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CAMPINAS
2018
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA
COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA
MECÂNICA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MANUFATURA E
MATERIAIS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
À minha família que está sempre ao meu lado incentivando o crescimento e a sempre ser
feliz. Em especial aos meus pais e à minha esposa pela motivação ao longo do desenvolvimento.
A equipe de trabalho que se esforçou e tabalhou em conjunto para que a elaborção desta
dissertação e de outras fosse possível.
Ao colega de trabalho Vinícius Minatogawa por participar ativamente da criação e desen-
volvimento deste projeto.
Ao Prof. Dr. Antonio Batocchio e aos amigos e companheiros de laboratório que estão
sempre juntos e auxiliaram direta e indiretamente na realização do trabalho.
À CAPES que, pelo suporte financeiro, permitiu a manutenção e continuidade deste projeto,
bem como sua execução.
O futuro das organizações - e nações - dependerá cada vez mais de sua capacidade de aprender
coletivamente. (Peter Senge)
RESUMO
Inovações em modelos de negócios (IMN) ganhou atenção substancial tanto para acadêmicos
quanto para praticantes, principalmente devido à sua correlação com a criação de vantagem
competitiva. São particularmente relevantes no contexto atual de competição Schumpeteriana,
no qual a inovação é a principal responsável pela competitividade das organizações. Neste
sentido, diversos pesquisadores focam a atenção em como ter sucesso com as tentativas de
IMN. Relizar experimentações, aprender fazendo, falhar rápido e construir um novo modelo
de negócios (MN), estimular fatores cognitivos, ter pensamentos empreendedores como as
microfundações, gerir o ciclo de vida de MN e superar barreiras culturais são exemplos destas
propostas. Entretanto, em despeito do aumento do interesse e diversidade de abordagens, não
existe ainda um consenso sobre como desenvolver a capacidade de IMN, fato que pode ser
explicado pela falta de clareza do constructo de IMN, bem como as relações semânticas com
constructos correlatos, como estratégia e capacidades dinâmicas. Esta dissertação visa dar os
primeiros passos em direção a preencher essa lacuna ao desenvolver uma arquitetura integrativa,
relacionando estratégia e capacidades dinâmicas, bem como cultura e conhecimento, para o
desenvolvimento da capacidade de IMN. Para atingir seu objetivo, parte de uma metodologia
qualitativa mista, constituída por uma revisão compreensiva e sistemática da literatura, seguida
de um estudo de caso único em profundidade. A revisão compreensiva e sistemática gerou uma
proposta de arquitetura teórica, que foi desafiada, confirmada e amplificada pelo estudo de caso,
resultando na arquitetura integrativa final. Os resultados mostram que IMN são uma capacidade
dinâmica, e seu desenvolvimento é moderado pela estratégia. Demonstram também que cultura e
conhecimento têm um papel chave como habilitadores/inibidores do processo. Além disso, os
resultados do estudo de caso fornecem meios para compreender como criar um motor de criação
de novos negócios, e como este motor pode ser desenhado como complementar ao MN corrente.
A presente dissertação contribui de duas diferentes formas. Primeiro, contribui para a teoria de
IMN ao providenciar uma arquitetura integrativa que endereça a questão de clareza de constructo
de IMN, bem como sua relação com estratégia e capacidades dinâmicas. Segundo, contribui para
a prática ao proporcionar caminhos para as organizações desenvolverem a capacidade de IMN.
Business model innovation (BMI) has gained substantial attention from both practitioners and
researchers, mainly because it is directly related to how an organization creates competitive
advantage. It is particularly relevant in the current context of Schumpeterian competition, in which
innovation is the main source of advantage. In this sense, current research has focused attention
on how several different approaches could be successful with BMI attempts. Experimentation
with learning loops cycles, to fail and to learn quickly from that failure, to overcome cognitive
or cultural barriers, to encourage the entrepreneurship as micro-foundation and the business
model life cycle are some examples of the approaches proposed. However, despite the growing
interest and the diversity of approaches, there is no consensus as to how to develop BMI
capability. This could be explained by the lack of BMI construct clarity, as to which are the
semantic relationship with related constructs such as strategy and the dynamic capabilities. This
research aims to provide the first step towards filling this gap, by developing an integrated
framework for BMI capability development, considering the relationship between the correlated
management constructs. To this end, a mixed qualitative method is proposed, which consists
on a comprehensive systematic literature review, followed by an in depth single case study. A
theoretical framework is proposed as the output of the comprehensive systematic review, which
is then challenged, confirmed and amplified by the case study. The findings show that BMI is a
dynamic capability, which is managed by the strategy, and also demonstrates that culture and
knowledge play a major role as enablers/inhibitors of the process. Moreover, the results from the
case study supply means to understand how an engine for new business development is created,
and how it can be designed as complementary to the current business model. The contribution
of this research is twofold. First, it contributes to the BMI theory by providing an integrative
framework that shed light into solving the BMI construct clarity issue, as to how BMI, strategy
and the dynamic capabilities are related. Second, it contributes to the practice by providing
means and paths to organizations that aims at developing novel business models.
Keywords: Business Model Innovation. Business Model. Dynamic Capabilities. Strategy. Orga-
nizational learning.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 2 – Tabela resumo da coleta de dados para obtenção das evidências empíricas:
fontes e objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
MN Modelo de Negócio
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.1 Problema de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.3.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4 Metodologia de Pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.5 Conteúdo do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1 Estratégia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.1.1 Visão Baseada em Recursos - RBV . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.1.2 Capacidades dinâmicas e ordinárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2 Modelos de Negócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.3 Inovação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.4 Inovação em Modelos de Negócio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4 ESTUDO DE CASO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
4.1 A Empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
4.2 Coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
4.3 Resultados do estudo de caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4.3.1 Antecedentes e contexto da organização . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4.3.2 Evolução da capacidade dinâmica de exploitation . . . . . . . . . . . . . 98
4.3.3 Ciclos de aprendizado – evolução da capacidade dinâmica de exploration 107
4.3.3.1 Primeiro ciclo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4.3.3.2 Segundo ciclo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
4.3.4 Capacidade dinâmica de exploitation – transformar: complementarida-
des do motor de geração de novos negócios . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
4.3.5 Aprendizado organizacional: análise cultural . . . . . . . . . . . . . . . 114
4.3.5.1 Artefatos Físicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4.3.5.2 Valores expostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4.3.5.3 Pressupostos Básicos Subjacentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
4.4 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
4.4.1 Gestão do conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
4.4.2 Investimentos e sustentação à IMN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122
4.4.3 Modelos de contratação e gestão de recursos humanos . . . . . . . . . . 123
4.4.4 Evolução da arquitetura teórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
5 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
5.1 Contribuições teóricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
5.2 Contribuições práticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
5.3 Sugestões de trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
5.3.1 Sistema de indicadores de desempenho cultural . . . . . . . . . . . . . . 128
5.3.2 Foco na capacidade de transformar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
5.3.3 Integração das subáreas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
APÊNDICES 155
1 INTRODUÇÃO
O interesse no termo modelo de negócio (MN) ganhou proeminência nos últimos 15 anos
(DASILVA; TRKMAN, 2014). Embora MNs sempre tenham existido, mesmo que implicitamente,
o interesse em estudar o tema aumentou significativamente nos últimos anos devido ao fato de
estar associado ao crescimento e manutenção da competitividade (JOHNSON; CHRISTENSEN;
KAGERMANN, 2008; SOSNA; TREVINYO-RODRíGUEZ; VELAMURI, 2010; WIRTZ et al.,
2016). Novos MNs, ou inovações em modelos de negócio (IMN), também têm sido alvo de inte-
resse recente, pois, além de gerar disrupção e reformular indústrias completamente (JOHNSON;
CHRISTENSEN; KAGERMANN, 2008), são uma nova forma, além das tradicionais inovações
em produtos, serviços e processos, de as empresas se manterem competitivas (WIRTZ et al.,
2016). A Figura 1 mostra o estudo bibliométrico de publicações sobre MN (“Business Model”) e
IMN (“Business Model Innovation”) ao longo dos anos. Nota-se um aumento significativo de
publicações de MN a partir do ano de 2000 até o presente, atingindo mais de 2000 publicações
no ano de 2015. O campo de pesquisa de IMN, embora tenha recebido atenção nos últimos anos,
principalmente após 2010, ainda está em sua infância, o que significa que ainda há muito o que
evoluir nos estudos de IMN (FOSS; SAEBI, 2017a).
Figura 1 – Evolução de publicações com os termos “Business Model” e “Business Model Inno-
vation” segundo a base de dados Scopus
2500
2000
Publicações
1500
1000
500
0
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
Ano
Fonte: Scopus
são propostas como suporte ao processo de IMN (TäUSCHER; ABDELKAFI, 2017), sejam
de modelagem de negócio (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010; WEISSBROD; BOCKEN,
2017), de identificação e diagnóstico de quebra de valor (YANG et al., 2017), de mapeamento
de recursos tangíveis e intangíveis (BURTON; O’CONNOR; ROOS, 2013) ou de utilização
de ferramentas do planejamento estratégico (CORTIMIGLIA; GHEZZI; FRANK, 2016). Por
fim, a literatura busca também compreender quais são os habilitadores da IMN, como a cultura,
o conhecimento, a flexibilidade estratégica e o design organizacional (BOCK et al., 2012;
RICCIARDI; ZARDINI; ROSSIGNOLI, 2016; TEECE, 2017).
Observa-se, portanto, que os pontos de vista em relação a como desenvolver a capacidade
de IMN são diversas e buscam, através de diferentes prismas, compreender esse fenômeno.
Porém, como ressaltado, a integração dessas visões, a fim de obter uma visão holística em
relação à capacidade de IMN é, para o conhecimento do autor, inexplorado. Fato que pode
ser explicado pela falta de clareza do constructo de IMN, pois não se sabe exatamente qual o
papel da IMN, e como esse campo de pesquisa se conecta a outros campos (FOSS; SAEBI,
2017a). Por esse motivo, o resultado que se obtém é exatamente o observado – há muita pesquisa,
entretanto sem uma concordância, com diversas abordagens diferentes e pouca conexão entre
elas já que ainda não há claridade nos constructos centrais em relação à IMN. Essa problemática
foi bem definida por Foss e Saebi (2017a), que chamam a atenção para esse fato e para a
necessidade de desenvolver estudos que clareiem o conceito de IMN de forma que se possa
avançar significativamente a fronteira do campo, bem como integrar as diversas partes que hoje
estão segregadas.
dos quais se conhece a existência, porém não o valor exato, as incertezas são “desconhecidos
não mapeáveis”. O contexto de IMN, entretanto, pode envolver, além de riscos e incertezas,
ambiguidades. Estas são mais que incertezas, uma vez que nestes casos não se sabe as potenciais
relações entre as dimensões do MN, nem as saídas. Além disso, há mais de uma decisão que
pode demonstrar relativo sucesso (ANDRIES; DEBACKERE, 2013).
Os estudos propostos visam, portanto, um auxílio ao lidar com esse contexto e algumas
abordagens que otimizam o processo de aprendizado para obter tanto oportunidades reais
quanto a melhor forma de aproveitá-las. Porém, são observadas muitas lacunas e, em geral, um
número elevado de falhas quando comparados a casos bem-sucedidos de IMN (CHRISTENSEN;
BARTMAN; BEVER, 2016). O processo aqui descrito é semelhante ao desenvolvimento de uma
capacidade dinâmica que, segundo Teece (2017), consiste em perceber oportunidades, mobilizar
recursos e meios para aproveitá-las e, por fim, transformar aspectos organizacionais e culturais.
No entanto, há pouca conexão entre os constructos na literatura, exceto em Mezger (2014), Teece
(2017), Foss e Saebi (2017a) e Inigo, Albareda e Ritala (2017).
Além desta questão, é possível constatar que IMN trata de questões que dependem do
contexto de cada organização, tais como técnicas, processos e ferramentas utilizadas vinculadas
a aspectos culturais e às capacidades e recursos existentes. E, enquanto podem ser aplicadas com
sucesso por uma, podem não funcionar para outra organização, mesmo se esta for da mesma
indústria da primeira. A aplicabilidade destas pode não ser possível para a própria organização
que obteve sucesso, tendo em vista que em outro período de tempo, naturalmente, o contexto
será diferente. Tal característica garante a existência de fatores de contingência associados, ou
seja, as questões de IMN são relativas ao contexto específico no qual estão imersas. Entretanto,
poucos estudos buscam compreender como a teoria da contingência se aplica ao campo de IMN
e qual a relação entre IMN e os outros campos de pesquisa já estabelecidos como capacidades
dinâmicas e a estratégia.
Estudo realizado por Christensen, Bartman e Bever (2016) aponta o elevado número de
tentativas de IMN que falharam, e que, de fato, um MN não é, a princípio, feito para ser inovado,
mas sim replicado, otimizado e amplificado para maximizar lucro. Aspara, Hietanen e Tikkanen
(2010) complementam ainda que nem sempre IMN estão vinculadas a ganhos de performance,
ou seja, “quando?” e “por quê?” são perguntas relevantes. Laudien e Daxböck (2015) ressaltam
que muitas das inovações não são resultado de escolhas estratégicas mas são “frutos do acaso”.
Christensen, Bartman e Bever (2016) atentam ainda para a necessidade de se realizar a conexão
entre oportunidades e MN de forma sistemática e que, devido à sua importância, não pode ser
gerada como consequência de adivinhação. Uma possível explicação para esse cenário atual de
incertezas e flutuações quanto ao proveito das abordagens propostas e seu impacto na indústria,
é a falta de compreensão de como o constructo de IMN relaciona-se com a contingência presente
nas capacidades dinâmicas. À vista disso, esse estudo tem como objetivo responder à seguinte
21
pergunta de pesquisa:
1.2 Justificativa
Mudanças no ambiente competitivo são cada vez mais constantes e rápidas (LEE et al.,
2016; SEO; LEE; MOON, 2016; TEECE; LINDEN, 2017), consequentemente os ciclos de
vida de MN estão cada vez mais efêmeros (TEECE; LINDEN, 2017) e a competitividade e
manutenção de qualquer MN é instável (SOSNA; TREVINYO-RODRíGUEZ; VELAMURI,
2010; TEECE, 2017; TEECE; LINDEN, 2017). Por conseguinte, a sobrevivência e a manutenção
da competitividade das organizações dependem de sua capacidade de adaptação e antecipação
ao ambiente externo (ALEGRE; SENGUPTA; LAPIEDRA, 2013; NIEVES; HALLER, 2014;
TEECE, 2017). Conforme argumento de Dilger, Jovanović e Voigt (2017), IMN ajuda as organi-
zações a lidarem com esse ambiente turbulento e, segundo Zhang et al. (2017) é um processo de
criação de vantagem competitiva neste cenário.
A visão baseada em recursos tinha como argumento principal que a criação de vanta-
gem competitiva sustentável é decorrente dos recursos VRIN – valiosos, raros, inimitáveis e
insubstituíveis (BARNEY, 1991). Entretanto, devido ao aumento da turbulência do ambiente,
houve a evolução dessa teoria para a visão baseada em conhecimento e as capacidades dinâmicas
(TEECE, 2007; ALEGRE; SENGUPTA; LAPIEDRA, 2013). Visto que, conforme argumentos
de Eisenhardt e Martin (2000), Pavlou e Sawy (2011) e Teece (2017), a manutenção da competi-
tividade e a constante antecipação e adaptação às mudanças estão relacionadas à características
difíceis de imitar: os recursos, como o conhecimento, e as capacidades dinâmicas. Ou seja, estão
relacionados com a capacidade de reconfigurar recursos e competências, a fim de alavancá-los
de forma a corroborar a formulação e implementação estratégica e, consequentemente, resultar
em vantagem competitiva sustentável.
Conforme proposto por Lee et al. (2016), a capacidade de inovação de uma organização
depende, diretamente, de seus ativos intelectuais e sua capacidade de criar e aplicar novos
conhecimentos. Além disso, segundo os autores, o processo de inovação é considerado o mais
intenso em termos de conhecimento. Em linha semelhante, estudo de Zheng, Zhang e Du (2011)
demonstram forte correlação entre as capacidades dinâmicas baseadas em conhecimento e a
capacidade de inovação das empresas.
Esse trabalho se justifica, portanto, não só pela importância da inovação para a manutenção
da competitividade das organizações e a evolução da economia (PORTER, 1990), mas também
devido ao fato explícito por Velu (2015), Burmeister, Lüttgens e Piller (2015) e Baden-Fuller e
22
Morgan (2010), de que há falta de estudos sobre gestão da inovação em modelo de negócio, o
que pode ser derivado da indefinição clara do constructo de IMN.
1.3 Objetivos
Para atingir o objetivo aqui salientado, essa dissertação tem os seguintes objetivos específi-
cos:
que se leve em consideração a clareza do constructo, pode fragmentar ainda mais o campo de
pesquisa. Por esse motivo, um dos objetivos do presente trabalho é contribuir com a clareza
do constructo, bem como com a relação entre os constructos de IMN, capacidades dinâmicas e
estratégia e, com isso, compreender como a prática pode aproveitar de uma estrutura lógica que
faça sentido (SUDDABY, 2010). Somado a essa questão, existe a importância de se analisar na
prática fenômenos de natureza complexa (YIN, 2017). Com esta condição em mente, a presente
dissertação partirá de uma metodologia mista, composta de duas etapas qualitativas exploratórias,
para atingir seus objetivos.
Dentre as duas etapas propostas, a primeira consiste em uma revisão sistemática compre-
ensiva da literatura sobre o termo “Business Model Innovation” a fim de definir uma arquitetura
integrativa de como desenvolver a capacidade de IMN, bem como as relações semânticas com
outros constructos. Com a segunda, após a definição da arquitetura, buscou-se através de estudo
de caso em profundidade, verificar a aplicabilidade desta na prática, além de observar possíveis
explicações rivais e complementaridades. A escolha pelo estudo de caso em profundidade parte
do princípio de que IMN é um conceito de complexidade dinâmica, o qual compreende múltiplas
interações sistêmicas que envolvem tanto as atividades internas da organização como o ecossis-
tema em que estão imersas (FOSS; SAEBI, 2017a). Além disso, engloba as inter-relações entre
essas atividades e, inclusive, as interações humanas presentes no ambiente. Nonaka, Toyama
e Konno (2000) argumentam, justamente, sobre a dificuldade em se analisar tais interações
humanas, já que compõem o denominado sistema complexo humano.
