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Processo:
3860/05.5TBPTM.E1.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
QUESTÃO NOVA
ÂMBITO DA REVISTA
NULIDADE DE DECISÃO
NULIDADE PROCESSUAL
DESPACHO SANEADOR
Apenso:
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Legislação Nacional: CÓDIGO CIVIL, ARTIGOS 220º, 289º, 610º, 611º, 612º, 613º,
616º, 1143º
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, ARTIGOS 650º, 666º, 668º, 676º, 690º, 690º.-A, 712º,
716º, 721º, 722º, 729º, 732º, 754º
Jurisprudência Nacional: ACÓRDÃOS DOS SUPREMO TRIBUNAL DA
JUSTIÇA, EM WWW.DGSI.PT, DE:
3. O erro na apreciação das provas pode ser corrigido no recurso de apelação, mas não na
revista; mas não provoca qualquer infracção das regras sobre o ónus da prova.
1. AA instaurou uma acção contra BB, CC, DD e sua mulher, EE, FF, GG e HH, SA, na
qual pediu que os réus fossem condenados a reconhecer que tem sobre o primeiro réu um
crédito de 35.000.000$00 (€ 174.579,26), acrescido de juros, que, “ em consequência e
por força da impugnação pauliana” , fosse restituído ao respectivo património, o prédio
urbano que identifica e que fosse determinado o cancelamento dos registos feitos ou a
fazer sobre o prédio, nos termos que especifica.
Os réus CC, DD e mulher, EE, FF, GG, contestaram em conjunto, por impugnação e por
excepção, e pediram a condenação do autor como litigante de má fé.
E foram elaboradas a lista de factos assentes, a fls. 221, e a base instrutória, a fls. 223.
Na audiência de julgamento, cuja acta se encontra a fls. 371, da qual consta a presença
dos mandatários do autor e dos réus não revéis, foi proferido despacho (fls. 372), com o
seguinte conteúdo:
“ A acção decorre à revelia do 1º R., citado editalmente. Assim, dá-se sem efeito a
selecção dos factos operada no despacho de condensação” .
Produzida a prova e concluídas as alegações, foi marcada a “ leitura dos factos provados”
e encerrada a audiência.
A fls. 378 consta o julgamento da matéria de facto. Houve alegações de direito do autor.
Pela sentença de fls. 390, a acção foi julgada parcialmente procedente, nestes termos:
Por acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de fls. 483, foi negado provimento ao
recurso interposto pelos réus CC, DD e EE, e confirmada a sentença.
2. CC, DD e EE recorreram para o Supremo Tribunal da Justiça; o recurso foi admitido
como revista, com efeito meramente devolutivo.
«1. A folhas 219 e seguintes, foi proferido Despacho Saneador, com os Factos Assentes
e a Base Instrutória.
2. Um ano e meio depois, no inicio da audiência de julgamento, outro Juiz o "a quo" dá
sem efeito esse despacho, destruindo-o!
(…) 4.O Juiz "a quo" não dispõe de base juridico-legal para destruir um despacho
saneador, apenas podendo providenciar até ao encerramento da discussão pela
redução/ampliação da base instrutória da causa, nos termos do disposto nos artigos 264°
e 650°, n° 2, alínea f) ambos do C.P.C.
5. O Juiz "a quo" decidiu dar sem efeito o despacho sanedor, com fundamento na revelia
de um dos Réus, mas esse Réu já era revel, em audiência preliminar.
6. Nestes termos, verifica-se uma nulidade processual, uma vez que este despacho afectou
de forma irremediável o exame e a decisão da causa e assenta única e exclusivamente
num acto discricionário e completamente arbitrário do Juiz "a quo" e que não está
legalmente tutelado, (artigo 201°, n°2 e seguintes do CPC) .
7. E ademais, perante a decisão unilateral de destruir o despacho saneador, o Juiz "a quo",
não deu a palavra às partes para se pronunciarem. Ora, se as partes não forem ouvidas há,
claramente, uma nulidade processual, porque se trata de um acto que pode influir no
exame ou na decisão da causa, segundo o disposto nos artigos 201° e seguintes do C.P.C,
e deve ser nulo todo o processado a partir do cometimento dessa irregularidade
processual, que dela dependa absolutamente.
