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ADAUTO RAMOS - Nascido no Engenho

Cafundó, Sobrado -PB a 21.02.1938, filho de Cândido


de França Ramos e de Luiza Guedes Ramos. Poeta,
Genealogista e Biógrafo. Graduado em Odontologia
pela UFPB em 1966. Exerceu a profissão em Sobrado,
Sapé, Natuba, Umbuzeiro e João Pessoa-PB.
Professsor de Ciência Físicas e Biológicas em
Cabedelo, João Pessoa, Sapé, Natuba e Umbuzeiro. É
membro da API, do Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano, do Instituto Paraibano de Genealogia e
Heráldica, do Colégico Brasileiro de Genealogia-RJ, do
Instituto de Estudios Genealógicos y Heráldicos de la
Provincia de Buenos Ayres-Argentina e da Academia
Paraibana de Odontologia, cadeira n°1.
Foi agraciado com a Comenda do Mérito
Cultural José Maria dos Santos pelo IHGP e com o
Colar Cruz do Alvarenga e dos Heróis Anônimos, do
I.H.G.G. de Sorocaba - SP.
Adauto Ramos

A bandeira
paraibana de 1817

Paraíba - 2010
©Copyright 2010 by Adauto Ramos

Um pesquisador e um opúsculo

Luzilá Gonçalves Ferreira*


Digitação:
Armênia Pinto
Este opúsculo é mais uma realização de um pesquisador como existem
Editoração Eletrônica: poucos. Seu autor alia a uma grande paixão por antigos documentos e
Fabiana Gomes pelo que eles podem revelar de nosso passado, um passado não
inteiramente conhecido, uma grande generosidade. Assim é que, dia pós
dia. Adauto Ramos busca, com afinco e paciência, em velhos jornais, em
livros esquecidos, um fato, um detalhe da História, que esclarece e abre
caminho para novas pesquisas. E estas descobertas ele as reparte com
RAMOS, Adauto quem o deseja: organiza os dados, dá-lhes formato de livro, imprime ele
A bandeira paraibana de 1817 /Adauto Ramos próprio o texto resultante. E faz presente dele e amigos ou outros
—Paraíba: Sal da Terra Editora - 2010. pesquisadores.
Desta vez Adauto se debruça sobre a história das bandeiras da Paraíba
1. História da Paraíba e de Pernambuco e sobre o modo como, por algum tempo, elas foram
tão semelhantes. Vai buscar os documentos que as descrevem e as
28p. regulamentaram. Transcreve pareceres, antigos de historiadores e o
resultado aqui está: um opúsculo revelador, que se lê rápido e que nos
r Edição informa, em algumas páginas, sobre um momento importante da vida de
nossos estados, quando nossos destinos se cruzaram.

Proibida a reprodução parcial ou integral desta publicação. Parabéns, Adauto, por mais esse trabalho de pesquisa e de
por qualquer meio, sem a prévia autorização escrita do autor. generosidade. A História do Nordeste lhe agradece.

Impresso no Brasil - Printed in Brazil Recife, outubro de 2004


Foi feito o depósito legal

Sal da 7ema
Rua São Miguel, 174, Varadouro, João Pessoa — PB 58010 — 270 *Romancista, pesquisadora e Presidente do Instituto Arqueológico,
Telefone/Fax (83) 3222.5016— E mail: graficasaidaterraWhotmail.com
Histórico e Geográfico Pernambucano
A bandeira
paraibana de 1817

Viva a Paraíba

Nós os do Governo Provisório da Paraíba


do Norte estabelecendo a bandeira, que deve
usar a nossa Província da Paraíba de união e
amizade com o Estado de Pernambuco, visto
que a bandeira de Pernambuco é branca com
um listão azul, decretamos que a nossa ban-
deira seja só branca com as mesmas armas de
Pernambuco servindo unicamente de distintivo
não ter o listão azul.

Casa do Governo Provisório da Paraíba, 1°


de abril de 1817. 0 1° da Independência.

