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Implantação de

Pomares
Diniz Fronza

Jonas Janner Hamann

Santa Maria - RS

2014
Apresentação e-Tec Brasil
Prezado estudante,
Bem-vindo a Rede e-Tec Brasil!

Você faz parte de uma rede nacional de ensino, que por sua vez constitui uma
das ações do Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego. O Pronatec, instituído pela Lei nº 12.513/2011, tem como objetivo
principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação
Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira propiciando
caminho de o acesso mais rápido ao emprego.

É neste âmbito que as ações da Rede e-Tec Brasil promovem a parceria entre
a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) e as instâncias
promotoras de ensino técnico como os Institutos Federais, as Secretarias de
Educação dos Estados, as Universidades, as Escolas e Colégios Tecnológicos
e o Sistema S.

A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande


diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao
garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da
formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou
economicamente, dos grandes centros.

A Rede e-Tec Brasil leva diversos cursos técnicos a todas as regiões do país,
incentivando os estudantes a concluir o ensino médio e realizar uma formação
e atualização contínuas. Os cursos são ofertados pelas instituições de
educação profissional e o atendimento ao estudante é realizado tanto nas
sedes das instituições quanto em suas unidades remotas, os polos.

Os parceiros da Rede e-Tec Brasil acreditam em uma educação profissional


qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – é capaz de
promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com
autonomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social,
familiar, esportiva, política e ética.

Nós acreditamos em você!


Desejamos sucesso na sua formação profissional!

Ministério da Educação
Agosto de 2014
Nosso contato
etecbrasil@mec.gov.br
Indicação de ícones
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de
linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.

Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.

Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o


assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao
tema estudado.

Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou


expressão utilizada no texto.

Mídias Integradas: sempre que se desejar que os estudantes


desenvolvam atividades empregando diferentes mídias:
vídeos, filmes, jornais, ambiente AVEA e outras.

Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em


diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante
possa realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado.
Sumário
Apresentação e-Tec Brasil ............................................................................... 2
Indicação de ícones .......................................................................................... 3
Palavra do professor-autor............................................................................... 7
Apresentação da disciplina .............................................................................. 8
Projeto instrucional ........................................................................................... 9
Aula 1 – Importância da fruticultura ........................................................ 12
1.1 Situação atual da fruticultura ............................................................. 12
1.2 Tendências da fruticultura ................................................................. 14
1.3 Desafios da fruticultura ...................................................................... 19
1.4 Importância das frutas (econômico, social e nutricional) .................. 22
1.5 Pesquisas de mercado ...................................................................... 22
Aula 2 – Exigências climáticas ................................................................. 24
2.1 Considerações iniciais ....................................................................... 24
2.2 Temperatura do ar ............................................................................. 24
2.3 Precipitação ....................................................................................... 25
2.4 Umidade relativa do ar (UR) .............................................................. 26
2.5 Ventos ................................................................................................ 27
2.6 Horas de frio ...................................................................................... 27
2.7 Zoneamentos agroclimáticos ............................................................. 29
2.8 Qual a função de um Zoneamento Agroclimático ............................. 29
2.9 Zoneamento Agroclimática para plantas frutíferas ............................ 29
Aula 3 – Escolha das frutíferas ................................................................ 31
3.1 Mercado próximo ............................................................................... 31
3.2 Mão-de-obra ...................................................................................... 31
3.3 Transporte da safra ........................................................................... 32
3.4 Propósito ............................................................................................ 32
3.5 Custo de implantação ........................................................................ 32
3.6 Consumidores ou compradores ........................................................ 32
3.7 Período de armazenamento .............................................................. 32
Aula 4 – Escolha do local .......................................................................... 34
4.1 Drenagem .......................................................................................... 34
4.2 Relevo ................................................................................................ 35
4.3 Posição .............................................................................................. 36
4.4 Sanidade ............................................................................................ 36
4.5 Solos .................................................................................................. 36
Aula 5 – Preparo da área (adubação e calagem) .................................... 37
5.1 Análise de solo .................................................................................. 37
5.2 Correção do solo ............................................................................... 37
5.3 Preparo do solo ................................................................................. 39
5.4 Adubação de plantio .......................................................................... 39
Aula 6 – Qualidade das mudas ................................................................. 42
6.1 Considerações iniciais ....................................................................... 42
5

6.2 Parâmetros de qualidade................................................................... 42


6.3 Uniformidade de altura entre as mudas ............................................ 43
6.4 Rigidez da haste principal (diâmetro de colo) ................................... 44
6.5 Número de folhas e/ou, tamanho de copa ........................................ 45
6.6 Aspecto visual vigoroso ..................................................................... 45
6.7 Ausência de pragas e doenças na folha, no caule e nas raízes ....... 45
6.8 Ausência de plantas daninha no substrato........................................ 46
6.9 Raízes e partes aéreas bem desenvolvidas e isento de nematóides 47
6.10 Relação parte aérea/sistema radicular .............................................. 48
6.11 Conhecer o porta-enxerto e a variedade copa .................................. 49
Aula 7 – Implantação dos quebra-ventos ................................................ 51
7.1 Considerações iniciais ....................................................................... 51
7.2 Seleção de espécies .......................................................................... 51
7.3 Espécies arbóreas ............................................................................. 52
7.4 Espécies arbustivas ........................................................................... 53
7.5 Recomendações para implantação de um quebra-vento ........................ 53
Aula 8 – Demarcação do pomar ............................................................... 57
8.1 Espaçamento ..................................................................................... 57
8.2 Distribuição ........................................................................................ 58
8.3 Formas de alinhamento ..................................................................... 58
Aula 9 – Implantação do pomar ................................................................ 63
9.1 Época de plantio ................................................................................ 63
9.2 Demarcação das covas ..................................................................... 63
9.3 Preparo das covas ............................................................................. 64
9.4 Preparo da muda ............................................................................... 65
9.5 Plantio da muda ................................................................................. 66
9.6 Construção de uma “taça” para irrigação .......................................... 67
9.7 Proteção do solo com palhada .......................................................... 67
9.8 Irrigação após o plantio ..................................................................... 68
9.9 Tutoramento da muda ....................................................................... 68
Aula 10 – Irrigação ....................................................................................... 72
10.1 Importância da irrigação .................................................................... 72
10.2 Métodos de irrigação ......................................................................... 73
10.3 Fertirrigação ....................................................................................... 78
10.4 Drenagem .......................................................................................... 79
Aula 11 – Cuidados nos primeiros anos.................................................... 81
11.1 Podas ................................................................................................. 81
11.2 Controle de plantas invasoras ........................................................... 85
11.3 Controle de formigas cortadeiras ...................................................... 90
11.4 Controle de doenças .......................................................................... 93
11.5 Controle de animais domésticos e selvagens ................................... 94
6

Aula 12 – Aproveitamento das áreas com culturas intercalares ............ 97


12.1 Cultivos intercalares .......................................................................... 97
12.2 Benefícios do cultivo de plantas nas entrelinhas .............................. 98
12.3 Escolha da cultura intercalar ............................................................. 98
Aula 13 – Treinamento constante e parcerias ........................................ 103
13.1 Treinamento constante .................................................................... 103
13.2 Formação de Parcerias, Associações ou Cooperativas ................. 104
Currículo do professor-autor ....................................................................... 108
Palavra do professor-autor
A fruticultura tem despertado grande interesse em muitas regiões do Brasil devido a
mudança de hábito de consumo das pessoas, utilizando mais alimentos naturais, frutas e
hortaliças. Ao abrir a grande maioria dos jornais, ao ligarmos a televisão, o rádio ou outro
meio de comunicação nos deparamos com uma quantidade enorme de informações que
falam da importância de hábitos saudáveis, tal como aumentar a dieta com frutas e
hortaliças, consumir produtos orgânicos, dentre outros. Para que essa perspectiva possa
se tornar em oportunidade de renda é necessário conhecer a atividade, saber manejar,
escolher variedades corretas, dentre outras fases do processo produtivo, que são
importantes ao tomar essa decisão estratégica de entrar na atividade. Uma oportunidade
só se transforma como aumento de renda, quando alguns cuidados básicos são tomados
em relação a ela.

Outro fator que favorece o cultivo de frutas no Brasil é a diversidade de climas, solos e
espécies adaptadas. Localidades próximas tem microclimas diferentes permitindo o
cultivo de uma diversidade grande de frutas.

Apesar de ser uma atividade promissora, a fruticultura exige estudos e cuidados nos
processos de tomada de decisão: o que produzir, onde produzir, que tecnologias
empregar, como implantar, recursos financeiros e humanos necessários, formas de
comercialização.

A implantação de pomares comerciais de frutíferas requer vários conhecimentos prévios


da equipe envolvida desde planejamento, preparo técnico, formas de produção,
formação de equipes e articulações regionais.

Devido ao crescente consumo de frutas da população brasileira a fruticultura deixou de


ser uma promessa, sendo uma fonte presente de geração de renda para muitos
empreendedores. A presente disciplina busca relatar estas perspectivas para novos
empreendedores discutindo os principais aspectos na implantação de pomares.
Apresentação da disciplina

Este trabalho tem como objetivo apresentar e discutir a implantação das principais
culturas frutíferas de clima temperado, sub-tropical e tropical cultivadas comercialmente
no Brasil, principalmente no RS.

O trabalho foi realizado a partir de 30 anos de experiências em fruticultura, pesquisas


conduzidas no Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria, pesquisas
em livros, revistas especializadas, artigos publicados em congressos e outros meios de
comunicação.

Os conteúdos programáticos são conduzidos em várias unidades, começando pela


situação atual da fruticultura, tendências e desafios a serem vencidas.

Na sequencia são comentados os principais cuidados antes de se implantar o pomar tais


como: escolha da área, quebra ventos, demarcação do terreno, exposição do pomar.

Em um terceiro momento é comentado o processo de implantação do pomar e os


cuidados com as plantas após a implantação.

Finalmente são propostos alguns aspectos importantes para o produtor ou técnico que
implantou o pomar, como treinamentos constantes e parcerias, os quais podem
determinar o sucesso do empreendimento.
Projeto instrucional
Disciplina: Implantação do pomar (carga horária: 60h).

Ementa:. Conhecer os principais aspectos a serem considerados antes de se implantar


o pomar.

Compreender os aspectos a serem considerados no processo de implantação e


condução inicial do pomar.

CARGA
AULA OBJETIVOS MATERIAIS HORÁRIA
(horas)
Conhecer os principais
aspectos a serem considerados Ambiente virtual: plataforma
antes de se implantar o pomar. Moodle.
1. Importância da
Apostila didática. 5
fruticultura Compreender os aspectos a
serem considerados no Recursos de apoio: links,
processo de implantação e exercícios.
condução inicial do pomar.
Compreender o que é uma
avaliação climática.

Estudar os principais fatores Ambiente virtual: plataforma


técnicos de uma avaliação Moodle.
2. Exigências
edafoclimáticas climática. Apostila didática. 5
Recursos de apoio: links,
Identificar a influência de exercícios.
fatores climáticos no
crescimento e desenvolvimento
de plantas frutíferas.
Identificar as frutíferas e os
potenciais para cada região
Ambiente virtual: plataforma
Conhecer as exigências das Moodle.
3. Escolha das
espécies frutíferas Apostila didática. 5
frutíferas
Recursos de apoio: links,
Correlacionar as características exercícios.
edafoclimáticas da região com
as frutíferas em estudo
Conhecer as exigências das
frutíferas quanto a localização Ambiente virtual: plataforma
do pomar Moodle.
4. Escolha do local Apostila didática. 5
Identificar a existência de Recursos de apoio: links,
possíveis impedimentos ao exercícios.
cultivo de frutíferas
Definir as principais práticas
necessárias para o preparo da
Ambiente virtual: plataforma
área destinado a implantação
Moodle.
do pomar.
5. Preparo da área Apostila didática. 5
Recursos de apoio: links,
Estudar as etapas práticas
exercícios.
destinadas ao preparo de uma
área para frutíferas.
Estudar os principais
parâmetros que determinam a Ambiente virtual: plataforma
qualidade de uma muda; Moodle.
6. Qualidade das
Apostila didática. 5
mudas
Desenvolver a habilidade Recursos de apoio: links,
técnica de decisão para exercícios.
escolha e compra de mudas.
10

Conhecer o conceito e a
importância dos quebra-ventos;

Ambiente virtual: plataforma


Estudar os fatores que Moodle.
7.Implantação dos influenciam a implantação das
Apostila didática. 5
quebra-ventos estruturas que minimizam a
ação dos ventos; Recursos de apoio: links,
exercícios.

Identificar as espécies aptas a


comporem um quebra-vento.
Conhecer os principais fatores
técnicos necessários para a Ambiente virtual: plataforma
implantação de um pomar. Moodle.
8. Demarcação do
Apostila didática. 5
pomar
Compreender e saber executar Recursos de apoio: links,
as etapas para a demarcação exercícios.
de um pomar.
Conhecer e analisar os
principais fatores técnicos
necessários para a implantação
de uma cultura perene.
Ambiente virtual: plataforma
Moodle.
9. Implantação do Estudar a técnica para o plantio
de mudas. Apostila didática. 5
pomar
Recursos de apoio: links,
exercícios.
Definir as principais etapas no
momento da implantação da
cultura

Esclarecer a importância da
irrigação durante o período de
implantação de novos
Ambiente virtual: plataforma
pomares;
Moodle.
10. Irrigação Apostila didática. 5
Conhecer e estudar os
Recursos de apoio: links,
sistemas de irrigação mais
exercícios.
eficientes e acessíveis ao
produtor rural, utilizado em
pomares novos.
Conhecer os principais
manejos a serem realizados no Ambiente virtual: plataforma
primeiro ano após a Moodle.
11. Cuidados nos implantação do pomar.
Apostila didática. 4
primeiros anos
Estudar a importância de cada Recursos de apoio: links,
prática culturas adotada no exercícios.
primeiro ano de implantação.
Compreender os conceitos
relacionados ao cultivo
intercalar;
Ambiente virtual: plataforma
12. Aproveitamento Analisar as vantagens do Moodle.
das áreas com emprego desta técnica; Apostila didática. 3
culturas intercalares Recursos de apoio: links,
Ter estabelecido quais as exercícios.
culturas que podem ser
cultivadas entre as linhas dos
pomares.
11

Conhecer a importância da
atualização técnica constante; Ambiente virtual: plataforma
Moodle.
13. Treinamento
Ter contato com os benefícios Apostila didática. 3
constante e parcerias
adquiridos através da criação Recursos de apoio: links,
de parcerias no exercícios.
empreendimento agrícola.
12

Aula 1 – Importância da fruticultura

Objetivos

Conhecer os principais aspectos a serem considerados antes de se implantar o pomar.

Compreender os aspectos a serem considerados no processo de implantação e


condução inicial do pomar.

1.1 Situação atual da fruticultura


O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, porém a produção em grande
parte é destinada ao mercado nacional. A produção de frutas é regionalizada, como
exemplo: no Sul do País na Serra Gaúcha, em São Paulo nas regiões próximas a capital
onde há grande diversidade de frutas comerciais, nas demais regiões paulistas a laranja
tem maior área cultivada, visando principalmente a produção de sucos, já no nordeste do
Brasil as regiões de Petrolina/Pernambuco e Juazeiro/Bahia destacam-se na produção
de frutas. A fruticultura brasileira apresenta algumas características:

a) Cultivo em pequenas áreas – Produtores com pequenas áreas disponíveis, como


exemplo, em regiões de predominância de agricultura familiar a fruticultura tem se
adaptado bem devido ao alto rendimento e exigência de cuidados especiais.

b) Alta renda por unidade de área – Há experiências com receita bruta variando de
R$ 5.000,00 a R$60.000,00 por hectare. Há uma tendência em se trabalhar com
frutas nobres ou agregar valor através da transformação (agroindustrialização),
produção orgânica e produtos diferenciados (apresentação, embalagens, ...).

c) Possibilidade de receita todos os meses do ano (desde que planejado) – Com o


aumento do consumo e maior custo fixo mensal nas famílias rurais é importante que
as receitas sejam mensais. A produção de frutas com variedades ou espécies
diferentes permite a venda de produtos todos os dias/semanas/meses.

d) Baixa dependência de máquinas e insumos – A fruticultura possibilita a geração


de renda com pouca dependência de adubos, defensivos, máquinas (desde que
planejado). Como exemplo, temos produtores de figos que fazem a sua própria
muda, adubos e caldas caseiras.

e) Aumento do consumo de frutas – A população brasileira tem dado maior


importância ao consumo de frutas e hortaliças, devido a preocupação com saúde,
maior expectativa de vida, maior poder de compra de alimentos nutracêuticos, maior
conhecimento e conscientização a respeito de alimentos naturais.

f) Preços das frutas em constante elevação – O preço das frutas estão aumentando
ano após ano, o fato ocorre devido a maior procura por alimentos naturais e pela
menor permanência do homem do campo (poucos querem trabalhar com cultivos
manuais).
13

g) As frutas permitem o uso múltiplo: mesa ou indústria (sucos, geleias, polpas,


vinhos) – As frutas são comercializadas in natura, gerando uma receita rápida, bem
como capital de giro para o produtor rural. Como exemplo, um produtor de laranjas
vende parte da produção de frutas para mercados e merenda escolar, outra parte
(frutos menores), faz sucos ou geleias. A industrialização agrega valor e aumenta o
período de oferta.

h) Esta adaptada à agricultura familiar – Produtores familiares que dispõem de mão-


de-obra familiar tem na fruticultura uma atividade empreendedora, gerando renda,
inclusão social e autonomia nas atividades e horários. Geralmente o empreendedor
acaba trabalhando mais, porém em atividades que gosta, sendo seu próprio
administrador do tempo.

i) Há experiências positivas no cultivo orgânico – A produção orgânica de frutas é


uma tendência na agricultura atual. Cada vez mais consumidores buscam por frutas
sem defensivos agrícolas e os produtores evitam o uso de agroquímicos. Apesar
desta tendência de cultivo bem como oportunidade de investimentos, os desafios
são grandes, pois é muito importante o conhecimento de todo o processo de
legislação, produção e comercialização neste modelo de cultivo. Na Figura 1.1 e
apresentado o cultivo de figo em Valinhos – SP, onde a proteção de pragas e
doenças é realizada com caldas e a proteção do solo com cobertura morta (bagaço
de cana).