8. Com este diktat do Juiz "a quo", foi, ainda, gravemente violado um dos basilares
princípios do processo civil, o da Cooperação inter-subjectiva entre as partes processuais.
9.O Juiz "a quo" decidiu por despacho, dar sem efeito um despacho saneador, com força
de caso julgado formal.
10.Pelo que, "A sanção pela violação do caso julgado formal é considerar a audiência de
julgamento e todos os actos posteriores que foram sua consequência, sem qualquer
eficácia jurídica."
Mesmo assim, decidiu qualificar este acto como uma irregularidade que foi sanada. Como
pode um Juiz praticar um acto sem fundamento jurídico e não se configurar aqui uma
nulidade insanável e atípica?
12. O Tribunal "a quo" por sentença deu como nulo o contrato celebrado entre o Autor e
1.° Réu; mas qual dos dois contratos constantes dos autos!?
13. Sucede também que, o Tribunal "a quo", por sentença, declarou que o prédio deveria
ser executado, no património do 3.º Réu. Ora, se o contrato é nulo, são também nulos
todos os actos que dependam desses contratos. (vide art. 289.°, n.°1 C.C.)
15. Tanto a sentença recorrida de 1.ª Instância como o acórdão de 2.ª Instância, fazem a
subsunção do caso concreto a errado enquadramento jurídico, por falta de preenchimento
dos requisitos da Impugnação Pauliana.
16. Porque: a declaração de nulidade do contrato celebrado entre o autor e o 1º réu, só foi
estatuída com a sentença da 1.ª instância recorrida! Ora... o negócio efectuado entre o 1º
e 2º Réu (pai do 3º) e entre este e o 3°, foi muito "anterior" — caso a sentença recorrida e
o acórdão, tenham considerado o 1º dos contratos celebrados entre autor e 1º réu — ou
apenas "anterior" no caso de ter sido considerado o segundo contrato celebrado entre
ambos! (art. 291. ° C.C.)
17. Porque: nos termos do disposto no art. 610.°, n.° 1, alínea b) conjugado com o disposto
no art. 612. °, n.° 1 deve-se interpretar que, não se provando a má fé do terceiro, porque
os Réus/Recorrentes só tiveram conhecimento da existência do crédito entre autor e 1º
réu com a citação da acção e da consequente dificuldade de o Autor conseguir ver
satisfeito o seu crédito, não se preenche o requisito da "má-fé" da impugnação pauliana,
não se devendo aplicar a presunção iuris tantum do art. 611.° do C.C. – devendo
prevalecer a regra geral do ónus da prova, estatuída no art. 342.° do C.C.
18. Verifica-se uma nulidade da sentença, nos termos do art. 668, n.° 1, al. c) do C.P.C.,
uma vez que a não verificação e consequente falta total de prova dos fundamentos da
acção e causa de pedir, estão em oposição com a decisão proferida, umas vez que não se
preenchem nenhum dos requisitos da impugnação pauliana.
19. O Tribunal "a quo" na sentença condenou em objecto diverso do pedido, verificando-
se uma nulidade, conforme art. 668°, n° 1, al. e), 2ª parte, do C.P.C.
Ora, não existindo despacho saneador, não existe posição do Juiz perante a ampliação do
pedido efectuada pelo Autor... mas mesmo assim, foi proferida sentença, nos seguintes
termos (…)
21. O Juiz "a quo" com o acolhimento também da Relação, por sentença, ordena a
execução do prédio no património do 3. ° Réu; quando o Autor, nos pedidos efectuados,
se limita a requerer a reintegração do prédio na esfera jurídica do 1° Réu e o cancelamento
dos registos em nome do 2.° e 3.° Réu.
