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CURSO DE ESTOMATOLOGIA PARA

CIRURGIÕES-DENTISTAS DA REDE
PÚBLICA DE ATENÇÃO À SAÚDE

Material para
Leitura
Módulo 5

LESÕES erosivas

LESÕES EROSIVAS
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Leitura LESÕES EROSIVAS
INTRODUÇÃO
Como fora visto anteriormente no primeiro módulo (tópico de lesões fundamentais) erosão é
definida como perda parcial do tecido epitelial sem resultar na exposição do tecido conjuntivo (figura
1). A erosão, portanto, leva a uma diminuição da espessura epitelial gerando um aspecto clínico
avermelhado devido a maior visualização do componente vascular presente no tecido conjuntivo
subjacente. Além disso, os pacientes portadores de lesões erosivas podem relatar desconforto no
local, em especial sensação de ardência, que ocorre devido à diminuição da espessura epitelial e,
consequentemente, maior estímulo das terminações nervosas presentes no tecido conjuntivo.
Algumas lesões erosivas podem ser observadas frequentemente na rotina clínica do cirurgião
dentista. Essas lesões podem ter agentes etiológicos distintos (trauma, infecções, autoimunes,
distúrbios sistêmicos), portanto o estabelecimento do diagnóstico correto se torna fundamental
para que as mesmas possam ser tratadas adequadamente.
Neste módulo, vamos desenvolver o raciocínio diagnóstico abordando itens importantes do
exame clínico, principais exames complementares a serem realizados para cada doença, bem como,
a melhor forma de tratamento. Para facilitar o raciocínio diagnóstico, optamos por apresentar as
principais lesões erosivas de acordo com o sítio envolvido.

EROSÃO
Epitelial
Tecido
Tecido Conjuntivo

Figura 1. Desenho esquemático ilustrando alteração


tecidual observada em lesões erosivas, onde parte do
tecido epitelial foi perdida.

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Tabela 1. Principais lesões erosivas de acordo com o sítio de acometimento.

Língua Gengiva
• Língua geográfica • Líquen plano erosivo
• Glossite atrófica • Pênfigo vulgar
• Glossite romboidal mediana • Penfigóide benigno de mucosa
• Candidíase eritematosa
• Eritroplasia/eritroleucoplasia

Palato Assoalho
• Candidíase atrófica crônica • Eritroplasia/ eritroleucoplasia
• Trauma por sexo oral • Líquen plano erosivo
• Estomatite de contato
Mucosa Jugal Lábio
• Líquen plano erosivo • Queilite angular
• Reações medicamentosas • Queilite actínica
• Estomatite de contato • Queilite exfoliativa

LESÕES EROSIVAS EM PALATO

CANDIDÍASE ATRÓFICA CRÔNICA


Clinicamente se caracteriza por área eritematosa difusa, pontilhada ou granulosa na mucosa
de revestimento do palato duro, associados às áreas chapeáveis1 das próteses.

A B

FIGURA 2. Candidíase atrófica crônica com aspecto de eritema pontilhado (pétequias) (A). Lesão
avermelhada difusa por toda a área chapeável da mucosa do palato duro e rebordo alveolar (B).

1 Área de mucosa sobre a qual as próteses parciais removíveis (chamadas PPRs) ou próteses totais (populamente chamadas de dentaturas) se apoiam.

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Trata-se de uma infecção fúngica oportunista superficial, frequente em boca, causada por
alguma espécie de Cândida (mais comumente a C. albicans). As diferentes espécies de Cândida
fazem parte da composição normal da microbiota da boca. Em alguns casos, fatores locais ou
sistêmicos podem favorecer a proliferação destes fungos e, consequentemente, instalação da doença.
Dentre estes fatores, o uso de próteses removíveis ou totais mal higienizadas ou que gerem trauma na
mucosa são os mais frequentes. Diabetes mellitus é uma condição sistêmica muito relacionada com
quadros de candidíase bucal. O diagnóstico é baseado nos aspectos clínicos. Não se faz necessária a
realização de exames complementares. O tratamento consiste na orientação quanto à higienização
das próteses, sua remoção no período noturno para desinfecção e o tratamento medicamentoso.