Figura 1.1 – Produção orgânica de figos para exportação em Valinhos – SP.


Foto: Diniz Fronza

j) Produção concentrada em algumas regiões – A produção de frutas ainda é


concentrada em algumas regiões por questões, culturais, sociais e econômicas,
porém há uma tendência na regionalização da produção devido ao alto custo de
transporte e cuidados (perecibilidade) no manejo das frutas.
14

k) Exigência de mão-de-obra treinada e comprometida – A produção de frutas por


ter várias etapas com atividades manuais e de elevado cuidado, exige o treinamento
constante, bem como o comprometimento de toda a equipe envolvida no processo
produtivo e de comercialização. É importante desenvolver mecanismos que
estimulam a equipe, como participação financeira nos resultados do
empreendimento, planejamento e elaboração de metas com toda a equipe do
projeto.

1.2 Tendências da fruticultura

a) Ações e mercados institucionais – Nos últimos 5 anos os mercados institucionais


tais como: creches, hospitais, escolas, asilos, presídios, restaurantes universitários;
permitem que o produtor venda diretamente a produção de frutas e hortaliças, de tal
forma que recebe preços mais justo e evita a presença de atravessadores.

b) Ter a produção regionalizada – Devido à perecibilidade das frutas, condições de


estradas, custos de transportes e valorização das frutas frescas (a pouco colhidas)
há uma tendência de grande valorização das frutas produzidas na região, desde que
se tenha um padrão de qualidade e continuidade na oferta.

c) Ampliar a oferta de frutas através de manejo e novas variedades – O uso de


técnicas de antecipação de colheita, atraso na colheita e utilização de novas
variedades e técnicas de repoda ou retirada da floração para ampliar os meses de
cultivo.

d) Ter pesquisa regionalizada – A avaliação das técnicas de cultivo e novas


variedades devem ser regionalizadas, pois, são muitos os microclimas e solos
diferentes em pequenas distâncias.

e) Reduzir o uso de defensivos – O uso de defensivos tende a ser cada vez mais
restrito e rastreado, com avaliações das frutas na propriedade e nos mercados. O
consumidor está cada vez mais consciente, exigindo alimentos sem resíduos de
agroquímicos.

f) Maior regularidade na entrega de frutas – O mercado consumidor exige uma


regularidade na oferta de frutas, por isso é importante o conhecimento do ciclo das
frutíferas e das técnicas possíveis para atender a oferta seja durante o cultivo ou no
armazenamento economicamente viável das frutas.

g) Maior exigência no padrão das frutas – Uma das exigências dos consumidores e
do mercado comprador de frutas é de um padrão definido das frutas. É necessário
que as frutas sejam classificadas e identificas em um padrão definido.

h) Novas formas de apresentação das frutas e derivados – Os produtores e


técnicos da área da fruticultura devem estar atento na constante inovação de
produtos e de processos, de forma a apresentar ao consumidor frutas e derivados,
formas mais atrativas, visualmente ou com apelo nutricional.
15

Figura 1.2 Investimento em embalagens de papelão.


Fotos: Diniz Fronza.

i) Instalação de novas empresas para industrialização e fornecimento de


insumos – Com o desenvolvimento da fruticultura regional há espaços e
necessidade para a instalação de novas indústrias, empresas fornecedoras de
insumos e compradoras das frutas produzidas na região.

j) Maior uso da irrigação e fertirrigação – A maior parte das áreas agrícolas do


Brasil apresentam períodos com deficiência hídrica para as frutíferas cultivadas,
geralmente sendo viável o uso da irrigação, principalmente para frutas nobres de
maior valor agregado. Com o uso da irrigação na maioria dos casos pode-se adotar
o uso da fertirrigação, a qual distribui os nutrientes junto a água da irrigação de
forma parcelada e conforme as necessidades da cultura. O uso das técnicas de
irrigação e fertirrigação associadas têm duplicado a produtividade e a qualidade das
frutas em muitos casos.

Figura 1.1: Irrigação por gotejamento em goiabeira e fertirrigação na figueira


Fotos: Diniz Fronza.

k) Produção orgânica ou integrada de frutas – A produção orgânica de frutas, sem o


uso de defensivos químicos, permite acessar mercados mais exigentes, porém é
muito importante conhecer várias técnicas conjuntas, exigências de cultivos,
legislação e formação de novos mercados.
16

l) Organização do setor – A formação de associações e cooperativas geralmente


aumenta o poder de barganha dos produtores, o que pode reduzir os custos de
produção, otimização de máquinas e indústrias, agregação de valor e pleitear
políticas. Algumas máquinas e equipamentos são inviáveis de serem adquiridas para
um produtor com 2 a 3 hectares, porém em vários produtores o custo fixo é reduzido
permitindo a aquisição do equipamento.

m) Mecanização – Com a escassez da mão de obra a mecanização das atividades


como poda, colheita, adubações tornou-se indispensável. Uma das tendências é
inovação constante das máquinas e sistemas de cultivo. O produtor deve estar
atendo no momento da implantação do pomar para permitir a entrada de máquinas.

Figura 1.3 – Poda mecânica das videiras.


Foto: Diniz Fronza.

n) Promoção e divulgação das frutas – Uma das formas de divulgar as frutas é a


promoção de eventos, participar de feiras, apresentar o produto nos supermercados,
etc. Na Figura abaixo é apresentada a promoção do figo nas festa do figo em nova
Petrópolis – RS.
17

Figura 1.4 Promoção do consumo de frutas - Festa do figo em Nova Petrópolis –


RS.
Foto: Diniz Fronza.

Figura 1.4 – Divulgação da fruticultura em Planalto – RS.


Foto: Diniz Fronza.

o) Uso de cobertura

O uso de cobertura plástica na produção de frutas favorece a produção de frutas de


melhor qualidade, sem o uso de defensivos agrícola e amplia a oferta de frutas (a
colheita é antecipada e dura um maior período). Ao optar pelo uso da plasticultura
deve-se analisar os custos do empreendimento e os possíveis retornos financeiros,
priorizando por frutíferas mais nobres.
18

Figura 1.5: Produção de uvas de mesa orgânicas sob cobertura plástica.


Foto: Diniz ronza

p) Uso de câmaras frias – são vários os processos de armazenamento de frutas. Há


uma tendência de novos estudos da tolerância das frutas às técnicas de
conservação e a viabilidade do uso destas técnicas. Apesar da refrigeração de ser
uma tendência, o custo elevado da energia e investimento inicial exige uma análise
criteriosa para seu emprego pois em algumas frutas há pequena variação de preços
ao longo dos meses do ano.

Figura 1.6 – Câmaras frias para armazenamento de maças.


Foto: Diniz Fronza.
19

1.3 Desafios da fruticultura

a) Aproximar o ensino, a pesquisa e a extensão

Um dos desafios grandes da fruticultura é aproximar os pesquisadores dos produtores


de frutas. A maioria das vezes as pesquisas são realizadas sem foco no produtor ou
muitas vezes não há a preocupação nos benefícios à comunidade, ou seja, que estes
benefícios aconteçam, melhorando as formas de produção, gerando melhor qualidade de
vida ao homem do campo. Uma das formas para modificar isso é através da pressão das
associações de produtores aos órgãos de pesquisa. O ensino nas escolas e
universidades deve ser o mais próximo possível da realidade e para que isto aconteça
deve haver maior interação entre professores, alunos e comunidade, bem como maior
cobrança dos alunos e da comunidade. O trabalho de extensão é quase nulo ou
insipiente ou ocorre de forma pontual, isolada. As instituições devem proporcionar
condições estruturais, de equipe e financeira para que a mesma ocorra de forma
Institucional e que gere transformação positiva, causando melhoria na qualidade de vida
dos produtores.

b) Desenvolver novos produtos e processos

Para a modernização da fruticultura é necessário que se estimule o desenvolvimento de


novos produtos e processos, através de financiamento, desburocratização e apoio
Institucional para as novas descobertas ou inovações.

c) Maior formação de especialistas

Para desenvolver uma fruticultura competitiva é importante a formação constante de


especialistas atualizados. Novos cursos e recursos para atualizações e manutenção de
áreas de treinamento são necessários.

d) Estudo da logística de transportes

O uso de ferramentas de georreferenciamento para traçar novas rotas e novas


possibilidades de transportes dará maior competitividade para os produtores de frutas,
bem como maior acesso às frutas aos consumidores finais.

Figura 1.7 – Produtor capitalizado com transporte próprio.


Foto: Jonas Janner Hamann
20

e) Desenvolver pesquisas com foco na comunidade

As pesquisas deverão ser regionais e com foco nas potencialidades regionais (ao menos
uma parte delas). Para que isso aconteça deve haver vontade política, organização dos
produtores e investimentos.

f) Reduzir o custo das embalagens

O custo das embalagens é muito elevado em todo Brasil e América Latina. Uma das
alternativas é o estímulo a instalação de novas indústrias e/ou desenvolvimento de
novas embalagens. Como exemplo pode-se citar produtores de suco que pagam dois
reis pela embalagem de vidro de um litro (R$ 2,00/unidade), o mesmo valor do suco (R$
2,00/litro). Os produtores tem adotado a compra conjunta para reduzir os altos custos.

g) Redução dos impostos agregados

Outro item a ser superado são os impostos em cascata nos alimento transformados,
deve-se adotar medidas políticas/econômicas para que os alimentos cheguem ao
consumidor com preços próximos ao do produtor. Muitas vezes chegam com valores 3
vezes superior ao preço de venda do produtor, isto reduz a escala de consumo,
inviabilizando o cultivo em algumas situações.

h) Organização com pensamento público

Um desafio a ser vencido é a formação de associações e cooperativas, treinamento


constante dos associados para que prevaleçam os interesses dos associados.

Figura 1.8 – Cooperativa organizada por produtores de frutas.


Foto: Jonas Janner Hamann.

i) Qualidade nas mudas

Para o sucesso da produção de frutas é importante começar com plantas de boa


genética e livre de pragas e doenças. A qualidade das mudas é um grande desafio para
os produtores, pois há pouca fiscalização e o comércio de mudas de qualidade duvidosa
21

afetando o empreendimento, hora produzindo abaixo do esperado, hora com problemas


sanitários.

Figura 1.9 – Muda de videira tratada e enxertada em porta-enxerto Paulsen 1103.


Foto: Diniz Fronza.

j) Organizar feiras com qualidade

As feiras e pontos de vendas do produtor devem apresentar um padrão de qualidade


onde as frutas estejam protegidas, de qualidade, bem apresentadas e o consumidor seja
bem atendido em um ambiente adequado. Na Figura 1.5 é apresentada uma feira do
produtor onde há vários itens a serem melhorados.

Figura 1.5 – Feira do Produtor em Camobi – Santa Maria – RS.


Foto: Diniz Fronza.
22

1.4 Importância das frutas (econômico, social e


nutricional)

A fruticultura tem sido a principal fonte de renda para muitas regiões, como exemplo
pode-se citar a Serra Gaúcha e o Polo de Fruticultura em Juazeiro/Ba e Petrolina/Pe.
Muitas famílias são sustentadas através da cadeia da fruticultura. Com o aumento do
poder aquisitivo da população há grande procura por alimentos naturais, produzidos
tecnicamente de forma correta, ambientalmente sustentável e socialmente justa. Com o
alto custo de transportes, há uma nova necessidade de produção local e regional de
frutas e para que esta nova demanda aconteça com sucesso são importantes alguns
fatores: constante inovação, debates, ações conjuntas, parcerias e treinamentos.

Além de gerar renda a fruticultura desempenha um papel social de dar condições dignas
de vida ao homem do campo evitando o êxodo rural e graves problemas nas cidades
(habitação, segurança, educação, saúde, saneamento básico, etc.).

A fruticultura desempenha um importante papel nutricional para a população, pois as


frutas em conjunto com as hortaliças fornecem muitas vitaminas, sais minerais e
componentes antioxidantes que mantém o perfeito funcionamento do organismo
humano, mantendo a saúde das pessoas (peso ideal, disposição, atividades cerebrais),
retardando o envelhecimento das células, aumentado com qualidade a vida dos
indivíduos.

1.5 Pesquisas de mercado

Antes de implantar as frutíferas é importante que se faça uma pesquisa de mercado, um


planejamento prevendo demandas de consumo, principais exigências dos consumidores,
culturas a serem utilizadas e suas exigências de cultivo. É importante também traçar
cenários onde os preços dos produtos e os custos de produção possam variar. Algumas
frutas permitem serem industrializadas, hora como sucos, hora como geléias e chimias.
Estas possibilidades podem ser decisivas na manutenção do empreendimento.

EXEMPLO: Um produtor com laranja valência teve seus preços da laranja reduzidos
para 30% comparado ao que recebia anteriormente, através de uma associação
montaram uma empresa de sucos e vendem para a merenda escolar. Além de se manter
no ramo aumentou sua receita.

Alguns aspectos considerados importantes na pesquisa de mercado:

 Preferências dos consumidores.

 Formas de apresentação.

 Custos de produção e preços recebidos (o que o consumidor paga).

 Exigências de mão-de-obra (quantidade e qualidade).

 Perecebilidade do produto e proximidade do comércio.

 Capital necessário para manter-se no mercado.


23

 Potencial futuro de expansão.

Resumo

Nesta aula foi desenvolvido um estudo direcionado a análise da situação atual da


fruticultura elencando as principais características do setor, onde pode-se citar a
demanda crescente por frutas e hortaliças, mercados regionalizados, possibilidade de
gerar receita todos os meses do ano, adaptado a agricultura familiar, os preços das
frutas são atrativos e novas possibilidades de mecanização.

Outro ponto importante destacado nesta aula foi relacionado às tendências da fruticultura
onde se salienta o desenvolvimento de novos produtos e processos, produtos finais
diferenciados, irrigação e fertirrigação, produção orgânica ou integrada de frutas, para
que haja maior eficiência nas atividades e atinja-se uma gama maior de consumidores
através de produtos diferenciados.

Dentre os desafios apresentados destaca-se os custos das embalagens, falta de mão de


obra, falta de técnicos especializados, custos de logística, encontrar mudas de
qualidade, formas de apresentação das frutas e atendimento e, formar organização com
o pensamento coletivo.

Discutiu-se ainda a necessidade e importância de realizar uma pesquisa de mercado,


através do planejamento obtendo-se as informações relacionadas à demanda e
preferencia dos consumidores. Traçar cenários diversos, dessa forma é possível fazer
planos de ações para cenários favoráveis e não favoráveis, minimizando os impactos
financeiros ao produtor ou mesmo maximizando as receitas ou atendimento de qualidade
aos consumidores.

Atividades de aprendizagem

1. Quais as características da fruticultura atual?

2. Quais as tendências da fruticultura?

3. Quais os desafios a serem enfrentados pelos novos produtores de frutas?

4. A fruticultura tem papel importante na comunidade: justifique.

5. Faça um resumo de uma atividade de um produtor de frutas: tipo de fruta, pessoas


envolvidas, local de venda, forma (natural ou industrializada), desafios.
24

Aula 2 – Exigências climáticas

Objetivos

Compreender o que é uma avaliação climática.

Estudar os principais fatores técnicos de uma avaliação climática.

Identificar a influência de fatores climáticos no crescimento e desenvolvimento de plantas


frutíferas.

2.1 Considerações iniciais


A avaliação climática de uma região consiste no levantamento de informações
relacionadas ao clima (temperatura média anual, precipitação média anual e mensal,
número de horas de frio, risco de ocorrência de geadas em uma determinada época).
Esse estudo torna-se necessário porque as frutíferas possuem diferentes exigências,
tanto é, que são classificadas em frutíferas de clima temperado, frutíferas de clima sub-
tropical e frutíferas de clima tropical.

2.2 Temperatura do ar
O desenvolvimento, florescimento e frutificação das frutíferas cultivadas comercialmente
são altamente influenciados pela temperatura. Por exemplo, o abortamento de flores e
frutos em pomares de pessegueiro é observado quando ocorrem temperaturas
superiores a 25ºC durante os meses de julho e/ou agosto.

Com base nessa informação, quando o técnico avaliar a viabilidade do local para
implantação de um pomar, deverá conhecer as temperaturas médias anuais da região,
observe a Figura 2.1:
25

Figura 2.1: Temperatura média anual do Estado do Rio Grande do Sul.


Fonte: SEMEC, 2004.

As plantas de clima temperado necessitam de um período de baixas temperaturas no


inverno para que haja uma superação da dormência (temperaturas inferiores ou iguais a
7,2°C).

2.3 Precipitação

Precipitação excessiva durante o período de florescimento das frutíferas diminui a taxa


de polinização, consequentemente há uma diminuição na produção das plantas. Em
regiões com excessivas precipitações pode ocorrer a lixiviação de alguns nutrientes
dissolvidos na solução do solo.

Uma região apta para a fruticultura deve ter no mínimo uma precipitação média anual de
1000 mm. Na Figura abaixo podemos observar a precipitação média anual para o Estado
do Rio Grande do Sul.
26

Figura 2.2: Precipitação média anual do Estado do Rio Grande do Sul


Fonte: SEMEC, 2004.

