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O Poder Americano

José. Luis. Fiori (Org.)


Editora Vozes, 2004, 453 páginas.

1. Introdução

O Poder Americano é o quarto título de uma série de livros organizada por José Luis Fiori
como parte da coleção Zero à Esquerda, promovida pela Editora Vozes. A tetralogia assinada
pelo professor do Instituto de Economia da UFRJ aponta para a dinâmica da economia política
internacional contemporânea com o propósito de elucidar “espaços e perspectivas” para países
situados na periferia do sistema. Preserva-se, neste sentido, o desafio proposto por Furtado e
Prebisch quanto à necessidade de construção de uma economia política crítica e independente
dos interesses usualmente convergentes das grandes potências.

No primeiro título da série, Poder e Dinheiro: uma economia política da globalização,


organizado em parceria com Maria da Conceição Tavares e publicado em 1997, procurou-se
caracterizar a dinâmica do sistema internacional nas duas últimas décadas do século XX,
período que ficou vulgarmente conhecido pelo conceito-síntese da globalização.

Seguiu-se Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações, publicado em 1999. Sob este
segundo título, Fiori colecionou textos que exploraram, de maneira comparada, as principais
experiências nacionais de industrialização observadas desde meados do século XIX. Com isso
objetivou-se resgatar, a partir de instrumental analítico braudeliano em longue dureé, o papel
das finanças, do crédito e da moeda, e sua relação com a formação e desenvolvimento dos
Estados Nacionais.

No terceiro volume da série, intitulado Polarização Mundial e Crescimento, J. L. Fiori e C.


Medeiros organizaram artigos segundo três blocos. No primeiro bloco foram debatidas as
transformações recentes do sistema mundial e seu impacto sobre as instituições capitalistas. No
segundo bloco, mais analítico e econômico, discutiu-se o crescimento, suas restrições e
desigualdades. O terceiro bloco reuniu interpretações históricas sobre a construção político-
econômica brasileira.

N’O Poder Americano são retomados os temas estudados nos volumes anteriores, na tentativa
de síntese sobre a natureza do poder norte-americano contemporâneo e sobre as estratégias de
afirmação unipolar imperial dos EUA a partir dos anos noventa.

A presente resenha está estruturada da maneira seguinte. Na seção 2 procurou-se fornecer ao


leitor um guia comentado dos principais textos que formaram o livro, explicitando, sempre que
possível, o método e as premissas adotadas por cada autor selecionado. Na seção 3 tecemos
conclusões críticas quanto às limitações e possibilidades explicitadas no texto.

2. O Poder Americano

No artigo de abertura do livro, Formação, Expansão e Limites do Poder Global, J. L. Fiori


lançou-se em ambiciosa tentativa de construção de um instrumento analítico que lhe permitisse
a explicitação dos determinantes da dinâmica do sistema internacional no tempo longo dos
últimos cinco séculos.

Para tanto, partiu do “’momento’ lógico e histórico em que o ‘poder político’ se encontra com o
‘mercado’ e recorta as fronteiras dos primeiros ‘estados/economias’ e ‘identidades/interesses’
nacionais” (p. 20). Seguindo-se a análise proposta por F. Braudel, assumiu-se que os mercados
nacionais não emergiram espontaneamente de processos de troca endógenos a cada sociedade
territorial, mas foram resultado de ação do poder político que, através da delimitação de
fronteiras externas, eliminou barreiras internas e deu origem, pelo canal do endividamento
público, ao moderno sistema de crédito. Assim, “o risco dos banqueiros era a derrota dos
príncipes nas suas guerras, mas os seus lucros eram muito mais generosos do que em qualquer
outra aplicação mercantil. Sobretudo porque não se tratava apenas de retornos em dinheiro, se
tratava da conquista de posições monopólicas, no plano comercial e financeiro, ou mesmo na
cobrança de impostos e tributos dentro do território das ‘unidades imperiais’ endividadas”
(p.30).

Ao tomar como ponto de partida a ligação entre os príncipes e os banqueiros, Fiori criou “um
conceito paralelo e simultâneo ao da ‘economia-mundo’, que denomino[u] ‘política-mundo’.
Isto é, pedaços do planeta integrados e unificados por conflitos e guerras quase permanentes”
(p.21). Para Fiori, economia-mundo e política-mundo seriam projeções ortogonais, nas
dimensões da riqueza e do poder, respectivamente, da topologia hierárquica do sistema que
evolui também no tempo e no espaço. Percebidos nos tabuleiros da geoeconomia e da
geopolítica, elites nacionais territorializadas estabeleceriam historicamente entre si relações de
aliança/complementaridade ou de rivalidade/concorrência, entrando nos jogos das trocas e das
guerras em busca de acumulação de poder-riqueza, métrica última da própria hierarquia do
sistema.

