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Junho de 2019 Benedito Carvalho Filho
de cotas para indígenas, quilombolas. Como foi meu caso. Você deve estar se
perguntando se eu sou indígena ou quilombola. Sou Pankararu do Tocantins.
Peço desculpas por me alongar nesse assunto. Mas vejo como extremamente
relevante para este texto. A UFT foi a primeira entre as universidades públicas
brasileiras a incluir o sistema de cotas. Uma luta que começou com representantes da
União dos Estudantes Indígenas em 2001, mas que se efetivou apenas em 2004, por
uma resolução que reservou 5% das vagas no vestibular para indígenas. Em 2013
destinou mais de 5% das vagas para quilombolas. De lá para cá, o sistema de cotas se
tornou realidade. Além disso, graças ao sistema, os alunos puderam ter uma
oportunidade maior na concretização do sonho de graduação. As barreiras de
desigualdade estavam começando a se quebrar.
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Em 2010, resolvi colaborar para modificar essa realidade. Com ajuda de outro
programa de inclusão acadêmica, Programa Institucional de Monitoria Indígena
(Pmi), passei a ser monitor e a ajudar no reforço escolar de acadêmicos. No entanto,
isso ajudou apenas em parte, não a totalidade, pois, como escrevi. Não havia apenas
dificuldade no aprender, mas aprender aquelas problemáticas sociais que certamente
influenciam no ensino-aprendizagem. Ou seja, para muitos, viver na cidade, sem
trabalho, sem uma renda, em meio a preconceitos (até mesmo na academia), os
distancia das universidades, da graduação. Portanto, aprendi nesse tempo que de
nada adiantava o acesso à universidade se as políticas públicas universitárias ou
governamentais não ajudassem na permanência e no fim da evasão.
Nesse tempo de graduação, passei por três greves que atrasaram a conclusão
do meu curso de quatro anos, greves essas iniciadas por professores, alunos e
técnicos administrativos por melhores condições de ensino em todo país, não apenas
no Tocantins. Antes com greves do que à mercê de descaso sem nenhuma voz.
Precisamos ser ouvidos. “Máquinas a vapor não é computador”. Eu nunca me
esqueço desse grito de guerra dos alunos de Ciências da Computação, durante uma
greve por equipamentos tecnológicos de qualidade. E tantos outros gritos entoados.
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Por outro lado, o baixo investimento na estrutura não era uma realidade para
todos os cursos. Enquanto Comunicação, Ciências da Computação e Arquitetura, por
exemplo, estudavam em “blocos” antigos e degredados, do início da universidade
(em 2001), e com poucos exemplares na biblioteca, nos cursos de Medicina e
Engenharia Civil a realidade era bem diferente. Eram considerados internamente os
mais beneficiados, com laboratórios novos, salas de aulas estruturadas e o acervo
bibliográficos mais completos da universidade. Falta de equipamento sempre foi
notável entre os cursos de graduação.
Porém, enquanto tudo parecia ir bem, eis que o caos se instala. Dois mil e
dezenove chega com tantas notícias ruins para a educação. O Ministério da Educação
(MEC) anuncia, em abril, corte nos repasses para todas as universidades federais. E
as obras em andamento? Aquelas necessárias? E o principal, as bolsas que ajudam na
permanência de tantos alunos com vulnerabilidade social? Como ficarão meus
parentes; retornarão às suas casas, aldeias e comunidades? São tantos
questionamentos, medos. Acadêmicos, professores, simpatizantes da educação
superior foram às redes, com protestos em todo o país. E no Tocantins não poderia
ser diferente. “Não somos idiotas úteis, ok, idiotas inúteis!?”, era o principal grito de
guerra.
E concluí:
Os cidadãos brasileiros que desejam mudar o país precisam ler “as oito
tragédias” que marcam a nossa história.
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