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CURSO DE DIREITO
VILA VELHA
2010
Natasha Oliveira Gomes Lima
VILA VELHA
2010
Natasha Oliveira Gomes Lima
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________________
Profº. Espc. José Augusto Farias de Souza
Centro Universitário Vila Velha – UVV
Orientador
________________________________________
José Renato S. Martins
Centro Universitário Vila Velha – UVV
AGRADECIMENTOS
RESUMO
Os crimes contra os costumes eram via de regra de ação penal privada com
exceção quando o crime era praticado com violência real ( Sumula 608 STF)
seria ação penal pública incondicionada ; quando a vitima ou seus pais não
podiam prover as despesas do processo caso que seria de ação penal pública
condicionada a representação e quando o crime era praticado com abuso de
pátrio poder ou na qualidade de tutor, curador e padrasto seria de ação de
ação pública incondicionada.
Com o advento da nova Lei 12.015/09 que alterou os crimes contra os
costumes passando a ser chamado de crimes contra a dignidade sexual , as
ações penais passaram via de regra a serem públicas condicionadas a
representação com exceção dos crimes praticados contra vulneráveis que será
de ação penal pública incondicionada. Algumas modificações foram benéficas
para o réu devendo retroagir e outras mais gravosas não retroagindo.
Sumário
1 INTRODUÇÃO............................................................................. 7
2 Conceito........................................................................ 8
2.1 Fundamento............................................................... 10
2.2 Ação penal pública............................................................. 10
2.3.1 Ação penal pública incondicionada 11
2.3.2 Ação penal pública condicionada à representação 12
2.3.3 Ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da 13
Justiça
2.4 Ação penal privada 14
2.4.1 Ação penal privada exclusiva e ação penal provada 15
personalíssima
2.4.2 Ação penal privada subsidiária da pública 16
3 Condições da Ação 18
3.1 Condição genérica...................................... 18
3.2 Condição específica............................ 23
4 Princípios que norteiam a ação penal.............. 25
4.1 Princípios da ação penal pública.......................................... 25
4.2 Princípios da ação penal privada 28
5 Ação penal nos crimes antes e depois da Lei 12.015/09 32
5.1 Ação penal nos crimes contra os costumes antes da vigência da Lei 34
12.015/09
5.2 Ação penal nos crimes contra a dignidade sexual após o advento da 34
Lei 12.015/09
5.2.1 Da vigência da sumula 608 do STF 35
5.2.2 Das principais alterações estabelecidas pela Lei 12.015/09 37
6 Conclusão 41
7 Referências 43
7
Introdução
No capitulo 2 falarei das condições das ações que podem ser genéricas
existentes tanto no processo civil como no processo penal que são:
legitimidade da parte , interesse de agir , possibilidade jurídica do pedido e a
justa causa embora essa seja adotada por uma corrente minoritária. Podem ser
especificas como a representação do ofendido e a requisição do Ministro da
Justiça.
2. Conceito de Ação:
O direito de ação surge então no momento em que o Estado - Juiz assume ser
o detentor da administração da justiça , ou seja, o juis puniendi pertence a ele
agora ficando de modo subjetivo e abstrato este direito enquanto não se
infringi uma normal legal penal. No momento em que uma ação viola essa
normal legal penal já estabelecida anteriormente ( principio da reserva legal),
aquele direito que antes era subjetivo e abstrato modifica-se para objetivo e
concreto.
A partir desse momento surge para o Estado a "pretensão punitiva ", ou seja,
surge para ele o direito de fazer atuar a lei penal.
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Muitas foram as teorias existentes que surgiram para tentar explicar qual a
natureza jurídica do direito de ação. A primeira delas foi a teoria civilista na qual
a ação era o próprio direito material que se postulava em juízo, isto é, não
havia diferença entre direito material e direito de ação.
Muther (1857) já afirmava que a ação não era um direito do autor contra o réu
mas sim um direito contra o Estado, já que foi este que assumiu a
administração da justiça distinguindo o direito de ação do direito material.
Surge outra teoria do Adolph Wach ( 1885) na qual o direito de ação estava
condicionado a existência de um direito material. Porém para ele, só existia
direito de ação para quem tinha um direito concreto de agir, ou seja, para quem
recebe uma sentença favorável daquele direito material violado ou interesse
juridicamente protegido.
