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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

INSTITUTO DE RECURSOS NATURAIS

[TÍTULO]

Trabalho apresentado ao Prof. Roberto Alves


como requisito para fixação dos conhecimentos
adquiridos e consequente aprovação na disciplina
de Economia dos Recursos Hídricos.

Itajubá, MG
2019
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Distribuição da água no Globo ..................................................................... 5
Figura 1.2 - Distribuição do consumo de água e diferentes setores ................................. 6
Figura 1.3 - Comparativo de disponibilidade hídrica e população no Brasil ................... 7
Figura 1.4 - Informações básicas sobre as bacias hidrográficas brasileiras ..................... 8
Figura 1.5 - Localização da Bacia do Rio Sapucaí em relação ao território brasileiro .. 12
Figura 1.6 - Localização da Bacia do Rio Sapucaí em relação aos estados de Minas Gerais
e São Paulo .................................................................................................................................. 13
Figura 1.7 – Contribuição setorial do PIB da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí ... Erro!
Indicador não definido.
Figura 1.8 – PIB Setorial da Bacia Hidrográfica do Rio SapucaíErro! Indicador não
definido.
Figura 1.9 - Mapa de uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica do Rio Sapucaí .... 23
Figura 1.10 - Estações de coleta de dados disponíveis. Na coluna Tipo: P são dados
pluviométricos, N de nível do rio e V a disponibilidade de dados de vazão. .............................. 28
Figura 1.11 - Média mensal de precipitação entre os anos de 1970 e 2010 para a área de
estudo .......................................................................................................................................... 29
Figura 1.12 - Descrição de doze grandes eventos de inundações ocorridos no município
de Itajubá entre 1874 e 2009 ....................................................................................................... 30
Figura 1.13 - Acumulado mensal de precipitação referente as estações pluviométricas
durante o período de 2007-2014.................................................................................................. 30
Figura 3.1 - Distribuição espacial de disponibilidade hídrica / consumo de água no Brasil.
..................................................................................................................................................... 35
Figura 3.2 - Porcentagem de municípios brasileiros com falta intensa ou moderada de
água. ............................................................................................................................................ 37
Figura 3.3 - Possibilidades de pagamentos líquidos no equilíbrio do mercado.............. 38
Figura 3.4 - Tendência de precipitação anual a no país Taxa de variação de 10 em 10 anos
- unidade: milímetro (1950-2006) ............................................................................................... 41
Figura 3.5 - Fluxo dos países exportadores líquido de "água virtual" 1.O agregado da
OCDE é uma média não ponderada. Unidade: bilhões de metros cúbicos por ano (1997-2001) 42
Figura 3.6 - Incerteza anual e sazonal na alocação de água do titular do direito. os gráficos
de probabilidade cumulativa de alocações para o rio Goulburn, (MDB) expressos como uma
proporção de direitos. .................................................................................................................. 46
Figura 3.7 - Relação entre as três principais zonas de negociação em Watermove. ...... 47
Figura 3.8 - Padrões de preços espaciais para as áreas de Goulburn e Murray acima e
abaixo do Barmah choke. Resultados do mercado semanal para a temporada 2002-2003. ........ 48
LISTA DE TABELAS
Tabela 1.1 - Taxa de urbanização por trecho ................................................................. 14
Tabela 1.2 - Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí .................................... 16
Tabela 1.3 - Densidade Demográfica (hab/km²) ............................................................ 17
Tabela 1.4 - Ocupações na bacia hidrográfica do Rio Sapucaí ...................................... 24
Tabela 1.5 - Tabela de quantificação dos usos do solo da bacia hidrográfica do Rio
Sapucaí ........................................................................................................................................ 25
Tabela 1.6 - Vazões Q_7,10 da bacia hidrográfica do Rio Sapucaí ............................... 26
Tabela 1.7 - Resultado da curva de permanência ........................................................... 27
Tabela 1.8 - Resultados de vazões máximas .................................................................. 27
Tabela 3.1 - Outorgas de direito da água e população no Colorado ............................... 36
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1.1 - Classes de Tamanho da População dos 51 municípios da bacia do Rio
Sapucaí – 2007 ............................................................................................................................ 15
Gráfico 1.2 - Densidade Demográfica (hab/km²) ........................................................... 17
1 INTRODUÇÃO
1.1 Importância dos recursos hídricos
A água é um recurso natural essencial para a sobrevivência de todas as espécies que
habitam a Terra. No organismo humano a água atua, entre outras funções, como veículo para a
troca de substâncias e para a manutenção da temperatura, representando cerca de 70% de sua
massa corporal. Além disso, é considerada solvente universal e é uma das poucas substâncias que
encontramos nos três estados físicos: gasoso, líquido e sólido. É impossível imaginar como seria
o nosso dia-a-dia sem ela.
A água, é um recurso natural abundante primeira à vista. Isto se dá, por ela ocupar
aproximadamente 70% da superfície terrestre, porém, 97,5% dessa água é salgada, restando
somente 2,5 % de água doce. Desse total de água doce, cerca de 68,9% encontram-se em forma
de gelo, 29,9% estão confinadas como água subterrânea, 0,9% compõem a umidade do solo,
restando somente 0,3% constituinte de lagos, reservatórios e rios (Ministério do meio Ambiente),
como apresentados no gráfico da Figura 1.1.

Figura 1.1 - Distribuição da água no Globo


Fonte: Plano Nacional dos Recursos Hídricos – SRH do Ministério do Meio Ambiente

A água doce não está distribuída uniformemente pelo globo. Sua distribuição depende
essencialmente dos ecossistemas que compõem o território de cada país. Segundo o Programa
Hidrológico Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco), na América do Sul encontra-se 26% do total de água doce disponível no planeta
e apenas 6% da população mundial, enquanto o continente asiático possui 36% do total de água
e abriga 60% da população mundial.
O consumo diário de água é muito variável ao redor do globo. Além da
disponibilidade do local, o consumo médio de água está fortemente relacionado com o nível de
desenvolvimento do país e com o nível de renda das pessoas. Uma pessoa necessita de, pelo
menos, 40 litros de água por dia para beber, tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos,
cozinhar etc. Dados da ONU, porém, apontam que um europeu, que tem em seu território 8% da
água doce no mundo, consome em média 150 litros de água por dia. Já um indiano, consome 25
litros por dia.
Segundo estimativas da Unesco, se continuarmos com o ritmo atual de crescimento
demográfico e não estabelecermos um consumo sustentável da água, em 2025 o consumo humano
pode chegar a 90%, restando apenas 10% para os outros seres vivos do planeta. A figura 2,
apresenta um gráfico com a estimativa da distribuição do consumo em diferentes setores.

Figura 1.2 - Distribuição do consumo de água e diferentes setores


Fonte: Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAQ)

Vale ressaltar que grande parte das disponibilidades hídricas nos mananciais que têm
água doce (cursos d’água, lençóis aquíferos, lagoas), encontram-se inapropriados para consumo,
fruto da descarga de efluentes sem tratamento e uso e ocupação intensivos das bacias
hidrográficas no Brasil e no mundo , que tende a trazer como consequência a falta d'água e o
agravamento das crises hídricas espalhadas pelo globo.
Com uma área de aproximadamente 8.514.876 km2 (fonte: Anuário Estatístico
2000) e mais de 169 milhões de habitantes (fonte: censo demográfico 2000), o Brasil é hoje o
quinto país do mundo, tanto em extensão territorial como em população. Em função de suas
dimensões continentais, o Brasil apresenta grandes contrastes relacionados não somente ao clima,
vegetação original e topografia, mas também à distribuição da população e ao desenvolvimento
econômico e social, entre outros fatores. De maneira geral, o Brasil é um país privilegiado quanto
ao volume de recursos hídricos, pois abriga 13,7% da água doce do mundo, porém, a distribuição
desses recursos não é uniforme, conforme pode ser visto no gráfico da Figura 1.3, que apresenta
um comparativo da disponibilidade e da população no Brasil.
Figura 1.3 - Comparativo de disponibilidade hídrica e população no Brasil
Fonte: Ministério do Meio Ambiente

Deste modo, esse recurso natural desempenha valores sociais, econômicos e ambientais
fundamentais para o desenvolvimento do país. E para tal é necessário alavancar a gestão desse
tão precioso recurso natural, a água doce, preservando a sua quantidade e qualidade, afinal ela
desempenha um importante papel para o meio ambiente e para o desenvolvimento, quando se
analisa a sua importância quanto aos usos múltiplos da água.
Para que esta gestão seja realizada de modo eficiente, referente ao uso e a demanda do
recurso hídrico, é essencial que esta ocorra dentro das Bacias Hidrográficas.
A bacia hidrográfica é a unidade de gestão dos recursos hídricos mais importante a ser
estudada, por ser o local do desenvolvimento das atividades humanas via os municípios, como
áreas urbanas, industriais e agrícolas, e por consequência é a área de operação dos Sistemas de
Recursos Hídricos. O quadro apresentado na Figura 1.4, nos mostra as informações básicas das
bacias hidrográficas do Brasil.
Um sistema implantado em uma bacia é um conjunto de elementos, onde todos estão
organizados em prol de um benefício mútuo e comum, que é o progresso e o desenvolvimento
da bacia, e o bem-estar da sua comunidade. Na área da bacia este sistema está representado pelos
municípios nele inseridos nas zonas urbana e rural.
Os Sistemas, em especial os de Recursos Hídricos-SRH’s, abrangem diversas obras de
Engenharia Hidráulica e seus componentes de operação (componentes civis, eletromecânicos e
hidromecânicos) atuando ao longo da rede de drenagem da calha fluvial. O sistema age sobre a
água recebida (água útil ou nociva) e a devolve ao ambiente com características
diferentes/otimizadas.
Figura 1.4 - Informações básicas sobre as bacias hidrográficas brasileiras
Fonte:

Os SRH’s continentais podem trabalhar com o beneficiamento da água útil, a fim de obter
os benefícios economicamente tangíveis, como o abastecimento de água urbano e industrial, a
irrigação de culturas agrícolas, a hidroeletricidade, a navegação fluvial e o controle de secas em
áreas carentes de água, como também operam controlando as águas nocivas, a exemplo da
drenagem pluvial de cidades(rodovias, áreas rurais, aeroportos), para o controle de inundações
em áreas ribeirinhas, e o tratamento de efluentes industriais e esgotos domésticos, abrangendo os
benefícios intangíveis, aqueles que não geram lucro econômico, mas que controlam as águas
nocivas para questões de saúde pública (minimização de doenças e calamidades públicas).
Assim, também pode-se observar que naturalmente, a aceleração do uso e ocupação da
Bacia, está relacionado ao desenvolvimento econômico dos municípios da bacia.

