soil moisture. The commonest hy-
drological concept adopted for modelling slope stability is the
h ρ tanθ c
steady-state shallow subsurface flow which is described in ¼ s ⋅ 1− þ ð6Þ
TOPMODEL (Beven and Kirkby 1979) and TOPOG z ρw tanϕ cos θ⋅tanϕ⋅ρw ⋅g⋅z
2
q⋅a h
W ¼ ¼ ð4Þ
b⋅T ⋅sinθ z
ρw c
tanθ ≤ tanϕ⋅ 1− þ ð8Þ
ρs cos2 θ⋅ρs ⋅g⋅z
∵T ¼ K s ⋅z⋅cosθ ð5Þ
where W is the soil wetness (m m−1), T is the soil transmissiv- When the unconditionally unstable and stable conditions
ity (m−2 d−1) and Ks (m d−1) is the saturated hydraulic con- are not established, a partial soil saturation can lead to slope
ductivity, considered homogeneous along the soil depth. failure, and Eqs. (4) and (6) can be equated. Thus, the infinite
Fig. 2 Representation of
hydrological model (after
Montgomery and Dietrich 1994)
Apostila Pag.277
J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277 1269
slope and steady-state hydrological models are coupled: water. Although the term “steady-state” is used to name the
model, the q value does not represent a long-term average of
q⋅a ρs tanθ c
¼ ⋅ 1− þ ð9Þ recharge (e.g. annual). It is a rate of effective recharge, for a
T ⋅b⋅sinθ ρw tanϕ cos2 θ⋅tanϕ⋅ρw ⋅g⋅z critical period, required to trigger landslides (Pack et al. 1998).
By replacing Eq. (11) with Eq. (3) and rearranging, the
final formulation of SINMAP is established:
A modification of Eq. (9) in terms of the parameters q and T h q⋅a i
generates the final formulation of SHALSTAB: ca þ cosθ⋅ 1−Min ; 1 ⋅r ⋅tanϕ
FS ¼ T ⋅b⋅sinθ ð12Þ
q b ρs tanθ c sinθ
¼ ⋅sinθ⋅ ⋅ 1− þ ð10Þ
T a ρw tanϕ cos2 θ⋅tanϕ⋅ρw ⋅g⋅z
cr þcs
where ca is the dimensionless cohesion (ca ¼ ρ ⋅g⋅z⋅cosθ ), and r
is the relation between water and wet soil density (r ¼ ρρw ).
s
z T ⋅b⋅sinθ sinθ
The q/T rate determines the relative wetness in terms of Under this condition, if FS<1, the location is considered
uniform recharge state in relation to soil capability in drain unconditionally unstable.
Apostila Pag.278
1270 J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277
Stability Stability classes Parameter range Possible influence of factors not modelled
index
SI>1.5 Unconditionally stable Range cannot model instability Significant destabilizing factors are required for
instability
1.5>SI>1.25 Moderately stable Range cannot model instability Moderate destabilizing factors are required for instability
1.25>SI>1.0 Quasi-stable Range cannot model instability Minor destabilizing factors could lead to instability
1.0>SI>0.5 Lower threshold of stability Pessimistic half of range required for instability Destabilizing factors are not required for instability
0.5>SI>0.0 Upper threshold of stability Optimistic half of range required for stability Stabilizing factors may be responsible for stability
0.0>SI Unconditional instability Range cannot model instability Stabilizing factors are required for stability
3 Materials and methods area at each point. Slope values decrease with coarser DEM
resolutions (Claessens et al. 2005; Wu et al. 2008). The higher
3.1 Study area description the topographic resolution, the more accurately the map re-
produces the drainage area and slope (Dietrich et al. 2001).
In November 2008, an extreme rainfall event triggered floods Dietrich et al. (2001) performed SHALSTAB validation using
and landslides in Santa Catarina state, Brazil, especially in the 10-m grids and suggested that the grid size influences the
Itajaí Valley. The town of Rio dos Cedros, in the Itajaí Valley, critical uniform recharge rate. Although there is no such thing
was declared a state of public calamity due to this rainfall as a ‘perfect’ DEM resolution, and no resolution can represent
event. In this city, 8,561 people (83 % of the total population) the dimensions of all the possible slope failures (Claessens
were directly affected. The floods occurred in the urban area et al. 2005), the resolution adopted by the present study
and the landslides, mainly debris flows, occurred in rural areas possibly represents the more significant landslides that oc-
(Kobiyama et al. 2010). curred in the basin.
Four large landslides and three other minor ones were The landslide scars were determined by visual analysis of
recorded in the Cunha River basin (16.35 km2), in which this the basin orthophotos (1:5,000 scale). Furthermore, several
town in located (Fig. 3). The Cunha River basin is 70 % points of the landslide crown scars were measured using a
covered by dense rainforest and another 20 % is covered by Differential GPS Trimble R3 and 5700 and a Leica TPS-407
pasture. Among the seven significant landslides, six were total station. By delineating the scars and by identifying their
triggered in forested areas and one in pasture. Therefore, the source, transport and deposition areas, a landslide inventory
present study chose this basin for a comparative analysis of the map was made and used to calibrate the models. In the present
SHALSTAB and SINMAP models. study, the area delimited by the inventory considered only the
This basin varies from 90 to 860 m a.m.s.l., with a mean source of the landslides. The transport and depositional areas
slope of 8 %. The basin is composed of gneiss (94 %) and were not treated.
shale (6 %). The inceptisols, classified as cambisoils by the
Brazilian System of Soil Classification (EMBRAPA 2009), 3.2.2 Rainfall data
are predominant and occupy about 75 % of the basin (IBGE
2003). These soils are mainly associated with steep slopes and The hourly rainfall data obtained at three rain gauge stations
are composed of clayey material in this basin. The other 25 % located in the town of Rio dos Cedros (Fig. 3) were converted
of the basin is occupied by ultisols (classified as argisols in the to a daily uniform recharge rate. The extension of the rainfall
Brazilian classification). period was determined by Michel et al. (2011). A uniform
recharge rate of 15.33 mm day−1 was adopted as input data.
3.2 Input parameters No evidence of rills, ravines or any overland flow was observed
during the field survey. Therefore, it was assumed that no
3.2.1 Topographic data significant overland flow occurs in the basin and, consequently,
that the soil recharge rate is equal to the rainfall intensity.
The DEM was made using 5 m-counter lines obtained in a
survey with a Leica ADS-40 sensor set-up in an airplane. The 3.2.3 Soil data
Topo to Raster toolbox in ArcGis 9.3 was used to interpolate
the contour and to create the DEM with a pixel resolution of Soil samples were collected at 10 sites inside the landslide
5 m. The DEM was used to determine the slope and drainage source areas whose soil characteristics represent the slope
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failure conditions. Laboratory tests were carried out on the soil by Schaap and Leij (2000); Mota and Kobiyama (2011)
samples to obtain the shear strength parameters, density and compared the values of Ks measured in the laboratory with
particle size distribution of the soil. The shear strength param- those estimated by HYDRUS-1D of some Brazilian soils
eters of soil (φ and c) were determined by the direct shear test whose sampling locations are very close to the present study.
with undisturbed soil samples. The value of ρs was determined They reported that the values of Ks estimated by HYDRUS-
from the relation between mass and volume of the wet undis- 1D were, in general, 10 to 100 times smaller than the mea-
turbed soil. sured ones. To take into account the HYDRUS-1D estimation
Due to the difficulty of performing the Ks tests in situ uncertainty, the value of Ks adopted by the present study was
because the landslides occurred at very steep and remote 10 times larger than the estimated one. Though the Ks value
localities, the particle size distribution of soil samples was generally decreases with depth of forest soils, the present
used to estimate Ks by the HYDRUS-1D software that con- study considered its value constant. The soil depth was esti-
tains the Rosetta Lite Version 1.1 model proposed by Schaap mated through field observations of the landslide scars. The
et al. (2001). The Ks values estimated by HIDRUS-1D are, on value adopted for the entire basin was considered equal to the
average, one order of magnitude smaller than those measured soil depth where the slope failure occurred.
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a substantial soil layer on a steep slope. However, this partic- class represents the range of SI which in turn represents the
ular situation is not usually observed naturally because steep probability for each pixel to obtain an FS>1. Since the initial
slopes normally suffer from high rates of surface erosion. equations of SINMAP and SHALSTAB are not very different,
Therefore, this situation, as described by the mathematical their results are quite similar. Locations with steep slopes, as
model, is not consistent with the real world. well as the concave relief that tend to have larger contribution
areas and higher soil moisture, have lower stability indexes.
4.2 SINMAP The recorded landslide scars coincide with the three classes
of lower stability, where, according to SINMAP classification,
The stability map resulting from SINMAP simulation is char- the SI value is <1. None of the recorded landslides were
acterized with six classes for the studied basin (Fig. 6). Each identified as unconditionally unstable. Similar to an
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1274 J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277
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J Soils Sediments (2014) 14:1266–1277 1275
Table 5 Success and error indexes for the SHALSTAB and SINMAP witnesses and other kinds of records makes it very difficult
simulation results
to say exactly where the movement began. Thus, only a few
SHALSTAB SINMAP areas (pixels) inside the scar could be really unstable, and
relaxation of tensions after the beginning of the movement
Success index (SuI) (%) 19.55 94.12 could propagate the instability to the surrounding areas,
Error index (ErI) (%) 6.35 30.22 resulting in a large landslide area. Therefore, there is some
uncertainty in applying the SuI/ErI relation which is based on
the unstable area inside the scar.
According to Dietrich et al. (2001), the best results of a
(Table 5). The calibration processes for SHALSTAB resulted slope stability model are gained when the landslide scars
in a reduction of unstable areas in the Cunha River basin until coincide with the unstable areas and at the same time these
the point that only a few unstable pixels could be found inside unstable areas represent a minor area over the whole basin.
the landslide scar. Consequently, the calibration generated a Figure 7 presents the cumulative percentage of the area and
small value of ErI because a few locations were classified as landslides in each stability class. In the SHALSTAB case, all
unstable over the basin. Furthermore the SuI value was also the landslides coincide with the unconditionally stable and log
small, compared with the value obtained with SINMAP. q/T<−3.4 classes (Fig. 7a). In a reclassification of the stability
Since SINMAP is a probabilistic model, its simulation map by considering these two classes as unstable, only 6 % of
results refer to a probability of failure. In other words, the the area of the basin was unstable. On the other hand, in the
probabilistic distribution makes several combinations in the case of SINMAP, the landslides were included in the uncon-
input parameters, which causes a tendency to classify a rela- ditionally unstable, 0.0<SI<0.5 and 0.5<SI<1.0 classes
tively large area in the basin, as unstable. Thus, the value of (Fig. 7b). Grouping these three classes in a single unstable
SuI is very high (94 %) in the SINMAP simulation. On the class, 30 % of the total area of the basin was classified as
other hand, SINMAP has also a high value of ErI, which unstable. In the comparative map, the area considered as
means that a lot of the areas identified as unstable do not unstable by both models represents 6 % of the total basin area,
coincide with the landslide scars. while the stable area identified by both represents 70 %
According to Sorbino et al. (2010), a higher value of the (Fig. 8). The areas characterized as SHALSTAB stable/
SuI/ErI relation indicates a better performance of a model. For SINMAP unstable are encountered in 24 % of the total area.
the SHALSTAB and SINMAP calibrations, the SuI/ErI values Thus, for each single pixel classified as unstable by
were 3.08 and 3.11, respectively. Therefore, the SINMAP SHALSTAB, there are about five SINMAP unstable pixels.
model has a better performance than SHALSTAB for the From the analysis of maps made with the two models, if
Cunha River basin. However, the SuI/ErI values of the two SHALSTAB is correctly calibrated based on hydrological
models were very similar. Thus, it is not appropriate to make parameters (q/T), its results could be used more accurately in
such a conclusive statement about model performance. In fact, the prediction of landslide areas. Although SINMAP showed
there is a question as to whether all the areas inside the better calibration related to landslide scars, its classification
landslide scar can be considered unstable. The absence of over the basin results in an overestimation of stability areas.
Fig. 7 Cumulative percentage of the area of landslide scars and the area of each stability class. a SHALSTAB and b SINMAP
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Fig. 8 Comparative map between stable and unstable areas as determined by SHALSTAB and SINMAP
Therefore, SINMAP should be applied at the preliminary SHALSTAB obtained better results than SINMAP. Only 6 %
assessment stage or for the first approach to landslide of the total area of the basin was classified as unstable by
management. SHALSTAB, while 30 % was classified by SINMAP.
The SHALSTAB results appropriately represent topo- Besides the uncertainties related to the difficult determina-
graphic and hydrological factors that control landslide occur- tion of the values of the input parameters—because of their
rences. Thus, all landslide scars match unstable classes and the heterogeneous distribution over the basin and also related to
basin was not classified excessively as unstable. Thus, topographic features that the DEM cannot perfectly repre-
SHALSTAB is recommended over SINMAP for predicting sent—stochastic models such as SINMAP possess a certain
landslides in the Cunha River basin. range for each input parameter. This can potentially increase
the uncertainty of the results. The SHALSTAB model is more
able to identify specific areas prone to shallow landslides and
5 Conclusions can be used by managers as an additional tool in fieldwork.
The conclusion is that SHALSTAB is better than SINMAP in
The present study compared two slope stability models, predicting landslides in the Cunha River basin.
SHALSTAB and SINMAP, by mapping areas susceptible to It is important to mention that the values of all input
landslides (stability and instability areas) in the Cunha River parameters of both models contain uncertainties. The greater
basin, Brazil. The results obtained from the simulation of both the number of soil samples and laboratory tests, the more
models are satisfactory for the prediction of landslides in this appropriate is the representation of parameter variability over
basin. All landslide scars matched the SHALSTAB and the basin; however, the description cannot be perfect. The
SINMAP unstable classes. present study confirms that, because of the actual difficulty
In a comparative analysis, the best values of SuI/ErI ob- in recognizing the subsurface conditions that dictate pore-
tained from maps generated with SHALSTAB and SINMAP pressure evolution and material strength, no slope failure
were 3.08 and 3.11, respectively. Reclassifying the stability model can predict a landslide with certainty at high spatial
map to match all landslide scars with the unstable classes, and temporal resolution (Wilcock et al. 2003).
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Apostila Pag.286
DELIMITAÇÃO ESPACIAL DE DIFERENTES PROCESSOS EROSIVOS NA
BACIA DO RIO PEQUENO, SÃO JOSÉ DOS PINHAIS – PR
SANTOS, I.; KOBIYAMA, M. D. Delimitação espacial de diferentes processos erosivos na bacia do rio
Pequeno, São José dos Pinhais – PR. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESASTRES NATURAIS, 1., 2004,
Florianópolis. Anais... Florianópolis: GEDN/UFSC, 2004. p. 174-187. (CD-ROM)
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo aplicar o modelo geomorfológico UMBRAL para delimitar quatro tipos
de processos erosivos (erosão difusa; por lixiviação; linear; e por deslizamento) da bacia hidrográfica do rio
Pequeno, no município de São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, Paraná, Brasil. O modelo
UMBRAL pressupõe que a evolução do relevo está intimamente ligada à dinâmica da água na bacia, sendo
que a determinação de onde e quando acontecem os diferentes processos erosivos depende das propriedades
hidráulicas e mecânicas do solo, das características do relevo e dos processos hidrológicos. As propriedades
hidráulicas do solo foram determinadas através da simulação do TOPMODEL e as propriedades mecânicas
por ensaios geotécnicos de cisalhamento direto. Assim, através de expressões simples foi possível combinar
estas características da paisagem e delimitar espacialmente onde ocorrem os diferentes processos erosivos. O
mapa de processos erosivos, obtido com o UMBRAL, foi analisado frente ao mapa de uso do solo. O
UMBRAL permitiu a delimitação dos processos erosivos atuantes na bacia e apresentou resultados bastante
coerentes com as características ambientais.
Palavras-chave: UMBRAL, erosão, encosta, dinâmico da água.
ABSTRACT
The objective of the present work was to apply the geomorphologic model UMBRAL to delimitate four types
of erosion processes (diffusive erosion, seepage erosion, overland flow erosion, and landslide erosion) in the
Pequeno river watershed in the municipal of São José dos Pinhais, Metropolitan Region of Curitiba, Paraná
State, Brazil. The UMBRAL model supposes that the relief evolution is strongly linked to the water
dynamics in the watershed. In this model, the determination of where and when these four erosion processes
occur depends on the hydraulic and mechanical properties of the soil, the relief characteristics and the
hydrological processes. The hydraulic and mechanical properties of the soil were determined through the
TOPMODEL simulation and the geotechnical study with the direct shear test, respectively. By using simple
expressions, it was possible to combine these landscape characteristics and to delimitate spatially where the
different erosion processes (diffusive erosion; seepage erosion; overland flow erosion; and landslide erosion)
occur. A map of erosion processes, obtained with the UMBRAL, was analyzed with the land use map. The
UMBRAL showed the delimitation of the actual erosion processes in the watershed, which is a quite coherent
result compared to the environmental characteristics.
Key-words: UMBRAL, erosion, hillslope, water dynamics.
1. INTRODUÇÃO
A erosão é um conjunto de processos que envolvem o desprendimento, transporte e
deposição de partículas sólidas do solo e da rocha, cujos agentes erosivos são a água, o
2. ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo é a “bacia hidrográfica do rio Pequeno” como área afluente à
estação fluviométrica Fazendinha (65010000) que se localiza nas coordenadas 25°31’ de
latitude sul e 49°11’ de longitude oeste. Sendo sua área de 104 km², ela está compreendida
integralmente nos limites do município de São José dos Pinhais, no estado do Paraná. A
descrição detalhada da área de estudo consta de SANTOS & KOBIYAMA (2004).
O uso/ocupação do solo é apresentado na Tabela 1 e na Figura 1. Pode-se observar
que as atividades de maior impacto, vinculadas com as classes de uso do solo Urbano e
Agricultura/solo exposto correspondem a uma pequena parcela (7%) da bacia e estão
localizadas principalmente no baixo curso.
3. MATERIAIS E MÉTODO
3.1. Modelagem de processos erosivos
Através de dados detalhados do modelo numérico de terreno (MNT) e de equações
que descrevem fisicamente os processos hidrológicos e erosivos, torna-se possível fazer a
delimitação espacial dos diferentes processos erosivos que ocorrem na bacia. Processos
hidrológicos como escoamento superficial hortoniano e escoamento superficial por
saturação (tipo Dunne -saturation excess overland flow), combinados com características
geomorfológicas do local como declividade e área de contribuição da encosta de montante,
T
a≥ ⋅M (1)
R
onde a é a área de contribuição por unidade de contorno (m); T é a transmissividade do
solo (m2/s); R é o escoamento lateral subsuperficial do solo saturado, equivalente a
precipitação não interceptada (m/s); e M é o gradiente hidráulico, sendo considerado igual
a declividade do terreno (m/m).
O procedimento para obter a equação (1) é igual aos de BEVEN & KIRKBY
(1979) e O’LOUGHLIN (1986) para estimar a distribuição da umidade superficial do solo
em bacias hidrográficas. Esta equação indica que, quanto maior a precipitação (R), menor o
valor a necessário para gerar área saturada. Também mostra uma relação log-linear
positiva entre a e M.
Plotando-se em um gráfico valores do índice geomorfológico, a, contra valores de
M, para cada pixel no MNT (modelo numérico do terreno), pode-se traçar uma linha a
partir dos parâmetros hidrológicos T/R, sobre a qual os pontos apresentam condição
saturada (Figura 6). Nas regiões abaixo deste limite, ou seja, que não se encontram
saturadas à superfície, apresentam potencial para desenvolver somente erosão do tipo
laminar ou difusa.
Nas regiões saturadas a precipitação incidente irá provocar, juntamente com o
escoamento de retorno, o escoamento superficial por saturação que potencialmente pode
provocar erosão superficial. Nas regiões saturadas podem ocorrer erosões subsuperficiais
do tipo Dunne (seepage), quando as condições de coesão do solo permitem a liquefação.
2 ⋅ τ c3 T ⋅M
acs ≥ + (2)
k ⋅υ ⋅ ρa ⋅ g ⋅ R ⋅ M
3 2 2
R
onde acs é a área crítica por unidade de contorno necessária para a ocorrência de erosão por
escoamento superficial por saturação (m); τc é a tensão de cisalhamento crítica (N/m²); k é
a constante ligada à geometria da superfície (adimensional); υ é a viscosidade cinemática
(m²/s); ρa é a densidade da água (=1000 kg/m³); e g é a aceleração da gravidade (=9,8
m/s²). A constante k está relacionada com o número de Reynolds e seu significado físico é
discutido em MORRE & FOSTER (1990) e GERITS et al. (1990).
A equação (2) mostra o limite denominado de umbral de erosão linear. Os valores
posicionados acima e a direita desta linha apresentam erosão linear (Figura 6).
Um dos modelos mais simples e mais utilizados para determinar a instabilidade de
vertentes é o modelo da vertente infinita (MONTGOMERY & DIETRICH, 1994). Unindo-
se hidrologia de vertente com um modelo de instabilidade de vertente, chega-se na seguinte
equação para obter a área crítica para deslizamento:
M T ⋅M
acd ≥ 2 ⋅ 1 − ⋅ (5)
tan φ R
Através de dados detalhados do modelo numérico do terreno e das equações (1), (2)
e (5) é possível delimitar na paisagem regiões com predominância dos diferentes processos
de produção e transporte de sedimentos e dos diferentes mecanismos de inicialização de
canais, ou seja, é possível fazer a delimitação espacial dos diferentes processos erosivos
que ocorrem em bacias hidrográficas.
Mapa Mapa
de solo Topográfico
Coleta de Digitalização
amostras
Espacialização
Análise de (x, y, cota)
laboratório
Índice [ ]
geomorfológico
[ ]
MNT Declividade
Modelo de
Parâmetros [ C, C ]
Geotécnicos Processos
Parâmetros [ ]
Hidrológicos Erosivos
[ ] UMBRAL
Precipitação
TOPMODEL: Precipitação:
Dados históricos Umbral de erosão
Log a
Log M
Para estimativa do valor médio do ângulo interno de fricção (φ) foram reunidos os
dados dos 18 ensaios de cisalhamento direto realizados em amostras representativas dos
solos da bacia. Foi estabelecida a envoltória média de resistência, resultando em um ângulo
interno de fricção de 28,14° e coesão de 13,6 kPa.
100
y = 0.7059x0.3761
R2 = 0.1742
Tensão de Cisalhamento Crítica (Pa)
y = 0.0068x0.8095
R2 = 0.2084
10
Todos os ensaios
Solos coesivos
Potência (Todos os ensaios)
Potência (Solos coesivos)
1
1000 10000 100000
Coesão (Pa)
Figura 3 – Relação entre coesão e tensão de cisalhante crítica.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 6 mostra o gráfico resultante da simulação do modelo UMBRAL para a
bacia do rio Pequeno, contendo os umbrais de delimitação dos diferentes processos
erosivos em função da declividade e da área de contribuição unitária. A Figura 7 mostra o
mesmo gráfico juntamente com os pontos que representam os pixels do MNT da bacia
estudada. Pode-se perceber uma grande concentração de pontos no entorno da declividade
0,1 m/m e com área de drenagem unitária próxima de 100 m²/m.
A partir da simulação do modelo UMBRAL é possível estabelecer um zoneamento
dos processos erosivos, espacializando os resultados apresentados na Figura 7. Para isso os
pixels foram classificados segundo a região erosiva, resultando no mapa apresentado na
Figura 8.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O UMBRAL permitiu a delimitação dos processos erosivos atuantes na bacia e
apresentou resultados bastante coerentes com as características ambientais. Isso indica que
os parâmetros, que possuem representatividade física, foram estimados de forma correta.
Indica também que o modelo é adequado para estabelecer umbrais de erosão e a
delimitação espacial dos processos erosivos.
Dos resultados da simulação do modelo UMBRAL, destaca-se: a erosão difusa
atinge 15,4% da área total e está presente em toda a extensão da bacia, localizada nos
divisores das microbacias internas; a erosão por lixiviação atinge 35,6% da área total, está
mais presente nas partes inferior e média da bacia, junto às áreas saturadas de relevo plano;
a erosão linear atinge 45,2% da área total e está presente em toda a extensão da bacia,
localizada ao longo da rede de drenagem; e a erosão por deslizamento atinge 3,8% da área
total e está mais presente no alto curso do rio Pequeno, localizada junto às maiores
declividades.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEVEN, K. J.; KIRKBY, M. J. A physically based, variable contributing area model of
basin hydrology. Hydrological Sciences Bulletin, 24, p. 43-69, 1979.
DIETRICH, W. E. et al. Erosion thresholds and land surface morphology. Geology, v.20,
p.675-679, 1992.
GERITS, J. J. P. et al. Overland flow and erosion. In. ANDERSON, M. G.; BURT, T. P.
(Eds.) Process studies in hillslope hydrology. J. Wiley, 1990. p. 173-214.
MORRE, I. D.; FOSTER, G. R. Hydraulics and overland flow. In. ANDERSON, M. G.;
BURT, T. P. (Eds.). Process studies in hillslope hydrology. J. Wiley, 1990. p. 215-254.