2.4 Umidade relativa do ar (UR)

Pomares implantados em regiões onde a umidade relativa do ar é muito elevada em


determinados períodos de desenvolvimento da cultura, há um maior risco na ocorrência
de doenças. Com a maior ocorrência de doenças, o custo com aplicação de agrotóxicos
é maior, o que eleva os custos de produção.

Tabela 2.1: Períodos críticos em que a umidade relativa do ar elevada pode


causar prejuízos para algumas frutíferas
Espécie Período crítico
Nogueira-pecã Floração e crescimento das nozes
Pessegueiro Floração
Videira Floração e compactação dos cachos
Morangueiro Floração e desenvolvimento dos frutos
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM

A UR é muito importante no momento da avaliação das condições climáticas da região,


podendo ser a umidade relativa do ar um dos fatores que contribuirá para o sucesso ou
fracasso do empreendimento.
27

2.5 Ventos
O vento favorece a circulação, renovando-se constantemente o ar circunvizinho ao
vegetal e se constitui em precioso auxiliar na polinização das plantas.

As maiores partes das frutíferas possuem polinização entomófila, realizada por insetos e
o vento possui ação direta sobre a taxa de polinização. Ventos muito fortes dificultam a
atividade dos insetos polinizadores, o pólen e o estigma desidratam rapidamente,
inviabilizando a polinização.

2.6 Horas de frio


Para que sobreviva a períodos hibernais com temperaturas muito baixas, algumas
espécies frutíferas desenvolveram um mecanismo fisiológico que proporciona resistência
ao frio através do controle do crescimento de suas estruturas vegetais. Esse fenômeno é
denominado de dormência vegetativa. Períodos
hibernais
Denominação
atribuída ao
inverno.

Figura 2.3: (A) gemas de pessegueiro em dormência. (B) gemas de pessegueiro após a
quebra de dormência
Fotos: Jonas Janner Hamann.

A dormência tem início durante o outono, aumentando progressivamente a intensidade,


chegando até a dormência profunda. Durante a dormência hibernal, as frutíferas não
apresentam desenvolvimento de tecidos meristemáticos, há ausência de folhas e as
gemas da planta não brotam.

Nem todas frutíferas entram em dormência durante o inverno, apenas algumas, dentre
elas destacamos:

Tabela 2.2: Algumas frutíferas que possuem um período de dormência


vegetativa
Frutíferas de clima temperado Frutíferas de clima sub-tropical

Videira
Pessegueiro, Ameixeira, Nectarineira,
Figueira
Macieira e Pereira
Nogueira-pecã
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.
28

Para que as frutíferas retornem ao crescimento vegetativo na primavera, é necessário


que durante o inverno haja a ocorrência de um número mínimo de horas de frio, variando
de acordo com a espécie, observe a Tabela 2.3.

Tabela 2.3: Necessidades de horas de frio de algumas frutíferas


Espécie Nº de horas de frio
Pessegueiro 100 a 1250*
Ameixeira Européia 800 a 1500
Ameixeira Japonesa 100 a 1500
Figueira 90 a 350
Macieira 200 a 1700
Pereira 200 a 1400
Videira 90 a 400
* A variação no número de horas de frio corresponde à variabilidade entre as cultivares e variedades.

Fonte: Escobar (1988)

O número de horas de frio varia de acordo com o ano e com a região e a variação de
exigência na mesma espécie varia conforme a variedade. Na Figura 2.4 podemos
observar o número médio de horas de frio para as diferentes regiões do Estado do Rio
Grande do Sul.

Figura 2.4: Estimativa do número de horas de frio para o RS.


Fonte: Embrapa Clima Temperado.

Se o produtor optar por cultivar alguma frutífera na região, mesmo com poucas horas de
frio, existem produtos comerciais utilizados para realizar a quebra da dormência das
frutíferas, viabilizando o cultivo em certas regiões.
29

2.7 Zoneamentos agroclimáticos


Um Zoneamento Agroclimático é uma ferramenta de grande utilidade para o
planejamento da fruticultura comercial porque permite minimizar o impacto negativo do
clima e, ao mesmo tempo, explorar as suas potencialidades nas distintas regiões.

2.8 Qual a função de um Zoneamento


Agroclimático
O Zoneamento Agroclimático define quais as regiões são mais apropriadas para o cultivo
de determinada espécie ou variedade frutífera, levando em consideração as condições
de clima e solo. Um Zoneamento estabelece quais as frutíferas podem ser cultivaras, as
variedades copa e os porta-enxertos aptos para cada região.

2.9 Zoneamento Agroclimática para plantas


frutíferas
Cabe a alguns departamentos específicos do governo elencar quais as espécies
vegetais serão estudadas e realizar as pesquisas necessárias. Na Tabela 2.4 é possível
observar quais as principais frutíferas cultivadas no RS que possuem um Zoneamento
Agroclimático, observe:

Tabela 2.4: Frutíferas cultivadas no RS que possuem um Zoneamento


Agroclimático
Cultura Link para o arquivo

Ameixeira http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/746107
Citros http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/744438

Lima ácida e limões http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/745241

Macieira
http://www.macroprograma1.cnptia.embrapa.br/finep/metas-
fisicas/meta-fisica-4/mapas/02%20-%20image.jpeg/view
Morangueiro http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/748261
Pereira http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/745629
Pessegueiro http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/744114
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.

Sempre é importante lembrar, um Zoneamento Agroclimático indica as regiões de melhor


aptidão para o cultivo de alguma frutífera, mas nada impede de se cultivar as frutíferas
nas regiões não inclusas no Zoneamento. O que pode ocorrer é que a espécie
encontrará algum fator que não seja favorável ao seu desenvolvimento. Em casos que o
produtor queira financiar o seu pomar, os bancos apenas firmam contrato se a região
está inclusa no Zoneamento para a cultura.

Resumo

Esta aula foi direcionada para o estudo das exigências climáticas das principais frutíferas
cultivadas comercialmente. Esse estudo tem grande importância porque as frutíferas
30

possuem diferentes exigências, tanto é, que são classificadas em frutíferas de clima


temperado, frutíferas de clima subtropical e frutíferas de clima tropical.

Uma ferramenta disponível e que foi estudada nesta aula foi o zoneamento
agroclimático, que permite o planejamento no momento da implantação do pomar,
visando minimizar o impacto negativo do clima e, ao mesmo tempo, explorar as suas
potencialidades nas distintas regiões.

Os fatores mais importantes estudados foram:

Temperatura: O desenvolvimento, florescimento e frutificação das frutíferas cultivadas


comercialmente são altamente influenciados pela temperatura.

Precipitação: quando excessivas durante o período de florescimento das frutíferas


diminui a taxa de polinização, consequentemente há uma diminuição na produção das
plantas.

Umidade relativa do ar: pomares implantados em regiões onde a umidade relativa do ar


é muito elevada em determinados períodos de desenvolvimento da cultura, há um maior
risco na ocorrência de doenças.

Vento: a ocorrência de ventos fortes favorece a circulação, renovando-se


constantemente o ar circunvizinho ao vegetal e se constitui em precioso auxiliar na
polinização das plantas.

Atividades de aprendizagem

1. Durante o planejamento de um pomar é realizado a avaliação climática da região,


cite algumas informações relacionadas ao clima que devem ser pesquisadas.

2. As plantas de clima temperado necessitam de temperaturas mais baixas. Por quê?


Qual é o valor dessa temperatura?

3. Com base no seu estudo, cite quais os períodos críticos em que a umidade relativa
do ar elevada pode causar prejuízos para a cultura da nogueira-pecã, pessegueiro,
morango e videira.

4. Por que o vento pode influenciar a polinização em pomares comerciais.

5. Qual a importância (função) de conhecer o zoneamento agroclimático durante o


planejamento de pomares comerciais?
31

Aula 3 – Escolha das frutíferas

Objetivos
Identificar as frutíferas e os potenciais para cada região
Conhecer as exigências das espécies frutíferas
Correlacionar as características climáticas da região com as frutíferas em estudo

A escolha de qual espécie frutífera será cultivada pelo produtor deve ser avaliado e
estudado previamente, considerando-se alguns fatores, sendo eles: proximidade com o
mercado consumidor, mão-de-obra disponível, formas de transporte da safra, propósito,
custo de implantação, existência de consumidores e período de armazenamento das
frutas. A análise prévia destes fatores evita erros posteriores e auxilia no planejamento
financeiro e estratégico. A seguir serão especificados estes itens.

3.1 Mercado próximo


Algumas frutas são de alta perecibilidade, não tolerando o transporte a longas distância
ou exigindo cuidados especiais. Como exemplo podemos citar o pêssego, o morango e o
figo que tem pouco tempo de vida após a colheita. O manuseio destas frutas deve ser
feito com muito cuidado e a comercialização deve ser rápida.

3.2 Mão-de-obra
Uma das características da fruticultura é a alta demanda de mão-de-obra durante todo o
ano, independente da cultura cultivada. Mesmo com a mecanização agrícola ganhando
espaço no ambiente rural, ainda a grande parte das práticas realizadas em pomares são
executadas de forma manual. Dessa forma, ter conhecimento da demanda de mão-de-
obra exigida pela cultura é de grande relevância para que se possa planejar as
atividades durante o ano.

A fruticultura é uma atividade tipicamente desenvolvidas em pequenas áreas. Em


algumas situações a mão-de-obra familiar nem sempre é suficiente, necessitando ser
complementada, principalmente no período da poda hibernal, raleio e colheita das frutas.

Figura 3.1: (A) Colheita de noz-pecã. (B) Poda da figueira. Ambas atividades que demandam
muita mão de obra
Fotos: Jonas Janner Hamann.
32

Na grande maioria das frutíferas cultivadas comercialmente são necessários de um a


três homens por hectare. Com isso, torna-se necessário a realização de uma pesquisa
com antecedência, da disponibilidade de mão-de-obra na região.

3.3 Transporte da safra


Uma das características das frutas, que deve ser observada no momento do
planejamento é a perecibilidade deste produto. Essa característica exige dos produtores
uma alta capacidade de escoamento da safra o mais breve possível, através de estradas
com boas condições de trafégo, evitando-se lesões causadas por batidas entre as frutas.

3.4 Propósito
Na escolha das variedades é importante saber se a produção será para a indústria,
comércio in natura ou para ambos. Algumas variedades não possuem aceitação
industrial, ou seja, os derivados não são bem aceitos pelos consumidores. Como
exemplo podemos citar a uva Vênus, é bem precoce, sendo aceita para consumo in
natura, porém os seus derivados tem pouca aceitação (sucos, vinhos e geléias).

3.5 Custo de implantação


Os recursos disponíveis podem limitar a escolha da frutífera. Como exemplo pode-se
citar que para 1 hectare de laranja posso implantar um pomar com 5 mil reais, já para 1
hectare de videiras necessito de 50 mil reais.

3.6 Consumidores ou compradores


A fruta escolhida para produção deve ser de possível venda com preço e quantidade
compensatória. Se houver vários compradores reduz a dependência do produtor para
com uma só empresa.

3.7 Período de armazenamento


Frutas que permitem o armazenamento por um maior período favorecem a
comercialização para o produtor, o mesmo pode consultar vários compradores. Como
exemplo um produtor de azeitonas tem 12 horas para comecializar e um produtor de
nozes tem 4 a 6 meses para realiza a venda. Alguns produtos como a maça, quivi, pera,
permitem o armazenamento em câmaras frias por meses, já o pêssego por 22 dias.

Resumo

O estudo desta aula foi direcionado para conhecer a importância no momento da escolha
das espécies frutíferas a serem cultivadas. Entre os pontos a serem observados
destacam-se:

Mão-de-obra – a fruticultura caracteriza-se pela grande necessidade de mão-de-obra,


dessa forma, vimos que é muito importante planejar a contratação de terceiros, quando
necessário, bem como conhecer as épocas onde a demanda é por serviços é maior.
33

Transporte da safra – ter planejamento prévio de como será o escoamento da safra, se


através de rodovias, como e onde se conseguirá os veículos.

Propósito – antes de iniciar o plantio, deve-se saber se serão produzidas frutas para o
mercado in natura ou para a indústria.

Custo de implantação – a implantação de um pomar deve ser realizada de acordo com


as condições financeiras do produtor, dessa forma, evita-se altos investimentos sem que
haja recurso financeiro.

Consumidores ou compradores – quanto maior o número de pessoas que consomem a


fruta cultivada pelo produtor, maior será o mercado para a venda desta fruta.

Período de armazenamento - sempre que possível, optar pelo cultivo de frutas que
possuem um período de armazenamento grande, dessa forma a safra pode ser
comercializada quando o preço da fruta estiver mais atrativo ao produtor.

Atividades de aprendizagem

1) Qual a importância da mão de obra na escolha das frutíferas?

2) Por que a distância dos consumidores e o transporte pode afetar a escolha das
frutas a serem cultivadas em determinada região? Exemplifique.

3) Como o custo de implantação de uma frutífera pode afetar na escolha da fruta a


ser cultivada?

4) Como os consumidores finais podem influenciar o produtor na escolha do


cultivo?

5) Faça uma entrevista a um produtor de frutas e resuma as necessidades para um


hectare cultivado (mão-de-obra, custo de implantação, custo anual, tempo de
prateleira da fruta, possibilidade de armazenamento).
34

Aula 4 – Escolha do local

Objetivos

Conhecer as exigências das frutíferas quanto a localização do pomar

Identificar a existência de possíveis impedimentos ao cultivo de frutíferas.

As plantas frutíferas são espécies que se adaptam bem a vários locais de cultivo, porém,
alguns fatores devem ser atendidos para que estas tenham condições de se desenvolver
adequadamente, expressando o máximo potencial produtivo. Entre os principais fatores
observados na escolha do local para implantação do pomar citam-se: drenagem da área,
relevo do local, posição da área quanto à incidência de radiação solar, sanidade e tipo de
solo. No decorrer desta aula estes itens serão abordados.

4.1 Drenagem
O estabelecimento de pomares em áreas com solos compactados ou pouco profundos causa
um desenvolvimento insatisfatório das plantas. Solos bem drenados e com bom teor de
matéria orgânica permitem o bom desenvolvimento da cultura.

Em solos mal drenados as plantas podem morrer ou geralmente apresentam pouca produção
comercial, cerca de 2 Kg a 10 Kg por planta (como exemplo a laranjeira), o que inviabiliza o
cultivo. Na Figura 4.1 podemos observar um plantio de citros estabelecido em uma área mal
drenada.

Figura 4.1: Plantio de citros estabelecido em área mal drenada


Fotos: Diniz Fronza.

Em áreas excessivamente úmidas é possível realizar a implantação de drenos, o que


viabilizará o estabelecimento do pomar. O plantio em camalhões também facilita a rápida
drenagem do terreno, porém deve-se estar atendo para que futuramente entrem máquinas no
local.
35

Figura 4.2: Camalhões eficientes para drenagem, porém dificultam a entrada de máquinas
Fotos: Diniz Fronza.

4.2 Relevo
Na escolha do local de implantação de frutíferas caso o relevo seja ondulado é necessário
que se faça patamares para facilitar a mecanização e realização das atividades diárias no
pomar. Na Figura 4.3 é possível observar um pomar manejado de forma a permitir a
mecanização das práticas culturais.

Figura 4.3: Patamares formados para facilitar a mecanização (desenhar e modificar as plantas)
Fonte: Emater - RS.
36

4.3 Posição
O pomar deve ser instalado, sempre que possível voltado para o norte ou para o leste (sol
nascente). Esta posição favorece a maior insolação, aumentando a fotossíntese e
consequentemente a produtividade. Nesta posição as folhas secam rapidamente pela manhã,
reduzindo o aparecimento de pragas e doenças.

4.4 Sanidade
As áreas escolhidas devem ser livres de pragas e doenças. Como exemplo, se for cultivar
videiras não deve ter cochonilha pérola da terra ou espécies hospedeiras dessa cochonilha e
fungo fusarium sp. Caso for cultivar figueiras e goiabeiras não deve ter nematóides ou
culturas hospedeiras desta praga.

4.5 Solos
O solos devem ser profundos, permeáveis e com bom percentual de matéria orgânica.
Sempre que possível deve-se evitar solos com impedimentos físicos (ex.: presença de
rochas, lençol freático superficial), químico (ex.: camada com alta concentração de alumínio)
e biológico (Ex.: pragas e doenças). Caso não seja possível deve-se analisar os custos para
vencer estas barreiras.

Resumo

Vários aspectos técnicos foram abordados nesta aula referentes a escolha do local a ser
destinado a implantação do pomar. Um dos aspectos técnicos a ser avaliado é a drenagem
da área, preferencialmente optando-se por solos bem drenados e com bom teor de matéria
orgânica os quais permitem o bom desenvolvimento da cultura. É importante evitar áreas mal
drenadas, com solo pouco profundo, ou solos com camada sub-superficial de impedimento.

Estudamos que o relevo deve ser plano ou suave e, quando for inclinado deve-se fazer
patamares antes da implantação das culturas visando a mecanização.

Atividades de aprendizagem

1. Descreva os principais cuidados na escolha da área de cultivo de frutíferas?

2. Faça um relato de uma experiência de sucesso na fruticultura referente ao item anterior


37

Aula 5 – Preparo da área (adubação e calagem)

Objetivos

Definir as principais práticas necessárias para o preparo da área destinado a implantação do


pomar.

Estudar as etapas práticas destinadas ao preparo de uma área para frutíferas.

O preparo de uma área onde será implantado um pomar deverá ser preparado de forma
correta, adotando algumas práticas, entre elas destaca-se a análise de solo, a correção do pH
do solo, preparo do solo e adubação de plantio.

5.1 Análise de solo


Antes de iniciar o preparo da área é necessário coletar amostras para a realização da análise
do solo. Com a análise em mãos faz-se a interpretação e recomendação de calagem. O pH
do solo onde será implantado o pomar deve estar em uma faixa entre 6,0 e 6,5, dependendo
da frutífera cultivada.

