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EXCELENTÍSSIMO SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO

DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE TUCURUÍ/PA

Inquérito Policial nº 00486/2017.100138-4

SEGREDO DE JUSTIÇA

URGENTE RÉU PRESO!!!

FLÁVIO RODRIGUES PORTO, brasileiro, solteiro, trabalhador


rural, portador de RG nº 3700978 , CPF nº 894.354.601-78 , residente
e domiciliado na Rodovia Augusto Montenegro, Cond. Total Life, Apto
1106, Torre 1D, Araruari, nº 3975, Bairro Tononé, no município de
Belém/PA, por seu advogado in fine signatário, com endereço
profissional e eletrônico constantes no rodapé, onde recebe intimações e
notificações de estilo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, nos termos do art. 5º, LV, LXII e LXIII, arts. 133 e 134,
todos da Constituição Federal c/c art. 7º, XIV e XXI da Lei 8.906/1994,
propor o presente:

PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO


TEMPORÁRIA
Nos autos do inquérito policial epigrafado, pelas razões de fato e
fundamentos de direito a seguir escandidos:

I – DOS FATOS

O procedimento inquisitorial epigrafado acima trata da


apuração do crime de homicídio que vitimou o ex-prefeito da cidade de
Tucuruí/PA, o Sr. Jones Williams, crime que ocorreu em 25/07/2017,
às 15:30hrs, conforme consta nos autos em epígrafe.

O Requerente teve sua prisão decretada nos autos do


Inquérito Policial epigrafado pela Comarca de Tucuruí/PA, por ter
supostamente participado do crime que vitimou o ex-prefeito daquela
cidade.

Cumpre dizer que sua prisão fora efetuada em 15/11/2017,


às 03:00 hrs da manhã, pela Polícia Civil de Belém/PA em parceria com
a Policia Civil de Porangatu/GO, quando o Requerente se encontrava na
casa de sua mãe, no Estado do Goiás.

Desta forma, após o cumprimento do mandado de prisão pela


polícia civil, o Requerente foi transferido da cidade de Porangatu/GO,
para a cidade de Belém/PA, visto que o inquérito policial que embasou
a sua prisão tramita nesta última cidade, embora o crime tenha
ocorrido na cidade de Tucuruí.

Durante a transferência, conforme demonstram os


documentos anexos a este pedido, e em situação totalmente inusitada e
ao arrepio do ordenamento jurídico, o Requerente fora interrogado pelos
policiais civis, o que ocorreu na cidade de Goianésia/PA, de acordo com
as informações prestadas pelo Requerente.
Ocorre que, no termo de depoimento pessoal apresentado pela
Polícia Civil de Belém, consta que o interrogatório fora realizado na
cidade de Marabá/PA, às 12:00 hrs do dia 16/11/2017, ao passo que o
site da própria Polícia Civil informa que o interrogatório ocorreu no dia
17/11/2017, na cidade de Belém, sem informar o horário.

Importa dizer que, no momento do interrogatório, o


Requerente não fora informado a respeito de seus direitos de
permanecer em silencio e de estar acompanhado por um advogado,
tendo o depoimento sido tomado sob coação moral irresistível, isto
porque o Requerente se encontrava acompanhado exclusivamente por
policiais civis, temendo por sua vida e integridade.

Ademais, insta ressaltar que o Requerente não possui


qualquer relação com o crime em questão, isto porque era apenas um
funcionário da Fazenda Colinas, estando sempre subordinado às ordens
de seu patrão e cumprindo-as sem questionar, razão pela qual a prisão
temporária do Requerente se mostra indevida.

II – PRELIMINARMENTE

II.a – DA NULIDADE DO INTERROGATÓRIO POLICIAL

Primeiramente, em sede de preliminar, importa ressaltar a


flagrante ilegalidade e, consequentemente, nulidade do interrogatório
policial realizado em 16/11/2017, visto que não foram respeitadas
nenhuma das garantias constitucionais do Requerente, conforme
atestam os documentos anexos.

- Do direito à assistência familiar e de advogado


A Constituição Federal, em seu art. 5º, LV, estabelece que
“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes”.