ORIGINAL PAPER
Received: 11 January 2011 / Accepted: 9 April 2011 / Published online: 1 May 2011
Ó Springer Science+Business Media B.V. 2011
Abstract The rainfall events that occurred in the Cubatão do Norte River watershed,
Santa Catarina State, Brazil, in 2008, were characterized by both high intensities and
amounts and triggered landslides in this watershed. The objective of the present study was
to analyze the influence of landslides on the turbidity and the total solid concentration (TS)
in this river using turbidity, TS, and river discharge data obtained from March 23, 2008, to
June 11, 2010. The comparison between turbidity and discharge patterns implies that the
landslide process was not continuous and increased the turbidity intermittently and
irregularly. The sediment yield during the landslide occurrence was approximately five
times higher than without the landslide, even though the discharges were similar. The
turbidity/discharge relationship during the landslide occurrence was markedly different
from that before and after the occurrence. The correlation coefficients between turbidity
and TS showed that the landslide significantly changed the sediment yield in this water-
shed. The result indicates that sediment yield estimations at the watershed level should be
treated more carefully when landslides occur.
1 Introduction
Sediment yield results from erosion processes (detachment, transport, and sedimentation)
that naturally occur in watersheds. Environmental factors such as water and wind dissect
the landscape, and materials are transported and deposited. The floodplains where the
majority of the world’s population lives are formed by such processes over geologic time.
The sediments carry nutrients that fertilize the land and transport microorganisms and
organic matter, which may result in improved fluvial ecology. Hence, it can be said that the
sediments may exercise beneficial effects and that societal development might not happen
without sediment yield.
When an abrupt and high yield of sediment occurs and adversely affects a society, this
phenomenon is called sediment disaster. Excessive suspended sediment concentration (SS)
can degrade water quality. The light and heat interception in the water due to the high SS
reduces photosynthesis, which is essential to the health of water bodies, and modifies the
aquatic ecosystem. Furthermore, bedload and deposited suspended sediment can decrease
water depth, hampering navigation and causing local floods more frequently. Since a
society is embedded in the sediment production ecosystem, the instability of this system
contributes to sediment disasters.
To reduce losses associated with natural disasters, it is important to understand the
mechanisms that cause these phenomena (Kobiyama et al. 2006). One of the typical
sediment disasters is the landslide. Recently, its influence on sediment supply and delivery
has been investigated both in the laboratory and through field observations (Peart et al.
2005; Schwab et al. 2008; Acharya et al. 2009). However, these kinds of investigations are
still rare.
The objective of the present study was to analyze how the landslides changed the
turbidity and the total solid concentration (TS) in the Cubatão do Norte River watershed,
Santa Catarina State, Brazil, which occurred at the end of 2008. The intensity and total
amount of rainfall in this state were extremely high at that time (Kobiyama et al. 2010). It
is important to report the sediment-related behavior in the context of the hydrological
cycle, especially in the hydrograph.
2 Methods
The Cubatão do Norte River watershed (total area of 492 km2) encompasses Garuva and
Joinville cities in Santa Catarina state, Brazil; 80% of the watershed is in Joinville. The
main channel of this watershed is 88 km long. Its headwater and mouth are in the Quei-
mada Sierra (at an altitude of 1,100 m) and at the estuary of Babitonga Bay, respectively
(Gonçalves et al. 2006). Silveira et al. (2009) analyzed the history of floods in Joinville and
showed that this watershed had frequently suffered from them since its foundation in 1851.
At the middle of this watershed, it was installed an infrastructure for water capture and
treatment by the Water Company of Joinville (CAJ), which is responsible for the drinking
water supply in this city. The Cubatão Drinking Water Treatment (DWT) plant normally
provides 10 L/s to Araquari city and 1,200 L/s to Joinville city, which currently accounts
for 70% of the total water consumption in the latter. At the convenience of the present
study, the DWT plant location is considered the outlet of the Cubatão do Norte River
watershed (CNRW). At this point, the CNRW has an area of 375 km2, the main river is
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123 Pag.302
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1079
Fig. 1 Location of the Cubatão do Norte River watershed, Santa Catarina State, Brazil
56 km long, and its minimum, mean and maximum altitudes are 40, 750, and 1,500 m,
respectively (Fig. 1).
The CNRW is in the Santa Catarina Granulite Complex, in a metamorphic embasement
from the Archean/Proterozoic composed mainly of granulitic gneisses, magmatic gneisses,
and quartzites, with iron formations and dykes of metabasic rock. Furthermore, there are
alkaline granite batholiths from the Proterozoic/Paleozoic, and in the Serra do Mar region
occur the Campo Alegre and Corupá volcano-sedimentary basins, with diabase dykes and
quaternary sediments (Gonçalves and Kaul 2003).
The CNRW is inserted in the Atlantic Tropical Forest domain, which features a high
biodiversity. The Atlantic Tropical Forest is one of the most threatened forests in the
world, recognized by the UNESCO as a biosphere reserve (Trein 2003; UNESCO 2010).
The CNRW relief is characterized by the São Bento do Sul Plateau (landscape with a
dense drainage network), the Serra do Mar (an arrangement of crests, peaks, ridges,
mountains, and scarps), and the Serras Cristalinas Litorâneas (mountainous terrain and
scarps) (Rosa 2003). The native forests in the Serra do Mar and in the São Bento do Sul
Plateau are extensively transformed to pine reforestation. However, the native forests are
well preserved in the Serras Cristalinas Litorâneas (Trein 2003).
The climate in the region is subtropical humid, characterized by two seasons: winter and
summer. The mean annual precipitation amount is 1,900 mm. During summer, the pre-
cipitation events are predominantly intense convective rainfall storms. Furthermore, there
is an important orographic effect due to Serra do Mar. During winter, there is a decrease in
the precipitation (Veado et al. 2003).
At the DWT plant, the CAJ automatically measures various water quality parameters for
both raw and treated water, including the turbidity at 30-min intervals. Moreover, the total
solid concentration (TS) of raw water is monitored monthly. TS and turbidity were ana-
lyzed by the methods outlined in the Standard Methods for the Examination of water and
Wastewater (2540B–total solids dried, and 2130B–turbidity) (APHA et al. 1998). At the
same location, the Hydrology Laboratory (LabHidro) of Federal University of Santa
49°11'45"W
26°00'30"S N
r
ve
Ri
te
Nor
do
tão
ba
Cu
r
ve
Ri
rte
No
DWT plant
do
tão
ba
Cu
23°13'45"S
0 10 km
Landslide 48°56'00"W
Fig. 2 Location of the Drinking Water Treatment (DWT) plant and the landslide
Fig. 3 Aerial photographs. a Landslide near the Cubatão River. b Confluence of Quiriri River to Cubatão
do Norte River
Catarina (UFSC) installed a river and rain gauge station that automatically measures river
water level and rainfall every 10 min (Fig. 2).
The present study used the rainfall, river water level, turbidity, and TS data obtained
from March 23, 2008, to June 11, 2010.
Since surface access to their localities by land was extremely difficult, the landslides that
initiated the mass movements in late November 2008 were first observed by helicopter
(Fig. 3). Thereafter, the extent of the largest landslide was surveyed with a GPS. It was a
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123 Pag.304
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1081
rotational landslide followed by a debris flow that transported the sediment to the Cubatão
do Norte River. The dimensions of the landslide are approximately 35 m (width) by 3 m
(depth) by 750 m (debris flow travel distance). The mass movements were evaluated by
comparing hydrographs, turbidity, and TS. Figure 3b clearly shows the influence of
landslides on the river turbidity.
In this study, the rainfall data of the gauge located at the DWT plant were used as mean
rainfall over the whole CNRW. Based on the data presented by Grison et al. (2008), the
stage–discharge curve was established as follows:
Q ¼ 10:945 H 2:9 ð1Þ
where Q is the discharge (m3/s), and H is the water level (m).
By using 28 contemporaneous data of turbidity and TS, which were obtained before and
after the landslide occurrence, it was verified that the probability distributions of both the
variables were not normal. Therefore, its normality could be gained by applying the Box–
Cox transformations (Box and Cox 1964). Based on the maximum log likelihood, the best
value for the parameter k was determined (Table 1). After confirming that its normality
was guaranteed, the correlation coefficients, Pearson’s r and Spearman’s R, were calcu-
lated between these two variables.
Figure 4 shows the 10-min hydrograph and hyetograph for the period November 1, 2008,
to December 31, 2008. During this period, landslides occurred and caused a sudden
increase in turbidity. It should be noted that rainfall values were very high, reaching up to
60 mm/h.
Before and after the landslide occurrences, both discharge and turbidity were well
correlated (Fig. 5a, c). On the other hand, this correlation can be disrupted by some
external factors. For example, when landslides occur, turbidity values sometimes markedly
increase, while discharge displays a little or no change. Figure 5b illustrates how the
turbidity sharply increased on two days: November 30, 2008, and December 3, 2008. The
turbidity pattern implies that mass movement process was not continuous. In other words, a
landslide can trigger an increase in sediment concentration intermittently and irregularly.
The linear correlation between turbidity and discharge can be observed under different
conditions (with and without landslides) (Fig. 6). With landslides, the correlation is not
significant at 95% confidence interval. Without landslides, the correlations are consider-
ably high at the same confidence interval.
Lewis (1996), Pavanelli and Bigi (2005), and Wass and Leeks (1999) found a statis-
tically significant relationship between turbidity and suspended sediment concentration
4
Rainfall (mm/10 min)
10
12
14
16
18
0.7
0.6
Discharge (mm/10 min)
0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
0.0
1-Nov 7-Nov 13-Nov 19-Nov 25-Nov 1-Dec 7-Dec 13-Dec 19-Dec 25-Dec 31-Dec
Time (10 min)
Fig. 4 Ten-minute hyetograph and hydrograph in the Cubatão do Norte River watershed during the period
November 1, 2008, to 31 December 31, 2008
(SS). The present study compared turbidity with TS, considering that there were no SS data
available and TS value can include SS information. The turbidity and TS behaviors during
the whole period are shown in Fig. 7. Though the period before the landslide occurrence is
shorter than that after its occurrence, it can be observed that the behavior of the variables
before the occurrence is rather different from that after its occurrence.
Table 2 shows the correlation coefficients between turbidity and TS. The linear cor-
relation (Pearson’s r) is a little higher than the nonparametric statistics (Spearman’s R). By
considering the whole period, it is affirmed that both the variables do not have any kind of
correlation. Then, the data were divided into two phases: before and after the landslide
occurrence. A statistically significant correlation between turbidity and TS before the
occurrence can be found at 90% confidence interval. On the other hand, after the occur-
rence, this correlation does not exist anymore. Thus, the landslide represents a kind of
rupture at the sediment yield process in this watershed.
The TS mean value during the landslide occurrence period was much higher than that
without the landside (Table 3). The sediment yield during the occurrence was
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123 Pag.306
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1083
Turbidity (NTU)
0.10 150
0.08
0.06 100
0.04
50
0.02
0.00 0
29-Oct-08 30-Oct-08 31-Oct-08 1-Nov-08 2-Nov-08 3-Nov-08 4-Nov-08 5-Nov-08 6-Nov-08
0.26
Turbidity 1200
0.24
Turbidity (NTU)
0.22 1000
0.20
800
0.18
600
0.16
0.14 400
0.12
200
0.10
0.08 0
27-Nov-08 28-Nov-08 29-Nov-08 30-Nov-08 1-Dec-08 2-Dec-08 3-Dec-08 4-Dec-08 5-Dec-08
0.09
Turbidity 250
0.08
Turbidity (NTU)
0.07
200
0.06
0.05 150
0.04
100
0.03
0.02
50
0.01
0.00 0
21-Oct-09 22-Oct-09 23-Oct-09 24-Oct-09 25-Oct-09 26-Oct-09 27-Oct-09 28-Oct-09 29-Oct-09
Fig. 5 Discharge and turbidity: a October 29, 2008, to November 5, 2008 (before the landslide occurrence);
b November 27, 2008, to December 4, 2008 (during the landslide); c October 21–28, 2009 (after the
landslide occurrence)
approximately five times higher than without the landslide, although the discharges are
similar among the compared days.
This landslide raised serious problems at the DWT plant. Part of raw water is normally
used to clean the DWT plant filters by the backwash process. However, the landslide
affected the raw water quality, which caused the necessity to use the treated water for
cleaning the filters during the disaster period. Then, the drinking water supply was inter-
rupted on December 3, 2008, and was reduced about 20–25% for a few hours. Figure 8
shows the water with extremely high turbidity upstream of the DWT plant.
(a) (b)
0.16 0.27
0.08
0.12
0.06 0.09
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 0 200 400 600 800 1000 1200 1400
Turbidity (NTU) Turbidity (NTU)
(c)
0.10
Discharge (mm / 10min)
0.09
0.08
0.07
0.06
0.05
0.04
0.03 R2 = 0.791
CI = 95%
0.02
n = 384
0.01
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Turbidity (NTU)
Fig. 6 Correlation between discharge and turbidity. a October 21–28, 2008 (before the landslide
occurrence); b November 27, 2008, to December 4, 2008 (during the landslide); c October 21–28, 2009
(after the landslide occurrence)
80
Turbidity 120
TS
Turbidity (NTU)
03-Dec-08:
60 landslide occurrence 100
TS (mg/L)
80
40
60
40
20
20
0 0
Table 2 Correlation coefficients between turbidity and TS for the considered periods
Period n Pearson’s r p-level Spearman’s R p-level CI
Apostila
123 Pag.308
Nat Hazards (2011) 59:1077–1086 1085
Fig. 8 High turbidity at the DWT plant: a flocculants and decanters, b water capture point, and c Parshall
flume
The landslide occurrence in the Cubatão do Norte River watershed and its influence on
water turbidity and total solid concentration were reported and discussed. The landslide
yields sediments in rivers. Hence, it can be considered a kind of erosion process. It was
found that the sediment yield by the landslides was intermittent and irregular. Thus, the
mechanism of sediment yield by the landslide is very different from that of surface erosion
such as sheet and rill erosion. It implies that models that consider only these types of
erosion cannot properly simulate the sediment yield in watersheds where landslide
occurrences yield substantial quantities of sediment (Bathurst et al. 2007; Acharya et al.
2009).
Furthermore, it was found that TS and turbidity were correlated before the landslide
occurrence, but not anymore after the occurrence. Therefore, landslides can represent a
kind of rupture in the sediment yield processes.
Acknowledgments The present work was supported in part by the National Research Council of Brazil
(CNPq) through the Grant No. 555421/2006-6. The authors are thankful to the Water Company of Joinville
and the members of the LabHidro-UFSC for advice and support.
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123 Pag.310
7 MAPEAMENTO DE VULNERABILIDADE, PERIGO E
RISCO
Apostila Pag.311
enfrentamento das situações emergenciais, na evacuação da população frente a um perigo
eminente, nas operações de resgate, na restauração das áreas afetadas, etc. Além disso, nas
ações conjuntas entre poder público e comunidade, pode-se identificar as comunidades mais
afetadas e realizar trabalhos de educação, capacitação e conscientização, visando sempre à
diminuição do número de pessoas afetadas.
A seguir, encontram-se artigos que demonstram os conceitos de parâmetros e a
metodologia para elaboração de mapas da temática em questão:
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CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line
http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html Instituto de Geografia ufu
ISSN 1678-6343 Programa de Pós-graduação em Geografia
Masato Kobiyama
Prof. Dr. Departamento de Eng. Sanitária e Ambiental (CTC/UFSC)
kobiyama@ens.ufsc.br
RESUMO
ABSTRACT
The aim of this work was to realize the risk mapping of natural disasters for the Santa
Catarina State, Brazil. These natural disasters are associated to severe atmospheric
instabilities. The risk index was obtained for each municipality using hazard, vulnerability, and
resilience parameters. The hazard index was obtained through the frequency of natural
disasters; the vulnerability index through the sum of the DD, IP and PI variables; and the
resilience index was given by the IDHM. The 2,881 disasters were associated to atmospheric
instabilities, presenting a mean value of 120 events/year. 1,299 disasters were associated to
flood, which represents 45% of the total, following by flash flood and windstorm with 19 and
17 %, respectively. The most affected regions were Oeste Catarinense, Vale do Itajaí and
Grande Florianópolis. The municipalities that presented high risk index were Florianópolis
(1.74), Blumenau (1.54), São José dos Cedros (1.03), Joinville (1.03) and Chapecó (071).
Except for São José dos Cedros, these municipalities presented high demographic density
and natural disasters frequency.
1
Recebido em 21/11/2005
Aprovado para publicação em 12/01/2005
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Mapeamento de risco de desastres naturais do estado Emerson Vieira Marcelino, Luci Hidalgo Nunes,
de Santa Catarina Masato Kobiyama
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas houve um incremento na freqüência e na intensidade dos desastres naturais
em todo o globo. Conforme dados da OFDA (US Office of Foreign Disaster Assistance) e do CRED
(Centre for Research on the Epidemiology of Disaster), que mantém um grande banco de dados
sobre desastres naturais, nota-se um aumento significativo de ocorrências desses eventos a partir
da década de 70 (EM-DAT, 2004). Analisando dados do mesmo banco para o período de 1900-
1998, Smith (2000) coloca que a média anual de desastres no mundo salta de 50 para 250 casos
por ano a partir da década de 1980.
Ressalta-se que a maioria destes eventos teve como gênese instabilidades atmosféricas severas,
que são eventos atmosféricos intensos que podem causar grandes danos sócioeconômicos, em
virtude dos episódios pluviais intensos, vendavais, granizo e tornados (EASTERLING et al., 2000;
SMITH, 2000; BERZ et al., 2001; MCBEAN, 2004). Apesar de não haver ainda um consenso sobre
a relação direta entre as instabilidades atmosféricas e as mudanças climáticas globais no século
XX (LIGHTHILL, 1994; MCBEAN, 2004), entende-se que o aumento das tempestades nas últimas
décadas também foi significativo. Easterling et al. (2000) e Nicholls (2001) afirmam que em
algumas partes do globo (escala regional) já existem indícios significativos do aumento de eventos
atmosféricos extremos.
Diversos modelos climáticos também têm apontado para um aumento de ocorrência de
tempestades severas para as regiões Sul e Sudeste do Brasil (SINCLAIR e WATTERSON, 1999;
MET. OFFICE, 2004). Dentre os estados que compõem estas regiões destaca-se Santa Catarina,
conforme verificado no “Levantamento dos Desastres Naturais Causados pelas Adversidades
Climáticas no Estado de Santa Catarina (período 1980-2000)”, organizado por Herrmann (2001).
Segundo a autora, para o período 1980-2000 a maioria dos desastres naturais computados está
associada às instabilidades atmosféricas severas, isto é, aqueles associados a decretação de
situação de emergência e estado de calamidade pública. Destes destacam-se as inundações
graduais como as mais freqüentes, com 1.215 episódios, seguido pelos vendavais e inundações
bruscas, com 352 e 322 episódios, respectivamente.
Grande parte destes eventos calamitosos não pode ser evitada. Entretanto, podem-se identificar
padrões comportamentais com o intuito de elaborar métodos preventivos para a atenuação e
redução dos efeitos destrutivos dos mesmos (ALCÁNTARA-AYALA, 2002; ISDR, 2002). Por
exemplo, em uma análise de risco, busca-se correlacionar a probabilidade de ocorrência de
eventos futuros com a estimativa de danos potenciais.
Para a realização deste tipo de análise, Alexander (1995) comenta que é necessário obter-se um
conhecimento detalhado da freqüência (tempo), características (tipologia), magnitude
(abrangência) e intensidade (impacto) dos fenômenos. Além disso, através da definição da
vulnerabilidade local e da resposta do sistema social sob impacto, é possível gerenciar o risco com
o intuito de minimizar as conseqüências adversas de um desastre natural (ISDR, 2002).
Um dos instrumentos de análise de risco mais eficientes é o mapeamento de áreas de risco. A
partir deste mapa é possível elaborar medidas preventivas, planificar as situações de emergência e
estabelecer ações conjuntas entre a comunidade e o poder público, com o intuito de promover a
defesa permanente contra os desastres naturais. As medidas preventivas estão associadas à
identificação das áreas com maior potencial de serem afetadas, onde são hierarquizados os
cenários de risco e a proposição de medidas corretivas. Como exemplo, cita-se a implantação de
obras de engenharia, regulamentação e controle das formas de uso da terra, redirecionamento de
políticas públicas, entre outros. Para a planificação das situações de emergência, os mapas de
risco também podem contribuir com as ações de caráter logístico no enfrentamento das situações
emergenciais, na evacuação da população frente a um perigo eminente, nas operações de
resgate, na restauração das áreas afetadas, etc. Além do mais, nas ações conjuntas entre
comunidade e poder público, pode-se identificar as comunidades mais afetadas e realizar
trabalhos de educação, capacitação e conscientização, visando sempre à diminuição do número
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Mapeamento de risco de desastres naturais do estado Emerson Vieira Marcelino, Luci Hidalgo Nunes,
de Santa Catarina Masato Kobiyama
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Mapeamento de risco de desastres naturais do estado Emerson Vieira Marcelino, Luci Hidalgo Nunes,
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relação ao valor da linha de pobreza; PI é o número de pessoas com 65 anos ou mais; e IDHM é
obtido pela média aritmética de três sub-índices, referentes às dimensões Longevidade (IDH-
Longevidade), Educação (IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda). Assim, comparando com as
equações (1) e (2), tem-se:
V = DD + IP + PI (3)
Re = IDHM (4)
Ressalta-se que todas as variáveis e parâmetros foram escalonados entre 0 e 1, onde o valor
mínimo é representado pelo 0 e o valor máximo pelo 1. Este escalonamento foi realizado com a
seguinte equação:
(Vobservado − Vmínimo)
Indice = (5)
(Vmáximo − Vmínimo)
Índices de perigo, vulnerabilidade e resposta
a) Perigo
Para calcular o P foram utilizados dados de desastres naturais ocorridos nos municípios
catarinenses no período 1980-2003. Este levantamento foi uma atualização do apresentado por
Herrmann (2001), que foi realizado pelo Grupo de Estudos de Desastres Naturais (GEDN) da
Universidade Federal de Santa Catarina junto ao Departamento Estadual de Defesa Civil (DEDC-
SC).
Ressalta-se que estes eventos são somente os casos que ocasionaram danos significativos,
gerando uma Situação de Emergência (SE) ou Estado de Calamidade Pública (ECP) nos
municípios afetados. A SE é uma situação anormal provocada por desastre, dando origem a
prejuízos vultosos e causando danos suportáveis (ou superáveis) pela comunidade afetada
(Desastre Nível III). Já o ECP é uma situação anormal provocada por desastre, dando origem a
prejuízos muito vultosos e causando danos dificilmente suportáveis (ou superáveis) pela
comunidade afetada (Desastre Nível IV), sem ajuda externa (CASTRO, 2003).
b) Vulnerabilidade e resposta
Os dados das variáveis DD, IP, PI e IDHM utilizadas para o cálculo da vulnerabilidade e da
resposta foram obtidos através do software Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil (ADHB)
disponibilizado gratuitamente pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
em seu site na Internet (http://www.pnud.org.br/atlas/). Este Atlas utiliza dados dos censos de 1991
e 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Geração dos mapas
Os mapas das variáveis utilizadas na vulnerabilidade e da resposta foram gerados
automaticamente através do software ADHB. Cada mapa possui 4 classes que foram definidas
pelo método do Desvio Quartílico. Este método, conforme Ramos e Sanchez (2000), divide a série
de dados em quatro grupos com igual número de ocorrências, cada um compreendendo 25% do
total de valores. Desta forma, o fatiamento é definido quantitativamente, excluindo a subjetividade
no processo de definição do limiar de corte.
Para a geração dos mapas de desastres naturais, vulnerabilidade e risco foram adotadas 4
classes: Baixa, Média, Alta e Muito Alta. Estas classes também foram fatiadas utilizando o Desvio
Quartílico.
No software SPRING 4.1.1, os atributos não espaciais, como as ocorrências dos desastres, foram
inseridos em um sistema de gerenciamento de banco de dados relacional, onde cada entidade
gráfica (município) foi ligada aos seus respectivos atributos não-espaciais armazenados em
tabelas no sistema. Uma vez estabelecidas as classes, foram realizadas consultas ao banco de
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Mapeamento de risco de desastres naturais do estado Emerson Vieira Marcelino, Luci Hidalgo Nunes,
de Santa Catarina Masato Kobiyama
dados para visualização, geração de planos temáticos e posterior geração dos mapas.
A base cartográfica estadual utilizada foi produzida pela Secretaria do Estado do Desenvolvimento
Econômico e Integração do Mercosul. A base digital de Santa Catarina foi importada para o
SPRING 4.1.1, onde foi criado um modelo cadastral dos municípios de Santa Catarina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Análise da ocorrência de desastres naturais
Para o período 1980-2003 foram registrados em Santa Catarina 3.373 desastres naturais, sendo
2.881 associados às instabilidades atmosféricas severas, o que representa 85% do total de
desastres ocorridos. Entretanto, acredita-se que o número de desastres provocados por
instabilidades atmosféricas é bem maior, visto que os desastres computados foram somente os de
Nível III e IV. Como exemplo, analisando as ocorrências de escorregamentos em Santa Catarina,
Herrmann et al. (2004) verificaram uma grande diferença entre os registros da Defesa Civil e os
obtidos junto ao jornal A Notícia. Conforme citam os autores, no ano de 2001 não houve nenhum
registro junto a Defesa Civil; entretanto, ao se analisar as matérias do jornal A Notícia, foram
registrados 12 casos de escorregamentos.