Na maioria dos solos ocorre uma grande heterogeneidade originada de vários fatores, como
material de origem e processos de intemperização. Para que a amostra de solo coletada na
área onde será implantada alguma frutífera tenha representatividade da fertilidade média do
solo e atributos físicos, é necessária a coleta de solo em mais de um ponto da área. Em
condições de cultivo convencional, normalmente utilizado na implantação de frutíferas, é
necessário a coleta de 15 a 20 sub-amostras (em média 15).

Para frutíferas a profundidade de coleta do solo é realizada na camada de 0 cm a 20 cm, 20 a


40 cm e 40 a 60 cm. As amostragens nas camadas profundas indicam se há limitações
químicas no solo, tais como, excesso de alumínio no solo. A reamostragem deve ser feita
num período de 4 anos, para avaliar a disponibilidade de nutrientes e outras variáveis
químicas e físicas do solo.

5.2 Correção do solo


A obtenção de um plantio comercial de frutíferas com uma boa produção anual é
consequência do nível adequado da fertilidade do solo, onde a planta tenha a disponibilidade
água, ar e mais 13 nutrientes, todos essenciais para o desenvolvimento vegetativo e posterior
frutificação. A importância da correção de pH do solo está ligado a disponibilidade de
nutrientes. Como exemplo, quando o pH do solo estiver abaixo de 5,5 em solos de alto teor
de alumínio este tem a sua disponibilidade aumentada e o mesmo é absorvido em detrimento
+2 +2 +
da absorção de Ca , Mg e K . Na Figura 5.1 é possível observar em qual faixa de pH os
nutrientes tornam-se mais ou menos disponíveis as raízes das plantas.
38

Figura 5.1: Valores de pH do solo e disponibilidade de nutrientes


Fonte: Malavolta (1981)

Analisando o gráfico acima podemos constatar que a faixa mais adequada de pH para que
todos os nutrientes estejam disponíveis à planta está em torno de 6,0 e 6,5.

A quantidade de corretivo recomendada deve ser estipulada com base nas informações da
análise de solos da área. Quando as necessidades de calcário forem superiores a 5 ton./ha a
aplicação deve ser parcelada em duas vezes. Aplica-se 5 T/ha e realiza-se a incorporação do
calcário (aração e gradagem), em seguida aplica-se o restante e faz-se novamente a
incorporação do calcário.

O calcário deve ser aplicado com no mínimo três meses antes do plantio das mudas. Essa
antecedência na aplicação do calcário é necessária, pois o pH do solo atinge um valor
máximo em aproximadamente 3 a 12 meses após a aplicação, dessa forma, as mudas
encontrarão um solo em condições de fornecer os nutrientes necessários para o
desenvolvimento das plantas. Após espalhado o corretivo na área, este deve ser incorporado
a uma profundidade de 0 cm a 20 cm. O ideal seria incorporam até a camada de 60 cm para
frutíferas, porém há dificuldade de equipamentos para tal homogenização nestas
profundidades. O uso do gesso agrícola e do subsolador (pé de pato) tem auxiliado na
incorporação profunda de nutrientes.

Figura 5.2: Incorporação do calcário com utilização de uma grade


Foto: Jonas Janner Hamann.
39

Essa prática é importante porque plantas de porte arbóreo são dotadas de sistema radicular
muito profundo, sendo que as raízes responsáveis por absorver cerca de 80% dos nutrientes
disponíveis na solução do solo estão localizadas a uma profundidade de até 60 cm.

5.3 Preparo do solo


O preparo do solo deve ser feito com uma antecedência de 60 a 90 dias, em uma
profundidade de 50 a 60 cm. Solos muito argilosos devem ser no mínimo subsolados e
realizado uma gradagem.

Figura 5.3: Preparo da área com subsolador com hastes de 90cm


Fotos: Jonas Janner Hamann.

O subsolador auxilia na descompactação de camadas de impedimento. Outra técnica que


auxilia na maior profundidade das raízes das frutíferas é a utilização do gesso agrícola, o qual
fornece cálcio e enxofre e desce no perfil do solo.

5.4 Adubação de plantio


Na adubação de plantio é recomendado a aplicação de fertilizantes fosfatados e potássicos,
que devem ser aplicados a lanço na área total e incorporados na camada de 0 cm a 20 cm de
profundidade. Dos adubos fosfatados, os fosfatos solúveis são os que apresentam maior
solubilidade em água, como o Superfosfato simples, Superfosfato triplo, MAP e DAP. Na
Tabela 5.1 estão listados os principais fertilizantes fosfatados com os teores mínimos de
nutrientes e outros elementos agregados aos fertilizantes:

Tabela 5.1: Principais fertilizantes fosfatados disponíveis no mercado


Fertilizante Garantia mínima Observação
18% de P2O5 e, CNA +
18% a 20% de Ca
Superfostato simples água1
2 10% a 12% de S
16% de P2O5 em água
41% de P2O5 em CNA
Superfosfato triplo +água
12% a 14% de Ca
37% de P2O5 água
48% de P2O5 em CNA
Fosfato monoamônico +água 9% de N
(MAP)
44% de P2O5 em água
45% de P2O5 em CNA +
Fosfato diamônico (DAP) água 16% de N
38% de P2O5 em água

Fosfato natural parcialmente 20% de P2O5 total 25% a 27% de Ca


acidulado 9% de P2O5 em CNA + água 0% a 6% de S
40

5% de P2O5 em água 0% a 2% de Mg
Termofosfato magnesiano 17% de P2O5 total
7% de Mg
14% de P2O5 em ácido
18% a 20% de Ca
cítrico
Fosfato natural 24% de P2O5 total
23% a 27% de Ca
4% de P2O5 em ácido cítrico
Fosfato natural reativo 28% de P2O5 total (farelado)
30% a 34% de Ca
9% de P2O5 em ácido cítrico
Escória de Thomas 12% de P em ácido cítrico 20% a 29% de Ca
0,4% a 3% de Mg
1 2
Soma da solubilidade em citrato neutro de amônio (CNA) e em água. Solubilidadebilidade em água.

Quando possível incorporá-los a uma profundidade maior, aumentar as doses


proporcionalmente à camada adubada, com base na análise do solo na mesma profundidade
de incorporação. O superfosfato triplo e o superfosfato simples são os mais utilizados devido
ao menor custo. Em produções orgânicas ou em transição é muito utilizado o fosfato natural,
o qual possui liberação mais lenta, porém mais duradoura. No mercado são encontrados os
seguintes fertilizantes potássicos:

Tabela 5.2: Fertilizantes potássicos com a descrição da composição


Fertilizante Garantia mínima Observações
Cloreto de Potássio 58% de K2O Contém 47% de cloro
Sulfato de Potássio 48% de K2O 1% a 2% de cloro
15% de enxofre
1
Nitrato de Potássio 48% de K2O 12% de nitrogênio
1% a 2% de cloro
15% de enxofre
Sulfato de Potássio e Magnésio 18% de K2O 22% a 23% de enxofre
4,5% de magnésio
1
Fonte: Bissani et al. (2008). Muito utilizado em adubação de cobertura em frutíferas

Os fertilizantes potássicos também devem ser incorporados ao solo, logo após a aplicação.
Além do calcário, o fósforo e o potássio o gesso agrícola está sendo bastante utilizado em
culturas perenes, sendo aplicando na preparação da área.

Resumo

Nesta aula foi possível estudar a necessidade de realizar a coleta de solo para a realização
da análise deste solo, antes de iniciar o preparo da área. Um dos pontos mais importantes na
coleta do solo é a profundidade, para frutíferas a coleta do solo é realizada na camada de 0
cm a 20 cm, 20 a 40 cm e 40 a 60 cm.

A importância da correção de pH do solo está ligado a disponibilidade de nutrientes, dessa


forma, após realizada a coleta e análise do solo, procede-se os cálculos para definir a
quantidade de calcário a ser aplicada na área.

Quanto a aplicação do calcário, estudamos que este insumo deve ser aplicado com no
mínimo três meses antes do plantio das mudas e incorporado de forma uniforme.
41

Já o preparo do solo, como abordado na aula, deve ser feito com uma antecedência de 60 a
90 dias, em uma profundidade de 50 a 60 cm. Solos muito argilosos devem ser no mínimo
subsolados e realizado uma gradagem.

Referente a adubação de plantio, foi apresentado a importância da aplicação de fertilizantes


fosfatados e potássicos, devendo estes ser aplicados a lanço na área total e incorporados na
camada de 0 cm a 20 cm de profundidade.

Atividades de aprendizagem

1. Para análise de solo em áreas destinadas a fruticultura, qual a profundidade de coleta do


solo?

2. Por que é importante incorporar o calcário ao solo em áreas destinadas ao cultivo de


frutíferas (plantas de porte arbóreo)?

3. Cite no mínimo 3 fertilizantes fosfatados e a sua concentração mínima (em %) de P 2O5


utilizados na fruticultura.

4. Cite 3 fertilizantes potássicos e sua concentração mínima (em %) de K 2O utilizados na


fruticultura.

5. Realize uma pesquisa na internet obtendo o preço do saco de 50 Kg dos fertilizantes :


Superfosfato triplo e Cloreto de potássio. Elabore uma tabela contenho o nome da loja
que comercializa, endereço, telefone ou e-mail, preço do saco de 50Kg.
42

Aula 6 – Qualidade das mudas

Objetivos

Estudar os principais parâmetros que determinam a qualidade de uma muda;

Desenvolver a habilidade técnica de decisão para escolha e compra de mudas.

6.1 Considerações iniciais


Um dos fatores que contribui para a formação de um pomar altamente produtivo depende, em
grande parte, da qualidade das mudas que formarão o pomar. As mudas plantadas devem
resistir às condições adversas normalmente encontradas no campo, temperaturas elevadas,
períodos com déficit hídrico, danos causados por pragas e doenças e ainda apresentar um
crescimento desejável.

B C

A D
Figura 6.1: (A) Muda de goiabeira sofrendo competição com plantas daninhas. (B) Ferrugem em
folha de muda de figueira. (C) Deficiência hídrica em muda de nogueira-pecã. (D) Ataque de
formigas em muda de nogueira-pecã
Fotos: Jonas Janner Hamann.

Com tantos fatores bióticos adversos que as mudas de plantas frutíferas encontram no
campo, torna-se indispensável a aquisição e plantio de mudas com alta qualidade e grande
vigor.

6.2 Parâmetros de qualidade


A classificação das mudas em termos de qualidade é de fundamental importância em virtude
da melhor adaptação e crescimento daquelas com melhor padrão de qualidade no plantio
definitivo. Reconhecer uma muda de boa qualidade torna-se também prioritário no caso da
43

compra destas de terceiros. As mudas devem ser adquiridas em viveiros cadastrados no


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ou que sejam certificados. Os principais
parâmetros que indicam a boa qualidade de uma muda são discutidos na sequência:

6.3 Uniformidade de altura entre as mudas


A altura das mudas é um dos parâmetros de qualidade com maior facilidade de avaliação no
momento da compra. Mas não basta que as mudas tenham uma altura considerável, é
necessário que haja homogeneidade entre elas, dessa forma adquire-se plantas com maior
uniformidade genética. Na Figura 6.2 é possível observar que as mudas possuem altura
diferente entre si, sendo que a data da semeadura, adubações e irrigações foram iguais entre
todas.

Figura 6.2: Mudas com diferentes alturas


Foto: Diniz Fronza.

Mudas com alturas muito diferentes, quando levadas a campo acarretam em dificuldades de
manejo para o produtor, pois estas possuem uma demanda de nutrientes e água
diferenciadas. Na fruticultura se busca a uniformidade genética, o que garante a aplicação
homogênea das práticas culturais, consequentemente, menor custo. Na Tabela 6.1 está
descrito a altura mínima de algumas mudas frutíferas no momento da comercialização.

Tabela 6.1: Altura mínima para comercialização de algumas mudas de


frutíferas
Espécie Altura mínima
Ameixeiras 50 cm (a partir do colo da muda)
Amoreiras 10 cm (a partir do colo da muda)
Framboeseiras 10 cm (a partir do colo da muda)
Tangerinas 30 cm – 50 cm (haste da variedade copa)
Laranjeiras 50 cm – 60 cm (haste da variedade copa)
Limas ácidas 50 cm – 70 cm (a partir do colo da muda)
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.

Estes padrões devem ser observados no momento da comercialização e da compra, pois são
estabelecidos por uma legislação específica.
44

6.4 Rigidez da haste principal (diâmetro de colo)


As mudas de frutíferas propagadas através de sementes ou de estaquia devem apresentar
um diâmetro mínimo de 10 mm no colo da planta. Entende-se como “colo da planta” a região
imediatamente acima do substrato, onde começa o caule da muda. Observe a Figura 6.3.

A B
Figura 6.3: (A) Muda de figueira. (B) Local denominado de “colo” na planta. (C) Colo da muda
com 16 mm
Fotos: Jonas Janner Hamann.

Para mudas obtidas através da enxertia, o diâmetro mínimo deve ser observado na haste da
variedade copa, logo após o local de enxertia.

A B
Figura 6.4: (A) Muda de Tangerina. (B) Local de avaliação do diâmetro em espécies enxertadas.
(C) Avaliação da muda, com diâmetro de 9mm
Fotos: Diniz Fronza.

As mudas certificadas das tangerinas devem apresentar um diâmetro mínimo de 0,5 cm e das
demais espécies cítricas de 0,7 cm, 5 cm acima do ponto de enxertia.
45

6.5 Número de folhas e/ou, tamanho de copa


Quando se faz a escolha de mudas com folhas perenes (laranjeiras, bergamoteiras, limões,
limas ácidas) é preferível optar por mudas que tenham maior quantia de folhas. Isso é
importante, pois as folhas são responsáveis pela realização da fotossíntese, produzindo
fotoassimilados que garantem o crescimento das plantas.

6.6 Aspecto visual vigoroso


O aspecto visual é o parâmetro que pode ser avaliado com maior facilidade e rapidez, sem
auxílio de instrumentos como fita métrica ou paquímetro. As mudas devem apresentar um
aspecto vigoroso, não apresentando sintomas de deficiência nutricional. Deve-se evitar a
compra de mudas que apresentam folhas com amareladas ou com formato e tonalidade
diferente da tradicional para a espécie. Na Figura 6.5 é possível observar uma muda com
sintomas de deficiência nutricional.

A B D
Figura 6.5: (A) Muda de nogueira-pecã com tonalidade amarelada. (B) Folíolos da muda com
necroses. (C) Detalhe de um folíolo com necrose, indicando deficiência de Níquel. (D) Folha de
nogueira-pecã com tonalidade e formado considerado normal para a espécie
Fotos: Jonas Janner Hamann.

6.7 Ausência de pragas e doenças na folha, no caule


e nas raízes
Mudas produzidas em viveiros certificados não podem apresentar sintomas de ataque de
pragas e doenças nas folhas, tronco e raízes. A sanidade das mudas é um dos pontos mais
importantes na avaliação dos parâmetros que atestam a qualidade das plantas.

Os danos causados por pragas ou doenças além de prejudicar as mudas, podem vir a se
tornar um problema sanitário no pomar. Muitos são os casos de introdução através de mudas
contaminadas por pragas, como os nematóides, em áreas onde não havia registro de
ocorrência destes indivíduos. Doenças bacterianas e fúngicas também podem ser
introduzidas em áreas antes livres destes patógenos. Na Figura 6.6 é possível observar uma
muda de laranjeira já contaminada, apresentando os sintomas do Cancro cítrico, principal
doença dos citros, além de ataque de Pulgão e Larva-minadora.
46

A B
Figura 6.6: (A) Muda de citros com sintomas de Cancro cítrico. (B) Detalhe da folha com sintoma
típico de Cancro cítrico. (C) Folha sofrendo ataque de Pulgão e de Larva-minadora-dos-citros
Fotos: Diniz Fronza.

Cada espécie frutífera sofre com o ataque de pragas e doenças específicas, com sintomas
visuais de ataque diferentes, por isso, torna-se necessário o desenvolvimento da habilidade
de realizar diagnósticos visuais. Na Tabela 6.2 são descritos algumas pragas e doenças que
podem vir do viveiro em diferentes espécies frutíferas:

Tabela 6.2: Principais pragas e doenças que podem vir do viveiro em mudas
frutíferas
Espécie Pragas Doenças
Citros Pulgões Cancro cítrico
Larva-minadora Gomose
Cochonilhas Verrugose
Figueira Nematóides Ferrugem da figueira
Goiabeira Cochonilhas Ferrugem da goiabeira
Nogueira-pecã Phyloxera Sarna
Ácaros Fusariose
Videira Pérola-da-terra Fusariose
Phyloxera
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.

6.8 Ausência de plantas daninha no substrato


A grande maioria das frutíferas é sensível à competição com plantas daninhas. Quando há
competição por água, nutrientes, luz solar ou outro fator abiótico, as plantas frutíferas podem
apresentar um crescimento reduzido e em casos severos até morrer. Uma maneira de não
aumentar o número de plantas daninhas no pomar é evitando a entrada de novas espécies
daninhas na área. E uma das principais formas de infestação de pomares é através dos
substratos onde as mudas são cultivadas.

As embalagens das mudas devem estar isentas de plantas daninhas, isso é facilmente
diagnosticado apenas observando a muda. Sempre que possível, optar por mudas que não
apresentem plantas daninhas desenvolvidas no substrato da embalagem. Na Figura 6.7,
podemos observar uma muda de citros infestada por plantas daninhas.
47

A B
Figura 6.7: (A) Desenvolvimento de plantas daninhas em embalagem de muda de citros. (B)
Plantas daninhas se desenvolvendo no substrato da muda. (C) Detalhe das plantas invasoras
Fotos: Jonas Janner Hamann.

