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TEORIA DA MEDIUNIDADE
Primeiras palavras
Capítulo I — Introdução
Capítulo II — O mediunismo na história
Capítulo III — Mediunidade — Conceito — Tipos
As aptidões mediúnicas
A Classificação de Kardec
Sensitividade e Mediunidade
Mediunidade, hoje
Capítulo IV — Transe — Transe mediúnico
Capítulo V — Intuição
Intuição e telepatia
Capítulo VI — Vidência
Vidência Ativa
Vidência Passiva
Vidência Externa (ou Objetiva)
Vidência interna (ou Subjetiva)
Vidência Ordinária
Vidência Autoscópica
Vidência Aloscópica ou Heteroscópica
Vidência Psicoscópica
Vidência Psicométrica
Vidência Psicométrica Retrocognitiva
Vidência Psicométrica Investigativa
Vidência Psicométrica Precognitiva
Retrovidência
Televidência
Transvidência
Clarividência
Clarividência Ordinária
Clarividência Superior (ou Supervidência)
Observações
Capítulo VII — Audiência
Audiência Ordinária
Audiência Xenoglóssica
Audiência Psicométrica
Teleaudiência
Clariaudiência
Capítulo VIII — Psicofonia
Mediunização Psicofônica
Capítulo IX — Psicografia
O Processo Psicográfíco
Capítulo XI — Psicomúsica
Capítulo XII — Desdobramento
Capítulo XIII — Aspectos Neurofisiológicos do Processo Mediúnico
Capítulo XIV — Ectoplasmia
Capítulo XV — Tiptologia
Capítulo XVI — Sematologia
Capítulo XVII — Cinetologia
Capítulo XVIII — Escrita indireta
Capítulo XIX — Pneumatografia
Pneumatografia Espontânea
Pneumatografia Provocada
Pneumatografia Ordinária
Pneumatografia Xenoglóssica ou Pneumaxenografia
O Processo Pneumatográfico
Capítulo XX — Pneumapictura
Capítulo XXI — Pneumatofonia
Capítulo XXII — Transcomunicação instrumental
Capítulo XXIII — Fotografia transcendente
Capítulo XXIV — Escrita fotográfica
Capítulo XXV — Dermografia — Dermopictura
Capítulo XXVI — Transfiguração
Capítulo XXVII — Terapia Ectoplásmica
Psicocirurgia
Cirurgia Espiritual Direta
Passe
Fluidifícação de Água e de Objetos
Auxílio Vibratório em Grupo
Capítulo XXVIII — Materialização
Capítulo XXIX — Moldagens
Capítulo XXX — Deformação de objetos
Capítulo XXXI — Desmaterialização — Rematerialização
Capítulo XXXII — Transporte
Capítulo XXXIII — Endoporte — Exoporte
Capítulo XXXIV — Levitação
Capítulo XXXV — Deslocamento de móveis e outros objetos
Capítulo XXXVI — Efeitos luminosos
Capítulo XXXVII — Efeitos odorantes
Capítulo XXXVIII — Efeitos sonoros
Capítulo XXXIX — Efeitos magnéticos
Capítulo XL — Fenômenos térmicos
Capítulo XLI — Efeitos químicos
Capítulo XLIII — Incombustibilidade
Capítulo XLIV — Pirogenia
Capítulo XLV — Fenômenos eletroeletrônicos
Capítulo XLVI — Efeitos atmosféricos
Capítulo XLVII — Eventos aleatórios
Capítulo XLVIII — Radiestesia
Capítulo XLIX — Poltergeist
Segunda Parte
(2)
V. MEIRA, Rubens Policastro. O Passe, Terapêutica Espírita. São José do Rio Preto (SP): NOVA
EDITORA, 1996, pp. 23 e 24.
Os Vedas, surgidos milhares de anos antes da era cristã, já registravam a existência dos
Espíritos, que acompanhavam os brâmanes “sob uma forma aérea”.
No antigo Baghavad Chita (A Sublime Canção da Imortalidade) conforme DELANNE,
muito antes de deixarem o envoltório carnal, “as almas que só praticavam o bem, como as
que habitam o corpo dos sannyassis e dos vana-prastha (anacoretas e cenobitas) adquirem a
faculdade de conversar com as almas que as precederam no Swargá. (3)
(3) V. DELANNE, Gabriel. O Fenômeno Espírita (Orig. Le Phénomène Spiríte). 6. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1992, pp.18 e segs.Trad. Francisco Raymundo Ewerton de Quadros.
(4)
Os termos adivinho ou adivinhador e necromante, presentes em certos textos bíblicos, designavam as
pessoas que serviam à comunicação dos Espíritos. Em edições atuais, todavia, da Sociedade Bíblica do
Brasil, com a tradução de João Ferreira de Almeida, já aparece o vocábulo médium.
(5)
Ressalte-se que, em verdade, nas palavras de KARDEC, “O Espiritismo condena tudo o que motivou a
interdição de Moisés”.
A respeito, observa o Codificador: “Os israelitas não deviam contratar alianças com as nações
estrangeiras, e sabido era que naquelas nações que iam combater encontrariam as mesmas práticas. Moisés
devia pois, por política, inspirar aos hebreus aversão a todos os costumes que pudessem ter semelhanças e
pontos de contato com o inimigo. Para justificar essa aversão, preciso era que apresentasse tais práticas
como reprovadas pelo próprio Deus (...)”
Mais adiante, sublinha: “A proibição de Moisés era assaz justa, porque a evocação dos mortos não se
originava nos sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um recurso para
adivinhações, tal como nos augúrios e presságios explorados pelo charlatanismo e pela superstição. Essas
práticas, ao que parece, também eram objeto de negócio, e Moisés, por mais que fizesse, não conseguia
desentranhá-la dos costumes populares”. (KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 39. ed. Rio de janeiro:
FEB, 1994, p. 157, Cap. XI. Trad. de Manuel Justiniano Quintão.
“Aquele que na China deseja consultar um sin, prepara duas mesinhas e as cobre com um
pó branco; depois, busca uma varinha da qual se faz um pincel', e traz para que o maneje,
um rapaz que não saiba ler, nem escrever. Se o Espírito quer manifestar-se, o pincel começa
a mover-se e dá as respostas, em prosa ou verso, segundo as circunstâncias.”
Entre os japoneses, capítulo importante do xintoísmo era o culto aos mortos. Jovens médiuns
de 15 a 20 anos serviam à evocação dos Espíritos, que, por intermédio deles, respondiam às
indagações dos interlocutores.
Os celtas, como é sabido, tinham no mediunismo uma de suas mais importantes referências
culturais. Notória era a relação que os sacerdotes, os druidas, mantinham com os Espíritos.
Em seus rituais, os videntes profetizavam e os desencarnados eram evocados em seus
recintos de pedra, formados por dólmens ou por cromleches. (7)
(7) Dólmen: Monumento constituído por uma ou mais lajes de cobertura, sustentada por pilares formando as paredes
de uma câmara mortuária.
Cromlech: Monumento formado por um grupo de blocos de pedra, levantados verticalmente e dispostos em círculos.
Na Grécia e em Roma, também, os eventos mediúnicos faziam parte do cotidiano, compondo
a cultura daqueles povos.
HOMERO, na Ilíada e na Odisseia, refere-se claramente às comunicações dos desencarnados
com os encarnados.
O filósofo APOLÔNIO DE TIANA, pitagórico, que viveu no século I da Era Cristã, tornou-
se notável, também, por seus recursos mediúnicos.
Relata LOMBROSO, citando Dl VESME (“Storia dello Spiritismó”):
“Acusado de conspirar contra Domiciano, a favor de Nerva, e levado ante o tribunal
daquele, depois de haver brevemente respondido ao interrogatório, no qual se pretendia
fazê-lo parecer réu de magia e conspiração, desapareceu de improviso da presença do
Imperador e de toda a Corte. A desaparição de Apolônio se deu pouco antes do meio-dia;
antes do pôr-do-sol, encontrava-se em Pozzuoli, com seus dois discípulos Demétrio e
Damide, que para ali havia antes enviado.
Certo dia, enquanto ensinava Filosofia, sob os pórticos de Éfeso, ele baixou o tom da voz,
como que tomado de espanto, e gritou:
— Ferido, ferido o tirano!
Alguns dias depois, chegou a Éfeso a notícia do assassínio de Domiciano, e o dia e a hora
da morte estavam perfeitamente concordes com as indicadas por Apolônio.” (8)
(8)
LOMBROSO, Cesar. Hipnotismo e Mediunidade. (Orig. Ricerche sui Fenomeni Ipinotici e Spiritici).
4.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990 pp. P6, 389 e 390. Trad. Almerindo Martin de Castro.
E SÓCRATES, como se sabe, ouvia seu daimon, Espírito tutelar ou gênio. Os filósofos
pitagóricos — e, depois, os platônicos — sabiam da sobrevivência do espírito e da
possibilidade de sua comunicação, sendo certo que, entre o vulgo, a prática mediúnica era
muito conhecida.
SUETÔNIO (Vida dos Doze Césares) registra que no lugar onde foi enterrado o corpo de
Caio Calígula, registravam-se diversos fenômenos, desde ruídos até as mais horrendas
aparições.
No mediunismo oracular, o mais famoso foi o oráculo de Delfos, uma pequena cidade da
Grécia, situada no golfo de Corinto, nas encostas do monte Parnaso, e dedicado a Apoio,
Deus solar, inspirador da poesia, da medicina, das leis, da paz entre os povos e da harmonia
da alma e do corpo. Videntes e clarividentes conhecidas como pytias (daí, a palavra
pitonisa), transmitindo - às vezes, em idiomas que desconheciam - orientações aos
consulentes que vinham de todos os lugares (devidamente anotadas pelos sacerdotes),
fizeram com que Delfos se tornasse a cidade sagrada da Grécia, embora, segundo Heródoto,
a existência de outros oráculos afamados como o de Dodona, no Templo de Zeus, o de Delo,
o de Júpiter Amon, na Líbia, o de Marte, na Trácia, o de Vulcano, em Heliópolis, o de
Esculápio, de Ísis, de Abe, de Tegiro, em Claros, onde hoje é Turquia, e outros.(9)
(9)
V. SHURÊ, Edouard. Les Grands Initiés. Paris: PERRIN, pp. 281 e segs.
MARTINS, Celso. Nas fronteiras da Ciência. São Paulo: DPL, 2001, pp. 85 a 89.
SCHUTEL, Cairbar. Médiuns e Mediunidades. 8. ed. Matão (SP): O Clarim, 1984, pp. 82 e 83.
LOUREIRO, Carlos Bernardo. Das Profecias à Premonição. Rio de Janeiro: FEB, 1999, pp. 26 a 34.
Roma conheceu, também, seus oráculos, os aruspices ou auspices (daí, áuspice, adivinho),
que, pelo exame de vísceras animais ou pela observação dos fenômenos naturais (eclipses,
raios, etc.), interpretavam as respostas dos deuses.
Tertuliano, em sua Apologética, refere-se às “mesas que profetizam”, como fato vulgar.
Anota DELANNE a seguinte passagem:
“Se é dado aos magos fazer aparecer fantasmas, evocar as almas dos mortos, poder forçar a
boca das crianças a proferir oráculos; se eles realizam grande número de milagres, se
explicam sonhos, se têm às suas ordens Espíritos mensageiros e demônios, em virtude dos
quais, as mesas que profetizam são um fato vulgar, com que redobrado zelo esses Espíritos
poderosos não se esforçarão por fazer em próprio proveito o que eles fazem em serviço de
outrem? (Apologética, 23).”
*
O Cristianismo nascente e dos primeiros tempos encontrava sustentação nas orientações dos
Espíritos Superiores, que, pela via mediúnica, estimulavam os primitivos cristãos,
propiciando curas e suavizando o sofrimento da multidão de necessitados. E a história das
perseguições e do martírio dos seguidores de JESUS, nas arenas e fora delas, constitui um
extraordinário repertório de aparições, visões, manifestações de vozes e outros fenômenos
que ocorriam continuamente, com vistas à consolação e ao fortalecimento espiritual dos
milhares de mártires, em seus graves e decisivos testemunhos perante a Humanidade de
todos os tempos.
Reconhecendo essa realidade e os eventos que se sucederam, grandes pensadores da aurora
do Cristianismo ensinavam que os Espíritos se comunicam com os encarnados.
Com a consolidação do Catolicismo, surge uma galeria de santos que não cessou de crescer
através dos séculos, celebrizados pelas visões espirituais, pela capacidade de ouvir vozes, de
levitar e de transportar-se de um lugar a outro, pelos estigmas que apresentavam, pela
capacidade de não serem afetados pelo fogo, e outros fenômenos, meras manifestações de
suas faculdades mediúnicas e que, mesmo depois de um século e meio de Espiritismo, ainda
são classificadas de “milagres”.
Tais foram, entre inúmeros outros, Margarida de Hungria que levitava, elevando-se do solo
depois de cada comunhão; Francisco XAVIER, que levitava enquanto dizia missa; Francisco
de Paula, que atravessou o Estreito de Merrina, no extremo sul da Itália, levitando sobre as
águas; Inácio de Loiola, Catarina de Siena, Teresa de Castela, Camillo de Lellis, Catarina de
Seins, Francisco de Assis, Pedro de Alcântara, Luís Gonzaga, Teresa de Jesus, que
levitavam, também, durante suas preces e meditações.(10)
(10)
V. TAVARES, Clóvis. Mediunidade dos Santos. Araras (SP): IDE 1991, pp. 25 e segs. LOUREIRO,
Carlos Bernardo. As mulheres médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1966, pp. 164 e segs. VIOLA, Roberto.
“Francisco de Paula, uma virtude cristã que o tempo não ousa apagar”. Revista do Espiritismo. Petrópolis
(RJ), Ano I nº 1.
Fenômenos importantes aconteciam com José de Cupertino, que viveu no século XVII.
Considerado pelos capuchinhos como incapaz, até mesmo para os serviços de cozinha, tinha,
entretanto, nítida intuição do pensamento dos que dele se aproximavam. Em diversas
oportunidades protagonizou o fenômeno da ubiquidade (bi- corporeidade); profetizava e
levitava, seguidamente, assombrando os circunstantes. (Urbano VIII quase perdeu os
sentidos ao ver José entrar em transe e levitar, quando levado a beijar-lhe as sandálias).
Fenômenos de incombustibilidade foram protagonizados por Catarina (Santa Catarina), que
“por irresistível força”, era atirada às chamas; Simeão de Assis, que não sentia os efeitos das
brasas; Bernadete de Soubirous, descobridora da água de Lourdes, que mantinha, durante
quinze minutos, uma tocha com a chama a atingir-lhe os cabelos, sem que sentisse seu efeito,
e assim por diante.
Fenômenos de desprendimento e bicorporeidade foram, também, vividos por vários outros
membros da Igreja.
Afonso Maria de Liguori, por haver se mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes,
foi canonizado antes do tempo previsto, uma vez que o fato foi considerado milagre.
Maria de Jesus D’Agreda, monja superiora de mosteiro em Agreda, Espanha, desdobrava-se
e aparecia em terras longínquas, pregando aos índios.
Antônio de Pádua, pregando na Itália, aparece em Lisboa, para defender seu pai, acusado de
homicídio, demonstrando sua inocência e livrando-o do suplício.
Na Suécia, Brígida de Vadstena, (1302-1373) notabilizou-se por suas extraordinárias
vidências em estado de desprendimento. Comunicava-se com o povo, com os reis e
príncipes, com as altas autoridades eclesiásticas e com o próprio Papa Clemente VI (1291-
1352), transmitindo-lhes suas mensagens proféticas. São muitos os relatos a respeito da
mediunidade da santa escandinava e grande era a confiança que atraía. Escreveu em sueco
uma obra (O Livro das Revelações), em que narra muitas de suas vivências mediúnicas.(11)
(11) Entre outros episódios narra G. JOERGENSEN, seu biógrafo, que certa vez, o Arcebispo de Nápoles,
Bernardo Montano, solicitara à Brígida que lhe informasse “como estavam alguns de seus parentes
falecidos: se suas almas no purgatório ou não...”
Evidentemente, esses fenômenos todos ocorriam, também, fora de Igreja, em toda a Europa,
como foi, por exemplo, entre muitos outros, o caso de Maria Sonet, em Paris, que oferecia
tantas provas de incombustibilidade que recebeu o pseudônimo de Salamandra. De se notar,
a propósito, que certas épocas chegaram, até, a ser marcadas por uma multiplicidade de
ocorrências mediúnicas, como foi o caso, por exemplo, dos convulsionários, uma verdadeira
epidemia de fenômenos de incorporação e obsessão, nos séculos XVI, XVII e XVIII,
envolvendo especialmente as monjas. (LOMBROSO, op. cit., pp. 207 e seguintes).
O mediunismo fez-se, sempre, ostensivamente presente dentro da Igreja, mas isso não
impediu a instauração, em 1233, da chamada Inquisição Delegada, que marcou uma época de
terríveis perseguições e martírios, sob o comando do Tribunal do Santo Ofício, quando
milhares de médiuns, sob a acusação de “bruxaria”, como ocorreu com a notável Joanna
D’Arc, e respeitáveis pensadores como Giordano BRUNO, Jan HUSS e tantos outros, que se
opuseram à ação da Igreja, foram impiedosamente levados à fogueira.
Apesar de todas as perseguições, o mediunismo nunca deixou de estar ativamente presente,
tanto na Idade Média, como depois, com o Renascimento, desabrocha- do no século XV, na
Itália.
*
Na Idade Moderna, como visto, as ocorrências mediúnicas, não obstante as ameaças,
multiplicavam-se no meio católico e fora dele, todavia, à medida que esmaecia o domínio da
Igreja, o liberalismo se afirmava sob a inspiração do Iluminismo, assinalando a transição
para a Idade Contemporânea. Atenuavam-se as perseguições e afirmavam-se os trabalhos de
investigadores notáveis do magnetismo e do psiquismo, como Franz Anton MESMER,
Marquês de PUYSÉGUR, James BRAID, Ambroise-August LIÉBEAULT e outros, que,
com os inúmeros pesquisadores do fenômeno mediúnico, propriamente, serviram à
preparação do advento da Era do Espírito.
Médiuns extraordinários marcaram presença na Europa e nos Estados Unidos, nesses
tempos.
Muitos são os nomes importantes a comporem a história do Espiritismo. Médiuns notáveis
foram, entre outros, o sueco Emmanuel SWEDENBORG (1688-1772), célebre pelos seus
desdobramentos e vidência; Frederica HAUFFE (1801-1829), cujos trabalhos foram
investigados pelo médico alemão Dr. Justinus KERNER, a partir de 1829, e tornados
públicos com sua obra A Vidente de Prévost, de grande repercussão em seu tempo; Emma
Hardinge BRITTEN (1823-1899), nascida em Londres, médium psicógrafa, psicômetra,
vidente e de efeitos físicos, autora de várias obras importantes, entre elas, Modern American
Spiritualism; Andrew Jackson DAVIS (1826-1910), médium americano considerado um dos
precursores do Espiritismo e autor de Os Princípios da Natureza, suas Divinas Revelações e
Uma voz para Humanidade, resultado de suas percepções, em transe, com quase 800
páginas; os irmãos Ira Erastus DAVENPORT (1839-1911) e William Henry DAVENPORT
(1841-1877), de Buffalo, médiuns de efeitos físicos, conhecidos tanto nos Estados Unidos,
como na Europa; as irmãs Catherine (Kate) FOX (1841- 1892) e Margaret (Magie) FOX
(1838-1893), conhecidas como as Irmãs Fox e protagonizadoras dos célebres episódios de
efeitos físicos ocorridos em Hydesville (1848), que, pela atenção despertada na comunidade
científica dos Estados Unidos e pela repercussão nos meios culturais europeus, contribuíram
para o aumento significativo do interesse geral em relação ao fenômeno mediúnico,
ensejando estudos e observações que, mais tarde, propiciaram o surgimento do Espiritismo,
na França, graças ao trabalho de Allan KARDEC (O Livro dos Espíritos, 1857); (12) Jonathan
KOONS, um dos primeiros, entre os médiuns americanos, a chamar a atenção pública pelo
tipo de fenômenos que propiciava, inclusive, de escrita direta (pneumatografia) e voz direta
(pneumatofonia);
(12)
V. PALHANO JR., L. Rosma, o Fantasma de Hydesville. Vitória (ES): FESPE, 1992, pp. 201 e segs.
WANTUIL, Zêus. /4s Mesas Girantes e o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1994, pp. 6 e segs.
KERNER, Justinus. A Vidente de Prevost (Orig. Die Seherin von Prevost). 2. ed. Matão (SP): O
CLARIM, 1979, pp. 43 e segs. Trad. Carlos Imbassahy. BOZZANO, Ernesto. O Espiritismo e as
manifestações Supra Normais — Remontando às origens — Breve História dos Raps (Orig. En remontant
aux Origines - Breve Storia dei pichi medianice - Raps) Matão (SP): O CLARIM, 1986, pp. 15 e segs.
Não menos notáveis foram, ainda, os médiuns Leonore E. PIPER, nascida em Boston, EUA,
investigada por importantes pesquisadores norte-americanos como Oliver LODGE, William
JAMES, Richard HODGSON, e outros, convencendo-os da realidade interexistencial; Edgar
CAYCE (7-1945), médium norte-americano conhecido por sua extraordinária vidência, seus
diagnósticos e tratamentos transmitidos em transe profundo; Eva Carrière (Marthe Béraud),
submetida a importantes pesquisadores europeus, entre eles, SCHRENCK-NOTZING,
Gustave GELEY e Charles RICHET; (14)
(14)
Foi numa série de sessões de materializações realizadas com a médium, em Argel, em 1903, que
RICHET, examinando a substância branca que ela produzia durante os trabalhos, criou o termo ectoplasma
para denominá-la.
Angélica Cottin, a chamada “menina elétrica”, como se tornou conhecida na Europa, cuja
extraordinária mediunidade, testemunhada por notabilidades médicas, atraiu o interesse da
Academia das Ciências de Paris, que chegou a nomear uma comissão para o exame dos
fenômenos que ocorriam sob sua influência, inclusive, levitação; Eileen Garret, nascida na
Irlanda, em 1893, que se tornou conhecida por seus famosos desdobramentos, dedicando-se,
por cinquenta anos ininterruptos, honesta e gratuitamente, ao serviço mediúnico, prestando-
se, também, a diversas experiências, inclusive, na John Hopkins University e no New York
Psychiatric Institute; Agnes Nichol GUPPY, famosa médium inglesa, desencarnada em
1917, considerada a primeira a produzir materializações de corpo inteiro (antes, pois, de
Florence COOK), tendo sido descoberta pelo célebre cientista Alfred Russell WALLACE,
coautor da Teoria da Evolução, que se convenceu da imortalidade da alma graças à sua
mediunidade; William Stainton MOSES, inglês, extraordinário médium psicógrafo e de
efeitos físicos que contribuiu para a formação da famosa Society for Psychical Research de
Londres, tendo sido, também, o primeiro presidente da London Spiritualist Alliance; os
irmãos Horatio EDDY e William EDDY, de Vermont (EUA), médiuns famosos que
propiciaram, particularmente nos anos 1874e 1875, materializações notáveis, talvez jamais
superadas, investigadas por diversos pesquisadores, entre eles, o reputado Coronel Henry
OLEOTT; Franek KLUSKI, médium polonês, com o qual Gustave GELEY conseguiu, entre
outros efeitos, perfeitas moldagens em gesso de mãos humanas “tão pequenas no pulso” —
lembra Conan DOYLE — “que a mão não poderia passar pela abertura sem romper o
molde”; (15)
(15)
V. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. (Orig. The History of Spiritism). São Paulo:
PENSAMENTO, 1995, pp. 350 em diante.
AS APTIDÕES MEDIÚNICAS
A Classificação de KARDEC
Em O Livro dos Médiuns, KARDEC divide os médiuns em duas classes: médiuns de efeitos
físicos e médiuns de efeitos intelectuais, t a mais antiga e conhecida classificação que se
conhece, merecendo destaque o fato de ter sido construída apenas alguns anos após o seu
primeiro contato com o fenômeno mediúnico!
O quadro a seguir possibilita uma visão mais abrangente dos vários tipos de médiuns
elencados pelo venerando sistematizador da Doutrina Espírita. (1)
(1) “O termo médium já aparecia na obra de MAXWELL, ‘De medicina magnética libri’, em 1678, que
se referia, no Cap. XIII, aos médiuns com os quais se efetuem curas sem recorrer ao magnetismo.”
(ROCHA, Alberto de Souza. Espiritismo e Psiquismo. São Bernardo do Campo (SP): CORREIO
FRATERNO, 1993, p. 27.
A importância dessa notável contribuição de KARDEC é dada pelo fato de que, transcorridos
os tempos, o seu trabalho permanece como referência das mais valiosas e respeitáveis, ainda
que a prática mediúnica tenha ensejado o surgimento de alguns novos conceitos e
designações.
SENSITIVIDADE E MEDIUNIDADE
MEDIUNIDADE, HOJE
Com o desenvolvimento dos estudos relacionados com a teoria e a prática mediúnicas,
diversos esquemas classificatórios têm sido construídos, sob a influência, sempre, do
trabalho genial e pioneiro de KARDEC.
Destaca-se, aqui, uma proposta atual e abrangente, que classifica os tipos básicos de aptidão
em: Intuição, Vidência, Audiência, Psicofonia, Psicografia, Psicopictura, Psicomúsica,
Desdobramento e Ectoplasmia.
*
Diversas são as espécies de Intuição. Ordinária ou Inspirativa, Precognitiva (Ordinária,
Profética), Superior ou Superintuição.
A Vidência (ou Visão Espiritual), que pode ser Ativa ou Passiva, Externa ou Interna,
apresenta-se sob diversas formas: Ordinária, Autoscópica, Aloscópica, Psicoscópica,
Psicométrica (Retrocognitiva, Investigativa, Precognitiva), Retrovidência, Televidência,
Transvidência, Clarividência (Ordinária, Superior).
A Audiência (ou Audição Espiritual), que pode ser Externa ou Interna, ocorre de forma
Isolada ou Concomitante à Vidência, casos em que pode manifestar-se como Audiência
Ordinária, Xenoglóssica, Psicométrica, Teleaudiência, Transaudiência ou Clariaudiência.
A Psicofonia que pode manifestar-se estando o médium em estado Consciente,
Semiconsciente ou Inconsciente, comparece como Normal ou Xenoglóssica
(Xenopsicofonia).
A Psicografia, que pode ser Semimecânica ou Mecânica, manifesta-se sob duas formas,
Ordinária ou Xenoglóssica (Xenopsicográfica), as quais podem produzir-se em escrita
Normal ou Especular.
A Psicopictura, também, pode ser Semimecânica ou Mecânica.
O Desdobramento pode mostrar-se Espontâneo ou Induzido. O Induzido é Autoinduzido ou
Heteroinduzido. Tanto o Espontâneo, como o Induzido, podem ocorrer estando o sujeito
Consciente, Semiconsciente ou Inconsciente, mostrando-se Visível ou permanecer Não
Visível. O desdobramento Visível pode surgir Tangível ou Não Tangível.
Os Efeitos Ectoplásmicos, a identificarem um tipo peculiar de manifestação, compõem um
importante elenco: Tiptologia, Sematologia, Cinetologia, Escrita Indireta, Pneumatografia
(Espontânea, Provocada, Ordinária, Xenoglóssica ou Pneumaxenografia), Pneumapictura,
Pneumatofonia (Espontânea, Programada, Ordinária, Xenoglóssica - ou Pneumaxenofonia),
Transcomunicação Instrumental (Sonora, Visual, Mista), Fotografia Transcendente (Normal,
Escotografia), Escrita Fotográfica, Dermografia, Dermopictura, Transfiguração, Terapia
Ectoplásmica (Psicocirurgia, Cirurgia Espiritual Direta, Passe, Fluidificação de Água e
Objetos, Auxílio Vibratório em Grupo), Materialização (Animada: Autônoma, Conjugada,
Singular, Múltipla e Simultânea, Completa, Parcial, Tangível, Não Tangível, Luminosa, Não
Luminosa); Inanimada (Completa, Incompleta, Tangível, Não Tangível), Moldagens,
Deformações de Objetos, Desmaterialização (Total, Parcial), Rematerialização, Transporte
(Aporte, Deporte), Endoporte, Exoporte, Levitação (de Pessoas e de Objetos), Deslocamento
de Objetos, Efeitos Luminosos, Efeitos Odorantes, Efeitos Sonoros, Efeitos Térmicos,
Efeitos Químicos, Efeitos Fitológicos, Incombustibilidade, Pirogenia, Fenômenos
Eletroeletrônicos, Efeitos Atmosféricos, Eventos Aleatórios, Radiestesia, Poltergeist.
1. INTUIÇÃO:
Ordinária
Inspirativa
Precognitiva
Ordinária ou Profética
Superior (superintuição)
4. PSICOFONIA
CONSCIENTE
SEMICONSCIENTE
INCONSCIENTE
Normal
Xenoglóssica (Xenopsicofonia)
5. PSICOFRAFIA
SEMIMECÂNICA
MECÂNICA
Ordinária
Xenoglóssica (Xenopsicográfica)
o Normal
o Especular
6. PSICOPICTURA
SEMIMECÂNICA
MECÂNICA
7. PSICOMÚSICA
8. DESDOBRAMENTO
ESPONTÂNEO
INDUZIDO
AUTOINDUZIDO
HETEROINDUZIDO
o CONSCIENTE
o SEMICONSCIENTE
o INCONSCIENTE
VISÍVEL
TANGÍVEL
NÃO TANGÍVEL
NÃO VISÍVEL
TRANSCOMUNICAÇÃO INSTRUMENTAL
Sonora
Visual
Mista
FOTOGRAFIA TRANSCENDENTE
Normal
Escotografia
ESCRITA FOTOGRÁFICA
DERMOGRAFIA
DERMOPICTURA
TRANSFIGURAÇÃO
TERAPIA ECTOPLÁSMICA
PSICOCIRURGIA
o SEMIMECÂNICA
o MECÂNICA
Consciente
Semiconsciente
Inconsciente
CIRURGIA ESPIRITUAL DIRETA
PASSE
o MEDIÚNICO
o ESPIRITUAL
FLUIDIFICAÇÃO DE ÁGUA E DE OBJETOS
AUXÍLIO VIBRATÓRIO EM GRUPO
MOLDAGENS
DEFORMAÇÃO DE OBJETOS
DESMATERIALIZAÇÃO
TOTAL
PARCIAL
REMATERIALIZAÇÃO
TRANSPORTE
APORTE
DEPORTE
ENDOPORTE
EXOPORTE
LEVITAÇÃO
DE OBJETOS
DE PESSOAS
o INDIVIDUAL
o MÚLTIPLAS E SIMULTÂNEA
DE OBJETOS PESSOAIS
DESLOCAMENTO DE MÓVEIS E OUTROS OBJETOS
EFEITOS LUMINOSOS
EFEITOS ODORANTES
EFEITOS SONOROS
EFEITOS TÉRMICOS
EFEITOS QUÍMICOS
EFEITOS FITOLÓGICOS
INCOMBUSTIBILIDADE
PROGENIA
FENÔMENOS ELETROELETRÔNICOS
EFEITOS ATMOSFÉRICOS
EVENTOS ALEATÓRIOS
RADIESTESIA
POLTERGEIST
Importante anotar que, ao lado das ocorrências mediúnicas, podem eventualmente acontecer
as não mediúnicas (ou paramediúnicas), que não envolvem uma intermediação espiritual,
propriamente. Assim, por exemplo, determinada intuição pode ter caráter mediúnico
servindo à comunicação de um Espírito, ou não mediúnica, em que o registro mental diz
respeito somente aos interesses de quem as registra.
De igual forma, nos fenômenos de vidência e audiência, as visões espirituais, acompanhadas
das audições, podem visar à transmissão de mensagens e impressões do mundo espiritual, ou
apenas servir de observação ao próprio vidente. São os casos de vidência e audiência não
mediúnicas.
Também, nos casos de desdobramento e de materialização, ocorrências há que não se
caracterizam como mediúnicas, propriamente.
Assim, no desdobramento, o agente pode projetar-se perispiriticamente, registrar o que vê e
ouve em determinado local ou situação e, por não ser o caso, nada relatar, deixando, pois, de
atuar como um intermediário espiritual. Ê o que se pode, igualmente, caracterizar como um
desdobramento não mediúnico.
No tocante ao fenômeno de materialização, ocorre, ainda que raramente, uma singularidade:
não só o próprio agente pode materializar-se (automaterialização), como, com base em suas
potencialidades mentais, materializar objetos (materialização inanimada).
*
Observe-se que, seja qual for o tipo de manifestação mediúnica, o perispírito é sempre o
principal elemento a ser considerado.
Por suas condições - pois já se trata de uma estrutura de natureza mais próxima da matéria -,
o perispírito é o fator de contato e comunicação entre os mundos espiritual e físico, notando-
se que na base do fenômeno mediúnico encontra-se, sempre, o desprendimento perispiritual
— que pode ser menos ou mais acentuado.
*
Nesse contexto, importa considerar, ainda, alguns fatores especiais relacionados com o
processo mediúnico, como, por exemplo, os que dizem com a aura e com a compatibilidade
entre as partes, principalmente, nas modalidades mediúnicas classificadas por KARDEC
como de efeitos intelectuais.
Quanto à aura, ressalta a evidência que, constituindo uma projeção do perispírito,
envolvendo-o, representa o primeiro nível de contato, nos casos de relação direta, entre
comunicante e médium. “É por essa couraça vibratória, espécie de carapaça fluídica, em que
cada consciência constrói o seu ninho ideal,” — anota ANDRÉ LUIZ — “que começaram
todos os serviços da mediunidade na Terra.”(3)
(3) XAVIER, Francisco Cândido. VIEIRA, Waldo. Espírito André Luiz. Evolução em Dois Mundos. 13.
Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, p. 130, Cap. XVII.
Importa lembrar que a aura psicosfera, fotosfera psíquica ou fotosfera) é conhecida desde
tempos imemoriais. Referida pela primeira vez no século XIX, quando o famoso químico
alemão Karl REICHENBACH (1788-1869) descobriu radiações originárias de cristais e
ímãs, ou emitidas por plantas, animais e seres humanos, passou a ser cada vez mais estudada,
tornando-se hoje, graças ao próprio desenvolvimento científico, objeto de importantes e
frutuosas pesquisas.
Se, em muitas ocorrências, a aproximação de caráter mediúnico significa contato e ligação
entre auras, é óbvio, também, que deve haver um mínimo de compatibilidade energética
(magnética ou psicomagnética) entre elas.
Verdade que, muitas vezes, essa necessária compatibilidade parece até ser de alguma forma
“induzida” por ação direta dos Espíritos responsáveis, atendendo a requisições transitórias,
ditadas pela necessidade de esclarecimento ou orientação, mas, fundamentalmente, a sintonia
mediúnica, momentânea ou não, imprescinde de uma certa compatibilidade, superficial ou
não, entre as auras dos Espíritos envolvidos.
*
Faculdade natural, inerente ao ser humano, a mediunidade manifesta-se diferentemente em
cada pessoa.
Com efeito, se não há dois Espíritos iguais, é evidente que cada indivíduo apresenta
características perispiríticas próprias, a ensejarem ocorrências que obviamente digam
respeito a essas qualidades, especificamente. Assim, embora os processos mediúnicos
possam ser enquadrados em um esquema geral, as peculiaridades que marcam os modos de
manifestação guardam relação com a estrutura psíquica de cada médium, sua constituição
orgânica, sua história espiritual, a evidenciarem condições perispiríticas únicas, que vão
definir os vários tipos de intercâmbio mediúnico.
Anote-se, a propósito, que, justamente por tratar-se de uma faculdade ínsita a todo ser
humano, a mediunidade existe independentemente das condições morais da pessoa, sendo
certo, todavia, que quanto mais realizado moralmente o médium, mais se lhe apura o filtro
perispirítico e, de conseguinte, mais proveitosa será sua produção, pela facilidade de atrair,
pela lei de afinidade, Espíritos cada vez mais adiantados.
*
Se todo processo mediúnico, como visto, assenta-se nas possibilidades perispirituais, não é
menos certo que a ação do perispírito varia de acordo com o tipo de fenômeno.
Assim, se no desdobramento, o perispírito se desprende e se desloca — ainda que guardando
ligação com o corpo físico —, na materialização e nos demais fenômenos de efeitos
ectoplásmicos, faculta a liberação do ectoplasma responsável pelos vários tipos de
ocorrência.
Da mesma forma, nas manifestações de natureza intelectual, em que a ação perispirítica
sustenta e define o fenômeno, como, por exemplo, ocorre na psicofonia e na psicografia, os
processos mediúnicos são peculiarmente caracterizados por um estreito contato perispírito a
perispírito, que pode chegar a um estado de verdadeira “interpenetração psíquica", como
aventa Herculano PIRES, em interessante descrição:
(5) Pires, J. Herculano. Mediunidade. 2. ed. São Paulo: PAIDEIA, 1992, p. 37, Cap. V.
(6) DENIS, Léon. No Invisível. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994: 2a Parte, Cap. XIV, p. 166.
O transe pode ser entendido como um estado de alteração consciencial, caracterizado pelo
abrandamento ou entorpecimento maior ou menor do consciente vígil. (1)
(1) Têm-se como dimensões da consciência, o Consciente (consciente vígil ou consciente desperto,
caracterizado pela percepção lúcida das disposições interiores e pela relação coerente com o meio exterior,
com perfeita orientação tempo-espaço, em condições normais e alheias ã situação de sono ou transe), o
Subconsciente (banco de memória da vida atual) e o Subconsciente Profundo (memória das vivências das
encarnações passadas; consciência profunda) e, em outro nível, o Superconsciente (envolvendo
potencialidades psíquicas superiores). Evidentemente, essas chamadas dimensões da consciência integram
um todo dinâmico e indissociável.
Da mesma forma que, para quem observa alguns picos vulcânicos, em meio de águas oceânicas, poderá
passar despercebido que todos estão ligados, sob a superfície, em densas cadeias formando um todo
granítico, para um observador menos atento poderá escapar o fato de que as várias dimensões conscienciais
são expressões de um todo psíquico.
Daí, precisamente — na trilha, aliás, de venerandos mestres espirituais - a exclusão que se faz do termo
inconsciente - de uso tão comum quanto impreciso - diante da realidade de que, em todos os instantes, direta
ou indiretamente, estamos expressando a totalidade psíquica que somos, ou seja, o nosso Eu passado e
presente. (A noção do inconsciente foi introduzida por LEIBNIZ, na Filosofia do séc. XVIII, sendo depois
comentada por KANT, SCHELLING, HE- GEL, SCHOPENHAUER e outros. Mais tarde, FREUD - em sua
psicologia mecanicista e reducionista, interpretando a vida psíquica como um modelo mecânico de
associações e dissociações automáticas, e explicando o normal pelo anormal, o positivo pelo negativo —
popularizou o termo, com o significado de um mero depósito de dejetos psíquicos, recalques, lembranças
desagradáveis, tabus, etc.). Importa, finalmente, lembrar que o uso do termo inconsciente para qualificar
certas categorias de médiuns ou mediunidades, como se vê nas diversas tábuas classificatórias, indica, mais
propriamente, que o agente mediúnico, em transe profundo, devido a um maior desprendimento, não guarda
nenhuma lembrança do conteúdo transmitido pelo Espírito comunicante; da mesma forma, o emprego do
termo semiconsciente indica que o médium, em transe semiprofundo, tem lembrança imperfeita ou
fragmentária do ocorrido durante a manifestação.
Guardadas as diferenças de enfoque, por parte dos autores que se debruçaram sobre o tema, é
lícito admitir que o transe pode apresentar-se como patológico, hipnótico, farmacógeno,
anímico, noctípico e mediúnico.
PATOLÓGICO
HIPNÓTICO
FARMACÓGENO
TRANSE
ANÍMICO
NOCTÍPICO
MEDIÚNICO
“O indivíduo tem a crise convulsiva e depois fica longo tempo como que ‘abobado’ ou
‘desligado’, falando coisas sem nexo, sem noção de espaço e tempo. Em certas epilepsias, o
paciente fica sem exercer totalmente o controle de seus atos, e, automaticamente, se põe a
andar e vai acordar, às vezes, a quilômetros de distância de sua casa. Este tipo de transe
também ocorre nos delírios febris, nos estados de coma, nas lesões traumáticas do cérebro.
Bloqueado o contato com o meio ambiente, o transe vai permitir o aflorar do subconsciente e
a pessoa age sem intervenção da vontade.”(2)
(2)
LEX, Ary. Do Sistema Nervoso à Mediunidade. 2. ed. São Paulo: FEESP, 1994, pp. 77 e 78, Cap. IV.
Tendo como material exclusivo o comportamento histérico, definiu o transe como “um
estado de baixa tensão psíquica, onde o domínio da consciência se enfraquece, possibilitando
a dissociação da personalidade”. Esse “declínio da tensão psíquica” levaria o indivíduo “a
um estado de passividade” que, aprofundado, retirá-lo-ia “da realidade em que vive no
momento, introduzindo-o no seu inconsciente”.
Sob esse enfoque e não admitindo a possibilidade mediúnica, JANET, fugindo do método
realmente científico, iniciou, com CHARCOT, - como bem observa Luiz Gonzaga
PINHEIRO - “uma revolução em defesa do animismo generalizado e contra as manifestações
espirituais, tentando negar o óbvio pelo absurdo, missão árdua demais para qualquer super-
homem”.(4)
(4) Pinheiro, Luiz Gonzaga. Vinte Temas Espíritas Empolgantes. Capivari (SP): EME, 1997, p. 69.
Descabida, pois, qualquer posição que pretenda associar o transe mediúnico a eventual
processo de dissociação ou automatismo.
(6) Foi o cirurgião inglês James BRAID quem, praticamente, introduziu a terminologia hoje empregada, ao
publicar, em 1843, o livro intitulado Sono Neuripnológico. Daí se originaram, por derivação, vocábulos
como hipnologia, hipnotismo, hipnótico, etc.
(7) CERVINO, Jayme. Além do Inconsciente. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989, pp. 93 a 99, Cap. 3.
O transe hipnótico - processo de interiorização induzido por via da sugestão - chamou a
atenção de renomados investigadores, como BREUER, em Viena, e CHARCOT, em Paris,
quando se observou que paralisias, anestesias e hipertesias podiam ser induzidas através do
hipnotismo. BREUER, aliás, notabilizou-se como um pioneiro no uso da hipnoterapia no
tratamento da histeria. (FREUD, entre 1885 e 1900, foi seu colaborador assíduo). Nesse tipo
de terapia, o paciente é levado ao transe hipnótico e encorajado a recordar e verbalizar suas
dificuldades, cenas esquecidas, experiências traumáticas, sendo-lhe, então, dadas sugestões
de apoio.
Modernamente, revitalizou-se o interesse pelo hipnotismo, procurando-se estudá-lo e aplicá-
lo com mais profundidade e sob novos conceitos, de cunho transexistencial, no sentido de
localizar, por meio da regressão, raízes de transtornos psicológicos ou distúrbios do
comportamento, não só em experiências da vida atual, como em vivências de passadas
encarnações.
Assinale-se, finalmente, que, como processo suscetível a comando externo, pode servir tanto
a interesses construtivos (psicoterapia, anestesia), como destrutivos, qual ocorre no processo
obsessivo, desde a sugestão pós-hipnótica, plantada durante o sono, até as situações mais
agudas e tenebrosas de influenciação, que chegam a causar a própria alteração do perispírito,
como se observa, por exemplo, nos casos de zootropia (licantropia, etc.).
*
O transe farmacógeno produzido pelas drogas conhecidas como psicolíticas (mescalina,
psilocibina, LSD-25, e outras) e por várias outras do conhecimento comum, inclusive os
anestésicos, pode assemelhar-se, em alguns aspectos ou efeitos, a outros tipos de transe,
principalmente o hipnótico. A nota diferencial, todavia, é que o processo não se apoia na
sugestão; é provocado por meios químicos e somente ocorre com encarnados.
Nesse tipo de transe — que não se confunde com os estados de perturbação mental
provocados por certos produtos algumas vezes, pode até acontecer, como no transe
hipnótico, um certo afrouxamento dos laços perispirituais, tornando possível um relativo
desprendimento.
*
O transe anímico, que pode ser espontâneo ou, mesmo, provocado por influência do mundo
espiritual, guarda certa relação, de um lado, com o transe hipnótico, e, de outro, com o
mediúnico.
Mergulhado em processo de redução do foco consciencial, qual acontece no ritmo hipnótico,
a pessoa sensível, com o relativo desprendimento perispirítico que se segue, pode entrar em
um estado de transe, com características mui semelhantes às observáveis na ocorrência
mediúnica.
No transe anímico é possível observar, como no transe mediúnico, tanto efeitos de natureza
intelectual, como físicos.
No primeiro caso — ocorrência mais comum —, à medida que diminui ou enfraquece a
presença consciente, vêm à tona as impressões estratificadas no subconsciente e no
subconsciente profundo (“depósito de informações de vidas passadas”) e o sujeito pode
chegar a manifestar, até, uma personalidade diferente, ainda que, na realidade, apenas
exteriorize o seu próprio mundo, onde jazem cristalizadas lembranças de experiências
traumáticas comumente não resolvidas na encarnação atual, ou, se remontam às vidas
pretéritas, não superadas pelo choque biológico do renascimento. (Eventos dessa natureza,
aliás, podem até alcançar proporções patológicas).
Interessante observar que na atividade mediúnica, a manifestação ligada ao transe anímico,
embora apresente características peculiares facilmente reconhecíveis, é seguidamente
confundida com comunicação mediúnica autêntica.
Outras vezes, detectada, a manifestação anímica passa a ser, apressadamente, rotulada de
mistificação, impelindo o interlocutor a atitudes até desrespeitosas, em relação ao médium,
muitas vezes, em doloroso processo de imersão nos arquivos do próprio passado, quase
sempre involuntário.
Na verdade, a complexidade do fenômeno requisita conhecimento e respeitosa tolerância,
uma vez que o animismo, superadas as dificuldades psicológicas do sujeito, pode dar lugar,
amanhã, a possibilidades mediúnicas puras e autênticas.
De fato, resolvidas ou desestimuladas eis aflorações do subconsciente, e desobstruídas as
vias perispiríticas de canalização, pode, com o tempo, surgir a manifestação medianímica, de
expressão a mais genuína e convincente.
Por causa, justamente, da semelhança que se registra entre os efeitos ocorrentes nos
processos anímico e mediúnico é que certos psicólogos e parapsicólogos, menos informados,
generalizaram, sustentando a inexistência do fato mediúnico e atribuindo todos os tipos de
ocorrência a fantasiosas potencialidades do chamado “inconsciente” do médium,
desapercebidos das inúmeras e verdadeiras faces da mediunidade, sua realidade e
significação para o próprio futuro do homem, como, aliás, bem compreenderam, não só
RHINE, O pai da Parapsicologia, e seus seguidores próximos, como outros cientistas e
pesquisadores célebres que enobreceram a história da Humanidade (CROOKES,
AKSAKOF, ZÕLLNER, LOMBROSO, FLAMMARION, DE ROCHAS, DE- LANNE,
LODGE, GELEY, BOZZANO, e outros.), e que, em comprovando as teses de KARDEC e
DENIS, abriram veredas para a pesquisa psíquica de profundidade, que hoje envolve tantos e
notáveis cientistas e pensadores, encarnados e desencarnados, como nos dão conta as páginas
espíritas e não espíritas, em todos os cantos do mundo.
O transe noctípico (do lat. noctis + typicu) acontece comumente no período de repouso
noturno e embora mostre linhas de estreito contato com o transe anímico, propriamente, pode
apresentar, também, características de natureza mediúnica.
É possível distinguir no transe noctípico três tipos de ocorrências: (1) os fenômenos oníricos
relacionados com as imagens, representações, ideias, que brotam espontaneamente do
subconsciente e do subconsciente profundo - algumas delas depois lembradas, ainda que
confusamente; (2) os fenômenos de desprendimento e desdobramento durante o sono, com
vivências suscetíveis, também, de serem lembradas, principalmente nos casos em que,
espontâneos ou provocados, já passam a ter caráter mediúnico (comunicações, informações,
visões, etc.); (3) os sonambúlicos, com peculiaridades que, em verdade, ainda estão a
requisitar investigação maior, embora já se saiba que o fenômeno sonambúlico se diferencia
claramente do fenômeno mediúnico.
Entre os fenômenos psíquicos, o transe sonambúlico apresenta-se como dos mais singulares,
tomando, às vezes, feições realmente surpreendentes.
Gabriel DELANNE, por exemplo, relata, entre outras, a história de um jovem padre, que,
durante a noite, levantava-se, ia à escrivaninha, compunha sermões e tornava a deitar-se. E
quando escrevia, se lhe fosse interposto um grosso cartão “entre os olhos e o papel”, ele não
interrompia a escrita, lendo-a em voz alta e fazendo as correções “com muita exatidão”.
Esse tipo de fenômeno diz, particularmente, com a expansibilidade, uma das propriedades do
perispírito.(8)
(8)
São propriedades do perispírito: a plasticidade, a densidade, a ponderabilidade, a luminosidade, a
penetrabilidade, a visibilidade, a corporeidade, a tangibilidade, a sensibilidade global, a sensibilidade
magnética, a expansibilidade, a bicorporeidade, a unicidade, a perenidade, a mutabilidade, a capacidade
refletora, o odor e a temperatura.
Outro caso ilustrativo, registrado pelo professor Soave, da Universidade de Pádua, também
citado por Delanne, dá conta de um sonâmbulo que, durante o transe manipulava substâncias
químicas com surpreendente precisão:
Ao que parece, em pessoas suscetíveis a esse tipo de evento, o estresse, a tensão do dia
contribuem significativamente para a sua eclosão noturna
Essa espécie de ocorrência, a caracterizar-se como transe onírico, não se confunde com o
transe mediúnico. Em ambos os casos ocorre o desprendimento perispirítico, mas diferenças
substanciais marcam esses dois tipos de fenômeno.
De fato:
No sonambulismo, ocorre a imersão do sujeito em si mesmo, com o total isolamento do
mundo exterior. Em processo de dissociação da realidade exterior, o sujeito caminha, fala,
age sem perceber a presença de ninguém. Sua ação é regida, principalmente, pelas
impressões depositadas no subconsciente (memória atual).
Em síntese, o transe sonambúlico é caracterizado pela forma autônoma com que age o
sujeito, executando, até, tarefas complexas, completamente alheio ao que ocorre ao seu
redor.
Já no processo mediúnico, o médium conecta-se com o mundo espiritual, buscando servir de
instrumento aos Espíritos para a transmissão de suas mensagens.
Ao contrário do que acontece no processo sonambúlico, o médium entra em contato com a
realidade espiritual exterior, interrelacionando-se com outras mentes, intermediando-lhes o
pensamento e, às vezes, a ação.
Não há, pois, como confundir o sonambulismo com o processo mediúnico.
*
O transe mediúnico, ostensivo tanto nos fenômenos de mediunização psicofônica,
psicográfica, psicopictórica e psicocirúrgica, como nos de ectoplasmia, é provocado pelos
Espíritos e apresenta, como já salientado, características peculiares e bem definidas.
Registra-se, geralmente, na mediunização, um processo de gradativa e suave interiorização,
seguido de um gradativo abrandamento ou entorpecimento da atividade consciencial própria,
o qual vai se tornando mais significativo à medida que o perispírito do médium, em processo
de desprendimento, passa a sofrer o influxo crescente do Espírito em via de comunicar-se.
Com a conexão interperispirítica final (Espírito-médium), instala-se o processo do transe.(11)
(11) De acordo com o maior ou menor desprendimento do médium, o transe pode mostrar-se superficial,
semiprofundo ou profundo. No transe superficial (de 19 grau), ele permanece consciente durante o processo,
tendo plena lembrança do ocorrido.
No transe semiprofundo (de 2° grau), ele permanece relativamente consciente, ou seja, tem lembrança
fragmentária do conteúdo da manifestação.
Já no transe profundo (3° grau), de nada se recorda.
Oportuno ressaltar, todavia, que se boa parte dos fenômenos mediúnicos só se verifica em estando o médium
em transe, alguns, em que há um menor desprendimento do perispírito, acontecem em plena lucidez ou
quase lucidez. É o que ocorre, por exemplo, na intuição, vidência, audiência, dermografia e outros eventos
ectoplásmicos.
13. Felizmente, a Psiquiatria, hoje, já começa a estabelecer a diferença entre esquizofrenia e mediunidade. A
verdade vai, assim, gradativamente, se impondo, para benefício da Humanidade. (V. 1- parte, Cap. III,
Ocorrências Negativas, Obsessão)
V- INTUIÇÃO
(12) A intuição, em si, tem atraído a atenção de eminentes pensadores, entre eles, o famoso filósofo francês
Henri BERGSON (1859-1941), que construiu sua filosofia com base em quatro ideias fundamentais: a
intuição, a durée (duração), a memória e o élan vital, que diz com Deus.
INTUIÇÃO
COMUM
INSPIRATIVA
PRECOGNITIVA
Ordinária
Profética
SUPERIOR (SUPERINTUIÇÃO)
A intuição comum diz com as percepções mais ou menos frequentes em nossas atividades,
relacionamentos e decisões.(2)
Ensina EMMANUEL que “tanto quanto o tato é o alicerce inicial de todos os sentidos, a intuição é a base
(2)
de todas as percepções espirituais e, por isso mesmo, toda inteligência é médium das forças invisíveis que
operam no setor de atividade regular em que se coloca”. (Xavier, Francisco Cândido. Espírito Emmanuel.
Roteiro. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 114, Cap. 22)
*
Ao lado da intuição, propriamente, que se refere à apreensão de um objeto atual, um outro
fenômeno que comumente ocorre é o surgimento de inopino, espontâneo, de ideias claras e
precisas, inclusive em forma de conceitos e soluções, como ocorre no processo intuitivo, mas
que são apenas lembranças de experiências e aprendizagens obtidas durante o sono ou em
vidas pretéritas, depositadas no subconsciente profundo e a emergirem em processo de
associação, ou não, com conteúdos intuídos realmente.(7)
(7) Enquadram-se, também, nessa categoria, o chamado pressentimento, que traduz uma informação
recebida durante o sono e, que, depois, surge com a aparência de intuição precognitiva.
**
INTUIÇÃO E TELEPATIA
Nos tempos modernos, embora pesquisas acontecessem desde 1828, pode-se afirmar que a
telepatia começou a ser levada a sério depois de 1880, quando a Society Psychical Research
(SPR), de Londres, passou a investigar o fenômeno, nomeando, mesmo, uma Comissão
composta por respeitáveis pesquisadores franceses (entre eles, Charles RICHET), para o seu
estudo na França, Bélgica e Suíça.
No século XIX, o interesse pela telepatia sofreu certo declínio, não atraindo muito a atenção
dos psicólogos e pesquisadores.
William JAMES, da Universidade de Harvard, desponta, nessa época, como eminente
exceção, destacando- se pelo seu incondicional interesse pelas investigações e pelo apoio que
dava aos demais pesquisadores.
No século XX, verificou-se um significativo aumento do interesse pela telepatia. Nomes
importantes como William MCDOUGALL, Sigmund FREUD, C. G. JUNG, René
WARCOLLIER, Carl BRUEK, Rudolf TIRCHNER, Leonid VASILIEV, Upton SINCLAIR,
surgem como referência maiúscula, mas é Joseph Banks RHINE, Professor de Psicologia da
Universidade de Duke, que, principalmente com suas pesquisas, no laboratório de
Parapsicologia daquela Universidade, criado por MCDOUGALL, leva, de vez, o estudo da
telepatia às Universidades.
Hoje, graças ao trabalho desses e de outros dedicados cientistas, no mundo todo, o fenômeno
telepático credencia-se como uma realidade cientificamente comprovada.
*
A palavra telepatia (do grego tele, “ao longe" + pathós, “influência”),(9) foi proposta por
Frederic William Henry MYERS (1843-1901), um dos fundadores da Society Psychichal
Research, quando, em 1882, pesquisava o fenômeno em companhia de Henry SIDGWICK
(1838-1900), primeiro presidente da SPR, e um dos mais influentes professores de
Cambridge, Edmund GURNEY (1847-1888), Secretário da SPR, quando de sua fundação, e
o Professor Sir William Fletcher BARRET (1845-1926), renomado pesquisador dos
fenômenos psíquicos.(10)
(9)
William Walker ATKINSON criou a palavra telementação, para indicar a influência psíquica a distância.
(10)
Já em 1876, o Professor BARRET apresentava à Associação Britânica para o Avanço das Ciências seus
trabalhos experimentais defendendo a existência da “transmissão do pensamento, independentemente do
magnetismo animal”. (TEIXEIRA DE PAULA, João. Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e
Espiritismo. São Paulo: BANCO Cultural brasileiro, 1970, III vol., p. 131).
Já, È. BOIRAC, eminente pesquisador francês, considerava que a telepatia significaria mais
a comunicação do pensamento.(12)
(12)
ÉMILE BOIRAC, da Societé Universelle d’Études Psychiques e reitor da Academia de Dijon, foi um dos
principais investigadores da exteriorização da sensibilidade. Suas obras, “La Psychologíe inconnue" (1915),
“L ’Avenir des Sciences Psychiques ”(1917), ganharam especial destaque, sendo a primeira, premiada pela
Academia Francesa de Ciências.
Embora a complexidade do tema, pode-se entender, por enquanto, a telepatia, apenas, como
um processo de conexão mental, independentemente de espaço e tempo.
Na verdade, ainda não temos os elementos necessários a uma melhor compreensão da
dinâmica desse processo, mas já se sabe, que, conforme mostraram as pesquisas, nem sempre
depende da existência de uma relação emocional positiva entre as partes - pelo menos entre
os encarnados.(13)
(13) V. Rhine, Louisa E. Canais Ocultos do Espírito. (Orig. Hidden Channels of the Mind). São Paulo:
BESTSELLER, 1966, pp. 209 e segs. Trad. E. Jacy Monteiro.
Alguns autores tentam, para fins didáticos, estabelecer uma analogia entre “transmissão” do
pensamento e transmissão de energia eletromagnética.
Assim, ANDRÉ LUIZ anota que “até certo ponto, o pensamento, a formular-se em ondas,
age de cérebro a cérebro, quanto a corrente de elétrons de transmissor a receptor, em
televisão”.(14)
(14)
Xavier, Francisco Cândido e Vieira, Waldo. Espírito André Luiz. Mecanismos da Mediunidade. 13. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 86.
Para Jorge ANDRÉA, “os pensamentos (...) devem ser transmitidos em ondas energéticas de
alta frequência, partindo, naturalmente, da zona consciencial e aproveitando as naturais
expansões que o psicossoma possui”.(15)
(15)
Andréa dos santos, Jorge. Nos Alicerces do Inconsciente. Sobradinho (DF): EDICEL, 1992, p. 101.
José NÁUFEL opina que o processo telepático “consiste na conjugação de ondas, pela qual
as ondas mentais emitidas por uma pessoa são captadas por outra”, sendo necessário, para
isso, “que ambas estejam vibrando na mesma frequência, para que se possa estabelecer
sintonia”.(16)
(16)
NÁUFEL, José. Do ABC ao Infinito - Espiritismo Experimental. Rio de Janeiro: ECLAT, 1994, p. 121.
Essas e outras posições traduzem, sem dúvida, louváveis tentativas de explicar o fenômeno
telepático, todavia, como acentua Karl GOLDSTEIN, a hipótese eletromagnética, embora
simples, envolve considerável número de problemas.
Com efeito, quando Hans BERGER, cientista alemão, descobriu as oscilações rítmicas dos
potenciais elétricos do cérebro humano, registráveis na superfície do crânio, dando
surgimento à eletroencefalografia, essa hipótese obteve um reforço significativo, mas,
depois, concluiu-se pela impossibilidade de se obterem informações sobre o psiquismo de
uma pessoa, apenas examinando o seu eletroencefalograma obtido durante uma operação
mental. Outros cientistas (P. P. LAZAREV, Ferdinando CAZZA- NALI, B. B. KAJINSKI,
V. K. ARKADIEV, B. V. KSALAKINE, S. J. TURLYQUINE), buscando provar a hipótese
eletromagnética, embora os persistentes esforços, nada conseguiram.
Um dos mais renomados pesquisadores, nessa área, o cientista russo Leonid Leonidovitch
VASILIEV, catedrático de Filosofia da Universidade de Leningrado e da Academia de
Ciências Médicas da URSS, dedicando-se intensamente ao estudo do fenômeno telepático,
chegou a conclusões decisivas, publicando, a respeito, três obras, de significativa
repercussão: Os Fenômenos Misteriosos do Psiquismo Humano, Experiências de Sugestão
Mental e Sugestão a Distância.
VASILIEV e sua equipe de médicos, acompanhados por consultores técnicos eminentes, na
área de radiotecnologia, realizaram experiências dramáticas nessa área.
Relata Karl GOLDSTEIN:
“Vasiliev construiu uma cápsula de chumbo que seria uma barreira até para a irradiação.