Neste contexto, a ‘economia-política-mundo’ foi, a partir dos séculos XIII e XIV, construída
como montagem a partir de diferentes centros de poder (político e econômico) que competiram
por territórios (políticos e econômicos) e, através dos jogos das guerras e das trocas,
promoveram uma “destruição integradora”. Nesse sentido, o “mercantilismo foi o bisturi
utilizado pelos estados territoriais para extrair os ‘mercados nacionais’de dentro da ‘economia-
mundo européia’ do século XVI. E, depois, foi a política utilizada, pelos mesmos estados, para
proteger sua ‘criatura’ contra a concorrência e o ataque dos demais ‘estados-economias
nacionais’ emergentes” (p. 36).

A revolução financeira ocorrida na Inglaterra ao final do século XVIII teria proporcionado às


elites econômico-políticas do norte da Europa a forma mais eficaz para enfrentarem os jogos de
acumulação de poder-riqueza em escala mundial. “A partir daquele momento, já não se tratava
mais de uma relação e de um endividamento pessoal, do soberano com uma casa bancária de
qualquer nacionalidade. E, por outro lado, o banqueiro sofreu um processo de ‘territorialização’
ou de ‘nacionalização’ do seu capital. Ao invés de ser apenas um membro de uma rede
financeira cosmopolita, cada vez mais universal, ele se transforma num elo de uma rede
nacional de bancos e comércio, ao mesmo tempo em que passa a designar sua riqueza na
moeda emitida pelo seu estado nacional” (p.34).

Sinteticamente, no primeiro artigo do livro Fiori procurou caracterizar a especificidade da


construção da hegemonia norte-americana no pós-guerra através de relações mais gerais
aplicáveis ao capitalismo histórico. Estas relações permitiriam compreender, em mesmo tecido
lógico, as diplomacias do dólar e das armas como contrapartes da estratégia expansiva das
elites americanas. Dessa maneira, “não há como explicar a formação e a crise das ‘situações
hegemônicas’ sem tomar em conta, simultaneamente, o ímpeto expansivo e ao mesmo tempo
‘destrutivo’ do hegemon, e a ‘armação’ dentro da qual se constitui e se desenvolve a liderança
hegemônica entre as Grandes Potências. No caso da Inglaterra, constituída por sua aliança
estratégica com os países da Santa Aliança e por sua competição militar e colonial com a
França e a Rússia. E no caso dos EUA, baseada na aliança com os países atlânticos e na
competição global com a união soviética” (p.55). Com o fim da União Soviética, tornou-se
necessária a ‘eleição’ de um novo inimigo comum que permitisse aos EUA ambicionar a
afirmação de um poder global do tipo imperial. Assim, a ameaça do terrorismo guarda um
paralelo com o sistema de câmbio flexível, na medida em que permite aos EUA escolher,
unilateralmente e segundo conveniências conjunturais, a política de alianças/cooperação ou de
enfrentamento/concorrência adequadas.

No segundo artigo do livro, O Poder Global dos EUA: formação, expansão, limites, Fiori
procurou caracterizar a experiência dos EUA como prolongamento da expansão do capitalismo
europeu, particularmente da Inglaterra. Neste sentido, esta experiência constituiu-se em
novidade, na medida em que os EUA forjaram o primeiro estado nacional fora do continente
europeu, ainda que não possam ser considerados exceção ao ‘modelo expansivo’ adotado pelas
potências européias desde o século XVI. Para tanto, partiu-se da convergência entre interesses
ingleses e norte-americanos restabelecidos logo após a independência dos segundos e o
enfrentamento pela Inglaterrra, na Europa, com a França.

Fiori defende que a expansão territorial norte-americana em direção ao pacífico a partir de


meados do século XIX acelerou-se na medida em que as elites nordestinas reuniram condições
de coordenar as finanças públicas e as armas em escala nacional após a guerra civil. Neste
contexto, o conflito teria rompido um pacto político provisório, estabelecido desde a
independência, entre interesses com projetos distintos e incompatíveis para o território
econômico e político norte-americano. As elites sulinas, que se beneficiavam do aumento da
demanda européia por algodão desde meados do século XVIII, relutavam quanto à necessidade
de formação em grande escala de mercados para o trabalho, a terra e os capitais e foram
removidas do centro decisório pela força das armas.

