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A condição humana sob a ótica do bem e do mal: um estudo

comparativo entre Milton, Dante e Goethe

O papel da literatura não é o de explicar ou definir, mas sim o de ajudar a


compreender ou facilitar observações de parâmetros esclarecedores que
possam enriquecer e/ou esclarecer algumas questões que interessam à
humanidade.

Assim acontece com a temática do bem e do mal, cujas entidades sempre


fizeram parte do imaginário de grandes escritores que povoaram e
provocaram a interpretação dos leitores, muitas vezes de uma forma peculiar
e subjetiva.

O mal (muito mais do que o bem), sempre exerceu um fascínio enorme em


todas as classes sociais, prendendo leitores e espectadores a desfechos
criativos e mirabolantes, ao ponto de criar legiões de seguidores em todo o
mundo. Os personagens (vilões, associados ao macabro) assumem muitas
vezes uma projeção tal que são responsáveis pelo enredo de grandes obras
literárias, enchem teatros, cinemas e garantem famosos espetáculos.

Por outro lado, o bem, não parece adquirir a mesma força e envergadura, o
que nos leva a pensar que talvez o ser humano necessite de testar, através de
emoções fortes, os limites da sua própria existência.

Dessa forma, o mal surge como grande protagonista, ao ponto de todas as


religiões incorporarem alguma força de desordem ou destruição. Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino, ligados ao cristianismo, apontaram a
soberba humana como a raiz do mal e a graça divina como a fonte do bem.
Charles Darwin, considerado o pai da teoria da evolução, colocou em xeque
a ideia de uma natureza projetada por um Deus bondoso e misericordioso. O
filósofo alemão, Immanuel Kant, afirmou que o ser humano está associado a
uma vontade maligna que se constitui como um mal radical. Friedrich
Nietzsche transcendeu a questão do bem e do mal na sua filosofia, ao
idealizar um super-homem que estaria além de qualquer moral.
Neste breve estudo, são abordadas três obras de três grandes autores,
respectivamente, John Milton (1667), Dante Alighieri (1308) e Johann
Wolfgang Goethe (1774) e as suas obras, Paraíso Perdido, Divina Comédia e
Fausto.

Em Paraíso Perdido, Milton inspira-se na tradição clássica e épica dos


grandes poemas e trata magistralmente, em verso branco, alguns aspectos
filosóficos e religiosos do ser humano, através da história da condenação de
Adão e Eva quando cometem o pecado original e são expulsos do Paraíso. A
obra trabalha a relação entre o bem e o mal, ao mostrar que a felicidade
provém da obediência a Deus e a desobediência pode acarretar na queda do
homem.

Na Divina Comédia, Dante idealiza uma viagem ao Inferno, ao Purgatório e


ao Paraíso, ao ser conduzido por Virgílio (a voz da sua consciência). Nessa
epopeia, é apresentada (em versos decassílabos) uma sequência admirável de
figuras conhecidas, condenadas pelos seus pecados e em busca da salvação.
O bem é personificado pela mulher amada, Beatriz, que aparece para guiá-lo
até Deus, já que ela fora iluminada pela graça. No "Inferno de Dante", os
horrores são descritos de uma forma impressionante e quase real, o que torna
a obra intensa e marcadamente expressiva.

Fausto, de Goethe, é uma obra clássica escrita admiravelmente em versos


(diálogos rimados) que falam metaforicamente da existência humana. O
personagem Fausto é um cientista e mago que é inconformado com a sua
vida mundana. Ele resolve fazer um pacto com o diabo (Mefistófeles), ao
vender a sua alma em troca de prestígio e regalias. A obra procura refletir os
conflitos e dilemas do ser humano em relação à tomada de uma postura
espiritual (bem) ou essencialmente material (mal), tendo como eixo as
relações entre natureza e consciência, razão e emoção.

Através da literatura comparada, como ferramenta de análise e estudo, é


possível estabelecer alguns pontos convergentes e divergentes nas três obras,
apesar de terem sido escritas por autores com nacionalidades diferentes, em
épocas diferenciadas e, consequentemente, em contextos variados.