6.9 Raízes e partes aéreas bem desenvolvidas e


isento de nematóides
As raízes das plantas são as estruturas responsáveis pela absorção de água e nutrientes do
solo, por isso, adquirir mudas com o sistema radicular bem desenvolvido é importante. Para
fazer a avaliação deste parâmetro é necessário fazer uma amostragem, destruindo algumas
mudas para avaliar o sistema radicular.

Sempre optar por mudas que não tenham presença de nematóide, praga que ataca o sistema
radicular e vive no solo do substrato da muda e do pomar. Na Figura 6.8 é possível observar
o sistema radicular de uma muda de figueira parasitada por nematóides. Deve-se evitar a
aquisição destas mudas.

A B
Figura 6.8: (A) Muda de figueira. (B) Parte do sistema radicular da muda. (C) Detalhe de raízes
parasitadas por nematóides
Fotos: Diniz Fronza
48

Além de estar isento de parasitas, o sistema radicular deve apresentar outras características
morfológicas importantes que garantiram o crescimento das mudas quando transplantadas
para o pomar.

Como as mudas de frutíferas normalmente são produzidas em embalagens plásticas


“sacolas”, é normal que com o desenvolvimento das raízes, o tamanho da embalagem venha
a se tornar limitante ao crescimento do sistema radicular. O que deve ser observado durante
a avaliação do sistema radicular é a existência de raízes enoveladas (enroladas) no fundo da
sacola. Sempre que isso for observado, é importante saber que no momento do plantio esta
camada de raízes deverá ser eliminada. Na Figura 6.9 podemos observar o sistema radicular
enovelado, em mudas de nogueira-pecã.

A B

Figura 6.9: (A) Muda de nogueira-pecã. (B) Torrão da muda sem a embalagem plástica. (C)
Sistema radicular da muda enovelado
Fotos: Jonas Janner Hamann.

Mudas que apresentam o sistema radicular enovelado podem ser adquiridas, mas
geralmente, quando as raízes estão muito enoveladas, como na foto acima, geralmente é um
indicativo que a muda já possui 2 anos ou mais, sendo considerada uma muda velha.

6.10 Relação parte aérea/sistema radicular


Várias são as características morfológicas avaliadas em uma muda de frutífera. É necessário
observar a relação de altura existente entre a parte aérea da muda e o sistema radicular.

O crescimento do sistema radicular, normalmente, acompanha o crescimento da parte aérea


da muda, por isso, deve-se evitar a aquisição de mudas que tenham a parte aérea muito
maior que o sistema radicular. Na Figura 6.10 é possível observar uma muda de goiabeira
onde a parte aérea é muito maior que o sistema radicular.
49

C
1,20 m

A B

Figura 6.10: (A) Muda de goiabeira. (B) Embalagem acomodando o sistema radicular da muda. (C)
Detalhe do tamanho do sistema radícula.
Fotos: Jonas Janner Hamann.

Mudas que apresentam a parte aérea muito maior que o sistema radicular podem vir a ter
problemas no crescimento, quando plantadas no campo. Como regra geral, a parte área deve
ter o máximo 3 vezes a altura da embalagem onde a muda está plantada.

6.11 Conhecer o porta-enxerto e a variedade copa

O porta-enxerto e a variedade copa devem estar identificadas na muda e se possível o


comprador das mudas deve conhecer as matrizes. As boas matrizes, com sanidade, sem
ocorrência de lesões por pragas e doenças, com crescimento vigoroso fornecerão material
vegetativo sadio, originando mudas de boa qualidade.

Resumo

O estudo desta aula foi direcionado a importância de se conhecer os principais aspectos a


serem avaliados para a obtenção de mudas de qualidade.

O primeiro aspecto estudado foi referente à altura das mudas, sendo um dos parâmetros de
qualidade com maior facilidade de avaliação no momento da compra. Mas não basta que as
mudas tenham uma altura considerável, é necessário que haja homogeneidade entre elas.
50

O aspecto visual é outro parâmetro que pode ser avaliado com facilidade e rapidez, sem
auxílio de instrumentos como fita métrica ou paquímetro. As mudas devem apresentar um
aspecto vigoroso, não apresentando sintomas de deficiência nutricional.

Também é necessário ter identificado o porta-enxerto e a variedade copa nas etiquetas das
mudas e ser descrito a mesma informação na nota fiscal.

Além dos itens citados, estudamos que a sanidade das mudas é muito importantes na
avaliação dos parâmetros que atestam a qualidade das plantas.

Atividades de aprendizagem

1) Quais as características de uma boa muda frutíferas?

1) Quais os critérios da escolha de um bom viveiro de mudas?

2) Quais as diferenças entre as mudas de raiz nua e muda em recipiente (com torrão)?

3) Visite um ponto de vendas de mudas e relacione característica das mudas, porta-


enxertos, embalagem, procedência, ...?
51

Aula 7 – Implantação dos quebra-ventos

Objetivos

Conhecer o conceito e a importância dos quebra-ventos;

Estudar os fatores que influenciam a implantação das estruturas que minimizam a ação dos
ventos;

Identificar as espécies aptas a comporem um quebra-vento.

7.1 Considerações iniciais


Os quebra-ventos são estruturas naturais ou artificiais, implantados perpendicularmente aos
ventos dominantes, tendo como função controlar o microclima e diminuir a velocidade do
vento, evitando danos nos pomares. Pode-se utilizar como quebra-ventos espécies arbóreas
ou arbustivas perenes. Acredita-se que são destinados aos quebra-ventos de 4% a 5% da
área disponível ao cultivo. Os quebra-ventos têm funções importantes, vejam algumas:

 Ajuda na conservação da umidade do solo.

 Diminui a erosão eólica.

 Evita a quebra de ramos, queda de frutos de folhas.

 Ajudam a diminuir a evapotranspiração das plantas.

 São barreiras contra a entrada de alguns patógenos nocivos as plantas.

 Aumento da eficiência do uso da água para irrigação.

 Diminui a deriva durante a aplicação de produtos.

 Melhora a polinização das abelhas.

 Reduz a entrada de pragas e doenças.

Para a instalação de quebra-ventos devem-se observar alguns itens, para a correta


implantação, que serão discutidos no capítulo a seguir:

7.2 Seleção de espécies


A escolha de alguma espécie deve ser analisada previamente, para evitar o plantio de plantas
que não se adaptem as condições edafoclimáticas da região. Devem-se observar os
seguintes fatores:

 Características do solo.

 Disponibilidade hídrica.

 Altura atingida pela planta.


52

 Hábito de crescimento.

 Tamanho e densidade da copa.

 Tratos culturais (poda).

 Resistência mecânica ao vento.

 Se existe competição por nutrientes e água com a cultura.

 Hospedeira ou não de pragas e doenças que atacam a cultura.

Quando o quebra-vento implantado for de espécies arbóreas, algumas características são


desejáveis, veja:

 Porte ereto.

 Crescimento rápido.

 Folhas perenes.

 Sistema radicular profundo.

 Plantas flexíveis, dessa forma não são facilmente quebradas pelo vento.

As espécies vegetativas recomendadas para o plantio como quebra-ventos serão discutidas


nos próximos capítulos:

7.3 Espécies arbóreas


 Casuarina (Casuarina equisetifoliae C. cunninghamiana).

 Bracatinga (Mimosa scabrella).

 Cipreste (Cupressuslusitanica).

 Grevilha (Grevillea robusta).

Figura 7.1: Quebra – vento de Casuarina


Foto: Diniz Fronza.
53

7.4 Espécies arbustivas


Algumas espécies arbustivas de menor porte são instaladas como quebra-vento pois tem
crescimento rápido e protege as plantas nos primeiros anos. Muitos produtores preferem
retirar o capim Cameron (ou a cana de açúcar) com o passar dos anos, pois estes são
atrativos de ratos e posteriormente cobras, sendo um risco para os fruticultores. Principais
espécies arbustivas:

 Capim Cameron.

 Cana-de-açúcar.

 Bambu.

 Taquara.

Figura 7.2: Quebra – vento de Capim Cameron


Foto: Diniz Fronza.

Em terrenos ondulados deve-se evitar a acumulação do ar frio nas baixadas, que sendo mais
denso tende a fluir para as partes mais baixas do terreno. As barreiras colocadas em uma
encosta represam o ar frio, aumentando o perigo de geadas acima delas, enquanto que
abaixo delas é diminuído.

Quando houver dificuldades em implantar o quebra-vento antes do plantio das mudas, uma
opção é o plantio do Capim Cameron, pois é de rápido crescimento. O Cameron atinge 3
metros de altura em apenas 5 ou 6 meses, atuando na proteção contra os ventos até uma
distância de 30 a 40 metros. Quando o quebra-vento definitivo estiver estabelecido e bem
desenvolvido deve-se remover o capim Cameron.

7.5 Recomendações para implantação de um quebra-


vento
Dada a grande importância da utilização de quebra-vento no pomar, a seguir são discutidas
as principais recomendações na implantação dos quebra-ventos:

a) Altura das árvores

À distância na qual é efetiva a proteção do quebra-vento depende da altura da barreira.


Quanto maior a altura da barreira, maior a distância protegida. A altura do quebra-vento é
54

medida do topo do dossel da cultura até o topo do quebra-vento. Geralmente a proteção


ocorre a uma distância de 10 a 15 vezes a altura do quebra-vento.

b) Espessura (nº de filas de plantas)

Em geral, dentro das filas os espaçamentos entre as plantas são de 2,0 a 6,0 m para árvores
de porte médio a alto, onde os menores espaçamentos dentro da fila são usados em plantios
de filas simples. Quando a espécie utilizada no quebra-vento for o bambu, recomenda-se uma
distância entre plantas na fila de 3,0 m.

O espaçamento entre as filas de plantas não são fixos, deve-se levar em conta a espécie a
ser implantada e o seu porte, assim como a disponibilidade de água no local. A fila única de
árvores para o quebra-vento não é indicada, caso haja a morte de alguma das plantas, a
fenda deixada no quebra-vento prejudica muito a proteção dada por este. Existem pesquisas
que apontam um aumento de 20% da velocidade do vento no local da falha, por isso deve-se
implantar quebra-ventos com 2 filas de plantas.

c) Densidade/Porosidade

A melhor porosidade de um quebra-vento para influenciar a maior área possível é em torno


de 40%. Os quebra-ventos muito densos reduzem fortemente a velocidade do vento
imediatamente atrás da barreira e os medianamente densos, apesar de reduzirem menos a
velocidade do vento na área próxima da barreira, são mais efetivos a médias distâncias.

Barreiras com porosidade muito baixa criam mais turbulência do que barreira com porosidade
maior (Figura 7.3 A). Quebra-ventos com uma maior porosidade permitem que um percentual
do vento transpasse por sua estrutura, evitando a turbulência (Figura 7.3 B).

A B

Figura 7.3: Influência da densidade do quebra-vento na turbulência do vento


Fonte: Volpe e Schöffel (2001).

d) Composição

Entende-se por composição dos quebra-ventos as espécies que o constituem. É possível


utilizar árvores e arbustos variados para dar uma forma mais racional à barreira e também por
motivos práticos e econômicos (Figura 7.4).
55

Figura 7.4 – Quebra-ventos com capim camerom e casuarina em plantio de


pessegueiro.
Foto: Diniz Fronza.

e) Distância entre quebra-ventos

A distância entre quebra-ventos é proporcional à declividade do terreno e a altura (h) dos


quebra-ventos. Conforme a Tabela 7.1, para uma declividade zero ou próxima de zero e um
quebra-ventos de 5m de altura, a área cultivada protegida é de até 10h de distância,
correspondendo a 50 m protegido, local em que deve ser feito um novo quebra-vento. No
caso de uma declividade de 6 graus de declividade e 5m de quebra-ventos de altura, a área
protegida é de 6,20h, correspondendo a 31m de proteção.

Tabela 7.1: Distância de Influência de quebra-vento em Função de sua Altura


(h) e da Declividade do Terreno
Declividade do terreno (%) Distância de influência (h)
0 10,00
3 7,65
4 7,10
5 6,65
6 6,20
8 5,50
10 5,00
15 4,00
20 3,30
25 2,85
30 2,50
>30 2,00
Fonte: Finch (1986)
56

Resumo

Nesta aula definimos o conceito de quebra-vento, como sendo estruturas naturais ou


artificiais, implantados perpendicularmente aos ventos dominantes, tendo como função
controlar o microclima e diminuir a velocidade do vento, evitando danos nos pomares.

Também foram apresentadas algumas das principais funções destas estruturas, entre elas:
ajudam na conservação da umidade do solo, diminuem a ocorrência de erosão eólica, evitam
a quebra de ramos, queda de frutos e de folhas, ajudam a diminuir a evapotranspiração das
plantas.

Para que haja sucesso na implantação dos quebra-ventos, a escolha de alguma espécie deve
ser analisada previamente, para evitar o plantio de plantas que não se adaptem as condições
edafoclimáticas da região.

Entre as espécies arbustivas é possível destacar o Capim Cameron e a Cana-de-açúcar. Já


entre as espécies arbóreas foram destacadas a Casuarina, Cipreste e Bracatinga.

Atividades de aprendizagem

1. Os quebra-ventos são implantados paralelamente ou perpendicularmente aos ventos


dominantes?

2. Cite algumas funções dos quebra-ventos em pomares.

3. Do que dependerá a seleção de espécies para quebra-ventos?

4. Quais características são desejáveis para os quebra-ventos?

5. Cite algumas espécies arbóreas e arbustivas que podem ser utilizadas na implantação de
quebra-ventos.

6. Quando houver dificuldades em implantar o quebra-vento antes do plantio das mudas,


uma opção é o plantio de que tipo de capim? Cite algumas características positivas deste
capim.
57

Aula 8 – Demarcação do pomar

Objetivos

Estudar os principais espaçamentos utilizados na implantação de algumas frutíferas.

Compreender e saber executar as etapas para a demarcação de um pomar.

Por serem culturas perenes, as frutíferas devem ser implantadas corretamente, dessa forma,
a demarcação do pomar adquire grande importância. Nesta aula serão discutidos aspectos
importantes relacionados ao espaçamento e distribuição (tipo de alinhamento).

8.1 Espaçamento
Podemos definir como espaçamento de plantio a distância que há entre as plantas na mesma
fileira (espaçamento entre plantas) ou o espaçamento existente entre plantas de fileiras
diferentes (espaçamento entre linhas). Na fruticultura é usual como unidade o “metro” para
estabelecer o espaçamento de plantio. A escolha do espaçamento que as frutíferas serão
plantadas no pomar dependerá de vários fatores, entre eles, os principais são:

 Área disponível.

 Espécie frutífera cultivada (Figueira, Amoreira, etc.).

 Tipo de porta-enxerto.

 Umidade do solo.

 Tipo de solo (Solo argiloso, arenoso, franco-arenoso).

 Destino da produção (indústria ou consumo in natura).

Na Tabela 8.1 são apresentados alguns espaçamentos de plantio, mas estes podem variar
conforme os fatores mencionados anteriormente.

Tabela 8.1: Alguns espaçamentos recomendados para frutíferas


Espécie Espaçamento (metros)
Entre Mais utilizado
Entre plantas Linhas
Citros 2a7 5a8 4,0 x 6,0
Figueira 2a3 3a5 3,0 x 5,0
Goiabeira 3 a 11 6 a 11 5,0 x 7,0
Nogueira-pecã 7 a 20 7 a 20 10,0 x 10,0
Pessegueiro 1a4 5a7 4,0 x 6,0
Videira 1 a 3,5 2,5 a 4 2,0 x 3,0
Fonte: Fachinello et al., 2008.
58

8.2 Distribuição
No momento da implantação de um pomar, as frutíferas podem ser dispostas de várias
formas. Para a escolha de qual alinhamento de plantio a ser adotado, é necessário observar
os seguintes itens:

 Espécie frutífera a ser cultivada.

 Área disponível.

 Topografia do terreno.

 Densidade de plantio.

 Tipo de mecanização.

 Porte do porta-enxerto e cultivar-copa.

8.3 Formas de alinhamento


a) Alinhamento em retângulo

O alinhamento em retângulo pode ser utilizado em terrenos planos. Esta disposição das
plantas no pomar facilita o trânsito de máquinas com implementos agrícola, facilitando os
tratos culturas como a pulverização de agrotóxicos. Na Figura 8.1 pode-se observar a
disposição das plantas.

Figura 8.1: Alinhamento em forma de retângulo


Fonte: Jair Costa Nachtigal

No alinhamento em retângulo algumas vantagens são observadas, como o melhor


aproveitamento dos nutrientes fornecidos via adubação as plantas e possibilita o cultivo de
cultura intercalares.

b) Alinhamento em quadrado

No alinhamento em forma de quadrado, são mantidas as mesmas distâncias entre plantas e


entre as linhas de cultivo. Na Figura 8.2 é possível observar a disposição das plantas no
pomar.
59

Figura 8.2: Alinhamento em forma de retângulo


Fonte: Jair Costa Nachtigal

Esta disposição das plantas já foi muito utilizado em pomares, porém, hoje está caindo em
desuso. A distribuição das plantas neste formato permite a passagem de máquinas e
implementos agrícolas, porém, há uma perda de área do terreno, fato este que limita a sua
utilização.

c) Alinhamento em forma de triângulo

Este alinhamento é o mais utilizado atualmente em pomares comerciais, pois proporciona


uma equidistância entre as plantas e permite o trânsito em três sentidos. A área do pomar
geralmente é melhor aproveitada com esta distribuição Na Figura 8.3 é possível observar a
disposição das plantas no pomar.