23. Os Recorrentes foram, ainda, condenados como litigantes de má-fé apenas por
exercerem o seu direito ao princípio do contraditório, sendo que a má-fé tem
necessariamente que ser dolosa! (Art. 456°, n°s 1 e 2 do C.P.C.) E não ficou provado o
dolo! Não ficou provada a culpa! Conclui-se que não ficou provada a má-fé alegada! E
ademais, as partes condenadas em litigância de má-fé, teriam que ser ouvidas!
24. Sobre a necessidade da audição das partes, antes da sua condenação como litigante de
má-fé, veja-se o Ac. TC — 440/94 (7/6/1994), DR, II, 1/9/1994, 9140, BMJ 438, 84, e
também Manuel de Andrade "A condenação por litigância de má fé só deve, obviamente,
ter lugar, dando-se à parte (ou, sendo o caso, ao seu representante), antes de assim ser
condenada, a oportunidade de se defender, para o que tem que ser, previamente, ouvida."
Noções Elementares de Processo Civil, cit. páginas 364 e 365.
25. Verifica-se uma nulidade prevista no art. 201.° do C.P.C, por influir, a não audição
das partes, na boa decisão da causa e também uma nulidade da sentença e do acórdão que
a confirma por excesso de pronúncia, nos termos do art. 668°, n° 1, al. d), 2ª parte, do
C.P.C.
26. Foram os Réus que pediram a condenação do Autor em litigância de má-fé, convictos
que estavam d veracidade dos seus factos e da prova da sua inocência e boa-fé in casu.
27. O Juiz "a quo", e os Senhores Juízes Desembargadores, nunca se pronunciaram sobre
este pedido dos Réus/Recorrentes, pelo que se verifica mais uma nulidade, a acrescer às
restantes!
28. O Tribunal "a quo", na sentença, e o Tribunal da Relação, no acórdão, que confirmou
a sentença recorrida, não zelaram pela sua diligente fundamentação.
30. A sentença recorrida e o acórdão que a confirma são nulos, por falta de
fundamentação, em virtude de não terem indicado, no mínimo, os princípios jurídicos em
que se basearam e por tudo o que já foi exposto, conforme disposto no art. 668.°, n.° 1,
al. b) do C.P.C.
31. Mais, constitui uma alteração inadmissível, intolerável, arbitrária, demasiado onerosa
e inconsistente, e como refere o Acórdão recorrido "o senhor juiz a quo num despacho
para o qual não se vê fundamento jurídico ou prático deu sem efeito a selecção de factos
operada no despacho de condensação...", alteração com a qual as partes neste processo
não poderiam contar, expectantes que estavam, razoável e fundadamente, na manutenção
do ordenamento jurídico que regia a constituição daquelas relações e situações.
32. "Do que se trata é, ao fim e ao cabo, de proteger os cidadãos, contra aquilo que poderia
designar-se por arbítrio legislativo..." Ac. 23/83, BMJ, 336-293
33. O Juiz "a quo" com a sua actuação, ao dar sem efeito o despacho saneador, violou o
princípio da segurança consagrado no art. 2 ° da C.R.P. e o princípio da segurança e da
certeza jurídica contido nos arts. 20° e 280° da C.R.P.
36. Com a não audição das partes sobre o diktat unilateral do Juiz "a quo" na destruição
do despacho saneador e com a falta de audição prévia na condenação em litigância de má
fé, violou-se de forma irremediável o principio do contraditório e o direito à audição
prévia (art.3.° C.P.C.)!
38. Este princípio nunca foi respeitado, uma vez que o Juiz "a quo" onde ouviu "Não, não
conheço" quis ouvir "Sim, conheço!" e o Tribunal da Relação de Évora recusou-se
reapreciar a prova produzida "... não nos arriscamos a sindicar"!
39. Por último, tendo como expoente máximo do Processo Civil, o BENEFÍCIO DA
JUSTA COMPOSIÇÃO DO LITÍGIO, e sem conceder, entendendo-se que a existir, seria
uma irregularidade processual, deve-se considerar "a elasticidade do regime processual
em benefício da justa composição do litígio" Ac. STJ, de 22 de Fevereiro de 2010.