Tomashevsky, o emissor, trepou numa escada e escorregou para dentro do que parecia uma
enorme geladeira antiga. Em seguida, abaixou a pesada tampa abobadada. Esta se encaixou
numa canaleta cheia de mercúrio e a cápsula ficou perfeitamente selada. Nenhuma onda
poderia entrar ou sair dali.(...) Tomashevsky imaginou Fedorova adormecida no interior da
jaula de Faraday. Ela perdeu a consciência. Essa telepatia de impacto parecia funcionar
ainda melhor no interior de todos os anteparos de chumbo.
‘Ficamos assombrados!’ escreveu Vasiliev. “Estávamos como que hipnotizados por esses
resultados inesperados!”
Essas e outras evidências mostram o pouco que ainda sabemos a respeito. (E não pode ser
desconsiderado o fato de que a energia eletromagnética é de ordem física, ao contrário do
pensamento, em sua essência...).
Entre os encarnados, o pensamento se expressa através dos neurônios físicos, sob a ação do
perispírito, mas, em sua essência, existe independentemente dos cérebros físico e
perispiritual.
É a alma que pensa.(23)
(23)
O ser humano, quando encarnado, mostra-se um ser trino: alma, perispírito e corpo. Desencarnado, é um
ser dual: alma e perispírito, que constituem o Espírito, propriamente.
**
Compreende-se, até agora, que o fenômeno telepático ocorre (1) entre encarnados, (2) entre
desencarnados, (3) entre desencarnados e encarnados e (4) entre encarnados e
desencarnados.
Nesse domínio da telepatia, como já visto, relevantes têm sido as experiências realizadas por
eminentes pesquisadores, em torno da sugestão a distância, cumprindo lembrar que um dos
pioneiros, nessa área, foi Pierre JANET, da Sociedade de Psicologia Fisiológica de Paris,
presidida por CHARCOT, que acompanhado por seu colega Gibert, chocou o mundo
científico de então, comunicando — sem formular nenhuma teoria — o sucesso de suas
experiências com uma paciente, Sra. B., adormecendo-a a distância.
Outro pioneiro foi Julian OCHOROWICZ (1850-1918), codiretor do Institui Général
Psychologique de Paris, lembrado “como o mais famoso pesquisador psíquico da Polônia” e
autor do clássico A Sugestão Mental, no qual relata suas pesquisas sobre o fenômeno
telepático e as diversas modalidades que encontrou.(26)
(26) Ochorowicz, Julian. A Sugestão Mental. Rio de Janeiro: GARNIER, 1903. Trad. João L. de Souza.
“Este incidente levou o médico a experimentar com a Sra. M. a ‘sugestão mental a distância’.
Ele costumava adormecê-la de dois em dois dias. Era a rotina de seu tratamento. Durante
esses momentos ele a observava e tomava notas em seu memorial.
Dia 2 de dezembro de 1885, Ochorowicz tinha a sua paciente adormecida. Ele se encontrava
a certa distância de sua cama e fingia tomar noteis em seu caderno. Porém, interiormente,
concentrava sua vontade sobre uma ordem mental dada: ‘erga a mão direita’ - No primeiro
minuto, ação nula; no segundo, uma agitação na mão direita; no terceiro minuto, a agitação
aumenta, a doente franze as sobrancelhas e ergue a mão direita!
Animado com este sucesso, o médico deu-lhe outra ordem mental: ‘Levante-se lentamente
com dificuldade e vá até ele, com a mão estendida!’
E assim, sucessivamente, Ochorowicz conseguiu que sua paciente obedecesse, com êxito, a
várias ordens mentais. Em algumas ocasiões, as ordens mentais não eram atendidas
imediatamente, e a paciente parecia embaraçar-se ao cumpri-las. Todas as ordens mentais
eram dadas silenciosamente e sem gestos.
Ochorowicz relatou, ao todo, quatorze sessões levadas a efeito de 2 de dezembro de 1885 a 5
de fevereiro de 1886, durante as quais ele fez um número enorme de experiências de
sugestão mental, com grande êxito e com a mesma Sra. M.
O Dr. Ochorowicz teve a oportunidade de registrar outros casos semelhantes ocorridos com
diversas pacientes tratadas por ele em sua clínica normal.”(27)
Os estudos científicos que se seguiram, tanto na Europa, como nos Estados Unidos,
provaram, definitivamente, que o fenômeno telepático, embora ainda não bem entendido em
sua intimidade, é uma realidade.
Possível é que os estudos que se desenvolvem em relação à sincronicidade existente nos
eventos humanos possam, de algum modo, no futuro, contribuir para a melhor compreensão
do que ocorre no fenômeno telepático, e, por conseguinte, do processo intuitivo. Embora o
psicólogo e psiquiatra suíço, Carl Gustav JUNG (1875-1961) já tenha se referido à
sincronicidade como ocorrência coincidente de acontecimentos, que nem sempre obedecem à
lei da causalidade, o interesse pelo tema começou a ser despertado a partir das experiências
realizadas pelo físico britânico J. S. Bell, com um par de fótons (partículas elementares de
luz) correlacionados e projetados em direções distintas, em demonstração ao seu famoso
teorema — “Teorema de Bell” — proposto em 1964. Provado ficou que se a polaridade de
um for modificada, a do outro, também, instantaneamente, se modificará, mostrando, assim,
a unidade da teia cósmica.(28)
(28)
As investigações relacionadas com as ocorrências sincrônicas são recentes, mas o fato é conhecido desde
o século XVII. Em 1665, o físico inglês Christian HUYGENS percebeu que, independentemente do estado
inicial de cada um dos pêndulos de dois relógios que construíra, logo adotaram o mesmo ritmo.
Arthur WINFREE, biólogo norte-americano, na década de 1960, também examinou o fenômeno repetitivo
com os pêndulos, estudando ainda o sincronismo entre os seres vivos, ao constatar milhares de vagalumes no
Sudeste Asiático, piscando ao mesmo tempo, nos matagais ribeirinhos.
Em sua obra Sync — The Emerging Science of Spontaneus Order (Sincronia - A Emergente Ciência da
Ordem Espontânea, 2003, N. York, Theia), WINFREE resume o histórico e o propósito do novo campo de
estudo, comentando modelos e teorias, e prevendo sua aplicação aos mais diversos níveis de existência.
Modelos matemáticos para a sincronia foram estabelecidos pelo físico japonês Yoshiki
KURAMOTO e pelo matemático Steven STROGATZ, da Universidade de Cornell (EUA),
considerado pioneiro da “ciência da sincronicidade”.
Diz STROGATZ: “a sincronia se manifesta do subatômico ao macrocosmo” e “o universo
inteiro parece carregar as sementes de sua ordenação”.
Cientistas de diversos países, inclusive do Brasil, vêm se interessando pelo tema, sendo certo
que ele é presente em todos os domínios da vida, inclusive, na dimensão mental.
Por esse caminho, provável que, de alguma forma, a teoria da sincronicidade possa levar a
um conhecimento mais profundo do processo intuitivo.(29)
(29)
Eventos há que parecem confirmar a existência da chamada intuição coletiva e que, talvez, digam com a
Teoria da Sincronicidade. É o caso de certos inventos idealizados, simultaneamente, por pessoas residindo
em países diferentes, até, como o acontecido, por exemplo, entre NEWTON e LEIBNIZ, em relação ao
cálculo diferencial, e entre DARWIN e Russell WALLACE, em relação à teoria da evolução. Ou de certos
movimentos sociais, inclusive, os de caráter internacional, que ocorrem ao impulso de um ideal único, a
lembrar, a propósito, a máxima de Victor HUGO de que “uma coisa existe mais poderosa que todos os
exércitos: uma ideia cujo tempo é chegado”.
**
Entende-se, do exposto, que há, claramente, uma efetiva relação entre intuição e telepatia.
Intuição é a faculdade de conhecer imediatamente um objeto. Esse conhecimento pode
surgir, como visto, da conexão mental entre um Espírito desencarnado e um ou mais
encarnados; entre os desencarnados, situados em planos evolutivos diferentes e, de certo
modo, entre encarnado e desencarnado, como pode ocorrer na mediunização psicofônica, em
que o médium pode influir no pensamento do Espírito.
A intuição, pois, comparece como um tipo de telepatia, embora esta tenha um significado
mais abrangente.
De se ressaltar, também, que o processo telepático pode ser detectado nos vários tipos de
intuição.
Na superintuição (intuição superior), todavia, segundo algumas indicações, é possível que
ocorra, também, outro tipo de processo de cognição, que diga com a elevação espiritual do
agente intuitivo.(31)
(31)
Segundo alguns autores espiritualistas, na superintuição - que, geralmente, tem caráter mediúnico - a
participação do agente intuitivo é mais ativa que nos outros tipos de intuição.
Oportuno, finalmente, ressaltar que a diferença técnica entre a intuição mediúnica e a não
mediúnica, é dada, na realidade, por seu conteúdo. Em ambas as circunstâncias, o processo é
o mesmo, porém, a intuição adquire caráter mediúnico quando seu conteúdo interessa aos
outros, à coletividade, ao contrário da não mediúnica, que somente diz com o interesse
pessoal do percipiente.
VI- VIDÊNCIA
Vidência ou visão espiritual é a faculdade de ver além das possibilidades visuais ordinárias,
tanto na dimensão espiritual, como na física.
Como a intuição e outras faculdades psíquicas, é uma aptidão anímica que, quando serve à
comunicação dos Espíritos, adquire caráter mediúnico. E como isso é o que quase sempre
ocorre, com a ostensiva atuação dos Espíritos em todo o processo, a vidência tem sido
catalogada como um tipo de ocorrência mediúnica.
O fenômeno da vidência liga-se a uma das importantes propriedades do perispírito, que é a
expansibilidade, a qual faculta a ampliação do campo de sensibilidade do agente,
habilitando-o à visão espiritual.
A expansibilidade perispirítica, aliás, responde, praticamente por todos os processos
mediúnicos.(1)
(1)
Podem ser catalogadas as seguintes propriedades do perispírito: plasticidade, densidade, ponderabilidade,
luminosidade, penetrabilidade, corporeidade, tangibilidade, sensibilidade global, sensibilidade magnética,
expansibilidade, bicorporeidade, unicidade, perenidade, mutabilidade, capacidade refletora, odor,
temperatura.
Allan KARDEC aplicou os termos “dupla-vista” e “segunda vista” para designar a vidência, em seus
(2)
vários tipos, associada, ou não, à audiência. Por vezes, também, com o significado de intuição precognitiva.
(Cf. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro, FEB, 1994, p. 244; O Livro dos Médiuns, 61. ed. FEB, 1995, p.
211, it. 167; A Gênese, 36. ed. Rio de Janeiro, FEB, 1995, Cap. XV, it. 9; Revista Espírita, 1867,
Sobradinho (DF), EDICEL, Jun., p. 177.)
Devido a essa expansão perispirítica é que, não só videntes percebem as imagens de olhos
vendados ou através de objetos opacos, como as próprias pessoas cegas possuem a visão
espiritual.(3)
(3)
Entre as pessoas cegas, o termo vidente designa a pessoa que não é fisicamente cega. Em Espiritismo,
vidente é o que tem a faculdade de ver espiritualmente, ou seja, além das possibilidades físicas ordinárias.
Nesse sentido, tanto os fisicamente cegos, como os que não se encontram afetados pela cegueira, podem
possuir essa faculdade (visão espiritual).
Vidência Ativa
Vidência Passiva
É aquela que faculta ao vidente perceber as imagens do mesmo modo como ocorre na visão
ordinária, como oriundas da realidade exterior.
Vidência Ordinária
É a que ocorre com a maioria dos videntes. Ativa ou passiva, externa ou interna, a vidência
ordinária apresenta-se como uma visão do mundo espiritual sem nenhuma nota diferencial
que a particularize de modo especial.
Com relação a esse tipo de vidência - e, eventualmente, a outros - cumpre observar que dois
ou mais videntes podem ser coincidentes (vidência coletiva), ou não, em suas percepções de
um determinado fato.
Vidência Autoscópica(7)
É um tipo muito raro e peculiar de vidência, que faculta a percepção, por parte do vidente,
dos seus próprios órgãos internos.
Supõe-se que nesse tipo de fenômeno - uma espécie de “autovidência” - verifica-se um
desprendimento perispiritual maior, por parte do sujeito.
Poucos são os médiuns conhecidos, dotados também da vidência autoscópica, mas, no
Brasil, Carlos (Cármine) MIRABELLI deixou testemunhos notáveis.
Relata, por exemplo, o médico e pesquisador Thadeu MEDEIROS, seu amigo, fato ocorrido
em um dos encontros acontecidos com o médium:
“Tendo enviado sua urina para exame, veio ao meu consultório. (...) Após alguns instantes,
e/e viu o seu próprio organismo assolado por desordens hepáticas e renais, o que foi
plenamente confirmado pelos testes urinários. Essas lesões, no entanto, eram apenas
aparentes, não representando nenhuma moléstia grave, sendo, apenas, desordens oriundas
do exaustivo trabalho das suas atividades mediúnicas.”(8)
(7)
O vocábulo autoscopia (do gr. autos + skopein + ia) foi utilizado pelo Dr. Paulo SOLLIER, que o
empregou na monografia “Les Phénomènes d’Autocospie" (Paris, 1903). (Conf. LOUREIRO, Carlos
Bernardo. Dos Raps à Comunicação Instrumental. Rio de Janeiro: LORENZ, 1993, p. 81)
(8)
In Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ed. de 12 de janeiro de 1934. (Cf. PALHANO JR., L. Mirabelli: Um
Médium Extraordinário. Rio de Janeiro: CELD, 1994, pp. 125 e 126.)
Ernesto BOZZANO refere-se a uma médium norte- americana, Maria Reynes, célebre por
sua vidência e cujos trabalhos eram acompanhados e divulgados pelo pesquisador Dr.
PAGENSTECHER.
Em um de seus depoimentos, relata a médium:
“Quando me ordenam que veja, percebo o interior do meu estômago e nele, nitidamente, a
úlcera que me atormenta, sob a forma de sangrenta mancha vermelha. Vejo a forma do meu
coração e sinto-me capaz de ver o cérebro do doutor, desde que me ordene.
Assim foi que, muitas vezes, lhe vi no cérebro a imagem radiosa da sua genitora, bem como
de pessoas outras nas quais ele estava pensando, sem mo dizer.
E sempre que assim sucedia, confessava-me ele que as imagens por mim recebidas eram
perfeitas. (American Proceedings ofS. P. R., vol. XVI, página 113).(9)
(9)
BOZZANO, Ernesto. Pensamento e Vontade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1970, p. 20. Trad. M. Quintão.
“Coloquei-me de modo a não ser visto ou interrompido nas minhas observações psíquicas, e
pus-me a estudar os misteriosos processos da morte.
Vi que a organização física não podia mais bastar às necessidades do princípio intelectual;
diversos órgãos internos pareciam, porém, resistir à partida da alma. O sistema muscular
procurava reter eis forças motrizes. O sistema vascular debatia-se para reter o princípio
vital; o sistema nervoso lutava quanto podia para impedir o aniquilamento dos sentidos
físicos, e o sistema cerebral procurava reter o princípio intelectual. O corpo e a alma, como
dois cônjuges, resistiam à separação absoluta um do outro. Esses conflitos internos
pareciam a princípio produzir sensações penosas e perturbadoras. Foi com satisfação que
percebi que tais manifestações físicas indicavam – não a dor ou o sofrimento, porém apenas
a separação da alma e do organismo.”(10)
(10)
Cf. MIGUEL, Alfredo. Fenômenos Espíritas e Anímicos. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989, p. 87.
Outra descrição de Jackson DAVIS, diz com a sua visão espiritual a distância, associada a
vidência aloscópica, em um processo de peculiar desprendimento. Relata o médium:
"A minha percepção (...) continuou a desenvolver-se. A superfície da terra, em um raio de
centenas de milhas, se tornou transparente como a mais cristalina água. Eu via os miolos,
as vísceras e todo o sistema anatômico dos animais que naquele momento dormiam ou
pastavam nas florestas orientais, centenas e mesmo milhares de milhas distantes do lugar
onde me achava."(11)
(11)
ZOLLNER, J. K. Friedrich. Op. cit., pp. 131 e 132.
Vidência Psicoscópica
É a faculdade de ver, quando em contato com objetos, seres vivos ou ambientes,(16) imagens
de fatos ligados ao presente ou ao pretérito a eles relacionados, e, às vezes, até, ao futuro.(17)
Em Psicologia, o termo “psicometria” relaciona-se com a medição de resultados fornecidos pelos
(16)
recursos psicotécnicos. Em sentido amplo, designa o estudo quantitativo dos fenômenos psicológicos. Em
Parapsicologia, os fenômenos classificados como vidência psicométrica não têm denominação particular,
podendo enquadrar-se no esquema de possibilidades da chamada “percepção extrassensorial.” Já entre os
metapsiquistas, criou-se, para esse tipo de percepção, a denominação “criptestesia pragmática” RICHET.
(17)
Evidentemente, os seres vivos, objetos e o próprio ambiente funcionam como elementos indutores do
processo. O desprendimento perispirítico e o contato da aura do vidente com a aura de um objeto que
pertence ou pertenceu a uma pessoa, ou com a aura de um animal ou vegetal, ou, ainda, com a psicosfera de
determinado lugar, possibilitam-lhe visões que surgem tão mais perfeitas, quanto mais efetiva se apresentar
a assistência espiritual.
Joseph Rhodes Buchanan, com seus estudos, despertou o interesse de outros pesquisadores
de seu tempo, entre eles, o famoso professor de geologia de Boston, William DENTON,(19)
autor, depois, de diversas obras importantes, relatando suas experiências a respeito. (The
Soul of Things, 1863; Nature’s Secret, or Psychometric Research, 1863; Our Planet its Past
and Future, 1896).(20)
(19)
Consta que a própria irmã de Denton possuía a vidência psicométrica. Pondo-se-lhe sobre a fronte cartas
lacradas, ela descrevia perfeitamente seus autores, inclusive, a cor dos cabelos e dos olhos.
(20)
Outros pesquisadores também produziram, na época, trabalhos importantes, destacando-se, entre eles, O.
Hashnu HARA (Practical Psychometry) e Edmund DUCHATÈR (Enquête sur des cas de Psichometric,
1910).
BUCHANAN, contemporâneo, admirador e defensor sistemático das Irmãs Fox, reuniu seus
trabalhos no Manual of Psychometry: The Dawn of a New Civilization (Boston, 1886), obra
fundamental para o estudo desse interessante fenômeno, que, na realidade, só poderia ser
bem entendido à luz do Espiritismo.
A partir de BUCHANAN a vidência psicométrica passou a ser cada vez mais investigada e,
hoje, já são inúmeros os casos pesquisados e comprovados, mostrando que, seguidamente, é
acompanhada da audiência (audiência psicométrica) e, também, não raro, de sensações,
como a olfativa e a gustativa, por exemplo, que dizem, já, com a sensitividade, faculdade
paralela à mediúnica, como já visto.
Pode manifestar-se como retrocognitiva, investigativa ou precognitiva.
Vidência Psicométrica Retrocognitiva
O objeto que serviu de instrumento viera, efetivamente, de uma mina de carvão, em que um
operário ficou mortalmente ferido, por efeito de uma inesperada inundação, cerca de vinte
anos antes.
Esse tipo de vidência tem ocorrido, em todo o mundo, com mais frequência do que se possa
imaginar. E casos há particularmente surpreendentes.
Edgard ARMOND, por exemplo, informa que o célebre romance “Os Últimos Dias de
Pompéia", segundo consta, foi escrito depois que seu autor, Lord Bulver LITTON, tomando
de um fragmento de tijolo, quando de sua visita às ruínas da cidade, “viu desenrolar-se no
seu campo de vidência, todos os acontecimentos ligados à destruição da cidade”.(22)
(22)
V. ARMOND, Edgard. Mediunidade. 29. ed. São Paulo: ALIANÇA, 1994, p. 58.
“Verifiquei que algumas preciosidades, excetuando- se uma que outra, estavam revestidas
de fluidos opacos, que formavam uma massa acinzentada ou pardacenta, na qual
transpareciam pontos luminosos.
Notando-me a curiosidade, o instrutor aclarou, benevolente:
— Todos os objetos que você vê emoldurados por substancieis fluídicas acham-se fortemente
lembrados ou visitados por aqueles que os possuíram.
Não longe, havia curioso relógio, aureolado de luminosa faixa branquicenta.
Áulus recomendou-me tocá-lo e, quase instantaneamente, me assomou aos olhos mentais
linda reunião familiar, em que venerando casa! se entretinha a palestrar com quatro jovens
em pleno viço primaveril.
Com aquele quadro vivo a destacar-se ante a minha visão interior, examinei o recinto
agradável e digno.
O mobiliário austríaco imprimia sobriedade e nobreza ao conjunto, que jarrões de flores e
telas valiosas enfeitavam.
O relógio lá se encontrava, dominando o ambiente, do cimo de velha parede
caprichosamente adornada.
Registrando-me a surpresa, o Assistente adiantou:
— Percebo a imagem sem o toque direto. O relógio pertenceu a respeitável família do
século passado. Conserva as formas-pensamento do casal que o adquiriu e que, de quando
em quando, visita o museu para a alegria de recordar. É um objeto animado peleis
reminiscências que se reavivam no tempo, através dos laços espirituais que ainda sustentam
em torno do círculo afetivo que deixaram.
(...) O relógio está envolvido pelas correntes mentais dos irmãos que ainda se apegam a ele,
assim como o fio de cobre na condução da energia está sensibilizado pela corrente elétrica.
Auscultando-o, na fase em que se encontra, relacionamo-nos, de imediato, com as
recordações dos amigos que o estimam.”
Em outra passagem, transmite primorosa lição:
“Ao lado de extensa galeria, dois cavalheiros e três damas admiravam singular espelho,
junto do qual se mantinha uma jovem desencarnada com expressão de grande tristeza.
Hilário, incapaz de sofrear a curiosidade que nos esfogueava o cérebro, indagou sobre a
moça.
(...) O Assistente, como quem já esperava por nosso inquérito, respondeu sem pestanejar:
— Toquei o objeto para informar-me. Este espelho originalíssimo foi confiado à jovem por
um rapaz que lhe prometeu casamento. Vejo-lhe a figura romântica nas reminiscências dela.
Era filho de franceses asilados no Brasil, ao tempo da França Revolucionária de 1791.
Menino ainda, aportou no Rio e aí cresceu e se fez homem. Encontrou-a e conquistou-lhe o
coração. Quando arquitetavam projetos de casamento, depois da mais íntima ligação
afetiva, a família estrangeira, animada com os sucessos de Napoleão, na Europa, deliberou
o retorno à pátria. O moço pareceu desolado, mas não desacatou a ordem paterna.
Despediu- se da noiva e lhe implorou guardasse a peça como lembrança, até que pudesse
voltar, e serem então felizes para sempre... Contudo, distraído na França pelos encantos de
outra mulher, não mais regressou... Depressa esqueceu responsabilidades e compromissos,
tornando-se diferente. A pobrezinha, no entanto, fixou-se na promessa ouvida e continua a
esperá-lo. O espelho é o penhor de sua felicidade. Imagino a longa viagem que terá no
tempo, vigiando-o como sendo propriedade sua, até que a lembrança viesse por fim
repousar no museu.
— O assunto — aventei, preocupado - compele-nos a refletir sobre as antigas historieis de
joias enfeitiçadas...
— Sim, sim — ponderou o Assistente —, a influência não procede das joias, mas sim das
forças que as acompanhavam.
Hilário, que meditava a lição maduramente, considerou:
— Se alguém pudesse adquirir a peça e conduzi-la consigo...
— Decerto — atalhou o instrutor—arcaria também com a presença da moça desencarnada.
— E isso seria justo?
Áulus esboçou leve sorriso e obtemperou:
— Hilário, a vida nunca se engana. É provável que alguém apareça por aqui e se extasie à
frente do objeto, disputando-lhe a posse.
— Quem?
— O moço que empenhou a palavra, provocando a fixação mental dessa pobre criatura, ou
a mulher que o afastou dos compromissos assumidos. Reencarnados, hoje ou amanhã,
possivelmente um dia virão até aqui, tomando-a por filha ou companheira, no resgate do
débito contraído.”(23)
(23)
XAVIER, F. C. Espírito ANDRÉ LUIZ. Nos Domínios da Mediunidade, pp. 242 e 243 e 246 a 248.
De se lembrar, aqui, a propósito, que, muitas vezes, o vidente em contato com um objeto que
pertenceu a uma pessoa desencarnada, atrai sua presença. Nesse caso, não só poderá ser vista
e, até, ouvida, como também, se o vidente for também médium psicofônico, por exemplo,
poderá servir à sua comunicação.
A vidência psicométrica pode resultar, também, como visto, do contato do vidente com
certos ambientes. Entre os casos anotados por BOZZANO, atrai a atenção o protagonizado
pela vidente Katerine BATES, conhecida por suas obras de cunho espiritualista. Seu relato é
dos mais interessantes:
“Há alguns anos, já, que comecei a ser penosamente influenciada pela atmosfera psíquica
das alcovas, o que constitui, para mim, que viajo constantemente, pernoitando aqui e acolá,
um grave inconveniente.
Aconteceu-me, mais de uma vez, ter de deixar um quarto de hotel, belo e confortável, por
outro pequeno e escuro, por se me tornar insuportável a atmosfera mental ou moral gravada
no ambiente por qualquer dos seus ocupantes anteriores.
(...) Ha alguns anos, achando-me na província, hospedada em casa de uma amiga, a Sra.
M.., ocupava um espaçoso e belo quarto.
Desde a primeira noite, percebi que aquele cômodo estava misteriosamente saturado da
influência de um homem.
O que me revelava essa influência era uma forte sensualidade, de criatura não má, méis
apenas fraca e inteiramente entregue às circunstancieis e aos seus pendores hereditários, à
falta de poderes inibitórios.
Vários outros traços característicos do seu temperamento me foram revelados
simultaneamente, mas, desses não me lembro muito nítidos, de feição a poder descrevê-los.
O conjunto das impressões foi, contudo, tão pronunciado, que me dispus a iniciar um
inquérito a respeito.
Minha amiga tinha dois filhos no Exército: um, conheci- o eu, nada tinha de comum com o
misterioso ocupante do meu quarto; outro, o mais velho, jamais o vira.
Duvidando que pudesse tratar-se dele, pedi, a pretexto qualquer, me fosse mostrada a sua
fotografia.
O rapaz encontrava-se então nas índias.
Analisado o retrato, senti-me liberta da ansiedade morai que me assaltava, convencida de
que o meu enigma ficaria sempre insolúvel.
Minha amiga tinha ideias preconcebidas quanto às faculdades humanas supranormais,
julgando-as puramente imaginárias. Eis por que me atirava indiretas irônicas, referentes ao
inquérito que qualificava de “uma das minhas habituais fantasieis
Então, disse-lhe: —Agora que tive a prova de que não se trata do seu filho, vou descrever
minuciosamente o caráter do indivíduo que ocupou esse quarto.
Quando terminei minha exposição, a Sra. M... fitou-me grandemente admirada, e, retirando-
se para o quarto contíguo, de lá regressou com o retrato de um cavalheiro para mim
estranho, que me entregou, dizendo: — Confesso que você acabou de descrever exatamente
este meu cunhado, que, de fato, muitas vezes ocupou esse quarto, se bem que meus filhos o
fizessem depois dele.
Analisei, então, o retrato e reconheci nele o ‘tipo’ de homem que se havia revelado de modo
tão evidente pela psicometria.”(24)
(24)
BOZZANO, Ernesto. Op. Cit., pp. 65 a 67.
*
No Brasil, também, não são poucas as ocorrências conhecidas e dignas do maior crédito.
A médium e escritora Yvonne do Amaral PEREIRA (1900-1984), uma das mais destacadas
intermediárias do Mundo Espiritual que nosso País conheceu, relata, por exemplo, várias
experiências pessoais, entre elas, uma ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, assim descrita:
“Visitamos, certa vez, uma amiga de nossa família, cuja residência, muito antiga, de
aparência senhorial, datava do Segundo Império. Tratava-se de uma chácara, já arruinada,
localizada em adiantado subúrbio do Rio de Janeiro. Nossa visita, que se estendeu por seis
dias consecutivos, necessariamente nos obrigou a pernoitar na dita residência outras tantas
noites. Não nos foi possível, porém, conciliar o sono na primeira noite ali passada, enquanto
que nas subsequentes apenas pela madrugada repousávamos ligeiramente, o que nos
debilitou, alterando a saúde. É que o que ali acontecera durante a escravatura, pelos meados
do Segundo Império, nos foi revelado pela própria ambiência onde os fatos ocorreram (...).
A chácara fora uma fazenda de escravos. Assistimos ali, então, a cenas típicas da
escravatura: desapareceram as ruas atuais que estruturam o bairro, a paisagem que compõe o
panorama do momento. Às nossas percepções espirituais (estávamos em vigília e o que
víamos não era como em sonho, nem durante os transportes, mas em nosso estado natural,
embora estando já recolhida), se delineara a fazenda antiga, as senzalas, os milharais, o
canavial, a movimentação cotidiana, acompanhada do cântico dolente e magoado dos
escravos, que iam e vinham, em suas lides obrigatórias, sobraçando pesados cestos ou
carregando à cabeça sacos ou feixes de lenha e ferramentas, ou batendo enxadas, etc. Toda a
excitação de um dia de trabalho, numa pequena propriedade rural, objetivou-se aos nossos
olhos espirituais, atônitos, que não chegavam a compreender o que se passava. No pequeno
pátio lateral, para onde deitavam janelas e portas do aposento que ocupávamos, separado do
terreiro fronteiro por um muro, típica obra de cantaria que denunciava o labor do braço
escravo, vimos uma escrava trajada de saia preta e camisa de algodão cru, lenço branco à
cabeça, mexendo, com enorme colher de pau, em um grande tacho de cobre, cujo conteúdo
refervia sobre um fogão de pedras e tijolos, no próprio chão, parecendo tratar-se do ‘sabão de
cinza’, fabricado em casa, o que era comum pela época, e, até há bem pouco tempo, em
certas cidades do Estado de Minas Gerais. Outra escrava, no mesmo local, em plano aéreo
pouco mais elevado, surrava, com uma palmatória, um ‘moleque’, provavelmente seu filho,
regulando oito a dez anos de idade, o qual, de bruços sobre seus joelhos, esperneava,
gritando sem parar. E vimos um velho escravo atado ao pelourinho pelos pulsos, para o
suplício do chicote, o qual chorava e gemia angustiadamente, invocando o socorro divino:
— ‘Meu Deus do Céu! Meu Anjo da Guarda! Tenham dó de mim!’ — enquanto se repetiam
os estalidos do chicote, acionado pelo capataz.
(...) No dia imediato à primeira noite que ali passamos, participamos à nossa amiga, cujas
ideias eram igualmente espíritas, a singularidade observada, tendo o cuidado, porém, de
omitir os detalhes mais fortes, visto que poderíamos não ser devidamente compreendidas.
Ouvindo-nos o relato do velho escravo ao pelourinho, respondeu, excitada:
— Esta chácara foi uma fazenda de escravos, ao tempo do Império. Ainda existem, nos
fundos do quintal, as ruínas de um pelourinho...’
Com efeito, levando-nos a uma pequena elevação existente nos fundos do extenso terreno,
contemplamos o pedestal, em cantaria pesada, ainda quase intacto, e os restos da coluna onde
eram amarrados os pobres negros, para serem açoitados.
Diante dessas ruínas, nossa alma chorou enternecida, elevando uma prece fraterna em
intenção do pobre velho, cujo drama entrevíramos na véspera, narrado pelas próprias
vibrações locais (...) e também pelo seu algoz, que, certamente, através de uma reencarnação
reparadora, ainda andará peleis ruas do próprio Rio de Janeiro, a exercer o Bem, em
desagravo das odiosas atitudes do passado...”(25)
(25)
PEREIRA, Yvonne A. Devassando o Invisível. 8. ed. R. Janeiro: FEB, 1991, pp. 191 a 194, Cap. VIII.
Faculdade de prever o futuro das pessoas, em contato com um elemento indutor do processo.
A vidência psicométrica precognitiva, fenômeno bem conhecido, encontra-se fartamente
documentado.
Dois casos, entre os vários analisados por BOZZANO, servem de exemplo. O primeiro
deles, publicado no Boletim de Estudos Psíquicos de Marrey, refere-se à vidente Nancy
Phaneg e foi relatado ao pesquisador Edmond DUCHATÈR, pela própria protagonista:
“Entreguei a Phaneg uma joia que constantemente trazia comigo, de há muitos anos.
Logo que a teve em mãos, começou ele a descrever o castelo da Duquesa de Uzès, em
Dampiérre. Depois, acrescentou: ‘Percebo uma senhora morena, acamada numa alcova
amarela. A seu lado está um médico que parece inquietar-se muito com o estado da
enferma... Esteve a senhora doente, ultimamente?’
Diante da minha resposta negativa, disse Phaneg: — ‘Neste caso, a enfermidade que eu vi
deve ainda reaparecer.’
Ora, quinze dias depois, a predição se realizou! Enfermei gravemente, a ponto de inspirar
sérios cuidados ao meu médico assistente.”
O segundo caso, relatado, também, por DUCHATÈR, refere-se à vidente Sra. Feignez, a
quem fora apresentada uma carta, “que ela nem se deu ao trabalho de fitar”, passando logo a
manifestar-se sobre o remetente.
O episódio é assim descrito:
“(...) depois de me traçar exatamente a fisionomia moral e física do Sr. Raimundo Raynal,
declarou ‘que ele morreria de morte acidental, dentro de dois anos, caso viesse a deixar
Paris, e ferido em pleno rosto por um pedaço de ferro, sobre ou perto de um veículo, que
não era de estrada de ferro’.
(...) A 17 de novembro ela declarou, à vista de uma segunda carta, que já havia predito a
morte do rapaz e que ele não escaparia desse perigo, a menos que o impedissem de sair de
Paris.
Atribuo ao ‘sujet’ o aditivo de uma exortação piedosa, qual costumam fazer os psicômetras
para consolo dos consulentes.
‘— Meu Deus!’ - disse — ‘ele poderá, talvez, escapar desse perigo... Depois... além do mais,
eu não sou infalível.’
Acrescentou, entretanto, que a morte sobreviria, de qualquer modo, causada por um pedaço
de ferro.
No dia 24 de novembro o Sr. H. L., amigo do falecido, impressionado com o vaticínio, levou
à vidente uma outra carta de Raynal.
A médium imediatamente reconheceu pelo tato a pessoa de quem se cogitava e de novo lhe
esboçou o seu retrato perfeito. Malgrado as negativas tendenciosas do Sr. H.L., para induzi-
la em erro, reproduziu- se a visão e a confirmação da morte dentro de um ano, e sempre do
mesmo modo.
Ao dizer-lhe o Sr. H. L. que Raynal não poderia afastar-se de Paris, ela lhe declarou que ele
a isso seria constrangido por uma força maior e mais: que a sua ausência seria de um mês,
que a sua morte não seria logo conhecida, e sim dentro de um mês e meio, mais ou menos.
Mobilizado em 4 de agosto, o Sr. Raynal foi morto em 5 de setembro.
No dia 19a Sra. H... levou à Sra. Feignez a última carta de Raynal.
No dia 19 a Sra. H... levou a Sra. Feignez a última carta de Raynal, a fím de obter detalhes
da sua morte e eis o que conseguiu:
A Sra. Feignez declarou que ele não sofrerá um instante, sequer, ao tombar fulminado por
uma bala, na vista direita; que essa bala só a ele vitimara, não em combate, mas em
comissão, quando procurava desempenhar as ordens recebidas, tendo junto de si dois ou
três camaradeis, apenas.”(26)
(26)
BOZZANO, Ernesto, Op. cit., pp. 71 e 72; 74 e 75.
Nessa linha, outras espécies de fenômenos podem ser apontados. Entre eles, por exemplo, os
que dizem com a chamada vidência autoinduzida, em que o vidente busca desvendar o futuro
de uma pessoa, com o auxílio de algo que o estimula em sua percepção (bola de cristal,
espelho, búzios, cartas de baralho, grãos de café, a própria mão do consulente —
quiromancia, etc.).
Nesses casos, contatadas as auras do vidente e da pessoa que o procura, aquele, com apoio
em um elemento indutor de sua predileção, alcança, dentro de certos limites e condições, o
futuro ou o que pode ser o futuro (e, às vezes, também o passado) do consulente.
Muitos, também, são os casos em que o vidente percebe o futuro em contato com a
psicosfera de determinado ambiente. Serve de exemplo um interessante episódio, citado por
Nandor FODOR, relacionado a um vidente, numa excursão que fazia a um lago, na
Inglaterra:
“Minha atenção foi completamente tomada com a beleza extrema da cena diante de mim.
Não havia nenhum som ou movimento, exceto a agitação suave da água sobre a areia em
meus pés. Realmente eu senti um arrepio frio correr através de mim, e um curioso
endurecimento de meus membros, como se eu não pudesse me mover, apesar de desejar
fazê-lo. Senti- me amedrontado, ainda acorrentado ao lugar, e como se impelido a olhar
fixamente a água direto a minha frente. Gradualmente uma nuvem escura pareceu surgir, e
na névoa dela eu vi um homem alto, numa roupa de tweed, pular dentro da água e afundar.
Num momento a escuridão tinha ido, e eu novamente me tornei sensível ao calor e ao brilho
do sol, mas eu estava amedrontado e me senti receoso... Uma semana depois, o Sr. Espie,
um funcionário de banco (desconhecido para mim) cometeu suicídio por afogamento
naquele mesmo lugar. Ele deixou uma carta para sua esposa, indicando que ele tinha por
algum tempo, contemplado a morte.”(27)
(27)
Proceedings, S.P.R., vol. X, p. 332. Conf. FODOR, N. An Encyclopaedia of Psychic Science, p. 320.
**
O exame das numerosas ocorrências ligadas à vidência psicométrica, estudadas há mais de
século e meio, mostra que parte desses processos funda-se, como já mencionado, numa
espécie de interação entre a aura do vidente e a aura do objeto, impregnada de energias de
várias categorias, a se traduzirem, para aquele, em visões e sensações as mais diversas,
dentro de tal quadro de realidade que, seguidamente, o ontem e, às vezes, o amanhã, parecem
desaparecer, tornando-se tudo atual e transparente.
A respeito da psicosfera ambiental de determinado lugar, oportuno lembrar que alguns
autores consignam a existência de uma psicosfera ambiental terrestre, a refletir as vibrações
geradas no planeta, no decorrer do tempo. F. W. H. MYERS designava-a como “ambiente
metaetérico” e BOZZANO observava que “da mesma forma por que os físicos e astrônomos
são levados a admitir que as vibrações luminosas percorrem o espaço infinito sem jamais se
extinguirem, assim também se poderia admitir a persistência virtual de toda forma de
vibrações cósmicas”.(28)
(28)
A escritora inglesa Elza BARKER faz constar em obra de sua autoria (Letters from a Living Dead Man),
interessante observação de um Espírito a respeito da antiga civilização grega: “O éter (psicosfera ambiental)
que domina esta quase ilha gloriosa tem nele gravados, em séries ininterruptas, os fastos de seu passado:
audácias de pensamento e audácias de execução. E os feitos antigos são de tal arte radiantes, que fulguram
através da camada de impressões que se lhes sobrepuseram”. (BOZZANO, Ernesto. Op. cit., p. 70). No caso,
se um vidente entrasse em contato com a psicosfera desse ambiente, poderia perceber sua história.
(Interessante anotar que a tradição esotérica aponta para a existência do akasa (do sânsc.
âkasa ou àkasha), preenchendo todo o espaço e conservando as impressões de tudo o que
acontece no planeta).
O fenômeno psicométrico, por sua complexidade, ainda se nos apresenta de difícil
entendimento. Preciso é, pois, que o conhecimento científico avance ainda muito,
propiciando nomenclaturas conceituais que possibilitem novas revelações espirituais a
respeito.
Entrementes, prosseguem as pesquisas e as constatações de que o bom êxito no processo
psicométrico, também muito depende da ação dos Espíritos desencarnados, operando em
auxílio do vidente, ainda que este, por ignorância, não o perceba. Lembra, a propósito,
ANDRÉ LUIZ: “Como em qualquer atividade coletiva entre os homens, é forçoso convir
que médium algum pode agir a sós, no plano complexo da psicometria. Igualmente, aí, o
sensitivo está como peça interdependente no mecanismo da ação”.(29)
(29)
XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo; Espírito ANDRÉ LUIZ. Mecanismos da Mediunidade.
14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, pp. 145 e 146.
Retrovidência
Televidência
É a vidência a distância.
Nesse tipo de ocorrência, o vidente por meio de um maior desprendimento e, às vezes,
chegando a um processo de transe superficial ou, até, semiprofundo, percebe imagens de
fatos que estão ocorrendo a distância, ou de pessoas situadas em locais diferentes daquele em
que se encontra.
Trata-se de uma ocorrência relativamente comum nas reuniões mediúnicas e fora delas,
apresentando, às vezes, nuanças bem marcantes, principalmente, quando conjugada, como
pode, ainda, ocorrer, com um processo de desdobramento.
Muitos são os casos de televidência documentados. ZÖLLNER, por exemplo, cita um
episódio protagonizado pelo notável médium Andrew Jackson Davis, antes mencionado, que
assim o descreve:
Outro fato, a servir, também, de exemplo, foi o ocorrido com o médium sueco Emmanuel
SWEDENBORG, que, estando em Gothenburg, observou e relatou, em detalhes, um
incêndio que estava assolando Estocolmo, a 300 milhas de distância, relato esse depois
certificado como rigorosamente autêntico.
Esses são alguns dos exemplos clássicos, méis hoje, com o desenvolvimento das práticas
mediúnicas, eventos relacionados com a televidência tendem a se tornar cada vez mais
frequentes.
Transvidência
Clarividência
A clarividência (32) constitui uma ocorrência das mais complexas e intrigantes, e explicá-la,
com precisão, como ocorre, representa, ainda, um dos maiores desafios da mediunologia.
Alguns autores empregam os vocábulos “vidência” e “clarividência” como sinônimos. Aqui, o termo
(32)
Clarividência Ordinária
“Suponhamos que uma carruagem enveredou por uma estrada que vai dar num precipício
que o condutor não pode perceber. É evidente que, se nada ocorrer que a desvie, ela ali se
precipitará. Suponhamos também que um homem colocado de maneira a divisar a estrada
em toda a sua extensão, vendo o perigo que corre o viajante, consegue avisá-lo a tempo de
ele se desviar. O perigo estará conjurado. Da sua posição, dominando o espaço, o
observador vê o que o viajante, cuja visão os acidentes do terreno circunscrevem, não logra
divisar.
Imaginemos que esse homem, do alto de uma montanha, divise ao longe, pela estrada, uma
tropa inimiga dirigindo-se para uma aldeia a que pretende atear fogo. Fácil lhe será,
levados em conta o espaço e a velocidade, prever quando a tropa chegará. Se, então,
descendo à aldeia, disser apenas: A tal hora a aldeia será incendiada, caso o fato ocorrer,
ele passará, aos olhos da multidão ignorante, por adivinho, feiticeiro; entretanto, apenas viu
o que os outros não podiam ver e deduziu, do que vira, as consequências.”(35)
(35)
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 104. Trad. Guillon Ribeiro.
Na realidade, a clarividência, em si, é um fenômeno que, embora muito conhecido,
apresenta-se, ainda, como de difícil explicação, envolvendo, inclusive, questões tão graves
como determinismo e livre-arbítrio.
A esse respeito, impende considerar que se as leis que regem os fenômenos físicos em geral
são presididas por um determinismo absoluto, no sentido de que sua incidência é inevitável ,
com relação às leis que regem o desenvolvimento psíquico, o determinismo se faz mais
ostensivamente presente nas faixas mais primitivas da evolução, dando, gradativamente,
lugar ao surgimento do livre-arbítrio, que, à luz das sucessivas experiências, amplia-se cada
vez mais, de modo que, quanto mais evoluído o indivíduo, maior o índice de
autodeterminação que alcança.
***
Observações
No fenômeno da vidência, como em outros processos mediúnicos, não pode ser descartada a
possibilidade da perturbadora interferência tanto do subconsciente do vidente, ressuscitando
imagens do passado, como da própria imaginação, impulsionada, às vezes, pela vaidade e
pelo espírito de competição.
*
Nessa linha, há também a considerar outro fator de perturbação, que é a mistificação.
Espíritos desencarnados, direcionando o pensamento para a criação de imagens (ideoplastia),
incluindo-se as que dizem com a aparência física, podem mistificar, levando o vidente a
enganos.
Mas, apesar desses perigos, a exigirem, sempre, atenção, a vidência não perde sua
importância e muito pode contribuir para o serviço mediúnico, desde que compreendida a
necessidade de conhecimento, de vigilância e de humildade.
*
A vidência é uma faculdade psíquica que pode servir, ou não, à intermediação de uma
mensagem ou lição a ser transmitida, caso em que adquire caráter mediúnico, propriamente.
Quando ocorre sem essa finalidade, servindo apenas ao próprio vidente, o processo,
evidentemente, apresenta-se como não mediúnico.
O fenômeno tem sido catalogado como mediúnico, porque, geralmente, mostra-se com esse
caráter.
*
Na vidência, como, também, na audiência, o mesmo fenômeno pode ser percebido de
maneira diferente por vários videntes, de acordo com a condição mental de cada um.
Assinala ANDRÉ LUIZ, pela mediunidade de Francisco C. XAVIER:
“As faculdades medianímicas podem ser idênticas em pessoas diversas, entretanto, cada
pessoa tem a sua maneira particular de empregá-las. Um modelo, em muitas ocasiões, é o
mesmo para grande assembleia de pintores, todavia, cada artista fixá-lo-á na tela a seu modo.
Uma lâmpada exibirá claridade lirial, em jacto contínuo, mas, se essa claridade for filtrada
por focos múltiplos, decerto estará submetida à cor e ao potencial de cada um desses filtros,
embora continue sempre a mesma lâmpada a fulgurar em seu campo central de ação.(36)
(36)
Xavier, Francisco C. Espírito André Luiz. NOS Domínios da Me-diunidade, p. 109.
*
No fenômeno da vidência, a percepção visual ocorre independentemente dos olhos físicos,
tanto que há cegos videntes.
A rigor, pois, quem vê é a alma, instrumentada pelo perispírito e, quando encarnada, também
pelo cérebro físico, impondo-se, para isso, como necessário, certo desprendimento do corpo
espiritual, o qual, em certos processos, como no caso da televidência, pode ser mais
acentuado.
Por último, cabe lembrar que assim como acontece na telepatia, um Espírito superior pode
projetar determinadas imagens sobre várias mentes, simultaneamente, de modo que
diferentes videntes percebem imagens semelhantes.
Aliás, diante dessa possibilidade, torna-se, às vezes, difícil discernir a percepção de uma
imagem do que esteja realmente ocorrendo na dimensão espiritual, de outra, forjada e
projetada por um Espírito desencarnado.(37)
Daí, a dificuldade de avaliação, que não dispensa a experiência e o cuidado.
(37)
A propósito, referindo-se à capacidade dos Espíritos mais evoluídos de projetarem imagens de sua
criação plenas de beleza e significado, escreve Emmanuel:
“(...) os Espíritos superiores possuem uma vontade potente e criadora de todas as formas da beleza. Às
vezes, apresentam-se ao vidente grandiosas cenas da história do planeta, multidões luminosas, legiões de
almas, quadros esses que, na maioria das vezes, constituem os pensamentos materializados das mentes
envolvidas que os arquitetam, e que atuam sobre os centros visuais dos sensitivos, objetivando o progresso
geral.”
(XAVIER, Francisco Cândido. Espírito EMMANUEL. Emmanuel. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p.
155. Ideoplasticidade do pensamento.)
VII- AUDIÊNCIA
Modernamente, são muitos os casos que chamam a atenção, por sua peculiaridade. Rosemary
BROWN, por exemplo, a famosa médium inglesa que recebeu várias e importantes
composições musicais de autores célebres, explicava que os compositores ditavam-lhe as
notas musicais, compassos e notações. Algumas vezes, como acontecia com Liszt, conhecia,
antes, a música, ouvindo- a mentalmente ou tocando-a, quando sentia seus dedos guiados
sobre as teclas.(2)
(2) BROWN, Rosemary. Contatos Musicais - Grandes Mestres Compõem do Além. (Orig. Unfínished
Symphonics. Voices from the Beyond). 2. ed. São Paulo: BOA NOVA, 1991, pp. 109 a 112. Trad. Agenor
de Mello.
Prossegue o Mestre:
“No declínio de sua vida, quando já sobre ele se estendia a sombra da morte, em um
momento de calma, de perfeita serenidade, ele chamou um de seus amigos que se achavam
no quarto: ‘Escuta — disse e/e - estou ouvindo música \ O amigo lhe respondeu: ‘Não ouço
nada.’ Mozart, porém, tomado de arroubo, continua a perceber as harmonias celestes.” (4)
(4)
DENIS, Léon. No Invisível. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 174. Trad. Leopoldo Cirne.
Audiência Ordinária
É o tipo mais comum de audição espiritual, sem que nada de especial mostre, a não ser o
próprio fato da possibilidade do registro de sons e vozes do mundo espiritual.
Audiência Xenoglóssica
"... Depois de conversar longo tempo com uma Grande Mente, que já não é deste mundo,
uma outra voz se fez ouvir, falando em língua que eu não conhecia. Defronte de mim estava
a taquígrafa, a quem pedi taquigrafasse foneticamente, em escrita ordinária, as palavras que
eu claramente percebia, da estranha língua, palavras que, para isso, lhe ia repetindo.
Vocábulo por vocábulo, ela as escreveu foneticamente, como eu lhas ditava, tendo o cuidado
de grafá-las de modo a poderem ser lidas exatamente como eu as pronunciava. Doze páginas
foram escritas nessa linguagem misteriosa. Decorridas algumas semanas, tive ocasião de
submeter a mensagem a um douto filólogo, que verificou existir nela mais de um milhar de
palavras em puro sânscrito. Era interessantíssimo o seu conteúdo, pois que se referia às
condições em que hodiernamente se debate a civilização mundial... Advertiu-se-me de que a
mensagem fora dada em língua sânscrita para refutar as teorias de muitos doutos superficiais
que se deleitam em explicar estas manifestações, contáveis entre as mais portentosas da
natureza, como produto do subconsciente.”(5)
(5)
BOZZANO, Ernesto. Xenoglossia. 3. ecl. Rio de Janeiro: FEB, 1980, p. 28. Trad. Guillon Ribeiro.
Audiência Psicométrica
É a que resulta, como a vidência, do contato com objetos, pessoas ou ambientes, ouvindo
sons e vozes ligados ao seu pretérito.
Normalmente, acompanha a vidência psicométrica, em suas diversas modalidades, inclusive,
a precognitiva.
Teleaudiência
Poderia significar que esse tipo de comunicação, puramente mental, passaria, depois,
possivelmente, por um processo de decodificação, ou outro, ainda desconhecido, que
emprestaria ao audiente a sensação de estar ouvindo uma mensagem concretamente
verbalizada.
***
Como ocorre com a vidência, a audição espiritual, dada a condição humana atual, encontra-
se, ainda, sujeita a interferências várias, requisitando, naturalmente, o necessário
discernimento. Entre essas, a própria mistificação por parte de Espíritos menos esclarecidos,
que se manifestam com falsos aconselhamentos e outras imposturas. Tal fato mostra quão
delicado é o exercício mediúnico e como imprescindíveis são o conhecimento e a vigilância.
De se lembrar que, devido à ignorância e à invigilância, muitos médiuns acabaram perdendo
a oportunidade de servir, comprometendo seus programas reencarnatórios, ao lado daqueles
que, pelo inteiro desconhecimento da Doutrina Espírita, são submetidos a apressados
diagnósticos que resultam em sua segregação como doentes mentais.
Aliás, nesse domínio, a história mostra bem quão sofridos, maltratados e confundidos têm
sido os médiuns. Videntes e audientes são tidos como portadores de transtornos psicológicos
graves, inclusive de caráter esquizofrênico, e médiuns psicomotores são avaliados como
“possuídos pelo demônio”, em plena atualidade, século e meio depois do advento da
Doutrina Espírita, a demonstrar o quanto ainda ignora o ser humano sobre sua própria
natureza espiritual.
Naturalmente, certo tipo de visões e audições podem ser fruto de transtornos psíquicos,
provisórios ou não, a exigirem diagnósticos diferenciais conscientes e consequente
tratamento, mas impõe-se não perder de vista que, também, muitos chegam à perturbação,
justamente, por não assumirem seus deveres com a mediunidade e o Bem, livremente
aceitos, aliás, no período pré-reencarnatório, como solução para seus problemas espirituais.
Tais situações, quase sempre, denotam a presença de um processo obsessivo, que, graças à
Misericórdia Divina, pode encontrar efetiva solução, reabrindo oportunidades de
conhecimento e serviço.
VIII- PSICOFONIA
Essa experiência refere-se a uma evocação (procedimento, aliás, que hoje, pelas
consequências de ordem anímica a que pode levar, não é aconselhado), mas, geralmente, a
pessoa encarnada, quando se manifesta mediunicamente, encontra-se repousando em sono
natural, ou é levada a esse estado, pelos Mentores Espirituais que a assistem, para que se
comuniquem, dentro de uma programação que exclui a necessidade da evocação.
A esse respeito, cabe ainda assinalar que não são raros, também, os casos de pessoas prestes
a desencarnar, manifestarem-se em uma comunicação de despedida. BOZZANO, em
trabalho clássico, cataloga diversos episódios rigorosamente estudados, entre eles, a servir de
exemplo, interessante fato narrado pela famosa pesquisadora Emma Hardinge BRTTTEN
(Modern American Spiritism):
“Nenhuma notícia dos filhos... Pela noite, quando os desolados pais se reuniram em sessão,
caiu a Sra. Laird em sono mediúnico e, em tal condição, se manifestou o espírito de James
Marsden, que assim falou:
Avisa a meu pai que parta imediatamente para Donaldsonville e uma vez ali, que chame o
Cap. Somers comandante da minha companhia. (...)
O Dr. Marsden partiu logo para a localidade indicada e, cinco semanas após, regressou
com um ataúde que continha os restos mortais do rapaz. O Cap. Somers lhe informou que
seu filho caíra gloriosamente coberto de ferimentos, achando-se ainda vivo quando fôra
transportado para o posto de socorro onde expirara lentamente.
Comparando-se as datas pôde-se verificar que o seu espírito se manifestara à Sra. Laird,
algumas horas cintes de morrer, quando jazia moribundo na tenda-hospital.
Antes de expirar, havia pedido ao Cap. Somers que informeisse seus pais da sorte que tivera
e que o mandasse enterrar num lugar bem marcado a fim de facilitar ao pai o trabalho de
identificá-lo quando viesse buscar os despojos. O Cap. Somers fizera-lhe a vontade méis não
chegou a escrever ao seu progenitor porque adoecera gravemente. Quando viu este chegar,
supunha que ignorasse tudo e quando o velho lhe narrou todo o caso, informando-o do
modo como soubera do acontecimento, o capitão ficara profundamente impressionado...” (2)
(2)
BOZZANO, Ernesto. Comunicações Mediúnicas Entre Vivos. 4. ed. São Paulo: EDICEL, 1987, p. 112.
*
A psicofonia é um dos tipos mais comuns de mediunidade, podendo manifestar-se como
psicofonia consciente, semiconsciente ou inconsciente, e sob a forma ordinária ou
xenoglóssica.
PSICOFONIA
CONSCIENTE
SEMICONSCIENTE
INCONSCIENTE
ORDINÁRIA
XENOGLÓSSICA
(Xenopsicofonia)
Hoje, graças ao desenvolvimento da prática mediúnica, à luz da Doutrina Espírita, esse tipo
de fenômeno tem sido cada vez mais observado, compreendendo-se que sua ocorrência tem
por base o repertório de línguas faladas pelo médium em vidas pretéritas, depositadas em seu
subconsciente profundo e servindo de valioso material para os Espíritos se comunicarem, em
sua manifestação xenoglóssica.
É que nada se perde em nosso longo aprendizado evolutivo. Apenas ocorre o esquecimento
temporário de parte do conhecimento adquirido, que, todavia, quando necessário, pode ser
usado no processo mediúnico, ou não.
Mediunização Psicofônica
Por vezes, conforme o tipo de mediunização, a comunicação oral pode ser acompanhada de
manifestações motoras (movimento das mãos, etc.).
Examinando-se o fenômeno do transe mediúnico psicofônico, podem-se admitir nesse
processo três níveis de mediunização.(12)
(12)
Empregam-se, nesta obra, os termos mediunizar e mediunização, em substituição aos vocábulos
“incorporar” e “incorporação”, notadamente impróprios para designar a ação do Espírito sobre o médium e
seus efeitos. O verbo mediunizar, ao que consta, aparece pela primeira vez numa dissertação dos Espíritos
ERASTO e TIMÓTEO, reproduzida por Allan KARDEC, em O Livro dos Médiuns: “Por isso é que
gostamos de achar médiuns (...) munidos de materiais prontos a serem utilizados, numa palavra: bons
instrumentos, porque, então, nosso perispírito atuando sobre o daquele a quem mediunizamos, nada mais
tem que fazer, senão impulsionar a mão que nos serve”. (Op. cit., p. 279, Cap. XIX - também, p. 300, n2
236, Cap. XXII). Têm-se, assim, os seguintes significados:
- Mediunizar: atuar no médium e por ele comunicar-se ou propiciar outros tipos de manifestação.
- Mediunização: ato e efeito de mediunizar.
MEDIUNIZAÇÃO
DE 1º GRAU MÉDIUM CONSCIENTE (Transe superficial)
DE 2º GRAU MÉDIUM SEMICONSCIENTE (Transe semiprofundo)
DE 3º GRAU MÉDIUM INCONSCIENTE (Transe profundo)
E não é raro que, nesse processo, ocorram, também, com a psicofonia, manifestações
motoras as mais diversas.
Devido a esse acoplamento perispirítico, é comum os videntes captarem, durante a
manifestação, ora o semblante do Espírito, ora o do médium, dando a impressão de que o
comunicante “entrou no corpo” deste.
Daí o designar-se o processo, erroneamente, como “incorporação”, quando, na verdade, o
que se verifica é a transitória interação perispirítica e psíquica, entre comunicante e
médium.(15)
Do latim incorporare, o vocábulo incorporação, vem sendo usado com o significado de “tomar o corpo
(15)
de outro”. Ocorre que o Espírito, na manifestação, não toma o corpo do médium, propriamente, pois que,
embora as eventuais expressões motoras, a ligação que se estabelece, como assinalado, é mais de caráter
psíquico. Observe- -se, a propósito, que KARDEC não empregou esse termo.
*
No fenômeno psicofônico, impõe-se levar em conta as complexidades envolvidas, entre as
quais, as dificuldades naturais que os Espíritos encontram em comunicar suas ideias, dada a
realidade de que cada mente é um universo próprio, a refletir um pretérito milenar de
experiências e aquisições.
George Vale OWEN transcreve, a propósito, algumas importantes observações do Espírito
Kathleen, a respeito:
“Vemos, algumas vezes, quando lemos as mensagens que lhe foram dadas, que não estava
traduzido perfeitamente o nosso pensamento; muito do que queríamos dizer, nelas não se
acha, e outras vezes, se encontram menos coisas do que tínhamos em mente comunicar.
É a consequência natural do véu espesso que separa ambas as esferas, aquela donde
falamos e aquela em que o receptor vive.
São tão diversas as atmosferas das duas esferas que, passando de uma para a outra, há
sempre diminuição de velocidade. É essa diminuição é tão violenta e acentuada, que se
produz um abalo na corrente dos nossos pensamentos. (...)
É essa uma das muitas dificuldades que se nos deparam.”(16)
(16)
OWEN, G. Vale. A Vida Além do Véu. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990, p. 37. Trad. Carlos Imbassahy.
Como a comunicação mediúnica é um processo que se desenvolve em duas dimensões,
simultaneamente, compreende-se que diversos fatores podem interferir, em prejuízo de sua
autenticidade, entre os quais,
(1) a resistência e a desconfiança do médium, que pode prejudicar a sintonia, fundamental na
mediunização; (2) a interferência de Espíritos menos esclarecidos, perturbando a operação
mediúnica;(17)
(17)
V. 2- Parte, Cap. III, Ocorrências Negativas.
(3) a própria interferência do médium, misturando suas ideias com as do comunicante e, até,
(4) adiantando-se à comunicação, ao registrar os primeiros pensamentos do Espírito. Elucida
Deolindo AMORIM, Espírito, a propósito que “a mente do médium como um todo pode
disparar e adiantar-se, ante nosso toque, passando a desenvolver sozinha uma série de ideias,
deixando-nos à sorrelfa.(18)
(18)
SOUZA, Élzio Ferreira. Espírito DEOLINDO AMORIM. Espiritismo em Movimento. Salvador (BA):
CÍRCULOS, 1999, p. 10. Conf. ALMEIDA, Waldemir
Não sem razão, pois, observam os Espíritos que dificilmente se encontra um filtro mediúnico
capaz de transmitir sua mensagem com inteira fidelidade.
