rural, portador de RG nº 3700978 , CPF nº 894.354.601-78 , residente e domiciliado na Rodovia Augusto Montenegro, Cond. Total Life, Apto 1106, Torre 1D, Araruari, nº 3975, Bairro Tononé, no município de Belém/PA, por seu advogado in fine signatário, com endereço profissional e eletrônico constantes no rodapé, onde recebe intimações e notificações de estilo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, nos termos do art. 5º, LV, LXII e LXIII, arts. 133 e 134, todos da Constituição Federal c/c art. 7º, XIV e XXI da Lei 8.906/1994, propor o presente:
PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO
TEMPORÁRIA Nos autos do inquérito policial epigrafado, pelas razões de fato e fundamentos de direito a seguir escandidos:
I – DOS FATOS
O procedimento inquisitorial epigrafado acima trata da
apuração do crime de homicídio que vitimou o ex-prefeito da cidade de Tucuruí/PA, o Sr. Jones Williams, crime que ocorreu em 25/07/2017, às 15:30hrs, conforme consta nos autos em epígrafe.
O Requerente teve sua prisão decretada nos autos do
Inquérito Policial epigrafado pela Comarca de Tucuruí/PA, por ter supostamente participado do crime que vitimou o ex-prefeito daquela cidade.
Cumpre dizer que sua prisão fora efetuada em 15/11/2017,
às 03:00 hrs da manhã, pela Polícia Civil de Belém/PA em parceria com a Policia Civil de Porangatu/GO, quando o Requerente se encontrava na casa de sua mãe, no Estado do Goiás.
Desta forma, após o cumprimento do mandado de prisão pela
polícia civil, o Requerente foi transferido da cidade de Porangatu/GO, para a cidade de Belém/PA, visto que o inquérito policial que embasou a sua prisão tramita nesta última cidade, embora o crime tenha ocorrido na cidade de Tucuruí.
Durante a transferência, conforme demonstram os
documentos anexos a este pedido, e em situação totalmente inusitada e ao arrepio do ordenamento jurídico, o Requerente fora interrogado pelos policiais civis, o que ocorreu na cidade de Goianésia/PA, de acordo com as informações prestadas pelo Requerente. Ocorre que, no termo de depoimento pessoal apresentado pela Polícia Civil de Belém, consta que o interrogatório fora realizado na cidade de Marabá/PA, às 12:00 hrs do dia 16/11/2017, ao passo que o site da própria Polícia Civil informa que o interrogatório ocorreu no dia 17/11/2017, na cidade de Belém, sem informar o horário.
Importa dizer que, no momento do interrogatório, o
Requerente não fora informado a respeito de seus direitos de permanecer em silencio e de estar acompanhado por um advogado, tendo o depoimento sido tomado sob coação moral irresistível, isto porque o Requerente se encontrava acompanhado exclusivamente por policiais civis, temendo por sua vida e integridade.
Ademais, insta ressaltar que o Requerente não possui
qualquer relação com o crime em questão, isto porque era apenas um funcionário da Fazenda Colinas, estando sempre subordinado às ordens de seu patrão e cumprindo-as sem questionar, razão pela qual a prisão temporária do Requerente se mostra indevida.
II – PRELIMINARMENTE
II.a – DA NULIDADE DO INTERROGATÓRIO POLICIAL
Primeiramente, em sede de preliminar, importa ressaltar a
flagrante ilegalidade e, consequentemente, nulidade do interrogatório policial realizado em 16/11/2017, visto que não foram respeitadas nenhuma das garantias constitucionais do Requerente, conforme atestam os documentos anexos.
- Do direito à assistência familiar e de advogado
A Constituição Federal, em seu art. 5º, LV, estabelece que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
A Carta Magna, ainda em seu art. 5º, LXIII, dispõe, ipsis
litteris, que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.
O Estatuto da Advocacia (Lei 8.096/1994), alterado pela Lei nº
13.245/2016, dispõe que:
Art. 7º São direitos do advogado:
[...]
XIV - examinar, em qualquer instituição
responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;
[...]