Com relação à distribuição anual, vê-se na Figura 1 que ao longo do período 1980-2003 ocorreu
um aumento gradativo do número de desastres naturais. A média de desastres naturais para este
período foi de 120 eventos por ano. É importante frisar que a média saltou de 109,5 para 127,4
eventos/anos em relação aos decênios 1984-1993 e 1994-2003, respectivamente.
Entretanto, este aumento dos desastres naturais nos últimos anos não foi mais significativo devido
aos picos anômalos ocorridos em 1983 e 1984 (Figura 1), onde a maioria dos municípios
catarinenses foi severamente atingida pelas inundações graduais. Somente no ano de 1983, houve
197.790 desabrigados e 49 mortos, com destaque para Blumenau, com 50.000 desabrigados e 9
mortos, o que representou 29,3% da população total deste município. Esse grande desastre foi
desencadeado por precipitações anômalas ocorridas na Região Sul do Brasil devido à atuação do
fenômeno El Niño, considerado de forte intensidade (KOUSK et al., 1984; VOITURIEZ e
JACQUES, 2000). Este fenômeno tem influenciado significativamente as ocorrências de desastres
naturais no território catarinense (HERRMANN, 2001). Na Figura 1 também pode-se notar que os
maiores picos de desastres (pontos quadrados) estão associados aos anos de El Niño. As únicas
exceções foram 1984 e 2001 que se referem a anos de La Niña, que é a fase negativa do ENOS –
El Niño Oscilação Sul.
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Análise da vulnerabilidade
De acordo com a Figura 4, as mesorregiões Norte Catarinense e Serrana foram as que se
apresentaram como as mais vulneráveis aos desastres naturais, ou seja, caso ocorra um desastre
natural estas são as áreas mais propensas a terem um grande número de pessoas afetadas. Isto
deve-se principalmente a variável IP, que está relacionada principalmente a renda insuficiente da
população, ou seja, consideradas sem renda suficiente para garantir a sua própria alimentação.
Salienta-se que esta problemática é significativamente mais grave nas áreas rurais do que nas
áreas urbanas. Por exemplo, na região de Lages, as famílias com renda insuficiente na área rural
correspondem a 30% contra 15% na área urbana (BORCHARDT, 2003). Além disso, também
verificou-se nestas mesorregiões a existência de muitos municípios com elevado número de
pessoas idosas, principalmente na Norte Catarinense.
Alguns municípios litorâneos também apresentaram elevados índices de vulnerabilidade, que
estão correlacionados principalmente com a elevada densidade demográfica e a grande presença
de pessoas idosas. Os municípios que apresentaram as maiores densidades demográficas estão
localizados na zona costeira, que representa 65% da população catarinense. Nesta região
desenvolvem-se atividades relacionadas principalmente ao turismo e às indústrias de tecido e
cerâmica (ICEPA/SC, 2002). Dentre estes destaca-se Balneário Camboriú, com 1.579 hab./km2,
seguido por São José (1.473), Criciúma (810,8), Florianópolis (760,1) e Blumenau (513,2).
Também é importante comentar que nos municípios catarinenses o número de pessoas idosas é
altamente correlacionado à população urbana (97%), como mostrado na Figura 5. Dessa forma,
conforme a população urbana aumenta, maior será a população idosa.
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Análise da resposta
Com base na Figura 6, pode-se notar que a maioria dos municípios que apresentam os maiores
índices de IDHM concentra-se principalmente na costa catarinense, com destaque para as
mesorregiões Grande Florianópolis, Vale do Itajaí e porção leste da Norte Catarinense. Os
municípios que apresentaram os melhores índices foi Florianópolis (0,875), Balneário Camboriú
(0,867), Joaçaba (0,866), Joinville (0,857) e Luzerna (0,855). Vale destacar que apesar da
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similaridade visual entre os mapas, o IDH-Longevidade apresentou uma baixa correlação com o
IDHM e com os demais índices. Enquanto que o IDH-Renda foi o que apresentou a melhor
correlação com o IDHM, chegando a 0,80.
Apesar de existirem alguns municípios com elevados índices na porção sul da mesorregião Oeste
Catarinense, não foi suficiente para destacar esta parte do território catarinense em sua totalidade.
Já a mesorregião Serrana e a porção oeste da Norte Catarinense foram as áreas que
apresentaram os piores índices de IDHM, como já refletido na Figura 4.
Análise do risco
Realizando uma análise comparativa entre os diversos índices utilizados para a elaboração do
mapa de risco, verificou-se que o índice de perigo foi o que mais influenciou no resultado final
(Figura 7), apresentando uma correlação de 0,60, seguido pelo índice de vulnerabilidade, com
0,51. Entretanto, destaca-se que entre estes dois índices a correlação foi extremamente baixa,
praticamente nula (0,08), indicando que as variáveis utilizadas no processo de construção do
índice de risco não são tendenciosas.
Apesar da similaridade visual entre algumas variáveis do índice de resposta (IDHM) e o de
vulnerabilidade (Figuras 4 e 6), o que indicaria uma certa tendência, acredita-se que pouco
influenciou no resultado final, visto que a maior correlação encontrada foi 0,24 (não significativa)
entre as variáveis IP e IDH-Renda. Entretanto, dos índices utilizados o que menos afetou o
resultado final foi o da resposta (IDHM), apresentando uma correlação praticamente nula (0,06).
Isto indica que em estudos futuros devem ser revistas as variáveis utilizadas no índice de risco, ou
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mesmo acrescentadas novas variáveis. Outra hipótese a ser testada é a adoção de pesos para
que todos os índices apresentem um comportamento adequado, isto é, coeficientes de correlação
semelhantes.
A adoção do IDHM como índice de resposta está vinculado com a capacidade de um município
propor, discutir e absorver, através de campanhas de educação ambiental, métodos de prevenção
de desastres naturais. Isto reflete também a possibilidade de uma comunidade estar preparada
para aprender lições com as experiências vividas por ela e por outras comunidades. Com relação
ao IDH-Renda, quanto maior o índice de resposta, maior é a possibilidade do município preparar-
se e recuperar-se do impacto de um fenômeno natural extremo como as inundações.
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do Itajaí e Grande Florianópolis, o que resultou nas áreas com maiores índices de perigo.
As mesorregiões Norte Catarinense e Serrana foram as que apresentaram maior número de
municípios com elevados índices de vulnerabilidade e com os piores índices de reposta. Com
relação ao índice de risco, a porção oeste das mesorregiões Oeste e Norte Catarinense foram as
áreas do estado onde estão localizados os municípios mais problemáticos, que carecem de
medidas preventivas a curto prazo.
AGRADECIMENTOS
O autor agradece ao Grupo de Estudos de Desastres Naturais (GEDN) da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) pelo fornecimento dos dados de desastres naturais utilizado no presente artigo.
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city - SC
RESUMO
Inundações são fenômenos naturais que afetam a vida da humanidade desde a antiguidade. Entre todos os tipos de
desastres naturais, as inundações são os que impactam o maior número de pessoas, deixando centenas de milhares de
desabrigados todos os anos. Dentre as medidas mitigadoras relacionadas às inundações, destaca-se o mapeamento de
áreas de risco pelo seu baixo custo e alta aplicabilidade. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo propor e
aplicar uma nova metodologia para mapeamento de áreas de risco a inundação. A área de estudo abrange o município
de Rio Negrinho, SC, devido ao seu histórico extenso de eventos de inundações. A mensuração de risco, de maneira
geral, compreende a análise da vulnerabilidade e do perigo. Assim, tendo como unidade territorial o setor censitário, foi
elaborado um Índice de Vulnerabilidade através do qual os setores foram classificados. Posteriormente, realizou-se a
análise do perigo respaldada na legislação municipal. Com base na relação vulnerabilidade e perigo foi estimado o
risco. Através da presente metodologia, determinaram-se quais os setores censitários possuem maior risco, os quais
devem ser alvos de políticas públicas e medidas mitigadoras. Além disso, através do índice de vulnerabilidade pode-se
analisar o município em relação às características socioeconômicas, determinando as áreas prioritárias para
investimentos públicos. Ressalta-se que a presente metodologia, devido a seu baixo custo e da realização do censo em
todo o território nacional, pode ser aplicada em qualquer município brasileiro.
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ABSTRACT
Floods are natural phenomena that affect the human life since antiquity. Among all the types of natural disasters, floods
impact the largest number of people and making hundreds of thousands homeless every year. Despite the fact that there
are many mitigation measures related to floods, flood risk mapping is distinguished by its low cost and easy application.
In this context, the present study aimed to develop and implement a methodology for mapping flood risk areas. Because
of its floods records, Rio Negrinho city, Santa Catarina state, was chosen as study area. The risk determination
generally involves the analysis of vulnerability and hazard. Thus, having the census block as territorial unit of analysis,
a Vulnerability Index was created, by which all the census blocks were classified. After that, by observing the municipal
law, the hazard area was estimated. Through the relationship between vulnerability and hazard, the risk was established.
The present methodology was performed to determine which census blocks have the highest risk and should be target of
public policy and mitigation measure. Moreover, with the Vulnerability Index the city can be analyzed in terms of the
socioeconomic characteristics, which determines the priority areas for public investment. Thus, the present
methodology can be applied in all municipalities due to its low cost characteristic and because the census is conducted
over the whole Brazilian territory.
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Figura 1: Número de pessoas afetadas e de eventos de inundações entre 1963-2009
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Inundações, deslizamentos e outros Segundo Benson e Clay (2003),
tipos de fenômenos naturais causadores de desastre natural é a ocorrência de um anormal
desastres podem ser denominados perigos e não freqüente perigo que impacta
naturais e têm como principal característica a comunidades ou áreas vulneráveis, causando
de colocar em risco diferentes entidades e danos substanciais, alterando o estado de
classes sociais. Este risco não se refere aos funcionalidade da comunidade afetada.
fenômenos naturais per si, mas a junção dos Conforme ECLAC (2003), desastres
fenômenos naturais com os sistemas humanos são súbitos e inesperados eventos, geralmente
e suas vulnerabilidades (ALCÁNTARA- acompanhados de perdas de vidas, que
AYALA, 2002) ocasiona em parte ou em toda uma
Conforme Monteiro (1991), é comunidade, prejuízos, ruptura temporária nos
imprescindível considerar que a existência de sistemas vitais, danos materiais e
perigos naturais é uma função do ajustamento consideráveis distúrbios nas atividades
humano a eles, posto que sempre envolvem econômicas e sociais. A Organização das
iniciativa e decisão humana, ou seja, Nações Unidas, através do Programa das
“enchentes não seriam danosas se o homem Nações Unidas para o Desenvolvimento
evitasse as planícies de inundação” sugere que um desastre natural pode ser
(MONTEIRO, 1991, p. 08). entendido como os efeitos da ocorrência de um
O termo perigo é uma categoria que se perigo natural, onde os danos e prejuízos
destaca pela dificuldade de precisá-la gerados excedem a capacidade de uma
conceitualmente. O emprego do conceito de comunidade ou sociedade em lidar com o
perigo pode abranger fenômenos como desastre (UNDP, 2004)
avalanches, terremotos, erupções vulcânicas,
ciclones, deslizamentos, tornados, enchentes, 2.2 Risco
epidemias, pragas, fome e muitos outros
(MATTEDI e BUTZKE, 2001). A ocorrência de um desastre natural
A Tabela 1 apresenta algumas está sempre associada às perdas, sejam elas
definições do termo perigo (hazard) e perigo econômicas, sociais ou ambientais. Neste
natural (natural hazard). Nota-se que, apesar contexto, adota-se o termo risco, que pode ser
de pequenas singularidades, há certo consenso considerado com a probabilidade de
nas definições do termo perigo e o que ele conseqüências prejudiciais ou perdas
representa: Um evento natural com potencial (econômicas, sociais ou ambientais) resultan-
de causar danos. tes da interação entre perigos naturais e os
A partir da interação entre perigos sistemas humanos (UNDP, 2004). Usualmente
naturais e sistema humano tem-se os desastres para a definição de risco, adota-se a seguinte
naturais (WEICHSELGARTNER, 2001). Um função:
desastre natural sempre se origina de uma
relação conflituosa entre homem e natureza. R = f(H,V) (1)
Devido à dinâmica natural do rio, por
exemplo, sempre haverá ocorrência de Onde R é risco, H é perigo (hazard), e V é
inundações, variando especialmente quanto à vulnerabilidade. Chen et al. (2004) sugerem
magnitude e ao intervalo de recorrência. No que risco pode ser visto como uma função do
entanto, devido ao aumento populacional das perigo, exposição e vulnerabilidade.
últimas décadas e a expansão urbana, as Stephenson (2002) adota risco como sendo a
planícies de inundação começaram a ser probabilidade de ocorrência de um perigo,
intensamente ocupadas. Deste conflito de considerando para isso o tempo de retorno do
interesses em que o homem ocupa áreas mesmo (intensidade). UNDP (2004) sugere
propensas a eventos naturais, sabendo muitas ainda uma modificação da relação apresentada
vezes da ocorrência dos mesmos, é que se dá a anteriormente (Equação 1), sendo risco (R)
ocorrência dos desastres naturais. uma função da probabilidade da ocorrência de
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Tabela 1: Termos e definições utilizadas para o termo perigo/perigo natural
Autor Termo Definição
Refere-se ao risco ou perigo potencial, o qual geralmente é
Schumm (1994) Perigo assumido como sendo uma catástrofe ou desastre em
potencial, que envolve grandes danos e perda de vidas.
Pode ser definido como uma ameaça potencial para o ser
Smith (1996) Perigo
humano e seu bem-estar
Perigo Representa uma interação potencial entre a sociedade e
Tobin e Montz (1997)
Natural eventos naturais extremos.
São eventos capazes de produzir danos ao espaço físico e
Alcântara-Ayala Perigo social, não apenas durante a sua ocorrência, mas também
(2002) Natural posteriores a sua ocorrência, pelas associações de duas
conseqüências.
Perigo Um evento geofísico, atmosférico ou hidrológico que tem o
Benson e Clay (2003)
Natural potencial de causar prejuízos e danos.
Evento físico, fenômeno ou atividade humana
potencialmente danosa, que pode causar mortes, danos às
ISDR (2004) Perigo
propriedades, distúrbios sociais e econômicos ou degradação
ambiental.
Pode ser considerado como sendo um específico evento
Perigo
Dwyer et al. (2004) natural caracterizado por certa magnitude e probabilidade de
Natural
ocorrência.
É um fenômeno físico natural que pode ocasionar perda de
Koeler et al. (2004) Perigo
vidas e danos aos objetos, construções e ao ambiente.
Perigo Processos ou fenômenos naturais que ocorrem na biosfera e
UNDP (2004)
Natural que podem constituir um evento danoso.
Twigg (2004) Perigo Uma ameaça potencial para o ser humano e seu bem-estar.
Schmidt-Thomé et al. Perigo São definidos como eventos naturais extremos que podem
(2006) Natural causar danos.
É um elemento físico que é intrinsecamente nocivo ao ser
humano e é causado por forças alheias a ele. Mais
Perigo especificamente, este termo refere-se a todos os eventos
Telesca (2007)
Natural atmosféricos, hidrológicos, geológicos e de queimadas que
tem o potencial de afetar adversamente a sociedade, suas
estruturas e atividades.
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emergência e estabelecer ações conjuntas entre tecnológica, vulnerabilidade residual e a
a comunidade e o poder público, com o intuito vulnerabilidade criminal. Esta última refere-se
de promover a defesa permanente contra os à ocorrência de crimes devido ao caos gerado
desastres naturais. por um desastre natural.
Shidawara (1999) argumenta que os Na prática, há inúmeras definições de
mapas de risco possuem um grande papel no vulnerabilidade explicadas pelos seus aspectos
sistema de prevenção de inundação, pois em específicos que dependem do tipo de estudo,
municípios pequenos e com poucos recursos da análise e resultado requerido, do tipo de
econômicos torna-se muito difícil a perigo (fenômeno natural), da escala temporal
implantação de sistemas mais sofisticados, e espacial e das especificidades do local de
como monitoramento e sistemas de alerta. estudo (BARROCA et al., 2006).
Para Kobiyama et al. (2006), os mapas Conforme Hill e Cutter (2001), há
de risco visam suprir uma das maiores muitos tipos de vulnerabilidade no que tange o
deficiências relacionadas aos desastres naturais estudo de perigos naturais, embora os três
no Brasil, que é a ausência de sistemas de tipos mais importantes sejam: individual,
alertas, uma das ferramentas fundamentais social e biofísico. A vulnerabilidade
para a prevenção de desastres naturais, individual, segundo estes dois autores, diz
especialmente os súbitos. respeito à susceptibilidade de uma pessoa ou
uma estrutura sofrer um dano potencial. As
2.4 Vulnerabilidade características de uma estrutura (tipo de
material, projeto) ou de uma pessoa (idade,
Segundo Pelling (2003), a condição de saúde, fumante, estilo de vida,
vulnerabilidade denota a exposição ao risco e à alimentação) são levadas em conta para
incapacidade de evitar ou absorver danos em determinar a vulnerabilidade individual. Em
potencial, sendo dividida em três tipos: física uma escala mais geral tem-se a vulnerabilidade
(relacionada às construções), social social. Esta se baseia nas características
(relacionada ao sistema social, econômico e demográficas de grupos sociais, as quais os
político) e humana (união entre a física e a fazem mais ou menos vulneráveis. Para se
social). CRID (2001) define a vulnerabilidade determinar esta vulnerabilidade, utilizam-se
como o grau de susceptibilidade ou de risco a características socioeconômicas como idade,
que está exposta uma população a sofrer danos renda, gênero, educação, naturalidade
por um desastre natural. (imigrantes) dos grupos sociais. A
Weichselgartner (2001) analisou uma vulnerabilidade biofísica pode ser considerada
variedade de definições para o termo sinônimo de exposição física, ou seja, o quanto
“vulnerabilidade”, concluindo que o um local ou área é susceptível à ocorrência de
significado desse termo ainda não é claro. Na um perigo natural. Aysan (1993) elenca 8 tipos
Tabela 2 observam-se algumas definições de vulnerabilidade:
propostas para o termo vulnerabilidade com Econômica/material: falta de acesso a
base nos trabalhos de Weichselgartner (2001) recursos;
e Musser (2002), onde se observa que ainda Social: desigualdade nos padrões
não há consenso sobre o seu conceito. sociais;
A severidade de um evento, de acordo Ecológica: falta de acesso à informação
com Koeler et al. (2004), é diretamente e conhecimento;
proporcional à vulnerabilidade e depende de Motivacional: falta de ação/consciência
quatro fatores (físico, ambiental, econômico e pública;
social) que podem ser subdivididos em Política: falta de políticas públicas e
diversas categorias. Alexander (1997) comenta falta de acesso aos representantes
que a vulnerabilidade pode ser subdividida em públicos;
vários tipos, como vulnerabilidade total, Cultural: determinadas crenças e
vulnerabilidade econômica, vulnerabilidade culturas;
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Física: fraquezas dos indivíduos e das estar pessoal, meios de subsistência,
construções. resistência a eventos adversos, auto-proteção e
De acordo com o National Research redes políticas, sociais e institucionais. Este
Council (2006), há dois principais tipos de nível de bem-estar de indivíduos, comunidades
vulnerabilidade: física e social. A física e da sociedade, inclui aspectos relacionados ao
representa as ameaças às estruturas físicas e grau de instrução, escolaridade, segurança e
infra-estruturais, ao meio ambiente e aos políticas públicas, respeito aos direitos
prejuízos na economia. A social representa as humanos, igualdade social, entre outros
ameaças ao bem-estar/normalidade da (ISDR, 2004).
população, como mortes, feridos, necessidade Conforme Hill e Cutter (2001), a
de atendimento médico e os impactos no vulnerabilidade social descreve as
funcionamento e na normalidade do sistema características demográficas de diferentes
social devido à ocorrência de um desastre. grupos sociais que os fazem mais ou menos
Alcantara-Ayala (2002) comenta que susceptíveis aos impactos negativos de um
há, de fato, inúmeros tipos de vulnerabilidade, evento extremo. Para estes autores a
mas que quase todos os tipos podem ser vulnerabilidade social sugere que as pessoas
incluídos em quatro principais grupos: social, criam a sua própria vulnerabilidade, através de
econômico, político e cultural. suas ações e decisões.
Cutter et al. (2003) argumentam que a
2.3.1 Vulnerabilidade Social vulnerabilidade a perigos naturais pode ser
estudada a partir de dois princípios: a)
Cannon et al. (2003) propõem que a identificando as condições que fazem pessoas
vulnerabilidade social é uma configuração ou locais vulneráveis a perigos naturais; b)
complexa de características que incluem bem
NOAA (2009) O nível de exposição da vida, propriedade, e recursos ao impacto de um perigo natural.
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assumindo que a vulnerabilidade é uma decisões da comunidade modificam a condição
condição social. Neste sentido, nota-se que não de vulnerabilidade, pois se pode observar se a
haveria vulnerabilidade sem sociedade. Ou vulnerabilidade está aumentando, declinando
seja, as características que fazem uma ou permanecendo estática. Este autor cita
sociedade, localidade ou mesmo uma única como bons indicadores de vulnerabilidade
residência mais ou menos vulneráveis são social a porcentagem de jovens e idosos,
reflexos de decisões e/ou condições sociais. pessoas com rendimento baixo, minorias
Por exemplo, analisar o PIB de um país e étnicas, turistas, sem tetos, pessoas recém
compará-lo com outros países para classificá- chegadas, entre outros, e argumenta que
lo como mais ou menos vulnerável faz parte nenhum conjunto de indicadores consegue ser
do escopo da vulnerabilidade econômica. Por totalmente inclusivo.
outro lado, o baixo ou alto PIB de um país é Birkmann (2006) e Dwyer et al. (2004)
reflexo das condições e processos sociais sugerem alguns critérios para a utilização de
A mesma questão pode ser levantada um indicador de vulnerabilidade, tais como:
para a vulnerabilidade física. Por exemplo, mensurabilidade, relevância, ser entendível,
Kelman (2002) analisou a vulnerabilidade fácil interpretação, caráter analítico e
física às inundações em residências inglesas, estatístico, disponibilidade de dados,
determinando para isso qual o impacto das comparabilidade, validade/precisão,
características físicas das inundações (como capacidade de ser reproduzida em outras
velocidade e altura) na estruturas das pesquisas, estar de acordo com a problemática
residências. Contudo, as características de uma da pesquisa e simplicidade.
residência que afazem mais ou menos Conforme Schmidt-Thomé e Jarva
vulnerável são reflexos de fatores sociais. O (2004), ainda não existe consenso entre os
poder aquisitivo e o nível de instrução de uma pesquisadores sobre quais variáveis que devem
família determinarão os padrões e qualidade de ser utilizadas para mensurar a vulnerabilidade
sua residência e, conseqüentemente, a sua social, sendo comumente utilizado o status
vulnerabilidade. Assim, características sociais socioeconômico, idade, raça e gênero. Na
são propagadas para os demais tipos de pesquisa realizada por estes autores foram
vulnerabilidade. Dessa maneira, a utilizadas as seguintes variáveis:
vulnerabilidade determinada de social não Densidade populacional;
difere conceitualmente da geral e pode, em PIB per capita;
muitos aspectos, ser vista como sinônimo. Razão de dependência (população
Determinando a vulnerabilidade jovem e idosa, que provavelmente
através de características sociais estar-se-á, ao precisa de ajuda durante um evento
mesmo tempo, inferindo de maneira indireta as extremo,);
demais vulnerabilidades. Além disso, fatores Educação.
como renda e instrução também são utilizados Coppola (2007) considera os seguintes
como indicadores da vulnerabilidade social, ou fatores na análise da vulnerabilidade: religião,
seja, ela não trata apenas de fatores raça, gênero, saúde, taxa de analfabetismo,
demográficos. políticas públicas, direitos humanos,
desigualdades sociais, cultura, tradição, entre
2.3.2 Indicadores de Vulnerabilidade outros. ISDR (2004), com base em Dwyer et
al. (2004), cita como exemplo os seguintes
Segundo Pine (2008), um indicador indicadores para determinar a vulnerabilidade:
reflete quantitativamente um fenômeno e pode idade, renda, gênero, tipo de residência, tipo
ser utilizado para entender a capacidade de de casa, condição da residência (alugada,
uma determinada comunidade de absorver, própria, cedida), seguro da casa, seguro saúde,
enfrentar ou recuperar-se de um desastre. O portadores de necessidades especiais, domínio
estudo da variação dos indicadores ao longo da língua pátria.
do tempo auxilia a entender como as ações e Cutter et al. (2000) utilizaram as
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seguintes variáveis para mensurar a município.
vulnerabilidade: a) população total; b) número Qualquer impacto causado pela
total de casas; c) número de pessoas do sexo ocorrência de um desastre na área urbana
feminino; d) número de pessoas não-brancas; certamente causará um grande impacto em
e) número de pessoas abaixo de 18 anos; f) todo o município, pois é na área urbana que se
número de pessoas acima dos 65 anos; g) valor encontram estações de tratamento de água,
médio da casa; h) número de mobile-homes. serviços básicos, bancos, a administração
Estas variáveis, além de muitas outras, municipal, entre outros.
também foram consideradas nos estudos de
Adger (1998), Clark et al. (1998), Cutter et al. 3.1.1 Inundações em Rio Negrinho
(2003), Azar e Rain (2007), Simpson e Human
(2008), para estimar a vulnerabilidade. As inundações em Rio Negrinho são
eventos recorrentes desde o inicio do século
3 MATERIAIS E MÉTODOS passado. Nos anos de 1911 e 1913, há registros
de inundações que atingiram o município de
3.1 Área de Estudo Rio Negrinho. No mês de janeiro de 1926, o
rio subiu novamente, destruindo uma ponte,
O município de Rio Negrinho está inundando ruas e casas de comércio, assim
localizado no planalto norte de Santa Catarina, como nos anos de 1937 e 1946. Entre 1946 e
entre as latitudes 26º12’29” e 26º42’14”S e 1983 ocorreram inundações ordinárias, que
longitudes 49º26’39” e 49º46’28” W (Figura não trouxeram prejuízos significativos a
2). Possui uma área de 908 km², dos quais, população. Em julho de 1983 ocorreu a maior
4,3% é considerado urbano e 95,7% rural inundação registrada até aquele momento, que
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e foi associada ao El Niño e atingiu inúmeros
Estatística - IBGE, Rio Negrinho possui municípios em Santa Catarina, assim como as
atualmente 42.237 habitantes, o que demonstra inundações de agosto 1984, que ocorreram
um aumento de sua população em também em Rio Negrinho. Em maio de 1992,
aproximadamente 65% desde 1991 (Figura 3). outra inundação, considerada a mais severa,
Segundo Schoeffel (2004), o município de Rio trouxe muitos danos e prejuízos ao município.
