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PRIMEIRA PARTE CENTRAL DEUS “Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céue da terra” ‘0 Simbolo comega com a profissio de f em Deus, ao qual se apticam especificamente trés predicados: Pai, todo-poderoso (0 termo grego & pan- tocrétor que, seguindo a terminologia latina omnipotens, costuma set tra- duzido como todo-poderoso) e criador'. Por isso deveremos analisar em primeiro lugar a pergunta: O que significa para o fiel professar a sua fé ‘em Deus? Essa pergunta encerra em si uma outra: O que significa caracte- tizar esse Deus com os atributos de “Pai”, “todo-poderoso”, “criador”? 1. No texto original romano falta a palavra “eriador”, mas a ideia da forga criadora faz parte do termo “onipotente”, todo-poderoso. capitulo um Questées preliminares sobre o tema Deus 1.Adimensio da questio Am™ ‘0 que quer dizer “Deus”? Pode ser que, em outras épocas, essa _pergunta tenha recebido uma resposta clara e inquestiondvel, mas para nds, hoje, ela vem acompanhada realmente de uma série de indagagdes novas. Qual pode ser o significado desta palavra “Deus”? Qual é a realidade que ela exprime, e como o ser humano se da conta dessa realidade da qual estamos falando? Se fosse 0 caso de aprofundar essa questo com a meti- culosidade que costuma caracterizar o nosso tempo, seria necessirio tentar primeiro uma andlise filoséfico-religiosa que deveria investigar as fontes da experiéncia religiosa; em seguida deveria perguntar também por que 0 tema “Deus” deixa a sua marca em toda a histéria da humanidade, sendo capaz, de despertar nela uma profunda paixio até os dias de hoje — isso mesmo, até os nossos dias em que o grito da morte de Deus ressoa por toda parte e em que, apesar disso e assim mesmo, a questo de Deus se levanta com toda a forca em nosso meio. De onde surgiu, na humanidade, essa ideia de “Deus”? Quais sio as suas raizes? Como se explica que o tema aparentemente mais supérfluo € “inttil na terra continue sendo o tema mais angustiante da historia? E qual 6 a razio de esse tema se manifestar de formas tio diversas? Se bem que uma anilise objetiva da aparente confusto pode facilmente reduzir essa diversidade extrema a apenas trés formas basicas, mesmo que estas se apresentem nas mais diversas variantes: trata-se sempre de alguma forma de monoteismo, de politefsmo ou de ateismo, como podem ser classificados 6s trés grandes caminhos que a histéria humana seguiu na questo de Deus. PRIMEIRA PARTE CENTRAL: DEUS Jé vimos antes que o proprio ateismo encerra o tema Deus s6 na aparéncia, porque de fato é também ele uma forma de o ser humano encarar a questo de Deus, uma forma, alifs, que pode vir a manifestar-se — e muitas vezes se manifesta realmente — acompanhada de especial paixio. Para esclarecer as questées preliminares fundamentais seria necessdrio descrever as duas raizes da experiéncia religiosa, as quais pode ser reduzida, ao que tudo indica, a multiplicidade de formas dessa experiéncia. A estranha tensdo que existe entre elas foi descrita pelo conhecido fenomenslogo da religiio, 0 holandés van der Leeuw, com a afirmacdo paradoxal: na historia das reli gides, o Deus-Filho veio antes do Deus-Pai!. Seria mais correto dizer que © Deus portador da salvacdo, 0 salvador, veio antes do Deus criador; ¢ ‘mesmo depois desse esclarecimento convém lembrar que essa formula no deve ser entendida em sentido cronolégico, porque no existem provas para ‘um antes ¢ um depois. Até onde podemos acompanhar a histéria das reli- ides, o tema Deus se apresenta sempre sob as duas formas, de modo que ‘oadvérbio “antes” s6 pode ter o sentido de que, para areligiosidade concreta € para o interesse existencial, o “portador da salvago” vem “antes” do criador em termos de importincia, nfo de tempo. PPor trés dessas duas formas em que a humanidade enxergou o seu Deus estio os dois pontos de partida da experiéncia religiosa de que acabamos de falar. Um deles & a experiéncia da prépria existéncia que ultrapassa Constantemente a si mesma, apontando de alguma forma, mesmo disfargada, para