Figura 8.3: Alinhamento em forma de triângulo


Fonte: Jair Costa Nachtigal (redesenhar)

Um dos motivos pela adoção desta disposição das plantas é devido a utilização do terreno,
que é maximizada, permitindo um aumento de aproximadamente 15% no número de plantas
por área, em relação ao sistema quadrado.

d) Plantio em fileiras paralelas entre os terraços

Este tipo de alinhamento é utilizado em áreas que apresentam declividade, permitindo o


controle da erosão. Nesta forma de disposição das frutíferas sempre é mantido uma distância
constante entre as linhas de plantio. As fileiras são marcadas a partir de um terraço, em
ambas as direções, para cima e para baixo. Na Figura 8.4 é possível observar esta situação.
60

Figura 8.4: Alinhamento em fileiras paralelas entre os terraços


Fonte: Jair Costa Nachtigal

Uma outra vantagem deste alinhamento é que não há a formação de “linhas mortas”, ou seja,
fileiras que não entram em contato com os carreadores (estradas) junto ao terraço.

e) Plantio sobre camalhões

O plantio de frutíferas sobre camalhões é muito utilizado em várias regiões do Brasil, pois
apresenta várias vantagens. Os camalhões atuam como um terraço, controlando a erosão e
viabilizam o plantio de frutíferas em locais muito úmidos ou com lençol freático superficial.
Uma das desvantagens é durante os períodos de seca, onde há rápida perda de água do
solo, porém com o uso da irrigação este problema é solucionado. Na Figura 8.5 é possível
visualizar este sistema:

Figura 8.5: Plantio de frutíferas sobre camalhões


Fonte: Jair Costa Nachtigal (redesenhar)

Os camalhões podem ser feitos com arados de disco ou encanteiradeiras, conforme mostrado
nas Figuras 8.6.
61

Figura 8.6: Preparo de camalhão com arado


Foto: Jonas Janner Hamann.

Resumo

A escolha do espaçamento que as frutíferas serão plantadas no pomar dependerá de vários


fatores, entre eles, foram destacados os principais: área disponível, espécie frutífera cultivada
(figueira, amoreira, etc.), tipo de porta-enxerto, umidade do solo, tipo de solo (solo argiloso,
arenoso, franco-arenoso), destino da produção (indústria ou consumo in natura).

Outro ponto abordado nesta aula foi a forma de distribuição das plantas no pomar, sendo
elas: alinhamento em forma de retângulo, alinhamento em forma de quadrado, plantio em
fileiras paralelas entre os terrações e plantio em camalhões.

Como visto, o alinhamento em forma de triângulo é o mais utilizado atualmente em pomares


comerciais, pois proporciona uma equidistância entre as plantas, permite o trânsito em três
sentidos e o melhor aproveitamento das áreas.

Atividades de aprendizagem

1. Cite algumas vantagens de escolher uma área pouco declivosa para a implantação de um
pomar comercial?

2. Quais os principais fatores devem ser observados no momento da escolha do


espaçamento de plantio das plantas frutíferas?

3. Para a escolha de qual sistema de plantio (alinhamento) deverá ser adotado, é


necessário observar quais itens?
62

4. Dos alinhamentos de plantio em pomares, qual o mais utilizado e por quê?

5. No plantio de frutíferas em camalhões, por que é importante ter cuidado com a irrigação?
63

Aula 9 – Implantação do pomar

Objetivos

Conhecer e analisar os principais fatores técnicos necessários para a implantação de uma


cultura perene.

Estudar a técnica para o plantio de mudas.

Definir as principais etapas no momento da implantação da cultura.

A implantação do pomar é uma atividade importante e com vários detalhes a serem


observados e planejados. Nesta aula serão discutidos os principais itens, entre eles a época
de plantio, demarcação e preparo das covas, preparo e plantio da muda, construção de taça
para irrigação e tutoramento.

9.1 Época de plantio


A época mais adequada para o plantio das mudas de raiz nua é de junho a agosto, já as
mudas comercializadas em embalagens plásticas podem ser transplantadas durante o ano
todo, desde que sejam feitas irrigações nos períodos de estiagem. Após 30 anos de
observações as plantas implantadas em julho e agosto tem melhor desenvolvimento. Ao
adquirir mudas é importante fazê-lo em junho a julho, pois é possível escolher as melhores
mudas. Quando a aquisição é feita tardiamente corre-se o risco de comprar mudas de menor
qualidade.

9.2 Demarcação das covas


Primeiramente, é importante ressaltar que, no cultivo ideal de frutíferas, deve-se dar
preferência em preparar toda a área, utilizando adubo orgânico, adubos fosfatados e
potássicos, calcário e gesso agrícola. Caso não seja possível, preparar a faixa de cultivo (2 a
3 metros) e, em último caso, implantar as frutíferas com o preparo do solo somente nas
covas. O preparo em covas limita o desenvolvimento da cultura após os primeiros meses,
pois as raízes saem da zona da cova e não encontram solo próprio/corrigido para
desenvolverem-se.

A marcação do local onde serão abertas as covas pode ser feita com estacas de bambu,
taquara ou madeira. Na Figura 9.1 é possível observar como essa prática é realizada.
64

Figura 9.1: Demarcação das covas com taquara


Foto: Jonas Janner Hamann.

9.3 Preparo das covas


O plantio deve ser feito preferencialmente em dias chuvosos ou nublados. As covas para o
plantio das mudas podem ser abertas manualmente ou com trado acoplado ao trator. É
necessária a abertura de covas de 40 cm x 40 cm x 40 cm, se possível, fazer a separação
entre o solo superficial e o solo das camadas mais profundas.

Figura 9.2: (A - B) Abertura da cova de 40 cm x 40 cm X 40 cm. (C) Separação do solo superficial


e do solo da camada subsuperficial
Foto: Jonas Janner Hamann.

É recomendado que as covas tenham as dimensões suficientes para acomodação do sistema


radicular.

No momento do plantio, a camada superficial, proveniente das primeiras camadas até 40 cm,
é usada para o preenchimento do fundo das covas, porque geralmente esta camada
superficial pode apresentar um elevado banco de sementes de plantas daninhas. Em
situações que o produtor não tenha feito a calagem em área total ou na faixa de plantio, neste
momento pode-se incorporar o calcário junto ao solo.

Figura 9.3: Aplicação e incorporação de calcário no momento do plantio


Fotos: Jonas Janner Hamann.
65

Durante o plantio, preferencialmente, não se deve utilizar fertilizante químico na cova. Pode-
se optar por composto orgânico que esteja bem curtido e que seja misturado com o solo.
Caso se utilize adubo químico, deve ser em pequenas quantidades (200 a 300 gramas) e
procurar manter o solo sempre úmido, evitando assim, os efeitos da salinização, que pode
levar à morte das plantas.

Figura 9.4: Aplicação e incorporação de composto orgânico no momento do plantio


Fotos: Jonas Janner Hamann.

9.4 Preparo da muda


Quando forem utilizadas mudas comercializadas em sacos plásticos, é necessário ter muito
cuidado com o enovelamento do sistema radicular (Figura 9.5). Dessa forma, é necessário
fazer a remoção das raízes emaranhadas, caso contrário o crescimento e desenvolvimento
da planta podem ser comprometidos. A remoção das raízes enoveladas se dá através da
realização de um corte na base da embalagem que contem a muda, este corte deve ser
distante do fundo da embalagem cerca de 5 cm.

Figura 9.5: Corte realizado 5 cm acima do fundo da embalagem para remover as raízes
enoveladas
Fotos: Jonas Janner Hamann.
66

9.5 Plantio da muda


Após a remoção do fundo da embalagem com as raízes enoveladas, sem remover o resto da
embalagem, a muda pode ser acomodada no fundo da cova, em seguida a embalagem
plástica pode ser removida apenas puxando-a para cima.

Figura 9.6: Remoção da embalagem plástica


Fotos: Jonas Janner Hamann.

Realizada esta etapa é necessário preencher a cova com o solo. É importante lembrar que o
solo da camada superficial removido anteriormente é o primeiro a ser posto na cova. Em
seguida é posto o solo da camada subsuperficial.

Figura 9.7: Adição de solo em torno da muda na cova de plantio


Fotos: Jonas Janner Hamann.

Preenchida a cova, é necessário puxar a muda um pouco para cima, com isso o colo da
planta ficará na mesma altura que estava dentro da embalagem, nem muito enterrado nem
exposto demais. Em seguida faz-se uma pequena pressão com as mãos ao redor do solo em
torno da muda. É importante salientar que o local do enxerto não pode ficar coberto pelo solo.
67

Figura 9.8: Local do enxerto não deve ser enterrado


Fotos: Jonas Janner Hamann.

9.6 Construção de uma “taça” para irrigação


Após o plantio pode ser construído com solo uma taça em torno da muda, com o objetivo de
armazenar água após a irrigação.

Esta estrutura pode ter aproximadamente 50 a 80 cm de diâmetro para facilitar as irrigações.


Em solos com presença de um B-textural não é aconselhado à utilização da taça para
irrigação, pois tal camada de impedimento dificulta a infiltração da água, podendo causar a
morte da muda.

Figura 9.9: Construção da taça em torno da planta


Fotos: Jonas Janner Hamann.

9.7 Proteção do solo com palhada


É possível ainda, por em torno da muda uma pequena porção de palhada seca, bagaço de
cana-de-açúcar, serragem ou outra matéria seca para manter a umidade do solo, tendo
cuidado quando utilizar palha vinda de outras áreas, pois podem conter estruturas
reprodutivas de plantas daninhas. Nessa prática é necessário deixar um espaço de 5 cm em
torno do tronco sem pôr o material seco, dessa forma é possível evitar o ataque de fungos no
colo da planta, causado pelo excesso de umidade.
68

Figura 9.10: Deposição de serragem em torno da planta


Foto: Jonas Janner Hamann.

Posta a palhada seca, serragem ou bagaço de cana-de-açúcar em torno da muda a próxima


etapa é a realização da irrigação.

9.8 Irrigação após o plantio


O fornecimento de água após o plantio possui duas finalidades: retirar o ar que ficou retido
entre as partículas de solo e fornecer água para as raízes da planta permanecer hidratadas e
fisiologicamente ativas.

Figura 9.11: Irrigação da planta após o plantio


Foto: Jonas Janner Hamann.

9.9 Tutoramento da muda


Após a irrigação da muda é possível realizar o tutoramento da planta. O material do qual será
feito o tutor dependerá da disponibilidade do material existente na propriedade rural, sendo
possível utilizar taquara, bambu ou madeiras. Após selecionado, o tutor deve ser colocado ao
lado da planta, distante 5 cm a 8 cm da muda. Em seguida a planta deve ser amarrada no
69

tutor com um barbante de plástico, o nó deve ser em forma de “8” para evitar o
estrangulamento da planta.

Figura 9.12: Tutoramento da planta com amarração em forma de “8”


Fotos: Jonas Janner Hamann.

O objetivo do tutoramento é evitar que ocorra a movimentação da planta pelo vento, o que
ocasionaria a movimentação do sistema radicular, podendo causar rompimento das raízes em
formação, podendo prejudicar o estabelecimento da muda a campo. Na cultura da nogueira-
pecã, como observado na Figura 9.13, o produtor deve-se atentar para o fato que de a
utilização do tutor, quando encostado na planta acima de 1,50m, pode causar a ausência do
crescimento da ramificação da planta ou ocasionar a má formação desses ramos. Isso pode
ser observado na Figura 9.13:

Figura 9.13: Tutor de taquara ocasionando tortuosidade a nova ramificação da nogueira-pecã


Foto: Jonas Janner Hamann.

Junto com o tutor, em algumas regiões, é necessário proteger as mudas contra roedores,
utilizando barreiras para lebres e animais selvagens. Uma técnica empregada com sucesso é
o uso de tubos plástico, o que já controla também as formigas.
70

Figura 9.14: Muda de nogueira-pecã protegida contra formigas e roedores


Fotos: Diniz Fronza.

Figura 9.15: Proteção das mudas com tubo plástico de irrigação de alta vazão e baixa pressão
Foto: Diniz Fronza.
71

Resumo

Foi possível estudar que a época mais adequada para o plantio das mudas de raiz nua é de
junho a agosto, já as mudas comercializadas em embalagens plásticas podem ser
transplantadas durante o ano todo, desde que sejam feitas irrigações nos períodos de
estiagem.

Na implantação de pomares é preferível realizar a aplicação de calcário e fertilizantes em


área total, caso não seja possível, realiza-se o preparo em faixas e em último caso aplica-se o
calcário e o fertilizante na cova.

Sempre que possível, as covas devem ter uma dimensão mínima de 40 cm x 40 cm x 40 cm,
se houver possibilidade é necessário fazer a separação entre o solo superficial e o solo das
camadas mais profundas.

Já os cuidados relativos as mudas referem-se a cortar o fundo do recipiente para remoção


das raízes enoveladas, prática esta realizada no momento do plantio.

Após o plantio é importante realizar a irrigação das mudas, dessa forma, maximiza-se o
potencial de sobrevivência das plantas.

Atividades de aprendizagem

1. Qual a época de plantio mais adequada para as mudas de frutíferas comercializadas com
a raiz nua?

2. Qual a época indicada para o plantio de mudas de frutíferas comercializadas em


embalagens plásticas (saquinhos)?

3. Mudas de frutíferas comercializadas em embalagens plásticas podem apresentar o


sistema radicular “enovelado”. Qual o procedimento que deve ser realizado antes do
plantio destas mudas?

4. Uma prática utilizada após o plantio é a construção de uma “Taça” para a irrigação. Em
qual tipo de solo e por que não deve ser realizado esta técnica?
72

Aula 10 – Irrigação

Objetivos

Esclarecer a importância da irrigação durante o período de implantação de


novos pomares;

Conhecer e estudar os sistemas de irrigação mais eficientes e acessíveis ao


produtor rural, utilizado em pomares novos.

10.1 Importância da irrigação


É de fundamental importância a irrigação das mudas recém-implantadas, pois
aumenta o contato do solo com o sistema radicular da planta. Caso haja
períodos de falta de chuvas é necessário a irrigação semanal. A irrigação com
carros pipas no primeiro ano reduz os custos de instalação e permite o bom
desenvolvimento das mudas.

Figura 10.1: Mudas instaladas em taça sendo irrigadas


Foto: Diniz Fronza.

Outra forma de reduzir os custos com irrigação é adicionar ao solo matéria


orgânica proveniente do processo de compostagem. A matéria orgânica
aumenta o armazenamento da água facilmente disponível no solo. Quando a
mesma é incorporada antes da implantação do pomar melhora as condições
físicas, químicas e biológicas do solo por vários anos.
73

Figura 10.2: Matéria orgânica para aumentar o armazenamento de água no solo


(compostagem)
Foto: Diniz Fronza.

10.2 Métodos de irrigação


Dentre os principais métodos pode-se citar:

a) Gotejamento.

b) Microaspersão.

c) Sulcos e taças.

d) Inundação intermitente.

e) Irrigação por aspersão.

a) Irrigação por gotejamento

Este método caracteriza-se por distribuir a água junto ao pé da planta. È


indicado para frutíferas pois são culturas em linha ideal para a fita gotejadora.
Quando as frutíferas possuírem maior tamanho é indicado 2 linhas de
gotejamento por linha de frutas. O sistema permite a fertirrigação. O sistema de
irrigação por gotejamento pode ser observado nas figuras abaixo.
74

Figura 10.3: Irrigação por gotejamento com fita gotejadora e botão gotejador
Fotos: Diniz Fronza.

Figura 10.4: Irrigação por gotejamento com mangueira rígida de alta durabilidade
Fotos: Diniz Fronza.

Dentre os principais cuidados do sistema de gotejamento é o uso de filtros na


água de irrigação bem como a limpeza constante destes.
75

Figura 10.5: Entupimento do filtro de tela


Fotos: Diniz Fronza.

O sistema de irrigação por gotejamento pode ser enterrado (sub-superficial) ou


superficial. Quando for utilizado enterrado aumenta a eficiência do uso da
água, porém deve-se ter o cuidado de aplicar uma vez por ano um herbicida
para evitar o entupimento dos gotejadores pelas raízes das plantas.

b) Irrigação por microaspersão

A irrigação por microaspersão, assim como a irrigação por gotejamento, fazem


parte da irrigação localizada. Porém esta ultima trabalha com vazões maiores e
irriga maiores áreas do solo. Adaptou-se bem em frutíferas, pois conforme as
plantas forem crescendo pode-se aumentar a área molhada.

Figura 10.6: Irrigação por microaspersão em videira


Fotos: Diniz Fronza.

c) Sulcos e taças

A irrigação por sulcos tem como vantagem não necessitar de bombeamento de


água, ou seja, não exige pressão nas tubulações. Geralmente o produtor utiliza
açudes que estão localizados nas partes mais altas da propriedade. Os sulcos
podem ser adaptados com taças para ampliar a zona molhada de solo. Os
custos de instalação são bem menores que os sistemas de irrigação localizada.
Nos sistemas de irrigação por sulcos e inundação temporária há projetos onde
foram gastos mil reais (R$1.000,00) por hectare.
76

Figura 10.7: Irrigação por sulcos na nogueira-pecã com taça auxiliar


Foto: Diniz Fronza.

Figura 10.8: Irrigação por sulcos utilizando sifões


Foto: Diniz Fronza.
77

d) Irrigação por inundação intermitente

A irrigação por inundação temporária é utilizada quando o produtor dispõe de


áreas planas e boa disponibilidade de água. Assim como a irrigação por sulcos
é uma técnica barata de irrigação, porém apresenta grande consumo de água
devido a grande infiltração profunda (fora da zona radicular).