A Carta Magna, ainda em seu art. 5º, LXIII, dispõe, ipsis


litteris, que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado”.

O Estatuto da Advocacia (Lei 8.096/1994), alterado pela Lei nº


13.245/2016, dispõe que:

Art. 7º São direitos do advogado:

[...]

XIV - examinar, em qualquer instituição


responsável por conduzir investigação,
mesmo sem procuração, autos de flagrante e
de investigações de qualquer natureza, findos
ou em andamento, ainda que conclusos à
autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos, em meio físico ou digital;

[...]

XXI - assistir a seus clientes investigados


durante a apuração de infrações, sob pena de
nulidade absoluta do respectivo
interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos
investigatórios e probatórios dele decorrentes
ou derivados, direta ou indiretamente, podendo,
inclusive, no curso da respectiva apuração:

José Frederico Marques, ao tratar do princípio da ampla,


colaciona, in verbis:
Defesa é o direito que tem o réu ou acusado de
opor-se à pretensão do autor (público ou
privado), no curso do processo instaurado contra
este. E como o processo tem um duplo conteúdo –
um processual e outro de mérito –distinguem-se
duas formas de defesa: a defesa processual e a
defesa de mérito. Com a primeira, o acusado
procurará mostrar, quando isto couber, que é
inadmissível a prestação jurisdicional pedida,
por falta de algum pressuposto processual,
condição da ação ou de procedibilidade; e com a
segunda, tentará demonstrar que inexiste o
direito de punir, ou que a acusação, no todo ou
em parte, é improcedente.

José Cavalcanti Pontes de Miranda, ao discorrer sobre o tema


da defesa, nos ensina, com a brilhante maestria que lhe toca, que:

“(...) a defesa, em rigorosa técnica e em


terminologia científica, é o exercício da pretensão
à tutela jurídica, por parte do acusado. O Estado
- no texto constitucional – a prometeu, tem o
Estado, através da Justiça e de qualquer outro
órgão estatal, de cumprir a sua promessa”.

Alexandre de Moraes, ao esposar o tema, define que:

“Por ampla defesa, entende-se o asseguramento


que é dado ao réu de condições que lhe
possibilitem trazer para o processo todos os
elementos tendentes a esclarecer a verdade ou
mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender
necessário, enquanto o contraditório é a própria
exteriorização da ampla defesa, impondo a
condução dialética do processo (‘par conditio’),
pois a todo ato produzido pela acusação, caberá
igual direito da defesa de opor-se-lhe a versão
que melhor apresente, ou, ainda, de fornecer
uma interpretação jurídica diversa daquela feita
pelo autor.”
Nesse ínterim, observa-se que constitui direito fundamental e
garantia constitucional do preso à assistência familiar e por advogado,
nos termos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, de tal sorte
que a inobservância ou falha em garantir tais direitos se perfaz em
gravíssima violação constitucional.

Nesta alheta, insta destacar que não fora franqueado ao


Requerente o direito de ser acompanhado por advogado no momento de
seu interrogatório, visto que tal depoimento fora tomado em trânsito, no
ato de transferência do preso de Goiás para a cidade de Belém, em
procedimento totalmente inusitado, de tal forma que deve ser
imediatamente anulado o ato por este Douto Juízo, postergando-se o
interrogatório para nova data e possibilitando o Requerente de exercer
seu direito à ampla defesa, nos moldes garantidos pela Constituição
Federal.

- Da obrigação da polícia e do direito de permanecer calado

A Carta de 1988, ainda em seu art. 5º, LXIII, dispõe, ipsis


litteris, que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado”.

O direito do preso de permanecer calado reside,


principalmente, no princípio da não autoincriminação, isto porque
nenhum indivíduo está obrigado a produzir provas contra si mesmo,
sob pena de ilegalidade total da prova, caso não sejam obedecidos os
requisitos legais.

E mais, a polícia, no momento em que é efetuada a prisão,


tem a obrigação de informar o preso de todos os seus direitos, entre os
quais o de permanecer calado, o que não aconteceu no caso concreto,
visto que os agentes públicos (policiais) se aproveitaram de uma
situação de vulnerabilidade do investigado para interrogá-lo em meio a
uma transferência, dificultando o exercício de seu direito de defesa.

