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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

1. RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL

Todo e qualquer vínculo, que tenha importância para o mundo jurídico, parte
da existência da denominada Relação Jurídica.
Segundo a doutrina civilista, relação jurídica corresponde ao vínculo
existente entre duas ou mais pessoas, cuja relação está envolta de objeto de
manifestação de vontade, ou por decorrência legal, entre as referidas pessoas.
Há classificação da relação jurídica simples, onde há parte ativa (credor) e
passiva (devedor), como em doação pura e simples; bem como relação jurídica
complexa, onde as partes mutuamente se afirmam como credor/devedor
recíprocos, como numa compra e venda.

2. PERSONALIDADE E CAPACIDADE

A personalidade representa a aptidão de aquisição de direitos e de


contração de obrigações. Nesse sentido, tanto pessoas naturais quanto pessoas
jurídicas tem personalidade

Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do


nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.

Personalidade difere, porém, de capacidade, eis que a capacidade de refere-


se à possibilidade de exercício de direitos e satisfação de obrigações, não obstante
a mesma se estenda à toda pessoa, como versa o art. 1º do CC:

Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na


ordem civil.

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Veja-se que o nascituro tem garantido, desde o nascimento com vida, o
direito de personalidade, da mesma forma que a empresa a partir de seu efetivo
exercício.
Contudo, a capacidade de exercício de direitos, no caso do infante v.g.,
depende de representante para seu exercício. Por isso, denomina-se de
absolutamente incapaz. De modo intermediário, o relativamente incapaz é aquele
que possui relativa capacidade para o exercício de direitos, merecendo ser apenas
assistido por representante. Nesse sentido, o CC/2002 estabelece que:

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer


pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015)

Os direitos de personalidade são natos à pessoa, o que, no caso da pessoa


natural, envolvem o direito à vida, liberdade, igualdade, etc. São direitos absolutos,
extrapatrimoniais, intransmissíveis, ilimitados, irrenunciáveis, imprescritíveis,
inexpropriáveis, e relativamente indisponíveis1.
A capacidade de exercício dos direitos civis é relativizada pelos fatores
elencados no art. 4º do CC, no qual são elencados:
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à
maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em
tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não
puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei
nº 13.146, de 2015)
IV - os pródigos.

1
DINIZI, Maria Helena. Manual de direito civil. Saraiva, 2011.

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Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será
regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015)
Destaque-se a situação dos indígenas que, modificando-se situação prevista
no CC de 1916, houve delegação à lei especial quanto à sua capacidade.
Também é necessário referir que os relativamente incapazes poderão
alcançar ou retomar a capacidade plena, conforme estabelece o art. 5º do CC:
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos,
quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida
civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro,
mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se
o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em função deles,
o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

XX EXAME OAB – REAPLICAÇÃO SALVADOR (2016.2)


QUESTÃO 39. Pedro, em dezembro de 2011, aos 16 anos, se formou
no ensino médio. Em agosto de 2012, ainda com 16 anos, começou estágio
voluntário em uma companhia local. Em janeiro de 2013, já com 17 anos, foi
morar com sua namorada. Em julho de 2013, ainda com 17 anos, após ter
sido aprovado e nomeado em um concurso público, Pedro entrou em
exercício no respectivo emprego público. Tendo por base o disposto no
Código Civil, assinale a opção que indica a data em que cessou a
incapacidade de Pedro.
A) Dezembro de 2011.
B) Agosto de 2012.

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C) Janeiro de 2013.
D) Julho de 2013.

RESPOSTA: D

No caso de incapacidade relativa declarada por decisão judicial (aplicável


aos ébrios habituais, pródigos, etc.), bem como nos casos de incapacidade
superveniente (ou não afastada) pela maioridade, a retomada da capacidade dar-
se-á apenas mediante nova decisão judicial.
Até tal reconhecimento, será realizada nomeação de responsável (curador,
para maiores; tutor, para menores) pela assistência ou representação do incapaz
(relativo ou absoluto).

EXAME 2015.1 37ª Questão:

Os tutores de José consideram que o rapaz, aos 16 anos, tem


maturidade e discernimento necessários para praticar os atos da
vida civil. Por isso, decidem conferir ao rapaz a sua emancipação.

Consultam, para tanto, um advogado, que lhes aconselha


corretamente no seguinte sentido:
a) José poderá ser emancipado em procedimento judicial, com a oitiva do
tutor sobre as condições do tutelado.

b) José poderá ser emancipado via instrumento público, sendo


desnecessária a homologação judicial.

c) José poderá ser emancipado via instrumento público ou particular,


sendo necessário procedimento judicial.

d) José poderá ser emancipado por instrumento público, com averbação


no registro de pessoas naturais.

R–A

Quanto aos demais casos previstos para aquisição da capacidade civil plena,
destaca-se o reconhecimento dos pais através de escritura pública de emancipação
e o casamento (o qual, entre incapazes, necessita de anuência dos responsáveis),
que geram a obtenção da capacidade civil plena.
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A par da capacidade de exercício dos direitos inerentes à vida civil, os
direitos de personalidade iniciam com o nascimento com vida e extinguem-se com
a morte da pessoa. Contudo, conforme art. 2º e 6º do CC, a proteção de tais direitos
estende-se ao nascituro, assim como poderão os sucessores realizar a proteção
de direitos de personalidade após a morte de ofendido. Cite-se, como exemplo, a
proteção do nome, de direitos autorais, da personalidade, entre outros, cuja ofensa,
mesmo realizada após a morte do ofendido, gera direito à reparação e proteção
através de seus sucessores, como se infere do art. 20 e do art. 12, ambos do CC:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da
personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer
a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Há que se lembrar, ainda, quanto à personalidade, que tal proteção se
estende à ao direito de negativa de disposição do próprio corpo (art. 13 do CC), o
que venda, por exemplo, a disposição onerosa de órgãos, com exceção de quando
essa disposição é gratuita (ou seja, doação de órgãos).

EXAME 2014.1 37ª Questão:

Pedro, menor impúbere, e sem o consentimento de seu


representante legal, celebrou contrato de mútuo com Marcos, tendo
este lhe entregue a quantia de R$400,00, a fim de que pudesse
comprar uma bicicleta.

A respeito desse caso, assinale a afirmativa incorreta.


a) O mútuo poderá ser reavido somente se o representante legal
de Pedro ratificar o contrato.

b) Se o contrato tivesse por fim suprir despesas com a própria


manutenção, o mútuo poderia ser reavido, ainda que ausente
ao ato o representante legal de Pedro.

c) Se Pedro tiver bens obtidos com o seu trabalho, o mútuo


poderá ser reavido, ainda que contraído sem o consentimento
do seu representante legal.

d) O mútuo também poderia ser reavido caso Pedro tivesse


obtido o empréstimo maliciosamente.

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R–A

Lembre-se, por fim, que a proteção do nome alcança, também, o


pseudônimo.

Exame 2013.2 43ª Questão:

João Marcos, renomado escritor, adota, em suas publicações


literárias, o pseudônimo Hilton Carrillo, pelo qual é nacionalmente
conhecido. Vítor, editor da Revista “Z”, empregou o pseudônimo
Hilton Carrillo em vários artigos publicados nesse periódico, de sorte
a expô-lo ao ridículo e ao desprezo público.

Em face dessas considerações, assinale a afirmativa correta.


a) A legislação civil, com o intuito de evitar o anonimato, não
protege o pseudônimo e, em razão disso, não há de se cogitar
em ofensa a direito da personalidade, no caso em exame.

b) A Revista “Z”pode utilizar o referido pseudônimo em uma


propaganda comercial, associado a um pequeno trecho da
obra do referido escritor sem expô-lo ao ridículo ou ao
desprezo público, independente da sua autorização.

c) O uso indevido do pseudônimo sujeita quem comete o abuso


às sanções legais pertinentes, como interrupção de sua
utilização e perdas e danos.

d) O pseudônimo da pessoa pode ser empregado por outrem em


publicações ou representações que a exponham ao desprezo
público, quando não há intenção difamatória.

R–C

Morte, morte presumida e ausência


Os direitos de personalidade extinguem-se com a morte, a qual é atestada
pela verificação do corpo. Quando impossível tal constata-se, o CC permite o
reconhecimento por presunção, como no caso de acidente aéreo onde não
localizados os corpos dos passageiros.
A presunção, contudo, depende de reconhecimento judicial, perpassando
pelo reconhecimento inicial de ausência, o que é dispensado apenas nos caos do

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art. 7º do CC, através da morte provável ou desaparecimento em campanha
(guerra).
Ocorrendo desaparecimento de pessoa na forma do art. 22 do CC, a
ausência será declarada judicialmente, nomeando-se curador para administração
do patrimônio da mesma, com preferência de curadoria ao cônjuge do
desaparecido (art. 25 CC).
Declarada a ausência, e decorrido o prazo do art. 26 do CC, será possível a
abertura da sucessão provisória, com a distribuição provisória de bens aos
sucessores.
10 anos após a sentença declaratória da sucessão provisória, é possível o
requerimento de sucessão definitiva.
Caso o ausente retorne após o prazo de 10 anos da sucessão definitiva,
poderá retomar os bens repassados em sucessão provisória ou sub-rogados, no
estado que se encontram (art. 37 do CC).

Exame 2014.2 40ª Questão:

Raul, cidadão brasileiro, no meio de uma semana comum,


desaparece sem deixar qualquer notícia para sua ex-esposa e filhos,
sem deixar cartas ou qualquer indicação sobre seu paradeiro.

Raul, que sempre fora um trabalhador exemplar, acumulara em seus


anos de labor um patrimônio relevante. Como Raul morava sozinho,
já que seus filhos tinham suas próprias famílias e ele havia se
separado de sua esposa 4 (quatro) anos antes, somente após uma
semana seus parentes e amigos deram por sua falta e passaram a
se preocupar com o seu desaparecimento.

Sobre a situação apresentada, assinale a opção correta.


a) Para ser decretada a ausência, é necessário que a pessoa tenha
desaparecido há mais de 10 (dez) dias. Como faz apenas uma
semana que Raul desapareceu, não pode ser declarada sua
ausência, com a consequente nomeação de curador.

b) Em sendo declarada a ausência, o curador a ser nomeado será a


ex-esposa de Raul.

c) A abertura da sucessão provisória somente se dará


ultrapassados três anos da arrecadação dos bens de Raul.

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d) Se Raul contasse com 85 (oitenta e cinco) anos e os parentes e


amigos já não soubessem dele há 8 (oito) anos, poderia ser feita
de forma direta a abertura da sucessão definitiva.

Resposta D

3. PESSOAS JURÍDICAS

Podem ser reconhecidas como pessoas jurídicas a união de pessoas e/ou


patrimônio destinados à consecução de determinadas atividades, de forma
organizada, lícita e com capacidade jurídica reconhecida. Elementos estes que
concentram os requisitos de seu reconhecimento.
A pessoa jurídica também goza de proteção civil, porém ajustada à sua
condição. Pela jurisprudência e doutrina atuais, a proteção alcança o nome da
empresa, sua imagem, patrimônio, etc.
As pessoas jurídicas classificam-se em 03 espécies:
a) pessoas jurídicas de direito público interno: correspondem às
personalidades inerentes à organização estatal do Brasil, elencadas no art. 41 do
CC:
Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:
I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; (Redação dada
pela Lei nº 11.107, de 2005)
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de
direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no
que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.
Veja-se que tanto as entidades da administração pública direta como indireta
tem natureza de direito público interno. Os partidos políticos, por seu turno, serão
enquadrados como pessoas de direito privado. Já os Consórcios Públicos, poderão
optar entre a personalidade de direito público ou privado.

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b) Pessoas jurídicas de direito público externo: correspondem às entidades
estatais alheias ao estado brasileiro (como outros estados soberanos), aí incluídas
as entidades supranacionais (como ONU, UNESCO, etc.), conforme art. 42 do CC:
Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados
estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional
público.
Cuidado! Federações esportivas, como FIFA, não possuem natureza
pública, mas sim privada.
c) pessoas jurídicas de direito privado: correspondem ás entidades privadas,
aqui incluídas as sociedades empresárias, associações, etc:
Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:
I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de
22.12.2003)
V - os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)
A criação e existência das personalidades jurídicas será realizada mediante
registro, salvo quanto à existência de União, Estados e Municípios que dependem
da CF/88, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas respectivas.
No caso de pessoas jurídicas de direito público interno, sua criação
decorrerá de lei, acrescendo-se eventual necessidade de Estatuto ou Regimento
Interno.
No caso das sociedades privadas, estas tem início a partir da inscrição do
respectivo ato constitutivo (art. 45 CC). Para validade plena, o registro deverá
compor-se dos seguintes elementos essenciais:
Art. 46. O registro declarará:
I - a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social,
quando houver;
II - o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos
diretores;
III - o modo por que se administra e representa, ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmente;
IV - se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de
que modo;

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V - se os membros respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais;
VI - as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu
patrimônio, nesse caso.
Quanto ao registro, sendo a sociedade empresária, seu registro ocorre na
junta comercial do respectivo estado de constituição; de modo especial, entidades,
associações, fundações e cooperativas tem registro junto ao Tabelionato de
Registro de Títulos e documentos, enquanto que entidades específicas poderão ter
registro de modo especial (como no caso de sociedades jurídicas, cujo registro
ocorre na OAB).
Quanto à responsabilidade dos gestores, administradores e sócios,
dependerá essa da forma de constituição da sociedade. Contudo, em caso de
abuso da personalidade, poderá ser aplicada a disregard of legal entity theory
(teoria da desconsideração da personalidade jurídica), com responsabilidade dos
sócios/administradores de modo pessoal (art. 50 do CC), o que implica em afetação
do patrimônio pessoal dos mesmos.

EXAME 2014.3 40ª Questão:

Paulo foi casado, por muitos anos, no regime da comunhão parcial


com Luana, até que um desentendimento deu início a um divórcio
litigioso. Temendo que Luana exigisse judicialmente metade do seu
vasto patrimônio, Paulo começou a comprar bens com capital
próprio em nome de sociedade da qual é sócio e passou os demais
também para o nome da sociedade, restando, em seu nome, apenas
a casa em que morava com ela.

Acerca do assunto, marque a opção correta.


a) A atitude de Paulo encontra respaldo na legislação, pois a lei
faculta a todo cidadão defender sua propriedade, em especial
de terceiros de má-fé.

b) É permitido ao juiz afastar os efeitos da personificação da


sociedade nos casos de desvio de finalidade ou confusão
patrimonial, mas não o contrário, de modo que não há nada
que Luana possa fazer para retomar os bens comunicáveis.

c) Sabendo-se que a “teoria da desconsideração da


personalidade jurídica” encontra aplicação em outros ramos
do direito e da legislação, é correto afirmar que os parâmetros

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adotados pelo Código Civil constituem a Teoria Menor, que


exige menos requisitos.

d) No caso de confusão patrimonial, gerado pela compra de bens


com patrimônio particular em nome da sociedade, é possível
atingir o patrimônio da sociedade, ao que se dá o nome de
“desconsideração inversa ou invertida”, de modo a se
desconsiderar o negócio jurídico, havendo esses bens como
matrimoniais e comunicáveis.

R–D

Associações: organização entre pessoas para fins não econômicos (art. 53


do CC), tem o condão de proporcionar o desenvolvimento de atividades diversas,
em que não é admitido obrigações e direitos divergentes entre os associados.
Requisitos essenciais previstos no art. 54, enquanto que a sua extinção gera
o direcionamento de patrimônio para outra entidade semelhante também sem fins
econômicos.
Não há limitação de finalidade senão apenas não econômica.
Sua atuação está sujeita à fiscalização do Ministério Público, em especial
quanto ao cumprimento de finalidades.
Fundações: constitui-se em empresa destinatária de bens para realização
de fins específicos, não econômicos, limitados à finalidades morais, religiosas,
culturais ou de assistência (art. 62 do CC).
A sua constituição será por composição de patrimônio do instituidor, não
podendo ter renda ou rendimentos, senão apenas sendo ‘executor’ das finalidades
para a qual fora instituída. Cite-se, como exemplo, as fundações de assistência
social mantidas por igrejas ou empresas.
Ministério Público possui prerrogativa de fiscalização das finalidades (art. 66
do CC).

4. DOMICÍLIO

Tem-se por domicílio o local de residência fixada (com ânimo definitivo) por
parte da pessoa natural (art. 70 do CC). Este conceito se amplia no caso de várias
residências, sendo todas consideradas como domicílio civil da pessoa natural.

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No caso de profissionais, em especial servidores públicos, será considerado
seu domicílio o local de exercício profissional (art. 72 do CC).
Quanto às pessoas jurídicas, será seu domicílio o local de respectiva sede,
e, quanto à eventuais filiais, o local das filias para os atos ali praticados.
As pessoas jurídicas de direito público interno possuem domicílio
determinado pelo art. 75 do CC:
Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial
no seu estatuto ou atos constitutivos.
Há situações em que o domicílio é determinado por lei (domicílio necessário),
como no caso do incapaz (o de seu representante), do próprio servidor público
(local de suas funções), do militar (onde servir ou na sede do respectivo comando),
e do preso (onde cumprir a sentença) – art. 76 do CC.
A fixação do domicílio tem importância jurídica para a fixação e cumprimento
de obrigações civis, como ocorre no caso de contratos, responsabilidade por atos
ilícitos, etc.

5. BENS

‘Bem’ é toda e qualquer coisa, material ou material, sujeita à apropriação


e/ou relação jurídica, e que tem algum valor econômico, gerando utilidade ao
homem.
A classificação de bens pelo direito civil tem o condão de viabilizar a análise
e enquadramento jurídico dos mesmos, sendo, assim, determinados por suas
respectivas características.
Bens corpóreos e incorpóreos: bens corpóreos são aqueles materialmente
constituídos, como casa, terreno, etc.; enquanto que os incorpóreos tem existência
a partir de ficção ou proteção jurídica, como no caso de marcas comerciais, direitos
autorais, etc.

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Bens imóveis: de forma geral, consideram-se imóveis o solo e o que lhe for
incorporado natural ou artificialmente (art. 79 do CC). Contudo, o art. 80 do CC
também classifica como imóveis os direitos reais que recaírem sobre imóveis e o
direito à sucessão aberta; da mesma forma, os materiais e benfeitorias retirados
provisoriamente do solo ou prédio (art. 81)
Também são enquadrados como imóveis para determinadas finalidades os
navios, aeronaves e linhas férreas, os quais estão sujeitos ao uso da hipoteca
quando utilizados na condição de garantia ou registro.
Bens móveis: segundo a classificação do art. 82 do CC, móveis são os bens
suscetíveis de movimento próprio ou de remoção por força alheia.
Incluem-se nessa classificação os denominados semoventes, onde
tradicionalmente são enquadrados os animais de grande porte (bovinos, equinos,
etc.).
Bens fungíveis: bens que se sujeitam à substituição por outros de mesma
qualidade, espécie e quantidade sem prejuízo de sua condição ou do negócio
jurídico, como no caso de dinheiro. Os infungíveis são, justamente, aqueles
individualizados, cuja substituição altera o objeto.
Bens consumíveis: são aqueles que, pelo uso, há sua destruição, como no
caso dos alimentos.
Bens divisíveis: permitem a sua divisão sem alteração de sua substância,
valor econômico ou natureza. Já os indivisíveis não são suscetíveis de divisão sem
alteração de algum desses elementos.
Lembre-se que a indivisibilidade poderá ser definida por lei (como no caso
do mínimo fracionamento de gleba ou terreno) ou por contrato.
Bens singulares: são aqueles considerados ‘de per si’, individualizado.
Bens coletivos: são aqueles que, em universalidade de bens singulares,
pertencem à pessoa e se destinam à finalidade comum.
Bens principal e acessório: principal é bem que existe de per si, enquanto
que o acessório alcança a sua existência apenas em função do principal.
Pertenças: bens cuja utilidade ou destinação agregam valor ou utilidade à
bem principal. Cite-se, como exemplo, o trator para com a propriedade rural, ou o
ar condicionado para o imóvel residencial.

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Benfeitorias: são construções agregadas ao solo ou à construção já
existente, de modo artificial. Classificam-se em:
a) necessárias – tem por fim a conservação do bem;
b) úteis – agregam utilidade ao bem;
c) voluptuárias – são de mero deleite ou aformoseamento.

XX EXAME OAB – REAPLICAÇÃO SALVADOR (2016.2)


QUESTÃO 41 Manoel, em processo judicial, conseguiu impedir que
fosse penhorado seu único imóvel, sob a alegação de que este seria bem de
família. O exequente, então, pugna pela penhora da vaga de garagem de
Manoel. A esse respeito, assinale a afirmativa correta.
A) A vaga de garagem não é considerada bem de família em nenhuma
hipótese; portanto, sempre pode ser penhorada.
B) A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de
imóveis não pode ser penhorada, por ser acessória ao bem principal
impenhorável.
C) A vaga de garagem só poderá ser penhorada se existir matrícula
própria no Registro de Imóveis.
D) A vaga de garagem que não possui matrícula própria no registro
de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.

RESPOSTA: C

Bens públicos

Bens públicos são os bens que pertencem às pessoas jurídicas de direito


público interno. Classificam-se em 03 espécies:
a) Bens públicos de uso comum do povo: são aqueles de uso comum,
abertos ao acesso ou fruição pública, como ruas, parques, rios, mares, praças, etc.
São inalienáveis.
b) Bens de uso especial: são aqueles bens destinados, ou afetados, à
determinada utilidade pública, como ocorre quanto á prédio público destinado à
escola, ambulância destinada à remoção de pacientes, etc.

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Enquanto perdurar a condição de uso especial, não poderão ser alienados
pelo ente público que lhe tenha a propriedade.
c) Bens dominicais: são os bens públicos que não são de uso comum ou que
não tenham utilidade pública. Cite-se, como exemplo, imóveis sem utilidade pública
ou bens que, outrora de uso especial, foram ‘desafetados’2.
Justamente por sua condição, poderão ser alienados na forma da lei.

6. NEGÓCIO JURÍDICO

O negócio jurídico envolve toda e qualquer relação de interesse jurídico, que


envolve partes em torno de objeto e vínculo, condicionados pela sua manifestação
de vontade e pelo cumprimento de requisitos legais.
Segundo o art. 104 do CC, a validade do negócio jurídico pressupõe três
requisitos básicos:
I – agente capaz – cuja capacidade é apurada na forma do CC, como visto
alhures;
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável – compreende o
objeto da negociação, ou seja, o bem da vida, e que pressupõe licitude,
possibilidade de realização e determinação (presente ou futura).
III – forma prescrita ou não defesa em lei – compreende a fixação de atenção
à formalidades específicas quando determinado. Cite-se, como exemplo, o
casamento, que pressupõe solenidade para a sua validade; bem como a compra e
venda de imóvel, que, conforme art. 108 do CC, pressupõe contrato particular ou
escritura pública para a validade e transferência.
Em qualquer caso, incide, a partir da nova forma de interpretação do direito
civil, os direitos fundamentais, bem como boa-fé objetiva e equidade.
Tratando-se de negócios jurídicos benéficos ou de renúncia de direitos, a
interpretação deve ser restrita.

Exame 2013.2 40ª Questão:

A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de

2
A desafetação compreende o procedimento de retirada da afetação de uso comum ou especial, o que
viabiliza a alienação de bens, como no caso de inservíveis ou sem destinação específica.

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fé pública, notadamente no que tange ao fato de o ato de declaração ter
sido praticado na presença do tabelião e ter sido feita sua regular anotação
em assentos próprios, o que não importa na veracidade quanto ao
conteúdo declarado.

A respeito desse tema, assinale a afirmativa correta.


a) Aos cônjuges ou à entidade familiar é vedado destinar parte do
seu patrimônio para instituir bem de família por escritura pública,
cuja forma legal exige testamento.

b) A escritura pública é essencial para a validade do pacto


antenupcial, devendo ser declarado nulo se não atender à forma
exigida por lei.

c) A partilha amigável entre herdeiros capazes será feita por termo


nos autos do inventário ou por escritura pública, não se
admitindo escrito particular, ainda que homologado pelo Juiz.

d) A doação será realizada por meio de escritura pública ou


instrumento particular, não tendo validade a doação verbal, tendo
em vista ser expressamente vedada pela norma.

R–B

Representação: ocorre através de mandado ou por determinação legal, sob


a responsabilidade do mandante, porém com direito de regresso sobre o
mandatário.
A representação deverá ser comprovada como forma de validade de seus
atos, salvo situações especiais previstas em lei.
No caso de negócio realizado por representante, em conflito com os
interesses do representado, o negócio é anulável.
Tal direito deve ser exercido no prazo de 180 dias, sob pena de decadência.
Tratando-se de incapaz, o prazo inicia após a cessação da incapacidade.
Condição: cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico à evento futuro
e incerto. Poderá ser na forma suspensiva ou resolutiva.
Na condição resolutiva, ocorrido o fato, o negócio jurídico resolver-se-á.
Termo: delimitação de tempo para início da fluência ou término do negócio
jurídico (art. 134 do CC).
Encargo: ônus estabelecido de modo acessório ao negócio jurídico, como a
doação de terreno à município com o encargo de construção de escola.

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A condição é requisito de efetivação do negócio jurídico, o encargo
descumprido gera a possibilidade de resolução do negócio.

Exame 2013.2 41ª Questão:

O legislador estabeleceu que, salvo se o negócio jurídico impuser


forma especial, o fato jurídico poderá ser provado por meio de
testemunhas, perícia, confissão, documento e presunção. Partindo
do tema meios de provas, e tendo o Código Civil como aporte,
assinale a afirmativa correta.
a) Na escritura pública admite-se que, caso o comparecente
não saiba escrever, outra pessoa capaz e a seu rogo poderá
assiná-la.

b) A confissão é revogável mesmo que não decorra de coação


e é anulável se resultante de erro de fato.

c) A prova exclusivamente testemunhal é admitida, sem


exceção, qualquer que seja o valor do negócio jurídico.

d) A confissão é pessoal e, portanto, não se admite seja feita


por um representante, ainda que respeitados os limites em
que este possa vincular o representado.

R–A

Nulidade dos negócios jurídicos


O descumprimento dos requisitos do art. 104 do CC geram a nulidade dos
negócios jurídicos.
A nulidade – e seu reconhecimento – retiram qualquer efeito ou validade do
negócio desde a sua celebração, pois, carecendo de requisito essencial, não possui
elemento a permitir a manutenção de sua existência, com efeitos ex tunc, portanto.
É, por ser elemento essencial do negócio, questão de ordem pública,
imprescritível quanto à alegação, conforme estabelece o art. 166 do CC:
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;

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V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para
a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem
cominar sanção.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se
dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas
daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não
verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos
contraentes do negócio jurídico simulado.
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem
convalesce pelo decurso do tempo.

Defeitos dos negócios jurídicos


Os defeitos dos negócios jurídicos, por sua natureza, permitem a
anulabilidade do negócio jurídico.
Os defeitos não afetam os elementos do art. 104 do CC, mas a manifestação
de vontade ou de elementos não essenciais dos negócios jurídicos.
Possuem, por isso, prazo de declaração (04 anos), cuja pretensão de
reconhecimento (ação anulatória) irá gerar efeitos ex nunc.

Exame 2014.1 39ª Questão:

Lúcia, pessoa doente, idosa, com baixo grau de escolaridade, foi


obrigada a celebrar contrato particular de assunção de dívida com o
Banco FDC S.A., reconhecendo e confessando dívidas firmadas
pelo seu marido, esse já falecido, e que não deixara bens ou
patrimônio a inventariar. O gerente do banco ameaçou Lúcia de não
efetuar o pagamento da pensão deixada pelo seu falecido marido,
caso não fosse assinado o contrato de assunção de dívida.

Considerando a hipótese acima e as regras de Direito Civil, assinale


a afirmativa correta.

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a) O contrato particular de assunção de dívida assinado por


Lúcia é anulável por erro substancial, pois Lúcia manifestou
sua vontade de forma distorcida da realidade, por
entendimento equivocado do negócio praticado.

b) O ato negocial celebrado entre Lúcia e o Banco FDC S.A. é


anulável por vício de consentimento, em razão de conduta
dolosa praticada pelo banco, que ardilosamente falseou a
realidade e forjou uma situação inexistente, induzindo Lúcia à
prática do ato.

c) O instrumento particular firmado entre Lúcia e o Banco FDC


S.A. pode ser anulado sob fundamento de lesão, uma vez
que Lúcia assumiu obrigação excessiva sobre premente
necessidade.

d) O negócio jurídico celebrado entre Lúcia e o Banco FDC S.A.


é anulável pelo vício da coação, uma vez que a ameaça
praticada pelo banco foi iminente e atual, grave, séria e
determinante para a celebração da avença.

R–D

Ao contrário das situações de nulidade dos negócios jurídicos, os defeitos


permitem a confirmação ou ajuste do negócio, consoante refere o art. 172 do CC:
Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.
O CC prevê, de modo geral, além da incapacidade relativa do agente, 07
espécies de defeitos dos negócios jurídicos, conforme art. 171:
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o
negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou
fraude contra credores.
São eles:
a) Erro ou ignorância: defeito decorrente de declaração de vontade emanada
de erro substancial, assim consideradas as hipóteses do art. 139 do CC (quanto ao
objeto, identidade ou qualidade essencial da pessoa, motivação essencial do
negócio);
b) Dolo: corresponde ao artifício ou ação astuciosa no sentido de viciar a
compreensão da parte, induzindo-a a realização de negócio em proveito da outra
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ou de terceiro. Se classifica3 em dolus malus, onde há a intenção de causar prejuízo
ou obter vantagem indevida; e em dolus bônus, ou tolerável, onde não há a intenção
do prejuízo, senão o exagero da condição ou objeto do negócio jurídico, sem a qual
o negócio não se realizaria.
c) Coação: situação onde a vontade da parte é viciada pelo temor de dano
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens.
Envolve situação onde o negócio só se realiza em razão da coação
praticada.
d) Estado de perigo: vício pelo qual a vontade do agente é condicionada pela
defesa de si ou de pessoa da família, em razão de grave dano conhecido,
assumindo obrigação excessivamente onerosa.

XIX EXAME OAB (2016.1) 40ª Questão:

Juliana foi avisada que seu filho Marcos sofreu um terrível acidente de carro em
uma cidade com poucos recursos no interior do Ceará e que ele está correndo
risco de morte devido a um grave traumatismo craniano. Diante dessa notícia,
Juliana celebra um contrato de prestação de serviços médicos em valores
exorbitantes, muito superiores aos praticados habitualmente, para que a única
equipe de médicos especializados da cidade assuma o tratamento de seu filho.

Tendo em vista a hipótese apresentada, assinale a afirmativa correta.

a) O negócio jurídico pode ser anulado por vício de consentimento


denominado estado de perigo, no prazo prescricional de quatro anos, a
contar da data da celebração do contrato.

b) O negócio jurídico celebrado por Juliana é nulo, por vício resultante de


dolo, tendo em vista o fato de que a equipe médica tinha ciência da
situação de Marcos e se valeu de tal condição para fixar honorários em
valores excessivos.

c) O contrato de prestação de serviços médicos é anulável por vício


resultante de estado de perigo, no prazo decadencial de quatro anos,
contados da data da celebração do contrato.

d) O contrato celebrado por Juliana é nulo, por vício resultante de lesão, e


por tal razão não será suscetível de confirmação e nem convalescerá pelo
decurso do tempo.

3
Há outras classificações menores. Para tal, ver doutrina.

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RESPOSTA: C

e) Lesão: situação onde a parte, por premente necessidade ou por


inexperiência, assume obrigação desproporcional à da parte contrária. Poderá ser
mantida se a parte beneficiada flexibilizar o negócio ao estabelecimento de seu
equilíbrio.

XX EXAME OAB – REAPLICAÇÃO SALVADOR (2016.2)


QUESTÃO 42. Bernardo, nascido e criado no interior da Bahia, decide
mudarse para o Rio de Janeiro. Ao chegar ao Rio, procurou um local para
morar. José, percebendo o desconhecimento de Bernardo sobre o valor dos
aluguéis no Rio de Janeiro, lhe oferece um quarto por R$ 500,00 (quinhentos
reais). Pagando com dificuldade o aluguel do quarto, ao conversar com
vizinhos, Bernardo descobre que ninguém paga mais do que R$ 200,00
(duzentos reais) por um quarto naquela região. Sentindo-se injustiçado,
procura um advogado. Sobre o caso narrado, com base no Código Civil,
assinale a afirmativa correta.
A) O negócio jurídico poderá ser anulado por lesão, se José não
concordar com a redução do proveito ou com a oferta de suplemento
suficiente.
B) O negócio jurídico será nulo em virtude da ilicitude do objeto.
C) O negócio jurídico poderá ser anulado por coação em razão da
indução de Bernardo a erro.
D) O negócio jurídico poderá ser anulado por erro, eis que este foi
causa determinante do negócio.

RESPOSTA: A

f) Fraude contra credores: trata-se de situação de dissipação de patrimônio,


por parte de devedor, reduzindo-o à condição de insolvente, frustrando a

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solvabilidade futura de créditos. Permite a anulação através da denominada ‘ação
pauliana’.
Difere da fraude à execução, pois nessa a dissipação patrimonial ocorre
durante processo executivo.
g) Simulação: envolve a simulação de negócio jurídico, o qual, mesmo que
formalizado, não manifestou vontade existente; normalmente tem o condão de
prejudicar terceiro ou situação jurídica. É negócio formal, mas inexistente de fato.

Exame 2014.2 43ª Questão:

Maria Clara, então com dezoito anos, animada com a conquista da


carteira de habilitação, decide retirar suas economias da poupança
para adquirir um automóvel. Por saber que estava no início da sua
carreira de motorista, resolveu comprar um carro usado e pesquisou
nos jornais até encontrar um modelo adequado.

Durante a visita de Maria Clara para verificar o estado de


conservação do carro, o proprietário, ao perceber que Maria Clara
não era conhecedora de automóveis, informou que o preço que
constava no jornal não era o que ele estava pedindo, pois o carro
havia sofrido manutenção recentemente, além de melhorias que
faziam com que o preço fosse aumentado em setenta por cento.
Com esse aumento, o valor do carro passou a ser maior do que um
modelo novo, zero quilômetro. Contudo, após as explicações do
proprietário, Maria Clara fechou o negócio.

Sobre a situação apresentada no enunciado, assinale a opção


correta.
a) Maria Clara sofreu coação para fechar o negócio, diante da
insistência do antigo proprietário e, por isso, pode ser proposta
a anulação do negócio jurídico no prazo máximo de três anos.

b) O negócio efetuado por Maria Clara não poderá ser anulado


porque decorreu de manifestação de vontade por parte da
adquirente. Dessa forma, como não se trata de relação de
consumo, Maria Clara não possui essa garantia.

c) O pai de Maria Clara, inconformado com a situação, pretende


anular o negócio efetuado pela filha, porém, como já se
passaram três anos, isso não será mais possível, pois já decaiu
seu direito.

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d) O negócio jurídico efetuado por Maria Clara pode ser anulado;


porém, se o antigo proprietário concordar com a diminuição no
preço, o vício no contrato estará sanado.

RESPOSTA: D

NULIDADE X ANULABILIDADE

É necessário ter em mente que nulidade e anulabilidade não se confundem,


pois tem foco diverso.
Como ser percebe acima, as nulidades são vícios insanáveis, que não
permitem a sua confirmação, bem como são irremediáveis – o que torna possível o
seu reconhecimento a qualquer tempo, com efeitos ex tunc. A busca do
reconhecimento de nulidade, via de regra, se dá por ação declaratória.
Já as anulabilidades são suscetíveis de confirmação, assim como possuem
prazo para o seu reconhecimento, e cuja sentença terá efeitos ex nunc. O
reconhecimento pode ocorrer através de ação anulatória, mas também por via de
declaratória e ação pauliana.

XXI EXAME OAB (2016.3)


QUESTÃO 37. André possui um transtorno psiquiátrico grave, que
demanda uso contínuo de medicamentos, graças aos quais ele leva vida
normal. No entanto, em razão do consumo de remédios que se revelaram
ineficazes, por causa de um defeito de fabricação naquele lote, André foi
acometido de um surto que, ao privá- lo de discernimento, o levou a comprar
diversos produtos caros de que não precisava. Para desfazer os efeitos
desses negócios, André deve pleitear
A) a nulidade dos negócios, por incapacidade absoluta decorrente de
enfermidade ou deficiência mental.
B) a nulidade dos negócios, por causa transitória impeditiva de
expressão da vontade.
C) a anulação do negócio, por causa transitória impeditiva de
expressão da vontade.

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D) a anulação do negócio, por incapacidade relativa decorrente de
enfermidade ou deficiência mental.

RESPOSTA: C

XXI EXAME OAB (2016.3):


Questão 38: Durante uma viagem aérea, Eliseu foi acometido de um
mal súbito, que demandava atendimento imediato. O piloto dirigiu o avião
para o aeroporto mais próximo, mas a aterrissagem não ocorreria a tempo
de salvar Eliseu. Um passageiro ofereceu seus conhecimentos médicos para
atender Eliseu, mas demandou pagamento bastante superior ao valor de
mercado, sob a alegação de que se encontrava de férias. Os termos do
passageiro foram prontamente aceitos por Eliseu. Recuperado do mal que o
atingiu, para evitar a cobrança dos valores avençados, Eliseu pode pretender
a anulação do acordo firmado com o outro passageiro, alegando
A) erro.
B) dolo.
C) coação.
D) estado de perigo.

RESPOSTA: D

7. ATOS LÍCITOS

São considerados lícitos os atos previstos/permitidos em lei, ou mesmo


aqueles não vedados no ordenamento jurídico.

É importante estabelecer, nesse ínterim, que os negócios não eivados de


vícios são considerados válidos, especialmente por que a lei estabelece a
possibilidade de celebração de atos e negócios permitidos e não proibidos.

XXI EXAME OAB (2016.3)

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Questão 39. João e Maria casaram-se, no regime de comunhão
parcial de bens, em 2004. Contudo, em 2008, João conheceu Vânia e eles
passaram a ter um relacionamento amoroso. Separandose de fato de Maria,
João saiu da casa em que morava com Maria e foi viver com Vânia, apesar
de continuar casado com Maria. Em 2016, João, muito feliz em seu novo
relacionamento, resolve dar de presente um carro 0 km da marca X para
Vânia. Considerando a narrativa apresentada, sobre o contrato de doação
celebrado entre João, doador, e Vânia, donatária, assinale a afirmativa
correta.
A) É nulo, pois é hipótese de doação de cônjuge adúltero ao seu
cúmplice.
B) Poderá ser anulado, desde que Maria pleiteie a anulação até dois
anos depois da assinatura do contrato.
C) É plenamente válido, porém João deverá pagar perdas e danos à
Maria.
D) É plenamente válido, pois João e Maria já estavam separados de
fato no momento da doação.