Por exemplo, podemos considerar que em relação a Milton, em Paraíso


Perdido e Dante, em A Divina Comédia, ao efetuarmos um paralelo, ambos
os autores utilizam adjetivos muito poderosos para descrever a relação de
forças antagônicas (bem e mal). Em Paraíso Perdido, Satã é considerado
como um astro em todo o texto, já que o seu autor é um homem com
fortíssimas convicções religiosas que deseja assim enfatizar o perigo do mal
nas relações com a humanidade.

Por outro lado, Dante oferece-nos a maior e a mais contundente descrição do


Inferno com todos os seus horrores. Existe um propósito em descrever o
Inferno acompanhado dos seus pecadores, como um lugar muito triste e de
grande sofrimento. O autor faz questão em nomear algumas pessoas que
conviveram com ele e de relacionar os seus pecados com as diversas
penitências atribuídas.

Um outro ponto a observar, ilustra a expressão poético-romântica na obra de


Milton, quando Eva é tentada pelo fruto proibido e desobedece às
determinações de Deus. Adão não aceita logo imitá-la, mas acaba por
degustar a maçã e, ao fazê-lo de uma forma consciente, manifesta o seu
amor incondicional à amada. Nesta obra, Deus é magnânimo na sua
bondade, mesmo diante do pecado, ao estender a sua mão misericordiosa
àqueles que são fracos e reconhecendo a sua natureza humana.

Em Fausto (obra do Romantismo), o personagem do cientista parece possuir


uma índole generosa, para além do pacto realizado com o demônio, o que
lhe atribui uma certa conotação com o bem, apesar de ter sucumbido às
argumentações de Mefistófeles. É importante observar, a partir da
personagem de Margarida, impregnada de romantismo, toda a manifestação
do bem, em contraponto ao mal, representado por Mefistófeles.

Na Divina Comédia e apesar de todas as descrições do sofrimento, existem


alguns momentos representativos do romantismo e do poético. O relato
sobre o Paraíso é repleto de alusões ao amor, à felicidade e à realização dos
bem-aventurados. É muito profundo e emotivo o encontro entre Dante e a
sua amada Beatriz quando ela o recebe no Paraíso.

É notória e fortíssima a presença desta dualidade (bem e mal) durante toda a


trajetória de vida dos homens, assumindo sempre um papel ativo e decisivo
no campo filosófico e na conduta de uma sociedade pautada por hábitos,
valores, convenções e doutrinas cujos interesses nem sempre foram
convergentes. Em relação à literatura e particularmente, no texto literário,
não poderia ser diferente.

Na história humana, a representação de Satã na literatura sofreu diversas


metamorfoses ao longo dos séculos. Do diabo satírico ao trágico e da
bestialização à humanização de anjo. Essas metamorfoses já haviam
começado na Bíblia, ao ganharem força alegórica e simbólica na boca dos
profetas. Os cristãos vão transformá-lo em inúmeros demônios que
influenciaram as ações humanas através da possessão e depois através de
várias metamorfoses, ao ser condenado a simbolizar todo o mal da
humanidade. Os primeiros cristãos, especificamente os Padres do Deserto,
que ao imitarem as provações de Jesus o transformaram em tentador nas
suas crenças que estabeleceram um confronto de forças entre o bem e o mal,
criaram uma cultura de profundo medo durante a Idade Média e Moderna.
Medo esse que assolou boa parte da população da Europa e que moldou a
nossa moral, os nossos padrões culturais e principalmente modificou a nossa
maneira de pensar e fazer arte, incluindo a literária.

Todo esse simbolismo vai ser vivenciado, de alguma forma, por diversos
autores como Dante Alighieri, John Milton, William Blake e principalmente
pelos poetas do romantismo como Lord Byron e Charles Baudelaire. Esse
último, foi o que talvez melhor utilizou o mito de Satã como representação
de si mesmo, a partir da sua identificação com essas metamorfoses (Les
Fleurs du Mal), atravessado pela angústia da existência, pelo tédio, pela
visão pessimista do futuro e pelo desejo de retorno ao primordial. Satã
tornar-se-ia um símbolo daquilo que Baudelaire acreditava ser o homem
moderno, construído a partir de tensões entre o bem e o mal, o belo e o feio,
o lírico e o antilírico, passado e futuro, tradição e modernidade.