XXI - assistir a seus clientes investigados
durante a apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração:
José Frederico Marques, ao tratar do princípio da ampla,
colaciona, in verbis: Defesa é o direito que tem o réu ou acusado de opor-se à pretensão do autor (público ou privado), no curso do processo instaurado contra este. E como o processo tem um duplo conteúdo – um processual e outro de mérito –distinguem-se duas formas de defesa: a defesa processual e a defesa de mérito. Com a primeira, o acusado procurará mostrar, quando isto couber, que é inadmissível a prestação jurisdicional pedida, por falta de algum pressuposto processual, condição da ação ou de procedibilidade; e com a segunda, tentará demonstrar que inexiste o direito de punir, ou que a acusação, no todo ou em parte, é improcedente.
José Cavalcanti Pontes de Miranda, ao discorrer sobre o tema
da defesa, nos ensina, com a brilhante maestria que lhe toca, que:
“(...) a defesa, em rigorosa técnica e em
terminologia científica, é o exercício da pretensão à tutela jurídica, por parte do acusado. O Estado - no texto constitucional – a prometeu, tem o Estado, através da Justiça e de qualquer outro órgão estatal, de cumprir a sua promessa”.
Alexandre de Moraes, ao esposar o tema, define que:
“Por ampla defesa, entende-se o asseguramento
que é dado ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade ou mesmo de omitir-se ou calar-se, se entender necessário, enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do processo (‘par conditio’), pois a todo ato produzido pela acusação, caberá igual direito da defesa de opor-se-lhe a versão que melhor apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa daquela feita pelo autor.” Nesse ínterim, observa-se que constitui direito fundamental e garantia constitucional do preso à assistência familiar e por advogado, nos termos estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, de tal sorte que a inobservância ou falha em garantir tais direitos se perfaz em gravíssima violação constitucional.
Nesta alheta, insta destacar que não fora franqueado ao
Requerente o direito de ser acompanhado por advogado no momento de seu interrogatório, visto que tal depoimento fora tomado em trânsito, no ato de transferência do preso de Goiás para a cidade de Belém, em procedimento totalmente inusitado, de tal forma que deve ser imediatamente anulado o ato por este Douto Juízo, postergando-se o interrogatório para nova data e possibilitando o Requerente de exercer seu direito à ampla defesa, nos moldes garantidos pela Constituição Federal.
- Da obrigação da polícia e do direito de permanecer calado
A Carta de 1988, ainda em seu art. 5º, LXIII, dispõe, ipsis
litteris, que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.
O direito do preso de permanecer calado reside,
principalmente, no princípio da não autoincriminação, isto porque nenhum indivíduo está obrigado a produzir provas contra si mesmo, sob pena de ilegalidade total da prova, caso não sejam obedecidos os requisitos legais.
E mais, a polícia, no momento em que é efetuada a prisão,
tem a obrigação de informar o preso de todos os seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, o que não aconteceu no caso concreto, visto que os agentes públicos (policiais) se aproveitaram de uma situação de vulnerabilidade do investigado para interrogá-lo em meio a uma transferência, dificultando o exercício de seu direito de defesa.
O direito ao silêncio é considerado um direito fundamental de
primeira geração, de tal maneira que a polícia não pode deixar de informar ao preso a possibilidade de exercício desse direito, sob pena de nulidade absoluta do interrogatório policial.
Importa destacar que, o próprio Código de Processo Penal, ao
tratar do silêncio do acusado em múltiplas ocasiões, jamais o coloca em posição desfavorável ao investigado ou réu, e mais, ao tratar do silêncio no interrogatório, em seu art. 186, au contraire, garante o silêncio enquanto direito, sem prejuízos à defesa:
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e
cientificado do inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de não responder perguntas que lhe forem formuladas.
Parágrafo único. O silêncio, que não
importará em confissão, não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.
Desta forma, não informar o preso a respeito de seu direito ao
silêncio no interrogatório constitui mácula irreversível, restando o ato dotado de nulidade absoluta.
E mais, o cerceamento de defesa se caracteriza por flagrante
inconstitucionalidade, visto que o Estado não pode interferir ou impedir que o preso exerça o seu direito de defender-se, sob pena de violação do princípio constitucional da presunção de inocência, não podendo obrigar o preso a produzir provas contra si mesmo. Desta forma, pugna o Requerente pela imediata decretação de nulidade do interrogatório prestado, com eventual postergação para que o ato ocorra em data futura e lhe sejam garantidos os direitos constitucionalmente estabelecidos.