O direito ao silêncio é considerado um direito fundamental de


primeira geração, de tal maneira que a polícia não pode deixar de
informar ao preso a possibilidade de exercício desse direito, sob pena de
nulidade absoluta do interrogatório policial.

Importa destacar que, o próprio Código de Processo Penal, ao


tratar do silêncio do acusado em múltiplas ocasiões, jamais o coloca em
posição desfavorável ao investigado ou réu, e mais, ao tratar do silêncio
no interrogatório, em seu art. 186, au contraire, garante o silêncio
enquanto direito, sem prejuízos à defesa:

Art. 186. Depois de devidamente qualificado e


cientificado do inteiro teor da acusação, o
acusado será informado pelo juiz, antes de
iniciar o interrogatório, do seu direito de
permanecer calado e de não responder
perguntas que lhe forem formuladas.

Parágrafo único. O silêncio, que não


importará em confissão, não poderá ser
interpretado em prejuízo da defesa.

Desta forma, não informar o preso a respeito de seu direito ao


silêncio no interrogatório constitui mácula irreversível, restando o ato
dotado de nulidade absoluta.

E mais, o cerceamento de defesa se caracteriza por flagrante


inconstitucionalidade, visto que o Estado não pode interferir ou impedir
que o preso exerça o seu direito de defender-se, sob pena de violação do
princípio constitucional da presunção de inocência, não podendo
obrigar o preso a produzir provas contra si mesmo.
Desta forma, pugna o Requerente pela imediata decretação de
nulidade do interrogatório prestado, com eventual postergação para que
o ato ocorra em data futura e lhe sejam garantidos os direitos
constitucionalmente estabelecidos.

- Da coação moral irresistível

A coação moral irresistível trata da situação em que o autor do


fato tem sua vontade suprimida pela ação de terceiro que o subjugou ou
lhe é funcionalmente superior.

In casu, o Requerente fora interrogado durante o trânsito


entre os estados de Goiás e Pará, em uma cidade que em nada tem a
ver com o processo de investigação em tela, a saber, Goianésia, sem a
presença de advogado ou defensor público.

E mais, o que causa mais estranheza é que o depoimento do


acusado fora registrado como se tivesse ocorrido na cidade de
Marabá/PA, embora o próprio preso assegure que o depoimento fora
prestado em Goianésia.

Ora, Excelência, o preso estava em poder dos policiais durante


todo o trajeto, sem qualquer contato com alguém da sua família ou com
advogado e, por isso, em função do medo e temor por sua integridade, e
do profundo desconhecimento de seu direito de permanecer calado, se
vira obrigado a prestar interrogatório, já que se sentiu coagido para
tanto.

Desta forma, ante todo o exposto e em sede de preliminar,


pugna o Requerente pela imediata decretação de NULIDADE ABSOLUTA
DO INTERROGATÓRIO POLICIAL, resultando na retirada automática de
tal documento dos autos e, consequentemente, da remarcação do
interrogatório para uma data posterior, que desde já solicita que
aconteça após o dia 02 de dezembro do corrente ano, visto que o
advogado do Requerente possui compromissos inadiáveis para os
próximos dias, conforme atestam os documentos anexos.

III – DO MÉRITO

III.a - DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA CONSTITUCIONAL

A Convenção Americana dos Direitos Humanos ou Pacto de


San José da Costa Rica, em seu art. 7º, ao tratar do Direito à Liberdade
Pessoal, estabelece que:

Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à


segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua


liberdade física, salvo pelas causas e nas
condições previamente fixadas pelas
Constituições políticas dos Estados-partes
ou pelas leis de acordo com elas
promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção


ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser


informada das razões da detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou
das acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa presa, detida ou retida


deve ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou outra autoridade
autorizada por lei a exercer funções
judiciais e tem o direito de ser julgada
em prazo razoável ou de ser posta em
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem
o seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem


direito a recorrer a um juiz ou tribunal
competente, a fim de que este decida,
sem demora, sobre a legalidade de sua
prisão ou detenção e ordene sua soltura,
se a prisão ou a detenção forem ilegais.
Nos Estados-partes cujas leis prevêem
que toda pessoa que se vir ameaçada de
ser privada de sua liberdade tem direito a
recorrer a um juiz ou tribunal
competente, a fim de que este decida
sobre a legalidade de tal ameaça, tal
recurso não pode ser restringido nem
abolido. O recurso pode ser interposto
pela própria pessoa ou por outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este


princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos
em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar. (grifos nossos)

O Decreto nº 678/1992 foi o responsável pela


promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
no ordenamento jurídico brasileiro, de tal sorte que este diploma
legal ingressa em nosso sistema jurídico dotado de caráter
constitucional, e, assim, imperativa a sua aplicação, por se tratar
de pacto sobre direitos humanos.

A Constituição Federal, em seu art. 5º, LIV, esboça o


fundamento jurídico do due process of law ou devido processo
legal que, atualmente, é considerado princípio fundamental e
norteador de todos os demais princípios constitucionais, com a
finalidade de reprimir abusos do Estado.

E mais, o devido processo legal se ramifica duas esferas,


a esfera formal (procedural process of law) e a esfera substantiva
(substantive process of law), de tal forma que o primeiro refere-se
ao dever do juiz, enquanto representante do Estado, de observar
os ritos e a todos os aspectos que circundam o processo, e o
segundo trata de uma prestação jurisdicional justa e adequada,
em observância aos princípios da justiça e requisitos intrínsecos
da lei.

Alexandre de Morais, ministro do STF, ao abordar o tema,


leciona que:

“o devido processo legal configura dupla


proteção ao indivíduo, atuando tanto no
âmbito material de proteção ao direito de
liberdade, quanto no âmbito formal, ao
assegurar-lhe paridade total de condições
com o Estado – persecutor e plenitude de
defesa (direito à defesa técnica, à
publicidade do processo, à citação, de
produção ampla de provas, de ser
processado e julgado pelo juiz competente,
aos recursos, à decisão imutável, à revisão
criminal)”.

Desta forma, no caso em tela, o requerente não pode


permanecer encarcerado indiscriminadamente ao bel prazer do
Estado, isto porque existe um dever constitucional e legal de que a
prisão temporária somente seja decretada em virtude de certos
requisitos, ou seja, quando imprescindível para as investigações
do inquérito policial; quando o indiciado não tiver residência fixa
ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
identidade; e quando houver fundadas razões, de acordo as provas
admitidas na legislação penal, de autoria ou participação do
indiciado em certos tipos de crime.

- Da imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial

A prisão do Requerente, in casu, não constitui medida


necessária para o prosseguimento das investigações policiais, isto
porque o Requerente em nenhum momento se mostrou propenso a
obstruir a investigação, ao contrário, não ofereceu qualquer resistência
à prisão.

- Da residência fixa

Insta ressaltar, a priori, que o Requerente em nenhum


momento se evadiu para evitar a prisão, isto porque este se encontrava
na casa de sua mãe, na companhia de seus familiares, já que temia
pela sua segurança e de sua família, principalmente em razão de morte
de seu patrão.

O fato de o Requerente não ter conhecimento de intimações ou


mandados de prisão em seu nome e, por isso, viajar ao encontro de sua
família, não é suficiente para caracterizar a evasão, de tal sorte que cai
por terra a alegação da polícia civil de que o Requerente estava foragido.

Por esta razão, cumpre ressaltar que o Requerente possui


endereço fixo, o endereço onde reside sua irmã, na Rodovia Augusto
Montenegro, Cond. Total Life, Apto 1106, Torre 1D, Araruari, nº 3975,
Bairro Tononé, no município de Belém/PA.

Anteriormente o Requerente poderia ser encontrado a


qualquer momento na Fazenda Colinas, de propriedade de seu patrão,
contudo, em virtude do falecimento deste último, passou a temer por
sua vida, razão pela qual buscou refúgio na casa de sua mãe, temendo
apenas pela sua segurança, tanto é que, no momento de sua prisão,
não ofereceu qualquer resistência ao cárcere.