41. Numa última instância e remetendo ao ponto 3) e 4), respectivamente "Violação das
Normas Constitucionais" e "Violação dos Princípios do Direito" roga-se mais uma vez
encarecidamente a V/Exas. Venerandos Conselheiros do Supremo Tribunal de Justiça,
observar o cumprimento dos mesmos, sob pena de cometimento de graves violações quer
legais quer da Lei Máxima.
C) Na sua obra Manual de Processo Civil, 2a. Edição, Coimbra, 1985, págs. 411 a 414,
ANTUNES VARELA, MIGUEL BEZERRA e SAMPAIO E NORA pronunciam-se
expressamente sobre o valor (definitivo ou não definitivo) da especificação e do
questionário, que eram as designações existentes ao tempo, respectivamente, para os
factos assentes e para a base instrutória.
D) Depois de elencarem várias situações em que as duas peças poderiam sofrer alterações
– desde os articulados supervenientes, passando pela formulação de quesitos adicionais,
por iniciativa do tribunal, a que hoje acrescentaríamos os quesitos adicionais por força do
uso pelas partes da faculdade conferida pelo art°. 264°., n°. 3, parte final, do Cod. Proc.
Civil, até à ampliação da matéria de facto determinada pelos tribunais superiores, quer
por força de recurso da decisão do tribunal que elaborou essas peças, quer por iniciativa
oficiosa desses tribunais – aqueles processualistas referem que, contra tal
modificabilidade, não se pode invocar a forca do caso julgado formal, concluindo que é
"de acordo com as limitações expostas, que vale a força vinculativa, quer da
especificação, quer do questionário", sem lhe atribuírem por razões óbvias qualquer força
de caso julgado.
E) Por isso, não se pode deixar de considerar que não existe qualquer caso julgado, mesmo
formal, violado pelo despacho proferido em audiência de julgamento, em que se dá "sem
efeito a selecção dos factos operada no despacho de condensação".
F) Esse despacho é ilegal ou até nulo, mas qualquer eventual nulidade resultante da
omissão de uma formalidade que a lei prescreve – o processo ordinário exige que seja
elaborado despacho saneador e este contenha factos assentes e base instrutória – teria,
como bem refere o acórdão recorrido, de ser arguida até ao encerramento da audiência de
discussão e julgamento (art°. 205°., n°. 1 do CPC).
G) Não tendo havido essa arguição de nulidade por nenhuma das partes – mormente
pelos recorrentes – , o que revela a conformação das partes com essa decisão, as partes
indicaram inclusivamente as testemunhas aos factos constantes dos articulados, aceitando
de forma expressa a referida decisão.
H) Atento o disposto no art°. 681°., n°. 2 do Cod. Proc. Civil, por terem acatado a decisão,
também agora os recorrentes a não podem pôr em causa.
I) Quanto à respectiva ilegalidade – apesar de manifesta – -, não foi suficiente para levar
qualquer das partes a interpor recurso e, por isso, essa decisão fixou-se na ordem jurídica
com a força e autoridade de caso julgado, embora restrita ao presente processo, pelo que
não pode a mesma ser atacada em sede de recurso, quer directamente, quer
indirectamente, através da arguição da nulidade ou ilegalidade da sentença final, que
constitui um acto absolutamente autónomo.
L) Alegam que se não verifica a anterioridade do crédito do A., o que se constata não ser
verdade, como se alcança do facto provado de que "em 15.12.2000 o autor entrou ao réu
BB a quantia de 35.000.000$00", a má fé dos RR. adquirentes, o que é manifestamente
falso, atento que se encontra provado que "os outorgantes (da escritura de compra e
venda) sabiam que ao autor seria então mais difícil ver satisfeito o seu crédito", o qual,
porém, podia ser satisfeito se o prédio não tivesse sido vendido aos réus recorrentes,
porque está provado que "o prédio tinha o valor aproximado de 35.000.000SOO (€
175.000)" e, em consequência da venda, "ao réu BB não são conhecidos bens".
M) Está correctamente referido que os efeitos da nulidade do mútuo feito pelo A. ao 1º.