Figura 10.9: Irrigação por inundação intermitente em viveiro


Foto: Diniz Fronza

e) Irrigação por aspersão

A irrigação por aspersão caracteriza-se fornecer a água às plantas de forma


semelhante à chuva. O sistema exige maior pressão de serviço e é sensível ao
vento. Os sistemas mais utilizados em fruticultura são a aspersão convencional
e o autopropelido. Em ambos os casos os aspersores são postos em tubos de
elevação.
78

Figura 10.10: Irrigação por auto propelido


Foto: Diniz Fronza.

10.3 Fertirrigação

As frutíferas recém-implantadas necessitam de nutrientes próximas à planta


devido ao pequeno sistema radicular. Os sistemas de gotejamento e de
microaspersão são os que melhor se adaptam para a fertirrigação. Os
nutrientes podem ser fornecidos várias vezes ao ano melhorando o
crescimento das frutíferas e o aproveitamento dos nutrientes.

Figura 10.11: Fertirrigação em frutíferas


Foto: Diniz Fronza.
79

10.4 Drenagem
Outra preocupação é com a drenagem dos solos para as frutíferas. O excesso
de umidade causa o apodrecimento das raízes dificultando o crescimento das
plantas. Deve-se evitar o plantio em áreas baixas ou quando se dispõe destas
áreas fazer a drenagem.

Figura 10.12: Drenagem com bambus em pomar de videira


Foto: Diniz Fronza.

Resumo

Nesta aula estudamos que é de fundamental importância a irrigação das


mudas recém-implantadas, pois expulsa o ar e põe a água em contato direto
com as raízes. Vimos também que caso haja períodos de falta de chuvas é
necessário a irrigação semanal.

Dentre os principais métodos pode-se citar: gotejamento, microaspersão,


sulcos e taças, inundação intermitente e irrigação por aspersão.

Entre os métodos de irrigação estudados, destaca-se a irrigação por


gotejamento, caracterizando-se por distribuir a água junto ao pé da planta. É
indicado para frutíferas pois, são culturas em linha ideal para a fita gotejadora e
apresenta uma eficiência de até 95%. Mesmo com grande eficiência da
irrigação por gotejamento é necessário ter cuidado, utilizando-se de filtros na
água de irrigação bem como a limpeza constante destes.
80

Vimos também que a fertirrigação é uma técnica que permite a aplicação de


nutrientes junto com a água de irrigação, sendo que as plantas recebem os
fertilizantes conforme a sua necessidade.

Outro item pertinente e estudado foi a drenagem da área destinada ao cultivo


de frutíferas. Deve-se optar por áreas naturalmente drenadas, quando isso não
for possível pode-se realizar a drenagem do local.

Atividades de aprendizagem

1. Quais os métodos de irrigação mais eficiente para a fruticultura?

2. Quais as limitações dos sistemas de irrigação localizada: gotejamento e


microaspersão?

3. Quais os 2 principais métodos de irrigação por aspersão utilizados em


frutíferas?

4. Caso o produtor opte por não utilizar sistema de irrigação nos primeiros
anos, que técnicas pode empregar para o bom desenvolvimento das
mudas?

5. Em que consiste a fertirrigação?


81

Aula 11 – Cuidados nos primeiros anos

Objetivos

Conhecer os principais manejos a serem realizados no primeiro ano após a


implantação do pomar.

Estudar a importância de cada prática culturas adotada no primeiro ano de


implantação.

Após o plantio das mudas, o fruticultor deve ter alguns cuidados nos primeiros
anos do pomar, sendo possível destacar: o emprego de podas, controle de
plantas invasoras, controle de doenças e formigas. Nesta aula estes itens
serão estudados.

11.1 Podas

Uma das práticas muito importantes que deve ser realizado no pomar após a
implantação das espécies frutíferas são as podas. Para fins de estudo,
podemos citar as principais podas realizadas no primeiro ano:

- Poda de formação.

- Poda de limpeza.

- Poda verde.

Para que as podas sejam realizadas de maneira correta, é preciso conhecer


alguns princípios fisiológicos da poda, entre eles destacam-se:

 Os ramos geralmente apresentam dominância apical.

 O vigor das gemas depende de sua posição e do número de gemas.

 Há uma relação direta entre o desenvolvimento da copa e do sistema


radicular. O equilíbrio entre estes afeta o vigor e a longevidade.

 As condições de clima e solo afetam o vigor e a fertilidade da planta.

 Ramos que recebem mais luz são mais produtivos e apresentam maior
circulação de seiva.

 Ramos que sofreram poda drástica apresentam maior vigor.


82

 A redução drástica da área foliar pode debilitar a planta.

 A circulação da seiva é mais intensa em ramos retos e verticais.

11.1.1 Poda de formação


A poda de formação visa orientar a formação da copa a fim de definir o número
de ramos principais e a altura de inserção destes no tronco da planta. Através
desta poda objetiva-se fazer uma distribuição equilibrada dos ramos para
melhor aproveitamento dos raios solares, dimensionando a planta para que
tenha condições de expressar ao máximo seu potencial produtivo e sustentar
sua produção.

Esta poda também é utilizada no primeiro ano para estabelecer o sistema de


condução em que a espécie frutífera será conduzida. O sistema de condução
pode ser entendido como a forma em que os ramos das plantas são
conduzidos, Na Tabela 11.1 é possível observar os sistemas de condução
adotados nas principais frutíferas.

Tabela 11.1: Principais sistemas de condução formados a partir da


poda em algumas frutíferas
Frutífera Sistema de condução Algumas vantagens
Em forma de taça Maior produção por planta
Caquizeiro Em Forma de líder central Maior número de plantas por
hectare
Figueira Em forma de taça Maior produção e qualidade
de frutos
Goiabeira Em forma de taça Maior produção por planta
Pessegueiro, nectarineira, Em forma de taça Maior produção por planta
ameixeira.
Em forma de “Y” Maior número de plantas por
hectare
Videira Em forma de latada Maior produtividade
Em forma de espaldeira Confere melhor coloração as
uvas
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.

Nas Figuras 11.1 é possível observar alguns dos sistemas de condução


descritos na Tabela 11.1:
83

A B

C
Figura 11.1: (A) Pessegueiro conduzido em forma de “Y”. (B) Figueira conduzida
em forma de taça. (C) Videira conduzida em forma de espaldeira
Fotos: Jonas Janner Hamann.

11.1.2 Poda de limpeza


É uma poda que tem por finalidade retirar ramos doentes, quebrados, secos e
mal localizados. Pode ser a única poda em plantas que requerem pouca poda
como os citros. Geralmente é realizada no período de repouso vegetativo das
frutíferas (inverno).

11.1.3 Poda verde


Realizada no período de alta atividade e circulação da seiva. São vários os
tipos de poda verde, destacando-se no primeiro ano após o plantio das
frutíferas o “esladroamento” e “desnetamento”. Geralmente tem a função de
aumentar o arejamento das plantas, facilitar a entrada dos raios solares ou
evitar perda de seiva para partes indesejáveis.
84

A B

Figura 11.2: Planta de 2 e 5 anos necessitando retirada dos ramos ladrões (do
porta-enxerto)
Fotos: Diniz Fronza.

Figura 11.3: Planta de goiabeira necessitando poda de formação e encurtamento


dos ramos
Foto: Diniz Fronza.

Na Figura 11.2 e Figura 11.3 é apresentada uma goiabeira com um ano de


idade necessitando poda nos ramos baixos e desponte do ramo apical e dos
ramos laterais. Esta poda será realizada no mês de agosto após o período de
geadas, pois a goiabeira é uma planta tropical e não tolera a geada após as
podas, podendo ocorrer a morte das planta. Na poda de formação é importante
85

realizar podas mensais de agosto a janeiro ou de setembro a janeiro em


regiões mais frias, com inverno mais prolongado. A retirada dos ramos baixos
favorece a circulação do ar reduzindo o aparecimento de doenças. O desponte
dos ramos laterais induz ao engrossamento dos mesmos dando resistência ao
efeito dos ventos. O desponte do ramo final faz com que a planta emite 3 a 4
pernadas principais.

11.2 Controle de plantas invasoras


Pode-se considerar uma planta invasora ou daninha qualquer espécie vegetal
que venha a competir e causar perdas significativas na produção do pomar. É
possível classificar como planta daninha qualquer espécie vegetal que se
desenvolva durante um determinado período do ciclo de uma cultura, que
venha a afetar a produtividade e qualidade do produto ou que interfira
negativamente no processo de colheita.

A B

Figura 11.4: (A) Goiabeira em competição com plantas invasoras. (B) Tangor
Murcott em competição com plantas invasoras
Fotos: Jonas Janner Hamann.

As plantas daninhas podem causar danos diretos como:

 Intoxicação de animais que venham a pastorear a área.

 Redução da qualidade final do produto, pois competem por água,


nutrientes, CO2 e luz.

 Impedimento da certificação de mudas de frutíferas comercializadas em


torrão.

As plantas daninhas possuem a capacidade de serem hospedeiras alternativas


de parasitas que atacam as frutíferas. Como exemplo, existem mais de 50
86

espécies de plantas invasoras hospedeiras de nematóides do gênero


Meloidogyne.

11.2.1 Métodos de controle de plantas daninhas


O controle das plantas daninhas é realizado com o objetivo de suprimir o
crescimento ou reduzir o número de indivíduos até níveis em que não causem
danos a cultura. Para o controle, o técnico pode optar pelos seguintes métodos:

 Controle preventivo.

 Controle cultural.

 Controle físico.

 Controle químico.

 Controle biológico.

O que define qual método utilizar será o grau de tecnificação, disponibilidade


de recursos, mão-de-obra e sistema de cultivo que o produtor adota na sua
área.

O controle eficiente de plantas daninhas proporciona maior desenvolvimento e


produtividade da cultura, além de rápida retomada do crescimento vegetativo
na estação de crescimento seguinte.

11.2.2 Controle preventivo


O controle preventivo de plantas daninhas utiliza práticas que impossibilitam a
introdução das plantas invasoras na área. Abaixo são citadas algumas destas
práticas:

 Compra de mudas cultivadas em embalagens plásticas com substrato


esterilizado.

 Aquisição de mudas de raiz.

 Evitar o transito de pessoas, animais e maquinário oriundos de áreas


infestadas.

 Evitar a utilização de cobertura morta que tenha obtido em regiões com


dispersão de plantas daninhas.

11.2.3 Controle cultural


O controle cultural pode ser entendido como sendo um modelo onde são
empregadas práticas comuns ao bom manejo da água e do solo, como a
rotação de cultura, variação do espaçamento de plantio e uso de plantas de
cobertura do solo. Essas práticas são adotadas para que ocorra a redução do
banco de sementes das plantas daninhas.
87

A B

Figura 11.5: (A) Plantio de aveia (Avena sativa) em pomar de citros. (B) Consórcio
de aveia (Avena sativa) e ervilhaca (Vicia sativa) em plantio de videira
Fotos: Jonas Janner Hamann.

O cultivo de plantas de cobertura do solo aumenta o aporte de matéria orgânica


no solo, dessa forma se criam condições para a instalação de uma variada
microbiota no solo, principalmente na camada superficial, com elevada
quantidade de microrganismos responsáveis pela eliminação de sementes
dormentes.

11.2.4 Controle mecânico

No cultivo de frutíferas podem ser empregadas as seguintes técnicas: arranque


manual, capina manual e roçada.

O arranque manual é muito eficiente, sendo um dos primeiros métodos


empregados no controle de plantas daninhas. Apesar de ser eficiente, quando
aplicado em grandes áreas torna-se inviável tecnicamente, adaptando-se bem
para o controle de pequenos focos iniciais de infestação na área.

A capina manual é muito utilizada em regiões declivosas ou onde há a


agricultura de subsistência. É realizada com enxada, adaptando-se muito bem
em áreas pequenas, sendo um método muito eficiente.
88

Figura 11.6: Capina manual em pomar de nogueira-pecã


Foto: Jonas Janner Hamann.

A roçada, método mais utilizado para manejar a vegetação da entre linha em


pomares, elimina a parte aérea das plantas, reduzindo o crescimento de muitas
delas, o uso da água e a massa verde da vegetação, proporcionando maior
facilidade para movimentação no pomar.

A B

Figura 11.7: Roçada em pomar de nogueira-pecã


Fotos: Jonas Janner Hamann.

Algumas vantagens do controle de plantas daninhas através de roçada é a


facilidade de execução, ausência de danos ao sistema radicular das frutíferas e
não é necessário aplicar agrotóxicos na área, podendo ser adotado em
pomares destinados ao cultivo orgânico.

11.2.5 Controle físico


As práticas desta forma de controle de plantas daninhas, que se adaptam ao
cultivo da frutíferas, são:

 Cobertura do solo.
89

 Solarização (em pequenas áreas).

O uso de cobertura do solo com resíduos vegetais, em camadas espessas,


proporciona menor variação no teor de umidade e temperatura da superfície do
solo.

A B

Figura 11.8: (A) Utilização de cobertura morta em plantas de citros. (B) Cobertura
morta em plantas de pessegueiro
Fotos: Jonas Janner Hamann.

Os resíduos vegetais ou “cobertura morta” formam uma camada protetora


sobre o solo, exercendo efeito físico sobre as sementes e a população de
plantas daninhas, atuando sobre a incidência de luz e liberando substâncias
alelopáticas, desta forma, criando condições adversas para a germinação e o
estabelecimento de espécies indesejadas e favoráveis ao desenvolvimento da
cultura.

11.2.6 Controle químico


O controle de plantas daninhas através da utilização de produtos químicos
iniciou entre 1897 e 1900, através da comprovação feita por cientistas de vários
países pela utilização de sais de cobre sobre plantas de folhas largas. Somente
em 1942 pesquisadores americanos descobriram o herbicida 2-4-D, fato este
que marcou o início do controle das plantas daninhas em escala comercial. Na
Figura 11.9 é possível observar a supressão de plantas daninhas através do
controle químico.

Figura 11.9: Controle químico de plantas invasoras em pomar de pessegueiro


Foto: Jonas Janner Hamann.
90

Como vantagens deste método destaca-se a rápida operação, permite o


controle das plantas daninhas em épocas chuvosas, não causa danos
mecânicos as raízes da cultura e não revolve o solo.

Um cuidado muito importante no momento da aplicação é a ausência de ventos


fortes. Em dias onde há a ocorrência de ventos de intensidade mediana a forte
pode ocorrer a formação de deriva e o produto pode atingir o caule e as folhas
das frutíferas. Na Figura 11.10 é possível observar danos causados em plantas
de videira pela deriva do agrotóxico.

A B

Figura 1: (A) Folhas de videira com fitotixicidez causada por herbicida de contato.
(B)Fitotoxicidez em videira causado por herbicida sistêmico.
Fotos: Jonas Janner Hamann.

No Brasil os agrotóxicos a serem utilizados nas culturas devem estar


registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Existe um
sistema de consulta chamado Agrofit (Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários)
onde é possível obter os agrotóxicos (herbicidas inseticidas, fungicidas,
acaricidas, etc) registrados para cada cultura.

11.3 Controle de formigas cortadeiras


As formigas cortadeiras constituem uma das principais pragas no cultivo da
nogueira-pecã em toda a região Sul do Brasil, vindo a causar danos desde o
início da implantação do pomar e até mesmo em pomares estabelecidos e em
plena produção. No sul do Brasil as formigas que atacam a nogueira-pecã são
geralmente do gênero Atta e Acromyrmex.

São muitos os exemplos de perdas de mudas após o plantio ocasionados por


ataque de formigas, principalmente quando a implantação dos novos pomares
ocorre no final do inverno e início da primavera. Conforme a idade da planta
existe na capacidade de rebrota desta, porém, o desenvolvimento destas
mudas fica comprometido.
91

Os danos causados por formiga são mais significativos para as plantas na fase
inicial, por isso é necessário maior atenção no controle pois podem causar a
desfolha total da planta.

Os sintomas mais comuns do ataque de formiga são cortes nas bordas das folhas
em formato de “meia lua ou unhadas”, conforme podemos observar na Figura
11.11.

A B

Figura 11.11: Característica do ataque de formigas em folhas de nogueira-pecã


Fotos: Jonas Janner Hamann.

11.3.1 Monitoramento e controle de formigas


O controle de formigas deve ser realizado de forma preventiva, antes do
transplante das mudas, dessa forma, evita-se os danos iniciais às plantas. No
controle preventivo, é necessário realizar esta prática na área destinada ao pomar
B
e nas áreas vizinhas. Após o transplante das mudas o monitoramento de formigas
no pomar deve ser realizado semanalmente e o controle realizado imediatamente
após constatado a ocorrência desta praga.

11.3.2 Controle químico


O controle químico de formigas é o método mais utilizado por produtores de
nogueira-pecã, isso deve-se a praticidade e eficiência no controle. Os formicidas
químicos podem ser encontrados na formulação líquida, pasta, pó e granulado. A
escolha do método mais adequado dependerá de vários fatores, dentre eles
podemos elencar alguns que devem ser observados no momento da escolha da
formulação do formicida:

a) Custos.
92

b) Disponibilidade de mão-de-obra.

c) Disponibilidade de Equipamentos.

d) Tamanho da área.

e) Nível de infestação.

11.3.3 Formicidas em pasta


Os formicidas em pasta estão sendo muito utilizados em plantas jovens, recém
transplantadas até o 2º ou 3º ano após o transplante. Este produto em forma de
pasta não deve ser aplicado diretamente no tronco da planta, mas sim sobre
um plástico, com auxílio de uma espátula de madeira.

A
Figura 11.12: Aplicação de formicida em forma de pasta em planta de nogueira-
pecã
Fotos: Diniz Fronza.

11.3.4 Formicidas líquidos


Amplamente utilizados em cultivos comerciais devido a sua praticidade e
eficiência, além de obter-se bons resultados com estes produtos. Várias são as
formulações disponíveis no mercado, algumas são mais eficientes que outras.