Curry, Nembhard e Bradley (2009) argumentam que, em casos de fenômenos complexos,
como processos organizacionais e, principalmente, quando interações sociais são a base do
fenômeno investigado, medidas quantitativas são extremamente difíceis de serem obtidas. Conse-
quentemente, a aplicação de métodos de pesquisa qualitativos é considerada adequada. Assim, a
segunda pergunta da pesquisa visa compreender como uma organização real pode desenvolver a
capacidade de IMN e, conforme Yin (2017), como o estudo de caso deve ser aplicado, a fim de
compreender questões culturais. Para Wiewiora et al. (2013), é possível extrair introspecções e
conhecimentos profundos com base na triangulação de múltiplas fontes de dados, o que auxilia
na compreensão cultural. Yin (2017) argumenta ainda que, especificamente em estudos relativos
a inovações organizacionais, o estudo de caso é considerado ideal.
A escolha por um caso único está atrelada a três justificativas propostas por Yin (2017):
é um caso decisivo, longitudinal e revelador. É decisivo pois tem por objetivo testar se um
conjunto de proposições desdobradas da teoria está, de fato, presente na prática. Desta forma,
busca “confirmar, desafiar ou ampliar a teoria” sobre o assunto (YIN, 2017). Neste sentido, a
revisão sistemática compreensiva demonstrará um modelo teórico, enquanto o caso elucidará
sobre a acurácia deste modelo. Além disso, é considerado um caso longitudinal, pois englobará
análises com a lógica de “antes” e “depois”, bem como as dificuldades e soluções adotadas
24
Fragmentação
das visões
Atributos
integrativos Revisão
sistemática e
Estratégia compreensiva
da literatura
Capacidades
dinâmicas
Cultura
organizacional
Arquitetura Confirmar,
teórica desafiar ou
amplificar a
teoria
Arquitetura
integrativa
Fonte: O Autor
26
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem como objetivo esclarecer alguns dos conceitos relacionados a MN e a sua
inovação. Serão aqui abordados os conceitos de estratégia, visão baseada em recursos (RBV),
além de capacidades dinâmicas e ordinárias, considerados relevantes para a compreensão do
conceito de MN, apresentado em sequência. Por fim, serão expostos aspectos sobre inovação e
IMN.
2.1 Estratégia
A principal questão a ser respondida pelos campos de estratégia organizacional diz respeito
à criação de manutenção da vantagem competitiva e, por consequência, dos lucros superiores
(BARNEY, 1991; PORTER, 1985; TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). A obtenção de vantagem
competitiva, segundo Barney (1991), significa implementar uma estratégia que crie valor à
medida que esta não esteja sendo simultaneamente implementada por nenhum competidor. Para
Grant (1991) a habilidade de uma organização em obter lucros está relacionada com a atratividade
da indústria e com a vantagem competitiva obtida.
Para Porter (2008), a lucratividade de uma determinada indústria pode ser analisada em
termos de cinco forças moderadoras (Figura 3) que regem a atratividade e os potenciais lucros
dos competidores. O papel dos estrategistas deve incluir portanto, conforme argumentado por
este autor, a análise da estrutura da indústria no que diz respeito a essas forças. São elas, segundo
Porter (2008):
28
Ameaça de
novos
entrantes
Ameaça de
produtos
substitutos
• Ameaça de novos entrantes: a atração de novos competidores a uma indústria, que trazem
consigo o desejo de obter market share reduziria, consequentemente, o mercado dos
incumbentes. Com o aumento de potenciais novos entrantes no mercado, o potencial de
lucratividade da indústria é reduzido.
• Poder de barganha dos clientes: clientes poderosos têm a possibilidade de fazer maior
captura de valor por pressionar os preços para baixo, além de aumentar a pressão por
maior qualidade. As condições para que isso ocorra são: (1) poucos clientes, que efetuam
a compra de elevado volume quando comparado ao tamanho de seus fornecedores; (2)
produtos padronizados e pouco diferenciados, permitindo que os clientes manipulem os
fornecedores uns contra os outros; (3) baixo custo de mudança; (4) ameaça de integração
para trás; (5) clientes extremamente sensíveis a preço.
29
Grant (1991) propõe que a vantagem competitiva pode ser sustentada, em um nível estra-
tégico de negócio, através da análise da imitação competitiva, de retornos sobre as inovações,
do papel de informação imperfeita na criação de valor e lucros e dos processos de acúmulo de
recursos. O foco do estudo de Grant (1991) foi, pensar como seria possível realizar a conexão
entre a estratégia e a RBV. Para tanto, propôs um enquadramento de formulação de estratégia
baseada em recursos, demonstrado na Figura 4.
31
5. Identificar os gaps de
3. Avaliar o potencial de geração recursos que precisam ser
de riqueza a partir das capacidades preenchidos.
e recursos:
(a) seu potencial para Vantagem Investir em repor, aumentar e
vantagem competitiva Competitiva melhorar a base de recursos da
sustentável, e organização
(b) a apropriabilidade de seus
retornos
cada organização não são iguais e a consequência são diferentes níveis de eficiência que resultam
em superioridade da organização que melhor orquestra seus ativos. A implicação está nos custos
fundamentalmente inferiores e na melhor qualidade, praticados por essa superioridade que gera
lucros acima da média, enquanto as organizações com menor eficácia de recursos, na melhor das
hipóteses, “empatarão” (breakeven) (PETERAF, 1993).
Para que a vantagem competitiva seja sustentável, entretanto, é necessário que a hetero-
geneidade se mantenha ao longo do tempo. Caso os recursos se tornem homogêneos, e sem
diferenciação rapidamente, perde-se também a vantagem competitiva. Essa condição só é verdade
caso exista limites ex post para a competição. Outro fator que dissolve a vantagem competitiva
e a heterogeneidade é a mobilidade dos recursos. Caso esses recursos diferenciais possam ser
comprados no mercado, a manutenção da vantagem competitiva é impossível. Recursos idiossin-
cráticos são um exemplo de não mobilidade, já que não têm utilidade fora da firma. Por último, é
necessário que exista uma condição limitada de competição para determinada posição para que a
organização possa aproveitar essa condição. Uma localização superior, por exemplo, só é fator
diferencial para a organização que consegue prever esse diferencial. Os custos de aquisição dos
recursos antes de uma forte competição são relevantes e são denominados limites ex ante para a
competição (PETERAF, 1993).
Oliver (1997) complementa os estudos supracitados adicionando o elemento da influência
do contexto social no desenvolvimento dos recursos diferenciais, fontes de vantagem competitiva
sustentável. Desta forma, para Oliver (1997), as organizações dependem de capital institucional
para que seja possível o desenvolvimento de recursos VRIN. Segundo Oliver (1997, p. 709),
capital institucional “é o contexto que rodeia os recursos e as estratégias de recursos que
melhoram ou inibem o uso ótimo de capital de recursos valiosos”. Em outras palavras, só há
criação de vantagem competitiva caso exista um contexto habilitador para alavancar os recursos
necessários.
O que se pode observar de semelhança entre as diferentes abordagens da RBV é que
todas se baseiam no fato de que os negócios são constituídos de pacotes de competências e
ativos idiossincráticos e difíceis de transferir, denominados de recursos (TEECE, 2007). A posse
destes recursos valiosos, raros, difíceis de imitar e que não são substituíveis, e em especial ter o
know-how (TEECE, 2007), são responsáveis pela manutenção da vantagem competitiva, pelo
menos durante determinado período de tempo. Isso pois a sustentabilidade dessa vantagem pode
se dissolver no caso de mudanças e inovações (BARNEY, 1991). Devido a essas características,
Eisenhardt e Martin (2000) argumentam que a RBV não explica a vantagem competitiva em
mercados cujo ambiente competitivo sofre constantes mudanças. Em ambientes turbulentos, a
capacidade dos gestores de “integrar, construir, e reconfigurar as competências internas e externas
para endereçar a esse ambiente de rápidas transformações” (TEECE; PISANO; SHUEN, 1997,
p. 516), denominadas de capacidades dinâmicas, são a fonte de sustentabilidade da vantagem
33
Enquanto os recursos formam uma base necessária para a execução de estratégias supe-
riores, sem que sejam combinados de forma a gerar capacidades e rotinas, não há geração de
valor (WINTER, 2003). Segundo Winter (2003, p. 991) capacidades são “rotinas de alta ordem
(ou uma coleção de rotinas) que unidas à implementação de seus fluxos de entrada, conferem
à gestão uma série de opções de decisões para produção de saídas significativas”, enquanto
rotinas são resultantes principalmente de conhecimento adquirido e padronizado, o qual pode
ser realizado de forma repetida, ou quase repetida (WINTER, 2003). Neste sentido, observa-se
que as capacidades, conforme a definição acima, estão relacionadas com a forma pela qual a
organização gera lucros no momento (LAAKSONEN; PELTONIEMI, 2018).
Com o aumento da velocidade de transição de diversos mercados, nota-se a possibilidade
de estas capacidades se tornarem obsoletas. Inovações tanto radicais quanto incrementais, novos
entrantes, avanços científicos e tecnológicos e pressões ambientais e sociais constantemente
desafiam o conjunto de capacidades das organizações (TEECE, 2007). Destarte, existe a necessi-
dade do desenvolvimento do potencial de reconfiguração das capacidades e rotinas existentes
para se adequar e antecipar a um ambiente mutável (TEECE, 2017). Separa-se, portanto, entre
capacidades ordinárias e capacidades dinâmicas, nas quais as primeiras são responsáveis por
gerar lucro no momento, e as segundas pela percepção e realização de mudanças necessárias
(LAAKSONEN; PELTONIEMI, 2018).
Aliadas à RBV, as capacidades ordinárias formam, portanto, a base para a criação de
vantagens competitivas, enquanto que as capacidades dinâmicas têm como objetivo manter o
alinhamento competitivo ao longo do tempo, ao criar e aproveitar oportunidades estratégicas
(EISENHARDT; MARTIN, 2000). No contexto de modelos de negócios, Teece, Peteraf e
Leih (2016) argumentam que a arquitetura de criação e entrega de valor é realizada através do
desenvolvimento de capacidades ordinárias superiores. Com isso, nota-se que as capacidades
ordinárias executam o MN atual, cujo desdobramento resulta no desempenho da organização. A
otimização do fluxo de valor em um MN passará, portanto, pelo desenvolvimento de capacidades
ordinárias compatíves e complementares.
Conforme aqui exposto, a criação de capacidades e rotinas é resultado do conhecimento,
principalmente tácito, no momento da tomada de decisão sobre qual é a melhor forma de fazer
negócios naquele instante (GIROTRA; NETESSINE, 2013). Nota-se, portanto, que não significa
que seja a melhor, ou nem que continuará sendo. Com isso, argumenta-se que o desenvolvimento
de capacidades dinâmicas é crucial para que uma organização seja capaz de manter sua posição
competitiva (LAAKSONEN; PELTONIEMI, 2018). Isso pois, para manter vantagem competitiva
34
Recursos Canais
Chave
Estrutura de Arquitetura
Custos de Receitas
O lado direito do quadro representa o mercado: qual a proposição de valor que atende às
necessidades de quais segmentos de clientes; quais canais serão utilizados para a entrega do valor
proposto; como será mantido o relacionamento com os clientes, com o intuito de adquiri-los e
mantê-los; e, por fim, quais mecanismos, ou qual arquitetura de receitas, serão utilizados para
capturar parte do valor criado, proposto e entregue. O lado esquerdo representa a estrutura interna
da empresa, necessários para criação do valor proposto: quais os principais recursos e atividades
chave necessários para criar e entregar os valores estabelecidos e quais parcerias chave serão
definidas para se obter recursos, atividades e capacidades que não são produzidos pela empresa;
esses três pontos demandam uma estrutura de custos que os suportem, de forma que a lógica do
modelo deve gerar renda quando as receitas obtidas e os custos necessários forem considerados
(OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010).
Johnson, Christensen e Kagermann (2008) propõem o entendimento de MN por meio da
ferramenta de “quatro caixas”, composta por quatro elementos: a proposta de valor ao cliente,
representando a união entre um problema/necessidade do mercado com uma proposta de valor
adequada; a fórmula de lucro, que viabiliza um MN, já que o sucesso do negócio depende
da geração de lucros, ou seja, não adianta obter uma proposta de valor adequada ao cliente,
se ela é inviável financeiramente; e, por fim, recursos e processos chaves que criam o valor
proposto. Conforme argumentado por Johnson, Christensen e Kagermann (2008), o elemento
mais importante na criação de modelos de negócio é a proposta de valor ao cliente, que consiste
em encontrar um trabalho a ser feito (job to be done). Em outras palavras, encontrar problemas
37
dos clientes que ou não foram solucionados, ou para os quais exista a possibilidade de se propor
uma solução melhor (JOHNSON; CHRISTENSEN; KAGERMANN, 2008). A proposta de
solução para o problema em questão deve levar em consideração as competências, os recursos e
as capacidades da organização, a fim de modelar como esse valor pode ser criado e, ao mesmo
tempo, potencializar os diferenciais que garantem a difícil imitação pelos competidores (TEECE,
2017). A Figura 6 contém o MN quatro caixas, proposto por Johnson, Christensen e Kagermann
(2008).
FÓRMULA DE LUCRO
Pessoas
Tecnologia, produtos
Equipamentos
Informação
Canais PROCESSOS CHAVE, bem como as
Parcerias, alianças regras, métricas e normas, tornam a entrega
lucrativa da CVP, de forma repetível e
Marca
escalável. Pode incluir:
Sem
refeições
Nada é de
graça Receita
adicional
Baixa expectativa de
qualidade de serviço Reinvestir
Alto lucro
Baixo
custo fixo
As menores tarifas
Poder de barganha
com os fornecedores
Alta utilização de
aeronaves
Alto
volume
No modelo, os itens sublinhados são escolhas deliberadas. O item na caixa representa uma
consequência rígida, ou seja, que demora para ser alterada mesmo que se altere as escolhas, e os
itens não sublinhados e sem caixa são as consequências flexíveis, que são alteradas automatica-
mente perante quaisquer mudanças nas escolhas. Por exemplo, aumentar os valores das tarifas
automaticamente diminuiria o volume, que reduziria a utilização das aeronaves e o poder de
barganha com os clientes. Porém, o aumento dos custos fixos levaria um tempo para ocorrer,
já que o volume, o poder de barganha e a utilização das aeronaves diminuiriam ao longo do
tempo, e não instantaneamente (embora elas sejam alteradas instantaneamente, o decréscimo
39
Perspectiva a
longo prazo
Estratégia
Perspectiva a
médio prazo
Capabilidades
Dinâmicas
Modelo de
Perspectiva a Negócio
curto prazo
Foram aqui apresentadas algumas das definições de MN propostas na literatura, bem como
algumas tentativas de correlacionar o conceito de MN com estratégia e capacidades dinâmicas.
Existem outras definições, e cada uma leva em consideração diferentes elementos e blocos de
construção, que segundo Shafer, Smith e Linder (2005) ocorre devido à busca para solucionar
questões relevantes à situação abordada pelos diferentes autores. Porém, não é o foco da presente
dissertação realizar um levantamento de todos esses modelos, bem como os créditos e descréditos
de cada um e sim compreender como se pode desenvolver a capacidade de IMN. Desta forma,
embora exista, de fato, falta de consenso no que permeia a definição clara do que é um modelo
de negócio, torna-se relevante para esse trabalho identificar a definição que tenha maior claridade
e abrangência, bem como a melhor correlacionada com o conceito de IMN.
Considerando estudo realizado por Foss e Saebi (2017a), que aponta para a direção de que,
independente de quais blocos de construção fazem ou não parte de um MN, há uma convergência
no que tange a aceitabilidade desse modelo descrever “a arquitetura de como criar e entregar valor
e os mecanismos empregados para capturar parte desse valor, empregados por uma organização”
(TEECE, 2010; FOSS; SAEBI, 2017a). É o termo “arquitetura” que torna tal definição relevante,
pois está relacionado com a visão sistêmica de MN, ou seja, é considerado um sistema complexo
(FOSS; SAEBI, 2017a). A principal característica de um sistema é que “o todo é maior que a
soma de suas partes” (BERTALANFFY, 1968), o que ressalta a importância da inter-relação de
suas partes, e não apenas de quais blocos as compõem isoladamente. Tal fato está intrinsecamente
41
relacionado à explicação do por quê as organizações que competem com os mesmos componentes
de MN têm diferenças radicais em seu desempenho (FOSS; SAEBI, 2017a).
A visão sistêmica, embora tenha suas origens na biologia, é amplamente aplicada a outros
campos de pesquisa, como na gestão de negócios, por exemplo (SCHIUMA; CARLUCCI;
SOLE, 2012). Atrelado a isso está o fato de que a visão sistêmica é uma forma poderosa de se
compreender sistemas reais, já que estes estão imersos em complexidade dinâmica cujas causas
e cujos efeitos não são, em sua boa parte, explicados pelo raciocínio tradicional linear (SENGE,
2006). Um sistema, portanto, compreende não apenas as partes, mas também as influências que
cada uma exerce sobre a outra, ou seja, o sistema como um todo influencia o comportamento
de suas partes, bem como suas partes influenciam o comportamento do todo (BERTALANFFY,
1968). Central ao conceito de visão sistêmica está o fato da relevância em se analisar a estrutura
total dos problemas, isto é, ver as partes e suas interrelações para enxergar o todo (SENGE,
2006).
Senge (2014) cita o exemplo de uma fábula hindu: o dilema dos sete cegos e um elefante. A
busca pela verdade é realizada inicialmente por seis deles, e cada um analisa uma parte diferente
do elefante. Um apalpa a barriga e conclui que se trata de um ser imenso e de força descomunal,
outro apalpa as presas e discorda do primeiro, alegando que é uma arma pontiaguda, o terceiro
segura o rabo e diz que é uma rocha amarrada numa corda, e assim sucessivamente em uma
discussão sem fim. Sem um consenso, o sétimo cego solicitou a ajuda de um menino e pediu
para que ele descrevesse a figura. O sábio notou então que todos os seis estavam certos e errados
ao mesmo tempo, pois a criatura era tudo ao mesmo tempo. Porém, nenhuma parte separada
explicava o todo. O sábio conclui, portanto, que o comportamento do homem perante a verdade
é que estes pegam apenas uma parte, pensam que é toda a verdade, e continuam tolos (SENGE,
2014).