Réu retroage os seus efeitos à data em que o acordo foi celebrado, ou seja, 15/12/2000.
P) Por sua vez, a sentença recorrida, no que foi confirmado pelo Tribunal da Relação de
Évora, declarou "que o prédio sito na Rua …, com …de policia, freguesia de …, concelho
de Lagoa, descrito na C.R.P. sob o n°. 2945 pode ser executado pelo Autor por aquele
crédito no património do réu DD"
R) Pode o tribunal, dentro dos seus poderes, exercer essa convolação, como se decidiu no
Ac. do STJ de 5/11/2009, proferido no processo 308/1999.C1.SI, publicitado em
http://www.dgsi.pt/jstj (...).
S) Deste modo, não existe qualquer condenação em objecto diverso do pedido, que
determine a anulação da decisão recorrida.
V) Não pode o tribunal de revista apreciar estas novas questões processuais relativas a
eventuais vícios cometidos pela sentença da 1ª Instância.
Por se não mostrarem violadas quais quer normas legais, mormente as citadas pelos
recorrentes, deve negar-se provimento ao presente recurso, devendo ser confirmada a
decisão recorrida, como é de lei e de JUSTIÇA!
Pelo primeiro e segundo outorgantes foi celebrado o presente contrato de mútuo com
hipoteca que se regerá pelas cláusulas seguintes, e que servirá futuramente de base e texto
à escritura de mútuo com hipoteca que ambos celebrarão
2ª- A quantia mutuada destina-se à aquisição do imóvel adiante hipotecado e que será em
tempo perfeitamente identificado.
3ª Como garantia do pagamento da quantia mutuada, bem como dos juros acordados, o
segundo outorgante constituirá uma hipoteca sobre um prédio urbano que irá adquirir e
que posteriormente identificará em anexo ao presente contrato e na própria escritura
notarial de mútuo com hipoteca.
E no documento complementar":
Alínea d) Nos restantes anos proceder-se-á sempre da mesma forma, isto é: mantendo-se
a prestação anual em três milhões e quinhentos mil escudos e o juro à taxa fixa de seis
por cento (6%) ao ano, incidindo sobre o montante não amortizado.
6ª- O segundo outorgante não poderá alienar o prédio hipotecado sem autorização escrita
do primeiro outorgante.
8ª O presente contrato de mútuo considera-se como não cumprido por culpa exclusiva do
mutuário, e vencido, caso fiquem em dívida três prestações mensais nos termos referido
na cláusula segunda deste documento completar.
9ª Caso se verifique que, por qualquer condição, o imóvel que serve de garantia ao mútuo
diminuiu excepcionalmente de valor, pode o primeiro outorgante notificar o segundo
para, no prazo de trinta dias reforçar" a garantia por qualquer outra das formas previstas
na lei e que seja admitida pelo primeiro outorgante;
Com o dinheiro que recebeu do autor o réu BB comprou o prédio urbano sito na Rua ...,
com o n° … de polícia, composto de uma morada de casas para habitação e quintal, na
freguesia de …, concelho de Lagoa, descrito na C.R.P. sob o n° 2945;
2ª Nos termos de tal contrato o segundo outorgante obrigava-se não só a destinar a quantia
mutuada exclusivamente à aquisição de um imóvel cuja identificação era tio perfeito
conhecimento de ambas as partes como também deveria o segundo outorgante constituir
uma hipoteca sobre o referido prédio para garantia do pagamento da quantia mutuada.
4ª Dão-se aqui por reproduzidos todos os termos quer do contrato de mútuo quer do
documento complementar que são do perfeito conhecimento de todos os intervenientes.
5a O segundo outorgante procedeu efectivamente à aquisição do prédio urbano sito na
Rua ..., M…, freguesia de … concelho de Lagoa , inscrito na matriz sob o artº 451 e
descrito na Conservatória do Registo Predial de Lagoa sob o nº … , e agora inscrita a
propriedade a seu favor pela inscrição G-2 , aquisição titulada por escritura pública
celebrada no Cartório Notarial de Lagoa no dia 22 de Dezembro de 2000.