TRATAMENTO MEDICAMENTOSO
Considerações gerais:
Iniciar com Nistatina suspensão oral 100.000 UI/ml, principalmente em casos de lesões
múltiplas ou amplas sobre próteses totais/PPRs.
Substituir por gel de miconazol oral em casos não responsivos. Em casos raros, o fato de não
haver resposta ao tratamento pode ser atribuído a reações alérgicas.
Em lesões localizadas, o miconazol pode ser a primeira alternativa. Em casos de candidíase
sobre dentadura, regiões ásperas da prótese podem gerar micro trauma, portanto devem ser
removidas.
Reavaliar o paciente em 30 dias. Caso não haja remissão do quadro, pode-se fazer uso de
antifúngicos sistêmicos como fluconazol.

Cuidado com as próteses removíveis – PPRs e próteses totais desadaptadas, mal higienizadas, antigas ou que não
são removidas à noite. Orientar para que as próteses sejam removidas à noite e colocadas em copo com solução
desinfetante. Avaliar necessidade de ajuste, reembasamento ou confecção de novas próteses. No verso da prescrição,
optar por uma das alternativas para higienização da prótese:
- Colocar a prótese de molho em um copo de água com uma colher das de sopa de hipoclorito de sódio (QBoa),
enquanto o paciente dorme à noite. Ao acordar na manhã seguinte, lavar a prótese com bastante água da torneira
antes de usar.
- Colocar a prótese de molho em um copo com solução de digluconato de clorexidina 0,2% enquanto o paciente
dorme à noite. Ao acordar na manhã seguinte, lavar a prótese com bastante água da torneira antes de usar.

Obs.: A segunda opção (digluconato de clorexidina) é recomendada especialmente em casos de próteses que
apresentam base de metal, que pode oxidar se for utilizada a solução de hipoclorito de sódio. A solução de
digluconato de clorexidina (0,2%) utilizada para igienização da prótese é mais concentrada do que a utilizada para
controle químico de biofilme (0,12%), pois a Cândida penetra no acrílico. Em função disso é necessário que esta
solução seja manipulada.

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Tratamento tópico
Medicamentos de Uso Externo - Via tópica

Nistatina 100.000UI/ml suspensão oral ________________ 14 frascos (60mL)


Após a remoção da prótese, bochechar 10ml (medida de 1 colher de sopa cheia) 4 vezes ao dia, durante 3 minutos, e
cuspir depois. Não comer e beber ou lavar a boca por 30 minutos. Fazer o tratamento por 14 dias.

Obs.: Lembrar ao paciente que, mais importante do que “bochechar” a solução é deixá-la em contato com a região da
lesão por bastante tempo, pois isso potencializa o efeito da medicação.

Obs: Caso a candidíase se estenda para orofaringe, o paciente deve engolir a nistatina. O medicamento não tem
absorção, porém, por sua composição ter açúcar, é contraindicada a deglutição em pacientes diabéticos.

Miconazol 20 mg/g - gel oral__________________ 1 bisnaga

Sobre próteses – lesões amplas


Aplicar uma camada fina na face interna da prótese antes de colocá-la em boca. Repetir a aplicação 4 vezes por dia,
durante 30 dias.

Tratamento sistêmico
Medicamentos de Uso Interno - Via Oral

Fluconazol 150mg ____________________________ 4 comprimidos


Tomar 1 comprimido por semana, por 2 a 4 semanas

Obs.: Indicado para casos de suspeita de imunossupressão, a qual deve ser investigada mediante solicitação de
exames laboratoriais (hemograma completo, glicemia em jejum, contagem de plaquetas, VSG, ferro sérico, ácido
fólico, vitamina B12 e anti-HIV - em alguns casos).