A partir dessa fábula, considerar o MN como um sistema auxilia a compreender também
que as inter-relações entre o microambiente organizacional e seu ecossistema são relevantes no
resultado esperado de um MN. Desta forma, a aplicabilidade de um MN depende diretamente
do ecossistema em que está imerso e, uma vez que as interações sistêmicas se alterem, afetarão
o sucesso do MN. Como o exemplo de Magretta (2002) em relação à implementação do MN
da Disney: este foi bem-sucedido nos EUA, porém não obteve sucesso quando exatamente
replicado na Europa, outro ecossistema (MAGRETTA, 2002). Estudo de Dreyer et al. (2017), que
analisa sistemicamente diferentes MNs e como estes devem ser adaptados quando considerados
diferentes contextos para obter sucesso, corrobora esta visão. A definição adotada por esse
trabalho, portanto, é a de Teece (2010), de que um MN é “a arquitetura de como criar e entregar
valor e os mecanismos empregados para capturar parte desse valor, por uma organização” e que
o principal componente do MN são as complementaridades - resultantes da sinergia entre as
diferentes capacidades ordinárias desenvolvidas (FOSS; SAEBI, 2017a).
42
a criação bem-sucedida do valor proposto (TEECE, 2017). O design de IMN possui, portanto,
potencial de melhoria da vantagem competitiva e sobrevivência das organizações (ZHANG et al.,
2017) e, por isso, o desenvolvimento dessa capacidade é fundamental (SOSNA; TREVINYO-
RODRíGUEZ; VELAMURI, 2010; DILGER; JOVANOVIć; VOIGT, 2017; ZHANG et al.,
2017). A fim de melhor compreender esse fenômeno de IMN, é relevante compreender primeiro
alguns aspectos relacionados à inovação como um todo.
2.3 Inovação
Inovação é um campo de pesquisa que consiste na união entre uma invenção e sua explo-
ração com o fim de gerar valor (ROBERTS, 1988). Uma invenção consiste na formulação de
ideias que possam ser utilizadas na prática. A inovação é a combinação dessas ideias com todos
os estágios de extração necessários para a sua implementação prática de forma a permitir sua
utilização, disseminação e difusão (ROBERTS, 1988; MORTENSEN; BLOCH et al., 2005).
Roberts (1988) sumariza tal definição de inovação como: inovação = invenção + extração.
As origens da competição baseada em inovação partem de estudos de Schumpeter (1934),
que apontam os negócios como sendo providos de ciclos de vida, de seu início até sua morte, com
períodos intermitentes de caos e estabilidade. Neste sentido, existem os períodos de crescimento,
os quais são regidos pela replicação e pelas evoluções incrementais e momentos em que uma
inovação radical é proposta, gerando disrupção nas indústrias, período denominado de “caos
criativo” (CAMISóN; MONFORT-MIR, 2012; ARCHIBUGI, 2017). Devido aos elementos da
competitividade entre as organizações e aos atributos que garantem o sucesso de uma frente
a suas concorrentes, embora exista relevância na busca por eficiência e por custos inferiores,
as inovações compõem o principal mecânismo de criação e manutenção da competitividade
(ABERNATHY; CLARK, 1985). Dessa forma, a inovação é um motor de renovação e criação
que reformula indústrias e cujo impacto ocorre em uma abrangência de quaisquer indústrias
durante qualquer período (ARCHIBUGI, 2017).
Nelson e Winter (2002) e Winter (2006) argumentam que, para se compreender diferenças
em competitividade entre as organizações, é relevante se considerar a capacidade de saber.
Isso devido ao fato de que as evoluções tecnológicas e a busca por melhorias de eficiência
geram alterações no panorama competitivo. Neste cenário, a estabilidade torna-se praticamente
impossível. Naturalmente, existe um movimento evolucionário de inovações em produtos e/ou
serviços, processos, novos mercados, fornecimentos e mudanças nas indústrias (WINTER, 2006).
Winter (2003) argumenta, portanto, que para que uma mudança ocorra de forma bem-sucedida
existe a necessidade de se desenvolverem novos conhecimentos para uma execução eficiente.
As diferenças entre as organizações nas capacidades de aprendizado resultam em diferentes
velocidades e potencial de imersão de novas tecnologias e de inovações que geram tais diferenças
44
competitivas.
Desta forma, Schumpeter (1934) faz a distinção entre “meros gestores” e empreendedores.
Os meros gestores não levam a diferenças substanciais, já que cada um é apenas mais uma pessoa
realizando seu trabalho. Os empreendedores, por outro lado, são aqueles capazes de direcionar
a organização no caminho da mudança bem-sucedida (NELSON; WINTER, 2002), através da
busca deliberada por oportunidades, pela antecipação que buscara reduzir perdas de eficiência
no advento de mudanças, pelo ato de pensar em melhores caminhos para reconfiguração e
pela efetuação de transformação de capacidades. Nelson e Winter (2002) argumentam ainda
que, devido a essas características mutáveis do ambiente competitivo, o desenvolvimento da
capacidade de inovação é o principal diferencial competitivo das organizações.
Batabyal e Yoo (2017), por exemplo, avaliam o impacto da evolução e do crescimento
de uma indústria com base na inovação. Isto é, posicionam a inovação como principal fonte
criativa que permeia a evolução econômica mundial. Procuram, portanto, a conexão direta entre
a visão Schumpeteriana sobre o crescimento e evolução das diferentes economias, de forma a
explicar a conexão direta entre inovação e evolução. Ugur, Trushin e Solomon (2016), de maneira
semelhante, consideram a intensidade da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nas organizações e
seu desempenho, e demonstram que efetivamente existem períodos em que o foco em inovações
incrementais e melhorias levam a um desempenho superior, e que, contudo, o excesso de foco
nesse caminho reduz a eficiência. Isso em razão da existência de períodos em que uma busca
radical torna-se relevante. Nota-se, enfim, que o modelo de competitividade Schumpeteriano
baseado em inovação pode ser considerado (UGUR; TRUSHIN; SOLOMON, 2016). Dessa
forma, para a manutenção da competitividade, observa-se a importância da inovação e dos
motivos pelos quais se deve buscar de forma organizada o desenvolvimento da capacidade de
inovar e o balanceamento entre incrementalismo e radicalismo.
Conforme aqui exposto, o MN da organização representa como os recursos, as capacidades
e as rotinas são orquestrados para criar e entregar valor. Imersos neste contexto, os produtos
e serviços contemplam a materialização da proposta de valor para solucionar um problema
ou uma necessidade de determinadas partes interessadas e clientes. Somado ao raciocínio neo-
schumpeteriano apresentado por Nelson e Winter (2002) e Winter (2006), propõe-se aqui que
o pensamento em MN representa uma forma sistêmica de conduzir um mix evolucionário das
capacidades para alinhamento do posicionamento competitivo.
combustível para que diversos pesquisadores buscassem compreender, afinal, o que é uma IMN,
como e por que acontece. Praticantes, principalmente em relação a novos entrantes, passam
a buscar deliberadamente formas de criar novas lógicas de negócio, que possam responder
melhor às necessidades do macroambiente (CASADESUS-MASANELL; ZHU, 2013). Em
outras palavras, é possível dizer que a busca consiste em encontrar sistemas que tenham como
resultado ciclos virtuosos e menos quebras de valor, de forma a potencializar ao máximo o fluxo
de valor. Dilger, Jovanović e Voigt (2017) salientam ainda que, com o aumento da dinamicidade
do ambiente, essas inovações muitas vezes superam em relevância as inovações em produtos e
serviços. As organizações passam a buscar, portanto, vantagem competitiva através das IMN
(GEBAUER; HALDIMANN; SAUL, 2017; GüNZEL; HOLM, 2013; MARTINS; RINDOVA;
GREENBAUM, 2015; ZHANG et al., 2017).
Assim como o campo de MN, diversas definições são atribuídas ao conceito de IMN.
Casadesus-Masanell e Zhu (2013) definem IMN como a busca por novas lógicas de negócios
e novas maneiras de criar e capturar valor para as partes interessadas. Zhang et al. (2017, p.
499) acrescentam a importância e relevância estratégica dessa busca pelo potencial de encontrar
“novas fontes de criação de valor, baseado na inovação nos diferentes componentes de um modelo
de negócio e/ou das interações entre esses componentes”. Para Velu (2015), a IMN tem papel de
manter o desenvolvimento sustentável e a adequação às mudanças no meio ambiente, de forma a
aprimorar seu desempenho.
Segundo Amit e Zott (2012), IMN consiste em alterar os componentes, a estrutura ou a
governança presentes em um MN. O conteúdo diz respeito aos componentes discretos de um MN,
e a partir disso uma das possibilidades de IMN seria adicionar ou remover atividades. Utilizar
um novo canal para distribuição de valor seria uma forma de inovar em conteúdo. Outra possível
IMN resulta da modificação da forma com que as atividades são relacionadas, ou seja, alterar a
estrutura das interconexões entre as atividades. A introdução de uma plataforma que conecte as
diferentes partes, por exemplo, é uma forma de não alterar substancialmente o conteúdo, mas a
estrutura com que estes estão relacionados. A governança está relacionada às partes que executam
cada atividade; alterá-la diz respeito à mudança em quem executa as diferentes atividades e suas
interfaces em um MN. Um programa de terceirização (outsourcing) de uma ou mais atividades é
um exemplo deste modo de inovação (AMIT; ZOTT, 2012).
IMN está diretamente relacionada com a busca sistêmica por formas inovadoras de se
desenhar o fluxo de valor. Este pode ser tanto já existente, o qual a IMN visa aprimorar e cuja
eficiência visa aumentar, quanto completamente novo, até então desconhecido, com o qual a
IMN busca criar novos mercados. Dois exemplos citados por Johnson, Christensen e Kagermann
(2008) ilustram bem esses processos distintos. Há o exemplo da Hilti, uma empresa que vende
ferramentas para a indústria de construção, e cujo MN consistia na venda direta de produtos
aos seus clientes. Entretanto, a organização percebeu que seus consumidores geravam valor
46
ao entregar os contratos, e não ao deter a posse das ferramentas. Com isso, a IMN resultou na
oferta de um serviço, com a proposta de alugar as ferramentas ao invés de vendê-las, conforme
a necessidade do cliente. Essa mudança aumentou significativamente a eficácia de seu MN.
Outro exemplo citado é o da Tata Motors, fabricante de carros indiana, cuja IMN se iniciou
com a observação de que, nas ruas da Índia, havia famílias de baixa renda que trafegavam em
cinco pessoas em cima de uma moto. Esse fato estava vinculado à falta de recursos financeiros
para aquisição de um carro, automóvel mais seguro e adequado para a situação. Ao observar
esse acontecimento – um mercado potencial ainda negligenciado – a Tata Motors decidiu
desenvolver um veículo acessível a essas famílias. A partir disso, a empresa endereçou um fluxo
de valor inexistente ao criar um MN completamente novo, uma vez que os MN tradicionais de
montadoras de veículos seriam inaplicáveis para essa situação, devido aos seus custos elevados
(JOHNSON; CHRISTENSEN; KAGERMANN, 2008). Em outras palavras, a Tata Motors
precisou desenvolver uma arquitetura de criação de valor nova capaz de sustentar tal proposta de
valor.
Propõe-se, desta maneira, que IMN seja resultante da alteração de um ou mais componentes
do MN (AMIT; ZOTT, 2012). Argumenta-se, porém, que dificilmente a inovação isolada em
apenas um ou dois elementos do MN seja possível. Devido à natureza sistêmica do MN, é
possível que a inovação em um componente dele culmine na necessidade de sua reconfiguração
sistêmica (arquitetural), para manter sinergia entre as suas partes (FOSS; SAEBI, 2017a). Porém,
observa-se que diferentes organizações possuem diferentes índices de complementaridades em
seu MN, o que as permite ou não executar inovações modulares. Desta forma, propõe-se que os
escopos das IMN irão variar conforme a intensidade das complementaridades (FOSS; SAEBI,
2017a):
• Intensidade baixa: IMN modular, na qual componentes isolados são alterados sem afetar
significativamente o restante do MN.
Além disso, por se tratar de inovação, o nível de novidade da IMN pode ser considerado
novo tanto para a organização como, até mesmo, para a indústria, pois, dentro de um balanço
entre exploitation e exploration a organização pode variar entre movimentos adaptativos e
antecipatórios. Neste sentido, uma inovação não precisa necessariamente ser inédita para a
indústria para gerar resultados financeiros. Foss e Saebi (2017a) propõem a tipologia contida na
Figura 9 para IMN, na abrangência de novidade e escopo.
47
Escopo
Novidade Modular Arquitetural
Novo para a organização IMN evolucionária IMN adaptativa
Novo para a Indústria IMN Focada IMN complexa
2016). Desta forma, esse trabalho buscou, de forma sistemática, compreender a totalidade desses
estudos, a fim de se obter uma arquitetura que integra as diferentes visões, com o propósito de
desenvolver um procedimento prático de “como desenvolver a capacidade de IMN”. Desta forma,
o Capítulo 3 aborda essa questão e demonstra o desenvolvimento do procedimento aplicado
nessa dissertação.
49
1. Planejamento:
2. Condução:
• Identificação de pesquisa
• Seleção dos estudos primários
• Avaliação da qualidade do estudo
• Extração e monitoramento dos dados
51
das informações no programa MSWord. Todas as informações julgadas pelo pesquisador como
pertinentes para responder a pergunta norteadora foram sumarizadas neste documento para
análise e síntese dos resultados. Foram identificadas, nessa etapa, 27 publicações que não
respondiam a pergunta norteadora e, portanto, foram descartadas. A Figura 10 contém a estrutura
do protocolo de pesquisa realizado.
PALAVRAS-CHAVE: ‘‘BUSINESS
MODEL INNOVATIO’’ - TÍTULO,
RESUMO OU PALAVRAS-CHAVE
n = 773
n = 400
n = 152
n = 125
5 SÍNTESE DOS
TABELA SÍNTESE ARQUITETURA TEÓRICA
RESULTADOS
Fonte: O Autor
Transformar
Aproveitar
Estratégia
Barreiras
Sentir
Fonte: O Autor
Capacidades
dinâmicas
‘‘Perceber
‘‘Aproveitar’’ ‘‘Transformar’’ IMN
oportunidades’’
Fonte: O Autor
3.2.2 Conhecimento
tivos modelos mentais, de maneira que se relaciona com a ação e interpretação (TSOUKAS;
VLADIMIROU, 2001). Logo, distingue-se conhecimento de informações e dados de forma que
informação e dados só são convertidos em conhecimento através da interpretação e julgamento
individual de itens e eventos, baseados em um determinado contexto ou teoria (TSOUKAS;
VLADIMIROU, 2001). Enquanto considera-se que dados são uma sequência organizada de itens
e eventos, como nomes de livros, as informações são consideradas como a organização desses
diferentes itens cuja relação entre si é explorada de forma que depende do contexto (TSOUKAS;
VLADIMIROU, 2001)
Nota-se, portanto, que diferentes indivíduos, apropriados de diferentes modelos mentais
que contêm diferentes teorias, crenças e valores, interpretarão de forma diferente a mesma
informação. Além disso, naturalmente considerarão diferentes pacotes de informação como
importantes. O estudo de Abebe e Myint (2018) ilustra bem essa situação, ao avaliarem as
diferentes composições de diversidade de função e de experiência na indústria em equipes de alta
gestão e como a pouca diversidade gera vieses cognitivos de seletividade de informações que
impedem a abstração para criação de novos MN (ABEBE; MYINT, 2018). De forma análoga,
Guo, Pang e Li (2018) salientam que a experiência e a baixa diversidade de conhecimento atuam
contra a criatividade no caso de IMN.
Exemplo de Polanyi (1962, p. 101) caracteriza bem esse processo ao citar o caso de
um estudante de medicina, durante um curso de análise de imagens de raio-X. A princípio, o
estudante observa em uma sala escura dois especialistas conversando sobre uma imagem do tórax
de um paciente, iluminada por uma luz fluorescente. Inicialmente, escuta esses especialistas
conversarem sobre diferentes aspectos dessa imagem em uma linguagem técnica. O estudante
no início do curso é incapaz de compreender e enxergar como os especialistas analisam, e não
possui conhecimento sobre as diferentes tonalidades de cor presentes na imagem e o que estas
significam.
Substancialmente, o modelo mental incompleto do estudante o impede de interpretar a
informação com maestria. Contudo, ao longo do curso, conforme começa a aprender os diferentes
conceitos, a linguagem técnica, como identificar os diferentes órgãos, o que significam os detalhes
de cores do raio-X, a informação da imagem do tórax do paciente se torna evidente o estudante
consegue enxergar as diferentes patologias e aspectos fisiológicos presentes na imagem. Uma
informação extremamente valiosa e explicativa para alguns (como os professores e especialistas
nesse exemplo) pode não ter valor algum para outros (o estudante no início do curso) e, por
esse motivo, considerada como dependente do contexto (TSOUKAS; VLADIMIROU, 2001;
PRAJOGO; OKE, 2016).
Nonaka, Toyama e Nagata (2000) argumentam ainda que, sem enxergar a complexidade
das interações humanas, não é possível compreender a organização como uma entidade criadora
de conhecimento, além de como o conhecimento se torna um diferencial. Segundo os autores, a
60
MOSER, 2012).
Os segmentos de clientes, sejam eles já supridos de certa forma ou completamente ne-
gligenciados, são as principais partes interessadas durante o desenvolvimento de um novo MN
(JOHNSON; CHRISTENSEN; KAGERMANN, 2008). Identificar oportunidades em relação
às outras partes é relevante para potencializar o fluxo de valor gerado por um MN. Entretanto,
sem um segmento de clientes capaz de gerar receitas e, com isso, sustentar o desenvolvimento
de um negócio, este é impossibilitado (TEECE, 2017). As linhas de pesquisa de IMN têm,
portanto, forte correlação com oportunidades provenientes dos clientes, principalmente no que
diz respeito a aquisição e criação de conhecimento sobre estes. Em linhas gerais, compreender
melhor os clientes auxilia na percepção de como melhor modelar o negócio, bem como a oferta,
para satisfazê-los melhor. Consequentemente, ganhos de eficiência dentro da cadeia de valor e
atratividade impactam significativamente o sucesso do negócio (JOHNSON; CHRISTENSEN;
KAGERMANN, 2008; WU; GUO; SHI, 2013; RIES, 2011).