Os formicidas líquidos são aplicados com auxílio de pulverizadores costais,


como observado na Figura 11.13:
93

Figura 11.13: Aplicação de formicida líquido em pomar de nogueira-pecã


Foto: Jonas Janner Hamann.

O controle de formigas deve iniciar logo que as frutíferas iniciarem a brotação,


sendo necessário estender o controle até o início da queda das folhas,
normalmente em meados de abril/maio.

11.4 Controle de doenças


Em pomares recém-implantados, sempre que possível é preciso evitar a
entrada de doenças na área, através de barreiras físicas como quebra-ventos,
evitar a entrada de pessoas que transitaram em áreas contaminadas, etc.

Os cuidados com o manejo de doenças nas frutíferas devem iniciar desde o


momento da implantação, tendo-se a necessidade de conhecer quais as
doenças podem ocorrer na cultura e sintomas visuais.

Para minimizar a possibilidade da ocorrência de doenças em pomares é


possível adotar algumas práticas:

 Nível de nutrição das plantas adequado.

 Evitar o excesso de fornecimento de nitrogênio.

 Evitar condições que propiciam o desenvolvimento dos patógenos.

 Ter quebra-ventos desenvolvidos em torno do pomar.

Havendo necessidade da utilização de fungicidas, deve-se realizar o manuseio,


preparo da dosagem adequadamente e aplicação de forma correta. Na Tabela
abaixo estão descritas as principais doenças que podem ocorrer em pomares
recém implantados.
94

Tabela 11.2: Principais doenças que podem ocorrer em pomares


jovens
Espécie Doenças Estrutura da planta Forma de entrada
atacada do patógeno no
pomar
Cancro cítrico Folhas, ramos e Vento, mudas,
frutos maquinário e roupas
contaminadas.
Gomose Sistema vascular Mudas, maquinário e
Citros roupas contaminadas.
Verrugose Folhas e frutos Vento, mudas,
maquinário e roupas
contaminadas.
Goiabeira Ferrugem Folhas e flores Vento, mudas,
maquinário e roupas
Figueira Ferrugem Folhas contaminadas.
Sarna Folhas e frutos
Nogueira-pecã
Antracnose
Fusariose Sistema vascular
Míldio Folhas e ramos Mudas, maquinário e
Videira roupas contaminadas.
Antracnose Folhas e ramos
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.

11.5 Controle de animais domésticos e


selvagens
Em pomares jovens é possível utilizar o pomar com animais domésticos como
exemplo com ovelhas, porém é importante a proteção das plantas para evitar a
desfolha e/ou a retirada da casca das plantas. Na Figura 11.14 e 11.15 são
apresentados 2 métodos de isolamento das plantas, com telas de proteção e
com tubos de PVC já utilizados (velhos). Os danos às culturas variam com as
raças de ovelhas.
95

Figura 11.14: Planta protegida da ação das ovelhas


Foto: Diniz Fronza.

Figura 11.15: Ovelha causando danos em nogueira


Foto: Jonas Janner Hamann.
96

Resumo

Vários são os cuidados necessários nos primeiros anos após a implantação do


pomar. Mesmo que a planta não esteja em produção são necessárias podas,
controle de plantas invasoras, pragas, doenças e nutrição.

As principais podas a serem realizadas nos primeiros anos são: a poda de


formação, poda de limpeza e poda verde. Na poda de formação são escolhidos
os principais ramos que suportarão toda a planta. Na poda de limpeza e na
poda verde são retirados os ramos indesejáveis, tais como: ramos para baixo,
ramos para o centro, ramos paralelos, ramos cruzados, ramos doentes e
quebrados.

O controle de plantas daninhas ou invasoras também deve ser realizado. O


controle destas plantas pode ser realizado através de várias formas: controle
preventivo, controle cultural, controle físico e controle químico.

Outro cuidado necessário é a realização do controle das formigas cortadeiras.


Os danos causados por formiga são mais significativos para as plantas na fase
inicial, por isso é necessário maior atenção no controle pois, podem causar a
desfolha total da planta. Geralmente plantas atacadas uma vez por formigas
atrasam um ano e plantas com dois ataques de formiga causam a perda da
muda.

O manejo fitossanitário também é importante nos primeiros anos após a


implantação do pomar, sendo necessário combater pragas e doenças. Outro
controle importante é a proteção de animais selvagens e domésticos.

Atividades de aprendizagem

1. Quais os cuidados com as frutíferas nos primeiros anos quanto a poda?

2. Quais os cuidados com as frutíferas nos primeiros anos quanto às pragas


e animais?

3. Quais os cuidados com as frutíferas nos primeiros anos quanto as


doenças?

4. Como é possível realizar o controle de formigas em pomares?


97

Aula 12 – Aproveitamento das áreas com


culturas intercalares

Objetivos

Compreender os conceitos relacionados ao cultivo intercalar;

Analisar as vantagens do emprego desta técnica;

Ter estabelecido quais as culturas que podem ser cultivadas entre as linhas
dos pomares.

12.1 Cultivos intercalares

Como cultivo intercalar entende-se a realização do plantio de outras espécies


vegetais como cereais ou tubérculos entre as linhas de plantio das plantas
frutíferas. Na Figura 12.1 é possível observar dois exemplos de cultivos
intercalares.

A B

Figura 12.1: (A) Cultivo nogueira-pecã intercalado com milho. (B) Cultivo de
nogueira-pecã intercalado com erva-mate
Fotos: Diniz Fronza.
98

12.2 Benefícios do cultivo de plantas nas


entrelinhas
O cultivo de plantas intercalares em pomares possui vários objetivos, entre eles
é possível destacar alguns:

 Reduzir o custo de implantação e formação do pomar, através da geração


de receita pela venda de frutos, grãos, tubérculos ou raízes cultivadas nas
entrelinhas.

 Cobrir o solo e diminuir o risco de erosão na área do pomar.

 Melhorar as características químicas e físicas do solo.

 Possibilita a realização da adubação verde.

 Aumentar a capacidade de infiltração de água no solo.

 Criação de nichos ecológicos para inimigos naturais.

Esta prática é amplamente utilizada na fruticultura desenvolvida em


propriedades da agricultura familiar, pois há disponibilidade de mão-de-obra e
necessidade de potencializar o uso das áreas para obter maior retorno
econômico.

12.3 Escolha da cultura intercalar

A escolha da espécie vegetal que será cultivado entre as linhas é um dos


pontos mais importantes ligados ao sucesso da pratica. É sempre importante
lembrar que a cultura principal são as plantas frutíferas, dessa forma, deve-se
evitar o cultivo de espécies que venham a competir por água, nutrientes e luz
solar com as frutíferas.

As culturas cultivadas entrelinhas não devem dificultar a locomoção do produtor


e nem dificultar o acesso até as plantas frutíferas porque durante todo o ciclo
será necessário a realização de práticas de manejo da cultura principal, como a
poda, controle de pragas e doenças, entre outras atividade.
99

Tabela 12.1: Espécies vegetais com potencial de cultivo nas


entrelinhas de pomares nos primeiros anos após a
implantação das frutíferas
Frutífera Cultura intercalar
Citros (laranjas, bergamotas, limas e limões) Amendoim, mandioca, melancia, milho, aveia,
ervilhaca, nabo forrageiro
Figueira Amendoim, melancia, milho, aveia, ervilhaca,
nabo-forrageiro
Goiabeira Amendoim, mandioca, melancia, milho, aveia,
ervilhaca, nabo forrageiro
Nogueira-pecã Amendoim, mandioca, melancia, milho,
Videira Aveia, ervilhaca, nabo forrageiro
Fonte: Colégio Politécnico da UFSM.

Na Figura 12.2 é possível observar alguns sistemas de cultivo intercalares em


pomares comerciais.

A B

C D

Figura 12.2: (A) Laranjeiras intercaladas com mandioca. (B) Figueiras intercaladas
com amendoim. (C) Nogueira-pecã intercalado com amendoim. (D) Nogueira-pecã
intercalada com melancia
Fotos: Diniz Fronza.

Outra opção para o cultivo entre as linhas de plantio das frutíferas é a


implantação de espécies vegetais destinadas a adubação verde. As espécies
para adubação verde são cultivadas pelas suas características morfológicas,
100

como sistema radicular profundo e bem desenvolvido e possibilidade de


incorporar nutrientes ao solo. Algumas das plantas utilizadas na adubação
verde são e quantia de nutrientes incorporados ao solo.

Tabela 12.2: Quantidade média de nutrientes incorporados ao solo


pelos adubos verdes, com base no material vegetal
produzido
Macronutrientes (Kg.ha-1) Micronutrientes (Kg.ha-1)

Espécie N P2O K2O Ca Mg s B C Fe Mn Zn


2 u

C. juncea 183 39 204 105 52 13 236 92 4,2 721 275

C. 44 10 56 38 10 3 74 30 561 170 64
spectabilis
Guandu 144 30 131 55 21 10 157 82 3,1 506 144

Mucuna 86 19 73 39 14 6 93 64 8,1 612 103


Preta
Mucuna 91 15 55 32 14 7 91 74 5,8 714 105
Anã
Lab-lab 67 19 69 42 19 7 93 32 4,6 578 100

Feijão-de- 169 31 138 109 30 11 169 42 4,0 780 133


porco
Obs: Quantidade de nutrientes, considerando-se plantio em área total.

Fonte: Adaptado de CARVALHO e CASTRO NETO (2002).

A grande maioria dos produtores utiliza o cultivo de plantas para adubação


verde no pomar durante o inverno, período este em que as frutíferas estão em
repouso vegetativo. Na Figura 12.3 são apresentados exemplo de sucesso no
cultivo de plantas utilizadas para adubação verde em pomares comercia.

A B

Figura 12.3: (A) Cultivo de ervilhaca em pomar de caquizeiro. (B) Cultivo de aveia
em parreiral
Fotos: Jonas Janner Hamann.
101

A criação de animais também é uma consorciação possível desde que se


proteja as mudas nos primeiros anos.

Figura 12.4: Consorcio de ovelhas com nogueira


Foto: Diniz Fronza.

Resumo

O objetivo desta aula foi compreendermos o que é um cultivo intercalar,


definido como a realização do plantio de outras espécies vegetais como cereais
ou tubérculos entre as linhas de plantio das plantas frutíferas.

O cultivo de plantas intercalares em pomares possui vários objetivos, entre eles


é possível destacar alguns: redução do custo de implantação e formação do
pomar, através da geração de receita pela venda de frutos, grãos, tubérculos
ou raízes cultivadas nas entrelinhas, recobrimento do solo e diminuir o risco de
erosão na área do pomar, melhoria das características químicas e físicas do
solo e possibilita a realização da adubação verde.

As culturas cultivadas entrelinhas não devem dificultar a locomoção do produtor


e nem dificultar o acesso até as plantas frutíferas porque durante todo o ciclo
será necessário a realização de práticas de manejo da cultura principal, como a
poda, controle de pragas e doenças, entre outras atividade.
102

Atividades de aprendizagem

1. Quais as culturas recomendadas para o consórcio com frutíferas?

2. Quais as plantas de cobertura possíveis de serem utilizadas e cuidados?

3. Quais os consórcios com animais e cuidados?

4. Por que é importante ter cultura consorciada?


103

Aula 13 – Treinamento constante e


parcerias

Objetivos

Conhecer a importância da atualização técnica constante;

Ter contato com os benefícios adquiridos através da criação de parcerias no


empreendimento agrícola.

13.1 Treinamento constante


O produtor de frutas deve estar continuamente atento às novidades do setor,
participar de treinamentos e visitas técnicas orientadas. Os treinamentos
devem ser realizados com pessoas de diferentes correntes, pois é na
adversidade que surgem novas ideias. Todo dia o fruticultor deve fazer a
pergunta: Que posso fazer para melhorar meu produto? Que posso fazer
para reduzir meus custos? Que posso fazer para ampliar minha clientela?

Participando de debates com colegas surgem novas ideias e técnicas que


fazem a diferença no empreendimento. As visitas técnicas são armas
poderosas para o aporte de novas ideias. Nelas o produtor vê ambientes
novos, diferentes propósitos, adaptações, soluções inovadoras e interage com
as pessoas e o ambiente.

Figura 13.1: Participação de 302 pessoas no treinamento sobre nogueira-pecã em


Anta Gorda – RS no dia 24 de abril de 2014
Foto: Diniz Fronza.
104

13.2 Formação de Parcerias, Associações ou


Cooperativas

A formação de parcerias aumenta o poder de barganha dos produtores e


permite a compra de máquinas e equipamentos mecanizando os cultivos.
Cultivos mecanizados exigem um adaptado modelo de implantação do pomar
com filas que permitam a passagem de máquinas e equipamentos. Como
exemplo o uso de tratores de grande porte exigem espaçamentos maiores nas
linhas. As podas de condução nos primeiros anos de cultivo devem ser
adaptadas às máquinas. As videiras e as macieiras podem ser podas com
equipamentos mecânicos de poda, desde que as linhas de cultivo estejam
adequadas para as máquinas. Como exemplo produtores de nozes compraram
um vibrador para colheita mecânica a um custo de 20 mil reais. Para a
utilização da maquina houve um planejamento desde a implantação do pomar,
pois as plantas devem possuir 1,5 de tronco sem galhos.

Figura 13.2: Máquina para colheita de nozes com capacidade para derrubar 10 mil
kg de frutas por dia.
Foto: Diniz Fronza.
105

Resumo

O produtor de frutas deve estar continuamente atento às novidades do setor de


frutas, participar de treinamentos e visitas técnicas orientadas. Os treinamentos
devem ser realizados com pessoas de diferentes correntes, pois é na
adversidade que surgem novas ideias.

Participando de debates com colegas surgem novas ideias e técnicas que


fazem a diferença no empreendimento.

A formação de parcerias aumenta o poder de barganha dos produtores e


permite a compra de máquinas e equipamentos mecanizando os cultivos. A
aquisição de equipamento permite em alguns casos a industrialização,
agregando valor às frutas e ampliar o período de comercialização.

Atividades de aprendizagem

1. Qual a importância do treinamento constante e da participação em visitas


técnicas e eventos para o sucesso do fruticultor?

2. Qual a importância das parcerias para a fruticultura?

3. Cite outros aspectos relacionados ao treinamento e organização dos


produtores considerados importantes para manter a competitividade na
fruticultura?

4. Cite entidades ligadas a fruticultura de sua região e quais as funções


(associação, secretarias, Emater, universidades,...).
106

Referências
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Alegre. Editora da UFRGS. 1992. 125p.

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DEMILLO, R. Como funciona o clima. Ed. Quark Books. 1998.226p.

DOORENBOS, J. PRUITT, W.O. Necessidades hídricas das culturas.


Roma: FAO. 1977. 204p. (FAO. Irrigação e drenagem, 24).

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plantas frutíferas. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2005.
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fertilizantes via água de irrigação. Piracicaba: ESALQ. 1994. p.35. (Série
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Santa Maria, RS: Universidade Federal de Santa Maria, Colégio Politécnico,
Núcleo de Fruticultura Irrigada, 2013. 301 p. : il.; 21cm.

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HOFFMANN, S.M.B.; FACHINELLO, J.C. Uso do porta-enxerto em


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Paulo: Editora Agronômica Ceres. 1981. 596p.

MILLAR, A.A. Manejo racional da irrigação: uso de informações básicas


sobre diferentes culturas. 2 ed. Brasília: PRONI/IICA, 1989. 57 p.
107

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OMETTO, J.C. Bioclimatologia Vegetal. Ed. Ceres. 1981. 435p

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SILVA, S. R. da.; RODRIGUES, K. F. D.; FILHO, J. A. S. Propagação de


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WENDLING, I.; GATTO, A.; PAIVA, H.N.; GONÇALVES, W. Substratos,


adubação e irrigação na produção de mudas. Viçosa: Aprenda Fácil. 2002.
108

Currículo do professor-autor
O professor Diniz Fronza leciona as disciplinas de Fruticultura e Irrigação e
Drenagem no Colégio Politécnico da UFSM. É produtor de frutas, formou-se no
Curso Técnico em Agropecuária pelo Colégio Agrícola de Frederico
Westphalen-UFSM, graduou-se em agronomia pela Universidade Federal de
Santa Maria, local onde realizou o Mestrado em Engenharia Agrícola. Realizou
o Doutorado em Agronomia na ESALQ - Universidade de São Paulo, com
sanduiche na Universidade de Pisa –Itália. Possui mais de 100 trabalhos de
pesquisas nas áreas de fruticultura e irrigação apresentados em revistas,
congressos, jornadas acadêmicas e seminários. Coordena a equipe da
fruticultura irrigada do Setor de Fruticultura do Colégio Politécnico da UFSM
onde atende em treinamentos, curso, palestras, a mais de 2000 produtores por
ano. Realiza as atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão em parcerias com
Prefeituras, Emater, Sindicatos, Associações de produtores e entidades de
pesquisa e extensão.

Jonas Janner Hamann é Técnico Agrícola formado pelo Instituto Federal


Farroupilha campus São Vicente do Sul, Técnico em Meio Ambiente pelo
Colégio Politécnico da UFSM, e graduando do curso de Agronomia da
Universidade Federal de Santa Maria. O autor é integrante da equipe técnica
do Setor de Fruticultura Irrigada do Colégio Politécnico da UFSM, atuando na
área de extensão rural através da organização e apresentação de dias de
campo, visitas técnicas orientadas, cursos e minicursos ministrados a
comunidade acadêmica do Estado e a produtores rurais da Região Sul do
Brasil. Integra a equipe técnica de pesquisa do Setor de Fruticultura, participou
da elaboração e coordenação de mais de 100 trabalhos, realizando pesquisas
com diferentes frutíferas, com destaque para o cultivo protegido de videiras,
fertirrigação em figueira e goiabeira, propagação de frutíferas e estudos
direcionados a cultura da nogueira-pecã.

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