1.2 Os sistemas econômicos

A palavra sistema é conceituada como um conjunto de elementos, entre os quais é


possível encontrar ou definir alguma relação. É também considerada a disposição das partes ou
dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada,
como bem define HOLANDA (1977). Tendo por base este significado, um sistema econômico
pode ser definido como um conjunto de características políticas, sociais e econômicas que
permitem o funcionamento, a estruturação e a organização de uma sociedade e seu espaço. Trata-
se de uma reunião dos diversos elementos participantes da produção e do consumo de bens e
serviços que satisfazem às necessidades da sociedade, organizados não apenas do ponto de vista
econômico, mas também social, jurídico, institucional, etc. (SILVA & LUIZ, 2010).
Diante de tantas definições, é importante destacar que o sistema econômico adotado por
uma sociedade é fruto do processo histórico vivido por esta e, devido a isso, o ato de adoção de
um sistema econômico é considerado algo de extrema complexidade e importância, uma vez que
este sistema é capaz de definir o compasso do desenvolvimento em que uma sociedade se encontra
(AVILA, 2015).
Neste sentido, observa-se que cada país ou região possui suas características peculiares
quanto a sua estruturação econômica, política e social. Dentre estas peculiaridades estão os
diferenciados fatores de produção, o complexo de unidades de produção, as instituições políticas,
jurídicas, econômicas e sociais, os processos de circulação das mercadorias, os níveis de
desenvolvimento tecnológico, o grau de divisão do trabalho e diversos outros fatores. São estas
particularidades que permitem a existência de diferentes classificações de sistemas econômicos,
dentre os mais reconhecidos estão os sistemas capitalista, socialista e misto. Os dois primeiros
sistemas são casos extremos ou antagônicos. Cada qual dos modelos de sistema econômico
associa-se não só a princípios gerais de como a economia deve funcionar, como também a
elementos de conformação filosófica situados num ponto específico do espectro ideológico, que
envolve a questão política esquerda-direita, ou uma combinação particular de elementos trazidos
de diferentes pontos deste espectro ideológico.
O Sistema Socialista, também conhecido por Economia Centralizada, tem como
principais características a propriedade pública dos meios de produção e uma economia dirigida
pelos interesses do estado. Já o Sistema Capitalista, também conhecido por Economia de
Mercado, tem como principais características a livre iniciativa, a pequena intervenção do estado
na economia e a propriedade privada dos meios de produção. Por fim, tem-se os Sistemas Mistos,
também conhecidos por Sistemas Intermediários, estes apresentam as características dos dois
primeiros sistemas mencionados e se diferenciam entre si segundo o grau de intervenção do
governo na economia.
O capitalismo puro exige que a lei da oferta e da demanda estabeleça os preços dos bens
e serviços. O socialismo puro conserta os preços através do planejamento central. Uma economia
mista padrão, no entanto, permite que os preços em alguns setores flutuem com a oferta e
demanda, enquanto ele conserta preços em setores como a energia. (NORTHWELL, 2018)
O sistema econômico capitalista começou a se fortalecer após a Revolução Industrial.
Esse sistema é caracterizado por fortalecer a ideia de individualismo. Uma das principais ideias
do capitalismo é a de que o indivíduo só precisa dele mesmo para crescer e obter sucesso. (MISES,
2009)
O capitalismo trouxe muitas vantagens para a sociedade, ajudou na revolução
tecnológica, várias sociedades enriqueceram, porém o materialismo presente no capitalismo é
exacerbado e a mídia contribui ainda mais para fortalecer a ideia de consumismo.
Um ambiente de livre mercado pode ser a melhor forma de democracia econômica que
existe no mundo. Ele é um ambiente que se autorregula de acordo com a demanda dos
consumidores. Em um ambiente de livre mercado, o consumidor compra o que tem vontade de
comprar, o que pode comprar, e o que deve comprar, de acordo com as suas preferências,
necessidades e poder aquisitivo. Por exemplo, no caso de um empreendedor, este oferece algum
serviço ou fabrica um determinado produto, para o qual este princípio inviolável se aplica
exatamente da mesma forma. Afinal, se é livre para produzir aquilo que bem entende.
Evidentemente, fabrica-se um produto que se sabe que haverá demanda e será livre para
comercializá-lo, direta ou indiretamente, através do varejo ou do atacado. (MISES, 2009)
Quando se opta por outras formas econômicas, que não a do livre mercado (capitalista),
pode-se haver problemas graves de cunho político-econômico num país. Pode-se citar como
exemplo o que aconteceu na Venezuela. Quando a estatização do valor dos produtos
regulamentou a uniformidade dos preços para tudo o que havia no mercado – especialmente
produtos alimentares –, a economia começou a entrar em colapso. Isso atacava a realidade
concreta dos fatos: para praticamente todas as empresas em atividade, simplesmente não valia a
pena fabricar produtos cujo preço final de venda era inferior ao custo para produzi-los, de forma
que era ilegal alterar o preço final. Pouco tempo depois do decreto, centenas de empresas
começaram a encerrar as atividades. Longe de acabar com as desigualdades, o que tal decreto
executou o princípio de um trágico suicídio econômico. (MISES, 2009)
No século atual, sociedades econômicas de mercado aberto e livre, como Hong Kong,
Cingapura, Austrália, Suécia e Nova Zelândia, demonstram como os fundamentos da ideia de
Smith estavam corretos. Acredita-se que as diferenças históricas do Brasil, a exclusão social de
grande parte da população, que acaba marginalizada, além do domínio de uma classe aristocrática,
favorece esse cenário de desequilíbrio na economia brasileira. (ANGELI, 2013)
A Suécia, que viveu uma experiência socialista com a administração dos economistas
Rudolf Meidner e Gosta Rehn, entre 1950 e 1990, viu os aumentos dos gastos públicos
dispararem, chegando a quase 29% do PIB, uma carga tributária sobre o imposto de renda que
chegou a 102% entre 1970 e 1990, e um aumento no funcionalismo público de quase 40%, contra
12,5% em 1960. O governo não conseguiu suprir os gastos públicos com a receita dos impostos,
endividou-se, e entrou numa grande recessão econômica que se intensificou entre 1990 e 1994.
(ANGELI, 2013)
Em termos per capita, a Suécia, que entrou de cabeça no modelo socialista de Meidner e
Rehn, passou a ocupar a 14ª posição de economia mais rica da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), contra o 4º lugar anterior ao modelo econômico
assistencialista e socialista de Rehn e Meidner. Sair da maior recessão econômica em mais de dois
séculos não foi uma tarefa fácil, tampouco consensual para o governo sueco, mas a partir de 1994
a adoção ao livre mercado, a redução da interferência estatal, as privatizações e a redução dos
gastos públicos colocaram a Suécia novamente no ranking de uma das nações mais desenvolvidas
do mundo devido ao livre mercado e à grande competividade do mesmo. (ANGELI, 2013)
No decorrer deste trabalho, serão realizados estudos direcionados ao mercado de recursos
hídricos na Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí, região muito privilegiada pela abundância em
recursos hídricos e naturais. Estes estudos terão como base os princípios do sistema econômico
capitalista e apoiarão a projeção de um cenário próspero para o mercado da água na região de
estudo.

1.3 Caracterização geral da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí

A Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí é uma sub-bacia pertencente a Bacia do Rio Grande,
que por sua vez compõe a Bacia do Rio Paraná. A Bacia do Rio Sapucaí localiza-se na região
sudeste e atravessa os estados de Minas Gerais e São Paulo. Sua nascente é encontrada na Serra
da Mantiqueira, no município de Campos do Jordão – SP, a uma altitude de 1650 m e deságua no
Lago de Furnas a 780 m de altitude (CBH Sapucaí, 2001).
O Rio Sapucaí é divido em 3 trechos que delimitam as regiões:
• Alto Sapucaí – que percorre de Campos do Jordão até o Ribeirão Bicas
em Wenceslau Braz (50 km);
• Médio Sapucaí – que tem seu início no Ribeirão Bicas e fim no Rio
Sapucaí Mirim em Pouso Alegre (90 km);
• Baixo Sapucaí – que se inicia pelo Rio Sapucaí Mirim e percorre até
Furnas (143 km).
O Rio Sapucaí possui cerca de 343 km, sendo 34 km pertencentes ao estado de São Paulo,
e 309 km à Minas Gerais, e sua área de drenagem é de 8882 km². A Figura 1.5 e a Figura 1.6
mostram a localização dessa bacia em relação ao território brasileiro e em relação aos estados de
Minas Gerais e São Paulo.
Figura 1.5 - Localização da Bacia do Rio Sapucaí em relação ao território brasileiro
Fonte: elaborado pelos autores no software QGis
Figura 1.6 - Localização da Bacia do Rio Sapucaí em relação aos estados de Minas Gerais e São
Paulo
Fonte: elaborado pelos autores no software QGis

1.3.1 Caracterização demográfica


A caracterização demográfica da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí tem como base
informações do Censo de 2010 e da Contagem da população de 2007. Considerou-se,
separadamente, os 3 municípios paulistas e 48 mineiros, focalizando a população total e por
situação de domicílio (urbano e rural), a taxa de urbanização e a densidade demográfica, conforme
mostra a Tabela 1.1.
De acordo com os dados do IBGE, a partir da contagem populacional de 2007, a
população total dos 51 municípios que integram a Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí é de 770.
491 habitantes. O grau de urbanização dos municípios mineiros pertencentes à bacia do Sapucaí
é alto (76,1%), semelhante ao do estado de Minas Gerais (76,8%), embora inferior ao índice
apresentado pela macrorregião Sul/Sudoeste (80,2%). A taxa média de urbanização supera 70%
em todos os trechos da bacia, chega 85,2 % na vertente paulista.

Tabela 1.1 - Taxa de urbanização por trecho


Trecho da BHRS Total Urbana Rural Taxa de urbanização
Alto Sapucaí 284980 211587 73393 74,25%
Vertente mineira 223217 158984 64233 71,22%
Vertente paulista 61763 52603 9160 85,17%
Médio Sapucaí 347147 268141 79006 77,24%
Baixo Sapucaí 138364 106438 31926 76,93%
Total 1055471 797753 257718 76,96%
Fonte: IBGE,

Observa-se a concentração da população nas áreas urbanas. Além disso, em alguns


municípios a parcela de território rural inserida na área de drenagem do Rio Sapucaí é muito
pequena. É o caso de municípios como Camanducaia (área predominantemente ocupada por
pastagem), Munhoz (lavoura), Passa Quatro (floresta), Ouro Fino (agricultura).
Vale ressaltar que nem toda essa população reside na área de drenagem da bacia. A
divisão político administrativa segue critérios que nem sempre coincidem com a delimitação das
vertentes hidrográficas. Desses municípios da bacia do Sapucaí, 31 (cerca de 61 %) têm a
totalidade de seu território e, portanto, de sua população residindo na bacia. Os demais municípios
(19 deles) têm apenas parcela de sua área territorial, sendo que 12 (23,5 %) têm nela sua sede
administrativa urbana e 8 (15,7 %) apenas parte de seu território rural. Sendo assim os habitantes
estão distribuídos da seguinte forma: 556.513 nos 40 municípios mineiros com sede
administrativa urbana na bacia (representando 78,5 % da população) e 152.260 naqueles com sede
administrativa fora da área de drenagem (21,5 %).
Percebe-se a predominância na bacia de municípios de pequeno porte, 82,4% deles têm
até 20.000 habitantes.
A Tabela 1.2, contém a lista detalhada dos municípios indicando sua população
total, por situação de domicílio (urbana e rural), a taxa de urbanização e densidade
demográfica.
De 50 001 a De 100 001 a
100 000 500 000
De 20 001 a 2%
2%
50 000 Até 5 000
14% habitantes
30%

De 10 001 a
20 000
27%

De 5 001 a 10
000
25%

Gráfico 1.1 - Classes de Tamanho da População dos 51 municípios da bacia do Rio Sapucaí –
2007
Fonte: Plano Diretor de Recursos Hídricos do Rio Sapucaí, 2010
Tabela 1.2 - Municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí

Fonte: IBGE,
Existem apenas dois municípios de maior porte, ambos também em Minas, constituindo
importantes polos regionais: Pouso Alegre (Médio) e Itajubá (Alto). Pouso Alegre é o maior
município da bacia, com 119.649 habitantes e Itajubá o segundo com 86.210. A soma da
população destes dois municípios representa um terço (33,3 %) da população total estimada
residente na BHRS (618.276 habitantes). Na vertente paulista, o maior é Campos do Jordão com
44.688 moradores.
No baixo curso do Rio Sapucaí o município mais populoso é Machado, com 37.567
habitantes e apenas território rural na bacia. Neste trecho o maior município com sede na bacia é
Elói Mendes (24.091 habitantes).
Já a análise demográfica apresentada na Tabela 1.3 e no Gráfico, permite estabelecer uma
relação mais clara entre área e população. O território sul mineiro como um todo possui alta
densidade demográfica e o território da bacia hidrográfica idem.
Tabela 1.3 - Densidade Demográfica (hab/km²)
Densidade Demográfica (hab/km²)
Municípios
1970 1980 1991 2000 2007
Minas Gerais 19,6 22,8 26,8 30,5 32,9
Sul/Sudeste 33,4 39,3 45,0 46,9
Alto Sapucaí 40,7 40,9 46,3 51,5 52,3
Médio Sapucaí 32,2 35,0 42,1 49,0 51,6
Baixo Sapucaí 25,7 28,7 32,8 37,2 39,0
Fonte:

55,0

50,0

45,0

40,0

35,0

30,0

25,0

20,0
1970 1980 1991 2000 2007

Alto Sapucaí Médio Sapucaí Baixo Sapucaí

Gráfico 1.2 - Densidade Demográfica (hab/km²)


Fonte:
Da década de 80 em diante, houve um aumento expressivo da população indicado
graficamente pela inclinação das curvas de crescimento da densidade demográfica, no Gráfico de
Densidade Demográfica. Este aumento foi mais expressivo nos cursos médio e alto da bacia. Esse
fato não é de se estranhar considerando a história de ocupação do Sul de Minas e a localização
geográfica da BHRS que possui uma posição estratégica em relação aos grandes centros
metropolitanos da região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte) e uma malha viária
que favorece o trânsito de pessoas e mercadorias.
1.3.2 Economia geral da bacia
Entende-se por economia, de maneira geral, o estudo e aplicações relacionadas aos bens
produzidos e serviços prestados pela sociedade, pensados no âmbito da escassez, ou seja, tendo
em vista que o ser humano está sempre criando necessidades e que os recursos naturais são
limitados, deve-se haver harmonia entre a geração de riquezas e a disponibilidade de recursos de
forma a se evitar a escassez. Sendo assim, a análise da economia de uma região é fundamental
pois possibilita o planejamento de ações que permitam, a superação das necessidades individuais
e coletivas e prevenção de cenários de insuficiência (SILVA; MARTINELLI, 2012).
Antes, deve-se entender também o conceito e a divisão dos três setores econômicos. O
primeiro, conhecido como Setor Primário é o agente de matéria prima que, sendo responsável
pela agricultura, pecuária e extrativismo, fornece os insumos necessários para o Setor Secundário.
O Setor Secundário por sua vez é formado pelas indústrias e é responsável pela produção de bens
de consumo, maquinários e equipamentos. Já o Setor Terciário abrange o campo das relações
interpessoais, ou seja, está ligado tanto a prestação de serviços quanto ao comércio como um todo
(FREITAS, S.d).
Adiante, para basear estudos básicos necessários acerca da economia de uma região,
podem ser utilizados indicadores econômicos como o Produto Interno Bruto e dados quantitativos
do número de empreendimentos e número de empregados locais, divididos por setores
econômicos. Nesse sentido, o presente tópico objetiva fornecer uma análise econômica acerca da
Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí, buscando evidenciar quais são os setores que mais contribuem
para a geração de riqueza da mesma.