De fato, dada a atual condição humana, está sempre presente a possibilidade da interferência
do médium, notadamente de caráter emocional, alterando a mensagem do Espírito
comunicante.
Importante, pois, a educação do medianeiro para que, disciplinado, não se torne,
desnecessariamente, mais um fator de preocupação aos Espíritos condutores do processo,
que tão abnegadamente operam para o bom êxito da comunicação.(19)
(19)
Fenômeno que ainda nos surge de difícil compreensão é o que se pode designar como transdução
mediúnica e que, de uma maneira mais direta, ocorre no fenômeno psicofônico.
Refere-se à capacidade do médium de expressar, com suas palavras, o pensamento do Espírito, que, às
vezes, até desconhece a língua do médium.
Entende-se, assim, a dificuldade que, muitas vezes, encontram os Espíritos Superiores em suas
comunicações e a preocupação em encontrar instrumentos capazes de expressar seu pensamento com mais
fidelidade. Daí, justamente, o cuidado que deve ter o médium com o seu aperfeiçoamento.
De se observar que mesmo na xenoglossia, em que o Espírito, graças aos recursos mnemônicos do médium,
fruto de suas experiências passadas, pode comunicar-se em outra língua, não deixa de ocorrer o fenômeno de
transdução mediúnica.
IX- PSICOGRAFIA
PSICOGRAFIA
SEMIMECÂNICA
MECÂNICA
ORDINÁRIA
XENOGLÓSSICA
(Xenopsicografia)
NORMAL
ESPECULAR
“Primeira entrevista de Yvonne Pereira”. Revista Internacional do Espiritismo. Matão (SP), nº 2, Maio de
(2)
Léon DENIS (1846-1927), a propósito, cita algumas experiências narradas pelo famoso
médium inglês, William Stainton MOSES (1839-1892):
O termo xenoglossia (Do gr. xeno, estrangeiro; glossa, língua) foi introduzido por Charles
RICHET (1850-1935).
Nessa mesma época, Jean Martin CHARCOT (1867- 1936), fundador da famosa escola de
Salpêtrière, desenvolvia experiências, surpreendendo seus assistentes com inquestionáveis
comprovações da mediunidade xenoglóssica (ainda que persistisse em designar como
“histéricas” - como era comum em certos meios - as médiuns que o serviam, embora já
conhecidos os memoráveis trabalhos de KARDEC e RICHET...).
Uma das experiências de CHARCOT, a retratar bem esse tempo, foi protagonizada pela
médium Aline, internada para tratamento, como, aliás, ocorreu com tantos outros médiuns
nesse tempo.
Depois de apresentá-la aos professores assistentes, convidou-os a participar da experiência:
“Vamos evocar Espíritos”, — disse. “Busquemos na história da Humanidade os mais
luminosos e perguntemos-lhes sobre as obras que produziram, o trabalho que tentaram sem
êxito e a obra que projetaram deixando-a interrompida com seu desaparecimento”.
Laborde, professor de Sociologia, pede a palavra e depois de cinco minutos de meditação,
diz: “Evoquemos o Espírito de Galeno, perguntando-lhe que observação importante, fez,
depois da primeira dissecação”.
Pela médium, respondeu Galeno: “O corpo humano não chegou à sua perfeita conformação.
Os sistemas de circulação e inervação estão bastante unidos e relacionados na obra da
economia, méis o sistema linfático sofrerá uma evolução de grande proveito, sobretudo, para
a longevidade da raça humana. Em alguns animais inferiores de vida bem longa, já se
poderia realizar experiências comprobatórias dessa afirmação”.
Toda essa luminosa comunicação de Galeno foi escrita por Aline na lousa, em caracteres
gregos e no idioma antigo, do tempo do pai da Medicina!
Segundo, um dos assistentes, Federico VIVES, diante das fortes impressões causadas nos
presentes, recomendou CHARCOT: “Senhores, não pretendais avançar a vossa época; não
busqueis raciocínio algum que produza a explicação clara e verdadeira de nossas
experiências. Contentem-se com a observação experimental que acabais de presenciar. (...)
Contudo, estudai-as... (...) Ide com passo firme, ânimo infatigável, e trabalhai com
entusiasmo para que chegueis à solução destes belíssimos problemas”.(10)
(10)
GOMEZ, Quintin López. Diccionário de Metapsíquica y Espiritismo. Barcelona (Espanha): CASA
EDITORIAL MAUCCI, pp. 436 e 437 - Xenoglossia.
(11) RICHET, Charles — Traité de Métapsychique, pp. 226 e 227, Cap. III.
Obviamente, tal fenômeno não se caracteriza, propriamente, como psicografia xenoglóssica,
mas, sem dúvida, serve à demonstração da extraordinária riqueza do fenômeno mediúnico.
Com o desenvolvimento das pesquisas psíquicas e do Espiritismo, os fenômenos
xenoglóssicos tornaram-se cada vez mais conhecidos, multiplicando-se os médiuns que
facultam sua ocorrência.
*
No Brasil, destacam-se médiuns famosos como Cármine MIRABELLI (1889-1951),
Francisco Cândido XAVIER (1910-2002), Divaldo Pereira FRANCO (1927), e outros,
servindo a notáveis demonstrações xenoglóssicas.
Com MIRABELLI, era comum ocorrer, como, às vezes, com outros médiuns, a
mediunização múltipla, tanto ordinária, como xenoglóssica.
Na noite de 4 de novembro de 1928, por exemplo, na residência de seu amigo Bernardo
PRUZE, no Brooklin Paulista, manifestou-se o Espírito CARDEAL RAMPOLLA, que falou
em italiano, durante todo o tempo em que o médium, concomitantemente, escrevia uma linda
mensagem, em caligrafia gótica alemã, que foi assinada por Ricardo WAGNER.(12) O
médium, aliás, psicografava em 28 idiomas, incluindo o chinês, árabe, persa, japonês, caldeu
e o russo. Em transe psicofônico, expressava-se em 26 línguas.
(12)
PALHANO JR., L. Mirabelli: Um Médium Extraordinário. Rio de Janeiro: CELD, 1994, p. 74.
*
Tanto na psicografia semimecânica, como na mecânica, ordinária ou xenoglóssica, o Espírito
comunicante pode expressar-se de forma normal, ou seja, de modo que sua mensagem pode
ser lida diretamente, como ocorre com qualquer texto, ou em forma especular, em que o
texto é psicografado em sentido inverso ao grafismo normal da língua e cuja leitura requisita
um espelho.
Um dos primeiros casos documentados de psicografia especular foi no século XIX. Consta
dos Proceedings da Society for Psychical Research (SPR), e foi relatado por Frederic W. H.
MYERS:
**
O Processo Psicográfíco
Por último, uma referência ao processo que se pode denominar psicodigitação ou psicografia
digital, em que o Espírito, por meio do médium, transmite sua mensagem utilizando as teclas
de um computador.
São, ainda, muito raras, as notícias a respeito, mas, com os avanços tecnológicos que
marcam nosso tempo, nada impede que isso ocorra, se o comunicante e o médium forem
conhecedores da respectiva técnica.(17)
(17)
Segundo Marlene NOBRE, o médium e expositor Élzio Ferreira de Souza recebeu seus livros e
mensagens por esse meio. (V. NOBRE, Marlene. O Dom da Mediunidade. São Paulo: FE, 2007, p. 131)
“O Sr. Oscar de Oliveira Borges procurou Mirabelli para que este lhe desse um conselho
sobre determinada carta que havia remetido a Nova York. O médium, atendendo,
transportou-se, em espírito, àquela cidade americana, descreveu ao interessado o
andamento dos negócios e revelou os passos dados nesse sentido, naquela cidade, alguns
dias após a remessa da carta. Numa reunião posterior, diurna, na residência do Sr. Oscar,
na presença de Mirabelli e de outras pessoas, chegou, pelo correio, a resposta esperada. A
carta estava escrita em inglês e o Sr. Oscar disse que precisava pagar a um tradutor, para
conseguir a versão do texto em português. Mirabelli, naquele mesmo instante, passou a um
transe mediúnico e houve a incorporação de uma entidade espiritual. A carta permaneceu
nas mãos do Sr. Oscar, enquanto o médium, em transe, numa máquina de datilografia, em
poucos minutos, traduziu-a, corretamente, para o português, francês, italiano, alemão e
hebraico. A carta resposta não diferia, em uma vírgula sequer, da comunicação obtida por
Mirabelli.”(18)
(18)
PALHANO JR., L. Mirabelli: Um Médium Extraordinário, pp. 183 a 187.
Se ontem os recursos datilográficos podiam servir à comunicação dos Espíritos, nada mais
natural, hoje, que o computador seja usado para tal fim.
E não só o computador. Francisco Cândido XAVIER, como sabido, chegava a grafar em
Braille (sistema de escrita para cegos, com pontos de relevo que são produzidos com um
aparelho próprio para isso).(19)
(19)
V. LOUREIRO, Carlos Bernardo. A Mediunidade Segundo o Espiritismo. São Paulo: Mnêmio Tulio,
1996, p. 19.
Indubitavelmente, fenômenos como esses, e numerosos outros, servem à decisiva
comprovação da realidade interexistencial do ser humano.
X- PSICOPICTURA
Essa faculdade também foi estudada por KARDEC, que classificou seus detentores como
médiuns pintores ou desenhistas (“os que pintam ou desenham sob a influência dos
Espíritos”)(2)
(2)
V. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, p. 234, Cap. XVI.
“Havia sido pedido pelos espíritos que deixássemos papei e lápis para desenho, pois Uemoto
nos prometia uma surpresa para essa noite.
Os passinhos miúdos aproximaram-se da primeira fila de cadeiras. Nós estávamos sentados
na segunda fila; na primeira não se sentara ninguém. Notamos que alguém semelhante a uma
criança chegava perto das cadeiras e sentava-se em minha frente. Em seguida, ouvimos o
barulho ou ruído de um lápis que corria vertiginosamente sobre papel. Tivemos a ideia de
que Uemoto, a cinquenta centímetros de nós, desenhava. O ruído do lápis produzia-se com
certa altura e penso que todos que estavam na segunda fila de cadeiras o ouviam. Enquanto
isso, nos foi determinado que se batesse a chapa fotográfica da cabina.
O Márcio preparou-se e em seguida bateu o magnésio. Toda a cabina se iluminou com a luz
do magnésio durante alguns segundos e nós pudemos então ver no fundo da cabina, sentado
numa cadeira, o médium Fábio, sem camisa, com o peito descoberto e os músculos
relaxados. Das sueis narinas saíam dois cordões grossos de uma pasta branca que lhe escorria
sobre o queixo, cobrindo-o. Ele gemia alto. E então eu pude ver à minha frente, desenhando,
a figura do pequeno japonês, Uemoto. Ele continuava a desenhar e o ruído do lápis
continuava a se produzir. Não via as suas feições porque ele estava como eu, atrás da
máquina fotográfica e sentado à minha frente, de costas para mim, mas via a sua figura
perfeitamente e o movimento vertiginoso de sua mão.
Na cabina, o Fábio, que foi fotografado e cuja fotografia posteriormente revelada, foi e é a
prova da sua permanência lá dentro; aqui fora, Uemoto, escrevendo, desenhando, pequeno,
absolutamente diferente de todas as pessoas presentes.
Vi os dois perfeitamente: o espírito materializado, desenhando e o médium, em transe,
gemendo.”(5)
(5)
RANIERI, R.A. - Materializações Luminosas. 5. ed. São Paulo: FEESP, 1995, pp. 88 a 97. (V. adiante,
Materialização).
Anote-se, por fim, que, enquanto os registros referentes a esse fenômeno são cada vez mais
raros, os que dizem com a psicopictura, propriamente, tendem a se tornar notadamente mais
frequentes.
XI- PSICOMÚSICA
Tipo de mediunidade que faculta aos Espíritos compor e, até, executar músicas. O processo
da composição musical guarda, geralmente, semelhança com a psicografia. Apenas as
palavras são substituídas por notas musicais, marcadas mecanicamente, ou não, na pauta. Já
a execução musical envolve uma atividade psicomotora.
Médiuns há, todavia, que captam as notas musicais por via de audição espiritual (audiência).
Diversos foram os médiuns que alcançaram fama, atraindo a admiração de críticos, músicos
e compositores de todo o mundo.
Jesse Francis Grierson SHEPARD (1849-1927), mediunizado por LISZT e THALBERY,
tocava, quase sempre, em transe profundo, tanto no claro, como no escuro.
Como ocorre com alguns médiuns psicomusicais, Shepard mostrava outras aptidões
psíquicas, entre elas, a de efeitos físicos: às vezes, a música era produzida pelo piano,
estando de teclado fechado!
George AUBERT servia, com sua mediunidade, a vários compositores clássicos, entre eles,
BEETHOVEN, BERLIOZ, MENDELSOHN, MOZART, CHOPIN, SCHUMANN, LISZT e
WAGNER, sem nunca ter estudado harmonia, técnica ou improvisação.
Em 1906, AUBERT foi investigado pelo Instituto Psicológico de Paris (Institut Général
Psychologique), que, depois de submetê-lo a diversos controles e experiências, reconheceu
como absolutamente autênticas as comunicações que recebia.
Numa experiência, em processo de mediunização mecânica, executou um clássico enquanto
lia atentamente um trabalho filosófico!
Em outra, tocou uma sonata de MOZART com os olhos vendados.
A propósito, segundo informa KARDEC, na Revue Spirite (Maio de 1859), MOZART
produziu em 1859, por meio do médium Bryon DORGEVEL, um fragmento de sonata.
Tom BLIND, uma criança da Geórgia, EUA, podia tocar duas melodias no piano, ao mesmo
tempo, uma com cada mão, enquanto cantava uma música de uma ária diferente! Foi um dos
mais raros casos de mediunidade infantil (mediunidade psicomusical múltipla).(1)
(1)
C. FODOR, Nandor. Enciclopaedia..., p. 260.
Vários outros casos têm surgido no mundo, merecendo destaque, nos dias atuais, o trabalho
da notável médium inglesa, Rosemary BROWN (27/7/1916 - 16/11/2001), que recebeu mais
de quatrocentas peças musicais de um grupo de compositores famosos, organizado por
LISZT, seu Mentor: CHOPIN, SCHUBERT, BEETHOVEN, BACH, BRAHMS,
SCHUMANN, DEBUSSY, GRIEG, BERLIOZ, RACHMA-
NINOFF e MONTEVERDI.(2)
(2)
V. BROWN, Rosemary. Contatos Musicais. Grandes Mestres Compõem do Além. (Orig. Unfinished
Symphonies - Voices from the Beyond). 2. ed. São Paulo: BOA NOVA, 1991, pp. 13 e segs.
Rosemary, também médium vidente e audiente, esclarecia que, às vezes, antes de compor, o
Espírito lhe transmitia o som da música; outras vezes, ditava-lhe, desde logo, as notas
musicais, que ia colocando na pauta, pouco a pouco, enquanto ouvia as observações. E
ocasiões havia em que, mediunizada, sentava-se ao piano e deixava que suas mãos,
enrijecidas pelo trabalho doméstico, corressem hábeis pelo teclado, executando as músicas
dos mestres da música clássica.
Vale registrar, a respeito, que percebendo o grande interesse que os britânicos mostravam
pelo trabalho da médium, a BBC-1 de Londres chegou a convidá-la para uma série de
demonstrações e o que se viu foi uma sensacional demonstração da imortalidade do Espírito:
milhares de pessoas presenciaram-na recebendo, nota por nota, um concerto de
BEETHOVEN! A seguir, assentou-se ao piano e executou uma sonata inteira. Depois, como
se fosse dotada de prodigiosa memória, escreveu-a!
Num programa da BBC-2, escreveu um concerto de SCHUBERT, executado logo depois
pelo pianista Stephen BISHOP.
Várias gravações, reportagens publicadas em diversos periódicos, inclusive, na Life — na
época, a revista de maior circulação do mundo trouxeram-lhe extraordinária fama mundial,
sendo requisitada pela TV europeia e comentada por todos os jornais do mundo. Para ela o
que ocorria era muito simples: “apenas a prova de que os Espíritos podem se comunicar”.(3)
(3)
Cf. Anuário Espírita, Araras, (SP): IDE, 1971, p. 77.
“Enquanto era ditada a mensagem, meu espírito se achava separado do corpo, de modo que
eu examinava, a distância, minha mão a escrever. A importância dos fatos é tal que precisa
de uma exposição minuciosa e atenta do que se passou.
Eram duas horas e trinta minutos da tarde e me achava sozinho em meu quarto.
Repentinamente senti vontade de escrever mediunicamente, coisa que já não me sucedia há
dois meses. Sentei-me à mesa e a primeira parte da mensagem foi escrita rapidamente,
depois do que passei provavelmente ao estado de ‘transe’. Minha primeira recordação foi a
de ter-me visto ‘em espírito’ junto do meu corpo, que vi sentado à mesa, tendo a pena entre
os dedos e a mão no papel. Observando tudo com imensa estupefação, notei que o corpo
físico estava unido ao corpo espiritual por um cordão fino e luminoso e que os objetos
materiais pareciam ser sombras, ao passo que os espíritos presentes pareciam sólidos e
reais.
Por detrás de meu corpo material achava-se Rector (espírito) com uma das mãos em minha
cabeça e a outra, superpondo a mão direita, empunhando a pena. A pouca distância
encontrava-se Imperator, com alguns espíritos que há muito se comunicavam comigo e
depois ainda outros espíritos que eu conheci, dispostos em círculos e observando
atentamente a experiência. Do teto, ou, antes, através do teto, espalhava-se uma
luminosidade infinitamente doce e, por intervalos, raios azuis dardejavam o meu corpo.
Cada vez que tal se produzia, via o meu corpo fremir e sobressaltar; era um meio de
saturação e revigoramento dele. Observei, além disso, que a luz do dia era diluída, que a
janela parecia escurecida e que a luminosidade que permitia enxergar era de origem
espiritual.
Imperator explicou que eu estava assistindo a uma cena real, que me era oferecida para me
instruir sobre o modo de operar dos espíritos. (...) Passado certo tempo, ordenaram-me que
eu reentrasse em meu corpo e imediatamente tomasse nota de quanto havia visto. Já não me
recordo do instante em que tal aconteceu, presumindo que o meu espírito tornou a passar
pelo estado de ‘transe’.
No momento em que redijo estas noteis, só sinto leve dor de cabeça. Estou absolutamente
certo do que aconteceu e o transcrevo lentamente, exatamente, sem o menor exagero. Posso
ter omitido certos fatos, mas nada alterei, nada acrescentei.”(3)
(3)
BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Bilocação (Desdobramento), ed. S. Bernardo do Campo (SP):
CORREIO FRATERNO, 1990, pp. 77 e 78. Trad. Francisco Klors Werneck.
“Creio ser útil narrar-vos um fenômeno que me aconteceu por duas vezes o que parece
provar que a consciência pode funcionar independentemente do cérebro.
Por duas vezes, em completo estado de consciência, vi meu corpo inanimado, com a
sensação de ser ele um objeto exterior a mim. Não procuro explicar como vi sem olhos;
apenas atesto a ocorrência.
A primeira vez foi na cadeira de um dentista. Quando era anestesiado, tive a sensação de
acordar e me sentir a flutuar no alto do aposento, de onde eu olhava, com o maior espanto,
o dentista que me fazia o tratamento e, ao seu lado, o assistente encarregado da anestesia.
Via meu corpo inerte e tão distintamente como todos os objetos que lá se achavam,
formando tudo como que um quadro vivo. Tal coisa só durou alguns segundos. Novamente
perdia consciência e despertei na cadeira com a impressão bem clara do que havia visto.
A segunda vez estava em Londres, hospedado em um hotel. Acordei sofrendo algo (tenho o
coração um pouco fraco) e, algum tempo após o meu despertar, tive um desfalecimento.
Grande foi a minha surpresa ao encontrar-me imediatamente no alto do quarto, de onde eu
via, assustado, meu corpo inerte na cama, de olhos cerrados. Tentei em vão reentrar em meu
corpo e concluí que estava morto. Pus-me a pensar no que diriam os hóspedes do hotel,
meus parentes e meus amigos. Perguntava- me se haveria inquérito judicial, em que iriam
dar os meus negócios. Certamente, eu não havia perdido a memória, nem a consciência de
mim mesmo. Via meu corpo inerte e pude observar o meu rosto, contudo não pude
abandonar o quarto, sentindo-me, por assim dizer, acorrentado, imobilizado no canto em
que me achava.
Após uma ou duas horeis, ouvi bater à porta (fechada a chave) vezes seguidas, sem poder
dar sinal de vida. Pouco depois o porteiro do hotel apareceu na sacada (munido de uma
escada de salvamento). Vi-o entrar no quarto e olhar ansiosamente o meu rosto e em
seguida abrir a porta. Pouco depois entraram o gerente do hotel e outras pessocis. Veio um
médico, vi-o sacudir a cabeça, ao auscultar-me o coração, e depois introduzir uma colher
entre os meus lábios. Senti uma perturbação e acordei na cama. Tudo isso durou pelo menos
duas horas...”(4)
(4)
BOZZANO, Ernesto. Op. cit., pp. 49 e 50.
*
Importante observar que embora os autores, geralmente, tenham empregado os termos
“desdobramento" e “desprendimento”, para designar o mesmo fenômeno, é possível
estabelecer, tecnicamente, uma certa diferença.
O desprendimento (ato de soltar-se) é fenômeno básico, aliás, em todos os processos
mediúnicos ou de simples percepção do mundo espiritual, visto que esses só se viabilizam
graças a certa capacidade que tem o perispírito de desamarrar-se, por assim dizer, das teias
físicas, tornando-se, por isso, mais sensível.
Por tratar-se, justamente, de um fenômeno natural e comum, o desprendimento insere-se no
álbum de possibilidades de toda pessoa - mormente em situação de repouso ou sono.
De se lembrar, a propósito, que KARDEC, em O Livro dos Espíritos, no capítulo que dedica
à “Emancipação da Alma”, destaca o ensino dos Espíritos Instrutores a respeito, mostrando
que sempre que se afrouxam os laços físicos, o Espírito procura desprender-se do corpo: “O
Espírito recobra a sua liberdade quando os sentidos entorpecem; ele aproveita para se
emancipar, todos os instantes de descanso que o corpo lhe oferece. Desde que haja
prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, e quanto mais fraco estiver o corpo,
mais o Espírito estará livre". E, a seguir, referindo-se ao tipo de desprendimento que ocorre
no estado de semiconsciência, habitual na fase de pré-sono, anota: “É assim que o cochilar,
ou um simples entorpecimento dos sentidos, apresenta muitas vezes as mesmas imagens dos
sonhos”.(8)
(8)
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 55. ed. São Paulo: LAKE, 1996, item 407, p. 168. Trad. J.
Herculano Pires.
*
Já o desdobramento (fazer-se em dois), propriamente, implicaria um desenvolvimento do
processo de desprendimento — inerente, como visto, a todo fenômeno mediúnico -, com
uma emancipação maior do Espírito em relação ã organização física, propiciada por
condições perispiríticas especiais, e ensejando o surgimento de outra forma corporal,
semelhante à do seu corpo físico {duplicação corpórea), a ocupar - ou aparentando ocupar -,
também, um lugar diferente daquele em que está o corpo (bilocação).
Verifica-se, assim, que nem todo desprendimento, conforme o conceito exposto, significaria
desdobramento (duplicação corpórea e bilocação).
Mas, se nem todo desprendimento resultaria em duplicação corpórea, propriamente, seria
metodologicamente útil aceitá-lo, quando for o caso, como a fase inicial - e natural - do
processo de desdobramento, como aventado, ainda que seguidamente, a transição entre os
momentos de desprendimento e de desdobramento ocorram tão rapidamente — quase
instantaneamente — que se apresenta quase imperceptível.
*
Século e meio de observações e pesquisas permitem, hoje, a construção de um quadro
classificatório que abranja as manifestações conhecidas.
DESDOBRAMENTO
ESPONTÂNEO
INDUZIDO
AUTOINDUZIDO
HETEROINDUZIDO
CONSCIENTE
SEMICONSCIENTE
INCONSCIENTE
VISÍVEL
TANGÍVEL
NÃO TANGÍVEL
NÃO VISÍVEL
Outras vezes, o próprio desdobramento surge como um fim em si mesmo, propiciando, sob a
égide dos responsáveis espirituais, alcances ou percepções úteis ao trabalho demonstrativo
ou de esclarecimento.
Também os casos de automaterialização mostram, por vezes, a ação dos Espíritos
apoiadores, magnetizando o médium para que se desdobre e se torne visível, sem prejuízo da
liberação do ectoplasma necessário a outras materializações.(12)
(12)
V. adiante, Materialização.
Tratando-se da mesma aptidão psíquica, fácil é deduzir que os sujeitos suscetíveis ao
desdobramento espontâneo também o são em relação ao induzido.
Tanto o desdobramento espontâneo, como o induzido, podem apresentar-se como processos
conscientes, semiconscientes ou inconscientes.
No desdobramento consciente, a pessoa não só atua conscientemente em todo o processo,
como guarda lembrança nítida do acontecido. Nesse tipo de ocorrência, porque se expandem
significativamente as possibilidades perispiríticas, fenômenos incomuns (naturais, porém)
poderão ser registrados, especialmente com relação à percepção visual que, então, se torna
particularmente aguda.
Assim, em estado de desdobramento pode o sujeito, seguidamente, não só perceber, com
clareza, a aura da pessoa, como ver a distância ou através das paredes. E casos notáveis há,
em que, mesmo à distância, também “vê o interior do seu próprio corpo, com os feixes
nervosos a vibrarem como um formigamento luminoso”, como anota BOZZANO.(13)
(13)
BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Bilocação. P. 60.
“Um indivíduo de nome Wilson, morador em Toronto (Canadá), adormece no seu escritório
e sonha que se acha em Hamilton, cidade situada a quarenta milheis ingleseis ao oeste de
Toronto. Em sonho, faz as suas visitas habituais e vai bater à porta de uma amiga, a Sra.
D... Vem uma criada abrir a porta e anuncia-lhe que a patroa havia saído; entretanto, ele
entra e bebe um copo d'água; depois sai, encarregando a criada de transmitir os seus
cumprimentos à dona da casa. Wilson desperta, e verifica que tinha dormido quarenta
minutos.
Alguns dias mais tarde, uma Sra. Chamada G..., residente em Toronto, recebe uma carta da
Sra. D..., de Hamilton, na qual esta referia-lhe que o Sr. Wilson viera à casa dela, beber a
um copo d’água e depois partira sem voltar, o que a tinha contrariado, pois desejaria muito
vê-lo. O Sr. Wilson afirmou não ter estado em Hamilton havia já um mês; mas, pensando no
seu sonho, pediu a Sra. C..., que escrevesse a Sra. D..., para solicitar-lhe que não falasse do
incidente aos criados, a fim de saber se por acaso reconhecê-lo-iam. Ele foi depois a
Hamilton com alguns amigos e todos reunidos apresentaram- se na casa da Sra. Duas
criadas reconheceram Wilson como a pessoa que tinha estado em casa, que batera à porta,
que bebera um copo d'água, e que pedira para transmitir os seus cumprimentos à
patroa.”(14)
*
Entre nós, destaca-se entre os médiuns mais famosos, o nome de Eurípedes Barsanulfo
(1880-1918), notável por seus múltiplos e extraordinários dotes medianímicos.
Jorge RIZZINI, a propósito, refere-se a um impressionante episódio, em que o famoso
médium de Sacramento (MG), após um transe ocorrido em plena aula, diz aos alunos,
sorrindo:
“— Prestem atenção. Acabo de estar em uma residência atrás da igreja do Rosário, fazendo
um parto difícil. O marido não sabe que já é pai e está a caminho daqui. Vem a cavalo e
com roupa de montaria. Ele está, neste momento, apeando em frente ao colégio. Vai agora
subir os degraus da escada. Quando ele entrar na sala os senhores devem ficar em pé e
depois sentar. Atenção... Ele vai entrar...
E o homem com chapéu e roupa de montaria entrou muito aflito, pedindo a Eurípedes
Barsanulfo que fosse, urgentemente, fazer o parto, pois a mulher estava passando mal.
‘—Acalme-se’, respondeu o médium, sorrindo. ‘Fiz o parto há cinco minutos...’
‘—Não é possível, “seu” Eurípedes. Há cinco minutos eu teria visto o senhor pelo caminho.’
‘— O senhor não me viu porque fui em espírito. Mas, eu vi o senhor. Pode voltar para sua
casa, sossegado. A menina que nasceu é bonita e forte.’
O homem, porém duvidou e, temendo pela vida da mulher, levou Eurípedes Barsanulfo... A
parturiente, com a filhinha deitada ao lado, ao ver o médium, exclamou:
‘— O senhor não precisava vir de novo, “seu” Eurípedes... Eu e o bebê estamos passando
bem!’
Eurípedes Barsanulfo, então, regressou, rápido, ao colégio para continuar a aula
interrompida”(15)
RIZZINI, Jorge. Eurípedes Barsanulfo — o Apóstolo da Caridade. 7. ed. São Bernardo do Campo (SP):
(15)
“Eurípedes achava-se em plena função da cátedra do 5- ano, no seu Colégio Allan Kardec.
Caiu em transe por alguns minutos - branco, cadavérico, provocando inquietação aos seus
alunos (...), que não sabiam o que fazer. (...) Aos poucos foi readquirindo a cor e voltando a
si, ante a alegria e a satisfação de todos, e afirmou:
‘— Tomem nota. Vi, no salão nobre de Versailles, o Tratado de Paz!’
Deu, em seguida, os nomes dos que o assinaram e a hora exata.
Época em que não havia rádio, todos, entre crenças e descrenças, ficaram aflitos pela
chegada dos jornais, o que se deu dias depois, trazendo a confirmação de tudo, para
regozijo daqueles que nele confiavam e maior desespero dos que o consideravam como
louco e visionário...”(16)
(16)
FERREIRA, Inácio. Subsídios para a História de Eurípedes Barsanulfo. Uberaba (MG): Ed. do Autor,
1962. Conf. THIAGO, Lauro S. “Eurípedes Barsanulfo - Centenário de seu nascimento”. Reformador. Rio
de Janeiro, n2 1.814, maio, 1980, p. 10.
THIAGO, Lauro S. “Eurípedes Barsanulfo. Centenário de seu Nascimento”. Reformador, Rio de Janeiro,
(18)
**
Allan KARDEC, em sua genialidade, não poderia deixar de investigar o fenômeno da
duplicação corpórea.(19) Tratando, em O Livro dos Médiuns, da bicorporeidade, catalogou
diversas ocorrências a envolver importantes personagens da História, entre as quais, Afonso
de LIGUORI, “canonizado antes do tempo prescrito, por se haver mostrado simultaneamente
em dois sítios diversos, o que passou por milagre”, e Antônio de PÁDUA, que, estando na
Itália, pregando, apareceu em Lisboa, livrando seu pai da execução.(20)
(19)
A duplicação corpórea - conhecida pelos parapsicólogos ingleses como “ out-of-the-body experience”
(experiência fora do corpo) e pela sigla OOBE, ou apenas OBE - tem sido objeto de constantes pesquiseis e
avaliações em laboratório. Esses estudos incluem desde a medição da atividade cerebral do sujeito até o
emprego dos mais sofisticados sistemas de controle e registro, visando à “detecção física de projeções fora
do corpo”, com resultados altamente positivos, segundo anota Guimarães ANDRADE, mencionando
experimentos realizados por Karlis OSIS e Donna MCCORMICK (ANDRADE, Hernani Guimarães. Morte,
Renascimento, Evolução — Uma Biologia Transcendental. 5. ed. São Paulo: PENSAMENTO, 1991, pp. 68
e 69)
(20)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 60. ed. R. Janeiro: FEB, 1993, p. 157, item 119, Cap. VII.
A respeito desse fato, consta que, o pai do sacerdote, D. Martim de BULHÕES fora acusado
como autor da morte de um moço de importante família, sendo condenado à pena máxima.
Quando se iniciava a execução da sentença, Antônio de PÁDUA entrou em transe,
permanecendo imóvel, no momento que pronunciava um sermão, na igreja de Pádua,
aparecendo materializado no Adro da Sé, em Lisboa, detendo o cortejo que levaria o
sentenciado à decapitação, defendendo-o, ardorosamente, com a presença materializada da
vítima, apontando o verdadeiro assassino. Ao final, ante o pasmo geral, D. Martin foi
libertado.
Saindo do transe, Antônio de PÁDUA, no púlpito em que pregava, em Pádua, desculpou-se
pela interrupção, narrando aos que o assistiam o que ocorreu...(21)
(21)
V. CASTRO, Almerindo M. Antônio de Pádua. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, pp. 50 e 51.
*
Dado a considerar é que, como mostram os eventos referidos, o desdobramento - como,
também, a intuição, a vidência e a audiência — nem sempre pode ser tido por mediúnico,
propriamente.
De fato, o desdobramento, tecnicamente, caracteriza- se como mediúnico, quando serve à
intermediação espiritual com vistas na orientação ou no esclarecimento, ou até na mera
comprovação da sobrevivência do Espírito. Trata-se, aliás, de um fenômeno relativamente
comum entre os médiuns de psicofonia e psicografia que, em se desprendendo e chegando ao
desdobramento, facilitam mais a ação do Espírito comunicante acompanhando e sustentando
todo o processo.
Os desdobramentos não mediúnicos, tão comuns quanto os mediúnicos, são os que dizem
somente com o sujeito.
Entre os desdobramentos não mediúnicos alinha-se uma categoria de fenômenos —
raríssimos, na verdade —, que ocorrem independentemente da vontade do sujeito e que, às
vezes, nem chega a percebê-los. São os desdobramentos involuntários, de que constam
vários registros na literatura espírita.
Tais os casos, por exemplo, de pessoas que veem, ao seu lado, ou a certa distância, o próprio
duplo, ou são vistas em duplicação corpórea por terceiros, sem que elas próprias o percebam.
Gabriel DELANNE menciona, entre outras, uma ocorrência realmente incomum:
“Sir Robert Dale-Owen era embaixador dos Estados Unidos, em Nápoles. Em 1845, conta
esse diplomata, existia na Livônia o colégio de Neuwelke, a doze léguas de Riga e a meia
légua de Wolmar. Aí se encontravam 42 pensionistas, a maior parte de famílias nobres, e
entre as inspetoras figurava Emilie Sagée, francesa de origem, com 32 anos de idade, de boa
saúde, mas nervosa, e com um procedimento digno dos maiores elogios.
Poucas semanas depois de sua chegada, notou-se que, quando uma aluna dizia tê-la visto
num lugar, outra, muitas vezes, afirmava que ela estava em lugar diferente. Um dia, as moças
perceberam, de repente, duas Emilie Sagée, exatamente semelhantes, e fazendo os mesmos
gestos: uma, entretanto, tinha na mão um lápis de giz e a outra não tinha nada.
Pouco tempo depois, Emilie abotoava, nas costas, Antoinette de Wrangel, que se estava
vestindo. A moça notou, pelo espelho, ao voltar, duas Emilies que abo- toavam suas vestes, e
desmaiou de susto.
Algumas vezes, às refeições, a figura dupla aparecia em pé, por trás da cadeira da inspetora e
imitava os movimentos que ela fazia para comer, mas as mãos não seguravam nem o garfo
nem a faca. Entretanto, a pessoa desdobrada não parecia imitar senão acidentalmente a
pessoa real, e, algumas vezes, quando Emilie se levantava da cadeira, o duplo continuava
sentado.
Certa vez, Emilie estava adoentada e de cama; a senhorita Wrangel lia para ela ouvir. De
repente, a inspetora ficou hirta, pálida, e dir-se-ia que iria desfalecer. A jovem aluna
perguntou-lhe se se sentia mal; ela respondeu negativamente, mas com voz fraca. Alguns
segundos depois, a senhorita Wrangel viu, muito distintamente, o duplo de Emilie andando
aqui e ali, em todo o quarto.
Mas eis aqui o mais notável exemplo de bicorporeidade que se observou na maravilhosa
inspetora. Um dia, as quarenta e duas pensionistas bordavam em uma mesma sala, no
pavimento térreo; quatro portas envidraçadas da sala davam para o jardim. Elas viam nesse
jardim Emilie colhendo flores, quando de repente sua figura aparece numa poltrona vazia. As
alunas olharam imediatamente para o jardim e continuaram a ver Emilie ali, mas notaram a
lentidão dos seus movimentos e seu ar de sofrimento; estava como que adormecida e
esgotada.
Duas das mais intrépidas aproximaram-se do duplo e tentaram tocá-lo; sentiram uma ligeira
resistência, que compararam à de um objeto de musselina ou crepe. Uma delas passou
através de parte da figura; esta conservou a mesma aparência, alguns instantes, até que foi
desaparecendo gradualmente.
O fenômeno se produziu de diversas maneiras, durante o tempo em que Emilie ali esteve
empregada, isto é, de 1845 a 1846, no espaço de ano e meio; houve intermitências de uma a
muitas semanas.
Verificou-se que quanto mais distinto e de aparência material era o duplo, tanto mais
sofredora, mortificada e abatida estava a personalidade real; ao contrário, quando o duplo
esmaecia, via-se a paciente readquirir suas forças. Emilie, entretanto, não tinha nenhuma
consciência desse desdobramento, e só o conhecia por ouvir dizer; nunca vira o duplo, nunca
suspeitara do estado em que ficava. Tendo o fenômeno inquietado os pais, estes retiraram as
filhas e a instituição faliu.”(23)
(23)
DELANNE, Gabriel. O Espiritismo Perante a Ciência. Rev. Lauro de O. S. Thiago. 2. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 1993, pp. 232 a 234, Quarta Parte. Trad. Carlos Imbassahy.
KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. (Orig. Qu’Est-ce Que Le Spiritisme?). 36. ed. Rio de Janeiro:
(24)
Fato que, desde logo, ressalta, é que cada ocorrência - como acontece em outras províncias
mediúnicas — mostra características particulares, mesmo porque cada médium tem sua
história e suas qualidades próprias. Daí, também, a diversidade de percepções e descrições,
embora, no fundo, todos apresentem elementos em comum. Assim, no desdobramento, a
constatação da existência do cordão fluídico é unânime, mas os relatos que dizem sobre sua
textura, calibre, luminosidade, locais de contato, conexão e outros dados, às vezes, não
coincidem.
O respeitável Instrutor Espiritual, ANDRÉ LUIZ, por intermédio de Francisco Cândido
XAVIER, refere-se, reiteradamente, a um cordão fluídico prateado, como um “fio
tenuíssimo”, ligando o cérebro físico ao cérebro perispirítico do sujeito em processo de
desdobramento.(26)
(26)
V. Mecanismos da Mediunidade. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 140. Obreiros da Vida Eterna. 19.
ed. R. Janeiro: FEB, 1992, pp. 226 e 227. Os Mensageiros. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 261.
*
Como acontece com os demais tipos de manifestação mediúnica, é ainda difícil estabelecer
um modelo do fenômeno de desdobramento. Todavia, algumas descrições que nos chegam
da Espiritualidade Superior, já facilitam uma primeira compreensão de alguns tipos de
processo.
ANDRÉ LUIZ, por exemplo, transmite-nos valiosa descrição de um procedimento que
acompanhou, relacionado com um desdobramento induzido:
“Chegara a vez do médium Antônio Castro.
Profundamente concentrado, denotava a confiança com que se oferecia aos objetivos de
serviço.
Aproximou-se dele o irmão Clementino e, à maneira de magnetizador comum, impôs-lhe as
mãos aplicando-lhe passes de longo circuito.
Castro como que adormeceu devagarinho, inteiriçando-se-lhe os membros.
Do tórax emanava com abundância um vapor esbranquiçado que, em se acumulando à
feição de uma nuvem, depressa se transformou, à esquerda do corpo denso, numa duplicata
do médium, em tamanho ligeiramente maior.
Nosso amigo como que se revelava mais desenvolvido, apresentando todas as
particularidades de sua forma física, apreciavelmente dilatadas.
O diretor espiritual da casa submetia o medianeiro a delicada intervenção magnética que
não seria lícito perturbar ou interromper.
O médium, assim desligado do veículo carnal, afastou-se dois passos, deixando ver o cordão
vaporoso que o prendia ao campo somático.
Enquanto o equipamento fisiológico descansava, imóvel, Castro, tateante e assombrado,
surgia, junto de nós, numa cópia estranha de si mesmo, porquanto, além de maior em sua
configuração exterior, apresentava-se azulada à direita e alaranjada à esquerda.
Tentou movimentar-se, contudo, parecia sentir-se pesado e inquieto...
Clementino renovou as operações magnéticas e Castro, desdobrado, recuou, como que se
justapondo novamente ao corpo físico.
Verifiquei, então, que desse contato resultou singular diferença. O corpo carnal engulira,
instintivamente, certas faixas de força que imprimiam manifesta irregularidade ao
perispírito, absorvendo-as de maneira incompreensível para mim.
Desde esse instante, o companheiro, fora do vaso de matéria densa, guardou o porte que lhe
era característico.
Era, agora, bem ele mesmo, sem qualquer deformidade, leve a ágil, embora prosseguisse
encadeado ao envoltório físico pelo laço aeriforme, que parecia mais adelgaçado e mais
luminoso, à medida que Castro- Espírito se movimentava em nosso meio.
Enquanto Clementino o encorajava com palavras amigas, o nosso orientador, certamente
assinalando-nos a curiosidade, deu-se pressa em esclarecer:
— Com o auxílio do supervisor, o médium foi convenientemente exteriorizado. A princípio,
seu perispírito ou ‘corpo astral’ estava revestido com os eflúvios vitais que asseguram o
equilíbrio entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como
sendo o ‘duplo etérico’ (...) Castro devolveu essas energias ao corpo inerme, garantindo
assim o calor indispensável à colmeia celular e desembaraçando-se, tanto quanto possível,
para entrar no serviço que o aguarda.”(27)
(27)
XAVIER, Francisco Cândido. Espírito ANDRÉ LUIZ. Nos Domínios da Mediunidade. 24. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1997, pp. 97 a 99, Cap. 11.
“Ela preside aos fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no
corpo etéreo. Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as
existências umas às outras, na sequência de lutas, pelo aprimoramento da alma, e deixa
entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha investida. (...)
Segregando delicadas energias psíquicas (...), a glândula pineal conserva ascendência em
todo o sistema endocrínico. Ligada à mente, através de princípios eletromagnéticos do
campo vital, que a ciência comum ainda não pode identificar, comanda as forças
subconscientes sob a determinação direta da vontade. As redes nervosas constituem-lhe os
fios telegráficos para ordens imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção
efetuam-se os suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos.
Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais. Na
qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência sexual é básica e
absoluta.”(2)
(2)
XAVIER, Francisco Cândido. Espírito André Luiz. Missionários da Luz. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB: pp.
21 e 22, Cap. 2.
Tais informações, datadas de 1945, têm sido plenamente ratificadas pelas pesquisas que se
dirigem ao desvendamento da fisiologia do complexo neuroendócrino, as quais, também, já
mostram que as conexões do corpo pineal ocorrem, mormente, através das vias simpáticas (a
inervação do corpo pineal “é feita por fibras simpáticas pós-ganglionares provenientes dos
gânglios cervicais superiores”),(3) que não só modulam ou regulam as atividades do sistema
endócrino, como se projetam, por meio de complexos circuitos, sobre vários sistemas e
estruturas (sistema límbico, hipotálamo e outros) implicados na sustentação do processo
vital, em todas as suas dimensões.
Adolescent Male with Concomitant Pineal Grand Pathology”. Archives of Clinicai Neuropsychology. Vol.
10, ed. 4, julho-agosto, 1995, pp. 294 e 295.
Nessa linha, aliás, outros dados a respeito de seu papel, fundamental, no mecanismo da vida,
têm sido alcançados. Recentes experiências mostram que apresenta conexões funcionais e
anatômicas com o sistema imunológico, em particular, sendo em consequência, reconhecido,
agora, como um importante órgão imunoneuroendócrino, tanto no animal como no homem.(5)
Não é, pois, sem razão, que a pineal tem merecido a atenção dos que se dedicam às ciências
da vida. “Este minúsculo órgão parece estar escondido no cérebro, mas sua função é
tremendamente essencial para a vida animal”, afirmam os atuais investigadores, e a pesquisa
a seu respeito, deve ser “verdadeiramente interdisciplinar, abrangendo desde a biologia
molecular até a psicologia e a etiologia”.(6)
ARAKI, Masasuke. “Sensory and Endocrine Characteristics of the Avian Pineal Organ” (Introdução).
(6)
Pesquisas outras produzem informações não menos significativas. Por exemplo, resta, hoje,
bem comprovada a influência que um campo eletromagnético pode exercer sobre a fisiologia
pineal.
Constatou-se que a exposição a um campo eletromagnético (0,5G, 60 Hz) pode resultar na
supressão da melatonina (de produção noturna), porque provoca “alterações nos receptores
deis superfícies celulares, interrompendo os sinais de estímulo da norepimefrina, que
atravessam a membrana, ativando a produção intracelular da melatonina”.(7)
ROOSEN, L.; BARBER, I.; LYLE, D. B. “A 0,5G, 60 Hz Magnetic Field Supresses Melatonin
(7)
JEONG. J. H.; CHUI, K. B. e outros. “Effects of Extremely Low Frequency Magnetic Fields on Pain
(9)
De fato, pesquisas com um campo de baixíssima frequência (5 Hz) foram dirigidas ao estudo
da ‘paralisia do sono’ (sleep paralysis), que ocorre durante o sono, produzindo sensação de
imobilização forçada (esforço para se mover), pesadelos e até alucinações. Como a
melatonina tem sido implicada “na indução e sustentação do sono REM e na patogenia da
paralisia do sono”, introduziu-se a terapia magnética e verificou-se que esses episódios
ligados à esclerose múltipla “diminuíam gradualmente, desaparecendo por completo por
cerca de três anos.”(10)
SANDYK, R. “Resolution of Sleep Paralysis by Weak Electromagnetic Field in a Patient with Multiple
(10)
**
Impõe-se reconhecer que, em verdade, muito ainda falta para se chegar ao inteiro
conhecimento do processo neurofisiológico relacionado com o fenômeno mediúnico. De um
lado, porque, ainda, poucas informações espirituais existem a respeito; de outro, porque
ainda são desconhecidos muitos aspectos do funcionamento do sistema nervoso,
extremamente complexo, como se sabe.
Todavia, em direção ao tempo em que será possível cogitar, realmente, de uma
neurofisiologia da mediunidade, podem-se alinhar alguns elementos, a título de ilustração, na
expectativa de um futuro em que o processo mediúnico será totalmente desvendado em sua
maravilhosa realidade, tanto na dimensão espiritual, como na física.
*
Pelo que já se sabe, é possível concluir que, como visto, o primeiro momento na
mediunização psicofônica, psicográfica, psicopictórica ou psicocirúrgica,(11) caracteriza-se
pela ação do Espírito comunicante (muitas vezes sem que ele mesmo perceba) nos centros
coronários e cerebral, com imediata repercussão na pineal, e no sistema nervoso. Funciona,
aí, a pineal, como um verdadeiro transdutor.
(11)
V. adiante, Terapia Ectoplásmica - Psicocirurgia.
Como as informações disponibilizadas pelos Mestres Espirituais ainda são muito genéricas,
difícil, por enquanto, como já observado, chegar a um conhecimento satisfatório da dinâmica
neurofisiológica do processo mediúnico. Todavia, embora hoje se saiba que as atividades
cerebrais se processem em conjunto, em regime de interdependência, é possível identificar
áreas e funções que poderiam estar mais diretamente envolvidas neste processo - sem dúvida,
dos mais complexos -, já a partir do córtex cerebral, onde se organizam as funções cognitivas
complexas, se codifica a recepção sensitiva, tanto do meio interno, como externo, e onde a
atividade motora se origina.
Assim, desde o primeiro momento em que Espírito e médium contatam suas respectivas
auras e perispíritos, com imediata repercussão no centro coronário e no corpo pineal deste,
como visto, a presença do Espírito já seria registrada através do tálamo, núcleo sensitivo por
excelência.
Todas as vias sensitivas atingem o tálamo e, por seu intermédio, o córtex sensitivo. Significa
que os estímulos chegam pelas vias neurais ao tálamo, onde são selecionados, podendo ser
bloqueados, em seu caminho ao córtex sensitivo, se de pouca importância. Geralmente, as
informações sensitivas só o alcançam quando despertam interesse ou quando forem novas.
Compreende-se, assim, que os médiuns sentem a aproximação do Espírito, sua condição
espiritual, seu estado emocional, por efeito talâmico e sua pretensão de comunicar-se pode
ser aceita, facilitada ou rejeitada pelo médium, sob a ação do córtex.
*
O sistema límbico - composto por várias estruturas -, desempenha importante papel nas
emoções e no comportamento. Inclui também a formação hipocampal (subículum,
hipocampo e o gino denteado, a amígdala, os giros cíngulo e parahipocampal, o fórnix),
havendo evidências de que, além, de sua relação com a agressividade, raiva, medo e,
também, com o apetite e a atividade sexual, comportamentos que denotam um forte
componente afetivo, responde, em boa parte, pela memória.
Fácil, pois, perceber a importância desse sistema no processo mediúnico.
Desde os primeiros contatos, o Espírito transmite à alma do médium o seu estado afetivo -
sentimentos e emoções - que, de imediato, por seu perispírito, chega ao sistema límbico e
outras estruturas cerebrais, impregnando, a seguir, palavras e gestos do comunicante. (12)
(12)
O perispírito (do gr. perí, em torno; do lat. spiritus, alma), também denominado “corpo espiritual”
(PAULO) e “psicossoma” (ANDRÉ LUIZ) é o envoltório sutil e perene da alma, que possibilita sua
interação com os meios espiritual e físico.
A alma, ensina KARDEC - é um ser simples, o Espírito, um ser dual (alma e perispírito) e o Espírito
encarnado, um ser trino. (O que é o Espiritismo. 37. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, p. 155, Cap. II, item 14).
E DENIS acrescenta: “O homem (...) é um ser complexo. Nele se combinam três elementos para formar uma
unidade viva, a saber: O corpo, envoltório material temporário, que abandonamos na morte, como vestuário
usado; O perispírito, invólucro fluídico permanente, invisível aos nossos sentidos naturais, que acompanha a
alma em sua evolução infinita, e com ela se melhora e purifica; A alma, princípio inteligente, centro de
força, foco da consciência e da personalidade. A alma, desprendida do corpo material e revestida do seu
invólucro sutil, constitui o Espírito, ser fluídico, de forma humana, liberto das necessidades terrestres,
invisível e impalpável em seu estado normal. (DENIS, Léon. Depois da Morte. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1994: pp. 199 e 200, Cap. XXIX. Trad. João Lourenço de Souza.)
Importante lembrar que, à luz da Doutrina Espírita, entende-se que, como a mediunidade, a
memória é patrimônio da alma. A alma é que pensa.(15)
(15)
Em reunião acontecida na Sociedade Espírita de Paris, em 5 de abril de 1861, observava, a propósito, o
Dr. Clas, Espírito comunicante: “Crêdes que a faculdade de pensar resida no perispírito? É absolutamente
como se perguntásseis se o pensamento reside no vosso corpo”. (KARDEC, Allan. Revista Espírita.
EDICEL, São Paulo: maio, 1861, p. 159. Trad. Júlio Abreu Filho).
Fica claro, assim, que, se é a alma que pensa e que, por conseguinte, guarda e lembra as
impressões das experiências vividas em sua peregrinação evolutiva, ela imprescinde do
perispírito como seu indestrutível e indissociável agente de manifestação, ainda que este
possa estar sujeito a transformações, de acordo com o grau de adiantamento da alma e,
consequentemente, do plano em que estagia e o meio em que opera.(16)
(16)
O fato de que alma e perispírito constituem, como visto, uma unidade indissociável (não se pode pensar
em alma sem perispírito, porque este é a natural projeção daquela, como a luz o é do foco que a produz,
identificando-o), é que, provavelmente, tem levado autores desencarnados e encarnados a sustentar que a
memória não apenas se expressa por via do perispírito, mas nele tem sua sede. Impõe-se, todavia, indagar se
tal posição não equivale a dizer que o pensamento é produção do perispírito, e não, de sua matriz espiritual...
Entende-se, então, que o registro de toda aprendizagem ocorre fundamentalmente em sede
anímica, no cérebro espiritual, segundo a expressão de Francisco C. XAVIER (“... quando
me vejo fora do corpo, sinto que meu cérebro é diferente daquele que tenho no físico”, relata
o médium, referindo-se ao cérebro espiritual).(17)
SEVERINO, Paulo Rossi. Aprendendo com Chico Xavier — Um Exemplo de Vida. São Paulo: FE,
(17)
1996, p. 16.
Imersa na matéria, instrumentada pelo cérebro físico, a mente, laboratório sublime que serve
ao registro e arquivamento das experiências, consegue operar com lembranças que dizem,
basicamente, com a vida atual, disponíveis no consciente, ou depositadas no subconsciente.
Desencarnado, o Espírito é dono de uma memória mais completa e aguda. Livre do arrimo
biológico que o sustentava - mas que também o cerceava —, o Espírito recorda mais. Quanto
mais evoluído, mais perfeitas lhe surgem as lembranças, passando a alcançar, de acordo com
suas condições e necessidades, número cada vez maior de encarnações passadas, arquivadas
no subconsciente profundo.(18)
(18)
De acordo com essa orientação, à luz do Espiritismo, podem ser encontrados os seguintes tipos de
memória: consciente (atual e imediatamente disponível), subconsciente (pretérita), e profunda (remota),
relacionada com o subconsciente profundo.
Admite PENFIELD, renomado autor, a hipótese de que o hipocampo relacionar-se-ia funcionalmente ao
registro de vivências passadas. Nessa linha, o córtex “interpretativo”, situado no giro temporal superior,
estimulado, abriria a porta do hipocampo, resultando a ativação da substância cinzenta situada no diencéfalo,
em que seriam armazenadas as vivências passadas, ou seja, a memória subconsciente, que diz com as
experiências vividas na encarnação atual, e a memória profunda, relacionada com as vidas passadas e
suscetível de ser ativada, em determinadas circunstâncias, pelo processo de regressão de memória.
Vale lembrar, a propósito, que nas comunicações xenoglóssicas e naquelas, por exemplo, em que o teor da
mensagem ultrapassa de muito o conhecimento atual do médium, o Espírito lança mão dos conteúdos
armazenados na memória profunda do seu intermediário - graças ao seu desprendimento maior -
relacionados com o aprendizado realizado em vidas pretéritas.
*
Outras áreas cerebrais a merecerem citação, por sua possível participação no processo
mediúnico são os Sistemas Piramidal e Extrapiramidal, a guardarem estreita relação com o
Tronco Cerebral, que reúne mesencéfalo, ponte e bulbo.
Sabe-se, hoje, que a função do Sistema Piramidal, com suas vias corticospinal e
corticonuclear, diz com o movimento voluntário, com os movimentos de destreza e
habilidade, que envolvem os músculos flexores das porções distais dos membros,
particularmente os dedos das mãos, embora se verifique que, na ausência das mãos, os dedos
dos pés também executam movimentos habilidosos.
Tais funções, como é fácil observar, dizem especialmente, com a psicopictura e a
psicocirurgia.
O Sistema Extrapiramidal origina-se no córtex cerebral (importante a área pré-motora de
Fulton, correspondendo à área 6 de Brodmann) e, segundo alguns autores, no córtex
cerebelar, percorrendo em seu trajeto várias áreas do telencéfalo, diencéfalo e do tronco
cerebral.
Diz com os movimentos automáticos - automatismos primários (choro, sucção, deglutição) e
secundários que se estabelecem pela aprendizagem (dança, natação). Outras funções
importantes desempenha o Sistema Extrapiramidal, entre elas, a manutenção do tônus da
postura (necessária aos movimentos voluntários, a cargo do Sistema Piramidal).
Importante destacar aqui os núcleos ou gânglios da base, que, compondo o Sistema
Extrapiramidal, respondem, justamente, em combinação com áreas do lobo frontal, pela
automatização de uma série de movimentos, que, assim, passam a dispensar o comando
voluntário, e controlam a postura corporal e muitos dos movimentos gestuais que
acompanham o movimento voluntário.
Os núcleos (ou gânglios) da base formam um conjunto composto pelo núcleo caudado,
putâmen e núcleo acumbens - constituindo o corpo estriado, importante centro regulador da
motricidade -, corpo pálido, claustro, núcleo amigdaloide, relacionado com a agressividade e
o comportamento sexual, e vários outros localizados profundamente no interior dos
hemisférios cerebrais.
Contêm diversos neurotransmissores e neuromodulares, principalmente o GABA, inibidor,
por excelência.
Na psicofonia e, particularmente na psicografia, observa-se, comumente, sua ação, nas
posturas, gestos e outras expressões do médium, sob a influência do Espírito comunicante.
*
Imperioso, também, considerar a importância do córtex cerebral - ressaltada, aliás, pelos
Mestres Espirituais(19) - e do sistema reticular, no processo mediúnico.
(19)
V. Xavier, Francisco C. Espírito André LUIZ. Missionários da Luz, FEB, 1994, Caps. 1 e 16; Nos
Domínios da Mediunidade, FEB, 1997, Caps. 8,15,16; No Mundo Maior, FEB, 1995, Cap. 9.
A atividade motora consciente origina-se no córtex cerebral e nele são organizadas todas as
funções cognitivas complexas. Interage com a formação reticular, que se inicia na medula
alta e estende-se por todo o tronco encefálico, continuando-se no diencéfalo. É, basicamente,
uma formação do tronco encefálico, preenchendo todos seus interstícios e conectando-se
com todo o córtex cerebral, com o cerebelo e com a medula.
Destaca-se nessa formação neuronial o chamado sistema reticular ativador ascendente,
sistema de fibras que se projetam sobre o córtex com uma ação ativadora e que diz com a
manutenção da consciência vígil, com a atenção e o estado de alerta.
Nos processos em que pode ocorrer a mediunização de 3º grau (psicofonia, psicografia,
desdobramento, psicopictura, psicocirurgia, materialização), o bloqueio do sistema reticular
ativador ascendente, ao lado de outras estrutureis, sob a influência do Espírito comunicante e
do maior desprendimento do médium, leva-o a operar em estado de inconsciência, ainda que
relativa, pois que, em todos esses processos permanece ele em regime de desprendimento e,
nesse estado, plenamente consciente do que ocorre.(20)
(20)
Já o sono, propriamente, em que pode ocorrer o transe onírico, relaciona-se com os núcleos de rafe,
pertencentes à formação reticular, no bulbo e na ponte.
*
Importante, ainda, uma referência às áreas de Brodmann, já mencionado, correspondentes às
diversas funções do córtex cerebral.(21)
(21)
Korbinian BRODMANN, anatomista alemão, com base na arquitetura neuronial (citoarquitetura), dividiu
o córtex cerebral em 52 áreas, buscando estabelecer uma fisiologia própria a cada uma delas.
Elementos que, por fim, não podem deixar de ser citados, no processo neurofisiológico, são
os neurotransmissores, substâncias químicas responsáveis pela transmissão de estímulos, de
um neurônio para outro. Os neurotransmissores (serotonina, acetilcolina, adrenalina,
noradrenalina, dopamina e outros), juntamente com os chamados neuromoduladores
(hormônios hipotalâmicos e hipofisiários), estariam, também, sujeitos à influência e atuação
espiritual, com significativa repercussão no processo mediúnico, dada sua relação com a
afetividade, a atividade motora, a agressividade, a depressão, o sono e outros importantes
fenômenos relacionados com a mente e o cérebro.(23)
(23)
Conf. ROHEN, J. W.; YOKOCHI, C. Anatomia Humana. 2. ed. São Paulo: MANOLE, 1989; MARTIN,
John H. Neuroanatomia. 2. ed. Porto Alegre: ARTES MÉDICAS, 1998; NOBACK, Charles R.; STROMIN-
GER Norman L.; DEMAREST, Robert J. Neuroanatomia. 5. ed. São Paulo: PREMIER, 1999; LENT,
Roberto. Cem Bilhões de Neurônios — Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo:
ATHENEU, 2001; Machado, Ângelo. Neuroanatomia Funcional, Rio de Janeiro: ATHENEU, 1985;
DORETTO, Dario. Fisiopatologia Clínica do Sistema Nervoso. 2. ed. São Paulo/R. de Janeiro: ATHENEU,
1996; FACURE, Nubor. “Bases Neurológicas das Atividades Espirituais”, in Boletim Médico Espírita n2 6,
AME. São Paulo, 1988; BEARZOTI, Paulo. “Modelo Neurológico de Incorporação Mediúnica”, in Boletim
Médico Espírita n2 5, AME. São Paulo, 1997.
*
Infere-se, do exposto, que muitas ainda são as dificuldades a serem superadas, para se chegar
a um melhor conhecimento do processo mediúnico, a partir do fato de que não só o cérebro,
refletindo a mente, funciona integrado em todas as suas funções, como, aliás, retratando o
perispírito, o organismo físico, em si, mostra-se, em sua fisiologia, como um todo
indivisível.