RESPOSTA: D

8. ATOS ILÍCITOS

Constituem atos ilícitos, na redação exata do art. 186 do CC o agente/pessoa


que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral.
A definição de ato ilícito civil importa justamente para a verificação da culpa
e consequente dever de reparação e danos.
Os atos ilícitos civis não ensejam ‘punição’, mas sim viabilidade jurídica de
reparação.
É necessário esclarecer, ainda, que não há vinculação com o ato ilícito penal,
eis que, de searas distintas, não se confundem ou comutam equivalência. Desse

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modo, um determinado ato poderá ensejar ilícito civil sem corresponder á ilícito
penal e vice versa.
Quanto à aplicação do conceito de ato ilícito civil, a veremos de modo
aprofundado na análise da responsabilidade civil.
Lembre-se, por fim, que o ato ilícito civil permite a conceituação da culpa,
base da responsabilidade civil subjetiva, a qual contrapõe-se à responsabilidade
objetiva (determinada independentemente do conceito de culpa).

9. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

O Código Civil de 2002, de modo contrário ao código de 1916, estabelece


de modo ordenado a tipificação de prescrição e decadência. Não há um conceito
definido no CC, porém a previsão de ambas as situações é visível e distinta.
De modo prático, podemos conceituar a prescrição como a perda do direito
de ação, enquanto que a decadência corresponde à perda do próprio direito
material.
Lembre-se que direito material é justamente o direito ao qual a parte sustenta
pedido ou pretensão: é a viabilidade jurídica que lhe ampara na busca do bem da
vida, sendo, o código civil, a grande fonte de direito material civil pátrio. Nesse
passo, podemos citar como exemplo de direito material o direito ao reconhecimento
de um ato ilícito civil e consequente reparação, ou relativo à um crédito financeiro.
Contudo, a pretensão de satisfação de direitos tem, por regra, o tempo a seu
desfavor: o próprio código civil, objetivando dar segurança jurídica às relações, e
dando azo ao princípio dormientibus non sucurriti ius4 (eis que as relações jurídicas
não podem ficar de modo eterno aguardando o exercício de pretensão pelas
partes), estabelece prazos para que o direito material seja buscado.
Nesse sentido, aliás, estabelece o art. 184 do CC que:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se
extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.
Assim, podemos dizer que a prescrição incidirá sobre o direito de satisfação
do direito material, ou seja, impedirá o acesso do direito através de demanda
judicial.

4
O direito não socorre os que dormem.

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Professor Me. Diogo Durigon
Também é possível concluir, assim, que a prescrição não afetará o direito o
qual, alcançado pelo prazo prescricional, qualificar-se-á como obrigação natural,
consoante se verá adiante.
Já a decadência fulminará o próprio direito material. É o caso, por exemplo,
do direito de preferência na aquisição de imóvel, que, não sendo exercido no prazo
legal de 180 dias, gera a perda do direito de preferência5.
Assim, enquanto a prescrição ataca a pretensão de satisfação do direito, a
decadência fulmina o próprio direito.

Quanto à prescrição, essa tem prazo geral de 10 anos para as ‘ações


pessoas’, bem como para as hipóteses não previstas de modo específico (em
especial no art. 206 do CC).
Vale lembrar, também, que a prescrição tem hipóteses de suspensão, não
aplicação e de interrupção:

Art. 197. Não corre a prescrição:


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante
a tutela ou curatela.
Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados
ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo
de guerra.
Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no
juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
Quanto à suspensão da prescrição, ou por sua não contagem, o prazo
simplesmente não fluirá ou permanecerá estagnado, enquanto que, na interrupção

5
Como ocorre no caso de arrendamento rural, ou quando pactuada no contrato a preferência.

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da prescrição, vale citar que a mesma redundará no reinício da contagem dos
prazos:
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma
vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se
o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do
ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

A prescrição e a decadência tem aplicação de modo especial aos direitos


pessoais (obrigacional), tendo aplicação restrita aos direitos reais eis que esses, de
modo contrário, tem por característica a perpetuidade.

PARTE ESPECIAL – DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

1. CONCEITUALIZAÇÃO
Obrigação e atos unilaterais de vontade
É possível exigir o cumprimento de prestação, diante de declaração unilateral de
vontade, como uma promessa de recompensa?
Na relação que se desenvolve quando há uma declaração unilateral de vontade,
como nos casos de promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e
enriquecimento sem causa, não há um contrato propriamente dito, ou relações bilaterais.
Há uma assunção ao cumprimento de determinada prestação decorrente de ato
unilateral, gerando a obrigação, e comprometendo-se à cumpri-la. Inclusive, tendo o
beneficiário direito de exigir o cumprimento da satisfação.

Obrigação e contrato

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As figuras da obrigação e do contrato quase se confundem, encontrando a distinção
no fato de que contrato é fonte de obrigações, ou seja, os negócios bilaterais são as
principais formas de geração de obrigações.

Obrigações e direitos reais


As obrigações se diferenciam dos direitos reais quanto à dois aspectos principais.
É necessário ter em mente que a obrigação é uma relação que envolve o cumprimento de
prestação, sendo que os direitos reais também possuem essa característica de vinculação
prestacional.
Quanto ao primeiro ponto de divergência, a obrigação possui como objeto uma
conduta humana, enquanto que na obrigação real o direito se infere sobre coisas corpóreas
e determinadas.
Em segundo lugar, temos como critério diferenciador o tempo do direito. Na
obrigação, é característica peculiar a transitoriedade, pois, cumprida a prestação, cessa a
obrigação. Seu prazo de duração se exaure na medida de cumprimento da prestação.
O direito real, por outro lado, se liga à coisa e dela se torna indissolúvel, i.e.,
permanece enquanto permanecer a coisa, sendo duradouro e absoluto, e prevalecendo
erga omnes.

Obrigações e moral
A moral não se constitui em elemento de exigibilidade jurídica, ou seja, a moral não
é capaz de originar obrigações junto ao direito.
Não obstante, a relação obrigacional surge da moral, pois é pelo aspecto moral que
o devedor comprometia-se e cumpria a obrigação. Não podendo cumpri-la, o devedor
subjugava-se a condição de escravo, cumprindo a prestação e, principalmente, mantendo
a sua honra.
As obrigações decorrem do comprometimento moral à satisfação daquilo que fora
pactuado entre duas partes.
Mesmo que não se possa exigir o cumprimento de obrigação moral, este lança sua
influência sobre todo o ordenamento jurídico, pois é com base nessa que são prescritas as
condutas em nosso sistema.

2. ESTRUTURA DAS OBRIGAÇÕES

Os elementos das obrigações

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É possível identificar, dentro das características das obrigações, elementos que lhe
são necessários para sua própria caracterização.
A obrigação decorre de uma relação entre duas ou mais pessoas, tendo como
centro um objeto (prestação), sendo uma delas o sujeito ativo (credor) e outra o sujeito
passivo (devedor), da relação.
Mesmo nas declarações unilaterais de vontade, uma das partes se compromete em
cumprir determinada obrigação, podendo o credor dessa obrigação exigir o seu
cumprimento.
Há situações em que as figuras de credor e devedor se confundem, pois cada um
é devedor e credor ao mesmo tempo.
É o caso, por exemplo, da contratação de construção de uma casa, com pagamento
parcelado, onde o empreiteiro da obra se obriga a construir a casa, ao mesmo tempo em
que é credor da prestação mensal. Por outro lado, o dono do imóvel se obriga ao
adimplemento da parcela mensal, ao mesmo tempo que pode exigir o cumprimento da
construção do imóvel no prazo estabelecido.

O sujeito ativo
Sujeito ativo é aquele que possui a obrigação a ser satisfeita; é aquele que pode
exigir o cumprimento da obrigação. Enfim, é o credor. Trata-se daquele que confia no
cumprimento da obrigação pelo devedor.
Credor pode assim ser chamado aquele que possui qualquer relação obrigacional
em seu favor, podendo-se envolver valores em espécie, bens, obrigações de fazer e não
fazer, dar, etc.
Qualquer pessoa poderá ser credor: seja ela capaz ou incapaz (menor de idade,
tutelado, curatelado, doente mental, etc.)
Quando um incapaz faz parte de determinada relação obrigacional, é o incapaz que
é considerado o credor (e até mesmo devedor), porém é representado ou assistido por
alguém (que não vai lhe tomar o posto de parte na relação negocial).
Também é possível que sejam credores pessoas físicas e jurídicas, sejam elas de
direito público ou privado. Também as associações civis se legitimam como credoras para
pleitear em ações coletivas (ex. IDEC).
Ponto de interesse é a possibilidade de modificação posterior do credor, como é o
caso dos títulos de crédito, que, em uma nota promissória não se indica o credor; ou então
no cheque, que deve ser pago ao portador.

Sujeito passivo

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Sujeito passivo é aquela pessoa obrigada pela relação jurídica, ou seja, é aquela
que deve cumprir a obrigação assumida com o credor. É o devedor.
Quando se trata de bem, a condição de devedor decorre desta titularidade, ou seja,
a situação de devedor pode ser transferida com a coisa. Cite-se como exemplo a venda de
um apartamento, onde o novo proprietário passa a ser o devedor das taxas de condomínio
que se vencerem a partir de então.
Assim como no caso de credores, há possibilidade de haver vários devedores de
uma mesma obrigação, para com um ou vários credores. Também aqui podem ser
devedores pessoas físicas e jurídicas, capazes ou incapazes.

Objeto da obrigação
O objeto da obrigação é o bem (material ou imaterial) pelo qual credor e devedor
estabelecem a obrigação. É aquilo que deve ser realizado, cumprido, omitido, prestado,
etc. Trata-se da própria obrigação.
Qualquer coisa pode ser objeto de vínculo obrigacional, desde que cumpra as
determinações dos art. 104, II e 166, II, ambos do CC (objeto lícito, possível e determinado
ou determinável – valor econômico ou moral), sob pena de nulidade ou invalidade do
negócio jurídico.
Lembre-se: licitude se refere à não vedação ou existência de amparo legal quanto
ao objeto (afasta-se, por exemplo, negociações de drogas ilícitas); possibilidade se refere
à capacidade humana, permissão legal e comerciabilidade do bem; valor econômico ou
moral, que refere ou valoração econômica ou imaterial (como obrigação de preservação
ambiental).

O vínculo obrigacional
O vínculo obrigacional é a relação jurídica que liga credor e devedor para com o
objeto desta obrigação. É a perfectibilização da obrigação. É relação jurídica por que, para
ser obrigação tutelada pelo direito, deve ser adequar à estes moldes (art. 104 do CC/02).
O vínculo obrigacional nasce tanto do acordo de vontades com de atos jurídicos
ilícitos, como de um acidente de trânsito6.

3. MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES


Aspectos gerais

6
RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Obrigações. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

32
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A realização de uma classificação das obrigações tem por objetivo distinguir
aspectos como sua eficácia, objeto, e assim, por diante. De modo a facilitar o estudo,
tomaremos as distinções recepcionadas pelo Código Civil de 2002.

Obrigações civis
Obrigações civis ou empresariais são as obrigações que possuem todas as
qualidades necessárias para a sua exigibilidade, ou seja, emitem seus efeitos no mundo
jurídico com plenitude.
Na obrigação civil, o devedor assume a obrigação para com o credor, que pode ser
positiva ou negativa, obrigando-se a cumpri-la. Em caso de não cumprimento, o credor
poderá buscar, através do Poder Judiciário, a satisfação dessa obrigação.
Temos como exemplo de obrigação civil a realização de um contrato, na forma do
art. 104 do CC; a assinatura de um título de crédito; a realização de um negócio; e assim
por diante.
A obrigação civil é formada por todos os elementos já transcrito em outros
momentos (material adicional já inserido no site), que são: sujeito ativo (credor), sujeito
passivo (devedor), objeto da obrigação e vínculo jurídico suficiente à permitir a exigibilidade
judicial do cumprimento da obrigação (ação material e ação processual).

Obrigações morais
A obrigação moral é a obrigação que decorre exclusivamente de liberalidade da
pessoa, que, sem qualquer vínculo jurídico, cumpre o dever moralmente assumido para
com outrem.
É o caso, por exemplo, do cumprimento de disposição de última vontade que não
constou no testamento; ou então de socorrer pessoas necessitadas7.
Porém, uma vez cumprida a obrigação, não é possível a sua repetição, ou seja, não
pode o devedor, após cumprir a obrigação moral, tentar a restituição da obrigação.

Obrigação natural
A obrigação natural possui todos os elementos da obrigação civil, com exceção,
apenas, do direito de ação. Ou seja, a obrigação natural se equipara à obrigação civil por
possuir credor, devedor e objeto da obrigação.
Porém, não terá o credor direito de ação em face do credor: não poderá ajuizar
ação pretendendo a cobrança ou execução de uma obrigação natural.

7
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 2.v. 20.ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 62.

33
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A obrigação natural também se equipara à obrigação moral, no sentido da
irreversibilidade de prestação cumprida: se o devedor cumpre espontaneamente a sua
obrigação, não poderá discutir o cumprimento desta ou buscar a restituição da obrigação.
O seu diferencial perante as obrigações morais é que as obrigações naturais
possuem previsão expressa no ordenamento jurídico. No caso do nosso Código Civil,
temos as obrigações prescritas (art. 882 do CC); dívidas de jogo e aposta (art. 814 a 817
do CC); empréstimo feito à menor (art. 588 – verificar exceções do art. 589 do CC).
Como exceção à regra da previsão, a concessão de gorjetas e o pagamento de
comissões para alguém não profissional que intermediou a venda, também são obrigações
naturais.
A obrigação natural, assim, não pode ser exigida, porém, uma vez cumprida pelo
devedor, não poderá ser objeto de repetição (reversão do adimplemento).
Obrigação principal e obrigação acessória
É a obrigação existente por si, abstrata ou concretamente, sem que haja
dependência ou sujeição para com outras obrigações (relações jurídicas).
É caso da obrigação assumida pelo inquilino em devolver o imóvel, findo o contrato
de locação; também é a obrigação ao pagamento de certa quantia em dinheiro, decorrente
de título de crédito.
Já a obrigação acessória é aquela obrigação cuja existência depende de outra
relação jurídica, ou seja, é a obrigação cuja existência depende da existência de outra
obrigação.
Uma vez extinta a relação jurídica principal (obrigação principal), extingue-se a
obrigação acessória.
Podemos apontar como exemplo o contrato de fiança para garantia de contrato de
locação, sendo a fiança acessório deste (art. 818 a 839 do CC); os juros de um empréstimo
(art. 323, 406 e 407 do CC); a cláusula penal, por ser uma pena imposta pelo
descumprimento do contrato (art. 408 do CC).
A natureza principal ou acessória das obrigações pode ser em decorrência de
acordo entre as partes ou em decorrência de lei.

4. OBRIGAÇÕES DE DAR
Obrigação de dar é aquela que envolve a entrega de algo pelo devedor ao credor.
Se subdivide em quatro formas distintas:
a) obrigação de dar (stricto senso): é a obrigação que envolve a transferência de
domínio ou de outros direitos reais (posse, propriedade, etc.) para o credor. É a obrigação
que envolve a entrega de determinado bem, sob o fundamento de transferência de seu

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domínio. Exemplo dessa obrigação ocorre em um contrato de compra e venda, no qual o
vendedor se compromete a entregar o imóvel (posse e propriedade) para o comprador.
b) obrigação de restituir: na obrigação de restituir, não há a transferência da
propriedade, mas apenas a posse do bem. Verificamos este tipo de obrigação nos
contratos de locação, por exemplo, onde o inquilino se obriga a restituir o imóvel ao locador
(art. 59 ao 66 da Lei nº 8245/91). Previsão dos art. 238 ao 242 do CC.
Se a coisa se perder sem culpa do devedor este não terá responsabilidade pela
coisa, sendo sua responsabilidade restrita à obrigação. Por exemplo os encargos de
aluguéis até o dia em que temporal arrancou a casa inteira, que estava sendo locada.
Relativamente aos melhoramentos, o devedor somente terá direito se houver
contribuído para isso, como a realização de reformas, o devedor terá direito à restituição
do valor, se estiver de boa-fé, de acordo com o disposto nos art. 1219 a 1222 do Código
Civil.
Da mesma forma ocorre em relação aos frutos, tendo o devedor direito se estiver
agindo de boa-fé, também de acordo com os citados dispositivos.
Fica excluída dessa regra, no entanto, a obrigação decorrente de comodato,
conforme dispõe o art. 584 do CC.
c) obrigação de contribuir: são as obrigações que impõem o dever de contribuição
por parte do devedor, como no caso do condomínio (art. 1315, 1334, I, 1336, I e §1º, todos
do CC); e da manutenção das despesas da família (art. 1568 e 1688 do CC).
Cada um, proporcionalmente à sua cota ou capacidade, deve contribuir para a
manutenção do condomínio ou das despesas familiares, respectivamente.
d) obrigação de solver dívida em dinheiro: são as obrigações que se estabelecem
pelo valor, ou seja, representam determinado valor para seu adimplemento.
É o caso do pagamento do aluguel; do preço do contrato de compra e venda; das
perdas e danos (quando do inadimplemento); e do pagamento dos juros (quando de mútuo
– empréstimo).

As obrigações de dar, após esta primeira classificação, são diferenciadas também


pela determinabilidade de seu objeto. Classificação essa adotada pelo Código Civil de
2002.

5. OBRIGAÇÕES DE DAR COISA CERTA


A obrigação de dar coisa certa constitui-se na obrigação assumida para a entrega
de bem certo e determinado, como por exemplo a entrega do veículo placas AAA0000.

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Assim, a obrigação recai apenas e tão somente sobre a coisa objeto da contratação,
não sendo o credor obrigado a receber prestação diversa daquela que foi pactuada (art.
313 do CC).
Está prevista nos art. 233 à 237 do CC.
No caso da obrigação de dar coisa certa, a obrigação principal abrangerá os
acessórios desta, salvo se diversamente tiverem estipulado as partes (art. 233 do CC).
Como há a transferência de propriedade, até que a coisa deva ser entregue, os
frutos (percebidos) e melhoramentos pertencerão ao devedor, inclusive com direito à
aumento do preço ou resolução do negócio (art. 237).
Por exemplo: na compra e venda de uma plantação de maças, as maças que
maturarem até o dia da transferência da posse pertencerão ao devedor, e as verdes, que
maturarem após a data, pertencerão ao credor.
Ainda, se a coisa a ser entregue se perder antes de sua entrega, ou mesmo sofrer
deterioração, sem que o devedor tenha culpa no evento, a obrigação se resolverá, com a
devolução de valores pagos, ou então, poderá o credor receber a coisa com o respectivo
abatimento (art. 234 e 235 do CC).
Por outro lado, tendo o devedor culpa na perda ou deterioração da coisa, poderá o
credor exigir o seu equivalente, ou o desconto da deterioração, além de indenização por
perdas e danos (art. 236 do CC).
É o caso do devedor que se obrigou a entregar um terreno com a casa. Se o
devedor não efetuou a manutenção do imóvel, vindo este a desabar, responderá pelo valor
da casa também, além de eventuais perdas e danos que o não cumprimento da prestação
tenha causado (como a necessidade do credor pagar aluguéis de um outro imóvel até
construir novamente a casa).

XIX EXAME OAB (2016.1) 42ª Questão:

A peça Liberdade, do famoso escultor Lúcio, foi vendida para a Galeria da Vinci
pela importância de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Ele se comprometeu a
entregar a obra dez dias após o recebimento da quantia estabelecida, que foi
paga à vista. A galeria organizou, então, uma grande exposição, na qual a
principal atração seria a escultura Liberdade. No dia ajustado, quando dirigia seu
carro para fazer a entrega, Lúcio avançou o sinal, colidiu com outro veículo, e a
obra foi completamente destruída. O anúncio pela galeria de que a peça não seria
mais exposta fez com que diversas pessoas exercessem o direito de restituição
dos valores pagos a título de ingresso.

Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.

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a) Lúcio deverá entregar outra obra de seu acervo à escolha da Galeria da


Vinci, em substituição à escultura Liberdade.

b) A Galeria da Vinci poderá cobrar de Lúcio o equivalente pecuniário da


escultura Liberdade mais o prejuízo decorrente da devolução do valor dos
ingressos relativos à exposição.

c) Por se tratar de obrigação de fazer infungível, a Galeria da Vinci não


poderá mandar executar a prestação às expensas de Lúcio, restando-lhe
pleitear perdas e danos.

d) Com o pagamento do preço, transferiu-se a propriedade da escultura para


a Galeria da Vinci, razão pela qual ela deve suportar o prejuízo pela perda
do bem.

Resposta: B

6. OBRIGAÇÕES DE DAR COISA INCERTA


A obrigação de dar coisa incerta é a obrigação assumida elo devedor em relação à
um objeto provisoriamente indeterminado, mas que é determinável, e cuja determinação
ocorrerá no decorrer do cumprimento da obrigação.
Assim, trata-se de obrigação cujo objeto será estabelecido apenas na espécie,
porém a sua individualização ocorrerá no cumprimento da obrigação. Outra importante
característica, além da designação da espécie (consta gênero do CC, art. 243), é a
quantidade.
Podemos citar como exemplo a obrigação assumida para a entrega de 20 sacas de
milho. A espécie (ou gênero, segundo o código), é designada pelo identificação de milho,
enquanto que a quantidade é identificada pelas 20 sacas. Quando do cumprimento da
obrigação, o devedor irá indicar quais são as sacas a serem entregues para o credor,
apartando-as.
Esse ato de definição, identificação e determinação do objeto exato da obrigação é
chamado de concentração. Via de regra, caberá ao devedor fazer esta escolha, salvo se
as partes estabelecerem de forma diversa, para que o credor ou mesmo terceiro faça a
escolha (art. 244 e 485 do CC).
Importante observar que a indeterminação do objeto é transitória, pois a há data
limite estabelecida para terminar: a data do adimplemento.
Com a concentração, ou individualização do objeto da obrigação, a obrigação de
dar coisa incerta passa para obrigação de dar coisa certa, pois já está estabelecido, com

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exatidão, o objeto da obrigação. Portanto, com a concentração, as disposições inerentes à
obrigação de dar coisa certa passam a incidir sobre a obrigação.
O ato de identificação do objeto exato da obrigação pode ocorrer a qualquer tempo
antes do adimplemento. Deve ser efetuado de maneira que o credor saiba da escolha, ou
seja, a concentração deve ser feita com a ciência de ambas as partes.
Na determinação do objeto, o Código Civil estabelece que a coisa não poderá ser
a de pior qualidade, mas o devedor não está obrigado a entregar a de melhor qualidade,
conforme art. 244.
Fato importante na obrigação de dar coisa incerta está na impossibilidade de
alegação, pelo devedor, antes da escolha, de perda ou deterioração da coisa como
fundamento para desobrigar-se da obrigação.
Exemplo: se o devedor está obrigado a entregar 10 sacas de café ao credor e, antes
de efetuada a escolha, por granizo, toda a lavoura e os estoques do galpão são danificados,
com perda total do produto, ainda assim persistirá a obrigação como se nada houvesse
ocorrido.
Por outro lado, caso a escolha já tenha sido feita, e o credor anuiu com a escolha,
estando as 10 sacas de café separadas já, dentro do galpão, que, com o granizo é
destruído, destruindo também o café, incidirão as disposições do art. 235 do CC.

Critérios de diferenciação entre obrigações de dar e fazer


É necessário fazer um parâmetro de distinção entre obrigações de dar e fazer, de
modo a evitar confusões. Deste modo, alguns pontos principais de distinção surgem:
a) na obrigação de dar, há um objeto a ser entregue pelo devedor ao credor,
enquanto que na obrigação de fazer, é o devedor que estará construindo ou elaborando
este objeto para ser entregue ao credor;
b) na obrigação de dar, temos a tradição como ato imprescindível, sendo que na
obrigação de fazer nem sempre ocorre;
c) na obrigação de dar, a pessoa do devedor fica em segundo plano, pois basta que
alguém entregue a coisa, para ela se considerar cumprida. Já na obrigação de fazer, a
figura do devedor adquire especial importância, pois será o devedor o responsável pelo
ato, e somente excepcionalmente terceiro cumprirá a obrigação;
d) diante do inadimplemento, via de regra, a obrigação de dar comporta execução
(execução para entrega de coisa), enquanto que na obrigação de fazer, descumprida a
obrigação, via de regra teremos apenas a resolução por perdas e danos (art. 389 do CC).
Como exemplos da distinção entre obrigação de dar e obrigação de fazer podemos
citar: a) na compra e venda, o vendedor tem obrigação de entregar a coisa (dar) e responde

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pelos vícios redibitórios (fazer); b) na empreitada, o empreiteiro se compromete a fornecer
a mão de obra (fazer) e fornecer os materiais (dar).

7. OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

Obrigações de fazer
A obrigação de fazer é aquela que decorre da obrigação à determinada atitude. Ou
seja, é quando alguém se compromete a realizar determinada tarefa física (como o
empreiteiro que se obriga à pintura de um prédio), intelectual (como o escritor que se
compromete a escrever artigos para um jornal) ou um ato jurídico (como o vendedor que
se compromete a outorgar a escritura definitiva em contrato de compra e venda).
A obrigação de fazer não se confunde com obrigação de dar, haja vista que esta
demanda na entrega de algo, enquanto que a primeira se refere à atitude positiva que pode
ou não envolver uma entrega (pode ser a realização de determinada tarefa, por exemplo).
Podemos citar vários exemplos, como as obrigações de cunho contratual,
prestação de serviços, prestação de um fato, realização de obras, realização de obra
imaterial, obrigações decorrentes de lei ou da vida (dever de prestar alimentos e amparo).
Via de regra, as obrigações de fazer devem ser cumpridas pelo devedor, tal como
assumido em contrato, haja vista que é da essência da relação jurídica que essa fique
adstrita às partes envolvidas. Ou seja, em princípio, as obrigações de fazer seguem a
infungibilidade.
Da mesma forma que o devedor tem a obrigação de cumprir esta, em virtude da
pessoalidade, ao credor não é possível impor receber o cumprimento da prestação de
terceiro que não o devedor (art. 247, CC).
Eventual impossibilidade de cumprimento pessoal, quando infungível a obrigação,
se resolverá em perdas e danos, conforme estabelecido no art. 247 e 402 e ss. do CC/2002.
Relativamente à inadimplência obrigacional, temos duas soluções distintas:
segundo prescreve o art. 248 do Código Civil, tornando-se impossível a obrigação sem
culpa do devedor, resolve-se a obrigação.
Tendo o devedor colaborado para a inadimplência, este responderá não apenas
pelo que já recebera (tendo que devolver), mas também por perdas e danos que a
inadimplência tenha causado.
Importante lembrar que em se tratando de obrigação inadimplida no momento
oportuno, é possível buscar o cumprimento e, somente quando for impossível o
cumprimento, é que se converterá em perdas e danos.

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Outro aspecto importante quanto ao cumprimento das obrigações, está contido no
direito do consumidor, em especial no art. 35 da lei 8078/1990.
No caso de negativa em cumprir a obrigação, a simples mora autoriza, caso fungível
a obrigação, a busca de outra pessoa, de imediato, para executar a prestação às custas
do devedor, na forma do art. 249 do CC/02. Neste caso, o credor poderá buscar ainda
perdas e danos.
A ação para o cumprimento de obrigação de fazer é a execução, prevista no art.
815 e ss. do novo CPC. Para a execução, é fixado prazo para o devedor cumprir a
obrigação (art. 816 do novo CPC).
Não sendo cumprida pelo devedor, poderá requerer judicialmente a designação de
terceiro para cumprir a obrigação às custas do devedor – art. 819 do novo CPC. Poderá
ainda o próprio exeqüente realizar a prestação – art. 819 e 817 do novo CPC.
Após a realização da obrigação, efetuar-se-á a liquidação dos valores, podendo ser
executados como quantia certa. Tudo isso se processa nos próprios autos da execução.
No caso de obrigação infungível, somente é possível buscar o cumprimento contra
o próprio devedor. É possível buscar a fixação de astreintes (art. 536, § 1° do novo CPC),
mas, via de regra, converter-se-á em perdas e danos – art. 821 do novo CPC.

EXAME 2013.2 37ª Questão:

Visando ampliar sua linha de comércio, Mac Geral & Companhia


adquiriu de AC Industrial S.A. mil unidades do equipamento
destinado à fabricação de churros. Dentre as cláusulas contratuais
firmadas pelas partes, fez-se inserir a obrigação de Mac Geral &
Companhia realizar o transporte dos equipamentos, exclusivamente
e ao preço de R$100,00 - por equipamento, por meio de Rota
Transportes Ltda., pessoa estranha ao instrumento contratual
assinado.

Com relação aos contratos civis, assinale a afirmativa incorreta.


a) AC Industrial S.A. poderá exigir de Mac Geral & Companhia o
cumprimento da obrigação firmada em favor de Rota
Transportes Ltda.

b) Ao exigir o cumprimento da obrigação, Rota Transportes Ltda.


deverá efetuar o transporte ao preço previamente ajustado
pelas partes contratantes.

c) Somente Rota Transportes Ltda. poderá exigir o cumprimento


da obrigação.

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d) AC Industrial S/A poderá reservar-se o direito de substituir


Rota Transportes Ltda., independentemente de sua anuência
ou de Mac Geral & Companhia.

R–C

8. OBRIGAÇÕES PROPTER REM

As obrigações propter rem, também denominadas de obrigação com eficácia real,


são aquelas decorrentes de algum direito real, mas que vinculam o detentor de tal direito.
Temos como típico exemplo de tal obrigação aquelas decorrentes da propriedade
de imóvel, quais sejam o pagamento de IPTU e da taxa condominial.
Trata-se, portanto, de vínculo obrigacional pessoal, que, antes de ser fonte de pacto
específico com outra pessoa, nasce com a estipulação de um direito real. nesse passo,
vale citar a posição de alguns doutrinadores acerca desse instituto:
Para Maria Helena Diniz, a obrigação propter rem gera a “vinculação a um
direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou
possuidor", com "possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito
real, renunciando o direito sobre a coisa", e onde ocorre a "transmissibilidade por
meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente".
No dizer de Sílvio Rodrigues, tal obrigação “prende o titular de um direito real, seja
ele quem for, em virtude de sua condição de proprietário ou possuidor", onde "o devedor
se livra da obrigação pelo abandono do direito real"; de modo que "a obrigação se transmite
aos sucessores a título singular do devedor".
Por fim, Silvio de Salvo Venosa refere que "trata-se de relação obrigacional que se
caracteriza por sua vinculação à coisa", sendo que "o nascimento, a transmissão e a
extinção da obrigação propter rem seguem o direito real, com uma vinculação de
acessoriedade"; ao passo que "a obrigação dita real forma, de certo modo, parte do
conteúdo do direito real, e sua eficácia perante os sucessores singulares do devedor
confere estabilidade ao conteúdo do direito".
Importante citar, como complemento, que a extinção da obrigação real se dá pelo
abandono do referido direito, assim como também poderá ser transmitido à terceiros, a
título gratuito, oneroso ou por sucessão.
Por fim, a obrigação real acompanha o bem onde quer e com quer que ele se
encontre, de tal modo que a responsabilidade pelo seu adimplemento irá acompanhar o
bem, mesmo em caso de alienação ou sucessão.

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9. OBRIGAÇÕES DE NÃO FAZER

Nas obrigações de não fazer, o objeto da prestação é uma atitude de omissão, ou


melhor, o dever de se abster à realização de determinada conduta.
Temos como exemplo a obrigação negativa de sublocação em um contrato de
locação; obrigação de servidão (art. 1378 e 1383 do CC); indisponibilidade de uso do bem
depositado (art. 640 do CC); não construção de edifícios em um loteamento; e assim por
diante.
A título de divisão, temos três espécies de obrigações de não fazer:
a) de não fazer algo (como não construir uma casa de festas em imóvel vendido);
b) de tolerar fato natural ou atividade alheia (como receber águas do terreno
superior – art. 563 do CC);
c) de consentir a prática de determinado ato (como a vistoria para venda de imóvel
locado).
Havendo situações específicas em que não se pode evitar o inadimplemento da
prestação, opera-se a resolução da obrigação de não fazer, conforme art. 250 do CC.
São situações como em um contrato de locação, sendo vedada a moradia de mais
pessoas além do locatário, surge a necessidade de acolher um familiar que não possui
outro local para se abrigar.
Com o inadimplemento involuntário, pode o credor reclamar a resolução do
contrato, ou desfazimento às custas do devedor (art. 251 do CC).
Deverá o devedor responder ainda por perdas e danos, independentemente de ter
obrado ou não com culpa, porém a partir de apuração caso a caso.
Poderá o credor, ainda, em caso de urgência, desfazer ele próprio, ou terceiro, o
ato feito pelo devedor, mesmo sem autorização judicial.
Para a execução (desfazimento da ação), aplica-se o disposto no art. 822 e 823 do
novo CPC. Há praticamente uma transformação da obrigação de não fazer para uma
obrigação de fazer, na medida em que o devedor será compelido ao desfazimento do seu
ato, que gerou o inadimplemento da obrigação.
Cite-se como exemplo a determinação judicial para abstenção de protesto ou
restrição creditícia até o julgamento de processo judicial: trata-se de determinação judicial
e, havendo descumprimento, responderá por este o devedor da obrigação assim como por
eventuais prejuízos.
Ainda, podemos citar como exemplo a necessidade de destruição de beiral de casa
que avança no terreno vizinho – art. 1300 do CC.

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Novamente aqui, nas obrigações de não fazer, se aplica com propriedade a fixação
de astreintes, na forma do art. 536, § 1º do novo CPC.

Defesa na execução das obrigações de dar, fazer e não fazer


A defesa no caso de execução, se dá como em qualquer outra execução, mediante
embargos, ou por meio de outras formas processuais extra ordinárias.
Os embargos se regem pelo disposto no art. 914 e ss. do novo CPC (ver art. 919
do novo CPC).

10. OBRIGAÇÕES ALTERNATIVAS, SIMPLES E FACULTATIVAS

Obrigações simples
Obrigações simples são aquelas que cuja prestação recai somente sobre uma coisa
ou sobre um ato, liberando-se o devedor quando cumprir essa obrigação.
Podemos dizer que uma obrigação é simples, também, quando não for cumulativa,
alternativa ou facultativa.
Temos como exemplo a obrigação para pagamento de um saco de cimento
comprado em uma loja de materiais de construção.

Obrigações alternativas
É a obrigação que contém dois ou mais objetos distintos, onde o devedor se libera
do vínculo obrigacional com o cumprimento de apenas um deles, mediante escolha sua,
do credor ou de terceiro.
Possui como características duas ou mais prestações para opção de serem
escolhidas e, com o adimplemento de uma, exonera-se o devedor das demais.
É o caso, por exemplo, da obrigação em que o devedor pode entregar uma carga
de maças ou uma motocicleta para o credor, sendo que a entrega de apenas uma delas o
exonera do encargo.
A escolha deverá ser feita até o momento do adimplemento, cabendo inicialmente
ao devedor este direito de escolha. Contudo, se as partes estipularem de forma diversa,
poderá o credor ou mesmo terceiro efetuar a escolha – art. 252 do CC.
Tão logo efetuada a escolha, esta gera obrigatoriedade e a obrigação se concentra
naquele objeto escolhido. A escolha é, além de obrigatória, irrevogável, salvo se forem
prestações periódicas, cuja opção ocorrerá à cada período 9art. 252, §2º do CC.

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O Código Civil, objetivando valorizar a boa-fé, veda que a obrigação seja comprida
parte com um dos objetos e parte com outro, haja vista que o direito de escolha demanda
na opção pela totalidade do objeto.
Há situações onde, com ou sem culpa do devedor, haverá o perecimento de uma
ou de todos os objetos de escolha, impossibilitando o cumprimento da obrigação.
a) quando a escolha couber ao devedor:
Se, sem culpa do devedor, uma das prestações não puder mais ser satisfeita, a
obrigação se concentra na outra obrigação, devendo esta ser cumprida pelo devedor – art.
253 do CC.
Se todas as prestações se tornarem inexeqüíveis, sem culpa do devedor, a
obrigação será extinta, resolvendo-se o contrato – art. 256 do CC.
No entanto, se, por culpa do devedor, as prestações se tornarem inexeqüíveis, o
devedor responderá pelo valor da última que se impossibilitou o cumprimento, bem como
será responsável por perdas e danos em favor do credor – art. 254 do CC.
b) quando a escolha couber ao credor:
Se a escolha couber ao credor e, sem culpa do devedor, uma das prestações
perecer, novamente a obrigação se concentra na prestação remanescente.
Quando, por culpa do devedor, uma das prestações se tornar inexeqüível, o
devedor será compelido ao cumprimento da prestação remanescente ou ao pagamento de
indenização pelo valor da outra e perdas e danos.
Caso, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornem impossíveis de
cumprimento, o credor poderá optar em exigir o valor de qualquer uma delas, bem como
indenização por perdas e danos – art. 255 do CC.

(XIX EXAME OAB – 2016.1) 37ª Questão:

No dia 2 de agosto de 2014, Teresa celebrou contrato de compra e venda com


Carla, com quem se obrigou a entregar 50 computadores ou 50 impressoras, no
dia 20 de setembro de 2015. O contrato foi silente sobre quem deveria realizar a
escolha do bem a ser entregue.

Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.

a) Trata-se de obrigação facultativa, uma vez que Carla tem a faculdade de


escolher qual das prestações entregará a Teresa.

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b) Como se trata de obrigação alternativa, Teresa pode se liberar da


obrigação entregando 50 computadores ou 50- impressoras, à sua
escolha, uma vez que o contrato não atribuiu a escolha ao credor.

c) Se a escolha da prestação a ser entregue cabe a Teresa, ela poderá optar


por entregar a Carla 25 computadores e 25- impressoras.

d) Se, por culpa de Teresa, não se puder cumprir nenhuma das prestações,
não competindo a Carla a escolha, ficará aquela obrigada a pagar
somente os lucros cessantes.

Resposta: B

Obrigação facultativa
Obrigação facultativa é aquela cujo objeto, desde que permitida por lei ou pelo
acordo entre as partes, pode ser substituído por outro, de forma a facilitar o adimplemento
pelo devedor – artigo 643 do Código Civil Argentino
Não se trata de possibilidade de escolha, mas sim de substituição do objeto.
Não está prevista no ordenamento jurídico brasileiro, mas pode ser estipulada pelas
partes.

11. OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL

É aquela onde, havendo mais de um credor ou mais de um devedor, a prestação


pode ser cumprida parcialmente, sem prejuízo da substância da coisa ou de seu valor.
Importante: a divisibilidade ou indivisibilidade se dá em relação à prestação e não
em relação à coisa (objeto da prestação).
Em casos onde há diversos devedores, cada um dos devedores presumir-se-á
responsável por cota equivalente aos demais. Temos obrigações divisíveis em diversos
artigos do Código Civil: 252, §2º; 455; 812; 776; 830; 831; 858; 1297, 1266; 1272; 1326;
1968; 1997; e 1999.
Por exemplo: havendo uma dívida dos devedores A, B, C, D e E para com o Credor
X, no valor de R$.10.000,00, presume-se que cada um dos devedores é responsável por
R$.2.000,00 perante o credor.
Da mesma forma, se temos vários credores e apenas um devedor, presume-se que
deve a mesma quantia para cada credor: se o débito for de R$.50.000,00 e são 2 os
credores, presume-se que o devedor deva R$25.000,00 para cada um dos credores.