1.3.2.1 Metodologia utilizada


Uma vez que a Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí abrange um total de 51 (cinquenta e
um) municípios, inicialmente foram levantados dados individuais de cada município através do
Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, posteriormente os dados foram somados
resultando em números representativos da área de abrangência da bacia. Por fim, tratou-se os
dados de forma a se obter uma visualização mais objetiva dos mesmos, facilitando a análise.
É importante ressaltar que nem todos os municípios estão inteiramente localizados dentro
dos limites da bacia em questão, contudo, dos 20 municípios cuja área total não está envolvida
inteiramente pela delimitação da bacia, apenas 8 possuem maior parte da densidade demográfica
fora da área de drenagem da mesma. Ainda assim, optou-se manter os dados referentes a estas
cidades, por entender que tais municípios podem no futuro se relacionar diretamente com os
recursos provindos da bacia estudada.
1.3.2.2 Produto Interno Bruto
Imagina-se um território. Dentro desse território há pessoas trabalhando nos três setores
econômicos explanados anteriormente, ou seja, há pessoas pescando, colhendo e minerando, há
pessoas trabalhando em unidades de produção de fármacos, de brinquedos e na indústria têxtil,
há pessoas trabalhando na construção de casas, máquinas e novas tecnologias, no setor elétrico,
no setor de saneamento básico, nas escolas e prefeituras, etc. Todo os serviços e bens gerados, ao
longo de um determinado período, nas inúmeras atividades realizadas dentro desse território
podem ser somados e o resultado dessa soma é conhecido como Produto Interno Bruto (PIB).
Pode-se dizer que o PIB mede o total de riquezas produzidas por um território em um
determinado período, o que acaba por caracterizar a situação de toda atividade econômica desse
território. Ele é medido pelo IBGE e pode ser analisado por setor econômico, incluindo impostos
indiretos (cobrados de produtores e comerciantes) e depreciação do capital (medida da
deterioração física de um bem, crédito, valores, etc.) (QUARESMA, 2013; PURTON apud
GRAHAM, 1959).
Antes, é necessário frisar que o PIB mede o crescimento econômico e não o
desenvolvimento de uma região, uma vez que enquanto o crescimento econômico se dá pelo
aumento da renda econômica o desenvolvimento econômico se dá quando esse aumento atinge
todos os segmentos da população de forma equitativa (BERLIINCK; COHEN; 1970),
proporcionando melhor distribuição de renda e condições de vidas.
Utilizando a metodologia apresentada, foram encontrados os valores do PIB da Bacia do
Rio Sapucaí, que são mostrados por anos e setores no Gráfico 1.3.

100%
15% 16% 15% 15% 15% 15%

80%
42% 42% 41% 44% 46% 46%
60%

40%
23% 22% 24% 21% 21% 19%
20% 8% 7% 7% 7% 6% 7%
12% 12% 13% 13% 13% 13%
0%
2006 2008 2010 2012 2014 2016

Impostos Agropecuária
Indústria Serviços (Comércio)
Serviços (Administração)

Gráfico 1.3 - Contribuição setorial do PIB da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí


Fonte: Adaptado de SIDRA, 2018
Percebe-se que o setor mais representativo da bacia em questão é o de serviços
relacionados ao comércio, que além de ser o responsável por mais de um terço da riqueza gerada
ao longo dos dez anos analisados, se manteve crescente em participação, saindo de 42% em 2006
para 46% de contribuição em 2016.
Logo em seguida, com uma parcela também significativa, mas que apresentou decréscimo
de 4% em participação, está o setor industrial, responsável por aproximadamente um quinto da
riqueza gerada na bacia. Com uma parcela menos significativa, mas ainda expressiva está o setor
de serviços administrativos, seguido pelos impostos e por último, o setor agropecuário.
A contribuição dos impostos indiretos está relacionada aos principais setores
contribuintes (serviços relacionados ao comércio e
O Gráfico 1.4 mostra o PIB em valores, possibilitando notar que o crescimento do mesmo
ao longo dos anos analisados, principalmente no setor serviços relacionados ao comércio onde o
PIB foi acrescido de 217%, entre 2006 e 2016. Os outros setores também tiveram boas taxas de
crescimento, sendo o setor agropecuário o menos expressivo com uma taxa de crescimento média
de 14,9% ao ano, nos anos analisados.

25
Bilhões (R$)

PIB
20

Agropecuária
15
Indústria

10
Serviços
(Comércio)
5
Serviços
(Administração)
-
2006 2008 2010 2012 2014 2016

Gráfico 1.4 - PIB Setorial da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí


Fonte: Adaptado de SIDRA, 2018

1.3.2.3 Número de estabelecimentos e pessoal ocupado


Outra forma de se analisar o crescimento econômico, se dá por meio da análise do número
de pessoas empregadas e total de estabelecimentos deu uma região por setores, possibilitando a
verificação de quais são os principais setores geradores de empregos e renda para população e
que consequentemente mais movimentam a economia local.
As organizações produtoras de bens e serviços do Brasil podem ser divididas de acordo
com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE que tem por objetivo a
padronização dessas organizações e consequente melhoria dos sistemas de informação, servindo
de base para o planejamento de Estado (SECRETARIA DE FAZENDA, PLANEJAMENTO,
ORÇAMENTO E GESTÃO, 2019).
A CNAE possuí cinco níveis hierárquicos: seções, divisões, grupos, classes e subclasses.
A fim de sintetizar os resultados e obter uma visão geral do tema abordado, os dados tratados
foram analisados por seções. De acordo com a Comissão Nacional de Classificação – CONCLA
(s.d) “no nível de seções, o propósito principal é definir um número limitado de categorias capaz
de prover uma visão ampla e abrangente da economia, satisfatória para quadros-síntese de
publicações de estatísticas oficiais.”
As seções da CNAE estão dispostas na Figura 1.7 e os gráficos que se seguem estão
referenciados de acordo com a mesma.

Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE 2.0)


A Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura
B Indústrias extrativas
C Indústrias de transformação
D Eletricidade e gás
E Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação
F Construção
G Comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas
H Transporte, armazenagem e correio
I Alojamento e alimentação
J Informação e comunicação
K Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados
L Atividades imobiliárias
M Atividades profissionais, científicas e técnicas
N Atividades administrativas e serviços complementares
O Administração pública, defesa e seguridade social
P Educação
Q Saúde humana e serviços sociais
R Artes, cultura, esporte e recreação
S Outras atividades de serviços
T Serviços domésticos
U Organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais
Figura 1.7 - Seções da CNAE e seus respectivos índices
Fonte: Adaptado de SIDRA, 2018

A média do número de empregados por estabelecimentos foi feita por meio da divisão do
número de pessoal ocupado pelo número de empresas e elaborou-se o Gráfico 1.5 que mostra a
evolução desse média entre 2006 e 2016 para as seções mais significativas da bacia. Nota-se então
que as seções de Administração pública, defesa e seguridade social; Indústrias de transformação;
Educação; e Água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e descontaminação, são as que mais
empregam pessoas por unidades dentro da bacia do Rio Sapucaí, respectivamente.
Todas as seções estão inseridas em um dos três setores econômicos e é importante
ressaltar também que a média realizada não evidencia por si só o quantitativo real
empregabilidade das seções já que uma seção pode ter um elevada média de empregados por
estabelecimento e não ser a principal responsável pelo número de pessoal ocupado, conforme
acontece com a seção de Administração pública, defesa e seguridade social, que, apesar de possuir
a maior média de empregados por estabelecimento não é a principal responsável pelo número de
empregos na região, ficando em 4º lugar nesse quesito, conforme mostra o Gráfico 1.6.

80
2006 2016
70

60

50

40

30

20

10

0
G C I O P Q H N F A E Outros

Gráfico 1.5 - Média de empregados por estabelecimento


Fonte: Adaptado de SIDRA, 2018

45%
Pessoal ocupado total (pessoas)
40%
Empresas e outras organizações (unidades)
35%

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0%
G C I O P Q H N F A E Outros

Gráfico 1.6 - Porcentagem do número de estabelecimentos s e pessoas ocupadas por seção


CNAE 2.0 em 2016.
Fonte: Adaptado de SIDRA, 2018
Os setores mais expressivos no ano analisado, tanto em relação ao número de pessoal
ocupado quanto ao de empresas e outras organizações foram os de Comércio, reparação de
veículos automotores e motocicletas; Indústria de transformação; e Alojamento e alimentação.
1.3.2.4 Principais atividades econômicas
Aliando as variáveis utilizadas na análise econômica fica evidente que os setores
secundário e terciário são os mais expressivos na bacia analisada e que dentro destes as principais
atividades amplificadoras da economia são aquelas ligadas ao comércio e a indústria de
transformação.
De acordo com a ANA, 2018, o setor primário é o principal responsável pela retirada de
água no Brasil, aproximadamente 61,6%, o que faz o cenário econômico da bacia do Rio Sapucaí
(que não é expressivo no setor primário) ser favorecido já que, além de demandar grande
quantidade de água, o setor primário possuí menor valor agregado o que dificulta o
enriquecimento das regiões que cujo este setor é predominante.

1.3.3 Uso e ocupação

Para o diagnóstico do uso e ocupação do solo da bacia do rio Sapucaí, elaborou-se o mapa
da Figura 1.8, com a finalidade de caracterizar a bacia em estudo.

Figura 1.8 - Mapa de uso e ocupação do solo da bacia hidrográfica do Rio Sapucaí
Fonte: Elaborado pelos autores através do software QGis® v. 3.6
Através do mapa elaborado, realizou-se a caracterização quantitativa dos resultados
obtidos, Tabela 1.4.
Tabela 1.4 - Ocupações na bacia hidrográfica do Rio Sapucaí
Tipologia de Uso e Ocupação do solo Área (ha) Área (%)
Não identificado 4 0,0005
Cultura semi-perene 16 0,0018
Mineração 40 0,0045
Área descoberta 936 0,1061
Corpos hídricos 1.357 0,1538
Cultura anual e perene 3.256 0,3690
Formação campestre 4.292 0,4864
Infraestrutura urbana 8.396 0,9515
Floresta plantada 8.724 0,9887
Formação florestal 147.368 16,7016
Mosaico de agricultura e pastagem 315.852 35,7964
Pastagem 392.116 44,4396
Total 882.357 100
Fonte: Elaborado pelos autores através do software Microsoft Excel® v.2016

Os tipos de ocupações mais expressivas na bacia é a formação florestal, mosaico de


agriculta e pastagem e pastagem. Os outros tipos de ocupações resultam em menos de 3% da
bacia. Desta forma, será realizado uma análise nestes tipos de formações, apenas para enfatizar a
importâncias deste tipo de ocupação nas características da bacia.
Quase metade do território brasileiro está coberto pelas formações florestais. As florestas
brasileiras desempenham importantes funções sociais, econômicas e ambientais, por meio da
oferta de uma variedade de bens e serviço. Os vegetais de grande porte são predominantes nessas
áreas, e em geral são um reflexo do clima úmido. Neste estudo as formações florestais estão 16,7%
presentes na região da bacia do rio Sapucaí.
Uma das principais fontes de economia do país está na agropecuária, sendo esta uma
expressão utilizada para designar de forma agrupada a agricultura e a pecuária. Neste estudo, há
uma predominância de 35% desta área na bacia. O que supõe que este seja um dos ramos mais
importantes para a economia desta bacia.
Na bacia do Rio Sapucaí há uma predominância de pastagem, o que condiz com a
realidade do país, pois o Brasil é um dos países mais representativos no ramo da pecuária. Esta
atividade compreende na criação de gado, seja bovino, suíno ou equino.
A forma atual de uso e ocupação do solo na bacia reflete o processo histórico de ocupação,
desde o período colonial. Tem-se conhecimento de que a bacia é densamente povoada e possui
alto grau de urbanização, porém as áreas urbanizadas, segundo a Tabela 1.5, ocupam apenas 1%
de seu território.
A análise realizada acima tem como finalidade enfatizar as ocupações mais expressivas
na bacia. As consequências para a economia serão abordadas ao decorrer do estudo.
As observações acima foram realizadas a partir de dados elaborados pelos autores.
Entretanto, como este estudo não foi realizado em campo, é de suma importância contrastar os
resultados obtidos com estudos que tiveram a oportunidade de avaliar se os dados apresentados
pelo software condizem com a realidade da bacia. Desta forma, será realizado uma análise mais
crítica da bacia de acordo com um estudo feito na mesma.
No estudo realizado pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais, COPASA, o
diagnóstico da vegetação da Bacia do rio Sapucaí foi realizado utilizando-se de dados primários,
sendo estes coletados em visitas a campo, e dados secundários, utilizando-se de bibliografias e
mapas.
Realizou-se uma viagem a campo e os municípios percorridos para a caracterização da
vegetação foram: Borda da Mata, Careaçu, Carvalhópolis, Conceição das Pedras, Congonhal,
Cordislândia, Elói Mendes, Heliodora, Itajubá, Lambari, Machado, Maria da Fé, Natércia,
Paraguaçu, Pedralva, Piranguinho, Pouso Alegre, São Gonçalo do Sapucaí, São Sebastião da Bela
Vista, Senador José Bento e Turvolândia.
O objetivo desta viagem foi caracterizar a existência ou não de cobertura vegetal nativa e
a existência ou não de áreas de preservação permanente e quanto presentes, o seu estado de
conservação. Também foram observados os principais impactos existentes sobre a vegetação. Os
resultados obtidos neste estudo estão apresentados na Tabela 1.5, e serão analisados a seguir.

Tabela 1.5 - Tabela de quantificação dos usos do solo da bacia hidrográfica do Rio Sapucaí
Tipologia de Uso e Ocupação do solo Área (km²) % da Bacia do Sapucaí
Áreas urbanizadas 141,21 1,5
Floresta Estacional Semi-Decidual 986,4 10,4
Floresta Ombrófila Mista e Floresta Ombrófila Densa 243,45 2,6
Pastagem 3.492,11 36,9
Agricultura 4.330,51 45,8
Áreas onde a imagem está coberta por nuvens 271,28 2,9
Fonte: Vida Meio Ambiente (Mapa de Uso e Ocupação)

Observa-se que há coerência nos dados apresentados na Tabela 1.5, pois a tipologia do
uso e ocupação do solo mais presente na bacia, segundo este estudo, é de floresta estacional semi-
decidual, pastagem a agricultura.