Após a guerra de trinta e um anos, os EUA emergiram como potência hegemônica em escala
mundial, rivalizando-se com a União soviética através de um clima de guerra que, na realidade,
jamais se realizou. A insegurança criada com a ameaça soviética, por outro lado, permitiu aos
EUA justificarem expressivo subsídio fiscal para desenvolvimento tecnológico e, não menos
importante, consolidar na Europa presença militar e empresarial compatíveis com a hegemonia
que pretendiam exercer no pós-guerra.

Ainda segundo Fiori, a partir da década de oitenta, com a retomada da diplomacia do dólar
forte, a banca norte-americana passou a enquadrar monetariamente as demais economias,
restringindo a liberdade para implementação de projetos nacionais que almejassem modificar
autonomamente a topologia hierárquica do sistema internacional. A liberalização das contas de
capitais, por outro lado, levou ao aumento da instabilidade sistêmica, penalizando as
economias mais frágeis e dependentes.

Com a derrocada das economias russa e japonesa no final dos anos oitenta e início dos anos
noventa, os EUA deslocaram o vetor expansionista para a Ásia Menor, onde a essencialidade
do petróleo como insumo industrial favoreceu naturalmente o encontro da geoeconomia com a
geopolítica.

Neste contexto, para Fiori não há sinais no horizonte de previsibilidade aberto pelo
instrumental analítico desenvolvido para que se afirme, na contemporaneidade dos fatos,
qualquer crise hegemônica ou tampouco a conquista de um poder global pelos Estados Unidos
da América.

Esta parece ser a síntese conclusiva do livro, reforçada por M. C. Tavares e L. G. M. Belluzo
no terceiro artigo, denominado A Mundialização do Capital e a Expansão do Poder
Americano. Neste os autores retomaram a hipótese pós-keynesiana de que as diferentes
estruturas financeiras estão por trás das especificidades dos “modelos” de industrialização. Para
os autores, na atualidade a Rússia militarmente forte, mas depauperada economicamente, não
parece representar ameaça à expansão dos EUA na Ásia. Da mesma maneira, a ausência de
praças financeiras significativas na Índia, apesar do domínio nuclear, igualmente parece excluir
este país do rol de ameaças. Neste contexto, a América Latina, com taxas de crescimento
sistematicamente baixas, estaria fora do núcleo dinâmico do sistema. Pari passu, “a União
Européia figuraria hoje como um enorme estômago às voltas com a digestão dos problemas
acumulados desde a paz de 1919 na sua fronteira oriental e retomados com a desestruturação
da União Soviética” (p.137). Os autores defendem que a ocupação dos territórios econômico e
político da Ásia dependem da forma como a China irá progressivamente se inserir no sistema,
tendo-se como parâmetro crítico a abertura da conta de capitais.

A importância das finanças como fator explicador do poder norte-americano é relativizada em


artigo do professor Carlos Medeiros, denominado O Desenvolvimento Tecnológico Americano
no Pós-guerra como um Empreendimento Militar. Neste procurou-se mostrar de que maneira o
complexo industrial-militar-acadêmico nos EUA foi estruturado a partir de esforço público
sistemático e coordenado desde o pós-guerra. “A doutrina de que a superioridade tecnológica
nas armas é fator decisivo na vitória militar afirmou-se como visão dominante dos militares
norte-americanos desde o pós-guerra e manteve-se inalterada mesmo quando esta visão
revelou-se totalmente inadequada às guerras locais, como eloqüentemente demonstrada no
Vietnam” (p.226). De uma forma ou de outra, o Departamento de Defesa, através da definição
de prioridades, orientou as redes de laboratórios acerca dos objetivos da pesquisa tecnológica,
selecionando empresas que viessem a obter melhores resultados. Este “modelo” garantiu aos
EUA liderança tecnológica no mundo contemporâneo, ainda que a aplicação industrial mais
eficaz das tecnologias tenha sido obra do Japão.

O recrudescimento nos dispêndios públicos canalizados para o complexo industrial-militar-


acadêmico norte-americano desde 2001 teve como pretexto e destino as guerras iniciadas na
Ásia Menor. Como mostrou o professor Ernani Torres n’O Papel do Petróleo na Geopolítica
Americana, “foi sua importância militar – e não a econômica – a que primeiro colocou o
petróleo no centro da geopolítica internacional” (p.309).

