RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA NO
REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
Victor Novais Buriti
email:vnburiti@gmail.com
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
Objetivos
Busca-se trazer breves apontamentos sobre o
Provimento nº 63 de 14 de novembro de 2017
editado pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) que determinou a possibilidade do
reconhecimento extrajudicial da filiação
socioafetiva e seu ingresso no Registro Civil das
Pessoas Naturais.
Métodos e Procedimentos
Será feita principalmente a análise do citado
provimento, além dos dispositivos legais e
normativos relacionados. Também será feita
uma breve análise da doutrina existente sobre o
tema, além da jurisprudência dos tribunais
superiores e decisões do próprio CNJ ao
interpretar o referido Provimento.
Resultados
O Provimento nº 63/2017 autorizou que seja
feito o reconhecimento da filiação socioafetiva
diretamente nos cartórios de Registro Civil. Os
requisitos são simples, ser maior de 18 anos,
capaz e ser 16 anos mais velho que o
reconhecido. É vedado o reconhecimento entre
irmãos e pelos ascendentes e também quando
houver discussão judicial sobre a filiação ou
procedimento de adoção. Cabe observar que o
Provimento admite a multiparentalidade, ou
seja, a concomitância do vínculo biológico com
o socioafetivo, podendo o reconhecido ter mais
de um pai ou mãe registral. Por isso, o
reconhecimento depende da anuência dos pais
que constam do registro, além da anuência do
próprio reconhecido, se maior de 12 anos. Cabe
ao registrador fazer entrevista pessoal com os
interessados a fim de verificar a inexistência de
indícios de fraude, vícios de vontade ou dúvida
sobre a existência da posse de estado de filho,
além de alertar quanto as consequências
jurídicas do reconhecimento. Portanto, não
basta o mero reconhecimento, se faz necessário
a presença da posse de estado de filho,
caracterizada pelo vínculo continuo e duradouro
de afeto e o tratamento mútuo como pai ou mãe
e filho. Cabe observar que conforme decidido no
PP nº 0003325-80.2018.2.00.0000 do CNJ, não
é possível o reconhecimento concomitante de
um pai e uma mãe socioafetivos,
impossibilitando que o referido procedimento
seja adotado para fim de burlar o instituto da
adoção. Outro ponto importante a ser observado
é que Lei nº 8.560/92 veda expressamente que
conste das certidões de nascimento a natureza
da filiação, desta forma, a certidão de
nascimento do reconhecido não poderá fazer
qualquer menção ao reconhecimento
socioafetivo, constando apenas nos campos
próprios o nome dos pais.
Conclusões
O provimento analisado trará diversos desafios
a serem enfrentados como, por exemplo, a
possibilidade da multiparentalidade e seus
efeitos jurídicos. Deve se ter também especial
atenção ao fato de que a filiação constante da
certidão de nascimento não é mais apenas a
biológica, podendo também ser a socioafetiva.
Além disso, fica demonstrada a importante
participação do Registro Civil das Pessoas
Naturais na prevenção de conflitos e na solução
dos novos dilemas do Direito de Família. O
registro passa a retratar cada vez mais a
realidade social e não meramente a verdade
biológica.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça.
Provimento n. 63. 2017. Disponível em:
http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/p
rovimento-n63-14-11-2017-corregedoria.pdf.
Acesso em 10.10.2018.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das
famílias. 8. ed. São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 2011.
MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e
parentalidade socioafetiva: efeitos jurídicos. 3.
ed. São Paulo: Atlas, 2017.