Desta forma, abordagens que podem ser agrupadas como a gestão do conhecimento dos
clientes, em geral visam encontrar oportunidades para melhor suprir segmentos já endereçados.
São formas de responsividade direcionadas pelo mercado. Enquanto criatividade e abstração (TE-
ECE; PETERAF; LEIH, 2016) são utilizadas para identificação de problemas não endereçados,
como em clientes do fundo da pirâmide e necessidades negligenciadas, ou como as tecnologias –
tanto as emergentes quanto as existentes – podem solucionar problemas desconhecidos até para
os próprios clientes, constituem as maneiras para se direcionar o mercado. Pode-se dizer que, em
termos de ambidestria (KHANAGHA; VOLBERDA; OSHRI, 2014), um visa “extrair” valor do
MN atual (exploitation), ou de um fluxo de valor já existente, enquanto o outro procura “explorar”
novas oportunidades de negócio (exploration), com o intuito de criar novos fluxos de valor.
“Perceber”, portanto estará relacionado a essas duas abordagens estrategicamente relevantes em
um ambiente turbulento (O’REILLY; TUSHMAN, 2008).
Propõe-se a utilização de sistemas de informação, como big data analytics (SORESCU,
2017; YANG et al., 2017) e marketing de conteúdo (MANSOUR; BARANDAS, 2017), da
própria gestão de conhecimento dos clientes (PYNNöNEN; HALLIKAS; RITALA, 2012; GüN-
ZEL; HOLM, 2013; WU; GUO; SHI, 2013), de ferramentas como co-criação, crowdsourcing,
inovação aberta (BREUER; LüDEKE-FREUND, 2017; CHESBROUGH, 2012; KOHLER, 2015;
HOVESKOG et al., 2017; ANGELI; JAISWAL, 2016; DAVIS; RICHARD; KEETON, 2015),
lean startup, customer development e de técnicas de criatividade como design thinking, para
criar conhecimento em relação aos segmentos de clientes. Ressalta-se que, similares aos procedi-
mentos relacionados às partes interessadas, os modos de aprendizado em relação aos segmentos
de clientes também estarão relacionados ao contexto.
Argumenta-se que a infraestrutura de informações da organização pode ser utilizada
como fonte de mineração de dados e informações relativas ao comportamento do segmento de
66
clientes (SORESCU, 2017; YANG et al., 2017; SCHNECKENBERG et al., 2017). Com isso,
é possível compreender a interface de relação entre clientes/MN, a fim de criar conhecimento
sobre suas necessidades, sobre usabilidade e satisfação e, a partir disso traduzir hipóteses de
IMN para endereçar os pontos identificados. Mansour e Barandas (2017) complementam que,
com o marketing de conteúdo em redes sociais, por exemplo, pode-se minerar informações de
preferências e comentários relevantes, de forma a gerar insights substanciais sobre formas de
aprimorar o MN. Em suma, sistemas de informação são uma importante ponte de contato para
criação de conhecimento em relação ao cliente a fim de gerar possibilidades de IMN.
Outros autores visam compreender a gestão do conhecimento dos clientes sem sistemas de
informação, mas com um relacionamento próximo e através de elementos habilitadores como
cultura, disseminação de conhecimento, diálogos, etc., de forma que seja possível a constante
busca por feedbacks que aumentem o conhecimento em relação ao cliente (WU; GUO; SHI,
2013). Co-criação e crowdsourcing, por exemplo, colocam o cliente em contato direto com a
organização. Com isso, este participa ativamente do desenvolvimento das atividades de criação,
proposição e entrega de valor, e até mesmo do produto/serviço. É possível, através dessas
abordagens, aumentar a assertividade das inovações, já que os clientes puxam diretamente a
demanda pelas melhorias (KOHLER, 2015) e as trocas de conhecimento são constantes.
A inovação aberta, por sua vez, inclui outras partes interessadas além dos clientes, bem
como tecnologias geradas tanto internamente quanto externamente, para trazer oportunidades
significativas para a organização (CHESBROUGH, 2012). A grande diferença é que a inovação
aberta abre as fontes de ideação tanto no início do processo inovativo, denominado de outside-in,
buscando ideias, novas tecnologias e interações frequentes com as partes interessadas que possam
resultar em insights qualificados sobre oportunidades de negócios. É possível também, através
dessa modalidade, a exportação de ideias, tecnologias, e até mesmo MN gerados pela organização
para fora (inside-out) com a intenção de que outros atores executem a inovação, papel do design
organizacional, e discutido melhor na subseção 3.2.7.
Ressalta-se o fato de IMN estarem diretamente relacionadas com processos de experi-
mentação e de aprendizado pela prática, baseados na ação. Embora também sejam aplicadas as
técnicas de causation, a incidência de incerteza dentro do contexto de IMN é elevada (BERENDS
et al., 2016), dado que geralmente está associada a inovações disruptivas, como criação de novos
mercados e destruição de outros. Claro que consiste em uma visão incompleta, já que o MN
dificilmente se estabilizará e serão necessários ajustes, ou “afinamentos”, constantes no MN que
resultarão em inovações principalmente incrementais. Com isso, nota-se a importância também
da utilização de técnicas para análises de causa e efeito com menos abstração para a contínua ino-
vação no MN (BERTELS; KOEN; ELSUM, 2015). Desta forma, Futterer, Schmidt e Heidenreich
(2017) argumentam sobre a importância do balanço entre causation e effectuation constantes para
que haja a gestão desse paradoxo de se buscar tanto ”exploitation” quanto ”exploration” de forma
67
IDEIAS
APRENDER CONSTRUIR
MVP
DADOS PoC
MEDIR
experiência das equipes incumbidas de realizar os IMN (KOEN et al., 2010) se enquadram em
formas de superar as barreiras de lógica dominante, pois influenciam a capacidade de absorção.
A composição das equipes, portanto, é um fator importante dentro dos processos de IMN.
Atrelado à obtenção de informações está a forma com que estas são interpretadas, ou seja,
os quadros cognitivos (DEWALD; BOWEN, 2010; OSIYEVSKYY; DEWALD, 2015). Segundo
Osiyevskyy e Dewald (2015), a percepção de turbulências como oportunidades e o nível de
urgência relacionado, auxiliam na resiliência (DEWALD; BOWEN, 2010) e no direcionamento
para IMN, enquanto a percepção de que é uma ameaça gera comportamentos defensivos e
movimentos adaptativos (SHORT et al., 2014).
Outros fatores cognitivos como a orientação exploratória empreendedora, tomada de risco
e bricolagem empreendedora (resourcefulness) (AUTIO, 2017; GUO; SU; AHLSTROM, 2016;
SPIETH; MEISSNER, 2018; ERNKVIST, 2015; SCHINDEHUTTE; MORRIS; KOCAK, 2008)
são microfundações que auxiliam o sucesso das técnicas e da aplicação dos diferentes modos
de aprendizado. Isso pois a orientação exploratória para lidar com incertezas demanda uma
aceitabilidade para a tomada de riscos, já que há incertezas envolvidas, bem como a orquestração
dos recursos disponíveis para montar as equipes ideais para execução de tais projetos (GUO;
SU; AHLSTROM, 2016; ARBUSSA; BIKFALVI; MARQUèS, 2017). A correlação é direta e
desdobra de fatores culturais como uma orientação positiva ao futuro e a percepção de que o
ambiente é gerenciável e mutável. De forma que o “sempre foi feito assim”, ou seja a lógica
dominante, seja superado (SCHEIN, 2010).
Em geral, outras questões culturais, consideradas chave para IMN (BUCHERER; EI-
SERT; GASSMANN, 2012; MARTIN-RIOS; PARGA-DANS, 2016; BOCK et al., 2012; WEST;
WIND, 2007; KASTALLI; LOOY; NEELY, 2013; HERRERA, 2016; ALEGRE; BERBEGAL-
MIRABENT, 2016; SCHINDEHUTTE; MORRIS; KOCAK, 2008; ERNST; ESCHE; ERBSLöH,
2016; WADIN; AHLGREN; BENGTSSON, 2017; HOCK; CLAUSS; SCHULZ, 2016; LAU-
DIEN; DAXBöCK, 2017b) são exploradas; os elementos base citados são: aprendizado e trabalho
em equipes multidisciplinares (amplitude de conhecimento), visão compartilhada, capital so-
cial e liderança (HOVESKOG et al., 2017; GEISSDOERFER; BOCKEN; HULTINK, 2016;
WEISSBROD; BOCKEN, 2017; BREUER, 2013; GORISSEN; VRANCKEN; MANSHOVEN,
2016). As questões culturais que habilitam/inibem as capacidades dinâmicas são explorados em
detalhes na subseção 3.2.6.
A Figura 13 contém o resumo das proposições relacionadas à capacidade de ”perceber”.
São separadas em oportunidades decorrentes do fluxo de valor e dos conhecimentos do macro e
microambiente e tecnologias, seja para “exploitation” como para “exploration”. Os habilitadores
e barreiras são decorrentes do fluxo de conhecimento, moderados pela cultura e pelos fatores
cognitivos.
72
Capacidades
dinâmicas
‘‘Perceber’’
oportunidades
(fluxo de valor) - Tecnologias,
macro e microambiente,
conhecimento sobre MN, modos de ‘‘Apoveitar’’ ‘‘Transformar’’ IMN
aprendizado e clientes;
Habilitadores/barreiras:
(fluxo de conhecimento) - fatores
cognitivos, cultura
Fonte: O Autor
entre a proposta de valor e o segmento de clientes, e é proposto que seja o primeiro passo no
design de um novo MN (LANDAU; KARNA; SAILER, 2016). Assim como a capacidade de
“perceber”, trata-se de um processo de conhecimento intensivo, onde é salientada a aplicação
de modos de aprendizado adequados para a coleta de informações relevantes dos experimentos
(WEISSBROD; BOCKEN, 2017), de forma que resulte em aprendizado de conhecimentos aplicá-
veis para evolução do processo (ANDRIES; DEBACKERE, 2013). Além disso, o envolvimento
das pessoas certas para obtenção de feedbacks relevantes.
Propõem-se diferentes ferramentas para a execução dessa etapa; dentre elas estão: design
thinking (GEISSDOERFER; BOCKEN; HULTINK, 2016; OGILVIE, 2015; TäUSCHER; AB-
DELKAFI, 2017), customer development (BALDASSARRE et al., 2017), lean startup (RIES,
2011; BALDASSARRE et al., 2017; BREUER; LüDEKE-FREUND, 2017) e brainstorming
(TäUSCHER; ABDELKAFI, 2017), uma vez que são técnicas para a criatividade (AMABILE;
PILLEMER, 2012). Relevantes ao processo são a capacidade de aprendizado, e o trabalho em
equipes, fatores que podem ser derivados diretamente da criatividade (AMABILE, 1983), pois a
união de diversidades culturais e de conhecimento aumenta o sucesso das atividades propostas
de criatividade (BALDASSARRE et al., 2017; OSBORN, 1953).
A mobilização das equipes adequadas para execução dessas atividades é crucial para apro-
veitamento máximo da ideação (OGILVIE, 2015; TäUSCHER; ABDELKAFI, 2017; MARTIN-
RIOS; PARGA-DANS, 2016). Argumenta-se que as equipes multidisciplinares, providas de
uma visão compartilhada, potencializam substancialmente a ideação de novos MN (BREUER;
LüDEKE-FREUND, 2017). Complementar a esse pensamento, Gorissen, Vrancken e Manshoven
(2016) enaltecem a importância de envolver as diferentes partes interessadas durante o processo
de ideação, de forma que algumas hipóteses sobre o comportamento dos atores do ecossistema
de negócio sejam validadas durante o processo. A experimentação é facilitada pela colaboração
dessas partes interessadas que, por sua vez, aumentam a eficácia do design do MN.
A operacionalização da proposição de encaixe entre proposta de valor e segmento de
clientes será, invariavelmente, realizada por uma equipe (EBEL; BRETSCHNEIDER; LEIMEIS-
TER, 2016a). A composição da equipe é chave para o máximo aproveitamento dos ciclos de
aprendizado para modelar tal encaixe, de forma a adaptar tanto a proposta de valor quanto o
segmento de clientes. Osiyevskyy e Dewald (2015) e Mateu e March-Chorda (2016) demonstram
como a diversidade de experiência da equipe de IMN influencia na capacidade de abstração e
aprendizado das equipes. Enquanto Souto (2015) escreve sobre a construção de conceitos de
negócio diferentes a fim de mudar a mentalidade (mindset) dos envolvidos para que haja pouca
interferência negativa da experiência destes e, consequentemente, para que se possa superar a
dependência de trajetória, comum em incumbentes (BOHNSACK; PINKSE; KOLK, 2014).
Após os ciclos iterativos entre “perceber” e “aproveitar” e de encontrar uma união entre
uma proposta de valor, seja ela um produto ou um serviço, com seu segmento de clientes, Landau,
74
Karna e Sailer (2016) propõem que uma arquitetura de receitas adequada seja desenhada, uma
vez que, após ser consolidada uma verdadeira oportunidade, será necessária a mobilização de
recursos para ser possível a execução do MN (TEECE, 2017). Mobilizar uma equipe e provê-la
com as condições necessárias para validar as hipóteses de oportunidade e solução, são ações que
consomem recursos tanto tangíveis, como investimentos, quanto intangíveis, como o próprio
capital humano direcionado para essa finalidade (ENGEL, 2011). Da mesma forma, Halme e
Korpela (2014) observam que todas as empresas que obtiveram sucesso com IMN, analisadas
em seu estudo de múltiplos casos, só foram capazes de aproveitar oportunidades através de
equidade de capital e financiamento. Em suma, sem a mobilização de recursos e garantia de
financiamentos necessários, as IMN ficam “só no papel”.
Isto ocorrerá tanto no caso de novos entrantes como no caso de incumbentes que buscam
novos negócios (KOEN et al., 2010), uma vez que, enquanto novos entrantes não têm outro MN
para executar e direcionam, desse modo, toda a atenção de seus empreendedores fundadores
para essa função, incumbentes precisam orquestrar os recursos que têm em mãos para buscar
novos negócios de forma bem-sucedida, ao passo que sem mantém o crescimento do negócio
atual (ENGEL, 2011). No primeiro caso, buscam-se investimentos através de capital de risco
e investidores. No segundo, é possível tanto a busca por investimentos externos como a busca
por internos (ENGEL, 2011; BOHNSACK; PINKSE; KOLK, 2014). Independente do contexto,
Engel (2011) argumenta que esse investimento deve ser escalonado: quanto mais se valida e
constrói o MN, maior a quantidade de recursos financeiros engajada. Ou seja, para a validação
inicial de proposta de valor e segmento de clientes, são sugeridos recursos limitados para que
não se utilize mais capital do que o necessário, além da busca por compreender as hipóteses
críticas para a existência do negócio (RIES, 2011).
Khanagha, Volberda e Oshri (2014) complementam ainda que, no caso de incumbentes, é
importante compreender como o MN utilizado no momento e o novo se relacionam em termos
de complementaridades e conflitos, uma vez que a existência de conflitos, como a canibalização
direta, irá impactar negativamente o relacionamento entre a equipe de IMN e as equipes de
execução do corrente. Esse fator está relacionado à ambidestria, já que envolve exploração e
gestão de múltiplos MN (KHANAGHA; VOLBERDA; OSHRI, 2014). Uma visão compartilhada
auxilia na redução desses conflitos, bem como na possível identificação de como aproveitar
sinergias entre os MN (MARKIDES, 2013). Fatores melhor explorados na visão estratégica de
“aproveitar”, contidos na subseção 3.2.7.
Salienta-se também que, dependendo do contexto em que a IMN ocorre, principalmente
em inovações disruptivas, existe muitas vezes a necessidade de não apenas coletar feedbacks,
mas também influenciar os comportamentos dos envolvidos (ERNKVIST, 2015; AVCI; GIRO-
TRA; NETESSINE, 2015). Uma nova tecnologia, como walkman, por exemplo, necessitou que
influenciadores o utilizassem para reduzir as incertezas nas mentes dos consumidores sobre andar
75
com um fone no ouvido, que era anormal para a época. Avci, Girotra e Netessine (2015) sugerem,
portanto, a análise da taxa de adesão da nova tecnologia como habilitadora ao MN, uma vez que
esta aumentará significativamente o tamanho do mercado, chave para os investimentos e sucesso
de um novo negócio (ENGEL, 2011).
Conforme definição adotada por este trabalho, um MN consiste na “arquitetura de criação
e entrega de valor e os mecanismos utilizados para capturar parte desse valor” (TEECE, 2010).
A primeira etapa aqui explorada diz respeito à proposta de valor, segmento de clientes e a
arquitetura de receitas. Embora sejam considerados os elementos chave para que o desenho dos
elementos de criação e entrega de valor seja justificado (LANDAU; KARNA; SAILER, 2016),
não representam a totalidade de um MN. Eles fazem parte do início do ciclo de vida de um MN,
conforme a jornada proposta por Christensen, Bartman e Bever (2016). Seguindo o raciocínio
desta jornada, a próxima etapa consiste na modelagem dos recursos e processos subjacentes a
esse novo MN.
Os estudos que focam neste quesito foram agrupados dentro do assunto de RBV e design
organizacional. Sustentar a inovação requer criação de valor para materializar a ideia validada
de uma oportunidade de IMN (CHRISTENSEN; BARTMAN; BEVER, 2016). Executar uma
proposta de valor demandará, portanto, uma combinação de atividades executadas através da
alavancagem dos recursos disponíveis (LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b). Novamente a compara-
ção entre Uber e táxis ilustra bem esse quesito. Segundo Teece (2017), os táxis não copiaram o
MN da Uber, pois não tinham competências de TI necessárias para o desenvolvimento e gestão
de uma plataforma online. Entretanto, novos entrantes como o 99taxi podem complementar os
recursos e competências dos táxis, e consequentemente tornar possível a competição direta e a
redução dos custos de transação através da plataforma. Uma combinação de parceiros dentro
da rede de valor permitiu que a criação de valor fosse possível, fato diretamente relacionado às
questões de RBV e design organizacional (FJELDSTAD; SNOW, 2017).