- Da coação moral irresistível
A coação moral irresistível trata da situação em que o autor do
fato tem sua vontade suprimida pela ação de terceiro que o subjugou ou lhe é funcionalmente superior.
In casu, o Requerente fora interrogado durante o trânsito
entre os estados de Goiás e Pará, em uma cidade que em nada tem a ver com o processo de investigação em tela, a saber, Goianésia, sem a presença de advogado ou defensor público.
E mais, o que causa mais estranheza é que o depoimento do
acusado fora registrado como se tivesse ocorrido na cidade de Marabá/PA, embora o próprio preso assegure que o depoimento fora prestado em Goianésia.
Ora, Excelência, o preso estava em poder dos policiais durante
todo o trajeto, sem qualquer contato com alguém da sua família ou com advogado e, por isso, em função do medo e temor por sua integridade, e do profundo desconhecimento de seu direito de permanecer calado, se vira obrigado a prestar interrogatório, já que se sentiu coagido para tanto.
Desta forma, ante todo o exposto e em sede de preliminar,
pugna o Requerente pela imediata decretação de NULIDADE ABSOLUTA DO INTERROGATÓRIO POLICIAL, resultando na retirada automática de tal documento dos autos e, consequentemente, da remarcação do interrogatório para uma data posterior, que desde já solicita que aconteça após o dia 02 de dezembro do corrente ano, visto que o advogado do Requerente possui compromissos inadiáveis para os próximos dias, conforme atestam os documentos anexos.
III – DO MÉRITO
III.a - DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA CONSTITUCIONAL
A Convenção Americana dos Direitos Humanos ou Pacto de
San José da Costa Rica, em seu art. 7º, ao tratar do Direito à Liberdade Pessoal, estabelece que:
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à
segurança pessoais.
2. Ninguém pode ser privado de sua
liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.
3. Ninguém pode ser submetido a detenção
ou encarceramento arbitrários.
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser
informada das razões da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida
deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
6. Toda pessoa privada da liberdade tem
direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este
princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar. (grifos nossos)
O Decreto nº 678/1992 foi o responsável pela
promulgação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos no ordenamento jurídico brasileiro, de tal sorte que este diploma legal ingressa em nosso sistema jurídico dotado de caráter constitucional, e, assim, imperativa a sua aplicação, por se tratar de pacto sobre direitos humanos.
A Constituição Federal, em seu art. 5º, LIV, esboça o
fundamento jurídico do due process of law ou devido processo legal que, atualmente, é considerado princípio fundamental e norteador de todos os demais princípios constitucionais, com a finalidade de reprimir abusos do Estado.
E mais, o devido processo legal se ramifica duas esferas,
a esfera formal (procedural process of law) e a esfera substantiva (substantive process of law), de tal forma que o primeiro refere-se ao dever do juiz, enquanto representante do Estado, de observar os ritos e a todos os aspectos que circundam o processo, e o segundo trata de uma prestação jurisdicional justa e adequada, em observância aos princípios da justiça e requisitos intrínsecos da lei.
Alexandre de Morais, ministro do STF, ao abordar o tema,
leciona que:
“o devido processo legal configura dupla
proteção ao indivíduo, atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de liberdade, quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado – persecutor e plenitude de defesa (direito à defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, de produção ampla de provas, de ser processado e julgado pelo juiz competente, aos recursos, à decisão imutável, à revisão criminal)”.
Desta forma, no caso em tela, o requerente não pode
permanecer encarcerado indiscriminadamente ao bel prazer do Estado, isto porque existe um dever constitucional e legal de que a prisão temporária somente seja decretada em virtude de certos requisitos, ou seja, quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; e quando houver fundadas razões, de acordo as provas admitidas na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado em certos tipos de crime.
- Da imprescindibilidade para as investigações do inquérito policial
A prisão do Requerente, in casu, não constitui medida
necessária para o prosseguimento das investigações policiais, isto porque o Requerente em nenhum momento se mostrou propenso a obstruir a investigação, ao contrário, não ofereceu qualquer resistência à prisão.
- Da residência fixa
Insta ressaltar, a priori, que o Requerente em nenhum
momento se evadiu para evitar a prisão, isto porque este se encontrava na casa de sua mãe, na companhia de seus familiares, já que temia pela sua segurança e de sua família, principalmente em razão de morte de seu patrão.
