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Os africanos trazidos como escravos para o Brasil cultivavam suas próprias divindades, a quem
denominavam Orixás, (“Donos de Cabeça”). Impedidos de praticar abertamente a sua religião, os escravos
reuniam-se secretamente para realizar os seus cultos segundo os rituais próprios de cada etnia.
Com o passar dos anos, os escravos aprenderam a assimilar os Orixás com os santos católicos
para escapar de punições, iniciando um sincretismo religioso que perdura até hoje.
Desde o final do Século XIX o Astral Superior havia iniciado a implantação da Umbanda no Brasil,
sob o comando do Caboclo Curugussu (Grito do Guardião), que inspirou a criação de muitos terreiros.
A chegada do portentoso Caboclo das Sete Encruzilhadas (15 e 16/11/1908), através do médium
Zélio Fernandino de Moraes, marca historicamente a criação da nova religião, que recebeu o nome de
Umbanda com o objetivo de convocar o maior número de pessoas no menor espaço de tempo possível.
A Umbanda não parou de crescer e evoluir nas décadas seguintes. A aceitação da Umbanda pela
cultura e legislação brasileiras é incontestável, muito embora persistam os preconceitos e receios instigados
em muitas pessoas por orientadores espirituais e familiares.
Dentre outros expoentes intelectuais do movimento umbandista destaca-se o Mestre Matta e
Silva, que iniciou dezenas de médiuns e formou diversos sacerdotes que deram continuidade, cada um à sua
maneira, à árdua e incessante tarefa de sistematização doutrinária e ritualística da Umbanda.
Woodrow Wilson da Matta e Silva (1917-1988), fundador da Umbanda Esotérica, revelou a
Umbanda como sendo, em sua expressão mais elevada, o AUMBHANDAM (do sânscrito, significando
Conjunto ou Código das Leis Divinas).
Autor de nove obras, escritas sob a influência dos altos mentores da Corrente Astral de
Aumbhandam, discorreu sobre os profundos fundamentos metafísicos, esotéricos e mágicos, tanto práticos
como teóricos, da Umbanda, ressaltando que ela nada tem a ver com os sincretismos religiosos e o
espiritismo de Allan Kardec, embora possa utilizar elementos litúrgicos, princípios e regras de iniciação,
conhecimentos e práticas de outros caminhos espirituais como subsídios.
Sua obra principal e mais conhecida é Umbanda de Todos Nós, considerada até mesmo a “Bíblia
da Umbanda” porque foi a primeira a expor, de maneira sistemática e didática, os fundamentos e as
aplicações ritualísticas da Lei e Doutrina de Umbanda, tornando-se, desde sua publicação em 1956, um guia
seguro para milhares de adeptos umbandistas.
Matta e Silva fundou e dirigiu a Tenda de Umbanda Oriental (TUO), em Itacuruçá, RJ, sem instituir
uma hierarquia, evitando nomes pomposos e expressamente declarando que o seu trabalho se encerraria
com a sua passagem para o mundo espiritual, que ocorreu durante a última Gira por ele conduzida. (Ver o
documentário de Rogério Sganzerla sobre Matta e Silva em https://youtu.be/p7wPMGTuoV8.
O movimento umbandista, qualquer que seja a sua denominação, tem como objetivo restaurar
o AUMBHANDHAM, que visa a preparar a humanidade nos seus aspectos morais e espirituais para receber
no futuro a verdadeira religião cósmica.
Atualmente presenciam-se diversas tentativas de implantar um pouco mais de coerência
doutrinária e consistência ritualística, mas, infelizmente, verifica-se um excesso de criatividade e uma
escassez de convergência entre os teóricos de Umbanda, predominando nos cultos observados, em que pese
a sua relevância e importância espiritual para os diversos segmentos da população frequentadora, as
manifestações idiossincráticas e o neuroanimismo dos seus dirigentes e praticantes.
