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1.Introdução - 2.Artigo 128 - 3.Artigo 134 - 4.Artigo 135 - 5.Da legislação trabalhista
1. Introdução
A análise do tema, portanto, faz-se indispensável, haja vista que tal procedimento
fazendário gera flagrante afronta aos princípios da estrita legalidade, tipicidade fechada
e reserva absoluta da lei fiscal.
I – as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da
obrigação principal; (…).”
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Grupos econômicos e responsabilidade tributária
“Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso
a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da
respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.”
A expressão “interesse comum” não pode ser entendida como alusiva a qualquer tipo de
interesse – como, por exemplo, o interesse do pai de ver a atividade profissional de seu
filho ser bem sucedida. O “interesse” a que se refere, é o interesse material e vinculado
à operação, isto é, aquele que resulta em benefício pecuniário, gerando obrigações
tributárias a serem cumpridas.
O mesmo “interesse” sem vinculação ao fato gerador, não autoriza qualquer espécie de
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responsabilidade.
Por isto faz menção o legislador complementar a interesse comum em situação que
“constitua fato gerador da obrigação principal”.
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Grupos econômicos e responsabilidade tributária
No anteprojeto do Código Tributário Nacional, seu ilustre autor, Professor Rubens Gomes
de Sousa, separou nitidamente os dois tipos de responsabilidade (sucessores e terceiros)
daquele resultante de infrações, colocando as duas primeiras entre os arts. 241 e 247 e
remetendo as últimas para o Livro VII, que cuidava apenas da normalização dos
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descumprimentos e respectivas sanções (arts. 270-91).
De notar, ainda, que o Modelo de Código Tributário para a América Latina, numa
simplificação de técnica e forma, ao cuidar da figura do sujeito passivo, nela inclui não
somente a sua conceituação, como também a responsabilidade própria e de terceiros,
assim como os efeitos da solidariedade, excluindo a parte da obrigação por infração, em
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técnica que me parece mais científica, na apresentação das suas normas gerais.
O artigo pretende consubstanciar uma norma geral formalizada em duas ideias básicas,
a saber:
(2) a lei, entretanto, pode estabelecer outros tipos de responsabilidade, não previstos no
capítulo, a terceiros.
O artigo começa com a expressão “sem prejuízo do disposto neste Capítulo”, que deve
ser entendida como exclusão da possibilidade de a lei determinar alguma forma de
responsabilidade conflitante com a determinada no Código.
Isso vale dizer que a responsabilidade não prevista pelo capítulo pode ser objeto de lei,
não podendo, entretanto, a lei prever nenhuma responsabilidade que entre em choque
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com os arts. 128 a 138.
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Grupos econômicos e responsabilidade tributária
Por outro lado, o legislador fala em “crédito tributário”, de tal maneira que a expressão
abrange tanto os tributos, como as multas, quando assim a lei o determinar.
Significa dizer que o crédito tributário, cuja obrigação de pagar for transferida a
terceiros, sempre que não limitado, por força do CTN ou de lei promulgada nesses
moldes, à exigência apenas de tributos, deve ser entendido por crédito tributário total
(tributo e penalidade). Em havendo, todavia, qualquer limitação expressa, a
transferência da responsabilidade pela liquidação do crédito só se dará nos limites da
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determinação legal.
Fala, a lei, ainda, que a terceira pessoa eleita como responsável deve ser vinculada ao
fato gerador da respectiva obrigação.
O art. 150, § 7.º, da CF/1988 criou tipo de responsabilidade tributária sem fato gerador
atual, estando assim redigido: “§ 7.º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação
tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo
fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial
restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.”
Sendo fictícia, e não presumida, a hipótese de imposição, tenho minhas dúvidas sobre a
constitucionalidade do dispositivo, posto que, a meu ver, o art. 128 é explicitador da
cláusula pétrea constitucional vinculada ao princípio da legalidade, e este princípio não
permitia, até a EC 3/1993, a imposição sem fato gerador. O Pretório Excelso pensa
diferente.
3. Artigo 134
Dessa forma, passou a existir um contribuinte a mais, por força da solidariedade criada,
que, juntamente com o devedor originário, passou a dar maior garantia ao crédito fiscal.