Negrinho tem índices percentuais de Em julho de 1995, janeiro de 1997 e 1998,
crescimento anual (média de 2,78% a.a) maior ocorreram novamente inundações ordinárias,
que a média de todos os municípios que embora não tenham ocorridos maiores
compõem a Associação de Municípios do prejuízos para a sociedade (SCHOEFFEL,
Nordeste de Santa Catarina – AMUNESC 2004).
(2,29% a.a) e mais ainda se comparado ao
índice do estado de Santa Catarina, que é, em 3.2 Análise da Vulnerabilidade
valores médios, de 1,61% a.a. Atualmente, a
densidade demográfica é de 46,5 hab/km². Como já demonstrado, o conceito de
Quando analisadas as áreas urbana e vulnerabilidade e os fatores que a compõem
rural separadamente, nota-se que há uma ainda não são precisos. Contudo, estimar a
maior concentração populacional na área vulnerabilidade é imprescindível para que se
urbana, onde a densidade demográfica sobe possa realizar a análise e mapeamento de risco.
para 812 hab/km². Assim, utilizaram-se indicadores para
Assim, a área urbana do município mensurar a vulnerabilidade, com base nas
possui alta densidade demográfica, quando características socioeconômicas coletadas
comparada com o município inteiro. Com base durante o Censo de 2000 pelo Instituto
nos dados coletados pelo IBGE no censo de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2000, 85 % da população de Rio Negrinho O IBGE utiliza como unidade de análise o
reside na área urbana. Por esta razão, o setor censitário, que é a menor unidade
presente trabalho enfoca a área urbana do territorial, com limites físicos identificáveis
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em campo, com dimensão adequada à
operação de pesquisas. A área urbana do
município de Rio Negrinho foi dividida em 35
setores (Figura 4), os quais englobam um ou
mais bairros.
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No quesito dependência adotou-se como do município. O IDHM de Rio Negrinho foi
limite 12 e 65 anos. 12 anos porque o Estatuto utilizado como indicador desta capacidade. O
da Criança e do Adolescente considera as IDHM é estimado pela ONU através do
pessoas abaixo dessa idade como crianças, Programa das Nações Unidas para o
sendo totalmente dependentes, perante a lei e Desenvolvimento – PNUD, e é dividido em
sociedade, de seus pais ou responsáveis. três classes: de 0 a 0,499 (baixo
Considerou-se 65 anos porque, segundo a desenvolvimento), 0,5 a 0,799 (médio
Organização Mundial de Saúde, a partir dessa desenvolvimento) e 0,8 a 1 (alto
idade as pessoas são consideradas idosas. desenvolvimento). Rio Negrinho possui o
Com base nestas 6 variáveis construiu- IDHM 0,789, demonstrando que apesar de
se o Índice de Vulnerabilidade (IV): possuir médio desenvolvimento, está mais
próximo do alto do que do baixo
Dd Nm Mm TxD E R desenvolvimento.
IV (3) A escolha do IDHM de Rio Negrinho
IDHM
como capacidade de suporte/resposta para
onde Dd é a densidade demográfica, Nm é o todos os setores deu-se pelos seguintes fatores.
número de moradores no setor, Mm é média de Quando ocorre um desastre, apesar dele
moradores por residência, TxD é a taxa de possuir limites espaciais e temporais, toda a
dependência (idosos e jovens), E é a educação normalidade do município é afetada. Aulas
(analfabetos acima de 12 anos), R é a renda podem ser suspensas, estradas fechadas, falta
(responsável sem rendimento ou com até 1 de água, luz, etc. Assim, a primeira resposta ao
salário mínimo) e IDHM é o Índice de desastre baseia-se na capacidade do município,
Desenvolvimento Humano do Município. que no presente trabalho traduziu-se no IDH-
O IDHM é obtido pela média aritmética M.
de três sub-índices, referentes às dimensões Para uniformizar as unidades, todas as
Longevidade (IDH- Longevidade), Educação variáveis foram escalonadas de 0 a 1, sendo 0
(IDH-Educação) e Renda (IDH-Renda). o valor mínimo de cada variável e 1 o valor
Ressalta-se que IDHM é um valor único para máximo.
todo o município. Após escalonado, o Índice de
Assume-se neste presente trabalho, Vulnerabilidade foi agrupado em quatro
com base nos conceitos expostos, que a classes, baixa, média, alta e muito alta,
vulnerabilidade é inversamente proporcional a definidas pelo desvio quartílico, que,
capacidade de suporte/resposta ou de preparo segundo Ramos e Sanchez (2000), divide a
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série de dados em quatro grupos com igual
número de ocorrências, cada um AI
compreendendo 25% do total de valores. Desta PE (5)
AT
forma, o fatiamento é definido
quantitativamente, excluindo a subjetividade Onde AI é a área do setor inundada e AT é a
no processo de definição do limiar de corte. área total do setor.
Esta etapa de escalonamento e classificação
pelo desvio quartílico foi baseada em 3.4 Análise do Risco
Marcelino et al. (2006).
Conforme já exposto, risco é uma
Vobservado Vmínimo
Vescalonad o (4) função da vulnerabilidade e do perigo. A
Vmáximo Vmínimo vulnerabilidade foi determinada para cada
setor censitário através do Índice de
3 Delimitação das áreas inundáveis Vulnerabilidade. O perigo foi determinado a
partir do Perigo Estimado. A partir da relação
O Plano Diretor de Rio Negrinho entres estes dois parâmetros obteve-se o Índice
determina como áreas inundáveis as terras de Risco (IR) para cada setor censitário, ou
situadas abaixo da cota de 792 m seja:
(SECRETARIA MUNICIPAL DO
PLANEJAMENTO, 2006; SCHOEFFEL, IR IV PE (6)
2009, comunicação pessoal). Esta cota foi
estabelecida com base em dois grandes 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
eventos, os de 1983 e 1992.
Em virtude desses eventos, a linha 4.1 Vulnerabilidade
férrea foi deslocada para acima dessa cota,
constituindo-se em uma referência para a Foram compiladas 6 variáveis com
população local como sendo terras base nos dados do censo para construir o
“totalmente” seguras. Com base nisso, traçou- índice de vulnerabilidade. Escolheram-se essas
se um polígono que abrangeu esta área dentro variáveis por serem representativas das três
dos limites da área urbana, estabelecendo a esferas principais que compõem a
área urbana considerada como inundada vulnerabilidade: demografia, educação e
(Figura 5). economia.
A Figura 6 apresenta a distribuição
espacial dos parâmetros de vulnerabilidade.
Nota-se na Figura 6a que não há uma
tendência na distribuição da população total
dos setores, apesar de alguns setores centrais
apresentarem a menor população, associada a
setores com predomínio de comércio ou
bairros mais tradicionais (antigos). Por outro
lado, estes setores centrais apresentam a maior
densidade populacional (Figura 6b). Em
relação à média de moradores por residência
(Figura 6c), notam-se dois grupos de setores
principais, os centrais e os periféricos,
Figura 5: Delimitação da área inundável segundo
principalmente na porção Norte, Noroeste. O
o plano diretor.
primeiro com uma baixa média de moradores e
o segundo com alta média.
Com base nas áreas inundáveis de cada
De maneira geral, esta mesma
setor determinou-se o Perigo Estimado (PE):
espacialização entre setores centrais e
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periféricos é observada na População identificar setores prioritários para a
Dependente (Figura 6d) e na Taxa de implementação de políticas públicas e ações de
Analfabetismo (Figura 6e), onde os setores educação ambiental, o que demonstra a
periféricos apresentam valores mais elevados. importância desse tipo de análise. Assim, o
Por último, vê-se uma relação direta mapeamento da vulnerabilidade torna-se
entre alguns setores em relação à Taxa de essencial para o gerenciamento de desastres,
Analfabetos e a População com Baixa Renda pois é através dele que se podem identificar
(Figura 6f). Assim, apesar de haver certa áreas que potencialmente serão mais
heterogeneidade da distribuição espacial dos prejudicadas.
parâmetros quando analisados individual- Além disso, esta ferramenta indica
mente, observa-se algumas correlações áreas que necessitam de mais investimentos do
espaciais entre certas variáveis, tais como poder público, não apenas relacionados a
renda e escolaridade; população dependente e desastres, mas também relacionadas à
média de moradores por residência. qualidade de vida. A vulnerabilidade aqui
Com base no IV, foi elaborado o mapa dimensionada envolveu parâmetros como
de vulnerabilidade de Rio Negrinho (Figura 7). educação e renda, que são indicadores de
Os setores que apresentaram vulnerabilidade desenvolvimento social.
muito alta foram: 0030, 0020, 0011, 0004, Salienta-se que estas análises de
0033 e 0031. Já os setores centrais foram os vulnerabilidade devem ser tomadas apenas em
que apresentaram a menor vulnerabilidade, âmbito municipal, ou seja, em escala local.
como os setores 0001, 0015, 0009 e 0035. Para efeitos comparativos, deve-se aplicar o
Através deste mapeamento, podem-se mesmo índice de vulnerabilidade nos demais
____________________________________________________________________________________________
Bol. geogr.,Pag.338
Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 93
municípios catarinenses, ou até mesmo nos Nota-se que os setores centrais são os que
brasileiros, para determinar o maior ou menor apresentam maior PE, áreas estas que se
grau de vulnerabilidade e, assim, compará-los desenvolveram às margens do rio Negrinho.
aos setores ou municípios dentro da mesma Nota-se também que há setores que estão
escala. quase que totalmente acima desta cota. O PE
Dessa maneira, apesar de um setor ser pode ser útil no gerenciamento de áreas
classificado como muito alto no presente inundáveis, pois desconsidera áreas de baixo
trabalho, em uma análise regional o mesmo perigo.
poderia ser classificado como baixo ou médio.
Demonstra-se, assim, que uma lacuna no 4.3 Risco
estudo e gerenciamento de riscos ainda precisa
ser preenchida, especialmente no Brasil. Risco é uma função do Perigo e da
Vulnerabilidade. Comparando o risco, a
4.2 Perigo Estimado (PE) vulnerabilidade e o perigo de cada setor
censitário e analisando as suas correlações,
O Plano Diretor de Rio Negrinho fica clara a influência que o Perigo teve na
determina que as terras situadas abaixo da cota construção do Risco. Na Figura 9 observa-se
792 m são consideradas como sendo áreas de uma forte correlação (R² = 0.72) entre Risco e
inundação. Com base nisso, a partir do Perigo. Já entre Risco e Vulnerabilidade
levantamento planialtimétrico realizado pela (Figura 10) e Vulnerabilidade e Perigo (Figura
AGRITEC S.A., delimitou-se o polígono da 11) as correlações são fracas. Assim, o que
área inundada. Determinou-se a área inundada mais influenciou no Risco foi o Perigo. Já
de cada setor (Tabela 4), sua proporção em entre Risco e Vulnerabilidade (Figura 10) e
relação à área total e por sua vez, o PE. Vulnerabilidade e Perigo (Figura 11) as
A Figura 8 apresenta a distribuição correlações são fracas.
espacial do PE segundo os setores censitários.
____________________________________________________________________________________________
94
Apostila Pag.339 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
Assim, o que mais influenciou no tiveram o mesmo peso. Dessa maneira, setores
Risco foi o Perigo. Isto demonstra que, nas que possuem alto grau de vulnerabilidade,
inundações, as características físicas da bacia embora não possuam alto perigo, foram
têm um papel mais importante na construção classificados como de baixo risco. O contrário
do Risco do que as condições socioeconômicas também ocorreu, pois setores que possuem
(Vulnerabilidade). Assim, um setor ou baixa vulnerabilidade e alto perigo foram
qualquer outra unidade de análise pode possuir classificados como alto ou médio risco.
alta vulnerabilidade, mas caso possua um
baixo grau de perigo o risco será baixo. Tabela 4: Área inundada para cada setor
Ressalta-se que o Risco foi construído Setor Área Inundada (km²) Setor Área Inundada (km²)
01 0,49 19 0,05
sem levar em conta as características 02 0,20 20 0,00
hidrológicas das inundações. Usou-se uma 03 0,05 21 0,07
cota máxima para determinar a área inundada, 04 0,00 22 0,15
05 0,01 23 0,10
superestimando o risco. A utilização do risco a 06 0,07 24 0,00
partir desta premissa restringe algumas áreas 07 0,05 25 0,14
que poderiam ser de baixo ou médio risco, mas 08 0,33 26 0,31
09 0,58 27 0,31
que proporcionaria uma prevenção mais 10 0,38 28 0,13
efetiva, pois abrange mais setores como áreas 11 0,00 29 0,01
de risco. 12 0,03 30 0,05
Por fim, elaborou-se um mapa de risco 13 0,00 31 0,44
14 0,00 32 0,02
da área urbana de Rio Negrinho (Figura 12). 15 0,00 33 0,00
Em primeiro lugar, vê-se que os setores 16 0,00 34 0,00
centrais foram os que apresentaram maior 17 0,00 35 0,00
18 0,35 Total 4,23
risco, mesmo possuindo uma vulnerabilidade
baixa e média. Isto porque na função aqui
adotada, tanto a vulnerabilidade como o perigo
____________________________________________________________________________________________
Bol. geogr.,Pag.340
Apostila Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012 95
1,8 legislação de Rio Negrinho, que determina
1,6
R² = 0,7249 uma cota máxima como área de inundação.
1,4
1,2
Como unidade de análise utilizou-se o setor
1 censitário, que, segundo o IBGE, é a menor
Risco
____________________________________________________________________________________________
96
Apostila Pag.341 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
Figura 12: Distribuição espacial do risco na área urbana de Rio Negrinho.
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100
Apostila Pag.345 Bol. geogr., Maringá, v. 30, n. 1, p. 81-100, 2012
MAPEAMENTO DA VULNERABILIDADE A DESASTRES
HIDROLÓGICOS NOS MUNICÍPIOS DE ALTO FELIZ E SÃO
VENDELINO/RS COMO FORMA DE CONTRIBUIÇÃO À
ENGENHARIA DE SEDIMENTOS
Janete Teresinha Reis1; Jones Souza da Silva2; Gean Paulo Michel3; Masato Kobiyama4
RESUMO --- No Brasil, a ocorrência de desastres naturais vem se intensificando nos últimos anos.
As chuvas intensas, aliadas à alta declividade e à ocupação humana de locais inadequados, facilitam
a ocorrência de movimentos de massa, tornando as pessoas que residem nessas áreas mais
propensas a sofrerem com os desastres naturais. Embora as inundações sejam mais frequentes, os
escorregamentos geram maior número de vítimas fatais. Além disso, um grande aporte de
sedimentos aos corpos hídricos pode ser causado por escorregamentos e fluxos de detritos. Nesse
contexto, o presente estudo prevê o mapeamento da vulnerabilidade a desastres hidrológicos
(inundações e escorregamentos) na serra gaúcha, nos municípios de Alto Feliz e São Vendelino,
através de uma metodologia desenvolvida para um município catarinense. Essa metodologia foi
aplicada de forma separada e integrada para os dois municípios. Os resultados demonstraram que a
metodologia gera resultados distintos, dependendo da unidade de análise. Na análise feita de forma
separada, as áreas mais vulneráveis se concentraram na zona urbana. Ao integrar os municípios, a
mais alta vulnerabilidade ocorreu somente no município de São Vendelino. De maneira geral, o
mapeamento de vulnerabilidade é importante na gestão de risco, pois auxilia gestores públicos na
tomada de decisões frente aos desastres naturais.
ABSTRACT --- In Brazil, the occurrence of natural disasters has been increasing in recent years.
Heavy rains, combined with steep slopes and human occupation of unsuitable locations, facilitate
the occurrence of mass movements, making people who live in these areas more prone to suffer
from natural disasters. While floods are more frequent, and also cause social, economic and
environmental damages, landslides generate the highest number of fatalities. Furthermore, a large
amount of sediments to water bodies may be caused by landslides and debris flow. In this context,
the present study provides vulnerability mapping to hydrological disasters (floods and landslides) in
the mountainous region of Rio Grande do Sul, in the cities of Alto Feliz and São Vendelino,
through a methodology developed for a municipality of Santa Catarina. This methodology was
applied separately and integrated for the two municipalities. The results showed that the
methodology produces different results, depending on the analysis unit. In the separate analysis, the
most vulnerable areas concentrated in the urban area. By integrating the municipalities, the highest
vulnerability occurred only in São Vendelino. In general, vulnerability mapping is important in risk
management, as it assists public managers in decision making to natural disasters.
1
Pós-doutoranda - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: reis.janete@gmail.com
2
Doutorando - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: joneswsilva@gmail.com
3
Doutorando - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: geanpmichel@gmail.com
4
Prof. Dr. - Instituto de Pesquisas Hidráulicas/UFRGS. Av. Bento Gonçalves, 9.500 - Porto Alegre/RS. E-mail: masato.kobiyama@ufrgs.br
________________________________________________________________________________________________________________________
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 1
Apostila Pag.346
1. INTRODUÇÃO
O estado do Rio Grande do Sul vem enfrentando graves problemas decorrentes dos desastres
naturais, tais como estiagens, vendavais, granizo, inundações, escorregamentos e fluxos de detritos.
Nesse Estado, os escorregamentos e fluxos de detritos são mais frequentes na região serrana,
tornando-se, cada vez mais, objeto de estudo para a redução de desastres naturais e avaliação da
produção de sedimentos.
Kobiyama et al. (2010) e Michel et al. (2012) comentaram sobre a relevância que os
fenômenos causadores de desastres podem ter na produção e transporte de sedimentos em uma
bacia hidrográfica. De maneira mútua, a Engenharia de Sedimentos cumpre papel essencial na
tentativa de minimizar o impacto de alguns dos desastres hidrológicos (escorregamento e fluxo de
detritos), principalmente através da aplicação de medidas estruturais, como as barragens para
sedimentos. Entretanto, segundo Kobiyama et al. (2012), para o gerenciamento desses desastres, a
fim de reduzi-los, é necessário que medidas não estruturais, que envolvem essencialmente ações
voltadas à redução da vulnerabilidade da população, sejam implementadas juntamente às
estruturais. Assim, a realização do mapeamento da vulnerabilidade, uma importante medida não
estrutural, pode orientar um conjunto de ações a serem tomadas a fim de minimizar o risco a
desastres hidrológicos.
Embora as discussões sobre perigo, vulnerabilidade e as variáveis a eles associados tenham
evoluído, existem desafios a serem desvendados quanto ao mapeamento de risco, principalmente no
que se refere ao mapeamento da vulnerabilidade.
Segundo Centro Regional de Información sobre Desastres - CRID (2001), a vulnerabilidade
consiste no grau de susceptibilidade a que está exposta uma população a sofrer danos na ocorrência
de um desastre natural. Goerl et al. (2012) utilizaram a mesma definição em seu trabalho e
analisaram vários conceitos sobre vulnerabilidade baseados em Weichselgartner (2001) e Musser
(2002). Além disso, propuseram um método para mapeamento de áreas de risco à inundação válido
para um município catarinense, elegendo algumas variáveis para definição da vulnerabilidade
(Goerl et al., 2012).
O conceito de vulnerabilidade pode ser utilizado, entre outros, para descrever a exposição ao
risco e a gestão de risco, incluindo a prevenção de choques e a diversificação de ativos e fontes de
receita (PNUD, 2014). De acordo com Barroca et al. (2006), existem várias definições de
vulnerabilidade explicando aspectos específicos que dependem do tipo de estudo, da análise
realizada e resultado obtido, do tipo de perigo, assim como, da escala temporal e espacial, além das
especificidades do local estudado. No relatório de desenvolvimento humano (PNUD, 2014), consta
que uma das maiores causas de vulnerabilidade é a desigualdade, a qual pode causar instabilidade
________________________________________________________________________________________________________________________
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 2
Apostila Pag.347
em um sistema, nas suas várias dimensões (renda, faixa etária, educação, densidade demográfica,
etc.).
Visto que atualmente existe um aumento no número de desastres, os governos demandam
metodologias mais eficazes para prevenir a ocorrência dos mesmos. A utilização de mapeamentos
como subsídio para a gestão de risco pode otimizar os resultados. O mapeamento da vulnerabilidade
para a gestão de risco requer o entendimento dos conceitos básicos de risco, vulnerabilidade e
perigo. A falta de consenso tem contribuído na elaboração de mapas técnicos de forma equivocada.
Muitas vezes, mapas de perigo são elaborados ao invés de mapas de risco. Cabe ressaltar que o
mapeamento de risco consiste na integração dos mapas de vulnerabilidade e de perigo.
De acordo com Reis et al. (2012), os desastres naturais mais frequentes no estado do Rio
Grande do Sul, no período de 2007 a 2011, foram as inundações com um total de 588 ocorrências.
Porém, os escorregamentos, associados às chuvas intensas, geralmente causam maior número de
vítimas. Portanto, no presente estudo, elegeu-se como área piloto os municípios de Alto Feliz e São
Vendelino, localizados na região serrana no Rio Grande do Sul, em virtude da ocorrência dos
desastres hidrológicos nesses locais.
O mapeamento das áreas vulneráveis é um importante instrumento que complementa a análise
de risco. Assim, o objetivo do presente estudo consiste no mapeamento da vulnerabilidade a
desastres hidrológicos nos municípios de Alto Feliz e São Vendelino. A partir desse mapeamento,
os gestores públicos poderão tomar medidas estruturais e não estruturais preventivas, como a
implantação de obras de engenharia e planejamento do uso da terra, no intuito de evitar ou
minimizar os danos decorrentes desses desastres.
2. METODOLOGIA
O município de São Vendelino possui uma população total de 1.994 habitantes, sendo que
1.353 residem na zona urbana e 591 na zona rural (IBGE, 2010). A maior densidade demográfica
também é registrada na zona urbana (setores 1 e 2 da Figura 1). Sua economia se baseia no setor
agrícola e industrial de pequeno porte. Na indústria, destaca-se o ramo calçadista, moveleiro e
metalúrgico; na agricultura, a produção de milho, feijão, mandioca, trigo, batata e alfafa, com o
predomínio do minifúndio (Brasil Channel, 2014).
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 4
Apostila Pag.349
Tabela 1: Variáveis censitárias e variáveis utilizadas para mensurar a vulnerabilidade.
Variáveis censitárias Variáveis de vulnerabilidade
Número de moradores por setor Número de moradores no setor
Média de moradores por domicílio Média de moradores por domicílio
Densidade demográfica (hab/km²) Densidade Demográfica
Percentual da população acima de 60 anos Soma da porcentagem da população acima de
Percentual da população abaixo de 14 anos 60 e abaixo de 14 anos
Percentual de pessoas analfabetas acima de
Percentual de pessoas analfabetas acima de 12 anos
12 anos
Percentual de responsáveis sem rendimento Soma da porcentagem dos responsáveis sem
Percentual de responsáveis com rendimento até 1 rendimento e com rendimento de até 1
Salário Mínimo Salário Mínimo
Adaptado de Goerl et al. (2012)
As variáveis selecionadas foram as mesmas utilizadas por Goerl et al. (2012). Porém, o
diferencial dos parâmetros consiste na idade definida para determinação da população dependente.
Enquanto Goerl et al. (2012) adotaram as idades superior a 65 e inferior a 12 anos, aqui elegeram-se
as idades superiores a 60 e inferiores a 14 anos, em virtude da disponibilidade de dados junto ao
IBGE.
Como unidade de análise, o IBGE identifica e analisa os dados a partir das unidades
censitárias, caracterizada como a menor unidade territorial com limites físicos identificáveis a
campo. A investigação realizada pelo IBGE (2010), referente às características dos domicílios e das
pessoas neles residentes, teve como data de referência o dia 31 de julho de 2010, de acordo com os
seguintes critérios:
♦ Pessoa alfabetizada: aquela pessoa capaz de ler e escrever um bilhete simples no idioma que
conhece. A pessoa que aprendeu a ler e escrever, mas que esqueceu pelo fato de ter passado por um
processo de alfabetização que não se consolidou, e a que apenas assina o próprio nome, foi
considerada analfabeta;
♦ Pessoa responsável: para a pessoa (homem ou a mulher) de 10 anos ou mais de idade,
reconhecida pelos moradores como responsável pela unidade domiciliar;
♦ Rendimento: a soma do rendimento nominal mensal de trabalho com o proveniente de
outras fontes;
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 5
Apostila Pag.350
♦ Dependência: nesse quesito adotou-se como limite 14 e 60 anos. Os 14 anos porque o
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/90, proíbe o trabalho para menores de 14 anos,
salvo na condição de aprendiz. São pessoas vulneráveis o homem ou a mulher que ainda não
completou quatorze (14) anos de idade. Considerou-se 60 anos porque segundo o estatuto do idoso,
lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, em seu art. 1°, considera-se como idoso a pessoa com idade
igual ou superior a 60 anos. Esse estatuto tem como propósito tutelar de forma específica os direitos
do idoso, estabelecendo direitos e medidas de proteção dessa categoria.