De qualquer forma, já se compreende que, pelo contato entre as auras do Espírito
comunicante e do médium, seguido de uma crescente aproximação e interpenetra- ção
perispirítica entre ambos, afirma-se, gradativamente, a atuação do comunicante sobre os
centros coronário e cerebral do medianeiro, com imediato reflexo na pineal e nos outros
núcleos do diencéfalo, projetando-se no córtex cerebral e em todo o sistema nervoso,
instaurando, assim, o processo de mediunização — consciente, semiconsciente ou
inconsciente —, com um maior ou menor desempenho motor.
Assim, ao comunicar-se, o Espírito - muitas vezes, sequer tendo consciência do que ocorre -
com apoio nos recursos neurofisiológicos propiciados pelo organismo mediúnico, em
combinação com os oferecidos pela atividade endócrina, mobiliza delicado conjunto de
estruturas e funções, variável de acordo com o tipo de fenômeno.
Certamente, o futuro nos alcançará maior conhecimento a respeito.
XIV- ECTOPLASMIA
Todo ser humano, potencialmente, tem condições de liberar ectoplasma, mas o que distingue
a pessoa capaz de propiciar o surgimento dos eventos ectoplásmicos é a sua capacidade de
emitir ectoplasma em abundância, suficiente à sua produção.
Essencial, pois, nesse tipo de fenômeno, a presença dessa substância, cujo conhecimento
completo, aliás, demanda ainda, muita investigação.
O termo ectoplasma (do gr. ektós, fora, exterior + plasma) foi criado por Charles RICHET
(1850-1935), depois de ter observado, numa série de sessões com a célebre médium Eva
CARRIÈRE (depois WAESPÉ), conhecida como Eva C., acontecidas em 1903, na antiga
Argel, que os fenômenos ocorriam graças a uma substância viva, esbranquiçada, que dela
saía.
O ectoplasma, como opina Arthur Conan DOYLE, “é a mais protéica das substâncias e pode
manifestar-se de muitas maneiras e com propriedades variáveis”.(3)
(3)
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: PENSAMENTO, 1995, p. 352, Cap. 18.
houve um singular movimento de interesse e sincero amor à verdade, levando muitos cultores da Física a
construírem uma aparelhagem para os diversos casos, como o magnetoscópio, de RUTTTER; o pêndulo, de
BRICHE; o biômetro, de LUCAS; o galvanômetro, de PUYFONTAINE; o magnetômetro, de FOURLIN e
BARADUC; o cilindro, de THORÉ; o estenômetro, de JOIRE; o aparelho elétrico, de KRALL; o
sensitivômetro, de DURVILLE; o aparelho de FAYOL (...). Também se criou a báscula para registrar a
perda de peso do médium; D’ARSONVAL inventou o selenoide, DEPREZ, outro galvanômetro...”. (LIMA,
Antônio. Vida de Jesus. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982, p. 196).
Assim, tem-se observado que se trata de uma substância de natureza filamentosa ou fibrosa,
que, quando visível, pode apresentar-se branca, cinzenta ou preta, embora a primeira seja a
mais frequente.
A visibilidade é variável, podendo parecer luminosa e com intensidade que cresce ou
diminui. Pode, também, ser invisível ou não.
Geralmente, ao natural, é inodora, embora, às vezes, possa desprender um odor particular
difícil de ser descrito. (Anota Conan DOYLE, que NOTZING, ao reduzir a cinzas uma
porção de ectoplasma registrou o “cheiro de chifre queimado”).(5)
(5)
Op. cit., p. 349. V., adiante, Pneumatografía.
Por vezes, o ectoplasma é frio e úmido; em outras, viscoso e semilíquido, méis raramente
seco e duro (quando forma cordéis é duro, fibroso, nodoso). Dilata-se, expande-se, contrai-
se, fácil e suavemente.
Ao tato pode-se senti-lo como uma teia de aranha.
Uma corrente de ar pode agitá-lo ou movê-lo. Move- se, às vezes, lentamente, numa espécie
de movimento reptiliano, sobre o corpo do médium; outras vezes, o movimento é súbito e
rápido.
É de extrema sensibilidade, podendo aparecer ou desaparecer com a rapidez de um
relâmpago.
Obediente à ação mental, é sensível ao toque físico(6) e, particularmente, à luz. Por isso, por
ser extremamente fotossensível, a eficácia do processo ectoplásmico, nas sessões de
materialização, geralmente, imprescinde da obscuridade, principalmente, no local onde está o
médium; fora, pode-se empregar a luz vermelha.
(6)
Segundo observações de M. TUBINO, os efeitos do toque são perfeitamente detectáveis. “Quando se toca
o ectoplasma de algumas pessoas, a certa distância do corpo, isto é, a alguns centímetros”, anota o Autor,
“elas sentem este toque, com sensações diversas, que dependem de cada indivíduo. Em função de como é
feito, este toque pode causar ânsia de vômito, tosse e até algumas sensações mais desagradáveis”.
(TUBINO, Matthieu. Um Fluido Vital Chamado Ectoplasma. Niterói (RJ): LACHÂTRE, 1997, p. 55).
Com efeito, as evidências são no sentido de que a luz, como lembra DENIS, exerce “grande
poder de desagregação” sobre as formações ectoplásmicas. Camille FLAMMARION, a
propósito, estabelece a seguinte comparação:
“Aqui está, num frasco e em volume igual, uma mistura de hidrogênio e cloro. Se quereis
que a mistura se conserve, é preciso — seja ou não de vosso agrado - que o frasco
permaneça na obscuridade. Tal é a lei. Enquanto ali ficar, ela se conservará. Se, entretanto,
movido por uma fantasia pueril expuserdes essa mistura à ação da luz, uma violenta
explosão se fará subitamente ouvir; o hidrogênio e o cloro terão desaparecido e
encontrareis no frasco nova substância: o ácido clorídrico. E, com acerto, concluireis: a
obscuridade respeita os dois elementos; a luz os aniquila.”(7)
(7)
Revue Spirite, 1906. V. DENIS, Léon. No invisível. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 286. Trad.
Leopoldo Cirne.
“Perguntaram um dia a Katie King por que não podia mostrar-se sob uma luz mais forte.
(Ela só permitia aceso um bico de gás e, assim mesmo, com a chama muito baixa). A
pergunta pareceu irritá-la enormemente, contudo respondeu, de modo um tanto áspero:
‘— Já vos tenho declarado muitas vezes que não me é possível suportar a claridade de uma
luz intensa. Não sei por que me é isso impossível; entretanto, se duvidais de minhas
palavras, acendei todas as luzes e vereis o que acontecerá. Previno-vos, porém, não mais
poderei reaparecer diante de vós. Escolhei. ’
As pessoas presentes se consultaram entre si e decidiram tentar a experiência para verem o
que sucederia. Queríamos tirar definitivamente a limpo a questão e saber se uma
iluminação mais forte embaraçaria o fenômeno de materialização. Katie teve aviso da nossa
decisão e consentiu na experiência. Soubemos mais tarde que lhe havíamos causado grande
sofrimento.
O Espírito Katie se colocou de pé, junto à parede, e abriu os braços em cruz, aguardando a
sua dissolução.
Acenderam-se os três bicos de gás (a sala media cerca de 16 pés quadrados). Foi
extraordinário o efeito produzido sobre Katie King, que apenas por um instante resistiu à
claridade. Vimo-la em seguida fundir-se, como uma boneca de cera junto de ardentes
chameis. Primeiro, apagaram-se-lhe os traços fisionômicos, que não mais se distinguiam.
Os olhos enterraram-se nas órbitas, o nariz desapareceu, a testa como que entrou pela
cabeça. Depois, todos os membros cederam e o corpo inteiro se achatou, qual um edifício
que desmorona. Nada mais restava do que a cabeça sobre o tapete e, por fim, um pouco de
pano branco, que também desapareceu como se o houvessem puxado subitamente.
Conservamo-nos alguns momentos com os olhos fitos no lugar onde Katie deixara de ser
vista. Terminou assim aquela memorável sessão.”(9)
(9)
PALHANO JR. L. Experimentações Mediúnicas. Rio de Janeiro: Celd, 1996, pp. 179 a 181.
(11)
Casos conhecidos há, além dos citados, em que os médiuns, nas sessões de materialização, dependendo
das circunstâncias, são tão atingidos pelos efeitos da luz branca repentina, que chegam até a necessitar de
hospitalização. (V. GIBIER, Paul; BOZZANO, Ernesto. Materializações de Espíritos. 4. ed. Rio de Janeiro:
ECO, p. 91, nº 15. Trad. Francisco Klörs Werneck).
A esse respeito, todavia, imprescindível ressaltar que, se com a maioria dos médiuns, o fator
obscuridade é vital para o processamento do fenômeno, médiuns excepcionais ganharam
registro histórico por se prestarem à produção de fenômenos ectoplásmicos, inclusive,
materialização e desmaterialização, em plena luz, até mesmo a solar. Alinham-se, como
notáveis exemplos, os médiuns Mme. D’ESPERANCE, Eva CARRIÈRE e Cármine
MIRABELLI, que operavam em quaisquer condições.
O ectoplasma emana através de todos os poros do médium, especialmente, da boca, das
narinas, dos ouvidos, do tórax e das extremidades (alto da cabeça, seios, pontas dos dedos),
sendo reabsorvido ou dispersado ao final do processo. Habitualmente, as primeiras
emanações acontecem pela boca, sendo possível verificar que se forma a partir da superfície
interna das bochechas, das gengivas e da abóbada palatina.
Interessante experiência, segundo PALHANO JR., foi feita, a propósito, por Oliver LODGE,
com a célebre médium Florence COOK:
“Esta (Florence COOK), ficava isolada num círculo elétrico, cujas variações de resistência
eram indicadas por um galvanômetro que se encontrava junto dos experimentadores. Certo
dia, quando o Espírito Katie KING surgiu materializado, o Professor pediu-lhe,
inesperadamente, que metesse as mãos numa tina com mercúrio, onde havia um corante
forte. O galvanômetro, que havia indicado uma diminuição na resistência do circuito, à
medida que a figura materializada ia se formando, não sofreu qualquer desvio pela imersão
das mãos ectoplasmáticas na tina de mercúrio, nem as mãos da médium tinham manchas do
corante. Para surpresa dos pesquisadores, foi observado, posteriormente, que em varieis
partes do corpo da médium havia manchas do corante. Este fato demonstrou, de modo claro,
que a substância promana do corpo da médium; manchada, ela voltou à médium de forma
distribuída, do mesmo modo como foi liberada, neste caso, através dos poros. (12)
(12)
PALHANO JR. L. Op. Cit., p. 178
O ectoplasma assume as mais diversas formas, sob a influência, em cada uma delas, de um
campo organizador específico, mostrando sua irresistível tendência à reorganização. E, em
certos casos, quando adensado, pode ocupar um determinado volume no espaço.
Há, ainda, evidências de que possa estar sujeito à ação da gravidade. (W. J. CRAWFORD,
1890-1930, Professor de Engenharia Mecânica na Queen’s University, Belfast, Irlanda, em
suas célebres pesquisas ligadas à ectoplasmia, verificou experimentalmente, com o uso de
balança, a ação da gravidade sobre o ectoplasma).(13)
(13)
V. CRAWFORD, W. J. Mecânica Psíquica. São Paulo: Lake, 1963. Também, DOYLE, A. C. História do
Espiritismo. Ed. citada. Trad. Haydée de Magalhães.
*
Alguns investigadores (Schrenck NOTZING, James BLAKE, Mme. BISSON,
LEBIEDZINSKI, DOMBROWSKY) chegaram a pesquisar, por meio de análises químicas e
histológicas, a constituição do ectoplasma, tendo sido detectada entre seus elementos
constituintes, a presença de cloreto de sódio e de fosfato de cálcio. Resultados outros
revelaram a presença de células epiteliais e leucócitos, além de matéria gordurosa. (BLAKE
teria chegado, até, segundo o Prof. ANDRADE, a uma fórmula quantitativa, que, pelo
menos, indicaria tratar-se, o ectoplasma, de uma substância de natureza proteica: C120 H1184
AZ218S5O249).(14)
(14)
Cf. Andrade, Hernani Guimarães. A Teoria Corpuscular do Espírito. São Paulo: Ed. do Autor 1959, p.
195: Cap. IX.
“O ectoplasma seria substância originária do protoplasma das usinas celulares, onde o ATP
(trifosfato de adenosina) teria expressiva participação, ao lado de outros elementos. Dessa
forma, não podemos deixar de considerar a importância do fósforo nas atividades
bioquímicas orgânicas e, consequentemente, no desenvolvimento do processo ectoplásmico
em suas específicas dosagens.
No núcleo celular existiriam fontes específicas de energia, ligadas ao ADN e ARN (ácidos
desoxirribonucleico e ribonucleico), a comandarem os processos metabólicos mais
expressivos no soalho protoplasmático. O elemento participante ativo desse processo de
formação de energia no corpo celular seria o ATP (trifosfato de adenosina), resultante do
ciclo bioquímico específico de Krebs. O ATP (...), sendo a primordial fonte de energia nos
processos celulares, estaria comprometido na formação do ectoplasma.”(16)
(16)
ANDRÉA DO SANTOS, Jorge. Dinâmica Psi. 2. ed. Petrópolis (RJ): LORENZ, 1990, pp. 198 e 199.
Já ANDRÉ Luiz, por meio de Francisco C. XAVIER, observa que o ectoplasma “independe
do caráter e das qualidades morais daqueles que a possuem, constituindo emanações do
mundo psicofísico, das quais o citoplasma é uma das fontes de origem”.(17)
(17)
XAVIER, f. C. Espírito André Luiz. NOS Domínios da Mediunidade, p. 264.
“O ectoplasma está situado entre a matéria densa e a matéria perispirítica, assim como um
produto de emanações da alma pelo filtro do corpo (...). Em certas organizações fisiológicas
especiais da Raça humana, comparece em maiores proporções e em relativa madureza para a
manifestação necessária aos efeitos físicos. (...) É um elemento amorfo, mas de grande
potência e vitalidade. Pode ser comparado a genuína massa protoplásmica, sendo
extremamente sensível, animado de princípios criativos que funcionam como condutores de
eletricidade e magnetismo, mas que se subordinam, invariavelmente, ao pensamento e à
vontade do médium que os exterioriza ou dos Espíritos desencarnados ou não, que
sintonizam com a mente mediúnica, senhoreando-lhe o modo de ser. Infinitamente plástico,
dá forma parcial ou total às entidades que se fazem visíveis aos olhos dos companheiros
terrestres ou diante da objetiva fotográfica, dá consistência aos fios, bastonetes e outros tipos
de formações visíveis ou invisíveis nos fenômenos de levitação, e substancializa as imagens
criadas pela imaginação do médium ou dos companheiros que o assistem, mentalmente
afinados com ele. Exige-nos, pois, muito cuidado para não sofrer o domínio de Inteligências
sombrias, de vez que manejado por entidades ainda cativas de paixões deprimentes poderia
gerar clamorosas perturbações.”(18)
(18)
XAVIER, f. C. Espírito André Luiz. NOS Domínios da Mediunidade, pp. 271 e 272.
*
Releva anotar que o ectoplasma, mormente o empregado em trabalhos de materialização,
apresenta, também, um componente não físico.
A propósito, informa ANDRÉ LUIZ que, numa sessão de materialização, o ectoplasma pode
surgir como uma associação de: (a) fluidos oriundos dos planos espirituais superiores;(19) (b)
fluidos do médium; (c) fluidos dos assistentes; (d) fluidos provenientes dos recursos
energéticos da própria Natureza. (O Autor designa os primeiros como fluidos A; os
produzidos pelos encarnados, como fluidos B; e os tomados à Natureza, como fluidos C.) (20)
(19)
É possível que no Plano Espiritual, em trabalhos que corresponderiam, entre os encarnados, aos de
ectoplasmia, seja empregado um tipo de energia (ou substância), cujos efeitos se assemelhariam aos que se
obtêm com o ectoplasma.
Significativa, a esse respeito, é a indicação de ANDRÉ LUIZ de que os Espíritos Superiores, muitas vezes,
usam desse recurso a fim de poderem ser convenientemente vistos e ouvidos pelas almas menos elevadas.
(V. XAVIER, Francisco Cândido. Espírito ANDRÉ LUIZ. Libertação 17. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, pp.
257 a 260: Cap. XX). De outro lado, segundo se sabe, casos há em que o próprio ectoplasma, tal como é
conhecido, é empregado em benefício dos desencarnados que se encontram em condições dolorosas. (V.
XAVIER, F. C. Espírito IRMÃO JACOB. Voltei. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 21, Cap. 1).
(20)
Id. Ibid., p. 265, Cap. 28.
Tal informação, pela credibilidade de que se reveste, aponta em si, a necessidade que temos
de um audacioso projeto de pesquisa interdisciplinar, que possa revelar mais
abrangentemente, não só a natureza do ectoplasma, como a sua implicação no próprio
processo da Vida, tão delicado e complexo.
Cumpre observar, por fim, que, do examinado, pode- se concluir que também os animais e os
vegetais são fornecedores de ectoplasma, uma substância peculiar a todos os seres vivos, e
que pode ser associada a determinados recursos extraídos dos minerais, e, até, das águas,
para a produção de efeitos especiais.
***
EVENTOS ECTOPLÁSMICOS
1. TIPTOLOGIA
2. SEMATOLOGIA
3. CINETOLOGIA
4. ESCRITA INDIRETA
5. PNEUMATOGRAFIA (Escrita Direta)
6. PNEUMAPICTURA
7. PNEUMATOFONIA (Voz Direta)
8. TRANSCOMUNICAÇÃO INSTRUMENTAL
9. FOTOGRAFIA TRANSCENDENTE
10. ESCRITA FOTOGRÁFICA
11. DERMOGRAFIA - DERMOPICTURA
12. TRANSFIGURAÇÃO
13. TERAPIA ECTOPLÁSMICA:
• Psicocirurgia
• Cirurgia Espiritual Direta
• Passe
• Fluidificação de Água e de Objetos
• Auxílio Vibratório em Grupo
14. MATERIALIZAÇÃO
15. MOLDAGENS
16. DEFORMAÇÕES DE OBJETOS
17. DESMATERIALIZAÇÃO - REMATERIALIZAÇÃO
18. TRANSPORTE
19. ENDOPORTE - EXOPORTE
20. LEVITAÇÃO
21. DESLOCAMENTO DE MÓVEIS E OUTROS OBJETOS
22. EFEITOS LUMINOSOS
23. EFEITOS ODORANTES
24. EFEITOS SONOROS
25. EFEITOS MAGNÉTICOS
26. FENÔMENOS TÉRMICOS
27. EFEITOS QUÍMICOS
28. EFEITOS FITOLÓGICOS
29. INCOMBUSTIBILIDADE
30. PIROGENIA
31. FENÔMENOS ELETROELETRÔNICOS
32. EFEITOS ATMOSFÉRICOS
33. EVENTOS ALEATÓRIOS
34. RADIESTESIA
35. POLTERGEIST
XV- TIPTOLOGIA
O fenômeno da tiptologia (do gr. tipto, eu bato + logia, estudo, discurso, linguagem), marca
momento importante na história do Espiritismo, pois foi o primeiro a atrair a atenção de
pesquisadores e autoridades, que, depois de investigá-los, atestaram sua indiscutível
realidade.
De fato, no início do ano de 1848, em Hydesville, um lugarejo perto de Rochester, condado
de Waine, no Estado de Nova York, na casa da Família Fox, começaram a ser ouvidos,
durante a noite, estranhos ruídos de arranhadura, de arrastar de móveis e batidas, entre
outros, inquietando o casal Fox e despertando a curiosidade de suas filhas, as meninas Kate e
Margareth,(2) e a jovem Leah. (Tais ruídos, aliás, já teriam sido registrados pela família
Weekman, moradores anteriores, em 1844).
(2)
Segundo a Sra. Fox, Kate e Margareth tinham, na época, 7 e 10 anos, respectivamente.
Em março daquele ano, intensificaram-se os ruídos que passaram a ser ouvidos em toda a
casa, tornando-se, os sons, por vezes, tão vibrantes que as camas tremiam e se moviam,
alarmando a família, que já não conseguia dormir, uma vez que esses ruídos só apareciam à
noite. Finalmente, na noite de 31 de março, houve uma explosão inexplicável de sons muito
altos e continuados.(3) Em meio à intranquilidade geral, a jovem Kate (Catalina) Fox,
resolveu, de repente, desafiar a força invisível a responder aos sons que ela produzia com os
dedos.
(3)
Ver, adiante, Efeitos Sonoros.
O pedido foi prontamente atendido e cada solicitação de Kate era respondida com uma
batida, estabelecendo-se, assim, um contato telegráfico entre a jovem e o comunicante
espiritual, assinalando, em sua singeleza, o início de um novo tempo para a Humanidade.
“Foi nessa noite” - escreve Conan DOYLE - “que um dos grandes pontos da evolução
psíquica foi alcançado” (...) “Aquele quarto rústico, com aquela gente ansiosa, expectante
(...), com os rostos alterados, num círculo iluminado por velas e suas grandes sombras se
projetando nos cantos, bem podia ser assunto para um grande quadro histórico”.(4)
(4)
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: PENSAMENTO, 1995, p. 75. Trad. Júlio
Abreu Filho.
Por sua importância, merece transcrição o valioso depoimento da Sra. Fox, sobre essas
ocorrências:
“Na noite de sexta-feira, 31 de março de 1848, resolvemos ir para a cama um pouco mais
cedo e não nos deixamos perturbar pelos barulhos: íamos ter uma noite de repouso. Meu
marido, que aqui estava em todas as ocasiões, ouviu os ruídos e ajudou a pesquisa. Naquela
noite fomos cedo para a cama — apenas escurecera. Achava-me tão quebrada e com falta
de repouso, que quase me sentia doente. Meu marido não tinha ido para a cama quando
ouvimos o primeiro ruído naquela noite. Eu apenas havia me deitado. A coisa começou
como de costume. Eu o distinguia de quaisquer outros ruídos jamais ouvidos. As meninas,
que dormiam em outra cama no quarto, ouviram as batidas e procuraram fazer ruídos
semelhantes, estalando os dedos.
Minha filha menor, Kate, disse, batendo palmas: ‘Sr. Pé- Rachado, faça o que eu faço’.
Imediatamente seguiu-se o som, com o mesmo número de palmadas. Quando ela parou, o
som logo parou. Então Margareth disse brincando: ‘Agora faça exatamente como eu. Conte
um, dois, três, quatro’ e bateu palmas. Então os ruídos se produziram como antes. Ela teve
medo de repetir o ensaio. Então Kate disse, na sua simplicidade infantil: ‘Oh! mamãe! eu já
sei o que é. Amanhã é primeiro de abril e alguém quer nos pregar uma mentira’.
Então pensei em fazer um teste de que ninguém seria capaz de responder. Pedi que fossem
indicadas as idades de meus filhos, sucessivamente. Instantaneamente, foi dada a exata
idade de cada um, fazendo um pausa de um para o outro, a fim de os separar, até o sétimo,
depois do que se fez uma pausa maior e três batidas mais fortes foram dadas,
correspondendo à idade do menor, que havia morrido.
Então perguntei: ‘É um ser humano que me responde tão corretamente?’ Não houve
resposta. Perguntei: ‘É um espírito? Se for dê duas batidas’. Duas batidas foram ouvidas
assim que fiz o pedido. Então eu disse: ‘Se foi um Espírito assassinado dê duas batidas Estas
foram dadas instantaneamente, produzindo um tremor na casa. Perguntei: ‘Foi assassinado
nesta casa?’ A resposta foi como a precedente. ‘A pessoa que o assassinou ainda vive?’.
Resposta idêntica, por duas batidas. Pelo mesmo processo verifiquei que fora um homem
que o assassinara nesta casa e os seus despojos enterrados na adega; que a sua família era
constituída de esposa e cinco filhos, dois rapazes e três meninas, todos vivos ao tempo de
sua morte, mas que depois a esposa morrera. Então perguntei: ‘Continuara a bater se
chamar os vizinhos para que também escutem?’ A resposta afirmativa foi alta.
Meu marido foi chamar Mrs. Redfield, nossa vizinha mais próxima. É uma senhora muito
delicada. As meninas estavam sentadas na cama, unidas uma à outra e tremendo de medo.
Penso que estava tão calma como estou agora. Mrs. Redfield veio imediatamente - seriam
cerca de sete e meia - pensando que faria rir às meninas. Mas quando as viu pálidas de
terror e quase sem fala, admirou-se e pensou que havia algo mais sério do que esperava. Fiz
algumas pergunteis por ela e eis respostas foram como antes. Deram-lhe a idade exata.
Então ela chamou o marido e as mesmas pergunteis foram feiteis e respondidas.
Então, Mrs. Redfield chamou Mr. Duesler e a esposa, e várias outras pessoas. Depois, Mr.
Duesler chamou o casal Hyde e o casal Jewell. Mr. Duesler fez muitas perguntas e obteve as
respostas. Em seguida, indiquei vários vizinhos nos quais pude pensar, e perguntei se havia
sido morto por um deles, mas não tive resposta. Após isso, Mr. Duesler fez perguntas e
obteve as respostas: ‘Foi assassinado?’ Resposta afirmativa. ‘Seu assassino pode ser levado
ao tribunal?’ Nenhuma resposta. ‘Pode ser punido pela lei?’ Nenhuma resposta. A seguir,
disse: ‘Se seu assassino não pode ser punido pela lei, dê sinais’. As batidas foram ouvidas
claramente. Pelo mesmo processo, Mr. Duesler verificou que ele tinha sido assassinado no
quarto de leste, há cinco anos passados, e que o assassínio fora cometido, à meia-noite de
uma terça-feira, por Mr. ...; que fora morto com um golpe de faca de açougueiro na
garganta; que o corpo tinha sido levado para a adega; que só na noite seguinte é que havia
sido enterrado; tinha passado pela despensa, descido a escada, e enterrado a dez pés abaixo
do solo. Também fora constatado que o móvel fora o dinheiro.
‘Qual a quantia: cem dólares?’ Nenhuma resposta. ‘Duzentos? Trezentos?’ etc. Quando
mencionou quinhentos dólares as batidas confirmaram.
Foram chamados muitos dos vizinhos que estavam pescando no ribeirão. Estes ouviram as
mesmas perguntas e respostas. Alguns permaneceram em casa naquela noite. Eu e as
meninas saímos. Meu marido ficou toda a noite com Mr. Redfield. No sábado seguinte a
casa ficou superlotada. Durante o dia não se ouviram os sons; mas ao anoitecer
recomeçaram. Dizia que mais de trezentas pessoas achavam-se presentes. No domingo pela
manhã os ruídos foram ouvidos o dia inteiro por todos quantos se achavam em casa.
Na noite de sábado, 1° de abril, começaram a cavar na adega; cavaram até dar n’água;
então pararam. Os sons não foram ouvidos nem na tarde nem na noite de domingo. Stephen
B. Smith e sua esposa, minha filha Marie, bem como meu filho David S. Fox e sua esposa
dormiram no quarto aquela noite.
Nada mais ouvi desde então até ontem. Antes do meio-dia, ontem, várias perguntas foram
respondidas da maneira usual. Hoje ouvi os sons várias vezes.
Não acredito em caseis assombradas nem em aparições sobrenaturais. Lamento que tenha
havido tanta curiosidade neste caso. Isto nos causou muitos aborrecimentos. Foi uma
infelicidade morarmos aqui neste momento. Mas estou ansiosa para que a verdade seja
conhecida e uma verificação correta seja procedida. Ouvi as batidas novamente esta manhã,
terça-feira, 4 de abril. As meninas também ouviram.
Garanto que o depoimento acima me foi lido e que é a verdade; e que, se fosse necessário,
prestaria juramento de que é verdadeiro.
(a) Margareth Fox.”(5)
(5)
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: PENSAMENTO, 1995, p. 75. Trad. Júlio
Abreu Filho.
A ideia de usar o alfabeto para obtenção de respostas, por meio de arranhões, teria partido de
um vizinho, Mr. Duesler, convidado a assistir os fenômenos, mas acredita-se que tenha sido
o irmão do Sr. John Fox, David S. Fox que tenha sido o primeiro a usar o alfabeto, em
Hydesville. Mais tarde, foi divulgado por Isaac Post, membro influente dos Quakers. Com
uso do método alfabético, foi possível ao Espírito por meio de batidas e segundo o
convencionado, identificar-se como sendo Charles B. Rosma, como visto, o mascate
assassinado, cujo corpo havia sido enterrado na adega da casa.
Surgira, assim, o extraordinário fenômeno da comunicação por meio de batidas ou pancadas,
designado depois por KARDEC como tiptologia.(6) Em sua aparente singeleza, dava início,
oficialmente, a um movimento que iria revolucionar o Saber humano.
O esqueleto do mascate assassinado foi encontrado 56 anos depois. “De acordo com uma reportagem do
(6)
Boston Journal” - informa N. FODOR - “algumas partes de uma parede inacabada, construída numa área da
parede verdadeira da despensa, caiu. Escavações foram feitas pelo proprietário da Casa Falante e um
esqueleto humano quase completo foi encontrado. Havia uma lata de mascate perto dos ossos”. (An
Encyclopaedia of Psychic Science, p. 146).
“Geralmente ressoam na estrutura de madeira da mesa, mas nem sempre sucede assim, e são
percebidos ocasionalmente, no solo, nos móveis, nas paredes, no teto, e nos próprios
assistentes. Ouvi-os, muitas vezes, fora deis sessões e os consegui em plena luz.
A variedade dos raps não é menor do que a diversidade dos objetos sobre os quais se fazem
ouvir. O tipo ordinário consiste em golpes secos, de intensidade variável, os que recordam o
crepitar da centelha elétrica. A tonalidade dos raps varia segundo a composição da matéria
em que fazem ouvir. Distinguem-se os raps desferidos na madeira, dos batidos numa folha de
papel de carta ou em tecidos, e esta é uma verificação interessante, porque demonstra que o
som é produto das vibrações da composição material do objeto.”(7)
(7)
LOUREIRO, Carlos Bernardo. Dos Raps à Comunicação Instrumental. Rio de janeiro: LORENZ, 1993,
p. 235.
Sejam quais forem os tipos de raps, só adquirem caráter tiptológico, quando servem à
comunicação ordenada do Espírito, de modo que convertam as batidas em palavras, segundo
a convenção estabelecida (cada número de pancadas, por exemplo, correspondendo a uma
letra do alfabeto - uma pancada para a letra A, duas para a letra B, etc. - ou a cada palavra
falada, uma resposta assinalada por um tipo de pancada, indicando se é a desejada ou não,
pelo Espírito para compor sua mensagem).
Como bem observa CERVINO, na tiptologia “há sempre uma convenção. Uma série de raps
não chega a ser tiptologia, embora pelo seu caráter, oportunidade e localização possam ter
um significado sematológico”.(8)
(8)
CERVINO, Jayme. Além do Inconsciente. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989, p. 166. V. adiante,
Sematologia.
Em fins de 1850, por indicação dos próprios Espíritos, passou-se a adotar uma nova maneira
de comunicação, por meio de uma pequena mesa, sobre a qual se punham as mãos.(9)
(9)
Registros históricos indicam que esse processo de comunicação já era conhecido nos primeiros séculos do
Cristianismo. O primeiro a usá-lo teria sido o notável teólogo e Doutor da Igreja, Quintys Septimius Flores
(160-230).
Ao recitar-se o alfabeto, a mesa levantava um dos pés, dando uma pancada a cada vez que
uma letra do alfabeto era pronunciada e que servisse ao Espírito para a formação da palavra
que desejava.
Embora lento, esse processo produziu excelentes resultados. “Há que notar” - observa a
notável pesquisadora e escritora, Emma Hardinge BRITTTEN - “que a mesa não se limitava
a levantar-se sobre um pé para responder às perguntas que se faziam; movia-se em todos os
sentidos, girava sob os dedos dos experimentadores, às vezes se elevava no ar; sem que
descobrissem as forças que a tinham suspendido”.(10)
(10)
BRITTEN, Emma Hardinge. Modern American Spiritualism, Londres, 1870. Cf. Zêus WANTUIL, As
Mesas Girantes e o Espiritismo. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, p. 8.
Esse novo método, das mesas girantes (conhecidas, em seu início, como mesas falantes e
mesas dançantes) chamou ainda mais, a atenção do público americano, atraindo grande
número de cientistas, de Harvard e de outras Universidades, membros eminentes do
Congresso Americano, escritores, poetas, religiosos, pesquisadores de diversas áreas,
periodistas, a todos convencendo e convertendo opositores em adeptos. Zêus WANTUIL, a
propósito, narra um desses casos, a conversão de um célebre Juiz da Suprema Corte de Nova
York, John EDMONDS, que, depois, se tornou um dos maiores divulgadores das novas
ideias:
“Em Janeiro de 1851, o jurista John Worth Edmonds, ex-senador, ex-juiz do Supremo
Tribunal de Nova Iorque, um dos homens mais respeitados nos Estados Unidos, começou
suas investigações no campo da fenomenologia espiritualista, e eis a narração de um fato
que lhe foi dado presenciar a 23 de Abril do mesmo ano: ‘Fiz parte de um grupo de nove
pessoas e nos assentamos em torno de uma mesa colocada no meio do quarto, sobre a qual
se achava um lampião aceso. Um outro lampião permanecia em cima da lareira. Dentro em
pouco a mesa foi elevada pelo menos a um pé do soalho, e sacudida para frente e para trás,
com largo desembaraço. Alguns de nós tentamos retê-la, empregando toda a força de que
dispúnhamos, mas em vão. Afastamo-nos todos para longe da mesa, e, a luz dos dois
lampiões, vimos este pesado móvel de acaju suspenso no ar. Tomei a resolução de
prosseguir essas investigações, decidido a esclarecer o público, pois pensava que tudo não
passasse de ilusão; minhas pesquiseis, porém, me conduziram a um resultado totalmente
oposto.’
A divulgação dessas experiências com as mesas e, a seguir, a conversão do juiz Edmonds,
materialista que sempre rira da crença nos Espíritos, que sempre escarnecera de quem quer
que fosse que acreditasse manter relações com um mundo espiritual, pasmaram a todos os
norte-americanos, aumentando ainda mais o interesse pelas manifestações inteligentes
ultratumulares.”(11)
(11)
WANTUIL, Zêus. Op. cit., pp. 8 e 9.
Depois dos Estados Unidos, foram o Canadá e o México, pela proximidade, a tomarem
conhecimento desses fatos. Em 1852, chegaram à Escócia e, logo depois, por intermédio da
médium norte-americana Sra. Hayden, (12) à Inglaterra, atraindo também a atenção de todas
as classes. Da Inglaterra, os fenômenos passaram a ser conhecidos na França, (13) Alemanha
e, mais tarde, em toda a Europa.
(12)
Mrs. W. R. HAYDEN, médica respeitável, esposa de um reputado jornalista americano, que a
acompanhava em sua missão, foi descrita por um crítico britânico, como “moça inteligente e, ao mesmo
tempo, de maneiras simples e cândidas. Ela desarmava a suspeita por uma atitude de naturalidade sem
afetação e muitos que vinham procurar divertir-se à sua custa, eram forçados ao respeito e, até, ã
cordialidade, pela paciência e bom humor que demonstrava.” (Cf. Doyle, Arthur Conan. Op. cit., pp. 139 e
140).
Seus trabalhos alcançaram grande repercussão nos meios culturais da Inglaterra. As mesas girantes
chegaram a alcançar tal popularidade entre os ingleses, que as pessoas eram convidadas, não apenas para o
chá, mas para o “chá e mesas girantes”. (Jornal The Yorkshireman, 25 out., 1856, cf. C. DOYLE. Op. cit., p.
152).
(13) VICTOR HUGO foi uma das celebridades da época que se dedicaram a operar com as mesas girantes,
mantendo importantes contatos com SHAKESPEARE, MOLIÈRE, GALILEU e outros, formulando-lhes,
inclusive, questões em versos, cujas respostas eram, também, dadas em versos. Diálogos notáveis
aconteceram, então, entre gigantes do pensamento.
“É de notar-se que, quando se emprega esse meio (tiptologia), o Espírito usa também de
uma espécie de mímica (...), exprime a natureza dos sentimentos que o animam: a violência,
pela brusquidão dos movimentos; a cólera e a impaciência, batendo repetidamente fortes
pancadas, como uma pessoa que bate arrebatadamente com os pés, chegando, às vezes, a
atirar ao chão a mesa. Se é amável e delicado, inclina, no começo e no fim da sessão, a
mesa, à guisa de saudação. Se quer dirigir-se diretamente a um dos assistentes, para ele
encaminha a mesa com brandura, ou violência, conforme deseje testemunhar-lhe afeição, ou
antipatia.”(1)
(1)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 61. ed. p. 186, item 140, Cap. XI.
“No sábado, por combinação prévia, quatro de nós nos reunimos à noite. Eglinton, Colman, a
Sra. Nichols e eu. Supondo poder obter alguma escrita ou desenho, coloquei uma folha de
pape! e um lápis sobre a mesa. Está- vamos em uma pequena sala bem iluminada. Ouvimos
um ligeiro ruído num canto; olhando, vimos uma cadeira leve, de fundo de palhinha, mover-
se por si sobre duas pernas, balançando-se para diante e para trás e respondendo às nossas
perguntas com os seus movimentos e finalmente se encaminhou para a mesa, se encostou aos
meus joelhos carinhosamente e se portou em tudo como um ser dotado de locomoção e
inteligência.
Foi um fato curiosíssimo esse, presenciado por quatro pessoas, durante 10 ou 15 minutos,
sem possibilidade de ser levado à conta de artifício ou alucinação. Examinei a cadeira
cuidadosamente, embora fosse isso desnecessário, pois não pode haver maquinismo possível
que em tais circunstâncias pudesse traduzir o fenômeno. Em seguida abaixamos o gás por
alguns minutos, durante os quais ouvimos, por determinado tempo, o ruído de um lápis e
quando demos força à luz, achamos na folha de papel traçado o retrato de um amigo falecido
e uma carta com várias páginas, com a letra de uma querida filha nossa, cujo Espírito muitas
vezes nos visita.”(2)
(2)
ZÖLLNER, Johann Karl Friedrich. Provas Científicas da Sobrevivência. (Orig. Die Transcedental und die
sogennante Philosofie). 6. ed. Sobradinho: EDICEL, 1996, pp. 73 e 74. Trad. Thomaz Williams.
Fenômenos como esses, de abundante registro nos anais espíritas, servem, sem dúvida, à
plena comprovação da imortalidade do Espírito.
XVII- CINETOLOGIA
“Achava-se Rui numa estação de águas, em Minas Gerais, e já se recolhera ao leito, quando
um grupo de senhoras e moças lembraram-se de propor uma experiência com o ‘copo’ uma
das formeis rudimentares de comunicação mediúnica. Formou-se o círculo, com o alfabeto
disposto à volta da mesa e o copo ao centro. A esses preparativos assistia, meio irônico, o
historiador Batista Pereira, genro de Rui. Ataliba Nogueira, devido a sua posição religiosa,
reprova a ‘brincadeira’. De repente, porém, Batista Pereira, de pé, observa que o copo
denotava ‘alguma inquietação Em pouco, entrou a indicar as letras, que alguém foi
anotando, sem saber ainda ao certo o que sairia dali. Por fim, decifraram o enigma:
tratava-se de uma mensagem, em inglês, dirigida a Rui Barbosa. A coisa era tão insólita
que, depois de alguma hesitação, o próprio Batista Pereira opinou que deveriam levar o
caso ao conhecimento de Rui. O conselheiro atende-os à porta de seus aposentos, em
pijama, e lê a mensagem, visivelmente emocionado.
‘— É o estilo dele - exclama -, o estilo perfeito. E o assunto! O mesmo que conversamos em
nossa despedida em Haia. A mensagem somente poderia ter uma origem - William Stead.’
Naquele dia, os jornais noticiaram que Stead havia morrido no trágico naufrágio do navio
Titanic. Viera, desembaraçado do corpo físico, trazer ao seu amigo brasileiro o testemunho
da sua sobrevivência.”(2)
(2)
Fato divulgado por Ataliba Nogueira, em conferência pronunciada em Campinas (SP) e reproduzido pelo
Jornal do Comércio (8/11/1952). In Revista do Espiritismo, Petrópolis (RJ), Ano I, nº 3, pp. 23 e 24.
Cinetologia - Operando com o copo. (I)
Ressalte-se que os resultados desse tipo de comunicação, como nos demais, depende da
condição espiritual dos presentes e não está livre de interferências perturbadoras, podendo
ocorrer, como às vezes acontece, que o objeto (copo) seja atirado ao chão, ou até coisa pior,
mostrando que todo trabalho mediúnico, por mais simples que possa parecer, requisita
seriedade, humildade, compenetração, ingredientes imprescindíveis à obtenção de resultados
superiores.
Interessante observar que, como acontece com o fenômeno das mesas girantes, no caso do
copo, este, também, com movimentos bem indicativos, inclusive, girando sobre si mesmo,
serve à demonstração da vontade e das dúvidas do comunicante, através de sinais claros e
indubitáveis (sematologia).
*
A história do mediunismo registra outros meios de comunicação cinetológica, entre eles, um
tipo de mesa diferente das que eram comumente usadas (pequenas, leves e com tripé), citada
por KARDEC como Mesa Girardine (em atenção à Senhora Emilia Girardine que dela fazia
uso) e, também, o oui-já, um pequeno ponteiro móvel que serve ã indicação das letras e
algarismos.
A Mesa Girardine é assim descrita pelo Codificador:
“Consiste o instrumento num tampo móvel de mesa, com o diâmetro de trinta a quarenta
centímetros, girando livre e facilmente em torno de um eixo, como uma roleta. Sobre sua
superfície e acompanhando-lhe a circunferência, se acham traçados, como sobre um
quadrante, as letras do alfabeto, os algarismos e as palavras sim e não. Ao centro existe
uma agulha fixa. Pousando o médium os dedos na borda do disco móvel, este gira e para,
quando a letra desejada está sob a agulha. Escrevem-se, umas após outras, as letras
indicadas e formam-se assim, muito rapidamente, as palavras e as frases.”(3)
(3)
KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, p. 190, item 144.
XVIII- ESCRITA INDIRETA
Modalidade mediúnica em que o Espírito escreve sua mensagem por meio de uma cesta de
bico ou corbelha (corbeille), ou outro dispositivo que lhe faculte a manifestação.
No primeiro caso, aproveitando os recursos ectoplásmicos disponibilizados pelos presentes,
especialmente dos médiuns que atuam encostando seus dedos na cesta (como acontece nos
fenômenos de tiptologia, sematologia e cinetologia), o Espírito a suspende, em processo de
levitação, e a seguir, impulsionando-a, faz com que o lápis preso em sua parte inferior
escreva num papel ou numa ardósia a sua comunicação.
“... consiste em adaptar-se à cesta (de quinze a vinte centímetros de diâmetro), uma haste
inclinada, de madeira, prolongando-se dez a quinze centímetros para o lado de fora, na
posição do mastro de gurupés, numa embarcação. Por um buraco aberto na extremidade
dessa haste, ou bico, passa-se um lápis bastante comprido para que sua ponta assente no
papel. Pondo o médium os dedos na borda da cesta, o aparelho todo se agita e o lápis
escreve (...), com as palavras separadas e as linhas sucedendo-se paralelas, como na escrita
comum, por poder o médium levar facilmente o lápis de uma linha a outra. Obtêm-se assim
dissertações de muitas páginas, tão rapidamente como se se escrevesse com a mão.”
Observa, a seguir:
“Ainda por outros sinais inequívocos se manifesta amiúde a inteligência que atua.
Chegando ao fim da página, o lápis faz espontaneamente um movimento para virar o papel.
Se ele quer se reportar a uma passagem já escrita, na mesma página, ou noutra, procura-a
com a ponta do lápis, como qualquer pessoa o faria com a ponta do dedo, e sublinha-a. Se,
enfim, o Espírito quer dirigir-se a alguém, a extremidade da haste de madeira se dirige para
esse alguém. Por abreviar, exprimem-se frequentemente as palavras sim e não, pelos sinais
de afirmação e negação que fazemos com a cabeça. Se o Espírito quer exprimir cólera, ou
impaciência, bate repetidas pancadas com a ponta do lápis e não raro a quebra.”(1)
(Sematologia)
(1)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB, pp. 199 e 200, itens 154 e 155, Cap. XIV.
Esse tipo de fenômeno foi muito conhecido na Europa, na época pré-Codificação, atraindo a
atenção de respeitáveis representantes dos vários campos do conhecimento, inclusive -
ressalte-se - do reputado Professor Hippolyte Léon Denizard RIVAIL, depois Allan
KARDEC que, justamente, começou sua obra, analisando milhares de respostas às mais
graves questões científicas e filosóficas, transmitidas pelos Mestres Espirituais por meio
desse tipo de escrita que, embora aparentemente rudimentar, apresenta-se como
absolutamente convincente, espancando, de vez, qualquer dúvida suscetível de existir, em
relação à sobrevivência do Espírito e à possibilidade de seu contínuo contato com os
encarnados.(2)
(2)
De se imaginar, a propósito, a extraordinária impressão que os fenômenos presenciados, pela primeira
vez, na casa dos Baudin, em Paris, teriam causado em Kardec: mensagens de luminares espirituais sendo
recebidas por meio de uma pequena cesta, suspensa no ar, com um lápis fixo em seu fundo, escrevendo
numa ardósia, e na qual as jovens Caroline e Julie Baudin apenas encostavam os dedos... Indubitavelmente,
naqueles tempos, inexistia meio melhor do que esse, para convencê-lo, definitivamente, da realidade
interexistencial.
Daí, o seu grande valor histórico, não obstante, tenha sido, com o tempo, substituída por
outros processos de comunicação mediúnica.
*
Outro dispositivo empregado na produção da escrita indireta foi o já citado oui-já, (3) tendo
um lápis fixado na sua parte mais estreita.
(3)
Ver Cinetologia.
Apoiado sobre uma folha de papel, o oui-já, sob a atuação dos médiuns que nele encostam
seus dedos, se desloca escrevendo palavras.
Tal como acontece com a corbelha, os Espíritos escrevem também, por esse meio, as suas
mensagens.
XIX- PNEUMATOGRAFIA
Comunicação que se realiza por meio da escrita direta do Espírito, ou seja, sem o uso da mão
do médium e de qualquer material ou instrumento visíveis.
Daí, a pneumatografia (do gr. pneuma, sopro, espírito + logia) ser também conhecida como
escrita direta.
Colocando-se, por exemplo, uma ou mais folheis de papel branco entre as páginas de um
livro, sobre uma mesa, numa gaveta ou em qualquer lugar, ao cabo de algum tempo,
encontrar-se-ão traçados no papel, letras, sinais, palavras, frases e, às vezes, textos inteiros.(1)
(1)
Alguns médiuns operaram, também, com ardósias. Por vezes, com ardósias duplas amarradas e, até,
lacradas, como, por exemplo, ocorria com o famoso médium inglês Henry Slade.
La Realité des Esprits et du phénomène merveilleux de l’ecriture direct. (A Realidade dos Espíritos e do
(3)
“Sem o concurso de pessoa alguma, sendo ele próprio indubitavelmente médium, obteve, em
variadíssimas condições, numerosas mensagens escritas. Suas mais notáveis experiências
foram efetuadas no Louvre, no Museu de Versalhes, na basílica de Saint- Denis, na abadia
de Westminster, no British Museum e em diversas igrejas ou monumentos, em ruínas, da
França, da Alemanha e da Inglaterra.
Entre as testemunhas desses fatos cita ele o Sr. Delamare, redator-chefe de ‘La Patrie’;
Croisselat, redator do ‘Universo’; R. Dale Owen, Lacordaire, irmão do grande orador, o
historiador De Bonnechose, o Príncipe Leopoldo Galitzin, o Reverendo W. Mountfort, cujo
depoimento a esse respeito foi publicado pelo ‘The Spiritualist’, de 21 de dezembro de 1877.
O barão colocava algumas folhas de seu próprio canhenho em lugares ocultos, sem lápis
nem coisa alguma que servisse para escrever. Afastava-se alguns passos, sem perder de
vista um só instante o objeto da experimentação, e depois retirava o papel, em que se
achavam escritas mensagens inteligíveis.” (6)
(6)
DENIS, Léon. No Invisível. 15. ed. Rio de janeiro: FEB, pp. 219 e 220.
*
Necessário ressaltar que, seguidamente, o fenômeno da escrita direta tem sido confundido
com o da materialização.
Na pneumografia, propriamente, os Espíritos dispensam a colocação, junto com o papel ou a
ardósia, de qualquer lápis, giz ou outro elemento que possa ser usado para a escrita. O
material usado deriva da manipulação do ectoplasma.
Observou KARDEC:
“Julgou-se, a princípio, ser preciso colocar-se aqui ou ali um lápis com o papel (...). Não
tardou, porém, se reconhecesse que o lápis era dispensável; que bastava um pedaço de
papel, dobrado ou não, para que, ao cabo de alguns minutos, se achassem nele grafadas as
letras. (...) Para escrever dessa maneira, o Espírito não se serve das nossas substâncias,
nem de nossos instrumentos. Ele próprio fabrica a matéria e os instrumentos (...) Possível
lhe é, portanto, fabricar tanto o lápis vermelho, a tinta de imprimir, a tinta comum, como o
lápis preto, ou, até, caracteres tipográficos bastante resistentes para darem relevo à escrita,
conforme temos tido o ensejo de verificar.” (8)
(8)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, p. 195, item 148, Cap. XII.
***
Diversa da pneumatografia, propriamente, é a escrita produzida pela mão materializada do
Espírito comunicante, usando lápis ou outro elemento colocado à disposição do Espírito.
Trata-se, apenas, de uma materialização parcial comum.
É o caso, por exemplo, do episódio narrado por CROOKES, envolvendo a médium Kate
FOX:
“Eu estava sentado perto da médium, a Sra. Fox; não havia outras pessoeis presentes, além
de minha mulher e uma senhora nossa parenta, e eu segurava as mãos da médium com uma
das minhas, enquanto que seus pés estavam sobre os meus.
Diante de nós, sobre a mesa, havia papel, e a minha mão livre segurava o lápis.
Mão luminosa desceu do teto da sala e, depois de ter pairado perto de mim durante alguns
segundos, tomou-me o lápis, escreveu rapidamente numa folha de papel, abandonou o lápis
e, em seguida, elevou-se acima deis nossas cabeças, perdendo-se pouco a pouco na
escuridão.” (11)
(11)
CROOKES, William. Fatos Espíritas. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, pp. 43 e 44. Trad. Oscar
D’Argonnel.
Como ilustração, vale, ainda, a transcrição de um dos episódios protagonizados pela notável
médium paraense, Ana Prado, assim relatado por um amigo da família da médium, que
dirigia os trabalhos:
“À mesa, coberta por um pano, sentáramos eu e minha mulher aos lados e, à cabeceira, a
médium; e, como assistentes, sentaram-se nas cadeiras de balanço que se achavam
próximas, as filhas da médium. Apagaram-se as luzes, exceto a do 3º quarto da puxada, a
fim de iluminar o corredor de modo tênue e, assim, indiretamente, todo o ambiente onde se
efetuava a experiência.
Em seguida, minha esposa colocou debaixo da mesa um caderno de papel almaço e sobre
este, um lápis, tendo somente rubricado a primeira página, por supor que o fenômeno só aí
se daria.
O papel foi posto debaixo da mesa, por ser a escuridão aí mais intensa, facilitando desta
forma a escrita por mão de um Espírito.
Concentramo-nos, cada qual orando mentalmente.
Pouco depois, ‘João’ disse à médium, pelo sentido auditivo:
‘Está pronto o primeiro ditado. Há outro irmão que se quer comunicar’. (...)
Acabada a escrita pelo novo manifestante, João deu sinal de pronto, por pancadas
repetidas. (...) Feito isto, encontramos uma comunicação dirigida à minha esposa, assinada
por Guilherme, pessoa que foi por nós conhecida na Itália, e cuja identidade ficou
provada.” (12)
(12)
NOGUEIRA DE FARIA. O Trabalho dos Mortos e a Tolice dos Vivos. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, Rio
de Janeiro, 1990, pp. 197 e 198.
Fenômenos semelhantes, em que o lápis colocado com o papel ou a lousa é acionado por
mãos ou dedos materializados visíveis — e, também, não visíveis —, encontram-se
abundantemente relatados na literatura espírita internacional e nacional.
Trata-se, como visto, de fenômenos de materialização que, embora pareçam guardar alguma
semelhança com a escrita direta, com ela não se confundem. (13)
(13)
Interessante observar que na escrita em que o Espírito usa o lápis, por exemplo, este apresenta visível
desgaste na ponta, comprovando seu uso.
***
A pneumatografia pode ocorrer de forma espontânea ou ser provocada; pode, também,
manifestar-se como escrita ordinária ou xenoglóssica.
PNEUMATOGRAFIA
ESPONTÂNEA
PROVOCADA
ORDINÁRIA
XENOGLÓSSICA (Pneumaxenografia)
Pneumatografia Espontânea
Pneumatografia Provocada
É a escrita que acontece, atendendo às expectativas dos presentes, servindo, muitas vezes, a
projetos de pesquisa. Esse o sentido em que se pode tê-la como provocada.
Pneumatografia Ordinária
É a que surge escrita na língua do médium e dos presentes, de todos conhecida, pois.
Robert Dale OWEN (1801-1875), narra um fato que, embora não se qualifique como
pneumatografia, propriamente, vale citá-lo por sua importância histórica e pela semelhança
que com ela guarda. Consta de uma monografia de Gabriel DELANNE, e foi transcrito por
BOZZANO:
“Realizamos uma sessão de que eu lembrarei por toda a vida. (...) Um bico de gás suspenso
sobre a mesa tornava nitidamente visíveis todos os objetos que havia no aposento. A mesa
junto à qual nos sentamos, media cinco pés de comprimento e dois e meio de largura. Slade
ocupou uma das cabeceiras, ficando eu de um dos lados. As mãos do médium se
conservaram sobre a mesa, durante a sessão toda. (...)
Passados alguns minutos, percebi ligeiro toque num dos joelhos, o que me fez aguçar ainda
mais a atenção, visto que, positivamente, se tratava do toque de uma mão. E eis que surge
uma mão, trazendo entre os dedos o lápis que eu depusera sobre a mesa. Avançou
lentamente por sobre os meus joelhos e elevou-se para cima da lousa. Era mão de mulher,
mas parecia feita de mármore estatuário, tendo os dedos delicadamente afilados e
modelados. Apresentava- se destacada, terminando, à altura do pulso, por uma nuvenzinha
fluídica. Começou a escrever da metade da folha e continuou sob as minhas vistas, por dois
ou três minutos. Quando chegou ao fim da página, parou e deslizou suavemente para
debaixo da mesa, levando consigo o lápis.
Cinco minutos transcorreram sem que fenômeno algum se produzisse. Depois, apareceu
outra mão notavelmente menor do que a primeira, mas semelhante a esta pela brancura
marmórea e elegância da forma. Aproximou-se da folha de papel e começou a escrever na
parte superior, levando a fazê-lo tanto tempo quanto a precedente. Em seguida, por sua vez,
desapareceu debaixo da mesa. Tive ensejo de contemplá-la muito melhor do que à primeira,
por isso que escreveu fora da sombra do móvel, o que quer dizer - à plena luz do gás... (...).
A segunda (mensagem) grafada na parte superior da folha de papel, tinha o título seguinte,
em inglês: Lei de amor (S. Mateus, 43.45), mas fora escrita em grego antigo.
Os meus conhecimentos da língua grega, já muito rudimentares quando deixei o colégio, se
haviam restringido ainda mais, após meio século de completo abandono, de maneira que só
com grande esforço mnemônico logrei compreender uma que outra palavra isolada. Dirigi-
me a dois dos melhores grecistas da Universidade de Harvard e fui informado de que se
tratava, realmente, salvo alguns acentos e algumas vírgulas, de um grego corretíssimo, em
que eram citados três versículos do Evangelho de S. Mateus, versículos cuja tradução
reproduzo:
‘43. Ouvistes que foi dito: Ama o teu próximo e odeia o teu inimigo.
44. Mas, eu vos digo: Amai os vossos inimigos, bendizei dos que vos maldizem, fazei o bem
aos que vos odeiam, e orai pelos que vos fazem mal e vos perseguem;
45. A fim de que sejais filhinhos de vosso Pai, que está nos Céus e que faz se levante o sol
sobre os bons e sobre os maus e que chova sobre os justos e sobre os injustos. Esta é a
verdadeira Lei do Amor.” (14)
(14)
BOZZANO, Ernesto. Xenoglossia. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980, pp. 183 a 185. Trad. Guillon
Ribeiro.
A multiplicidade de casos como este tem levado alguns autores a confundirem a escrita
direta com a escrita obtida por meio de materialização parcial do Espírito (mãos ou dedos). A
primeira, todavia, como visto, apresenta características próprias, já ressaltadas, aliás, por
KARDEC.
O Processo Pneumatográfico
Como acontece com os demais fenômenos mediúnicos, o conhecimento que, por enquanto,
se tem, a respeito do seu processo, a maneira como ocorre, é rudimentar.
Alguns fatos observados, todavia, fornecem algumas pistas. Em certos casos, por exemplo,
durante o fenômeno, detecta-se um forte odor de chifre queimado, o qual, como informam os
Espíritos, resulta de uma espécie de queima de ectoplasma, para a produção do material de
impressão, que, depois, precipita-se sobre a superfície do papel, ou outra, impregnando as
letras aí impressas, possivelmente, em relevo imperceptível a olho nu, e talvez, mesmo,
invisível aos olhos físicos, produzindo a escrita diretamente.
O famoso pesquisador Dr. ENCAUSSE (PAPUS), em relato apresentado à Sociedade de
Estudos Psíquicos, em Nançy, então existente, menciona um caso de escrita direta, em luz
plena, que fornece interessante subsídio:
“Durante esta sessão fomos capazes de obter, à luz plena, numa folha de papel, assinada
por vinte testem unhas, a precipitação de uma folha inteira de versos escritos, assinada
“Corneille”. Eu examinei a substância que formou a escrita sob o microscópio e fui levado
a conclusão de que isto consistia em glóbulos de sangue humano, algo alterados e como se
calcinados (...).” (15)
(15)
Annales des Sciences Psychiques, 1907. Apud FODOR, Nandor. An Ençyclopaedia of Psichic Sciences,
p. 97.
William Stainton MOSES (1839-1892) anota outra observação interessante em uma das
sessões que realizou com o médium Slade.
“As mãos de Henry Slade ficavam, algumas vezes, febrilmente quentes e emitiam, durante a
escrita, o que acontecia sempre próximo às suas mãos, sons de estalidos e detonações. Essas
detonações, ocasionalmente, viravam explosões verdadeiras e pulverizavam a lousa.” (16)
(16)
Annales des Sciences Psychiques, 1907. Apud FODOR, Nandor. An Ençyclopaedia of Psichic Sciences,
p. 94.
*
Fenômenos como esses, certamente, servem à eliminação do materialismo que, infelizmente,
ainda avassala boa parte da Humanidade.
XX- PNEUMAPICTURA
Produção de pinturas e desenhos, por parte dos Espíritos, sem o uso de pincéis, lápis ou
tintas.
A pintura direta, embora guarde semelhança com « escrita direta, mostra-se, claramente,
mais complexa.
As pinturas e desenhos surgem de vários tamanhos em telas, papel e outras superfícies,
inclusive, em paredes
A Sra. Nichol GUPPY, famosa médium britânica, servi, à produção de desenhos e flores de
cores variadas, obtidos sempre sem nenhum material de desenho ou pintura. Em experiências
descritas por seu marido (Mary Jane or Spiritualism Chemically Examined, Londres, 1863)
papel especialmente marcado era colocado numa caixa fechada e selada. Minutos depois
aparecia uma pintura em nada menos que sete cores, coberta com um verniz de fonte
desconhecida!
Importantes fenômenos pneumapictóricos foram protagonizados por outros médiuns, entre
eles, as irmãs Lizzie e May Banys, na cidade de Chicago, no século passado. Em telas de
papel montadas contra a luz, produziam-se, à plena vista, retratos de Espíritos, cujas
fotografias eram trazidas pelos presentes. (1)
(1)
Cf. relato de MOORE, em “Glimpses of the Nero State”. Ençyclopaedia..., pp. 90 e 91.
No Brasil inexistem notícias mais recentes desses fenômenos, embora, como visto, sejam
relativamente comuns as elaborações psicopictóricas.
De qualquer forma, importante é seu registro como um dos mais extraordinários fenômenos
ectoplásmicos.