ESTOMATITE DE CONTATO
A estomatite de contato é uma reação inflamatória ou reação de hipersensibilidade associada a
algum tipo de material. Essas lesões podem aparecer em vários sítios da boca e, quando no palato, estão
mais associadas ao acrílico de aparelhos/próteses totais e removíveis. Tem sido relatado que isso acontece
quando o acrilíco não foi devidamente preparado, permanecendo um alto conteúdo de monômero
de metil metacrilato residual. Clinicamente, se caracterizam como áreas avermelhadas/eritematosas
limitadas ao local de contato com os aparelhos removíveis. Os pacientes podem relatar ardência e/ou dor
no local. Em casos raros podem ocorrer reações de ordem sistêmica, de maior ou menor intensidade,
como: sensação de queimação, dificuldade na deglutição, edema nos lábios e urticaria. Essas lesões
não são muito frequente, mas devem entrar no diagnóstico diferencial de lesões erosivas em palato. O
diagnóstico clínico é feito por exclusão. Inicialmente, o cirurgião dentista deve suspeitar de candidíase
atrófica crônica, porém, após terapia com antifúngico, a lesão não regride. Assim, deve-se pensar em
lesão inflamatória de hipersensibidade ao acrílico. A conduta inicial pode ser o reembasamento com
condicionadores de tecido, uso de medicação tópica com antiinflamatórios esteroidais. Porém, a resolução
só ocorre com a troca do aparelho protético de resina por metal.

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A B

FIGURA 3. Reação de hipersensiblilidade local: (A) aparelho de contenção utilizado e (B) reação local
de eritema sob o aparelho de contenção.

Fonte: Gonçalves et al (2006)

LESÃO ASSOCIADA A TRAUMA POR SEXO ORAL (FELAÇÃO)


A felação é a estimulação do pênis com a boca. Dependendo da intensidade e frequência com que
é realizado o sexo oral, pode ocasionar uma lesão avermelhada, normalmente ovalada, única, na região
posterior de palato duro/anterior palato mole. Isto ocorre devido a pressão negativa e traumas repetitivos.
O diagnóstico é estabelecido geralmente após se descartar candidíase ou baseado na anamnese e aspecto
clínico. A conduta é suspender o trauma e observar a regressão da lesão.

FIGURA 4. Lesão erosiva de formato elíptico no


centro do palato duro.

Fonte: https://dentistryandmedicine.blogspot.com.br/2011/08/red-
lesions-of-oral mucosadifferential.html (Mancha avermelhada em
palato duro, associado ao traumatismo por sexo oral).

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LESÕES EROSIVAS EM GENGIVA

GENGIVITE DESCAMATIVA
Gengivite descamativa é um termo clínico genérico utilizado para descrever uma alteração
gengival inflamatória de aspecto erosivo/avermelhado, que pode ser um sinal clínico de algumas doenças
autoimunes mucocutâneas, como o líquen plano erosivo, o pênfigo vulgar e o penfigóide beningo de
mucosa.
Os pacientes apresentam quadros variados de eritema, edema e ulcerações em mucosa gengival.
Por vezes, nota-se descamação do epitélio associada à sintomatologia dolorosa ou ardência. Geralmente
os pacientes não apresentam apenas o quadro gengival, estando presentes também lesões ulceradas
em outros sítios da boca, assim como lesões em pele. A realização de uma biópsia parcial/incisional,
seguida de exame histopatológico e, por vezes, imunofluorescência são fundamentais para estabelecer
o diagnóstico. O estabelecimento do diagnóstico definitivo é fundamental, visto que cada doença tem
um curso clínico distinto. O tratamento varia conforme o diagnóstico da doença de base, mas o uso de
corticoide e imunossupressores/imunomoduladores, associado ao controle periodontal são importantes
para manutenção da saúde gengival e regressão das lesões.
Nos casos de gengivite descamativa utiliza-se corticoide em uma placa de acetato, que funciona
como uma moldeira para manter o medicamento em íntimo contato com a mucosa.

Casos de Gengivite Descamativa:


Propionato de clobetasol 0.05%
Gel de carboximetilcelulose em orabase
Total = 30 g – 1 bisnaga
Aplicar o gel na moldeira e utilizar principalmente à noite.

• Se o paciente conseguir, o medicamento pode ser aplicado também dutante o dia


• Deve-se utilizar também antifúngico, para que o uso de corticóide não provoque
desequilíbrio e favoreça a ocorrência de candidíase.

