Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
SENTENÇA
I. RELATÓRIO
aproximadamente 04 anos, ou seja, “Significa dizer que suas vidas gravitam em torno
daquela base geográfica. [...] Além disso, 87% das famílias envolvidas são usuárias dos
equipamentos públicos locais e dele dependem para satisfação de suas necessidades
básicas. Neste percentual, estão incluídas 832 crianças, matriculadas em colégios e
creches da região”. Ressalva a possibilidade de controle judicial sobre a matéria, com a
criação de um paralelo com a desapropriação indireta, no qual “o Poder Público
simplesmente promove o desapossamento do particular, apropriando-se do bem para
conferir-lhe utilidade pública, sem, contudo, observar os requisitos da declaração e da
indenização prévia. Significa dizer que, confirmada a afetação de determinado bem a um
interesse público, surge ao proprietário o direito de justa reparação, ao qual corresponde
o dever de o Poder Público indenizar o particular”. Aliás, os requeridos asseguraram que
a solução adequada é a não remoção, posto que se a escolha for a de remoção, a nova
moradia deve atender uma série de requisitos, contudo a infraestrutura disponibilizada pela
Gleba Guarani é absolutamente carente, com serviços públicos distantes e escassos. Por
fim, argumentaram pela extinção sem resolução de mérito da demanda em decorrência da
inépcia ou também pela improcedência diante da ausência de provas a respeito da posse,
ou, finalmente pela desapropriação indireta fundada na afetação pública do bem. Juntaram
documentos.
Os autores apresentaram impugnação à contestação na seq. 1342.1,
oportunidade em que rebateram a impugnação ao valor da causa, aduzindo que, o critério
utilizado foi o valor da posse do período do dano e não o valor do imóvel, no que tange à
alegada ausência de interesse processual, salientaram que a matéria está preclusa, uma vez
que não houve insurgência no momento apropriado. No mérito, que não há que se falar em
ausência de comprovação da posse ou de exteriorização da sua defesa, eis que fora
informado na inicial a comunicação da ocorrência perante a autoridade policial, com seu
devido registro; esclareceram, ainda, que a área em questão era destinada a agricultura,
pelo que, não haviam residências instaladas antes da invasão. Que, além disso, a questão
possessória pode ser corroborada por prova testemunhal. Asseveraram que, a manutenção
da situação fática esbarra na discricionariedade do Poder Público e, é mais prejudicial pelo
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
fato de que não houve o devido planejamento de um loteamento, o que dificulta a prestação
de serviços públicos e a locomoção dos cidadãos.
Posteriormente, com a manifestação das partes, vieram os autos
conclusos para o julgamento antecipado, pela desnecessidade de instrução probatória.
É o breve relato.
Decido.
II - FUDAMENTAÇÃO
1
STJ, REsp 730581/MG, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/04/2005, DJ 09/05/2005,
p. 315
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
em relação à posse, motivo pelo qual, na ausência de elementos objetivos acerca do valor
efetivo da posse disputada no imóvel, é possível a fixação do valor da causa por mera
estimativa.
Nem mesmo o julgamento do REsp 1.230.839 firmou tese de que o
valor venal do imóvel há de ser o critério para a fixação do valor da causa nas
possessórias, mas sim, o seu conteúdo econômico de forma que em não sendo possível
a fixação imediata desse conteúdo, viável a sua adoção por estimativa do autor. Nesse
sentido:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSE.
BENS IMÓVEIS. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.
IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA. VALOR DE
ALÇADA. Tratando-se de demanda possessória, o valor da
causa não precisa estar vinculado ao valor do bem, podendo ser
fixado até mesmo o valor de alçada. Manutenção do valor
atribuído. Decisão agravada mantida. Em decisão monocrática,
nego seguimento ao agravo de instrumento. (Agravo de
Instrumento Nº 70066335951, Vigésima Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Glênio José Wasserstein Hekman,
Julgado em 01/09/2015)
Portanto, rejeito a impugnação ao valor da causa.
mérito impõe ao julgador uma nova leitura de da alegação à luz dessa nova concepção
processual.
De fato, em se tratando de ação possessória não se pode dizer que a (in)
existência da posse possa ser considerada como condição da ação (na modalidade
adequação da via eleita), mas sim que ela representa o próprio mérito da demanda, de
forma que em sendo discutida essa questão, deve o julgador deixar de aplica-la como
condição da ação, e submete-la ao julgamento de mérito, resolvendo em definitivo a
questão. Como leciona Daniel Neves2:
“Tendo sido o objetivo do legislador ao criar o
processo ou fase de conhecimento um julgamento de mérito,
naturalmente essa forma de final é preferível à anômala
extinção sem tal julgamento, motivada por vícios formais.