XXI- PNEUMATOFONIA
“Eu só desejo aos materialistas que ouçam e não lhes pedir, senão, que procurem ouvir a voz
direta de um morto querido. Porque não há convicção científica, nem arraigada incredulidade
que resistam a esta prova prodigiosa, a esta evidência que se nos impõe: a garganta, o
cérebro, todo o corpo do fulano são cinzas há muitos anos e já não existem; mas aquela sua
voz e não de outro, é esta que ouço! ... Então, por que ela subsiste? É porque outra coisa, que
não o seu corpo e o seu cérebro, era e continua a ser o seu eu! ... ” (2)
SANZ, Rodrigo. “Materialismo e Espiritismo”. Apud LOUREIRO, Carlos Bernardo. A Mediunidade
(2)
PNEUMATOFONIA
ESPONTÂNEA
PROVOCADA
ORDINÁRIA
XENOGLÓSSICA (Pneumaxenofonia)
Herbert Dennis BRADLEY, em sua importante obra, Rumo às Estrelas, relata, entre as
inúmeras experiências tidas com o notável médium norte-americano, George VALIANTINE,
impressionante episódio em que o célebre CARUSO aparece cantando:
“Everett (Espírito orientador dos trabalhos) avisou-nos de que Caruso estava presente - e
Caruso manifestou- se, falando-nos em voz clara e potente. Disse que sua filha Glória iria
revelar uma excelente voz e que devia ser convenientemente treinada. Perguntamos-lhe se
lhe era possível cantar-nos alguma coisa. Respondeu que tentaria - e depois de uma pausa
de minuto, cantou um trecho de ópera italiana que não identifiquei. Voz poderosa encheu o
recinto.” (5)
(5)
BRADLEY, H. Dennis. Rumo às Estrelas (Orig. Towards The Stars). São Paulo: LAKE, 1999, p. 197.
Trad. Monteiro Lobato.
Não é raro, também, vozes infantis se manifestarem. Descreve BRADLEY, a propósito, uma
interessante reunião em que uma criança se faz presente e, inclusive, se diverte com um
brinquedo que lhe é dado, num episódio em que, com a pneumatofonia, ocorre, também, um
fenômeno de transporte:
“A vozinha de Honey foi um encanto. Voz de criança que corria pela sala e falava com cada
um de nós por sua vez. Lembrei-me de que em cima de uma deis estantes havia uma dessas
pequeninas matracas distribuídas em certas festas. Enquanto Honey estava presente pedi a
minha mulher que visse a matraca e a pusesse diante dela. Honey tomou-a e correu pela
sala fazendo um terrível barulho.” (6)
(6)
BRADLEY, H. Dennis. Rumo às Estrelas (Orig. Towards The Stars). São Paulo: LAKE, 1999, p. 182.
Trad. Monteiro Lobato.
Comum, também, que várias vozes se manifestem numa reunião e, às vezes, ao mesmo
tempo, até, caracterizando a presença de vários Espíritos no recinto, em condições de se
comunicarem diretamente, como, por exemplo, ocorreu com HOME, VALIANTINE, a Sra.
WRIEDT, SLOAN e outros.
*
Como em todo processo mediúnico, o modo como ocorre ainda não é inteiramente
conhecido, aguardando- se, ainda, a respeito, mais informações por parte da Espiritualidade
Superior.
Todavia, em luminosa descrição de experiência que presenciou ao lado de seus Mestres
Espirituais, ANDRÉ LUIZ, pela mediunidade de Francisco C. XAVIER, nos transmite
admirável lição a respeito:
“(...) Logo após, Alexandre tomou pequena quantidade daqueles eflúvios leitosos, que se
exteriorizavam particularmente através da boca, narinas e ouvidos do aparelho mediúnico,
e, como se guardasse mis mãos reduzida quantidade de gesso fluido, começou a manipulá-
lo, dando-me a impressão de estar completamente alheio ao ambiente, pensando, com
absoluto domínio de si mesmo, sobre a criação do momento.
Aos poucos, vi formar-se, sob meus olhos atônitos, um delicado aparelho de fonação. No
íntimo do esqueleto cartilaginoso, esculturado com perfeição na matéria ectoplásmica,
organizavam-se os fios tenuíssimos das cordéis vocais, elásticas e completas na fenda
glótica e, em seguida, Alexandre experimentava emitir alguns sons, movimentando as
cartilagens aritenóides.
Formara-se, ao influxo mental e sob a ação técnica de meu orientador, uma garganta
irrepreensível.
Com assombro, verifiquei que através do pequeno aparelho improvisado e com a
cooperação dos sons de vozes humanas, guardados na sala, nossa voz era integralmente
percebida por todos os encarnados presentes. Parecendo-me satisfeito com o êxito de seu
trabalho, Alexandre falou pela garganta artificial, como quem utilizava um instrumento
vocal humano:
Meus amigos, a paz de Jesus seja convosco!” (9)
(9)
Xavier, Francisco C. Espírito André Luiz. Missionários da Luz. 25. ed., p. 119, Cap. 10.
TRANSCOMUNICAÇÃO INSTRUMENTAL
SONORA
VISUAL
MISTA
As comunicações sonoras são obtidas por meio do telefone, gravador e rádio principalmente.
As visuais surgem nos vídeos dos computadores, nas telas dos televisores e nos aparelhos de
fax. As mistas são as comunicações visuais acompanhadas do som das vozes dos que se
comunicam pelos computadores. (1)
(1)
Potencialmente, existe, também, a possibilidade da transcomunicação por meio dos celulares.
Nesse trabalho, entre vários e importantes episódios, encontra-se o relato de uma ocorrência
que o convenceu, definitivamente, da autenticidade dos contatos com os Espíritos.
Tendo D’ARGONNEL indo a uma sessão mediúnica do seu Grupo de Espiritismo
Experimental, pediu a seguinte prova à entidade: que, exatamente no momento em que ele
chegasse de retorno à sua casa, o telefone tocasse e que o comunicante dissesse algo estranho
como: “quantos pães comeu o rei?” Em seguida, que a entidade declinasse todos os nomes
dos membros daquele grupo e mais o da dona da casa.
Assim aconteceu. Conta D’ARGONNEL que por mais que desse voltas, exatamente no
momento em que abriu a porta de casa, tocou o telefone. Ao retirar do gancho, ouviu:
Depois da oração, um Espírito após outro foi pedindo a palavra, até que um belo cântico
encerrou a homenagem. Para encerrar, disse o Espírito Manoel:
Merece, ainda, citação, por sua grande repercussão nos meios intelectuais brasileiros, fato
notável envolvendo o escritor COELHO NETO, um dos fundadores da Academia Brasileira
de Letras.
Mais tarde, essa obra foi publicada em inglês (Nova York, Taplinger, 1971), com o título “Breakthrough”
(7)
(Ruptura).
(8)
V. ANDRADE, Hernani Guimarães. A Transcomunicação Instrumental através do Tempo. São Paulo:
FE, 1997, pp. 241 e segs., Cap. XXIX; BRUNE, François e CHAUVIN, Rémy. Linha Direta com o Além.
(Orig. En Direct de 1’au-delà). Sobradinho (DF): EDICEL, 1994, pp. 51 a 53. Trad. Aríete Galvão de
Queiroz.
*
Outro tipo de transcomunicação é a visual, obtida por via do computador, da televisão e por
fax.
As comunicações por fax, mais recentes, têm sido as mais raras.
Essa modalidade chamou a atenção dos pesquisadores, principalmente a partir de 1995,
quando foi recebida uma mensagem por fax, com três longas páginas, assinada por Júlio
Verne e na qual se identifica plenamente o estilo do famoso autor.
As recepções por computador têm surpreendido pela qualidade das fotos e pelos longos
textos, que são diretamente inseridos pelos Espíritos no Winchester do computador, de
acordo com os recursos ectoplásmicos disponíveis.
Ao que consta, as primeiras manifestações aconteceram na Inglaterra, chegando, na década
de 1980, a centenas de transmissões. Posteriormente, um grupo de Luxemburgo passou a
receber os transtextos e aprimorar a técnica de recepção, conseguindo resultados melhores,
ainda, estimulando pesquisadores de outros países a também desenvolverem seus programeis
de contato com os Espíritos por via de computadores, obtendo, inclusive, imagens de
paisagens e de animais. (9)
V. SCHÁFER, Hildegard. Ponte Entre o Aqui e o Além — Teoria e Prática da Transcomunicação. (Orig.
(9)
Brücke Zwischen Diesseits und Jenseits - Theorie und Praxis der Transkommunikation). 10. ed. São Paulo:
PENSAMENTO, 1997, pp. 163 e segs. Trad. Gunter Altmann.
LOCHER, T.; HARSCH, M. Transcomunicação, pp. 62 e segs.; NUNES, Clóvis S. Transcomunicação:
Comunicações Tecnológicas com o Mundo dos “Mortos”. 2. ed. Sobradinho (DF): EDICEL, 1990, pp. 72 a
74.
WEBSTER, Ken. Os Mortos Comunicam-se por Computador? (Orig. The Vertical Plane), Sobradinho (DF):
EDICEL. Trad. Harry Meredig.; BANDER, Peter. Os Espíritos Comunicam-se por Gravadores. (Orig. Carry
on Talking). São Paulo: EDICEL, 1972, pp. 27 e segs. Trad. Harry Meredig e Meththied Bulla.
“Em maio de 1984, Schreiber recebeu a mensagem: ‘Ligue a TV’. O aviso motivou-o a
iniciar tentativas com uma câmera de vídeo e de TV, mas nada conseguiu. Não sabia como
proceder e filmou a poltrona onde sua falecida mãe costumara ficar sentada em vida.
Filmava em câmara lenta, com acelerador e ainda poses fixas, mas nada aconteceu.
(...) A sugestão seguinte do ‘outro’ plano levou-o ao rumo certo. A palavra-chave foi ‘canal
vazio’. Schreiber seguiu o conselho, e naquele momento surgiu na tela uma vaga imagem de
nuvens, no meio das quais cristalizou-se sua filha Karin, morta aos dezoito anos. Ela foi (...)
intermediária em todas as suas tentativas. Também foi ela quem chamou sua atenção para
que não tentasse filmar em cores, pois os Espíritos do Além só podem ser vistos em preto e
branco.
(...) Os interlocutores do Além sempre apareciam por poucos momentos, de modo que só
podiam ser vistos em imagens estacionárias: quer dizer, numa velocidade de vinte e cinco
imagens por segundo, eram necessárías, em cinco minutos de filmagem, 7.500 poses
individuais para eventualmente se conseguir ver um espírito do Além. Schreiber conseguiu
registrar na tela, não apenas seus falecidos familiares (pai, mãe, esposa, filha, filho e outros
parentes), como também muitas pessoas conhecidas e desconhecidas, e ainda alguns mortos
famosos.” (10)
SCHÁFER, Hildegard. Ponte Entre o Aqui e o Além — Teoria e Prática da Transcomunicação. (Orig.
(10)
Brücke Zwischen Diesseits und Jenseits - Theorie und Praxis der Transkommunikation). 10. ed. São Paulo:
PENSAMENTO, 1997. Trad. Gunter Altmann, p. 206.
*
A transcomunicação mista, finalmente, é a que associa imagem e som.
Foi inaugurada por Konstantin RAUDIVE, Espírito, comunicando-se através do
equipamento do casal Jules e Maggy HARSCH, em Luxemburgo, no dia 12 de julho de
1988. “É um momento histórico, tanto no vosso lado como no de cá," disse RAUDIVE, na
ocasião. “É a primeira vez que uma imagem e o som são transmitidos e recebidos
simultaneamente”. (12)
Cf. LOCHER, T.; HARSCH, M. Op. cit., p. 151; PRESI, Paolo. “Psychophonie et paranormalité
(12)
**
O fenômeno de transcomunicação é, assim, um evento ectoplásmico, tão complexo como a
pneumatofonia, a materialização, a desmaterialização, a levitação, o transporte ou qualquer
outro de sua categoria.
E - dado importante - os Espíritos, como é comum, embora os processos de comunicação não
ocorram em regime de baixa luminosidade, recomendam, às vezes, aos presentes para que
não usem flash, a fim de que as operações não sejam afetadas, impedindo a comunicação.
Como se sabe, a luz forte afeta gravemente o ectoplasma. (14)
(14)
V. adiante, Materialização.
De qualquer forma, como acontece em outros campos da mediunidade, muito há, ainda, que
aprender a respeito desse novo tipo de manifestação, a representar, sem dúvida, mais um
valioso meio para se alcançar o conhecimento da realidade espiritual.
XXIII- FOTOGRAFIA TRANSCENDENTE
Pode ser tirada tanto à luz do dia, de lâmpadas elétricas ou de veleis, quanto na escuridão,
dependendo das circunstâncias. No primeiro caso, tem-se a fotografia normal; no segundo, a
que tem sido designada como escotografia ou fotografia escotópica (do gr. scótos, escuridão;
e tópikós, local, pelo lat. Tópica).
FOTOGRAFIA TRANSCENDENTE
NORMAL
ESCOTÓPICA
branco, luvas de pelica, lenços e peças de vestuário”, como, por exemplo, acontecia com a médium inglesa
Ada Lee, segundo documentos publicados pela revista The Creater World - O Mundo Maior. (Tribuna
Espírita. Natal-RN, abril-maio, 1997; Goiás Espírita. Goiânia-GO, julho-setembro, 1997, p. 29).
No tocante às flores, importa saber que a fotografia transcendente pode retratar não só um
pensamento-forma a respeito de uma planta, como, por exemplo, a imagem fluídica das
partes que lhe foram cortadas ou que surgirão com o seu crescimento. (5)
(5)
“A fotografia de flores chega a revelar aspectos surpreendentes. Fotografando um botão de rosa, F. M.
Melton constatou que apareciam na fotografia as pétalas de uma rosa e quando a flor se abriu, verificou que
a foto havia mostrado exatamente eis mesmas pétalas, até mesmo quanto ao número! (Cf. BOZZANO,
Ernesto. Pensamento e Vontade. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, pp. 131 e 132) Esse e outros fatos
mostram bem a existência, já no reino vegetal, de uma protoestrutura, sustentadora do desenvolvimento
celular.
*
As primeiras fotografias transcendentes conhecidas devem-se a William H. MUMLER, que
operava em Boston, Estados Unidos, e teriam surgido em 1861.
Arthur Conan DOYLE descreve assim o notável evento:
“Mumler, que trabalhava como gravador numa das principais joalherias de Boston, não era
espírita nem fotógrafo profissional. Em horas de folga, quando tentava tirar fotografias de si
mesmo, no atelier de um amigo, obteve numa chapa o contorno de outra figura. O método
que empregava era focalizar uma cadeira vazia e, depois de descobrir a objetiva, alcançar a
cadeira escolhida e aí ficar durante o tempo necessário à exposição. Nas costas da
fotografia A/Ir. Mumler tinha escrito:
‘Esta fotografia foi feita por mim mesmo, de mim mesmo, num domingo, quando não havia
viva alma na sala - por assim dizer. A forma à minha direita, reconheço como minha prima,
morta há doze anos. W. H. Mumler.’
A forma é de uma mocinha, que aparece sentada na cadeira. A cadeira é vista com nitidez
através do corpo e dos braços, como também a mesa na qual ela apóia o braço. Abaixo do
peito, diz um relato contemporâneo, a forma (que parece usar um vestido decotado e sem
mangas) se desagrega num tênue vapor, como simples nuvem na parte inferior do retrato. £
interessante notar pormenores nessa primeira fotografia espírita, que se repetiram muitas
vêzes nas que foram obtidas posteriormente por outros operadores.
Logo correu a notícia do que havia acontecido a Mumler e ele foi assediado por pedidos de
sessões. A princípio recusou-se, méis, finalmente concordou e quando, posteriormente,
outros ‘extras’ foram obtidos, e sua fama se espalhou, foi então compelido a abandonar o
seu negócio e a dedicar-se a esse novo trabalho.” (6)
(6)
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo, pp. 362 e 363, Cap. XIX.
Na Inglaterra, onde este tipo de fotografia foi especialmente estudado, o primeiro registro foi
feito por Frederick A. HUDSON, em 1872. Os trabalhos desse médium tiveram grande
repercussão entre os intelectuais ingleses, atraindo nomes famosos da ciência, como William
CROOKES, que, em 1873, obteve 40 fotografias, e Alfred Russell WALLACE, que viu o
Espírito de sua mãe nitidamente fotografado.
Nome importante, também, é o de Richard BOURSNELL, que, segundo consta, já obtinha
retratos de mãos e rostos em 1851. Tantos foram seus êxitos que, segundo Conan Doyle, “os
espíritas de Londres presentearam esse médium com uma bolsa de ouro e um documento
assinado por mais de cem espíritas notáveis”, ocasião em que “as paredes das saias da
Sociedade de Psicologia, em George Street, Portman Square, estavam cobertas por trezentas
fotografias escolhidas de Espíritos, feitos por BOURSNELL”. (8)
(8)
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo, p. 369.
(9)
A respeito da técnica então usada para a obtenção da foto transcendente, observa Hermínio MIRANDA:
“Os fotógrafos preparavam suas próprias chapas, desde o corte do vidro, com diamante, até à fase de
acabamento da foto. O vidro era cuidadosamente limpo, usualmente com um pano ou um pouco de algodão
embebido em álcool. Em seguida, cobria-se a sua superfície com fina camada de uma substância coloidal, à
qual aderia o sal de prata contido num banho em que era mergulhada a chapa. Daí, a chapa ia para o chassi
da máquina, com os cuidados necessários para não receber qualquer exposição à luz. As lâminas de vidro
poderiam ser reutilizadas, após a limpeza acima referida. A revelação e a fixação seguiam basicamente o
mesmo procedimento atual, embora se disponha, hoje, de produtos químicos muito mais sofisticados.
(MIRANDA, Hermínio C. de. Processo dos Espíritas — Resumo da História Escrita por Mme. Marines
Leymarie. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977, p. 133).
*
Assim como o Espírito encarnado, em estado de desdobramento, pode materializar-se,
também pode ser fotografado, mesmo que não apareça tangível.
Fotografias transcendentes de Espíritos encarnados não são assim, incomuns. Diversos
autores têm dedicado atenção a essa notável ocorrência, baseados em provas documentais
incontestáveis e em testemunhos, os mais respeitáveis.
Léon DENIS, por exemplo, refere-se a diversos casos, entre eles, um episódio acompanhado
pelo célebre pesquisador, Hyppolite BARADUC:
“O professor Istrati, membro do Conselho de Ministros da România, concentrando a sua
própria vontade antes de adormecer, pode exteriorizar-se, aparecer ao Doutor Hasden,
senador romeno, a mais de 50 quilômetros de distância, e por ele se fazer fotografar em
espírito. Na chapa distingue-se a imagem fluídica do professor, encarando o obturador do
aparelho.
Uma certeza resulta deste conjunto de fatos: a de que a alma humana, ao contrário do que
pretendem os materialistas, não é uma resultante do organismo, transitória como ele, uma
função do cérebro, que se aniquile por ocasião da morte, mas um ser em si mesmo real,
independente dos órgãos.
Sua ação se pode exercer fora dos limites do corpo.” (11)
(11)
DENIS, Léon. No Invisível. Rio de Janeiro: FEB, pp. 154 e 155.
“Numa de suas habituais excursões pelo Velho Mundo, nosso confrade Joaquim da Silva
Gomes, conhecido industrial residente no Recife, resolveu fazer-se fotografar em companhia
de sua esposa, Sra. Maria Esteia Barbosa Gomes, em frente ao Casino Interlaken, na Suíça.
Teresinha, filha do casai, foi quem ajustou a objetiva e tirou o retrato, sob um céu primaveril
que realçava a beleza do local naquele dia que marcaria época nos anais da fenomenologia
transcendente: 17 de Maio de 1953. La os relógios deviam marcar entre 17 e 18 horas, o que
corresponde no Recife, ao espaço de tempo que vai das 13 às 14 horas.
Chegando a Portugal, o confrade Comes mandou revelar o filme e, surpreso queise não podia
acreditar no que estava a ver. Apareceu na foto, nitidamente, outra pessoa: o seu grande
amigo Dr. Otávio Coutinho, Juiz de Direito aposentado, que devia encontrar-se, naquela
ocasião, na capital pernambucana.
(...) Joaquim da Silva Comes enviou a fotografia a uma filha do Dr. Otávio Coutinho, na
suposição de que seu amigo houvesse desencarnado. Mas o Dr. Coutinho estava vivo e, ao
ser-lhe apresentado o retrato, reconheceu- se nele, identificando como seus, realmente, a
roupa, o calçado, a gravata e o alfinete que nela se faz visível.
(...) Procurando, porém, ouvir a opinião de um Espírito, este explicou:
— Vocês consideram tudo extraordinário, mesmo os casos mais comuns e banais. O que
sucedeu foi o seguinte: o irmão Otávio acabou de almoçar e deu uma soneca, entre 13:30 e
14 horas, sentado numa cadeira de balanço, no terraço da casa dele; e como tinha pensado
fortemente nos irmãos ausentes, desprendeu-se e foi ter com eles na Suíça, exatamente
quando estavam se fotografando, deixando-se também fotografar.” (12)
(12)
ALVES Neto, Aureliano. Extraordinários Fenômenos Mediúnicos. 2. ed. São Paulo: EDICEL, pp. l19 e
120.
**
A captação da imagem da aura da pessoa que está sendo fotografada constitui um tema à
parte no estudo da fotografia transcendente.
Experiências com efetiva validade científica aconteceram a partir da metade do século XIX,
atraindo o endosso de eminentes cientistas e pesquisadores.
As primeiras fotografias da aura humana teriam sido obtidas em março de 1872, por Samuel
GUPPY, com o apoio mediúnico de sua mulher, Agnes Nichol Guppy, chamando a atenção
do cientista Alfred Russell WALLACE (1823-1903) - famoso naturalista inglês,
codescobridor, com Darwin, dos princípios da evolução —, que as descreveu e analisou em
artigo de grande repercussão, que depois faz parte de sua célebre obra, On Mirades and
Modern Spiritualism - (3. ed., 1895)
“A câmara escura, munida de uma objetiva Ross, era construída de maneira que se
pudessem obter três provas negativas sobre a mesma placa. Amortecia-se a luz, para poder
prolongar a exposição até quatro minutos. O fundo era semelhante ao que se emprega
ordinariamente, de cor parda carregada, e encostava-se à parede. O médium lhe voltava as
costas; estava sentado e tinha uma mesa pequena à sua frente. O Dr. Thompsom e o Sr.
Tommy estavam sentados de um lado, à mesma mesa, enquanto eu me conservava defronte,
durante a exposição.”
E, em carta dirigida ao Human Nature, mais tarde (1874), o Dr. G. S. THOMPSON, citado,
mostrava que o processo permanecia praticamente o mesmo, durante todas as pesquisas:
“Começamos as nossas experiências no meado de junho de 1872, reunindo-nos uma vez por
semana, às 6 horas da tarde (hora que nos era imposta pelas ocupações pessoais do
médium). Servimo-nos de uma objetiva de Ross, com foco de seis polegadas; a câmara
negra era das que se empregam ordinariamente para a fotografia de formato de cartão de
visita, com caixilho construído de maneira a se poderem obter três provas sobre a mesma
placa. O banho de prata era preparado em um vaso de porcelana. O fundo era igual aos que
se empregam ordinariamente, de ferro, montado sobre um caixilho e de uma cor tirando ao
pardo. Começávamos cada sessão colocando-nos em roda de uma mesa (girante) pequena,
a qual nos indicava, por movimentos, de que maneira deveríamos operar. Seguindo essas
instruções, o Sr. Beattie ocupava-se com a preparação e desenvolvimento da maior parte
deis placas, enquanto eu dirigia a exposição, cuja duração era igualmente indicada pelos
movimentos da mesa, em roda da qual estavam sentados todos os experimentadores à
exceção de mim.
Tiravam-se as placas dos banhos preparados de antemão, sem observar ordem alguma
particular. Julgo importante mencionar esse fato, porque ele permite recusar grande parte
das objeções, senão todas, tendentes a pôr em dúvida a autenticidade dessas fotografias.
Além das precauções tomadas para a escolha das placas, tínhamos recorrido a outras, e o
médium não deixava a mesa, salvo se convidado para assistir à revelação; dessa maneira —
admitindo-se mesmo que as chapas tivessem sido preparadas previamente — tornava-se
absolutamente impossível saber qual seria a imagem que se obteria sobre a placa;
entretanto, o médium nos descrevia essas imagens até em sueis particularidades mínimas.
As nossas sessões não duravam habitualmente além de duas horas.”
Fotografia Transcendente:
1. Foto de M. Bromson Murray e de Mme. Bonner (Espírito). O retrato de Mme. Bonner,
quando encarnada, à esquerda. 2. Mostra claramente a semelhança com sua forma
perispirítica captada na foto da direita.
3. Fotografia de Kingsley Doyle, jovem médica desencarnada, vítima da gripe espanhola, ao
lado de seu pai, Arthur Conan Doyle.
“No decurso dessa sessão, ele [o médium] atraiu, repentinamente, a nossa atenção para uma
luz viva e no-la mostrou; estava admirado de que nenhum de nós a visse. Quando a placa foi
revelada, notava-se ali uma mancha luminosa e o dedo do médium que a indicava. Todos
aqueles que estudaram a série inteira dessas fotografias notaram que a maior parte das
imagens obtidas apresentavam, por assim dizer, um desenvolvimento sucessivo; começando
por pequena superfície luminosa, que aumentava gradualmente, mudavam de contornos, e a
última fase de mudança consistia na fusão de duas imagens primitivamente independentes.
O Sr. Beattie nos fazia frequentemente observar a rapidez com a qual essas imagens
apareciam à revelação, enquanto que eis imagens normais só apareciam muito mais tarde. A
mesma particularidade foi notada por outras pessoas que se ocupavam com semelhantes
experiências e nos assinalaram esse fato.
Sucedia frequentemente no fim da sessão, quando a luz era consideravelmente amortecida,
não notarmos sobre as placas submetidas à revelação, nenhuma outra coisa além das
impressões dessas formações luminosas que tinham sido invisíveis aos nossos olhos. Esse
fato demonstra que a força luminosa que agia sobre a placa, se bem que sem ação sobre a
nossa retina, era considerável; por isso trabalhávamos às escuras, porque a luz visível,
refletida pelos objetos que estavam no quarto, não podia produzir ação alguma sobre a
camada sensível.” (16)
(16)
AKSAKOF, Alexandre. Animismo e Espiritismo. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, pp. 56 e segs., Vol.
1.
Nessa fase, além de BEATTIE, diversos outros pioneiros, entre eles, nomes destacados dos
meios universitários da época (TAYLOR, TOMMY, JONES, BUTLAND, T. SLATER,
HUDSON, REEVES, PARMES, REIMERS, WAGNER, WILLIAMS, etc.), colaboraram
para que novas fronteiras fossem abertas, em direção a futuros desenvolvimentos, cumprindo
observar, todavia, que, embora com resultados não tão expressivos, o processo de registro
das emanações energéticas apoiava-se, às vezes, em técnicas mais simples ainda,
principalmente quando se tratava de registrar os eflúvios emanados de encarnados. Anotava,
a respeito, Léon DENIS:
“Se, em completa obscuridade, se coloca a mão acima de uma placa sensível imersa no
banho revelador; ao fim de alguns minutos de exposição verifica-se que a placa se acha
impressionada. Se a ela aderiram os dedos, da mancha que cada um deles produzir se vê,
como de outros tantos focos, desprenderem-se e irradiarem em todos os sentidos,
ondulações, espirais, o que demonstra que a força psíquica, como os raios ultravioleta ou os
raios Roentgen, atua sobre os sais de prata.”
“Colocada a extremidade dos dedos sobre a chapa mergulhada no banho revelador, se,
elevando o pensamento, num subitâneo e ardente impulso, fazemos uma prece, verificaremos
em seguida que as irradiações adquiriram no vidro uma forma particular -a de uma coluna de
chameis que se eleva de um jato. Esse fato demonstra, não somente a ação do nosso
pensamento sobre os fluidos, mas também o quanto influem as nossas disposições psíquicas
sobre o meio em que operamos e lhe podem modificar as condições vibratórias.” (17)
(17)
DENIS, Léon. No Invisível. 15. ed. Rio de janeiro: FEB, p. 179. Trad. Leopoldo Cirne.
A detecção dos eflúvios emanantes da aura, com apoio, basicamente, em recursos químicos,
embora a simplicidade do processo, surge, assim, como fato comprovado, mercê do gabarito
moral e intelectual dos respeitáveis investigadores que nele trabalharam, inaugurando, assim,
um dos mais importantes capítulos da história do Conhecimento.
Hoje, o método Kirlian (kirliangrafia) possibilita, pela via eletrônica, a detecção da aura —
ou parte dela —, corroborando as experiências fotoquímicas e abrindo, sem dúvida, uma
nova fronteira para o melhor conhecimento do ser humano, mas a fotografia transcendente
guarda sua inegável importância, captando, por vezes, a aura inteira, não só da pessoa que
está sendo fotografada, como do Espírito que, ao seu lado, se deixa fotografar.
***
A fotografia de animais desencarnados é rara, mas os casos registrados comprovam
plenamente sua possibilidade. (18)
(18)
O fotógrafo e médium norte-americano Edward Vyllie, por exemplo, obteve, na Califórnia, o retrato de
um cachorro desencarnado, plenamente reconhecido por sua irmã. (Encyclopaedia of Psychic Science, ed.
1966, p. 314).
Na maioria das vezes, os animais aparecem junto das pessoas com quem conviveram, quer
estejam encarnadas, ou não.
Já as impressões fotográficas das criações ideoplásticas aparecem em grande número.
Orientadores espirituais experientes compõem com o apoio nos recursos ectoplásmicos
disponíveis, fotografias das mais variadas figuras e objetos que, ainda que não visíveis,
podem ter suas imagens captadas pelos equipamentos comuns. Na maioria das vezes, é o
próprio fotógrafo quem libera o ectoplasma, acompanhado ou não por outros médiuns.
Essas criações podem referir-se tanto a objetos comuns como, até, por exemplo, a figuras
humanas ou a quadros artísticos, tudo dependendo das circunstâncias e condições.
Observe-se, entretanto, que as fotografias transcendentes de Espíritos desencarnados surgem
muito mais nítidas e acabadas do que as figureis produzidas ideoplasticamente, não havendo,
na realidade, como confundi-las.
Por último, cabe menção a um tipo de fenômeno designado por alguns autores como
“fotografia do pensamento”, mas que, na verdade, qualifica-se, também, como fotografia
transcendente.
Registre-se, como ilustração, a ocorrência protagonizada por Eusápia Paladino, relatada por
De Rochas e transcrita por BOZZANO:
“Na minha presença, certo dia, quis o Sr. M. de Watteville fotografar Eusápia entre o conde
de Gramont e o Dr. Darieux.
Feita a pose, pilheriava eu com o Dr. Darrieux a propósito de sua pequena estatura, e por
haver ele metido a mão na cava do colete, dizendo-lhe que, nessa atitude, lembrava
Napoleão.
A pose não se modificou por isso, mas, o que ninguém previa era o perfil de Napoleão a
destacar-se nitidamente no fundo e acima da beirada de um vaso, à guisa de pedestal, sem
que algo pudesse explicar essa aparência, a despeito de reiteradas experiências feitas no
mesmo local.
Ainda hoje, a mim mesmo pergunto se o nome de Napoleão não teria despertado em Eusápia
a lembrança de um busto por ela visto...” (19)
(19)
BOZZANO, Ernesto. Pensamento e Vontade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, pp. 39 e 40. Trad. M. Quintão.
*
A técnica empregada pelos Espíritos para a produção das fotografias transcendentes, como
nos demais fenômenos, ainda nos permanece desconhecida.
Todavia, episódios há, a merecerem maior atenção, pelas informações que propiciam.
O autor inglês, J. H. D. MILLER (From the Other Side, Londres, 1925), relata interessante e
elucidativa experiência pessoal com o conhecido médium William Hope, com algumas
notícias sobre o modo como os Espíritos operariam, transcrita por BOZZANO e digna de
reprodução em toda sua extensão.
Escreve MILLER:
“Ouvira eu dizer que na pequena cidade Crewe havia um centro espírita no qual se obtinham
fotografias transcendentais, e, precisando ir ao continente por motivos de negócios, decidi
interromper de algumas horas a viagem, a fim de tentar uma experiência daquela natureza.
Sem conhecer qualquer membro do referido grupo, lá me apresentei, não obstante, a Rua do
Mercado, n° 144, onde soube que o médium Sr. Hope estava em casa.
Trata-se de um homem de pequena estatura e de maneiras afáveis, simples artista que reside
num apartamento, sem maiores pretensões.
Os seus dispositivos e utensílios fotográficos são evidentemente primitivos.
Eu levava comigo um pacote com doze chapas fotográficas comprada em Belfast.
Assentamo-nos em torno de pequena mesa, eu, o Sr. Hope, uma Senhora cujo nome não me
ocorre, e a senhorita Scatcherd, de Londres, que, tendo vindo a Crew para fazer uma
conferência espírita, aproveitara o ensejo de uma visita ao médium Hope.
A este informei que trouxera comigo as doze chapas, e ele pediu-me que as colocasse no
centro da mesa.
A senhora cujo nome esqueci, cantou, então, um hino sacro e disse uma prece.
A seguir o Sr. Hope tomou o pacote das chapeis e o manteve entre eis mãos, enquanto por
nossa vez colocávamos as nossas sobre as dele.
Decorridos uns quinze minutos, um tremor pronunciado começou visivelmente a sacudir o
braço do médium, comunicando-se às outras mãos e ao pacote de chapeis.
Dirigindo-se, então, a uma entidade invisível, o médium disse: - ‘Obrigado; desta vez
conseguiremos’.
O pacote foi novamente colocado em cima da mesa, e o Sr. Hope refez o invólucro,
recitando, por sua vez, uma prece.
Convidou-me a meter no bolso o embrulho, para segui-lo à câmara-escura, onde acendeu
uma pequena lâmpada vermelha.
Depois, mandou-me abri-lo e dele retirar duas chapas para colocá-las nos chassis, o que fiz
depois de havê-las marcado a lápis com o meu nome.
Passamos, em seguida, a uma pequena câmara envidraçada, na qual se encontrava uma
máquina fotográfica, que foi por mim examinada minuciosamente.
Isto feito, entreguei ao Sr. Hope os dois chassis, que foram por ele colocados no aparelho.
Assentei-me, então, como se faz comumente diante da objetiva, enquanto o Sr. Hope e a tal
Senhora se colocavam respectivamente de cada lado do aparelho, segurando cada qual um
pano preto, durante a pose.
Após, reentramos na câmara-escura, onde retirei eu mesmo as placas dos chassis,
depositando-as na cubeta a fim de serem reveladas.
O Sr. Hope derramava o líquido, enquanto me ocupava eu mesmo da revelação.
Quando ele me advertiu de que o banho estava completo, coloquei a cubeta debaixo da
torneira para a competente lavagem.
Foi-me dado, então, perceber numa das chapas, assaz visível, uma cabeça ao lado da minha.
Examinei depois a chapa contra a luz e certifiquei-me de que se tratava do semblante de meu
filho, pelo que fiquei profundamente admirado e comovido.
Enquanto durou a experiência, o Sr. Hope não tocara as chapeis e jamais deixaram elas de
estar um instante fora das minhas vistas, salvo, bem entendido, o tempo que estiveram dentro
do aparelho.
Só então, dei o meu nome e endereço, para saudar os assistentes e retirar-me.
Dias depois, recebi os retratos, dos quais vai um reproduzido neste volume...
De regresso ao meu lar, tivemos uma sessão com o médium Nugent, na qual presto se
manifestou Hardy, dizendo: ‘— Que tal, papai? Que pensas tu do retrato? Ficou bom?’ ao
que por minha vez respondi: ‘—Maravilhoso!’
‘— Mas, explica-me, como te arranjaste para produzi-lo?’
‘— Impossível explicar-te a natureza dos poderes em jogo’ - disse ele -, ‘de vez que os
ignoro; mas, posso descrever-te como as coisas se passaram.’
Quando você se assentou em torno da mesa, ‘Sing’ (o Espírito-guia) e eu fomos nos colocar
atrás de você.
Vários outros Espíritos especializados em fotografia transcendente estavam conosco e o mais
hábil de todos se conservou ao lado do médium, a fim de reunir e condensar os fluidos
subtraídos de você, como de nós, para encaminhá-lo ao embrulho das chapas, através dos
braços do médium.
Notaste, certamente, o tremor dos braços e das mãos do médium.
Quando as chapas ficaram saturadas das forças exteriorizadas, estas se derramaram sobre
mim, e ‘Sing’ ordenou-me que pensasse numa boa objetivação da minha aparência terrestre.
Os panos que se notam ã volta do meu rosto são o produto dos fluidos por mim utilizados
para me materializar de modo rápido, méis, não obstante, suficiente.
Quando você colocou as chapeis nos chassis, concentrei meu pensamento na aparência que
eu aí tinha na Terra, e enquanto durou a pose, eu estava ao seu lado.
Papai, se você naquele instante se voltasse, ter-me-ia visto nitidamente; mas isso também
importaria no fracasso da experiência.
‘— Qual o efeito dos fluidos sobre eis chapeis?’
‘— Não to saberia dizer de modo preciso, mas acredito que a chapa preferida se torna mais
sensibilizada que eis demais’.” (20)
(20)
BOZZANO, Ernesto. Pensamento e Vontade. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, pp. 75 e 79. Trad. M. Quintão.
*
Desconhece-se a técnica empregada pelos Espíritos para a obtenção desses efeitos, méis uma
hipótese a ser considerada é a de que o preparo para obtenção da escrita incluiria uma
espécie de molde, com os caracteres a serem, depois, fixados na chapa fotográfica, com os
recursos ectoplásmicos.
De qualquer forma, trata-se de mais um fenômeno extraordinário, a demonstrar os ilimitados
recursos de que dispõe a Espiritualidade Superior na comprovação da imortalidade.
XXV- DERMOGRAFIA - DERMOPICTURA
*
A dermografia e a dermopictura não se confundem com o fenômeno da estigmatização, um
fenômeno não mediúnico (anímico).
A estigmatização caracteriza-se pelo surgimento de marcas vermelhas, marcas de
queimaduras, feridas vertendo sangue e linfa, no corpo do médium.
Na estigmatização, ao contrário do que ocorre na dermografia e na dermopictura, os estigmas
podem perdurar por longo tempo na pele do paciente.
Trata-se, geralmente, de uma espécie de somatização, em que emoções fortes, paixões
religiosas e, mesmo, conflitos íntimos, refletem-se no corpo físico como estigmeis,
demonstrando o poder da mente, no comando das funções orgânicas. (1)
(1)
Comprovando o poder da sugestão na produção dos estigmas, Charcot chegou a fazer demonstrações
experimentais, induzindo, por meio da hipnose, o seu surgimento.
Numerosos têm sido os casos registrados, no correr da história, principalmente a partir dos
episódios que marcaram a vida de Francisco de ASSIS, cujas mãos e pés pareciam feridos
por meio de pregos, levando-o à debilitação e à morte prematura, devido à constante perda
de sangue e sofrimento.
Na época contemporânea, entre os vários casos catalogados (Maria-Dominique Lazzari,
Marie de Moerl, Victorie Courtier, Louise Lateau, Marie-Julie Jahenny, Benedito de Reggio,
Filipe D’Acqueria e outros), muito conhecidos são os fenômenos ocorridos com Theresa
Neumann, de Konnersreuth, que começaram a surgir em 1926. De seus estigmas, sem que
houvesse nenhuma inflamação, o sangue fluía livremente a cada sexta-feira, e lágrimas de
sangue corriam, às vezes, de seus olhos.
Interessante observar que boa parte das pessoas que passaram pelo fenômeno da
estigmatização, atraiu tal respeito que chegaram a ser canonizadas pela Igreja, nelas
reconhecendo virtudes excepcionais, como, de fato, às vezes acontecia.
De qualquer forma, trata-se de uma ocorrência singular, a demonstrar os extraordinários
potenciais da mente humana.
XXVI- TRANSFIGURAÇÃO
*
As transfigurações parciais têm sido mais documentadas e algumas delas, pela sua
singularidade, também chamam a atenção.
É o caso, por exemplo, de uma reunião realizada com a médium Sra. BULLOCK, em 1931,
relatada pelo respeitável Rev. Will J. ERWOOD (The National Spirítualist, Chicago), em
que, no espaço de uma hora e meia, aconteceram nada menos de cinquenta fenômenos de
transfiguração. Escreve em seu depoimento:
“Era como se a face do médium fosse de material plástico, sendo rapidamente moldado de
uma forma para outra por algum mestre em plásticos. Rostos orientais, indianos, calmos,
sérios, espirituais, em resumo, quase todo o tipo de rosto foi demonstrado durante esta
sessão das mais incomuns. Uma das mais notáveis, foi a personificação de uma menina
paralítica a quem eu tinha conhecido nos Estados Unidos. O corpo inteiro da médium, bem
como seu rosto, foram torcidos para demonstrar a condição desta vítima de paralisia.”
Outra ocorrência extraordinária, narrada pelo jurista francês Joseph MAXWELL,
Procurador-Geral da Corte de Bordeaux e preeminente pesquisador, foi-lhe relatada por um
colega:
“Em 1º de janeiro, 1903, meu pai começou a sentir os primeiros ataques de uma dolorosa
doença da qual ele morreu após seis meses de um terrível sofrimento (...) Eu o olhava
quando dormia e não demorei em perceber que sua fisionomia gradualmente assumia um
aspecto que não seu próprio. Finalmente, observei que seu rosto assumia uma semelhança
notável com o de minha mãe. Era como se a máscara de seu rosto fosse colocada sobre o
dele. Meu pai não tinha tido nenhuma sobrancelha por um longo período, e eu percebi por
sobre seus olhos fechados, as sobrancelhas marcadas em preto que minha mãe tinha
conservado no final. As pálpebras, o nariz, a boca, eram aquelas de minha mãe (...) Meu pai
usava bigode e uma pequena barba. (...) A aparência durou dez ou doze minutos; então, ela
gradualmente desapareceu, e meu pai assumiu sua fisionomia habitual. Cinco minutos mais
tarde acordou, e eu imediatamente perguntei se ele não tinha sonhado, especialmente com
sua esposa. Ele respondeu negativamente. O fenômeno foi testemunhado por uma criada que
ficou no quarto enquanto ele durou. Foi-lhe dito: ‘Jeanne, olhe para o senhor dormindo!
Ela respondeu: ‘oh! como ele se assemelha à Madame. Isto é notável, isto é muito
extraordinário!” (2)
(2)
Encyclopaedia of Psychic. .., pp. 391 e 392.
Nesse caso, como se observa, os recursos ectoplásmicos talvez tenham também sido
fornecidos pelas pessoas que o acompanhavam.
*
Anote-se, finalmente, que ocorrências existem do que se pode designar como
semitransfiguração, em que a transformação do aspecto do médium não chega a ser radical.
Uma simples contração muscular, por exemplo, pode tornar a fisionomia do médium mais
velha ou mais jovem, como, aliás, lembra KARDEC. (3)
(3)
Encyclopaedia of Psychic. .., pp. 160 item 123.
O processo de transfiguração, tão complexo quanto os demais, não se encontra, ainda, bem
esclarecido.
Todavia, ao que parece - e isso, obviamente, não passa de mais uma hipótese -, ocorre, no
caso, uma espécie de materialização parcial ou total do Espírito que se manifesta,
sobrepondo-se ou unindo-se ao médium, de forma que este assume, temporariamente, parcial
ou totalmente, a aparência daquele. (4)
(4)
Relatos há, na literatura espírita, de casos em que o Espírito, em processo de zoantropia (voluntária ou
não), faz com que o médium assuma a aparência de um animal. (Estaria, aí, talvez, a fonte da origem da
conhecida lenda do lobisomem...)
Como o Espiritismo constituiu uma revelação contínua, no devido tempo, certamente, esses e
outros processos nos serão dados a conhecer em sua inteireza. (5)
(5)
Alguns autores mencionam o episódio em que Jesus, num monte, ilumina-se totalmente, como exemplo
histórico de transfiguração. Examinando-se os textos de Mateus, Marcos e Lucas, que se referem ao evento,
verifica-se que os dois primeiros, com pequenas variações, informam que Jesus “transfigurou-se diante deles
e o seu rosto resplandeceu como o sol e suas vestes tornaram-se alvas como a luz”. (Mt. 17.2; Mar. 9.3 -
Bíblia Sagrada, Sociedade Bíblica Brasileira, ed. 1993; A Bíblia de Jerusalém, Paulus, ed. 2000).
Já Lucas noticia que “o aspecto do rosto” de Jesus “alterou-se” e que “suas vestes tornaram-se de fulgurante
brancura”. (Lc. 9.29, Id. Ibid.). Ora, esses textos, em seu conjunto, em que pese o título (A Transfiguração),
não se referem a um fenômeno de transfiguração, propriamente, como se conhece em Espiritismo, mas, um
desprendimento do MESTRE, deslumbrando os discípulos que o acompanhavam (Isso, se as adaptações e
modificações introduzidas pelos diversos intérpretes e copistas, no tempo, não afetaram muito os textos
originais...).
XXVII- TERAPIA ECTOPLÁSMICA
TERAPIA ECTOPLÁSMICA
PSICOCIRURGIA
CIRURGIA ESPIRITUAL DIRETA
PASSE
FLUIDIFICAÇÃO DE ÁGUA E DE OBJETOS
AUXÍLIO VIBRATÓRIO EM GRUPO
Psicocirurgia
1. PSICOCIRURGIA
Cirurgia ostensiva que o Espírito realiza por intermédio de um médium dotado das
necessárias qualidades ectoplásmicas e psicomotoras.
PSICOCIRURGIA
SEMIMECÂNICA
MECÂNICA
CONSCIENTE
SEMICONSCIENTE
Nas psicocirurgias, todos os procedimentos cirúrgicos são bem visíveis, podendo ser
acompanhados pelos assistentes. (1)
(1)
Nas psicocirurgias, o médico desencarnado age através do médium como se estivesse encarnado,
“utilizando-se de bisturis, pinças, tesouras, facas, agulheis, serras e outros objetos perfuro-corto-
contundentes. Alguns promovem a abertura da pele, até com o cabo do bisturi...” (Cajazeiras, Francisco.
Curso de Mediunidade. Capivari (SP): EME, 2003, p. 189).
Essa aptidão, em verdade, envolve outros efeitos físicos (ozonificação, anestesia, incisões,
suturas, reposições, aporte de objetos, materialização de produtos medicamentosos),
mostrando-se, ainda, comumente associada a outras faculdades, como a psicofonia
(inclusive, a xenoglóssica) (3) e, por vezes, também, a psicografia, requisitando a participação
de médicos e enfermeiros desencarnados altamente preparados, a atuarem sob a direta
proteção da Espiritualidade Superior.
(3)
O médium JOSÉ ARIGÓ, por exemplo, mediunizado pelo Dr. FRITZ, expressou-se, muitas vezes, em
puro alemão.
Realizando, com extrema rapidez, inúmeras intervenções cirúrgicas por dia, contam-se aos
milhares os fatos impressionantes que marcaram a passagem desse médium extraordinário,
servindo ao abnegado médico alemão, desencarnado na guerra (1914-18), Dr. Adolph
FRITZ.
Vale pinçar, como lição, alguns desses episódios, realmente notáveis.
O Professor Dr. Ary LEX, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, por
exemplo, em interessante depoimento citado por J. Herculano PIRES, relatava que, na sua
presença e na do Prof. Walter ACCORSI, também da USP, ARIGÓ, no período de meia-
hora, realizou quatro operações, a saber:
“1 - Drenagem de quisto cinovial. Sem nenhuma preparação cirúrgica, sem anestesia e sem
assepsia. Não usou nenhuma técnica hipnótica ou letárgica, toque no paciente ou qualquer
outro processo de sugestão ou coisa semelhante (...) O simples fato da realização dessa
intervenção colocou-me diante de um caso real de operação paranormal.
2- Operação de um lipoma do braço de uma mulher. Arigó me convidou a segurar o braço
da paciente. Isso me permitiu observar a operação de bem perto, a um palmo do meu rosto,
e a cronometrá-la. Nas mesmas condições da anterior, Arigó extraiu o lipoma em trinta
segundos. Verifiquei um fato estranho, a que ninguém se havia referido anteriormente e nem
se referiu depois. Aliás, só um médico e cirurgião poderia atentar para esse pormenor.
Arigó não cortou a epiderme fazendo uma incisão comum. Friccionou a pele com as costas
do bisturi, até que ela se abriu. Então ele apertou o lipoma, que saiu inteiro.
3- Operação de outro lipoma, nas mesmas condições, com a mesma rapidez e da mesma
maneira estranha. Observei a ambas sem qualquer dificuldade ou impedimento.
4- Operação de pterígio. Segurei a cabeça da paciente. Arigó realizou a intervenção com
uma tesoura de cortar unha. Sangrou bastante. O sensitivo comprimiu o local com algodão
e mandou o sangue estancar, produzindo hemostasia imediata. De maneira que só posso
classificar como espetacular. Arigó mandou a paciente embora sem maiores cuidados.”
“Um rapaz de cerca de vinte anos, que segundo o tio que o acompanhava era cego desde
criança, apresentou-se a Arigó para ser curado. Tinha os olhos límpidos como se nada
sofresse. Pude observá-lo à vontade. Encontrava-me a dois metros de distância do médium,
em pé sobre um fogão, enquanto Arigó se preparava para operar, em pé sobre um lavatório.
O doente se encontrava ao seu lado, de rosto virado para mim. Tudo em plena luz do dia,
perante a multidão de pessoas que desejavam ser atendidas. Num relance, falando com seu
sotaque alemão, Arigó introduz o bisturi entre o globo ocular e a parede da órbita. O doente
não reagiu, não gemeu nem gritou, não tentou segurar a mão do médium. Não se defendeu,
enfim.
Arigó, sem nenhum cuidado aparente, abaixou o globo com a alavanca do bisturi, de
maneira que de onde me encontrava pude enxergar o fundo da órbita, embora nada pudesse
divisar em virtude da distância. Girou o bisturi em torno do globo. Vi que o instrumento
estava apenas sujo de secreções. O cego enquanto isso permanecia com o outro olho aberto
e não apresentava na fisionomia qualquer sinal de dor.
Qualquer pessoa que agisse dessa maneira teria ferido o paciente. Mas Arigó nem sequer
provocou sangue. E terminada a estranha operação num olho, imediatamente a repetiu no
outro. Concluindo-a declarou que o cego estava curado e mandou-o embora. Conversei com
o paciente e o tio. Fiquei sabendo que não se tratava de cego de nascença, mas de indivíduo
que ficara cego em criança. Ignoravam-se os motivos. Mais tarde tive oportunidade de fazer
experiências com o paciente, mostrando-lhe objetos a diferentes distancias. Alguns objetos
comuns ele não foi capaz de dizer o que eram, embora os visse, o que demonstrava
realmente o seu estado anterior de cegueira. O tio e o paciente mostravam-se radiantes com
a cura obtida.” (5)
PIRES, J. Herculano. ARIGÓ — Vida, Mediunidade, Martírio. Capivari (SP): EME, 1998, pp. 143, 144,
(5)
154 e 155.
Em interessante relato, G. SERRANO detalha o encontro do Dr. Andrija PUHARICH, da
Belk Foundation, organização norte-americana para estudos parapsicológicos:
José ARIGÓ, como a maioria dos médiuns que servem à psicocirurgia, operava em estado
inconsciente e, tal como acontece nesses casos, as eventuais instruções ao medianeiro eram
transmitidas ao assistente, para posterior comunicação ao destinatário.
Outros médiuns conhecidos por operarem sob o comando do Dr. FRITZ, são o Dr. Edson
Cavalcante QUEIROZ, médico em Recife (PE) e Rubens FARIA JÚNIOR, engenheiro no
Rio de Janeiro.
Muitos, também, são os casos presenciados e documentados em que esses médiuns
protagonizaram admiráveis intervenções psicocirúrgicas, intermediando Dr. FRITZ e sua
notável equipe.
Na galeria dos médiuns mais conhecidos, encontra-se, também, entre tantos outros, o nome
de Antônio de Oliveira Rios, da cidade de Palmelo, interior de Goiás, semianalfabeto e
pedreiro de profissão.
GREENFIELD relata, com extraordinário realismo, um dos muitos episódios que
presenciou:
“Numa dessas ocasiões eu vi (e gravei em videoteipe), Antônio abrir o abdômen de um
sofisticado homem de negócios de São Paulo, que tinha viajado até ali de avião. O homem
estava deitado numa padiola do lado de fora do centro, quando Antônio saiu do prédio,
usando luvas, um jaleco branco e máscara cirúrgica. Apanhou um bisturi de um carrinho
portátil onde os instrumentos tinham sido depositados e o trouxe até o homem. Antes de
cortar, o homem fez-lhe uma pergunta. Antônio respondeu e logo os dois estavam em
profunda conversação. Ainda conversando, Antônio introduziu o bisturi no peito do homem,
logo abaixo deis costelas, e fez um corte vertical de aproximadamente seis a oito polegadas.
Com uma tesoura ele alargou mais ainda a incisão. O sangue começou a jorrar e uma
artéria logo pareceu uma fonte. Enquanto Antônio tentava estancar o sangue com chumaços
de gazes, o paciente, totalmente alheio ao fato de estar sendo operado no meio da rua, com
centenas de pessoas assistindo, continuava a conversar. Depois de cortar e conversar por
um minuto ou mais, Antônio pôs o bisturi sobre o carrinho e retirou-se, deixando o paciente
sozinho, com o abdômen aberto no meio da rua. Ainda tranquilo, depois de inclinar-se um
pouco sobre si mesmo para ver a ferida aberta, o homem reclinou a cabeça e calmamente
fechou os olhos.
Alguns minutos depois, a esposa de Antônio apareceu com agulha e linha cirúrgica.
Enquanto ela suturava a ferida, que ainda sangrava um pouco, o paciente abriu os olhos e
começou a conversar com ela, como tinha feito com Antônio. Quando completou a sutura e
a cobriu com gaze e esparadrapo, ela ajudou o paciente, que ainda estava conversando, a se
levantar. Diante da multidão estupefata, ela envolveu-lhe o peito e o estômago com uma
atadura e lhe pediu para vestira camisa. Ele, então, me informou que não tinha sentido
incômodo algum durante toda a cirurgia. Ofereceu-me seu cartão de visitas e me convidou
para visitá-lo em São Paulo e acompanhar, se eu quisesse, sua convalescença.
O último paciente foi também colocado numa padiola fora do centro. Ele antes me havia
contado que tinha sido vítima de um tiro de bala há dez anos e ainda não podia usar sueis
pernas.
Antônio injetou algo na parte superior deis costas do homem. Com o bisturi fez um corte de
dez a doze polegadas de comprimento e cerca de uma polegada e meia de profundidade ao
longo da espinha dorsal. Limpou com um pouco de gaze a pequena quantidade de sangue
que jorrava, e cravou uma tesoura num ângulo da ferida aberta. Com outra tesoura,
martelou a primeira mais para dentro, até que a pudessem ouvir batendo contra o osso.
Depois de uma pequena pausa, repetiu o procedimento.
O curador retirou do carrinho o que pareceu ser uma serra elétrica com uma lâmina de seis
polegadas. Os espectadores na rua, entrementes, chegaram mais perto para ver o que ele
iria fazer, quando conectou a serra a um fio de extensão, que lhe passaram de dentro do
prédio por uma janela lateral. O paciente, enquanto isso, permanecia imóvel, aparentemente
sem tomar conhecimento da serra. Antônio ligou o instrumento e inseriu sua lamina rotora
na ferida aberta, percorrendo verticalmente a espinha dorsal. Uma pequena quantidade de
sangue brotava à medida que a ferida ia se alargando. Os espectadores prendiam a
respiração. O paciente, contudo, não se movia nem reagia de nenhuma maneira.
Depois de alguns minutos movimentando a serra para baixo e para cima dentro da coluna
vertebral do paciente, Antônio desligou a serra, removeu a lâmina e as depositou sobre o
carrinho. Sem parar de olhar para o paciente, empurrou o carrinho apressadamente pela
porta adentro, parando diante do que parecia ser seu próximo paciente. O homem cuja
coluna vertebral tinha sido aberta com a serra, entretanto, permanecia sozinho e tranquilo
sobre uma padiola no meio da rua.
Alguns minutos depois, a esposa de Antônio novamente apareceu com uma agulha e linha
cirúrgica, para fechar as costas do paciente e cobrir a área com bandagem. Antes que eu
pudesse me aproximar dele, vários espectadores já lhe haviam perguntado o que tinha
sentido. Ele não tinha sentido dores, apenas um leve mal-estar quando a lâmina da serra lhe
penetrara as costas. Ao se despedir com os amigos que o acompanharam na viagem, ele me
deu seu endereço para que o pudesse visitar depois, quando fosse a São Paulo.” (8)
(8)
GREENFIELD, Sidney M. Cirurgias do Além. Petrópolis (RJ): VOZES, 1999, pp. 117 a 120. Trad.
Wagner de Oliveira Brandão.
*
Nas psicocirurgias, os Espíritos operam geralmente com instrumentos cirúrgicos, embora, às
vezes, como visto, usem também tesoureis, facas e outros objetos.
Todavia, há registro de ocorrências excepcionais, em que os médicos espirituais dispensam
completamente o uso de qualquer instrumental, operando, direto e exclusivamente com as
mãos do médium, abrindo a pele e penetrando com elas no interior do corpo do doente,
fechando, depois, a abertura, apenas com os dedos, como ocorreu nas Filipinas, com o
médium Tony AGPAOA e outros - Dominador VIOLA, G.E. TOLENTINO, Eleutério
TERTE, Nellie PURGANAN - em memoráveis trabalhos que se realizavam na “União
Espiritista Cristiana de Filipinas”.
Trata-se de um processo inédito e, certamente, muito complexo, em que o Espírito aplica o
ectoplasma, canalizando-o, diretamente, pelas mãos e dedos do médium, que, com
movimentos rigorosamente ordenados, realiza as mais difíceis e delicadas intervenções
cirúrgicas. Obviamente, como ocorre com os demais tipos de psicocirurgias, esses tipos de
operações demandam a participação de uma equipe de Espíritos altamente especializados.
Os trabalhos de Tony AGPAOA, em Manila, foram, na época, os de maior repercussão,
atraindo, também, pesquisadores de todo o mundo.
William H. BELK, fundador da Belk Psychic Research Foundation, dos Estados Unidos, foi
um dos que acompanharam de perto essas cirurgias. Não escondendo sua admiração,
confessava:
“... eu me sinto estarrecido, mas fatos são fatos... Aquele homem simplesmente se põe a
trabalhar, abre, fecha e não deixa cicatrizes. Eu diria que ele consegue, provavelmente,
realizar entre 10 e 20 operações por dia. Tony começa manejando a parte da carne com os
dedos, como se fosse massa de farinha. Logo em seguida o sangue mancha a pele embora
ele nada tenha que corte nas mãos. Aliás, é preciso ter bem claro na mente que é impossível
a um homem, mesmo com mãos poderosas, rasgar o revestimento de estômagos, úteros e
paredes intestinais.” (9)
(9)
Anuário Espírita, 1967, Araras (SP): IDE, p. 66.
Como os demais médiuns que se dedicam à psicocirurgia, Tony operava sem nenhuma
assepsia e não empregava nenhum anestésico, ocorrendo logo a cicatrização. E, ao que se
sabe, nenhum insucesso foi registrado em seus trabalhos. (10)
(10)
Ocorrências psicocirúrgicas há que podem surpreender os mais experimentados pesquisadores.
MICHAELUS, por exemplo, cita o caso raríssimo de autocirurgia mediúnica referido por Aubin
GAUTHIER (Histoire de Sonnambulisme, vol. II) e protagonizado pela menina Madalena Durand que
“afetada aos 7 anos, de um tumor canceroso bucal, foi abandonada pela medicina. Essa criança, em dia
anteriormente aprazado e, naturalmente, mediunizada por um médico espiritual, “ fez a incisão e cortou com
o bisturi o tumor cujas partes lhe saíam pela boca; depois dessa operação, realizou outras, até que a cura se
verificou.” (Michaelus — Magnetismo Espiritual. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991, p. 186)
*
Ao final, complementarmente, cumpre anotar que os pesquisadores Gilda MOURA e
Norman DON realizaram importantes pesquisas, a respeito do fenômeno psicocirúrgico, com
resultados realmente muito significativos.
A respeito, escreve o brilhante cientista Amit GOSWAMI:
“Moura e Don realizaram um estudo que realmente exclui a fraude. Moura e Don ligaram o
cérebro de um canalizador (11) a um eletroencefalógrafo e descobriram que eis ondas de seu
cérebro passavam da baixa frequência beta, que é normal (por volta de 30 Hz) para a mais
alta frequência beta (acima de 40 Hz) quando realizava cirurgias. A frequência beta alta é
típica de uma concentração muito grande. Cirurgiões demonstram isso em seu trabalho,
mas não pessoas comuns que estão fingindo que realizam uma cirurgia (Moura e Don,
1996).
(11)
0 termo canalizador é, normalmente, empregado pelos pesquisadores norte-americanos, como sinônimo
de medianeiro.