1.3.4 Disponibilidade Hídrica


É necessário estudar a disponibilidade hídrica na bacia para saber a quantidade de água
que está hábil para o uso, e decidir se algum tipo de investimento é rentável nessa área. A bacia
do Sapucaí possui uma área de drenagem de 8,8 km² possui muitos recursos naturais, tais como
recursos hídricos, e apresenta um alto nível de desenvolvimento.

1.3.4.1 Vazões críticas


Para realizar abrir um empreendimento ou para efeito de outorga de uso da água, é preciso
conhecer as vazões mínimas e máximas características, as mínimas são Q_7,10 (vazão mínima de
7 dias com tempo de recorrência de 10 anos), e as Q_(95%) (vazões com intervalo diário de 95%
de permanência).
1.3.4.2 Vazão Q7,10
A partir do resumo executivo do Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia
Hidrográfica do Rio Sapucaí, disponibilizado pela COPASA órgão do governo estadual de Minas
Gerais, podemos ter acesso aos valores de 𝑄7,10 e da vazão especifica, utilizado para chegar ao
valor das vazões 𝑄7,10.
A Tabela 1.6 a seguir traz o resumo das vazões citadas, bem como as estações utilizadas
para a coleta de dados.

Tabela 1.6 - Vazões Q_7,10 da bacia hidrográfica do Rio Sapucaí


Código Estação Ad (km²) Q7,10(m³/s) q(L/s.km²)
61267000 Delfim Moreira 76 0,36 4,74
61271000 Itajubá 869 7,62 8,77
61280000 Bairro Santa Cruz 270 2,16 8
61295000 Brasópolis 158 0,53 3,35
61305000 Santa Rita do Sapucaí 2811 16,39 5,83
61350000 Conceição dos Ouros 1307 4,66 3,57
61370000 Ponte Rodrigues 745 2,52 3,38
61390000 Vargem do Cervo 485 1,78 3,67
61410000 Careaçu 7346 34,88 4,75
61425000 Paraguaçu 9424 44,75 4,75
Fonte: Resumo Executivo Copasa.

1.3.4.3 Vazão Q95%


A curva de permanência permite analisar qual a duração, ou qual a frequência uma vazão
com dada magnitude é igualada ou excedida. Basicamente é a frequência acumulada de ocorrência
das vazões em um rio, e são obtidas através da curva de permanência, e os resultados só mostrados
abaixo através da Tabela 1.7.
Tabela 1.7 - Resultado da curva de permanência
Código Estação Q95% (m³/s) Q50% (m³/s) (mediana)
61267000 Delfim Moreira 0,62 1,23
61271000 Itajubá 9,2 15,9
61280000 Bairro Santa Cruz 3,19 6,14
61295000 Brasópolis 0,802 2,01
61305000 Santa Rita do Sapucaí 16,5 36,1
61350000 Conceição dos Ouros 6,5 20,4
61370000 Ponte Rodrigues 3,88 9,68
61390000 Vargem do Cervo 3,23 9,5
61410000 Careaçu 42,46 119,9
61425000 Paraguaçu 50,56 130,7
Fonte: Resumo Executivo Copasa.

1.3.4.4 Vazão Máxima


A vazão máxima, neste caso, foi estimada a partir do ajuste de dados de uma série
histórica, selecionando os valores máximos diários a cada ano, e com o modelo de probabilidade
simplificado de expressão analítica de Chow, faz-se uma série anual de vazões máximas com
tempo de retorno de 10 anos para cada estação. A Tabela 1.8 a seguir organiza os resultados
obtidos.
Tabela 1.8 - Resultados de vazões máximas
Ad
Código Estação Qmáx10 (m³/s) q(L/s.km²)
(km²)
61267000 Delfim Moreira 76 17,26 227,1
61271000 Itajubá 869 207,80 239,1
61280000 Bairro Santa Cruz 270 52,38 194,0
61295000 Brasópolis 158 29,80 188,6
61305000 Santa Rita do Sapucaí 2811 320,89 114,2
61350000 Conceição dos Ouros 1307 393,80 301,3
61370000 Ponte Rodrigues 745 68,83 92,4
61390000 Vargem do Cervo 485 55,45 114,3
61410000 Careaçu 7346 805,76 109,7
61425000 Paraguaçu 9424 1033,69 109,7
Fonte: Resumo Executivo Copasa.
Essas grandezas calculadas e estimadas são vazões para momentos críticos representando
situações críticas de oferta de água na bacia, possibilitando posteriormente realizar o balanço
hídrico da região. Além de que a portaria administrativa IGAM, no estado de Minas Gerais,
regulamenta como vazão de referência para outorgas de uso de água e vazão ecológica a vazão
mínima de sete dias para tempo de retorno de 10 anos.
Vazões assim são importantes para dimensionamento de vertedores em barragens, canais,
galerias pluviais, captação de água, drenagem e abastecimento urbano dentre outras obras
hidráulicas em geral. Necessárias para cálculos de demanda de água versus a disponibilidade
hídrica da bacia, e assim fazer o diagnóstico da bacia conhecendo suas características principais
e pontos notáveis onde poderá ter algum tipo de investimento.
1.3.4.5 Índices Pluviométricos
Algumas das estações localizadas na bacia do rio Sapucaí são apresentadas a seguir. Na
tabela da Figura 1.9 são expostas informações como localidade e responsável, das estações mais
utilizadas devido as suas disponibilidades de dados, baixa presença de falhas e pelas suas
distribuições espaciais, para a confecção de pesquisas envolvendo a bacia do rio Sapucaí. (DOS
REIS,2018). A partir dessas estações várias informações podem ser adquiridas, como as que serão
apresentadas posteriormente.

Figura 1.9 - Estações de coleta de dados disponíveis. Na coluna Tipo: P são dados
pluviométricos, N de nível do rio e V a disponibilidade de dados de vazão.
Fonte: Dos Reis (2018)
É possível identificar a variabilidade da precipitação ao longo do ano, sendo a
precipitação média anual de aproximadamente 1.500 mm (VIDA, 2010). Os seis meses mais
chuvosos na região abrangem o período de outubro a março, sendo novembro, dezembro e janeiro
os três meses com maiores valores médios de precipitação, e os seis meses mais secos
correspondem ao período entre os meses de abril e setembro, como pode-se observar na figura a
seguir. O Plano Diretor da bacia do rio Sapucaí estimou uma vazão média do rio Sapucaí para a
estação de coleta de dados em Itajubá de aproximadamente 21 m3 s -1 e uma vazão máxima para
o período de retorno de 10 anos de 207 m3 s -1 (VIDA, 2010).
Figura 1.10 - Média mensal de precipitação entre os anos de 1970 e 2010 para a área de estudo
Fonte: Dos Reis (2018)
A ocorrência de chuvas bem distribuídas espacialmente pela bacia, atingindo ao mesmo
tempo as áreas de contribuição da cabeceira do rio Sapucaí e também dos seus principais afluentes
à montante de Itajubá (rio de Bicas e Santo Antônio), são responsáveis pelo aumento do nível do
rio Sapucaí, produzindo uma onda de cheia em direção à área urbana itajubense e, ocasionalmente,
nos eventos mais extremos, resultando no transbordamento do rio e na ocorrência de inundação
(DOS REIS,2018).
A tabela da Figura 1.11 resume algumas características de doze grandes eventos de
inundações ocorridos no município de Itajubá. O evento mais severo registrado aconteceu em
1874, quando o rio Sapucaí atingiu a cota 848,69 m, com pico de vazão de mais de 800 m3 s -1.
O evento mais recente, ocorrido em 2009, superou a cota máxima do canal (cota 844 na altura da
estação 61271000 da ANA), transbordando e atingindo a planície de inundação do rio Sapucaí
com uma vazão estimada em aproximadamente 153 m³ s-1.
Figura 1.11 - Descrição de doze grandes eventos de inundações ocorridos no município de
Itajubá entre 1874 e 2009
Fonte: Barbosa et. al. (2015)

A Figura 1.12 seguinte apresenta os valores acumulados mensais de precipitação dos


dados de referência, coletados das estações acima descritas (DOS REIS,2018).

Figura 1.12 - Acumulado mensal de precipitação referente as estações pluviométricas durante o


período de 2007-2014
Fonte: Dos Reis (2018)

1.3.5 Justificativa
A implantação da Lei 9.433/1997, no contexto atual, não está sendo efetiva, ou seja, é
observado diversas falhas na gestão que acarretam problemas significantes às bacias e ao país. De
acordo com o Artigo primeiro, a água é um bem de domínio público e dotado de valor econômico.
Contudo, na atual gestão desta lei, nota-se que há um desrespeito neste quesito, pois a água não
vem sendo vista como um bem público e sua valoração, bem como a cobrança, está sendo
negligenciada e feita de maneira errônea, onde muitas vezes não há a cobrança devido à
inexistência e, muitas vezes, ineficiência de órgãos gestores em muitas regiões do país.
Deste modo, vem sendo discutido outras vertentes econômicas para a implantação e
adequação da lei 9.433/1997, onde o foco é a discussão da valoração e a privatização do bem.
Assim, as vertentes com ideais capitalistas surgem para permitir uma maior discussão em torno
do assunto, onde acreditam que a privatização valoriza economicamente o meio ambiente e abrem
possíveis brechas para capitalização da água no futuro e uma mudança considerável na economia
do país.