A partir desses quesitos, foram determinadas 6 variáveis que constituíram o Índice de
Vulnerabilidade (IV):
Dd + Ms + Mm + PD + PA + R
IV = (1)
IDHM
onde IV é o índice de vulnerabilidade; Dd é a densidade demográfica; Ms é o número de moradores
no setor; Mm é a média de moradores por residência; PD é o percentual de dependência de idosos e
jovens; PA é o percentual de analfabetos acima de 12 anos; R é a renda do responsável sem
rendimento e até 1 salário mínimo e IDHM é o índice de desenvolvimento humano municipal.
O IDHM (2014) é obtido pela média aritmética de três sub-índices: IDHM longevidade,
IDHM educação e IDHM renda. Esse índice é único para cada município e é estimado pela
Organização das Nações Unidas (ONU) através do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
Com base ao afirmado e nos conceitos expostos neste trabalho, considera-se que a
vulnerabilidade é inversamente proporcional a capacidade de suporte/resposta ou de preparo do
município. O IDHM de Alto Feliz e São Vendelino foi utilizado como indicador dessa capacidade.
Esse índice é de 0,734 para o município de Alto Feliz e 0,754 para São Vendelino (PNUD, 2014).
O IDHM é dividido em cinco classes: de 0 a 0,499 (Muito baixo desenvolvimento), 0,5 a
0,599 (Baixo desenvolvimento); 0,6 a 0,699 (Médio desenvolvimento); 0,7 a 0,799 (Alto
desenvolvimento) e 0,8 a 1,00 (Muito Alto desenvolvimento). Dessa forma, Alto Feliz com 0,734 e
São Vendelino com 0,754 demonstram que têm alto desenvolvimento.
Para normalizar as unidades, todas as variáveis foram escalonadas de 0 a 1, sendo 0 o valor
mínimo de cada variável e 1 o valor máximo. Posteriormente, aplicou-se a equação do índice de
vulnerabilidade e novamente realizou-se a normalização para definir a vulnerabilidade final. Assim,
o índice de vulnerabilidade foi agrupado em cinco classes: muito baixa, baixa, média, alta e muito
alta para Alto Feliz e baixa, média, alta e muito alta para São Vendelino. A classe muito baixa para
São Vendelino foi excluída, pois esse município possui somente 4 unidades censitárias.
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 6
Apostila Pag.351
Os índices de vulnerabilidade, resultantes das variáveis, foram definidos através do método
estatístico Natural Breaks nas classes acima mencionadas. Esse método consiste em “minimizar a
variância dentro de cada classe pelo método estatístico, fornecendo categorias que apresentam
valores mais homogêneos possíveis dentro das classes” (Souza et al., 2006).
O presente método difere do Desvio Quartílico, adotado por Goerl et al. (2012). A
normalização, que varia de 0 a 1, foi calculada a partir da Equação 2 proposta por Marcelino et al.
(2006), que consiste:
Vo − Vmin
Vn = (2)
Vmax − Vmin
onde Vn é o valor normalizado; Vo é o valor observado; Vmín é o valor mínimo e Vmáx é o valor
máximo.
Como resultado, foram obtidos os mapas de vulnerabilidade de Alto Feliz e São Vendelino,
de forma separada e de forma integrada, por meio da aplicação da Equação 1, seguida da
normalização adotando-se a Equação 2.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir dos dados do censo do IBGE (2010), selecionaram-se as variáveis que agrupadas em
seis resultaram no índice de vulnerabilidade. Essas variáveis são consideradas importantes por
comporem os principais níveis de vulnerabilidade, a saber: educação, economia e demografia do
município.
Nas Figuras 2 e 3, estão representadas as variáveis utilizadas para determinação da
vulnerabilidade nos municípios de Alto Feliz e São Vendelino. Essa distribuição espacial permitiu
identificar as áreas mais representativas de cada parâmetro selecionado. Desse modo, na Figura 2a
constatou-se que a unidade censitária 5, localizada ao sul, foi a mais representativa, com maior
registro populacional. Por outro lado, o setor 7, a oeste, foi identificado como de menor ocorrência
populacional, apresentando um total de 160 habitantes. Referindo-se a mesma variável, no
município de São Vendelino (Figura 3a), a porção central foi a mais representativa, totalizando 787
moradores, e o setor periférico, a leste, o menos representativo, com 280 moradores no setor 3.
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 7
Apostila Pag.352
Figura 2: Parâmetros de identificação do índice de vulnerabilidade em Alto Feliz: a) População total
por setor; b) Densidade demográfica (habitantes/km²); c) Média de moradores por residência; d)
Percentual da população dependente; e) Taxa de analfabetismo; f) Percentual da população com
renda baixa.
Tabela 2: Valores das variáveis no município de Alto Feliz e São Vendelino por setor censitário.
Alto Feliz - RS São Vendelino - RS
Variáveis Valor mais Valor menos Valor mais Valor menos
representativo representativo representativo representativo
Pop. do setor 576 160 778 280
Dens. demográfica 320 15 27,9 20
Média de moradores 6,07 4,48 6,59 5,13
Pop. dependente (%) 45,41 30,90 38,92 28,97
Tx. analfabetos (%) 8,33 0,63 2,84 0,4
Renda baixa (%) 47,22 23,62 21,50 15,41
Da população com renda baixa (Figura 2f) no município de Alto Feliz o setor periférico é o
mais representativo, assim como no município de São Vendelino (Figura 3f). Porém, os valores de
representatividade, entre ambos os municípios, são muito dispares. Enquanto que o setor 3 do
município de Alto Feliz apresenta um percentual de 47,22, o município de São Vendelino, em seu
setor 4, possui um percentual de 21,50 (Tabela 2). Constata-se, porém, que o município de São
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 9
Apostila Pag.354
Vendelino possui população mais alfabetizada, menor população de baixa renda, maior número e
média de moradores por setor e setores com menos população dependente do que Alto Feliz.
Assim, como identificado no trabalho de Goerl et al. (2012), constatou-se uma relação direta
entre algumas variáveis analisadas, pois a distribuição espacial de maior representatividade se
concentra em duas unidades diferenciais, central e periférica. Embora apresente uma
heterogeneidade na distribuição espacial dos parâmetros, constatou-se uma correlação entre as
seguintes variáveis: população dependente, taxa de analfabetismo e população de baixa renda.
Porém, acrescenta-se que a variável população dependente foi mais representativa no setor 8
(Figura 2d) e no setor 3 (Figura 3d) nos municípios de Alto feliz e São Vendelino, respectivamente.
A taxa de analfabetismo foi mais significativa nos setores 3 e 8 de Alto Feliz (Figura 2e), e no setor
4 do município de São Vendelino (Figura 3e).
Ao confirmar a relação direta de algumas variáveis, a sobreposição alternada foi uma
alternativa encontrada para verificar a possibilidade de reduzir o número de variáveis ou melhorar
os resultados na identificação das áreas mais vulneráveis por unidade censitária (Figuras 4 e 5).
Dessa forma, os gestores públicos poderão realizar o mapeamento de vulnerabilidade a desastres
naturais hidrológicos de forma rápida e eficiente.
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 10
Apostila Pag.355
Figura 5: Identificação do índice de vulnerabilidade com adoção dos parâmetros alternadamente, no
município de São Vendelino, RS.
Com a integração aleatória das variáveis, constatou-se que, no município de Alto Feliz, todas
as figuras síntese, com exceção a 4b e 4e, apontam como área mais vulnerável os setores 8 e 3. Isso
se deve a relação direta entre algumas variáveis analisadas, embora ocorra certa heterogeneidade na
distribuição espacial dentro de um mesmo setor. A partir da análise conjunta das variáveis
população dependente, taxa de analfabetismo, média de moradores e baixa renda (Figura 4f), nota-
se que os setores centrais, situados na zona urbana, apresentam a menor vulnerabilidade, mesmo
excluindo-se a variável média de moradores, como pode ser verificado na Figura 4a.
Verificou-se que a densidade demográfica é um parâmetro que tende a influenciar na
determinação da área de maior vulnerabilidade no município. Ao incluir essa variável na avaliação,
as áreas de maior vulnerabilidade passaram a ocorrer nos setores centrais do município de Alto
Feliz (Figuras 4b e 4e).
O município de São Vendelino seguiu a mesma tendência, pois apresentou certa
homogeneidade com relação aos resultados de Alto Feliz As áreas mais vulneráveis ocorrem na
zona rural e menos vulneráveis concentram-se na zona urbana, porção nordeste e central,
respectivamente, (Figuras 5a, 5c, 5d e 5f). Salienta-se que isso ocorre sem a inclusão da densidade
demográfica. Porém, no momento da inclusão dessa variável, a zona urbana torna-se a mais
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 11
Apostila Pag.356
vulnerável. Isso demonstra que a definição das variáveis é extremamente importante na análise da
vulnerabilidade.
Aplicando a equação do índice de vulnerabilidade, todos os parâmetros para o município de
Alto Feliz (Figura 6) e São Vendelino (Figura 7) foram contemplados. As classes adotadas foram:
muito baixa, baixa, média, alta e muito alta vulnerabilidade para o município de Alto Feliz, sendo
esse um diferencial metodológico de Goerl et al. (2012) pelo fato dos autores não incluírem a classe
muito baixa aos diferentes níveis. Entretanto, para o município de São Vendelino, foram definidas
as mesmas classes que Goerl et al.(2012) utilizaram.
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Figura 7: Espacialização da vulnerabilidade no município de São Vendelino, RS.
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vulnerabilidade muito alta, passaram a uma classe inferior com a integração dos dois municípios, ou
seja, de muito alta para alta vulnerabilidade.
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 14
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A partir do mapeamento integrado dos dois municípios, constatou-se que Alto Feliz concentra
setores de vulnerabilidade alta, média, baixa e muito baixa. Já no município de São Vendelino
encontram-se somente setores de vulnerabilidade muito alta, alta e baixa.
4. CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
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XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 15
Apostila Pag.360
BIBLIOGRAFIA
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2014.
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Apostila Pag.362
8 FLUXO DE DETRITOS
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HISTÓRICO DE OCORRÊNCIA DE FLUXOS
FLUXO DE DESTRITOS E SEUS
ESTUDOS NO BRASIL
Masato Kobiyama1 & Gean Paulo Michel2
RESUMO --- Considerando o fluxo de detritos como um fluxo altamente destrutivo composto por
uma mistura de sedimento e água, o presente trabalho realizou um levantamento de estudos técnico-
técnico
científicos disponíveis na internet que abordaram fluxos de detritos ocorridos no Brasil no período
de 1900-2013.
2013. Embora exista um aumento na ocorrência destes fenômenos a partir da década de 90,
que resultou no aumento do número de publicações, este número ainda é pequeno, especialmente
em revistas cientificas. A análise histórica dos estudos no Brasil demonstra a situação atual no país
e traz diversas ações que deveriam ser implementadas urgentemente. Dentre ntre elas, destacam-se
destacam (1)
estabelecimento de conceito e terminologia; (2) sistematização de monitoramento
hidrometeorológico e levantamento
vantamento topográfico; (3) registros de ocorrências e construção de banco
de dados; e (4) pesquisas sobre fluxo de detritos lenhosos.
1
Professor Dr. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
masato.kobiyama@ufrgs.br
2
Doutorando. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
geanpmichel@gmail.com
Apostila Pag.364
INTRODUÇÃO
Os fluxos de detritos (debris flows) cada vez mais vêm causando graves prejuízos à sociedade
e ao meio ambiente tanto no Brasil quanto no mundo. Isto implica na importância de se desenvolver
um maior número de pesquisas para compreender os mecanismos de tais fenômenos naturais e as
medidas necessárias para reduzir os desastres relacionados aos mesmos. Nestas circunstâncias, a
International Conference on Debris-Flow Hazards Mitigation: Mechanics, Prediction and
Assessment foi realizada em San Francisco (EUA) em 1997, Taipei (Taiwan) em 2000, Davos
(Suíça) em 2003, Chengdu (China) em 2007, e Pádova (Itália) em 2011. Sua sexta edição será em
Tsukuba (Japão) em 2015. Um evento similar chamado International Conference on Monitoring,
Simulation, Prevention and Remediation of Dense and Debris Flow foi realizado quatro vezes: em
Rhodes (Grécia) em 2006, New Forest (Inglaterra) em 2008, Milano (Itália) em 2010 e Dubrovnik
(Croácia) em 2012.
Antigamente, cientistas que se dedicavam ao estudo dos fluxos de detritos não tinham
nenhuma oportunidade de ver este fenômeno ao vivo. Então, as informações eram extraídas de
depoimentos de um número reduzido de testemunhas e de observações da área de deposição do
fluxo de detritos após sua ocorrência. Então, de fato, os cientistas podiam apenas imaginar como o
fluxo se desenvolvia. Okuda et al. (1977) mostraram pela primeira vez ao mundo uma filmagem de
um fluxo de detritos, o que significativamente facilitou o entendimento dos mecanismos do mesmo.
Neste sentido, a contribuição do trabalho de Okuda e seu grupo foi bastante significativa.
Uma obra intitulada "Debris flows" de Takahashi (1991), publicada na série de monografias
da International Association of Hydraulic Engineering and Research (IAHR), foi o primeiro livro
escrito no mundo que exclusivamente abordava esse fenômeno sistematicamente e representou um
grande estímulo para a comunidade científica. Hoje existem diversos livros que tratam
exclusivamente deste fenômeno (por exemplo, Armanini & Michiue, 1997; Jacob & Hungr, 2005;
Takahashi, 2007), além de artigos em forma de revisão (Innes, 1983; Davies et al., 1992; Hutter et
al., 1996; Coussot & Meunier, 1996; Iverson, 1997; Iverson et al., 1997; Hungr et al., 2001;
Vandine & Bovis, 2002; Takahashi, 2009).
Apostila Pag.365
Portanto, o objetivo do presente estudo foi verificar o conceito de fluxo de detritos e realizar
uma investigação histórica e quantitativa sobre trabalhos técnico-científicos que abordaram tal
fenômeno no Brasil. Segundo Alexander (1989), o fluxo de detritos é o tipo mais destrutivo dentre
os movimentos de massa, responsável por causar o maior número de mortes na área urbana. Esta
constatação provavelmente ainda hoje é verdadeira no Brasil e também no mundo.
TERMINOLOGIA E CONCEITOS
Takahashi (2007) definiu o fluxo de detritos como um fluxo composto por uma mistura de
sedimento e água que flui continuamente por ação da gravidade, e comentou que tal fenômeno tem
enorme mobilidade. Segundo Iverson (2004), o fluxo de detritos é um fenômeno transicional de
movimento de massa cujas características alternam-se entre escorregamento e inundação. Coussot
& Meunier (1996) consideraram que o fluxo de detritos é um fenômeno intermediário entre fluxo
hiperconcentrado e escorregamento. Justamente por seu caráter transicional ou intermediário,
existem diversas definições, e consequentemente imprecisões.
De fato, é necessário discutir as características do material que flui, isto é, “debris”, traduzido
no presente trabalho como detritos. Hungr et al. (2001) definiram os detritos como materiais soltos
Apostila Pag.366
e não uniformizados de baixa plasticidade. Texturalmente, os detritos são uma mistura de areias,
seixos, matacões, e siltes. Muitas vezes, os detritos podem conter materiais orgânicos como troncos,
galhos, entre outros. Para Cruden & Varnes (1996), há dois tipos de materiais que constituem os
fluxos: detritos (debris) e terras (earth). Os detritos são solos que contém seixos e outras partículas
de tamanhos grosseiros em uma proporção maior que 20%, enquanto as terras seriam compostas por
esta proporção menor que 20%.
Autores Conceitos
Varnes (1978) O fluxo é o movimento rápido de material viscoso. Existe o fluxo de
detritos, fluxo de lama e avalanche de rochas, dependendo da natureza do
material envolvido no movimento.
Costa (1988) O fluxo de detritos é fluido não newtoniano viscoplástico ou dilantante
fluindo de maneira laminar e com perfil de concentração de sedimento
uniforme. A concentração de sedimento varia de 70 a 90% do peso total (47
a 77% do volume). A tensão cisalhante é maior que 400 dinas/cm2.
Jan & Shen (1997) O fluxo de detritos é um fluxo gravitacional de material composto por uma
mistura de solo, rocha, água e/ou ar, oriundo de escorregamento com
elevada quantidade de escoamento superficial. Suas propriedades variam de
acordo com a quantidade de água e argila, tamanho do sedimento e
distribuição granulométrica.
USGS (1997) Os fluxos de detritos são escorregamentos de movimento rápido, os quais
ocorrem nos mais diversos locais do mundo. Eles são particularmente
perigosos à vida e à propriedade, pois se movimentam abruptamente e
destroem objetos no seu caminho, além de frequentemente ocorrerem sem
alerta.
Vandine & Bovis, O fluxo de detritos é um tipo de movimento de massa, o qual envolve o
(2002) movimento rápido dos materiais orgânico e inorgânico (predominantemente
materiais grosseiros), saturados pela água em canal confinado e declivoso.
Imaizumi et al. Os movimentos de massa são divididos em dois tipos: de encostas e de
(2008) canais. Os movimentos de encostas e de canais são considerados
escorregamentos e fluxos de detritos, respectivamente.
IRDR (2014) O fluxo de detritos é um tipo de escorregamento que ocorre quando uma
chuva intensa provoca a descida de uma grande quantidade de detritos
(troncos, rochas, lamas, etc.) em encostas por ação da força gravitacional.
Hungr et al. (2014) O fluxo de detritos é um fenômeno muito perigoso nas regiões
montanhosas. Este fenômeno se difere dos outros tipos de escorregamento
por ocorrer periodicamente em trajetos estabelecidos, normalmente
voçorocas, e canais de primeira ou segunda ordem.
Como o fluxo de detritos é um fenômeno causador de desastres, ele pode ser tratado do ponto
de vista de desastres naturais e de defesa civil. Em 2008, o Emergency Disaster Data Base (EM-
DAT) do Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), órgão parceiro da
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 4
Apostila Pag.367
Organização Mundial da Saúde, reclassificou os tipos de desastres em dois grandes grupos: naturais
e tecnológicos (Scheuren et al., 2008). Os naturais foram divididos em seis sub-grupos: biológicos,
geofísicos, climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrenos (meteoritos), e estes, por
sua vez, em outros doze subtipos. Esta nova classificação resultou de uma iniciativa entre os dois
principais bancos de dados de desastres, o CRED e a Munich Reinsurance Company (MunichRe),
os quais decidiram adotar uma classificação em comum para os seus respectivos bancos de dados
(Below et al., 2009).
A principal mudança foi a separação dos movimentos de massa em dois tipos: seco e úmido.
O primeiro está associado apenas aos eventos geofísicos (terremotos) e o segundo aos
condicionantes hidrológicos (lençol freático). Independente da origem, tais movimentos de massa
são comumente chamados de escorregamentos. A UN-Intenational Strategy for Disaster Reduction
(UNISDR) também adotou a nova classificação, visto que o EM-DAT é o principal banco de dados
utilizado pela ONU, como observado em UNDP (2004). Além disso, uma atualização posterior da
classificação utilizada CRED foi realizada, na qual não se encontra mais os desastres extraterrenos
(Guha-Sapir et al., 2012). Assim sendo, a Tabela 2 mostra sucintamente o resumo das classificações
antiga e atual dos desastres naturais estabelecidas pelo CRED e ONU. Nesta classificação, o fluxo
de detritos faz parte dos movimentos de massa úmida. Isto significa que o fluxo de detritos é
considerado um tipo de desastre hidrológico pela ONU.
Recentemente, Brasil (2012) lançou a Lei 12.608/12 que institui a Política Nacional de
Proteção de Defesa Civil (PNPDEC). Em decorrência do histórico brasileiro, com grandes prejuízos
associados aos desastres naturais, no texto da PNPDEC encontram-se vários aspectos, citações, e
intenções que se relacionam com os recursos hídricos e seu gerenciamento. Como Venderuscolo &
Kobiyama (2007) apontaram, as interfaces entre a PNPDEC e a Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH), que foi estabelecida pela Lei nº 9.433/97 (Brasil, 1997), devem ser analisadas
mais detalhadamente.
Apostila Pag.368
Para uma melhor explanação de alguns aspectos da PNPDEC, Ministério da Integração
Nacional (2012) publicou Instrução Normativa No. 01. Nesta Instrução Normativa, encontram-se
vários fragmentos de texto onde o governo federal expressa a maneira como realizará a
classificação brasileira dos desastres naturais:
A partir das três expressões acima citadas, fica nítido que o governo federal tinha a intenção
de tornar a classificação e codificação brasileira (COBRADE) muito semelhante à classificação
internacional utilizada pela ONU, embora a classificação brasileira seja mais detalhada. Entretanto,
pode-se dizer que a classificação brasileira não acompanha a alteração da classificação realizada
pelo CRED, e mantém um estilo mais próximo à classificação antiga (Tabela 3).
Apostila Pag.369
respectivamente. Assim, observa-se que a classificação brasileira não coincide com a classificação
internacional em relação aos fluxos de detritos. Como este fenômeno é um tipo de movimento de
massa úmida, para respeitar o Art. 7º do PNPDEC, os fluxos de detritos deveriam ser classificados
como desastres hidrológicos. Aqui vale lembrar que Kobiyama et al. (2010a) mostraram que dentre
todos os tipos de desastres naturais, os desastres hidrológicos (inundações + escorregamentos) são
os que acarretam em maiores problemas tanto no Brasil quanto no mundo.
Em relação ao fenômeno em si, ao tipo de material que flui, à categoria de desastre associado
a tal fenômeno, entre outros, encontra-se uma grande variedade de terminologias e conceitos.
Brunsden (1979) comentou que a terminologia e a classificação dos fluxos de detritos não são
satisfatórias. A análise bibliográfica realizada pelo presente estudo mostra que este problema ainda
hoje permanece na comunidade cientifica. Além da complexidade e dificuldade na identificação dos
fenômenos, a não concordância administrativa torna o levantamento de trabalhos na literatura uma
tarefa bastante ainda mais onerosa e complicada.
Com base em todos os exemplos acima mencionados, o presente estudo usa o termo técnico
“fluxo de detritos” como correspondente ao termo inglês debris flow, e define-o como um
Apostila Pag.370
fenômeno de fluxo que se dá a partir da ocorrência de um escorregamento de solo e rocha. Devido à
fluidez da mistura, seu alcance frequentemente é elevado, entretanto o presente trabalho não discute
este valor detalhadamente.
MATERIAIS E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSÃO
Registro antigo
Takahashi (1983) relatou que Schlumberger (1882) elaborou um dos primeiros relatos sobre
fluxos de detritos na literatura mundial. Buscando na literatura brasileira antiga, um relato do Padre
Anchieta descrevendo sua experiência em Piratininga em 1560 foi encontrado (Corrêa Filho, 1954):
“........., caiu com tanta violência que parecia ameaçar-nos o Senhor com a
destruição; abalou as casas, arrebatou os telhados e derribou as matas; a
árvores de colossal altura arrancou pelas raízes, partiu pelo meio outras
menores, despedaçou outras, de tal maneira que ficaram obstruídas as estradas, e
nenhuma passagem havia pelos bosques, era para admirar quantos estragos de
árvores e casas produziu no espaço de meia hora........”
Observa-se que essa descrição possivelmente relata a ocorrência de um evento chuvoso de grande
magnitude seguido de um ou uma série de fluxos de detritos (ou lamas). Portanto, esse registro pode
Apostila Pag.371
ser considerado o mais antigo relacionado a este fenômeno no Brasil. Depois dele,
d várias pessoas
registraram os fluxos de detritos de forma mais ou menos científica.
Análise histórica
No levantamento realizado através de buscas na
n Internet e também em bibliotecas,
bibliotecas
encontraram-se, no total, 151 trabalhos que foram publicados no período de 1949 até 2013. A
descrição de todas as publicações encontra-se
encontra em Kobiyama & Michel (2014). Embora o período de
investigação estenda-se
se a partir do início do século XX, nenhum trabalho técnico-científico
técnico foi
encontrado até o ano de 1949. Observou-se
se que muitos trabalhos brasileiros,
brasileiros direta ou
indiretamente, adotam a classificação de Varnes (1978). A Figura 1 mostra o número de trabalhos
dividido em quatro categorias: livros; artigos em revistas; artigos em anais; e monografias (TCC,
dissertação, tese, e relatório técnico).
técnico Observa-se claramente que a maior parte das
da publicações é de
artigos em anais. Isto implica em uma qualidade limitada da produção
o cientifica relacionada a tal
fenômeno no Brasil. Além disso, o número de livros científicos é pequeno,
pequeno o que demonstra a
dificuldade inerente ao estudo de tal assunto.