Um estudo similar foi realizado com JZ Knight usando oito indicadores psicofisiológicos
simultâneos. Todos os indicadores mostraram mudanças significativas entre o
comportamento normal de JZ em relação ao demonstrado quando está canalizando. Seria
impossível passar fraudulentamente por todos os oito indicadores, concluíram os cientistas
(Wickramsekera et al, 1997).” (12)
(12)
GOSWAMI, Amit. A Física da Alma. São Paulo: ALEPH, 2005, p. 109. Trad. Marcello Borges.
“Nessa reunião seria realizada operação de apêndice da Srta. Laís Teixeira Dias.
Iniciados os trabalhos, manifestaram-se numerosas entidades, que se revezaram no auxílio
aos doentes que se dispunham em camas pelo recinto. Junto à cabina, deitada, estava Laís
que viera com infinita dificuldade para se submeter a operação. Arrastando-se, esse é o
termo, deitara-se no leito.
(...) Entidade materializada de darão tão forte, que atingia os pontos mais distantes da sala
aproximou- se de Laís e depois de certo tempo voltou-se para nós, trazendo nas mãos uma
faixa luminosa, de cor verde-clara. Chegando-se a Lenice, irmão de Laís, e quartanista de
medicina, abriu a faixa e mostrou- lhe um ponto de luz vermelha no meio da faixa,
explicando:
‘— Este é o apêndice dela. Fluidificamo-lo e o retiramos.’ Lenice então pediu-lhe:
‘— Não poderia o irmão materializar esse apêndice para que nós o víssemos como ele é?’
O espírito afirmou que sim.
Com gesto rápido, fechou a faixa sobre o ponto luminoso e abriu-a instantaneamente,
apresentando no lugar do ponto luminoso vermelho um apêndice de carne em péssimo
estado. Afastou-se com ele.
Depois voltou ao recinto travando uma palestra técnica sobre assunto de medicina,
ministrando a Lenice uma verdadeira aula, mostrando as diferenças entre a Alopatia e a
Homeopatia.” (14)
(14)
RANIERI, R. A. Materializações Luminosas, pp. 29 e 30.
Nota diferencial importante entre a psicocirurgia e a cirurgia espiritual direta é que esta pode
acontecer em qualquer lugar e hora, independentemente da presença de um médium de
efeitos físicos no local da cirurgia, se assim for determinado pela Espiritualidade Superior.
Nesse caso, naturalmente, os recursos ectoplásmicos são recolhidos alhures, se preciso for.
Ressalte-se, ainda, que este tipo de intervenção pode realizar-se durante o sono físico do
paciente - o que, aliás, é bem comum -, com ações diretas em seu perispírito, regularizando
disfunções dos centros vitais e eliminando toxinas espirituais, de modo que previna o
surgimento de futureis doenças, ou, se for o caso, facilite a recuperação e cura. (17)
(17)
Na kirliangrafia, como se sabe, o registro dos sinais de desequilíbrio perispirítico, antecipadores de
eclosão patológica, aparece, às vezes, bem visível na projeção da aura. Bem possível, pois, que, após a
intervenção espiritual, mostre-se diferente a aura, sem sinais de perturbação.
“— Realmente, na obra assistêncial dos espíritos amigos, que interferem nos tecidos sutis da
alma, é possível, quando a criatura se desprende parcialmente da carne, a realização de
maravilhas. Atuando nos centros do perispírito, por vezes efetuamos alterações profundas
na saúde dos pacientes, alterações essas que se fixam no corpo somático, de maneira
gradativa. Grandes males são assim corrigidos, enormes renovações são assim realizadas.
Mormente quando encontramos o serviço da prece na mente enriquecida pela fé
transformadora, facilitando-nos a intervenção pela passividade construtiva do campo em
que devemos operar, a tarefa de socorro concretiza verdadeiros milagres. O corpo físico é
mantido pelo corpo espiritual a cujos moldes se ajusta e, desse modo, a influência sobre o
organismo sutil é decisiva para o envoltório de carne, em que a mente se manifesta.” (18)
(18)
Xavier, F. Cândido. Espírito ANDRÉ LUIZ. Entre a Terra e o Céu. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993,
pp. 30 e 31.
As cirurgias espirituais diretas passam, muitas vezes, despercebidas. Seus efeitos, porém,
mostram-se, depois, visíveis e plenamente confirmados por meio dos recursos tecnológicos
conhecidos em Medicina.
Passe
3. PASSE
Processo de administração de recursos vitais.
Na dimensão física, esses recursos - magnetismo físico, magnetismo espiritual, ectoplasma e
outros elementos da natureza - são dirigidos à recuperação do vigor psicofísico da pessoa
encarnada.
Já no mundo espiritual, para o equilíbrio psíquico do necessitado, o Espírito opera com o
magnetismo espiritual, eventualmente combinado com outros elementos.
*
A história do passe confunde-se com a história do magnetismo, empregado desde tempos
imemoriais como recurso de cura.
De fato, a cura pela imposição das mãos já se encontra mencionada no Papiro de Ebers,
escrito entre 1553 e 1550 A.C.
Referências ao uso da imposição das mãos encontram- se na antiga civilização egípcia, na
Caldeia, na índia, entre os hebreus, chineses e outros povos da Antiguidade.
Quatro séculos antes de Cristo, os gregos, segundo os escritos de ARISTÓFANES, usavam,
em Atenas, a imposição das mãos para o tratamento de diversas enfermidades.
JESUS, como se sabe, curava impondo as mãos, processo depois seguido pelos apóstolos e
discípulos.
GALENO utilizava o passe em suas curas (o que o obrigou a deixar Roma, acusado de
feiticeiro).
Entre os povos primitivos, sacerdotes, magos e feiticeiros curavam movendo as mãos sobre
os enfermos e, durante muito tempo, a tarefa de curar coube aos chefes religiosos. A própria
Igreja deteve, durante séculos, o monopólio de curar, empregando, também, o processo de
imposição de mãos. Mais tarde, na Europa, a tarefa de cura passou à competência real. Reis
de alguns países (Inglaterra, com Eduardo, o Confessor, etc.), passaram a curar por meio da
imposição de mãos.
No século XVI, Félix Aurélio Theophrastus Bombastus von HOHENHEIM, conhecido
como PARACELSO (1490- 1541), criou o chamado sistema simpático de medicina, segundo
o qual, estrelas e planetas influenciavam os seres humanos por meio de um fluido sutil difuso
(uma espécie de “éter”) presente em todo o universo. Acreditava, também, que além dos
corpos celestes, outros corpos e objetos (especialmente os ímãs), detinham propriedades
magnéticas de extraordinárias qualidades curativas, concluindo que uma pessoa, com seu
magnetismo, poderia curar ou interromper as enfermidades de outras pessoas.
No século XVII, o belga Juan Baptiste Van HELMONT (1577-1644), discípulo de
Paracelso, estabelecia a distinção entre o que chamou de o magnetismo animal, que emana
do corpo físico, e as vibrações que emanam do “homem interior” (espirituais). (19)
(19)
Paracelso, segundo consta, foi quem criou a palavra magnetismo, comparando-a com as propriedades
energéticas do ímã (magneto). Van Helmont foi, de sua vez, quem primeiro teria utilizado a expressão
magnetismo animal.
Nesse mesmo século, o pesquisador alemão Robert FLUDD defendia, não só a existência do
magnetismo animal, como também, do magnetismo vegetal e mineral, sustentando que
realizava diversas curas com água magnetizada (1629).
Alguns anos depois, o escocês William MAXWELL, partidário de FLUDD, sustentava que
toda enfermidade provinha do esgotamento do princípio vital e que é possível atuar no
sentido de sua reposição. Em sua obra, Medicina Magnética (1676), afirma que a alma
humana pode atuar fora dos limites do corpo e que este, expressando a ação da alma, emite
radiações portadoras de forças vitais!
No século seguinte, o médico alemão, diplomado em Viena, Franz Anton MESMER (1734-
1815), tornava-se famoso por suas experiências com o magnetismo animal. Em sua tese
inaugural, De Planetarum Influxu (Da Influência dos Planetas), MESMER já expunha os
princípios que considerava essenciais em seus estudos sobre o magnetismo animal.
Os dois primeiros enunciados são particularmente significativos:
Tendo realizado algumas curas, no início de suas pesquiseis, com a colocação de ímãs sobre
áreas afetadas por doença, acreditou MESMER que os ímãs usados serviam essencialmente
para conduzir um “fluido etérico”, de natureza magnética, de seu próprio corpo. (21)
(21)
Cf. GERBER, Richard. Medicina Vibracional. (Orig. Vibrational Medicine - New Choices for Healing
Ourselves), 12. ed. São Paulo: CULTRIX, 1997, pp. 235 e segs. Trad. Paulo César de Oliveira.
Com base então, em sua teoria, passou a transmitir o “fluido magnético” por meio da
imposição das mãos (passe magnético), respeitando a ‘polaridade’ do corpo humano. (22)
(22)
Acreditava MESMER que, semelhantemente ao que ocorria com o ímã, o corpo humano era bipolar e
que o magnetismo animal percorria os lados direito e esquerdo de forma diferente.
Sabendo que a água poderia ser carregada com essa força magnética, e, também, produzir
cura, imaginou magnetizar água armazenada em garrafas, cuja energia seria transmitida
através de hastes metálicas que, saindo das garrafas, eram seguradas pelos doentes.
Esse dispositivo de armazenamento e transferência de energia curativa foi chamado de
bacquet, não sendo poucas as críticas que, então, despertou no meio médico francês.
De qualquer forma, o magnetismo e, particularmente, as práticas mesméricas, alcançaram
repercussão inédita na França e em outros países.
“As pessoas só se ocupam do magnetismo animal”, (23) estampava em manchete o Journal de
Bruxelles. Discutido nas academias, nos salões e cafés, investigado pela polícia, protegido
por autoridades e elogiado por pesquisadores, ridicularizado e satirizado em sociedades
secretas, divulgado pelas editoras, o magnetismo predominava “como verdadeira epidemia”.
(24)
(23)
Não há que confundir magnetismo animal com mesmerismo, que traduz as concepções pessoais de
Mesmer, relacionadas com o magnetismo.
(24)
V. LOUREIRO, Carlos Bernardo. Espiritismo e Magnetismo. De Paracelso a Psicotrônica. São Paulo:
MNÊMIO TÚLIO, 1997, p. 19; FODOR, N. Ençyclopaedia..., pp. 239 e segs.
Outro nome a destacar, nessa época, foi o de A.M. J. Castenet, Marquês de PUYSÈGUR
(1751 - 1825), ardoroso seguidor de MESMER e que, também, realizava curas como este.
Tendo chegado ao sono induzido, durante o qual o paciente recebia sugestões de cura,
credencia-se como um dos pioneiros do hipnotismo.
O Barão Karl Von REICHENBACH (1788-1869), naturalista alemão, foi outro pesquisador
que endossou a teoria de MESMER, verificando que seus pacientes eram particularmente
sensíveis ã ação do que denominou força ódica. (25)
(25)
Sustentava Reichenbach, com sua teoria da força ódica, que tanto o corpo humano, como os cristais,
emitem um tipo de força (raios od) que tudo penetra, sendo também visível para certas pessoas.
Em 1785, Joseph Philipe François DELEUZE inicia suas pesquisas sobre o magnetismo e,
após numerosas experiências, publica, em 1813, a sua História sobre o Magnetismo,
buscando persuadir o mundo científico. Além de outras obreis, DELEUZE escreveu grande
número de artigos, contribuindo significativamente para a divulgação do magnetismo
curador.
Nesse tempo, vários outros pesquisadores surgiram, endossando ou refutando a teoria do
magnetismo animal, entre eles, PÉTETIN e o Barão de POTET.
Désire PÉTETIN (1744 - 1808), depois de muitas experiências provando que os fenômenos
eram de “natureza elétrica”, modificou a teoria do magnetismo de MESMER, para teoria da
“eletricidade animal”.
O Barão de POTET (Dr. Jules), em 1821, publicava o resultado de suas primeiras
experiências e em 1834 editava o seu famoso Curso de Magnetismo Animal, fazendo
experiências públicas em vários países e fundando dois jornais para a divulgação do
magnetismo.
Nota a destacar é que, nessa época, a Faculdade de Medicina de Paris manifestava-se
hostilmente contra a prática do magnetismo e alguns magnetizadores eram vaiados em plena
rua. De POTET, sem desanimar, desdobrou-se em novos esforços e atuando no famoso
hospital psiquiátrico de Salpétrière realizou curas notáveis, chamando a atenção de vários
médicos famosos e levando a Faculdade de Medicina a instituir uma comissão para o exame
detido dos fenômenos. Após seis anos de observações minuciosas, a comissão, presidida pelo
Dr. Bourdois de la Motte, apresentou um brilhante relatório, reconhecendo a realidade dos
fatos investigados. (26)
(26)
Christian Friederich Samuel HAHNEMANN (1755 - 1843), fundador da Homeopatia, em sua obra
básica, dedicou várias páginas ao magnetismo animal e ao passe, enfatizando a importância de seus efeitos,
no tratamento dos desequilíbrios orgânicos. (Cf. HAHNEMANN, Samuel. Organon de la Medicina. Buenos
Aires: Editorial ALBATROS, 1978, pp. 304 a 307, parágrafos 288 e 289).
*
A propósito do chamado sonambulismo (citado no relatório), importa lembrar que, em suas
práticas, diversos magnetizadores depararam-se com fenômenos alheios à pretendida cura,
propriamente, a começar pelo sono que ocorria durante o processo de magnetização que
chegava a durar uma hora, como visto. Tratava-se, evidentemente, de um sono induzido pela
monotonia dos gestos, pelo silêncio e pelo relaxamento e, até, pela autossugestão, que levava
a um estado, mais tarde, conhecido como transe hipnótico. (28)
(28)
Em 1813, o Padre José Custódio Faria (citado pelos franceses como abbé Faria- abade Faria), iniciado
nas práticas do magnetismo pelo Marquês de Puységur, afastando a ideia do sobrenatural, concluiu que esse
estado de “sono lúcido” acontecia graças à suscetibilidade das pessoas, sendo produto de mera sugestão.
*
Fato importante a considerar é que os magnetizado- res - tanto os seguidores de MESMER,
como os que não se alinhavam, exatamente, com alguns de seus conceitos
- compreendiam que os resultados terapêuticos tinham como fonte o magnetismo animal (ou
a eletricidade animal), conceito que, como se sabe, foi recepcionado, em parte, pelo
Espiritismo.
Realmente, sendo o corpo nada mais que “um turbilhão eletrônico, regido pela consciência”,
como leciona EMMANUEL, (31) é natural que emita radiações elétricas e magnéticas, de
luminosidade variável, perceptíveis pelos videntes e por meio de certos dispositivos
eletrônicos.
(31)
Xavier, Francisco Cândido. Espírito ANDRÉ LUIZ. Nos Domínios da Mediunidade, p. 10. Prefácio:
“Raios, Ondas, Médiuns, Alentes ...”.
Já o Barão de REICHENBACH, sustentava que existe uma aura envolvendo o corpo humano
e que, como acontecia com os polos dos magnetos, poderia ser constatada peleis emanações
que saíam da ponta dos dedos!
No começo do século passado, o Professor FARNY, da Politécnica de Zurich, provou, por
testes elétricos, a existência de uma emissão produzida pelos dedos, designando-a como
antropolux. Comprovou, assim, resultados de investigações anteriores procedidas por K.
MULLER, engenheiro em Zurich e diretor do Instituto Salus, que já havia registrado esse
fato.
Modernamente, o cientista norte-americano, Harold Saxton BURR, com sua equipe,
investigando durante mais de 30 anos, verificou, através de minuciosas e delicadas medições,
a existência de campos elétricos que pareciam presidir às diferentes funções biológicas de
todos os seres vivos, desde os seus componentes biomoleculares, celulares, citológicos e
glandulares. Segundo sua conclusão, esses campos se estruturam no estilo de uma
organização hierárquica, evidenciando que “não são resultantes funcionais, mas sim,
determinantes das funções peculiares aos organismos, isto é, formam uma estrutura que
governa e mantém a organicidade do ser vivo.” (32)
(32)
ANDRÉA, Jorge. Psicologia Espírita. Rio de Janeiro: LORENZ, 1994, p. 3.
O corpo humano, a refletir o perispírito, mostra-se, assim, como uma potência a irradiar
magnetismo.
Esse magnetismo que dele emana naturalmente, formando um campo propício à reflexão do
estado psicofísico, é o que se conhece como aura, ou psicosfera, ou fotosfera, cuja existência
também já se encontra comprovada eletronicamente.
Com efeito, na mesma época em que BURR media os campos eletromagnéticos presentes
nos seres vivos (década de 1940), em Crasnodar, no sul da Rússia, Semyon D. KIRLIAN
aplicava seus conhecimentos de eletrônica, pesquisando as possibilidades de fotografar a
aura humana com o uso de correntes de alta frequência. Acompanhado de sua mulher,
Valentina K. KIRLIAN, ao fim de dez anos de experimentações, conseguiu registrar as
fantásticas nuanças das emanações que compõem a aura (“notável fenômeno de
luminescência”, nas palavras de OSTRANDER e SCHROEDER), (34) aperfeiçoando depois,
equipamentos conhecidos em todo o mundo.
(34)
OSTRANDER, Sheila; SCHROEDER, Lynn. Experiências Psíquicas Além da Cortina de Ferro. São
Paulo: CULTRIX, 1974, p. 223. Trad. Octávio Mendes Cajado.
Sabendo-se, assim, do eletrodinamismo que sustenta o corpo, que, aliás, já vem sendo
constatado e medido de há muito, (35) e que as correntes elétricas produzem campos
magnéticos - hoje, não só medidos, como vistos - fácil é admitir a existência de uma energia,
de caráter eletromagnético e própria do corpo humano, a qual, sob a ação da vontade, pode
ser transmitida a outros seres, produzindo efeitos diversos, como foi demonstrado pelos
chamados magnetistas ou magnetizadores, principalmente a partir de MESMER.
(35)
A primeira teoria sobre a eletricidade animal surgiu quando o pesquisador inglês, R. CATON, fazia os
primeiros registros da atividade elétrica do cérebro, e o psiquiatra alemão, Hans BERGER, colhia o primeiro
eletroencefalograma (EEG), publicando, em 1929 a descoberta de dois tipos de atividade elétrica cerebral,
que qualificou como “ritmo alfa” e “ritmo beta”. Nessa linha, surgiu também o eletrocardiograma, que
registra as oscilações da corrente elétrica gerada no músculo cardíaco a cada contração, e o eletromiograma,
que mede a atividade elétrica muscular.
Naturalmente, num trabalho espírita, em que maior é a conscientização a respeito, a ação dos
Espíritos torna-se mais potente, não só ampliando o potencial magnético do passista, como
dinamizando os recursos ectoplásmicos disponíveis para ampliação dos efeitos do passe,
tanto físicos como psíquicos.
Fator especialmente importante é que, num Centre Espírita, o passista cônscio da sua
responsabilidade e da necessidade de sintonizar-se com a Espiritualidade, coloque-se em
condições de ser assistido em sua delicada tarefa.
No Plano Espiritual, a operação do passe entre os desencarnados, ao que se sabe, guarda
certa semelhança com o que ocorre na dimensão física.
Os Espíritos mais preparados podem aliviar a perturbação e a dor de outros, aplicando suas
energias magnéticas - magnetismo espiritual.
Compreende-se que na dimensão espiritual, em determinados processos, os Espíritos
também utilizam além da energia magnética, um tipo de energia ou substância cujos efeitos
se assemelhariam aos que se obter com o ectoplasma, quando não, em determinadas
circunstâncias, o próprio ectoplasma. (39)
(39)
V. XAVIER, Francisco C. Espírito IRMÃO JACOB. Voltei. Rio de Janeiro: FEB, 1994. Cap. I, p. 21.
Tipos de Passe
Todos os passes são magnéticos. O passe, seja qual for, é ato de transmissão de recursos
magnéticos, associados a outros.
Também, em princípio, todo passe terapêutico administrado por agente encarnado é
mediúnico, uma vez que, como ato de auxílio a necessitado, conta com a assistência
espiritual, independentemente da crença ou descrença do agente.
Todavia, já pela popularização da expressão, pode-se admitir o passe mediúnico como um
dos tipos de passe, ao critério de que, nessa modalidade, propriamente, o agente tem
consciência de que opera como médium e que ocorre a ostensiva intervenção do Espírito em
sua administração. (40)
(40)
No passe mediúnico, o médium, normalmente, permanece totalmente consciente e ativo no comando da
operação, assistido por seu parceiro espiritual, que o auxilia magneticamente, intuindo-o como necessário.
Em certos casos, porém, em que a mediunização é também psicomotora, pode o médium servir à
administração do passe em regime de subconsciência ou até, inconsciência, se o transe for mais profundo, o
que, aliás, raramente acontece.
Diferente do passe mediúnico é o passe espiritual, caracterizado pela ação benfeitora direta
do Espírito (sem a intervenção de nenhum médium encarnado), dirigida tanto a paciente
encarnado, como desencarnado.
Nesse tipo de operação, o Espírito aplica suas forças magnéticas (magnetismo espiritual)
associadas, ou não, a outros recursos, que, aliás, nem sempre coincidem com os empregados
no passe mediúnico, mormente em se tratando de paciente desencarnado.
TIPOS DE PASSE
MEDIÚNICO
ESPIRITUAL
Importante ainda destacar que, de acordo com as necessidades, podem os passes ser dirigidos
à produção de vários efeitos: dispersivos, balsamizantes, revitalizantes, concentradores,
sedativos, anestesiantes, desintegradores, soníferos ou estimulantes.
No paciente encarnado, os recursos transmitidos pelo passe atingem diretamente o
perispírito, refletindo-se imediatamente na organização física.
Impende anotar, a propósito, que o passe, sob o comando espiritual, atuando no perispírito,
também previne, como visto, a eclosão de enfermidades, cujos sinais já se apresentam
visíveis aos olhos espirituais, removendo cargas energéticas mórbidas - muitas vezes,
instaladas por falta de controle emocional - e fortalecendo o sistema imunológico. (41)
(41)
“Está se tornando cada vez mais evidente que a depressão e outras perturbações emocionais podem
debilitar as defesas naturais do corpo contra as doenças. Em estado de incompetência imunológica pode,
posteriormente, traduzir-se em doenças físicas em virtude de uma maior suscetibilidade a agentes viróticos e
bacterianos, ou por causa de doenças de origem interna.” (GERBER, Richard. Medicina Vibracional, p. 260)
Ressalte-se, que, hoje, a influência da mente sobre o sistema imunológico é admitida pela
psiconeuroimunologia - surgida na década de 1980, em desenvolvimento à medicina psicossomática - com o
fato evidente. “Na última década” - informam T.F.H. DEITOS e F. P. GASPARY - “pesquisas
interdisciplinares sofisticadas têm documentado os efeitos dos processos psicológicos e neurais sobre as
atividades do sistema imune e, conversivamente, do sistema imune sobre o Sistema Nervoso Central (SHC),
surgindo o conceito de Psiconeuroimunologia” (“Teorias Psiconeuroimunológicas - Implicações Clínicas”.
Psiquiatria Biológica. São Paulo, 1996, ne 4, pp. 127 a 136.)
“Conhecendo-a mais intimamente, sabemos que a água é veículo cios mais poderosos para
os fluidos de qualquer natureza... Compreenderá (o homem), então, que a água, como fluido
criador, absorve, em cada lar, eis características mentais de seus moradores. A água, no
mundo, (...) não somente carreia os resíduos dos corpos, mas também as expressões de
nossa vida mental. Será nociva nas mãos perversas, útil nas mãos generosas e, quando em
movimento, sua corrente não só espalhará bênção de vida, méis constituirá igualmente um
veículo da Providência Divina, absorvendo amargureis, ódios e ansiedades dos homens,
lavando-lhes a casa material e purificando-lhes a atmosfera íntima.” (44)
(44)
Xavier, F. Cândido; Espírito André Luiz. NOSSO Lar. 43. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, pp. 61 a 63,
Cap. X.
Como ocorreu em relação ao passe, foi MESMER quem, nos tempos modernos, introduziu
como elemento de cura, a água (magnetizada). Hoje, entre os espiriteis, seu emprego é muito
comum e, como acontece com o passe, os resultados são muito significativos. É que também
atua diretamente no perispírito, para, harmonizando os centros vitais, aliviar o sofrimento
físico e psíquico. (45)
(45)
O perispírito é regido por sete centros de força: o centro coronário, “ponto de interação entre as forças
determinantes do Espírito e as forças fisiopsicossomáticas organizadas”; o centro cerebral, contíguo ao
centro coronário e que “ordena as percepções de variada espécie, percepções essas que, na vestimenta carnal
constituem a visão, a audição, o tato e a vasta rede de processos da inteligência que dizem respeito à Palavra,
à Cultura, à Arte, ao Saber”. Sua influência apresenta-se decisiva sobre os demais, governando o córtice
encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas e administrando o
sistema nervoso, em toda a sua organização, coordenação, atividade e no seu mecanismo, desde os
neurônios sensitivos até as células efetoras; o centro laríngeo, que preside nos fenômenos vocais, inclusive,
às atividades do timo, da tireoide e das paratireoides; o centro cardíaco, que sustenta os serviços da emoção
e do equilíbrio geral; o centro esplênico, sediado no baço, que regula a “distribuição e a circulação adequada
dos recursos vitais em todos os escaninhos do veículo de que nos servimos”; o centro gástrico, que “se
responsabiliza pela penetração de alimentos e fluidos em nossa organização, e o centro genésico, que é a
sede do “santuário do sexo como modelador de formeis e estímulos”. (XAVIER, F. C.; Vieira, Waldo.
Espírito André LUIZ. Evolução em Dois Mundos. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, pp. 27 e 28; Xavier, F.
C. Espírito ANDRÉ LUIZ. Entre a Terra e o Céu, pp. 127 e 128).
“Por intermédio da água fluidificada (...), precioso esforço de medicação pode ser levado a
efeito. Há lesões e deficiências no veículo espiritual a se estamparem no corpo físico, que
somente a intervenção magnética consegue aliviar, até que os interessados se disponham à
própria cura.” (46)
(46)
XAVIER, F. C.; Espírito André Luiz. NOS Domínios da Mediunidade, p. 108.
Obviamente, a fluidificação da água pode ocorrer tanto no Centro Espírita, como no lar, e
onde necessário for, sob a luz da oração.
Nesse sentido, preleciona EMMANUEL:
“Se desejas, portanto, o concurso dos Amigos Espirituais, na solução de tuas necessidades
físico-psíquicas ou nos problemas de saúde e equilíbrio dos companheiros, coloca o teu
recipiente de água cristalina à frente de tuas orações, espera e confia. O orvalho do Plano
Divino magnetizará o líquido com raios de amor em forma de bênçãos...” (47)
(47)
XAVIER, F. c.; Espírito EMMANUEL. Segue-me, p. 130.
A fluidificação da água é muito comum entre os espíritas. Todavia, não se pode ignorar que,
além da água, tecidos e outros materiais são a ela suscetíveis, produzindo, também, efeitos
terapêuticos.
Já escrevia o famoso pesquisador H. DURVILLE (Tratado Experimental de Magnetismo),
tratando da duração dos efeitos da fluidificação da água e objetos:
Experimentações diversas têm demonstrado que, como ocorre com a imposição das mãos,
alguns materiais, como algodão e lã, por exemplo, devidamente energizados, produzem
efeitos importantes ainda que não tão significativos como acontece no passe direto, em que o
emprego do ectoplasma pode comparecer como fator terapêutico.
Na década de 1960, por exemplo, experiências realizadas pelo Dr. Bernard GRAD, da
Universidade McGill, de Montreal, utilizando ratos em que era provocada a formação do
bócio, e usando grupos de controle, constatou que os animais postos em contato com o
algodão e lã energizados mostravam, ao contrário dos demais, baixa formação do bócio. (49)
(49)
V. GERBER, Richard. Medicina Vibracional, p. 238.
As reuniões de auxílio vibratório a doentes têm sido adotadas em muitos círculos espíritas,
embora com diferentes denominações e esquemas de trabalho.
Inegavelmente, diversas mentes operando harmonizadas e dirigidas à construção do bem, a
atraírem, por isso, a valiosa assistência dos Benfeitores Espirituais, constituem precioso
canal de auxílio terapêutico, em que recursos mentais, magnéticos, ectoplásmicos, são
empregados, com êxito incontestável no tratamento de enfermidades físicas e espirituais.
Preces, leituras evangélicas, mentalizações a favor dos que se recomendam ao atendimento
do grupo, sustentadas pela sinceridade e confiança, fornecem à Espiritualidade Superior os
recursos necessários ao atendimento e à cura das enfermidades físicas e dos transtornos
psíquicos, contribuindo, ao mesmo tempo, para o afastamento das perturbações espirituais,
de acordo, evidentemente, com o merecimento individual.
Observe-se, por fim, que, naturalmente, esse auxílio pode ser dirigido não só aos pacientes
presentes à reunião, como aos ausentes que se recomendem a tal tipo de atendimento.
XXVIII- MATERIALIZAÇÃO
William CROOKES, (2) o mais célebre dos cientistas que estudaram o fenômeno de
materialização e que fez parte, como visto, da Comissão constituída pela Sociedade Dialética
de Londres para constatar a autenticidade do fenômeno, operando, principalmente, com a
médium Florence COOK, acompanhou, durante três anos sucessivos, as materializações do
Espírito Katie KING, reunindo centenas de provas, entre elas, quarenta e três fotos do
Espírito materializado. Entre as inúmeras verificações, constatou, por exemplo, que, certa
vez, estando a médium sob tratamento de forte bronquite, os pulmões de Katie KING
materializada mostravam-se em perfeitas condições.
(2)
William CROOKES - notável físico e químico inglês, descobridor do tálio e inventor do radiômetro dos
tubos de CROOKES - foi Presidente da Sociedade Real, da Sociedade Química de Londres, do Instituto dos
Engenheiros Elétricos, da Sociedade para Pesquisa Psíquica e outras instituições, além de fundador do
Chemical News e editor do Quartely Journal.
Certo dia, porque foi dito que se assemelhava muito com a Srta. COOK, provou sua
individualidade distinta, mudando a cor do seu rosto para chocolate e azeviche.
Em outra oportunidade, Katie KING convidou-o a entrar na cabine onde estava a médium e,
então, com o auxílio de uma lâmpada fosfórica, pôde ver, perfeitamente, o Espírito
materializado ao lado da médium em transe, provando-se, assim, a existência de duas
personalidades diferentes.
De outra feita, ainda, resolveu comparar as pulsações do Espírito materializado com as da
médium, então, uma colegial de apenas quinze anos. Seu testemunho não deixa nenhuma
dúvida:
“Uma noite, contei as pulsações de Katie; seu pulso batia regularmente 75, ao passo que o
de Miss Cook, poucos instantes depois, atingia a 90, seu número habituai Encostando meu
ouvido ao peito de Katie, pude sentir um coração bater no interior, e sueis pulsações eram
ainda mais regulares do que as do coração de Miss Cook, quando, depois da sessão, ela me
permitiu a mesma experiência.” (3)
(3)
Cf. AKSAKOF, Alexandre. Um Caso de Desmaterialização. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, pp. 171 e
172.
“Nela (Miss Cook) não há lugar para dúvidas. A médium é uma jovenzinha de 15 anos,
incapaz de organizar e levar a bom termo tão colossal embuste, sob a meticulosa
observação de jornalistas, escritores e cientistas de primeira ordem. Tomaram-se todas as
medidas, sempre com sua aquiescência, para impedir qualquer fraude. Procedeu-se em
relação a ela como se teria feito com o mais hábil dos prestidigitadores. Imobilizam-se suas
mãos por meio de cordéis, cujos nós e laçadas são costurados e selados; com uma correia
cinge-se sua cintura e fica sujeita às maiores precauções; as extremidades se fixam no solo
mediante uma argola de ferro. Outras vezes passavam-lhe uma corrente elétrica pelo corpo
de modo que um galvanômetro indicasse os seus menores movimentos. Entretanto, a
aparição se mostrava completamente liberta, vestida com véus dispostos com arte e que
desapareciam ao mesmo tempo em que o fantasma. Katie King difere tanto da médium
Floren- ce Cook que mesmo os incrédulos mais sistemáticos, como o Dr. Sexton, pôde vê-las
juntas, enquanto Miss Cook jazia em transe, amarrada em sua cadeira. Seu testemunho
confirma o da escritora Florence Marryat e o de Sir. William Crookes, que tinham podido
ver a mesma cena. (...)
Mas o que demonstra peremptoriamente a independência absoluta de Katie King, é que ela
fala com a médium estando esta completamente desperta.
Pela leitura dos relatórios de Sir William Crookes vemos que, em sua última aparição, o
Espírito se despediu de Miss Florence Cook, quando esta foi despertada e posta em seu
estado normal.” (4)
(4)
RODRIGUES, Wallace Leal. Katie King. Matão (SP): CLARIM, 1980, pp. 7, 8 e 11. Apreciação de
Gabriel Delanne (1899).
“Um ser humano, ou matéria viva, formada sob nossos olhos, que tem seu próprio calor,
aparentemente uma circulação sanguínea e uma respiração fisiológica, que tem, também um
tipo de personalidade psíquica, com uma vontade distinta da do médium, numa palavra,
outro ser humano! Esse é, certamente, o clímax das maravilhas!” (7)
(7)
Encyclopaedia... pp. 216 e segs.
*
Ainda que não tão comuns como as materializações de seres humanos, a corporificação
ectoplásmica de seres animais desencarnados tem sido também constatada e, igualmente,
bem documentada. São muito conhecidas, por exemplo, as ocorrências em que cães surgem
materializados ao lado de seus antigos donos, emocionando os presentes.
Em reuniões realizadas com os famosos médiuns poloneses Franek KLUSKI (1874-1943) e
Jean GUZIK (1875- 1928), com a presença de famosos pesquisadores da época (GELEY,
RICHET, AKSAKOF, Oliver LODGE, FLAMMARION), surgiam materializados pássaros,
cães, gatos, macacos, sendo, algumas vezes, fotografados.
Com outros médiuns (HOME, Sra. WRIEDT) foram observadas materializações de esquilos,
morcegos e outros animais.
Comumente, as materializações de animais ocorrem nas reuniões mediúnicas, juntamente
com as aparições dos Espíritos. A literatura espírita, todavia, mostra um bom número de
casos de materialização de animais, fora das reuniões de ectoplasmia.
Vale como ilustração, entre muitos outros casos, um fato citado por Camille
FLAMMARION, a ele relatado por um jovem conhecido, G. Graeser, que tivera um cão São
Bernardo, de grande estimação e que fora sacrificado por seus parentes “por motivo de uma
queixa muito grave”, ligada à agressividade do animal.
“Aconteceu às 19 horas e trinta minutos. Eu estava em meu quarto e ouvi a porta abrir-se
(ele a abria sozinho), e vi aparecer Boby, com ar de sofrimento. Gritei: ‘Vem, Boby’, sem
levantar os olhos, e ele não me obedeceu. Repeti a ordem e ele veio, esfregou-se em minhas
pernas e deitou-se no tapete. Quis acariciá-lo, mas... ele desapareceu! Precipitei-me para
fora do quarto e telefonei para Lausane e soube que Boby, às 19 horas e trinta minutos fora
eliminado no abatedouro local, por iniciativa de minha família. Não contive a forte emoção
e desmaiei...
“Tal é a história do meu Boby. É de se notar que, no mesmo instante em que ele era abatido,
eu o via com os meus próprios olhos. E o que afastava qualquer idéia de alucinação eram os
fatos de o animal ter aberto a porta, com seu corpo, e eu sentir o seu pelo abundante e
macio roçar-me as pernas...” (8)
(8)
Annales des Sciences Psychiques, 1912.
*
Se o processo de materialização dos Espíritos se nos apresenta de difícil compreensão, em
sua inteireza, a aparição de animais surge-nos como um fato mais complexo, ainda.
Entende-se, todavia, que o princípio é o mesmo, qual seja a condensação ectoplásmica tanto
no perispírito humano, como no perispírito (protoperispírito) animal.
Na materialização humana, a vontade do Espírito conjugada com a vontade e os esforços dos
operadores espirituais que o assistem provocam a aglutinação do ectoplasma, colhido de
várias fontes, tornando-o visível e, às vezes, tangível.
Na materialização animal, quando ocorre nas reuniões mediúnicas, o auxílio dos Espíritos
operadores comparece como decisivo.
Já na materialização do animal, fora das reuniões, em diferentes lugares e situações - na
maioria das vezes, no instante da desencarnação - o processo ainda depende de explicação
maior, por parte da Espiritualidade, embora se admita a ação do psiquismo do animal — que
já se manifesta como vontade menos ou mais desenvolvida - no delicado processo.
**
A materialização pode ser mediúnica ou extramediúnica.
Na materialização mediúnica, apoiados nos recursos ectoplásmicos oriundos do médium, dos
assistentes, dos planos superiores e da Natureza, surgem visíveis os Espíritos (10)
encarregados de transmitir a lição da sobrevivência e de propiciar, também, se for o caso, o
benefício da cura.
(10)
Sabe-se que Espíritos encarnados também se materializam.
MATERIALIZAÇÃO MEDIÚNICA
ANIMADA INANIMADA
AUTÔNOMA COMPLETA
INCOMPLETA
SINGULAR MÚLTIPLA E
SIMULTÂNEA
CONJUGADA TANGÍVEL
NÃO TANGÍVEL
COMPLETA
PARCIAL
TANGÍVEL
NÃO TANGÍVEL
LUMINOSA
NÃO LUMINOSA
A materialização mediúnica animada (ou viva) diz com a corporificação dos Espíritos e de
animais.
A materialização animada pode acontecer de maneira autônoma ou conjugada.
No primeiro caso, o Espírito, atraindo o ectoplasma, corporifica-se, sustentado em suas
próprias possibilidades perispiríticas.
A materialização autônoma, já por se apresentar mais independente, surge, muitas vezes,
mais perfeita.
Nesse tipo de fenômeno, comumente acontece a corporificação de um só Espírito, ou de um
Espírito por vez.
É o que se pode designar como materialização singular.
Inúmeros são, principalmente depois de CROOKES, os casos documentados em todo o
mundo desse tipo de materialização. Apenas como ilustração e por se mostrarem
particularmente emocionantes, vale citar duas experiências vividas, respectivamente, por
Frederico FIGNER (12) e sua mulher, com a materialização de sua filha Rachel, desencarnada
precocemente, graças aos recursos da famosa médium paraense Ana PRADO, e por Yvonne
PEREIRA, em uma reunião com a médium Zulmira Teixeira da SILVA.
(12)
Frederico FIGNER (1866-1947), grande benfeitor e divulgador do Espiritismo, foi Tesoureiro e Vice-
Presidente da Federação Espírita Brasileira. Casou-se com Esther de Freitas Reys, de cujo enlace nasceram
seis filhos: Rachel, Aluízio, Gabriel, desencarnados cedo, Leontina, Helena e Lélia. Depois de sua
desencarnação, escreveu, por intermédio de F. C. XAVIER, a obra “Voltei”, sob o pseudônimo de Irmão
Jacob, em que narra suas primeiras e impressionantes experiências na Pátria Espiritual.
Eventos rigorosamente investigados e anotados mostram que também soem acontecer, ainda
que não frequentemente, as materializações múltiplas e simultâneas.
A literatura espírita documenta, também, muitos casos referentes a esse tipo de
materialização, estudados por pesquisadores de incontestável idoneidade científica e moral.
Entre os registros clássicos, por exemplo, atrai citação uma extraordinária ocorrência anotada
por AKSAKOF, envolvendo o Rev. Francis Ward MONCK, famoso médium de seu tempo:
“Como médium tínhamos o Dr. Monck; depois de o termos examinado, a seu próprio
pedido, ele foi posto em um gabinete improvisado pela colocação de uma cortina através do
vão de uma janela; a sala ficou iluminada a gás durante todo o tempo da sessão.
Aproximamos uma mesa redonda da própria cortina e ali tomamos lugar, em número de
sete.
Logo depois, duas figuras de mulher, que conhecíamos com os nomes de ‘Bertie’ e ‘Lili’,
apareceram no lugar em que as duas partes da cortina se tocavam, e, quando o Dr. Monck
introduziu a cabeça através da abertura, essas duas figureis apareceram acima da cortina,
enquanto que duas figuras de homem (‘Mike’ e ‘Richard’) a separavam dos dois lados e se
faziam igualmente ver. Por conseguinte, divisávamos simultaneamente o médium e quatro
figureis materializadas, cada uma deis quais tinha seus traços particulares que a
distinguiam deis outras figuras, como se dá entre pessoas vivas.
É escusado dizer que todas as medidas de precaução tinham sido tomadas para prevenir
qualquer embuste e que nós teríamos apercebido da menor tentativa de fraude.” (15)
(15)
AKSAKOF, Alexandre. Animismo e Espiritismo, vol. 1, pp. 181 e 182, Cap. I.
Outro caso bem conhecido, transcrito por Alfred Erny, é o ocorrido na casa do pintor francês
James TISSOT, quando residia na Inglaterra, com o famoso médium inglês William
EGLINTON, (16) e relatado pelo biógrafo deste, J. FORMER:
(16)
Em nome da Ciência, os pesquisadores - não se importando, inclusive, com o sacrifício dos médiuns -
tomavam providências cautelares que chegavam, até, ao absurdo. Referindo-se, por exemplo, a outra
experiência realizada com EGLINTON, informa ERNY: “O médium foi encerrado numa espécie de gaiola,
cercado por um fio, e a porta dessa gaiola foi fechada e por nós selada. Por cúmulo da precaução, espalhou-
se farinha em torno da gaiola. Era, pois, humanamente impossível sair dessa gaiola sem ser descoberto; ora,
em tais casos, quando um prisioneiro foge está salvo; mas, quando o mesmo acontece a um médium, ele está
perdido. Apesar deste luxo de precauções, as materializações se realizaram”. (ERNY, Alfred. O Psiquismo
Experimental. 3. ed. p. 140).
*
Na materialização conjugada, (20) o Espírito apoia-se, de alguma maneira, no perispírito do
médium desprendido, ou sofre sua influência, de tal modo que seu semblante, muitas vezes,
reflete os traços fisionômicos do médium.
(20)
R. A. RANIERI designa este fenômeno como superincorporação. (Materializações Luminosas. 5. ed. S.
Paulo: FEESP. 1995, pp. 203 a 206.).
*
A materialização animada pode surgir de forma completa ou parcial.
A materialização completa é aquela em que os manifestantes surgem de corpo inteiro.
Na parcial, materializa-se apenas parte do corpo; geralmente, a cabeça, o busto ou a mão do
Espírito.
Todos os tipos de materialização animada podem apresentar-se tangíveis (ditas
estereológicas, quando suscetíveis de serem apalpadas e examinadas) ou não tangíveis.
Tanto as tangíveis, como as não tangíveis, são suscetíveis de surgir luminosas ou não
luminosas, observando- se, todavia, que no caso das primeiras, não é comum ocorrer a
luminosidade plena. (23) (AKSAKOF refere-se a uma ocorrência de materialização
transparente que, ao que se depreende, não passaria de uma materialização não tangível com
uma tênue luminosidade). De qualquer forma, o tipo de materialização depende da
programação dos Espíritos responsáveis, levando em conta, não só a quantidade e a
qualidade do ectoplasma disponível, como o próprio ambiente psíquico.
(23)
Referindo-se a um dos trabalhos a que assistiu com a médium Zulmira Teixeira SILVA, descreve
Yvonne PEREIRA a materialização de Geraldo de Majela, religioso venerado pela Igreja Católica:
“(...) de uma beleza toda especial, por assim dizer celeste, jovem, angelical, deixou-se contemplar no seu
hábito de religioso, singularmente iluminado com reflexos azuis lucilantes. E tal a intensidade da luz que
dele irradiava que a sala, posta em penumbra, se iluminou como se um foco alvinitente se acendesse (o tipo
de luz é inédito na Terra) iluminando ainda a sala contígua através das vidraças da porta.” (Op. cit, pp. 93 e
94).
*
A materialização inanimada refere-se ao aparecimento de objetos, plantas e flores (24)
resultantes da ação mental dos Espíritos sobre o ectoplasma, dando-lhes forma e textura, com
duração limitada, quase sempre, ao tempo da reunião, dissolvendo-se depois.
(24)
Cumpre não confundir flores materializadas, criações mentais, com flores vivas, naturais, trazidas ao
recinto dos trabalhos por meio do conhecido fenômeno de transporte. (V. adiante).
“Mirabelli não se achava ainda totalmente em seu estado normal, quando começaram a ser
ouvidas violentas pancadas dentro de um armário no qual havia uma caveira destinada a
estudos. Era a própria caveira que, movida por uma força estranha se debatia furiosamente,
parecendo forçar a porta de sua prisão. Uma pessoa vai encaminhar-se para abrir o armário,
quando as suas portas espontaneamente se escancaram e, de dentro, sai, ante os olhares
atônitos dos presentes, a referida caveira, batendo os maxilares um contra o outro, como que
se quisesse morder, e começa a levitar, no espaço, sempre rangendo os dentes. O Dr.
Ganimedes de Souza pergunta-se, mentalmente, por que é que, se estava presente a caveira,
não aparecia também o restante do esqueleto. Como que respondendo a essa pergunta,
começam a formarem-se as vértebras do pescoço, depois a caixa torácica e os braços, o
prolongamento da espinha dorsal, os ilíacos e a bacia, as pernas e, enfim, toda a ossatura dos
pés. O médium, seguro por ambos os braços parece estar com delírio, expele em abundância
uma saliva espumarenta, e debate-se freneticamente na sua poltrona. Todas as veieis do seu
corpo estão ingurgitadas e latejantes. O médium começa a recender fortemente a cadáver em
adiantado estado de putrefação e esse odor fétido se espalha na sala toda e permanece, apesar
de, através das grades das janelas, se formar perfeito arejamento do apartamento. A
assistência manifesta-se incomodada. O esqueleto continua em pé, e põe-se a andar pela sala,
com grandes passadas trêmulas e incertas, qual uma ave pernalta desajeitada. Procura
equilibrar-se, como se receasse cair. O Dr. Ganimedes mais uma vez duvida da evidência
visível, vai e toca o esqueleto, palpa uma ossada consistente e sebosa, tendo então forte abalo
nervoso, vindo sentar-se. O médium estertora e cada vez se agita mais, sendo necessário
força para contê-lo. O esqueleto, rangendo as juntas, continua o seu passeio macabro,
lançando no ambiente uma impressão lúgubre, tétrica, pavorosa, e todos os assistentes,
incitados pelo exemplo do Dr. Ganimedes, sobrepujando a sua repugnância, um a um,
levados por uma curiosidade bem mais forte do que os escrúpulos, vão apalpar aquela
tristemente tão perfeita configuração da morte e do nada. E todos voltaram aos seus lugares,
abalados e de fisionomia apreensiva. O cheiro de cadáver continua forte; o estado moral dos
presentes é de depressão e angustiosa expectativa: a todas as mentes parece dominar o
significado daquele triste quadro, que relembra vivamente o destino dos homens. A opinião
de todos se traduz numa impressão impossível de ser descrita. O esqueleto começa a se
desfazer pausadamente, a minutos contados, principiando por onde terminara, até só restar
novamente a caveira pairando no ar, agora, já não mais batendo os maxilares e, finalmente,
cai sobre a mesa e fica inanimada. O médium, sempre seguro, tem um grande espasmo,
suspira dolorosamente e volta a si, desingurgita-se-lhe a circulação, normalizam-se as demais
funções e resta-lhe somente uma grande fra-queza, verdadeira exaustão.” (26)
(26)
Mikulasch, Rodolpho. O Médium Mirabelli, resultado de um Inquérito. São Paulo: Edição do Autor,
1926. Conf. ANDRADE, Hernani Guimarães. Parapsicologia - uma visão panorâmica, pp. 212 a 214.
Fatos como esse demonstram bem a elevada capacidade mental dos Espíritos controladores
das operações.
*
A materialização pode também, de conformidade com a intenção dos Espíritos operadores,
apresentar-se completa ou parcial. As coisas poderão surgir com sua forma inteira, ou não. E,
como acontece na materialização animada, as formações ectoplásmicas inanimadas
apresentam-se tangíveis ou não tangíveis.
E em se tratando de objetos, se não aparecem luminosos, como no caso dos seres vivos, não
deixam de se apresentar visíveis - o suficiente para que possam ser percebidos.
***
Necessário registrar que, como ocorre com outros eventos, ao lado da materialização
mediúnica, propriamente, constata-se um tipo de materialização que se pode chamar de
extramediúnica.
Na materialização extramediúnica, ocorrência também estudada por AKSAKOF, CROOKES
e outros renomados investigadores, é o próprio espírito do médium que se corporifica, total
ou parcialmente, ou produz - muitas vezes, involuntariamente - os efeitos ectoplásmicos que,
afinal, resultam das próprias formas-pensamento que constrói. (Assinala KARDEC: “A alma
do médium pode comunicar-se, como a de qualquer outro”. E ainda: “é fora de dúvida que o
Espírito do médium pode agir por si mesmo. Isso, porém, não é razão para que outros não
atuem igualmente, por seu intermédio.” (27)
(27)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, pp. 268 e 269, Cap. XIX.
***
O fenômeno da corporificação ectoplásmica dos Espíritos, desencarnados ou não, -
conhecido modernamente (e impropriamente, aliás) como materialização — comprovando
em bases experimentais a natureza espiritual do ser humano, representa uma das mais
expressivas contribuições do Espiritismo para o desenvolvimento do Saber.
E - fato importante - tanto na materialização dos Espíritos desencarnados, como na
automaterialização do médium, o processo só acontece porque o perispírito dos
manifestantes, sob a ação mental, aglutina o ectoplasma disponível, amoldando-o,
automaticamente, à sua forma. É a sua função organizadora. (28)
(28)
Quatro são as funções básicas do perispírito, até agora conhecidas: função instrumental, função
individualizadora, função organizadora, também designada como função modeladora, e função
sustentadora.
*
Na maioria deis vezes, nos trabalhos de materialização, o médium permanece em transe
profundo, não guardando nenhuma lembrança do ocorrido.
Casos raros, há, todavia, em que o médium permanece consciente, acompanhando e até
conversando com o Espírito materializado, como, por exemplo, acontecia com a
extraordinária médium norueguesa Elisabeth D’ESPÉRANCE.
“Sua curiosa singularidade consistia em obter a materialização sem cair em transe ou sono
magnético. O Espírito-guia das sessões, conhecido pelo nome de Valter, quando se
apresentava visível, conversava com a médium, sentados ambos, em presença dos
assistentes. O mesmo se dava nas experiências em que se materializava uma forma de
mulher de rara beleza, que se dava o nome de Népenthès e declarava-se contemporânea da
época heróica da antiga Grécia.” (30)
(30)
Miguel, Alfredo. Fenômenos Espiriteis e Anímicos. 2. ed. São Paulo: FEESP, 1989, p. 125.
(31)
AKSAKOF, Alexandre. Op. cit., p. 90.
**
Ao fim, cabe referência a um fenômeno que se pode designar como semimaterialização ou
materialização incompleta, em que a formação ectoplásmica não é visível, embora ofereça
certa tangibilidade, não se identificando, pois, com a materialização, propriamente, que tem
na visibilidade, um dos seus atributos.
A semimaterialização se faz presente na pneumatofonia, na produção de efeitos sonoros e
outros eventos ectoplásmicos.
XXIX- MOLDAGENS
Processo de obtenção, com o uso de parafina, cera, argila ou outra substância plástica, o
molde (negativo) de rostos, pés, mãos, dedos, para a posterior produção de peças,
geralmente, de gesso (positivo).
Segundo consta, as primeiras moldagens foram obtidas em 1875, pelo conhecido pesquisador
norte-americano William DENTON, professor de geologia e autor de Natures Secrets
(Segredos da Natureza), com a médium Mary M. HARDY.
Depois de verificar que, em se mergulhando um dedo em parafina fundida, essa se destacava
facilmente do dedo, depois de resfriada, concluiu que o molde assim obtido poderia ser
preenchido com gesso, podendo-se, então, obter a reprodução exata de um dedo,
eventualmente materializado.
Em contato com Sr. John HARDY e combinada a realização de uma reunião com a Sra.
HARDY, reputada médium de efeitos físicos, obteve, realmente, resultados muito
satisfatórios, depois publicados pela imprensa inglesa, com base em relatório apresentado
pelo Prof. DENTON.
Em carta enviada ao periódico inglês Médium, então em circulação, o Sr. HARDY confirma
as informações do Prof. DENTON:
Registros que se seguiram passaram a dar conta de múltiplas ocorrências desse tipo, na
Europa e nos Estados Unidos, inclusive com médiuns famosos, como Eusápia PALADINO,
EGLINTON, os irmãos DAVENPORT, etc.
Gustave GELEY, acompanhado de outros respeitáveis pesquisadores, por exemplo, realizou
experiências memoráveis com o médium polonês Franek KLUSKI, entre outros.
Descrevendo uma das onze reuniões realizadas com KLUSKI, presentes, também, Charles
RICHET (que segurava a mão do médium) e outros investigadores, informa GELEY, que se
resolveu fazer um teste especial para a verificação da autenticidade do fenômeno.
Sem que o médium tivesse conhecimento, colocou- se, na vasilha de cera, mantida em ponto
de fusão por meio de água fervente, a substância colesterina, que evidenciaria a eventual
existência de fraude.
Relata GELEY:
“A luz muito fraca não permitia que se assistisse ao fenômeno; éramos advertidos do
momento de mergulhar a mão, peto ruído no líquido. A operação exigira duas ou três
imersões. A mão que estava agindo era mergulhada no vaso, retirada coberta de parafina
quente, tocava as mãos dos controladores da experiência e então era mergulhada
novamente na cera. Depois da operação, a luva de parafina, ainda quente méis solidificada,
era colocada de novo junto a mão de um dos controladores.”
Informa C. DOYLE que, nessa reunião, foram obtidos nove moldes: sete de mãos, um de pé,
e outro de um queixo com lábios. “Examinada a cera de que eram feitos” - comenta o autor
“constatou-se a reação característica da colesterina. (...) É preciso dizer que as moldagens
mostram as dobras da pele, as unhas e as veias, as quais, de modo algum, se parecem com as
do médium (...) Escultores e reputados modeladores declararam que não conhecem nenhum
método de produção de moldagens semelhantes às obtidas nas sessões com KLUSKI.” (3)
(3)
V. DOYLE, Conan A. Op. cit., p. 391
Esse processo, para os Espíritos, aparentemente não apresenta maior dificuldade, desde que
presente um médium de ectoplasmia.
ANDRÉ LUIZ, por meio de Francisco Cândido XAVIER, mostra-o claramente:
“(...) Nesse aposento, sobre pequeno fogão elétrico, grande balde de parafina fervente
requisitava-nos a atenção.
Um amigo de semblante simpático cobriu a destra com a pasta dúctil que manava
fartamente do médium e materializou-a com perfeição, mergulhando-a, logo após, na
parafina superaquecida, deixando aos componentes da reunião o primoroso molde como
lembrança.”
“Numa sessão chefiada pelo Dr. Luiz A/l. Pinto de Queiroz, lente da Escola de Farmácia de
Estado, deu- se o seguinte: no decurso da sessão, o médium manifestou que um Espírito
desejava dar aos presentes prova de ali estar, deixando o molde de sua mão. Foi trazido um
prato de porcelana, contendo uma camada de farinha de trigo, de alguns centímetros de
espessura, que não tinha impressão alguma. Após bem examinado, o prato foi colocado
sobre uma estante, dentro de um círculo de observadores, a pedido do médium, e este, em
seguida, concentrou-se, permanecendo longo tempo em completa abstração, e depois, como
que volvendo a si, exclamou: ‘— Deus permitiu que fosse atendida a minha súplica!’ O Dr.
Queiroz, então, retirou o prato da estante, sob as vistas de todos e apresentou-o aos
assistentes, que constataram a existência, bem visível, sobre a camada de farinha, de uma
impressão manual, fina, de traços delicados, parecendo ser de pessoa do sexo feminino.
Ninguém havia tido contato com o prato, pois todos se haviam mantido afastados. O médium
informou tratar-se da impressão da mão de Regina Loureiro de Araújo Góes, a falecida
esposa do Dr. Eurico Góes. Este, estando presente, apressou-se em examinar mais
detidamente o molde e afirmou, sem constrangimento, que havia extrema semelhança com a
mão de sua esposa. Posteriormente, Dr. Eurico Góes relatou por escrito: ‘Trata-se da
moldagem, num prato contendo farinha de trigo, da mão direita de minha falecida mulher,
Regina L. A. Góes, cujo contorno e cujas particularidades anatômicas, diante da fotografia
que possuo, não reluto em publicar.” (6)
(6)
MIKULASCH, Rodolpho. O Médium Mirabelli. Resultado de um Inquérito. Santos, 1926. Conf. L.
PALHANO JÚNIOR. Mirabelli: Um Médium Extraordinário, p. 73.
Finalmente, outro fenômeno que se inclui no capítulo das moldagens é a feitura de flores em
parafina. O Espírito materializado, muitas vezes em demorada operação, manipulando a
parafina que paira sobre a água quente, forma com grande habilidade técnica, flores de
diversos tipos.
Não se trata de fato raro e que, com os outros tipos de moldagens, mercê dos esforços de
abnegados benfeitores espirituais, servem de prova definitiva da existência do mundo
espiritual e da constante presença de Espíritos desencarnados entre os encarnados.
XXX- DEFORMAÇÃO DE OBJETOS
“Perguntei ao Zé Grosso como é que ele realizava o fenômeno e ele me respondeu muito
simplesmente:
— É com um aparelho que temos aqui. Esse aparelho serve para muitas outras coisas sérias
e eu aproveitei para realizar a minha ‘mágica’” (2)
(2)
RANIERI, R. A. Materializações Luminosas. 5. ed. São Paulo: FEESP, 1995, p. 107.
Essas e outras informações correspondem às transmitidas pelo Espírito ANDRÉ LUIZ, por
meio de F. C. XAVIER, dando conta de que os Espíritos utilizam aparelhos especiais, em
suas múltiplas intervenções na dimensão física, aparelhos esses, que, com o tempo, serão
reproduzidos materialmente na Terra, tal como ocorreu com os demais já existentes.
E a lição resultante, como, aliás, ensinam os Mestres Espirituais, é que a realidade material
reflete a realidade espiritual.
Resta, assim, a esperança de que num futuro não muito longínquo, conhecer-se-á o inteiro
processo de mais esse fenômeno.
XXXI- DESMATERIALIZAÇÃO - REMATERIALIZAÇÃO
“... Alguns instantes mais tarde, as mãos da médium tornaram a cair sobre os joelhos. Vi,
então, que os tateava, e observei que ela se agitava cada vez mais. Isso me pareceu curioso:
inclinei-me para diante, e procurei, com o maior empenho, compreender o que se passava. A
médium soltou de novo esse profundo suspiro que fazia supor alguma sensação bem
desagradável.
Ainda alguns segundos, e ela disse ao meu primeiro vizinho da esquerda, o Sr. Seiling:
— Dê-me a sua mão.
O Sr. Seiling levantou-se e estendeu-lhe a mão. A médium disse, então:
— Toque aqui.
O Sr. Seiling exclamou:
— É extraordinário: eu vejo a Sra. D’Espérance, ouço-a falar, mas, apalpando a cadeira,
acho-a vazia; ela não está aqui; apenas cá encontro o seu vestido.
O tateamento parecia produzir uma viva dor na médium; ela, entretanto, convidou, ainda,
várias pessoas a irem apalpar a cadeira.
Tomou as mãos do Sr. Toppelius nas suas e passou-as sobre a parte superior do seu corpo,
até que, subitamente, tocassem o assento da cadeira; este exprimiu por diversas vezes o seu
espanto e assombro, por meio de viveis exclamações.
A médium permitiu que cinco pessoas verificassem o fenômeno, e, de cada uma dessas vezes,
parecia sentir uma grande dor.(...)
Nessas ocasiões, eu lhe via distintamente, não só a frente do corpo, mas também as costas,
que se destacavam na cortina branca. A forma de sua cabeça desenhava-se tão nitidamente
que até pude distinguir-lhe o cabelo. Não posso lembrar-me como a parte superior
prolongava-se-lhe abaixo do talhe, mas do que estou certa é de que era vista ainda abaixo
do talhe; o que me pareceu um fato importante é que eu via, durante todo o tempo, a
médium da mesma altura que eu.
(...) Alguém do círculo propôs que se terminasse a sessão, visto que já se esgotavam as
forças da médium. Mas, esta se opôs e pediu para continuar a sessão, até que suas pernas
lhe fossem restituídas.
Continuamos, pois, e eu tinha sempre o olhar atento para a parte inferior do corpo da
médium, a fim de observar bem a reposição das pernas.
Sem que se produzisse o menor movimento nos seus vestidos, ouvi a médium dizer: ‘Assim
vai bem’; alguns instantes mais tarde, ela disse vivamente: ‘Ei-las aqui!’ Quanto às dobras
do seu vestido, eu as vi, por assim dizer, encherem-se e, sem que soubesse como, as pontas
dos pés reapareceram cruzadas como o haviam sido antes do fenômeno...