A meu ver, a melhor colocação, como já foi dito, teria sido aquela do projeto, que
também para estes últimos teria eliminado as penalidades moratórias.
Aliás, a discussão sobre se as penalidades moratórias teriam ou não essa natureza não é
ainda pacífica, tendo eu sempre entendido que seriam penalidades, pela própria
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formulação do direito positivo (parágrafo único do art. 134), que assim as considera,
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por manifestação do TJSP, nesse diapasão.
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Interpretação original ao dispositivo traz o Prof. Aliomar Baleeiro, segundo o qual a
correção monetária tem um caráter moratório, com o que, na verdade, qualquer
acréscimo adicional a título de compensação moratória, representaria um excesso de
indenização, o que vale dizer, passaria a ter já caráter meramente punitivo.
Deve-se, todavia, estranhar uma modificação quanto aos tipos de atos praticados, já que
deveriam, na melhor interpretação, referir-se apenas àqueles que, de alguma forma,
tivessem criado uma obrigação tributária e não a todo ou qualquer ato, que pode o
intérprete menos avisado entender aplicável, com o que os mandatários mencionados no
dispositivo, no momento em que fossem indicados, passariam a ter uma
responsabilidade ilimitada, sempre que tentassem solucionar as situações de infrações
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preexistentes.
O mesmo deveria ser lembrado em relação aos comissários, que normalmente não
tinham a gerência dos negócios, por continuarem em mãos do concordatário. Sua
inclusão, além de esdrúxula, representava um desincentivo à assunção de tais encargos
por parte de credores com boas condições de exercê-los. Até porque a concordata
comercial quase sempre representa, também, uma “concordata fiscal”. À evidência, o
texto deve ser adaptado à nova lei de recuperação judicial.
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Grupos econômicos e responsabilidade tributária
Finalmente, quanto aos sócios mencionados no item VII, entendemos que respondem
solidariamente pelos tributos e também pelas penalidades de caráter moratório.
4. Artigo 135
Tratando o Capítulo de uma responsabilidade projetada para outras pessoas, que foram
assemelhadas aos contribuintes originários para satisfação de exigências fiscais
preestabelecidas, os créditos mencionados no Capítulo, de acordo com a importância da
responsabilidade agregada ou da intenção governamental incentivadora, seriam
cobrados de sucessores e terceiros, apenas quanto a tributos ou, em maior extensão,
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nos termos de cada hipótese prevista.
Por essa razão, julgou legítima a solidariedade quanto aos atos culposos, porque
praticados com imperícia, negligência, imprudência ou mesmo omitidos, e limitou essa
responsabilidade (art. 134). As mesmas pessoas, no entanto, praticando atos lesivos ao
Fisco, dolosamente, se procurarem responsabilizar seus representados, tal
responsabilização inviabilizar-se-á pela clara formulação legal, fazendo-os pessoalmente
responsáveis e excluindo as outras pessoas da relação jurídico-tributária, por
decorrência, criada.
De notar que fala a lei em “excesso de poderes” e em “infração à lei, contrato social ou
estatutos”, o que vale dizer, à lei emanada dos poderes públicos é aquela válida apenas
entre os particulares, por acordo mútuo, como são os estatutos sociais de uma
sociedade por ações ou o contrato social de uma sociedade de pessoas.
vida societária, são violados por quem estaria na obrigação de preservá-los, é evidente
que a pessoa jurídica, a que pertencem, está, como o Fisco, na posição de vítima, e não
pode de vítima ser transformada em autora.
Sob esse aspecto, parece-me sadia a orientação legislativa em tornar, para esses casos:
(a) pessoal, (b) total e (c) exclusiva a responsabilidade das pessoas físicas, enunciadas
no referido artigo, sempre que o dolo, a fraude e a má-fé forem os agentes
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deflagradores das obrigações tributárias.
2. O patrimônio da sociedade deve responder integralmente pelas dívidas fiscais por ela
assumidas.