(a.) Inácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão


(a.) Francisco Xavier Monteiro da Franca
(a.) Francisco José da Silveira
(a.) O Padre Antônio Pereira de Albuquerque de Melo

5
A REVOLUÇÃO DE 1817
Foi movimento nacionalista em que teve por base o clero e a
maçonaria, cuja pretensão era instalar uma República brasileira,
expurgando o domínio português. A implantação do Seminário Episcopal
de Nossa Senhora das Graças, em Olinda, em 1800, pelo Bispo de
Pernambuco, D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho (1742 —
1821), contribuiu de forma decisiva para os ideais de liberdade. Foi "a
escola brasileira de boas maneiras e adiantamento político", citação de
Oliveira Lima. A fundação do Areópago de També, pelo paraibano Manoel
de Arruda Câmara, e de varias lojas maçônicas, muito contribuíram para
a difusão das idéias de liberdade inspiradas no lema da Revolução
francêsa: "liberdade, igualdade e fraternidade". Tão grande foi a
participação do clero que foi chamada "a Revolução dos Padres".

A restauração pernambucana, em 1654, fez nascer nos nordestinos


o sentimento de nacionalidade, pois a expulsão dos holandeses trouxe a
Bandeira pernambucana de 1817
idéia de Pátria.

Pessoas como Domingos José Martins, comerciante, maçon, com


prestigio internacional pelas relações que contava, "tinha comércio com
vários poises". Viajara à Europa e na volta fundara a loja "Pernambuco
do Ocidente", em Recife no ano de 1814. Também nesta época foi
fundada a Loja "Pernambuco do Oriente" pelo comerciante Antonio
Gonçalves da Cruz — o Cabugá.

Surgiram outras lojas não só em Pernambuco, mas também na


Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O Seminário e a Maçonaria foram,
portanto as células de difusão do sentimento patriótico de libertação:
tramava-se em seus seios uma conspiração libertadora.

Pernambuco era governado pelo Capitão General Caetano Pinto


de Miranda Montenegro quando, na festa de Nossa Senhora, em Estância,
Recife, onde anualmente se comemorava a expulsão dos holandeses, um
negro oficial do Regimento dos Henriques, esmurrou um português que
Bandeira paraibana de 1817 proferia palavras injuriosas contra brasileiros. Eram constantes as