Por ultimo, surge o Degenklob e Plóz ( final do século XIX) , com a teoria,
abstrata dando o direito de ação mesmo aqueles que não possuíam o direito
material, pois o réu poderia obter improcedência do pedido mas não poderia
que lhe fosse negado o seu direito de ação.
2.1 Fundamento
O prazo para que a vítima ou seu representante legal exerça seu direito de
representação é de 6 (seis) meses contado do dia em que tomaram
conhecimento da autoria do crime. Caso a vítima seja menor de 18 anos e não
conte para o seu representante legal quem foi o autor do crime poderá este
quando completar a maioridade requerer o oferecimento da denúncia mesmo
que os 6 meses já tenha passado , pois só adquire capacidade para este ato
ao completar 18 anos.
13
O Código de Processo Penal silenciou a respeito do prazo que deve ser feita a
requisição. Por isso autores como Tourinho Filho(2010) e Guilherme de Souza
Nucci (2008) lecionam que poderá ser feita a requisição a qualquer tempo
desde que não tenha extinto a punibilidade.
Tourinho Filho diz que não seria possível já que o artigo 25 do Código de
Processo Penal não coloca a retratação da requisição do Ministro da Justiça
14
Há crimes que afetam tão intimamente a vida privada do ofendido que o Estado
passou a legitimidade da ação para o ele ou seu representante legal. Isto
porque, poderia causar um maior dano a vítima do que a impunidade do crime.
Esses crimes de ação penal privada têm caráter privatístico já que a qualquer
momento antes da sentença , pode a vítima desistir da ação privada.
Neste tipo de ação o ofendido ou seu representante legal é quem tem o direito
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de propô-la. O Código Penal é que estipula em relação a cada crime qual será
o de ação penal privada com a expressão "somente se procede mediante
queixa" no final de cada crime ou capítulo do Código.
Caso o ofendido morra antes ou depois de iniciada a ação penal por ele, as
pessoas enumeradas no art. 31 do Código Processo Penal poderão dar
prosseguimento.
"Art 31 - No caso de morte do ofendido ou declarado
ausente por decisão judicial , o direito de oferecer queixa ou
prosseguir na ação passará ao conjugue , ascendente,
descendente ou irmão."( Brasil 2010)
Não precisa seguir essa ordem numerada pelo artigo acima. Poderá o
descendente em vez do conjugue continuar a ação entretanto , se aparecer
mais de uma pessoa com o direito de queixa ai o cônjuge terá direito sobre os
demais elencados no art. 31 do CPP e os parentes próximos direito de
preferência aos parentes mais antigos conforme o próprio art.36 dispõe.
"Art.36- Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
queixa, terá preferência o conjugue, e, em seguida, o
parente mais próximo na ordem de enumeração constante
do art. 31 , podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir
na ação caso o querelante desista da instância ou a
abandone." ( Brasil 2010)
O Ministério Público é quem tem a legitimidade para propor ação penal pública
devendo promovê-la dentro dos prazos do art. 46 “caput”, e § 1, do CPP.
É importante frisar que não será concedido o perdão -art. 105 do CP- e nem
ocorrerá a perempção - art. 60 do CPP- pois só é admitido nos crimes que se
procede mediante queixa. Não é o que ocorre já que os crimes de ação penal
privada subsidiária da pública, têm início com a denúncia.
• Legitimidade da Parte
No pólo ativo, o Estado é sempre o responsável pelo direito de punir (jus
puniend), sendo ele representado pelo Ministério Público. A lei em seu
artigo 100 do Código Penal confere ao ofendido o direito de querer ou não
punir o infrator nos casos de ação penal privada.
Art 100 A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a
declara privativa do ofendido.
§2 A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do
ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.( Brasil,
2010)
• Interesse de Agir
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Ada Pellegrini (1999) diz que interesse adequação se coloca na ação penal
condenatória, em que o pedido deve necessariamente ser a aplicação da
sanção penal sob pena de caracterizar-se a ausência da condição.
Para que a ação seja regularmente exercida, o pedido do autor deve ser
juridicamente possível, ou seja, deve estar previsto em lei sendo inadmissível
um pedido que não encontra respaldo no ordenamento jurídico. Logo o fato
narrado deve ser típico –descrito em norma penal incriminadora- e o pedido
aceito pelo Direito. Por exemplo, se o denunciante foi denunciado pelo
Ministério Público pelo crime de roubo simples com pena de reclusão de 4
(quatro) a 8 (oito) anos, não pode o Ministério Publico pedir a condenação em
25 anos de reclusão, sendo este primário e de bons antecedentes criminais.