Esta apresentação é uma modesta contribuição com vistas a divulgar a Umbanda Esotérica
conforme preconizada por Matta e Silva. O foco principal deste trabalho é apresentar as linhas-mestras do
arcabouço doutrinário e ritualístico da Umbanda de Todos Nós, cujo aprofundamento e consolidação estão
ainda em construção, inclusive vivenciando grandes embates no interior dos grupos de praticantes e na
mídia. Em futuros trabalhos serão focalizadas as práticas concretas de diferentes Casas de Umbanda, ditas
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esotéricas ou não, com vistas a extrair lições e encaminhar aos dirigentes e praticantes propostas de
organização e gestão coerentes com os princípios fundamentais do Aumbhandam.
O que é a Umbanda
Nas palavras do Pai Guiné, entidade da linha de Yorimá que foi um dos mentores de Mestre
Matta, “... o termo UM-BAN-DA, contendo em si um sentido tríplice oculto, traduz-se, de acordo com a Lei
do Verbo, como Conjunto das Leis de Deus. Em linhas gerais, portanto, Umbanda representa as eternas eis
que atuam na coletividade umbandista, a afim de regular e impulsionar a sua ascensão, tudo sob a guarda
direta dos espíritos escolhidos para esse mister, os chamados Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças ... “ (Matta
e Silva, Umbanda e Quimbanda na Palavra de um Preto-Velho, página 18).
Umbanda é um conjunto de práticas religiosas, calcadas em sólidas bases doutrinárias, que visam
a contribuir para a evolução espiritual da humanidade mediante a realização de cultos, a disseminação de
conhecimentos, a assistência material aos mais necessitados, a realização de curas físicas e emocionais e o
desenvolvimento espiritual, sem qualquer tipo de ganho material, político e comercial.
A Umbanda exterioriza suas vibrações espirituais através das três formas místicas ordenadas pela
Lei, que são simbolizadas por
Crianças (Falanges de Yori) - A pureza, que nega o vício, o egoísmo e a ambição. O princípio ou
nascimento do ser.
Caboclos (Falanges de Oxalá, Yemanjá, Xangô, Ogum e Oxóssi) -A simplicidade, que é o oposto
da vaidade, do luxo e da ostentação. A maturidade do ser.
Pretos-Velhos (Falanges de Yorimá) - A humildade, que engloba os princípios do amor, do
sacrifício e da paciência, ou seja, a negação do poder temporal, o desapego das coisas materiais e o
abandono do ilusório para dar começo à realidade. A sabedoria acumulada na trajetória terrena.
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Os 7 Orixás
Linha de Yori - Essas entidades, altamente evoluídas, externam através dos médiuns condutas e
vozes infantis de modo sereno, às vezes um pouco vivazes. Gostam de sentar no chão, correr e pular, comer
coisas doces, mas sem praticar desmandos (“bagunças”). Seus pontos cantados são melodias alegres e
somente algumas vezes tristes, falando muito em papai e mamãe do céu e constituem verdadeiros mantras.
Linha de Yorimá - Reflete a doutrina, a filosofia e o mestrado da magia em suas ações e
ensinamentos. Geralmente gostam de trabalhar e consultar sentados em banquinhos ou troncos de árvores
(“tocos”), usando o cachimbo em ações de fixação e eliminação através da fumaça. Falam devagar e
compassadamente, pensando bem no que dizem. Raríssimos são os que assumem a chefia de cabeça do
médium, mas são os auxiliares dos outros Guias, o seu braço direito. Os pontos cantados nos revelam
melodias tristonhas e ritmos compassados, dolentes, melancólicos, verdadeiras preces de humildade.
Cada um dos Orixás rege um par de meses do ano, exceto julho (Yemanjá) e agosto (Oxalá).
Ideogramas
Polaridades Virgem (- ) Peixes (-) Escorpião (-) Libra (+) Aquário (+)
Astros Regentes SOL LUA MERCÚRIO JÚPITER MARTE VÊNUS SATURNO
Cada um dos dias da semana corresponde a um Orixá (ver Matta e Silva, Umbanda de Todos
Nós,7ª edição, páginas 118-124).