Somente essa distinção entre fim normal e anômalo já seria
suficiente para demonstrar que há um natural interesse no
julgamento do mérito no processo ou fase de conhecimento,
considerando-se ser sempre preferível o normal ao anômalo. A
solução definitiva da crise jurídica, derivada da coisa julgada
material, que dependerá de uma decisão de mérito transitada
em julgado, é outra evidente vantagem no julgamento de
mérito quando comparado com a sentença terminativa.
Pelas óbvias razões apresentadas, cabe ao juiz
fazer o possível para evitar a necessidade de prolatar uma
sentença terminativa no caso concreto, buscando com todo o
esforço chegar a um julgamento do mérito.”
No caso, se trata de processo de enorme repercussão social para que se
possa resolve-lo por simples aplicação das condições da ação, veja-se, de que adianta
resolver a relação processual em que está envolvida diretamente a vida de mais de duas
mil pessoas em uma sentença meramente terminativa, quando, bastaria aos autores repetir
2
Neves, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil Comentado - Salvador: Ed. JusPodivm, 2016. P. 10-11
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
mesmo pedido sob o nomen juris de ação petitória e submeter-se-ia novamente às partes
à nova relação processual, em violação fragrante ao art. 8º do Código de Processo Civil
que fixa como norma fundamental a eficiência.
Portanto, rejeito a preliminar de inadequação da via eleita, sem prejuízo
do retorno à questão da existência da posse do autor em juízo meritório.
3
A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses
existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela.
4
Direito civil: direito reais. 4ªed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 58
5
Código civil anotado. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 751
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
6
Curso de Direito Processual Civil – Procedimentos Especiais – vol. II – 50ª ed. rev., atual. e ampl. – Humberto Theodoro Júnior –
Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 115
7
DANTAS, San Thiago. Programa de Direito Civil, volume III, Editora Rio, 2ª edição, 977, página 56
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
8
A ruptura do paradigma cartesiano e alguns dos seus reflexos jurídicos. in Revista CEJ, Brasília, Ano XIII, n. 46, p. 78-86, jul./set.
2009
9
“o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se
encerra o modernismo (1900- 1950).” ANTOS, J.F dos. O que é pós-moderno. Ed. Brasiliense, SP. 1986. P. 8
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
10
Boaventura de Sousa Santos – “Um discurso sobre as Ciências” - reflexão crítica sobre a bra. Disponível em: goo.gl/F1kusk
acesso em 25/04/2017
11
Trad. Peter Naumann. Porto Alegre. EDIPUC, 2003, p. 65
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
12
Publicado na Revista de Processo Comparado, Vol. 3, São Paulo, Ed. RT, p. 159-187
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
13
https://www.scjn.gob.mx/Primera_Sala/Tesis_Aisladas/TESIS%20AISLADAS%202011_PRIMERA%20SALA.pdf
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
14
MORAIS, Alexandre de. Curso de Direito Constitucional. 14 ed. São Paulo: Atlas, 2003. P. 61
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
15
https://massanews.com/blogs/cotidiano/airton-jose/audiencia-de-conciliacao-e-mediacao-discute-maior-ocupacao-de-area-urbana-
no-pr.html
16
citado na obra “Vida e Direito: Uma estranha alquimia”Trad. Saul Tourinho Leal. Ed. Saraiva. 2016. p. 108
17
No original Port Elizabeth Municipality v Various Occupiers, disponível em, goo.gl/x9E5pp acesso em 27/04/2017
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
Mov. 1316.9
18
http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/reforma-agraria/ComentarioGeral7_DESC
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
19
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/moradia/trabalhohabitacaopronto.html#8
20
SARLET, Ingo Wolfgang. Supremo Tribunal Federal, o direito à moradia e a discussão em torno da penhora do imóvel do fiador.
In: FACHIN, Zulmar (coord.). 20 anos de Constituição cidadã. São Paulo: Método, 2008. pp. 41-66.
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
21
A Constituição da África do Sul data de 10 de dezembro de 1996
22
goo.gl/S4MSw7
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
23
Ed. Saraiva, São Paulo, 2016. P 106
PODER JUDICIÁRIO
COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU – PARANÁ
2ª Vara da Fazenda Pública
Estado do Paraná
_________________
autores, nas vias próprias, a indenização junto ao Estado do Paraná pela afetação indevida
dos imóveis, causada por sua omissão em, no momento oportuno, dar cumprimento da
liminar.
III – DISPOSITIVO
assinado digitalmente