Entrei depois em conversação com a médium, a qual me disse ser-lhe desconhecido o
fenômeno que acabava de dar-se. Parece-me que, até então, ela não tinha podido observar e
comprovar, por si própria, as desmaterializações. Ficara, portanto, extremamente
surpreendida quando, ao colocar as mãos nos joelhos, notara que a cadeira estava vazia.
Querendo que o fato fosse verificado por outros, pedira ao Sr. Seiling que tocasse a cadeira.
Acrescentou que tinha tido a sensação de que a parte inferior do seu corpo estava sempre no
mesmo lugar, mas não podia ser percebida pelas suas mãos.” (1)
(1)
AKSAKOF, Alexandre. Um caso de Desmaterialização, pp. 46 a 49.
*
Se a desmaterialização de pessoas não é comum, isso não ocorre em relação aos objetos.
De fato, grande parte dos médiuns de ectoplasmia, cujos nomes encontram menção nos anais
espíritas, prestaram-se à desmaterialização de plantas e objetos de todo porte, sendo que, na
maioria das vezes, encontram- se associados ao fenômeno de transporte. (2)
(2)
V. Adiante, Transporte.
“Eram 21 horas e 20 minutos; minha mãe achava-se com uma pequena ferida no couro
cabeludo. Na sala de jantar, encontrávamo-nos eu, minha esposa e minha progenitora,
todos em um grupo apertado, pois a terceira estava sentada numa poltrona, enquanto minha
esposa lhe apartava o cabelo com a mão a fim de examinar a ferida e eu, junto a essa,
observava. Aconteceu-me, não sei como, levantar os olhos e vi algo de saliente que parecia
brotar de um ponto do teto, no ângulo do quarto, perto da janela, a certa distância de minha
esposa - que tinha as costas voltadas para aquele ponto - de cerca de três jardas e um
quarto e de perto de quatro jardas de mim, que me achava defronte dela. E eis que sai um
objeto daquela parte do teto, o qual voa através do referido aposento, sempre junto ao teto,
bate na parede, em que estava encostado o piano, e cai em cima desse, fazendo ressoar-lhe
as cordas, e daí ao chão, onde rolou por certo tempo.
Apressei-me em recolhê-lo e verifiquei, com surpresa, que se tratava de um frasquinho de
unguento para a cura da ferida, frasquinho esse que a minha mãe tinha guardado à chave
no seu armário!”
“No dia 11 de novembro de 1913, minha filha Marjorie e uma empregada se encontravam
na sala de jantar, debaixo do lustre central, quando viram sair, lentamente, da parte do teto,
uma comprida bengala de três pés, que caiu sobre a mesa, sem deixar no teto nenhum sinal
de sua passagem.” (3)
(3)
BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Transporte. 3. ed. São Paulo: FEESP, 1989, p. 74. Trad. Francisco
Klörs Werneck.
Outro caso, citado por PALHANO JR., foi protagonizado por Mirabelli:
“Uma tarde, apareceram na Academia os Srs. Dr. François Norbert, médico conceituado,
seu filho, estudante de Medicina, e o ilustrado engenheiro Dr. Rocha Lima, que foram
convidar o médium Mirabelli para um passeio de automóvel.
Saíram todos e mais o Dr. Thadeu, na limousine de luxo, de propriedade do Dr. François.
Como a tarde estava fria, fecharam todo o carro, subindo os vidros. Num dado momento,
Mirabelli disse sentir qualquer coisa anormal. O ambiente dentro do carro se tornava mais
ameno. Nisso, um galho de roseira, coberto de rosas, atravessou o vidro da limousine, foi ao
forro e caiu no meio dos passageiros. Em seguida, o Dr. Rocha Lima sentiu ligeiro toque no
chapéu e, ao relatar o fato, Mirabelli disse estar vendo sair de uma estante envidraçada,
fechada, do escritório do Dr. Thadeu, na Rua José, uma pequena lente, que atravessando o
espaço, viria cair na cabeça do Dr. Rocha Lima, como de fato caiu, ou melhor, foi pousar,
suavemente, na copa do seu chapéu”. (5)
(5)
Academia Brasileira de Metapsíquica, Rio de Janeiro.
Fato ocorrido com o famoso médium Henry SLADE, em que o Dr. Eugene CROWELL,
autor de The Identity of Primitive Christianity with Modern Spiritualism (A identificação do
Cristianismo Primitivo com o Moderno Espiritualismo) trouxe-lhe um frasco de água para
ser fluidifica- do, é assim descrito pelo pesquisador:
“Nós estávamos sentados numa sala bem iluminada, os raios de sol caindo sobre o chão, e
ninguém mais presente a não ser nós. Duas vezes o médium disse que viu uma mão de
espírito agarrando o frasco e eu supus que os espíritos estivessem magnetizando e conservei
meus olhos diretamente nele. Nada via, até que, repentinamente, no mesmo instante, nós
ambos vimos um flash de luz aparentemente procedendo do frasco e este desapareceu. Eu
me levantei imediatamente e inspecionei cada parte da sala, que desde o início tinha estado
fechada, sob a mesa, cadeiras e sofá, mas o frasco não foi encontrado. Então voltando a
meu assento e em cerca de quinze minutos, enquanto as duas mãos do médium estavam
seguras mis minhas sobre a mesa, eu senti alguma coisa cair no meu colo, e olhando para
baixo observei o frasco rolando de meus joelhos para o chão. Ao pegá-lo ambos notamos
que a água tinha adquirido uma cor levemente púrpura (...). (6)
(6)
Enciclopaedia of Psychic Science, p. 254. (Trad. Mary Eudóxia da Silva Sistonen).
Esses fatos, como tantos outros, mostram quatro momentos importantes: (1) objeto sólido;
(2) sua desmaterialização; (3) o seu transporte; (4) a rematerialização.
Trata-se de fenômeno cuja explicação, em sua inteireza, ainda se nos escapa. Aceitável,
todavia, a hipótese de que a desmaterialização do objeto propiciaria as condições para o seu
transporte através dos obstáculos. A sua rematerialização complementaria o processo.
Entrementes, o que, às vezes, se observa em certos fenômenos em que se conjugam a
materialização, a desmaterialização e a rematerialização (ou, às vezes, só a materialização), é
o evidente desgaste físico do médium durante a ocorrência, por requisitarem mais recursos
ectoplásmicos do que em outros.
E não são poucos os casos de significativa perda de peso por parte do médium
meticulosamente verificada ao final da reunião, por respeitáveis pesquisadores.
XXXII- TRANSPORTE
*
Vários médiuns conhecidos serviram a esse tipo de manifestação, entre eles, Elizabeth
D’ESPERANCE (1855- 1919), sob o controle espiritual de uma jovem árabe que se
apresentava com o nome de Iolande. Entre as muitas ocorrências, vale destacar um caso
ocorrido numa reunião de 4 de agosto de 1880, descrito por um dos assistentes e constante
em obra da própria médium:
“Iolande caminhou até onde o Sr. Reimers se achava sentado (o Sr. Reimers é muito
conhecido na Europa como espírita distinto) e convidou-o a aproximar- se do gabinete para
testemunhar certos preparativos que eia ia fazer. (...)
Quando em companhia do Sr. Reimers, chegou ao centro do círculo, fez compreender o seu
desejo de ter água e areia, e depois, fazendo seu companheiro ajoelhar-se diante de si,
mandou-o que pusesse a areia em uma garrafa, o que foi feito até que atingisse o meio. Em
seguida mandou aí entornar a água.
O Sr. Reimers, tendo sacudido fortemente a garrafa, passou-a a Iolanda, que, depois de
examiná-la com cuidado, a colocou no chão, cobrindo-a apenas com um pano que retirou
dos seus ombros. Daí, entrou no gabinete, donde voltou uma ou duas vezes, no fim de curtos
intervalos, para ver o que se passava.
Por pancadas produzidas no soalho, fomos convidados a cantar, com o fim de
harmonizarmos os nossos pensamentos e destruirmos o excesso de curiosidade que, em
maior ou menor grau, todos pudéssemos sentir.
Durante o canto, observamos que o pano parecia ir elevando-se acima da garrafa; o fato
era visível a vinte testemunheis cuidadosamente atentas.
Iolande saiu do gabinete e encarou a garrafa com inquietação. Examinou-a minuciosamente
e buscou sustentar o véu, como se ele ameaçasse esmagar algum objeto frágil colocado
debaixo. Finalmente, retirou-o de todo, expondo às nossas vistas atônitas uma planta
perfeita, que parecia pertencer à família das lauráceas.
Levantou a garrafa em que a planta havia brotado; suas raízes eram visíveis através do
vidro e estavam profundamente mergulhadas na areia.
(...) A flor tinha uma bela cor vermelho-alaranjada, ou antes, a do salmão; como nunca
observei essas variedades de cores, parece-me difícil descrevê-las por palavras.
A inflorescência compunha-se aproximadamente de cento e cinquenta pequenas corolas com
a forma de estrelas, presas a hastes longas. A planta media vinte e duas polegadas de altura
e, com o seu grosso caule fibroso, enchia o gargalo da garrafa. Suas folhas eram em número
de vinte e nove e mediam, mais ou menos, duas a duas e meia polegadas de largura, por sete
e meia polegadas de máximo comprimento. Cada folha era Usa e lustrosa, assemelhando-se,
à primeira vista, às do loureiro, como supusemos a princípio. As raízes fibrosas pareciam
ter crescido naturalmente na areia.
Mais tarde fotografamos a planta na sua garrafa, pois não foi possível retirá-la daí, devido
à estreiteza do gargalo, que impedia a passagem da raiz, e também porque a haste enchia
completamente o orifício.
Soubemos então que a planta era a ‘Ixora crocata, originária da índia.” (2)
D’ESPERANCE, E. No País das Sombras. (Orig. Shadow Land). 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992, pp.
(2)
188 a 190.
Em outra reunião assistida por dezenove pessoas foi solicitado a cada um para indicar o fruto
que desejava receber:
“Feita a lista, desta constou o seguinte: uma banana, duas laranjas, um cacho de uvas
brancas, um cacho de uvas pretas, um punhado de avelãs, três nozes, uma dúzia de ameixas,
uma fatia de abacaxi cristalizado, três figos, duas maçãs, uma cebola, um pêssego, algumas
amêndoas, quatro uvas grades, três tâmaras, uma batata, duas pêras grandes, uma romã,
duas ameixas ‘rainha — cláudia’ cristalizadas, um punhado de passas de ‘uva-de-corinto’,
um limão e um grande cacho de belas passas.”
O pedido foi atendido e tudo foi transportado “na ordem e na medida em que fora
solicitado”. (3)
(3)
ANDRADE, Hernani Guimarães. Você, o Poltergeist e os Locais Mal-Assombrados. Votuporanga (SP):
DIDIER, 2006, p. 133.
Elizabeth D’ESPERANCE (Elizabeth HOPE) foi um dos nomes mais importantes da história
das pesquisas mediúnicas, contribuindo com importantes informações para a compreensão
do processo de transporte, de materialização e outros fenômenos de ectoplasmia. Foi, por
exemplo, uma das primeiras a revelar a importância da interação entre o médium e os
assistentes nos trabalhos de efeitos físicos, confessando a AKSAKOF, entre outras coisas,
que nos trabalhos de materialização tinha “náuseas seguidas de vômitos e que ocorria por
absorver alguns elementos dos assistentes”. Tal conclusão foi confirmada quando, após
experiência realizada em Cristiânia (1893) “ficou surpreendida por não se sentir mal”,
sabendo, então, que havia sido proibido aos assistentes o uso do álcool e do fumo. (4)
(4)
AKSAKOF, Alexandre. Um Caso de Desmaterialização, p. 85.
A respeito, aliás, dos prejuízos que o fumo e o álcool causam aos trabalhos mediúnicos,
Henrique MAGALHÃES narra interessante episódio que testemunhou na cidade de
Caratinga (MG), em reunião com o médium Antônio SALES, envolvendo um dirigente que
era viciado em charuto e cigarro e que, mesmo advertido, nenhuma providência tomava:
“O Guia Espiritual Dr. Joseph Kleber, denunciou o caso e afirmou que os trabalhos da noite
iriam ser prejudicados, porquanto parte do ectoplasma, que deveria ser usado na cura dos
enfermos, seria transferido para envolver o culpado, a fim de minimizar o efeito nocivo da
sua presença. Entretanto, não lhe enunciou o nome.
No final da reunião, o médium Antônio de Sales, que produzia as materializações, queixou-
se da sua saliva que tinha o gosto esquisito do tabaco. E levou bastante tempo a cuspir a
saliva empestada.
A criatura culpada mediu o seu erro, denunciou a si própria e pediu para produzir a prece
final, o que lhe foi concedido.
Durante a prece, pediu perdão a Deus pelo ma! que tinha causado e solicitou o auxílio dos
Guieis daquela Instituição para ajudá-lo... a vencer o habito maldito que o estava
dominando.” (5)
(5)
MAGALHÃES, Henrique. Em Prol da Mediunidade - Pequena História do Espiritismo, p. 108.
*
BOZZANO cita, entre outros, um caso interessante de transporte ocorrido com o médium
islandês Indride Indridasson e anotado pelo professor da Universidade da
Islândia, Harald Nielsson {Mes Experiences en Spiritualisme Experimentale):
Outro episódio bem significativo, anotado pelo autor, contou com a participação da célebre
médium Eusápia Paladino. É assim descrito por Felice AVELINO, do Circolo Scientifico
Minerva:
“A médium era por mim controlada à direita e, por minha irmã, à esquerda.
Para o fim da sessão, quando já obtivéramos quanto desejávamos em questão de fantasmas
materializados, eis que tomba do alto, com barulhento choque, no meio da mesa, algo de
volumoso e pesado. Estendo o braço e apalpo a parte superior da mesa para certificar-me
do que acontecera e apareceu-me debaixo da mão um objeto que não demoro a identificar
como um pão de quatro ponteis, chamado ‘massa de soda’.
Desejoso de ver e analisar melhor este curioso ‘transporte’, peço a John permissão para
acender a luz, o que me é concedido, méis, com surpresa geral, apenas acesa a luz,
verificamos que nada mais existe ali. Examinamos o interior dos móveis e, finalmente, as
duas senhoras presentes inspecionam a médium: tudo é inútil e o pão não é encontrado.
Só me resta recorrer a John, a quem perguntei se porventura não o teria ocultado e ele, com
um grande golpe desferido na mesa, respondeu afirmativamente. Rogo então vivamente a
John que mo restitua, pois desejo mostrá-lo a meus amigos e parentes. Eis a resposta
tiptológica de John: ‘Pertence à padaria que fica perto daqui. Se quer ficar com ele, dê-me
dois soldos. Tirei logo do bolso os dois soldos, convidando John a recebê-los e ele ordenou
tiptologicamente: ‘Apague a luz’. Assim fiz e, ao mesmo tempo, tornamos a formar a cadeia.
Eu controlava Eusápia com a esquerda e, apertando entre os dedos da mão direita, a moeda
de dois soldos, levantei o braço ao alto. E eis que u’a mão desceu do alto e escamoteou-me,
de entre os dedos, a moeda. Decorreram talvez vinte segundos e eis que se faz ouvir outro
golpe ruidoso sobre a mesa, idêntico ao ouvido anteriormente. Acesa a luz, apareceu diante
de nós o grande pão de ‘massa de soda’, desaparecido um pouco antes. Quanto à moeda de
dois soldos, essa desapareceu completamente e não a encontramos em parte alguma.” (7)
(7)
BOZZANO, Ernesto. Fenômenos de Transporte, p. 50.
“Sidse perguntou à genitora se ainda guardava os seus brincos. A mãe respondeu que
tinham sido postos no caixão com ela.
— Você sabe, mamãe, que eu não estou ali. Gostaria que a senhora ficasse com os brincos.
Vou tentar trazê-los.
Quando a sessão chegava ao fim, estando o médium ainda em profundo transe, a voz de
Sidse se fez de novo ouvir. Então a mãe sentiu que qualquer coisa lhe caía nas mãos.
Quando as luzes foram acesas, ela reconheceu os objetos. Além dos brincos, o espírito
trouxera umas bonitas peças de espuma-do-mar encastoadas em ouro, e, também, um
pequeno broche de prata.
A Sra. Alstrof contou aos assistentes que ela mesma colocara aquelas peças no ataúde, antes
que fosse descido ao túmulo.” (8)
(8)
In Correio Fraterno do ABC. S. Bernardo Campo (SP), 1998, p. 8 - Anuário Espírita 1972 – Araras-SP.
*
Cármine MIRABELLI foi um dos médiuns que mais serviram à produção de fenômenos de
transporte. São muitos os casos arrolados. Entre outros, o que se segue, extraído da ata da
reunião realizada em abril de 1933, no Instituto Psíquico Brasileiro de São Paulo:
“Muitos outros fenômenos foram acontecendo. Surgiu, logo, um delicioso perfume, como se
fosse uma celestial essência. Perguntou-se ao médium qual era a origem de tão suave aroma
e ele disse provir deis flores do jardim que circundava o edifício e anunciou que, embora as
portas e janelas estivessem fechadas, elas iriam ser transportadas para dentro da sala. Do alto
do salão, foram aparecendo, em grande quantidade, os mais lindos cravos e as mais belas e
variadas rosas e camélias, cujas pétalas atestavam a frescura das flores recém-retiradas de
suas hastes. As flores eram apenas as mensagens da notícia da chegada de uma estátua,
imagem de Santa Terezinha, a qual se encontrava fora, noutra construção existente perto do
edifício do Instituto. A imagem chegou, suavemente, pelo ar e foi pousar, de mansinho, no
salão. Logo em seguida, foi transportada para o seu lugar de origem. O peso da estátua era de
oito quilos.” (!) (9)
(9)
PALHANO JR., L. Mirabelli: um Médium Extraordinário, pp. 118 e 119.
“Logo depois (de outra ocorrência), deu-se um segundo fenômeno: grande foco luminoso
dirigiu-se à cabeça do médium, sem que se pudesse materialmente saber-lhe a origem, e, de
súbito, Mirabelli sumiu, desapareceu completamente da vista de todos. Imediatamente, foi
ouvido um grande barulho no aposento ao lado, que servia de Secretaria do Instituto
Psíquico Brasileiro. Todos se dirigiram para lá e encontraram o médium suspenso no ar, a
três metros do solo, levitando, sem qualquer ponto de apoio, vindo, então, suavemente, pelo
ar, pairando, até pousar sobre uma mesa existente na mesma sala.
Após a estupefação geral, todos os assistentes voltaram aos lugares, no salão (...)” (11)
(10)
PALHANO JR., L. Mirabelli: um Médium Extraordinário, pp. 114 e 115.
Fenômenos únicos aconteciam com MIRABELLI. Em 1930, o conhecido periódico inglês,
Psychic Research, com base em documentos incontestáveis, noticiava o transporte do
médium da estação ferroviária da Luz, para cidade de São Vicente, a uma distância
aproximada de 90 quilômetros: “o médium estava na estação da Luz, em companhia de certo
número de pessoas e pretendia viajar para Santos. Um pouco antes de o trem sair, ele
repentinamente desapareceu para assombro de todos, sendo cientificada sua presença em São
Vicente, mais tarde, por telefone, ficando provado que ele foi encontrado na cidade,
exatamente dois minutos após seu desaparecimento.” (12)
(12)
Encyclopaedia of Psychic..., p. 394.
“Betsy, o controle principal do Sr. Miller, chamou Herr Reichel para dentro da cabine, com
o objetivo dele assegurar-se da presença do médium dormindo. Ele examinou tudo
novamente e considerou impossível que o médium pudesse deixar a cabine de modo normal;
na frente da cortina estavam sentadas 27 pessoas que formavam o círculo aquela noite, e as
janelas davam vista para uma rua muito movimentada. O tempo, ainda mais, estava úmido e
ventando, e teria sido impossível, ele diz, abrir a janela sem causar uma corrente de ar a ser
sentida por todos. Depois de aproximadamente 4 minutos, Betsy pediu a ele ir com mais três
pessoas ao primeiro andar e a governanta do Sr. Miller deu-lhes a chave. Eles encontraram
o médium respirando pesadamente sobre uma cadeira; trouxeram-no de volta a sala de
sessão, onde ele acordou, de nada se recordando.”
Interessante anotar que tais eventos são registrados, às vezes, sem menção aos nomes dos
médiuns participantes, se bem que, como se sabe, os recursos ectoplásmicos para a produção
dos fenômenos podem, em caráter complementar ou não, ser trazidos do exterior do recinto
dos trabalhos.
Ê o caso, entre outros, do episódio que se encontra registrado no Annals of Psychic Science
(Vol. IX), ocorrido em S. José, Costa Rica, com os filhos do Sr. Buenaventura CORRALES,
três meninas e um jovem que, separados ou juntos, desapareciam da sala de reunião, eram
vistos no jardim, retornando, depois, ao recinto dos trabalhos. O respeitável repertório inglês,
com base no relato do Dr. Albert BRENES, professor acadêmico, que testemunhou os fatos,
informa:
(14)
Xavier, Francisco C. Espírito André LUIZ. NOS Domínios da Me- diunidade, pp. 269 e 270.
Casos como esse têm comovido com frequência maior do que se imagina. Muitas vezes são
providenciadas chapas radiográficas em que se constata a presença de agulhas, pregos,
pedaços de ferro, etc., elementos que com o tratamento espiritual tendem a desaparecer
definitivamente, de acordo com o merecimento da paciente, geralmente médium de efeitos
físicos.
Registros existem de psicocirurgias associadas aos fenômenos de endoporte e exoporte,
realmente surpreendentes.
Tais eventos ocorreram - e ocorrem - com diversos médiuns, entre eles, Bernarda Torrúbio,
de Garça (SP), cujo trabalho foi assim descrito por H. PIRES:
“Fazia uma prece, pedindo assistência aos espíritos. Estendia as mãos sobre o doente sem
tocá-lo. Este sentia que mexiam por dentro em seus órgãos doentes, ocorriam-lhe ânsias de
vômito, mas quem vomitava era a médium. Vômito geralmente espesso, com grande
quantidade de pus e sangue e pedaços de matérias orgânicas. O doente se sentia fraco,
abatido como se tivesse passado por uma intervenção cirúrgica. As dores internas
confirmavam essa impressão. Durante uns poucos dias as dores continuavam, mas logo
começavam a diminuir e desapareciam. A recuperação era rápida e total.” (4)
(4)
PIRES, J. Herculano. Mediunidade. 2. ed. São Paulo: PAIDEIA, 1992, p. 109.
Nesse tipo de processo, como visto, há o endoporte dos resíduos cirúrgicos para o estômago
do médium, sendo depois expulsos por meio dos vômitos.
Tais fenômenos - protagonizados, inclusive, por José Arigó, - por mais que possam
apresentar-se chocantes, são absolutamente reais, sendo em grande parte testemunhados por
pessoas de alta idoneidade, além de devidamente documentados.
A dinâmica inteira do processo ainda não é bem conhecida, mostrando, todavia, as
extraordinárias possibilidades dos Espíritos na manipulação do ectoplasma.
XXXIV- LEVITAÇÃO
LEVITAÇÃO
DE OBJETOS
DE PESSOAS INDIVIDUAL
MÚLTIPLA E SIMULTÂNEA
DE OBJETOS E PESSOAS
*
Inúmeros têm sido os casos relatados de levitação de objetos.
A conhecida pesquisadora, Florence MARRYAT (There is No Death), testemunha um fato
que ocorreu numa reunião com a médium Florence COOK. Uma mesa de jantar, ao redor da
qual estavam sentadas trinta pessoas, ergue-se totalmente no ar com tudo sobre ela,
nivelando com seus joelhos, enquanto lanças e copos balançavam sem cair.
Em outra reunião com essa médium, um piano foi erguido e transportado sobre a cabeça dos
assistentes.
Com HOME, enquanto tocava piano, sua cadeira e o piano erguiam-se algumas polegadas,
baixando depois.
Numa reunião do Prof. ZÖLLNER com o famoso médium Henry SLADE, uma pequena
mesa flutuou no ar, invertida, por vários minutos e ao cair chegou a machucar o professor.
Essas são, apenas, algumas citações, a servirem como exemplo, mas os fenômenos da
levitação têm sido registrados em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde diversos médiuns
conhecidos propiciaram tais eventos, entre eles, MIRABELLI, com quem,
independentemente de local e hora, levitavam objetos de toda espécie, desde chapéus e
bengalas, até móveis pesados.
*
Em se tratando de levitação de pessoas, individual ou múltipla e simultânea, diversos
médiuns famosos reconhecidos internacionalmente prestaram-se a esse tipo de ocorrência.
Entre eles, Dunglas HOME é um dos mais citados, não por suas indiscutíveis qualidades
mediúnicas, mas porque os fenômenos ocorriam à plena luz do dia, sendo que, quase sempre,
permanecia consciente, podendo, inclusive, descrever as sensações que sentia.
HOME foi, sem dúvida, um dos médiuns mais testados do mundo, convencendo
pesquisadores famosos como CROOKES e outros.
Entre vários fenômenos extraordinários credita-se ao médium uma das mais impressionantes
experiências de levitação.
Investigadores dos mais idôneos presenciaram em Londres, em 13 de dezembro de 1868,
HOME saindo por uma janela do terceiro pavimento de um prédio e entrar, depois, através
da janela, em outra sala, distante cerca de dois metros e meio.
Interessante o relato de HOME sobre as impressões que recolhia durante as levitações:
“Durante essas elevações ou levitações, nada sinto de particular em mim, exceto a sensação
do costume, cuja causa atribuo a uma grande abundância de eletricidade nos meus pês. Não
sinto mão alguma que me sustenha, e, desde a minha primeira ascensão, citada mais
adiante, deixei de ter receio, posto que, se eu tivesse caído de certos tetos, a cuja altura fora
elevado, não teria podido evitar ferimentos graves.
Sou em geral levantado perpendicularmente, hirtos os braços e erguidos por cima da
cabeça, como se quisesse agarrar o ser invisível que me levanta suavemente do solo.
Quando chego ao teto, os pés são levados até ao nível da cabeça e acho-me como que numa
posição de descanso. Tenho ficado muitas vezes assim suspenso durante quatro ou cinco
minutos. Encontrar-se-á exemplo disso numa ata de sessões que se realizaram em 1857, num
castelo perto de Bordéus. Uma só vez a minha ascensão se fez em pleno dia. Era na
América. Fui levantado num aposento em Londres, Rua Sloane, no qual brilhavam quatro
bicos de gás e em presença de cinco cavalheiros que estão prontos a testemunhar o que
viram, sem se contar grande número de testemunhos que posso publicar depois. Em algumas
ocasiões, tendo diminuído a rigidez dos meus braços, fiz com um lápis letras e sinais no teto,
que pela maior parte ainda existem em Londres." (3)
(3)
Cf. DE ROCHAS, Albert. A Levitação. 4. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988, pp. 68 e 69.
William Stainton MOSES (1839-1892), notável médium inglês, serviu, de igual forma, à
produção dos fenômenos de levitação, entre outros. Interessante o relato que deixou (1872),
de uma de suas experiências:
“Fui carregado para cima. Fiz uma marca na parede oposta a meu peito. Fui abaixado
lentamente, muito gentilmente, até que achei a mim mesmo numa cadeira novamente. Minha
sensação era de ser mais leve que o ar. Nenhuma pressão em qualquer parte do corpo,
nenhuma inconsciência ou transe. Pela posição da marca na parede, está claro que minha
cabeça deve ter estado perto do teto. A subida da qual eu estava perfeitamente cônscio, era
muito gradual e firme, não diferente daquela de estar num elevador, mas sem qualquer
sensação perceptível de movimento, senão aquela de sentir-me mais leve que a atmosfera.”
(4)
(4)
Encyclopaedia of Psychic Sciences, p. 523.
“Na noite de 28 de Setembro (1892), a médium, com as mãos presas pelos Professores
Lombroso e Richet, queixou-se de mãos que a apertavam debaixo dos braços; depois, em
transe, com a voz mudada, habitual neste estado, disse:
— Agora vou levar a minha médium para cima da mesa.
Ao término de 2 ou 3 segundos, a cadeira, com a médium sentada, foi, não atirada, mas
erguida, sem artifício e deposta sobre a mesa, enquanto Richet e Lombroso estavam seguros
de não haver ajudado a ascensão com esforços próprios.
Depois de um discurso, em transe, a médium anunciou sua descida, e, substituído Lombroso
por Finzi, a médium foi reposta no chão, com a mesma segurança e precisão, enquanto
Richet e Finzi acompanhavam, sem os ajudar, os movimentos das mãos e do corpo, e
continuamente se interrogavam sobre a posição das mãos.
Durante a descida, ambos sentiram repetidamente que invisível mão lhes tocava
ligeiramente a cabeça.” (5)
(5)
LOMBROSO, César. Hipnotismo e Mediunidade. (Orig. Ricerche sui Fenomeni Ipinotici e Spiritici). 4.
Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990, p. 127. Trad. Almerindo Martins de Castro.
Boa parte dos médiuns de efeitos físicos que se prestaram à levitação individual, também
serviram à produção de levitações múltiplas, entre eles, o médium italiano Alberto
FONTANA.
DE ROCHAS descreve uma reunião com esse médium, em que ocorre, inclusive, uma
levitação múltipla e simultânea:
“Quatorze pessoas formaram a cadeia em volta da mesa iluminada por uma lanterna
vermelha.
O Sr. Fontana estava num dos ângulos. O Sr. Giorli segurava-lhe a mão direita e o Dr.
Santâgelo, que se achava, por causa do ângulo da mesa, na borda perpendicular à que
ocupavam os outros dois, segurava- lhe a mão esquerda.
Ouviram-se em primeiro lugar estalidos na mesa; esta se levantou parcialmente, e depois se
ergueu inteiramente a trinta centímetros do solo.
Então, satisfazendo ao pedido da mesa, feito por meio de pancadas, estabeleceu-se completa
escuridão.
Momentos depois, de repente e sem que nada o tivesse feito prever, as três pessoas acima
indicadas foram erguidas ao mesmo tempo e levadas para cima da mesa, os Srs. Fontana,
em pé, Santângelo, de joelhos. Esta diferença de posição poderia achar a sua explicação no
esforço que a força agente não pudera desenvolver inteiramente sobre Santângelo, o qual
não se achava na mesma linha que o Sr. Fontana. Tivera que deixar o doutor ajoelhado sem
conseguir pô-lo em pé.
Seja de que modo for, é necessária uma força muito poderosa para levantar, de uma só vez e
ao mesmo tempo, três pessoas das quais duas, os Srs. Giorli e Santângelo, são muito
pesadas. ” (6)
(6)
DE ROCHAS, Albert. Op. Cit., pp. 85 e 86.
Em uma reunião que contou com a presença dos médiuns Agnes Nichol GUPPY - cujos
trabalhos serviram às pesquisas de Alfred Russell WALLACE — e Frank HERNE, ocorreu
um dos mais extraordinários episódios, assim sintetizado por Catherine BERRY
(Experiences in Splrituatism):
“... O Sr. Herne elevou-se, sua voz sendo ouvida próxima ao teto, enquanto seus pés eram
sentidos por diversas pessoas na sala; a Sra. Guppy, que se sentava perto deles, foi atingida
por suas botas quando ele afundou na cadeira. Em poucos minutos, ele recomeçou a
reascender, e porque a Sra. Guppy, nesta ocasião, pretendeu evitar isso, segurou o seu
braço, mas o único resultado foi que ela ascendeu com ele, e ambos flutuaram junto com as
cadeiras nas quais estavam sentados. Infelizmente, neste momento a porta foi
inesperadamente aberta e o Sr. Herne caiu no chão, machucando o ombro; a Sra. Guppy
caiu com considerável barulho sobre a mesa, onde, ao acender-se as luzes, foi encontrada
confortavelmente sentada, apesar de muito alarmada.” (7)
(7)
Enciclopaedia ... p. 155.
*
Entre os fenômenos de ectoplasmia, os de levitação comparecem como dos mais
impressionantes, surpreendendo, muitas vezes, não só os pesquisadores, como até os
próprios médiuns.
Apesar de pesquisado e documentado há cerca de século e meio, muito pouco se sabe, ainda,
sobre o seu processo, não obstante o surgimento de algumas hipóteses formuladas por
eminentes investigadores, entre eles, por exemplo, a sugerida por W. J. CRAWFORD,
Professor de Engenharia, na Queen’s University, de Belfast, que, após muitas experiências,
publicou três obras de valioso conteúdo histórico.
Sustentava CRAWFORD que a levitação da mesa e a movimentos de objetos eram devidos a
“uma substância invisível” que jorrava do corpo do médium, solidificando-se, depois, em
forma de “varas” que serviam de verdadeiras “alavancas”, designadas em seu último livro
(The Psychic Structures in the Goligher Circle, 1921) como estruturas psíquicas - que
responderiam pela elevação dos objetos. (8)
(8)
Cf. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. (Orig. The History of Spiritualism). São Paulo:
PENSAMENTO, 1995, p. 352.
Em verdade o desencontro das informações dadas pelos médiuns, a respeito de seus registros
pessoais durante as levitações, e a precariedade das hipóteses explicativas até aqui
construídas, apenas evidenciam que muito pouco se conhece, ainda, também, sobre esse
fenômeno.
Sabe-se da importância do ectoplasma na levitação e demais fenômenos físicos e os Espíritos
informam que, geralmente, ao ectoplasma humano são associados recursos “das águas”, dos
reinos vegetal/mineral e dos animais, e que, também, é um ótimo condutor de eletricidade e
magnetismo, mostrando-se maleável e subordinando-se ao pensamento dos Espíritos e do
médium. Mas o processo, em si, ainda permanece desconhecido.
Importante que os fatos têm sido registrados e documentados. Sua inteira explicação, como
ocorre na Ciência, acontecerá no devido tempo, com o próprio desenvolvimento do
Conhecimento Espírita.
XXXV- DESLOCAMENTO DE MÓVEIS E OUTROS OBJETOS
“Muitos são os casos em que corpos pesados, tais como mesas, cadeiras, sofás, etc., têm sido
movidos quando o médium não os está tocando. Vou mencionar brevemente alguns dos mais
notáveis (...)
Uma cadeira foi vista por todos os presentes mover- se lentamente para a mesa, vinda de um
canto distante, quando todos estávamos olhando; em outra ocasião uma poltrona foi movida
para onde nós estávamos sentados, e então moveu-se lentamente de volta (uma distância
aproximada de três pés), por minha solicitação. Em três tardes sucessivas, uma mesa pequena
moveu-se vagarosamente através da sala, sob condições que eu tinha pré-arranjado
especialmente, para assim responder a qualquer objeção que pudesse ser apresentada para a
evidência. Eu tive diversas repetições da experiência, considerada pelo Comitê da Sociedade
Dialética como conclusiva, ou seja, o movimento de uma mesa pesada a plena luz, cadeiras
viradas com suas costas para a mesa, aproximadamente um pé afastadas, e cada pessoa
ajoelhada em sua cadeira, com as mãos apoiadas sobre as costas das cadeiras, mas não
tocando a mesa. Numa ocasião isto aconteceu quando eu estava me movimentando para
assim ver como cada um estava colocado.” (1)
(1)
Cf. FODOR. Op. Cit., p. 251.
Os anais espíritas colecionam, como dito, inúmeros episódios como os citados, a título de
ilustração, mostrando que se trata de um fenômeno nada raro e que pode ocorrer tanto em
trabalhos de materialização, como não.
Consigne-se, ainda, que a diferença existente entre os fenômenos de deslocamento de móveis
e os de levitação é que, nestes, os objetos são suspensos no ar, ao contrário do que acontece
com os primeiros, em que objetos mudam de lugar - violentamente, às vezes - sem se elevar.
XXXVI- EFEITOS LUMINOSOS
Não são poucos os médiuns de ectoplasmia que facultaram e facultam a ocorrência de tais
fenômenos.
Já LOMBROSO, que testemunhou e estudou boa parte da produção mediúnica de Eusápia
PALADINO, registrava, entre outros inúmeros fatos verificados com a médium, o
surgimento de “chamazinhas”, “línguas de fogo”, como se veem figuradas sobre a cabeça
dos Apóstolos, além de outras manifestações. (2)
(2)
PALHANO JR., L. Mirabelli: Um Médium Extraordinário, p. 181.
Com a médium Ada BESSINET, eram traçadas no ar, diante dos assistentes, “letras de luz
brilhante”.
Em reuniões com o médium italiano Pasquale ERTO, raios luminosos emanavam de seu
corpo. Relata o Prof. Luigi Romolo SANGUINETTI:
“Os raios emitidos por Pasquale Erto variam de cor, de longitude, de forma. No que se
refere à cor, geralmente são de um belo azul-lunar, ou um azul-elétrico ou de um vermelho-
vivo, ou de um vermelho-alaranjado ou amarelo. Os matizes são bem pouco numerosos. O
comprimento varia desde o dos raios curtos, em forma de agulhas, até o de raios de 4,5,6
metros. O médium podia imprimir a esses raios a direção que se lhe indicasse.
Frequentemente, eu o fiz dirigir de maneira a iluminar as pessoas que entravam na saia no
decorrer da sessão. No que se refere à forma, tratava-se, ou de raios no estrito sentido da
palavra, ou de raios difusos em forma de leque, de triângulos, de cone, cujo ápice estava
geralmente unido ao médium. Temos observado, também, verdadeiros globos de luz. A luz
aparece então como concentrada e de cor vermelho-viva ou alaranjada. Estes globos são de
duração tão curta quanto a, dos raios.” (4)
(4)
Revue Métapsichique, julho, 1992. Conf. LOUREIRO, Carlos Bernardo. Espiritismo e Magnetismo. De
Paracelso a Psicotrônica, pp. 107 e 108.
“Uma longa cauda se formou atrás e por cima do médium. Era constituída de pequenos
grãos de luz, alguns mais brilhantes do que os outros. O véu oscilava da direita para a
esquerda e vice-versa, subindo e descendo. Demorou cerca de um minuto, desaparecendo
para reaparecer outras vezes. Ao findar a sessão o médium estava nu, exausto,
superaquecido e transpirando abundantemente nas costas e debaixo dos braços.” (5)
(5)
LOUREIRO. C.B. Op. Cit., p. 111. Observe-se que esse episódio, certamente, deve ter ocorrido durante
uma reunião de materialização em que o médium, como é comum, permanece numa cabine, com as cortinas
fechadas.
GELEY considera Kluski “um médium universal, um rei entre os seus contemporâneos.” (Enciclopaedia of
Psychic Science, p. 192.
São os resultantes da ação dos Espíritos, que, operando o ectoplasma, geralmente perfumam
o ambiente, a água e até certos tecidos.
Embora raros, podem também ser incluídos nesta categoria fenomênica, os efeitos
resultantes da produção de odores menos agradáveis, caracterizando o estado evolutivo dos
manifestantes.
No Brasil, diversos médiuns são conhecidos por facultarem a produção de tais fenômenos,
entre eles, Francisco Cândido XAVIER, com cujos recursos, por exemplo, o Espírito
SCHEILLA, uma de suas mentoras, produzia um perfume característico de violeta que
assinalava sua presença.
Esse Espírito, conhecido, aliás, por sua prestimosidade e delicadeza no trabalho de
assistência aos necessitados, não só impregnava o ambiente com o perfume que produzia,
como lenços e outras peças, chegando a umedecê-los a tal ponto que o perfume deles
escorria.
E digno de nota é o fato de que, segundo testemunhos idôneos, lenços perfumados por
SCHEILLA, convenientemente guardados, chegavam a conservar o perfume por vários anos,
até!
Às vezes, os efeitos odorantes produzidos pelos Espíritos podem acompanhar o médium por
onde passe, impressionando os sentidos dos circunstantes.
Trata-se de mais um tipo peculiar de fenômeno, a atestar as incríveis possibilidades de
utilização do ectoplasma, por parte dos técnicos espirituais, ampliando fronteiras do
Conhecimento humano.
XXXVIII- EFEITOS SONOROS
“19 de setembro, antes da reunião desta noite, ouvíamos sinos delicados tocando em partes
diferentes do jardim, onde nós estávamos andando; por vezes, eles soavam longe, parecendo
estar sendo tocados no alto de alguns olmos altos, música e estrelas combinando- se. Então,
eles se aproximavam mais próximo de nós, seguindo-nos até a sala de sessão que se abria
para o gramado. Após nos sentarmos, a música ainda permaneceu conosco, tocando no
canto da sala e acima da mesa, ao redor da qual estávamos sentados. (...) Após Moses
entrar em transe, a música tornava-se mais alta e soava como se um músico brilhante
estivesse tocando ao piano! Não havia nenhum instrumento na sala.”
Com o médium norte-americano Daniel Dunglas HOME, eram também comuns essas
ocorrências musicais.
Em sua autobiografia (Incidents of My Life), escreve:
“Ao ir para Boston, meu poder retornou e, com ele, a mais impressiva manifestação de
música, sem qualquer instrumento terreno. À noite, quando eu estava adormecido, meu
quarto era tomado por sons harmoniosos e estes, gradualmente, ficavam mais altos, até que
pessoas, em outras partes da casa, pudessem ou- vi-los distintamente; se por qualquer
motivo eu fosse acordado, a música instantaneamente cessava.”
“Primeiro nós tivemos música simples, doce, suave, por alguns minutos; então ela se tornou
intensamente triste; a seguir, o som de passos, como de um grupo de homens marchando,
misturou-se com a música, e eu exclamei ‘A Marcha do Calvário’. Então, três vezes o som
de um martelo sobre um prego (como dois metais se encontrando). Seguiu-se um estrondo e
lamentações que pareciam preencher a sala. Depois, veio o irromper de música triunfal
gloriosa, mais do que qualquer uma que nós tivéssemos ouvido, e exclamamos A
Ressurreição’. Isso emocionou o coração de todos.”
um tipo de formação ectoplásmica não visível, e que oferece uma certa tangibilidade. (V. Materialização)
A literatura espírita registra alguns casos em que a ação ectoplásmica pode produzir certos
efeitos magnéticos em determinados aparelhos e objetos de metal.
Com o médium e médico norte-americano, Henry SLADE, por exemplo, produziam-se
modificações na polaridade de uma bússola, e agulhas de tricô, de aço, eram magnetizadas.
Narra, a propósito, Friedriçh ZÖLLNER, professor de Física e Astronomia da Universidade
de Leipzig, episódio ocorrido com o médium H. SLADE:
“(...) W. Weber colocou sobre a mesa uma bússola fechada em vidro, cuja agulha podíamos
todos observar, tendo nós as nossas mãos na mesa e unidas às de Slade. Decorridos cinco
minutos, começou a agulha a agitar-se violentamente, descrevendo arcos de 40 a 60 graus
até que afinal virou completamente a volta.
Slade neste momento se levantou e se dirigiu à janela, esperando que os movimentos da
agulha, que eram muito violentos, continuassem, o que aliás hão se deu. Quando porém,
mesmo de pé, ele colocou Junto às nossas as suas mãos, os movimentos da agulha
recomeçaram, terminando por um movimento de rotação.” (1)
(1)
ZÖLLNER, Friedrich J. K. Op. cit., p. 51.
Fenômenos semelhantes aconteceram com outros médiuns, mas pode-se afirmar que, em
princípio, todo médium de efeitos físicos pode ensejar tal ocorrência, dependendo,
naturalmente, da programação espiritual.
XL- FENÔMENOS TÉRMICOS
De rara ocorrência, esses fenômenos, todavia, têm sido registrados com alguns médiuns:
líquidos esquentam - ao ponto de ferverem, até - ou esfriarem, podendo, mesmo, congelar.
Certos objetos, também, têm sua temperatura alterada, podendo, inclusive, esquentar ao
ponto de não poderem ser tocados...
O pesquisador Friedrich ZÖLLNER, operando em Leipzig, com o médium norte-americano,
Henry SLADE, tendo comprado na feira alguns caracóis, colocou-os sobre uma mesa. Logo
depois presenciou, com um deles, interessante fenômeno térmico, associado ao de transporte,
assim descritos:
“Quando Slade, segundo o seu hábito, segurou embaixo da mesa uma lousa, ouviu-se
imediatamente um ruído como o da queda de um corpo sólido sobre ela. Sendo retirada a
lousa, sobre ela se achou um caramujo, que apenas um minuto antes estivera na mesa (...).
Logo depois de ter o Sr. Slade retirado a lousa de sob a mesa, segurei o caramujo com o fim
de verificar qualquer alteração física que, por acaso, pudesse ter ocorrido. Surpreendeu-me
achá-lo tão quente que quase se me tornou impossível conservá-lo entre os dedos. Passei-o
imediatamente ao meu amigo que verificou essa extraordinária mudança de temperatura.”
(1)
(1)
ZÖLLNER, Friedrich J. K. Provas Científicas da Sobrevivência, pp. 91 e 92.
Embora de realidade comprovada, pouco se conhece, também, sobre o processo que rege
esse tipo de ocorrência ectoplásmica.
XLI- EFEITOS QUÍMICOS
Alinham-se nessa categoria os efeitos que se produzem em plantas, sob a ação magnética e
ectoplásmica.
Com o médium australiano Charles BAILEY, por exemplo, submetendo-se a experiências
com vários pesquisadores em Milão, sementes de manga germinaram instantaneamente; uma
semente de ameixa-amarela (ameixa japonesa) brotou e cresceu rapidamente; uma murta —
também se desenvolveu de uma semente/alcançando a altura de 16 polegadas, em apenas 20
minutos!
Louis JACOLLIOT, referindo-se aos chamados faquires, médiuns muito conhecidos na
índia, informa que podem influir de modo direto sobre a germinação das plantas, “acelerar de
tal forma seu crescimento, que elas chegam a atingir, em poucas horas, um resultado que
exigiria longos meses ou anos de cultura”.
Segundo o autor, quando esses médiuns são questionados, respondem que servem aos
Espíritos (pitris) como instrumentos, emprestando-lhes o seu fluido natural para que,
combinados com os deles, operem sobre a matéria. (1)
JACOLLIOT, Louis. Le Spirítisme dans le monde. Paris, 1879. Cf. GIBIER, Paul. O Espiritismo —
(1)
Faquirismo Ocidental. (Orig. Le Spirítisme — Le Fakirísme Occidental). 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002,
pp. 87 e 88.
Investigadores diversos, de vários países, têm realizado esse tipo de experiência, operando
sobre plantas, a fim de vitalizá-las, fazendo-as crescer mais rapidamente, mantendo sempre
uma extraordinária aparência.
As claras comprovações dos resultados positivos resultam da comparação com os resultados
obtidos com plantas que não foram submetidas a essa ação, que, como no passe, depende
tanto de recursos magnéticos, como ectoplásmicos.
Outros efeitos semelhantes têm sido citados.
O médium alemão Heinrich NUSSLEIN, por exemplo, prolongava significativamente a vida
de flores recém-cortadas, impondo suas mãos sobre elas.
Experimentos dessa natureza, como se observa, têm sido seguidamente divulgados por
diversos tipos de publicações.
XLIII- INCOMBUSTIBILIDADE
Faculdade que permite o contato direto com brasas, pedras aquecidas ou, mesmo, fogo, sem
que nenhuma queimadura se produza.
Poucos médiuns conhecidos protagonizaram tal fenômeno, entre eles, Dunglas HOME. O
famoso naturalista inglês e coautor da Teoria da Evolução, Alfred Russell WALLACE, autor
da notável obra, Miracles and Modem Spiritualism, descreve ocorrência que testemunhou,
declarando:
‘Talvez o mais extraordinário fenômeno, e que melhor confirme a mediunidade do Sr. Home,
fosse o que se chamou de teste de fogo. Em estado de transe, o Sr. Home apanhou uma brasa
ardente da parte mais forte de um fogo brilhante, e Ievou-a ao redor da saia, de forma que
todos pudessem ver e sentir que ela era verdadeira.” (1)
(1)
Cf. PALHANO JR., L. Experimentações Mediúnicas. Rio de Janeiro: CELD, 1996, p. 60.
“Os pedaços de lenha que ainda não tinham sido queimados começaram a ser retirados às
17 e 50 horas. Nesse ínterim, uma senhora jogava sal, já benzido pelo monge, sobre as
pessoas que presenciavam a cerimônia. (...)
Às 18 e 15, o monge circundou o retângulo de brasas. Portava uma longa vara de bambu,
que tinha em sua extremidade papéis coloridos. (...) Depois passou a vara com papel sobre a
esteira e o papel não se queimou. (...)
O monge saiu e, minutos após, voltou, descalço. Fez uma oração e, exatamente às 8 e 45,
sob a expectativa e perplexidade geral, passou sobre a esteira de brasas — uma, duas, três
vezes. Dezenas de fiéis o seguiam. Uns calmos, outros afobados. Uma senhora, bastante
idosa, ao atravessar a esteira, caiu e se apoiou com a mão sobre as brasas. Foi socorrida
por outra, mas não se queimou. E assim foram mulheres com crianças no colo, velhos,
rapazes, inválidos, casais de namorados e os mais que lá se encontravam.
E todos, após passar, respondiam apenas uma coisa: ‘Não queima mesmo. A gente só sente
um calorzinho. Verdade. Não acredita? Então passe, pode passar. Não queima.” (2)
(2)
Cf. TEIXEIRA DE PAULA, João. Dicionário de Parapsicologia, Me- tapsíquica e Espiritismo. São
Paulo: BANCO CULTURAL BRASILEIRO, 1970, vol. II, pp. 22, 23 e 25.
“... Na manhã seguinte, às 11 horas, von Hoffmann tomou parte da nossa sessão, sentando-
se à minha direita; Slade como de costume, à minha esquerda. Depois de obtermos algumas
comunicações escritas, de repente vimos surgir de debaixo da mesa e de diferentes lugares,
uma coluna de fumo que, a julgar pelo cheiro, devia provir de ácido sulfúrico e salitre.
Imediatamente olhamos embaixo da mesa e vimos uma tênue fumaça como procedendo de
um fósforo riscado. Logo em seguida, se repetiu o fenômeno, porém, mais
pronunciadamente. Slade propôs colocarmos uma vela embaixo da mesa para vermos se os
seres invisíveis seriam capazes de acendê-la.
Von Hoffmann tomou dois castiçais com velas ainda não usadas e os colocou embaixo da
mesa, na parte mais distante de Slade. Juntamos as nossas mãos. Logo em seguida surgiu
fumo debaixo da mesa em todas as direções e um dos castiçais surgia com a vela acesa. (...)
Para certificar-me da ausência de uma alucinação, tomei de um pedaço de papel e o
coloquei sobre a chama da vela, queimando assim um buraco. Em seguida tomei de um
lacre, derreti-o na vela e o deixei pingar no papel e pus o meu sinete.”
Logo após essas ocorrências, o médium, em transe inconsciente, transmitiu uma mensagem
digna de nota:
“Tudo aquilo que não compreendemos, estranhamos. Fogo há em toda parte. Pensai no
sílex do qual extraí. Ele existe em todos os elementos à volta de vós. Que esta luz seja o
vosso farol no caminho das vossas investigações, que seja ela o símbolo da luz que deve
romper as trevas do mundo.” (1)
(1)
ZÖLLNER, J. K. Friedrich. Provas Científicas da Sobrevivência, pp. 148 e 149.
*
No Brasil, também, são vários os casos registrados. Entre eles, por exemplo, uma série de
episódios ocorridos na cidade paulista de Suzano que, aliás, alcançou bastante repercussão -
a envolver uma adolescente, Laura, filha mais velha do casal Jeziel Eleutério de Souza e
esposa.
O Professor Hernani G. ANDRADE, que investigou esses fenômenos desde o início,
publicou um relatório minucioso dos fatos ocorridos.
Importante a transcrição de alguns relatos:
ANDRADE, Hernani Guimarães. Poltergeist – Algumas de Suas Ocorrências no Brasil, 10. Ed. São
(3)
*
Os exemplos citados dizem, por si, só da multiplicidade e da complexidade dos fenômenos
ectoplásmicos, cujos processos, em sua maioria, ainda se nos apresenta praticamente
desconhecida.
No caso da pirogenia - frequente também em casos de obsessão -, os Espíritos utilizariam,
provavelmente, com o ectoplasma, recursos minerais propícios à produção de fogo.
XLV- FENÔMENOS ELETROELETRÔNICOS
Alguns tipos de fenômenos atmosféricos, embora de rara ocorrência, têm sido registrados,
principalmente nas reuniões de materialização.
Com a médium italiana Eusápia PALADINO, por exemplo, a produção de vento, associado,
ou não, a frio intenso, acontecia antes das manifestações. (1)
(1)
V. PALHANO JR., L. Eusápia, a Feiticeira. Rio de Janeiro: CELD, 1995, p. 55.
Além desses, outros fenômenos têm acontecido com médiuns diversos, tais como nuvens,
chuva, relâmpagos, aumento de temperatura e outros, quase sempre em recintos fechados e
locais circunscritos!
Esses e outros efeitos físicos atestam as ilimitadas possibilidades de que dispõem os
Espíritos, manipulando o ectoplasma, substância, na verdade, ainda pouco conhecida e que,
associada, ou não, a outros recursos serve, como visto, a uma variedade realmente
surpreendente de fenômenos.
XLVII- EVENTOS ALEATÓRIOS
Daniel Dunglas HOME protagonizou uma célebre experiência realizada com um acordeão
colocado dentro de um cercado de arame. Colocando uma mão no instrumento e estando a
outra apoiada sobre uma mesa, o acordeão tocava normalmente.
Com o médium norte-americano Henry SLADE, entre outras ocorrências notáveis,
registradas em Leipzig, em
1877, nós verdadeiros eram produzidos numa corda com as extremidades lacradas juntas, à
vista de todos.
“Vi as cadeiras enfiadas nos braços de diversas pessoas em que deposito a maior confiança;
porém quis certificar-me melhor; para isso numa sessão recente, amarrei os pulsos de duas
pessoas com uma corda; no fim de três segundos achava-se uma cadeira pendurada no
braço de uma delas e a corda intacta.
Segurei então com firmeza a mão do Sr. Eglinton e num momento uma de minhas cadeiras
austríacas ficou dependurada no meu braço. Isso, sem dúvida, é matéria através da matéria,
porém, se carne e osso atravessaram a madeira ou se por ela foram atravessadas é o que
não posso dizer. “ (3)
(3)
ZÖLLNER, J. K. Friedrich. Op. Cit., p. 73.
*
No Brasil, incríveis fenômenos de transporte, ocorridos na década de 1950, foram narrados
pelo então Presidente da Federação Espírita do Rio Grande do Sul, Francisco SPINELLI: em
uma reunião pública, sob as ordens do Espírito que comandava as tarefas, foi, por alguns
segundos, desligada a luz da sala. Religada, constatou-se que a chave da porta de entrada do
recinto encontrava- se no fundo da lâmpada (acesa) que iluminava a mesa! Momentos
depois, novamente apagadas e reacendidas as lâmpadas, verificou-se, sob o espanto geral que
a chave encontrava-se, de novo, no buraco da fechadura da porta! Os fatos foram
rigorosamente comprovados, após meticuloso exame por parte dos presentes, pessoas de
inegável idoneidade.
Esses e outros eventos (folhas de papel dependuradas no ar, rasgadas sem nenhum toque
visível; pratos vazios de uma balança que descem e sobem, ao comando do pesquisador...),
ocorridos com médiuns de vários países, compõem um quadro de fenômenos singulares e
surpreendentes, a maioria dos quais, de ocorrência única.
XLVIII- RADIESTESIA
Faculdade psíquica que possibilita tanto a percepção da existência de águas subterrâneas e
jazidas, como a detecção de doenças, ou, ainda, a localização de pessoas ou seus despojos. (1)
(1)
O termo radiestesia (do lat. Radius, raio, radiação, e do grego aisthesis, sensibilidade), foi usado na França
com o sentido de “adivinhação”. A radiestesia (citada, às vezes, também, como rabdomancia) é conhecida
desde a Antiguidade, principalmente no Egito, na Índia e entre os judeus, druidas e romanos.
Como ocorre com outros eventos, a radiestesia pode caracterizar-se tanto como fenômeno
mediúnico, como paramediúnico, embora, neste caso, quase sempre assistido pelos Espíritos
que operam pelo Bem.
Assim, na detecção de águas subterrâneas ou de ocorrências minerais (“prospecção
radiestésica”), em que a pessoa, geralmente, opera com uma forquilha, que, em suas mãos, se
dobra ao passar pelo local em que se encontram, indicando sua existência, o fenômeno pode,
de certo modo, ser tido como paramediúnico, ainda que o operador seja acompanhado ou,
até, supervisionado pelos Espíritos interessados. (2)
(2)
Considerando que toda matéria emite radiações, é possível ao ser humano captá-las de diversos modos,
inclusive, por meio dos métodos radiestésicos.
Casos há em que o operador pode usar, também, o pêndulo para a indicação dos remédios.
Antigamente, diante de amostras dos principais medicamentos então conhecidos, o operador,
se for o caso, após o diagnóstico da enfermidade - sob a clara influência do Espírito que o
assistia - passava o pêndulo sobre cada uma e, pelo tipo de oscilação ou giro, poderia
concluir sobre sua indicação e eficácia do remédio, a ser associado, ou não, a outras espécies
de drogas.
Com o surgimento da indústria de medicamentos, tal sistema, evidentemente, tornou-se
anacrônico, passando, às vezes, a ser substituído, tanto quanto possível, por uma grande
coleção de fichas com os nomes de medicamentos atuais, sobre as quais é passado o pêndulo,
a fim de se alcançar uma possível indicação terapêutica. Obviamente, tal método pode deixar
a desejar, ainda que não perca o seu significado como um notável fenômeno, em que o
médico espiritual e o médium, liberando ectoplasma, interagem, produzindo, às vezes, até
resultados surpreendentes.
*
Pelo exposto, entende-se, afinal, que o processo radiestésico, em sua intimidade, é tão
complexo quanto os demais até aqui examinados. Certamente, o desenvolvimento do Saber
Humano possibilitará, também, no devido tempo, sua inteira compreensão.
XLIX- POLTERGEIST
As chamadas manifestações poltergeist (do alemão, poltern, fazer barulho, alvoroço, geist,
Espírito) caracterizam-se pelo surgimento de uma série de fenômenos ruidosos e, por vezes,
até chocantes, que ocorrem sucessiva ou simultaneamente, envolvendo, geralmente, Espíritos
de categoria menor, que, para tal, aproveitam, particularmente, o ectoplasma disponibilizado
por um médium de efeitos físicos (epicentro), em combinação com outros recursos.
Em tais manifestações conjugam-se vários dos fenômenos já vistos como levitação,
materializações, deslocamento de móveis, pirogenia, pneumatofonia, pneumatografia, efeitos
luminosos, odorantes, térmicos, eletroeletrônicos, atmosféricos, pancadas associadas, por
vezes, a estrondos e varieis manifestações de agressividade, por parte dos Espíritos, como,
por exemplo, objetos que são jogados ao chão ou contra alguma pessoa ou animal presente,
derramamento de conteúdos de panelas ou vasos, janelas, portas e gavetas que se abrem e se
fecham ruidosamente, e outras ocorrências.
Como a maioria das ocorrências mediúnicas, os fenômenos poltergeist são conhecidos de há
muito.
Ao que consta, o primeiro caso a ter um relato completo ocorreu na casa do magistrado John
MOMPESSON, em Tedwort, Wilts, em 1661.
O fato a seguir descrito encontra-se narrado numa obra do Rev. Joseph GLANVILLE,
publicada em 1668:
“Uma noite fez tal barulho no quarto sobre nossas cabeças como se diversas pessoas
estivessem andando, inclusive subindo e descendo as escadas velozmente, e era tão forte que
pensamos que as crianças poderiam estar amedrontadas. Seu pai e eu, então, levantamos e
descemos no escuro para acender uma vela. Assim que chegamos ao pé das escadas,
abraçados um ao outro, do meu lado parecia como se alguém tivesse esvaziado uma bolsa
de dinheiro em meu pé e do dele, como se todas as garrafas sob as escadas (e eram muitas)
tivessem sido violentamente quebradas em milhares de pedaços. Passamos do hall para a
cozinha, conseguimos uma vela e fomos ver as crianças. Na noite seguinte, seu pai
conseguiu que o Sr. Hoole ficasse em nossa casa e todos nós, Juntos, nos sentamos até uma
ou duas horas da manhã e ouvimos os barulhos como sempre. Algumas vezes fazia um
barulho como a rolagem de um guincho; em outras ocasiões, como aquela noite que o Sr.
Hoole estava conosco, como um carpinteiro plainando pranchas (...)” (1)
(1)
CLARK, Adam. Memoirs of the Wesley Family. Londres, 1823. PRIESTLEY, Joseph. Original Letters
by the Rev. John Wesley and His Friends, 1791.
A filha de WESLEY, Hetty Wesley, seria o centro dos fenômenos. “Ela foi encontrada
tremendo fortemente em seu sono quando os barulhos ocorreram...”
Ao tempo de KARDEC, registros desses fenômenos já se tornavam mais frequentes. Conan
DOYLE, referindo-se aos irmãos Ira e William DAVENPORT, famosos médiuns norte-
americanos, descreve várias ocorrências verificadas por ocasião de sua passagem em
Londres, noticiadas pelos jornais The Times, Daily Telegraph, Daily News e outros.