Figura 5. Gengivite descamativa. Nota-se


áreas erosivas (setas) que se misturam
com estrias esbranquiçadas (asterisco),
junto à margem gengival e gengiva
inserida dos dentes 13, 14, 15, 16, 43, 44,
45.

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Figura 6. Gengivite
descamativa. Nota-se áreas
erosivas (setas) na gengiva.
Estrias e placas brancas
(asteriscos) associadas a
áreas erosivas podem ser
vistas na língua. Em função
disso, a principal hipótese
foi de líquen plano. Seria
necessária a realização de
biópsia parcial associada a
exame histopatológico para
confirmar o diagnóstico.

Fonte: FO/UFRGS

LESÕES EROSIVAS EM LÍNGUA

LÍNGUA GEOGRÁFICA
A língua geográfica é uma desordem inflamatória de
etiologia desconhecida que afeta o epitélio da língua. Essa
lesão também é conhecida como glossite migratória benigna
ou eritema migratório. Clinicamente pode-se observar áreas
despapiladas, lisas, levemente avermelhadas, que mudam de
local com episódios de exacerbações e remissões. As lesões
podem ser observadas principalmente em dorso, bordas
e ápice. Podem apresentar uma linha esbranquiçada em
torno das erosões. Alguns pacientes referem sintomatologia
variada, que pode se apresentar desde quadros de ardência
local até dor e queimação, principalmente associadas
ao estímulo de alimentos ácidos, quentes, picantes e
condimentados. Pacientes em estado de imunossupressão
comumente apresentam maior profundidade das erosões
associado a quadros sintomáticos. O diagnóstico é baseado Figura 7. Área erosiva em terço
nas características clínicas. Não se faz necessário nenhum médio/posterior de dorso de lingual.
tipo de exame complementar. Pacientes com língua Observa-se atrofia das papilas
geográfica geralmente não requerem tratamento, embora filiformes e fungiformes, contornada
por uma linha amarela/acinzentada
o uso de medicamentos tópicos anti-inflamatórios possam na porção anterior (setas).
aliviar a sintomatologia local.
Fonte: FO/UFRGS

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GLOSSITE ATRÓFICA
A glossite atrófica é uma alteração em língua que se
caracteriza pelo despapilamento do dorso lingual de forma
localizada, multifocal ou generalizada. Apresenta etiologia
variada, sendo que muitos pacientes mostram carência
nutricional com deficiência de vitamina B, ácido fólico, além de
quadros de anemia, diabetes e outras debilidades sistêmicas. O
dorso lingual exibe eritema difuso devido à ausência ou atrofia
das papilas, deixando um aspecto liso conhecido vulgarmente
como “língua careca”. Comumente pode se notar quadros de
infecção secundária sobreposta às áreas atróficas. Conforme o
grau de atrofia os pacientes podem apresentar ardência, dor
ou queimação. O aspecto clínico é decisivo para o diagnóstico
e a investigação laboratorial das condições hematológicas e
nutricionais deve ser realizada através da solicitação de um
hemograma, glicose em jejum, e níveis séricos de vitamina Figura 8. Atrofia generalizada das
B12, ácido fólico e ferritina. Caso se observe alguma alteração papilas gustativas de todo dorso
sistêmica o paciente deve ser encaminhado ao médico lingual.
para diagnóstico e tratamento das alterações. Usualmente,
prescrevemos antifúngico, tendo em vista a alta frequência Fonte: FO/UFRGS
de infecção secundária por alguma espécie de Cândida. Esse
tratamento promove apenas a diminuição da sintomatologia.
A reepitelização só irá ocorrer quando a alteração sistêmica ou
imunológica for corrigida.