• Justa Causa
Paulo Rangel (2010) diz que o inquérito policial deve dar ao Ministério Público
suporte, base para que seja oferecida a denúncia a fim de que não haja uma
imputação infundada, desconectada das informações do Inquérito Policial. Por
exemplo, um inquérito policial instaurado para averiguar a morte do infrator do
crime de roubo feito por um policial, com prisão em flagrante. Neste caso
depois de apurados os fatos e visto que todo a ação do policial foi dentro dos
limites da lei: uso de arma oficial; voz de prisão do infrator; um único disparo;
depoimento do lesado pelo crime de roubo; testemunhos que assistiram a ação
do policial e presenciaram o infrator atirando contra o agente da lei etc. Este
não tiver um mínimo de prova para sustentar a denuncia que o policial praticou
um fato ilícito embora típico e culpável deverá, o Inquérito Policial ser arquivado
por ausência de justa causa.
Nas lições do doutrinador Afrânio Silva Jardim (2003) a justa causa funciona
como uma verdadeira condição para o exercício da ação penal condenatória.
Em contrapartida Ada Pellegrini(1999) ressalta que a doutrina processual
penal brasileira costuma apresentar a “justa causa” ( ou fumins boni júris) ,
como idoneidade do pedido, como interesse de agir na ação penal
condenatória.
Existem certos crimes no Código Penal que a lei trouxe uma condição
especifica para que o Ministério Público ofereça a denúncia e apure o crime.
Isso porque como diz o doutrinador Guilherme de Souza Nucci (2008) para
alguns poucos casos, previu-se que haja a participação discricionária de órgão
do Poder Judiciário, conferindo autorização para a atuação do Ministério
Público, diante da complexidade do tema e da conveniência política de se levar
o caso a apreciação do Poder Judiciário.
Existem alguns princípios que regem a ação penal pública e ação penal privada.
Abordaremos os principais princípios que regem as ações penais.
• Principio da Oficialidade:
Ao se cometer uma infração penal surge para o Estado o dever de punir , a
pretensão punitiva, o jus puniend , pois é ele o detentor da administração da
justiça. O Ministério Público através do poder conferido a ele pelo Estado passa
a ser o responsável pelo direito de punir.
• Principio da Indivisibilidade
O Ministério Público tendo o seu dever de propor a ação penal não pode escolher
quais dos indiciados serão processados caso exista mais de um na mesma ação. É
o que diz o art. 48 do Código de Processo Penal (2010): “a queixa contra qualquer
dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público valerá
pela sua indivisibilidade”.
Esse princípio tem aplicabilidade nas ações penais públicas embora o art. 48 fale só
da queixa (ação penal privada) esquecendo da representação. Indiciados
logicamente ele não poderia tendo provas suficientes escolher qual destes iria
oferecer denunciar.
• Princípio da Intranscendência
No Brasil vigora a intranscendência da ação penal, ou seja, só poderá ser proposta a
ação penal contra a pessoa a quem se imputa a prática do delito.
A ação penal deverá expor os fatos criminosos, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e , quando necessário , o rol de testemunhas (art. 41 do
Código de Processo Penal , 2010)
O doutrinador Paulo Rangel (2010) leciona que embora alguns doutrinadores falem
em principio da legalidade o seu entendimento é de que qualquer obrigatoriedade
somente pode surgir na medida em que é instituída por lei. Assim a expressão mais
técnica e de acordo com o texto constitucional é a obrigatoriedade da ação penal -
art.5, Inciso II da Constituição Federal de 1988:” ninguém poderá ser obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.
O principio está exposto no art.24 do Código de Processo Penal quando este diz que
nos crimes de ação penal pública , esta será promovida por denúncia do Mistério
Público, mas dependerá , quando a lei exigir , de requisição do Ministro da Justiça,
ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representa-lo.
Para alguns doutrinadores como Paulo Rangel(2010) e Fernando Capez(2010) o
princípio também está inserido de uma forma implicitamente no art.28 do Código de
Processo Penal, quando o legislador fala do arquivamento do inquérito policial. Nas
palavras de Paulo Rangel “o dever de agir existe sempre. Seja para propor a ação
penal, seja para arquivar os autos do inquérito”. ( 2010, pg.219)
Esse princípio é absoluto, ou seja, toda vez que tiver indícios de autoria e prova da
materialidade quanto a pratica de um fato típico e desde que não esteja presente
nenhuma causa extintiva de punibilidade o Ministério Público tem o dever de propor
a ação a penal.