Entre elas, por exemplo, uma manifestação acontecida em outubro de 1864, na presença de
importantes autoridades, jornalistas e pesquisadores da época:
“Um dos Davenport e Mr. Fray ficaram sentados entre nós. Duas cordas foram atiradas a
seus pés e em dois minutos e meio estavam eles amarrados de pés e mãos, com as mãos para
trás, fortemente atadas às cadeiras e estas amarradas a uma mesa próxima. Enquanto esta
operação se realizava o violão foi erguido da mesa e tocou ou flutuou em volta da sala e por
cima da cabeça de todos, tocando de leve um ao outro. Então uma luz fosforescente foi
atirada de um para outro lado, por cima de todos; o peito, as mãos ou as costas de vários
dos presentes foram simultaneamente tocados, batidos ou arranhados por mãos, enquanto o
violão flutuava no ar, agora próximo do teto e batia na cabeça e nos ombros dos menos
felizes. As campainhas soavam aqui e ali, e uma leve vibração era mantida no violino. Os
dois tamborins pareciam rolar para lá e para cá pelo chão, ora sacudidos violentamente,
ora tocando nas mãos e nos joelhos dos circunstantes - sendo que todas essas coisas eram
sentidas ou ouvidas simultaneamente. Segurando um tamborim, Mr. Rideout perguntou se o
mesmo poderia ser tirado de suas mãos; quase que instantaneamente o instrumento foi
arrebatado. Ao mesmo tempo Lord Bury fez a mesma pergunta e houve uma tentativa de
arrebatamento do tamborim que ele segurava fortemente. Então Mr. Fay perguntou se lhe
poderiam tirar o paletó. Imediatamente ouvimos um puxão violento e aconteceu a coisa mais
notável. Uma luz foi acesa antes que o paletó saísse de Mr. Fay, tirado por cima. Voou para
o candelabro onde ficou pendurado por um instante e depois caiu no chão...” (2)
(2)
DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo, p. 194.
“As manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e pancadas. Degeneram, por
vezes, em verdadeiro estardalhaço e em perturbações. Móveis e objetos diversos são
derribados, projetis de toda sorte são atirados de fora para dentro, portas e janelas são abertas
e fechadas por mãos invisíveis, ladrilhos são quebrados, o que não se pode levar à conta de
ilusão.” (3)
(3)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, p. 108, item 87.
Tais ocorrências foram cuidadosamente avaliadas pelo Codificador e, até alguns casos de
grande repercussão, em sua época, chegaram a ser citados na Revue Spirite. Entre eles, por
exemplo, o célebre episódio do Espírito batedor de Bergzabern, na Baviera, cuja ação durou
oito anos (edições de Maio, Junho, Julho, 1858); o da rua Des Noyers, em Paris, em que a
vítima principal, uma doméstica, chegou a receber sérios ferimentos (Agosto, 1860); O de
São Petersburgo, Rússia, com a produção, também, de golpes violentos, vindos,
aparentemente, do vazio (Abril, 1860).
Geralmente, esses fenômenos ocorrem pela ação de Espíritos que, muitas vezes, agem mais
por leviandade que por maldade, mas também, vingança, tornando-se tão nocivos que
chegam a afetar o próprio psiquismo dos envolvidos. KARDEC, há século e meio, já
observava:
“Tais fatos assumem, não raro, o caráter de verdadeiras perseguições. Conhecemos seis
irmãs que moravam juntas e que, durante muitos anos, todas as manhãs encontravam suas
roupas espalhadas, rasgadas e cortadas em pedaços, por mais que tomassem a precaução
de guardá-las ã chave. A muitas pessoas tem acontecido que, estando deitadas, mas
completamente acordadas, lhe sacudam os cortinados da cama, tirem com violência as
cobertas, levantem os travesseiros e mesmo as joguem fora do leito. Fatos destes são muito
mais frequentes do que se pensa; porém, as mais das vezes os que deles são vítimas nada
ousam dizer, de medo do ridículo. Somos sabedores de que, por causa desses fatos, se tem
pretendido curar, como atacados de alucinações. (...) ” (4)
(4)
Id, Ibid., pp. 109 e 110, item 89.
*
No Brasil, as manifestações poltergeist têm acontecido em vários lugares. Graças ao trabalho
de Hernani G. ANDRADE, vários desses casos foram registrados e fotograficamente
documentados os seus vestígios.
Entre as várias ocorrências investigadas, constam os fenômenos acontecidos, em 1973, no
bairro do Ipiranga, São Paulo, e na cidade de Mogi das Cruzes.
No primeiro caso, a família foi atormentada por movimento de móveis, levitação de objetos,
fenômenos de pirogenia, ruídos, desordem e destruição de objetos. O Professor ANDRADE
assim descreve o ocorrido:
“Logo passaram a surgir, diariamente, focos de combustão que acabaram por destruir
todas as roupas e mobília do casal, terminando por provocar um início de incêndio no
telhado da casa. Durante as ocorrências, apareciam frases obscenas e ameaçadoras
misteriosamente escritas nas paredes ou em pedaços de papel, assim como ‘apports’ de
velas acesas.” (5)
(5)
ANDRADE, Hernani Guimarães. Você, o Poltergeist e os Locais Mal-Assombrados, pp. 122 a 124.
I- DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO
A expressão desenvolvimento mediúnico pode sugerir aos neófitos que se trata de um meio
de “produção automática” de médiuns, à maneira de um processo industrial, noção que nada
tem com a verdade.
Ora, a mediunidade é uma faculdade que se manifesta sempre espontaneamente, não cabendo
nenhuma insistência em sua manifestação, sob pena de intercorrência de fenômenos menos
agradáveis.
Assim, embora a mediunidade seja inerente a todo ser humano, a história evolutiva de cada
indivíduo dita, geralmente, a existência de um tipo de mediunidade que, no período de
desenvolvimento mediúnico, pode apresentar-se mais ostensivo do que outros, ainda que, ás
vezes, o médium em aperfeiçoamento possa manifestar outras qualidades.
E pode ocorrer que, no início, a pessoa nada manifeste de perceptível, devendo aguardar
nova oportunidade, se for o caso.
Comum, durante o ciclo de desenvolvimento, o desabrochamento da mediunidade
psicofônica, da vidência, da audiência e do desdobramento. Às vezes, surge, também, a
psicografia. (2)
(2)
No caso da psicografia, importa considerar a importância de não confundir a mensagem psicográfica,
propriamente, com a que é escrita por intuição ou que seja da produção do próprio médium, o que, aliás, não
é raro. Tenha-se presente que, como visto, a psicografia, ou é mecânica, ou semimecânica. Desaconselhável,
por isso, forçar o desenvolvimento da psicografia, como, de resto, de qualquer tipo de mediunidade, pois que
a espontaneidade é a sua característica fundamental.
Outro dado a ser considerado é que nem sempre o médium vê, realmente, um Espírito, um
ambiente ou qualquer aspecto do mundo espiritual, sendo, até, comum que os Espíritos
influenciem o médium desprendido — que todo fenômeno mediúnico começa com o maior
ou menor desprendimento do medianeiro —, projetando em sua mente imagens por eles
criadas (formas-pensamento), que passam a ser descritas como se fossem reais.
Na verdade, às vezes, é muito difícil ao vidente diferenciar o real, do virtual, observando-se,
entretanto, que na vidência externa, o médium tem melhores condições de perceber o que
ocorre.
Mostram esses fatos que, numa reunião mediúnica, não se deve esperar que as descrições dos
médiuns videntes sobre dada ocorrência apresentem-se inteiramente coincidentes, exigindo,
aliás, atenção por parte do orientador dos trabalhos de desenvolvimento, para os casos em
que, após uma primeira descrição por parte de um médium, manifestem-se outros, como é
comum, relatando vidências coincidentes com aquela...
De qualquer modo, o vidente, com o tempo, apoiado na humildade e honestidade, poderá
tornar-se instrumento dos mais preciosos, nos programas de auxílio espiritual.
Outro fenômeno a requisitar a atenção é o desdobramento, em suas várias nuanças. O transe,
as descrições do médium e outros detalhes fornecem elementos de avaliação ao orientador
experimentado.
Já os médiuns de ectoplasmia que, não raro, são dotados de outras faculdades mediúnicas,
exigem tratamento mais específico. A produção dos fenômenos que protagonizam, às vezes,
não se subordinam, propriamente, ao seu controle consciente e, excluindo-se os serviços
relacionados com a terapia ectoplásmica (psicocirurgia, passes, etc.), podem até, como visto,
ocorrer aleatoriamente.
SISTEMAS DE DESENVOLVIMENTO
OS GRUPOS MEDIÚNICOS
Os grupos de serviço mediúnico, propriamente, compostos por médiuns que já passaram pelo
ciclo de desenvolvimento, não devem ter, como já lecionava KARDEC, um número
excessivo de pessoas, a fim de que os resultados sejam realmente satisfatórios. (5)
(5)
V. O Livro dos Médiuns, p. 428, item 332.
O dirigente
O dialogador
“Quando dialogues com os desencarnados, se te cabe tal função nos serviços mediúnicos,
não te feches no preconceito, supondo que estejas em condições gerais melhores que as
deles, só porque és o esclarecedor. Não; mostra-te simples, aberto para ouvir, seja o que for
que te digam, respondendo o que te seja possível, com espírito de verdadeira compreensão,
exercitando a difícil humildade.
Pensa em quem te aborda através do megafone mediúnico, como se te fosse um ser amigo,
um familiar querido ou um adversário ideológico em estado de obnubilação psicológica, ou
padecendo sério embotamento da razão ou bloqueio do sentimento, mais necessitado, por
isso mesmo, da tua indulgência, da tua paciência, da tua fraternidade.
Analisa os sentimentos que inundam o teu coração, quando estás conversando com os
irmãos do Além, e faze-te mais lúcido e claro nos diálogos, mais dócil e sensível no trato das
suas mazelas, mais compreensivo para com suas limitações.
Quanto a ti que esclarece, esclarece-te também. Quanto a ti que apontas caminhos, caminha
pelos mesmos trilhos que indicas. Quanto a ti que propões as lições de Jesus como roteiro
seguro aos desencarnados, não deixes de ter essas mesmas lições como mapa capaz de
nortear também a tua vida, a fim de que tenhas a decantada autoridade moral e para que
dês força de documento às tuas palavras.” (2)
(2)
TEIXEIRA, J. Raul. Espírito HANS SWIGG. Em Serviço Mediúnico. Niterói (RJ): FRATER, 1996, pp.
126 a 128.
*
Casos há em que o dialogador, dadas as precárias condições do Espírito trazido à
comunicação, necessita lançar mão de recursos extras, em seu benefício. A um Espírito, por
exemplo, que se apresenta em estado de grande crise, a refletir a situação em que se
encontrava no momento de sua desencarnação, contorcendo-se de dor, com falta de ar, tosse
e outros sintomas que o impedem, sequer, de prestar atenção às palavras do dialogador, este
poderá oferecer-lhe, à luz de uma prece, um “medicamento” que se materializa aos seus
olhos, graças à ação dos Supervisores Espirituais, utilizando os recursos disponibilizados
pelos assistentes.
O efeito é geralmente imediato, possibilitando o diálogo esclarecedor.
Desnecessário lembrar que, em grande parte dos casos, os Espíritos conduzidos ao
atendimento ignoram que já deixaram o corpo físico, guardando em sua mente as sensações
que experimentavam quando ainda encarnados.
De outro lado, como se sabe, muitos Espíritos, mesmo conscientes de sua condição de
desencarnados, podem mostrar grande dificuldade de se comunicar, como ocorre com os
alcoólatras e drogados em geral. De acordo com o grau de consciência e autocontrole que
lhes resta, é possível esclarecê-los e prestar-lhe o auxílio de que necessitam com o apoio,
obviamente, dos Espíritos responsáveis pelo trabalho. Em casos mais difíceis, receberão,
certamente, cuidados especiais por parte dos médicos espirituais, para que, no devido tempo,
possam alcançar o necessário equilíbrio.
*
Entre os recursos de que pode dispor o dialogador (principalmente, nos casos de
desobsessão), a regressão de memória do Espírito comunicante tem sido bem comum,
contribuindo significativamente para que este, dando-se conta do seu passado, consiga
apagar seu ódio, sua sede de vingança, contra a pessoa que se recomenda ao auxílio da
Espiritualidade Superior, hoje sua vítima, ontem seu provável algoz.
A propósito, à luz da lei da causalidade espiritual, mostra bem ANDRÉ LUIZ os recursos de
que podem dispor os Mestres Espirituais no serviço de auxílio.
Descrevendo uma reunião mediúnica, refere-se o autor a uma espécie de “condensador
ectoplásmico” capaz de registrar as imagens projetadas pelo Espírito. Alguns excertos de sua
descrição já servem à plena compreensão de sua lição:
1. Disciplina
A ordem é essencial para o bom êxito de qualquer trabalho. Importante observar o horário, a
assiduidade e q programa estabelecido, facilitando a tarefa dos Espíritos e correspondendo ao
esforço que desenvolvem em benefício de seus assistidos.
2. Harmonia
Para que haja uma adequada sintonia com os Espíritos que supervisionam as atividades de
um grupo mediúnico, imprescindível que todos seus componentes se encontrem plenamente
harmonizados entre si. Isso significa ausência de ressentimentos e outros sentimentos
negativos, que possam perturbar a cadeia de solidariedade e de amizade que entre todos deve
existir.
De se lembrar, a propósito, que uma boa maneira de conservar a harmonia em um grupo é o
médium, em suas preces, orar por cada companheiro de equipe, eliminando, assim, qualquer
resíduo de malquerença ou antipatia e fortalecendo os laços de fraternidade que entre todos
deve imperar.
3. Vigilância
Importante a constante lembrança da recomendação de Jesus, grafada por Marcos (Mar.
13:33): Vigiai e Orai.
O espírita esclarecido sabe do cuidado que deve ter com os pensamentos, com a palavra e
com as ações. E o médium, em exercício, dada, mesmo, sua sensibilidade, deve exercitar-se
na anulação das infiltrações mentais que, particularmente, possam levá-lo ao descontrole
emocional, um dos fatores que mais prejudicam o desempenho mediúnico.
Recomendável, aliás, que o médium esteja especialmente atento nos dias de seu trabalho
mediúnico, e nos que o antecedem, quando pode estar sujeito a um processo de aproximação
de um Espírito necessitado, que transite por acentuada perturbação e que deva ser
encaminhado ao esclarecimento por seu intermédio, sob a ação dos Tutelares Espirituais.
(Caso há que, diante das precárias condições do Espírito a ser socorrido, essa aproximação é
promovida com bastante antecedência, até, para que a conexão entre os perispíritos possa ser
feita de forma gradual e suportável para o médium).
A qualidade do pensamento é determinativa da saúde ou da doença, da tristeza ou da alegria,
do sucesso ou do fracasso, do nosso progresso espiritual ou não, pois, pelo princípio da
sintonia, atraímos sempre como companhia os Espíritos que conosco se identificam
mentalmente.
Fácil, então, compreender como é importante a autovigilância do médium, diante da
responsabilidade que tem como medianeiro do Plano Espiritual.
“Em mediunidade, tudo é uma questão de sintonia. O médium que estabelece sintonia com
as Trevas pode, se desejar, estabelecer sintonia com a Luz, e vice-versa. O homem caminha
para onde direcione o pensamento...
O médium leviano e irresponsável atrairá para si a companhia de Espíritos que se
transformarão, por um tempo mais ou menos longo, em seus inquilinos, seviciando-lhe as
forças, exaurindo-o em suas energias e adoecendo-lhe as faculdades.
(...) Por isto, a vigilância nos médiuns há de ser uma constante necessidade, e ao
medianeiro que desejar saber qual o tipo de influência a que se encontra exposto, bastará a
análise de seus pensamentos e anseios de caráter pessoal. (5)
(5)
BACCELLI, Carlos A. Espírito ODILON FERNANDES. Mediunidade - Perguntas e Respostas.
Votuporanga (SP): CASA EDITORA ESPÍRITA, 2000, pp. 101 e 102.
*
Importante, ainda, algumas considerações relacionadas com o desempenho mediúnico,
propriamente, em uma reunião de esclarecimento e encaminhamento dos Espíritos que se
recomendam ao atendimento do grupo.
Elucidativa a lição que ANDRÉ LUIZ transmite, a respeito, pela mediunidade de Francisco
C. XAVIER:
“Observei que leves fios brilhantes ligavam a fronte de Eugênia, desligada do veículo físico,
ao cérebro da entidade comunicante. (...)
Embora senhoreando as forças de Eugênia, o hóspede enfermo do nosso piano permanece
controlado por ela, a quem se imanta pela corrente nervosa, através da qual estará nossa
irmã informada de todas as palavras que ele mentalize e pretenda dizer. Efetivamente
apossa-se ele temporariamente do órgão vocal de nossa amiga, apropriando-se de seu
mundo sensório, conseguindo enxergar, ouvir e raciocinar com algum equilíbrio, por
intermédio das energias dela, mas Eugênia comanda, firme, as rédeas da própria vontade,
agindo qual se fosse enfermeira concordando com os caprichos de um doente, no objetivo de
auxiliá-lo. Esse capricho, porém, deve ser limitado, porque, consciente de todas as intenções
do companheiro in- fortunado a quem empresta o seu carro físico, nossa amiga reserva-se o
direito de corrigi-lo em qualquer inconveniência. Pela corrente nervosa, conhecer-lhe-á as
palavras na formação, apreciando-as previamente, de vez que os impulsos mentais dele lhe
percutem sobre o pensamento como verdadeiras marteladas. Pode, assim, frustrar-lhe
qualquer abuso, fiscalizando-lhe os propósitos e expressões, porque se trata de uma
entidade que lhe é inferior, pela perturbação e pelo sofrimento em que se encontra, e a cujo
nível não deve arremessar-se, se quiser ser-lhe útil. (...)
Tem o dever de colaborar na preservação da ordem e da respeitabilidade na obra de
assistência aos desencarnados, permitindo-lhes a livre manifestação apenas até o ponto em
que essa manifestação não colida com a harmonia necessária ao conjunto e com a dignidade
imprescindível ao recinto.” (6)
(6)
XAVIER, Francisco Cândido. Espírito ANDRÉ LUIZ. Nos Domínios da Mediunidade, pp. 55 e 56, Cap.
6.
♦ Tanto quanto possível, deve o médium, também, controlar gestos e altura da voz, operando
a serviço do necessitado sem perturbar seus companheiros de trabalho.
Servindo às expressões emocionais do comunicante, pode o médium, perfeitamente, conter
os exageros, a refletirem, às vezes, suas próprias tendências.
♦ Por último, merece atenção a postura do médium (principalmente no transe consciente ou
semiconsciente) diante do dialogador.
Como se sabe, numa comunicação consciente, verifica-se um processo de interação mental
entre os seus protagonistas. Tanto pode o Espírito atuar sobre o pensamento do médium,
como este, também, influenciar a mente daquele. Assim, em meio a uma comunicação, o
médium pode, sem que mesmo o perceba, influir de tal modo na mente do Espírito que este
passa a expressar o pensamento daquele, sem mesmo dar-se conta. Significa que o médium
pode, também, transmitir-lhe, telepaticamente, seus sentimentos, levando o comunicante a
registrá-los como seus. Tal processo não se confunde com o chamado “animismo”, em que a
manifestação é só do médium.
Tal fato tem registro mais comum do que se possa imaginar e especialmente verificável em
certas comunicações em que o médium, no acompanhamento consciente do diálogo mantido
entre o instrutor e o Espírito, interfere de tal modo, com seus pensamentos, que pode até
levar o comunicante a opor-se ao dialogador, contestando sistematicamente seus argumentos
e comprometendo o programa de ajuda estabelecido pelos Benfeitores Espirituais.
Ocorrências como essas acontecem, ás vezes, nos casos em que a relação de simpatia
existente entre o médium e o dialogador não é das mais ostensivas, levando o primeiro a
interferir indebitamente na comunicação, em prejuízo dos resultados.
*
Tema a merecer também abordagem é o que diz respeito com a chamada intermitência
mediúnica, suspensão temporária das manifestações.
Diversas são suas causas, mas, em princípio, o médium não deve preocupar-se em demasia
com o que lhe ocorre, sem deixar, todavia, de prestar-lhe a necessária atenção, pois vezes há
em que a suspensão acontece por sua invigilância e irresponsabilidade, o que, aliás, pode
levar até à perda de oportunidade no serviço mediúnico.
Comumente, quando se trata de um médium atento à sua responsabilidade e aos cuidados
pessoais daí decorrentes, a suspensão provisória das manifestações pode significar um
repouso que lhe é concedido — muitas vezes, devido à sua saúde - para que possa bem
recuperar-se.
Assinala, a propósito, KARDEC, que a suspensão das comunicações “demonstra, às vezes,
solicitude do Espírito para com o médium, a que consagra afeição, tendo por objetivo
proporcionar-lhe um repouso material de que o julgar necessitado, caso em que não permite
que outros Espíritos o substituam”. (8)
(8)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, pp. 260 e 261, Cap. XVII.
Casos há em que, numa reunião, nenhum Espírito se manifeste pelo médium, dada a
programação estabelecida pelos responsáveis espirituais pelo trabalho. Tal fato, aliás, pode
ocorrer em mais de uma reunião, sem que o médium deva com isso preocupar-se.
Ê que, como visto, a sintonia é elemento fundamental em qualquer manifestação,
principalmente na mediunização psicofônica ou psicográfica. E como a sintonia diz, de certo
modo, com afinidade, acontece que os Espíritos são trazidos à comunicação por meio dos
instrumentos que, dadas as linhas de afinidade energética existentes, possibilitam a sintonia
necessária à produção do fenômeno.
Como os Espíritos trazidos ao serviço de atendimento mediúnico devem comunicar-se por
intermédio de quem lhes favoreça sintonia, alguns médiuns do grupo poderão não registrar
nenhuma aproximação espiritual, dada a ausência de condições para os atendimentos
programados para determinada reunião.
Outras vezes, porém, a suspensão das manifestações deve-se a fatores outros, ligados à
condição mental do médium. Nesses casos, a intermitência mediúnica pode alongar-se no
tempo, exigindo o necessário esforço de autoavaliação crítica, compreendendo-se que fatores
como as reiteradas faltas às reuniões de trabalho, a ausência de conveniente preparo para a
reunião que o aguarda, e outros, podem influir negativamente no seu desempenho.
*
Os assistentes
Como visto, a harmonia é fundamental para que o trabalho de auxílio mediúnico alcance,
realmente, resultados frutíferos.
Aos assistentes dedicados à chamada sustentação mental dos serviços mediúnicos, cumpre
esforçar-se no sentido de manter o pensamento elevado e harmonizado, para que os
Operadores Espirituais possam aproveitar os recursos ectoplásmicos de que possam dispor,
no processo de esclarecimento e auxílio aos Espíritos necessitados que se recomendam ao
atendimento do grupo.
Com a responsabilidade de participarem de um programa de ajuda, devem contribuir com o
melhor de si para que os resultados surjam realmente satisfatórios, aliviando sofrimentos e
iluminando o caminho de tantas almas atribuladas que buscam o socorro espiritual.
Compreende-se que nem sempre é possível manter- se o pensamento ininterruptamente
concentrado.
Assim, para evitar divagações e a criação de formas- pensamento que possam prejudicar o
trabalho dos Espíritos, aconselhável, quando for o caso, manter a atenção dirigida aos
diálogos e às preces, em proveitoso exercício de aprendizagem, com o especial cuidado de
não emitir vibrações em desfavor do dialogador, quando seus argumentos ou a maneira de
tratar o interlocutor desencarnado não coincidirem, de alguma forma, com o seu modo de
pensar. O assistente, aliás, jamais deve assumir a posição de crítico, opondo-se mentalmente
ao comunicante ou ao dialogador, comprometendo a harmonia que deve presidir os
trabalhos.
Atento à sua tarefa, cumpre a quem opera na sustentação mental, esforçar-se para que seus
pensamentos, no grupo e fora dele, se mantenham em padrão de dignidade e amorosidade,
condizente com a responsabilidade que lhe foi outorgada pela Espiritualidade Superior, em
prol de seu crescimento espiritual, obrigação, aliás, que, na verdade, se estende a todos os
trabalhadores da Seara, conscientes da sua realidade espiritual.
Os auxiliares passistas
*
Ao final, a título de complementação, cabe menção a alguns outros aspectos relacionados
com o serviço mediúnico em geral, que importa sejam lembrados.
MODALIDADES DE ATENDIMENTO
Comum nas reuniões mediúnicas de auxílio aos Espíritos, antes do início das atividades
mediúnicas, propriamente, a leitura de nome de pessoas encarnadas e desencarnadas, que se
recomendam ao atendimento espiritual do grupo.
Trata-se de um trabalho deveras importante, dados os ostensivos resultados que se registram,
sendo recomendável que a leitura dos nomes conte com a atenção e as boas vibrações dos
presentes, para que a tarefa de ajuda, por parte dos Benfeitores Espirituais, seja mais
facilmente executada.
De se lembrar, aliás, que, nessa linha de serviço, certos centros, de acordo com suas normas,
adotam um sistema de operação em que o nome das pessoas que se recomendam à tarefa de
auxílio, são apresentados ao Mentor Espiritual que, através do médium, preside os trabalhos,
para o devido atendimento.
Sistema semelhante, mas exclusivamente dedicado ao receituário mediúnico, pode, também,
ser encontrado em diversas instituições, com a presença, ou não, do consulente. (10)
(10)
O receituário mediúnico pode ocorrer não só pelo processo psicofônico, aqui referido, como também
através da psicografia, da pneumatografia, da radiestesia, bem como durante o processo psicocirúrgico e no
desdobramento.
Entende-se, desde logo, que esse tipo de atendimento envolve processo, também muito
complexo.
Pequeno excerto de uma lição de ANDRÉ LUIZ, a respeito, já serve de amostra das
dificuldades e dos extraordinários recursos empregados pelos Mestres Espirituais, nessas
tarefas:
REUNIÕES DE DESOBSESSÃO
A respeito, ainda, das reuniões de desobsessão, importa ter presente que os pacientes trazidos
ao socorro espiritual não devem presenciar os trabalhos mediúnicos realizados a seu
benefício.
Em casos de obsidiados que são conduzidos ao centro, já mediunizados por seus obsessores
(o que não é raro, ocorrendo, até, situações em que o paciente é trazido ao atendimento em
estado de transe inconsciente), médiuns bem preparados podem, separadamente, sob a
orientação de experiente dialogador, prestar-lhe a necessária ajuda, recebendo o obsessor a
fim de que seja esclarecido e encaminhado.
Nesse serviço, por falta, às vezes, de condições de o médium obsidiado expressar-se de
forma normal, o obsessor, por intervenção dos Espíritos responsáveis, é normalmente
transferido para um dos médiuns presentes, ás vezes, com o apoio magnético do dirigente,
que, nesse caso, apondo as mãos sobre o obsidiado e o médium disponível, simultaneamente,
administrará a transferência do obsessor - “fenômeno da passagem”, nas palavras de Yvonne
PEREIRA - para que, se possível, se comunique. (14)
(14)
Pereira, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992, p. 211.
Não raro surgem crianças portando uma sensibilidade mediúnica - ás vezes, muito
perturbadora - que demanda a necessária atenção.
Como se sabe, até os sete anos de idade, aproximadamente, tempo em que a reencarnação já
se consolida, as crianças, pela própria facilidade de se desprenderem, podem ter visões,
frequentes, até, do mundo espiritual.
Ocorre que, por vezes, esses fenômenos de vidência são acompanhados dos de audiência,
servindo de meio aos obsessores, ou simples galhofeiros, para perturbar não só a criança,
como, ás vezes, os pais, seguidamente, o principal alvo.
E casos há em que até manifestações psicofônicas podem surgir, provocando perplexidades e
temores.
Trazidas ao atendimento espiritual, recomendável que frequentem os trabalhos de passes e
que seu nome seja incluído nos programas de atendimento espiritual, para a competente
assistência, notando-se que algumas Casas Espíritas, a propósito, contam, inclusive, com
serviços mediúnicos de desobsessão dirigidos às crianças.
Totalmente desaconselhável que frequentem as reuniões mediúnicas, devendo-se aguardar
seu desenvolvimento físico para quaisquer e eventuais indicações que digam, efetivamente,
com o serviço mediúnico.
No que se refere aos jovens adolescentes, importa anotar que há quem defenda sua
participação ativa nos trabalhos mediúnicos, com apoio no fato de que, na aurora do
Espiritismo, muito se deveu às meninas Fox, Margareth e Kate, com 14 e 11 anos,
respectivamente, e das jovens Ruth Japhet e Ermance Dufaux.
Importante lembrar, todavia, que outros eram os tempos, de nobres missionários em tarefa
pioneira, a atraírem, por isso mesmo, cuidados especiais por parte da Espiritualidade
Superior. Mesmo porque a pouca idade das médiuns, diante do elevado conteúdo das
comunicações, contribuiu significativamente para o despertamento do interesse de
renomados cientistas e pensadores da época.
Hoje, entretanto, em que se contam aos milhares os Centros Espíritas no mundo, o trabalho
mediúnico precoce, com raras exceções, pode atrair efeitos negativos, por falta de
conhecimento e preparo.
Conveniente, assim, o tempo ideal para a aprendizagem e o exercício mediúnicos.
MEDIUNIDADE E GESTAÇÃO
EVOCAÇÕES
Por último, cabe menção às evocações, que ainda chamam a atenção de alguns espíritas.
Compreenda-se, desde logo, que a época das evocações já passou.
Ao tempo de KARDEC, em benefício da obra monumental que construía, a Espiritualidade
Superior o permitiu, buscando atender todos os pedidos, ainda que em meio a grandes
dificuldades.
Hoje, não só são desnecessárias, como perigosas, favorecendo em grande parte a
mistificação, certas manifestações anímicas e, mesmo, dependendo da condição moral do
médium, a própria fraude.
Como advertem os Mestres Espirituais, é totalmente impróprio que se provoque ou se force a
manifestação mediúnica, que deve, sempre, ser regida pelo princípio da espontaneidade.
A ADMINISTRAÇÃO DE PASSES
Para a administração do passe (mediúnico), importante é a prévia frequência a um Ciclo de
Orientação específica, para que o candidato a passista se prepare convenientemente para o
desempenho responsável das sagradas tarefas que o aguardam.
No passe, o médium, normalmente, atua em plena consciência, operando mentalmente em
benefício do paciente e instrumentando o seu Protetor Espiritual na administração dos
recursos magnéticos e ectoplásmicos.
Como em toda atividade mediúnica, o conhecimento, o cuidado com a disciplina e a conduta
moral comparecem como elementos vitais para a produção de reais benefícios, fortalecendo
a confiança e a sintonia que deve haver entre o passista e os Espíritos que o auxiliam em sua
reabilitação espiritual.
Outro elemento relevante é a harmonia que deve reinar entre todos os membros da equipe de
passistas, para que o ambiente espiritual, a psicosfera em que atuam se mantenha, durante
todo o trabalho, propícia à efetiva prestação de auxílio aos necessitados.
Neutralizar antipatias e eventuais dissensões, relevando as faltas do companheiro,
compreendendo a necessidade do cultivo da amizade e da bondade em proveito de seu
crescimento espiritual, eis a agenda do médium passista consciente.
*
No serviço de passes, propriamente, embora cada Comunidade Espírita tenha suas normas de
trabalho, alguns lembretes de ordem geral podem apresentar-se úteis a um eficaz programa
de atendimento espiritual.
1. Preparação
2. Momento inicial
3. Modo de operação
O modo de administração do passe tem sido ainda objeto de algumas controvérsias, mas
partindo do princípio de que Espiritismo é, acima de tudo, bom-senso, impõe-se, desde logo,
reconhecer que o importante nessa operação é o pensamento do passista, e não, seus gestos.
Assim, em havendo a força mental totalmente dirigida à recuperação e ao bem-estar do
paciente, basta a imposição das mãos sobre sua cabeça e, eventualmente sobre alguns centros
de força do perispírito, de acordo com a intuição, para que os bons resultados logo se façam
sentir, mercê da atuação dos Agentes Espirituais. (16)
(16)
A imposição das mãos, para alívio e cura, é um processo conhecido desde a Antiguidade. Entre os
egípcios, os hierofantes curavam pondo as mãos sobre os doentes. No Antigo Testamento há citações a
respeito (2 Rs. 5.11). Já a história de Jesus é bem marcada por curas que o Mestre realizava com a simples
imposição das mãos sobre a cabeça do enfermo (Mat. 8.3; Luc. 4.40, etc.), ocorrendo o mesmo com seus
servidores (AT. 9-17; AT. 28-8, etc.). Na Grécia, esse recurso terapêutico era também conhecido. E na Idade
Média até alguns reis ganharam fama pelas curas que realizavam pelo toque, correspondendo, assim, à
tradição de que eram detentores de poderes especiais...
4. Deveres e cuidados
Cabe, por fim, referência a alguns itens de relevante importância para o tarefeiro
comprometido com o serviço de passes.
O médium passista, onde estiver, deve sempre guardar consciência de sua responsabilidade
como instrumento de auxílio e cura, buscando sempre estar na melhor condição de servir à
Espiritualidade Superior, cuidando de sua saúde física e mental, para que os abusos de
alimentação e os desequilíbrios emocionais não turvem sua capacidade e obrigação de bem
servir aos Mestres que nele confiam.
Tenha-se presente, a propósito, a importância da leitura frequente e sistemática dos ensinos
espíritas, como poderoso instrumento de aprendizagem de que dispomos para o maior
aperfeiçoamento e equilíbrio.
Na administração do passe, cabe ao médium lembrar, constantemente, que se encontra
desempenhando uma tarefa sagrada, devendo cuidar para que o pensamento, seu ou
insinuado, seja o mais digno e fraterno.
Operando com as mãos próximas ao paciente, deve ter o cuidado de não tocá-lo, a não ser
para prestar-lhe auxílio em casos de real necessidade. Como escreveu H. PIRES, “a moral
mediúnica não é, nem pode ser preconceituosa, mas não dispensa medidas de segurança e
defesa em meio à malícia do mundo.” (17)
(17)
PIRES, Herculano J. Mediunidade. 2. ed. São Paulo: PAIDEIA, 1992, p. 79.
Em surgindo, durante o passe, os sinais de que o paciente está sendo mediunizado por algum
Espírito que o acompanhe, cumpre ao passista chamá-lo à consciência, recomendando-lhe
evitar qualquer passividade, totalmente imprópria na sala de passes.
Com efeito, não é raro ocorrer, no caso de pacientes portadores de maior sensibilidade
mediúnica, mas ainda despreparados, a sua repentina mediunização por parte de um Espírito
perturbador ou, mesmo, obsessor, exigindo do passista intervenção segura e firme, com o
apoio dos Operadores Espirituais, no sentido de provocar a reação do médium e o
afastamento da presença inoportuna.
Mesmo quando a mediunização leve ao transe inconsciente, deve o passista ter presente que
no serviço de passes não há lugar para o diálogo, como acontece num trabalho de
desobsessão. Buscar, com absoluta confiança o apoio espiritual, por meio da prece, e impor
ao Espírito perturbador o imediato afastamento, são as medidas indicadas.
Recomendável que antes de cada início de administração de passes, o dirigente convide os
pacientes a permanecer com o pensamento em estado de prece, abrindo seu psiquismo à
ajuda espiritual.
Às mães acompanhadas de crianças ainda acostumadas ao colo, nada impede que recebam o
passe ocupando apenas uma cadeira ou banco. Em se tratando de crianças mais
desenvolvidas, proveitoso que ocupem lugar separado.
Por último, partindo do fato de que a confiança que o paciente possa, eventualmente,
depositar em um passista, abre seu psiquismo à melhor recepção dos benefícios que lhe são
dispensados, não há por que impedir que procure posicionar-se como pretende, junto ao
médium de sua escolha, desde que possível e nenhuma perturbação cause.
III- OCORRÊNCIAS NEGATIVAS
Na atividade mediúnica registram-se, por vezes, algumas ocorrências que devem merecer
toda a atenção por parte dos dirigentes, dado o prejuízo que podem causar, comprometendo o
programa de trabalho.
Alinham-se entre esses eventos negativos, principalmente, a mistificação, a fraude e a
obsessão.
MISTIFICAÇÃO
FRAUDE
*
Importante ressaltar aqui, diante da tendência de generalizar, que se detecta na prática
mediúnica, confundindo mistificação com fraude e, estas, com o animismo, (2) as marcantes
diferenças existentes entre esses tipos de ocorrência.
(2)
V. Cap. Transe – Transe Anímico.
De fato, se a mistificação — exaustivamente estudada por KARDEC (3) refere-se a atitudes
enganosas do Espírito, que se apresenta com falsa identidade e com falso saber, e se a fraude
diz com o médium que, geralmente em fase de intermitência mediúnica ou de crise, simula
estar mediunizado, movido pela insegurança ou vaidade, no animismo, não se registra a
intenção de enganar, propriamente; ao contrário, o médium liberando, conteúdos
subconscientes reprimidos, manifesta-se extramediunicamente, às vezes, em interessante
processo de ab-reação, segundo a linguagem psicanalítica, que lhe faculta descarregar tais
conteúdos, a lhe dificultarem, momentaneamente, o desempenho da tarefa mediúnica, dado o
bloqueio mental que oferece ao pensamento do Espírito desejoso de comunicar-se.
(3)
V. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, Cap. XXIX.
OBSESSÃO
A obsessão inscreve-se no rol das experiências mais dolorosas do ser humano; constitui, por
isso, capítulo importante do Espiritismo.
Consiste, genericamente, na ação maléfica de um ou mais Espíritos, sobre outro(s), de
nefastas consequências psíquicas - ou psicofísicas, no caso de paciente(s) encarnado(s). (4)
(4)
A Psiquiatria, hoje, já faz a distinção entre o estado de transe normal e o de caráter psicótico. O Código
Internacional de Doenças - CID 10, item F. 44-3, deixa clara a diferença existente entre o transe
característico da mediunização e o que ocorre nos casos patológicos. E, em seu manual de estatística de
desordens mentais, a Associação Americana de Psiquiatria — DSM IV — alerta os médicos para que não se
equivoquem em seus diagnósticos, confundindo esses tipos de ocorrência.
Suas causas são sempre de ordem moral e embora, às vezes, se nos escapem a uma melhor
compreensão, seus perigosos efeitos já são bem conhecidos.
Relaciona-se, comumente, com os desejos de vingança, mas pode ligar-se também à simples
vontade de prejudicar, ou a outros motivos. De qualquer forma, não deixando de considerar
que a obsessão “é sempre uma prova, nunca um acontecimento eventual”, como indica
Emmanuel. (5)
(5)
XAVIER, Francisco C.; Espírito EMMANUEL. O Consolador. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1993, item
393.
Impõe-se lembrar também, o aviso de ANDRÉ LUIZ, de que “toda obsessão tem alicerces na
reciprocidade”. (6)
(6)
XAVIER, Francisco C.; Espírito André Luiz. NOS Domínios da Mediunidade, p. 218.
Nessa direção, aliás, o notável Instrutor nos transmite esclarecimento dos mais preciosos:
(7)
XAVIER, Francisco C.; Espírito André Luiz. NOS Domínios da Mediunidade, pp. 119 e 120, Cap. 13.
A obsessão é fenômeno dos mais complexos e, na verdade, ainda é cedo para que se
alcancem conclusões que digam com todos os seus aspectos, embora a literatura espírita já
mostre importantes trabalhos a respeito, todos de inegável valor científico.
Assim, já se podem catalogar os principais tipos de obsessão, as causas, as formas como
ocorrem, os modos e técnicas de obsessão, as fases, os efeitos, revelando toda a sua
gravidade, e a extrema necessidade que temos de sempre pautar o reto caminho da bondade,
da humildade, da honestidade, da legítima fraternidade, buscando servir e ajudar onde
estivermos, a começar pelo nosso lar, apagando débitos e malquerenças do passado e
impulsionando nosso aprimoramento espiritual, a fim de que o sofrimento desapareça
definitivamente de nosso horizonte evolutivo.
Em relação à mediunidade, propriamente, impõe-se examinar os tipos de obsessão mais
suscetíveis de ocorrer no serviço mediúnico, com graves prejuízos, como visto, para o futuro
do medianeiro.
Antes, porém, para uma melhor compreensão do tema, impõe-se analisar, ainda que
superficialmente, as técnicas empregadas pelos obsessores, tão mais sofisticadas, quão maior
a sua experiência no patrocínio do mal.
TÉCNICAS DE OBSESSÃO
TÉCNICAS DE OBSESSÃO:
PERSUASÃO
INFLUENCIAÇÃO TELEPÁTICA
HIPNOTISMO
SOLDADURA PERISPIRÍTICA DE
INFECÇÃO FLUÍDICA
MANIPULAÇÕES ECTOPLÁSMICAS
PROVOCAÇÃO DE REFLEXOS ANÍMICOS
PROVOCAÇÃO DE EFEITOS SENSITIVOS PARTICULARES
Persuasão
Influenciação telepática
Esse tipo de ação obsessiva, quase imperceptível ao encarnado, é, por isso mesmo, das que
mais devem preocupar. “Não se sabe” - ressalta ANDRÉ Luiz, por intermédio de F. C.
Xavier e Waldo Vieira - “O que tem causado maior dano a Humanidade: se as obsessões
espeta-culares, individuais ou coletivas, que todos percebem e ajudam a desfazer ou isolar,
ou se essas meio-obsessões de quase obsidiados, despercebidas, contudo bem mais
frequentes, que minam as energias de uma sô criatura incauta, mas influenciando o roteiro de
legiões de outras”.
Como em outros casos, nem sempre o agente responsável tem consciência da influência que
exerce e o mal que causa.
De outras vezes, porém, não só o obsessor é consciente, como ardiloso, preparando a
ocorrência “com antecedência e meticulosidade, às vezes, dias e semanas antes do sorrateiro
assalto, marcado para a oportunidade de encontro em perspectiva, conversação, recebimento
de carta, clímax de negócio ou crise imprevista de serviço”. (9)
(9)
V. XAVIER Francisco Cândido. Vieira, Waldo. Espíritos Emmanuel e André Luiz. Estude e Viva. 7. ed.
Rio de Janeiro: FEB, 1993, pp. 203 Cap. 35.
Hipnotismo
Como técnica de obsessão destaca-se como das mais usadas. Surge, na verdade, como uma
fase mais adiantada na escala das influenciações telepáticas, sabendo-se, entretanto, que no
processo hipnótico, em termos espirituais, já comparece também certo envolvimento
magnético, proporcional, sempre, à intensidade do domínio obsedante. (10)
(10)
Em se tratando de domínio hipnótico, ocorrências há que surpreendem até os mais experimentados
pesquisadores. Entre essas, por exemplo, os casos de zoantropia, em que o Espírito, sob indução hipnótica,
passa a assumir a forma animal (lobo, cobra, macaco, etc.), chegando mesmo, às vezes, nas reuniões
mediúnicas, a com¬portar-se como tal.
Hipnotizadores e magnetizadores experimentados - porém, ainda a serviço do mal - usam de seus recursos
para levar a vítima a degradar-se perispiriticamente e a assumir a forma que lhe é induzida, fenômeno
possível graças à plasticidade, uma das mais importantes propriedades do corpo espiritual.
Tais casos devem, naturalmente, merecer o maior cuidado por par-te dos dialogadores, nas reuniões de
desobsessão, a fim de que o Espírito possa livrar-se do domínio que o aflige, retornando ao seu estado
normal.
Interessante lembrar que também pessoas encarnadas, dadas as suas condições, podem estar sujeitas a esse
tipo de ação obsessiva, passando a comportar-se como um animal e a requisitar, quase sempre, com a
assistência espiritual, o devido tratamento psiquiátrico. (Observe-se, a propósito, que casos como esse
chegaram, até, a ganhar registro bíblico, como, por exemplo, se vê em Daniel, referindo-se a
Nabucodonosor, que, durante sete anos, viveu como animal — Dn 4.29 a 34)
Soldadura perispirítica
Infecção fluídica
Fenômeno dos mais comuns, tal como a infecção de natureza física, a infecção fluídica pode,
também, ás vezes, ser usada como recurso de agravamento do processo obsessivo. Pelas
informações que se colhe na literatura espírita mediúnica, é possível considerar que a
infecção fluídica - expressão cunhada por ANDRÉ LUIZ - deva ser atribuída a diversos
fatores, entre os quais, a projeção obsessiva de formas-pensamento, a canalização de
emanações deletérias e a transmissão ou implantação de germens psíquicos.
No primeiro caso, a mente da vítima é infestada por formas-pensamento de teor altamente
maligno, insistentemente projetados pelo obsessor, que pode até causar prejuízos
psiconervosos de dificílima reversão.
Formas-pensamento com tal poder de dano não se confundem com as formas mentais
comumente produzidas por encarnados e desencarnados. São produto de inteligências
treinadas, quase sempre cultivadas, do ponto de vista intelectual, mas tristemente
descuidadas de sua evolução moral, cujas criações malignas são marcadas por especial
intensidade e persistência.
Na infecção causada por emanações deletérias, Espíritos com graves desequilíbrios
psíquicos, que mostram no perispírito as mazelas que os refletem, transmitem aos pacientes
sujeitos à sua influência - voluntária ou involuntariamente, por si ou sob o comando de
terceiros - as forças deletérias que liberam, causando efeitos os mais nocivos e dolorosos.
Com efeito, impregnando o perispírito do obsidiado com as emanações enfermiças que dele
emanam, o obsessor, pouco a pouco, atinge não só a resistência psíquica do paciente (por
comprometimento funcional dos centros coronário e cerebral), como, de consequência, o seu
próprio sistema imunológico, de sorte que, sob a ação de tal processo de contaminação
fluídica, passa este a apresentar, com o tempo, sinais que correspondem ao estado doentio do
agente, podendo o quadro evoluir para situações de morbidez em que o prognóstico de cura
se torna até difícil, se não for considerado o aspecto espiritual, fundamental no caso.
Na infecção causada por germens psíquicos, “micro-organismos” produzidos por mentes
enfermiças, (11) servem ao surgimento de todo um elenco de moléstias, muitas das quais, nem
sequer catalogadas no repertório patológico atual.
(11)
O Espírito André Luiz, em suas obras, designa-os como bactérias, larvas ou bacilos mentais, associados,
todos, à patogenia da alma.
Em outra passagem, explanando o tema, comenta o destacado Instrutor que “se temos a
nuvem de bactérias produzidas pelo corpo doente, temos a nuvem de larvas mentais
produzidas pela mente enferma, em identidade de circunstâncias. Desse modo, na esfera das
criaturas desprevenidas de recursos espirituais, tanto adoecem corpos, como almas. No
futuro, por esse mesmo motivo, a medicina da alma absorverá a medicina do corpo”. (13)
(13)
Xavier, Francisco Cândido. Espírito, André LUIZ. Os Mensageiros. 27. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994,
p. 2 1 1 , Cap. 40.
Manipulações ectoplásmicas
Operando com o ectoplasma disponibilizado, geralmente, pelo próprio obsidiado, seu
obsessor - acompanhado por vezes por outros Espíritos - atua sobre a vítima, produzindo
uma série de efeitos físicos que podem até atormentá-la por longo tempo.
É o que ocorre, por exemplo, no endoporte e nas ocorrências Poltergeist. (14)
(14)
V. Cap. Ectoplasmia, Endoporte e Poltergeist.
Tipo de ação exercida por agentes obsessores, aproveitando-se das potencialidades sensitivas
e mediúnicas dos pacientes, para provocar-lhes sensações, não só desagradáveis, como, às
vezes, até bem dolorosas. (16)
(16)
V. lâ Parte, Cap. IV, Mediunidade - Sensitívidade.
Casos há em que o paciente passa a sentir dores constantes em certa parte do corpo, como se
fossem sintomas de alguma enfermidade, mas cuja origem acaba sendo inexplicável.
Tal processo, porém, não se restringe à geração de sintomas de doenças fantasmas.
Acontece, muitas vezes, serem ativadas, por meio de ação magnética dirigida
particularmente ao centro cerebral, faculdades específicas do sensitivo, que então passa a
ouvir, por exemplo, ruídos, gargalhadas, vozes estranhas, zombeteiras ou ameaçadoras, como
que vindas dó exterior ou produzidas dentro do próprio cérebro (uma espécie de
“pensamento sonorizado”, segundo palavras de Francisco C. XAVIER), ou a ver imagens
assustadoras, ou, ainda, a sentir incessantes odores nauseabundos, sem que seja definida sua
origem.
Trata-se, infelizmente, de mais um arsenal de recursos obsessivos, que Inteligências
maldosas e bem treinadas utilizam para martirizar suas vítimas - e os que com elas se
encontram envolvidos -, por vingança ou por simples vontade de prejudicar, sempre, porém,
de acordo com a lei da sintonia mental.
TIPOS DE OBSESSÃO
TIPOS DE OBSESSÃO
ORDINÁRIA
INFLUENCIACÃO SUTIL
VOLUNTÁRIA
INVOLUNTÁRIA
INFLUENCIAÇÃO OSTENSIVA
NO EXERCÍCIO MEDIÚNICO
FORA DO EXERCÍCIO MEDIÚNICO
COM MANIFESTAÇÃO FÍSICA
COM EFEITOS SENSITIVOS ESPECIAIS
FASCINAÇÃO
NO EXERCÍCIO MEDIÚNICO
FORA DO EXERCÍCIO MEDIÚNICO
SUBJUGAÇÃO
CONSTRIÇÃO PSICONERVOSA
VAMPIRISMO AGUDO
POSSESSÃO
NOCTÍPICA
SIMBIÓTICA
PARASITÁRIA: VAMPIRISMO
PSICOFÍSICO MENTAL
CONSCIENTE
INCONSCIENTE
Obsessão ordinária
Geralmente, é temporária, podendo surgir como influenciação sutil ou como influenciação
ostensiva.
Influenciação sutil - É a mais frequente, embora não menos perigosa. Caracteriza-se esse
tipo de influenciação por uma ação mental discreta e persistente sobre o paciente, quase
sempre a distância, em seus começos, crescendo em intensidade à medida que suas
resistências vão sendo minadas. Pode, por isso, tornar-se muito perigosa se ausente a
autovigilância, porque serve ao desenvolvimento de processos mais avançados de obsessão.
Começa como mera insinuação mental e conforme a passividade oferecida, pode
transformar-se em forma disfarçada de domínio, cujas repercussões psicofísicas soem ser
geralmente danosas.
(18) XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Espírito ANDRÉ LUIZ. Estude e Viva. 7. ed. FEB,
1993, p. 202, Cap. 35.
Cita o referido Autor outros sintomas que podem sugerir a existência dessa influenciação
sutil, entre eles “a indisposição para orar”, “tristeza inexplicável”, “pessimismos sub-
reptícios”, “exageros de sensibilidade e aptidão a condenar quem não tem culpa”,
“hiperemotividade ou depressão raiando na iminência do pranto”.
Tais manifestações, segundo o renomado Instrutor Espiritual, refletem sempre
“acompanhamentos discretos e eventuais por parte do desencarnado e imperceptíveis ao
encarnado pela finura do processo”.
(19) XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Espírito ANDRÉ LUIZ. Estude e Viva. 7. ed. FEB,
1993, p. 203, Cap. 35.
“Na obsessão simples o médium sabe muito bem que se acha presa de um Espírito mentiroso
e este não se disfarça; de nenhuma forma dissimula suas más intenções e o seu propósito de
contrariar. O médium reconhece sem dificuldade a felonia e, como se man-tém em guarda,
raramente é enganado. Este gênero de obsessão é, portanto, apenas desagradável e não tem
outro inconveniente, além do de opor obstáculo às comunicações que se desejara receber de
Espíritos sérios, ou dos afeiçoados.” (20)
(20)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, p. 307, Cap. XXIII, 2- Parte, item 238.
(21)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, p. 307, Cap. XXIII, 2- Parte, item 238.
Outras vezes, como já referido quando do exame das técnicas obsessivas (provocação de
efeitos sensitivos particulares), essas manifestações apresentam caráter mais subjetivo,
aparecendo na forma de (b) efeitos sensitivos especiais (sons, imagens, sensações), os quais,
embora temporários, podem causar dores e mal-estares.
Fascinação
Tipo mais grave de obsessão, a fascinação é basicamente uma ilusão produzida na mente do
paciente pela ação direta do agente obsessor. Utilizando técnicas telepáticas, o obsessor
passa a dominar o pensamento da vítima com sugestões de grandeza que, agasalhadas por
seu orgulho, podem levá-la até à própria desestabilização psíquica.
Tal processo pode ocorrer, também, tanto no exercicio mediúnico, como fora dele.
No exercício mediúnico - Kardec analisou de perto a fascinação na mediunidade e deixou
balizas tão seguras a respeito que, século e meio depois, permanecem intocáveis. “O médium
fascinado”, ensina o Codificador, “não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a
arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o
absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente. A ilusão
pode mesmo ir até ao ponto de fazê-lo achar sublime a linguagem mais ridícula.” (22)
(22)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, item 239, p. 308.
Para atingir seu objetivo, o obsessor usa a máscara da virtude para fazer-se acolhido. Elucida
KARDEC:
“Os grandes termos - caridade, humildade, amor de Deus - lhe servem como que de carta de
crédito, porém, através de tudo isso, deixa passar sinais de inferioridade, que só o fascinado é
incapaz de perceber. Por isso mesmo, o que o fascinador mais teme são as pessoas que vêem
claro. Daí o consistir a sua tática, quase sempre, em inspirar ao seu intérprete o afastamento
de quem quer que lhe possa abrir os olhos.” (23)
(23)
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, item 239, p. 308.
Subjugação
Apresenta-se a subjugação sob várias formas. Basicamente, é possível admitir que ela possa
se manifestar como uma severa constrição psiconervosa, como vampirismo agudo ou como
possessão.
ANDRÉ LUIZ, relatando um caso de vampirismo sexual, em que o paciente “se deixava prazerosamente
(25)
senhorear” pelo obsessor - no desejo, ambos, de possuírem sexualmente, a filha adotiva daquele - designa tal
tipo de ocorrência como “possessão partilhada”. Xavier, Francisco Cândido. Vieira, Waldo. Espírito
ANDRÉ Luiz. Sexo e Destino. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1995, Cap. VIII, p. 82.
Possessão - Esse tipo de subjugação - raro, felizmente - comparece como a mais funesta das
formas de obsessão. (26)
(26)
V. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Itens 473 a 480, Cap. IX, Livro Segundo.
Nesse tipo de obsessão, verifica-se o mais alto grau de constrangimento que um Espírito
pode impor ao obsidiado. Manifesta-se de diversas formas: desde aquelas em que o Espírito
se apossa provisoriamente das faculdades psíquicas do paciente, em processo que não chega
a causar dano maior à integridade psicofísica do paciente, até as gravíssimas ocorrências
catalogadas pela medicina como casos de epilepsia essencial, a traduzirem, muitas vezes,
como descreve ANDRÉ LUIZ, situações de possessão completa, certamente, a mais grave
das obssessões.
É que, envolvendo mentes desequilibradas presas “às teias de ódio recíproco”, em doloroso
processo marcado pelo “bombardeio de emissões magnéticas de natureza tóxica”, por parte
do perseguidor, e afetando, por via do perispírito, as células do córtex, os centros motores, as
camadas mais profundas do cerebelo, provocam “estranhas transformações nos neurônios”,
inibindo totalmente “o delicado aparelho encefálico”, desorganizando os centros da memória
e da fala, “perturbando as vias de equilíbrio”, “destrambelhando a tensão muscular, e
determinando, enfim, as convulsões, “nas quais o corpo físico, prostrado, vencido, mais se
assemelha à embarcação repentinamente à matroca”. (29)
(29)
XAVIER, Francisco Cândido. Espírito ANDRÉ LUIZ. No Mundo Maior. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB,
1995, pp. 116 a 118, Cap. 8 — Nos Domínios da Mediunidade, pp. 79 e 80.
*
Outras espécies de ocorrência, como visto, também compõem o elenco geral dos tipos de
obsessão: obsessão noctípica, a obsessão simbiótica e a parasitária.
A primeira é assim denominada por manifestar-se durante o estado de sono, podendo, até, de
acordo com a frequência, causar padecimentos emocionais e físicos. Quase sempre, porém,
não chega a ocorrer um registro onírico com intensidade suficiente para ser lembrado,
embora se manifestem, depois, seus efeitos deletérios. (31)
(31)
Tal fato ensejou o surgimento da expressão “obsessão onírica", em-pregada por alguns autores.
Na obsessão simbiótica, o processo obsessivo é marcado pela dependência recíproca dos
Espíritos envolvidos, os quais, em regime de trocas de natureza mental, desenvolvem um
tipo altamente perigoso de associação, suscetível de chegar a um estado de soldadura
perispirítica, gravemente comprometedor.
O processo simbiótico é dos mais perniciosos e tam-bém de mais difícil solução, devido à
interdependência psíquica que se estabelece entre as mentes envolvidas.
“Temos acompanhado casos” — assinala ODILON FERNANDES, pela mediunidade de
Carlos A. A - “nos quais obssessor e obsidiado permanecem tão interligados no processo
simbiótico a uni-los, que não suportam a separação, à maneira de xifópagos, que renascem
com este ou aquele órgão em comum”. (32)
(32)
BACCELLI, Carlos A. Espírito ODILON FERNANDES. Mediunidade e Obsessão. Votuporanga (SP):
DIDIER, 1996, p. 63.
Esses dramas obsessivos, na maioria das vezes, como mostram os inúmeros relatos presentes
na literatura espírita, só se resolvem pela reencarnação conjunta.
Já na obsessão parasitária - da mesma forma como ocorre nos reinos vegetal e animal, em
que parasitos agridem o hospedeiro, sugando-lhes a vitalidade -, almas enfermas,
aproveitando-se das condições parasito- gênicas, que as qualidades morais de pacientes
invigilantes propiciam, podem, em processo de vampirismo espiritual, justapor-se ao
perispírito deles, sugando-lhes as energias, infectando-os com seus miasmas e alterando-lhes,
seriamente, o equilíbrio fisiológico e mental.
“Justapõem-se (os obssessores) à aura das criaturas que lhes oferecem passividade e,
sugando-lhes as energias, senhoreiam-lhes as zonas motoras e sensórias, inclusive os
centros cerebrais, em que o espírito conserva eis suas conquistas de linguagem e
sensibilidade, memória e percepção, dominando-as à maneira do artista que controla as
teclas de um piano, criando, assim, no instrumento corpóreo dos obsessos, as doenças-
fantasmas de todos os tipos que, em se alongando no tempo, operam a degenerescência dos
tecidos orgânicos, estabelecendo o império de moléstias reais, que persistem até a morte.
Nesse quadro de enfermidades imaginárias, com possibilidades virtuais de concretização e
manifestação, encontramos todos os sintomas catalogados na patogenia comum, da simples
neurastenia à loucura complexa e do distúrbio gástrico habitual à raríssima afemia
estudada por Broca.” (34)
(34)
XAVIER, Francisco Cândido. Espírito Francisco de Menezes DIAS DA CRUZ. Instruções Psicofônicas,
p. 228, Cap. 51.
**
Importante, finalmente, examinar para os devidos cuidados, os diversos momentos ou fases
que se detectam no processo de atuação obsessiva, quais sejam, o de insinuação, de assédio,
de conexão mental e de domínio.
***
Possível, já, entender pelo exposto, quão graves podem comparecer os efeitos do processo
obsessivo.
Realmente, a atuação do obsessor pode comprometer seriamente o equilíbrio psicofísico de
quem a sofre, atingindo, de início, os centros coronário e cerebral e, depois, os demais,
causando a alteração do comportamento psíquico do paciente. Instalado o processo de
perturbação, abre-se a porta de acesso aos distúrbios da saúde, e, se persistente, passa a
comprometer cada vez mais o sistema defensivo, facilitando, assim, o surgimento e o
agravamento de males orgânicos.
*
Da simples insinuação à completa dominação da vontade desdobra-se dolorosamente o
processo obsessivo, ainda que o paciente, mormente nos períodos iniciais, tente muitas vezes
reagir.
É que, também, não basta a consciência do envolvimento e a vontade de se livrar, sem uma
efetiva mudança da postura moral, como, a propósito, ensinava o apóstolo da caridade, Dr.
BEZERRA DE MENEZES, quando ainda encarnado:
“O uso que fazemos do nosso Iivre-arbítrio, na repulsão daquela causa perturbadora, pode
ser eficaz ou inútil, conforme a natureza dos nossos sentimentos. Se forem bons, a nossa
resistência rechaçará todos os ataques do inimigo. Se forem maus, serão ventos a
auxiliarem as correntes do inimigo. Cada um de nós forma sua atmosfera moral, dentro da
qual somente podem penetrar Espíritos da nossa natureza, que são os únicos que a podem
respirar.” (35)
(35)
MENEZES, Adolfo Bezerra de. A Loucura sob Novo Prisma. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1963, p. 158,
Cap. III.
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