2 OBJETIVO

3 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
3.1 Modelos existentes de mercado de água
Desde os primórdios da Terra, a água fora considerada o principal agente de
transformação na maioria dos processos naturais, os quais são inerentes a vida, enaltecendo assim
a sua importância. Estima-se que para o mundo todo os recursos hídricos são 97,5% de água
salgada e apenas 2,5% de água doce (Rozin et al., 2015). Uma pequena proporção dos menos de
1% identificados como a água doce utilizável na Terra é derivada principalmente da queda de
neve, águas pluviais, subterrâneas, águas superficiais de água doce e outras advindas da biomassa
(Rozin et al., 2015).
A água é considerada um dos bens mais preciosos da humanidade e sua escassez é um
fenômeno que torna-se cada vez mais habitual a diversos países, seja por condições climáticas
diferenciadas e imprevísiveis, por questões de má gestão governamental e questões culturais,
como poluição exarcebada, além de processos mais especificos de poluição, como por exemplo,
a mineração. Segundo a saúde nacional e Medical Research Council, Austrália (NHMRC, 2004),
é estimado que até 2025, aproximadamente 50% da população mundial váexperimentar escassez
de água. Relatórios disponíveis indicam que os pobres níveis de qualidade da água resultam na
morte de mais de cinco milhões de pessoas todos os anos (DEH, 2004).
Como resultado de tais questões, diversos países tem buscado possiveis soluções aos
problemas de escassez, visando tornar o sistema hídrico mais eficiente e seguro, o que estabelece
uma série de estudos em relação a viabilidade de métodos eficientes para tal questão.
Um dos países pioneiros a tal estudo fora a Austrália, que sobreviveu a seca do milênio,
demonstrando inovação e com exemplos exepcionais de planejamento e gestão hídrica, frente a
crise da água. Um dos processos feito por eles fora um programa que concentra os processos na
demanda individual, visando reduzir a quantidade gasta. Além disso, a comunicação entre as
empresas que detinham os sistemas de abastecimento e esgoto com o governo fora crucial às
questões de gestão eficiente.
Um dos assuntos ao qual está em alta é o processo de privatização da água, visto que tal
questão, segundo especialistas, agregam valor a esta e criam senso de urgência nas pessoas,
reduzindo assim o gasto em torno desta, muitos paises apresentam propostas a este processo,
sendo que muitos ja o iniciaram.
Com o intuito de analisar os efeitos da privatização e mercantilização dos recursos
hídricos, serão analisados estudos de caso em dois países diferentes, a fim de observar como foram
implantados estes processos ou de como o estudo analisou um cenário onde estes processos foram
implantados.
Com o intuito de analisar os efeitos da privatização e mercantilização dos recursos
hídricos, serão analisados estudos de caso em dois países diferentes, a fim de observar como foram
implantados estes processos ou de como o estudo analisou um cenário onde estes processos foram
implantados.
Inicialmente será abordado o estudo de Chen et al. (2019), acerca da eficiência da
utilização de recursos hídricos na China. Este estudo utiliza diferentes modelos para medir a
eficiência da utilização, como o EBM (Epsilon-Based Measure) e o DEA (Análise Envoltória de
Dados), e outros modelos, como o OLS (Ordinary Least Square) e o SEM (Modelo de Erro
Espacial), para estimar um cenário com a inserção da mercantilização dos recursos hídricos.
O modelo EBM é um modelo de comportamento do consumidor, onde são os fatores que
influenciam na tomada de decisão dos consumidores são resumidos em três pontos principais,
sendo eles: diferenças individuais, influências ambientais e processos psicológicos (Engel et al.,
1995). Através deste modelo matemático foi medida a eficiência da utilização dos recursos
hídricos.
Como mencionado acima, para estimar o efeito da mercantilização na eficiência do uso
dos recursos hídricos, os autores utilizaram o modelo OLS, um modelo matemático de regressão
linear, enquanto para analisar os efeitos de transbordamento espacial dessa mesma estimativa foi
utilizado o modelo SEM, que é um modelo de erro espacial.
Será abordado agora o estudo de Brennan e Scoccimarro (1999). Devido a agenda de
reforma microeconômica presente no governo australiano, surge a dificuldade em definir os
direitos de propriedade de água num momento de transição da água para um amplo mercado
interestadual, visto que um mercado de água deve atender direitos relacionados a volume,
confiabilidade, transferibilidade e qualidade (ARMCANZ 1995). Ao mesmo tempo que há tal
dificuldade, também há a preocupação da superexploração da Bacia Murray-Darling devido ao
potencial significativo de crescimento de desvios para a agricultura (MDBMC 1995).
Ao analisar a Bacia Murray-Darling, toma-se em destaque a variabilidade dos fluxos
d’água anuais, visto que se torna praticamente impossível estabelecer políticas de direito de
propriedade baseados nas cargas volumétricas e ao invés disso as definições requerem referência
a confiabilidade de tais direitos (Dragun e Gleeson 1989, Randall 1981). O principal uso da água
da Bacia é destinado a irrigação, e outros consumos se referem ao abastecimento urbano, estoque,
provisões domésticas para áreas rurais, indústria, manutenção de saúde, recreação, etc.
No âmbito político e da agricultura, a gestão dos recursos hídricos é dada aos estados,
além disso, em New South Wales a participação do estado no custo operacional da gestão das
nascentes é suportada pelos contribuintes, já em Victoria, pelos irrigantes (MDBMC, 1996).
Mercados temporários e permanentes foram introduzidos e obtiveram sucesso, já que foram
impostos limites de consumo visto que os arranjos institucionais variam de estado para estado.
Os direitos de uso para as hidrelétricas também foram regulamentados, com o intuito de proteger
os irrigantes a jusante, além de que o corporativismo das reformas entre as hidrelétricas e os outros
setores da eletricidade, mas continuarão a seguir os regulamentos. Com o recurso água como
comércio os ecossistemas ribeirinhos foram prejudicados, as cheias de primavera diminuíram,
assim afetando a saúde ecossistêmica e da biodiversidade (MDBMC 1995).
Os direitos dos ribeirinhos e fazendeiros ribeirinhos é garantido pelo estado, e um método
para proteger os direitos residuais é formalizá-los para que eles tenham o mesmo 'status' que os
direitos sobre a água mantidos por usos comerciais. Destacando que muitas das questões que
cercam a redefinição dos direitos de propriedade da água referem-se a interdependências entre
diferentes usuários.
Atualmente há tecnologias que permitem estimar a eficiência da utilização dos recursos
hídricos, tanto com a inserção da privatização dos recursos (OLS, Ordinary Least Square), quanto
com a avaliação da demanda de uso dos consumidores (o EBM, Epsilon-Based Measure). A partir
dos resultados obtidos, pode-se prever modelos de consumo ao longo do tempo, evitar conflitos
que aconteceriam a longo prazo, definir preços a cada consumidor, cotas de utilização e traçar
planos para preservação do recurso, visto que o seu possível esgotamento afeta diretamente a
economia regional, por isso é fundamental que a base de dados para a privatização do recurso,
seja bem completa e extensa.
Os mercados de água têm sido implementados em alguns locais como uma forma de teste
para verificar sua eficiência prática, a China e a Austrália muito desenvolveram sua aplicação
sobre esses mercados. O que pode ser extraído de mais importante dessas aplicações é que o uso
deve ser considerado de acordo com a região em que a bacia está inserida, a sua população, a
presença de indústria, agricultura, comércio ou outros e assim o modelo de concessão de cada
bacia varia com suas especificidades.
A partir dos estudos de Chen et al, é possível concluir que o mercado da água está
associado ao uso mais eficiente do recurso, maior preservação e taxas baixíssimas de desperdício.
O preço de utilização torna-se maior, portanto, o uso consciente torna-se recorrente, o fator
financeiro tem um grande peso sobre a população, geralmente assim, automaticamente um uso
mais limpo da água. A qualidade também deve ser mantida, portanto a fiscalização sobre o
tratamento e descarte torna-se maior, desta maneira a água disponível passa a ser mais limpa, o
que causa um efeito em cadeia, melhorando a fauna, flora e meios aquáticos.
Os pontos de análise que devem ser considerados é que o nível de qualidade da água deve
ser alto, em todo o território nacional, ou fora dele, no caso de fontes que pertençam a outros
países, pois a qualidade do curso d’água, não se trata apenas de um fator local, mas vem desde o
momento de sua insurgência ou mesmo antes disso, nos reservatórios subterrâneos, para tal o
meio a sua volta deve estar preservado e de acordo com a legislação vigente, isso leva ao fato que
cabe aos órgãos públicos a fiscalização eficiente de todas as bacias dentro de um território levando
em conta todos os seus fatores intervenientes.
O direito ao uso deve ser oferecido a população local e uma parcela da água, independente
dos usos para obtenção de lucro, deve ser destinada a população para sua subsistência, esse uso
será também cobrado desta população, porém, seu direito a compra deve ser respeitado.

3.2 Modelos para criação do mercado de água


O mercado que envolve o direito de uso dos recursos hídricos é discutido e implementado
desde a época dos imperadores romanos. Segundo Scott & Coustalin (1995), a ideia desse
mercado surgiu diversas vezes em inúmeros períodos históricos, sendo motivada por diferentes
causas, porém sempre com o mesmo objetivo, criar um balanço dos diferentes usos da água nos
períodos de seca ou em locais áridos.
Existem alguns exemplos da implementação de um mercado de água em países como
Estados Unidos, Austrália, Espanha, México, Chile, Índia e Portugal. Dos países anteriores, o
modelo aplicado nos Estados Unidos chama atenção por ser o mais antigo e o mais bem
documentado. De acordo com Littlefield (1983), a ideia moderna de um mercado de água
começou na época da febre do ouro na Califórnia, sendo nesse período criada a ideia de direito
de uso da água por mineradoras.
De acordo com a literatura, parece existir um consenso que afirma que o mercado é uma
ótima ferramenta que força o uso eficiente da água sobre situações de escassez, visto que há
maneiras de reduzir custos de transações e efeitos externos negativos.
Numa escala global, a literatura mostra que a ideia do uso de um mercado de água como
uma ferramenta para lidar com períodos de escassez está se tornando mais popular. No entanto,
não existe um modelo padrão. Cada país está trabalhando de acordo com a sua infraestrutura e a
sua motivação. No geral a ideia desse tipo de mercado ainda está em fase de amadurecimento, e
atualmente, não existe uma previsão de como será o seu comportamento ao logo no século XXI.
Para o Brasil, a possibilidade da implementação de um mercado para os recursos hídricos
encontra seu primeiro empecilho na lei 9433 de 1997 que propõe um sistema de administração
estatal sobre a água, fechando as portas para negociações e privatizações desse recurso. Um
estudo feito pela OECD (2015), mostra que a administração do estado sobre os recursos hídricos
é fraca e ineficiente na questão da alocação e utilização entre os usuários. De acordo com a ANA
(2003), ocorreram 204.607 outorgas de uso da água em 2012, valor este que se mostra pouco
significante quando relacionado a uma população de 200 milhões de habitantes. No mesmo ano,
em Colorado nos Estados Unidos, com uma população de 5 milhões de habitantes, foram emitidos
129.335 títulos de direito ao uso da água.
Como aponta ANA (2017), o Brasil tem cerca de 12% da disponibilidade hídrica
relacionada a água doce do mundo inteiro, o que possibilita que uma quantidade substancial de
água possa ser realocada entre bacias sem alterar substancialmente o ciclo hidrológico desses
locais. Um ponto interessante é a distribuição natural desses recursos hídricos, já que as áreas de
maior consumo não são as mesmas áreas de maior abundancia, assim como mostra a Figura 3.1a
seguir, na qual o mapa da esquerda representa a disponibilidade hídrica e o mapa da direita
representa o consumo urbano (PETTERINI, 2018).

Figura 3.1 - Distribuição espacial de disponibilidade hídrica / consumo de água no Brasil.


Fonte: ANA (2003). F.C Petterini.

A principal conclusão desses mapas é que, por mais que os recursos hídricos estejam
distantes de suas principais áreas de consumo, somente 13,6% da água disponível já seria
suficiente para abastecer todas as necessidades urbanas, sendo viável até quando a região
amazônica não é considerada (PETTERINI, 2018).
Os dados do mercado atual de água implantado nos Estados Unidos mostram, em sua
região oeste, mais de 4600 transações relacionadas ao uso de recursos hídricos nos últimos 23
anos, referentes a um volume de água de aproximadamente 43 bilhões de m³ (PETTERINI, 2018).
Essas transações, provenientes de diversos setores como agricultura e geração de energia, refletem
no uso eficiente e na preservação dos recursos hídricos devido ao seu valor econômico.
Para se ter uma ideia do crescimento e procura sobre o direitos da água da população
norte americana, a Tabela 3.1 foi elaborada contendo uma relação entre o número de outorgas de
uso d’agua e o crescimento populacional no decorrer dos anos no Colorado; tais dados foram
providos pela Divisão de Recursos Hídricos do Colorado (PETTERINI, 2018).

Tabela 3.1 - Outorgas de direito da água e população no Colorado


Novas outorgas de Número de População (Milhares)
Década A/B
Direito Concedidas outorgas [A] [B]
1880 2374 2374 194 12,2371
1890 3612 5986 415 14,4241
1900 2750 8736 539 16,2078
1910 2558 11294 799 14,1352
1920 1604 12898 939 13,7359
1930 2036 14934 1035 14,429
1940 855 15798 1123 14,067
1950 2968 18757 1325 14,1562
1960 2416 21173 1753 12,0782
1970 56944 78117 2209 35,3631
1980 16258 94375 2889 32,667
1990 14091 108466 3294 32,9284
2000 17240 125706 4301 29,2272
2010 3649 129355 5029 25,7218
Fonte: Divisão de Recursos Hídricos do Colorado (PETTERINI, 2018).

Em suma, nota-se que no Brasil, existem muitos desafios no controle e no planejamento


do uso da água, além de muitos problemas envolvendo falta de infraestrutura e falta de
capacitação técnica. Os resultados desse estudo mostram que a transformação da outorga em um
tipo de título de direito de uso da água poderia ser uma ferramenta muito viável que movimentaria
a economia do país e substituiria o sistema atual de cobrança que cada vez mais se mostra pouco
efetivo. A Figura 3.2 a seguir demonstra exatamente isso, evidenciando em porcentagens quantas
cidades brasileiras sofrem com a falta moderada ou intensa de água, sendo essa porcentagem
muito expressiva, com valores preocupantes até mesmo em anos mais recentes (PETTERINI,
2018).
Figura 3.2 - Porcentagem de municípios brasileiros com falta intensa ou moderada de água.
Fonte: ANA (2003, 2017). F. C. Petterini.

A proposta feita pelo estudo da OECD está contida no projeto de lei 6979 de 2002 que
foi discutido no congresso nacional em 2013 e no novo projeto de lei 4452 de 2016. Esses projetos
trazem a ideia que a criação de um mercado poderia promover a realocação dos recursos hídricos
entre usuários nos períodos de seca e também nas regiões semiáridas do país, além da proposta
de uma porcentagem dos valores de negociações envolvendo o uso da água ser direcionada para
o gerenciamento das bacias hidrográficas. esta pode ser uma oportunidade para alinhar os
incentivos dos agentes econômicos para construir novas infra-estruturas relacionadas aos recursos
hídricos (PETTERINI, 2018).
Nesse cenário, levando-se em consideração a demanda e consumo hídrico, relacionado
ainda por um possível aparecimento de um mercado de recursos hídricos, foi estipulada as
diferenças das permissões de cada usuário (qi). Para isso, foram levados em consideração o
volume de água permitido por um usuário específico(αi), licença para utilização de água sem
custos (se for um baixo volume) (ωi), custo marginal (c), retorno líquido (Ui), e preço (p); para
que finalmente uma relação final pudesse apresentar qual a real viabilidade da criação de um
mercado estável. Essa estabilidade foi representada nos seguintes gráficos, contidos na Figura
3.3 (PETTERINI, 2018).
Figura 3.3 - Possibilidades de pagamentos líquidos no equilíbrio do mercado.
Fonte: (PETTERINI, 2018).