Domingo é regido por Oxalá, que se manifesta nas Casas de Umbanda sob a roupagem de
Caboclos. “ (Estas Entidades) são as mais perfeitas nas manifestações. Não fumam (...) e não gostam de ser
solicitadas sem um motivo imperioso além das 21 horas. (...) falam calmo, compassado e se expressam
sempre com elevação, conservando a cabeça do aparelho ora baixa ora semilevantada. (...) baixam raras
vezes e só o fazem a miúdo quando (o médium se encontra) em excelente estado moral e mental. ”
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Segunda-feira é regida por Yemanjá. Este Orixá manifesta-se nas Casas de Umbanda sob a
roupagem de Caboclos e Caboclas. Estas entidades "(...) fazem sentir seus fluidos de ligação pela cabeça,
braços e joelhos. Balançam o corpo do aparelho suavemente, levantando os braços em sentido horizontal,
flexionando e tremulando as mãos, arfando um pouco o tórax (...) pela elevação respiratória e balançando a
cabeça, tomam o controle do médium. “
Terça-feira é regida por Ogum. As entidades que trabalham nesta linha (...) têm a forma de
Caboclos. (...) vibram também com força sobre o corpo astral fixando seus fluidos pelas costas e cabeça,
precipitam a respiração e tomam o controle do físico, quando o alteram para um porte desempenado.
Geralmente dão uma espécie de "brado" que (...) se entende como as duas sílabas da palavra OGUM. Esses
Espíritos gostam de andar de um lado para outro e falam de maneira forte, vibrante e em todas suas atitudes
demonstram vivacidade."
Quarta-feira é regida por Yori, que assume a forma de Crianças nos trabalhos de Umbanda.
"Essas Entidades, altamente evoluídas, externam pela máquina física maneiras e vozes infantis, mas de modo
sereno, às vezes apenas um pouco vivazes... (mas sem) gritos e representações fúteis. Atiram seus fluidos
sacudindo ligeiramente os braços e as pernas... (enquanto pulam e giram), tomando rapidamente o aparelho
pelo mental. (...) dão consultas profundas e são as únicas entidades que adiantam algumas das provações
que ainda temos que passar." Segundo inúmeros relatos e revelações de entidades confiáveis, as Crianças
costumam ser antigos sábios e magos que usam o disfarce infantil para confundir os agentes do baixo astral
e proteger os médiuns e consulentes.
Quinta-feira é regida por Xangô, que se manifesta nas Casas de Umbanda sob a forma de
Caboclos e Caboclas, (que) "se entrosam no corpo astral de maneira semibrusca, refletindo-se em arrancos
no físico; suas vibrações atingem logo o consciente do aparelho, forçando-o do tórax à cabeça em
movimentos de meia rotação e pela insuflação das veias do pescoço, com aceleração pronunciada do ritmo
cardíaco, na respiração ofegante, até normalizarem seu domínio no físico. Emitem (...) uma espécie de som
silvado, da garganta para os lábios, que parece externar o ruído de uma cachoeira ou um surdo trovejar (e
que soa como Kaô). Não gostam de falar muito. ” Por serem mais de ações do que de palavras, os Caboclos
de Xangô podem parecer autoritários e ríspidos, mas são justos e cordatos nos atendimentos, especialmente
quando interagem com crianças e idosos.
Sexta-feira é regida por Oxóssi, que assume a forma de Caboclos nos trabalhos de Umbanda.
Essas entidades (...) “são suaves em suas apresentações ou incorporações. Jogam seus fluidos pelas pernas,
com tremores e ligeiras flexões (...) sem simularem (deficiências físicas, (...) fluem suavemente pela cabeça
até a posse total ou parcial. Falam de maneira serena e seus passes são calmos, assim como seus conselhos
e trabalhos."
Sábado é regido por Yorimá, que se apresenta nas Casas de Umbanda sob a forma aparente de
Pretos-Velhos. “Essas Entidades são verdadeiros magos, senhores da experiência e do conhecimento em
toda espécie de magia. (...) geralmente gostam de trabalhar e consultar sentados, fumando cachimbo,
sempre numa ação de fixação e eliminação, através de sua fumaça. Os Pretos-Velhos, enquanto entidades
espirituais, não têm defeitos físicos. Não foram, necessariamente, escravos trazidos da África, mas sim
ancestrais humanos que adquiriram a Sabedoria e aceitaram a missão de transmiti-la com amor e doçura. A
linha de Yorimá representa a humildade perante o Criador e sinaliza a atitude de servir a Deus através dos
trabalhos de caridade, dentro e fora da Casa de Umbanda.