No Brasil, a ideia do mal foi inicialmente lançada pela catequese do medo e


do terror associada à ação dos padres jesuítas. Entretanto, o satanismo como
elemento estético e artístico, só iria ser abordado como construção literária a
partir do romantismo. Em um primeiro momento, com uma percepção do
mal a partir de certa herança do maniqueísmo medieval, o Diabo foi
materializado como tentador nas suas crenças e como manipulador das ações
maléficas dos seres humanos. Em um segundo momento, o satanismo é
reverenciado pelos poetas como parte de si. A partir daí, o homem toma
consciência que traz em si o bem e o mal (Deus e Satã). Essa nova
percepção vai mudar a ideia de que o poeta era um ser divino. Assim, a
desmistificação da arte e do poeta proveniente do satanismo, a partir do
afastamento de certos dogmas religiosos, da rebeldia contra os sistemas
morais e éticos, o fascínio pelo grotesco e pela morte, viabilizará uma certa
dialética entre a literatura e a comunidade e, consequentemente, uma
aproximação maior entre a arte e a vida.

De forma diferente de Baudelaire que pensava Satanás como símbolo da


visão pessimista do progresso, os poetas do realismo vão usar o mito como
símbolo de renovação progressista e de rebeldia contra o passado. É a partir
do simbolismo que as manifestações literárias ligadas ao mito vão ganhar
diversas perspectivas, como por exemplo, um Satã arrependido que pede
clemência a Deus ou que simboliza o poeta que sofre por amor. Outros
construíram os seus poemas dirigidos a Satã quando imitaram as ladainhas e
as orações católicas que faziam descrições bestiais ou angelicais de um Satã
que refletia a própria solidão e tristeza, como um homem dividido em
constantes crises espirituais. Algumas das ideologias que alicerçaram a
formação da República no Brasil foram repensadas, principalmente porque o
racionalismo e a descrença por algumas dessas correntes ideológicas como o
positivismo, não supria o vazio existencial e a carência por algo indefinível.
Por isso a busca pela transcendência, pela libertação da alma do cárcere da
vida. Implicitamente, havia toda uma busca pelo esclarecimento dos
mistérios da vida e da morte para que pudessem determinar os propósitos
existenciais que não aceitavam como absolutas as teorias científicas,
deterministas e evolucionistas que eclodiram no final do século XIX. Dessa
forma, Satanás torna-se um agente vital para a recuperação do
individualismo e aprofundamento da reflexão sobre o próprio ser.

Independentemente dos usos do mito de Satanás terem tido na poesia


brasileira uma intenção satírica, trágica, metafísica ou apenas estética, é
perceptível que eles refletem a própria condição do homem, buscando
sempre algo para preencher um grave vazio existencial. A grande
importância do mito de Satanás, associado à condição humana sob a ótica do
bem e do mal, é que ele está ligado diretamente ao desejo de conhecimento e
à contestação dos padrões.

Foi através do uso literário e muitas vezes com a preciosa utilização da


literatura comparada, associada à problemática de questões cruciais como
esta (a dualidade entre o bem e o mal), obtidas através de muitos contextos,
opiniões e políticas diferentes da nossa história que surgiram reflexões
(outros textos literários) que, certamente, vieram influenciar decisivamente a
nossa literatura moderna na busca incessante por termos e valores que
conduzam o homem a patamares de conhecimento que valorizem toda a sua
existência de uma forma expressiva, bela e transcendental.

Referências:

FELIZARDO, Alexandre Bonafim et al. Estudos semânticos-discursivos da


obra literária, volumes 1 e 2. Uberaba: Uniube, 2011. 27/58 p.

https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/37282/R%20-%20D%20-
%20CLAUDECIR%20DE%20OLIVEIRA%20ROCHA.pdf?sequence=3

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