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Portanto, a responsabilidade, na obrigação divisível, é parcial, sendo que o
cumprimento parcial exonera o devedor que a cumpriu –art. 259 do CC.
Em caso de remissão ou prescrição da obrigação, esta se opera apenas em relação
ao devedor que se beneficiou – art. 204 do CC.
Em caso de inadimplemento de um dos devedores, será o credor que arcará com
o prejuízo, pois cada um dos devedores será responsável por sua cota parte apenas.

12. OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL

É a obrigação cuja prestação somente poderá ser cumprida por inteiro, que, em
virtude da natureza, ordem econômica ou razão determinante do negócio jurídico, não
comporta divisão – art. 257 do CC.
Podemos dizer que há indivisibilidade quando a prestação perder a sua essência
ou quando, em virtude da divisão, há perda da viabilidade econômica.
Dessa forma, a indivisibilidade pode ser:
a) física ou material: quando a prestação não pode ser dividida em virtude de suas
características particulares, como no caso da entrega de um cavalo de corrida famoso.
b) legal ou jurídica: se a prestação for indivisível por determinação legal, como no
caso da impossibilidade de divisão de imóvel rural inferior ao módulo rural (conforme lei nº
4504/64).
c) convencional ou contratual: quando a indivisibilidade da prestação é estabelecida
pelas partes. Por exemplo: contrato de conta corrente onde os créditos e débitos se fundem
num todo.
d) Judicial: ocorre quando a indivisibilidade é determinada judicialmente.
Na obrigação indivisível, a responsabilidade de qualquer dos devedores é pela
dívida toda – art. 259 do CC. Aquele que adimplir a dívida, tomará o lugar do credor,
podendo cobrar dos demais as respectivas cotas partes.
Em caso de pluralidade de devedores, podemos destacar outras características:
a) O credor não pode recusar pagamento por inteiro feito por um dos devedores
b) Nulidades estendem-se à todos;
c) Insolvência de um devedor não prejudica o credor, pois poderá demandar dos
demais o adimplemento da prestação indivisível.
Em caso de pluralidade de credores, o pagamento deverá ser feito à todos os
credores conjuntamente, ou então, à um ou uns, desde que possuam caução de ratificação
(autorização) dos demais credores – art. 260 do CC.

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Havendo insolvência, qualquer um dos credores poderá exigir o débito por inteiro,
porém deverá reportar-se aos demais após o adimplemento forçado.
Se apenas um dos credores se beneficiar da prestação, mesmo que com
autorização dos demais, este deverá compensar os outros, em dinheiro, por suas
respectivas partes – art. 261 do CC.
Em caso de remissão, transação, novação, compensação ou confusão da dívida
por parte de um dos credores, estes não produzirão efeitos perante o direito dos demais
credores, que excluirão a parte deste credor apenas – art. 262 do CC.
A indivisibilidade pode desaparecer por perda do motivo (como alteração de lei,
revogação de ordem judicial, etc.), regulando-se, a partir daí, pelas regras da divisibilidade.
Havendo inadimplemento e sendo impossível o cumprimento da prestação, esta se
resolverá em perdas e danos. Neste caso também ocorrerá a perda da indivisibilidade.
Quando o inadimplemento ocorrer por culpa de todos os devedores, todos
responderão, em partes iguais, pelas perdas e danos. No entanto, sendo apenas um deles
o culpado, apenas o culpado responderá pelas perdas e danos – art. 263 do CC.
Se as partes estipularam cláusula penal, todos os devedores, culpados ou não,
responderão pelo valor da cláusula penal estabelecida, de acordo com suas respectivas
cotas parte. Porém, somente poderá ser demandado o valor total da cláusula penal daquele
devedor que tiver culpa pelo inadimplemento.

13. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

Especificidades
Obrigação solidária é aquela em que, havendo multiplicidade de credores ou
devedores, ou de uns e outros, cada credor terá direito à totalidade da prestação, como se
fosse o único credor, ou cada devedor estará obrigado pelo débito todo, como se fosse o
único devedor. – Maria Helena Diniz.
A solidariedade implementa à obrigação uma garantia ao credor, de modo que
obriga à todos os devedores quanto à totalidade da prestação obrigacional.
A solidariedade adquire importância na medida em que representa elemento de
grande segurança nas transações, convenções ou contratos celebrados no mundo jurídico.
Há uma garantia bem maior quanto ao cumprimento das avenças e cláusulas, porquanto
aos credores abre-se a faculdade de demandar qualquer um dos obrigados. Os patrimônios
de todos os envolvidos ficam adstritos à garantia do cumprimento, até a sua satisfação
integral. Diluem-se os riscos de inadimplência dos compromissos, o que enseja o
incremento das relações econômicas. – Arnaldo Rizzardo.

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A obrigação solidária se caracteriza pela pluralidade de relações jurídicas que se
estabelecem entre credores e devedores, são as chamadas “relações externas”, onde cada
devedor será obrigado pela sua parte e dos demais devedores para com o credor ou
credores. De outro lado, existem “as relações internas”, isto é, entre os próprios credores
ou devedores. Aquele que demandou o recebimento da totalidade do crédito deve transferir
para os demais credores a parcela correspondente à sua quota. Do mesmo modo, ao que
pagou por inteiro a dívida, faculta-se que reclame, perante os demais obrigados, a
compensação da porção à parte que lhe cabia satisfazer. Não convindo voluntariamente
na reposição das quotas, reconhece-se o direito de agir regressivamente ao que pagou.
Importante lembrar que, na obrigação solidária, podemos ter: a) um credor e vários
devedores; b) vários credores e um devedor; e c) vários credores e vários devedores.
Como principais características da solidariedade, podemos apontar:
a) pluralidade de sujeitos ativos (credores) e/ou passivos (devedores), sendo
pois imprescindível a sua existência, haja vista que não há como cogitar de solidariedade
sem que haja dois ou mais sujeitos envolvidos na relação;
b) multiplicidade de vínculos, pois cada um dos devedores possui um vínculo
com cada um dos credores;
c) unidade de prestação, pois cada um dos devedores responde pela totalidade
da obrigação e cada credor possui o direito de exigir a totalidade da obrigação;
d) Co-responsabilidade ou responsabilidade comum dos interessados, na
medida em que todo o pagamento feito por um dos devedores extingue a obrigação,
enquanto que o recebimento por qualquer dos credores também põe termo ao vínculo
obrigacional.
Obs. Não confundir a solidariedade com a indivisibilidade. Existem alguns pontos
de semelhança, como a exigibilidade da obrigação inteira, ou não em partes, e a pluralidade
de credores ou devedores, mas, na solidariedade tem-se um direito em todo o crédito, ou
firma-se a obrigação sobre a dívida inteira. Já na indivisibilidade, a totalidade dos credores
coloca-se no papel de exigir por força da inviabilidade de partir-se a obrigação ou a coisa,
que se dividida tornar-se-ia imprestável ou sem utilidade. Na solidariedade se houver
pluralidade passiva qualquer devedor poderá pagar e na ativa, qualquer credor poderá
receber não necessitando apresentar nenhuma garantia de que irá repassar. Já na
indivisibilidade o credor tem que apresentar a caução de ratificação que garante aos
demais o direito à parte da prestação recebida.
Art. 260- se não tiver a caução ou pagar conjuntamente terá que pagar novamente.
– Indivisibilidade. “Quem paga mal, paga duas vezes”.
Art.264- não necessita pagar aos demais- solidariedade.

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Princípios da solidariedade
Como princípios norteadores da solidariedade, podemos elencar dois principais:
a) variabilidade do modo de ser da obrigação na solidariedade, pois a
solidariedade admite a estipulação com condição, prazo e local diferenciados entre os
credores ou devedores, sem que perca a sua essência. Circunstância essa que jamais
poderá agravar a situação dos demais – art. 278 do CC;
b) não presunção da solidariedade, pois, por ser encargo que agrava a situação
dos devedores, deve a solidariedade ser decorrente de lei ou decorrente da vontade
das partes, afastando-se a solidariedade presumida do ordenamento jurídico brasileiro –
art. 265 do CC.
Em caso de omissão legislativa ou falta de disposição expressa em contrato, não
poderá haver solidariedade.

Fontes das obrigações solidárias


Conforme vimos acima, a solidariedade de nenhuma forma será presumida. Assim,
somente terá como fontes a lei e a vontade entre as partes.
No caso de previsão legislativa podemos verificar a determinação de solidariedade
nos seguintes casos: responsabilidade dos comodatários (art. 585 do CC);
responsabilidade dos gestores (art. 867, § único do CC); responsabilidade do fiador (art.
829 do CC); responsáveis do art. 942 do CC; e assim, por diante.
Outro exemplo de solidariedade legal verifica na previsão do art. 12 da lei nº 8.078
de 11.09.1990 (Código de Defesa do Consumidor) que dispõe: “O fabricante, o produtor, o
construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.”
Observe-se que se tratam apenas de solidariedade passiva, haja vista a
inexistência de casos de solidariedade ativa no ordenamento jurídico brasileiro.
No caso de convenção entre as partes, podemos citar as disposições testamentais,
contratos, etc. A disposição da solidariedade deve ser manifesta e expressa.
O art. 266 dispõe: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-
credores ou co-devedores, e condicional ou a prazo, ou pagável em lugar diferente para
outro”. Nota-se que aparecem duas modalidades: a pura ou simples, e a condicional, ou a
prazo, ou pagável em lugar diferente. No primeiro tipo, incluem-se aquelas que devem

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simplesmente ser cumpridas sem aguardar uma condição ou evento. Estabelecida a
obrigação nasce o direito em exigi-la ou a imposição de cumpri-la. Já na condicional, ou a
prazo (a termo), ou pagável em lugar diferente, aguarda-se que venha o fato ou a condição
determinante para o cumprimento, ou a ocorrência de determinado evento; ou espera-se
que ocorra a data prevista; ou é pagável em lugar diferente daquele que normalmente
deveria ser, sendo consignado onde se fará.
Por exemplo, estabelece-se que o empreiteiro é responsável (obrigação pura ou
simples), mas que, se não concluírem a obra (condição) também serão responsabilizados
o mestre-de-obras e os próprios subempreiteiros (obrigação condicional).
Solidariedade ativa (de credores)
Na solidariedade ativa, qualquer credor pode exigir a prestação por inteiro do
devedor ou dos devedores – art. 267 e 275 do CC. Da mesma forma, o pagamento pode
ser à qualquer credor.
Um exemplo clássico de solidariedade ativa está no contrato de depósito bancário
em conjunto ou conta corrente conjunta.
Este credor que receber a prestação dará quitação integral, ou seja, o pagamento
feito pelo devedor ao credor solidário o desonera da obrigação, mesmo sem autorização
dos demais credores. Este pagamento, porém, deve ser feito até que algum dos credores
demande judicialmente a prestação – art. 268 e 269 do CC.
Assim como qualquer credor pode receber a dívida por inteiro, poderá também
ajuizar medidas que visem assegurar o adimplemento da obrigação, além da própria
execução da prestação.
Vindo a falecer o credor solidário, e ficando pendente o crédito de pagamento,
transmite-se o direito que tinha o credor em sua integralidade para a herança. A herança
(herdeiros em conjunto ou único herdeiro) tem a legitimidade para exigir a totalidade do
credito. Havendo mais de um herdeiro, não pode cada herdeiro ser considerado titular do
crédito integral de seu pai ( na relação interna), sendo proprietário apenas da cota-parte
que lhes toca em quinhão, e, com muito maior razão, não o poderá ser do crédito total (na
relação externa) . Ou seja, os herdeiros não se revestem dos mesmos direitos assegurados
ao credor originário. Não se estendem a eles as prerrogativas de receber a totalidade do
crédito. Art. 270 CC.
Quando houver compensação, transação, remissão e novação da dívida por
qualquer um dos credores solidários, estas emitem seus efeitos para todas as relações,
aproveitando-se à todos os demais devedores.

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Se, por exemplo, um dos credores perdoa a dívida do devedor, o devedor estará
completamente exonerado da obrigação, sendo que este credor responderá perante os
demais credores – art. 272 do CC.
A constituição em mora de um credor prejudicará os demais, considerando-se todos
em mora perante o devedor, e vice-versa.
Convertendo-se a prestação em perdas e danos, a solidariedade permanecerá
inalterada.
As exceções pessoais que o devedor tiver com um dos credores não se estendem
aos demais credores. Mesmo que um dos credores tenha uma obrigação pessoal para com
o devedor, ou que este possua um crédito, não cabe abatimento ou compensação da
dívida. Art. 273 CC.
Todavia, se um dos credores move a ação própria, para a satisfação de seu crédito,
e vindo alegada alguma defesa ou exceção pessoal, como a compensação, ou a
ilegitimidade do credor para receber o crédito, a decisão favorável ao devedor não atinge
os demais credores, que estão habilitados a promover o cumprimento da obrigação. O
julgamento favorável, ao credor, contra o devedor, aproveita os demais credores, a menos
que se funde em exceção pessoal própria do credor, como um crédito que o devedor alega
possuir, e que a decisão judicial não o reconhece. – Art. 274 CC

EXAME 2015.2
38ª Questão:

Gilvan (devedor) contrai empréstimo com Haroldo (credor) para o pagamento com
juros do valor do mútuo no montante de R$10.000,00. Para facilitar a percepção
do crédito, a parte do polo ativo obrigacional ainda facultou, no instrumento
contratual firmado, o pagamento do montante no termo avençado ou a entrega do
único cavalo da raça manga larga marchador da fazenda, conforme escolha a ser
feita pelo devedor.

Ante os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.


a) Trata-se de obrigação alternativa.

b) Cuida-se de obrigação de solidariedade em que ambas as prestações


são infungíveis.

c) Acaso o animal morra antes da concentração, extingue-se a obrigação.

d) O contrato é eivado de nulidade, eis que a escolha da prestação cabe


ao credor.

Resposta - A
Solidariedade passiva

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Na solidariedade passiva, temos pluralidade de devedores que, juntos ou
individualmente, respondem pela integralidade da prestação. Podemos destacar os
principais aspectos da solidariedade passiva:
O credor poderá escolher entre os devedores, um ou todos, para o cumprimento da
obrigação; podendo exigir o adimplemento total ou parcial de qualquer obrigado;

Solidariedade passiva X Fiança


Aparentemente, parece confundir-se a solidariedade com a fiança. Distintas, no
entanto, as figuras, embora vizinhas e, em ambas seja possível reclamar a satisfação da
dívida, a fiança é de sua natureza um contrato acessório, onde o fiador solve a obrigação
do afiançado, ou do devedor e não a sua. Já na solidariedade, é satisfeita a dívida de quem
solve a obrigação da dívida ou de seus coobrigados. O fiador pode invocar o beneficio de
ordem, ou postular que antes de seus bens sejam executados os do devedor principal o
que não ocorre com o devedor solidário.
O devedor solidário vem aparecendo com maior freqüência em contratos, pois ao
contrario da fiança não exige consentimento do cônjuge o que representa um risco maior
para o credor já que em caso de execução o cônjuge poderá entrar com embargos e
garantir sua meação.
Uma vez demandado o devedor solidário, não cabe chamar a lide, ou reclamar a
participação no feito, dos demais coobrigados. Ocorre que cada um é responsável pela
totalidade da dívida. Art. 275 CC
Em caso de falecimento de um dos devedores solidários, a solidariedade
permanecerá, sendo que o espólio do falecido continuará respondendo pela integralidade
da dívida. Os herdeiros do falecido, contudo, somente responderão até o limite de seu
quinhão (totalidade do espólio) – art. 276 do CC.
Em caso de pagamento parcial feito por um dos devedores, ou remissão por ele
obtida, o saldo remanescente da prestação continuará sob responsabilidade de todos os
devedores, mesmo daquele que já fez pagamento parcial – art. 277.
Nenhuma cláusula ou disposição especial, estabelecida entre o credor e um dos
devedores, poderá agravar a obrigação dos demais devedores sem a sua anuência (art.
278 do CC).
Em caso de renúncia da solidariedade pelo credor, em favor de apenas um dos
devedores, apenas à este se aproveita o benefício, permanecendo responsável, contudo,
pela sua parte proporcional à parte dos demais co-obrigados.

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Em caso de novação feita pelo devedor com apenas um dos devedores, sem a
anuência dos demais, apenas este será responsável pela obrigação a partir de então,
estando os demais devedores exonerados do encargo – art. 365 do CC.
Da mesma forma, se ocorrer transação em relação à integralidade, apenas entre
um devedor e o credor, extingue-se a obrigação perante os demais devedores – art. 844,
§3º do CC.
Em caso de cessão de crédito, esta somente terá validade se todos os devedores
forem notificados (assunto que será estudado nas próximas aulas).
Quando apenas um dos devedores pagar a dívida, terá direito de buscar dos demais
a quota equivalente de cada um deles, sub-rogando-se no direito do credor em relação à
quota parte dos demais – art. 283 do CC.
Se, dentre os devedores, houver um insolvente, os demais devedores, inclusive
aqueles exonerados da solidariedade pelo credor, farão o rateio da parte do devedor
insolvente – art. 284 do CC.
Ocorrendo o inadimplemento, todos os devedores responderão pelos juros da mora.
Porém o culpado responderá perante os demais devedores pelos encargos acrescidos à
prestação – art. 280 do CC.
Se a prestação se tornar impossível, por culpa de apenas um, todos responderão
pelo valor equivalente a prestação. Apenas o devedor culpado responderá pelas perdas e
danos – art. 279 do CC.

XXI EXAME OAB – QUESTÃO 41. Felipe e Ana, casal de


namorados, celebraram contrato de compra e venda com Armando,
vendedor, cujo objeto era um carro no valor de R$ 30.000,00, a ser pago em
10 parcelas de R$ 3.000,00, a partir de 1º de agosto de 2016. Em outubro
de 2016, Felipe terminou o namoro com Ana. Em novembro, nem Felipe nem
Ana realizaram o pagamento da parcela do carro adquirido de Armando.
Felipe achava que a responsabilidade era de Ana, pois o carro tinha sido
presente pelo seu aniversário. Ana, por sua vez, acreditava que, como
Felipe ficou com o carro, não estava mais obrigada a pagar nada, já que ele
terminara o relacionamento.
Armando procura seu(sua) advogado(a), que o orienta a cobrar
A) a totalidade da dívida de Ana.
B) a integralidade do débito de Felipe.
C) metade de cada comprador.
D) a dívida de Felipe ou de Ana, pois há solidariedade passiva.

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Resposta: C

XX EXAME OAB (2016.2)


QUESTÃO 38. Paulo, João e Pedro, mutuários, contraíram
empréstimo com Fernando, mutuante, tornando-se, assim, devedores
solidários do valor total de R$ 6.000,00 (seis mil reais). Fernando,
muito amigo de Paulo, exonerou-o da solidariedade. João, por sua
vez, tornou-se insolvente. No dia do vencimento da dívida, Pedro
pagou integralmente o empréstimo. Considerando a hipótese narrada,
assinale a afirmativa correta.
A) Pedro não poderá regredir contra Paulo para que participe
do rateio do quinhão de João, pois Fernando o exonerou da
solidariedade.
B) Apesar da exoneração da solidariedade, Pedro pode cobrar
de Paulo o valor de R$ 3.000,00 (três mil reais).
C) Ao pagar integralmente a dívida, Pedro se sub-roga nos
direitos de Fernando, permitindo-se que cobre a integralidade da
dívida dos demais devedores.
D) Pedro deveria ter pago a Fernando apenas R$ 2.000,00
(dois mil reais), pois a exoneração da solidariedade em relação a
Paulo importa, necessariamente, a exoneração da solidariedade em
relação a todos os codevedores.

RESPOSTA: B

Solidariedade recíproca ou mista


Ocorre quando verificamos pluralidade de credores solidários e pluralidade de
devedores solidários em um mesmo negócio (ou vínculo) jurídico.
Aqui se aplicam as disposições inerentes à solidariedade ativa e passiva, acima
transcritas.

14. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

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Conceito de cessão
Segundo Maria Helena Diniz, cessão “é a transferência negocial, a título gratuito ou
oneroso, de um dever, de uma ação ou de um complexo de direitos, deveres e bens, com
conteúdo predominantemente obrigatório, de modo que o adquirente (cessionário) exerça
posição jurídica idêntica à do antecessor (cedente).”
De maneira sintética podemos dizer que cessão, no direito das obrigações, é a
transferência da obrigação, pelo credor, pelo devedor, ou mesmo de ambos, sendo que o
cessionário passa a figurar na mesma condição do cedente, frente a relação jurídica objeto
de cessão.
Como referido no conceito de Maria Helena Diniz, pode ser gratuita ou onerosa,
bem como pode ser de qualquer das partes envolvidas na obrigação.
Assim, temos cessão de crédito (feita pelo credor); cessão de débito (feita pelo
devedor), que também é chamada de assunção de dívida; e cessão de contrato (ou de
crédito e débito), em que a relação jurídica estabelece crédito e débito para ambas as
partes.

Cessão de crédito
Cessão de crédito é a transferência de um crédito, no todo ou em parte, pelo credor
(cedente) à um cessionário que passa a figurar como credor, sendo portanto um negócio
jurídico bilateral, gratuito ou oneroso, independentemente de consentimento do devedor,
com todos os acessórios e garantias, sem que se opere a extinção do vínculo contratual.
Gratuita é a cessão feita independente de pagamento pelo novo credor ao credor
originário. Onerosa é quando esse crédito é repassado com algum ônus para o novo
credor.
É total quando engloba a totalidade do crédito (totalidade do valor de uma nota
promissória, por exemplo), e parcial quando a cessão é feita de apenas parte do crédito
existente.
A cessão não é fator de novação, pois a novação extingue a relação jurídica
anterior, ao passo que na cessão há uma alteração de figura subjetiva, sem alterar o
negócio em si.
Não há necessidade de consentimento do devedor. No entanto, há necessidade de
notificação do devedor sobre a cessão, de modo a cientificar-lhe a existência de novo
destinatário do recebimento da prestação.
Se não ocorrer a notificação, e o devedor pagar ao credor originário, o pagamento
será considerado válido, pois, como o devedor desconhecia a transferência da obrigação,

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pagou àquele para com quem inicialmente se comprometera. O novo credor deverá buscar
do credor originário a satisfação do crédito.
No entanto, tendo sido notificado, o devedor deverá pagar ao novo credor, sob pena
de ter que pagar duas vezes a prestação.
Em caso de dúvidas, terá à disposição a ação de consignação em pagamento,
depositando o valor e livrando-se de eventuais encargos por pagamento indevido.
O cedente se responsabiliza, perante o cessionário, pela existência do crédito.
Poderá se responsabilizar também pela existência do débito (o que deve ser expresso),
salvo se a cessão decorrer de lei.
Ao cessionário caberão todos os direitos que o credor originário possuía, inclusive
acessórios, garantias, vantagens e ônus. Em caso de insolvência do devedor, arcará com
o prejuízo (salvo em caso de estipulação expressa de responsabilidade).

Cessão de crédito - espécies


A cessão de crédito poderá ser distinguida entre as seguintes formas:
a) Convencional, quando decorre de acordo entre as partes, como na cessão de
um título de crédito;
b) Legal, quando determinada pela lei, tal como ocorre em relação aos acessórios
do contrato (como juros e multa);
c) Judicial, quando determinada pelo juiz, como na adjudicação de bem em
processo que busca a extinção de condomínio.
Poderá, ainda, ser Pró-soluto, que é aquela cessão que dá quitação da negociação
havida entre o credor originário e o novo credor; bem como pró-solvendo, em que a
quitação somente é válida com o efetivo recebimento do valor (exemplo do pagamento de
um débito com cheque: com recibo pró-solvendo, somente haverá a quitação após a
compensação do cheque).
A cessão de crédito se diferencia da sub-rogação em alguns detalhes: o cessionário
poderá exigir todos os direitos decorrentes do título objeto de cessão, enquanto que o sub-
rogado somente poderá buscar aquilo que efetivamente dispensou para quitar a obrigação
mais as despesas; o cedente assume a responsabilidade pela existência do crédito, o que
não ocorre na sub-rogação; o sub-rogado adquire a qualidade de credor assim que pagar
a prestação, enquanto que o cessionário somente terá a plenitude de seu direito a partir da
notificação do devedor.
Para a realização da cessão, é necessário o preenchimento de todos e quaisquer
requisitos de um negócio jurídico: capacidade, forma legal e objeto adequado (art. 104 do
CC).

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EXAME 2013.3 38ª Questão:

Bruno cedeu a Fábio um crédito representado em título, no valor de R$


20.000,00 (vinte mil reais), que possuía com Caio.

Considerando a hipótese acima e as regras sobre cessão de crédito,


assinale a afirmativa correta.
a) Caio não poderá opor a Fábio a exceção de dívida prescrita que, no
momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra Bruno,
em virtude da preclusão.

b) Caso Fábio tenha cedido o crédito recebido de Bruno a Mário e este,


posteriormente, ceda o crédito a Júlio, prevalecerá a cessão de crédito
que se completar com a tradição do título cedido.

c) Bruno, ao ceder a Fábio crédito a título oneroso, não ficará responsável


pela existência do crédito ao tempo em que cedeu, salvo por expressa
garantia.

d) Conforme regra geral disposta no Código Civil, Bruno será obrigado a


pagar a Fábio o valor correspondente ao crédito, caso Caio torne-se
insolvente.

R–B

Cessão de débito – assunção de dívida.


Cessão de débito, ou assunção de dívida, é o meio de transferência de um débito
pelo devedor à terceiro, com a anuência do credor, onde este terceiro assume a
responsabilidade pela prestação. Trata-se de negócio jurídico bilateral.
Temos como grande exemplo a transferência dos financiamentos do sistema
financeiro de habitação.
Também deve se operar sem a alteração da relação jurídica, pois do contrário
configuraria novação.
A concordância do credor é indispensável, pois o mesmo não poderá ser tolhido no
seu crédito, bem como das garantias que o asseguram.
A cessão de débito mantém o vínculo obrigacional, porém libera o devedor
originário da obrigação, somente podendo ser novamente responsabilizado em caso de
anulação da cessão de débito.
As garantias pessoais (como a fiança) que o devedor havia concedido se
extinguem; no entanto, as garantias reais (como a hipoteca), permanecem íntegras,
garantindo o contrato.

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Pode ocorrer a cessão de débito por:
a) expromissão: decorre de acordo entre credor e terceiro, podendo ser liberatória
(liberando o devedor primitivo) ou cumulativa (o novo devedor passa a responder pela
obrigação conjuntamente com o devedor anterior);
b) delegação: decorre de acordo entre devedor e terceiro, podendo ser privativa
(exonera totalmente o devedor) ou simples (responsabilidade subsidiária do devedor
originário).

Cessão de contrato
Cessão de contrato é a transferência dos direitos e deveres decorrentes de um
contrato firmado por duas ou mais partes.
É assim chamada por que, via de regra, em um contrato, ambas as partes assumem
a posição de credor e devedor.
Cite-se, por exemplo, o contrato de construção de uma casa, onde o contratante se
compromete a pagar o valor (posição de devedor) em troca do comprimento da prestação
de construção da casa (posição de credor). O construtor se compromete a construir
(posição de devedor), em troca do cumprimento da obrigação pelo contratante de
pagamento do valor (posição de credor).
A cessão de contrato se rege pela forma estabelecida nas cessões de crédito e
débito, antes referidas, no que for aplicável cada uma.

Exame 2014.1 38ª Questão:

A transmissibilidade de obrigações pode ser realizada por meio do ato


denominado cessão, por meio da qual o credor transfere seus direitos na
relação obrigacional a outrem, fazendo surgir as figuras jurídicas do
cedente e do cessionário. Constituída essa nova relação obrigacional, é
correto afirmar que
a) os acessórios da obrigação principal são abrangidos na cessão
de crédito, salvo disposição em contrário.

b) o cedente responde pela solvência do devedor, não se


admitindo disposição em contrário.

c) a transmissão de um crédito que não tenha sido celebrada


única e exclusivamente por instrumento público é ineficaz em
relação a terceiros.

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d) o devedor não pode opor ao cessionário as exceções que tinha


contra o cedente no momento em que veio a ter conhecimento
da cessão.

R–A

15. ADIMPLEMENTO OBRIGACIONAL

Ocorre o adimplemento das obrigações quando houver o seu pagamento, ou seja,


quando a prestação for cumprida, ou então, de outra forma for extinta a obrigação.
Podemos estabelecer duas formas de adimplemento das obrigações: modo direito
e modo indireto de extinção das obrigações.
No modo direto, temos o próprio pagamento, com o adimplemento da obrigação tal
qual estabelecida.
No modo indireto, verificamos a extinção da obrigação através de outras formas
que não o pagamento, tais como a novação, dação em pagamento, etc., diferindo a
prestação entrega daquela que havia sido estabelecida inicialmente pelas partes.

Pagamento
Pagamento é o meio direto de extinção das obrigações, onde o devedor efetua a
entrega da prestação obrigacional exata no tempo, lugar e forma convencionados.
Para que ocorra o pagamento (concepção stricto sensu), deve haver: vontade de
adimplir a prestação (animus solvendi), presença de quem paga (solvens) e de quem
recebe (accipiens), vínculo obrigacional e satisfação exata da obrigação.
O tempo do pagamento se refere à data fixada para o adimplemento da obrigação.
Via de regra, a obrigação deverá ser satisfeita no prazo estabelecido, nem antes e
nem depois. Há circunstâncias, como no código de defesa do consumidor (lei nº 8078) que
estabelecem o benefício do devedor pagar antes o valor, com o direito ao abatimento de
juros relativos ao período antecipado.
Da mesma forma, por conveniência do devedor, poderá ser feito o pagamento
antecipadamente (art. 133 do CC).
Não havendo estipulação de prazo para vencimento da obrigação, o art. 331 do CC
permite ao credor exigi-la de imediato. Se for obrigação que depende de condição, será
exigível a partir da chegada ou ocorrência da condição.

Lugar do pagamento

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Quanto ao lugar do pagamento, trata-se da designação do local em que deve ser
satisfeita a obrigação. Via de regra, não havendo estipulação expressa, entende-se que a
obrigação deve ser satisfeita no domicílio do devedor (dívida quérable).
Havendo estipulação das partes, poderá ser designado o endereço do credor para
a satisfação da obrigação. Geralmente consta o local do cumprimento da obrigação no
título, o que deverá servir de base para o cumprimento.
Se os pagamentos de prestações periódicas ocorrerem em local diverso do
estabelecido pelo contrato, entende-se que o credor renunciou ao local previsto, passando
a ser considerado o novo local para adimplemento.

Prova do pagamento
No que se refere à prova do pagamento, trata-se esta da quitação propriamente
dita (recibo). Este documento estabelece a data, local e forma do cumprimento da
obrigação, sendo o comprovante de que a prestação fora satisfeita.
A quitação é um direito do devedor e uma obrigação do credor, razão pela qual é
lícito ao devedor reter o pagamento em caso de negativa de fornecimento da quitação.
Há situações de presunção de pagamento, estabelecidas pelos artigos 322, 323 e
324 do CC.
Quando do pagamento, havendo negativa de quitação, terá o devedor, ao seu
dispor, a consignação em pagamento para satisfazer a obrigação e evitar os encargos
decorrentes de eventual mora.
O objeto do pagamento deverá ser a prestação exata estabelecida pelas partes no
negócio jurídico. Se o objeto do pagamento não atender à esse requisito, o credor não é
obrigado a aceitar o adimplemento.
No entanto, se receber parte do valor, é seu ônus emitir recibo de quitação da parte
que fora adimplida.

16. PAGAMENTO INDEVIDO

Por fim, em caso de pagamento indevido, trata-se de forma de enriquecimento


ilícito, onde alguém recebera prestação que não era devida, ou então, prestação além do
que fora estipulada (ex. cobrança de juros moratórios de uma prestação que ainda não
vencera).
Em caso de pagamento indevido, sem culpa daquele que pagou o valor, configura-
se o enriquecimento indevido, e aquele que recebeu terá obrigação de restituir o valor
indevidamente recebido.

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Ver art. 876 à 883 do CC.

FORMAS INDIRETAS DE ADIMPLEMENTO

17. PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO

O pagamento em consignação consiste no depósito judicial ou extrajudicial da


prestação, diante de situações em que o credor não recebe o valor, de acordo com os
motivos previstos em lei. (CC, art. 334; novo CPC, art. 539, §§1º a 4º).
Seu objetivo principal é fornecer ao devedor uma forma de quitação diante do
adimplemento da prestação.
Há situações onde o credor nega-se a receber a prestação, ou então, nega-se a
prestar a quitação da prestação, servindo-se a ação consignatária como instrumento útil
ao devedor para adimplir e prestação, evitando a incidência da mora e dos respectivo
encargos.
Além dessas hipóteses, é possível a consignação, ainda, quando a prestação esteja
sendo judicialmente disputada, bem como quando haja dúvida quanto à quem deva
receber.
A consignação em pagamento apresenta, como pressupostos objetivos, a
existência de débito líquido e certo, proveniente da relação negocial que se pretende
extinguir; oferecimento real da totalidade da prestação devida; vencimento do termo
convencionado em favor do credor, ou então quando o devedor, se estipulado em seu favor
o prazo, poderá consignar em qualquer tempo após a tentativa frustrada de adimplemento
(CC, art. 130, ou assim que se verificar a condição a que o débito estava subordinado (CC,
art. 332); observância de todas as cláusulas estipuladas no negócio; obrigatoriedade de se
fazer a oferta no local e forma convencionado para o pagamento (CC, arts. 891, parágrafo
único, 894; CC, arts.337, 328, 341, 342); já como requisitos subjetivos, a consignatória
deve dirigir-se contra o credor capaz de exigir ou contra seu representante legal ou
mandatário (CC, art. 308); o pagamento em consignação deve ser feito pelo próprio
devedor, pelo seu representante legal ou mandatário, ou, ainda, por terceiro (CC, arts. 304
a 307).
Em caso de consignação extra judicial, ocorre de acordo com os procedimentos
previstos no art. 539, §1º ao 4º do novo CPC. Este procedimento pode ser usado quando
a prestação se constituir em pecúnia, ou seja, em dinheiro.
Se aceita a prestação, há a exoneração do encargo, com a quitação.

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Não sendo aceito o valor da consignação extrajudicial, ou mesmo de forma
imediata, é possível a consignação judicial da prestação.
Tendo sido efetuado o depósito extrajudicial, o comprovante de depósito será a
prova já da consignação, determinando-se de imediato a citação do demandado.
Se o procedimento judicial é a primeira opção, o juiz despachará a inicial, fixando
data para depósito (5 dias). Efetuado o depósito da prestação, será determinada a citação.
O demandado poderá aceitar o valor e levantar o depósito, ou então, contestar a
ação, argüindo: prestação incompleta, prestação vencida; inexistência de negativa de
recebimento; inexistência de dúvida quanto ao credor.
Julgada procedente a ação, esta exonera o devedor dos encargos da mora, como
juros, correção, multa e eventual responsabilidade por perda ou deterioração do objeto,
passando os riscos para o credor. Ainda libera as garantias, impõe ao credor a obrigação
de ressarcir despesas e danos causados por sua recusa, tais como custas e honorários
advocatícios.
No caso de improcedência, o devedor será considerado em mora ainda, arcando
com as despesas processuais, além dos efeitos da mora (encargos e riscos).
Necessário referir ainda que, em se tratando de obrigação a ser satisfeita no
domicílio do devedor, é do credor o ônus de comprovar que tentou receber o crédito e que
a prestação, portanto, não teria sido adimplida (obrigação quérable). Contudo, sendo
obrigação portable (paga no domicílio do credor), é do devedor o encargo de provar que
tentou adimplir a obrigação e que houve recusa do credor.
EXAME 2014.2 38ª Questão:

João é locatário de um imóvel residencial de propriedade de Marcela,


pagando mensalmente o aluguel por meio da entrega pessoal da quantia
ajustada. O locatário tomou ciência do recente falecimento de Marcela ao
ler “comunicação de falecimento” publicada pelos filhos maiores e capazes
de Marcela, em jornal de grande circulação. Marcela, à época do
falecimento, era viúva. Aproximando-se o dia de vencimento da obrigação
contratual, João pretende quitar o valor ajustado. Todavia, não sabe a
quem pagar e sequer tem conhecimento sobre a existência de inventário.

De acordo com os dispositivos que regem as regras de pagamento,


assinale a afirmativa correta.
a) João estará desobrigado do pagamento do aluguel desde a data do
falecimento de Marcela.

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b) João deverá proceder à imputação do pagamento, em sua


integralidade, a qualquer dos filhos de Marcela, visto que são seus
herdeiros.

c) João estará autorizado a consignar em pagamento o valor do aluguel


aos filhos de Marcela.

d) João deverá utilizar-se da dação em pagamento para adimplir a


obrigação junto aos filhos maiores de Marcela, estando estes obrigados
a aceitar.

Resposta: C

18. DA AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

A ação de consignação em pagamento é procedimento especial no CPC, eis


que, dando azo à dupla natureza que possui (material e processual), tem a previsão
de procedimento específico para a sua realização.

Tal previsão envolve tanto a consignação extra judicial (art. 539 do novo
CPC) como a consignação judicial (art. 539 ao 549 do novo CPC).
A se destacar, a consignação extra judicial é possível apenas para
obrigações financeiras, eis que o depósito deve ser realizado em conta corrente,
preferencialmente junto a banco oficial.
Por outro lado, a consignação judicial comporta o cumprimento de qualquer
espécie de obrigação e, quando impossível o depósito físico do bem da vida, o
mesmo pode ser colocado à disposição do juízo, satisfazendo-se, assim, a
obrigação do devedor.

19. SUB-ROGAÇÃO

Sub-rogação é a substituição, nos direitos creditórios, da figura do credor por


alguém que adimpliu a obrigação do devedor, ou que tenha emprestado o dinheiro ao
devedor para esse adimplemento.
A sub-rogação permite ao sub-rogado o poder de buscar do devedor a satisfação
do que empregou na satisfação da obrigação, acrescido das despesas que tiver.

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No entanto, sendo sub-rogação legal, a limitação está na própria prestação
cumprida, devendo ser o exato valor que fora pago ao credor (art. 250 do CC).
Pode ocorrer tanto em decorrência da lei, conforme artigos 346, I, II e III CC; art. 40
Dec. 2.044/1908, bem como pode ser convencional (acordo entre as partes), tanto entre
credor e terceiro, como entre devedor e terceiro. Sendo sub-rogação por pagamento feito
por terceiro, aplicam-se as
Via de regra, a sub-rogação legal é aquela em que um terceiro interessado paga a
dívida do devedor originário. Por outro lado, na sub-rogação convencional, um terceiro não
interessado assume o débito do devedor, seja pagando, seja emprestando-lhe o valor
correspondente.

20. IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO


Quando houver, entre o mesmo credor e mesmo devedor, duas ou mais dívidas
líquidas e vencidas, poderá o devedor, realizando o pagamento de apenas uma delas,
indicar qual delas pretende adimplir.
O objetivo da imputação do pagamento é fornecer ao devedor a possibilidade de
estancar a dívida que possui maiores encargos. Tanto que, não sendo apontada, o art. 355
do CC expõe que a quitação se dará automaticamente da obrigação com maiores
encargos.
No entanto, se no ato de pagamento o credor passou a quitação de alguma delas
e, não havendo rechaço imediato, o devedor não poderá apontar futuramente a intenção
de adimplemento de outra prestação.
É necessário, para ocorrer a imputação do pagamento, a existência de duas dívidas
entre os mesmos credor e devedor, dívidas de mesma natureza e insuficiência de
adimplemento de ambas.
Com o adimplemento de uma das obrigações, esta será extinta, bem como todos
os seus encargos e garantias (como fiança).
Espécies:
Feita pelo devedor – art. 352 do CC
Feita pelo credor – art. 353 do CC
Feita pela lei – art. 355 do CC

21. DAÇÃO EM PAGAMENTO

A dação em pagamento representa o adimplemento da obrigação assumida, porém


com outro objeto que não aquele previsto no acordo firmado pelas partes.

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Cite-se como exemplo a utilização de um veículo para quitar a dívida de uma nota
promissória (cuja prestação inicial era o pagamento do valor em dinheiro).
A dação em pagamento necessita da concordância do credor, pois este não é
obrigado a receber prestação diversa daquela recebida. Sendo firmada, extingue parte ou
a totalidade do negócio jurídico.

Requisitos e efeitos da dação em pagamento.


Seus requisitos são: existência de débito vencido; animus solvendi; diversidade do
objeto oferecido em relação ao devido; concordância do credor na substituição.
O objeto dado em pagamento admite a incidência dos efeitos oriundos da evicção,
tornando sem efeito a quitação dada (CC, art. 359), bem como de vícios redibitórios.

22. NOVAÇÃO

Novação é o ato negocial realizado pelas partes que, sem que se efetue o
pagamento da integralidade da obrigação, há a extinção da relação jurídica anterior (do
negócio primário), criando um novo vínculo jurídico entre as partes.
Mesmo que a obrigação originária não tenha sido satisfeita, extinguirão todos os
seus efeitos, passando a ter validade apenas os novos termos fixados.
Assim, de maneira sintética, podemos dizer que é a relação jurídica – negócio
jurídico, que substitui um outro negócio jurídico, traçando novos parâmetros de
contratação.
Para que ocorra a novação é necessário que exista uma obrigação anterior (art.
367 do CC), haja intenção de novar (art. 361 do CC), se crie uma nova relação jurídica, em
substituição ao negócio anterior, tendo ainda um novo elemento.
A novação pode substituir ou alterar a obrigação, ou então, substituir uma das
partes – art. 360, I, II e III, e art. 362 do CC.

Efeitos da novação.
Como efeitos da novação, há a extinção do débito anterior; cessação de juros,
correção, multa, etc; extinção das garantias, fianças e acessórios – art. 837, 365 e 366;
desaparecimento da mora; exoneração do devedor e fiador que não anuir à novação;
insolvência na nova obrigação não prejudica a novação; impossibilidade de discussão do
débito anterior; perda, pelo devedor, das exceções que poderia levantar no vínculo jurídico
anterior.

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Quanto ao último item, há exceções à essa regra quando verificada a incidência de
nulidade que fulmine tanto a novação como a relação jurídica anterior, como no caso de
contratos bancários:
Súmula n° 286 do STJ: A renegociação de contrato bancário ou a confissão da
dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos
anteriores.

23. COMPENSAÇÃO

Compensação é o ato de adimplir um débito através de um crédito, entre duas


pessoas que são, ao mesmo tempo, credor e devedor um do outro, em relação à dívidas
de mesma natureza (art. 370 e 368 do CC).
Será convencional aquela compensação feita por acordo entre as partes, liquidando
uma obrigação (ou parte dela), com a utilização de um crédito oriundo de outra obrigação.
Veja-se que a limitação da compensação convencional se opera nos limites da
legalidade, ou seja, sendo ato jurídico válido e lícito, as partes podem negociar livremente
a compensação.
Poderá a compensação ser determinada pelo juiz (compensação judicial), quando
preenchidos os requisitos para a compensação legal. Normalmente ocorre em sede de
reconvenção ao processo principal.
Por fim, a compensação poderá ser determinada por lei, ocorrendo mesmo em caso
de negativa de vontade de compensar de uma das partes.

Requisitos à compensação.
Na compensação legal, para que seja operada, são necessários alguns requisitos:
as dívidas devem ser líquidas e vencidas (exigíveis, portanto); não poderá ser oriunda de
alimentos, depósito, comodato ou coisa impenhorável (art. 373 do CC); poderá haver
renúncia prévia de uma das partes (renúncia ao direito de compensação); ou falta de
estipulação quando for necessário (art. 375 do CC); compensação das despesas de
pagamento, quando houverem (art. 378 do CC); aplicação da imputação de pagamento
(art. 379 do CC); e deverá ser garantido direito de terceiro (art. 380 do CC).
As partes podem estipular renúncia à compensação, o que impediria a
compensação judicial, porém não a convencional.
Não poderá impor-se a compensação de créditos de terceiros, ou seja, a
compensação deve se operar entre credor e devedor recíprocos (isso na compensação

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legal), salvo o fiador, que também poderá buscar a compensação, haja vista que é obrigado
ao adimplemento da prestação (art. 371 do CC).

24. CONFUSÃO

Confusão é a situação jurídica onde uma pessoa passa a figurar como credora e
devedora de si própria, extinguindo-se automaticamente os débitos/créditos.
Temos como exemplo a situação do filho, que deve para o pai, e esse vem a falecer,
tendo portanto o filho créditos decorrentes da sucessão. Ao mesmo tempo em que deve
para o espólio, receberá parte desse (inclusive o seu próprio débito).
A confusão pode ocorrer em relação à totalidade da prestação (total ou própria) ou
apenas em relação à parte da obrigação (parcial ou imprópria).
Em caso de mais de um credor ou devedor, configurando-se a confusão em relação
à um deles, a extinção da obrigação ocorre em relação apenas à sua parte no
crédito/débito, permanecendo a obrigação em relação aos demais (art. 383 do CC).
A confusão extingue a obrigação, bem como todos os respectivos acessórios, como
as garantias.
Se por ventura for declarada ineficaz, restabelece-se a obrigação anterior em todos
os seus termos.

25. REMISSÃO

É a liberação graciosa (gratuita) da obrigação, total ou parcial, feita pelo credor em


favor do devedor.
Por mais benéfica que pareça, a remissão é negócio jurídico bilateral e, portanto,
depende da vontade de ambas as partes: do credor que “perdoa” a obrigação, e do próprio
devedor que recebe a remissão. Essa aceitação poderá ser expressa ou tácita (art. 385 do
CC).
A remissão pode ser expressa (como documento declarando a remissão), bem
como presumida, que ocorre em caso de entrega do título da obrigação ou do objeto
empenhado (art. 386 e 387 do CC).
A remissão extingue a obrigação e os respectivos acessórios (como a fiança);
exonera o devedor de sua cota-parte na solidariedade passiva; exonera toda a obrigação
em caso de solidariedade ativa e remissão feita por um dos co-devedores.

26. TRANSAÇÃO.

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A transação é uma forma de extinção do vínculo obrigacional, a partir do ajuste


celebrado entre as partes contratantes. De modo geral, a transação poderá envolver
qualquer objeto obrigacional, desde que gere a composição e parta do consenso – art. 104
e art. 840, ambos do CC.
Convém destacar, porém, que o CC prevê a possibilidade de transação a partir da
existência de limitação da transação à bens patrimoniais particulares, não podendo a
mesma gerar transmissão senão apenas reconhecimento de direitos.
Destaque-se que se uma cláusula da transação for nula, nula será a transação;
ainda, também será nula a transação quanto à objeto litigioso já alvo de sentença quando
esta não for de conhecimento de uma das partes – nesse sentido art. 842 a 850 CC.
Quando pretendemos ‘criar’ negócio jurídico, fazemos um contrato; mas quando a
execução do contrato está litigiosa, transacionamos a sua solução ou modificação.
Também transacionamos a solução para ato ilícito civil, desde que confortado pelos
requisitos do art. 104 do CC.

27. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

Inadimplemento é a inexecução da obrigação no tempo, lugar e forma


convencionados pelas partes. É o descumprimento, voluntário ou involuntário, da
obrigação firmada.
O inadimplemento involuntário decorre de caso fortuito ou força maior. O
inadimplemento voluntário ocorre quando o devedor, sem os motivos anteriores (de caso
fortuito ou força maior), deixa de cumprir a obrigação.
Inadimplemento absoluto: identificado quando a prestação, por não ter sido
cumprida do modo combinado, tornou-se ineficaz para o credor, resolvendo-se a situação
em perdas e danos.
Inadimplemento relativo: ocorre quando a obrigação não foi cumprida, porém ainda
é possível o seu cumprimento, acrescido dos encargos decorrentes da mora.

28. MORA

Haverá mora quando o devedor ainda puder cumprir a obrigação, e inadimplemento


absoluto se não houver tal possibilidade, por que a res debita pereceu ou se tornou inútil
ao credor. A mora pode ser purgada, o mesmo não sucedendo com o inadimplemento
absoluto. – Maria Helena Diniz.

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Mora é a falta de pagamento culposa da prestação obrigacional, bem como a recusa
injustificada em receber a prestação, impondo ao credor ou devedor (o que estiver em
mora) efeitos e encargos.
Ocorrerá a mora do devedor quando este deixar de cumprir a obrigação no tempo,
lugar e forma pactuados. É a mora solvendi.

Mora do devedor
No caso do devedor, poderemos ter mora ex re, que é aquela que decorre da
inexecução no tempo pactuado, incidindo de imediato sobre a obrigação. Na mora ex
persona, não há um tempo fixado, sendo necessária a notificação judicial ou extrajudicial
para constituição do devedor em mora (art. 397, caput e § único do CC).
Mesmo que se seja possível o adimplemento, também haverá, além dos encargos
da mora, a responsabilidade por perdas e danos causados em decorrência do
inadimplemento da obrigação pelo devedor.
Ou seja, o devedor, que não cumpriu a obrigação, podendo ainda cumpri-la (como
no caso do pagamento de valor – em dinheiro), poderá cumpri-la, pagando ao credor a
obrigação, juros, correção monetária, despesas eventuais, e eventuais perdas e danos que
seu atraso ocasionou (art. 395 do CC).
Não cumprida a obrigação, mas sendo possível cumpri-la ainda, o credor poderá
exigir a mesma, bem como os respectivos acréscimos.
Se o objeto da prestação se perder, mesmo que por caso fortuito ou força maior,
após o termo, ou seja, estando o devedor em situação de mora ou inadimplência, o devedor
será responsabilizado pela perda, respondendo, portanto, pelo principal e acréscimos.
Em caso de ato ilícito, a mora e seus efeitos, incidem desde a data do ilícito – art.
398 do CC.

Mora do credor
Mora do credor, também chamada de mora accipiendi, é aquela que decorre na
recusa injustificada do credor em receber a prestação no tempo, lugar e forma
convencionados pelas partes.
É necessário, para ocorrer, que a dívida já tenha alcançado o seu termo, tenha
oferta real do devedor e a recusa seja injustificada.
Se o credor nega-se em receber a prestação, ou mesmo a dar a quitação, estará
se colocando em situação de mora, autorizando o devedor a ajuizar consignação em
pagamento.

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A mora do credor libera o devedor da responsabilidade sobre o objeto da prestação;
impõe ao credor a obrigação de ressarcir ao devedor as despesas que teve para a
conservação da coisa; obriga o credor a receber a coisa pelo mais alto valor (se houver
alterações entre o termo e data do efetivo pagamento).

Mora recíproca
Mora recíproca, ou mora de ambos os contratantes, ocorre quando ambos
encontram-se em mora, pelo inadimplemento ou recusa em receber, em relação à
obrigação.
Em virtude da reciprocidade, as moras se anulam, retornando o negócio ao status
quo, como se a mora não tivesse ocorrido.

Purgação da mora
Quando o inadimplemento for relativo, ou seja, quando ainda for possível o
adimplemento da obrigação, mesmo com o atraso, poderá a parte que estiver em mora
purgá-la.
Se for o devedor que estiver em mora, este purgará a mora cumprindo a obrigação
acrescida dos encargos da mora e de eventuais prejuízos que tenham incidido em
decorrência da mora (art. 401, I do CC).
Se a mora for do credor, poderá este receber a prestação, no estado em que se
encontra, descontados valores relativos à despesas e encargos decorrentes da mora.
Cessação da mora
A mora terá sua cessação com a extinção da obrigação, ou então, em decorrência
de qualquer ato extintivo de efeitos pretéritos e futuros (como novação, renúncia, remissão,
dação em pagamento, etc.).

28. JUROS MORATÓRIOS

Os juros correspondem à compensação e rendimento do capital de um valor ou


bem que se tornou indisponível ao credor, servindo como meio de satisfação por esta
indisponibilidade.
São chamados de juros compensatórios os juros pactuados pelas partes e
incidentes até a data prevista para o adimplemento da obrigação. Estão delimitados pelo
art. 591, Dec. 22.626/33, e lei nº 1.521/51.
Os juros moratórios são os juros que decorrem do inadimplemento da obrigação
(tanto no inadimplemento relativo como no absoluto), incidindo, via de regra, a partir do

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termo da obrigação não cumprida, ou então, da constituição em mora do credor ou do
devedor.
Lembre-se que a mora pode ser ex re ou ex persona.
Os juros moratórios podem ser convencionais (estabelecidos pelas partes), bem
como legais (estabelecidos pelo art. 406 do CC).

29. PERDAS E DANOS

Perdas e danos são instrumento de compensação ao credor pelo inadimplemento


do devedor, decorrente do inadimplemento da obrigação (absoluto ou relativo, total ou
parcial), representado por uma quantia em dinheiro equivalente aos prejuízos e/ou danos
causados pelo inadimplemento.
Englobam tanto o que o credor perdeu, como o que deixou de ganhar diante do
inadimplemento obrigacional.
No caso das perdas e danos, os juros moratórios são contados desde a citação
inicial (art. 405 do CC), salvo casos de ato ilícito (art. 398 do CC).
Os danos são apurados em processo judicial, sendo fixados pelo juízo de acordo
com sua extensão (art. 944 do CC).
Se houver previsão de cláusula penal, esta já terá cunho reparatório.
Exame 2015.1 42ª Questão:

Joana deu seu carro a Lúcia, em comodato, pelo prazo de 5 dias, findo o
qual Lúcia não devolveu o veículo. Dois dias depois, forte tempestade
danificou a lanterna e o parachoque dianteiro do carro de Joana.
Inconformada com o ocorrido, Joana exigiu que Lúcia a indenizasse pelos
danos causados ao veículo.

Diante do fato narrado, assinale a afirmativa correta.


a) Lúcia incorreu em inadimplemento absoluto, pois não cumpriu sua
prestação no termo ajustado, o que inutilizou a prestação para Joana.

b) Lúcia não está em mora, pois Joana não a interpelou, judicial ou


extrajudicialmente.

c) Lúcia deve indenizar Joana pelos danos causados ao veículo, salvo se


provar que os mesmos ocorreriam ainda que tivesse adimplido sua
prestação no termo ajustado.

d) Lúcia não responde pelos danos causados ao veículo, pois foram


decorrentes de força maior.

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R–C

30. CLÁUSULA PENAL

A cláusula penal é verdadeiro pacto acessório, estabelecido pelas partes com a


função de impor ônus à parte inadimplente da obrigação firmada, bem como estabelecer
previamente a reparação de danos causados pelo inadimplemento.
O valor da cláusula penal não poderá ultrapassar o valor da prestação principal,
conforme art. 412 do CC. Se a obrigação for satisfeita em parte, poderá o juiz determinar
a redução do valor da cláusula penal - art. 413 do CC.
A incidência da cláusula penal independe de demonstração de prejuízos por parte
do credor, o que ocorre somente quando for buscar indenização suplementar (ver abaixo).
Quando houver diversos devedores, porém se tratar de obrigação indivisível, todos
responderão pela cláusula penal, conforme art. 414 do CC. Se a obrigação for divisível,
somente o co-devedor culpado pelo inadimplemento responderá pela cláusula penal – art.
415 do CC.
Se o valor da cláusula penal não for suficiente para cobrir os prejuízos e tendo sido
convencionada a possibilidade, poderá o credor buscar indenização suplementar, ou seja,
do valor excedente ao fixado na cláusula penal, cabendo ao credor a responsabilidade pela
prova.
A cláusula penal pode ser compensatória, quando se tratar de compensação pela
obrigação não cumprida, substituindo a obrigação; ou moratória, incidente
cumulativamente à obrigação, podendo ser exigida conjuntamente com a obrigação
principal.
Para a incidência da cláusula penal é necessária um obrigação principal (pois é
pacto acessório), inexecução da obrigação, mora e imputabilidade (culpa) do devedor.
2015.2 42ª Questão:

Carlos Pacheco e Marco Araújo, advogados recém-formados, constituem a


sociedade P e A Advogados. Para fornecer e instalar todo o equipamento
de informática, a sociedade contrata José Antônio, que, apesar de não
realizar essa atividade de forma habitual e profissional, comprometeu-se a
adimplir sua obrigação até o dia 20/02/2015, mediante o pagamento do
valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) no ato da celebração do
contrato. O contrato celebrado é de natureza paritária, não sendo formado
por adesão. A cláusula oitava do referido contrato estava assim redigida:
"O total inadimplemento deste contrato por qualquer das partes ensejará o
pagamento, pelo infrator, do valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)".

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Não havia, no contrato, qualquer outra cláusula que se referisse ao
inadimplemento ou suas consequências. No dia 20/02/2015, José Antônio
telefona para Carlos Pacheco e lhe comunica que não vai cumprir o
avençado, pois celebrou com outro escritório de advocacia contrato por
valor superior, a lhe render maiores lucros.

Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.


a) Diante da recusa de José Antônio a cumprir o contrato, a sociedade
poderá persistir na exigência do cumprimento obrigacional ou,
alternativamente, satisfazer-se com a pena convencional.

b) A sociedade pode pleitear o pagamento de indenização superior ao


montante fixado na cláusula oitava, desde que prove, em juízo, que as
perdas e os danos efetivamente sofridos foram superiores àquele valor.

c) A sociedade pode exigir o cumprimento da cláusula oitava, classificada


como cláusula penal moratória, juntamente com o desempenho da
obrigação principal.

d) Para exigir o pagamento do valor fixado na cláusula oitava, a sociedade


deverá provar o prejuízo sofrido.

R–A

31. ARRAS OU SINAL DE NEGÓCIO

Arras, também chamada de sinal de negócio, constitui-se no repasse de


determinado valor ou bem a título de confirmação do negócio entabulado pelas partes.
Sua função e garantir a realização do negócio, porém servindo como valor de
indenização pelo arrependimento, bem como de compensação dos danos causados pelo
arrependimento da outra parte.
As arras podem ser prestadas por uma ou por ambas as partes.
Se houver arrependimento da parte que prestou as arras, esta perderá as arras em
favor da outra parte, como forma de indenização pelo arrependimento.
Se o arrependimento ocorrer por quem recebeu as arras, deverá este devolver as
arras mais o seu equivalente.
Em caso de estipulação da possibilidade de arrependimento, as arras servirão como
indenização, não sendo possível sua complementação.

XX EXAME OAB – REAPLICAÇÃO SALVADOR (2016.2)

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Questão 38. Marcos vendeu para Francisco, por instrumento
particular, um quadro que pintara anos antes, pelo valor de três mil reais. No
momento da celebração do contrato, Francisco entregou a Marcos, a título
de arras penitenciais, quinhentos reais. No contrato constou que Marcos
entregaria a obra na casa do comprador 30 dias depois da celebração da
avença. Todavia, 10 dias antes da data ajustada para a entrega, Francisco
telefonou para Marcos e comunicou que desistira do negócio. Sobre os fatos
narrados, assinale a afirmativa correta.
A) Francisco exerceu seu direito potestativo de desfazer a avença, e
por isso perderá em favor de Marcos o sinal pago quando da celebração do
contrato.
B) Francisco cometeu um ilícito contratual, pelo que Marcos poderá
reter o sinal dado pelo comprador no momento da celebração da avença.
C) Marcos poderá pleitear indenização por perdas e danos se provar
que seu prejuízo com o desfazimento do negócio foi superior aos R$ 500,00
pagos a título de sinal.
D) As arras penitenciais reforçam o vínculo contratual e impedem o
desfazimento do negócio, pelo que Marcos poderá pleitear a execução
específica do contrato.

RESPOSTA: A

DIREITO CIVIL – CONTRATOS

1. CONCEITO DE CONTRATO

Tem-se por contrato todo e qualquer ajuste entre duas ou mais pessoas,
destinado a transigir, adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de cunho
patrimonial.
Percebe-se claramente que contrato poder ser tido como o elemento de
formalização de vínculos obrigacionais, compartilhando, assim, de seus requisitos
basilares, em especial quanto aos requisitos de validade do negócio jurídico.

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O contrato, contudo, pode ser verbal, em escrito particular, por escritura
pública, solene ou por documentos equivalentes, de acordo com as disposições
para cada espécie.
A regra é que, quando a lei exigir formalidade, tal deve ser cumprida, sob
pena de ineficácia ou invalidade do negócio, como ocorre, por exemplo, quanto à
necessidade de escritura pública para transmissão de bem imóvel no valor acima
de 30 salários mínimos (art. 108 do CC).

2. PRINCÍPIOS DO DIREITO CONTRATUAL

A disciplina e a prática contratual comungam da regência de vários


princípios, em especial por:
a) autonomia da vontade: representativa da verdadeira liberdade de
contratar, tanto em relação à intenção de realizar ou não determinado contrato,
como também quanto aos limites em que a aceitação do contrato é manifestada.
A falta de autonomia vicia o contrato quanto à validade, gerando defeito do
negócio jurídico ou nulidade.
b) consensualismo: que representa, a partir da simples manifestação de
acordo entre duas ou mais vontades, a construção de vínculo entre as partes.
c) obrigatoriedade da convenção: princípio que decorre da expressão pacta
sunt servanda8, traz, por decorrência da autonomia da vontade e do
consensualismo, a vinculação das partes contratantes ao pacto firmado, gerando,
com isso, verdadeira ‘lei entre as partes’, ou seja, selando o compromisso de
cumprimento do ajuste, sob pena de incidência da mora e seus consectários.
d) Relatividade dos efeitos do negócio jurídico contratual: refere-se aos
efeitos do contrato celebrado pelas partes, os quais serão inter pars, senão quanto
à exceção de realização de seu registro ou averbação pública, quando então
haverá irradiação de efeitos erga omnes.
e) Boa-fé objetiva: envolve o cumprimento dos deveres de lealdade,
equilíbrio, probidade, honra e honestidade na celebração do contrato, sua

8
‘cumpra-se o que fora pactuado’, em tradução livre.

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formação, execução e resolução, o qual será interpretado de acordo com esses
ditames para adequada execução.
Necessário lembrar que o código civil de 1916 era lastreado na boa fé
subjetiva, a qual, contudo, pela condição subjetiva, não permitia adequada
aplicação. Assim, o CC de 2002 evoluiu para firmar a aplicação da boa-fé a partir
da interpretação equânime e equilibrada das cláusulas contratuais.

3. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS

A formação do contrato tem por gênese a proposição e respectiva aceitação.


Temos, assim, as figuras do proponente e do oblato, cujas manifestações de
vontade (proposição e respectiva aceitação) encetam o vínculo, firmando o negócio
jurídico, seus respectivos tempo e lugar.
Até a confirmação da proposta, temos o que pode ser designado como
negociações preliminares, correspondentes à proposta (que obriga o proponente)
até a aceitação (que obriga o oblato).
Quanto ao contrato preliminar, trata-se de formalização de negócio jurídico
já estabelecido, mas que, não tendo se revestido de formalidade exigida, é tido
como de caráter preliminar. Tem efeitos entre as partes, obrigando as partes à sua
perfectibilização em contrato definitivo. Com exceção da forma, deve cumprir todos
os demais requisitos – art. 462 a 466 do CC.
É exemplo de contrato preliminar a promessa de compra e venda, com a
perfectibilização através da escritura pública de compra e venda.

4. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Contratos unilaterais e bilaterais


São bilaterais os contratos que envolvem obrigações recíprocas entre os
contratantes, como ocorre, v.g., na compra e venda – obrigação de entrega do bem
da vida e respectivo pagamento do preço.
São unilaterais os contratos que envolvem obrigação de apenas uma das
partes, sem contudo, deixar de existir duas ou mais partes no referido instrumento.
Caso típico da doação pura e simples, onde apenas doador tem encargos.

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Contratos onerosos e gratuitos


São onerosos os contratos que envolvem prestação de ambas as partes
(contrato de locação), enquanto que os contratos gratuitos tem ônus para apenas
um deles (doação pura e simples). De modo prático e geral, tem equivalência à
classificação de unilaterais e bilaterais.

Contratos comutativos e aleatórios


Comutativo é o contrato em que as partes possuem, entre si, prestações
equivalentes (na compra e venda, entrega do bem e pagamento do valor
equivalente).
Já no contrato aleatório, a prestação de uma das partes dependerá de
evento futuro e incerto para ser adimplida, tal como ocorre quanto à cobertura
securitária (o pagamento de indenização depende da ocorrência de sinistro/fato
previsto no contrato).

Contratos paritários e por adesão


Paritários são os contratos ‘construídos’ por ambas as partes, ou seja, com
cláusulas e condições previstas e ajustadas por ambas as partes.
Já os contratos de adesão são aqueles que uma das partes o apresenta
apenas para a aceitação de outra, quanto aos termos, onde a outra ‘adere’ ao
referido termo. De modo tradicional, os contratos de adesão demandam aprovação
prévia por órgão ou agência reguladora (como contratos de telefonia ou plano de
saúde). Porém, doutrina e jurisprudência citam como de adesão o contrato que é
imposto, quanto à forma, de uma parte à outra.
O Código Defesa Consumidor prevê a possibilidade de afastamento ou
relativização de cláusulas leoninas previstas em contratos de adesão decorrentes
de relação de consumo, o que também pode ser visto nos contratos civis de modo
específico e pontual.

Contratos consensuais, reais e solenes


São consensuais os contratos que se perfazem pela simples concordância
ou anuência das partes.

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Já os solenes são aqueles que dependem de cumprimento de prescrição
legal quanto á forma ou procedimento.
São, por fim, reais, os contratos que se perfectibilizam com a entrega da
coisa.

Contratos típicos e atípicos.


São típicos os contratos que encontram disciplina jurídica, ou seja, cuja
espécie está prevista ou descrita no ordenamento jurídico (ex. contrato locação).
Como não há óbice à construção de contratos e respectivas modalidades
(art. 104, III do CC), os não previstos são denominados de atípicos, sendo admitidos
na doutrina e jurisprudência, porém sem previsão legal (ex. contrato leasing).

Contratos de execução imediata e diferida


São de execução imediata os contratos em que o objeto é satisfeito de
imediato, ou em um só instante (ex. troca de bens).
Por outro lado, havendo execução do objeto ao longo do tempo, temos os
contratos de execução diferida, como ocorre no contrato de locação.

Contratos principais e acessórios


São principais os contratos que dependem de per si, ou seja, subsistem
independentemente de outros (v.g. locação).
São, porém, acessórios, os contratos que existem em razão de contrato
principal, tal como o de fiança em relação ao de locação.

5. REPERCUSSÃO DO CONTRATO EM RELAÇÃO À TERCEIROS

Há hipóteses de reflexos dos contratos em relação à terceiros, mesmo que


não sejam partes ou tenham participado da estipulação.

Estipulação em favor de terceiro


Ocorre quando o credor do contrato estipula o cumprimento da prestação
devida em favor de terceiro – art. 436 do CC.

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Contudo, o credor, em caso de inadimplemento, poderá exigir o cumprimento
do contrato.

Contrato por terceiro ou promessa de fato de terceiro


Contrato onde o devedor adimplirá a sua obrigação a partir da concordância
de terceiro, que, não sendo parte do contrato, assumirá o compromisso de seu
cumprimento a partir do assentimento à fato previsto no contrato e cuja obrigação
recairá sobre si – art. 439 do CC.

Contrato com pessoa a declarar


Contrato em que, firmado por partes nominadas, permite à uma delas
nominar terceiro para assumir a sua condição, dentro do prazo estabelecido.
A indicação/nomeação deverá ser aceita e se revestir da mesma forma do
contrato principal – Art. 440 do CC.
Não sendo aceita, a obrigação permanece com a parte ‘original’.

6. NUANCES CONTRATUAIS COMPLEMENTARES

Exceção do contrato não cumprido


A exceptio non adimpleti contractus constitui-se na hipótese de suspensão
do adimplemento de obrigação por uma das partes em razão do inadimplemento
da outra.
Sendo um contrato sinalagmático (com prestações de ambas as partes), a
parte inadimplemento não poderá exigir que a outra cumpra a sua obrigação sem
antes cumprir a própria – Art. 476 CC.

Vícios redibitórios
São falhas ou defeitos ocultos existentes na coisa alienada, objeto de
contrato, não comuns as congêneres, que a tornam imprópria ao uso, a que se
destina, ou lhe diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não
se realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente ação para
redibir o contrato ou para obter abatimento do preço – art.

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Evicção
É a perda da coisa, por incidência de direito de terceiro, fundada em motivo
jurídico anterior, que confere à outrem, seu verdadeiro dono, e o reconhecimento
em juízo da existência de ônus sobre a mesma coisa, não denunciado
oportunamente no contrato. Ex. Penhor, penhora, etc.

Teoria da imprevisão (ou quebra da base objetiva do negócio)


Em razão de onerosidade excessiva e imprevista, refere a possibilidade
jurídica de revisão ou resolução judicial do contrato nas hipóteses do art. 478 CC
“Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das
partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em
virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir
a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação”.
Tal revisão pode ser evitada em caso de disponibilidade da parte contrária à
mudança equitativa da base do negócio.

7. FORMAS DE EXTINÇÃO DOS CONTRATOS

Adimplemento contratual
Corresponde ao cumprimento do contrato nos termos entabulados –
cumprimento no tempo, lugar e forma convencionados.
Gera a extinção do contrato, como ato jurídico perfeito e acabado.

Resolução contratual
Tem-se por resolução contratual a extinção do contrato em razão de seu
inadimplemento total ou parcial, bem como por desinteresse ou vícios constatados
no decorrer de sua execução.

Resilição bilateral
Extinção do contrato por força de ajuste entre as partes contratantes, pondo
fim ao vínculo de modo consensual – art. 472 do CC.

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Resilição unilateral
Decisão e ação de extinção do contrato, por uma das partes contratantes,
dentro de possibilidade jurídica prevista no contrato ou na lei – art. 473 do CC.

Rescisão contratual
Situação de reconhecimento de nulidade ou anulabilidade que retira a
validade do contrato, ou seja, o retira do mundo jurídico. Ocorre, por exemplo, no
caso de descumprimento dos requisitos do art. 104 do CC.

XX EXAME OAB – REAPLICAÇÃO SALVADOR (2016.2)


QUESTÃO 43. O apartamento de João é invadido e, entre outras
coisas, um paletó é furtado. Três meses depois, João descobre que o seu
paletó está sendo usado por Ricardo. Ao ser confrontado, Ricardo esclarece
que adquiriu o paletó há um mês de um brechó, que o mantinha exposto no
mostruário. Alegou ainda que adquiriu a roupa sem saber que era
proveniente de furto. Em prova do alegado, Ricardo exibe documento
comprobatório da compra do paletó feita no brechó. Tendo em vista a
situação descrita, assinale a afirmativa correta.
A) Ricardo não é o legítimo proprietário do paletó, pois o adquiriu do
brechó, que não era o verdadeiro dono da coisa.
B) Ricardo é o legítimo proprietário do paletó, uma vez que o adquiriu
de boa-fé, em estabelecimento comercial, que, nas circunstâncias do caso,
aparentava ser o dono da coisa.
C) Ricardo é o legítimo proprietário do paletó, mas deve indenizar
João, entregando-lhe soma equivalente ao preço que pagou ao brechó.
D) Ricardo não é o legítimo proprietário do paletó, uma vez que o
comprou do brechó apenas dois meses depois do furto sofrido por João.

RESPOSTA: B

DIREITO CIVIL – CONTRATOS EM ESPÉCIE

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1. CONTRATO DE COMPRA E VENDA

Trata-se de contrato onde uma parte obriga-se à transferir determinado bem


(material ou imaterial) para outra pessoa, mediante cerca quantia pecuniária ou
fiduciária. Trata-se de contrato bilateral, sinalagmático, oneroso, solene ou
consensual, comutativo ou aleatório9
O contrato, tanto de bem móvel ou imóvel, representa típico vínculo
obrigacional, sendo que a transferência da propriedade ocorrerá através da tradição
do bem.
Sendo móvel, a tradição se dá pela entrega (no sentido literal) do mesmo ao
comprador; sendo imóvel, a tradição do bem se dá de forma simbólica (entrega das
chaves). A transferência da propriedade, no caso de imóvel, assim como para
alguns bens (móveis ou imateriais) específicos, se dá mediante registro em local
competente (registro de imóveis, para os imóveis; alteração no INPI, para marcas
ou patentes, v.g.).
Quanto aos requisitos de validade, aplica-se o disposto no art. 104 do CC,
acrescendo-se, de modo específico, como elementos constitutivos, a coisa, o preço
e o consentimento.
O objeto deverá ser certo, determinado ou determinável, possível, presente
ou futuro.
Quanto ao preço, deve ser em dinheiro, pois, sendo outro bem, tratar-se-á
de permuta. O preço deve ser em moeda corrente nacional, salvo quando da
compra da própria moeda estrangeira ou em negócios internacionais ou com
vinculação ou objeto com origem no exterior. Também é importante citar a permuta
com torna, onde há troca de bens e, havendo diferença financeira entre ambos,
uma parte ‘torna’ essa diferença à outra – negócio que se configura permuta e não
compra e venda.
Sobre o consentimento, além do ato volitivo (vontade de contratar),
destaque-se as exceções que poderão fulminar o contrato. É o caso de venda (ou
atribuição de direito real) de imóvel por pessoa casada (onde há necessidade da
outorga uxória ou venda conjunta, salvo na separação total de bens ou de

9
Silvio Rodrigues, Direito Civil.

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separação final dos aquestos) – art. 1647 e 1656 do CC; compra e venda entre
cônjuges – art. 499, 1659 e 1668 do CC; venda entre ascendentes e descendentes
sem anuência dos demais irmãos e cônjuge – art. 496 CC (compra e venda
anulável); impossibilitados por ofício – art. 497 do CC; venda de parte indivisa pelo
condômino – art. 504 do CC.
A celebração da compra e venda gera:
a) o dever de entrega do bem;
b) obrigação de pagamento do preço;
c) satisfação de garantia estabelecida (real ou fidejussória);
d) responsabilidade pelos riscos até tradição (devedor) e após (credor);
e) direito aos cômodos da tradição (frutos e acréscimos para devedor até
tradição);
f) responsabilidade do devedor por evicção ou vícios redibitórios;
g) direito de resolução do contrato na compra e venda a contento, não
cumprido o ofertado;
h) complementação de área na venda ad mensuram10.

Importante esclarecer que a venda ad mensuram é aquela em que o objeto


da compra e venda é por medida certa (‘x hectares’, por exemplo). Havendo
diferença entre o objeto adquirido e o entregue, e sendo a diferença acima de um
vigésimo, haverá direito à complementação ou devolução (se houver sobra) – art.
500 do CC.
Se contrapõe à essa a chamada venda ad corpus, onde o bem, tal qual é
apresentado, é alienado, podendo a medida ser a estipulada ou não. Nesse caso,
não há direito à complementação.

39ª Questão:

Flávia vendeu para Quitéria seu apartamento e incluiu, no contrato de compra e


venda, cláusula pela qual se reservava o direito de recomprá-lo no prazo máximo
de 2 (dois) anos. Antes de expirado o referido prazo, Flávia pretendeu exercer seu
direito, mas Quitéria se recusou a receber o preço.

10
Venda realizada por quantia ou medida certa – aplica-se na compra e venda de imóveis, onde a aquisição
de área em quantidade (pela ‘mensuração’).

83
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Sobre o fato narrado, assinale a afirmativa correta.

a) A cláusula pela qual Flávia se reservava o direito de recomprar o imóvel é


ilícita e abusiva, uma vez que Quitéria, ao se tornar proprietária do bem,
passa a ter total e irrestrito poder de disposição sobre ele.

b) A cláusula pela qual Flávia se reservava o direito de recomprar o imóvel é


válida, mas se torna ineficaz diante da justa recusa de Quitéria em receber
o preço devido.

c) A disposição incluída no contrato é uma cláusula de preferência, a impor


ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa, mas somente
quando decidir vendê-la.

d) A disposição incluída no contrato é uma cláusula de retrovenda, entendida


como o ajuste por meio do qual o vendedor se reserva o direito de
resolver o contrato de compra e venda mediante pagamento do preço
recebido e das despesas, recuperando a coisa imóvel.

R-D

39ª Questão:

José celebrou com Maria um contrato de compra e venda de imóvel, no valor de


R$100.000,00, quantia paga à vista, ficando ajustada entre as partes a exclusão
da responsabilidade do alienante pela evicção. A respeito desse caso, vindo a
adquirente a perder o bem em decorrência de decisão judicial favorável a terceiro,
assinale a afirmativa correta.

a) Tal cláusula, que exonera o alienante da responsabilidade pela evicção, é


vedada pelo ordenamento jurídico brasileiro.

b) Não obstante a cláusula de exclusão da responsabilidade pela evicção, se


Maria não sabia do risco, ou, dele informada, não o assumiu, deve José
restituir o valor que recebeu pelo bem imóvel.

c) Não obstante a cláusula de exclusão da responsabilidade pela evicção,


Maria, desconhecendo o risco, terá direito à dobra do valor pago, a título
de indenização pelos prejuízos dela resultantes.

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d) O valor a ser restituído para Maria será aquele ajustado quando da


celebração do negócio jurídico, atualizado monetariamente, sendo
irrelevante se tratar de evicção total ou parcial.