Entidades Incorporantes
Entidade é o nome dado aos espíritos que estão em determinada faixa de vibração astral e atuam
dentro da Umbanda. Conforme seu grau de evolução espiritual, esses espíritos são levados a fazer parte de
uma falange (agrupamento de espíritos), a fim de atuarem, aprenderem e evoluírem espiritualmente. Lá eles
permanecem até a possível volta para uma reencarnação ou a evolução para um plano espiritual superior.
São essas as entidades que incorporam nos rituais de Umbanda, uma vez que os Orixás não
incorporam. A função das entidades pertencentes às falanges é justamente vir à Terra e executar os
trabalhos ordenados pelos Orixás, como os portadores da força divina que corresponde aos Orixás.
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Quando um médium trabalha com uma determinada entidade, ele não trabalha com um único
espírito. O que ocorre é que todos os espíritos que constituem determinada falange atuam numa única faixa
vibratória com a qual penetram na faixa vibratória do médium. Em outras palavras, os espíritos não
trabalham isoladamente, mas "em falange", todos numa única vibração. Isso explica porque podemos
encontrar entidades de mesmo nome atuando em locais diferentes à mesma hora, ou no mesmo local.
As entidades trabalham em multiplicidade, cada uma conservando o nome e as características
do chefe da falange que compõem. Embora não seja muito comum, é possível acontecer que um mesmo
espírito, embora seja uma só vibração, venha em diversas falanges, com diferentes nomes, conforme sua
missão espiritual. Um espírito de certo grau de evolução pode se desdobrar na vibração, ou seja, aumentá-
la ou diminuí-la, obviamente que dentro de um certo limite preestabelecido. Desta forma, essa entidade
pode se apresentar ora em uma faixa, ora em outra. Por exemplo: se ela atua normalmente na linha do
Oriente, pode, num desdobramento de vibração, apresentar-se na forma de um Caboclo, embora conserve
também suas características essenciais.
Linhas Auxiliares
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A Umbanda Esotérica apresenta-se como a proposta mais coerente e consistente com os ideais
do Aumbhandam. Seus postulados-chave, para fins de implantação de uma Casa de Umbanda seguindo essa
orientação, são os seguintes:
Restrição do uso de fumo e bebidas alcoólicas. O uso do tabaco é uma defumação direcionada,
que traz além do vegetal os quatro elementos básicos (terra, água, ar e fogo) para trabalhos de magia prática.
O sopro por si só traz efeitos terapêuticos e espirituais muito valiosos e eficazes nos trabalhos de cura e
limpeza. Somado ao poder das ervas, é potencializado muitas vezes, com resultados largamente vistos
durante os trabalhos de Umbanda. Já o álcool pertence ao elemento água, provindo de um vegetal (a cana)
que se sustenta na terra, sendo altamente volátil no ar e considerado o "fogo líquido", de fácil combustão.
Tanto o fumo quanto o álcool são utilizados para desagregar energia negativa, queimar larvas e
miasmas astrais, e no caso do álcool, para desinfetar e limpar no externo e no interno, já que pode, em
certos casos, ser ingerido. O fumo e o álcool são considerados "elementos de poder", usados há milênios
por muitos povos e considerados sagrados, com larga utilização em trabalhos de cura. Tudo que é sagrado
traz consigo o divino e as virtudes para nossas vidas. Sempre que profanamos algo sagrado atraímos a dor e
o vício. Assim o tabaco e o álcool, que curam em seu aspecto sagrado, também viciam e trazem a dor quando
utilizados de forma profana.