A análise de recursos, capacidades e competências (RBV) é chave durante o processo de
design da criação de valor do MN (OGILVIE, 2015; LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b), já que tem
como objetivo determinar se estes serão desenvolvidos internamente ou externamente, através de
parceiros, em um processo de “abrir o MN” (YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA,
2010; CHESBROUGH, 2012). Günzel e Holm (2013) corroboram essa visão, e posicionam
que o MN é composto por um front-end e por um back-end. O primeiro é o contato com o
cliente, endereçado pelas técnicas e aprendizados aqui já explorados para proposta de valor,
segmento de clientes e arquitetura de receitas. Já o back-end diz respeito às atividades que
sustentam o front-end e demandam a análise do RBV, conflitos e complementaridades para
ocorrer. Consideram-se, também, aspectos como reputação e consciência da existência do novo
MN como recursos relevantes para o sucesso do novo MN (SNIHUR, 2016). Visto que, muitas
vezes, mesmo que resolva um problema real, ou uma necessidade de um segmento de clientes,
76
para que este seja disseminado e cresça é necessário que haja conhecimento sobre sua existência
(SNIHUR, 2016). De forma que reputação e imagem influenciam a confiança do mercado
no MN e, consequentemente, as transações (SOUSA-ZOMER; CAUCHICK-MIGUEL, 2017;
BRADLEY et al., 2012)
Por se tratar, porém, de IMN compostas muitas vezes por propostas de valor completamente
novas, muitas vezes não é possível saber quais atividades, recursos e competências, bem como
quais os mecanismos exatos de captura e entrega de valor são necessários (SOSNA; TREVINYO-
RODRíGUEZ; VELAMURI, 2010), principalmente por conta de incertezas e ambiguidades
presentes nesse contexto. Destarte, o MN inicial desenhado para aproveitar a oportunidade pode
ser significativamente diferente do MN final (BOHNSACK; PINKSE; KOLK, 2014), processo
de adaptação que sucede a etapa de descoberta, denominado de “afinamento” do MN, no qual há
constante experimentação e aprendizado com todos os elementos do MN.
Segundo Bertels, Koen e Elsum (2015), os principais erros durante a realização de uma
IMN não estão no encaixe entre produto e mercado, mas no alinhamento dos outros elementos
do MN. Segundo os autores, esse fato está atrelado a vieses cognitivos relacionados à como um
negócio deve ser conduzido, ou seja, os canais conhecidos e bem-sucedidos em outros MN, ou
as arquiteturas de receita tradicionais, bem como a estrutura física e das atividades. Esses vieses
geram por consequência MN subotimizados. Portanto, ciclos constantes de aprendizado são
necessários para continuamente descobrir quais canais, quais mecanismos de captura valor, quais
atividades, recursos e competências chave, bem como quais parcerias e alianças apresentam
desempenho superior, maiores complementaridades e menos conflítos (SOSNA; TREVINYO-
RODRíGUEZ; VELAMURI, 2010; CHESBROUGH, 2010; NAOR; DRUEHL; BERNARDES,
2018; ERNKVIST, 2015; KHANAGHA; VOLBERDA; OSHRI, 2014; LAUDIEN; DAXBöCK,
2017b; REUVER; BOUWMAN; HAAKER, 2013; BREUER; LüDEKE-FREUND, 2017).
Devido às incertezas e à necessidade de constantemente validar o MN desenhado, algu-
mas abordagens são propostas para aumentar a eficácia desse processo (BREUER; LüDEKE-
FREUND, 2017; HAAKER et al., 2017; OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010; GROESSER;
JOVY, 2016; GIROTRA; NETESSINE, 2013; ZHANG et al., 2017; FRANçA et al., 2017;
HERRERA, 2016). Essas abordagens contam com o fator comum de desenhar múltiplos MN
para a oportunidade, seguido de abordagens para “testar” quais modelos têm mais chances de
serem bem-sucedidos e, assim, priorizar quais testes serão realizados na prática. Em geral, se
propõe o planejamento de cenários aliado a técnicas específicas como testes tanto quantitativos,
através de softwares de teste de exaustão (HAAKER et al., 2017) e de dinâmica de sistemas
(visão sistêmica) (GROESSER; JOVY, 2016), quanto qualitativos, como análises estratégicas de
causa e efeito (FRANçA et al., 2017). Todos voltados a reduzir as incertezas ao embasar os MN
mais prováveis de funcionar.
Do ponto de vista estratégico, explora-se principalmente as questões de proteção do
77
novo MN em seu início de ciclo de vida. Além do design e “afinamento” do MN até seu
desenvolvimento, existe a importância de protegê-lo em seu início de vida (TEECE, 2017).
Mesmo que o novo MN tenha um encaixe entre produto e mercado, e constantes ciclos de
aprendizado o melhorem, este causará impacto no ecossistema. Indústrias correlacionadas
afetadas pelo MN irão responder à sua entrada, seja defensivamente, seja para imitar o MN e
aproveitar o novo mercado (CASADESUS-MASANELL; ZHU, 2013). Caso não haja proteção
de alguma forma e alavancagem de recursos para seu crescimento, é provável que o novo MN não
sobreviva a esses fatores. Estrategicamente, existe a necessidade de considerar como este será
protegido. Esses aspectos estratégicos são explorados com maior profundidade na subseção 3.2.7
de estratégia.
Dentre as barreiras e habilitadores para “aproveitar” estão as questões culturais relacionadas
ao fluxo de conhecimento e às questões estratégicas (LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b). De forma
isolada, um fluxo de conhecimento ótimo pode não ser suficiente para o sucesso da IMN. Claro
que diferentes circunstâncias irão viabilizar ou não essa situação, já que novos MN inerentemente
complexos sistemicamente aumentarão a taxa de sucesso de IMN, mesmo sem uma estratégia
de implementação ótima. Porém em outros casos em que não há complexidade, cuja imitação é
mais fácil, dependerão de ambas as abordagens.
Em termos de fluxo de conhecimento, nota-se que o “aproveitar” está diretamente relacio-
nado à criatividade, ao aprendizado e à modelagem de negócio (TEECE, 2017). Aprendizado em
equipes, visão compartilhada, capital social e liderança também são considerados fatores que
afetarão positiva ou negativamente esse processo (LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b). Nota-se que,
dentro dele, existem múltiplos e constantes ciclos de abstração e aprendizado, cuja saída é um
MN. Conhecimento sobre MN auxilia a superar barreiras cognitivas como a de não esperar a
necessidade de mudar a forma tradicional de como as coisas são feitas (REMANE et al., 2017).
Além disso, potenciais conflitos entre o novo MN e o corrente podem resultar em inércia
organizacional (CHESBROUGH, 2010). Compreende-se que existe uma oportunidade, sabe-se
como se aproveitar essa oportunidade, porém, como o novo MN gera conflitos com o MN
corrente, de forma a modificar as atividades, algumas posições serão extintas e os envolvidos
simplesmente não terão interesse aparente em dar sequência no processo. Foss e Saebi (2017b)
analisam que, neste cenário, levando em conta a aversão ao risco explorado por Kahneman
(2011), os envolvidos nestas posições de mudança podem “desproporcionalmente atuar contra a
IMN”. Esse fator é denominado de inércia organizacional.
Ele está posicionado na intersecção entre as capacidades de “aproveitar” e “transformar”. A
gestão da mudança organizacional, bem como a liderança associada, são maneiras propostas por
Chesbrough (2010) para superar a inércia organizacional. A próxima seção tratará da próxima
etapa do processo de IMN: após deter um MN adequado e protegido, a replicação de forma a
sustentar o crescimento do negócio e aumento de eficiência, o estabelecimento de rotinas e o
78
Capacidades
dinâmicas
‘‘Perceber’’ ‘‘Aproveitar’’
Opordunidades Design do MN
(fluxo de valor) - tecnologias, macro Mobilização de recursos e
e microambiente, conhecimento investimentos, formulação
sobre MN, modos de aprendizado, de equipes, parcerias, ‘‘Transformar’’ IMN
clientes. experimentação, modos de
Habilitadores/barreiras aprendizado.
(fluxo de conhecimento) - fatores Habilitadores/barreiras
cognitivos, cultura cultura/ estratégia
Fonte: O Autor
demonstram que uma estrutura flexível, sem paredes, com fácil mobilidade das estações de
trabalho aumenta a capacidade de mudança e adaptação da organização. Em termos de “prontidão”
para a mudança levantada por Weiner (2009), a percepção dos colaboradores de que a mudança
será positiva e o alinhamento das visões são fatores cruciais para quebrar a inércia. Segundo
Kastalli, Looy e Neely (2013), os sistemas de gestão de desempenho também contribuem para
o processo de mudança, já que os colaboradores são contabilizados por estes. Pode-se dizer
que os sistemas de gestão de desempenho são uma forma de comunicar a estratégia, e de
desenvolver visão e linguagem compartilhadas (KAPLAN; NORTON, 1996). Esses fatores
agregados denotam a relevância do desenvolvimento do capital social para habilitar a capacidade
de transformar.
Sousa-Zomer e Cauchick-Miguel (2017) e Ogilvie (2015) apontam para a necessidade de
análise estratégica quanto a quais novos recursos serão desenvolvidos internamente e quais serão
realizados através de parceiros. Adicional às mudanças necessárias, estão o desenvolvimento de
novas competências, treinamentos, que são em geral custosos para a organização. Ogilvie (2015)
argumenta que, para atividades consideradas estrategicamente relevantes, os recursos devem ser
desenvolvidos internamente, enquanto atividades não estratégicas, através de parceiros. Essas
decisões estão relacionadas ao design organizacional e vinculadas ao processo de gestão de
mudança.
Vale ressaltar que, tanto para mudança e desenvolvimento internos, quanto para parcerias,
os fatores culturais como a liderança, o capital social, a motivação, a visão sistêmica e a autonomia
são relevantes. Isso pois para mudança e desenvolvimento interno, serão necessários liderança e
modelos de contratação adequados, para garantir a motivação necessária para os aprendizados
fundamentais, bem como o capital social atrelado à visão compartilhada e percepção positiva
à mudança. Quanto às parcerias, serão necessárias trocas de conhecimento e de trabalho em
equipes para que aquelas sejam bem aproveitadas.
Outro ponto importante relacionado ao design organizacional são as decisões sobre apro-
veitar ou licenciar a inovação (TEECE; LINDEN, 2017), visto que, novos MN que apresentam
características conflitantes, têm necessidades elevadas de desenvolvimento de recursos, e, com
eles, novas unidades de negócio. Desta forma, estes novos negócios podem ser melhor aproveita-
dos através do licenciamento da inovação, ao invés de explorar internamente seu desenvolvimento.
Markides (2013) ressalta que, nestes casos, é de suma importância desenvolver um relaciona-
mento frutífero entre a organização focal e a organização que executará a inovação através do
licenciamento, com o intuito de se explorar sinergias entre as partes.
De forma resumida “transformar” diz respeito à capacidade de implementar as mudanças,
seja internamente ou através de parcerias, com diferentes combinações de recursos (FEILER;
TEECE, 2014). Uma IMN somente ocorrerá caso seja implementada e, embora os estudos
tenham menos foco na capacidade de “transformação”, esta é crucial para a capacidade de IMN.
81
Capacidades
dinâmicas
‘‘Transformar’’
‘‘Perceber’’ ‘‘Apoveitar’’
Realinhamento das
Opordunidades Design do MN
atividades e recursos
(fluxo de valor) - tecnologias, macro Mobilização de recursos e
Gestão da mudança,
e microambiente, conhecimento investimentos, formulação
complementaridades e IMN
sobre MN, modos de aprendizado, de equipes, parcerias,
conflitos, RBV,
clientes. experimentação, modos de
alinhamento cultural,
Habilitadores/barreiras aprendizado.
design organizacional.
(fluxo de conhecimento) – fatores Habilitadores/barreiras
Habilitadores/barreiras
cognitivos, cultura cultura/ estratégia
cultura, liderança, inércia
Fonte: O Autor
da segurança psicológica e da confiança (EDMONDSON, 1999), o que por sua vez aumenta as
trocas de conhecimento, o diálogo (SENGE, 2014) e a eficiência de práticas como brainstorming
(OSBORN, 1953).
Em linha semelhante, Senge (2014) estuda as disciplinas de aprendizado em equipes,
visão compartilhada e modelos mentais. O aprendizado em equipes, segundo Senge (2014), está
relacionado também à abertura para as ideias a partir do diálogo ou, em outras palavras, ao
comprometimento com a verdade através de inquérito e pragmatismo e à comunicação relevante a
tarefas (SCHEIN, 2010). Esta depende diretamente do que Senge (2014) denomina de “balancear
inquérito e advocacia”.
Neste processo, os participantes do diálogo suspendem seus pontos de vista, questionam de
forma aberta os dados que os levaram a tal opinião para que, em grupo, seja possível modificar os
pontos de vista individuais e também os modelos mentais, a fim de se chegar a um ponto de vista
superior. Em outras palavras, durante a prática, não existe uma disputa para ver quem é dono
da verdade, mas a reflexão sobre os conhecimentos dos membros a fim de obter aprendizado
(SENGE, 2014) ou, a realização do double-loop learning (ARGYRIS, 1991).
A visão compartilhada diz respeito à mobilização dos membros a fim de atingir um objetivo
comum, de forma que todos os esforços estejam direcionados para o mesmo fim (SENGE, 2014).
A principal consequência está no comprometimento dos membros perante os processos de
aprendizado que levam a atingir esse objetivo, já que com a visão compartilhada há um aumento
da motivação intrínseca de cada um pelo bem de um objetivo maior, o da organização. Este
elemento também é estudado dentro do contexto de capital social (NAHAPIET; GHOSHAL,
1998; LEFEBVRE et al., 2016; DIXON, 2017). Halme e Korpela (2014), por exemplo, avaliam
como diferentes recursos habilitam as IMN e posicionam o capital social como crucial para
amplitude e trocas de conhecimento, necessárias para “percepção” de oportunidades; enquanto
Björk (2012) correlaciona o capital social com a criatividade e interação com atores fora das
fronteiras da organização, ideais para concepção de soluções (“aproveitar”), bem como a conexão
direta com a habilitação da gestão da mudança (“transformar”).
Segundo Nahapiet e Ghoshal (1998), o capital social é composto de três dimensões:
(1) relacional, representada por confiança; (2) cognitivo, representada por visão e linguagem
compartilhadas e; (3) estrutural, no que diz respeito à quantidade de redes de contato e interações
sociais estimuladas pela organização. Dentro deste contexto, segundo Li (2005) a confiança é
mais relevante para interações interorganizacionais, entre grupos e indivíduos mais próximos
entre si como na socialização, e a visão compartilhada é mais relevante para as interações
intraorganizacionais, ou seja, entre diferentes grupos e a organização.
Enquanto capital social, aprendizado em equipes e visão compartilhada dizem respeito às
interações sociais e o consequente compartilhamento de conhecimento, visão sistêmica e modelos
mentais se relacionam às capacidades individuais de aprendizado. A liderança e os modelos
83
de contratação irão afetar ambas as partes, tanto o coletivo quanto o individual. Dois fatores
importantes a serem afetados por essas variáveis são a motivação intrínseca e a proatividade
(SCHEIN, 2010). Em termos cognitivos, fala-se em tomada de risco para busca por oportunidades
e para a ação, com teste e validação de hipóteses. Logo, autonomia, seja ela aos indivíduos ou às
equipes, otimiza esses fatores (KARIMI; WALTER, 2016; VELU, 2017; HOVESKOG et al.,
2017) e, por consequência, as capacidades dinâmicas. Autonomia para tomada de decisões é um
dos fatores chave habilitadores da motivação no ambiente de trabalho (WULF; LEWTHWAITE,
2016). Sabe-se que, além disso, o aprendizado latente, ou verdadeiro, decorre diretamente da
motivação intrínseca (AMABILE, 1983).
Em termos de modelo de contração, Baron e Hannan (2002) analisaram diversas empresas
de tecnologia do Vale do Silício e demonstraram que das organizações que implementaram o
modelo de contratação por comprometimento, nenhuma foi a falência e todas tiveram suas ações
vendidas a público, ou seja, consiste no modelo com maior taxa de sucesso analisado. Embasado
na contratação por alinhamento das visões, adequação cultural e amor do candidato pela postura
da empresa, este modelo corrobora Senge (2014), já que a visão compartilhada só é desenvolvida
através do alinhamento entre a visão pessoal e a visão organizacional. O amor e a adequação à
tarefa a ser realizada impactam diretamente a motivação intrínseca e, desta forma, com base no
que foi exposto, impactam também o aprendizado e a proatividade.
Diferentes estilos de liderança são estudados na literatura, com o objetivo de realizar a
conexão com o aprendizado organizacional, como estudos de Krogh, Nonaka e Rechsteiner
(2012) e Cannatelli et al. (2016). O primeiro tópico analisado por Krogh, Nonaka e Rechsteiner
(2012) é a liderança baseada no exemplo (role modelling), no qual os modelos mentais dos
líderes, representados por suas ações, são refletidos no comportamento dos liderados (SCHEIN,
2010; KROGH; NONAKA; RECHSTEINER, 2012). Propõe-se que esse comportamento seja
conforme os pressupostos e disciplinas aqui já expostas, tanto para a liderança oficial quanto a
emergente.
Krogh, Nonaka e Rechsteiner (2012) ressaltam, porém, a importância da teoria da contin-
gência, que analisa como as interações do momento mudam a eficácia dos estilos de liderança
e sugerem, portanto, que o estilo de liderança deve variar conforme os problemas enfrentados.
Desta forma, Kodama (2005) defende a implementação de estilos de liderança dialéticos, ou
seja, esta pode ser forçada, estratégica ou criativa dependendo da situação. Dentro desta linha
de raciocínio, Krogh, Nonaka e Rechsteiner (2012) fazem a distinção principalmente dentre os
estilos de liderança transformacional e transacional.