- Da necessidade da prisão

O Requerente, ora indiciado, foi preso unicamente pelo fato de


ser o gerente responsável por cuidar da Fazenda Colinas, de
propriedade de outro acusado, que fora investigado no decorrer das
investigações, não podendo assim ser responsabilizado por exercer
atividade laboral.

Cumpre destacar que o Requerente era um mero cumpridor


de ordens de seu patrão, e mais, seu patrão era um homem deveras
temido na região, de tal forma que ninguém jamais ousou desafiá-lo ou
questionar suas ordens, por temer pela própria segurança.

Desta forma, imputar ao Requerente qualquer


responsabilidade pelos atos de seu patrão é recair na incidência de
responsabilidade objetiva, o que é totalmente vedado pelo direito penal
brasileiro, visto que ninguém pode ser responsabilizado penalmente
senão de forma subjetiva, ou seja, de forma que sejam apuradas as
devidas responsabilidades.

Por esta razão, não prospera a necessidade de cárcere do


Requerente, e, por isso, pugna pela imediata REVOGAÇÃO DA PRISÃO
TEMPORÁRIA, para que possa o Requerente responder o processo em
liberdade, comprometendo-se a quaisquer outras medidas cautelares
que garantam o devido prosseguimento da Ação Penal.

III.b - DA PRIMARIEDADE E BONS ANTECEDENTES DO


ACUSADO

É necessário ressaltar que, tecnicamente, o acusado é


primário, haja vista que não possui em seu desfavor nenhuma
condenação penal transitada em julgado. Este, inclusive, é
raciocínio abordado por GUILHERME DE SOUZA NUCCI ao
ensinar sobre a “primariedade”:

“Primariedade é a situação de quem


não é reincidente. Este, por sua vez, é
aquele que torna a cometer um crime,
depois de já ter sido condenado
definitivamente por delito anterior, no
País ou no exterior, desde que não o
faça após o período de cinco anos,
contados da extinção de sua primeira
pena”.(Código de Processo
Penal Comentado; 4ª ed.; ed. RT; São
Paulo; 2015; p. 915).

Insta dizer, também, que o réu possui bons


antecedentes, pois como preleciona ainda GUILHERME DE
SOUZA NUCCI:

“Somente é possuidor de maus


antecedentes aquele que, à época do
cometimento do fato delituoso, registra
condenações anteriores, com trânsito
em julgado, não mais passíveis de gerar
a reincidência (pela razão de ter
ultrapassado o período de cindo anos)”.
(Op. Cit; p. 915).

Desta maneira, a defesa requer sua liberdade para que


possa responder adequadamente ao processo penal em liberdade,
visto que não pode ser penalizado pelo exercício de uma atividade
laboral, tampouco responder por possíveis delitos cometidos por
seu ex-patrão, impondo-se a presunção de inocência até que se
esgotem todos os recursos da ampla defesa e contraditório.

Neste sentido alinham-se Américo Bedê Júnior e


Gustavo Senna (Princípios do Processo Penal: Entre o garantismo
e a efetividade da sanção), Aury Lopes Filho (Direito Processual
Penal e sua Conformidade Constitucional), Fernando da Costa
Tourinho Filho (Processo Penal), Paulo Rangel (Direito Processual
Penal) e Vicente Greco Filho (Manual de Processo Penal).

A certeza do direito penal mínimo no sentido de que


nenhum inocente seja punido é garantida pelo princípio
humanístico e constitucional in dubio pro reo.

Tal princípio expressa o sentido da presunção de não


culpabilidade do acusado até prova em contrário: é necessária a
prova, isto é, a certeza, ainda que subjetiva,da culpabilidade, não
tolerando a antecipação da condenação, como vem ocorrendo, in
casu, e exigindo-se a absolvição em caso de incerteza.