Compromisso efetivo do corpo mediúnico com a própria conduta e a prática de vida coerente
com a proposta doutrinária. O velho adágio “vigiai e orai” jamais perdeu sua força e seu significado. Nos dias
atuais, pode ser expresso como um conjunto de hábitos, posturas e práticas, que na Umbanda recebem o
nome de preceitos, coerentes com a sustentabilidade da saúde física, mental e espiritual, O alcoolismo, o
tabagismo, o uso de drogas, os maus hábitos alimentares, os excessos sensuais e sexuais e muitos outros
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usos inadequados do corpo, da mente e da espiritualidade são desaconselhados aos médiuns e dirigentes
porque interferem negativamente no desempenho mediúnico. Por outro lado, a literatura umbandista
oferece muitas informações sobre boas práticas que favorecem o desempenho mediúnico, tais como
alimentação natural ou vegetariana, caminhadas nas matas, banhos de mar, rio e cachoeira, dormir bem,
evitar conflitos e muitos outros hábitos saudáveis que aumentam a carga energética de qualquer pessoa e
prolongam a vida.
Ritualística voltada para a harmonização intencional e direcionada dos médiuns e consulentes.
Os trabalhos devem ser organizados de maneira a favorecer a concentração de forças e focalização das
energias sobre cada um dos médiuns, a corrente mediúnica e as pessoas que vêm buscar ajuda, consolo e
crescimento espiritual. A sequência dos pontos cantados, as vestimentas, os objetos e os materiais usados,
as posturas físicas e os gestos praticados, a ordem em que os trabalhos são realizados, bem como outros
elementos do culto, devem obedecer a uma lógica coerente com a proposta do Aumbhandam.
Consequentemente, tudo aquilo que é apenas habitual, produto da imaginação dos dirigentes, cacoete do
médium, coreografia artística e jogo de cena deve ser eliminado dos cultos e substituído por ritos mais
apropriados. Não se batem palmas, não se tocam instrumentos musicais, nem se dança durante as Giras.
A Casa ficou fechada desde o encerramento do último trabalho. As energias movimentadas estão
em repouso, guardadas pelas velas votivas do altar e da tronqueira. As pessoas que vieram à Gira passada
retornaram aos seus lares, o Congá foi limpo, os resíduos dos trabalhos despachados conforme os preceitos.
A Casa precisa ser preparada para um novo ciclo energético.
A Gira a iniciar-se requer certos procedimentos para a realização eficiente e eficaz da magia
transformadora em nome da Luz e do Amor, que são os fundamentos primeiros do Aumbhandam. A
eficiência dos trabalhos depende diretamente da maneira como as energias físicas, mentais, emocionais e
espirituais são mobilizadas. A eficácia dos trabalhos é dada pelo grau de atingimento dos múltiplos objetivos
da Gira.
Os procedimentos incluem, além da limpeza física, a defumação do Congá e dos participantes
(médiuns e assistentes), a formação da egrégora (cúpula energética), a ativação e firmeza da corrente
mediúnica e a chegada das entidades (incorporação) que atuarão na realização dos trabalhos.
Muito antes de uma gira começar, muitas energias já estão sendo trabalhadas e manipuladas
para que o trabalho transcorra dentro do mais perfeito roteiro traçado pela espiritualidade. Energias das
falanges e linhas de trabalho que estarão atuando, energias dos espíritos sofredores que serão auxiliados,
energias dos guardiões que farão a proteção, enfim, toda a dimensão espiritual é equilibrada e ordenada
para a gira de Umbanda.
A egrégora da Casa – conjunto de energias distintas que formam uma energia única – é
revitalizada, reenergizada, fortalecida, equilibrada e preparada no Astral para os trabalhos do dia.
Entretanto, no nosso plano energético, os encarnados que serão direcionados para a Casa de fé
deverão também ser preparados para o trabalho, sejam eles médiuns, assistentes ou assistidos. Banhos de
ervas orientados para a purificação e energização, manter o pensamento positivado, evitar aborrecimentos,
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evitar atividades sexuais, ter uma alimentação mais leve, ou seja, uma série de recomendações para que as
energias dos corpos carnais possam estar mais sutilizadas e harmonizadas para melhor ligação e conexão
com a espiritualidade.