Liderança transacional tem o foco em trocas entre líder e liderado, através das quais o
líder busca convencer o liderado a executar as tarefas em troca de benefícios, recompensas,
punição, entre outros (KROGH; NONAKA; RECHSTEINER, 2012), baseados na motivação
extrínseca. A liderança transformacional, por sua vez, se baseia na inspiração motivacional,
84
3.2.7 Estratégia
final da jornada. Gerenciar, portanto, o ciclo de vida do MN, significa tomar decisões sobre o
direcionamento das capacidades dinâmicas (LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b), a realização do
aumento de eficiência no MN atual, ou se será feita a exploração de MN diversos e, com isso,
gerir múltiplos MN ou mesmo a exploração de maneiras de mudar o MN atual ou, por fim, um
balanço entre todas as opções (LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b; CHRISTENSEN; BARTMAN;
BEVER, 2016; SCHNEIDER; SPIETH, 2013).
Cortimiglia, Ghezzi e Frank (2016) exploram esse quesito na tomada de decisão resultante
do planejamento estratégico, e concluem que decidir inovar o MN faz parte do final do processo,
após levar em conta as variáveis do macro e do microambiente da organização. Desta forma,
propõem que IMN são resultado do processo estratégico deliberado, ou top-down. Entretanto,
análises de oportunidades e ameaças, forças e fraquezas e sua consequente observação de uma
possibilidade de IMN são resultado também de ações emergentes, ou bottom-up (FJELDSTAD;
SNOW, 2017; LAUDIEN; DAXBöCK, 2017b). Assim, gerentes intermediários atuam como
ponte para traduzir a visão da linha de frente da organização com a alta gestão (TAKEUCHI;
NONAKA, 2009). Como consequência desta união, amplificar a abrangência para percepção de
oportunidades de IMN, visto que a diversidade cultural e de conhecimento impactam significati-
vamente a capacidade de absorção. Torna-se relevante, neste cenário, a compreensão das teorias
da alta gestão, a fim de se entender as condições para que isso ocorra.
Em suma, a combinação de considerações tanto deliberadas quanto emergentes, portanto,
fazem parte da estratégia de quando e por que realizar uma IMN. Além disso, Kindström e
Ottosson (2016) argumentam que o alinhamento estratégico e a visão compartilhada auxiliam a
capacidade de identificar a necessidade de IMN, seja por ações deliberadas ou por emergentes.
Dessa maneira, essa linha de pesquisa precede as capacidades dinâmicas de IMN, pois
irá direcionar seu desenvolvimento. Determinar, por exemplo, que o MN ainda está em uma
etapa do ciclo de vida de crescimento significa direcionar a atenção de IMN para um “motor”
(engine) de geração de negócios paralelos, com desenvolvimento de novos MN (CHRISTENSEN;
BARTMAN; BEVER, 2016). Outro caso seria um MN no final de seu ciclo de vida, o que
direcionará a atenção para a busca por um novo MN para substituí-lo. Claro que uma combinação
das duas ações é considerada crucial em ambientes turbulentos e voláteis, fato que é foco da
linha de pesquisa de ambidestria – exploitation, evolutivo e melhorado, e exploration, criativo e
gerador de novos MN.
A ambidestria leva em consideração justamente o aspecto da necessidade em se orquestrar,
ao mesmo tempo, mecanismos de “exploitation” do máximo de valor possível do modelo atual,
de forma a aumentar sua eficiência, e mecanismos de “exploration” de novas oportunidades de
negócio. Está relacionada a uma gestão de múltiplos MN, bem como às decisões estratégicas de
como buscar novas sinergias entre os diferentes MN gerados e explorar os recursos desenvolvidos
para um MN em outro MN (como, por exemplo, a equidade da marca, capital humano, aspectos
86
ao novo MN no início do seu ciclo de vida. Dentre as observadas estão: proteção por pro-
priedade intelectual ou patentes de métodos de negócio, quando aplicável, já que MN não
podem ser patenteados (DESYLLAS; SAKO, 2013; AN; HAN; PARK, 2017); a diferenciação
e proteção contra imitação, bem como o tempo ideal para inclusão do novo MN no mercado
(CASADESUS-MASANELL; ZHU, 2013; TEECE, 2017; MARTIN-RIOS; PARGA-DANS,
2016); alavancagem de recursos externos para habilitar o desenvolvimento do MN (BOHNSACK;
PINKSE; KOLK, 2014), e, por fim, influenciar regulamentações para permitir a entrada com o
novo MN (ERNKVIST, 2015).
Proteção por propriedade intelectual é explorada principalmente no contexto de patentes
de métodos de negócio. São aplicáveis em contextos específicos, de forma que não são todos os
países que têm esse processo regulamentado, além de, mesmo onde regulamentados, estarem
geralmente relacionados ao contexto de MN que são sustentados por tecnologias de informação
e comunicação (DESYLLAS; SAKO, 2013; AN; HAN; PARK, 2017). Um MN que é habilitado
por uma plataforma em um aplicativo de celular é um exemplo. Em casos mais gerais, estratégias
de proteção contra imitação e momento de imersão do novo MN são mais aplicáveis.
Martin-Rios e Parga-Dans (2016) exploram as condições em que MN com poucos ele-
mentos de diferenciação e baixa complexidade são facilmente imitados por competidores. Desta
forma, a vantagem competitiva derivada de um movimento preemptivo não é aproveitada pelo
primeiro entrante, mas pelo que o imita rapidamente (MARTIN-RIOS; PARGA-DANS, 2016).
O pioneiro arca com os custos de explorar uma oportunidade envolta com incertezas, enquanto o
imitador rápido aplica estratégias comuns de gestão de risco. Casadesus-Masanell e Zhu (2013)
corroboram o estudo de Martin-Rios e Parga-Dans (2016), e demonstram que, no caso de IMN
não complexa, o tempo de entrada é crucial, uma vez que um concorrente só é capaz de imitar um
MN após verificar sua existência; portanto, escolher quando competir com o novo MN mostra-se
chave para “aproveitar” a oportunidade.
Em linha semelhante, Bohnsack, Pinkse e Kolk (2014) avaliam que, no começo do ciclo
de vida, um MN irá mudar muitas vezes, e os mecanismos de receita e sobrevivência nesta etapa
são diversos. Encontrar diferentes estratégias de monetizar com o MN até obter um mercado
substancial é considerado crucial para a sobrevivência de um novo MN. Bohnsack, Pinkse e Kolk
(2014) citam o exemplo da Tesla, que em seu início de vida monetizou através de parceria com a
Honda para obtenção de créditos de carbono oferecidos no estado da Califórnia. Fato que não faz
parte do MN atual da Tesla, mas que foi uma estratégia crucial para proteger o MN em seu início
de vida. Ernkvist (2015) avalia a atuação estratégica da organização para deliberadamente alterar
as regulamentações atuais que possam operar contra o estabelecimento do MN. Essas linhas
de pesquisa estão diretamente relacionadas à capacidade de “aproveitamento” e na respectiva
mobilização necessária de recursos.
A visão baseada em recursos da organização (RBV) consiste na busca por explicar os
88
fatores que levam à vantagem competitiva sustentável (BARNEY, 1991; GRANT, 1991; PE-
TERAF, 1993). Para isso, considera as organizações como pacotes de recursos que são por
natureza heterogêneos e, muitas vezes, idiossincráticos – têm valor apenas em uma determinada
situação e quando movida perde esse valor (um capital humano que rende muito em uma equipe
específica de uma organização pode não ter valor algum em outra equipe e/ou organização)
(TEECE; PISANO; SHUEN, 1997). Isso é relevante para a pesquisa de IMN pois corrobora a
visão sistêmica de MN.
A complexidade de um MN e a resultante diferenciação e dificuldade de imitação estão cor-
relacionadas com a complexidade de suas inter-relações e complementaridades de recursos. Além
disso, a execução de diferentes MN requerem diferentes recursos e capacidades (KINDSTRöM;
OTTOSSON, 2016). Por isso, “aproveitar” e “transformar” são capacidades que necessitam
desses recursos, sejam eles criados internamente ou resultantes de parcerias. Além disso, aspec-
tos como flexibilidade estratégica são habilitados pelos recursos e capacidades da organização
(ARBUSSA; BIKFALVI; MARQUèS, 2017), bem como as capacidades dinâmicas são também
potencializadas pelas capacidades operacionais decorrentes desses recursos (FEILER; TEECE,
2014).
O conhecimento em relação aos recursos, sejam eles tangíveis ou intangíveis, permite não
só a implementação de um novo MN através do enxergar as lacunas existentes e desenvolver
planos de ação para endereçá-las, como também com a identificação de possíveis pontos fracos,
necessidades de parcerias e configurações de conhecimento, pontos-chave para a determinação
de iniciativas adequadas tanto para “percepção” de oportunidades como para ser possível aplicar
as técnicas de criação de conhecimento e aprendizado adequadas. Burton, O’Connor e Roos
(2013) e Roos e O’Connor (2015) propõem justamente uma ferramenta para auxiliar essa
análise de recursos, competências e capital intelectual – a combinação entre capital humano,
organizacional e social. Aspectos relevantes como cultura organizacional fazem parte dos recursos
da organização e, portanto, a análise cultural e a configuração de conhecimento também fazem
parte da estratégia baseada na RBV.
Os autores de IMN, em geral, chamam a atenção para a importância da questão de recursos
relacionados a IMN (YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA, 2010; TEECE, 2017).
Consequentemente, os recursos são habilitadores da capacidade de IMN e, por isso, as diferentes
formas de integrar e interagir com as diferentes partes interessadas, sejam internas ou externas,
têm potencial relação direta com a capacidade de IMN.
O Design Organizacional é uma linha estratégica de pesquisa ainda pouco explorada.
Desta forma, artigos que não tratavam do assunto explicitamente como “design organizacional”
também foram considerados, uma vez que se notou que endereçam a mesma questão. Design
organizacional diz respeito a tomadas de decisão cruciais como “licenciar ou praticar a inovação,
insourcing ou outsourcing e a construção de um ecossistema de negócio” (TEECE; LINDEN,
89
2017).
Isso posto, os estudos focam principalmente na distribuição e definição de atores (parceiros)
para realização de diferentes atividades e desenvolvimento de recursos (FJELDSTAD; SNOW,
2017; AYALA et al., 2017; MAGLIO; SPOHRER, 2013; HERRERA, 2016; OGILVIE, 2015)
e para redução de complexidade organizacional (BOCK et al., 2012). O primeiro diz respeito
ao network de atores que executarão as diferentes atividades ao longo do desenvolvimento de
um novo MN. Enquanto o segundo trata da estrutura de atividades gerenciadas e a respectiva
demanda por atenção do capital humano para sua execução.
Fjeldstad e Snow (2017) denominam essa definição de atores como configuração de valor, e
a separam em cadeia, shop e rede de valor. Cadeia de valor é a tradicional cadeia de suprimentos e
relacionamentos de fornecedor e cliente. Shop de valor é uma atividade como o crowdsourcing e
co-criação, nos quais as diferentes partes interessadas (stakeholders) participam deliberadamente
da construção do valor. Rede de valor diz respeito ao posicionamento de conectar fornecedores
a clientes como no caso de uma plataforma, por exemplo como a Uber. Essa integração de
diferentes atores realizando diferentes serviços altera a arquitetura de como o valor é criado,
proposto e distribuído, e, portanto, está relacionada a questões estratégicas para IMN.
Ogilvie (2015) apresenta um caso que utiliza dessas questões para otimizar a colaboração
de diferentes partes durante o processo de IMN. Segundo o autor, com a mesma visão de
Ayala et al. (2017), a diversidade de competências e recursos proveniente de diferentes partes
guiadas por um mesmo objetivo aumenta as chances de sucesso de uma IMN. Assim, o design
organizacional é considerado crucial para “perceber”, “aproveitar” e “transformar”, uma vez
que “perceber” está relacionado a informações e conhecimento e principalmente à diversidade
de conhecimento. Integrar fontes de conhecimento de fora para dentro (outside-in) em forma
de inovação aberta, por exemplo, incorpora diferentes atores com diferentes conhecimentos e
otimiza, assim, a criatividade. Por outro lado, após a identificação de oportunidades, diferentes
atividades e recursos são necessários para uma organização ser capaz de “aproveitá-las”. A
realização e o desenvolvimento destes somente internamente é, além de custoso, lento. Por isso, é
necessária a abertura do modelo com parceiros (YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA,
2010; AYALA et al., 2017) através da formação de redes colaborativas, que complementam o
fluxo de conhecimento e de capacidades (LOSS; CRAVE, 2011). Por fim, “transformar” nem
sempre significa explorar a inovação internamente, sendo possível transferí-la ou até mesmo
licenciá-la, em uma trajetória de inovação de dentro para fora (inside-out) (CHESBROUGH,
2012).
Existem, além do exposto, outras consequências desdobradas do design organizacional.
Bock et al. (2012), West e Wind (2007), Carayannis, Sindakis e Walter (2015) avaliam os
impactos destas decisões em relação à atenção gerencial e nas conexões sociais, transferências e
criações de conhecimento e cultura. O primeiro é correlacionado com a busca e interpretação de
90
Estratégias
Fonte: O Autor
4 ESTUDO DE CASO
O presente capítulo contempla o estudo de caso único, com o intuito de direcionar a pare
prática da questão de como desenvolver a capacidade de IMN. Esta etapa metodológica consiste
em uma avaliação que tem por objetivo confirmar, desafiar ou amplificar a visão teórica com
base em múltiplas fontes de dados que, trianguladas, tornam reais os conceitos apresentados
pela teoria. Desta forma, não tem por objetivo generalizações e definição de um modelo que se
aplique a todos os casos, mas a criação de teoria, para que ao final deste trabalho uma hipótese
de modelo possa ser definida. Em outras palavras, pode-se dizer que o intuito é aprofundar e
ampliar o conhecimento sobre o assunto (SIGGELKOW, 2007).
4.1 A Empresa
O caso selecionado consiste em uma organização de conhecimento intensivo, cujo foco
são serviços de P&D para empresas de tecnologia. Ela fornece, através de projetos, soluções
tecnológicas em diferentes frentes, como impressão 3D, aprendizado de máquinas e indústria 4.0,
para empresas de diferentes setores, ou seja, a execução de projetos de inovação puxados pela
demanda do mercado. Consiste em uma empresa classificada como Pequena e Média Empresa
(PME), com cerca de 150 colaboradores.
Posicionada como uma empresa de serviços, com as principais atividades relacionadas
à tecnologia de informação e comunicação e ao contato com os clientes, está localizada no
estado do Ceará. Por motivos de confidencialidade, a cidade, a idade, e outros detalhes que
possam indicar a identidade da empresa foram ocultos nesse trabalho. Além disso, dados de
faturamento ou específicos da organização, assim como os nomes dos envolvidos também não
serão apresentados. Sendo assim, apenas dados qualitativos relevantes à pergunta de pesquisa
aqui explorada serão avaliados e relatados.
A seleção da empresa, aqui denominada de “Empresa A” se deu por diversos fatores.
Dentre eles, o principal é o alinhamento de objetivo com o da pesquisa: criar novos MN além
de inovar no atual da organização. O reconhecimento por parte da organização de que ela está
imersa em um meio competitivo com avanço rápido, e que possui uma flutuação de demanda
dependente do macroambiente, a levaram, estrategicamente, a buscar a IMN como fonte de
aprimoramento e manutenção da competitividade. Além disso, a levaram também à abertura
para coleta de múltiplas fontes de dados relativos à organização, a fim de compreender as causas
raízes ligadas à arquitetura teórica, e a relações sistêmicas complexas. Enquanto a empresa é
capaz de fornecer dados valiosos para a pesquisa, relativos ao modelo lógico, a pesquisa, por
sua vez, pode auxiliar a prática munindo-a com potenciais maneiras de superar as barreiras
encontradas e, com isso, aumentar a eficácia do processo de inovação.
93
a uma profunda compreensão cultural. Ressalta-se, porém, a necessidade em limitar tal busca
para alguns elementos específicos, considerados chave para os objetivos da pesquisa (SCHEIN,
2010).
Observações diretas foram realizadas dentro da dinâmica do dia a dia da organização, e
com a participação do pesquisador em reuniões e durante a execução de diferentes procedimen-
tos, considerados chave pelos entrevistados. O pesquisador não participou dos processos de
observação, de forma a não se configurar um participante, mas sim um observador distante. As
interações tomaram forma de entrevistas informais (YIN, 2017)
Documentos e registros em arquivos foram utilizados. Dentre eles, pesquisas de satisfação,
normas e valores expostos como a missão, o mapa estratégico, as apresentações de comunicação
estratégicae as notícias em jornais e revistas. Documentos relacionados, principalmente, à
performance do processo de inovação e melhorias de indicadores de desempenho foram utilizados
como fonte de avaliação do nível de sucesso obtido. Esse fator é extremamente relevante, pois,
quando analisado em conjunto com os dados de “causa” como a cultura, as iniciativas realizadas
para atingir o objetivo devem ser combinadas com seus “efeitos”, a inovação de MN.
Como se configura um estudo de caso longitudinal, diferentes pontos foram analisados,
levando em consideração as ações, ou intervenções, realizadas pela organização e seus respectivos
impactos no processo. Ou seja, conforme mudanças foram realizadas, novas coletas de dados
de entrevistas, artefatos físicos, documentos e arquivos em registros foram feitos. Dessa forma,
conotam a lógica “antes” e “depois”, fato que garante a assertividade de compreensão do modelo
lógico, bem como a identificação de possíveis explicações rivais.
Esses passos são cruciais para garantir a validade de constructo e são baseados na utilização
de múltiplas fontes de evidência que, por sua vez, garantem o “encadeamento de evidências”.
Além disso, foram utilizados informantes-chave para o estudo, também a fim de garantir tal
validade. A utilização de modelo lógico, com abertura para explicações rivais e adaptabilidade
deste, decorrentes de uma construção da explicação lógica aqui descrita garante a validade
interna. Como critérios de confiabilidade, o pesquisador utilizou um diário de bordo para o
desenvolvimento da base de dados sobre o caso, bem como foi desenvolvido um protocolo a
ser seguido. O critério de validação externa consistiu no forte embasamento teórico através da
revisão sistemática da literatura, bem como foram contrastados com a teoria relevante pontos de
explicações rivais e possíveis adaptações no modelo.
