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PREFÁCIO

Do livro “A crise de poder no Brasil”


Guerreiro Ramos

Viver sob o signo da revolução é a maneira mais rica de ser brasileiro na presente
época do meu país. Confesso que, por temperamento, sou comodista. A tensão
revolucionária contraria os meus humores, minhas idiossincrasias glandulares. Como
Salvador Dali, gostaria de viver em época em que não houvesse reivindicações a fazer, onde
as coisas e as pessoas estivessem nos devidos lugares. Nasci, porém, num país e numa
época, em que a revolução é a única maneira de conferir dignidade a existência. A maior
humilhação que pode sofrer um intelectual consiste em se surpreender abaixo das
virtualidades de seu tempo e de sua circunstância. Sou revolucionário por orgulho. Por uma
questão de ética, ética intelectual. A vocação da inteligência é a verdade. Se a vida do
intelectual tem de ser um experimento da verdade, no Brasil de hoje é compelida a
tornar-se revolucionária. A verdade do Brasil de hoje é a revolução. Equivale a dizer: o
verdadeiro Brasil é uma possibilidade. É negação do Brasil remanescente. Se assim não
fosse, a revolução seria um capricho. Vivemos, hoje, no Brasil, período de história viva, isto
é, um período em que um novo ser nacional procura exprimir-se em adequadas formas, em
adequados estilos históricos, por constituir, por fundar. Procura sair de noite em que se
gera para o dia em que se realiza. Da sombra em que se oculta para a luz em que se revela.
Em tais condições, a revolução é momento de ambiguidade entre o ser e o não ser. Entre
potência e ato. Matéria e forma. Em tais condições, a vida revolucionária é, por excelência, a
vida clarividente.
Este livro é um livro imprudente. Os amigos que o leram me desaconselharam a
publicá-lo, temerosos de suas consequências em minha vida particular. O Brasil tem de
sobra intelectuais prudentes. Entre eles, não poucos alardeiam ser até revolucionários. O
que não lhes impede, todavia, de estar em todas, como se costuma dizer. São prudentes.
Não recrimino, nem censuro ninguém. Creio, porém, que um pensamento revolucionário
jamais poderá vingar historicamente se os que o professam nele não empenharem sua
biografia. A revolução não constitui assunto acadêmico ou literário. É tarefa concreta, em
que me considero lançado sem restrições. A revolução é atmosfera habitual da minha vida e
especialmente dos meus livros. Por isso, não protesto contra a minha condição de outsider
nos meios culturais dominantes do país. Esta condição de outsider é requisito para lograr
viver hoje no Brasil, à altura de sua prodigiosa vocação de grandeza. Se eu quisesse ser
prudente, naqueles meios teria meu lugar decerto. Se quisesse ser prudente, teria até hoje
minha cátedra de sociologia na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, de que sou
co-fundador, ou teria aceito generoso convite do Reitor Edgar Santos em 1958, para
assumir cargo equivalente na Faculdade de ciências econômicas daquela Universidade. Se
quisesse ser prudente, seria, desde 1942, professor da Faculdade nacional de Filosofia, pois
ao terminar ali em 1942 o meu curso de Ciências Sociais, mereci a indicação da parte do
prof. André Gors, da Universidade de Paris, na época regente da política, na referida
dependência da Universidade do Brasil. Se quisesse ser prudente, não teria, por questão de
princípio, deixado, em dezembro de 1958, o Instituto superior de Estudos Brasileiros, cujo
departamento de sociologia dirigi desde sua fundação. Se quisesse ser prudente… Bem,
paremos por aqui, o rosário seria longo e constrangedor.

Meu dissídio com o Brasil remanescente é total.

É Preciso viver as condutas em estado nascente, de maneira irrestrita. O Brasil é um


país maduro para fazer sua revolução nacional moderna. Tem todas as condições objetivas
para tanto. Se esta revolução não ocorreu, é porque não se formaram ainda, entre nós,
suficientes quadros decididos a observar uma idônea conduta revolucionária. A revolução é
uma modernidade. Evidentemente não podem cometê-la quadros viciados no oportunismo,
grupos de esquerda de fachada, que negociam por dinheiro, por empregos, apoios,
liquidação de pessoas e campanhas de difamação e de boatos desprimorosos, mesmo
contra revolucionários de honra ilibada.
Criadas se encontram no Brasil as condições objetivas da revolução nacional. Falta
criarem-se as subjetivas. É provável que no presente quinquenio do presidente Jânio
Quadros surja momento de intensa fermentação revolucionária. É necessário que, na
oportunidade, estejam organizados os quadros capazes de merecer esse momento. Então
deverá ser cortado o nó górdio do processo brasileiro, ato que de uma vez por todas,
divorciará a nação da antinação. O modelo da Revolução Brasileira será necessariamente
inédito. Foge assim a domesticações à distância. Não será soviético. Não será chinês. Não
será cubano. Em toda sua história, o Brasil tem sido orginal na América e no Mundo. Eis
porque o quadro da sua revolução nacional brasileira será necessariamente independente
em relação a qualquer espécie de internacional.

Este livro aspira a Revolução Nacional Brasileira.

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