R- B

Cláusulas especiais da compra e venda


a) Retrovenda: cláusula contratual onde, na venda de imóvel, o vendedor se
reserva o direito de recomprar o bem, independentemente da vontade do
comprador, mediante pagamento do preço e despesas realizados – art. 505 CC.
Tem prazo de resgate de acordo com contrato, mas limitado ao máximo de
03 anos (prazo decadencial).

b) Venda a contento e sujeita à prova: na venda a contento, a compra e


venda está condicionada pela manifestação de concordância/aceitação do
comprador – art. 509.
Na venda sujeita á prova, esta condiciona-se à aferição de características e
qualidades referidas pelo vendedor quando do negócio e que são verificadas na
entrega do bem – art. 510.
Prazo de manifestação fixado em contrato ou mediante constituição do
comprador em mora (mora ex persona).

c) preempção ou preferência: cláusula em que o vendedor se reserva o


direito de preferência, caso o ora comprador intente alienar o bem, tendo, assim, a
preferência, tanto por tanto, em relação à terceiros.
Prazo estipulado em contrato, com máximo de 180 dias para móvel e 2 anos
para imóvel – art. 513 CC.
Não se transfere à cessionário ou herdeiros.

d) venda com reserva de domínio: trata-se de situação em que o vendedor


de coisa móvel, com pagamento diferido ou continuado, reserva-se a propriedade
dominial do bem até a satisfação integral do preço – art. 521 do CC.

85
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Em caso de inadimplemento, pode optar entre retomar o bem (com a
devolução do saldo após desconto de multa, encargos e despesas) ou indicar o
bem à penhora para satisfação do crédito – art. 526 e 527 do CC.
Os riscos da coisa correm á conta do comprador – art. 524 do CC.

e) venda sobre documentos: trata-se de compra e venda onde a negociação


e tradição do bem é substituída pela representação documental. É utilizada em
operações de importação e exportação, onde o bem é embarcado, um terceiro afere
tal embarque, o pagamento é realizado através do terceiro, que só liberará tal
pagamento após a entrega efetiva do objeto remetido.
Tal venda assegura a lisura e segurança de operações – art. 529 CC.

42ª Questão:

Donato, psiquiatra de renome, era dono de uma extensa e variada biblioteca, com
obras de sua área profissional, importadas e raras. Com sua morte, seus três
filhos, Hugo, José e Luiz resolvem alienar a biblioteca à Universidade do Estado,
localizada na mesma cidade em que o falecido residia.

Como Hugo vivia no exterior e José em outro estado, ambos incumbiram Luiz de
fazer a entrega no prazo avençado. Luiz, porém, mais preocupado com seus
próprios negócios, esqueceu-se de entregar a biblioteca à Universidade, que,
diante da mora, notificou José para exigir-lhe o cumprimento integral em 48 horas,
sob pena de resolução do contrato em perdas e danos.

Nesse contexto, assinale a afirmativa correta.

a) José deve entregar a biblioteca no prazo designado pela Universidade, se


quiser evitar a resolução do contrato em perdas e danos.

b) Não tendo sido ajustada solidariedade, José não está obrigado a entregar
todos os livros, respondendo, apenas, pela sua cota parte.

c) Como Luiz foi incumbido da entrega, a Universidade não poderia ter


notificado José, mas deveria ter interpelado Luiz.

d) Tratando-se de três devedores, a Universidade não poderia exigir de um


só o pagamento; logo, deveria ter notificado simultaneamente os três
irmãos.

86
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R–A

43ª Questão:

A Companhia GAMA e o Banco RENDA celebraram entre si contrato de mútuo,


por meio do qual a companhia recebeu do banco a quantia de R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais), obrigando-se a restituí-la, acrescida dos juros
convencionados, no prazo de três anos, contados da entrega do numerário. Em
garantia do pagamento do débito, a Companhia GAMA constituiu, em favor do
Banco RENDA, por meio de escritura pública levada ao cartório do registro de
imóveis, direito real de hipoteca sobre determinado imóvel de sua propriedade. A
Companhia GAMA, dois meses depois, celebrou outro contrato de mútuo com o
Banco BETA, no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), obrigando-se a
restituir a quantia, acrescida dos juros convencionados, no prazo de dois anos,
contados da entrega do numerário.

Em garantia do pagamento do débito, a Companhia GAMA constituiu, em favor do


Banco BETA, por meio de escritura pública levada ao cartório do registro de
imóveis, uma segunda hipoteca sobre o mesmo imóvel gravado pela hipoteca do
Banco RENDA. Chegado o dia do vencimento do mútuo celebrado com o Banco
BETA, a Companhia GAMA não reembolsou a quantia devida ao banco, muito
embora tivesse bens suficientes para honrar todas as suas dívidas.

Nesse caso, é correto afirmar que

a) o Banco BETA tem direito a promover imediatamente a execução judicial


da hipoteca que lhe foi conferida.

b) a hipoteca constituída pela companhia GAMA em favor do Banco BETA é


nula, uma vez que o bem objeto da garantia já se encontrava gravado por
outra hipoteca.

c) a hipoteca constituída pela GAMA em favor do Banco BETA é nula, uma


vez que tal hipoteca garante dívida cujo vencimento é inferior ao da dívida
garantida pela primeira hipoteca, constituída em favor do Banco RENDA.

d) o Banco BETA não poderá promover a execução judicial da hipoteca que


lhe foi conferida antes de vencida a dívida contraída pela Companhia
GAMA junto ao Banco RENDA.

R–D

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2. TROCA OU PERMUTA

Contrato onde o objeto é a troca entre dois objetos, não sendo


essencialmente pecuniário. Como dito alhures, há permuta com torna, relativa essa
à diferença financeira entre um e outro objeto
Aplica-se as disposições da compra e venda – art. 533 do CC. Exceção à
permuta de bens com valores desiguais entre ascendentes e descentes.

3. CONTRATO ESTIMATÓRIO

Contrato onde alguém recebe de outrem determinado bem para venda à


terceiros, em seu próprio nome. Realizada a venda, deve efetuar o pagamento
estimado.
Não realizada a venda no prazo estipulado, aquele que recebera o bem pode
ser interpelado à pagar o preço estimado ou restitua o bem (obrigação alternativa)
– art. 534 CC.

39ª Questão:

Maria entregou à sociedade empresária JL Veículos Usados um veículo Vectra,


ano 2008, de sua propriedade, para ser vendido pelo valor de R$ 18.000,00.
Restou acordado que o veículo ficaria exposto na loja pelo prazo máximo de 30
dias.

Considerando a hipótese acima e as regras do contrato estimatório, assinale a


afirmativa correta.

a) O veículo pode ser objeto de penhora pelos credores da JL Veículos


Usados, mesmo que não pago integralmente o preço.

b) A sociedade empresária JL Veículos Usados suportará a perda ou


deterioração do veículo, não se eximindo da obrigação de pagar o preço
ajustado, ainda que a restituição se impossibilite sem sua culpa.

c) Ainda que não pago integralmente o preço a Maria, o veículo consignado


poderá ser objeto de penhora, caso a sociedade empresária JL Veículos
Usados seja acionada judicialmente por seus credores.

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d) Maria poderá dispor do veículo enquanto perdurar o contrato estimatório,


com fundamento na manutenção da reserva do domínio e da posse
indireta da coisa.

R-b

4. DOAÇÃO

Contrato em que o doador transfere, ao donatário, bens ou direitos ou ações,


de forma gratuita, de modo puro e simples ou mediante encargo. Segundo a
doutrina, é contrato unilateral – art. 538 CC.
Requer ânimo do doador, transferência de bem do patrimônio do doador ao
donatário, e aceitação do donatário.
Requer escritura pública ou instrumento particular; de modo excepcional,
para bens móveis, de pequeno valor e logo objeto de tradição, poderá ser verbal –
art. 541 CC.
É viável ao nascituro (se confirmado nascimento com vida) – art. 542 CC; ao
incapaz (se pura, independe de aceitação) – art. 543 CC; importa adiantamento de
herança se de ascendente a descendente e não ressalvada como de parte
disponível – art. 544 CC; é possível estipulação de reversão em caso de morte do
donatário – art. 547 CC.
Será nula a doação de todos os bens sem reserva de condições de
sobrevivência – art. 548; ou quando doar além de parte disponível; a doação à
cúmplice por cônjuge adúltero é anulável – art. 550 CC.

A doação poderá ser revogada por ingratidão (art. 557 CC) do donatário ou
por inexecução do encargo (art. 553 e 562 CC):

Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:


I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de
homicídio doloso contra ele;
II - se cometeu contra ele ofensa física;

89
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III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que
este necessitava.

Ver exceções da possibilidade de revogação – art. 564 CC.

5. LOCAÇÃO DE COISAS

A locação envolve a cessão de uso e gozo de coisa infungível, de uma


pessoa a outra, mediante certa retribuição, por tempo determinado ou
indeterminado – art. 565 CC.
A locação pode ser de bens móveis e imóveis. Quanto aos imóveis, via de
regra, está regida pela lei 8245/91 – Lei de locações, em especial quanto á locação
comercial, residencial e por temporada.
As demais locações são as regidas pelo Código Civil. Cite-se, como
exemplo, o caso de locação de garagens, espaços publicitários, bens móveis
diversos, etc.
Locador (art. 566 CC) e locatário (art. 569 CC) possuem obrigações
recíprocas, envolvendo entrega e restituição do bem, pagamento e conservação,
entre outros.
Em caso de construção de benfeitorias úteis autorizadas, ou necessárias, há
direito de retenção para o locatário, ou seja, de permanecer no imóvel até
compensação entre o gasto e locação equivalente – art. 578 CC.
Estipulado prazo, devolução apenas no seu termo, sob pena incidência de
multa ou reparação perdas e danos.
Há direito de preferência na aquisição, pelo locatário, tanto por tanto com
terceiro, desde que a locação seja registrada no ofício de registro de imóveis ou no
cartório de registro de títulos e documentos – art. 576 CC.
A morte de locador ou locatário não encerra a locação se houver sucessores.
Resolução da locação pode ser por: perda total da coisa locada; perda
parcial da coisa com impossibilidade de uso por culpa de locador ou locatário;
implemento de cláusula resolutiva; retomada do bem locado; vencimento do prazo;

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distrato; morte do locatário sem sucessores; resilição unilateral; falência ou
recuperação judicial (ver art. 119, III da lei de falências).

6. EMPRÉSTIMO

Contrato onde uma das partes recebe, a título gratuito ou oneroso, bem
fungível (mútuo) ou infungível (comodato), com o compromisso de sua restituição
findo o prazo estipulado.
Tratando-se de comodato, a coisa tal qual fora entregue deve ser restituída
– art. 582 CC. Prazo pode ser determinado ou indeterminado. Despesas de
conservação da coisa sob responsabilidade do comodatário – art. 584.
Tratando-se de mútuo, a restituição é pelo mesmo gênero, qualidade e
quantidade do que se emprestou – art. 586 do CC. Sendo destinado à fins
econômicos, presume-se o pagamento de juros (art. 406 CC). Pode ser por prazo
determinado ou indeterminado (caso em que a lei estipula prazo – art. 592 do CC).

7. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO

A prestação de serviços de natureza laboral é regida pela CLT. Assim, a


prestação de serviços envolve atividades de natureza eventual ou sem
subordinação.
Trata-se de contrato em que o prestador se compromete à prestar
determinado serviço ao tomador – art. 593. Não há limitação de trabalho à ser
objeto desse contrato, salvo art. 104 do CC – art. 594 CC. É bilateral, oneroso,
consensual.
Prazo limite de 04 anos, devendo ser renovado, eis que resolução obrigatória
– art. 598 CC. Não havendo prazo, aplicação dos costumes locais, de acordo com
o objeto, podendo ser fixado mediante interpelação – art. 599 CC.
Falta de habilitação legal para exercício da atividade desenvolvida impede
cobrança do valor – art. 606 CC.
Exemplos – prestação de serviços contábeis, jurídicos, médicos, etc.

8. EMPREITADA

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Trata-se de contrato em que alguém (empreiteiro) se compromete à realizar


certa obra, material (como construção casa) ou intelectual (elaboração projeto
arquitetônico), em favor de outrem, mediante remuneração.
É bilateral, comutativo, oneroso, indivisível e consensual.
A execução pode ser por si ou terceiros (fungível ou infungível); pode
envolver apenas mão de obra ou mão de obra e material – art. 610 CC.
Pode ser a preço fixo (preço por obra inteira), por medida (preço calculado
por fase ou etapa), preço reajustável (que permite ajuste no preço), preço máximo
(estipula limite de gasto), ou preço de custo (repasse preço dos materiais utilizados)
– art. 615 a 619 CC.
Na empreitada de mão de obra e material, responsabilidade integral do
empreiteiro; na mão de obra apenas, responsabilidade limitada à execução. Prazo
– 05 anos – art. 618 CC.
Na empreitada de mão de obra apenas, responsabilidade do comitente (ou
dono da obra) pelos materiais; na mão de obra e material, responsabilidade
exclusiva do empreiteiro.
Suspensão da obra – nos casos dos art. 623 e 625 CC.

XXI EXAME OAB – QUESTÃO 40. Tiago celebrou contrato de


empreitada com a sociedade Obras Já Ltda. para a construção de piscina e
duas quadras de esporte em sua casa de campo, pelo preço total de R$
50.000,00. No contrato ficou estabelecido que a empreiteira seria
responsável pelo fornecimento dos materiais necessários à execução da
obra. Durante a obra, ocorreu uma enchente que alagou a região e parte do
material a ser usado na obra foi destruída. A empreiteira, em razão disso,
entrou em contato com Tiago cobrando um adicional de R$ 10.000,00 para
adquirir os novos materiais necessários para terminar a obra.
Diante dos fatos narrados, assinale a afirmativa correta.
A) Tiago não terá que arcar com o adicional de R$ 10.000,00, ainda
que a destruição do material não tenha ocorrido por culpa do devedor.

92
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B) Tiago não terá que arcar com o adicional de R$ 10.000,00, porém
a empreiteira não está mais obrigada a terminar a obra, tendo em vista a
ocorrência de um fato fortuito ou de força maior.
C) Tiago terá que arcar com o adicional de R$ 10.000,00, tendo em
vista que a destruição do material não foi causada por um fato fortuito ou de
força maior.
D) Tiago terá que arcar com o adicional de R$ 10.000,00 e a
empreiteira não está mais obrigada a terminar a obra, ante a ocorrência de
um caso fortuito ou de força maior.

Resposta: A

9. DEPÓSITO

Contrato pelo qual uma pessoa recebe de outra, bem móvel,


comprometendo-se à sua guarda e conservação temporária. É contrato bilateral,
gratuito (eventualmente pode ser oneroso – art. 628), real e intuito personae
(condição pessoal é determinante).
É possível a estipulação de valor ou encargo, porém, regra é a gratuidade.
Há responsabilidade do depositário por caso fortuito, sendo afastada a
responsabilidade por força maior (desde que provada) – art. 642 CC.
Há depósito voluntário (ajustado entre as partes depositante e depositária –
art. 627 CC); e necessário (verificado em casos de desempenho de obrigação legal,
calamidade, incêndio, inundação, naufrágio ou saque – art. 647 CC).
O depósito necessário não se presume gratuito.
A pena de prisão do art. 652 do CC não mais subsiste em razão da recepção,
como emenda constitucional, da Declaração de Direitos e Deveres do Homem
Americano, que afasta prisão civil por depósito infiel.

10. MANDATO

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Contrato pelo qual o mandatário assume a responsabilidade de realizar certo
negócio, praticar atos de administração ou administração interesses, em favor do
mandante. É bilateral, podendo ser gratuito ou oneroso. Art. 653 CC.
Pode ser verbal, tácito ou expresso, por escrito público ou particular – art.
655 e 656 CC. Possui intrínseca a estipulação de poderes gerais, demandando
previsão expressa de poderes especiais.
Possui como característica a revogabilidade (salvo na procuração com
cláusula de irrevogabilidade ou em causa própria, ou seja, em favor do mandatário)
– art. 684 e 685 CC.
Atos praticados pelo mandatário são sob responsabilidade do mandante,
porém com reserva de eventual direito de regresso – art. 667 CC. Há direitos e
obrigações recíprocos – art. 667 e 675 CC.
Extinção ocorre por revogação, renúncia, morte ou interdição, término do
prazo, conclusão do negócio ou mudança de estado com impossibilidade de
confirmação ou exercício de poderes – art. 682 CC.
Mandato judicial – procuração outorgada à advogado – regido pelo CPC –
art. 692 CC.
Estudar o mandato conferido ao advogado, em especial quanto aos
poderes e limites previstos no CPC e no Estatuto da OAB.

11. COMISSÃO

Contrato pelo qual certa pessoa (comissário) se obriga a vender, em seu


nome e responsabilidade, bem de terceiro (comitente), em troca de certa
remuneração (comissão) - art. 693 CC.
É contrato bilateral e oneroso. Responsabilidade pela venda será do
comissário.
Cláusula del credere: trata-se de cláusula onde o comissário assume a
responsabilidade solidária pelo pagamento do preço junto ao comprador da coisa.
Vedada, em regra, para representantes comerciais- art. 698 CC.
Aplicação subsidiária das regras do mandato.

12. AGÊNCIA OU DISTRIBUIÇÃO

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Contrato onde determinada pessoa, sem dependência, mas em caráter não


eventual, assume a responsabilidade de promover a realização de negócios em
determinada zona ou região.
Se a não estiver com o agenciador, tratar-se-á de agência; estando a coisa
à disposição ou posse, teremos distribuição – art. 710 CC.
É contrato bilateral, oneroso, intuito personae e consensual.
Firma exclusividade (em regra) e relação de caráter comercial entre as
partes – art. 710 CC.
Alcançando-se o resultado de realização de negócio, haverá direito à
retribuição pecuniária – art. 716 e 717 CC.

13. CORRETAGEM

Contrato onde alguém, sem mandato, compromete-se a obter negócios para


a outra, mediante remuneração sobre negócios realizados – art. 722 CC.
É bilateral, acessório, oneroso, consensual e aleatório, pois depende da
efetivação do negócio para obrigação ao pagamento da remuneração. Exemplo –
corretagem de imóveis.
Em caso de exclusividade, permanece direito de remuneração (art. 726 CC);
remuneração devida mesmo em caso de ultimação pelas partes, se houver trabalho
do corretor (art. 725 CC) – art. 727 CC.
Há corretores oficiais (de fundos públicos, de mercadorias, de navios, de
operações de câmbio, de seguros, e de valores) e livres (de imóveis, móveis, etc).

41ª Questão:

Marina comprometeu-se a obter para Mônica um negócio de compra e venda de


um imóvel para que ela pudesse abrir seu curso de inglês. Marina encontrou uma
grande sala em um prédio bem localizado e informou a Mônica que entraria em
contato com o vendedor para saber detalhes do imóvel.

A partir da hipótese apresentada, assinale a opção correta.

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a) Marina marca uma reunião entre o vendedor e Mônica, mas o negócio não
se realiza por arrependimento das partes. Sem pagar a comissão, Mônica
dispensa Marina, que reclama seu pagamento, explicando que conseguiu
o negócio e que não importa se não ocorreu a compra da sala.

b) Passado o prazo contratual para a obtenção do negócio, o próprio


vendedor entra em contato com Mônica para celebrar o negócio,
liberando-a, portanto, de pagar a comissão de Marina.

c) Como a obrigação de Marina é apenas de obtenção do negócio, a


responsabilidade pela segurança e pelo risco é apenas do vendedor,
sendo desnecessário que Marina se preocupe com esses detalhes.

d) A remuneração de Marina deve ser previamente ajustada entre as partes;


caso contrário, Mônica pagará o valor que achar suficiente.

Resposta: A

14. TRANSPORTE

O contrato de transporte envolve a obrigação de alguém, para com outrem,


em realizar o transporte oneroso de pessoa e/ou coisa até destino especificado. É
bilateral, consensual, comutativo e oneroso.
Tem por característica importante a responsabilidade objetiva do
transportador, bem como a solidariedade entre os transportadores, quando houver
transporte cumulativo – art. 733, 734 e 756 CC.
O transporte de pessoas envolve responsabilidade do transportador
inclusive por caso fortuito – art. 735 CC – pessoas + respectiva bagagem.
Transporte gratuito (carona) – não se submete aos termos do capítulo, havendo
responsabilidade apenas por ato ilícito (culpa) do transportador. Em caso de não
pagamento da passagem – direito de retenção da bagagem – art. 742.
No transporte de coisas, há necessidade de caracterização da coisa - art.
743 CC; é emitido o conhecimento de transporte, cujo documento é representativo
do bem e representa o vínculo contratual (art. 744 CC); indenização pelo valor
declarado (ou auferido) do bem.

15. SEGURO

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Contrato onde a seguradora se compromete, mediante pagamento de


preliminar de prêmio, a garantir indenização por ocasião de evento futuro e incerto,
quanto à coisa ou pessoa, mas a partir de riscos pre determinados – art. 757 CC.
É bilateral, oneroso, aleatório, formal, de execução sucessiva, por adesão,
calcado na boa fé na contratação e execução.
É provado por apólice ou bilhete de seguro (art. 758 CC); no seguro de
pessoa não poderá ser ao portador (art. 760 CC); mora afasta cobertura (art. 763
CC); é nulo se der cobertura por ato doloso; haverá perda de garantia por
agravamento do risco (art. 768 CC).
No seguro de dano, a garantia corresponde ao valor do dano e ao limite da
apólice. Ocorrendo o pagamento da indenização, a seguradora terá direito de
regresso em face de culpado – art. 786 CC. No seguro de reparação civil, a
indenização será para danos causados a 3º pelo segurado.
No seguro de pessoa, o capital segurado é livre (art. 789 CC); beneficiário é
estipulado e poderá ser alterado; sendo seguro de vida, não havendo beneficiário
serão os sucessores (art. 792 CC); em caso de morte, valor do seguro não está
sujeito à satisfação de débitos do segurado (art. 794 CC); não haverá cobertura em
caso de suicídio nos 2 primeiros anos de contrato (art. 798 CC), sendo nula cláusula
penal que afasta tal cobertura após o prazo.

16. CONSTITUIÇÃO DE RENDA

Contrato em que alguém se obriga a constituir e pagar renda em favor de


outrem, por período determinado ou determinado, a título gratuito ou oneroso – art.
803 e 804 CC.
É bilateral ou unilateral (conforme caso); oneroso ou gratuito; comutativo ou
aleatório; formal, real e temporário (pode ser vitalício).
Admite a prestação de garantia real ou fidejussória – art. 805; requer
escritura pública – art. 807; é nula se estipulada em favor de falecido ou que vier a
falecer em 30 dias por moléstia existente e conhecida – art. 808 e 809; é revogável
por descumprimento de encargo – art. 810 CC.
Extingue-se com o falecimento.

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17. JOGO E APOSTA

Jogo é o contrato em que duas pessoas estipulam prêmio ao vencedor de


determinada disputa entre as mesmas. Aposta é a convenção entre duas ou mais
pessoas que, divergentes de opinião, prometem o pagamento de bem ou quantia
àquele cuja opinião prevalecer.
São referidos os jogos e apostas lícitos, pois os ilícitos, por sua condição,
não podem ser tutelados no direito civil.
Jogos tolerados tem característica de obrigação natural – art. 814 do CC.

18. FIANÇA

Contrato acessório em que uma pessoa se obriga, em favor de outra, a


garantir o cumprimento de determinada obrigação, em caso de inadimplemento do
afiançado. É assessório, unilateral, gratuito e subsidiário.
A responsabilidade decorrente da fiança é subsidiária por regra, podendo ser
estipulada a solidariedade (art. 828 CC). Nesse caso, há o benefício de ordem,
onde o fiador poderá indicar bens do devedor à penhora, caso demandado ao
pagamento da dívida.
O vínculo da fiança é pessoal para com o afiançado, não obstante seja em
benefício do credor.
Ocorrendo o inadimplemento do devedor, o fiador suportará o pagamento
nos limites do contrato de fiança, garantindo-se-lhe o direito de regresso em face
do devedor por sub-rogação. A sub-rogação envolve o principal, mais perdas e
danos decorrentes da responsabilidade da fiança – art. 832 CC.
Ocorrendo a concessão de mora pelo credor, o fiador poderá executar, bem
como poderá ser afastada a sua responsabilidade – art. 834 CC.
A fiança se extingue por notificação do fiador (exoneração após 60 dias,
pelos encargos futuros – art. 835 CC), em caso de exceções pessoais (art. 837
CC), e nas hipóteses dos art. 838 e 839 CC.

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39ª Questão:

A Lanchonete Mirim celebrou contrato de fornecimento de bebidas com a


Distribuidora Céu Azul, ficando ajustada a entrega mensal de 200 latas de
refrigerante, com pagamento em 30 dias após a entrega. Para tanto, Luciana,
mãe de uma das sócias da lanchonete, sem o conhecimento das sócias da
sociedade e de seu marido, celebrou contrato de fiança, por prazo indeterminado,
com a distribuidora, a fim de garantir o cumprimento das obrigações assumidas
pela lanchonete.

Diante desse quadro, assinale a afirmativa correta.

a) Luciana não carece da autorização do cônjuge para celebrar o contrato de


fiança com a sociedade Céu Azul, qualquer que seja o regime de bens.

b) Pode-se estipular a fiança, ainda que sem o consentimento do devedor ou


mesmo contra a sua vontade, sendo sempre por escrito e não se
admitindo interpretação extensiva.

c) Em caso de dação em pagamento, se a distribuidora vier a perder, por


evicção, o bem dado pela lanchonete para pagar o débito, remanesce a
obrigação do fiador.

d) Luciana não poderá se exonerar, quando lhe convier,da fiança que tiver
assinado, ficando obrigada por todos os efeitos da fiança até a extinção do
contrato de fornecimento de bebidas.

R–B

19. COMPROMISSO

É contrato bilateral onde partes interessadas submetem controvérsias


jurídicas à apreciação ou composição por árbitros, comprometendo-se à acatar a
referida decisão – art. 851 CC.
Pode ser judicial ou extrajudicial.
A sentença arbitral terá natureza de título executivo judicial – art. 784 do novo
CPC.

20. ATOS UNILATERIAIS DE VONTADE

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São manifestações unilaterais que, a partir da anuência de outra parte, ou
mediante cumprimento de ato ou ação, perfectibiliza vínculo obrigacional. São
estes:

a) promessa de recompensa: situação em que o devedor promete


recompensa ou gratificação se terceiro desconhecido cumprir determinado ato –
art. 854. Pode ser revogada até o cumprimento da prestação por outrem (art. 855).
Cumprida a prestação, estabelece-se o vínculo jurídico, com direito à satisfação do
crédito prometido.

b) gestão de negócios: situação onde alguém, sem autorização do


interessado, pratica atos de gestão de negócio alheio, sob responsabilidade deste.
É situação de fato e tem o condão de proteger o negócio quando impossível
o exercício pelo dono. Art. 861 CC.

c) pagamento indevido: quando alguém recebe pagamento que não tinha


correspondente obrigação jurídica anterior, tem-se pagamento indevido, obrigando-
se á sua restituição – art. 876 CC.
Tratando-se de obrigação natural, o pagamento é devido e irrepetível – art.
882 do CC.

d) enriquecimento sem causa: configura-se quando alguém, aumentando


sua riqueza às custas de outrem, sem causa jurídica que lhe dê amparo – art. 884
CC.
Obriga à restituição dos valores ao titular.

XIX EXAME OAB (2016.1) 41ª Questão:

Joaquim celebrou, por instrumento particular, contrato de mútuo com Ronaldo,


pelo qual lhe emprestou R$ 50.000,00- (cinquenta mil reais), a serem pagos 30
dias depois. No dia do vencimento do empréstimo, Ronaldo não adimpliu a
prestação. O tempo passou, Joaquim se manteve inerte, e a dívida prescreveu.
Inconformado, Joaquim pretende ajuizar ação de enriquecimento sem causa
contra Ronaldo. Sobre os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.
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a) A ação de enriquecimento sem causa é cabível, uma vez que Ronaldo se


enriqueceu indevidamente à custa de Joaquim.

b) Como a ação de enriquecimento sem causa é subsidiária, é cabível seu


ajuizamento por não haver, na hipótese, outro meio de recuperar o
empréstimo concedido.

c) Não cabe o ajuizamento da ação de enriquecimento sem causa, pois há


título jurídico a justificar o enriquecimento de Ronaldo.

d) A pretensão de ressarcimento do enriquecimento sem causa prescreve


simultaneamente à pretensão relativa à cobrança do valor mutuado.

Resposta: C

38ª Questão:

Diante de chuva forte e inesperada, Márcio constatou a inundação parcial da


residência de sua vizinha Bianca, fato este que o levou a contratar serviços de
chaveiro, bombeamento d’água e vigilância, de modo a evitar maiores prejuízos
materiais até a chegada de Bianca.

Utilizando-se do quadro fático fornecido pelo enunciado, assinale a afirmativa


correta.

a) A falta de autorização expressa de Bianca a Márcio para a prática dos


atos de preservação dos bens autoriza aquela a exigir reparação civil
deste.

b) Bianca não estará obrigada a adimplir os serviços contratados por Márcio,


cabendo a este a quitação dos contratados.

c) Se Márcio se fizer substituir por terceiro até a chegada de Bianca,


promoverá a cessação de sua responsabilidade transferindo-a ao terceiro
substituto.

d) Os atos de solidariedade e espontaneidade de Márcio na proteção dos


bens de Bianca são capazes de gerar a responsabilidade desta em
reembolsar as despesas necessárias efetivadas, acrescidas de juros
legais.

R–D

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DIREITO CIVIL – RESPONSABILIDADE CIVIL

1. CONCEITO

Entende-se por responsabilidade civil o dever de reparação de dano moral


ou patrimonial, causados à terceiro por pessoa, por quem a pessoa responde, por
fato de coisa ou animal sob sua guarda, ou por imposição legal.
Nesse passo, é possível estabelecer a responsabilidade civil como reflexo
por danos causados em decorrência de culpa (ato ilícito civil) ou por determinação
legal (responsabilidade objetiva).

Pressupostos

São pressupostos à reparação, de acordo com a origem da


responsabilidade:
a) responsabilidade subjetiva: fato + dano + culpa + nexo causal;
b) responsabilidade objetiva: fato + dano + nexo causal.
A partir de tais pressupostos, podemos definir como fato a existência de
situação ocorrida capaz de gerar dano à outrem; já o dano é a apuração da moléstia
(moral ou material) experimentada pela vítima; culpa é a imputação de ato ilícito à
causador de fato/evento danoso; por fim, o nexo causal é liame que conecta os três
elementos anteriores.
Observe-se que na responsabilidade objetiva, havendo a previsão legal de
responsabilidade, é desnecessário à vítima provar culpa do agente para ver-se
ressarcida nos danos.

43ª Questão:

Pedro, engenheiro elétrico, mora na cidade do Rio de Janeiro e trabalha na


Concessionária Iluminação S.A.. Ele é viúvo e pai de Bruno, de sete anos de
idade, que estuda no colégio particular Amarelinho. Há três meses, Pedro
celebrou contrato de financiamento para aquisição de um veículo importado, o
que comprometeu bastante seu orçamento e, a partir de então, deixou de arcar
com o pagamento das mensalidades escolares de Bruno. Por razões de trabalho,
102
Curso Preparatório para OAB 1ª Fase
Professor Me. Diogo Durigon
Pedro será transferido para uma cidade serrana, no interior do Estado e solicitou
ao estabelecimento de ensino o histórico escolar de seu filho, a fim de transferi-lo
para outra escola. Contudo, teve seu pedido negado pelo Colégio Amarelinho,
sendo a negativa justificada pelo colégio como consequência da sua
inadimplência com o pagamento das mensalidades escolares.

Para surpresa de Pedro, na mesma semana da negativa, é informado pela


diretora do Colégio Amarelinho que seu filho não mais participaria das atividades
recreativas diuturnas do colégio, enquanto Pedro não quitar o débito das
mensalidades vencidas e não pagas.

Com base no caso narrado, assinale a afirmativa correta.

a) O Colégio Amarelinho atua no exercício regular do seu direito de cobrança


e, portanto, não age com abuso de direito ao reter o histórico escolar de
Bruno, haja vista a comprovada e imotivada inadimplência de Pedro.

b) As condutas adotadas pelo Colégio Amarelinho configuram abuso de


direito, pois são eticamente reprováveis, mas não configuram atos ilícitos
indenizáveis.

c) Tanto a retenção do histórico escolar de Bruno, quanto a negativa de


participação do aluno nas atividades recreativas do colégio, configuram
atos ilícitos objetivos e abusivos, independente da necessidade de provar
a intenção dolosa ou culposa na conduta adotada pela diretora do Colégio
Amarelinho.

d) Para existir obrigação de indenizar do Colégio Amarelinho, com


fundamento no abuso de direito, é imprescindível a presença de dolo ou
culpa, requisito necessário para caracterizar o comportamento abusivo e o
ilícito indenizável.

R-C

2. CULPA

O conceito de culpa necessita ser ampliado, porém está, de modo objetivo,


delineado pelo art. 186, complementado pelo art. 187, ambos do CC:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

103
Curso Preparatório para OAB 1ª Fase
Professor Me. Diogo Durigon
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que,
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Nesse passo, podemos estabelecer que a culpa, para a reparação civil


(frente à responsabilidade contratual – perdas e danos) envolve a ação ou omissão
que viola direito ou causa prejuízo à outrem, bem como aquele que, no exercício
de direito, o extrapola de modo inconsequente ou desproporcional.
De modo objetivo, cite-se as 03 principais espécies de culpa:
a) culpa in committendo procedendo: trata-se da culpa por erro de
procedimento ou seja, por ação equivocada atribuída ao próprio agente, gerando-
se o dever de indenizar. Exemplo – pessoa que causa lesão com faca em outrem.
b) culpa in elegendo: culpa decorrente da ‘eleição’ equivocada, ou por
decorrência da indicação ou nomeação de alguém para realizar algo, ou utilizar
bem, do agente, gerando-lhe o dever de indenizar. Exemplo – responsabilidade do
dono de veículo que o entrega à terceiro, que vem a causar acidente.
c) culpa in vigilando: situação em que o agente é responsável por falha na
vigilância que deveria ter. Exemplo – responsabilidade do dono de escola de
natação que, descuidando-se dos alunos, um deles vem a se afogar.
d) culpa in custodiando: refere-se à situação em que não houve zelo quanto
á coisa ou animal que estava sob responsabilidade do agente. Exemplo – dano que
cachorro causar à terceiro.

EXAME 2014.3

38ª Questão:

Devido à indicação de luz vermelha do sinal de trânsito, Ricardo parou seu


veículo pouco antes da faixa de pedestres. Sandro, que vinha logo atrás de
Ricardo, também parou, guardando razoável distância entre eles. Entretanto,
Tatiana, que trafegava na mesma faixa de rolamento, mais atrás, distraiu-se ao
redigir mensagem no celular enquanto conduzia seu veículo, vindo a colidir com o
veículo de Sandro, o qual, em seguida, atingiu o carro de Ricardo.

Diante disso, à luz das normas que disciplinam a responsabilidade civil, assinale a
afirmativa correta.

104
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a) Cada um arcará com seu próprio prejuízo, visto que a responsabilidade


pelos danos causados deve ser repartida entre todos os envolvidos.

b) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados ao veículo de Sandro, e


este deverá indenizar os prejuízos causados ao veículo de Ricardo.

c) Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados aos veículos de Sandro


e Ricardo.

d) Tatiana e Sandro têm o dever de indenizar Ricardo, na medida de sua


culpa.

R–C

3. RESPONSABILIDADE OBJETIVA

Trata-se da responsabilidade civil decorrente de determinação legal, seja


pela natureza da atividade desenvolvida pelo agente, seja pelo risco de tal
atividade, ou seja pela natureza da relação jurídica.
Quanto á natureza da atividade, veja-se que o art. 927, parágrafo único do
CC, estabelece a responsabilidade objetiva em situações específicas. Quanto á
exemplo material de tal situação, temos o contrato de transporte de pessoas e
coisas, em que a responsabilidade pela reparação civil decorre independentemente
de culpa do transportador.
Quanto ao risco da atividade, vemos o exemplo de transportador de produtos
químicos ou combustíveis que, mesmo em caso de acidente causado por outrem,
tem responsabilidade por danos ambientais causados para pessoas ou
transindividuais.
Por fim, quanto à natureza da relação jurídica, citamos como típico exemplo
a responsabilidade determinada pelas relações de consumo, onde o fornecedor
possui responsabilidade objetiva quanto aos produtos e serviços dispostos ao
consumo.
Lembre-se que na responsabilidade objetiva não há necessidade de culpa,
sendo aplicável inclusive à hipóteses de caso fortuito e força maior.

4. DANO
105
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Corresponde aos prejuízos experimentados pela vítima. Pode ser de


natureza material ou moral.
Há o dano individual (experimentado pela pessoa, tanto quanto moral como
material); e o dano social (que envolve dano ao meio ambiente, direitos sociais,
etc.).
Quanto ao dano patrimonial, é possível verificar desdobramento quanto à
natureza de parcelas. Representam, porém, de modo objetivo, prejuízos materiais
a vítima, mensuráveis na mesma proporção da despesa ou afetação patrimonial.
Desdobra-se em dano positivo ou emergente, que corresponde ao prejuízo
já sofrido, ou seja, à redução já experimentada na riqueza da vítima (como por
exemplo as despesas médicas ocorridas para tratamento de vítima de
atropelamento); bem como os danos emergentes, cujos prejuízos, sabidos que
ocorrerão, ainda não se verificam, pois dependem de situação ou apuração futura
(como por exemplo a superveniência de gastos com cirurgia reparadora de danos
decorrentes de atropelamento).
Em segundo lugar há os dano negativo ou lucro cessante, que corresponde
aos valores que, a despeito de eventual dispêndio, não foram auferidos pela vítima
em razão do evento danoso. É o que ocorre, por exemplo, nos lucros que a vítima
de auferir, ou o negócio que deixa de realizar, ou mesmo a renda que deixa de ter.
Também devemos lembrar da figura do dano moral que corresponde ao
prejuízo experimentado pela pessoa em razão de ofensa que lhe afeta a imagem,
a personalidade. Sua mensuração é subjetiva em razão da natureza do dano,
porém demanda fixação objetiva (e portanto, fundamentada se judicial).