Nessa imagem, o gráfico da esquerda representa justamente as diferenças entre as


permissões de usuários, podendo ser igual a disponibilidade hídrica média, encontrando qi = 1.
Nesse ponto, quando qi =1, a diferença torna-se 0; isso é representado pela linha não pontilhada
do gráfico à direita, isso acontece quando o retorno Líquido (Ui) contém o mesmo valor para
custo marginal e preço da água (Ui se p = c), ou mesmo a não utilização de água sem custo (ωi =
0). Se a permissão do usuário for menos q a disponibilidade média (0 < qi < 1), o usuário está
com a intenção de comprar água, caso qi > 1, ele deseja vender, pois ele tem um valor marginal
menos que o valor de uso (PETTERINI, 2018).
Se a infraestrutura da distribuição de água demandar baixos custos, o preço torna-se maior
que os custos marginais (p > c), representados pela linha escura pontilhada; nesse caso o usuário
poderá vender ou usar a água armazenada como meio de quitar os custos da infraestrutura e obter
lucro, abrindo a possibilidade de investimentos por parte de acionistas interessados (PETTERINI,
2018).
Do contrário, quando o preço é menor que o custo marginal, a negociação pode ser ou
não uma boa opção para o usuário, sendo assim, deixar de investir passa a ser uma opção viável.
Esse cenário é considerado o mais real possível, já que as estruturas são gastos consideravelmente
altos; mesmo assim, em um cenário no qual o benefício de ter água é alto, por mais que o volume
de água seja baixo, as perdas financeiras passam a ser aceitáveis, podendo obter ainda mais
benefícios no futuro. Por outro lado, se o usuário passar a ter um alto volume de água, o mercado
será uma opção ainda mais viável para ele, o que é mostrado na linha pontilhada clara
(PETTERINI, 2018).
Assim, esse gráfico evidencia a possibilidade de haver um mercado estável, obtendo lucro
quando f(x) for > 0 e possibilitando o uso de água sem custo (wi ≠ 0).
De forma geral, para Petterini (2018), os mercados provenientes do recurso hídrico estão
constantemente em evolução, sendo essa parte, relativamente nova até para países mais
experientes, nos quais ainda dispõem de poucos dados. Ainda assim, existe a previsão que o
amadurecimento desse mercado atraia investidores com interesse de financiar projetos de
construção de reservatórios e de sistemas de distribuição de água.
Outro caso interessante é como a Europa lidou com a situação do mercado de água, de
acordo com Maria Kaika (2003). A política de gestão e proteção europeia da água foi formulada
de acordo com a mudança da estrutura social e política do continente. O documento foi votado
pela União da Europeia em sessão plenária em setembro de 2000 e entrou em vigor em dezembro
de 2000. Segundo Maria Kaika (2003), este documento trouxe a União Europeia uma nova
maneira de gestão dos recursos hídricos, baseada nas bacias hidrográficas, fazendo com o que o
planejamento físico fosse interligado com o planejamento dos recursos hídricos.
Houve principalmente três parâmetros que mudaram com essa nova política, o primeiro
estava relacionado com os agentes envolvidos na gestão de água e a reestruturação das suas
funções (Gottlieb, 1988; Goubert, 1989; Anon, 1994) com efeitos sociais e políticos imediatos
(Swyngedouw, 1997). Visto o desenvolvimento urbano e a necessidade de captar água muitas
vezes de locais distintos (incluindo de outro país) surgiu a necessidade de novas instituições para
gerir possíveis acordos da utilização da água. Além disso, o setor privado começou a atuar no
ramo de gestão e distribuição dos recursos hídricos após a internacionalização dos mercados de
água, gerando assim uma demanda pela regulamentação desse setor (Neto, 1998).
O segundo é a mudança no complexo sistema de instituições e agentes de tomadas de
decisões, necessária para lidar com a gestão da água no local, em escala nacional, europeia e
internacional, política de água realocadas, a economia e a gestão da esfera do local na esfera do
global (Ogden, 1995; Swyngedouw, 2000).
E o terceiro parâmetro é a ascendente preocupação com o meio ambiente, que não foi
levada em conta nos primeiros estágios da urbanização e na revolução industrial, atualmente a
questão do abastecimento de água vem sendo amplamente discutida (Comissão Europeia, 1992;
EEA, 1995, 1998, 1999a, 1999b, 1999c). Por exemplo, atualmente, novos projetos de barragens
em países europeus não são aprovados sem um acompanhamento de uma avaliação do impacto
ambiental.
É importante ressaltar que o documento que estabeleceu a política de gestão e proteção
europeia da água, faz valer um conceito que não havia de fato sido implementado, coloca o recurso
hídrico como um patrimônio europeu, porém não deixa de afirmar o seu valor econômico e a
necessidade de estabelecer um preço para água como uma boa forma de geri-la (Burkitt & Ashton,
1996).
Segundo Maria Kaika (2003), trocar a participação pública pela particular é uma
tendência no cenário europeu, devido à dificuldade de se implementar uma política direta em todo
continente. Embora a União Europeia afirma o seu compromisso de envolver o público na
Tomada de decisão e fases de implementação de suas diretrizes, práticas de participação não são
institucionalmente definidas, logo a questão da participação permaneceu em grande parte voltada
a de divulgação de informações. No entanto, inevitavelmente, essa divulgação não foi
homogênea, e acabou favorecendo grupos e organizações que possuíam localizações geográficas
estratégicas.
Maria Kaika (2003) aponta outro princípio da UE que foi adicionado na política de gestão,
o “princípio do usuário-pagador”, que permanece conturbado para a indústria da água. De acordo
com este princípio, é o fornecedor de água e, potencialmente, o consumidor quem deve
pagar/reparar os danos ao meio ambiente danos causados pela utilização de água, por meio de,
por exemplo, a construção de barragens ou captações. Dado que a obtenção de novas licenças de
utilização é mais econômica para a indústria do que, por exemplo, o aumento do consumo da
vazão, a indústria está sempre interessada em expandir sua base de captação. No entanto, padrões
rigorosos de captação podem deixar essas práticas mais difíceis no futuro. Assim, a indústria da
água está tentando encontrar formas de contornar o rigoroso regime de licenciamento.
Por fim, a autora Maria Kaika (2003), conclui que a política de gestão e proteção europeia
da água continua sendo um assunto delicado, mas os aspectos sociais de proteção ambiental não
podem ser deixados de lado para o acúmulo de capital, por si só, ou para favorecer exclusivamente
o mercado. O equilíbrio entre a gestão pública e privada deve ser buscado, para que de fato ocorra
a utilização racional dos recursos hídricos e traga uma distribuição mais igualitária do mesmo
para a Europa.

3.3 Experiências internacionais sobre a aplicação de modelos de mercado de


água

3.3.1 Caso da Austrália: estudo da bacia Murray Darling


A Austrália é conhecida como um dos países mais secos do planeta em virtude de um
clima marcado por uma alta variabilidade de chuvas ao longo do seu território e das estações do
ano. A sua fonte principal de água é a Bacia Murray-Darling. Porém, ela detém uma pequena
capacidade de armazenamento (MARSDEN, 2006 apud ORGANISATION DE COOPÉRATION
ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008). A Figura 3.4 a seguir mostra as isoietas do país ilustrando
a distribuição de chuva.
Figura 3.4 - Tendência de precipitação anual a no país Taxa de variação de 10 em 10 anos -
unidade: milímetro (1950-2006)
Fonte: Australian Bureau of Meteorology (2007 apud ORGANISATION DE COOPÉRATION
ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008)

A sobre-exploração dos recursos hídricos e a ineficiência do seu uso resultam da longa


política da Austrália de promover a agricultura intensiva. Até a década de 1980, a infraestrutura
de irrigação foi fortemente desenvolvida com o apoio público (Quiggin, 2007 apud
ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008). O país apresenta
diferenças consideráveis na produtividade da água no setor agrícola. As culturas de arroz e
algodão, que consumiram quase 45% dos recursos hídricos destinados à agricultura (2004/05),
representavam apenas 16% da produção do setor. Com base na análise da balança comercial
mostra em termos de teor de água implícito, a Austrália é um dos principais exportadores líquidos
de "água virtual" conforme a Figura 3.5, apesar de sua aridez natural.
Figura 3.5 - Fluxo dos países exportadores líquido de "água virtual" 1.O agregado da OCDE é
uma média não ponderada. Unidade: bilhões de metros cúbicos por ano (1997-2001)
Fonte: Chapagain, A.K & Hoekstra, A.Y (2004 apud ORGANISATION DE
COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008)

Os Estados do país responsáveis pela gestão da água, emitiram um número excessivo de


direito extrativistas a preços insignificantes (FREEBAIRN, 2004 apud ORGANISATION DE
COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008), juntamente com uma falta de coordenação
nas intervenções. O papel do governo central na gestão da água tem sido muito restrito, o que
além de proporcionar diferentes práticas e regulamentações entre jurisdições em termos de
controle e direitos de uso dos recursos, dificultou a implementação de uma gestão integrada de
sistemas hídricos que cubra várias jurisdições, como a Bacia Murray Darling.
A Bacia de Murray-Darling é o maior e o mais complexo sistema fluvial da Austrália com
3.370 quilómetros de comprimento, estendendo-se de Queensland, passando por New South
Wales e Território da Capital da Austrália, Victoria e Austrália do Sul. Os rios Murray e Darling
são os principais rios dessa Bacia. O aumento da exploração das águas subterrâneas e superficiais
a favor das necessidades agrícolas na bacia resultou diretamente na contagem de recursos. O efeito
cumulativo desses riscos foi quantificado para o MDB (Murray Darling Basin) prevendo uma
queda nos fluxos anuais desta bacia de 10% para 23% dentro de 20 anos em relação ao seu nível
médio atual e 19 % a 38% em 50 anos (VAN DIJK et al 2006 apud ORGANISATION DE
COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008). Este desequilíbrio entre a oferta e a
demanda de água deve-se em grande parte à fraqueza do preço da água, o que dificulta o
desenvolvimento de medidas corretivas ou preventivas que aumente a capacidade ou evite o
desperdício. A redução da influência dos preços também afeta a eficiência do uso da água.
Posto isto, a preocupação com as implicações ambientais do crescimento contínuo no
desvio de água para a agricultura irrigada na MDB levou à adoção de uma política
regulamentadora dos recursos hídricos na bacia e a implantação de medidas visando a prevenir
possíveis futuras divergências entre os usuários. O processo de reforma da política de água do
Conselho de Governos Australianos (COAG) concomitantemente deu incentivos financeiros aos
governos estaduais responsáveis pela gestão dos recursos hídricos em suas jurisdições, para a
efetivação de uma agenda de políticas hídricas que promovesse reformas de direito de
propriedade para facilitar abordagens da criação de uma mercado de água baseadas na sua
alocação (ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008). Os
governos de New South Wales, Queensland, Austrália do Sul e Victoria são os principais
responsáveis pelo gerenciamento dos mercados de água, e cada estado tem seu próprio processo
e regras para alocar a água. Consoante o governo australiano, eles são responsáveis por:

• A alocação de água para determinado uso;


• O desenvolvimento de políticas e procedimentos para o comércio;
• O monitoramento do uso da água;
• O desenvolvimento de planos de recursos hídricos que estabelecem as regras para
o compartilhamento de água entre usuários e o meio ambiente;
• As operações diárias de comércio, como solicitações comerciais e aprovações.

Vale distinguir atualmente em Victoria e na região inferior de Murray, dois mercados de


água. Um refere-se ao comércio de direitos à água disponível para irrigação geralmente referido
como o "mercado permanente" e o mercado do comércio de alocações sazonais comumente
referido como o "mercado temporário" (BRENNAN, 2006).

3.3.1.1 Métodos implantados na bacia Murray Darling


A partir da década de 1980, uma série de reformas foram instituídas para assegurar uma
melhor utilização dos recursos hídricos e um melhor equilíbrio entre as necessidades de consumo
e o ambiente (WATER Reform Framework), destacando-se a criação da Comissão da MDB em
esses cincos estados. Essas reformas trabalharam para desenvolver um mercado de água, afim de
estabelecer preços para cobrir os custos totais deste recurso e para garantir que as alocações
prevaleceriam para o meio ambiente em primeiro lugar, em vez de constituir um resíduo da
exploração comercial (ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT,
2008).
Em 2004 emergiu pelo Conselho dos Governos Australianos (COAG), a Water Initiative
(NATIONAL WATER INTIATIVE, NWI) para definição dos eixos da política da água (
Freebairn, 2004 apud (ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT,
2008). O NWI incentivou várias medidas tendo em vista o “upgrade” dos mercados, incluem a
remoção de certos impedimentos ao intercâmbio de água, a clarificação e fortalecimento da
segurança dos direitos da água de maneira compatível entre as jurisdições da dissociação dos
direitos de propriedade sobre a água da propriedade da terra, iniciada em 1994
(ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008).
Além disso, a reforma inclui uma fórmula de compartilhamento de riscos entre usuários
e governos para esclarecer o conteúdo dos direitos de acesso no caso de um declínio futuro dos
recursos. Os Estados são obrigados a implementar um sistema de cobrança que garanta a
recuperação total dos custos, incluindo os custos ambientais, nas áreas urbanas e rurais.
Finalmente, um órgão independente, a Comissão Nacional da Água (NWC), foi criado para
supervisionar a implementação dessas medidas e estabelecer os programas de (water background)
do Governo Australiano (ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT,
2008).
O direito de vender água no mercado sazonal baseia-se na propriedade de um direito
subjacente à água, que gera uma alocação sazonal que o operador é capaz de usar em sua própria
propriedade ou de vender no mercado sazonal. Embora as reformas no mercado de água tenham
sido lentas com relação ao comércio de direitos permanentes de água, os mercados de água
temporários foram mais amplamente adotados por fornecedores de serviços de água, irrigadores,
comunidades locais e formuladores de políticas estatais. A aceitação generalizada do comércio
temporário é evidenciada pelas bolsas públicas de água que agora existem para facilitar o
intercâmbio de alocações sazonais de água, fornecendo um quadro de avisos e às vezes, uma
câmara de compensação para esses negócios. A mais distinguida das câmaras de compensação
públicas é o Watermove, que começou como a Bolsa de Água do Norte da Austrália, e que cobria
o comércio temporário nos grandes distritos de irrigação (parte de Victoria, e vale de Goulburn)
(BRENNAN, 2006).
A natureza do mercado de água sazonal é examinada usando um modelo teórico e de
evidências empíricas do mercado vitoriano. Os impulsionadores do custo de oportunidade sazonal
da água incluem a natureza subjacente do investimento na indústria feita no contexto de
rendimentos de direitos arriscados; e o tempo e a natureza da informação sobre disponibilidade
de água sazonal e precipitação. Os mercados de água sazonais facilitam a realocação da
disponibilidade de água de acordo com esse custo de oportunidade de curto prazo. Evidências do
mercado sugerem que os custos de transação são baixos e que a maioria das restrições existentes
ao comércio de alocações sazonais é o resultado de condições hidrológicas. A análise dos dados
de mercado sugere que a resposta de preço do mercado à disponibilidade de água é muito mais
pronunciada em anos de baixa pluviosidade. As implicações do documento para uma reforma
política mais ampla devem levar em conta à melhoria dos direitos de propriedade para o
gerenciamento do risco intertemporal antes que outras reformas, como a ampliação dos mercados
de água permanentes e a institucionalização dos fluxos ambientais, sejam implementadas. Isso
ocorre porque essas outras reformas mudarão o padrão espacial e temporal do uso da água e,
portanto, afetarão a confiabilidade, que sustenta o valor da água na agricultura irrigada
(BRENNAN, 2006).
As decisões de investimento de capital a longo prazo são feitas no contexto da
disponibilidade de água sazonal variável. O primeiro é o principal determinante do custo da água;
o segundo é guiado pelas expectativas do preço spot sazonal da água; o terceiro determina o
preço à vista realizado no final da época, quando as contas de água final são equilibradas e onde
os irrigadores pagam pesadas multas se os desvios que excedem as alocações. Por exemplo, os
clientes da Goulburn-Murray Water devem pagar se uma multa equivalente a cada mégalitro de
uso que exceda sua alocação (BRENNAN, 2006).
O mercado temporário para a alocação, o tipo ideal de investimento sob incerteza foi
considerado a partir de uma perspectiva sistêmica, mas na realidade as decisões são tomadas pelos
indivíduos. No sistema vitoriano, todos os agricultores detêm os direitos com o mesmo nível de
confiabilidade, em que um direito é definido como direito a uma proporção da alocação sazonal.
A natureza da decisão de investimento de capital sob risco pode indicar que os direitos à água
devem ser atribuídos de acordo com a natureza da indústria (BRENNAN, 2006).
O mercado temporário foi visto como o arbitrador do risco sazonal e intrasazonal. Onde
as empresas esperavam que os irrigadores com alta intensidade de capital seriam vendedores
líquidos no mercado de água sazonal no ano de maior disponibilidade de água, e aqueles com
intensidade de capital relativamente baixa seriam compradores líquidos. No entanto, o mercado
de águas sazonais faz mais do que realocar entre irrigadores. Existem duas fontes principais de
risco intrasazonal, que se relacionam com as chuvas no nível da fazenda e da bacia. As chuvas na
fazenda afetam o custo de oportunidade anual da água, porque a demanda de irrigação é superior
à chuva que ocorre ao longo da estação. A precipitação no nível de captação afeta a quantidade
total de água que pode ser alocada em uma determinada estação. As alocações de início de
temporada são geralmente revisadas durante a estação, uma vez que os eventos de chuvas na bacia
levam ao escoamento que ultrapassa as reservas de barragens disponíveis. A natureza da incerteza
nas alocações sazonais pode ser vista na Figura 3.6 (PERERA & JAMES, 1996 apud BRENNAN,
2006).
Figura 3.6 - Incerteza anual e sazonal na alocação de água do titular do direito. os gráficos de
probabilidade cumulativa de alocações para o rio Goulburn, (MDB) expressos como uma proporção de
direitos.
Fonte: Perera & James (1996 apud BRENNAN, 2006)