GLOSSITE ROMBOIDAL MEDIANA


A Glossite romboidal mediana se caracteriza por um
quadro inflamatório da porção medial do dorso de língua, em
associação direta com a infecção oportunista pela Cândida
albicans, podendo ser uma manifestação clínica de candidíase
eritematosa no dorso lingual. A Glossite romboidal mediana
se caracteriza clinicamente por uma área despapilada,
*
avermelhada, central no dorso de língua com forma ovalada ou
romboide. Em alguns casos podem ser levemente nodulares ou
fissuradas. Frequentemente podemos observar “lesão beijada”
no palato duro, refletindo o espelhamento da lesão pelo contato
da região dorsal da língua no palato duro. Alguns pacientes
referem discreta sintomatologia de ardência. O diagnóstico
é clínico e o tratamento é medicamentoso com antifúngicos, Figura 9. Área de erosiva em porção
como descrito anteriormente para os quadros de candidíases. mediana do dorso lingual, associada
à discreta fissura central (abaixo do
asterisco).

Fonte: FO/UFRGS

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CANDIDÍASE ATRÓFICA AGUDA


Essa é uma forma de candidíase
eritematosa que se caracteriza pela erosão
/vermelhidão do dorso lingual de forma
difusa, associada à sensação de queimação. Os
principais fatores predisponentes neste tipo
de candidíase é o uso crônico de antibióticos,
xerostomia e imunossupressão. Clinicamente a
língua fica com um aspecto muito semelhante
à glossite atrófica (língua careca). O tratamento
é à base de antifúngicos. Inicia-se o tratamento
com o tópico e se não houver resposta passamos
para o sistêmico. Deve-se investigar possível
comprometimento sistêmico para descartar a
Figura 10. Área vermelha (erosão) no centro do
glossite atrófica. dorso da língua. Não há limite nítido entre a lesão e
a região de língua clinicamente normal.

ERITROLEUCOPLASIA/ ERITROPLASIA
Essas alterações são desordens potencialmente malignas, ou seja, são alterações epiteliais que
tornam esse tecido mais suscetível ao desenvolvimento de um câncer. A eritroleucoplasia é um subtipo
de leucoplasia e, portanto, representa uma lesão avermelhada com placas ou manchas esbranquiçadas. As
áreas avermelhadas geralmente apresentam maior grau de displasia epitelial. O principal fator etiológico
é o fumo. O diagnóstico é clinico, mas de exclusão, e a biópsia se faz necessária para saber se há ou
não a presença e o grau de displasia epitelial. A conduta frente a essas lesões é a suspensão do fumo e a
remoção total da lesão, quando for possível. Após o exame histopatológico, define-se o acompanhamento
do paciente, sendo este semestral nos casos que não apresentaram displasia epitelial e trimestral nos
casos que apresentaram essa alteração epitelial. Caso o diagnóstico histopatológico revele um carcinoma
espinocelular, o paciente deve ser encaminhado para o cirurgião de cabeça e pescoço para realização do
tratamento.

A B

Figura 11. Lesão eritroleucoplásica, em borda esquerda de língua, com grande erosão (setas) na sua porção
anterior, associada à áreas de placas/manchas brancas(asterisco) mais posteriores (A). Lesões eritroleucoplásicas,
localizadas em língua, com áreas vermelhas/erosivas (setas) associadas a placas/manchas brancas (asteriscos) (B).

Fonte: Neville et al (2009)

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A eritroplasia é uma lesão muito mais rara e se apresenta como mancha ou placa vermelha, cujo
diagnóstico é feito pela exclusão de outras lesões. A maior parte dos casos que clinicamente parecem
eritroplasia, quando biopsiados, revelam tratar-se de um carcinoma espinocelular. Portanto, o clínico
deve estar atento às áreas vermelhas, que sempre mostram maior agressividade histológica quando
comparadas com área brancas.

LESÕES EROSIVAS EM MUCOSA JUGAL


Em mucosa jugal as principais lesões erosivas são de caráter autoimune (líquen plano erosivo) e
inflamatório (reações medicamentosas/ mucosite).

