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Escolha do diretor: eleição, concurso ou indicação?

Eleições e indicações são os métodos de seleção de diretor escolar mais comuns no Brasil

TORY OLIVEIRA
7 de novembro de 2015

A diretora Jucély Woinarovicz foi escolhida por meio de uma eleição na escola
Não houve escolha de presidente ou prefeitos no Brasil em 1997, mas, para Jucély
Woinarovicz, aquele foi um ano eleitoral, com direito a campanha e elaboração de
propostas.

A então professora de Português foi alçada pelo voto dos funcionários da escola, dos alunos
e de seus pais ao cargo de direção pela primeira vez.

De lá para cá, a educadora de 50 anos já concorreu outras vezes e hoje é diretora da Escola
Municipal CAIC Cândido Portinari, em Curitiba, no Paraná. Localizada no bairro Cidade
Industrial, a escola em que Jucély atua atende 2.050 alunos, da Educação Infantil ao 9º ano
do Ensino Fundamental.

Na capital paranaense e no estado, o processo de eleição direta para a escolha dos


diretores escolares acontece na rede municipal há 30 anos.

Nas escolas curitibanas, qualquer funcionário com formação em educação pode se


candidatar ao cargo de diretor, que será ocupado pela chapa de diretor e vice pelos
próximos quatro anos.

Os candidatos precisam formar uma chapa com o possível vice-diretor e apresentar,


obrigatoriamente, um projeto de gestão para a escola em que pretendem atuar na comissão
eleitoral local.

Participam do processo de escolha funcionários, professores, familiares dos alunos e os


estudantes com mais de 16 anos. O voto não é obrigatório.

Jucély conta que nunca foi indicada, mas que já trabalhou em escolas em que esse era o
método de escolha para gestores da rede pública. “Havia um caráter autoritário, pois o
diretor não se comprometeu com a comunidade e com os professores, mas sim cumpriu o
papel mandado”, lembra.

Para a educadora, a eleição aproxima o diretor das necessidades e dos anseios da


comunidade escolar que, ao mesmo tempo, sente-se mais participativa. “Fazemos um
trabalho com os pais para que eles entendam a democracia que é votar enquanto
comunidade e, a partir daí, ter as portas da direção abertas para recebê-los”, explica Jucély.

As primeiras experiências com eleições de diretores de escolas públicas pela comunidade


escolar aconteceram com a redemocratização, no fim da década de 1980.
Hoje, grande parte dos gestores escolares é selecionada por meio dessa prática. No
entanto, ainda persistem outros métodos de escolha, como a indicação política ou
concursos públicos.
Segundo dados colhidos a partir do questionário respondido por diretores no Sistema de
Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2011, um em cada quatro diretores brasileiros foi
indicado por políticos locais. A proporção equivale a 21,8% do total de 56.911 diretores nas
redes estaduais e municipais de todo o País.

Quando se considera apenas a rede municipal, um terço dos diretores de escolas dos
municípios respondeu que assumiu por interferência de vereadores, deputados, prefeitos e
partidos, por exemplo.

“Infelizmente, as indicações são mais comuns do que nós gostaríamos”, analisa Ângelo
Ricardo de Souza, professor e pesquisador do núcleo de políticas educacionais da
Universidade Federal do Paraná.

“Existe um conjunto de estudos que mostra que a indicação política está articulada a uma
visão patrimonialista da educação e do Estado, de forma geral”, explica.

Para Souza, talvez por isso o processo de escolha por políticos aconteça de forma mais
forte em municípios menores e mais pobres. “Temos indicação política em todas as regiões
brasileiras, todavia aparece de forma mais acentuada no Centro-Norte e no Nordeste do
País.”

Para Cynthia Paes de Carvalho, professora da PUC-Rio, as indicações ainda são comuns,
porque a profissionalização da gestão escolar está longe de ser uma realidade.

Além disso, em municípios menores, o diretor pode ser visto pela administração local e pela
própria Secretaria de Educação como um representante do poder municipal. “É uma
tradição clientelista, da política miúda, mas que é comum e faz com que o diretor seja
indicado não necessariamente com critérios técnicos”, afirma.

O maior índice de indicações, de acordo com os dados dos questionários do Saeb, foi
registrado em Santa Catarina, com 62,8% dos cargos de direção.
Em 15 de outubro, depois da veiculação de uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo
sobre o número de diretores indicados, o governador Raimundo Colombo, do PSD, assinou
um decreto acabando com o provimento por indicação e estabelecendo eleições para
diretores em 2015.

Poderão participar do processo eleitoral professores concursados e sem histórico de


penalidades administrativas. Para se candidatar, os educadores deverão participar de um
curso de capacitação e apresentar um plano de gestão como foco na aprendizagem dos
estudantes.

O projeto será avaliado por uma equipe de especialistas e, caso seja confirmado, seguirá
para votação dos professores, dos estudantes a partir do 6º ano do Fundamental e dos
pais. Os votos desses terão o dobro do peso dos demais.

O escolhido ficará no cargo pelos próximos quatro anos, a partir de 2016. O projeto foi
criticado pelo especialista: “Às vezes, as eleições são um arremedo. Quem deve avaliar o
projeto de gestão é o eleitor e não uma comissão”.