10ª O primeiro outorgante dá-se igualmente por pago de urna dívida no montante de
6.613,46 libras inglesas que o segundo outorgante tinha em dívida por força da reparação
do veículo de Marca Range Rover modelo 2 .5 DT.
12ª O segundo outorgante por sua vez obriga-se a assinar todos os documentos
necessários para transmitir a favor do primeiro, caso o pretenda, todos os projectos,
aprovações e autorizações já eventualmente concedidas.
Os outorgantes declaram que por sua expressa vontade não vai no presente contrato o
reconhecimento presencial e notarial das assinaturas;
Em 10.4.2003, o réu BB, em escritura pública, declarou vender ao réu CC, por 50.000
euros , o prédio urbano sito na Rua ... com o n° 39 de polícia ;
O prédio tinha pertencido anteriormente a familiares dos réus CC e DD, tendo os 50.000
euros utilizados na escritura pelo réu CC sido pagos pelo réu DD;
Os outorgantes sabiam que ao autor seria então mais difícil ver satisfeito o seu crédito;
Em 27.5.2003, o réu CC, em escritura pública, declarou vender ao réu DD, por 50.000
euros , o prédio urbano sito na Rua ... , com o n° …de polícia ;
O réu DD sabia como o seu pai adquirira o prédio e que ao autor seria então mais difícil
ver satisfeito o seu crédito;
Ao prédio foi dado o valor de 48.340 euros para efeitos tributários, em 24.3.2005.
4. Cumpre conhecer do recurso, ao qual não são aplicáveis as alterações introduzidas pelo
Decreto-Lei nº 303/2007, de 24 de Agosto.
No início da audiência de julgamento (cfr. acta de fls. 371), foi proferido o seguinte
despacho: “ A acção decorre à revelia do 1º R., citado editalmente. Assim dá-se sem
efeito a selecção dos factos operada do despacho de condensação” (fls. 372).
Como se vê, o despacho de fls. 372 não anulou ou destruiu o despacho saneador; limitou-
se, muito diferentemente, a dar sem efeito a selecção dos factos ali efectuada, o que aliás
não impediu que essa selecção (no que à base instrutória se refere) continuasse a ser
utilizada como referência para as inquirições.
Compreende-se assim por que razão o acórdão recorrido – ao qual os recorrentes tinham
colocado questão diversa daquela que agora suscitam, note-se – observou que não via
que o despacho de fls. 372 tivesse “ fundamento jurídico ou prático” . Na verdade, e como
resulta da acta, insiste-se, tal despacho não teve nenhuma relevância prática, na audiência.
Se tivesse, como aliás se disse no acórdão recorrido, haveriam as partes de ter invocado
a correspondente nulidade, na própria audiência (nº 1 do artigo 205º), demonstrando a
verificação dos requisitos exigidos no artigo 201º do Código de Processo Civil – ou seja,
a possibilidade de influência “ no exame ou na decisão da causa” . Não tendo sido
arguida, sanou-se qualquer hipotética nulidade.
Claro que, ao julgar a matéria de facto, a 1ª Instância tomou como referência os artigos
dos articulados (a fls. 378 e segs.), não tendo havido qualquer reclamação (acta de fls.
383).
5. Feitas estas observações, passa-se à análise do recurso interposto. Por razões de clareza,
seguir-se-á a ordem das conclusões, fazendo-lhes referência. Assim:
– Nas conclusões 1 a 11, os recorrentes reagem contra o que designam como a destruição
do despacho saneador, pelo despacho de fls. 372.
Não tendo colocado à apreciação da Relação, nem as nulidades processuais que agora
invocam (porque o despacho afectou, “ de forma irremediável o exame e a decisão da
causa” , não foi precedido de audição das partes e violou o princípio da cooperação), nem
o que afirmam tratar-se de violação do caso julgado formal assim perpetrada, não podem
tais questões ser apreciadas na revista.