As generalizações, conforme aqui salientado, não foram buscadas por se tratar de um
estudo de caso único. Esse ponto consiste em uma limitação deste trabalho por não tratar de
múltiplos casos a fim de garantir a replicabilidade exata. Entretanto, não é o objetivo da presente
dissertação explanar o fato, mas explorar a acuracidade de um modelo teórico na prática, e buscar
assim criar conhecimento e teoria. A Tabela 2 contém as diferentes fontes de coleta de dados,
qual tópico da arquitetura este visa compreender e os objetivos extraídos destas fontes.
95
Tabela 2 – Tabela resumo da coleta de dados para obtenção das evidências empíricas: fontes e
objetivos
Aprendizado
Evolução
organizacional: IMN
capacidades dinâmicas
análise cultural
Superintendente;
estratégia “bola de Diretor de Inovação; Superintendente;
Entrevistas
neve” - total de 19 pessoas Gerente de Qualidade; Diretor de Inovação
Gerente de RH;
Semiestruturada: apenas a
Semiestruturada: apenas a
primeira pergunta estruturada -
primeira pergunta estruturada -
“quais resultados positivos e negativos foram
“como ocorreu o design e implementação
Não estruturada: evitar vieses obtidos coma implementação do
do programa de inovação?”
de reflexividade, no qual o entrevistado programa?” A sequência realizada sem
A sequência realizada sem estrutura -
Formato responde o que o entrevistador quer estrutura, para permitir que o entrevistado
permitir que o entrevistado tenha a
das entrevistas ouvir (YIN, 2017). Questionamentos de tenha a liberdade de expressar
liberdade de expressar sua opinião
fatores culturais devem ser espontâneos sua opinião abertamente e,
abertamente e, além disso, seguir uma
e não gravados (SCHEIN, 2010). além disso, seguir uma
busca exploratória por respostas. Garante
busca exploratória por respostas.
a redução de vieses quanto ao
Garante a redução de vieses
escopo da investigação (YIN, 2017)
quanto ao escopo da investigação (YIN, 2017)
Compreender, de forma
longitudinal, quais resultados foram
Questionar sobre observações Compreender, de forma obtidos com a aplicação do
práticas que destoam dos longitudinal, a aplicação do programa, programa de inovação. Por ser um
Objetivo valores expostos desejados desafios encontrados, motivos de processo contínuo, buscou-se
das entrevistas pela organização. seleção das ferramentas e compreender como a empresa A
Protocolo de acordo como os problemas encontrados superou as dificuldades e o
com Schein, 2010. no início foram superados não atendimento de expectativas.
Correlacionar com o desenvolvimento
das capacidades dinâmicas
Artefatos físicos;
Observações reuniões; - -
equipes de trabalho
Apresentações de slides; Apresentações de slides;
Valores expostos: mapa estratégico; mapa estratégico;
Documentos missão, visão, artefatos relacionados ao programa: MN da organização;
e artefatos perfil de liderança, inovação aberta, oficina do futuro; dados de desempenho
pesquisas de satisfação relatórios de (balanced scorecard);
desenvolvimento dos projetos análise de indicadores
Registros Dados públicos:
-
em arquivos notícias e jornais;
Aplicação do programa,
superação das barreiras, Saídas do programa,
Objetivo Compreensão da cultura da
observação do modelo de contingência ao análise dos resultados de
geral da coleta de dados inovação: análise do contexto
contexto da empresa, exploitation e exploration
seleção das ferramentas e técnicas
Fonte: O Autor
Estratégias
Fonte: O Autor
Macroeconomia
Legenda
Empresas de
tecnologia
Reputação Consequência
rígida
Quantidade de
Projetos
Consequência
flexível
Custo Satisfação
Soluções de TI
Escolhas
Retenção de estratégicas
Recursos Humanos
Alta qualidade
Influências internas
Entrega no prazo
Controle de Qualidade
Influências externas
Gestão de operações
Fonte: O Autor
Dentro deste contexto, nota-se, portanto, a dependência direta da empresa A com a saúde
econômica de seus clientes. Mesmo que em seu MN existam ciclos virtuosos de criação de valor,
como a busca por satisfação dos clientes que resulta em melhoria na reputação da empresa A
e, consequentemente, na busca por novos projetos, existe uma força moderadora externa da
macroeconomia do país. De forma resumida, se a macroeconomia está em baixa, com taxas de
desemprego elevadas e redução do poder de consumo da população, há queda na busca pelos
produtos oferecidos pelos clientes da empresa A. Com isso, o segmento de clientes perde em
lucratividade e, por conseguinte, reduz os investimentos disponíveis para desenvolvimento de
novos projetos, e foca, provavelmente, em esforços para ganhos em eficiência.
Com a crise econômica no cenário brasileiro em 2014, houve também queda significativa
no portfólio de projetos da empresa A, que culminou também no aumento da rotatividade de
capital humano (turnover). Esse fato é resultante da instabilidade nas demandas por projetos,
bem como nos conhecimentos para sua execução, que culmina em variações de capital humano
necessário para formulação das equipes de projetos. Além disso, houve queda significativa na
lucratividade da organização, o que resultou na percepção de que havia necessidade em buscar
inovações no MN para responder a este panorama.
Por consistir em uma empresa que realiza as inovações para seus clientes, mesmo que
de forma puxada, a gestão estratégica da organização hipotetizou sobre a possibilidade de
gerar inovações internamente, seja ao criar novos produtos ou novos negócios. Vale ressaltar
que, a empresa A não inova de fato, apenas executa os projetos inovadores idealizados por
seus clientes. Segundo o superintendente da organização a expectativa seria desvencilhar-se
98
Estratégias
Fonte: O Autor
problema. Em outras palavras, pode-se dizer que a falta de complementaridades, bem como a
falha na mobilização de recursos, impediram que a oportunidade fosse previamente aproveitada.
Durante um jantar informal entre o superintendente, o diretor de vendas e o novo diretor
de inovação, em um processo semelhante a um brainstorming com total abertura de ideias,
surgiu uma possível solução. Esse estágio de criatividade, aliado à união de diversidade de
conhecimento da alta gestão com membros de diferentes áreas, foi crucial para a ocorrência e
sucesso do processo. O resultado foi o desenho do funil de inovação aberta, possível solução
para a lacuna de conhecimento de mercado, em um papel de guardanapo. Segundo o diretor de
inovação, esta opção se desdobrou do reconhecimento de que havia internamente excesso de
conhecimento tecnológico, entretanto, falta de conhecimento de mercado. Fato alinhado com os
encontrados por Desyllas e Sako (2013). A Figura 20 demonstra o funil de inovação aberta.
Entidades Externas
Líder Temático
Oportunidades
MVP
ou
PoC
os fomentos, ao desenvolvimento das ideias. O funil foi desenhado como parte do design do
novo MN, durante a etapa de “aproveitar” da capacidade dinâmica de exploitation e, ao mesmo
tempo, como responsável pelo desenvolvimento da “percepção” de oportunidades da capacidade
dinâmica de exploration.
“Líder Temático” foi o nome atribuído aos membros externos à organização, responsáveis
pelo influxo de conhecimento de mercado. Em relação à forma com que essa amplitude de
conhecimento seria explorada, desenhou-se uma “malha”, composta pela combinação entre
as áreas temáticas, provenientes do mercado e desdobradas da análise de direcionamentos
governamentais, com as áreas tecnológicas, oriundas da competência interna neste quesito. As
áreas tecnológicas de interesse governamental também foram levadas em consideração a fim
de harmonizar com a configuração interna e priorizar, assim, os conhecimentos tecnológicos a
serem explorados. A Figura 21 contém a “malha” proposta pela empresa A para habilitar o funil
de inovação aberta.
Áreas Temáticas
Impressão 3D
IoT
Plataformas Tecnológicas
Visão
Computacional
Data Science
A determinação de tais áreas, entretanto, não seria tarefa trivial, bem como a alocação
de recursos internos da organização para participação destes projetos. Segundo o diretor de
inovação, devido às falhas dos programas de inovação anteriores e da visão interna de que seriam
gerados “itens de prateleira”, havia um desalinhamento das visões sobre o resultado esperado do
programa. Destarte, anterior à implementação desta iniciativa de inovação aberta, realizou-se
uma ação orientada a alinhar as visões e, com isso, aprimorar o capital social cognitivo. Esse
102
fato foi confirmado durante entrevistas com membros da organização, que salientaram o sucesso
da comunicação estratégica do propósito do programa. O desenvolvimento do capital social é
chave para habilitação da capacidade dinâmica de exploration e, em especial, a “percepção” de
oportunidades. Os habilitadores/inibidores e a análise cultural são apresentados na subseção 4.3.5.
A fim de obter sucesso na mobilização de recursos, o diretor de inovação realizou diversas
apresentações e conversas informais, seguidas de seleção de voluntários para participar desse
processo. Com isso, colaboradores que já proviam de uma compreensão e alinhamento com a
visão seriam difusores destes objetivos a seus pares, como líderes informais. Segundo Krogh,
Nonaka e Rechsteiner (2012), a liderança informal é chave para desenvolver alinhamento cultural,
fato que também foi observado na empresa A. Esses voluntários participaram, também, da análise
de direcionamentos governamentais.
Segundo o diretor de inovação, que participou do processo com os voluntários, essa
análise consistiu de uma profunda leitura de documentos e registros em arquivos governamentais,
liberados ao público em forma de livros, relativos aos seus objetivos e visão futura. Em outras
palavras, esses documentos contém as áreas de interesse do Estado brasileiro, tanto de setores
econômicos quanto de avanços tecnológicos. Os resultados desse esforço culminaram, portanto,
na “malha” de combinação de conhecimento tecnológico e de mercado.
Durante o alinhamento de visões e análise de direcionamentos governamentais para in-
vestimentos, notou-se a necessidade de gerar projetos para incentivo à inovação. Estes seriam
escritos e enviados às entidades governamentais, como a Finep, entidade governamental de
fomento à inovação. Conhecimento e habilidades de escrita de projetos para fomento são fatores
essenciais de influência na qualidade do projeto que, por sua vez, influencia a taxa de aceite deles.
Colaboradores se voluntariaram a aprender a escrever esses projetos, o que foi fator decisivo
para a motivação intrínseca necessária para o aprendizado rápido e verdadeiro.
Não foram realizadas iniciativas de design organizacional orientadas à redução de com-
plexidade, mas sim à alocação de recursos e a utilização de shop de valor, inerente ao processo
de inovação aberta. Devido à questão relevante relacionada à atenção e tempo direcionados à
capacidade, determinou-se porcentagens de tempo tanto aos voluntários como ao diretor de
inovação, especialmente para o programa de inovação. Definiu-se que 80% do tempo seria
destinado ao MN corrente, e 20% às atividades de inovação e busca por parceiros externos.
Desta forma, optou-se pela decisão orientada à ambidestria, ou seja, a gestão do paradoxo de, ao
mesmo tempo, “exploitation” de valor do MN atual e “exploration” de novas oportunidades de
negócio. Classifica-se esta ambidestria como contextual, pois não há separação espacial para
a execução destas duas abordagens. Por conseguinte, é possível explorar sinergias entre estes
dois polos. A aplicação de técnicas de ambidestria e design oganizacional foi considerada pela
empresa A como crucial para o sucesso do programa, o que está alinhado com a arquitetura
teórica proposta.
103
solução, no qual as melhores ideias são selecionadas por uma banca examinadora composta de
diversos atores, entre eles, os líderes temáticos. Após a seleção, inicia-se o desenvolvimento dos
projetos, com aplicação do scrum – ferramenta de gestão de projetos ágil – e elaboração dos
projetos de financiamento, para criação de um MVP ou PoC. A Figura 22 contém a síntese da
oficina do futuro, a mobilização inicial dos recursos para “aproveitar” da capacidade dinâmica
de exploration, com o intuito de encontrar encaixe entre problema e solução.
A opção pela utilização do scrum foi devida ao fato desta mentalidade e forma de gestão
de projetos já ser disseminada na organização. Além disso, por se tratar de uma metodologia ágil,
pode proporcionar a flexibilidade necessária para inclusão dos ciclos de aprendizado e mudança
necessários para a execução do projeto, e adequação ao ambiente de incertezas que permeiam
novos MN. Além disso, segundo o diretor de inovação, a escolha de se avaliar o encaixe entre
proposta de valor e segmento de clientes através de uma comissão foi devido a fatores financeiros.
Porém, seria desejável que os testes e validação fossem realizados através de experimentação no
mundo real, a fim de obter feedbacks valiosos e, com isso, aprendizados chave para as iterações
e aprimoramentos. No primeiro momento, porém, tomou-se a decisão de se realizar as oficinas
do futuro com essa configuração, gerar aprendizados sobre o processo como um todo e, com
isso, aprimorar o programa e, desta forma, a manutenção da estratégia de experimentação para o
desenvolvimento da IMN no modelo corrente.
Nesse primeiro momento, nenhuma diretriz estratégica foi desenvolvida para a capacidade
de transformar da capacidade dinâmica de exploration. Segundo o superintendente, este fato
está atelado à escolha estratégica de aprendizado baseado na ação para o programa. Primeiro,
105
Capacidade dinâmica
de exploitation
“Perceber” “Aproveitar”
Motor de geração de Design do MN,
novos negócios – mobilização de “Transformar” IMN
complementaridades recursos.
Causation Effectuation
Capacidade dinâmica
de exploration
Fonte: O Autor
Como proteção da IMN em seu inicio de ciclo de vida, o diretor de inovação realizou
um “contrato de comprometimento” com a organização em relação a recursos financeiros
disponíveis. Embora os incentivos financeiros aos projetos de inovação fossem apoiados por
órgãos governamentais, seriam necessários recursos financeiros e não financeiros para a execução
do programa de inovação. Alocar parte do tempo dos recursos humanos, formular equipes para
identificação de oportunidades, além da realização do evento da oficina do futuro, com locação de
ambientes e movimentação de colaboradores, consumiria recursos. Portanto, como a organização
considera a área de inovação estratégica, direcionou-se 1,5% do faturamento ao programa de
inovação. Além disso, em caso de perda de desempenho, manter-se-ia esse valor de forma a
proteger a continuidade do programa.
Desta forma, o MN futuro idealizado pela empresa A foi, além do tradicional outsourcing
de P&D, a inclusão do programa de inovação de forma a gerar complementaridades. Pretendia-
se, portanto, gerar ciclos virtuosos quanto à manutenção dos recursos humanos, aumento da
procura da empresa A como parceira, redução de custos e geração de novos negócios como
fonte de receita. Observa-se que a implementação do motor de geração de novos negócios
resultaria em novas atividades, rotinas e recursos chave, de forma a alterar, substancialmente, o
106
sistema de atividades da organização. Além disso, não se sabe de outra organização que realize
esse tipo de atividades, visto que Christensen, Bartman e Bever (2016) exaltam que em sua
pesquisa não encontraram nenhuma organização com tal capacidade. Embora possam existir
organizações com esta competência, considerou-se que se trata de uma inovação “nova para
a indústria”. Adicionalmente, considera-se que, ao mudar questões culturais, ao inclur novas
atividades, recursos e arquitetura de receitas o MN atualserá alterado de forma sistêmica e
configura, portanto, uma IMN complexa. A Figura 24 contém o estado futuro desejado do MN
da empresa A.
Quantidade de
Imagem da projetos
marca Consequência
flexível
Custo Satisfação
Soluções de TI Escolhas
estratégicas
Programa de
Alta qualidade
Inovação Retenção de recursos
humanos
Influências internas
Fonte: O Autor
O segundo ciclo iniciou-se com a comunicação e alinhamento das visões com a nova
diretriz do programa de inovação. Com a possibilidade de disseminação e criação da imagem
da marca, esta comunicação também seria feita para membros externos, de forma a demonstrar
a capacidade inovadora da empresa A e, com isso, instigar o desejo de parcerias de inovação
para habilitar o funil de inovação aberta. Essa ação seria orientada a amplificar a reputação,
recurso chave da empresa A, por meio da utilização das três saídas do primeiro ciclo em reuniões
com potenciais parceiros. O procedimento, segundo a empresa A, influenciou positivamente a
aceitabilidade de novos parceiros para participar do programa.
Conforme suposto, esta nova abordagem resultou em parceria e, consequentemente, em
execução do funil de inovação aberta. Além disso, notou-se que o volume de oportunidades foi
reduzido, porém, com melhoria em sua qualidade. A empresa A optou, também, pela inclusão
das partes interessadas durante todo o processo, não apenas na ponte de conhecimento de
mercado, mas também no design, teste e validação das soluções ideadas. Como integrantes das
partes interessadas, foram considerados os potenciais segmentos de clientes, empreendedores,
membros internos da organização e os parceiros das áres temáticas. A empresa A denominou
este engajamento de diferentes atores como validação e feedbacks prévios à criação dos projetos
e seus subsequentes MVPs ou PoCs. Etapa que é alinhada com a literatura de IMN, de que a
experimentação deve ser realizada com as partes interessadas antes mesmo de criar um protótipo
(BALDASSARRE et al., 2017; RIES, 2011).
Segundo o superintendente, a participação de diversos atores e a possibilidade de membros
internos à empresa A participarem, elevaram a moral dos colaboradores, com impacto positivo
na motivação intrínseca. Elevaram principalmente a moral dos colaboradores cujo perfil e visão
pessoal estão relacionados à inovação, de forma a aumentar o capital social relacional da empresa
A. Realizou-se a segunda aplicação do evento da oficina do futuro com um parceiro externo
proveniente da inovação aberta, e a participação das diferentes partes interessadas.
110
Obteve-se um projeto como saída deste evento que, segundo o superintendente, embora
menos numeroso, foi mais eficaz. Ou seja, maior qualidade de oportunidade, mais etapas de teste
e validação tanto da oportunidade como do encaixe entre o problema e solução resultaram em
um projeto com potencial de transferência tecnológica e monetização por propriedade intelectual.
Como efetuaram-se parcerias com outras instituições, como universidades, que contribuíram
também com capital humano, considerou-se a divisão da propriedade intelectual e royalties.
Com esta atuação, o resultado são ciclos virtuosos de criação de valor entre a empresa A, seus
parceiros e os empreendedores que executariam os novos MN, desta forma, contribuíram com a
imagem da marca e impactaram positivamente o interesse para novas parcerias.