Figura 1 – Distribuição das publicações dos trabalhos científicos sobre fluxo de detritos no Brasil
no período de 1900-2013
1900 em diferentes categorias.
A Figura 2 apresenta a tendência histórica dos trabalhos no período de 1900 a 2013. Embora
várias publicações tenham sido realizadas no período de 1966 a 1975, na década de 90 iniciou-se
iniciou
um aumento significativo das publicações.
Apostila Pag.372
Figura 2 – Histórico dos trabalhos científicos sobre fluxos
fluxo de detritos no Brasil no período de 1900-
1900
2013.
Apostila Pag.373
Tabela 4 – Desastres com fluxo de detritos no Brasil (1900-2013).
Apostila Pag.374
caracterizado por alta temperatura, pluviosidade e biodiversidade, os fluxos de detritos que aqui
ocorrem podem ser diferentes daqueles que ocorrem fora do Brasil, especialmente na Europa e
América do Norte. Justamente por isso, a comunidade cientifica brasileira deve discutir ainda mais
a terminologia e o conceito utilizados.
Os fluxos de detritos ocorrem quase sempre relacionados à chuvas intensas. Devido a este
fato, o CRED reformulou sua classificação de desastres naturais, inserindo os fluxos de detritos na
categoria de desastres hidrológicos. Então, o monitoramento hidrológico, especialmente de chuva,
deve ser ainda mais intensificado no Brasil.
Apostila Pag.375
diversas equações que foram estabelecidas somente a partir de bancos de dados contendo registros
de ocorrências. Por exemplo, a equação que relaciona o ângulo de percurso do fluxo com o volume
total de sedimento produzido (Corominas, 1996; Rickenmann, 1999). Como uma equação que
descreve a situação brasileira ainda não foi elaborada, Kobiyama et al. (2010b) compararam seu
resultado com fenômenos que ocorreram na Europa, usando uma figura de Rickenmann (2005).
Para verificar a semelhança entre a situação brasileira e a européia e/ou para gerar a própria equação
a fim de descrever a condição dos fluxos brasileiros, é imprescindível que um banco de dados
contendo registros de ocorrências de fluxos de detritos seja criado e disponibilizado totalmente a
todos interessados.
Apostila Pag.376
categorizado como um fluxo de detritos lenhosos (woody debris flow). Assim, os estudos realizados
no Brasil devem enfocar a dinâmica dos troncos no contexto integral do fluxo de detritos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Fluxos de detritos não ocorrem frequentemente. Porém, quando ocorrem, são capazes de gerar
grandes prejuízos e fatalidades. Portanto, a fim de reduzir desastres associados a fluxos de detritos,
diversas medidas são necessárias, dentre as quais destaca-se o registro e descrição de tal fenômeno
no momento de sua ocorrência e também a educação/conscientização previamente a sua ocorrência.
Para promover a educação relacionada aos fluxos de detritos, são necessários materiais didáticos
que por sua vez dependem da existência dos registros. Normalmente tais fenômenos ocorrem em
regiões montanhosas, por isso, cidadãos comuns precisam receber uma boa educação sobre o tema
para que possam registrá-los mais adequada e detalhadamente. Assim sendo, como Goerl et al.
(2012) comentaram que o fluxo de detritos pode ser um dos principais objetos de estudo da
hidrogeomorfologia; a geomorfologia, especialmente a hidrogeomorfologia, deve ser mais
difundida em todos os níveis de ensino no Brasil, e essa ciência deve avançar no entendimento de
tal fenômeno.
AGRADECIMENTOS
Apostila Pag.377
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Apostila Pag.383
MAPEAMENTO DE ÁREA DE PERIGO COM CONSIDERAÇÃO DO ALCANCE
DA MASSA DESLIZADA: ESTUDO DE CASO
MASATO KOBIYAMA1
ROBERTO VALMIR DA SILVA1
TATIANE CHECCHIA1
ALEXANDRE ALVES1
1
Depto. de Eng. Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Santa Catarina
Caixa Postal 476, Florianópolis – SC, Brasil. CEP 88040-900
{kobiyama, roberto, tatiane, alexandre}@ens.ufsc.br
KOBIYAMA, M.; SILVA, R. V.; CHECCIA, T.; ALVES, A. Mapeamento de áreas de perigo com
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(CD-ROM)
RESUMO
O movimento de massa é considerado um fenômeno natural e o principal formador da superfície terrestre.
Além disso, há mais prejuízos sócio-econômicos e ambientais nas áreas de deposição do que nas áreas de
ocorrência. Desta forma, as áreas de perigo não devem conter apenas as áreas de ocorrência, mas também as
áreas de deposição. Para tanto, os processos de iniciação, transporte e deposição devem ser estudados. Este
trabalho apresentou um método topográfico modificado para estimativa da distância de alcance máxima
alcançada pela massa deslizada. Esta técnica poderá melhorar a elaboração de mapas de áreas de perigo para
deslizamentos. Este método foi aplicado a uma região com potencialidade em deslizamentos, no município
de Florianópolis - SC. Duas áreas do local de estudo foram analisadas e as áreas de ocorrência de
deslizamento e deposição foram levantadas.
Palavras-chave: deslizamento, distância de alcance, mapa de perigo.
ABSTRACT
The mass movement is a natural phenomenon and is the main landscape-surface generator. It is noted that
there are more social, economic and environmental damages on the deposition areas in this phenomenon than
on the occurrence areas. That is why the hazard areas must content not only the occurrence areas, but also the
deposition areas. The initiation, transport and deposition processes have to be considered. This work presents
a modified topographic method to estimate the maximum runout distance of the slided mass. This method
will be able to improve the hazard maps confection. This method was applied to one region with potential
landslides, in Florianópolis City, Santa Catarina State. Two areas within the study region were analyzed and
both landslides areas and deposition areas were mapped.
Key-words: landslide, runout distance, hazard map.
1. INTRODUÇÃO
O movimento de massa em vertente é um fenômeno natural e faz parte da evolução
da paisagem. BIGARELLA (2003) colocou que este fenômeno é o mais importante
processo geomórfológico modelador da superfície terrestre. Portanto, viver com esse
fenômeno é inevitável. O aumento da população nas áreas urbanas causa as ocupações de
áreas inadequadas, obrigando a população ao convívio com esse fenômeno.
Recentemente, FERNANDES & AMARAL (1998), BIGARELLA (2003),
CHECCHIA et al. (2004) entre outros realizaram um levantamento bibliográfico da
termologia relacionada ao movimento de massa em encosta. Como FERNANDES &
2. TEORIA
Os métodos de investigação da distância que a enxurrada de origem do
deslizamento atinge podem ser classificados em dois tipos: topográfico e numérico com
base física. A descrição do método numérico encontra-se no livro de TAKAHASHI
(1991). Embora ele seja muito útil, exige alto conhecimento de técnicas computacionais e
também necessita dados com enorme número de parâmetros, muitas vezes inviabilizando
sua execução.
Por outro lado, o método topográfico é de fácil execução, necessitando apenas de
mapas topográficos. Embora a precisão nesse método pode ser menor do que no numérico,
o método topográfico é bastante útil para estudos preliminares e também para estudos dos
locais onde não há dados dos parâmetros. Portanto, o presente trabalho trata do método
topográfico.
A Figura 1 mostra a geometria do deslizamento e sua deposição que
SCHEIDEGGER (1973, 1990) propôs de uma maneira simples. Imagina-se que uma
pequena massa inicialmente parada escoa ao longo de uma distância pequena e ganha uma
energia cinética. Considerando a perda de energia devido à fricção, obtém-se uma equação
de conservação de energia, isto é:
1
mg∆s ⋅ sin β = ∆ mv 2 + fmg∆s ⋅ cos β (1)
2
1 1 2
∆ v = ∆h − f∆x (2)
g 2
SCHEIDEGGER (1973, 1990) considerou que a velocidade seja nula em ambos momentos
inicial e final do movimento, e integrando a equação (2) obteve:
h
f = = tan α (3)
x
na qual x representa a distância máxima da área de deposição e h o desnível entre a parte
superior do deslizamento e o nível do local de alcance máximo da área de deposição. A
equação (3) indica que o coeficiente de fricção dinâmica é igual à razão de altura total de
movimento sobre a distância total de movimento. HSÜ (1975) chamou este f como
coeficiente equivalente de fricção.
Se a equação (3) é correta, seria importante estimar o valor de f. Sob o aspecto da
engenharia, o valor de f pode ser relacionado com o valor do coeficiente de fricção f*.
ASHIDA et al. (1984), realizando experimentos laboratoriais, mostraram a seguinte
relação:
f
0,65 < < 0,85 (4)
f*
Ainda na comparação entre as equações (5) e (6), nota-se que o valor de inclinação
da linha da equação (6) é menor que aquele da (5). Aquele valor (0,5522) é ainda menor
que a faixa obtida por ASHIDA et al. (1984). Isso pode ser devido ao fato que a equação
(6) foi obtida somente com os casos nos quais a massa no deslizamento estava bem úmida
e a água reduziu a rugosidade do material.
Além disso, analisando os dados da Tabela 1, obtém-se:
h
= − logV + 0,4892 (R2 = 0,1709) (7)
x
tan θ = −0,0396 logV + 0,8176 (R2 = 0,2691) (8)
h
V = 295167036 − 708228887 + 62332844 tan θ (R2 = 0,1073) (9)
x
Como se pode notar o valor de R2 para a equação (9) é muito baixo, deduz-se que
para a estimativa do volume deslizado, outros parâmetros devem ser levados em
consideração, tal como o tipo de solo.
Tabela 2. Perfis da área e parâmetros. (a) Área “a”; (b) Área “b”.
(a)
Perfil h' [m] x' [m] tan θ θ [º] f α [º]
1 66 135,4 0,487445 25,98667 0,300567 16,72904
2 86 173,6 0,495392 26,35343 0,304955 16,95936
3 103 220,5 0,46712 25,03823 0,289344 16,13747
4 150 323,1 0,464253 24,90321 0,28776 16,05372
5 139 319,2 0,435464 23,53138 0,271863 15,20902
6 102 185,9 0,548682 28,75279 0,334382 18,48902
7 145 368,8 0,393167 21,46312 0,248507 13,9557
8 123 274,1 0,448741 24,16775 0,279195 15,59947
9 70 173,2 0,404157 22,00644 0,254576 14,28271
10 40 85,1 0,470035 25,17518 0,290953 16,22254
Média -> 24,73782 0,285825 15,95128
(b)
Perfil h' [m] x' [m] tan θ θ [º] f α [º]
1 50 119,78 0,417432 22,65722 0,261906 14,67646
2 60 149,54 0,40123 21,86216 0,252959 14,19572
3 70 196,37 0,35647 19,61962 0,228243 12,8571
4 110 275,56 0,399187 21,76125 0,251831 14,13494
5 120 275,03 0,436316 23,57242 0,272334 15,23413
6 120 288,03 0,416623 22,61775 0,261459 14,65251
7 110 280,38 0,392325 21,4213 0,248042 13,93059
8 110 262,48 0,41908 22,73756 0,262816 14,72523
9 80 225,95 0,354061 19,49705 0,226912 12,78463
Média -> 21,74959 0,251701 14,12793
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento de locais onde se iniciam os movimentos de massa (deslizamento) é
de grande importância. É fato que a massa que desliza deposita-se bem abaixo do local
inicial. Isto implica que as áreas de perigo devido a deslizamentos abrangem áreas totais de
iniciação, transporte (fluxo) e deposição de deslizamento. Então, o mapa de área de perigo
devido a deslizamentos deve levar em consideração todas as áreas.
Com este intuito, o presente trabalho estabeleceu um método simples com base de
informação topográfica. Para isso, modificou uma equação estabelecida por MORIWAKI
(1987) que incluiu os efeitos sismológicos, pois no Brasil praticamente não se necessita
desta consideração. A equação estabelecida para o alcance da massa escorrida no
h
deslizamento é f = = 0,5522 tan θ + 0,0314 . O presente trabalho aplicou esta equação a
x
alguns locais de susceptibilidade muito alta e alta a deslizamentos, no bairro Saco Grande
no município de Florianópolis.
Para melhorar esta equação, deve-se realizar levantamentos em campo sobre
deslizamentos em diversos locais.
5. AGRADECIMENTO
Os autores agradecem a Profa. Maria Lúcia Herrmann da UFSC, pela discussão
sobre conceito de susceptibilidade a deslizamento.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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451p.
RESUMO --- Em novembro de 2008, o estado de Santa Catarina foi cenário de uma tragédia
vinculada em toda a mídia nacional devido à ocorrência de desastres hidrológicos (inundações e
escorregamentos). Os municípios mais atingidos são os localizados no Vale do Itajaí. Rio dos
Cedros foi um destes municípios atingidos. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo
analisar um fluxo de detritos (um tipo de escorregamento) ocorrido na localidade de Rio Cunha
nesse município. Em campo foram medidos os seguintes parâmetros: largura do escorregamento,
tamanho dos blocos, altura do depósito e declividade dos trechos do movimento. Notou-se que,
dentre estes parâmetros medidos, apenas a declividade do inicio do escorregamento foi semelhante
à indicada na literatura científica. Levantamentos tais como o apresentado no presente trabalho
visam suprir uma deficiência no registro oficial de desastres naturais, que é a descrição do evento.
ABSTRACT --- In November, 2008, the Santa Catarina State was central of the national media
because of the occurrence of hydrological disasters (floods and landslides). The strongly-affected
cities are located in the Itajaí Valley. Rio dos Cedros city is one of them. In this context, the
objective of the present work was to analyze a debris flow (one type of landslide) occurred in Rio
Cunha catchment in this city. Several parameters (the landslide width, the block size, deposition
height, and the landslide reaches slope) were measured on the field. It was noted that slope of the
upper part of landslide coincide with the patterns reported in the scientific literature. Surveys like
the present work aim to address a deficiency in the official record (event description) of natural
disasters.
1)Bolsista CNPQ – Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-970,
E-mail: roberto.fabris@gmail.com
2)Bolsista do CNPq, Professor Associado II Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa
Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-900, E-mail: kobiyama@ens.ufsc.br
3)Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil,
CEP 88040-900, E-mail: gabrielapaco@yahoo.com.br
4)Bolsista do Capes, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476,
Florianópolis-SC, Brasil, CEP 88040-900, E-mail: henrique.lucini@gmail.com
5)Graduanda do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina, Caixa Postal 476, Florianópolis-SC, Brasil,
CEP 88040-900, E-mail: joana_n_g@yahoo.com.br
Apostila Pag.396
1. ITRODUÇÃO
2. FUDAMETAÇÃO TEÓRICA
Para ISDR (2002) desastres podem ser definidos como sendo um sério distúrbio no
funcionamento de uma comunidade ou sociedade, causando perdas humanas, materiais, econômicas
e materiais, que excedem a capacidade da comunidade afetada de se recuperar com seus próprios
Apostila Pag.397
recursos. Benson e Clay (2003) definem desastre como sendo a ocorrência de um anormal e não
freqüente perigo que impacta comunidades ou áreas vulneráveis, causando danos substanciais e
possíveis mortes, deixando a comunidade afetada fora do seu estado de normalidade. Conforme
UNPD (2004) um desastre natural é definido como um sério distúrbio desencadeado por um perigo
natural que causa perdas materiais, humanas, econômicas e ambientais, que excedem a capacidade
da comunidade afetada de enfrentar o perigo. A Secretária Nacional de Defesa Civil, com base no
trabalho de Castro (1998) define desastre como sendo o resultado de eventos adversos, naturais ou
provocados pelo homem, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais
e/ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais.
Atualmente se está em um período marcado pelo aumento da perda de vidas a dos danos
associados a inundações e outros tipos de catástrofes naturais. Este problema pode estar
parcialmente ligado as mudanças climáticas, mas certamente está associado à propensão humana de
construir em áreas susceptíveis a ocorrência de fenômenos naturais potencialmente danosos.
Alcântara-Ayala (2002) comenta que, apesar dos desastres naturais ocorrem no mundo inteiro, os
seus maiores impactos ocorrem em países em desenvolvimento, devidos a dois fatores, a
localização geográfica e as características geológico-geomorfológicas. Para MacDonald (2003), nas
últimas décadas tem havido uma aumento de cerca de dez vezes nos danos causados pelos desastres
naturais, em virtude dos seguintes fatores: a) aumento das pessoas que ocupam áreas susceptíveis a
perigos naturais em virtude do crescimento populacional; b) as condições econômicas das pessoas
que ocupam estas áreas susceptíveis, implicando em construções com alto grau de vulnerabilidade.
Os desastres naturais, segundo Twing (2004), mataram uma média de 60.000 pessoas por ano,
entre 1992 e 2001. Para o mesmo período, segundo o mesmo autor, os desastres afetaram
diretamente 200 milhões de pessoas e causara prejuízos em torno de US$ 69 bi. por ano. Rosenfeld
(1994) comenta que os danos provocados por desastres naturais aumentaram cerca de três vezes
desde a década de 1960, deixando mais de 3 milhões de mortos e 800 milhões de desabrigados. O
Banco Mundial, entre os anos de 1980 e 2003, fez empréstimos emergenciais relacionados a
desastres de aproximadamente US$ 14,4 bilhões. Deste montante, segundo Dilley et al. (2005), US$
12 bilhões foram destinados para apenas 20 países, que possuem cerca de metade de sua população
em áreas de alto risco.
Apostila Pag.398
A Figura 1 apresenta o número de registros de desastres naturais bem como o total de pessoas
afetadas pelos mesmos. Nota-se um crescimento acentuado do número de registros, principalmente
após 1975. Ressalta-se que este aumento do número de desastres e da intensidade não
necessariamente está associado ao aumento da freqüência do fenômeno natural que origina o
desastre. Como pode estar havendo a ocupação de áreas susceptíveis antes desocupas, pode ocorrer
um aumento do número de desastres, e não de fenômenos naturais per si, visto que a freqüência do
fenômeno pode permanecer a mesma. Além disso, o aumento populacional ocasiona um maior
número de pessoas expostas aos fenômenos naturais e quando ocorre um desastre há um maior
número de pessoas afetadas e de prejuízos econômicos. Este fato pode ser exemplificado pelos
estudos de Silveira (2008), que analisou o histórico das inundações em Joinville – SC entre 1851 e
2007, e demonstrou que, neste município, o aumento da freqüência das inundações está mais
correlacionado com o aumento populacional e conseqüente expansão urbana do que com o aumento
da precipitação, pois não houve uma mudança considerável no regime pluviométrico que explicasse
este aumento de freqüência.
500 0
450
100
350 200
Número de Registros
300
300
Desastres Naturais
250
Pessoas Afetadas
400
200
150 500
100
600
50
0 700
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
Figura 1 – Total de registros de desastres naturais e número total de pessoas afetadas entre 1960-
2008.
Fonte dos dados: EM-DAT
Em 2008, o Emergency Disaster Data Base (EM-DAT) do Centre for Research on the
Epidemiology of Disasters (CRED), re-classificou os tipos de desastres em seu banco de dados
Apostila Pag.399
(Scheuren et al., 2008). Os desastres foram classificados primeiro em dois grandes grupos: os
naturais e os tecnológicos. Os naturais foram subdivididos em seis grupos: biológicos, geofísicos,
climatológicos, hidrológicos, meteorológicos e extraterrestres (meteoritos), e estes por sua vez em
outros 12.
1. Biológicos: a) Epidemias; b) Infestações por Insetos
2. Hidrológico: a) Inundações; b) Movimentos de Massa “úmidos”
3. Meteorológicos: Tempestades
4. Climatológicos: a) Temperaturas Extremas; b) Estiagens; c) Incêndios
5. Geofísicos: a) Terremotos; b) Vulcanismo; c) Movimentos de Massa “seco”
6. Extraterrestres: Meteoritos
Segundo Scheuren et al. (2008), esta nova classificação foi resultado de uma iniciativa entre o
próprio CRED e Munich Reinsurance Company – MunichRe, que decidiram implantar uma
classificação em comum para os seus respectivos bancos de dados. A MunichRe mantém o
NATCAT, um banco de dados que registra grandes catástrofes naturais. Com esta nova
classificação, 17000 entradas no banco de dados de EM-DAT foram alteradas, contudo sem alterar
significativamente a sua distribuição entre os grupos e a tendência em relação à classificação
anterior. A principal mudança foi separar em dois tipos os movimentos de massa: “secos” e
“molhados”. O primeiro associado apenas a eventos geofísicos (terremotos) e o segundo a
condicionantes hidrológicos e meteorológicos. Além disso, a International Strategy for Disaster
Reduction das Nações Unidas também adotou as mudanças na classificação, visto que o EM-DAT é
o principal banco de dados utilizado pela ONU, como observado em UNPD (2004)
Na Figura 2 pode-se observar a distribuição anual em relação às quatro principais categorias
de desastres para o período de 1960 a 2007. Nota-se que, apesar de todos os tipos apresentarem
aumento em sua freqüência, os desastres hidrológicos seguido dos meteorológicos, como as
inundações, escorregamentos e as tempestades severas são os tiveram um maior aumento. Esta
mesma tendência também é apresentada pelo banco de dados NATCAT. No Brasil, o tipo de
desastre que mais ocorre são os hidrológicos (inundações e escorregamentos), conforme Kobiyama
et al. (2004). Assim, a hidrologia tem um papel fundamental na prevenção dos desastres e na
mitigação dos seus danos, pois a inclusão dos desastres dentro da ciência hidrológica é de suma
importância caso se queira tentar reduzir a freqüência dos desastres no Brasil.
Apostila Pag.400
450
Climatológico Geofísico
400
Meteorológico Hidrológico
350
250
200
150
100
50
0
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
Figura 2 – Ocorrências de desastres naturais no mundo, por tipo de desastre entre 1950-2008.
Fonte dos dados: EM-DAT
Ressalta-se que, apesar dessa tentativa de padronizar a classificação, cada banco de dados,
possui critérios de registro diferentes. Para um desastre natural ser registrado no EM-DAT, os
seguintes critérios tem que ser levados em consideração: a) 10 ou mais vítimas fatais; b) 100 ou
mais pessoas afetadas; c) declaração de estado de emergência; e c) pedido de assistência
internacional. No NATCAT, os critérios são: a) ajuda inter-regional ou internacional; b) milhares de
mortos; c) centenas de milhares de desabrigados; d) danos e perdas generalizadas. Como os critérios
de registro são diferentes, estes bancos de dados poderão apresentar tendências diferentes
relacionados a parâmetros específicos, como número total de desabrigados, de mortos e de prejuízos
totais. Marcelino et al. (2006), comparando os bancos de dados globais com o mantido pela Defesa
Civil de Santa Catarina - DEDC, demonstraram que muitos eventos que atendiam aos critérios
estabelecidos pelo EM-DAT não foram contabilizados para o estado de Santa Catarina. Entre 1980
e 2003, os autores comentam que foram registrados pela DEDC 3.373 desastres naturais, e apenas
89 no EM-DAT, uma discrepância muito grande que não é representada nas estimativas mundiais.
Apostila Pag.401
2.2 Fluxo de detritos
Fenômenos como escorregamentos e inundações, são processos naturais e fazem parte de
dinâmica superficial terrestre. Juntamente com outros fenômenos naturais, são os principais
processos modeladores da paisagem. A partir do momento que ocorre a ocupação em ares
susceptíveis a estes fenômenos, os mesmos são considerados perigos naturais, ou seja, possuem o
potencial de causar danos. Quando um fenômeno destes ocorre e causa danos ambientais,
econômicos e sociais, passa a ser considerado como desastre natural. O presente trabalho aborda
principalmente o fenômeno como desastre, e não apena como processo natural.
Os escorregamentos, como comentando acima, são inseridos dentro de duas classes: os
escorregamentos secos (geofísico) e úmidos (hidrológicos). O primeiro relacionado a eventos da
dinâmica interna da terra, como terremotos e o segundo a dinâmica externa, associados à presença
de água no solo. No Brasil, os escorregamentos que mais ocorrem são os “úmidos”, assim, apenas
estes serão tratados no presente trabalho.
Adotando a classificação proposta por Augusto Filho (1994), distinguem-se os
escorregamentos em quatro tipos: rastejos, deslizamentos (rotacional e translacional), quedas e
corridas (fluxos). Segundo Fernandes e Amaral (1996), as corridas estão geralmente associadas à
concentração excessiva dos fluxos de água superficiais, provenientes de precipitações anômalas,
que deflagram em algum ponto da encosta um processo de fluxo contínuo de material terroso.
Conforme Marcelino (2004) apesar de serem mais raras de ocorrer, as corridas produzem estragos
maiores que os escorregamentos translacionais. No entanto, a distinção entre os dois nem sempre é
fácil, pois, em alguns casos, as corridas iniciam-se sob a forma de um escorregamento e, ao atingir
um curso d’água, o material deslocado ganha velocidade e fluidez, passando a se comportar como
uma corrida.
No Brasil, adota-se comumente o termo corrida para fenômenos como fluxo de detritos, fluxo
de lama, fluxo de terra. Contudo, segundo Avelar et al. (2006), a melhor terminologia para designar
as corridas é fluxo, visto que a tradução mais coerente para o termo debris flow é fluxo de detritos.
Além disso, os autores comentam que o termo corrida não se refere a um processo físico, não sendo
muito adequado para designar os fluxos. O presente trabalho, adotando o termo proposto por Avelar
et al. (2006), enfocará apenas os fluxos de detritos.