O fato de o Requerente não ter conhecimento de intimações ou
mandados de prisão em seu nome e, por isso, viajar ao encontro de sua família, não é suficiente para caracterizar a evasão, de tal sorte que cai por terra a alegação da polícia civil de que o Requerente estava foragido.
Por esta razão, cumpre ressaltar que o Requerente possui
endereço fixo, o endereço onde reside sua irmã, na Rodovia Augusto Montenegro, Cond. Total Life, Apto 1106, Torre 1D, Araruari, nº 3975, Bairro Tononé, no município de Belém/PA.
Anteriormente o Requerente poderia ser encontrado a
qualquer momento na Fazenda Colinas, de propriedade de seu patrão, contudo, em virtude do falecimento deste último, passou a temer por sua vida, razão pela qual buscou refúgio na casa de sua mãe, temendo apenas pela sua segurança, tanto é que, no momento de sua prisão, não ofereceu qualquer resistência ao cárcere.
- Da necessidade da prisão
O Requerente, ora indiciado, foi preso unicamente pelo fato de
ser o gerente responsável por cuidar da Fazenda Colinas, de propriedade de outro acusado, que fora investigado no decorrer das investigações, não podendo assim ser responsabilizado por exercer atividade laboral.
Cumpre destacar que o Requerente era um mero cumpridor
de ordens de seu patrão, e mais, seu patrão era um homem deveras temido na região, de tal forma que ninguém jamais ousou desafiá-lo ou questionar suas ordens, por temer pela própria segurança.
Desta forma, imputar ao Requerente qualquer
responsabilidade pelos atos de seu patrão é recair na incidência de responsabilidade objetiva, o que é totalmente vedado pelo direito penal brasileiro, visto que ninguém pode ser responsabilizado penalmente senão de forma subjetiva, ou seja, de forma que sejam apuradas as devidas responsabilidades.
Por esta razão, não prospera a necessidade de cárcere do
Requerente, e, por isso, pugna pela imediata REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, para que possa o Requerente responder o processo em liberdade, comprometendo-se a quaisquer outras medidas cautelares que garantam o devido prosseguimento da Ação Penal.
III.b - DA PRIMARIEDADE E BONS ANTECEDENTES DO
ACUSADO
É necessário ressaltar que, tecnicamente, o acusado é
primário, haja vista que não possui em seu desfavor nenhuma condenação penal transitada em julgado. Este, inclusive, é raciocínio abordado por GUILHERME DE SOUZA NUCCI ao ensinar sobre a “primariedade”:
“Primariedade é a situação de quem
não é reincidente. Este, por sua vez, é aquele que torna a cometer um crime, depois de já ter sido condenado definitivamente por delito anterior, no País ou no exterior, desde que não o faça após o período de cinco anos, contados da extinção de sua primeira pena”.(Código de Processo Penal Comentado; 4ª ed.; ed. RT; São Paulo; 2015; p. 915).
Insta dizer, também, que o réu possui bons
antecedentes, pois como preleciona ainda GUILHERME DE SOUZA NUCCI:
“Somente é possuidor de maus
antecedentes aquele que, à época do cometimento do fato delituoso, registra condenações anteriores, com trânsito em julgado, não mais passíveis de gerar a reincidência (pela razão de ter ultrapassado o período de cindo anos)”. (Op. Cit; p. 915).
Desta maneira, a defesa requer sua liberdade para que
possa responder adequadamente ao processo penal em liberdade, visto que não pode ser penalizado pelo exercício de uma atividade laboral, tampouco responder por possíveis delitos cometidos por seu ex-patrão, impondo-se a presunção de inocência até que se esgotem todos os recursos da ampla defesa e contraditório.
Neste sentido alinham-se Américo Bedê Júnior e
Gustavo Senna (Princípios do Processo Penal: Entre o garantismo e a efetividade da sanção), Aury Lopes Filho (Direito Processual Penal e sua Conformidade Constitucional), Fernando da Costa Tourinho Filho (Processo Penal), Paulo Rangel (Direito Processual Penal) e Vicente Greco Filho (Manual de Processo Penal).
A certeza do direito penal mínimo no sentido de que
nenhum inocente seja punido é garantida pelo princípio humanístico e constitucional in dubio pro reo.