Note-se, aliás, que, se tivessem sido, não poderia o Supremo Tribunal da Justiça conhecer
de recurso eventualmente interposto da decisão da Relação, como resulta do nº 2 do artigo
754º do Código de Processo Civil.
– Nas conclusões 15 a 18, sustentam que a sentença é nula, nos termos da al. c) do nº 1
do artigo 668º do Código de Processo Civil, “ uma vez que a não verificação e
consequente falta total de prova dos fundamentos da acção e causa de pedir, estão em
oposição com a decisão proferida, uma vez que não se preenchem nenhum dos requisitos
da impugnação pauliana” .
Mais uma vez se observa que a nulidade da sentença, assim fundamentada, não foi
colocada à Relação.
– nas conclusões 19 a 22, invocam outro motivo de nulidade da sentença, igualmente não
colocado perante a Relação: condenação em objecto diverso do pedido (artigo 668º, nº 1,
e) do Código de Processo Civil).
A ocorrer tal nulidade, ter-se-ia sanado, por não ter sido arguida; e não poderia
posteriormente atribuir-se o mesmo vício, pelas mesmas razões, ao acórdão recorrido. No
entanto, e porque os recorrentes invocam que se estendeu a este acórdão, esclarece-se que
não há qualquer infracção da regra de que o tribunal está, qualitativa e quantitativamente
limitado pelo pedido, definida pelo nº 1 do artigo 661º e ilustrativa da relevância do
princípio dispositivo no Direito Processual Civil Português, como todos sabemos, e cuja
infracção provoca a nulidade prevista na al. e) do nº 1 do artigo 668º do Código de
Processo Civil.
Quanto à pretendida alteração do pedido, que aliás é irrelevante para o caso, em nada foi
afectada pelo despacho de fls. 372, contrariamente ao que os recorrentes afirmam. Não é
exacto que não existe saneador, ou que “ não existe posição do Juiz perante a ampliação
do pedido” ; e não se compreende o que se pretende afirmar com a alegação de que se
excedeu o princípio da estabilidade da instância;
– Nas conclusões 23 a 27, os recorrentes questionam a sua condenação como litigantes
de má fé, à qual associam duas nulidades: preterição de audição e excesso de pronúncia
da sentença e do acórdão.
Ora independentemente do mais que se poderia dizer, não foi por terem exercido o
contraditório que os recorrentes foram condenados em multa. A sentença deu como
provado que “ como resulta da matéria factual provada, os réus CC e DD têm perfeito
conhecimento de que o valor declarado de 50.000 euros é muito abaixo do valor real do
prédio e sabiam que ao autor seria então mais difícil ver satisfeito o seu crédito, o que
implica conhecimento, pelo menos do essencial da trama montada para frustrar a
possibilidade de cobrança daquela dívida, tentando tirar proveito da mesma para obter
para o réu DD prédio muito abaixo de seu valor “ .
Quanto à falta de audição das partes, em relação à sentença, teria que haver sido
oportunamente invocada; quanto ao acórdão recorrido, os recorrentes pronunciaram-se
quando alegaram na apelação. Não há – nem seria essa a consequência de eventual falta
de audição prévia – qualquer nulidade do acórdão recorrido, por excesso de pronúncia.
Também não é exacto que a sentença não tenha considerado o pedido dos recorrentes de
que o autor fosse condenado como litigante de má fé; resulta claramente do respectivo
texto que não haver motivo para tal condenação, porque, no entender do tribunal, quem
litigou de má fé foram os réus (cfr. fls. 398). De qualquer modo, a nulidade haveria de ter
sido invocada na apelação;
A nulidade da sentença por falta de fundamentação deveria ter sido arguida perante a
Relação; a que se atribui ao acórdão recorrido não tem qualquer fundamento, nem é
concretizada;
– Conclusões 31 a 36: O despacho saneador não foi destruído; não tem qualquer
fundamento o que os recorrentes afirmam quanto à violação dos princípios da segurança
e da certeza jurídica, do processo justo ou falta de audição prévia que assentam nessa
destruição.