XXI EXAME OAB – QUESTÃO 42. Tomás e Vinícius trabalham


em uma empresa de assistência técnica de informática. Após diversas
reclamações de seu chefe, Adilson, os dois funcionários decidem se
vingar dele, criando um perfil falso em seu nome, em uma rede social.
Tomás cria o referido perfil, inserindo no sistema os dados pessoais,
fotografias e informações diversas sobre Adilson. Vinícius, a seu
turno, alimenta o perfil durante duas semanas com postagens
ofensivas, até que os dois são descobertos por um terceiro colega,

106
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que os denuncia ao chefe. Ofendido, Adilson ajuíza ação indenizatória
por danos morais em face de Tomás e Vinícius.
A respeito do caso narrado, assinale a afirmativa correta.
A) Tomás e Vinícius são corresponsáveis pelo dano moral
sofrido por Adilson e devem responder solidariamente pelo dever de
indenizar.
B) Tomás e Vinícius devem responder pelo dano moral sofrido
por Adilson, sendo a obrigação de indenizar, nesse caso, fracionária,
diante da pluralidade de causadores do dano.
C) Tomás e Vinícius apenas poderão responder, cada um, por
metade do valor fixado a título de indenização, pois cada um poderá
alegar a culpa concorrente do outro para limitar sua responsabilidade.
D) Adilson sofreu danos morais distintos: um causado por
Tomás e outro por Vinícius, devendo, portanto, receber duas
indenizações autônomas.

Resposta: A

5. NEXO DE CAUSALIDADE

Refere-se à vinculação ou liame jurídico que liga o fato, os danos


experimentados e a responsabilidade do agente.
O nexo de causalidade é afastado por ocasião de:
a) culpa exclusiva da vítima: quando a vítima fora a causadora do fato ou
dos danos (afasta a responsabilidade objetiva);
b) culpa concorrente: estabelece responsabilidade conjunta ou partida entre
o agente e a vítima, eis que houve contribuição de ambos para a persecução do
fato e danos experimentados, sendo apurada a responsabilidade de acordo com a
contribuição de cada parte para o evento;
c) culpa comum: onde ambas as partes, de modo conjunto, geraram o evento
danoso, o que redundará na compensação de reparação.

107
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d) culpa de terceiro, caso fortuito ou força maior: situações em que a culpa
decorre de terceiro ou de evento alheio às partes, afastando a responsabilidade
pela reparação (salvo exceções).

6. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE

Responsabilidade contratual: aquela decorrente de inexecução ou infração


em contrato firmado pelas partes. Prevista no CC como perdas e danos.
Responsabilidade extra contratual ou aquiliana: decorre de ato ilícito civil ou
responsabilidade objetiva. Tem por fonte a inobservância da lei.
Responsabilidade objetiva: se funda no risco, com origem em determinação
legal, independente de culpa do agente.
Responsabilidade subjetiva: depende de demonstração de culpa do agente
– art. 186.
Responsabilidade direta: quando o fato é imputado ao agente por conduta
própria; responsabilidade por ato próprio.
Responsabilidade indireta ou complexa: incide sobre o agente por ato de
terceiro (responsabilidade objetiva – v.g. art. 932 CC).

EXAME 2015.1

41ª Questão:

Daniel, morador do Condomínio Raio de Luz, após consultar a convenção do


condomínio e constatar a permissão de animais de estimação, realizou um sonho
antigo e adquiriu um cachorro da raça Beagle. Ocorre que o animal, muito
travesso, precisou dos serviços de um adestrador, pois estava destruindo móveis
e sapatos do dono. Assim, Daniel contratou Cleber, adestrador renomado, para
um pacote de seis meses de sessões. Findo o período do treinamento, Daniel,
satisfeito com o resultado, resolve levar o cachorro para se exercitar na área de
lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, solta a coleira e a guia para que o
Beagle possa correr livremente. Minutos depois, a moradora Diana, com 80
(oitenta) anos de idade, chega à área de lazer com seu neto Theo. Ao perceber a
presença da octogenária, o cachorro pula em suas pernas, Diana perde o
equilíbrio, cai e fratura o fêmur. Diana pretende ser indenizada pelos danos
materiais e compensada pelos danos estéticos.

Com base no caso narrado, assinale a opção correta.

108
Curso Preparatório para OAB 1ª Fase
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a) Há responsabilidade civil valorada pelo critério subjetivo e solidária de


Daniel e Cleber, aquele por culpa na vigilância do animal e este por
imperícia no adestramento do Beagle, pelo fato de não evitarem que o
cachorro avançasse em terceiros.

b) Há responsabilidade civil valorada pelo critério objetivo e extracontratual


de Daniel, havendo obrigação de indenizar e compensar os danos
causados, haja vista a ausência de prova de alguma das causas legais
excludentes do nexo causal, quais sejam, força maior ou culpa exclusiva
da vítima.

c) Não há responsabilidade civil de Daniel valorada pelo critério subjetivo,


em razão da ocorrência de força maior, isto é, da chegada inesperada da
moradora Diana, caracterizando a inevitabilidade do ocorrido, com
rompimento do nexo de causalidade.

d) Há responsabilidade valorada pelo critério subjetivo e contratual apenas


de Daniel em relação aos danos sofridos por Diana; subjetiva, em razão
da evidente culpa na custódia do animal; e contratual, por serem ambos
moradores do Condomínio Raio de Luz.

R–B

Há situação especial, quanto à apuração de culpa e consequente


responsabilidade, relativamente ao fato que está sendo apurado no crime, a
sentença condenatória criminal ensejará coisa julgada no cível quanto á culpa do
agente, ou que comprove inexistência do fato.
Salvo quanto à essa hipótese, não há outro efeito cível de sentença criminal,
sendo possível a tramitação independente dos processos cível e penal – art. 935
CC.

7. MENSURAÇÃO DOS DANOS

Apurada a responsabilidade, veja-se que o art. 944 do CC estabelece a


apuração do valor da indenização a partir da extensão dos danos.
De modo geral, a reparação, portanto, deve alcançar todos os prejuízos
experimentados pela vítima. No caso da responsabilidade contratual, veja-se que o
art. 404 do CC estabelece que as perdas e danos correspondem ao principal, lucros
cessantes, honorários, juros e correção.
109
Curso Preparatório para OAB 1ª Fase
Professor Me. Diogo Durigon
Porém, é possível verificar a previsão legal em situações específicas, como
no caso do homicídio, em que há previsão de pagamento das despesas de funeral,
médicas, luto e alimentos à dependente da vítima; também no caso de lesão
corporal (com parcelas semelhantes – art. 949 CC); delitos contra a honestidade
(por assédio sexual, v.g.); ou de ofensa da liberdade individual – art. 954 CC.
Grande destaque é a reparação civil decorrente de ofensa á honra, que
caracteriza o dano moral.
Quanto ao dano moral, importante citar a figura do dano moral in re ipsa,
o qual se caracteriza pela presunção de prejuízos, como ocorre, por exemplo, na
situação de protesto indevido de nome de pessoa.
Quanto à mensuração dos danos, sempre ter-se-á por lógica a aplicação do
art. 944 do CC: a indenização mede-se pela extensão dos danos.
O art. 940 do CC faz ainda uma referência à restituição em dobro, ou
pagamento do equivalente, quando houver prova da má-fé em cobrança indevida
de valores.
De modo objetivo, há 3 espécies de liquidação:
a) Legal – determinada pela lei (v.g. homicídio);
b) Convencional – estabelecida pelas partes;
c) Judicial – arbitrada pelo juízo.

EXAME 2014.1

40ª Questão:

Felipe, atrasado para um compromisso profissional, guia seu veículo particular de


passeio acima da velocidade permitida e, falando ao celular, desatento, não
observa a sinalização de trânsito para redução da velocidade em razão da
proximidade da creche Arca de Noé. Pedro, divorciado, pai de Júlia e Bruno, com
cinco e sete anos de idade respectivamente, alunos da creche, atravessava a
faixa de pedestres para buscar os filhos, quando é atropelado pelo carro de
Felipe. Pedro fica gravemente ferido e vem a falecer, em decorrência das lesões,
um mês depois. Maria, mãe de Júlia e Bruno, agora privados do sustento antes
pago pelo genitor falecido, ajuíza demanda reparatória em face de Felipe, que
está sendo processado no âmbito criminal por homicídio culposo no trânsito.

Com base no caso em questão, assinale a opção correta.

110
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a) Felipe indenizará as despesas comprovadamente gastas com o mês de


internação para tratamento de Pedro, alimentos indenizatórios a Júlia e
Bruno tendo em conta a duração provável da vida do genitor, sem excluir
outras reparações, a exemplo das despesas com sepultamento e luto da
família.

b) Felipe deverá indenizar as despesas efetuadas com a tentativa de


restabelecimento da saúde de Pedro, sendo incabível a pretensão de
alimentos para seus filhos, diante de ausência de previsão legal.

c) Felipe fora absolvido por falta de provas do delito de trânsito na esfera


criminal e, como a responsabilidade civil e a criminal não são
independentes, essa sentença fará coisa julgada no cível, inviabilizando a
pretensão reparatória proposta por Maria.

d) Felipe, como a legislação civil prevê em caso de homicídio, deve arcar


com as despesas do tratamento da vítima, seu funeral, luto da família,
bem como dos alimentos aos dependentes enquanto viverem, excluindo-
se quaisquer outras reparações.

RESPOSTA: A

XX EXAME OAB – 2016.2


QUESTÃO 42. Maria, trabalhadora autônoma, foi atropelada por um
ônibus da Viação XYZ S.A. quando atravessava movimentada rua da cidade,
sofrendo traumatismo craniano. No caminho do hospital, Maria veio a falecer,
deixando o marido, João, e o filho, Daniel, menor impúbere, que dela
dependiam economicamente. Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.
A) João não poderá cobrar compensação por danos morais, em nome
próprio, da Viação XYZ S.A., porque o dano direto e imediato foi causado
exclusivamente a Maria.
B) Ainda que reste comprovado que Maria atravessou a rua fora da
faixa e com o sinal de pedestres fechado, tal fato em nada influenciará a
responsabilidade da Viação XYZ S.A..
C) João poderá cobrar pensão alimentícia apenas em nome de Daniel,
por se tratar de pessoa incapaz.

111
Curso Preparatório para OAB 1ª Fase
Professor Me. Diogo Durigon
D) Daniel poderá cobrar pensão alimentícia da Viação XYZ S.A., ainda
que não reste comprovado que Maria exercia atividade laborativa, se
preenchido o critério da necessidade.

RESPOSTA: D

Legitimidade ativa para reparação civil


Quanto à legitimidade ativa para a reparação civil, temos que a vítima é a
titular do direito. Ainda, também poderá pleitear a reparação os sucessores e
representantes.
Tanto pessoa física como pessoa jurídica podem pleitear dano moral e/ou
dano material, eis que consolidado entendimento de que a pessoa jurídica também
tem exposição moral.

Legitimidade passiva para a reparação civil


São responsáveis pela reparação civil o agente causador do dano, bem
como os responsáveis solidários ou subsidiários.
Há também a responsabilidade pela reparação decorrente de contrato, como
ocorre no caso de seguro.

Reparação por fato de terceiro


O CC prevê hipóteses de responsabilidade civil decorrente de fato de
terceiro. De modo expresso, o art. 932 estabelece a responsabilidade solidária (art.
942 CC) nas seguintes hipóteses:

Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:


I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

112
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IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde
se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus
hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime,
até a concorrente quantia.

EXMAE 2013. 3

41ª Questão:

Pedro, dezessete anos de idade, mora com seus pais no edifício Clareira do
Bosque e, certa manhã, se desentendeu com seu vizinho Manoel, dezoito anos. O
desentendimento ocorreu logo após Manoel, por equívoco do porteiro, ter
recebido e lido o jornal pertencente aos pais do adolescente. Manoel, percebido o
equívoco, promoveu a imediata devolução do periódico, momento no qual foi
surpreendido com atitude inesperada de Pedro que, revoltado com o desalinho
das páginas, o agrediu com um soco no rosto, provocando a quebra de três
dentes. Como Manoel é modelo profissional, pretende ser indenizado pelos
custos com implantes dentários, bem como pelo cancelamento de sua
participação em um comercial de televisão.

Tendo em conta o regramento da responsabilidade civil por fato de outrem,


assinale a afirmativa correta.

a) Pedro responderá solidariamente com seus pais pelos danos causados a


Manoel, inclusive com indenização pela perda de uma chance, decorrente
do cancelamento da participação da vítima no comercial de televisão.

b) Somente os pais de Pedro terão responsabilidade objetiva pelos danos


causados pelo filho, mas detêm o direito de reaver de Pedro,
posteriormente, os danos indenizáveis a Manoel.

c) Se os pais de Pedro não dispuserem de recursos suficientes para pagar a


indenização, e Pedro tiver recursos, este responderá subsidiária e
equitativamente pelos danos causados a Manoel.

d) Os pais de Pedro terão responsabilidade subjetiva pelos danos causados


pelo filho a Manoel, devendo, para tanto, ser comprovada a culpa in
vigilando dos genitores.

R–C

113
Curso Preparatório para OAB 1ª Fase
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Responsabilidade decorrente de guarda ou propriedade
Também é necessário lembrar a responsabilidade decorrente da
propriedade de coisa ou animal, prevista nos art. 936 a 938 do CC:

Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este


causado, se não provar culpa da vítima ou força maior.
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que
resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano
proveniente das coisas que dele caírem ou forem lançadas em lugar
indevido.

114
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DIREITO CIVIL – DIREITOS REAIS (COISAS)

1. BEM JURÍDICO

Patrimonial

É tudo que seja útil, raro e apropriável, por isso, possua valor econômico.

Não Patrimonial

São os direitos da personalidade, como honra, liberdade, que não possuem valor
econômico, mas podem gerar indenização, ou seja, podem ser avaliados economicamente.

2. BEM IMÓVEL

Art. 79 CC: “São bens imóveis o solo e tudo o quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.”

Art. 80 e 81, ambos também, do CC também relacionam tipos de bens imóveis.

 Sucessão aberta (incluindo móveis)


 Edificações deslocadas do solo
 Materiais separados do prédio mas que serão reempregados no mesmo

Espécies de bens imóveis

Bens imóveis por sua natureza: abrange o solo com sua superfície, os seus
acessórios e adjacências naturais, compreendendo as árvores e frutos pendentes, o espaço
aéreo e o subsolo.

2
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Bens imóveis por acessão física artificial: inclui tudo aquilo que o homem incorporar
permanentemente ao solo, como a semente lançada à terra, os edifícios e construções, de
modo que não se possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano.

Bens imóveis por acessão intelectual: são todas as coisas móveis que o proprietário
do imóvel mantiver, intencionalmente, empregadas em sua exploração industrial,
aformoseamento ou comodidade.

Bens imóveis por determinação legal: são direitos reais sobre imóveis (usufruto, uso,
habitação, enfiteuse, anticrese, servidão predial), inclusive o penhor agrícola e as ações que
o asseguram; apólices da dívida pública oneradas com a cláusula de inalienabilidade,
decorrente de doação ou de testamento; o direito à sucessão aberta, ainda que a herança
só seja formada de bens móveis.

3. BENS MÓVEIS

Para o NCC, (art. 82): são móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou
remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

Segundo Diniz: são “os que, sem deterioração na substância ou na forma, podem ser
transportados de um lugar para outro, por força própria ou estranha”

Art. 83 e 84 do NCC - Consideram-se ainda como bens móveis:

 As energias que tenham valor econômico;


 Os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
 Os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações;
 Materiais destinados a construção, antes de seu emprego e aquele originário
de demolição.

Classificação bens

3
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Fungíveis são aqueles bens que podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade

Infungíveis não admitem substituição

Consumíveis são os bens móveis cujo uso importa na destruição imediata da própria
substância

Inconsumíveis permanecem após o fruição

Divisíveis são aqueles bens que podem ser fracionados sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam

Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por determinação legal


ou vontade das partes.

Singulares: são os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,


independentemente dos demais;

Universalidade de fato a pluralidade de bens singulares, que pertinentes à mesma


pessoa, tenham destinação unitária;

Universalidade de direito é considerado o complexo de relações jurídicas de uma


pessoas, dotadas de valor econômico.

Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;

Acessório é aquele cuja existência supõe a do principal;

Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal, não atingem as pertenças,
salvo se estipulado por lei, vontade das partes ou das circunstâncias do caso.

Pertenças são bens acessórios, não ligados ao principal, mas que se destinam ao
uso, serviço ou aformoseamento do bem principal

Ex: trator em relação à fazenda; móveis em relação à casa.

Os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico, apesar de ainda não
separados do bem principal;

4
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As benfeitorias podem ser voluptuárias, (mero deleite) úteis (aumentam ou facilitam o
uso) ou necessárias (conservar o bem ou evitar que se deteriore);

São públicos os de propriedade das pessoas jurídicas de direito publico;

-uso comum do povo ( rios, mares estradas..)

-uso especial (edifícios... destinados à serviços e estabelecimentos públicos);

-os dominicais: não estão destinados nem a uma finalidade comum e nem a
uma especial.

“Constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto


de direito pessoal ou real, de cada uma dessas entidades” (art. 99, III do CC) – ex.: terras
devolutas

São privados os de propriedade das pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

Considerações: art. 100,101 e 102.

Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis,


enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a Lei determinar;

Os bens dominicais podem ser alienados, observadas as exigências legais;

O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme
determinação legal.

4. DIREITOS REAIS

São direitos que afetam a coisa de forma direta e imediata, seja sob alguns aspectos,
ou mesmo sobre todos os aspectose a segue em poder de quem quer que a detenha.

É o vínculo jurídico que se cria entre a pessoa titular do direito real e a coisa.

Principais atributos:

 Eficácia Erga omnes


 Direito à Ação real
 Direito de seqüela

5
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DIREITO PESSOAL

Vínculo jurídico formado entre duas ou mais pessoas.

Estabelece relação inter pars

Decorre de: negócio jurídico, lei ou ato ilícito

É o que depende de uma obrigação do devedor.

É oponível somente contra certas pessoas (sujeito passivo), em razão da vontade


externada (unilateral e bilateralmente), por ato ilícito (186 e 927 do CC) ou por determinação
legal (ex. Alimentos).

Distinção: direitos reais X obrigações

Direitos pessoais (jus ad rem) Direitos reais (ius in re)

Incidem na pessoa Incidem na coisa

Ação contra o indivíduo Ação contra quem detiver a coisa

Objeto: prestação Objeto: coisa

Relativo – inter partes Absoluto – erga omnes

Gozo: exige intermediário Gozo: direto pelo titular

Transitório Permanente

Extingue-se pela inércia Conserva-se até situação contrária


em favor outrem (Seqüela, abandono,
usucapião, posse, direito de preferência)
Exemplo: compra de um objeto
Exemplo: compra de imóvel
móvel

6
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5. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS REAIS

Direito de Seqüela

É o vínculo de subordinação da coisa e da pessoa. Esse vínculo vem


alicerçado em dois princípios:

- Princípio da aderência: segundo o qual o titular do direito real pode ir atrás


do bem aonde quer que ele se encontre (princípio positivo);

- Princípio da ambulatoriedade: segundo o qual todos os ônus da coisa (ex.


tributos, despesas condominais) a acompanham (princípio negativo).

Privilégio

O crédito real não se submete à divisão, tendo em vista a existência de


ordem entre os credores. Aquele que primeiro apresentar o crédito será o credor
privilegiado.

Prescrição Aquisitiva

Somente no direito real a passagem do tempo poderá gerar aquisição de


direitos.

Bem certo, determinado e existente

Em decorrência do princípio da veracidade registral, o bem deve ter


características de certo, determinado e existente.

Ver: ações de retificação imobiliária

6. PRINCÍPIOS CARACTERIZADORES DOS DIREITOS REAIS

1 da aderência ou especialização - vínculo sujeito/coisa

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2 do absolutismo - eficácia erga omnes

3 da publicidade – transcrição + tradição

4 da taxatividade – elenco de direitos reais limitado e taxativo – numerus


clausus (direito obrigacional – numerus apertus)

5 da tipificação – tipos legais

6 da perpetuidade – perda apenas por fator externo – mantem-se mesmo


pelo não uso.

7 da exclusividade – absorve apenas um direito real

8 do desmembramento – direitos reais sobre coisas alheias afastam-se do


direito matriz

7. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS -1ª CLASSIFICAÇÃO

Direito real sobre coisa própria

O único direito real sobre coisa própria é a propriedade, que confere o título
de dono ou domínio. Normalmente, a propriedade é ilimitada ou plena, conferindo
poderes de uso, gozo, posse, reivindicação e disposição.

Direito real sobre coisa alheia

É o desmembramento do direito real sobre coisa própria. Poderá somente


ser temporário, visto que, dentro do princípio da elasticidade, a coisa tende a voltar
à situação original, que é a propriedade plena. Divide-se em três grupos:

Direito real de fruição: é o desmembramento em relação ao uso da coisa.


Pode ser enfiteuse, servidão, usufruto, uso e habitação.

Direito real de garantia

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É o desmembramento em relação à disposição da coisa (limita o direito de
dispor da coisa). Se não cumprida a obrigação principal, o credor irá dispor da coisa.
Pode ser hipoteca, penhor e anticrese.

Direito real de aquisição

É o desmembramento do direito de aquisição. O titular transmite a


propriedade para terceiros, paulatinamente. Pode ser compromisso irretratável de
compra e venda, e alienação fiduciária em garantia.

8. CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS REAIS – 2ª CLASSIFICAÇÃO

a) Direito de posse, uso, gozo e disposição: propriedade.

b) Exteriorização do domínio: posse.

c) Direito de posse, uso, gozo e disposição sujeitos à restrição oriunda de


direito alheio: enfiteuse.

d) Direitos reais de garantia: penhor, hipoteca e alienação fiduciária.

e) Direito real de aquisição: promessa irrevogável de venda.

f) Direito de usar e gozar do bem sem disposição: usufruto e anticrese.

g) Direito limitado a certas utilidades do bem: servidão, uso e habitação.

9. POSSE, PROPRIEDADE E DETENÇÃO.

O Poder que o homem exerce sobre a coisa pode derivar de uma:

1. SITUAÇÃO JURÍDICA:

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1.1 DIREITO REAL SOBRE COISA PRÓPRIA (art. 1228)

A) Propriedade

B) Domínio

1.2 DIREITO REAL SOBRE COISA ALHEIA (1225)

a) superfície; b) servidão; c) usufruto; d) uso

e) habitação; f) promitente comprador

1.3 DIREITOS REAIS DE GARANTIA

a)penhor; b) hipoteca; c) anticrese;

d) alienação fiduciária.

2. SITUAÇÃO DE FATO:

2.1 Posse

2.2 Detenção

DISTINÇÃO: PROPRIEDADE X DOMÍNIO

PROPRIEDADE

É gênero do qual domínio é espécie.

É a titularidade tanto de coisas corpóreas como incorpóreas.

DOMÍNIO

É espécie do gênero propriedade.

É a titularidade somente de coisas corpóreas.

Relação com registro

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DISTINÇÃO: POSSE X DETENÇÃO

POSSE

Art.1196 do CC.

Relação de fato entre o sujeito e a coisa

Estado de aparência com efeitos jurídicos.

Exteriorização do domínio.

DETENÇÃO

Art. 1198 do CC

Relação de fato entre o sujeito e a coisa.

Estado de aparência sem efeitos jurídicos.

Conservação da posse em nome de outrem ou em cumprimento de ordens


ou instruções. Ex. Caseiro.

HIERARQUIA DAS RELAÇÕES JURÍDICAS ENTRE A PESSOA E A


COISA:

1 propriedade ou domínio

2 posse

3 detenção

10. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

Segundo Teori Albino Zavascki: (...) por função social da propriedade há de


se entender o princípio que diz respeito à utilização dos bens, e não à sua

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titularidade jurídica, a significar que sua força normativa ocorre independentemente
da específica consideração de quem detenha o título jurídico de proprietário.”

Nesse passo, segundo a Constituição Federal de 1988, temos função social:

PROPRIEDADE URBANA: (Art. 182 da CF) – “quando atende às exigências


fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.”

PROPRIEDADE RURAL: (art.186 da CF): “quando atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, os
seguintes requisitos:

I – Aproveitamento racional e adequado;

II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do


meio ambiente;

III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;

IV – exploração que favoreça o bem estar dos proprietários e dos


trabalhadores.

FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE

A lei, em especial o CC, dá especial proteção à posse que se traduz em


TRABALHO e MORADIA.

A valorização da posse pelo direito brasileiro provém já do Código Civil de


1916, através da viabilidade da conquista da propriedade em razão do exercício da
posse. Ex. Usucapião, art. 1238, parágrafo único, 1239, 1240, 1242, parágrafo
único.

Nesse passo, a posse se reverte em instrumento de efetivação da função


social da propriedade, pois através do aproveitamento de determinado bem, para o
trabalho, moradia ou exploração comercial, viabiliza a obtenção da propriedade.

11. POSSE

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POSSE = Exercício de fato sobre determinado bem

Propriedade = situação jurídica envolvendo determinado bem

Objetivamente, não se enquadra nem como direito pessoal, nem como


direito real

TEORIA SUBJETIVA – Fréderic Charles Savigny

Representa o poder exercido sobre a coisa com a intenção de tê-la para si

Requer: corpus (detenção física do bem) + animus (vontade de ter a coisa


como sua)

TEORIA OBJETIVA – Rudolf Von Jhering

Posse é exercício de fato dos poderes sobre a coisa

Requer apenas corpus

Para Jhering, corpus é o exercício de fato; demanda conduta de dono

Adotada largamente pelo direito pátrio

CC: Art. 1196 Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o
exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade

TEORIA TRÍPTICA

Estabelece a posse como um direito ‘misto’, mescla, de direito real, direito


obrigacional e fato jurídico

A posse é exercida tanto em razão de direito real, direito obrigacional e de


fato jurídico:

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Posse como direito real:

Uso e gozo por conta do domínio ou titularidade sobre o bem – exercício de


direito inerente à propriedade – v.g. uso de imóvel próprio – posse direta

Posse como direito obrigacional

Posse exercida em razão de vínculo obrigacional, por conta, v.g., de locação


comodato, alienação fiduciária.

Posse como fato jurídico

A posse vista como fato natural

Posse originária – prescrição ad usucapionem

PONTES DE MIRANDA e MOREIRA ALVES: a posse originária não é fato


jurídico enquanto não questionada como prescrição aquisitiva ou ofensiva à direito
real (se houver proprietário anterior)

Teoria tríptica: haverá Jus possessionis desde exercício fático da posse

Embate entre mero fato x fato jurídico

TEORIA DAS QUATRO DIMENSÕES JURÍDICAS DA POSSE

Natureza jurídica da posse envolve direito real, direito obrigacional, fato


jurídico e direito da administração

Direito da administração - posse por:

A) ocupação temporária

B) requisição administrativa

Trata-se de uma posse provisória (diverge do instituto da desapropriação),


pois a ocupação e a requisição são meramente temporários (exercício de posse).
A desapropriação envolve a perda/aquisição da propriedade.

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12. ESPÉCIES DE POSSE

Posse direta

– fruição direta

Posse indireta

– ficção jurídica que conserva ao proprietário prerrogativas especialmente


quanto a defesa da posse

Posse justa

Posse não maculada por violência, clandestinidade ou precariedade

CC: Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

Posse injusta

Decorre da obtenção da posse em ofensa ao art. 1200 do CC

Posse violenta

Posse tomada mediante violência

Enquanto houver violência não há posse

A posse será, cessada a violência, injusta perante o proprietário, mas justa


em face de terceiros.

Gera prescrição ad usucapionem

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Posse clandestina

Aquisição sorrateira da posse

Posse obtida sem violência, mas também sem consentimento

Injusta quanto ao proprietário, justa quanto a 3º

Gera prescrição ad usucapionem

Posse precária

Posse obtida com abuso de confiança

Manutenção de posse anteriormente justa

V.g. não devolução de bem em comodato e locação

Gera prescrição ad usucapionem

Posse de boa –fé

Exercida por quem ignora injustiça da posse

CC: Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o


obstáculo que impede a aquisição da coisa.

Gera prescrição ad usucapionem

Gera direitos de:

a) Retenção
b) Indenização benfeitorias úteis e necessárias
c) Levantamento benfeitorias voluptuárias
d) Faz jus aos frutos percebidos

Posse de má-fé

Exercida com ciência da injustiça da posse

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Gera direito de indenização apenas das benfeitorias necessárias.

Não gera direito de retenção e o possuidor de má-fé ainda responde pelos


frutos colhidos e pelos que deixou de colher; nesse caso terá direito apenas às
despesas de produção.

Posse nova – menos 01 ano e dia

Posse velha – com 01 ano e dia para mais

Ação de força nova – demanda reintegratória ajuizada dentro do período de


posse nova

Ação de força velha – demanda proposta durante posse velha.

Somente será possível a obtenção da reintegração de posse de forma liminar


se houver posse nova. Não é obrigatória tal medida, mas, encerrada a posse nova,
o procedimento de reintegração aguardará sentença.

Posse ad interdicta – é a que pode ser defendida pelos interditos ou ações


possessórias, quando molestada (ameaçada, turbada, esbulhada ou perdida), mas
não conduz ao usucapião;

Exercida pelos possuidores sem pretensão de aquisição – ex. locatário


(inclusive contra o proprietário).

Posse ad ucucapionem – é a que se prolonga por determinado lapso de


tempo estabelecido na lei, e que, acompanhada de animus domini, exercício
contínuo, manso e pacífico, com justo título e boa-fé, confere a seu titular a
aquisição do domínio.

Posse natural – é a que se constitui pelo exercício de poderes de fato sobre


a coisa

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ex.: A vende sua casa a B, mas continua no imóvel como inquilino; não
obstante, B fica sendo possuidor da coisa (posse indireta), mesmo jamais tê-la
ocupado fisicamente.

Posse civil ou jurídica – é a que assim se considera por força da lei, sem
necessidade de atos físicos ou materiais; é a que se transmite ou se adquire pelo
título.

13. AQUISIÇÃO DA POSSE

CC art. 1.204: “Adquire-se a posse desde o momento em que se torna


possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade”.

A partir de tal pressuposto, podemos elencar as seguintes formas de


aquisição da posse:

a.1 Aquisição originária:

Conceito: não há relação de causalidade, entre a posse atual e a anterior;


é o que acontece quando há esbulho, e o vício, posteriormente, convalesce.

Modos: arts. 1.196, 1.204 e 1.263.

Art. 1196 Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire
a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.

a.2 Aquisição derivada:

Conceito: requer existência de posse anterior, ou seja, transmitida ao


adquirente. Ex. herança ou compra e venda.

Modos:

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a.2.1 Tradição

Pressupõe um acordo de vontades, um negócio jurídico de alienação, quer


a título gratuito, como na doação, quer a título oneroso, como na compra e venda.

- real – quando envolve a entrega efetiva e material da coisa.

- simbólica – quando representada por ato que traduz a alienação, como a


entrega das chaves do apartamento vendido.

- ficta – no caso do constituto possessório, que ocorre, por ex., quando o


vendedor, transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a, todavia em seu
poder, mas agora na qualidade de locatário.

Posse por tradição traditio brevi manu: possuidor tem posse do bem alheio
que passa a ser seu (v.g. locação seguida de compra do imóvel)

a.2.2 Apreensão

a) Apropriação unilateral de coisa “sem dono” (foi abandonada ou não tem


proprietário);

b) Coisa retirada de outrem sem permissão;

a.2.3 Exercício de direito

Ex. servidão. Se constituída pela passagem de um aqueduto por terreno


alheio, p. ex. adquire o agente a sua posse se o dono do prédio serviente
permanece inerte pelo prazo de um ano e dia.(vide art. 1.379)

a.2.4 Constituto possessório, art. 1.267, parágrafo único

Noção: No constituto possessório, aquele que detém a posse direta não é


mais proprietário da coisa, possuindo-a em nome de outrem.

Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo


constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa,

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que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da
coisa, por ocasião do negócio jurídico.

a.2.5 Acessão

Através da qual a posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual
possuidor com o de seus antecessores.

- Sucessão: O sucessor universal continua de direito a posse do seu


antecessor

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor


com os mesmos caracteres.

- União: sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para


os efeitos legais.

Capacidade de aquisição da posse

Tem capacidade para aquisição da posse a própria pessoa que a pretende,


desde que capaz. Poderá ainda ser exercida:

- não sendo capaz, poderá adquiri-la se estiver representada ou assistida


por seu representante;

- por meio de procurador ou mandatário, munido de poderes específicos;

- por terceiro, mesmo sem mandato, dependendo de ratificação;

- pelo "constituto possessório".

14. OBJETOS DA POSSE

Podemos considerar como objetos da posse:

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Bens corpóreos, salvo as que estiverem fora do comércio, ainda que
gravadas com cláusula de inalienabilidade;

Coisas acessórias se puderem ser destacadas da principal sem alteração de


sua substância;

Coisas coletivas;

Direitos reais de fruição: uso, usufruto, habitação e servidão (há dúvida


quanto à enfiteuse);

Direitos reais de garantia;

Direitos pessoais patrimoniais ou de crédito.

15. EXCLUSÕES DA POSSE

Não será considerado posse:

A) Detenção – ex. caseiro

B) os atos de mera permissão ou tolerância (art. 1.208). Ex: permissão


para passar pelo jardim do vizinho;

Também não há posse de bens públicos (CF - proíbe o usucapião


especial), o uso do bem pelo particular não passa de mera detenção consentida.

16. EFEITOS DA POSSE

Segundo o doutrinador Orlando Gomes, a posse gera, através de seu


exercício, 07 efeitos pontuais:

1. Direito ao uso dos interditos (ou ações) possessórias: este é o


principal efeito da posse.
2. Direito à percepção dos frutos;
3. Direito a indenização por benfeitorias, variando se de boa ou má-fé;

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4. Direito de retenção pela indenização de benfeitorias úteis e
necessárias;
5. "jus tollendi" (direito de retirar) em relação às benfeitorias voluptuárias;
6. Direito de usucapir;
7. Direito a indenização pelo esbulho ou turbação.

Ainda há o efeito da responsabilidade pela deterioração e perda da coisa,


cuja inclusão no rol de efeitos parte de Maria Helena Diniz.

17. EXERCÍCIO DA POSSE

O exercício individual da posse é aquele desempenhado pelo possuidor


exclusivo da coisa, ou seja, há apenas um possuidor e a posse é exercida por este.

Há, porém, situações em que dois ou mais possuidores se veem na condição


de ‘compartir’ os direitos e deveres inerentes à posse, alcançando a denominada
Composse.

Composse: situação pela qual duas ou mais pessoas exercem,


simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa.

Art. 1.199. Ex: adquirentes de coisa comum, marido e mulher em regime de


comunhão de bens ou co-herdeiros antes da partilha.

Qualquer dos possuidores pode valer-se dos interditos possessórios ou da


legítima defesa;

Diverge da concorrência de posses (posses de naturezas distintas, ex. posse


direta e indireta sobre um mesmo bem);

Composse pro-diviso: há uma divisão de fato para a utilização pacífica do


direito de cada um.

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Havendo situação consolidada, proteção da posse se dá em relação à cada
parte de cada composse.

Em áreas comuns, proteção da posse pertence á todos os co-possuidores.

Composse pro-indiviso: todos exercem o direito de possuidor ao mesmo


tempo sobre a totalidade da coisa, haja vista a falta de divisão fática.

Cite-se como exemplo a posse desempenhada por vários herdeiros de um


imóvel que, sem divisões, está sob arrendamento para um terceiro: todos tem
direito de proteger e velar pela posse e propriedade.

18. PERDA DA POSSE = CC – art. 1223 e 1224

Trata-se da perda da posse da coisa pelo possuidor. Os arts. 1223 e 1224


estabelecem as formas de tal perda:

1. Abandono do bem
2. Tradição (negócio jurídico)
3. Perda da própria coisa
4. Destruição da coisa
5. Inalienabilidade
6. Posse de outrem
7. Constituto possessório
8. Perda da posse de direitos:
(i) Pelo seu desuso
(ii) Pela impossibilidade de seu exercício
9. Perda da posse para ausentes (após alcançando os períodos
determinados pelo CC). Porém, quando cessada a ausência, a perda é repelida.

EXAME 2015.1

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40ª Questão:

Mediante o emprego de violência, Mélvio esbulhou a posse da Fazenda Vila Feliz.


A vítima do esbulho, Cassandra, ajuizou ação de reintegração de posse em face
de Mélvio após um ano e meio, o que impediu a concessão de medida liminar em
seu favor. Passados dois anos desde a invasão, Mélvio teve que trocar o telhado
da casa situada na fazenda, pois estava danificado. Passados cinco anos desde a
referida obra, a ação de reintegração de posse transitou em julgado e, na ocasião,
o telhado colocado por Mélvio já se encontrava severamente danificado. Diante
de sua derrota, Mélvio argumentou que faria jus ao direito de retenção pelas
benfeitorias erigidas, exigindo que Cassandra o reembolsasse.

A respeito do pleito de Mélvio, assinale a afirmativa correta.

a) Mélvio não faz jus ao direito de retenção por benfeitorias, pois sua posse é
de má-fé e as benfeitorias, ainda que necessárias, não devem ser
indenizadas, porque não mais existiam quando a ação de reintegração de
posse transitou em julgado.

b) Mélvio é possuidor de boa-fé, fazendo jus ao direito de retenção por


benfeitorias e devendo ser indenizado por Cassandra com base no valor
delas.

c) Mélvio é possuidor de má-fé, não fazendo jus ao direito de retenção por


benfeitorias, mas deve ser indenizado por Cassandra com base no valor
delas.

d) Mélvio é possuidor de má-fé, fazendo jus ao direito de retenção por


benfeitorias e devendo ser indenizado pelo valor atual delas.

R–A

EXAME 2014.3

37ª Questão:

Com a ajuda de homens armados, Francisco invade determinada fazenda e


expulsa dali os funcionários de Gabriel, dono da propriedade. Uma vez na posse
do imóvel, Francisco decide dar continuidade às atividades agrícolas que vinham
sendo ali desenvolvidas (plantio de soja e de feijão). Três anos após a invasão,
Gabriel consegue, pela via judicial, ser reintegrado na posse da fazenda.

Quanto aos frutos colhidos por Francisco durante o período em que permaneceu
na posse da fazenda, assinale a afirmativa correta.

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a) Francisco deve restituir a Gabriel todos os frutos colhido percebidos, mas


tem direito de ser ressarcido pelas despesas de produção e custeio.

b) Francisco tem direito aos frutos percebidos durante o período em que


permaneceu na fazenda.

c) Francisco tem direito à metade dos frutos colhidos, devendo restituir a


outra metade a Gabriel.

d) Francisco deve restituir a Gabriel todos os frutos colhidos e percebidos, e


não tem direito de ser ressarcido pelas despesas de produção e custeio.

R–A

19. PROPRIEDADE

Considera-se propriedade o direito que pessoa, física ou jurídica, detém


quanto ao uso, gozo e disposição de bem, corpóreo ou incorpóreo.

Gera direito à proteção e reivindicação do bem, junto à quem o detenha.