No sentido do exposto é a jurisprudência dos tribunais


brasileiros:
HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL.
HOMICÍDIO QUALIFICADO E OMISSÃO DE
CADÁVER. PRISÃO TEMPORÁRIA.
REVOGAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1.
Paciente indiciado, juntamente com outros
investigados, pela suposta prática dos
crimes de homicídio qualificado e ocultação
de cadáver da vítima, fatos ocorridos em
08⁄09⁄2001. 2. A prisão temporária dos
investigados foi decretada em 12⁄08⁄2003 e
o mandado prisional do paciente somente
foi cumprido em novembro de 2011. Desse
modo, em que pese a gravidade dos crimes
em apuração, ocorridos há mais de uma
década, não existem razões suficientes para
a custódia temporária do paciente, após
longo tempo de tramitação do inquérito
policial, sem conclusões seguras acerca de
sua autoria ou participação nos eventos
delituosos. Ademais, se o paciente possui
endereço atual conhecido no inquérito
policial e vínculo de trabalho com o
Município de Fundão, sem notícia de
antecedentes penais maculados ou outras
ocorrências relevantes, comprometendo-se
a prestar os esclarecimentos necessários
perante as autoridades competentes, ao
menos por ora, não há motivos bastantes
para o seu encarceramento temporário com
o fim de concluir as investigações, por
demais dilatadas. 3. Com efeito, a prisão
temporária, medida de natureza cautelar e
excepcional, exige a demonstração de sua
imprescindibilidade para a conclusão das
investigações policiais, não se admitindo a
custódia para simples averiguações ou
como meio de obter eventual confissão, sob
pena de violação ao princípio constitucional
da presunção de inocência ou da não
culpabilidade. 4. Ordem concedida,
ratificando a liminar.(TJES, Classe: Habeas
Corpus, 100110039607, Relator:
CATHARINA MARIA NOVAES BARCELLOS
- Relator Substituto : JORGE HENRIQUE
VALLE DOS SANTOS, Órgão julgador:
PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de
Julgamento: 15/02/2012, Data da
Publicação no Diário: 01/03/2012)

(TJ-ES - HC: 100110039607 ES


100110039607, Relator: CATHARINA
MARIA NOVAES BARCELLOS, Data de
Julgamento: 15/02/2012, PRIMEIRA
CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
01/03/2012).

"HABEAS CORPUS" - HOMICÍDIO


QUALIFICADO - PRISÃO TEMPORÁRIA
DECRETADA - REVOGAÇÃO -
POSSIBILIDADE - DECISÃO CARENTE DE
FUNDAMENTAÇÃO -
IMPRESCINDIBILIDADE DA CUSTÓDIA
PARA AS INVESTIGAÇÕES NÃO
DEMONSTRADA COM BASE EM
ELEMENTOS CONCRETOS DOS AUTOS -
AUSÊNCIA DO REQUISITO PREVISTO NO
ART. 1º, INCISO I, DA LEI N.º 7.960/89 -
ORDEM CONCEDIDA. - Ao decretar a
prisão temporária, o magistrado deve
fundamentar sua decisão em elementos
concretos que demonstrem a
imprescindibilidade da custódia cautelar
para a conclusão da investigação realizada
no inquérito policial, sob pena de revogação
da medida restritiva.

(TJ-MG - HC: 10000140120171000 MG,


Relator: Catta Preta, Data de Julgamento:
26/06/2014, Câmaras Criminais / 2ª
CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
07/07/2014)
Nesse desiderato, impõe-se iminente a revogação do
cárcere temporário, visto que a prisão já possui duração excessiva
e, sendo o réu PRIMÁRIO e de BONS ANTECEDENTES, com
residência fixa e até data imediatamente anterior à sua prisão,
não existem barreiras para a imposição de medidas alternativas
que visem garantir o prosseguimento das investigações,
disponibilizando-se a comparecer sempre que for requisitado.

IV – DOS PEDIDOS

ANTE O EXPOSTO, requer:

a) A intimação do membro do Ministério Público, nos termos


da lei;

b) A decretação de NULIDADE ABSOLUTA DO


INTERROGATÓRIO POLICIAL realizado durante a transferência do
Requerente, retirando-o dos autos, nos moldes da lei;

c) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, visto que


inexiste razão para a manutenção do cárcere, comprometendo-se o réu
a comparecer sempre que requisito para prestar os devidos
esclarecimentos, na forma da lei;

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Tucuruí, 20 de novembro de 2017.

Cândido Lima Júnior

OAB/PA 25.926-A

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