Note-se, para além do que se disse já quanto à não arguição oportuna de uma eventual
nulidade, que os recorrentes não concretizam que prejuízo resultou para a sua posição
processual ou substantiva do despacho de fls. 372 que deu como “ sem efeito a selecção
dos factos operada no despacho de condenação” , nem justificam por que razão a não
invocaram anteriormente;
– Conclusões 37 e 38: O erro na apreciação das provas pode ser corrigido no recurso de
apelação, mas não na revista; mas não provoca qualquer infracção das regras sobre o ónus
da prova;
6. O que resulta da prova feita não pode senão levar à procedência da impugnação
deduzida pelo autor e, consequentemente, à improcedência do recurso interposto.
Permite pois a lei ao titular de um crédito anterior ao acto oneroso impugnado, do qual
resulte “ a impossibilidade (…) de obter a satisfação integral do seu crédito, ou
agravamento dessa impossibilidade” , verificada a referida má fé, obter a “ restituição
dos bens na medida do seu interesse, podendo executá-los no património do obrigado à
restituição (…)” (artigo 616º).
Em primeiro lugar, porque, como se disse já e pela razão atrás indicada, o crédito que o
autor visa proteger com a impugnação – correspondente à restituição do capital mutuado,
em virtude da nulidade por falta de forma – é anterior às vendas em causa neste processo
Não tem fundamento a alegação de que não se percebe a que contrato respeita a nulidade:
é perfeitamente claro que, quer a sentença, quer o acórdão recorrido se referem ao
contrato intitulado como “ contrato de mútuo com hipoteca” , datado de 27 de Novembro
de 2000, junto a fls. 10. Ora está provado que a quantia emprestada – 35.000.000$00 –
foi entregue pelo autor ao réu BB em 15 de Dezembro de 2000.
É certo que vem provado que, em 4 de Abril de 2003, as partes celebraram um segundo
contrato, que incluía uma promessa de venda do prédio ao autor pelo réu BB, “ pelo valor
da quantia mutuada” . No entanto, tal contrato, do qual consta a cláusula de que “ os
outorgantes declaram que por sua expressa vontade não vai no presente contrato o
reconhecimento presencial e notarial das assinaturas” , é igualmente nulo por falta de
forma (nº 3 do artigo 410º e artigo 220º do Código Civil). Continua pois a ser a nulidade
do mútuo a causa da obrigação de restituição do capital.
Em segundo lugar, porque está provado que “ ao réu BB não são conhecidos bens” . Claro
que isto não equivale a ter ficado demonstrado que o réu não tinha outros bens; mas a
verdade é que, tendo o autor provado a existência e o montante da dívida, era aos réus
que incumbia o ónus de provar que BB possuía “ bens penhoráveis de igual ou maior
valor” (artigo 611º do Código Civil).
Isto não significa reduzir a importância do requisito, definido na al. b) do artigo 610º do
Código Civil, de que do acto impugnado – no caso, a vendas do prédio, primeiro ao
segundo e depois ao terceiros réus – resulte “ a impossibilidade, para o credor, de obter
a satisfação integral do seu crédito” , e não a mera “ diminuição da garantia patrimonial
do crédito” .
Na verdade, não provada a existência de outros bens, tem-se como assente que, com a
saída do prédio do património do réu BB, na prática, se torna impossível ao autor cobrar
o seu crédito, cuja existência e exigibilidade não estão em causa.
Em terceiro lugar, e, mais uma vez, porque foi considerado provado que BB e os segundo
e terceiros réus tinham “ consciência do prejuízo” que as vendas causavam ao autor (nº
2 do artigo 612º do Código Civil). Apenas se acrescenta agora que a leitura da
fundamentação do julgamento de facto, de fls. 378, esclarece por que motivos se entendeu
que os 2º, 3º e 4º réus sabiam que estavam a causar tal prejuízo; e que não é exacto que
tenham sido julgados não provados os factos constantes dos artigos 36º, 37º, 39º, 46º e
48º (cfr. fls. 378); parte da matéria neles contida foi tida como provada, sendo suficiente
para justificar a conclusão da existência de má fé.
Lopes do Rego
Barreto Nunes