Segundo Takahashi (1991) fluxo de detritos é um fluxo de uma mistura de sedimentos e água
que se comporta como um fluido de fluxo continuo impulsionado pela gravidade. Citando Jakob e
Bovis (1996), Skermer et al. (2002), definem os fluxo de detritos como sendo um rápido fluxo
Apostila Pag.402
saturado de detritos em um canal com alto gradiente de declividade. Para Goudie (2004), um fluxo
de detritos consiste numa mistura de água e sedimentos pobremente selecionados, além de outros
tipos de detritos, fluindo por um canal de forma abrupta, com velocidades em torno de 10m/s,
apresentando cerca de 70% do seu volume de partículas sólidas. O mesmo autor ainda comenta que
como conseqüências negativas, os fluxos de detritos podem denudar encostas, causar danos
estruturais, alterar drasticamente canais e colocar em risco a vida humana. Dentro da literatura
cientifica, ainda utiliza-se o termo avalanche de detritos. Segundo Slaymaker (1988), a principal
diferença entre fluxo de detritos e avalanche de detritos é que o primeiro é canalizado enquanto que
o segundo não.
Conforme Avelar et al. (2006), três mecanismos são considerados na iniciação dos fluxos de
detritos:
1. Erosão fluvial em canais de drenagem: atua sob vazões críticas instabilizadoras,
causadas pelo efeito cisalhante da água corrente no depósito abaixo do canal, advindas
de chuvas intensas, derretimento de neve ou ruptura de barragens;
2. Aumento de poro-pressão pela infiltração: súbito acréscimo de poro-pressão devido à
recarga da zona saturada durante chuvas muito intensas;
3. Aumento de poro-pressão causado por carregamento muito rápido: se dá pelo impacto
causado a partir de movimentos de massa ocorrido a montante sobre depósitos em
fundos de vale.
Slaymaker (1988) elenca quatro critérios ambientais para a ocorrência de fluxo de detritos:
a) Pequenas bacias hidrográficas, com a área variando de 0,1 a 10 km²;
b) Declividade do canal, que pode ser dividido em três zonas: inicio do escorregamento,
com declividades maiores que 25º, zona de erosão e transporte, com declividade
variando de 10-25º e zona de deposição, nas declividades menores que 12º. Neste ponto
há algumas divergências entre alguns autores. Bryant (2005) assume os seguintes valores
para a declividade do canal, 30-40º para haver o inicio do fluxo, 12-20º para transporte e
menor que 12º para deposição. Bridge e Demico (2008) comentam que pode haver
transporte de material mesmo em zonas de declividade baixa, em torno de 1-2º.
c) Grande quantidade de escoamento superficial, havendo a saturação do solo na bacia.
Assim, a precipitação antecedente e durante o evento é um fator determinante para a
ocorrência.
Apostila Pag.403
d) Quantidade substancial de detritos disponíveis para a mobilização, dependendo este
critério das características do leito, das margens do canal e das paredes do vale adjacente
ao canal, alem do uso do solo na localidade de ocorrência, tipo de solo, litologia e
presença de blocos no canal.
Nota-se, que os fluxos de detritos geralmente irão ocorrer em áreas montanhosas, pois são os
locais que mais se enquadram nestes critérios. Além disso, as áreas montanhosas também
favorecem a ocorrência precipitações intensas, associadas à formação de sistemas convectivos
locais, ocasionando a rápida saturação do solo e conseqüente escoamento superficial concentrado.
Tratando-se do volume de sedimentos, ainda não existe uma clara distinção entre fluxo de
detritos e inundação, principalmente no que diz respeito à porcentagem total. Segundo o Federal
Office for Water and Geology (2001), a concentração de sedimentos em um fluxo de detritos varia
de 30 a 70% do volume total, o que é um intervalo muito grande para aproximar alguma distinção.
Para Wilford et al (2004), uma inundação possuí uma concentração de sedimentos em torno de 20%
do seu volume. Uma inundação de detritos (fluxo hiperconcentrado) tem concentração entre 20 a
47% e um fluxo de detritos mais de 47%. Kelman e Spence (2004) assumem valores semelhantes,
inundação entre 0,4 a 20%, fluxo hiperconcentrado (inundação de detritos) entre 20-47% e fluxo de
detritos entre 47-77% do volume total de sedimentos. Ressalta-se que a distinção entre inundação e
inundação de detritos não é muito clara, podendo se aproximar o termo inundação de detritos ao que
é comumente chamado de enxurrada no Brasil.
Devido à complexidade do fenômeno e as feições da bacia, a concentração de sedimento, a
quantidade de chuva necessária para desencadear o evento, a velocidade do fluxo, e demais feições,
as características dos fluxos de detritos irão varia de local para local, evento para evento. É também
devido a esta complexidade que este tipo de fenômeno se torna de difícil previsão.
3. MATERIAL E MÉTODOS
Apostila Pag.404
Como relação à geologia, tendo por base o Levantamento Geológico 1:1.000.000 do Serviço
Geológico do Brasil (CPRM), na área do município encontram-se as seguintes litologias: Complexo
Granulítico de Santa Catarina, Formação Taciba, Formação Campo Mourão, Corpo Granito
Cabeceira do Cedros e Depósitos Aluvionares (principalmente areia e cascalho).
Apostila Pag.405
apenas dois dias do mês não houve chuva, dias 03 e 15. Analisando a Figura 4b, observa-se que as
maiores chuvas ocorreram em dois períodos, o primeiro entre os dias 10/11 e 14/11, com 169,2 mm,
e o segundo entre 19/11 e 30/11 com 347,9, totalizando a soma dos dois períodos, 70% da chuva de
novembro. Além disso, observa-se que o dia em que mais choveu foi 22/11, com 100,8 mm, cerca
de 13% do total mensal.
80
a 70
b
60
Chuva em mm
50
40
30
20
10
1/11
2/11
3/11
4/11
5/11
6/11
7/11
8/11
9/11
10/11
11/11
12/11
13/11
14/11
15/11
16/11
17/11
18/11
19/11
20/11
21/11
22/11
23/11
24/11
25/11
26/11
27/11
28/11
29/11
30/11
Figura 4 – Dados de precipitação em Rio dos Cedros – a) comparação entre a média mensal
climatológica e a média mensal de 2008; b) chuva diária de novembro de 2008.
Fonte: Rocha et al. (2009)
Apostila Pag.406
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apostila Pag.407
levantamento topográfico disponível (1:50.000). Apesar da diferença entre a declividade medida em
campo e a obtidas através do MDT, nota-se que os intervalos estão coerentes com os apresentados
por Slaymaker (1988) e Bryant (2005). Em campo, observou-se também que ao longo de todo o
fluxo, ocorreu transporte e deposição, independente da declividade. De maneira geral, no final do
movimento a deposição foi maior do que ao longo do fluxo, mas a relação declividade –
deposição/transporte, não seguiu o padrão adotado por Slaymaker (1988) e Bryant (2005).
Com base nas observações de campo, tanto no lado 1 como no lado 2, ocorreu um
escorregamento rotacional na cabeceira do movimento (Figura 6a e 6b). Atribui-se a este
movimento rotacional a principal fonte de sedimentos transportados pelo canal no fluxo de detritos.
Apostila Pag.408
Figura 6 – Inicio do fluxo de detritos – a) Ponto 1 e b) Ponto 2
Apostila Pag.409
movimento não seguiu a direção preferencial do canal, nem ficou confinado, mesmo nos locais
onde o canal estava mais encaixado (Figura 7). Nesta figura, observa-se que o movimento passou
por cima da encosta, chegando a mais de 27 m de altura. Nota-se também pela figura que o
movimento não foi simétrico, pois na margem direita houve completa retirada da vegetação,
enquanto que na margem oposta foi preservada.
A Figura 8 apresenta o mapa topográfico com a área do escorregamento elaborado a partir dos
pontos coletados em campo. O números 1 e 2 os dois movimentos que se uniram. Com base nas
observações em campo, o escorregamento 1 iniciou primeiro, pois próximo ao inicio do
escorregamento 2 há muito sedimento depositado, apesar da alta declividade (43º). Assim, supõem-
se que o material movimentado em 1 formou uma barreira, impedindo que todo o sedimento
proveniente de 2 se descolasse para o canal principal.
Além disso, a Figura 8 apresenta as características mais importantes observadas em campo, a
saber: a) principal trecho de deposição, com aproximadamente 80 m de largura; b) o final da
segmentação do movimento 1 em duas partes, formando uma ilha de vegetação no meio; c) inicio
da segmentação do movimento 1; d) maior bloco exposto encontrado, e) cabeceira do movimento 1;
f) cabeceira do movimento 2; g) trecho de afunilamento do canal.
Apostila Pag.410
Figura 8 – Principal características observadas em campo do fluxo de detritos
5. COSIDERAÇÕES FIAIS
Apostila Pag.411
ocorrência de desastres naturais, que é a descrição do evento, principalmente quanto as suas
características físicas. Além disso, com base nas informações levantadas, espera-se estar
contribuindo para a previsão deste tipo de evento.
Contudo, ressalta-se que processos hidrogeomorfológicos, como os fluxos de detritos fazem
parte da dinâmica natural da paisagem, sendo importantes processos modeladores do relevo. Devido
à brusca mudança na forma do relevo, pode ocorrer uma mudança no sistema de drenagem, como
mudança de ordem ou o deslocamento da nascente, processo este correlacionado com a evolução e
recuo da vertente. Além disso, devido à quantidade de material mobilizado por este tipo de
fenômeno, há uma súbita oferta de sedimentos no rio, podendo modificar, após a ocorrência do
fenômeno, diversos parâmetros hidráulicos e hidrológicos. Em campo, foi observada uma grande
redução do volume dos depósitos de sedimentos. Volume este que ao entrar no sistema de
drenagem, pode causar assoreamento dos rios, além da formação de barras, step - pool, pool - riffel,
entre outros. Dessa maneira deve-se observar fluxos de detritos também como fenômenos que
fazem parte da dinâmica terrestre.
Com o avanço da urbanização, tem havido um aumento da ocupação de áreas susceptíveis a
estes fenômenos. Assim, analisar e compreender estes fenômenos são de suma importância para a
sociedade, especialmente para contribuir com a prevenção de desastres naturais e a mitigação dos
danos causados pelos mesmos.
AGRADECIMETOS
Os autores do presente trabalho agradecem a Jonas Jeremias Corrente, da Defesa Civil de
Rio dos Cedros, e ao mestrando do PPGEA/UFSC Fernando Grison pelo apoio durante o
levantamento de campo.
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Apostila Pag.422
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Apostila Pag.423
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Apostila Pag.426
APLICAÇÃO DO MODELO FLO-2D
FLO 2D PARA SIMULAÇÃO DE FLUXOS DE
DETRITOS NA BACIA DO RIO CUNHA, RIO DOS CEDROS/SC
Henrique Lucini Rocha1 ; Masato Kobiyama2; Gean Paulo Michel3
RESUMO --- Em 2008, o município de Rio dos Cedros/SC registrou a ocorrência de diversos
movimentos de massa, dentre os quais, dois fluxos de detritos.
detritos As informações referentes a estes
dois fluxos foram utilizadas no desenvolvimento do presente estudo. O objetivo foi determinar
de o
alcance da massa deslizada e avaliar os fatores condicionantes para este tipo de fenômeno. Para
isso, foram realizados levantamentos do trajeto percorrido pelos fluxos, desde a ruptura até a
deposição para posterior comparação com dados encontrados dos na bibliografia e dados de saída do
modelo FLO-2D.2D. Além disso; foi verificada a aplicabilidade e consistência dos dados gerados pelo
modelo FLO-2D.2D. O modelo FLO-2D
FLO foi calibrado e validado, apresentando um erro máximo de
118 m em termos de alcance, o queque representa uma diferença de 8,22% entre o valor obtido em
campo e a pior simulação. Apesar de os resultados obtidos com o modelo terem sido satisfatórios,
alguns pontos de não reproduçãoo física do fenômeno ocorreram.
ABSTRACT --- In 2008, Rio dos Cedros city, Santa Catarina state, suffered from several mass
movements, among which, two debris flows were used as case study for the the present study. Then, the
objective of this study was to determine the total travel distance of the disrupted mass and to
evaluate the conditional factors for this type of phenomenon. Field
ield surveys were carried out in the
entire debris flow path, from the failure to the deposit
deposit for comparison with data found in the
bibliographic and modeled FLO--2D output. Furthermore, the applicability and consistency of data
generated by the FLO-2D2D model were verified. The FLO-2D 2D model was calibrated and validated
where the biggest error foundd amongst all the simulations was of about 118 m in the total travel
distance, which represents a difference of 8.22% between the value obtained in the field and the
worst simulation. Despite the satisfactory results obtained with the model, some points of no
physical reproduction of the phenomenon took place.
1
Engenheiro, MSc. Fractal Engenharia, Rua Lauro Linhares, 2055. Florianópolis (SC). Email: rocha@fractaleng.com.br
@fractaleng.com.br
2
Professor Dr. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
masato.kobiyama@ufrgs.br
3
Doutorando. Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Av. Bento Gonçalves 9500. Porto Alegre (RS). Email:
geanpmichel@gmail.com
Apostila Pag.427
INTRODUÇÃO
Neste intuito, a propagação de dois fluxos de detritos, os quais ocorreram na bacia do Rio
Cunha, município de Rio dos Cedros, em 2008, foi analisada pelo presente estudo através do
modelo FLO-2D (O’Brien et al., 1993). Este estudo teve o objetivo de determinar o alcance da
massa deslizada e a área afetada, além de avaliar os fatores condicionantes relacionados a este tipo
de fenômeno.
MÉTODOS E MATERIAIS
Área de estudo
O local de estudo é a bacia hidrográfica do Rio Cunha (16,3 km2) no município de Rio dos
Cedros, SC (Figura 1). Esta bacia foi escolhida pela ocorrência de diversos fluxos de detritos em
novembro de 2008. Dentre os fluxos ocorridos, dois foram analisados e nomeados de Fluxo A e B
pelo presente estudo. Embora estes fluxos não tenham gerado grandes prejuízos à população, se
propagaram por mais de 1 km antes de sua completa deposição. Todas as figuras apresentadas neste
trabalho estão na projeção geográfica SAD69 22 S.
A Figura 2 apresenta o mapa altimétrico da bacia do Rio Cunha. Nesta bacia a altitude varia
de aproximadamente 120 a 860 m, contando com regiões planas e encostas íngremes. A escala da
fonte altimétrica é 1:50.000.
Levantamentos topográficos
Foram realizados diversos levantamentos em campo para caracterização dos fluxos de
detritos. Durante os levantamentos foram utilizadas uma estação total Leica TPS 400 e um GPS
diferencial (DGPS) Trimble R3 (L1) e 5700 (L1 e L2). Com o DGPS foram realizados
Apostila Pag.428
levantamentos nas áreas abertas e sem cobertura do trajeto dos fluxos, ou seja, locais em que a
vegetação não afetava na qualidade do sinal. Nas bordas dos canais e em locais onde o sinal do
DGPS não possuía qualidade adequada, foram levantados pontos com o uso da estação total.
A partir dos pontos levantados, o volume deslocado, volume erodido, trajeto percorrido, local
de deposição e alcance foram calculados. Além disso, através da delimitação da área de abrangência
dos fluxos, fez-se o reconhecimento de algumas peculiaridades. Em ambos os fluxos ocorreram
formações de ilhas, ou seja, locais não afetados, por onde os detritos passaram em ambos os lados.
Além das ilhas, existia uma lagoa com volume aproximado de 1.800 m³ e profundidade média de 3
m próximo ao final do Fluxo A. Estes dados complementares foram utilizados durantes as
simulações a fim de melhor reproduzir o evento ocorrido.
Paraná
Oceano Atlântico
Brasil Santa Catarina
Rio
G
an
r
d e do
Sul
7066000
7060000
7060000
Cedro Jusante
7054000
7054000
Barragem Pinhal
7048000
Ü Arrozeira
7042000
7042000
Legenda
Bacia Rio Cunha Km
0 2 4 8 12
Figura 1 – Localização geográfica da bacia do Rio Cunha com indicação das estações
meteorológicas utilizadas neste estudo.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 3
Apostila Pag.429
664000 665000 666000 667000 668000 669000
Área A
7045900
7045900
7045000
7045000
7044100
7044100
Elevação (m)
786 - 860
Área B
712 - 786
7043200
7043200
638 - 712
564 - 638
490 - 564
Ü 416 - 490
342 - 416
7042300
7042300
268 - 342
194 - 268
120 - 194
0 0.5 1 2
km Cursos d'água
664000 665000 666000 667000 668000 669000
Figura 2 – Mapa altimétrico com indicação das cicatrizes dos fluxos de detritos.
Fluxo A
7046000
7046000
7045000
7045000
7044000
7044000
Fluxo B
Fluxo B
7043000
7043000
Legenda Fluxo A
PRC4
Pontos Fluxo B
7042000
7042000
Pontos Fluxo A B2
Cursos d'água
Lagoa
Ü
7041000
7041000
0 0.5 1 2
Km
664000 665000 666000 667000 668000 669000 670000
Figura 3 – Levantamento em campo: mapa da bacia do Rio Cunha com indicação dos pontos
levantados em campo e da lagoa.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 4
Apostila Pag.430
Hidrograma de entrada
Após estimar o volume total deslocado em cada fluxo, foi necessário transformá-lo em um
hidrograma para ser utilizados no modelo. Como método de estimativa dos hidrogramas, adotou-se
o hidrograma com formato triangular, baseado na metodologia apresentada por Whipple (1992).
Nestes hidrogramas o tempo de ascensão é menor que o tempo de recessão o que representa bem a
disponibilidade de material de um fluxo de detritos. Além disso, o tempo total de duração do
hidrograma é curto, também com o intuito de reproduzir o fenômeno de maneira mais adequada.
O formato triangular já vem sendo aplicado para simulação de fluxos de detritos como
verificado em D’Agostino e Tecca (2006), Gentile et al. (2008), dentre outros. Como não foi
possível realizar análises durante o acontecimento dos fluxos de detritos para determinar a vazão de
pico, foram aplicadas as equações empíricas (1) a (8) apresentadas na Tabela 1 com a concentração
volumétrica variando de 0,2 a 0,65. Com a vazão de pico estimada, a variação da concentração
volumétrica estabelecida e o formato do hidrograma adotado, foram criados os hidrogramas de
entrada para as simulações. Vale ressaltar que estes hidrogramas sofreram alterações com relação a
valores, já que foram utilizados para transportar o valor de volume total deslocado para cada fluxo e
deveriam se enquadrar aos limites computacionais impostos pelo modelo.
onde Qp é a vazão de pico (m³/s); A é a área da bacia (km²); M é volume total deslocado (m³); e Mw
é volume de água (m³)
Apostila Pag.431
Figura 4 – Fluxograma com passos realizados para simulação com modelo FLO-2D.
FLO
Foi
oi variada também a concentração volumétrica de sedimentos (Cv) com o valor de vazão
apresentado nos hidrogramas. Esta hipótese
hipó se baseia na ocorrência de umaa frente mais úmida, ou
Apostila Pag.432
seja, com maior presença de água, como um fluxo de lama de grande mobilidade; seguida de um
corpo rochoso com maior presença de detritos; e posteriormente a calda novamente mais úmida.
Baseado em valores propostos por FLO Engineering Inc (2009) com relação ao parâmetro
de resistência ao fluxo laminar (K), foi adotado um valor igual a 10.000. Este valor foi obtido após
testes de calibração, tomando como hipótese a conformação que levasse a ocorrência de bons
resultados. FLO Engineering Inc (2009) recomendou o valor de K=2.285 para um evento de fluxo
de lama que ocorreu em uma região urbana. Como as características do canal e da região onde
ocorreram dos fluxos A e B trazem a presença de florestas, com elevada rugosidade, atribuiu-se
também um elevado valor para K.
Em algumas simulações foram delimitadas as ilhas formadas pela propagação dos fluxos.
Para definir estes locais no processo de modelagem, foi utilizada a ferramenta de Fator de Redução
de área. Como nestes setores o fluxo passou pelas laterais, as áreas foram completamente
bloqueadas obrigando o fluxo a se dividir, assim como verificado em campo. Essa hipótese foi
adotada na tentativa de reproduzir os pontos de deposição próximos às ilhas.
XI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos 7
Apostila Pag.433
Dados de reologia
O presente trabalho não realizou análise de viscosidade e tensão cisalhante de amostras dos
locais de ocorrência. Sendo assim, os valores utilizados foram os obtidos por O’Brien (1986)
conforme a Tabela 2. Segundo O’Brien e Julien (1988), a tensão cisalhante e a viscosidade são
obtidas por uma função exponencial. Com os valores propostas por O’Brien (1986) foi realizada a
calibração do modelo, escolhendo a melhor opção reológica para a bacia do Rio Cunha.
τ y = αe β C
v
(dynes/cm²) η = αe βCv
(poises)
Local
α β α β
Dados de Campo
Aspen Pit 1 0,181 25,7 0,0360 22,1
Aspen Pit 2 2,72 10,4 0,0538 14,5
Aspen Natural Soil 0,152 18,7 0,00136 28,4
Aspen MineFill 0,0473 21,1 0,128 12,0
Aspen Watershed 0,0383 19,6 0,000495 27,1
Aspen Mine Source Area 0,291 14,3 0,000201 33,1
Glenwood 1 0,0345 20,1 0,00283 23,0
Glenwood 2 0,0765 16,9 0,0648 6,2
Glenwood 3 0,000707 29,8 0,00632 19,9
Glenwood 4 0,00172 29,5 0,000602 33,1
Fonte: O'Brien (1986)
Apostila Pag.434
Tabela 3 – Parâmetros utilizados nas simulações com o FLO-2D.
Calibração do modelo
Para calibração do modelo foram testados diversos valores das constantes reológicas
apresentadas por O’Brien (1986) encontradas na Tabela 2. Foram comparados o alcance da massa, a
área inundada, o perímetro, o fator de forma (Kf) e o índice de compacidade (Kc) da área inundada:
Aa
Kf = (9)
L2
0,28 P
Kc = (10)
Aa
Foi calculada a diferença percentual entre os valores obtidos nas simulações com os dados
medidos em campo no Fluxo A. Para a escolha da melhor calibração adotou-se o critério de menor
erro percentual com relação ao alcance da massa, já que os outros critérios somente foram adotados
para fins de comparação. O fator de forma e o índice de compacidade foram utilizados, já que um
deslizamento pode apresentar diversas formas com relação a sua área inundada.
Apostila Pag.435
RESULTADOS E DISCUSÃO
Para determinação do volume erodido, foi estimado um valor de altura erodida durante a
passagem do fluxo B baseada em medições de altura de deposição (Figura 6). Com uma altura de
deposição média gerada a partir das medições em campo, atribuiu-se este valor para toda a área de
deposição. Multiplicando-se a altura pela área de deposição estimou-se o volume de sedimentos
transportado. Estimando-se uma altura média de deposição de 2,5 m, obteve-se um volume
aproximado de 75.000 m³ de sedimentos depositados. Como estas medições de altura de deposição
foram realizadas após aproximadamente 2 anos do ocorrido, parte do sedimento já foi erodido e
transportado, sendo assim decidiu-se adotar este valor como o referente ao valor produzido somente
por erosão. Desta forma dividindo-se este volume pela área de erosão do Fluxo B obtém-se a altura
de erosão com aproximadamente 1,6 m, sendo arredondado para 1,5 m. Encontrado o valor de
altura de erosão para o Fluxo B, foi adotado o mesmo valor para o Fluxo A, pois as áreas
apresentam as mesmas características geológicas e geomorfológicas.
Apostila Pag.436
Legenda
Cursos d'água
Área de Deposição B
Área Limite B
Área de Deposição B 4m
30.105,71 m²
Ü
0 50 100 200
m
Ae he Me Mi Ms Lt Ε
(m²) (m) (m³) (m³) (m³) (m) (m³/m)
Fluxo A 69.565 1,5 104.347 55.915 160.263 1.061 98,39
Fluxo B 46.736 1,5 70.104 61.336 131.441 1324 52,96
Obs.: Ae é a área de erosão; he é a altura erodida; Me é o volume total erodido; Mi é o volume inicial
de ruptura baseado em Kobiyama et al. (2010); Ms é o volume total de sedimentos; Lt é o alcance
(igual à distância total percorrida); e Ε é a taxa de erosão média no percurso.
Hidrograma de entrada
Para geração dos hidrogramas, foram aplicadas as equações de vazão de pico (1 a 8)
apresentadas na Tabela 1. Os resultados são apresentados na Tabela 5.
Equação 1 2 3 4 5 6 7 8 Média
A 1362 3874 2660 420 209 83 9 34 1081
B 1416 3284 2279 359 178 70 9 30 953
Com estes valores, foi calculado o valor médio para ser adotado como vazão de pico do
hidrograma de entrada preliminar de ambos os fluxos. Além disso, adotou-se para os tempos inicial
Apostila Pag.437
e final, vazão igual a zero por ser uma condição de contorno do modelo, e, para o primeiro e
penúltimo minuto vazão igual a 0,1 m³/s. Baseado nos hidrogramas apresentados por Whipple
(1992), adotou-se que a vazão de pico ocorreria no quinto minuto de simulação para que a ascensão
tivesse menor duração que a recessão. O passo seguinte foi gerar dois hidrogramas consecutivos
separados em uma hora. Este intervalo de uma hora foi determinado através de uma análise
preliminar de simulação onde o objetivo era que a massa desestabilizada anteriormente já estivesse
depositada. Esta etapa foi realizada tomando como base a hipótese de uma pequena desestabilização
inicial, para posterior movimento de grandes proporções. Para isto, a primeira onda foi obtida
tomando como hipótese uma relação direta e igual a 10% dos valores da segunda onda. Este valor
de 10% é apenas um dado simbólico para representar uma pequena desestabilização, já que no final
não representará grandes valores de deposição.