O assunto é complexo. No Brasil, segundo a Constituição, existem duas formas de


provimento de funcionários públicos: concurso para os cargos efetivos e nomeação pelo
Poder Executivo, quando se trata de uma função de confiança.

Por isso, na letra fria da lei, as eleições diretas para diretores são inconstitucionais.
Assim, é comum a combinação de duas ou mais modalidades de escolha pelas secretarias
de Educação, como, por exemplo, a eleição e a confirmação do resultado por meio da
indicação do Poder Executivo.

Em São Paulo, tanto a rede municipal quanto a estadual utilizam o concurso público como
método de provimento de diretores escolares. As opiniões sobre essa via são controversas.
Para Ângelo Ricardo Souza, tanto a eleição quanto a indicação reconhecem a função do
dirigente escolar como predominantemente política. Já o concurso trata como um cargo
técnico.
“O concurso é uma ferramenta democrática, mas adequada para suprir cargos de natureza
técnica, o que não parece ser o caso do dirigente escolar.”

Para Souza, historicamente no Brasil a gestão escolar assumiu função política, no sentido
de discutir e tomar decisões acerca de concepções de educação e de levar em conta a
opinião da comunidade, por exemplo.

“O diretor ou diretora está sempre coordenando a gestão escolar, que é por natureza um
processo de disputa pelo poder escolar”, opina.

“O concurso é tão ruim quanto a indicação, porque supõe que diretor é um cargo técnico.
Mas ele precisa conhecer bem educação. A parte administrativa da função já foi provado,
em várias pesquisas e em conversas com diretores, que qualquer um é capaz de fazer”, diz
Vitor Paro, professor da Faculdade de Educação da USP e autor de Gestão Democrática
da Escola Pública e de Administração Escolar.

Professora do Departamento de Educação da PUC-Rio na área de gestão educacional e


escolar, Cynthia Paes de Carvalho não se opõe totalmente ao concurso. “Acho importante
existir alguma forma de consulta à comunidade, mas o concurso valoriza o aspecto técnico
da gestão”, afirma. “A tendência é o sistema híbrido: processos seletivos confirmados de
alguma forma pela comunidade escolar, a fim de legitimá-lo”, conta.

Para Wagner Carbonari, que há 17 anos dirige a Emef Mario Faccio “Zacaria” na zona sul
de São Paulo, é possível ter uma gestão democrática ainda que o diretor seja concursado.
“Enquanto diretor, acho importante tratar as pessoas com respeito. Também procuro tornar
todas as decisões públicas e ouvir o que todos pensam”, explica.

Apesar de ter chegado ao cargo por meio de concurso público, como é de praxe nas redes
de São Paulo, Carbonari conta que se sente apoiado pela comunidade escolar. “O diretor
não é uma pessoa só, ele representa um conjunto de pessoas.” Ele chegou a participar (e
perdeu) uma eleição para diretor há mais de 20 anos.
“Eu era benquisto pelos professores, mas houve manipulação das pessoas durante a
votação e eu perdi por 13 a 14”, lembra. “Em uma situação como essa, a eleição não
garantiu o envolvimento de todos. Não existe um jeito perfeito de selecionar o gestor da
escola pública. Acho que poderíamos investir em um modelo que valorizasse a formação
do educador, como o concurso, mas que não incentivasse a acomodação.”

Jucély, diretora eleita na escola municipal de Curitiba, reconhece alguns pontos negativos
também na eleição direta. “Infelizmente, o nosso modelo político se repete no micromundo
da escola. Aqui, há alguns problemas, como trabalhar questões pessoais e gerar fofocas
em vez de apresentar propostas”, conta.

“A eleição do diretor escolar não é garantia de democratização, mas é uma condição para
se ampliar a democracia na escola e nos sistemas de ensino”, concorda Ângelo Ricardo
Souza, da UFPR.
Na visão dele, a indicação ainda permanece porque existe uma resistência no Brasil em
democratizar o processo de política escolar e educacional. “A eleição não é a melhor forma
no sentido absoluto, mas é a melhor para a atual conjuntura. Nos últimos 30 anos não
encontraram uma forma ideal”, afirma.

Indicadores mostram que escolas em que os diretores são eleitos são mais bem-sucedidas
em desenvolver mais e melhor a participação dos pais no Conselho Escolar, por exemplo.
“Por outro lado, escolas em que o dirigente é indicado geralmente o conselho não existe ou
não funciona”, opina Souza.

Por isso, na avaliação de Vitor Paro, a modalidade de escolha mais adequada às


peculiaridades da função é sua eleição pela comunidade escolar. Certamente, alerta, isso
não significa uma completa democratização da escola, já que a eleição do dirigente é
apenas uma das medidas necessárias.

“Entretanto, sem ter os vícios das alternativas de provimento, a eleição é a única que tem
a virtude de contribuir para o avanço de tal democratização”, escreveu no artigo “Escolha e
formação do diretor escolar”.
Fonte: http://www.cartaeducacao.com.br/reportagens/escolha-do-diretor-eleicao-concurso-
indicacao/

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