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design

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Da cidade interativa
à cidade participativa
giselle beiguelman

Ações coletivas em ambientes ricos em dados


abrem caminho para a cidadania em rede

Projeto realizado em Lisboa permitia que o público dançasse dentro de uma cabine e transmitisse suas imagens para os semáforos em tempo real

As cidades contemporâneas foram expandidas pelas tecnologias plo básico: como fazer com que os carros
digitais. Elas permitiram a ocupação de fachadas com telas e acesso, via parem de fato no farol vermelho e os pe-
aplicativos, a informações que vão do fluxo do trânsito ao mapeamento destres atravessem apenas na faixa de segu-
de remoções decorrentes de obras públicas. Se, ao longo dos anos 1990, rança? E uma questão mais complexa: como
os especialistas discutiam como apropriar-se das redes para tornar a migrar da ideia de uma cidadania digital –
cidade mais interativa, hoje, com a capilarização da tecnologia, a aposta que se esgota no uso de aplicativos – para as
é em como utilizá-las para interferir no cotidiano das cidades. práticas de uma cidadania em rede, pautada
A discussão sobre “cidades inteligentes” cede, assim, espaço para pela ação colaborativa entre todos?
a de cidadania, reinventando as formas de ocupar as ruas e as pró-
prias noções de política urbana. Não se trata mais de apenas planejar Ruas dançantes
e regrar o espaço coletivo, mas, sim, de como mobilizar para que Atravessar as ruas nos centros das grandes
essas regras sejam fluidas o suficiente para constituir e reconstituir cidades converteu-se em uma espécie de ba-
o uso comum, conforme as necessidades do momento. Um exem- talha campal entre homens e máquinas. Isso

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46 vale para o trânsito caótico das metrópoles brasileiras, mas vale tam- cia participativa e não meramente reativa a
bém para várias capitais europeias. Os carros, muitas vezes, não res- cliques, e a exploração no limite máximo do
peitam as faixas, mas é inegável que, na pressa, muita gente se arrisca potencial das cidades em rede. Afinal, é o fato
correndo entre os carros. Com base nisso, a linha de automóveis Smart de esses equipamentos urbanos funcionarem
patrocinou um projeto que colocou os pedestres na função de protago- em rede o que permite a sua interligação em
nistas do trânsito. Instalou réplicas dos sinais de tráfego em escala huma- sistemas que podem ser apropriados de ou-
na e convidou o público a dançar lá dentro. Suas imagens foram silhue- tras formas pela população.
tadas na forma de bonequinhos e apareceram, em tempo real, dançando
no sinal, no lugar dos tradicionais – e aborrecidos – sinais de interdição. Sistemas parasitas
O resultado, depois de um teste de um mês em Lisboa, no fim do Utilizar a base tecnológica implantada para
ano passado, foi um aumento de 81% no número de pessoas que para- criar novas ecologias sociomidiáticas é o que
vam no sinal vermelho. Não há dúvida que a receita de sucesso desse está por trás da ideia de parasitismo, no glos-
projeto passa por dois pilares do design de informação: o investimen- sário do ativismo contemporâneo. Não se
to na experiência do usuário (UX, User Experience), como experiên- trata de haquear pura e simplesmente um sis-
tema para uma causa própria, mas infiltrar-se
para criar plataformas comuns. Em uma frase,
estamos falando aqui da migração da apologia
do individualismo DIY (Do It Yourself, Faça
Você Mesmo) para o coletivista DIWO (Do It
With the Others, Faça com os Outros).
Na prática, isso aparece em projetos como
os Bueiros Conectados do jovem designer
paulista Andrei Speridião. Eles funcionam a
partir da combinação entre um equipamento
– desenvolvido por Speridião –, que é implan-
tado nos bueiros e se alimenta das informa-
ções que os sensores dos bueiros captam e
transmitem (como nível de água). Esse equi-
pamento-parasita é a fonte de informações de
um aplicativo para celular. Qualquer pessoa
poderia acessar, assim, os dados gerados por
Bueiros Conectados, de Andrei Speridião, promove gestão coletiva da cidade um bueiro e, com isso, participar da gestão da
cidade, identificando sua integridade física e
o nível de sua capacidade de uso. O aplicativo
permite não só que essas informações sejam
agregadas a um mapa coletivo, mas também
imediatamente transmitidas para o órgão ou
instituição onde está localizado e à subprefei-
tura relacionada.
Premiado no último IDEABrasil, um prê-
mio internacional devotado à excelência em
design, Bueiros Conectados aposta no poten-
cial da conexão entre os objetos e os cidadãos,
privilegiando a mobilização coletiva para a
tomada de decisões preventivas. O projeto
aguarda parceiros para ser implementado
(www.bueirosconectados.net).

SELECT.ART.BR abr/mai 2015 Fotos: wesley lee e andrei speridião. nA Página ao lado, reprodução

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