Pois bem, tudo foi feito e, aparentemente, tudo está perfeito, mas algo mais necessita ser
realizado. Precisa-se ligar, conectar e congregar as energias dos dois planos envolvidos no ritual de
Umbanda, ou seja, o plano material (energia densa) e o plano espiritual (energia mais sutil). E neste aspecto
alguns rituais são extremamente eficazes, sendo um deles a defumação.
O processo de defumar utiliza ervas, folhas, cascas, raízes e outros elementos extraídos da
natureza, que carregam energias telúricas (da terra) e aquáticas (da água) em suas constituições estruturais.
Quando o rito de defumar é realizado, outras energias naturais também são manipuladas, como o fogo
(energia ígnea) e o ar (energia eólica). Perceba-se que os 4 elementos de constituição planetária (fogo, ar,
água e terra) estão presentes no processo de defumar.
Destaque-se que durante este ato a pessoa que ali está deverá permanecer em oração,
realizando seus pedidos de limpeza e harmonia, pedindo a intervenção de seus protetores e rogando ao Alto
usufruir do justo benefício da defumação. Este momento pode ser considerado como parte da “programação
mental” dos participantes, ou seja, é um momento no qual os efeitos do ritual de defumar serão
potencializados com o pensar puro e verdadeiro de todos os participantes.
Para o rito da defumação recomenda-se utilizar um turíbulo (incensário) de barro, porque o barro
é um filtro natural. Assim, quando se realiza a defumação, as “cargas negativas” do ambiente serão atraídas
para o turíbulo e ali serão filtradas, em seguida serão desagregadas na brasa (fogo) e fixadas no carvão
(madeira, elemento terra). Jamais se deve utilizar incensório de metal porque o metal corta o efeito das
ervas na defumação pela radiação natural que ele possui. Assim, não produzirá o efeito de expansão da
energia vital, que é o que faz as ervas terem efeito sobre o organismo e trazerem revitalização e saúde.
É importante ressaltar que, no ato da defumação, as pessoas envolvidas devem manter os
pensamentos mais puros e positivos possíveis, firmando pontos cantados, em ambiente tranquilo e com
seriedade, participando e vibrando positivamente.
O preparo das ervas requer que saibamos bem qual o nosso objetivo ao realizar o rito de
defumação. Há diferentes tipos de defumações: descarga, revitalização, harmonização, dispersão de
energias negativas e corte de demandas e situações pesadas. Se objetivarmos um rito de descarrego, a
higienização astral do ambiente, a harmonização dos participantes, ou ainda, a elevação das vibrações
mentais e astrais, em cada caso a escolha e combinação das ervas afins e suas devidas proporções serão
decisivas para se atingir o objetivo esperado.
Incensos de palito são benvindos desde que tenham boa procedência e tradição estabelecida. É
preciso lembrar que, dependendo da qualidade do incenso, a fumaça que vai se desprender afetará o
ambiente de sua Casa e poderá causar mais danos do que benefícios.
Segundo Matta e Silva, “ Na defumação que precede uma sessão, podem ser usadas as ervas
secas de qualquer linha ou vibração, inclusive grãos de benjoim, incenso e mirra, muito apropriados a uma
precipitação de fluidos que predispõem à elevação espiritual. Caso se queira proceder a uma defumação
forte sobre uma pessoa ou no ambiente, pode-se usar uma mistura contendo palha de alho, guiné e arruda
seca ou fumo de rolo, alecrim, erva-cidreira, ou ainda, folhas de pinhão roxo, abre-caminho e guiné. No
término das sessões onde se tenha procedido a certas descargas, mormente de fogo, aconselhamos estes
defumadores para eliminação das larvas-resíduos” (Umbanda de Todos Nós, 7ª edição, páginas 169-176).
A criação e sustentação de uma egrégora favorável à realização de uma gira eficiente e eficaz
demanda um conjunto mínimo de atitudes e comportamentos, a saber:
O horário de início dos trabalhos é mais do que importante, é sagrado.