Como foram verificados dois pontos de ruptura em cada fluxo, há 4 hidrogramas (A1, A2, B1
e B2) com 2 ondas cada, e com a variação da concentração volumétrica com relação à vazão, ou
seja, quanto maior a vazão, maior a concentração de sedimentos. Para o fluxo A, foi adotada a
hipótese de produção de detritos na ruptura A2 equivalente a 10% do montante produzido em A1,
baseado nos levantamento de campo. Já para o fluxo B, o volume transportado na ruptura B1 é de
40% do valor transportado em B2, também baseado nos valores de volume obtidos nos locais de
ruptura. Além da diferença de volume, o início de ambas as rupturas também foi separado em meia
hora. Este valor foi adotado para que a parte da massa da ruptura anterior já não estivesse mais em
movimento quando ocorresse a desestabilização e início do movimento seguinte. Este valor de 30
minutos também foi obtido após uma análise preliminar para dar garantia da deposição da massa
deslizada anteriormente. No fluxo A, foi observado em campo que a ruptura se deu primeiro em A1
e depois em A2. Já para o fluxo B a ruptura ocorreu primeiramente em B2. Estas diferenças são
importantes para a reprodução das características das deposições, bem como para o alcance da
massa deslizada.
Apostila Pag.438
assim o hidrograma final para simulação. A Figura 8 apresenta o hidrograma B2, onde pode ser
visto a variação da vazão, o intervalo entre o início dos hidrogramas e a variação da concentração
volumétrica no tempo.
250 0.7
Q 0.6
200
Cv 0.5
Cv (m³/m³)
150
Q (m³/s)
0.4
100 0.3
0.2
50
0.1
0 0
0 0.25 0.5 0.75 1 1.25 1.5
Tempo (h)
Por fim, a metodologia aplicada para geração dos hidrogramas está condizente com a
metodologia aplicada por Rickenmann et al. (2006), tanto na geometria triangular, quanto na
magnitude da vazão de pico (centenas de m³/s). Além disso, o hidrograma apresenta um curto
intervalo de duração, o que melhor representa um fenômeno de fluxo de detritos.
Calibração do modelo
Para calibração foram realizadas simulações com as constantes reológicas apresentadas na
Tabela 2. Como critério de aceitação, foi realizado teste para que durante as simulações, os detritos
não interceptassem os limites computacionais estabelecidos. Com isso, apenas os resultados obtidos
com as características reológicas em Aspen Mine Source (a), Aspen Natural Soil (b) e Aspen Pit 1
(c) passaram neste teste.
Apostila Pag.439
Tabela 6 – Caracterização das áreas da ocorrência obtida pela simulação com FLO-2D para o Fluxo
A: (a) características; (b) comparação com o medido em campo.
(a)
Área Perímetro Alcance
Local Kf Kc
(m²) (m) (m)
Campo 120.241 2.319 1.061 0,11 1,87
Aspen Natural Soil 242.687 2.587 1.145 0,22 1,47
Aspen Pit 1 158.968 2.203 1.033 0,15 1,55
Aspen Mine
227.023 2.455 1.092 0,19 1,45
Source
(b)
Diferença Percentual Diferença
Aspen Natural Soil 101,83 11,57 7,97 0,11 -0,40
Aspen Pit 1 32,21 -4,98 -2,61 0,04 -0,32
Aspen Mine
88,81 6,28 2,95 0,08 -0,42
Source
Ilhas
Lagoa
(a) (c)
Deposição (m)
0-2
2-4
4-6
6-8
8 - 10
> 10
Área Limite A
Ü (b)
0 100 200 400
m
Figura 9 – Resultados da deposição e áreas limites simuladas para o Fluxo A com as reologias: (a)
Aspen Mine Source; (b) Aspen Natural Soil; e (c) Aspen Pit 1.
Como o critério para escolha da melhor característica reológica foi o alcance da massa, ficou-
se com duas opções que apresentaram resultados muito semelhantes; a Aspen Mine Source e Aspen
Pit 1 (2,95 e 2,61%, respectivamente). Então, optou-se por realizar as simulações de validação do
fluxo B com ambas as opções reológicas a fim de confirmar qual se comporta melhor para a bacia
do Rio Cunha. Nota-se que para a reologia (a) e (b) ao final da deposição ocorre um espalhamento
dos detritos. Isto ocorre, pois a partir da base utilizada, nas regiões próximas aos leitos do rio
formam-se planícies com a mesma elevação. Este tipo de resultado demonstra a necessidade de
Apostila Pag.440
MDTs de maior precisão quando o intuito é melhor reproduzir este tipo de fenômeno, já que
conforme verificado em campo o terreno ainda apresentava desníveis e a formação de pequenos
canais com cursos d’água nestas regiões de deposição (Figura 9). Nesta figura, observa-se também a
presença das ilhas utilizadas nas simulações, bem como a presença da lagoa. Estas variações
topográficas foram usadas na calibração como forma de reproduzir o verificado em campo.
(a)
(a)
(b)
(b)
Ü
0(c)
(a) 125 250 500
m
(d)
(b)
Ü
0 125 250 500
m
Figura 10 – Mapa de deposição e área inundada simuladas para o Fluxo B com as reologias de (a)
Aspen Pit 1; (b) Aspen Mine Source. Grid:10m. (c) Aspen Pit 1; (d) Aspen Mine Source. Grid:20m.
Mais uma vez ambos os resultados obtiveram as mesmas características de deposição com
relação ao caminho percorrido e área limite, mas a reologia de Aspen Pit 1, quando o grid apresenta
aresta de 10 m, é a que melhor se enquadra, dentre as reologias testadas, para reprodução de fluxos
de detritos na bacia do Rio Cunha. Este resultado pode ser confirmado conforme diferença
percentual apresentado na Tabela 6 e Tabela 7. Ao compararmos somente a diferença percentual
entre a distância percorrida, verifica-se que a reologia Aspen Mine Source apresenta os menores
erros. Apesar disso, esta reologia tem a tendência de aumentar o percurso da massa deslizada.
Apostila Pag.441
Tabela 7 – Valores de alcance obtidos durante etapa de validação com as reologias testadas.
De maneira geral, é necessário ressaltar que além das propriedades reológicas dos detritos, os
fatores topográficos, como a localização dos pontos de ruptura são cruciais para a descrição do
fenômeno, pois o modelo simula o percurso do fluxo a partir da localização da célula de grid de
entrada. Além dos locais de ruptura, um maior detalhamento da topografía, através de dados
altimétricos mais precisos, também iria influenciar na descrição do trajeto percorrido pela massa
deslizada. Mesmo assim, notam-se bons resultados mesmo com os dados altimétricos gerados com
curvas espaçadas de 20 em 20 metros e escala da fonte de 1:50.000.
Não foi possível gerar os dados de deposição detalhados já que os levantamentos de campo
necessitam de bastante tempo e foram realizados durante um longo período, em um intervalo de
poucos meses cerca de um ano e sete meses após o ocorrido, causando assim alterações
significativas nas características de deposição. Isto pode ser observado na Figura 11 onde são
apresentadas fotos tiradas de quase mesmo ângulo, mas em dias diferentes que demonstram esta
modificação.
(a) (b)
Apostila Pag.442
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O erro percentual do alcance para os valores calibrados não superou 10% para ambos os grids
utilizados (10 e 20 m). Este erro representou uma subestimativa do alcance em 118 m quando
utilizado o grid com aresta de 20 m e a reologia proposta por O’Brien (1986) para Aspen Pit 1. Ao
analisar os grids de 20 m de aresta ocorreu uma inversão na melhor reologia proposta, com Aspen
Mine Source apresentando erro percentual na casa de 1% (~ 18 m). Stolz e Huggel (2008), ao
analisarem fluxos ocorridos na Suíça, afirmaram que para um grid de 25 m ocorre apenas a
descrição do caminho, com extrapolação da área afetada e erro de deposição. Os resultados para a
bacia do Rio Cunha são condizentes com relação à área afetada, mas apresentam melhor precisão
com relação ao alcance. Sendo assim, ambos os grids podem ser utilizados para representar fluxo de
detritos em bacias com características semelhantes à bacia do Rio Cunha, quando o modelo FLO-
2D já possuir os demais parâmetros calibrados e as informações altimétricas em escala 1:50.000 ou
melhor.
Desta forma, a metodologia para definição da área afetada pode ser replicada em grande parte
do Brasil ao analisarmos os dados de topografia disponíveis. Ao associar a simulação hidrodinâmica
da massa deslizada com a modelagem para identificação de locais de ruptura com ferramentas como
SHALSTAB, SINMAP, dentre outros, têm-se uma metodologia fisicamente embasada para o
mapeamento de áreas de perigo para o gerenciamento de risco associados a movimentos de
encostas.
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delivery due to debris flow with KANAKO model
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Gean P. MICHEL , Masato KOBIYAMA and Roberto F. GOERL
1 Instituto de Pesquisas Hidráulicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Av. Bento Gonçalves 9500, Caixa Postal 15029,
Porto Alegre/RS, CEP91507-970, Brazil)
E-mail: geanpmichel@gmail.com
2 Departamento de Geociências, Universidade Federal de Santa Catarina (Caixa Postal 476, Florianópolis/SC, CEP88040-970,
Brazil)
The debris flow is a natural phenomenon which can deliver large amount of sediment with very high velocity and
cause severe disasters. In Southern and Southeastern Brazil, many people in mountainous areas have been recently
killed by debris flows triggered by heavy rainfalls. On the other hand, in rural sides it is very common to construct
small artificial reservoirs, made with clay, used for fish production and water storage. Therefore, an intrinsic
function of these reservoirs can be thought the storage of sediment delivered by debris flow routing and
consequently the protection of the downstream houses and infrastructures. In fact, many cases where debris flows
stopped inside the reservoirs and the destruction of housing and infrastructure was avoided are frequently
observed in rural and mountainous areas. The objective of the present study was, therefore, to investigate the
effectiveness of such reservoirs to reduce sediment delivery due to debris flows by using the KANAKO 2D model.
Then, one debris flow which occurred in the Cunha river basin, Santa Catarina state, in 2008, was analyzed. The
model was applied for two different scenarios: (I) there is a reservoir (approximate volume of 5.000 m³) at the
bottom of the hillslope on the debris flow route (actual scenario); and (II) there is no reservoir. The digital terrain
model (5 m x 5 m grid) was obtained from a laser profiling of the area, and the real debris flow route was
constructed by field survey in detail with a differential GPS and a total station. Topographic information of the
debris flow’s head was used to estimate the volume of sediment delivery and to determine the hydrograph input to
the model. The model was calibrated with the scenario (I) and posteriorly applied to the scenario (II). Then, the
route, reach, flow depth, velocity, concentration and sedimentation thickness were compared between the two
scenarios. It is observed that the reservoir´s absence resulted in a substantial change in the flow characteristics
(route, velocity and flow depth) over the depositional area (alluvial fan). In the scenario (II) some of the buildings
located over the alluvial fan could be destroyed. Furthermore, the debris flow connected completely to the main
river channel and delivered much larger amount of sediments than in the scenario (I). Finally, it is concluded that
the construction of small reservoirs on the route of debris flow can reduce significantly the damages caused by
this phenomenon. Although the KANAKO describes the stony debris flows, the present study shows that this
model has a good performance for a woody debris flow.
Apostila Pag.447
9 ASPECTOS FILOSÓFICOS
MASATO KOBIYAMA
ALINE DE ALMEIDA MOTA
Apostila Pag.448
“Science is beautiful”: aplicação da hidrologia no
RESUMO
A partir da idéia “Small is beautiful”, de Ernst Friedrich Schumacher, o presente trabalho
discute os aspectos filosóficos envolvidos no gerenciamento de desastres naturais.
Conclui-se que “Small is beautiful”, “Slow is beautiful”, “Simple is beautiful” e “Science is
beautiful” são aspectos relevantes para conseguir a redução de desastres naturais. Como os
desastres naturais no Brasil ocorrem principalmente devido à ação da água, acredita-se que
a hidrologia possui uma grande contribuição para esse assunto. Segundo UNESCO, a
hidrologia é uma das principais ciências envolvidas no estudo de desastres naturais. Além
de demonstrar os mecanismos desencadeadores desses desastres, a hidrologia traz também
a percepção dos fenômenos hidrológicos vivenciados diariamente, e evidencia a
importância da água e do convívio integrado com a natureza. Assim sendo, a melhoria da
hidrologia com belas teorias possibilitará bom desempenho nas execuções de medidas
tanto estruturais quanto não-estruturais.
1. INTRODUÇÃO
Inundação, deslizamento, estiagem, entre outros são fenômenos naturais
freqüentemente observados na natureza. Quando estes fenômenos ocorrem em locais onde
o ser humano atua, eles provocam danos materiais e humanos à sociedade; neste caso, são
tratados como desastres naturais. O número de ocorrência destes desastres vem
aumentando ao longo da história. Este aumento pode estar associado com o crescimento
populacional, concentração da população nos centros urbanos e com o mau planejamento e
utilização das bacias hidrográficas pelo homem (Kobiyama et al., 2006). Além disso,
existem evidências que a mudança climática global aumenta a freqüência e a intensidade
de eventos hidrológicos extremos, contribuindo no aumento da incidência de desastres
naturais. Nestas circunstâncias, é necessário tomar medidas para reduzir os prejuízos
causados pelos desastres naturais. Para isto, precisa-se ter uma orientação filosófica
Apostila Pag.449
adequada.
Apostila Pag.450
drenagem urbana. O aumento da rugosidade pode ser realizado de duas maneiras: (1)
aumentar o coeficiente de rugosidade devido à inserção de obstáculo na superfície; e (2)
evitar a retificação do fluxo (por exemplo, tornar o canal artificial retificado em
meandrante). Em condições naturais a bacia normalmente possui o coeficiente de
rugosidade mais alto e o canal mais sinuoso. Tendo sua capacidade de armazenamento
elevada, a bacia natural deixa o fluxo mais lento. Assim, a dinâmica da água torna-se lenta
no ciclo hidrológico. Como intuito de “resolver” problemas causados pelo o excesso da
água pluvial na área urbana, a drenagem clássica e ordinária, que faz parte da urbanização,
tem reduzido a rugosidade e a sinuosidade dos canais, conseqüentemente aumentando a
velocidade do fluxo. Isto tudo é para tentar retirar (drenar) a água da chuva do local de
interesse o mais rápido possível. Kobiyama et al. (2007a) sugerem uma inversão desta
lógica, cunhando o termo ARMAZENAMENTO urbano, em contraposição à drenagem
urbana. Isto foi justamente para enfatizar a busca de velocidade mais lenta no ciclo
hidrológico na área urbana com uso de sistema de armazenamento.
Apostila Pag.451
fazer uma hidrologia mais bonita (pesquisa), repassá-la para alunos (ensino) e disseminá-la
para a comunidade (extensão).
Apostila Pag.452
hortoniano. Por exemplo, Dunne & Black (1970a e b) propuseram um mecanismo de
escoamento superficial no qual este ocorre quando a camada do solo torna-se saturada.
Esse processo chama-se escoamento tipo Dunne. Muitos estudos em campo confirmaram
que, em bacias florestais, não ocorre o escoamento hortoniano. Isto porque nessas bacias as
taxas de infiltração em geral são maiores do que as intensidades de chuva.
Então, precisa-se mudar o conceito. A bacia não é aquela que drena a água, mas
sim aquela que a ARMAZENA. Em inglês, a bacia não é Drainage basin, e sim Storage
basin. Hoje em dia, essa mudança de conceito encontra-se em diversos países, inclusive no
Brasil (Ferguson, 1998; Canholi, 2005).
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Área Armazenamento
Uso
[%] [cm]
10 0,5
Cidade
40 20
Floresta
50 5
Agricultura
Média = (0,10*0,5) + (0,40*20) + (0,50*5) =
10,55cm
Com ciência de que um Plano Diretor não pode ou não consegue implementar
alterações nas áreas já ocupadas, o gerenciamento do armazenamento deve ser realizado
para as novas áreas. A Figura 3 mostra a situação de armazenamento da bacia com gerência
de um Plano Diretor que considera o armazenamento. Nesse caso, o gerenciamento do
armazenamento é realizado sobre a área que passará a ter uso do solo de cidade. Essa área,
65% da área total, deverá ter um armazenamento A de forma que o armazenamento total da
bacia permaneça inalterado, isto é, igual a 10,55 cm. Então, o valor de A é
aproximadamente 9,62 cm. Este deve ser o armazenamento total para a área adicional para
o uso de cidade. Esse valor de armazenamento deve ser implementado pelo Plano Diretor
em função do tipo de construção (captação da água da chuva com cisternas) e/ou através da
introdução de piscinões.
Apostila Pag.454
Área Armazenamento
Uso
[%] [cm]
10 + 65 =
0,5
75
Cidade
40 – 20 =
20
20*
Floresta
50 – 45 =
5
5
Agricultura
Média = (0,75*0,5) + (0,20*20) + (0,05*5) =
4,625cm
*Considerando APP.
Figura 2. Situação de armazenamento de uma bacia hipotética com Plano Diretor sem
consideração de armazenamento.
Área Armazenamento
Uso
[%] [cm]
10 + 65 =
A
75
Cidade
40 – 20 =
20
20*
Floresta
50 – 45 =
5
5
Agricultura
Média = (0,65*A) + (0,10*0,5) + (0,20*20) +
(0,05*5) = 10,55 cm ∴ A = 9,62 cm
* Considerando APP.
Figura 3. Situação de armazenamento de uma bacia hipotética com plano diretor com
armazenamento.
Apostila Pag.455
Assim sendo, a introdução de medidas estruturais distribuídas de armazenamento
urbano, com sistema de aproveitamento de água da chuva, pode colaborar para o Impacto
Hidrológico Zero no contexto de urbanização. O Impacto Hidrológico Zero tem o mesmo
significado de uma ação de emissão zero para o desenvolvimento sustentável.
5. FINAL CONSIDERATIONS
O presente trabalho faz uma pequena introdução aos aspectos filosóficos
envolvidos no GDN. Cada leitor deve ter sua própria visão de mundo. A minha pode ser
resumida em:
Small is beautiful.
Slow is beautiful.
Simple is beautiful.
Science is beautiful.
6. REFERENCES
Canholi, A.P. (2005) Drenagem urbana e controle de enchentes. São Paulo: Oficina de
Textos, 302p.
Dunne, T. & Black, R.D. (1970b) Partial area contributions to storm runoff in a small New
England watershed. Water Resoures. Research, Washington, v.6, p.1296-1311.
Fergunson, B.K. (1998) Introduction to stormwater. Concept, purpose, design. New York:
John-Wiley, 255p.
Georgescu-Roegen, N. (1999) The entropy law and the economic process. New York:
iUniverse, 476p.
Apostila Pag.456
Horton, R.E. (1933) The role of infiltration in the hydrologic cycle. American Geophysical
Union Transaction, Washington, v.14, p.446-460.
Kobiyama, M., Mendonça, M., Moreno, D.A., Marcelino, I.P.V.O., Marcelino, E.V.,
Gonçalves, E.F., Brazetti, L.L.P., Goerl, R.F., Molleri, G.S.F. & Rudorff, F. (2006)
Prevenção de desastres naturais: Conceitos básicos. Curitiba: Organic Trading,
109p.
Kobiyama, M., Lopes, N.H.Y. & Silva, R.V. (2007a) Hidrologia urbana. Florianópolis:
Pandion, 44p.
Kobiyama, M., Rocha, T.V., Giglio, J.N. & Mota, A.A. (2007b) Ensino de hidrologia para
prevenção de desastres naturais como projeto de extensão universitário no Estado de
Santa Catarina, Brasil. In: XVII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, (2007,
São Paulo), Anais, 13p. CD-rom.
Rifkin, J. (1981) Entropy: A new world view. New York: Bantam Books, 302p.
Schumacher, E.F. (1983) O negócio é ser pequeno (Small is beautiful). Rio de Janeiro:
Zahar Editora, 261p.
Apostila Pag.457
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS – Mapeamentos de Risco: Uma
Discussão Inacabada
Apostila Pag.458
demasiadamente subjetiva e dificulta a comparação entre diferentes áreas e localidades, já que
diferentes observadores desenvolvem o trabalho em locais distintos. Além disso, os aspectos
humanos do risco não estão sendo avaliados, deixando de fora da análise o fator de risco no
qual há maior possibilidade de intervenção.
Os mapeamentos de risco realizados no Brasil têm sido relacionados aos desastres que
afetam maior número de pessoas: inundações e escorrregamentos. Ambos são desencadeados,
no Brasil, por períodos chuvosos, tornando evidente a fundamental consideração dos
processos hidrológicos na ocorrência de tais fenômenos. Esta consideração é tão fundamental
que, em nível global, diferentemente da classificação adotada no Brasil, tais desastres são
classificados como desastres hidrológicos. No Brasil, os escorregamentos são classificados
como desastres geológicos. Esta imprecisão de classificações acaba por dificultar a
comparação de informações dos bancos de dados nacionais com dados utilizados
globalmente, tornando as estatísticas elaboradas incongruentes. Além disso, a falta de
dissernimento entre os diversos tipos de desastres e a dificuldade em identificá-los em campo
geram equívocos nos registros que podem prejudicar análises posteriores. Um grande
exemplo é o registro no EM-DAT – International Disaster Database, banco de dados do
Centre for Research on the Epidemiology of Disasters (CRED), do desatre de Janeiro de 2011
na região serrana do Rio de Janeiro, que consta neste banco de dados como uma desastre
causado por inundações, quando, na verdade, foram os fluxos de detritos os principais
responsáveis pela tragédia.
Desta maneira, considerando a classe na qual se enquadram os movimentos de massa
na classificação brasileira, há uma carência de abordagens que considerem também os
aspectos hidrológicos nos mapeamentos de perigo e risco relacionados a tais fenômenos.
Tendo em conta que os fatores deflagradores dos movimentos de massa ocorrem pela
dinâmica hidrológica, a análise deveria se desenvolver incluindo o detalhamento da mesma.
Neste âmbito, as universidades e os centros de pesquisa deveriam ter sua participação
intensificada neste processo, buscando utilizar técnicas mais atuais e engenhosas, com atuação
de uma rede de profissionais capaz de desenvolver, através de diferentes perspectivas,
análises de risco mais holísticas.
Além disso, em um cenário de mitigação e preparação para os desastres, é necessário
que os mapeamentos de risco sejam complementados por meio de sistemas de alerta mais
eficazes. Sabemos que os fenômenos hidrológicos ocorrem em escala de bacia hidrográfica, e
a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (BRASIL, 2012), avançou consideravelmente
ao estabelecer esta área fisiográfica como unidade ideal para implementação de ações visando
a redução de desastres relacionados à água. Entretanto, em pequenas bacias, os fenômenos
hidrológicos ocorrem mais bruscamente, desencadeando desastres que ocorrem de maneira
abrupta, como as enxurradas e os escorregamentos translacionais seguidos de fluxos de
detritos. Nestes casos, o apoio de centros de monitoramento e alerta locais e regionais
possibilitaria uma rapidez maior no fluxo de informações entre os extremos do sistema, além
de geração de informações com maior nível de confiabilidade, possibilitando uma resposta
mais eficaz. Ademais, sistemas de escala local têm uma capacidade maior para manejar as
peculiaridades de cada região e incorporar os mapeamentos de risco locais em seus alertas.
Portanto, embora estejamos caminhando no sentido de alcançar um patamar mais
elevado no que diz respeito a gestão de risco no Brasil, ainda esbarramos em algumas
Apostila Pag.459
adversidades oriundas da urgência das medidas tomadas, e, consequentemente, de sua adoção
sem um debate mais crítico e profundo. Desta maneira, o mapeamento de áreas de risco se
caracteriza por ser uma atividade que requer amplo conhecimento interdisciplinar e, por isso,
é de difícil execução. Através das técnicas repassadas durante esta formação espera-se que os
profissionais responsáveis pelo mapemaneto das áreas de risco nos mais diversos órgãos em
todo o país possam desenvolver um trabalho ainda mais preciso e com aplicabilidade ainda
maior para a administração pública no sentido de gerir o risco.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, J.; BAUSCH, C. Climate Change and Natural Disasters: Scientific evidence
of a possible relation between recent natural disasters and climate change. Brussels:
European Parliament, 2006. 30p.
BRASIL. Lei n. 12.608, de 10 de abril de 2012.
MIN, S.; ZHANG, X.; ZWIERS, F.W.; HEGERL, G.C. Human contribution to more-intense
precipitation extremes. Nature, v. 470, p.378-381, 2011. doi:10.1038/nature09763
UNDP – United Nations Development Program. Reducing disaster risk: a challenge for
development. New York: UNDP, 2004. 130p.
WESTEN, C. J.; RENGERS, N.; TERLIEN, M. T. J.; SOETERS, R. Predicition of the
occurence of solope instability phenomena trough GIS-based hazard zonation. Geologische
Rundschau, v.86, n.2, p.404-414, 1997.
Apostila Pag.460