Como aprendizado, observou-se que a formulação de equipes para desenvolvimento da
solução, através da configuração de conhecimento e da competência da organização na manu-
tenção destas, é eficaz. Porém, após a definição de um encaixe entre problema e solução com
um mercado potencial existente e a necessidade em se definir e praticar o novo MN, notou-se a
necessidade de outro processo. Isso, pois, envolverá relacionamento entre sócios e outra dinâmica
empreendedora não antes presente nos momentos de ideação e criatividade. Para tal, optou-se
pela autonomia dos colaboradores em definirem as equipes de desenvolvimento do novo negócio
e, assim, deixar aberto para que a motivação intrínseca e a correlação entre os novos sócios sejam
adequadas para a IMN. Por conseguinte, deve-se endereçar um fator de modelo de RH para o
novo negócio não antes mapeado na teoria. A Figura 25 demonstra o cenário atual da capacidade
dinâmica de exploration.
Capacidade dinâmica
de exploration
“Perceber” “Aproveitar”
Inovação aberta – ''Transformar"
Oficina do futuro,
“malha” de conhecimento Conflitos e
partes interessadas,
de mercado e tecnológico. complementaridades – IMN
encaixe
Effectuation Transferência
problema/solução
Cultura da inovação tecnológica e licenciar
Effectuation
Fonte: O Autor
custos reduzidos, resultou em um local menor que, por sua vez, aproximaria as diferentes equipes
como efeito, a princípio, secundário.
A nova localização espacial caracteriza-se por não conter portas que separem as dife-
rentes salas – quando há porta esta é de vidro – e ambientes de trabalho flexíveis. Nesta nova
configuração, para mudar de equipe ou local, basta movimentar o notebook de uma estação
para a outra. Tal mudança impactou positivamente a comunicação entre colaboradores, já que a
proximidade e a fácil movimentação necessária para a socialização auxilia no desenvolvimento
de novas conexões sociais, aprimorando assim o capital social estrutural. Com ambiente de
trabalho flexível, facilitou-se, também, a reestruturação e formulação de diferentes equipes com
diferentes finalidades. Essas ações impactaram no número de conexões sociais, que segundo
Lefebvre et al. (2016), amplificam a visão compartilhada e confiança que, consequentemente,
resultam em amplificação do capital social da organização, habilitador da gestão da mudança.
Políticas de reconhecimento e remuneração, bem como a estrutura de governança da
organização também foram alteradas para adequar aos novos processos. Intitularam-se líderes de
plataforma para a difusão de conhecimento sobre as plataformas tecnológicas, necessárias para a
execução dos projetos de P&D tradicionais e desenvolvimento de soluções de inovação. Esses
líderes são responsáveis pelo treinamento de outros colaboradores a fim de realizar a manutenção
do conhecimento e das competências da organização perante as diferentes plataformas. Fator
que, além de motivar os colaboradores, resulta em complementaridades entre as capacidades
dinâmicas de exploitation e exploration. A Figura 26 contém de forma resumida a etapa de
transformar implementada na empresa A conforme o modelo lógico.
Capacidade dinâmica
de exploitation
Fonte: O Autor
a esses resultados, houve a procura pela empresa A pelo líder de mercado de tecnologia de
informação e comunicação (TIC), com pedidos de novos projetos, e o aumento significativo da
carteira de projetos de um dos maiores clientes da organização. Quanto à imagem e reputação
da marca, noticiários e revistas locais publicaram matérias sobre o programa de inovação da
organização, de forma a contribuir para a disseminação da mensagem. Com isso, a IMN é
validada, através da confirmação dos ciclos virtuosos idealizados.
Além do motor de geração de novos negócios, há um programa de inovação incremental,
cujo objetivo é a melhoria contínua dos processos, operações e qualidade, e é orientado por
ganhos de eficiência no MN. Para atingir seu objetivo, o programa visa aprimorar a qualidade,
reduzir custo, garantir a entrega no prazo e, consequentemente, melhorar o relacionamento e a
satisfação dos clientes. A implementação do programa de inovação radical impactou a cultura
da organização, direcionando-a para uma orientação à inovação. Conforme aqui observado,
esse fato está atrelado ao aumento nas conexões sociais, confiança, abertura para ideias e
comunicação, proatividade, motivação, alinhamento de visões e linguagem que otimizam o fluxo
de conhecimento. Em outras palavras, a implementação do programa, resulta em melhoria nos
processos de compartilhamento, aquisição, criação e aplicação de conhecimento. Esta relação de
causa e efeito observada na empresa A coaduna com a proposição da arquitetura teórica, de que
a cultura do aprendizado habilita as capacidades dinâmicas para IMN, já que mudanças culturais
aprimoraram o desempenho tanto das inovações radicais quanto das incrementais. A Figura 27
contém o MN final da emrpesa A após ciclos de aprendizado e “afinamentos”.
Fonte: O Autor
114
Estratégias
Fonte: O Autor
na motivação e proatividade para o aprendizado interno. Esses elementos, embora visíveis, não
podem ser considerados como a cultura de fato da organização, porque para isso é necessário
avaliar esses aspectos combinados aos valores expostos, observações e entrevistas.
A decidiu focar em raciocínios sistêmicos a fim de disseminar essa linguagem e, com isso,
endereçar esta lacuna cultural. Melhorar a visão sistêmica tem potencial influência em todos os
processos de conhecimento, já que aumenta a comrpreensão da estrutura dos problemas.
Com base nesse estudo, observou-se, portanto, a cultura da inovação presente na empresa
A, em termos dos elementos culturais considerados como habilitadores do fluxo de conheci-
mento. Embora existam forças e fraquezas quanto à cultura, considerou-se que esta operou
como facilitadora dos processos de inovação, já que as barreiras expostas pela literatura foram
superadas na empresa A. Isso pois, com o elevado capital social, o sucesso no aprendizado
em equipes e a motivação dos colaboradores, associados às iniciativas de mudanças culturais
durante o desenvolvimento do programa de inovação, foi possível superar as barreiras existentes
e implementar um motor de geração de novos negócios. Em outras palavras, foi possível inovar
o MN corrente e, concomitantemente, foi desenvolvida a capacidade de criar novos MN. Além
disso, o fato da empresa A destinar atenção à cultura como elementar para a inovação demonstra
o reconhecimento de que análises culturais são importantes, outra característica de cultura do
aprendizado presente na empresa A e, em linha com as propostas de Schein (2010) e Senge
(2014)
Após a mudança de localização, com a estrutura física flexível, aberta e com maiores
possibilidades de trocas de conhecimento, por exemplo, notou-se melhoria da confiança e trocas
de conhecimento entre diferentes equipes, fato confirmado em entrevistas com o superintendente
e com o diretor de inovação e cujo reflexto em melhoria do processo de inovação incremental
pôde ser observado. Destarte, a empresa A denomina como ponto chave para sua visão sistêmica
em relação aos programas de inovação, tanto incremental como radical, a cultura da inovação.
Além dos elementos citados e analisados como amplificadores do fluxo de conhecimento, a
empresa A salienta a orientação exploratória e inovadora interna como parte desta cultura.
Esta, pois, está relacionada com uma orientação de aprendizado na prática, ou a “aprender a
aprender” ((SCHEIN, 2010). A Figura 29 contém a cultura da inovação observada na empresa A,
habilitadores do fluxo de conhecimento presentes nos programas de inovação da empresa A.
119
Aprendizado em Orientação
Conexões Sociais Equipes à inovação
Confiança
Capital Social Crescimento Autonomia
Inovação
pessoal
Orientação
positiva ao futuro
Motivação
Criatividade
Visão
Compartilhada Diversidade Cultural e
de conhecimento
Abertura de ideação
(Segurança psicológica)
Fonte: O Autor
Claro que, por se tratar de medidas qualitativas, diferentes níveis de gradientes de cada
elemento devem ser encontrados na prática. Considera-se chave reforçar esses quesitos a fim
de potencializar a cultura habilitadora das capacidades dinâmicas da empresa A. Porém, os
resultados demonstram que na prática, a empresa A foi capaz de superar as barreiras de lógica
dominante, inércia e criatividade e de inovar o seu MN. Embora fossem encontradas dificuldades,
iniciativas foram desenvolvidas para endereçar possíveis barreiras culturais durante a implemen-
tação da IMN, conforme o estudo demonstrou. Como, por exemplo, o desenvolvimento de visão
compartilhada, aumento de conexões sociais, estímulo à aceitação de diferentes pontos de vista e
conhecimento, implementação de técnicas de criatividade e modos de aprendizado, assim como
a orientação motivacional e da satisfação dos colaboradores.
4.4 Discussão
Durante o desenvolvimento do estudo de caso, foi possível observar outras variáveis, além
das mapeadas na arquitetura teórica, relevantes ao processo, principalmente no que diz respeito
à aplicação da gestão do conhecimento, como auxiliar ao processo de desenvolvimento das
capacidades dinâmicas, aos métodos de investimento e contabilização da IMN e aos modelos
de contratação para desenvolvimento do MN. O primeiro, pelo seu potencial complementar
ao processo, com o intuito de aprimorá-lo, o segundo, devido à forma de pensar e funcionar
120
das diferentes organizações, independente de outros fatores mapeados. Assim, é esperado que
quaisquer investimentos gerem retornos, que podem ou não ser financeiros. As formas conhecidas
de contabilização e justificativa de investimentos ainda não compreendem o processo de IMN.
Porém, foi possível com o estudo de caso mapear e iniciar a compreender como esse fator é
relevante. Por fim, nota-se que, após perceber uma oportunidade e desenhar um MN compatível
para entrega e captura de valor, será necessário gerenciar, adaptar e evoluir o negócio. Todos estes
objetivos podem não ser alcançados caso a contratação seja equivocada, de forma a não garantir
“as pessoas certas, no lugar certo e na hora certa”. Com isso, o negócio pode simplesmente não
evoluir, mesmo que exista um MN com potencial.
Acredita-se que esforços direcionados a essas questões sejam decorrentes da falta de clareza
de constructo de IMN (ENGEL, 2011; KOEN et al., 2010). Os resultados desta dissertação
demonstram possíveis caminhos para superar essa lacuna, já que, ao iniciar o caminho em
direção à clareza de constructo, é possível compreender algumas peculiaridades não antes
enxergadas. Com isso, a proposição de inclusão desses fatores torna-se relevante. No caso
estudado, o programa de inovação foi possível devido à combinação do contexto habilitador
cultural adequado, com a mobilização de recursos financeiros para sua execução, bem como a
identificação de contabilização do sucesso da IMN através de atributos sinérgicos dentro do MN,
e não por retornos financeiros.
ciclos de aprendizado, serão moldadas pela configuração de conhecimento, porque apenas com
a compreensão do ambiente específico de aplicação pode-se melhor extrair excelência destas
práticas. O aprendizado está intrinsecamente conectado aos ganhos e à criação de conhecimento,
que também são objetivos das práticas de gestão do conhecimento.
“Transformar”, diz respeito a reconfigurar, criar rotinas e buscar máxima eficiência para o
MN. A empresa A, por exemplo, obteve sucesso em sua reconfiguração para implementação da
IMN, pois além de gerenciar o ambiente, a cultura e a liderança, conseguiu aprender e mudar os
caminhos a fim de melhor extrair valor da inovação realizada. Isso se deu através da criação de
novos conhecimentos, resultante do compartilhamento de conhecimento e diálogos internos, que
resultaram em hipóteses para melhoria do programa. A experimentação e teste com as hipóteses
criadas, ou aprender fazendo com base na ação, gerou ciclos de aprendizado associados, que
resultaram em subsequente difusão e aplicação do conhecimento através da organização.
Os processos são tão semelhantes que, se considerarmos o ciclo de criação de conhecimento
de Nonaka, Toyama e Konno (2000), pode-se observar todas as etapas presentes durante o
desenvolvimento das capacidades dinâmicas da empresa A e também em linha com as propostas
de Pavlou e Sawy (2011), Cepeda e Vera (2007) e O’Reilly e Tushman (2008), que salientam
a correlação entre gestão do conhecimento e as capacidades dinâmicas. Porém, a correlação
entre gestão do conhecimento e IMN é negligenciada, com apenas uma publicação de 2001
com o propósito de conectar estes campos de conhecimento (MALHOTRA, 2001). A Figura 30
demonstra o processo de gestão do conhecimento.
(2) Contexto
(3) Criação de
habilitador
conhecimento
Visão e estratégia do
conhecimento (1) Estratégia
de GC
dos fundadores, não é foco destas metodologias, uma vez que este é compreender como os
empreendedores podem aprender e criar um negócio, independente dos custos iniciais, porque
para obter aportes financeiros, normalmente é preciso levar aos investidores validações do MN,
mercados potenciais, e formas de proteção (como patentes, complexidade, etc.).
Porém, em ambientes turbulentos, uma startup geralmente precisa manter a cultura ex-
ploratória e buscar novas oportunidades. Após a validação inicial, o aporte financeiro e o
desenvolvimento inicial do negócio, já existirão rotinas e processos. Portanto, será necessário
mobilizar parte desses recursos e dessa atenção à busca por novas oportunidades. A empresa A
garante um fluxo de recursos financeiros ao programa, que inclui as atividades direcionadas à
“percepção” aplicadas através da inovação aberta.
A empresa A, portanto, não utilizou um sistema de contabilidade da inovação tradicional
para justificar o sucesso de seu programa. Durante o primeiro ciclo, embora tenham sido gerados
três projetos, nenhum deles se transformou, de fato, em um novo negócio. Porém, auxiliaram
no desenvolvimento da imagem da marca, impactando o desempenho da organização, com a
monetização inicial convertida em branding. Além disso, a empresa posicionou o programa de
inovação como complementar ao MN tradicional. Com isso, mesmo que sem resultados diretos
financeiros de criação de novos negócios, realizou ciclos virtuosos no MN. Ao reduzir o turnover,
disseminar e amplificar os conhecimentos tecnológicos, aumentar a moral e a motivação, o
programa de inovação impactou positivamente o desempenho do MN tradicional. Em outras
palavras, não apenas buscou novos negócios, mas uma IMN que resultou em complementaridades
no MN tradicional. Essas sinergias exploradas demonstram que a criação de um “motor” de
geração de novos negócios pode ser desenhada como uma possibilidade de justificativa de
investimentos.
Em suma, nota-se a importância de se considerar diferentes formas de investimento, bem
como de contabilização da inovação para o desenvolvimento das capacidades dinâmicas. Devido
às características específicas da IMN, considera-se relevante a reformulação da visão sobre esse
quesito no âmbito de IMN, que por sua vez, pode sustentar investimentos em programas de IMN,
fato que, pelo menos do ponto de vista do autor, ainda não se conhece. Reformular a mentalidade
de como garantir o suporte à inovação e como gerar resultados desta torna-se relevante, pois,
sem uma mentalidade ideal, muitos projetos e programas de IMN com potencial podem ser
descartados, mesmo que todas as outras variáveis da arquitetura estejam presentes.
Durante o estudo de caso, foi possível observar a relevância dos modelos de contratação
e recursos humanos para “aproveitar” e “transformar”. “Perceber” oportunidades é uma etapa
realizada por uma equipe exploratória, com o intuito de idear e aprender, a fim de compreender
124
Com base nos resultados obtidos e através da percepção prática, notou-se que a arquitetura
proposta de fato obteve sucesso, pois, durante a busca por IMN em seu modelo corrente, através
do desenvolvimento da capacidade de criação de novos negócios, a empresa A inicialmente não
utilizou de todas as etapas propostas pela arquitetura. Porém, após ciclos de aprendizados e
implementação, as ações estratégicas para suprir as dificuldades enfrentadas foram desdobra-
das diretamente do modelo lógico. O que se observou, então, foi a melhoria das capacidades
dinâmicas da empresa A e, com isso, o aprimoramento da sua capacidade de IMN.
Além disso, o resultado prático demonstrou novas variáveis que podem influenciar a
capacidade de IMN. A gestão do conhecimento, os investimentos e sustentação à inovação e os
modelos de contratação e retenção de pessoas se encaixam em algumas das lacunas percebidas na
literatura e podem, portanto, auxiliar no processo. Com isso, a evolução da arquitetura integrativa
após o estudo de caso é demonstrado na Figura 31.
125
Estratégias
Fonte: O Autor
126
5 CONCLUSÃO
ambidestria para solucionar conflitos e posicionar a pessoa certa, na hora certa, no lugar certo, o
novo MN ficará apenas no campo da abstração. Claro que, sem a criatividade, atenção, a criação
de novos conhecimentos, o processo resultará na incapacidade em perceber oportunidades e, com
isso, não gerará possíveis novos MN. A empresa A, ao reconhecer que detinha forte capacidade
de “aproveitar”, porém reduzidas capacidades de “perceber” e “transformar”, implementou
estratégias de complementaridades com agentes externos para habilitá-la do desenvolvimento
destas capacidades. Fatores que permitiram o sucesso do programa de inovação desejado.
Em suma, observa-se que responder à pergunta de pesquisa aqui proposta permitiu a
estruturação de uma arquitetura integrativa que pode atuar como um guia para direcionamento
de planos de ação, de forma a auxiliar a superar as possíveis fraquezas e barreiras presentes
na organização que a impeça, ou habilite, de desenvolver a capacidade de IMN. Isso, pois a
compreensão da totalidade do processo de IMN, e as variáveis que influenciam sua execução,
permitem alavancar pontos chave. Além disso, por mapear as diferentes abordagens para cada
capacidade, permite compreender que o contexto específico da organização é relevante, o que
clareia o caminho a ser tomado, quais ferramentas utilizar, quais mentalidades implementar e
quais questões culturais a cobrir, para atingir objetivos estratégicos.
Proatividade e Qualidade
do Aprendizado
Programas de
Capital Social Gestão do
Conhecimento
Fonte: O Autor
Embora a arquitetura integrativa aqui proposta esteja direcionada a esse objetivo de unir
as diferentes visões de IMN, considera-se que pesquisas detalhadas dessa integração sejam
interessantes, a fim de avançar a fronteira de conhecimento e extrair novas introspecções de
forma a evoluir o constructo de IMN. Um exemplo é a avaliação do impacto da complexidade
gerencial como força moderadora sobre os aspectos de diversidade de função e experiência
das equipes de alta gestão na capacidade de absorção e propensão a realizar uma IMN. Ou
ainda, estratégias de investimento no início do ciclo de vida aliadas ao engajamento de partes
interessadas em processos internos para postergar a imersão do novo negócio no ambiente
competitivo, vinculados ao dilema do inovador (CHRISTENSEN, 2013).
131
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