Por isso o Estado permitiu que em virtude dessa particularidade de afetar a esfera
íntima da vítima que esta escolhesse se iria dentro de um prazo decadencial de 6
(seis) meses ,que a lei confere se oferecer ou não a queixa .
Paulo Rangel (2010) diz que recebendo indenização pela prática do crime não
significa dizer que houve abdicação ao direito de propor ação penal , pois o
recebimento de indenização é mero ato de ressarcimento, de repercussão cível, que
não influência na esfera penal, perdendo o ofendido interesse de agir na esfera civil.
Nos juizados especiais (crimes de menor potencial ofensivo) esta regra sofre
exceção pois caso haja acordo civil homologado pelo juiz acarretará renúncia ao
direito de propor ação penal já que a homologação de acordo é uma causa extintiva
de punibilidade.
Conclui-se que nas ações penais privadas quem irá decidir se o Estado irá exercer o
jus puniend é a vitima por afetar a esfera íntima, privada dela.
• Principio da Disponibilidade
Nas ações privadas, o ofendido pode prosseguir ou não com a ação, pois é ele o
titular exclusivo dessa ação. Paulo Rangel (2010) leciona no seu livro Curso de
Processe Penal, o fato de ter iniciado a ação penal, porque lhe era conveniente e
oportuno, não significa que, durante o curso desta ação, o ofendido não possa dela
desistir. Pode. Pois, a qualquer tempo, ser-lhe-á lícito conceder ao réu (querelado) o
perdão ou abandonar o processo, perimindo a ação.
São duas as maneiras que o ofendido pode dispor da lide: através do perdão ou da
perempção. O perdão expresso no art. 105 do Código Penal (2010), no qual só
poderá ser concedido nas ações penais privadas exclusivas e personalíssimas, não
podendo neste caso estender as ações penais privadas subsidiárias da pública, já
que o código é enfático em dizer que só nos crimes em que se procede mediante
queixa.
O perdão poderá ser judicial ou extrajudicial e deverá ser aceito pelo querelado para
que possa produzir efeitos, caso ao contrário à ação irá continuar tramitando. Há
duas formas do perdão: tácito quando o ofendida pratica um ato que é incompatível
com a vontade de prosseguir a ação ,como por exemplo, convida o autor da infração
para a festa de batismo de sua filha e a expressa, quando constar da declaração nos
autos ou termos assinados pelo ofendido ou por procurador com poderes especiais.
• Principio da Indivisibilidade
Decorre do art.48 do Código de Processo Penal (2010) , o qual dispõe que a queixa
proposta contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos , ou
seja, se o ofendido resolve propor ação penal privada não poderá ele escolher qual
dos autores do crime que irá oferecer a ação. Por exemplo, se A é vitima do crime
de injúria praticado por B ,C e D ao propor a ação penal todos serão processados
não podendo a vitima escolher entre estes três qual deles ela quer oferecer queixa.
Em razão desse princípio dispões os artigos 49 e 51 do Código de Processo Penal
(2010), que renúncia ao exercício do direito de queixa quanto a um dos autores da
infração e o perdão concedido a um dos querelados se estenderá aos demais salvo
se o querelado recusar o perdão.
• Princípio da Intranscendência
Consagrado no art.5 XLV da Constituição Federal de 1988 nenhuma pena passará
da pessoa do condenado, ou seja, a ação penal só poderá ser proposta perante a
pessoa do acusado aquele que praticou a infração penal e não sobre os seus
responsáveis.
Antes da vigência desta lei o estupro (art.213 do CP) só podia ser cometido contra a
mulher ; agora tanto o homem como a mulher pode ser vítimas. O atentado violento
ao pudor (art.214 do CP) foi unificado ao crime de estupro. A ação penal que antes,
via de regra era privada agora passa a ser pública condicionada a representação.
5.1 Ação Penal nos crimes contra os costumes antes da vigência Lei 12.015/09
Paulo Rangel no seu livro curso de processo penal faz a seguinte ressalva:
Há que se ressaltar que a regra do art.101 do citado diploma é despicienda,
pois a regência da natureza da ação penal é feita pelo art.101 da lei penal.
Sem falarmos que o estupro do qual resulta lesão leve não é crime complexo
e, portanto, não poderia ter sua disciplina pelo art.101 CP.