Há de se ressaltar, ainda que a não realização, por parte de uma empresa, de fatos
geradores, na verdade protagonizados por outra, é o suficiente para excluí-la de
qualquer responsabilidade tributária, sendo ilegal o redirecionamento da cobrança contra
ela, por gerar, a meu ver, violação do princípio da capacidade contributiva e efeito
confisco. Os três princípios que informam a imposição (tipicidade fechada, estrita
legalidade e reserva absoluta da lei formal) restariam maculados, se tal direcionamento
se desse.
5. Da legislação trabalhista
Por isto, em minha tese de doutoramento (1982), mostrei ser o tributo uma norma de
rejeição social, pois pagamos tributos não só para sustentar o Estado prestador de
serviços, mas também o Estado que beneficia os detentores do poder e seus áulicos,
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inclusive para sustentar a corrupção pública.
“Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, ‘interpreta-se
da maneira mais favorável ao acusado’, em caso de dúvida quanto:
“§ 1.º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto
em lei.”
Ora, o que tem feito a Receita Federal é integrar um artigo da CLT exclusivamente
dedicado às relações de trabalho:
§ 2.º – Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de
outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade
econômica, serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a
empresa principal e cada uma das subordinadas”, analogicamente às relações tributárias
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para gerar imposição não prevista em lei.
Considero, pois, ilegítimo, por falta de suporte em lei para cobrar tributo de sujeito
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passivo não constante da relação tributária (art. 121 do CTN); ilegal por ferir o CTN
(108, parágrafo único); inconstitucional por gerar o efeito confisco, ou seja, cobrar
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tributo sem lei, ferindo a capacidade contributiva; arbitrário, pois o governo alarga,
“pro domo sua”, a sanha arrecadatória, como instrumento para manter o poder: de um
lado, não controla a corrupção, e de outro, não faz qualquer esforço para reduzir
despesas desnecessárias; aético, pois atinge a própria dignidade da pessoa e da figura
do Estado, que deveria ser de prestador de serviços e não de autodistribuidor de
benesses, legais e ilegais; imoral por ferir todos os princípios basilares da tributação.
Código Tributário Nacional comentado. In: Wladimir Passos de Freitas (coord.). São
Paulo: Ed. RT, 1999, p. 510).
5 J. Motta Maia, Comentário ao Código Tributário Nacional, São Paulo: Bushatsky, 1972,
p. 176: “Mas pode ocorrer, por várias circunstâncias, a transferência dessa
responsabilidade para uma terceira pessoa, de que resulta a sujeição passiva indireta
sob duas modalidades principais: transferência e substituição”.
Tomou parte no julgamento o Juiz Nóbrega de Saltes. São Paulo, 06.07.1972 – Carvalho
Neves, pres. com voto – Sabino Neto, relator”.
18 Direito tributário, cit., p. 433: “Note-se que o CTN não se referiu à correção
monetária. Mas ela tem o caráter moratória a que se refere o parágrafo único do art.
134”.
19 Aliomar Baleeiro, Direito Tributário, cit. p. 433: “Se, temerariamente, nos atos
praticados por elas ou nas omissões que cometerem, tomarem impossível o
cumprimento da obrigação principal – o pagamento dos tributos em tempo útil, pagarão
solidariamente não só esse tributo, senão também juros da mora e mais a multa de
caráter estritamente moratório”.
20 CTN, art. 139: “O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma
natureza desta.”
21 A tese que defendi e que é também aceita por ponderável parcela de nossos
magistrados, no sentido de que nos artigos anteriores (131, 132, 133) cuidou o
legislador de uma responsabilidade apenas para tributos e não de penalidades, não era
pacífica, como se pode verificar duas emendas abaixo transcritas: RE 74.851-SP, 21.ª
T., 27.03.1973, rel. Min. Barros Monteiro, Recte.: Estado de São Paulo (adv. Zeneida
Junqueira de Lima Nico), Recdo.: Espólio de José Cattanco (adv. José Carlos Magalhães
Teixeira), Decisão: Conhecido e provido, unânime:
“Ementa – Executivo fiscal para cobrança de multa fiscal. (1) Não se aplica à multa fiscal
o princípio de que nenhuma pena passará a pessoa do delinquente, mormente quando
regularmente inscrita a dívida, antes do falecimento do devedor. (2) Recurso
extraordinário conhecido e provido”. Acórdão n. 10.523, de 29.03.1973: “Multa fiscal.