A alocação de início de temporada é mais conservadora, enquanto a alocação de final de


temporada é mais mutável, implicando que uma quantidade maior de água é alocada. As
alocações de água são representativas da quantidade de água distribuída aos usuários em um
determinado ano. Algumas restrições do direito podem ser operadas de acordo com as alterações
hidrológicas e climatológicas (precipitação, entrada e saída de água na Bacia e a quantidade de
água já armazenada) na bacia (BRENNAN, 2006).
A bolsa de água pública opera semanalmente durante toda a temporada de irrigação, e a
mercadoria comercializada é o direito de receber água na estação atual. Estes direitos são
mantidos para evitar uma multa se o irrigador usar na temporada atual, definida como a soma de
sua alocação sazonal e suas compras líquidas no mercado. Ao negociar no mercado, as decisões
de um agricultor serão baseadas em expectativas sobre alocações sazonais e chuvas, e como o
preço sazonal da água (e mercados de insumos e produtos) pode responder a essas condições
sazonais. Ao longo da temporada, as decisões de compra e venda de água e os preços da água
variem (BRENNAN, 2006).

3.3.1.2 O mercado na prática


As três principais zonas de negociação em Watermove na bacia Murray Darling
(MDB) são apresentadas na Figura 3.7.
Figura 3.7 - Relação entre as três principais zonas de negociação em Watermove.
Fonte: Brennan (2006)

A bolsa de água pública fornece um mecanismo de compensação de mercado e depósito


de informações para o comércio de alocação de água sazonal. Toda semana, os agricultores podem
enviar ofertas para comprar ou vender e devem indicar a região para a qual desejam vender ou de
onde querem comprar. Essas ofertas são verificadas pela equipe do Watermove por legitimidade
(contra as regras do comércio discutidas abaixo), e o mercado é liberado para cada polo regional,
determinando a interseção das curvas de oferta de compra / venda daquela região. O volume total
de água comercializada no mercado temporário de água varia de 10 a 20% das alocações sazonais,
dependendo da localização e da estação do ano (BRENNAN, 2006).
Com suporte Brennan (2006), as ineficiências do mercado podem surgir devido a
restrições injustificadas ao comércio. Um exame atento das regras de funcionamento do mercado
revela que a maioria das restrições ao comércio lidam com restrições hidrológicas. Uma restrição
se aplica à quantidade total de água que pode ser comercializada quando as alocações são altas.
Essa regra exige que a quantidade máxima de água que pode ser vendida seja de 30%, se as
alocações excederem 130% dos direitos. A distinção entre desvios e alocações levanta problemas
práticos na manutenção do rendimento do reservatório.
No tocante ao preço da água reflete fatores de oferta e demanda. Difere entre as
regiões e o tipo de direitos e com o tempo. O valor financeiro de um direito à água é determinado
pelo mercado de água e está sujeito a constantes alterações. O estudo do nível geral de preços
de mercado apresenta importantes variações entre as estações, uma vez que refletem as condições
sazonais, particularmente os níveis de alocação. Essa anomalia de preço pode ser atribuída ao
mecanismo de compensação de mercado utilizado na troca de mercado, os mercados são
compensados separadamente em cada região de mercado e os irrigadores só podem comprar em
um mercado único. Assim, um produtor que tem permissão para vender (sob as regras do
mercado) para duas regiões não pode maximizar o valor desse mercado devido a esse processo de
compensação de mercado (BRENNAN, 2006). O preço da água é mostrado na Figura 3.8.

Figura 3.8 - Padrões de preços espaciais para as áreas de Goulburn e Murray acima e abaixo do
Barmah choke. Resultados do mercado semanal para a temporada 2002-2003.
Fonte: Brennan (2006)

3.3.1.3 Análise pós implantação


A reformas trouxeram grandes avanços tal como o uso racional do recurso. Contudo,
certas carências na metodologia implantada não deixaram de ser notadas. Na implementação da
metodologia, os estados através de suas respectivas legislações estaduais viram os seus mercados
restringidos a seus limites territoriais, impedindo às transações de água dentre e entre as demais
jurisdições e afastando-o do mercado externo. As barreiras estaduais que restringem o acesso ao
mercado devem ser retiradas em benefício de um mercado onde não há restrição entre governos
e que favoreça a livre movimentação dos seus atores a menos que uns sejam deletérios ao
desempenho deste. O desenvolvimento do mercado se beneficiaria da segregação dos direitos de
acesso à água para estimular a alocação eficiente da água, os direitos de propriedade devem ser
claramente definidos e livremente comercializáveis (BRENNAN, 2006; ORGANISATION DE
COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT, 2008)
O monitoramento é importante para prevenir e controlar os possíveis efeitos do mercado
na bacia (o influxo excessivo de água pode causar infiltração do lençol freático até o rio e
aumentar a salinidade). A sobre-alocação persistente dos direitos da água deve-se favorecer os
resgates desses direitos em vez de investimentos modernizando a infraestrutura. Aos gestores
ambientais precisam se tornar ainda mais objetivos. Um aspecto importante que vale ser
mencionado seria a separação dos direitos a água entre os direitos de acesso aos recursos, direitos
de uso da infraestrutura de distribuição e licenças para usar os recursos adquiridos. Na ótica de
uma possível melhoria das reformas seria imprescindível garantir que os preços reflitam a
escassez de água em momento de crise e durante as alterações climáticas e hidrológicas por toda
a extensão do ano. A reforma tarifária da água, especialmente na agricultura, para garantir a
recuperação total dos custos foi bem pensada e mais precisa ser mais estudada para que ela abranja
todo os apertos acerca da bacia MDB e o seu mercado. A Integração dos custos de gerenciamento
e planejamento deve ser mais sistemática no estabelecimento do preço da água no mercado, tendo
em vista a essência deste (oferta e demanda). A promoção de reformas visando a estimar os custos
marginais de recursos hídricos não tradicionais adicionais para dessalinização e reciclagem dos
corpos hídricos. Os preços para alocação mínimas da água em meio urbano e a as pressões de
demanda em princípio devem propiciar os preços baixos para atender às necessidades básicas
(BRENNAN, 2006; ORGANISATION DE COOPÉRATION ET DE DÉVELOPPEMENT,
2008).
As implicações dos governos estaduais nos mercados pós-análise foram vistos com ações
perniciosas ao bom funcionamento do mercado. O comedimento destes na bacia MDB pode ser
visto como uma solução. Mas as ações reguladoras destes não deve ser menosprezada por
exemplos em situação de conflitos entre atores do mercado e em situação de escassez.