LÍQUEN PLANO EROSIVO


O líquen plano já foi comentado anteriormente anteriormente, no Módulo 3 (Lesões brancas)
devido à possibilidade de a doença se apresentar na forma de estrias ou placas brancas e também neste
módulo em função da manifestação como o quadro conhecido como gengivite descamativa. Trata-se de
uma doença mucocutânea crônica autoimune que pode se manifestar de várias formas, incluindo como
lesões erosivas em diversos sítios da boca. A forma erosiva se caracteriza por áreas de atrofia e eritema,
que costumam ser circundadas por finas estrias brancas. Essas lesões afetam principalmente mulheres
de meia idade, e estão associadas com quadros de ardência e dor em boca. Pode acometer pele e mucosa
bucal concomitantemente, e a causa é desconhecida.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras
doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico,
pênfigo vulgar, penfigóide benigno de mucosas e lesões
liquenóides. A biópsia incisional/parcial é necessária para
estabelecer o diagnóstico final de líquen plano. O tratamento
consiste no uso de corticoterapia. Usualmente, iniciamos com
medicações tópicas e, quando não há resposta, modificamos
para terapia sistêmica. Uso de antifúngico concomitante
com corticoides auxilia, pois geralmente ocorre infecção
secundária pela Cândida albicans.

Figura 12. Lesão em mucosa jugal


direira que mistura áreas erosivas (seta
preta) e brancas (asterisco). Além
disso, nota-se discreta ulceração (seta
branca).

TRATAMENTO PARA LÍQUEN PLANO EROSIVO


- Investigar presença de lesões em outras localizações, principalmente em áreas flexoras de pele.
Quando presentes encaminhar ao dermatologista para tratamento em conjunto.
- Iniciar tratamento sempre que possível com Nistatina (suspensão oral) durante uma semana.
Esta medida se justifica pela infecção secundária por cândida, usualmente observada em lesões erosivas/
ulcerativas.
- O tratamento com corticosteroide tópico pode gerar efeitos colaterais em boca, especialmente
candidíases. Assim sendo, fazemos profilaxia com Nistatina durante o tratamento.

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ATENÇÃO – o propionato de clobetasol é um corticosteroide de alta potência, podendo haver


efeitos colaterais sistêmicos com seu uso prolongado.

Corticosteroides de Uso Tópico


(Abaixo apresentamos duas formulações que podem ser recomendadas para pacientes que tem
possibilidade de encomendar os medicamentos em farmácias de manipulação).
Fórmula do Clobetasol para manipulação (gel):
Propionato de clobetasol 0.05%
Gel de hidroxietilcelulose qsp 20 g
Aplicar nas lesões com cotonete 3 vezes ao dia.

Fórmula do Clobetasol para manipulação (solução): casos com co-infeccão por Cândida
Propionato de clobetasol 0.05%
Nistatina 100.000 UI/ml
Água destilada
Conteúdo final = 250 ml
Bochechar 10ml por 3 minutos e cuspir. Evitar comer e beber após 30 minutos.

REAÇÕES MEDICAMENTOSAS (MUCOSITE E


REAÇÃO LIQUENÓIDE)
A mucosite é uma reação inflamatória comum
frente ao tratamento quimioterápico e/ou radioterápico
em cabeça e pescoço. Clinicamente, se inicia como
áreas de eritema e erosão, podendo evoluir para severas
ulcerações em mucosa bucal, principalmente não
ceratinizada. O diagnóstico é clínico e a informação do
uso de medicamentos ou radioterapia se faz necessária.
O tratamento é paliativo, visando acelerar o processo de
reparo tecidual, diminuindo os sintomas controlando
possíveis quadros infecciosos e/ou hemorrágicos. Deve-se Figura 13. Lesão ulcerada (asterisco)
realizar orientação de higiene bucal e uso de antifúngico com área erosiva (setas) periférica em
coadjuvante, para evitar infecção secundária sobre as áreas mucosa jugal direita, representando
mucosite em paciente submetido a
ulceradas. A laserterapia contribui na analgesia local e na tratamento para câncer.
aceleração do processo de reparo tecidual. Existe evidência
científica para o uso do uso do laser em baixa intensidade
(fotobiomodulção) na prevenção da mucosite em alguns
tipos de tratamentos antineoplásicos.

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REAÇÃO LIQUENÓIDE
As reações liquenóides ocorrem na mucosa devido ao uso de medicamentos ou amálgama.
Clinicamente, elas não podem ser diferenciadas do líquen plano. O diagnóstico diferencial e a evolução
no processo de obtenção do diagnóstico final se faz após removermos o medicamento ou o material
irritativo local. Os principais agentes desencadeadores de reações liquenóides são o amálgama, captopril,
carbamazepina, alopurinol, fenitoína, furosemida, isoniazida e o propranolol.