Questões históricas

Roma: propriedade envolvia terras e escravos – direito de uso, gozo e


destruição

Lei das doze tábuas: uso da propriedade de acordo com o direito

Idade média: directum + utile

Directum – senhores feudais; utile - vassalos

Final da idade média: concentração da propriedade no monarca – cobrança


de tributos (motivação revolução francesa)

Rev. Francesa + Locke: propriedade como direito natural = caráter


individualista

Proudhon – propriedade originalmente pertence ao estado

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Marx – extinção da propriedade privada como fator de igualdade

Contemporaneidade: manutenção da propriedade privada, mas com


preservação de sua função social

20. ELEMENTOS CONSTITUVOS DA PROPRIEDADE

Jus utendi – direito de uso

Jus fruendi – direito de gozo ou usufruto – direito à obtenção de frutos

Jus disponendi ou abutendi – direito de dispor

Reivindicatio – direito de reivindicar o bem – envolve tutela da propriedade


(ação reivindicatória)

Propriedade plena = Direito de usar, gozar, dispor e reaver.

Propriedade limitada (nua propriedade) = limitada em uma ou algumas


das suas formas elementares.

21. CARACTERÍSTICAS DO INSTITUTO DA PROPRIEDADE

Trata-se de um direito ilimitado, absoluto.

É direito exclusivo – direito restrito ao proprietário;

Tratando-se de condomínio, a propriedade sempre será da totalidade


sobre a respectiva fração ideal.

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É Direito irrevogável ou perpétuo – mantêm-se inclusive pelo não uso;

Nos casos de desapropriação, usucapião ou perecimento, a


propriedade está sendo fustigada por um fato novo, externo, que decorre não
do não uso, mas pela ação da administração pública, pela não preservação
da posse e exercício da posse por outrem, ou mesmo por um fato
extraordinário que gere o perecimento do bem.

É elástica – adapta-se de acordo com ampliação ou redução de destacáveis.

22. OBJETO DA PROPRIEDADE

Poderão ser objeto da propriedade:

a) bens corpóreos (materiais), móveis ou imóveis; e


Ex: CC, art. 1.299 e 1.232

CF, art. 176

Ver: PCHs + jazidas de areia e argila/caulim1

b) Bens incorpóreos (imateriais)


Lei nº 9.610/98; CF, art. 5º, XXIX e XXVII

1
Ementa: MINERACAO. ACAO CAUTELAR. ALVARA DO DNPM. AREA URBANA E IMOVEL DO MUNICIPIO.

IMPOSSIBILIDADE DA PESQUISA E DA LAVRA. RECURSO PROVIDO. (Reexame Necessário Nº 594014250, Primeira


Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Elias Elmyr Manssour, Julgado em 12/04/1994)Assunto: 1. MINERACAO.
- ALVARA DE AUTORIZACAO DE PESQUISA MINERAL. AREA URBANA E IMOVEL DO MUNICIPIO. - INTERPRETACAO
DO CODIGO DE MINAS ART-22 INC-V. - EFEITOS. - DISPOSICOES LEGAIS. - AUTORIZACAO DE PESQUISA MINERAL.
- LIMITACOES. - IMPOSSIBILIDADE. 2. MEDIDA CAUTELAR INOMINADA. SUSTACAO DE ATIVIDADE DE
TERRAPLANAGEM. AREA DESTINADA A CONSTRUCAO DE CASAS POPULARES. *************************************
DEPARTAMENTO NACIONAL DE EXTRACAO MINERAL DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUCAO MINERAL -
DNPM DIREITO CIVIL - OBRIGACOES. PROCESSO CIVIL.Fonte: JURISPRUDENCIA TJRS, C-CIVEIS, 1997, V-2, T-50,
P-69-76.Data de Julgamento: 12/04/1994

27
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Lei nº 9279 – LPI e Lei nº 9609/98

Decisão sobre a Proteção da propriedade:

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIVÓRCIO. PEDIDO LIMINAR DE


REINTEGRAÇÃO DE POSSE EM IMÓVEL DE RESIDÊNCIA DO CASAL.
INDEFERIMENTO. O agravante pede a reintegração de posse, alegando estar
provada sua propriedade exclusiva do imóvel em discussão. Contudo, na
reintegração de posse, ao requerente não basta provar a propriedade/domínio.
Sabido que para reintegração da posse, necessário prova bastante do exercício da
posse e do esbulho. Tendo em conta que o próprio agravante informa que
o imóvel em discussão era a casa em que "residia o casal", há fundada dúvida do
esbulho possessório, que fundamente a reintegração em sede liminar. De resto, a
própria alegação da propriedade exclusiva sobre o imóvel deve ser melhor
elucidada no decorrer das ações evolvendo as partes. NEGARAM PROVIMENTO.
UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70042016030, Oitava Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rui Portanova, Julgado em 18/08/2011)

Decisão sobre a proteção da propriedade –requisitos:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. REQUISITOS.


AUSÊNCIA DE TÍTULO HÁBIL A COMPROVAR O DOMÍNIO DOS AUTORES
SOBRE A COISA REIVINDICADA. Em se tratando de ação reivindicatória, três
são os requisitos essenciais para o reconhecimento do pedido: a prova
da propriedade do demandante, a posse injusta exercida pelo réu, e a perfeita
individuação do imóvel. Cumpria aos autores exibir título de domínio, que por si só
comprovasse o direito de propriedade sobre área certa e determinada, indicando
as divisas e especificando em que elas consistem. Não acostado tal documento,
inviável o pleito reivindicatório. Autores que instruíram a inicial apenas com
escritura pública de cessão e transferência de direitos hereditários sobre fração
ideal de imóvel. Área que não se encontra localizada e individualizada. Ausentes

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as condições indispensáveis, incabível a reivindicação. NEGARAM PROVIMENTO
AO RECURSO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70037370103, Décima Oitava
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson José Gonzaga, Julgado
em 28/07/2011)

23. ESPÉCIES DE PROPRIEDADE

Quanto a extensão do direito do titular

Propriedade plena – presença de todos os elementos

Propriedade restrita – quando ocorre o desmembramento de alguns de seus


poderes (v.g., nua propriedade)

Quanto à perpetuidade do domínio

Propriedade perpétua – duração ilimitada

Propriedade resolúvel – condição resolutiva

a) Restrição prevista no próprio título


b) Cláusula resolutiva (antigo pacto comissório)

24. RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROPRIETÁRIO

Responsabilidade objetiva x subjetiva

Resp. Objetiva: Nexo causal + dano + fato

Resp. Subjetiva: Neso causal + dano + fato + culpa

Aplicação das disposições contidas nos art. 937 e 186, ambos do CC:

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CC: Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos
que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja
necessidade fosse manifesta.

Também há responsabilidade pelos objetos que do prédio caírem ou


jogados.

CC: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

25. PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE

Ação Reivindicatória – retomada do bem

Ação reivindicatória x possessória

Ação imprescritível (salvo usucapião)

Ação negatória – defesa domínio frente a alegada servidão.

Ação confessória – restrição à propriedade vizinha com acréscimo à sua

Ação declaratória

Ação reparação danos: por ato lícito e ilícito

Ação Retificação imobiliária

26. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA

A. Aquisição originária

Propriedade ‘original’: usucapião e acessão

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B. Aquisição derivada

Aquisição por transmissão: Causa mortis (sucessão) ou inter vivos


(transmissão)

C. Aquisição da propriedade imobiliária pelo registro

Transmissão da propriedade se dá registro do título translativo

Efeitos a partir do registro – CC art. 1246

Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o


título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo.

Falência do alienante – art. 215 lei 6015

Art. 215 - São nulos os registros efetuados após sentença de abertura de


falência, ou do termo legal nele fixado, salvo se a apresentação tiver sido feita
anteriormente.

Anulação do registro: Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade,


poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.

Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o


imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.

Princípios da aquisição da propriedade pelo registro

I. Da unitariedade matricial
II. Da instância ou solicitação
III. Da publicidade
IV. Da fé pública
V. Da legalidade
VI. Da prioridade
VII. Da especialidade (individualização)
VIII. Da continuidade
IX. Da disponibilidade

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X. De retificação

Efeitos da aquisição pelo registro:

 Constitutivo
 De publicidade
 De legalidade do direito do proprietário
 De força probante

CC Art. 1245 § 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a


decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente
continua a ser havido como dono do imóvel.

 De continuidade
 De obrigatoriedade
 De retificação ou anulação para eventual alteração
Art. 216 - O registro poderá também ser retificado ou anulado por sentença
em processo contencioso, ou por efeito do julgado em ação de anulação ou de
declaração de nulidade de ato jurídico, ou de julgado sobre fraude à execução

D. Aquisição imobiliária por acessão natural

Modo de aquisição originária. Envolve as coisas que se unem ou se


incorporam ao bem, de forma natural.

Requisitos:

a) Conjunção entre duas coisas até então separadas


b) Caráter assessório de uma dessas coisas, em relação à outra
c) Aquisição imobiliária pela acessão natural
d) União ou incorporação em razão de acontecimento natural

Verificamos a aquisição por acessão nas seguintes hipóteses:

a) formação de ilhas

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b) aluvião (acessão à margem de rio)
c) avulsão (deslocamento de terra)
d) abandono de álveo (leito do rio)
Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários
ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos
por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os prédios marginais
se estendem até o meio do álveo.

E. Aquisição imobiliária por acessão artificial

Verifica-se tal aquisição pela incorporação de móvel ao imóvel, envolvendo


uma ação ou trabalho humano. Tem, assim, caráter oneroso.

Presume-se pertencente ao proprietário:

Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as


sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.

Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de


construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.

F. Aquisição imobiliária pela usucapião

Aquisição pela posse prolongada e animus domini. Trata-se de um modo de


aquisição originária haja vista que ‘inaugura’ a formalidade da propriedade, sem
que tenha ocorrido qualquer espécie de transmissão/sucessão.

São situações consolidadas de posse que geram a prescrição ad


usucapionem, estabelecendo, pelo preenchimento dos requisitos e reconhecimento
da aquisição, segurança jurídica.

Requisitos:

a) Pessoais – animus domini


b) Reais – bem usucapível (exclusão dos não sujeitos a usucapião)

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c) Formais – elementos do instituto (posse mansa, pacífica e contínua;
lapso de tempo; justo título e boa fé; e sentença judicial ou ato de cunho judicial)

Aquisição imobiliária pela usucapião - espécies

f.1 Usucapião extraordinária – CC art. 1238

Necessita de posse mansa, pacífica e contínua exercida com animus domini.

Decurso de prazo: 15 anos e 10 anos

Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez


anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual,
ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Dispensa prova de justo título e boa-fé

Requer sentença declaratória de aquisição do domínio ou ato jurisdicional


equivalente (ver projeto more legal da CGJ)

Registro cartorário imobiliário da sentença

f.2 Usucapião ordinária – CC art. 1242

Necessita de posse mansa, pacífica e contínua exercida com animus domini.

Decurso de prazo: 10 anos e 5 anos.

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,


contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez
anos.

Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se


o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro
constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os
possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.

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Requer justo título e boa-fé;

Requer sentença declaratória de aquisição do domínio ou ato jurisdicional


equivalente);

Requer registro cartorário imobiliário da sentença;

f.3 Usucapião especial urbana

Posse mansa, pacífica e contínua exercida com animus domini.

Requer também a configuração do estabelecimento de moradia no objeto da


usucapião.

Decurso de prazo: 5 anos e 2 anos;

Imóvel urbano até 250m²;

Requer sentença declaratória de aquisição do domínio (ou ato jurisdicional


equivalente) e Registro cartorário imobiliário da sentença;

Permitido uma única vez e desde que o postulante não tenha outros bens;

Concedido à qualquer ou ambos os cônjuges;

Usucapião pro habitacio - 2 anos: posse em relação ao cônjuge que


abandonou lar

f.4 Usucapião pro labore ou especial rural ou constitucional

Posse mansa, pacífica e contínua, exercida com animus domini e uso


produtivo/moradia, e com área máxima de 50 hás.

CF Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em
zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu
trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

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27. PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL POR MODO VOLUNTÁRIO

Perda por modos voluntários

1. Alienação: Transmissão do direito à outrem. Trata-se de um ato bilateral.

CC 1275: Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda
da propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou do
ato renunciativo no Registro de Imóveis.

2. Renúncia – ato unilateral e voluntário abrindo mão da coisa

Ver: renúncia de herança

3. Abandono – ato unilateral e voluntário abandonando a coisa

4. Perecimento do imóvel

5. Perda, deterioração

6. Desapropriação - Necessidade de interesse social

7. Requisição administrativa

Entendimento: perda provisória da posse gera perda da propriedade?


Há divergência. Subsiste responsabilidade por danos causados

8. Desapropriação judicial

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,


e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.

§ 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel


reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais
de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz
de interesse social e econômico relevante.

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2014.1 42ª Questão:

Jeremias e Antônio moram cada um em uma margem do rio Tatuapé. Com o


passar do tempo, as chuvas, as estiagens e a erosão do rio alteraram a área da
propriedade de cada um. Dessa forma, Jeremias começou a se questionar sobre
o tamanho atual de sua propriedade (se houve aquisição/diminuição), o que
deixou Antônio enfurecido, pois nada havia feito para prejudicar Jeremias. Ao
mesmo tempo, Antônio também começou a notar diferenças em seu terreno na
margem do rio. Ambos questionam se não deveriam receber alguma indenização
do outro.

Sobre a situação apresentada, assinale a afirmativa correta.

a) Trata-se de aquisição por aluvião, uma vez que corresponde a acréscimos


trazidos pelo rio de forma sucessiva e imperceptível, não gerando
indenização a ninguém.

b) Se for formada uma ilha no meio do rio Tatuapé, pertencerá ao


proprietário do terreno de onde aquela porção de terra se deslocou.

c) Trata-se de aquisição por avulsão e cada proprietário adquirirá a terra


trazida pelo rio mediante indenização do outro ou, se ninguém tiver
reclamado, após o período de um ano.

d) Se o rio Tatuapé secar, adquirirá a propriedade da terra aquele que


primeiro a tornar produtiva de alguma maneira, seja como moradia ou
como área de trabalho.

R–A

28. AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MÓVEL

1. Usucapião ordinária: CC art. 1260

Posse mansa, pacífica e contínua exercida com animus domini

Art. 1260: Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e
incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé, adquirir-lhe-á a
propriedade.

Requer:

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a) Justo título e boa-fé
b) Decurso de prazo: 3 anos
c) Sentença declaratória de aquisição do domínio e Registro cartorário
imobiliário da sentença

2. Usucapião extraordinária – CC art.1261

Cabível quando há posse mansa, pacífica e contínua exercida com animus


domini

Art. 1261: Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos, produzirá
usucapião, independentemente de título ou boa-fé.

Não requer Justo título e boa-fé

Requer:

a) Decurso de prazo: 5 anos


b) sentença declaratória de aquisição do domínio e Registro cartorário
imobiliário da sentença

3. Ocupação:

Apropriação por conta de inexistência de dono ou abandono

Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire
a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.

Ocorre mediante:

a) Res nullius – aquisição original


b) Res derelictae – coisa abandonada por outrem (v.g. animal bravio

4. Achado de tesouro

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5. Tradição

6. Especificação (transformação – industrialização)

7. Confusão (mistura coisas líquidas - inseparáveis)

8. Comistão (mistura de coisas sólidas ou secas - inseparáveis)

9. Adjunção – justaposição de coisas que se tornam imbricadas

29. PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL

Modos voluntários

 Alienação
 Renúncia
 Abandono

Modos involuntários

 Perda
 Perecimento
 Requisição
 Desapropriação

30. CONDOMÍNIO

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Segundo Caio Mário da Silva Pereira, condomínio ocorre quando a mesma
coisa pertence a mais de uma pessoa, cabendo a cada uma delas igual direito
idealmente sobre o todo e cada uma de suas partes.

Ou seja, trata-se de propriedade conjunta sobre o mesmo bem, seja ele


móvel ou imóvel, de tal modo que cada consorte é proprietário da coisa toda,
delimitado pelos iguais direitos dos demais condôminos, na medida de suas cotas

O condomínio pode ser estabelecido por modo voluntário, lei ou decisão


judicial, vinculando os condôminos à co-propriedade e co-responsabilidade pelo
bem objeto de propriedade fracionada.

A figura jurídica do condomínio sofre algumas classificações, quanto a


origem, necessidade, forma. Sua classificação representa, portanto, formas
distintas de sua gênese, bem como aplicação e manutenção.

Quanto a origem:

I – Convencional: resultante de acordo entre as partes. Exemplo: compra


conjunta de imóvel

II – Incidente ou eventual: Quando ocorrer em razão de causa alheia à


vontade dos condôminos. Exemplo: herança deixada a vários herdeiros

III – Forçado ou legal: quando ocorrer em razão de determinação legal.


Exemplo: compáscuo (comunhão de pastos – vários donos de terrenos contíguos
que ajustam que seus animais irão ‘compartilhar’ os pastos)

Quanto ao objeto:

I – Universal: Se compreender a totalidade do bem, inclusive frutos e


rendimentos.

II – Particular: Se restringir-se a determinadas coisas ou efeitos, ficando


livres os demais.

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Quanto a sua necessidade:

I - Ordinário ou transitório: Se puder cessar a qualquer momento.

II – Permanente: Quando não pode extinguir-se em razão de lei ou de sua


natureza indivisível (condomínio forçado)

Quanto a forma:

I – Pro diviso: A comunhão existe juridicamente mas não de fato (condomínio


em edifícios de apartamentos)

II – Pro indiviso: a comunhão perdura de fato e de direito

31. DIREITOS E DEVERES DOS CONDÔMINOS

Segundo nos indica a autora Maria Helena Diniz, os condomínios possuem,


na sua inter relação, direitos e deveres recíprocos, de modo a preservar hígida e
regular da relação.

Necessário destacar que o condomínio naturalmente é uma fonte de


impasses, de modo que o direito de ocupa dos detalhes de tal relação, visando a
prevenção e encaminhamento de resolução de tais conflitos.

Nesse passo, cada condômino pode:

I – art. 1314 CC: usar livremente a coisa conforme seu destino e sobre ela
exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão – art. 1315 e 1319 do CC.

II – cada condômino pode alienar a respectiva parte indivisa, com respeito à


preferência – art. 504, § único, e 1322 e § único CC

III – Direito de gravar a parte indivisa, com relação à sua fração

IV – responsabilidade pela dívida contraída – art. 1318 e 1317 CC

V – Direito de reivindicar a coisa comum de terceiros (1318 CC) e defender


a posse (1199)

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VI – Impossibilidade de conceder posse, uso ou gozo da coisa para
estranhos sem anuência dos demais – art. 1314, § único

VII - Direito de retomada do imóvel - 1323

Quanto a administração do condomínio, todos os consortes poderão usar da


coisa, dentro dos limites de sua destinação econômica, auferindo vantagens sem
prejuízo de qualquer deles.

Se impossível o uso comum, necessário deliberação entre condôminos


sobre venda, aluguel e administração – art. 1323 ao 1326 CC

XX EXAME OAB – 2016.2

QUESTÃO 39. Vítor, Paulo e Márcia são coproprietários, em regime


de condomínio pro indiviso, de uma casa, sendo cada um deles titular de
parte ideal representativa de um terço (1/3) da coisa comum. Todos usam
esporadicamente a casa nos finais de semana. Certo dia, ao visitar a casa,
Márcia descobre um vazamento no encanamento de água. Sem perder
tempo, contrata, em nome próprio, uma sociedade empreiteira para a
realização da substituição do cano danificado. Pelo serviço, ficou ajustado
contratualmente o pagamento de R$ 900,00 (novecentos reais). Tendo em
vista os fatos expostos, assinale a afirmativa correta.

A) A empreiteira pode cobrar a remuneração ajustada


contratualmente de qualquer um dos condôminos.

B) A empreiteira pode cobrar a remuneração ajustada


contratualmente apenas de Márcia, que, por sua vez, tem direito de regresso
contra os demais condôminos.

C) A empreiteira não pode cobrar a remuneração contratualmente


ajustada de Márcia ou de qualquer outro condômino, uma vez que o serviço
foi contratado sem a prévia aprovação da totalidade dos condôminos.

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D) A empreiteira pode cobrar a remuneração ajustada
contratualmente apenas de Márcia, que deverá suportar sozinha a despesa,
sem direito de regresso contra os demais condôminos, uma vez que
contratou a empreiteira sem o prévio consentimento dos demais
condôminos.

RESPOSTA: B

32. EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO

O condomínio poderá ser extinto pela divisão da coisa, ou então pela sua
venda.

I – Divisão: Tratando-se de condomínio ordinário, as partes podem exigir, a


qualquer tempo, a sua divisão – art. 1320 e 1321.

Divisão amigável: efetivada por escritura pública, quando todos os


condôminos forem maiores e capazes

Divisão judicial: quando não houver acordo ou houver incapaz

II – Venda:

Amigável: necessita de unanimidade de intenção de venda entre os


condôminos – art. 1322, 1ª parte.

Judicial: quando não há consenso e há interesse na venda – art. 1322,


fine, 1113 e 1118 do CC

33. CONDOMÍNIOS ESPECIAIS

São quatro, iniciando-se pelo CONDOMÍNIO NECESSÁRIO:

Condomínio em paredes: envolve a divisão de cercas, muros e valas. Art.


1327, 1297, § 1º, 1328, 1329 e 1330 CC.

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34. CONDOMÍNIO EDILÍCIO

Segunda espécie de condomínio especial.

Origem: tem sua origem a partir da segunda guerra mundial, em razão da


crise de habitação pelo desenvolvimento das cidades – melhorar aproveitamento
do solo. Art. 1331 ao 1358

Natureza Jurídica: tem por característica a justaposição de propriedades


distintas e exclusivas ao lado de condomínio de partes que necessariamente são
comuns – art. 1331, § 1º ao 5º

Forma de instituição – art. 1332, I a III:

A) Por destinação do proprietário do edifício (não necessariamente


construtor), mediante escritura pública, realizada antes ou depois da obra

B) Por incorporação imobiliária, através da venda de futuras unidades, e cujo


valor será usado para construir o prédio

C) Por testamento, em que o prédio é recebido, na herança, para ter essa


formatação

D) Por constituição do regime por vários herdeiros

E) Por arrematação em hasta pública, doação, dote, compra de frações do


edifício

F) Por sentença judicial, em ação de divisão.

Constituição: art. 1333 e 1334

Direitos dos condôminos: definidos no ato de constituição do condomínio, ou


seja, na “Convenção de Condomínio” – art. 1335

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A convenção de condomínio vincula tanto os proprietários como os
que utilizam o edifício, pois é averbada junto a matrícula do imóvel e celebra
verdadeiro ‘contrato’ de convivência.

Deveres dos condôminos – art. 1336 e ss.:

Observar as regras de boa vizinhança;

Não alterar o prédio externamente a não ser com a licença dos consortes;

Não decorar as partes e esquadrias externas com tons diversos da fachada;

Não destinar a unidade à uso diverso da finalidade do prédio;

Não praticar ato que ameace a segurança do prédio ou prejudique a higiene

Não embaraçar o uso das partes comuns

Não alienar a garagem a pessoa estranha ao condomínio, salvo autorização


expressa na convenção

Submeterem-se às sanções se transgredirem seus deveres

Concorrer com sua quota para as despesas de condomínio, sob pena de


sujeitar-se às sanções previstas na convenção condominial e legislação civil.

Administração: realizada essencialmente pelo síndico

Síndico: pessoa que defende os direitos e interesses comuns dos


condôminos, que os representa, que admite e demite empregados, arrecada
contribuições e aplica deliberações da Assembléia

Administrador: pessoa a quem o síndico delega certas funções


administrativas

Subsíndico: auxiliar do síndico

Conselho Fiscal: composto de três membros que dão pareceres sobre as


contas do síndico

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Órgão deliberativo: Assembléia geral, constituída por todos os condôminos

Extinção: formas de extinção do condomínio edilício

a) Desapropriação do edifício – art. 1358


b) Confusão: se todas as partes autônomas forem adquiridas por uma
só pessoa
c) Destruição do imóvel por qualquer acontecimento (natural ou caso
fortuito ou culpa) – art. 1357
d) Demolição voluntária do prédio – art. 1357
e) Alienação e reconstrução de todo o prédio – art. 1357, § 1º e 2º

35. CONDOMÍNIOS POR MULTIPROPRIEDADE IMOBILIÁRIA E FECHADO

Condomínio por multipropriedade: Propriedade de tempo compartilhado


de locais de lazer – pool de locações

Condomínio fechado: condomínio onde a propriedade possui unidades


independentes e frações ideais.

Condomínio horizontal com propriedade privada e partes comuns – regras


delimitadas também pela convenção

Regrado pela lei 4591/64 – art. 8º

EXAME 2014.1 41ª Questão:

Ary celebrou contrato de compra e venda de imóvel com Laurindo e, mesmo sem
a devida declaração negativa de débitos condominiais, conseguiu registrar o bem
em seu nome. Ocorre que, no mês seguinte à sua mudança, Ary foi surpreendido
com a cobrança de três meses de cotas condominiais em atraso. Inconformado
com a situação, Ary tentou, sem sucesso, entrar em contato com o vendedor,
para que este arcasse com os mencionados valores.

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De acordo com as regras concernentes ao direito obrigacional, assinale a opção
correta.

a) Perante o condomínio, Laurindo deverá arcar com o pagamento das cotas


em atraso, pois cabe ao vendedor solver todos os débitos que gravem o
imóvel até o momento da tradição, entregando-o livre e desembargado.

b) Perante o condomínio, Ary deverá arcar com o pagamento das cotas em


atraso, pois se trata de obrigação subsidiária, já que o vendedor não foi
encontrado, cabendo ação in rem verso, quando este for localizado.

c) Perante o condomínio, Laurindo deverá arcar com o pagamento das cotas


em atraso, pois se trata de obrigação com eficácia real, uma vez que Ary
ainda não possui direito real sobre a coisa.

d) Perante o condomínio, Ary deverá arcar com o pagamento das cotas em


atraso, pois se trata de obrigação propter rem, entendida como aquela que
está a cargo daquele que possui o direito real sobre a coisa e,
comprovadamente, imitido na posse do imóvel adquirido.

R–D

36. SERVIDÕES PREDIAIS

São direitos de gozo sobre imóveis que, em virtude de lei ou vontade das
partes, se impõem sobre o prédio serviente em benefício do dominante.

Tem por finalidade proporcionar uma valorização do prédio dominante,


tornando-o mais útil, agradável ou cômodo, implicando, por outro lado, uma
desvalorização econômica do prédio serviente, levando-se em consideração que
as servidões prediais são perpétuas, acompanhando sempre os imóveis quando
transferidos.

Princípios Fundamentais

- É uma relação entre prédios vizinhos

- Não há servidão sobre a própria coisa

- A servidão serve à coisa e não ao dono

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- Não se pode de uma servidão constituir outra

- Servidão não se presume

- Servidão é inalienável

Natureza jurídica: É um direito real de gozo ou fruição sobre imóvel alheio


de caráter acessório, perpétuo, indivisível e inalienável.

Modos de constituição

- Ato jurídico inter vivos ou causa mortis (CC, art. 1.378; Dec.-lei n. 1000/69,
art. 167, X).

- Sentença judicial (CPC, arts. 596, II, e 597, § 4º, III).

- Usucapião (CC, art. 1379, parágrafo único; CPC, art. 259).

- Destinação do proprietário.

Classificação

- Quanto à natureza: rústicas e urbanas.

- Quanto ao modo de exercício:

- Contínuas e Descontínuas

- Positivas e Negativas

- Ativas e Passivas

- Quanto à exteriorização: aparentes e não-aparentes.

- Quanto à origem:

- Legais

- Naturais

- Convencionais

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Direitos e deveres do proprietário do prédio dominante

Direito - Usar e gozar da servidão

- Realizar obras necessárias à sua conservação e uso (CC, art. 1380; Cód.
de Águas, art. 128).

- Exigir ampliação da servidão para facilitar a exploração do prédio


dominante (CC, art. 1385, § 3º).

Renunciar a servidão (CC, art. 1388, I) e removê-la (CC, art. 1384, in fine).

Deveres - Pagar todas as obras feitas para uso e conservação da servidão


(CC, art. 1381).

- Exercer a servidão civiliter modo (CC, art. 1385).

- Indenizar o dono do prédio servientes pelo excesso do uso da servidão em


caso de necessidade (CC, art. 1385, § 3º ).

- Exonerar-se de pagar as despesas com o uso e conservação da servidão,


desde que abandone total ou parcial a propriedade em favor do dono do prédio
dominante (CC, art. 1382, parágrafo único).

- Remover a servidão de um local para o outro.

- Impedir que o proprietário do dominante efetive qualquer mudança na forma


de utilização da servidão, pois este de manter sua destinação (CC, art. 1385, § 3º).

- Cancelar a servidão nos casos dos arts. 1388 e 1389 do Código Civil.

Obrigações:

- Permitir que o dono do prédio dominante realize obras necessárias à


conservação e utilização da servidão (CC, art. 1380).

- Respeitar o uso normal e legítimo da servidão (CC, art. 1383).

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- Pagar despesas com a remoção da servidão e não prejudicar ou diminuir
as vantagens do prédio dominante, que decorrerem dessa mudança (CC, art. 1384)
– desde que realizada em razão do prédio serviente.

Proteção Jurídica

A proteção do direito real de servidão se dá através dos instrumentos


disponíveis para proteção de outros direitos reais, como ação de manutenção e
reintegração.

Importante destacar que tal direito segue a mesma lógica de instituição e


proteção de outros direitos reais.

Quanto às ações, enumeram-se:

- Ação confessória

- Ação negatória

- Ação de manutenção de posse ou de reintegração de posse e


interdito proibitório.

- Nunciação de obra nova (CPC, art. 259).

- Ação usucapião.

Extinção

A extinção da servidão é o meio pelo qual a mesma deixa de ser fruída ou


usufruída pelo prédio dominante, podendo ocorrer por meio voluntário ou
involuntário, senão vejamos:

- Renúncia do titular (CC, art. 1388, I).

- Cessação de sua utilidade (CC, art. 1388, II).

- Resgate (CC, art. 1388, III).

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- Confusão (CC, art. 1389, I).

- Supressão das respectivas obras (CC, art. 1389, II).

- Desuso (CC, art. 1389, III).

- Perecimento do objeto.

- Decurso do prazo ou implemento da condição.

- Desapropriação

- Convenção

- Preclusão do direito da servidão

- Resolução do domínio do prédio serviente.

37. USUFRUTO

Trata-se de um direito real sobre coisa alheia, em que o nu proprietário


(assim chamado por conta do próprio usufruto) deixa de ter a possibilidade de uso
e fruição do bem em favor do usufrutuário.

O usufruto condiciona o exercício da propriedade, na medida em que a posse


direta concentra-se na figura do usufrutuário, pelo período do usufruto (determinado
ou indeterminado), permanecendo a posse indireta, contudo, com o nu proprietário.

Durante o usufruto o nu proprietário detém os direitos de dispor e de proteção


da propriedade, respeitado, porém, o usufruto.

Objeto:

- Móveis infungíveis e inconsumíveis (CC, art. 1392, § 1º).

- Imóveis (CC, arts. 1391 e 1392).

- Patrimônio (CC, art. 1405).

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- Direitos, desde que transmissíveis.

Caracteres jurídicos:

- Direito real sobre a coisa alheia.

- É temporário.

- É intransmissível e inalienável.

- É impenhorável.

Espécies:

- Quanto à origem: legal e convencional.

- Quanto ao objeto: próprio e impróprio.

- Quanto a extensão: - universal ou particular e pleno ou restrito

- Quanto à duração: temporário, vitalício e simultâneo.

Modos constitutivos:

- Por lei

- Por ato jurídico inter vivos ou causa mortis.

- Por sub-rogação real.

- Por usucapião.

- Por sentença (CPC, arts. 867 a 869).

Usufruto e enfiteuse: Na enfiteuse, o foreiro pode dispor do domínio útil; no


usufruto, o usufrutuário não poderá transmitir seu direito, ele é alienável, podendo
tão somente, ceder seu exercício; a enfiteuse é perpétua, o usufruto, temporário; e

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enfiteuse recai sobre terrenos para agricultura e edificação, o usufruto incide sobre
bens móveis, imóveis e direitos; a enfiteuse é onerosa, o usufruto é gratuito.

Usufruto e fideicomisso: No usufruto, o domínio é do nu-proprietário, o


usufrutuário só pode usar e gozar do bem; no fideicomisso o bem é transmitido pelo
fideicomitente ao fiduciário, que o recebe na qualidade de dono, com o encargo de
transmiti-lo a outrem por sua morte ou após certo tempo. No usufruto, o usufrutuário
e o nu-proprietário são titulares de direito simultâneos; no fideicomisso, o fiduciário
e o fideicomissário são titulares sucessivos dos direitos. No usufruto, o usufrutuário
não pode vender a nua-propriedade, porque esta não lhe pertence; no fideicomisso
o fiduciário poderá alienar os bens fideicomitidos. O usufruto extingue-se com a
morte do usufrutuário, no fideicomisso, com o falecimento do fiduciário, dá-se a sua
transmissão a seus herdeiros para que estes o entreguem na forma instituída pelo
fideicomissário. O usufruto permanece havendo morte do nu-proprietário, pois a
nua-proprietária transmite-se a seus herdeiros; no fideicomisso com o óbito do
fideicomissário consolida-se nas mãos do fiduciário o domínio resolúvel, que
passará a ser perpétuo. O usufruto é direito real sobre coisa alheia; o fideicomisso
é forma de substituição restrita ao direito das sucessões.

Usufruto e locação: O usufruto é direito real oponível erga omnes e a


locação, pessoal; o usufruto recai sobre coisas corpóreas ou incorpóreas e a
locação, sobre bens corpóreos; o usufruto nasce da lei, ato jurídico inter vivos ou
causa mortis, usucapião etc.; a locação, somente do contrato; o usufruto é gratuito
e a locação, onerosa.

Usufruto – direitos e obrigações do usufrutuário

Direitos:

- À posse, uso, administração e percepção dos frutos naturais pendentes no


início do usufruto (CC, art. 1394).

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- De cobrar as dívidas e empregar as importâncias recebidas (CC, art. 1395
e parágrafo único).

- De gozar de renda oriunda de títulos de crédito, aplicando-os após a


cobrança do débito em apólices de dívida pública (CC, art. 1395 e parágrafo único,
2ª parte).

- De ter parte em tesouro achado por outrem e de receber meação em


tesouro e em paredes, cerca, muro, vala (CC, art. 1392, § 3º) sendo usufruto de
universalidade ou quota-parte de bens.

- Não ser obrigado a pagar deteriorações da coisa decorrentes do exercício


regular do usufruto (CC, art. 1402)

Obrigações:

- Inventariar as suas expensas os bens móveis que receber, determinando


o estado em que se acham e estimando o seu valor.

- Dar caução real e fidejussória, se lhe exigir o dono, de velar-lhes pela


conservação e entrega-los findo o usufruto (CC, arts. 1400, 2ª parte, 1402 e 1401).

- Gozar da coisa frutuária com moderação.

- Conservar a destinação que lhe deu o proprietário.

- Fazer despesas ordinárias e comuns de conservação dos bens no estado


em que os recebeu.

- Defender a coisa usufruída, repelindo todas as usurpações de terceiros,


impedindo que se constituam situações jurídicas contrárias ao nu-proprietário.

- Evitar perecimento de servidões ativas e impedir que se criem servidões


passivas.

- Abster-se de tudo que possa danificar o bem frutuário.

- Pagar certas contribuições (CC, arts. 1403, II, 1407, 1408 E 1409) e os
juros dos débitos que onerem o patrimônio, ou parte dele, de que é objeto de
usufruto (CC, art. 1405).

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- Restituir o bem usufruído, findo o usufruto no estado em que o recebeu,
como o inventariou ou como se obrigou a conservá-lo.

Direitos e deveres do nu proprietário

Direitos:

- Exigir que o usufrutuário conserve a coisa.

- Exigir que o usufrutuário preste caução fidejussória ou real (CC, art. 1400).

- Administrar o usufruto, se o usufrutuário não quiser ou não puder dar


caução (CC, art. 1401).

- Receber remuneração por essa administração (CC, art. 1401).

- Receber metade do tesouro achado no bem frutuário por terceiros salvo se


ocorrer a hipótese do CC, art. 1392, § 3º, caso em que tal direito caberá ao
usufrutuário.

- Perceber os frutos naturais pendentes ao tempo em que cesse o usufruto


(CC, art. 1396, parágrafo único).

- Aos frutos civis vencidos na data inicial do usufruto ( CC, art. 1398).

- Autorizar a mudança da destinação da coisa usufruída (CC, art. 1399).

- Prefixar a extensão do gozo e do modo da exploração de minas e florestas


dadas em usufruto (CC, art. 1392, § 1º).

- Exigir o equivalente em gênero, qualidade e quantidade quando se tem


usufruto impróprio (CC, 1392, § 1º).

- Receber juros do capital despendido com as reparações necessárias à


conservação da coisa frutuária ou que lhe aumentarem o rendimento (CC, art.
1404).

- Ir contra o segurador, quando segurada a coisa é objeto do usufruto (CC,


art. 1407, § 1º).

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- Não restabelecer o usufruto se, por sua conta, reconstruir o prédio
destruído sem culpa sua (CC, art. 1408).

- Reclamar a extinção do usufruto, quando o usufrutuário alienar, arruinar ou


deteriorar a coisa frutuária (CPC, arts. 725, VI e 730).

Deveres:

- Não obstar o uso da coisa usufruída nem lhe diminuir a utilidade.

- Entregar ao usufrutuário mediante caução o rendimento dos bens frutuários


que estiverem sob sua administração, deduzidas as despesas dessa administração
(CC, art. 1401).

- Fazer as reparações extraordinárias e as que não forem de custo módico


necessárias à conservação da coisa dada em usufruto (CC, art. 1404, § 2º).

- Respeitar o usufruto estabelecido devido ao fato de prédio usufruído ter


sido reconstruído com a indenização do seguro (CC, art. 1408).

- Respeitar a sub-rogação de indenização de danos causados por terceiros


ou do valor da desapropriação no ônus do usufruto (CC, art. 1409).

Extinção (CPC, art. 725, VI, e Lei n. 7.608/81)

O usufruto poderá ser extinto nas seguintes hipóteses:

- Pela morte do usufrutuário (CC, art. 1410 I e III).

- Pelo advento do termo de sua duração (CC, art. 1410, II).

- Pelo implemento de condição resolutiva.

- Pela cessação do motivo de que se origina (CC, art. 1410, IV).

- Pela destruição da coisa não sendo fungível (CC, art. 1410, V).

- Pela consolidação (CC, art. 1410, VI).

- Pelo não-uso da coisa sobre a qual recai o usufruto (CC, art. 1410,
VIII).

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- Pela culpa do usufrutuário (CC, art. 1410, I).

- Pela resolução do domínio.

EXAME 2015.2

37ª Questão:

Angélica concede a Otávia, pelo prazo de vinte anos, direito real de usufruto
sobre imóvel de que é proprietária. O direito real é constituído por meio de
escritura pública, que é registrada no competente Cartório do Registro de Imóveis.
Cinco anos depois da constituição do usufruto, Otávia falece, deixando como
única herdeira sua filha Patrícia.