3.3.2 Estudo de caso do Chile


O Chile é um país privilegiado quando considerado a sua disponibilidade de recursos
hídricos, tendo sua reserva em campos de gelo no norte e sul do país, porém, apesar da
abundância, existem problemas quanto à desigualdade na distribuição, devido as grandes
variações nas condições climáticas. Considerando esse contexto conflituoso, o modelo de gestão
da água adotado no Chile tem como foco as operações do mercado, como a livre concorrência,
gerando uma forte pressão nas áreas menos favorecidas desse recurso, favorecendo a
monopolização desses bens nos setores classificados como a base do desenvolvimento nacional
(LARRAÍN,2006).
Através desse modelo de mercado, as licenças de uso e acesso à água, obedecem
às dinâmicas de oferta e demanda, atendendo as necessidades da população e grandes empresas,
mas também, desvalorizam a importância ambiental desse bem, ao não garantir sua existência
permanente para as próximas gerações (BUDDS,2018).
Juntamente com esse modelo, foi implantado no Código das Águas, o pagamento
de não uso que possui como objetivo desanimar o hábito de acumulação ociosa, incentivando a
procura pelos direitos de uso da água, aumentando as transações de mercado, o que acarreta uma
pressão ainda maior nas bacias. Ainda no Código das Águas, criaram-se duas novas categorias de
direito, de consumo e não-consumo, que se diferenciam pela presença ou ausência do
compromisso por parte do proprietário do direito em tornar a quantidade de água utilizada para o
rio; e o mesmo Código define o recurso como patrimônio nacional para uso público dotado de
bem econômico, e mesmo assim, autoriza a privatização da água através dos direitos de uso de
forma gratuita, declarando qual a finalidade e localização do uso, podendo ser alterada depois da
concessão (BUDDS,2018).
Por outro lado, o Chile possui uma legislação fraca quando se trata de controlar
os prejuízos gerados para os usuários da bacia, enquanto prioriza-se a aprovação de projeto que
possibilitam maiores valores econômicos, ou seja, visam as taxas de crescimento econômico
representados pelo PIB, ignoram-se os danos causados a essa comunidade e ao próprio meio-
ambiente (BUDDS,2018).
A concessão do sistema de direitos tem favorecido as grandes empresas do setor
de exportação, principalmente agricultura, indústria e commodities, uma vez que o Estado não
pode intervir além da verificação de uso; acarretando uma concentração da propriedade de
recursos, problemas de acesso para a população e aumentos das taxas (BUDDS,2018).
Segundo Sara Larraín (2006), para seguir os padrões de serviços estabelecidos
pela Organização Mundial do Comércio é necessário colocar os interesses das empresas acima
dos regulamentos de interesse do indivíduo e restringir os padrões nacionais a fim de facilitar a
entrada do setor privado estrangeiro nos serviços, afrontando a soberania dos povos e seus
recursos.
Antes da mercantilização da água, a mesma era considerada um bem social, essa
transição para um bem econômico ocorre pelo esclarecimento de propriedade desse bem por parte
do Estado, pela adoção de valor nas políticas nacionais e implementação do custo total dos
serviços de água, que segundo o Banco Mundial, são alternativas para ampliar o acesso à água
potável para toda a população; no entanto, Sara (2006) afirma que o Banco não possui
mecanismos de lucro em cima do setor privado e por isso adotam quatro modelos diferentes,
sendo eles: contratação de empresas para gerenciar a água potável e saneamento, como é realizada
no Reino Unido; concessões de longo prazo que privatizaram os serviços, como foi implementado
na França; reserva perpétua dos direitos de uso dos recursos hídricos e privatização dos direitos
de água e sistema de distribuição e tratamento, como foi aplicado no Chile.
Considerando todos os mecanismos adotados no período de transição da política
de mercado, os principais objetivos e valores dessa ação, admite-se que o Chile possui uma
política livre de concessão de diretos da água, sem custos de manutenção ou posse dos mesmos e
sem compensação por efeitos externos gerados a curto e longo prazo, o que tem causado
atualmente grandes conflitos políticos, econômicos e sociais, mas que com a estabilização desse
modelo de mercado, pode trazer grandes benefícios econômicos para o país (LARRAÍN,2006).
Segundo Budds (2018), como desde 2010, o Chile tem enfrentado uma escassez crítica
de água em várias regiões, decorrente de uma combinação de super exploração e clima seco; a
análise da relação entre os mercados de água e a segurança hídrica no Chile se fez necessária.
Pelo Código de Águas de 1981, foi estabelecido no Chile o sistema de gerenciamento das
águas, tendo como base os princípios de privatização, considera-se a água um bem
comercializável como regulamentação governamental mínima, que instiga a utilização de
princípios da propriedade privada e transações de mercado para permitir a (re) alocação eficiente
de água (BUDDS,2018).
Além das variações climáticas regionais, globais, a escassez de água esta ligada
a demanda de indústrias de exportações com base em recursos naturais (mineração, agricultura,
silvicultura). Segundo estudos, o gerenciamento da água não se baseia em demanda, pois, os
usuários buscam novas fontes como por exemplo aquíferos, reservatórios, em vez do mercado
(BUDDS,2018).
Algumas fontes consideram relevante a gestão das águas, por meio de
infraestrutura de armazenamento de água, gestão integrada de água e captação e oferta e demanda
de água. Teoricamente, o sistema chileno de direitos privados de água comercializável está
relacionado à 'segurança' da água de duas maneiras: primeiro, instituindo direitos de propriedade
privada à água para garantir acesso permanente e fomentar o investimento do usuário em
infraestrutura e, segundo, empregando princípios de mercado para permitir a realocação de água
escassa para distribuição ótima (BUDDS, 2018). Essas proposições refletem a lógica da economia
de livre mercado de que a propriedade privada e as transações de mercado aumentarão a eficácia
e a eficiência da gestão da água, contribuindo assim para a segurança hídrica, amplamente
definida
O trabalho crítico sobre privatização e mercantilização da água contestou essas
proposições. Há críticas à eficácia do setor privado, argumentando que os direitos de propriedade
privada e princípios comerciais não levam necessariamente a investimento ou eficiência e que
eles servem os interesses da acumulação de capital sobre as necessidades humanas. Outros
questionaram a eficácia de iniciativas lideradas pelo setor privado e pelo mercado na abordagem
da escassez de água - relacionada a serviços de água ou recursos hídricos, identificando a escassez
como socialmente construída e / ou socialmente produzida, em vez de preexistente e / ou natural
(BUDDS,2018).
O Código da Água de 1981 formou parte das reformas econômicas de livre mercado que
caracterizaram todas as áreas de políticas públicas durante a ditadura militar do Chile (1973-
1990), na ausência de oposição política (BUDDS, 2018). O Código de Águas permitiu que os
direitos de água existentes fossem convertidos em propriedade privada, que foram dissociados da
terra para facilitar um mercado no comércio de água. Os direitos sobre a água poderiam ser
transferidos - herdados, dotados, alugados, negociados quando devidamente arquivados nos
registros de propriedade e protegidos pela Constituição de 1980 do governo militar. Os direitos
privados de água só poderiam ser expropriados pelo Estado a pleno valor de mercado que impediu
esta medida em larga escala (BUDDS, 2018 ).
Os direitos sobre a água eram necessários para redes urbanas de água potável, mas não
para o abastecimento de água potável rural, pois isso era considerado um uso automaticamente
legítimo. Foram necessários direitos de água separados para os recursos hídricos superficiais e
subterrâneos, apesar de estes estarem frequentemente interligados. Os direitos sobre a água foram
obtidos de três maneiras: (i) os direitos existentes sobre a água poderiam ser convertidos em
direitos privados sobre a água (através da regularização); (ii) os direitos da água às fontes
disponíveis foram obrigatoriamente alocados pelo Estado aos requerentes (gratuitos); e (iii) os
direitos sobre a água poderiam ser adquiridos de outros proprietários. Uma vez que os direitos de
água disponíveis para uma determinada fonte foram totalmente alocados, esperava-se que a
redistribuição fosse feita através do mercado de acordo com a oferta e a demanda, e nenhuma
priorização entre os usos foi estabelecida. Como tal, o papel da Direção Nacional de Águas (DGA)
era administrar o sistema, e a regulação foi delegada a organizações de usuários da água,
principalmente associações de usuários de canais de irrigação, e Comitês de Vigilância (Junta de
Vigilancia) .8 Como propriedade privada, os direitos sobre a água eram regidos pela lei civil
(privada) e os conflitos deveriam ser resolvidos entre os usuários ou os tribunais civis, e não pela
DGA (BUDDS, 2018 ; LARRAÍN,2006).
Em suma, portanto, a estrutura chilena baseia-se em três princípios privados e de
mercado. Primeiro, o uso do mercado para gerenciar a demanda, em que os usuários são
incentivados a comprar ou vender direitos de água de acordo com o valor do uso pretendido. Em
segundo lugar, a designação de direitos de água como propriedade privada protegida pelo estado,
que fornece aos usuários uma garantia de posse que deveria encorajar o investimento do usuário
na infraestrutura de água. Terceiro, a delegação de regulamentação às organizações de usuários
da água, considerada para evitar a tomada de decisões governamentais potencialmente politizadas
e burocráticas BUDDS, 2018 ; LARRAÍN,2006).
Essas disposições transformaram as relações entre a água e a sociedade no Chile, tanto de
maneira material quanto simbólica. Em primeiro lugar, apesar de a água ser definida como “bem
nacional para uso público” no Código de Águas e na Constituição, a conversão dos direitos de
água à propriedade privada incluiu e privatizou a água aos titulares de direitos e reduziu o papel
do estado em governar a água do Chile (e suas bacias hidrográficas, ambientes aquáticos e
serviços ecossistêmicos relacionados à água). Em segundo lugar, a transferência de direitos
privados de água mudou a identidade da água de um recurso público para uma commodity
privada, o que incentivou estratégias de acumulação negociação refere-se à venda do direito
permanente de água, enquanto o “leasing” ou locação refere-se à venda de volumes de água
(correspondentes a todo ou parte do direito) decorrentes do direito permanente a propriedade dos
direitos sobre a água (pessoa, organização ou empresa), impedindo assim a posse coletiva. Em
terceiro lugar, converteu os direitos de água da medida relativa de uma parcela da vazão (em um
canal de irrigação ou de um poço comunal), medido como uma fração de vazão, ao volume
absoluto de água de uma fonte, uma quantidade fixa medida em litros por segundo. Essa medida
pretendia facilitar o comércio de direitos da água, deixando claro exatamente quanta água um
direito representava. Por fim, mudar para a regulamentação privada por usuários de água poderia
potencialmente permitir que essas partes dominassem o gerenciamento da água além do interesse
público mais amplo e privilegiar os usuários de água com melhor acesso aos meios (recursos
financeiros, conhecimento, status social) para impor a regulamentação (BUDDS, 2018).
Os resultados do Código da Água foram muito debatidos durante o controverso processo
de emendá-lo ao longo de 13 anos entre 1992 e 2005. A principal preocupação era o potencial
para encorajar a acumulação de direitos de água para fins especulativos. O processo resultou em
mudanças modestas no Código da Água em 2005, sendo o mais significativo um sistema de taxas
pelo não uso dos direitos da água (aumentando com o tempo e a localização para o norte) para
impedir a especulação (BUDDS, 2018).
No entanto, a atenção voltou a se concentrar no Código de Águas e seus efeitos a partir
de 2008, quando as crises hídricas em várias regiões do Chile destacaram a captação excessiva de
água, bem como a extração ilegal de água subterrânea (sem os correspondentes direitos de água).
à falta de regulamentação externa dos usuários de água. O que emergiu de 2012, portanto, é uma
situação em que a eficácia e a legitimidade do Código de Águas estavam sendo cada vez mais
questionados publicamente (BUDDS, 2018).
O que é interessante para este artigo é como isso se relaciona com a questão da água mais
urgente do Chile: a seca. Até que ponto e de que maneira os princípios do Código da Água foram
mobilizados para enfrentar as crises hídricas regionais? Como as respostas à seca foram
configuradas e quais foram suas motivações e implicações? Para explorar essas questões, irá ser
abordado a seguir o tema sobre a escassez de água potável na bacia do rio La Ligua (Chile) durante
a seca de 2014–15.
Essa mudança foi complicada em dois aspectos: a conversão quotas existentes de fluxos
para litros por segundo para fins de regularização, e para a partilha prática de água quando os
fluxos são reduzidos, já que não há obrigação para os primeiros usuários de reduzir sua extração
a fim de assegurar que os direitos subseqüentes sejam cumpridos; a menos que uma seca seja
declarada oficialmente, o que permite que a DGA ordene que todos os usuários reduzam suas
extrações proporcionalmente e principalmente, a disponibilidade de direitos das águas
subterrâneas a partir do aquífero até então subexplorado indicando um aumento acentuado entre
2002 e 2008, conforme as plantações se expandiram, seguido por um declínio igualmente
acentuado em relação a 2014, como resultado da seca (BUDDS, 2018).
Com o aumento das plantações de frutas, os pedidos de direitos sobre a água subterrânea
aumentaram acentuadamente. Em 1996, o montante solicitado era tão grande que a DGA
suspendeu a aprovação dos pedidos enquanto encomendava um estudo hidrogeológico para
determinar a alocação. Enquanto isso, muitos agricultores continuavam a perfurar poços e a
extrair água subterrânea ilegalmente, aproveitando-se da falta de recursos externos (BUDDS,
2018).
Em 2004, a DGA finalizou a alocação de água subterrânea e fechou o aquífero para outras
aplicações. Cerca de 90% das plantações de abacate foram irrigadas com sistemas eficientes de
microaspersão ou irrigação por gotejamento. Em 2015, a escassez de água era evidente em todo
o Chile, chegando a se verificar níveis de reservatórios e vazões do rio entre 50 e 80% abaixo do
normal. Em março de 2016, a região de Valparaíso apresentava o maior déficit hidrológico do
país, com águas superficiais (rios e reservatórios) entre 30 e 100% abaixo do nível normal. Em
2015, houve um estado de emergência agrícola em 194 municípios em todo o Chile - incluindo
na província de Petorca de 2008 até pelo menos 2017 - e um Plano Nacional de Gestão de Secas
foi anunciado (BUDDS, 2018).
Respostas imediatas à seca consistiram em grande parte em soluções individuais. Estes
incluíram aprofundar os poços existentes, permitindo alcançar aquíferos mais profundos, o que é
permitido pelo Código de Águas, pois define o rendimento da água, mas não a profundidade da
extração. Outra resposta comum consistiu em perfurar um novo poço em um local diferente na
mesma propriedade para encontrar água. Os agricultores também construíram tanques de
armazenamento de superfície a serem preenchidos pelas águas subterrâneas, novamente
permitindo que os recursos subterrâneos fossem transferidos para o poço seco; uma solução legal
que ajudou a garantir que os direitos sobre as águas subterrâneas possam ser cumpridos. Os
proprietários de terras que haviam abandonado suas plantações, mas cujos poços ainda produziam
água, venderam volumes de água a outros agricultores. É importante notar que este comércio
representa uma transação temporária de água que é derivada de um direito permanente de lençol
freático, e que o direito do lençol freático em si não é vendido, o que significa que isso não implica
uma realocação permanente de água de um usuário para outro (BUDDS, 2018).
Essa água teve que ser substituída por hidroviários de emergência, que são operadoras
licenciadas privadas contratadas pelo governo municipal de La Ligua (sob sua obrigação de
fornecer água potável), que abasteceu cerca de um terço da população rural do vale de 2011 a
2016. Os operadores eram empreendedores que possuíam direitos sobre terras e água na bacia de
La Ligua e extraíam água dos poços profundos no vale para os navios-tanque. Em outras palavras,
o Estado era obrigado a comprar água que costumava usar dos proprietários privados para
satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos (BUDDS, 2018).
A DGA já havia começado a controlar a extração ilegal de água subterrânea, em resposta
ao furto de água mencionado em 2011. Ela ordenou a formação de um Comitê de Vigilância em
La Ligua, mas nunca existiu. Também mandatou sete Comitês de Água Subterrânea, responsáveis
pela instalação de medidores em poços legais, embora estes também não tivessem se tornado
ativos. Começou a legalizar os direitos históricos das águas subterrâneas para os sistemas rurais
de água potável; embora não sejam tecnicamente necessários para extrair água, eles permitem
ações legais contra outros usuários que violam seus direitos (BUDDS, 2018).
As respostas em La Ligua podem, assim, ser classificadas da seguinte forma: medidas
individuais, alívio da seca a curto prazo, soluções de infra-estrutura de longo prazo e organização
do usuário liderada pelo Estado (BUDDS, 2018).
Enquanto as agências estaduais e os usuários de água concordaram amplamente que
aumentar a oferta de água tanto a curto como a longo prazo era uma resposta apropriada à seca,
menos atenção e escrutínio foram direcionados para o potencial dessas novas fontes de água para
abastecer a demanda em expansão não se atentando a atender as necessidades existentes (BUDDS,
2018).
Em vez disso, desempenhou um papel contraproducente nas respostas à seca, ao
privilegiar soluções lideradas pela oferta conduzidas pelo Estado e medidas individualizadas que
impedem a ação coletiva ou o protagonismo do usuário. Isso apóia as constatações anteriores do
Chile de que a falta de disponibilidade de água não necessariamente estimula a eficiência e o
comércio, mas sim o desenvolvimento de novas fontes de água. Os resultados ressaltam a
importância de abordar a segurança hídrica não em termos de água material, mas sim como
relações água-sociedade que evoluíram de maneiras específicas (BUDDS, 2018).

4 MODELO PROPOSTO

5 ANÁLISE E CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS

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