Figura 14. Áreas erosivas, ulceradas e brancas em mucosa jugal direita


(A). Áreas brancas com discretas áreas erosivas, mostrando área de
fibrose cicatricial (seta) após a realização de biópsia (B).

Fonte: Artico et al (2011)

LESÕES EROSIVAS EM SOALHO BUCAL


Lesões erosivas em soalho de boca são mais raras, porém, quando presentes, devemos ficar
atentos, pois podem ser manifestações de desordens potencialmente malignas como eritroplasia e
eritroleucoplasia, ou alguma doença autoimune, como o líquen plano erosivo.

ERITROPLASIA/ERITROLEUCOPLASIA
Conforme comentado anteriormente, essas
duas lesões são consideradas potencialmente
malignas e necessitam de biópsia para confirmar
o diagnóstico clínico. Quando essas lesões estão
situadas em soalho e língua merecem uma atenção
especial, pois elas apresentam um risco maior de
transformação para carcinoma espinocelular.

Figura 15. Mancha avermelhada em assoalho


bucal de paciente desdentado.
Fonte: Neville et al (2009)

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LÍQUEN PLANO EROSIVO


Esta lesão também já foi comentada anteriormente e necessita de biópsia para estabelecer o
diagnóstico. Dificilmente o paciente vai apresentar lesão apenas no assoalho bucal, tendo o líquen plano
erosivo uma apresentação de múltiplas lesões em boca. Sendo assim, na maioria dos casos, as lesões de
assoalho de boca não serão eleitas para realização da biópsia devido a grande quantidade de estruturas
anatômicas presentes na região. O local para biópsia deve ser escolhido pensando na facilidade de acesso
e no período pós-operatório. Dessa forma, raramente realizamos (ou indicamos) biópsia em lesão de
soalho de boca, devido à grande quantidade de estruturas anatômicas presentes na região.

LESÕES EROSIVAS EM LÁBIO


As lesões erosivas em lábio podem ter origens distintas, e a anamnese será muito importante para
auxiliar no estabelecimento diagnóstico definitivo.

QUEILITE ACTÍNICA
A queilite actínica, que já foi comentada no Módulo 3 (Lesões brancas), é uma desordem
potencialmente maligna associada à exposição crônica à luz UV. Isto porque clinicamente podem ser
observadas áreas brancas (placas ou machas) e áreas erosivas/vermelhas, bem como crostas, fissuras
e descamações. As áreas erosivas geralmente possuem aspecto microscópico de maior agressividade
(displasia) e, portanto, devem ser biopsiadas. O diagnóstico é estabelecido com a somatória dos aspectos
clínicos e histopatológicos. O tratamento envolve o uso diário de protetor labial com FPS 30, e utilização
de chapéu de aba larga(especialmente os paciente que trabalham em ambiente externo ou que se expõem
ao sol diariamente). Para recuperar o ressecamento pode-se indicar o uso dexpantenol (bepantol creme,
1 vez/dia, à noite). Áreas de placas, erosões ou úlceras devem ser biopsiadas, pois podem representar um
carcinoma espinocelular inicial. O paciente com queilite actínica deve realizar revisões periódicas, sendo
essas trimestrais para quadros que apresentam displasia epitelial ao exame histopatológico, e semestral
para os que não mostraram displasia epitelial no exame histopatológico.

Figura 16. Quadro de ressecamento labial,


manchas brancas (asterisco) e áreas erosivas
(setas pretas) em vermelhão de lábio inferior em
paciente relativamente jovem da raça branca.
Nota-se também área ulcerada com sinais de
cicatrização (seta branca)
Fonte: Neville et al (2009)

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QUEILITE ANGULAR
A queilite angular representa uma forma de candidíase eritematosa situada nas comissuras
labiais1. Clinicamente pode ser observado eritema, fissuras e descamação nas comissuras. Usualmente,
são assintomáticas e acometem pessoas idosas com redução da dimensão vertical de oclusão e sulcos
acentuados nas comissuras labiais. Pacientes imunossuprimidos também podem apresentar essas lesões.
O diagnóstico é baseado no aspecto clínico. O tratamento envolve o uso de antifúngicos tópicos.