alguma coisa totalmente diferente. Trata-se outra vez de um processo complexo, assim como é complexa também a prépria existéncia humana. Conhecemos aquela observagao de Bonhoeffer em que ele diz. que est na hora de parar de ver em Deus aquele tapa-buraco colocado nos limites de nossas possibilidades que 86 é chamado quando nés mesmos estamos numa situago sem saida. Deveriamos encontrar Deus néo no lugar das nossas dificuldades ¢ do nosso fracasso, mas no meio da plenitude das coisas ter- renas ¢ da vida; $6 assim mostrariamos que Deus nao é uma escapatéria nascida das nossas necessidades, que se torna supérflua a medida que se ampliam os limites da nossa capacidade®. Na histéria da luta humana em toro de Deus encontramos ambos os caminhos, e ambos me parecem 1.G, van der Leeuw, Phénomenologie der Religion, 2 ed,, Tabingen, 1956, p. 103. 2. CE aesse respeito R. Marl, Die fordernde Botschaft Bonhoeffer, in Orientierung 31,(1967), p. 42-46, especialmente a passagem clissica de Widerstand und Ergebung (ed. ‘Bethge), 12" ed., Munique, 1964, p, 182: “Gostaria de falar de Deus nfo nos limites e sim ‘no meio, nfo nas fraquezas ¢ sim na forga, portanto, nio na morte e na culpa e sim na vide ‘eno bem do ser humano”. (QUESTORS PRELIMINARES SOBRE O TEMA DEUS igualmente legitimos. Tanto as misérias da vida humana como a sua plenitude remetem a Deus. Sempre que os homens experimentaram a existéncia em sua plenitude, riqueza, beleza e grandeza, eles se deram conta de que essa existéncia era uma existéncia pela qual deviam ser agradecidos, pois justa- ‘mente em sua claridade e grandeza nao & uma existéncia que o ser humano 4 a si mesmo e sim uma dédiva que se adianta a mim, recebendo-me com a sua bondade antes de qualquer iniciativa de minha parte e exigindo que eu dé sentido a tamanha riqueza, para eu mesmo ganhar sentido. Por outro lado, também a caréncia e a pobreza sempre lembraram o ser humano de que havia um outro totalmente diferente. A pergunta que o ser humano faz e que € ele proprio, o seu inacabamento, a limitagdo que sente, apesar de ansiar pelo ilimitado (e que encontra a sua expresso por exemplo na palavra de Nietzsche quando afirma que todo prazer anseia por eternidade, mas se experimenta como efémero), essa sensa¢io simultinea de confinamento ¢ do desejo que procura o ilimitado e a abertura, impediu o ser humano de satisfazer-se consigo mesmo, dando-Ihe a sensagao de que nao se basta a si proprio, de que sé consegue encontrar-se pasando além de si mesmo, movendo-se ao encontro do totalmente outro e infinitamente maior. A mesma conclusao podemos chegar falando do tema da solidao e do aconchego. A solidao é certamente uma das raizes essenciais das quais brotou o encontro do ser humano com Deus. Quando 0 ser humano expe- rimenta a solidi, percebe a0 mesmo tempo o quanto toda a sua existéncia, éum grito pelo tu, e qudo pouco ele ¢ feito para ser apenas um eu encerrado em si mesmo. A solidio pode manifestar-se ao ser humano em diversos graus de profundeza, Num primeiro momento, a solidio pode ser vencida pelo encontro com um tu humano. Mas, depois, comeca um processo para- doxal que mostra, segundo as palavras de Claudel, que todo tu encontrado pelo ser humano se revela, no final das contas, como uma promessa irrea- lizada e irrealizével’; porque todo tu é, no fundo, uma nova desilusio; chega-se, entio, ao ponto em que encontro nenhum ¢ capaz de vencer a soliddo derradeira: justamente 0 encontrar e 0 ter encontrado voltam a re- meter o ser humano A sua solidio, suscitando, finalmente, aquele anseio pelo tu absoluto que mergulha realmente nas profundezas do proprio eu. E, novamente se aplica o principio de que nao so s6 a caréncia da solidio a experiéncia de que comunidade é incapaz de satisfazer todo o nosso anscio que levam a experiéncia de Deus, pois esta pode nascer igualmente da ale- 3. , Claudel, Der seidene Schuh, Salzburgo, 1953, p. 288 ss. (0 grande diélogo final entre Proeza e Rodrigo); ver também p. 181 e toda a cena anterior com a sombra dupla.

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