Sobre esse caso, assinale a afirmativa correta.

a) Patrícia herda o direito real de usufruto sobre o imóvel.

b) Patrícia adquire somente o direito de uso sobre o imóvel.

c) O direito real de usufruto extingue-se com o falecimento de Otávia.

d) Patrícia deve ingressar em juízo para obter sentença constitutiva do seu


direito real de usufruto sobre o imóvel.

Resposta – C

Prova 2014.2 37ª Questão:

Sara e Bernardo doaram o imóvel que lhes pertencia a Miguel, ficando o imóvel
gravado com usufruto em favor dos doadores.

Dessa forma, quanto aos deveres dos usufrutuários, assinale a afirmativa


INCORRETA:

a) Não devem pagar as deteriorações resultantes do exercício regular do


usufruto.

b) Devem arcar com as despesas ordinárias de conservação do bem no


estado em que o receberam.

c) Devem arcar com os tributos inerentes à posse da coisa usufruída.

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d) Não devem comunicar ao dono a ocorrência de lesão produzida contra a


posse da coisa.

Resposta: D

2013.2 42ª Questão:

Tiago, com 17 anos de idade e relativamente incapaz, sob autoridade de seus


pais Mário e Fabiana, recebeu, por doação de seu tio, um imóvel localizado na
rua Sete de Setembro, com dois pavimentos, contendo três lojas comerciais no
primeiro piso e dois apartamentos no segundo piso. Tiago trabalha como cantor
nos finais de semana, tendo uma renda mensal de R$ 3.000,00 (três mil reais).

Face aos fatos narrados e considerando as regras de Direito Civil, assinale a


opção correta.

a) Mário e Fabiana exercem sobre os bens imóveis de Tiago o direito de


usufruto convencional, inerente à relação de parentesco que perdurará até
a maioridade civil ou emancipação de Tiago.

b) Mário e Fabiana poderão alienar ou onerar o bem imóvel de Tiago, desde


que haja prévia autorização do Ministério Público e seja demonstrado o
evidente interesse da prole.

c) Mário e Fabiana não poderão administrar os valores auferidos por Tiago


no exercício de atividade de cantor, bem como os bens com tais recursos
adquiridos.

d) Mario e Fabiana, entrando em colisão de interesses com Tiago sobre a


administração dos bens, facultam ao juiz, de ofício, nomear curador
especial.

R- C

38. DIREITO DE USO

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Conceito: Direito real que, a título gratuito ou oneroso, autoriza uma pessoa
a retirar, temporariamente, de coisa alheia, todas as utilidades para atender às suas
próprias necessidades e às de sua família.

Caracteres:

- É direito real sobre a coisa alheia.

- É temporário.

- É indivisível.

- É intransmissível.

- É personalíssimo.

Modos de constituição:

- Ato jurídico inter vivos e causa mortis.

- Sentença judicial.

- Usucapião.

Objeto:

- Bens móveis (infungíveis e inconsumíveis) e imóveis.

- Bens corpóreos e incorpóreos.

Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o


exigirem as necessidades suas e de sua família.

§ 1o Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua


condição social e o lugar onde viver.

§ 2o As necessidades da família do usuário compreendem as de seu


cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu serviço doméstico.

Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza,
as disposições relativas ao usufruto.

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Concessão de uso especial para fins de moradia e concessão de direito


real de uso:

- CC, art. 1225, XI e XIII, 1473, VIII e IX e § 2º.

- MP n. 2220/2001, arts. 1º a 9º.

- Lei n. 9636/98, arts. 6º, § 1º, 7º, § 7º, 18, § 6º, III, 22 – A, com redação da
Lei n. 11481/2007.

- Lei n. 8666/93, art. 17, I, f e h, com alteração da Lei n. 11481/2007.

- Decreto-Lei n. 271/67, art. 7º, com redação da Lei n. 11481/2007.

Lei n. 11481/2007, art. 25.

Lei n. 6015/73, arts. 167, I, n.37 e 40, e 290-A, I e II, §§ 1º e 2º.

Direitos e deveres do usuário

Direitos:

- Fruir a utilidade da coisa.

- Extrair do bem todos os frutos para atender às suas próprias necessidades


e às de sua família.

- Praticar todos os atos indispensáveis à satisfação de suas necessidades e


às de sua família, sem comprometer a substância e a destinação do objeto.

- Melhorar o bem introduzindo benfeitorias que o tornem mais cômodo ou


agradável.

- Administrar a coisa.

Deveres:

- Conservar a coisa.

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- Não retirar rendimentos ou utilidades que excedam à prevista em lei.

- Proteger o bem com os remédios possessórios.

- Não dificultar ou impedir o exercício dos direitos do proprietário.

- Restituir a coisa, pois só detém a sua posse direta, a título precário, uma
vez que o uso é temporário.

Extinção:

- Morte do usuário

- Advento do prazo final

- Perecimento do objeto

- Consolidação

- Renúncia

Jurisprudência:

Ementa: APELAÇÕES CÍVEIS. AGRAVO RETIDO. AÇÃO


DECLARATÓRIA DO DIREITO DE HABITAÇÃO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE. 1. AGRAVO RETIDO. CERCEAMENTO DE DEFESA INOCORRENTE.
CONEXÃO. INSTRUÇÃO E JULGAMENTO CONJUNTOS DE AMBOS OS
FEITOS. 2. PRIMEIRA APELAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO
NÃO VERIFICADA. USUFRUTO VITALICIO. EXTINÇÃO. NU-PROPRIETÁRIO.
POSSE INDIRETA. LEGITIMIDADE PARA A PRETENSÃO DE REINTEGRAÇÃO
DE POSSE. EXCEÇÃO DE USUCAPIÃO. IMPROCEDENTE. COABITAÇÃO. ATO
DE MERA CONCESSÃO DE USO. NÃO CONFIGURAÇÃO DO ANIMUS DOMINI.
MÉRITO. PRETENSÃO DE DECLARAÇÃO DE DIREITOREAL DE HABITAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE. "FILHA DE CRIAÇÃO". AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL.
REINTEGRAÇÃO DE POSSE. REQUISITOS PREENCHIDOS. LOCATIVOS
PELO USODO IMÓVEL. DEVIDOS. COMPENSAÇÃO PELA
INDISPONIBILIZAÇÃO DO BEM. 3. SEGUNDA APELAÇÃO. NÃO
CONHECIMENTO. PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE OU
UNIRRECORRIBILIDADE. REJEITADA A PRELIMINAR. NEGADO PROVIMENTO
AO AGRAVO RETIDO. SEGUNDA APELAÇÃO NÃO CONHECIDA. NEGADO
PROVIMENTO À PRIMEIRA APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70046106597, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Nara Leonor Castro Garcia, Julgado em 16/02/2012)

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Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL.


ASSOCIAÇÃO HOSPITALAR DE NOVO HAMBURGO. CRIAÇÃO, PELA LEI Nº
469/2001, DE AUTARQUIA MUNICIPAL. ILEGITIMIDADE
PASSIVA. EXTINÇÃO DA CONCESSÃO REAL DE USO. A Associação Hospitalar
de Novo Hamburgo é parte ilegítima para figurar no polo passivo de demanda
visando à indenização por suposto erro médico após a criação, pela Lei nº
469/2001, de autarquia municipal que se responsabilizou pela administração do
nosocômio. Com a extinção da concessão real de uso do Hospital Geral, por parte
da Associação, não há como responsabilizar a parte agravada por evento ocorrido
após a regulamentação da lei municipal, com a edição de decreto regulamentando
a gestão da autarquia. Não se aplica ao caso concreto o art. 1.115 do CC, referente
à transformação das sociedades. Suporte fático que não possui relação com a
situação do caso concreto. Hipótese de concessão real de uso, prevista
como direito real no art. 1225, XII, CC. Precedentes. AGRAVO DE
INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70039730056, Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Julgado
em 26/01/2011)

40. DIREITO DE SUPERFÍCIE

O direito de superfície constitui-se em verdadeira evolução da enfiteuse,


onde o superficiário irá fruir da superfície de terreno pertencente à outrem, por prazo
determinado, mediante remuneração específica. Não se confunde, porém, com a
locação.

Vem sendo utilizado especialmente quando proprietário não tem recursos ou


interesse em edificação, bem como nos casos de impossibilidade de alienação do
imóvel (v.g. concessão de áreas costeiras, pela marinha, para construção de
portos).

Art. 1.369. O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir


ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura
pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O direito de superfície não autoriza obra no subsolo,
salvo se for inerente ao objeto da concessão.
Art. 1.370. A concessão da superfície será gratuita ou onerosa; se
onerosa, estipularão as partes se o pagamento será feito de uma só vez, ou
parceladamente.
Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que
incidirem sobre o imóvel.

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Art. 1.372. O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por
morte do superficiário, aos seus herdeiros.
Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a nenhum
título, qualquer pagamento pela transferência.
Art. 1.373. Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o
superficiário ou o proprietário tem direito de preferência, em igualdade de
condições.
Art. 1.374. Antes do termo final, resolver-se-á a concessão se o
superficiário der ao terreno destinação diversa daquela para que foi
concedida.
Art. 1.375. Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a
propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação,
independentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o
contrário.
Art. 1.376. No caso de extinção do direito de superfície em conseqüência
de desapropriação, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no
valor correspondente ao direito real de cada um.
Art. 1.377. O direito de superfície, constituído por pessoa jurídica de
direito público interno, rege-se por este Código, no que não for diversamente
disciplinado em lei especial.

Distinção entre direito de superfície e enfiteuse.

A enfiteuse acabou sendo extinta pelo código civil de 2002, mantendo,


porém, vigentes todas as instituições já realizadas. Sua substituição pelo direito de
superfície demonstra que não comportava mais a demanda contratual da
atualidade. Nesse passo, o CC atual migrou para o direito de superfície.

Quanto à sua distinção, esta é percebida justamente pela duração de cada


um dos institutos, pois enquanto o direito de superfície possui prazo determinado,
a enfiteuse tinha por característica essencial a perpetuidade. Vejamos, a respeito,
o texto de Leandro Barboza Bezerra2:

(...) A enfiteuse é perpetua sendo feita por ato de ultima vontade ou inter
vivos, no caso da superfície deve obrigatoriamente ser temporário (não existe
norma limitando o tempo que irá perdurar a obrigação, mas deve obrigatoriamente
ser estipulado no contrato o termino do contrato) podendo também ser feito pelo
ato inter vivos ou ato de ultima vontade.
O direito de superfície pode ser oneroso ou gratuito, ou seja, pode o dono
do solo transferir temporariamente a posse da propriedade para terceiro sem que
esse tenha obrigação de pagar o cânon para o proprietário, na enfiteuse o
pagamento do foro anual é obrigatório.

2
Fonte: http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=6251

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A enfiteuse em regra é indivisível, contudo pode ocorrer sua divisão em
glebas no caso de herança, nesse caso, haveria o chamado cabecel, ele é o
administrador, escolhido pelos demais foreiros ou pelo senhorio do solo, fica
responsável pela cobrança do foro, na superfície o próprio superficiário é o
administrador do solo.
Ambos devem ter seu contrato registrado no cartório de registro de imóveis
para que se torne um contrato valido tendo esse todas as garantias dos direitos
reais.

EXAME 2015.2 41ª Questão:

Mateus é proprietário de um terreno situado em área rural do estado de Minas


Gerais. Por meio de escritura pública levada ao cartório do registro de imóveis,
Mateus concede, pelo prazo de vinte anos, em favor de Francisco, direito real de
superfície sobre o aludido terreno. A escritura prevê que Francisco deverá ali
construir um edifício que servirá de escola para a população local. A escritura
ainda prevê que, em contrapartida à concessão da superfície, Francisco deverá
pagar a Mateus a quantia de R$30.000,00 (trinta mil reais). A escritura também
prevê que, em caso de alienação do direito de superfície por Francisco, Mateus
terá direito a receber quantia equivalente a 3% do valor da transação.

Nesse caso, é correto afirmar que

a) é nula a concessão de direito de superfície por prazo determinado, haja


vista só se admitir, no direito brasileiro, a concessão perpétua.

b) é nula a cláusula que prevê o pagamento de remuneração em


contrapartida à concessão do direito de superfície, haja vista ser a
concessão ato essencialmente gratuito.

c) é nula a cláusula que estipula em favor de Mateus o pagamento de


determinada quantia em caso de alienação do direito de superfície.

d) é nula a cláusula que obriga Francisco a construir um edifício no terreno.

R-C

EXAME 2013.2 40ª Questão:

Alexandre, pai de Bruno, celebrou contrato com Carlos, o qual lhe concedeu o
direito de superfície para realizar construção de um albergue em seu terreno e
explorá-lo por 10 anos, mediante o pagamento da quantia de R$100.000,00.

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Passados quatro anos, Alexandre veio a falecer. Diante do negócio jurídico
celebrado, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) O superficiário pode realizar obra no subsolo, de modo a ampliar sua


atividade.

b) O superficiário responde pelos encargos e tributos que incidirem sobre o


imóvel.

c) O direito de superfície será transferido a Bruno, em razão da morte de


Alexandre.

d) O superficiário terá direito de preferência, caso Carlos decida vender o


imóvel.

R–A

41. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO

O direito de habitação é um direito real restrito ao uso do bem imóvel para


fins de moradia, como o próprio nome sugere.

Sobre o tema, vale trazer a contribuição do autor Bráulio Dinarte Pinto:

O direito real de habitação não é um instituto novo, criado pela Lei 10.406,
de 09 de janeiro de 2.002. Já era conhecido pelo Direito Sucessório Brasileiro, uma
vez que o art. 1.611, parágrafo segundo, do Código Civil anterior, lhe contemplava
desde o advento da Lei 4.121/64 – Estatuto da Mulher Casada – assegurando esse
tipo de sucessão ao cônjuge sobrevivente, casado pelo regime da comunhão
universal de bens.

Vale dizer ainda que o direito de habitação poderá ser instituído


voluntariamente, ser decorrente de relacionamento afetivo ou ser instituído por
decisão judicial. Nesse passo, referem os artigos 1414 – 1426 do CC:

Art. 1.414. Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente


casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas
simplesmente ocupá-la com sua família.

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Art. 1.415. Se o direito real de habitação for conferido a mais de uma
pessoa, qualquer delas que sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel
à outra, ou às outras, mas não as pode inibir de exercerem, querendo, o
direito, que também lhes compete, de habitá-la.

Art. 1.416. São aplicáveis à habitação, no que não for contrário à sua
natureza, as disposições relativas ao usufruto.

42. PROMESSA DE COMPRA E VENDA

A promessa de compra e venda foi erigida a condição de direito real a partir


do dec. Lei 58/37, quando passou a ser protegido como verdadeiro direito real de
aquisição (não obstante essa classificação seja recente).

A tutela da promessa de compra e venda ocorre através da possibilidade do


promitente comprador levar à registro o contrato particular, bem como, tão logo
pago o preço prometido, exigir a transferência dominial do bem objeto da compra e
venda, conforme prevê o atual código civil:

Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não


pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente
comprador direito real à aquisição do imóvel.

Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir


do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem
cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o
disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a
adjudicação do imóvel.

43. PROPRIEDADE RESOLÚVEL.

Propriedade resolúvel, segundo Clóvis é aquela que encerra, no próprio título


constitutivo, o princípio que a tem de extinguir, realizada a condição resolutória, ou
vindo o termo extintivo, seja por força da declaração de vontade, seja por
determinação de lei. Ex.: CC, arts. 505, 509, 504 e 1.953

66
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O objetivo da instituição da propriedade resolúvel é a viabilidade de
cumprimento de determinada o obrigação sob a garantia da resolução da
propriedade, como é o caso do pagamento do bem, implemento de condição ou
outra obrigação.

Art. 1.359. Resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou


pelo advento do termo, entendem-se também resolvidos os direitos reais
concedidos na sua pendência, e o proprietário, em cujo favor se opera a
resolução, pode reivindicar a coisa do poder de quem a possua ou detenha.

Art. 1.360. Se a propriedade se resolver por outra causa


superveniente, o possuidor, que a tiver adquirido por título anterior à sua
resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à pessoa, em
cujo benefício houve a resolução, ação contra aquele cuja propriedade se
resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor.

Jurisprudências de destaque:

Ementa: PROCESSO DE EXECUÇÃO. DÍVIDA GARANTIDA COM


CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PENHORA SOBRE O BEM
ALEINADO. FACULDADE DO CREDOR. A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM
GARANTIA CONSISTE NA TRANSFERÊNCIA, FEITA PELO DEVEDOR
AO CREDOR, DA PROPRIEDADE RESOLÚVEL E DA POSSE INDIRETA
DE UM BEM COMO GARANTIA DE SEU DÉBITO. ASSIM, FICA A
CRITÉRIO DO CREDOR INDICAR OUTROS BENS PARA A PENHORA OU
ACEITAR QUE RECAIA SOBRE O PRÓPRIO BEM ALIENADO QUE,
ENTRETANTO, JÁ É DE SUA PROPRIEDADE. ALEGAÇÃO DE
IMPENHORABILIDADE E DE EXCESSO DE PENHORA NÃO APRECIADA
NO PRIMEIRO GRAU. IMPOSSIBILIDADE DE PRONUNCIAMENTO SOB
PENA DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. AGRAVO DESPROVIDO. (Agravo
de Instrumento Nº 70053099560, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Vanderlei Teresinha Tremeia Kubiak, Julgado em
15/02/2013)

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO.


COMPRA E VENDA. BEM IMÓVEL. COMPLEXO INDUSTRIAL DE
LIMPEZA, SECAGEM, ARMAZENAGEM DE GRÃOS. SILOS METÁLICOS
ARMAZENADORES. ESCRITURA PÚBLICA. ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA. PROPRIEDADE RESOLÚVEL. (LEI 9.514/97). PREÇO
PARCELADO. INADIMPLÊNCIA. INEXISTENTE ABUSO CONTRATUAL.
NEGADO PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº

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70030167019, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Nara Leonor Castro Garcia, Julgado em 24/09/2009)

Efeitos da propriedade resolúvel

Dentro da propriedade resolúvel, é possível identificar duas possibilidades


de efeitos, se operada a resolução da propriedade:

Ex tunc – Se a causa de resolução da propriedade constar do próprio título


constitutivo, nos termos do art. 1.395 do CC.

Ex nunc – Conforme disposto no art. 1.360 do CC , se a sua extinção se der


por motivo superveniente. Ex.: CC, arts. 557 e 563.

44. DIREITO DE AUTOR

O direito autoral é uma modalidade de propriedade. É uma propriedade


incorpórea, imaterial ou intelectual (Kohler, Ihering, Dernburg, Ahrens, Dabin,
Caselli). É um poder de senhoria de um bem intelectual que contém poderes de
ordem pessoal e patrimonial. Qualificando-se como um direito pessoal – patrimonial
(CF, arts. 5º, XXII, IX, XIII, XXIX, XXVII e XXVIII, b; Lei nº 9.610/98).

Para Antônio Chaves é o direito de autor um conjunto de prerrogativas de


ordem não-patrimonial e de ordem pecuniária que a lei reconhece a todo criador de
obras literárias, artísticas e científicas de alguma originalidade, no que diz respeito
à sua paternidade e a seu ulterior aproveitamento, por qualquer meio durante toda
sua vida e aos sucessores, ou pelo prazo que ela fixar.

A disciplina do direito de autor está prevista essencialmente na lei 9610/98,


em especial nos seus arts. 7º, 8º, 9º, 10, 12, 14 a 17, 19, 23, 32, e 42.

Direitos morais e patrimoniais dos direitos autorais.

Direitos Morais – São aqueles que se reconhece ao autor a paternidade da


obra, sendo, portanto, inseparáveis de seu autor, perpétuos, inalienáveis,

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imprescritíveis e impenhoráveis, uma vez que são atributos da personalidade do
autor.

Direitos patrimoniais – São direitos de utilizar-se economicamente da obra,


publicando-a, difundindo-a, traduzindo-a, transferindo-a, autorizado sua utilização,
no todo ou em parte, por terceiro.

Limitações aos direitos - Lei nº 9.610/98, arts. 46, 68, 70, 76 e 79.

Duração dos direitos do autor – Lei nº 9.610/98, arts. 41 a 45.

Cessão dos direitos do autor – Lei nº 9.610/98, arts. 49, 50, e 52; CP, art.
185.

Sanções à violação dos direitos autorais – Lei 9.610/98, arts. 102 a 110; CP
art. 184, §§ 1º a 4º.

Desapropriação de obras publicadas – Decreto-lei nº 3.365/41, art. 5º, o; CF,


art. 216, III, § 1º.

DIREITOS REAIS DE GARANTIA

45. PENHOR

É um direito real que consiste na tradição de uma coisa móvel ou


imobilizável, suscetível de alienação, realizada pelo devedor ou por terceiro ao
credor, a fim de garantir o pagamento do débito (CC, art. 1431).

Caracteres: é um direito real de garantia; é direito acessório, depende da


tradição (exceto nos casos do art. 1431, parágrafo único, do CC; Lei n. 2666/55,
art. 1º; Dec.-lei n. 413/69, art. 28); recai sobre coisa móvel; exige alienabilidade do
objeto; o bem empenhado deve ser da propriedade do devedor (salvo o disposto
nos arts. 1420, § 1º, e 1427 do CC); não admite pacto comissório; é direito real uno
e indivisível; é temporário.

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Modos constitutivos

Convenção

Lei

Penhor – Direitos e deveres do credor pignoratício

Direitos:

Investir na posse da coisa empenhada

Invocar proteção possessória

Reter o objeto empenhado até o implemento da obrigação ou até ser


reembolsado das despesas com sua conservação (CC, art. 1433, II).

Excutir o bem gravado

Ser pago, preferencialmente, com o produto da venda judicial.

Exigir reforço da garantia se a coisa empenhada se deteriorar ou perecer.

Ressarcir-se de qualquer dano que venha a sofrer por vício do bem gravado
(CC, art. 1433, III).

Receber o valor do seguro da coisa; indenização a que estiver sujeito o


causador da perda ou deterioração dos bens, preço da desapropriação ou
requisição dos bens.

Apropriar-se dos frutos da coisa empenhada (CC, art. 1433, V).

Promover venda antecipada com autorização judicial (CC, art. 1433, VI e


parágrafo único).

Não ser constrangido a devolver, a coisa ou parte dela, antes de ser


integralmente pago (CC, art. 1434).

Deveres:

Não usar a coisa empenhada


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Custódia

Ressarcir a perda ou deterioração de que for culpado.

Restituir o bem gravado, uma vez paga a dívida, com os respectivos frutos
e acessões.

Entregar o que sobeje do preço, quando a dívida for paga por excussão
judicial ou venda amigável.

Defender a posse do bem empenhado (CC, art. 1435, II).

Imputar o valor dos frutos nas despesas de guarda e conservação, nos juros
e no capital da obrigação garantida (CC, art. 1435, III).

Direitos e obrigações do devedor pignoratício

Direitos:

Não perder a propriedade da coisa.

Conservar a posse indireta do bem gravado.

Impedir que o credor faça uso do bem.

Exigir ressarcimento do prejuízo que vier a sofrer com a perda ou


deterioração da coisa por culpa do credor.

Receber o remanescente do preço na venda judicial.

Reaver o objeto dado em garantia, quando pagar o seu débito.

Socorrer-se do processo sumaríssimo do art. 275, II, c, do Código Civil, se o


credor se recusar a devolver o bem, quando a dívida for paga.

Remir o bem empenhado.

Obrigações:

Pagar despesas feitas pelo credor com a guarda, conservação e defesa do


bem gravado.
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Indenizar o credor de todos os prejuízos causados por vícios ou defeitos
ocultos da coisa empenhada.

Reforçar o ônus real, nos casos em que for necessário.

Obter licença do credor para alienar bem onerado, sob pena de sofrer a
sanção do art. 171, § 2º, III, do Código Penal.

Pagar a dívida e exigir todos os bens empenhados na execução do penhor


sob pena de sujeitar-se à prisão administrativa.

46. ESPÉCIES DE PENHOR

Penhor legal:

1 – CC, arts. 1467, I, 1468, 1469, 1470 e 1471; CPC, arts. 703 a 706; CP,
art. 176.

2 – CC, arts. 1467, II, 964, VI, 1471 e 1472.

3 – Lei n. 6533/78, art. 31.

4 – Decreto-lei n. 4191/42; Decreto-lei n. 413/69, art. 46; Lei n. 6015/73, art.


167, I, n. 4.

Penhor rural:

Penhor agrícola – arts. 1442 e 1443 do CC.

Penhor pecuário – arts. 1444 a 1446 do CC.

- Objeto: móveis ou imóveis por acessão física ou intelectual.

- Dispensa tradição

- Posse direta (devedor) e indireta (credor).

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Registro: Lei n. 6015, art. 167, I, n. 15; Lei n. 492, arts. 2º e 10, parágrafo
único; Decreto-lei n. 2612/40; Lei n. 492, arts. 15, 16, 18, 19, 20 e 22, Decreto-lei
n. 167/67, arts. 30 a 38.

- Prazo = Penhor agrícola e pecuário (CC, art. 1439).

- Excussão judicial – Lei n. 492, arts. 22 e s.

Penhor Industrial:

CC, arts. 1447, 1431, parágrafo único, 1448, 1449 e 1450.

Penhor mercantil:

Decreto n. 1102/1903; CC, arts. 1447 a 1450.

Caracteres: recai sobre coisa móvel; requer tradição; é contrato acessório; é


indivisível; deve constar de instrumento público ou particular; independente de
registro.

Penhor de direitos:

CC, arts. 1451 a 1457; Lei n. 6404/76, art. 9º; Decreto-lei n. 2063/40, art. 13;
Decreto-lei n. 36/66; Decreto-lei n. 3182/41; Patente de invenção; direito autoral,
direito de crédito.

Penhor de títulos de crédito:

CC, arts.1458 a 1460.

Objeto: é o próprio título em que se documenta o direito.

O penhor de títulos de crédito particular requer tradição e registro no cartório


de Títulos e Documentos – CC, art. 1458.

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O penhor de títulos de dívidas públicas requer assento no Registro de Títulos
e Documentos – Lei n. 6015/73, art. 127, III.

Compete ao credor, em penhor de título de crédito:

- Conservar a posse do título (CC, art. 1459, I).

- Recuperar a posse do título contra qualquer detentor e empregar todos os


meios processuais para assegurar seus direitos ( CC, art. 1459, I e II).

- Fazer intimar ao devedor que não pagar ao seu credor, enquanto durar a
caução (CC, arts. 1459, III e 1460).

- Receber a importância dos títulos caucionados e restituí-los ao devedor


quando este solver a obrigação por eles garantida (CC, art. 1459, IV).

- CC, art. 1460 e parágrafo único.

Penhor de veículos:

CC, arts. 1461 a 1466 e Decreto-lei n. 413/69.

47. EXTINÇÃO DO PENHOR

O penhor se extingue a partir de:

- Extinção da dívida (CC, art. 1436, I).

- Perecimento do objeto empenhado (CC, art. 1436, II).

- Renúncia do credor (CC, arts. 1436, III e § 1º, e 386).

- Confusão (CC, art. 1436, IV e § 2º).

- Adjudicação judicial, remição ou venda do penhor feita ou autorizada pelo


credor (CC, art. 1436, V; Lei de Falências, art. 22, III, m; CPC, arts. 835, 854).

- Resolução da propriedade.

- Nulidade da obrigação principal.

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- Prescrição da obrigação principal.

- Escoamento do prazo.

- Reivindicação do bem gravado.

- Remissão da dívida.

2014.1 43ª Questão:

Antônio, muito necessitado de dinheiro, decide empenhar uma vaca leiteira para
iniciar um negócio, acreditando que, com o sucesso do empreendimento, terá o
animal de volta o quanto antes.

Sobre a hipótese de penhor apresentada, assinale a afirmativa correta.

a) Se a vaca leiteira morrer, ainda que por descuido do credor, Antônio


poderá ter a dívida executada judicialmente pelo credor pignoratício.

b) As despesas advindas da alimentação e outras necessidades da vaca


leiteira, devidamente justificadas, consistem em ônus do credor
pignoratício, sendo vedada a retenção do animal para obrigar Antônio a
indenizá-lo.

c) Se Antônio não quitar sua dívida com o credor pignoratício, o penhor


estará automaticamente extinto e, declarada sua extinção, poder-se-á
proceder à adjudicação judicial da vaca leiteira.

d) Caso o credor pignoratício perceba que, devido a uma doença que


subitamente atingiu a vaca leiteira, sua morte está próxima, o CC/02
permite a sua venda antecipada, mediante prévia autorização judicial,
situação que pode ser impedida por Antônio por meio da sua substituição.

R–D

48. ANTICRESE

Conceito: Para Clóvis, é o direito real sobre imóvel alheio, em virtude do qual
o credor obtém a posse da coisa a fim de perceber-lhe os frutos e imputá-los no

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pagamento da dívida, juros e capital, sendo, porém, permitido estipular que os
frutos sejam, na sua totalidade, percebidos à conta de juros.

Caracteres: é o direito real de garantia; requer capacidade das partes; não


confere preferência ao anticresista no pagamento do crédito com a importância
obtida na excussão do bem onerado, pois só lhe é conferido o direito de retenção;
o credor anticrético só poderá aplicar as rendas que auferir com a retenção do bem
de raiz, no pagamento da obrigação garantida; requer para sua constituição:
escritura pública e registro no cartório imobiliário.

Lei n. 6015/73, art. 167, I, n. 11; incide sobre a coisa imóvel alienável; requer
tradição real do imóvel.

Direitos e deveres do credor anticrético

Direitos:

Reter o imóvel (CC, arts. 1423 e 1507, § 2º).

Ter a posse do imóvel, para dele usar e gozar (CC, arts. 1506 e 1507, § 2º).

Vindicar seus direitos contra o adquirente do imóvel e credores quirografários


e hipotecários posteriores ao registro da anticrese (CC, art. 1509).

Administrar o imóvel (CC, art. 1507 e § 1º).

Preferência (CC, art. 1509, §§ 1º e 2º)

Haver do produto da venda do bem gravado em caso de falência do devedor


e remir, em prol da massa, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos (Lei
n. 11.101/2005, arts. 22, III, m, 83, II, § 1º, e 108, § 5º).

Adjudicar os bens penhorados (CPC, arts. 835, 854 e 843).

Defender sua posse.

Liquidar o débito, mediante a percepção da renda do imóvel do devedor.

Deveres:

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Guardar e conservar o imóvel como se fosse seu.

Responder pelas deteriorações que, por culpa sua, o imóvel vier a sofrer,
bem como pelos frutos que deixar de perceber por negligência, desde que
ultrapassem, no valor, o montante do seu crédito (CC, art. 1508).

Prestar contas de sua administração.

Restituir o imóvel, findo o prazo contratado ou quando o débito for liquidado.

Direitos e obrigações do devedor anticrético

Direitos:

Permanecer como proprietário do bem gravado.

Exigir do anticresista a conservação do prédio.

Ressarcir-se das deteriorações causadas ao imóvel, culposamente, pelo


credor, bem como o valor dos frutos que este deixou de perceber por negligência.

Pedir contas da gestão do credor.

Reaver o seu imóvel assim que o débito se liquidar.

Obrigações:

Transferir a posse do imóvel ao anticresista.

Solver o débito, deixando que o imóvel anticrético permaneça com o seu


credor até que se lhe complete o pagamento.

Ceder ao credor o direito de perceber os frutos e rendimentos do imóvel que


lhe pertence.

Respeitar o contrato até o final.

Extinção

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Pelo pagamento da dívida

Pelo término do prazo legal (CC, art. 1423).

Pelo perecimento do bem anticrético (CC, art. 1509, § 2º).

Pela desapropriação (CC, art. 1509, § 2º).

Pela renuncia do anticresista.

Pela excussão de outros credores quando o anticrético não opuser seu


direito de retenção (CC, art. 1509, § 1º, e CPC, arts. 854 e 843).

Pelo resgate feito pelo adquirente do imóvel gravado (CC, art. 1510; CPC,
art. 826).

49. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Conceito: É quando o adquirente de um bem transfere o domínio do mesmo


ao credor que emprestou o dinheiro até pagar-lhe o preço, continuando o devedor
com a posse do bem, confirmando-se a propriedade para o adquirente quando do
pagamento da totalidade do preço.

O inadimplemento: Ocorrendo o não pagamento do financiamento o bem


se integra automaticamente ao patrimônio do credor, podendo este buscá-lo via
judicial.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL

Regulado pela Lei 9514/97

É o negócio jurídico através do qual o adquirente de um bem imóvel transfere


o domínio do mesmo ao credor que emprestou o dinheiro para pagar-lhe o preço ,
continuando, entretanto, o adquirente (alienante) a possuí-lo pelo constituto
possessório, resolvendo-se o domínio do credor, quando for ele pago de seu
crédito.

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A plenitude do domínio pelo credor será alcançada no momento que ocorrer
a inadimplência do financiado (adquirente-alienante).

Ocorrendo a inadimplência, ou seja, deixando o financiado de pagar as


prestações do financiamento a coisa alienada fiduciariamente se integra
automaticamente ao patrimônio do credor, podendo este buscar a posse direta via
judicial (busca e apreensão) a fim de vender-lhe e pagar-lhe o crédito.

-Compra e venda sob condição resolutiva. O negócio se aperfeiçoa desde


logo, gera todos os efeitos e se resolve se ocorrer a condição futura e incerta, o
pagamento do débito.

-É negócio solene, deve ser por contrato escrito, onde deve constar o total
da dívida, o local de pagamento , a taxa de juros, comissões, correção monetária,
cláusula penal e a descrição do bem.

-Não há necessidade do leilão judicial, pode o credor vender a terceiros a


coisa apreendida e pagar-se o seu crédito, entregando ao devedor eventual saldo,
se houver.

-Comprovada a mora no pagamento de uma das prestações, as demais


se vencem por antecipação e o credor pode, desde logo, requerer a busca e
apreensão da coisa, a qual será concedida liminarmente.

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE VEÍCULOS

Previsão contida no dec. Lei 911/69, viabiliza financiamento de veículos com


a reserva da propriedade ao agente fiduciante.

Retomada do bem por busca e apreensão

Necessidade de mora ex persona (notificação pessoal)

Perda da propriedade em caso de busca e apreensão (após consolidação)

Possibilidade de elisão da dívida até 05 dias, mediante adimplemento dívida


pendente.

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2014.3 39ª Questão:

No regime da Alienação Fiduciária que recai sobre bens imóveis, uma vez
consolidada a propriedade em seu nome no Registro de Imóveis, o fiduciário, no
prazo de trinta dias, contados da data do referido registro, deverá

a) adjudicar o bem.

b) vender diretamente o bem para terceiros.

c) promover leilão público para a alienação do imóvel; não havendo arremate


pelo valor de sua avaliação, realizar um segundo leilão em quinze dias.

d) promover leilão público para a alienação do imóvel; não havendo


arremate, o fiduciário adjudicará o bem.

R–C

50. HIPOTECA

Se a coisa dada em garantia é imóvel, cuja posse foi transmitida ao credor


para que este a explore e se pague com a renda produzida pelo prédio, há a
ANTICRESE.

Se a coisa que garante a dívida é imóvel, e este continua na posse do


devedor, embora respondendo precipuamente pelo pagamento do débito, há a
HIPOTECA ou ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BEM IMÓVEL.

HIPOTECA X ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE IMÓVEL

Em ambos o bem fica na posse e propriedade do devedor e/ou garantidor

Na hipoteca se houver inadimplemento o bem é penhorado e levado a


praceamento e na alienação fiduciária o bem é apreendido liminarmente e
vendido sem execução judicial.

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PLURALIDADE DAS HIPOTECAS

A lei permite ao dono do imóvel hipotecado constituir sobre ele, mediante


novo título, uma ou mais hipotecas sucessivas .

O direito do credor primitivo não sofrerá prejuízo, eis que seu crédito possui
preferência para resgate.

A preferência entre os credores hipotecários se dá pela ordem de inscrição.

Mesmo que se vença a Segunda hipoteca não poderá o credor desta


executá-la antes de vencida a anterior. (1477)

51. INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA

É toda atividade exercida com o intuito de promover e realizar a construção,


para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações
compostas de unidades autônomas. (art. 28, da Lei 4591/64)

Só Há necessidade de incorporação se haver venda total ou parcial das


unidades autônomas

O artigo 32 da Lei 4591/64 relaciona todos os documentos a serem


arquivados no RI para fins de incorporaçào.

PATRIMÔNIO DE AFETAÇÃO

A incorporação pode ser submetida ao regime de afetação, quando todo o


patrimônio da incorporação (terreno, acessões e demais bens) ficam separados do
patrimônio do incorporador, constituindo um patrimônio de afetação, o que dá maior
segurança ao adquirente de unidade autônoma em caso de falência do
incorporador.

INCORPORADOR
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É a pessoa física ou jurídica, comerciante ou não, que, embora não efetue a
construção, compromisse ou efetive a venda de frações ideais de terreno
objetivando a vinculação de tais frações a unidades autônomas em edificações a
serem construídas ou em construção.

Mas nem toda pessoa física poderá ser incorporador, porque a atividade de
promoção e venda do empreendimento é exclusiva do corretor de imóveis, ou
responsabilizar-se pela edificação, que é exclusiva de engenheiro civil, habilitado
pelo CREA.

O artigo 31 relaciona quem pode ser incorporador:

a) o proprietário do terreno ou promitente comprador, o cessionário deste ou


promitente cessionário

b) o construtor, como tal engenheiro civil, ou corretor de imóveis.

52. PARCELAMENTO DO SOLO URBANO

Lei 6766/79 – Regula os parcelamentos urbanos

Dec. Lei 58/37, regulamentado pelo decreto 3079/38, Dec-Lei 271/67 e


instruções no. 17-B do INCRA regulam os parcelamentos rurais.

LOTEAMENTO

É a subdivisão de glebas em lotes, destinados à edificação, com abertura


de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento,
modificação ou ampliação das vias existentes, tudo por conta do loteador.

É um processo de urbanização que envolve aspectos urbanísticos,


administrativos, civis e penais.

O plano é previamente aprovado pela PM assumindo o loteador o


compromisso da execução das obras de infra-estrutura, dentro do prazo de dois

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anos (art. 18, item V), garantindo a sua execução por instrumento definido em Lei
Municipal.

Não executando as obras, o loteador sofrerá as conseqüências de ordem


civil e penal previstas em lei.

DESMEMBRAMENTO

É a subdivisão de glebas em lotes destinados à edificação, com


aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura
de novas ruas e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou
ampliação das já existentes.

É um processo sem ato de urbanização e sem qualquer transferência de


área ao domínio público, com aproveitamento do sistema viário local e existência
de todo equipamento urbano, tais como rede de água, luz, esgoto, guias e sarjetas
(art. 5o. Par. único e art. 11 da Lei).

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