A B

Figura 17. Figuras ilustrando quadro clínico da queilite angular, caracterizado pela presença de lesões
erosivas com fissuras nas comissuras labiais.2

Fonte: A- FO/UFRGS e B - Neville et al (2009)

QUEILITE EXFOLIATIVA
Essa lesão se caracteriza clinicamente como fissuras e descamação persistente do vermelhão do
lábio, envolvendo frequentemente ambos os lábios. Nos casos mais severos o processo inflamatório pode
ser mais intenso e gerar crostas hiperceratóticas amareladas e espessas, que podem ser hemorrágicas ou
exibir fissuração. Nestes casos, pode afetar a pele perioral. Mulheres são mais afetadas. A maior parte dos
casos parece estar relacionada com trauma crônico secundário, como lamber, morder, picar ou sugar os
lábios, que podem estar associados ou não a distúrbios psicológicos. Nos casos em que não há evidência
de trauma crônico deve-se descartar infecção por candidíase crônica, queilite actínica ou queilite alérgica.
Mesmo com uma investigação completa, existe com frequência um número de pacientes com queilite
esfoliativa clássica em que nenhuma causa subjacente pode ser identificada. Uma vez estabelecido o
diagnóstico deve-se, quando possível, remover o agente causal. A aplicação de batom ou cremes labiais
para hidratação demonstra bons resultados em casos mais leves. Nos casos mais severos, pode-se utilizar
cremes ou pomadas a base de corticoides, associados a antifúngicos. Em caso sem resposta ao tratamento,
a crioterapia pode ser indicada.3

Comissuras labiais: “cantos” da boca


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Crioterapia: Tratamento que se baseia na aplicação de nitrogênio líquido, direta ou indiretamente, nas lesões.
3

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Figura 18. Queilite esfoliativa, definida


pela presença de descamação e eritema
na mucosa de transição do lábio inferior.

Fonte: Neville et al (2009)

REFERÊNCIAS
ALMEIDA, O. P. Patologia oral. São Paulo: Artes Médicas, 2016.

ARTICO, G. et al. Lichenoid reaction to carbamazepine in the oral mucosa: a case report. Anais Brasileiros
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Equipe Responsável:
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do Núcleo de
Telessaúde do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS-UFRGS) e do Programa Nacional de Telessaúde Brasil Redes.

TelessaúdeRS-UFRGS Projeto Gráfico


Luiz Felipe Telles
Coordenação Geral
Marcelo Rodrigues Gonçalves Diagramação
Roberto Nunes Umpierre Angélica Dias Pinheiro
Carolyne Vasques Cabral
Coordenação do curso Luiz Felipe Telles
Vinicius Coelho Carrard
Ilustração
Coordenação da Teleducação Carolyne Vasques Cabral
Ana Paula Borngräber Corrêa Luiz Felipe Telles

Conteudistas Edição/Filmagem/Animação
Manoela Domingues Martins Diego Santos Madia
Marco Antonio Trevizani Martins Rafael Martins Alves
Vinícius Coelho Carrard
Vivian Petersen Wagner Divulgação
Camila Hofstetter Camini
Revisores Guilherme Fonseca Ribeiro
Bianca Dutra Guzenski Vitória de Oliveira Pacheco
Fernanda Friedrich
Otávio Pereira D’Avila Equipe de Teleducação
Michelle Roxo Gonçalves Andreza de Oliveira Vasconcelos
Thiago Tomazetti Casotti Angélica Dias Pinheiro
Cynthia Goulart Molina Bastos
Francine de Souza Borba
Luís Gustavo Ruwer
Rosely de Andrade Vargas
Ylana Elias Rodrigues

Dúvidas e informações sobre o curso


Site: www.telessauders.ufrgs.br
E-mail: ead@telessauders.ufrgs.br
Telefone: 51 33082098

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