Legalidade de sua manutenção, no caso de contribuinte que, posteriormente a sua
regular imposição, veio a falecer. Pedido de reconsideração deferido em parte” (1.º
Conselho de Contribuintes).
22 Aliomar Baleeiro escreve (Direito tributário, cit., p. 435): “O art. 135 não ressalva as
penalidades de caráter não moratório nem limita sua eficácia apenas à obrigação
principal, como aconteceu no art. 135. A ‘contrario sensu’, abrange – parece-nos –,
quaisquer penalidades e obrigações acessórias”.
23 Quando o dispositivo acima foi debatido com alguns participantes da 1.ª edição dos
Comentários ao CTN (Ed. Bushatsky) e membros da Comissão, o Dr. Henry Tilbery
discordou da tese acima, entendendo que a não menção à solidariedade não a excluiria,
por consequência. Foi no debate a única opinião divergente.
24 É esta a opinião também de Aliomar Baleeiro (Direito tributário, cit., p 435): “O caso,
diferentemente do anterior, não é apenas de solidariedade, mas de responsabilidade por
substituição. As pessoas indicadas no art. 135 passam a ser os responsáveis ao invés do
contribuinte”.
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Grupos econômicos e responsabilidade tributária
26 Comentários ao Código Tributário Nacional, In: Ives Gandra Martins (coord.), 7. ed.,
Op. cit., p. 223-228, 279-282, 286-288, vol. 2.
28 Em seu livro Direito social no Brasil Cesarino faz a distinção do fraco trabalhador
(hipossuficiente) e do forte empresário (hipersuficiente).
30 “As denominadas leis naturais na moderna concepção de direito natural, que não se
choca com o direito positivo, visto que há normas que o Estado apenas reconhece e
outras que cria, são, quase sempre, normas de aceitação social. O respeito ao direito à
vida é típica norma de comportamento, que seria cumprida pela maior parte da
população em qualquer parte do mundo, mesmo que não houvesse sanção. Para tais
normas compreende-se que as normas sancionatórias sejam secundárias, visto que o
brilho das normas primárias ou de comportamento por si só assegura a força de sua
aplicação e aceitação pela comunidade. Desta forma, quanto às normas de aceitação
social, Cossio tem razão, sendo a norma sancionatória mero apêndice de aplicação
restrita aos desajustados sociais.
O mesmo não acontece quanto às normas de rejeição social. Nestas, prevalece a
necessidade da norma sancionatória, única capaz de fazer cumprir a norma de rejeição
social. O tributo, como o quer Paulo de Barros Carvalho, é uma norma. É uma norma de
rejeição social. Vale dizer, sem sanção provavelmente não seria cumprida.A sanção é
que assegura ao Estado a certeza de que o tributo será recolhido, visto que a carga
desmedida que implica traz, como consequência, o desejo popular de descumpri-la.
Tanto assim é que um contribuinte que seria incapaz de matar alguém, mesmo que não
houvesse norma sancionatória, muitas vezes é tentado a não pagar tributos, só o
fazendo em face do receio de que a norma sancionatória lhe seja aplicável.
É que todos os contribuintes sabem que pagam mais do que deveriam pagar para
atender às necessidades maiores do Estado e às necessidades menores dos detentores
do poder” (O sistema tributário na Constituição, 6. ed., São Paulo: Saraiva, 2007,
p.14-16).
O art. 112 situa-se no campo do ilícito tributário, pois trata de infrações e imposições de
penalidades definidas pela lei tributária.
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Admite-se que o art. 112 reflete o velho brocardo “in dubio pro reo” ou “in dubio contra
fiscum”, inspirado em medida liberal (Comentários ao CTN, In: Ives Gandra Martins
(coord.), 6. ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p. 164, vol. 2).
Para que qualquer ente público tenha condições de exigir ou aumentar tributos é
indispensável a existência de lei. É exigência contida no ar. 150, I da CF/1988” (Código
Tributário Nacional – Comentado, Ed. RT, 1999, p. 463).
I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o
respectivo fato gerador;
(…)
§ 1.º – Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados
segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária,
especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os
direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades
econômicas do contribuinte.”
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