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Após cumprimentarem a tronqueira os médiuns dirigem-se ao quarto dos Otás, alimentam seus
pontos de força com um pouco de água (disponível no local e, de preferência, própria para o consumo
humano) e acendem uma vela votiva de 7 dias, colocando-a ao lado do seu Otá.
Este pequeno ritual destina-se a fortalecer a ligação do médium com a Corrente Astral de
Aumbhandam e a corrente mediúnica, de modo que a somatória dos Otás possa irradiar energias positivas
que beneficiarão a todos que estejam participando dos trabalhos, sempre de acordo com os respectivos
merecimentos cármicos individuais e coletivos.
O médium dirigente faz soar uma campainha, ou um outro sinal equivalente, chamando os
médiuns ao recinto dos trabalhos, alguns minutos antes do início da Gira, para que comecem a se concentrar.
Quando os médiuns chegam às entradas do Congá, cruzam as mãos sobre o peito e em seguida
as abrem em direção ao altar em atitude de súplica.
A defumação dos visitantes e médiuns é muito importante, embora muitas Casas de Umbanda
não possam fazê-la por falta de recursos. Os defumadores, preparados segundo os preceitos e usados nos
trabalhos, ajudam os assistentes e os próprios médiuns a descarregar as energias negativas e equilibrar o
campo energético, facilitando a assimilação do magnetismo positivo.
Após receberem a defumação os médiuns dirigem-se aos pés do altar, ajoelham-se e põem as
mãos sobre a pedra de cachoeira ao centro (ver foto na página seguinte).
Quando o(a) dirigente bate palmas três vezes seguidas, os médiuns fecham um único círculo de
mãos dadas, em corrente vibrada, tomando cuidado para que uma mulher mantenha sua mão sobre o altar
no lado correspondente à energia feminina e um homem feche o círculo energético no lado masculino.
O(a) dirigente faz sozinho as invocações iniciais em nome da corrente e, em seguida, todos os
médiuns cantam em conjunto os pontos de abertura dos trabalhos. Logo após, todos entoam os pontos dos
Orixás na sequencia correspondente aos sete chacras principais, observando as posições litúrgicas.
Concluídos estes pontos, todos se voltam para o Sul e saúdam os Exus-Guardiões, mantendo a postura
requerida.
Restabelecida a corrente na sua formação inicial, o(a) dirigente dá início à chamada das
entidades. Neste momento todos os médiuns retiram suas toalhas de proteção e as guardam em um dos
bolsos do uniforme, permanecendo relaxados enquanto o(a) dirigente toca cada um(a) na fronte com a mão
direita e na nuca com a mão esquerda simultaneamente, alternando os gêneros. À medida em que forem
recebendo as entidades que vierem trabalhar, os médiuns permanecem em seus lugares, em meditação, até
que se concluam os toques.
Somente então o(a) dirigente se posiciona em frente ao altar e todos levantam as mãos em
posição de bênção sobre ele, cantando o ponto da entidade-chefe da Casa, que presidirá os trabalhos do dia
conforme o calendário das Giras. Ao chegar em terra, a entidade-chefe cumprimenta as demais entidades
presentes e passa o comando operacional da Gira a um dos médiuns que foram preparados doutrinária e
ritualisticamente para essa função. Cabe ao médium gestor posicionar as entidades nos pontos designados
para os passes magnéticos que serão dados à assistência.
Os médiuns que não estiverem cambonando devem sustentar o canto dos pontos durante os
atendimentos, procurando manter-se concentrados e atentos, ajudando o médium gestor a conduzir bem o
desenrolar da Gira. É desejável que os médiuns se revezem, ora cambonando, ora sustentando os pontos,
para evitar a fadiga e o tédio.
Recomenda-se que todos os médiuns permaneçam dentro do Congá até a conclusão da Gira,
somente se afastando dele por motivo imperioso ou para executar algum comando de entidade ou dirigente.
Um recipiente com água potável (filtro de barro é o mais recomendado) é mantido e abastecido
continuamente ao lado do altar para uso conforme a necessidade.
Na foto abaixo pode-se ver um dos médiuns recebendo orientações de uma das entidades
durante a Gira antes de começar a cambonar para ela.