Assim não sendo o estupro com violência real (lesão leve) crime complexo,
não há que se falar no art.101 CP, e , mesmo no caso do estupro com
resultado de lesão grave, a disciplina da ação é do próprio art.225 CP.
Portanto, a natureza da ação penal (estupro com resultado de lesão grave ou
morte) é pública incondicionada e de iniciativa privada, tratando-se de crime
de estupro com resultado de lesão leve (violência real). ( 2009, pg.288)
Fernando da Costa Tourinho (2007) entende que o crime de estupro pode ser um
crime complexo em sentido amplo e não em sentido estrito como no latrocínio no
qual há a fusão de duas figuras delituosas (furto e o homicídio). Ele entende que o
crime de constranger alguém mediante violência ou grave ameaça – art.146 do CP -
acrescido com os elementos mulher e conjunção carnal – art.213- poderia formar um
crime complexo em sentido amplo já que só esses elementos do art.213, por si só,
não constituiriam crimes. Acontece que o Código Penal não adotou o conceito amplo
de crime complexo e sim o estrito como se pode ver na redação do art.101 do CP.
Como as ações penais nos crimes contra os costumes eram, em regra, privadas e
rege o principio da indisponibilidade surgia uma questão: Quando a vítima, que já
manifestou seu interesse em propor a ação vem a falecer no curso do processo sem
deixar os sucessores processuais previsto no art.31 do CPP ? A reposta era
simples: ocorreria a perempção conforme o art.60 , II, do CP. Mesmo que a vítima
tenha a todo tempo manifestado seu interesse em punir o acusado, ela morrendo e
não deixando sucessores processuais , o Estado nada iria fazer e o agressor ficaria
impune pois não vigora na ação privada o principio da obrigatoriedade.
Portanto, mesmo que o estado tenha o jus punied, o direito de punir, sendo ele o
detentor da administração da justiça, o legislador entendeu que os crimes contra os
costumes afetam tanto a intimidade da vítima que na época transferiu esse direito
de escolha de punir ou não o acusado para a vítima , ou seja, caso ela não queira
oferecer queixa o delinqüente ficará solto pelas ruas procurando novas vítimas até
que uma delas resolva oferecer queixa e dar continuidade com o processo até o final
para este seja condenado.
5.2 A Ação Penal nos crimes contra a dignidade sexual após o advento da Lei
12.015 /09
A nova lei dos crimes contra a dignidade sexual trouxe modificações quanto
aos crimes e quanto aos tipos de ações penais. O estupro que antes só a mulher
poderia ser vítima agora o homem também pode ser. O atentado violento ao pudor
foi agregado ao tipo penal do estupro. A posse sexual mediante fraude (art.215 CP)
e o atentado violento ao pudor mediante fraude (art.216) foram revogados. Criou-se
um capítulo para tratar exclusivamente dos crimes sexuais contra vulnerável. A ação
penal que antes era privada agora , em regra, passa a ser pública condicionada a
representação.
Neste caso a vitima deverá ser chamada em juízo para que manifeste se deseja
punir ou não o réu no prazo decadencial de 30 dias, aplicando analogicamente o art.
91 da Lei 9.099/95.
O parágrafo único do artigo 225 diz que no caso do crime ser contra menor de 18
anos ou pessoa vulnerável procede-se mediante ação penal pública incondicionada.
Acontece que o caput do art.225 diz que os crimes definidos no capitulo II que são
os crimes contra vulnerável se procedem mediante representação. Houve aqui uma
contradição do legislador.
Paulo Rangel no seu livro curso de processo penal (2010) explica que o legislador
definiu apenas como ação penal pública condicionada a representação os crimes
previstos no capitulo I e que não precisava o legislador no parágrafo único do artigo
225 dizer que era pública incondicionada. Bastava o silêncio para saber que era já
que o art. 100 do Código Penal diz que ação penal será pública, salvo quando a lei
expressamente declarar privada.
Em relação a Sumula 608 do STF Guilherme de Souza Nucci diz que fica eliminada
já que agora o crime contra vulneráveis cometidos com violência grave, leve ou
morte será de ação penal pública incondicionada. Em relação aos maiores e
capazes a ação será pública incondicionada.