Contudo, as raízes da importância do petróleo remontam o longo século XX, “permitindo a


integração física de uma economia crescentemente urbanizada e internacionalizada” (p.312). O
sucesso do “ouro negro” “propiciou o surgimento de grandes companhias, entre as quais
algumas das maiores, mais sofisticadas e mais emblemáticas do mundo moderno. As
petroleiras, por seu tamanho e experiência, são responsáveis por financiar e gerenciar
investimentos que isoladamente envolvem bilhões de dólares e podem se estender por décadas”
(p.312).
O professor E. Torres identificou três padrões de ordenação do mercado internacional a partir
do pós-guerra. O primeiro, “que se estende de 1945 até 1973, caracterizou-se pela consolidação
da hegemonia norte-americana no oriente médio e pela liderança de mercado das grandes
petroleiras dos EUA” (p.312). O segundo, compreendido entre 1973 a 1985, teve seu início
marcado pela dupla ruptura do padrão monetário internacional e aquela causada derrota no
Vietnam. Tentativas de reordenação do mercado internacional durante o período teriam
fracassado, entre outros motivos, pela revolução fundamentalista no Irã. A partir de então, teria
sido observada a financeirização do mercado internacional a partir da retomada da hegemonia
norte-americana e da diplomacia do dólar forte.

Sinteticamente, procurou-se n’O Poder Americano caracterizar a hegemonia norte-americana


contemporânea a partir de três movimentos históricos inter-relacionados: (i) a
internacionalização do dólar e das finanças norte-americanas; (ii) a constituição do complexo
industrial-militar-acadêmico nos EUA; e (iii) a dominação geopolítica das reservas de petróleo
no mundo pelas empresas e pelas armas. Em seu conjunto, estas três dimensões explicariam,
segundo o grupo de autores, o processo de acumulação do poder e da riqueza pelos EUA
principalmente no pós-guerra, quando se percebeu mais claramente a existência um projeto
norte-americano de conquista do poder global. No entanto, ainda segundo os autores do livro, o
tempo presente não poderia ser caracterizado nem através de uma crise hegemônica, como
parecem crer alguns, nem como através de um império americano vitorioso, como querem crer
outros. Nesta zona cinzenta que separa o declínio do império norte-americano do fim da
história se situaria no horizonte o tempo que está porvir.

2. Comentários finais

Ainda que na atualidade cada vez menos brasileiros demonstrem sério interesse sobre o que é,
para que serve e para onde vai o Brasil, O Poder Americano constitui-se em registro de uma
geração de intelectuais preocupada com o encaminhamento destas três perguntas. Nesse
sentido, o livro se constitui em referência obrigatória para entender as possibilidades e os
limites para estratégias voltadas para o engrandecimento do Brasil e de seu povo em um
contexto internacional hierarquizado e conflituoso.
Contudo, a despeito da precisão analítica demonstrada nos textos, ao menos uma dimensão
importante nos parece escapar ao organizador na leitura d´O Poder Americano – a importância
da indústria cultural no enquadramento das “mentes e corações” em torno da mitologia da
América. Esta mitologia poderia ser sintetizada em torno da superioridade norte-americana na
construção de uma sociedade baseada na liberdade, na igualdade e na fraternidade. O mito da
realização dos ideais burgueses, por sua vez, esteve condicionado ao desafio enfrentado pela
indústria cultural norte-americana em legitimar as virtudes da economia de mercados e da
democracia dos EUA como espaços reais de ordenamento social e de cerceamento do
totalitarismo político e econômico.

Ao lado das finanças, do complexo industrial-militar-acadêmico e das corporações do petróleo,


indiscutivelmente a indústria cultural norte-americana teve papel crucial na construção do
poder americano. Seguindo-se a influência de Marx e Weber, o professor Fiori poderia ter nos
brindado com uma análise, consistente com o pensamento do grupo de autores que reuniu,
sobre a forma e os limites para a legitimação do poder norte-americano.

Não nos compete aqui aprofundar o assunto. No entanto, as trajetórias do rádio e da indústria
fonográfica, dos estúdios e distribuidoras de filmes cinematográficos, da imprensa escrita e das
redes nacionais de televisão, não podem ser traduzidas sem que se considere o papel que
desempenharam como envoltória para a construção do mito da superioridade da América e para
a defesa dos propósitos humanistas por detrás das ações públicas internas e externas aos EUA.

Esperamos que a ausência sentida possa ser lida como bom motivo para a edição de novo
volume da série assinada pelo professor J. L. Fiori.

Marco Aurélio Cabral Pinto1

1
Professor adjunto do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense, Doutor em
Economia pelo IE/UFRJ e Mestre em Administração de Empresas pelo COPPEAD/UFRJ.

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