Tal princípio expressa o sentido da presunção de não
culpabilidade do acusado até prova em contrário: é necessária a prova, isto é, a certeza, ainda que subjetiva,da culpabilidade, não tolerando a antecipação da condenação, como vem ocorrendo, in casu, e exigindo-se a absolvição em caso de incerteza.
No sentido do exposto é a jurisprudência dos tribunais
brasileiros: HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO E OMISSÃO DE CADÁVER. PRISÃO TEMPORÁRIA. REVOGAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Paciente indiciado, juntamente com outros investigados, pela suposta prática dos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver da vítima, fatos ocorridos em 08⁄09⁄2001. 2. A prisão temporária dos investigados foi decretada em 12⁄08⁄2003 e o mandado prisional do paciente somente foi cumprido em novembro de 2011. Desse modo, em que pese a gravidade dos crimes em apuração, ocorridos há mais de uma década, não existem razões suficientes para a custódia temporária do paciente, após longo tempo de tramitação do inquérito policial, sem conclusões seguras acerca de sua autoria ou participação nos eventos delituosos. Ademais, se o paciente possui endereço atual conhecido no inquérito policial e vínculo de trabalho com o Município de Fundão, sem notícia de antecedentes penais maculados ou outras ocorrências relevantes, comprometendo-se a prestar os esclarecimentos necessários perante as autoridades competentes, ao menos por ora, não há motivos bastantes para o seu encarceramento temporário com o fim de concluir as investigações, por demais dilatadas. 3. Com efeito, a prisão temporária, medida de natureza cautelar e excepcional, exige a demonstração de sua imprescindibilidade para a conclusão das investigações policiais, não se admitindo a custódia para simples averiguações ou como meio de obter eventual confissão, sob pena de violação ao princípio constitucional da presunção de inocência ou da não culpabilidade. 4. Ordem concedida, ratificando a liminar.(TJES, Classe: Habeas Corpus, 100110039607, Relator: CATHARINA MARIA NOVAES BARCELLOS - Relator Substituto : JORGE HENRIQUE VALLE DOS SANTOS, Órgão julgador: PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de Julgamento: 15/02/2012, Data da Publicação no Diário: 01/03/2012)
(TJ-ES - HC: 100110039607 ES
100110039607, Relator: CATHARINA MARIA NOVAES BARCELLOS, Data de Julgamento: 15/02/2012, PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 01/03/2012).
"HABEAS CORPUS" - HOMICÍDIO
QUALIFICADO - PRISÃO TEMPORÁRIA DECRETADA - REVOGAÇÃO - POSSIBILIDADE - DECISÃO CARENTE DE FUNDAMENTAÇÃO - IMPRESCINDIBILIDADE DA CUSTÓDIA PARA AS INVESTIGAÇÕES NÃO DEMONSTRADA COM BASE EM ELEMENTOS CONCRETOS DOS AUTOS - AUSÊNCIA DO REQUISITO PREVISTO NO ART. 1º, INCISO I, DA LEI N.º 7.960/89 - ORDEM CONCEDIDA. - Ao decretar a prisão temporária, o magistrado deve fundamentar sua decisão em elementos concretos que demonstrem a imprescindibilidade da custódia cautelar para a conclusão da investigação realizada no inquérito policial, sob pena de revogação da medida restritiva.
(TJ-MG - HC: 10000140120171000 MG,
Relator: Catta Preta, Data de Julgamento: 26/06/2014, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 07/07/2014) Nesse desiderato, impõe-se iminente a revogação do cárcere temporário, visto que a prisão já possui duração excessiva e, sendo o réu PRIMÁRIO e de BONS ANTECEDENTES, com residência fixa e até data imediatamente anterior à sua prisão, não existem barreiras para a imposição de medidas alternativas que visem garantir o prosseguimento das investigações, disponibilizando-se a comparecer sempre que for requisitado.
IV – DOS PEDIDOS
ANTE O EXPOSTO, requer:
a) A intimação do membro do Ministério Público, nos termos
da lei;
b) A decretação de NULIDADE ABSOLUTA DO
INTERROGATÓRIO POLICIAL realizado durante a transferência do Requerente, retirando-o dos autos, nos moldes da lei;
c) A REVOGAÇÃO DA PRISÃO TEMPORÁRIA, visto que
inexiste razão para a manutenção do cárcere, comprometendo-se o réu a comparecer sempre que requisito para prestar os devidos esclarecimentos, na forma da lei;