No caso do estupro simples que antes era de iniciativa privada e agora passa ser de
iniciativa pública condicionada a representação, a primeira vista, não há nenhuma
mudança para o réu já que agora quem é legitimado para promover a ação penal é
primeiro a vitima e depois o Ministério Público e antes do advento da lei 12.015/09
era somente a vitima. Acontece que os princípios que regem a ação penal privada e
ação penal pública são diferentes. Enquanto na pública tem a obrigatoriedade,
indivisibilidade e indisponibilidade na privada tem a conveniência e oportunidade e a
disponibilidade, ou seja, na ação penal privada o querelante podia a qualquer
momento desde que fosse da sua vontade desistir da ação através do perdão e da
perempção. Agora já que o Ministério Público é o legitimado nas ações penais
públicas não poderá o réu aproveitar-se do instituto do perdão nem da perempção.
Logo a modificação promovida pela Lei 12.015/09 é mais grave para o réu não
retroagindo.
.
Com a revogação do art.214 do Código Penal, o atentando violento ao pudor deixou
de ser um crime autônomo e passou a ser conduta do crime de estupro art. 213 do
Código Penal. A lei 12.015/09 trouxe uma conduta mais benéfica já que antes quem
cometia conjunção carnal e ato libidinoso era punido por dois crimes em concurso
material, ou seja, a pena mínima aplicada era de 12 anos de reclusão. E hoje com
esta nova lei a sanção penal varia de 6 a 10 anos de reclusão.
Haverá uma retroatividade da Lei 12.015/09 , já que esta é mais benéfica para o réu.
Essa retroatividade irá atingir os inquéritos, os processos em andamento e os
processos em execução. No inquérito deverá haver a descrição de um crime único
embora possa existir a descrição dos fatos de maneira distinta. Nos processos em
andamento cabe a condenação em só crime de estupro com a fixação da pena
conforme o art.59 do Código Penal.
Art 59 O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
Caso a pena já tenha sido aplicada cabe ao Tribunal em grau de apelação rever a
pena aplicada e unificar os delitos em estupro. Se o processo encontrar em grau de
recurso especial ou extraordinário não podem os Tribunais Superiores rever a pena
e unificar as infrações. É da competência do juiz da execução penal fazer, caso esta
parte já tenha transitado em julgado. Mas se recursos dito acima versarem sobre a
aplicação da pena neste caso poderá os Tribunais superiores corrigir a pena,
unificando-a. (NUCCI ,2009)
Nos casos em que havia o crime de estupro de vulnerável e a combinação com a lei
especial do crime hediondo (Lei 8.072/90) o réu tinha sua pena aumentada da
metade caso o magistrado seguisse essa orientação. Assim a pena mínima seria de
6 anos aumentada da metade , ou seja, mais 3 anos totalizando 9 anos de reclusão.
Com a vigência da Lei 12.015/09 o art. 217 - A do Código Penal que trata do estupro
de vulnerável é mais favorável para o réu reduzindo a pena para 8 anos de reclusão.
Porém existia uma segunda orientação na qual não se aplicava o artigo 9 da Lei dos
Crimes Hediondos por entender que havia bis idem . Para essa corrente a Lei
12.015/09 é prejudicial para o réu já que a pena do 217-A do Código Penal é de no
mínimo 8 anos de reclusão enquanto no crime quanto os costumes a pena mínima
era de 6 anos.
Já existem julgados a respeito dos temas citados a cima tanto nos Tribunais
Estaduais como nos Superiores :
Não existia um capítulo próprio no Código Penal que tratasse dos crimes contra os
costumes de vulnerável. Existia um artigo ao final dos crimes contra os costumes
que dizia que a violência era presumida contra menores de 14 anos.
O legislador criou um capitulo exclusivo para tratar os crimes desta espécie contra
os vulneráveis. A pena para o estupro de vulnerável ficou mais gravosa sendo agora
de 8 (oito) a 15 (quinze) anos de reclusão e caso ocorra violência lesão corporal
grave ou morte a pena será respectivamente de 10 (dez) a 20 (vinte) anos e de 12
(doze) a 30 (trinta) anos de reclusão .
Portanto, pode-se perceber que existem temas como por exemplo, a validade ou
não da Sumula depois do advento da Lei 12.015/09 que ainda estão sendo
discutidos na doutrina para que haja uma melhor aplicação do direito.
7 Referência
FILHO, Fernando da Costa Tourinho. Curso de Processo Penal. 29 ed. São Paulo:
Saraiva,2007
MIRABETTE, JULIO FABRINNI. Curso de Processo Penal. 14 ed. São Paulo:
Atlas,2003.