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marinheiro" ecoou mais forte pelas ruas recifenses. O capitão Domingos
desavenças entre brasileiros e portugueses; o grito de "mata marinheiro" Teotônio comandando uma tropa e Domingos Martins armado com um
era o desacato dos nacionalistas contra o luso dominador. O episódio de barca marte, estimulava a todos com frases adaptadas, isto aos 06.06.1817.
Estância foi levado ao conhecimento do Governador pernambucano, e Uma bandeira toda branca tremulava como símbolo da Revolução.
este fez publicar uma ordem do dia em que conclamava brasileiros e
portugueses a viverem em harmonia. Porém, as divergências continuaram No dia seguinte, com a cidade tomada, os cabeças da sublevação
e cada vez mais acirradas. apresentaram um ultimato ao Governador, que refugiado no forte do
Brum, aceitou as condições de rendimento, evitando mais derramamento
Os nativistas, ou "Patriotas", se reuniam, comunicavam-se com seus de sangue. Caetano Pinto foi então deportado para a Corte e a tropa, de
companheiros do interior e das outras capitais, até que, um comerciante 150 homens aquartelada no Brum, se juntou aos Patriotas.
abastado, português, de nome Manoel de Carvalho Medeiros — o
Carvalhinha, dirigiu-se ao Ouvidor do Comando do Sertão e denunciou a Feita a captulação e senhores da situação os líderes fizeram uma
conjuração que se formava contra a Coroa. Foram delatados: Domingos proclamação à população, "que foi lida pelas ruas a tom de caixa".
José Martins, Padre João Ribeiro Pessoa, Antonio Gonçalves Cruz e mais
alguns oficiais do Regimento pernambucano. O Ouvidor levou ao "Nós abaixo assinados, presentes para votarmos na nomeação
conhecimento do Governador a denúncia e este convocou a Conselho os de um govêrno provisório para cuidar da causa da Pátria, declaramos
oficiais Generais portugueses que se encontravam no Recife. O Conselho à face de Deus que temos votado, e nomeado os cinco patriota
acatou a denúncia e foi decretada a prisão dos seguintes nativistas: seguintes: da parte do eclesiástico o patriota João Ribeiro Pessoa de
1 — Padre João Ribeiro Pessoa de Mello Montenegro Melo Montenegro; da parte militar o patriota capitão Domingos
2 — Domingos José Martins Teotônio Jorge Martins Pessoa; da parte da magistratura o patriota
3 — Antônio Gonçalves da Cruz José Luiz de Mendonça, da parte da agricultura o patriota coronel
4 — Capitão Domingos Teotônio Pessoa de Melo Manoel Correia de Araújo, e da parte do comércio o patriota
5 — Capitão José de Barros Lima (Leão Coroado) Domingos José Martins: e ao mesmo tempo todos firmamos esta
6 — Capitão Pedro da Silva Pedroso nomeação, e juramos de obedecer a êste govêrno em fedas as suas
7 — Tenente-Secretário José Marinho de Albuquerque deliberações, e ordens. Dado na casa do Erário às doze horas do
8 — Ajudante de Infantaria Manoel de Souza Teixeira (futuro Barão dia 7 de março de 1817. E eu Maximiano Francisco Duarte escrevi.
de Capibaribe). Assinados — Luiz Francisco de Paula Cavalcanti —José Inácio Ribeiro
de Abreu e Lima — Joaquim Ramos de Almeida — Francisco de Brito
Eram todas pessoas benquistas e estimadas, tantos os civis como os
Bezerra Cavalcanti d'Albuquerque — Joaquim José Vaz Salgado —
militares. A prisão dos acusados gerou confusão, desentendimentos e morte. Antonio Joaquim Ferreira de S. Paio — Francisco de Paula Cavalcanti
Sabedor dos acontecimentos o Governador Caetano Pinto reuniu uma tropa — Felipe Nery Ferreira — Joaquim d'Anunciação Siqueira — Tomaz
e, com a família, se recolheu à fortaleza do Brum. Estabeleceu-se no Recife Ferreira Vila Nova —José Maria de Vasconcelos Bourbon — Francisco
um clima de terror contra os portugueses, que se refugiaram em embarcações, de Paula Cavalcanti Junior— Tomaz José Alves de Siqueira —João de
fugiam para outros lugares ou se trancavam em suas casas. Os sinos das Albuquerque Maranhão — João Marinho Falcão."
igrejas badalavam, os militares se dirigiam aos quartéis, prisões foram abertas
e criminosos armados provocaram terror na população. O grito "mata
Este foi o governo revolucionário provisório instalado no Recife. A
bandeira toda branca foi substituída por outra, como veremos em seguida,
traduzindo os ideais da Revolução republicana, defragada prematuramente
por ter sido demunciada. A contra — Revolução em Pernambuco veio pelo
bloqueio do porto do Recife, feita por embarcações de guerra, enviadas
pelo Governador da Província da Bahia, o Conde dos Arcos.

Texto fac-similar do livro BANDEIRA DE PERNAMBUCO,


do escritor Leonardo Dantas da Silva

ma bandeira tôda branca substituiu. desde os pri-


meiros momentos, o pavilhão nacional do Reino
I
Unido de Portugal, Brasil e Algarves, criado pelo
decreto de 13 de maio de •i816. Ao descrever os acontccimen-
tos do dia 6 de marco, Muni:;. Tavares, informa que .as tropas
de Domingos Teotônio Jorge traziam arvorada urna bandeira
branca em ver da real'. Também rla Paraíba confirma o meri•
mo autor: "A bandeira branca, símbolo da insslirreição, foi
,:;-ada com estrondosos vivas da multidão que não ficou ocio-
sa .r. O mesmo aconteceu na tomada da Fortaleza de Itamaracá,
pelo padre Pedro de Souza Tenério. 4

A bandeira de então, a do Reino Unido de Portugal, Bras i l


e Algarves, era tôda branca, tendo no centro as armas da união,
isto é o escudo das armas de Portugal e Algarves .,icbreposio
as armas do Reino do .Brasil e pi)i- iilobre,

Segundo Tollenare, em suas Notas Dominicais (Revista do


Instituto Arqueológico e Geografido Pernambucano, 61), o
pavilhão branco tinha par fim tornar menos brusca a transição

4_ t.t_d fRvwes pág. 72 (ob.


Domingos José Martins

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juntarem-se muitas outras", na proporção em que outras pro-
e era a bandeira com que "os fortes do Recife anunciavam,
víncias aderissem a nova república. (ob. cit.)
havia muito tempo, o aparecimento de navios na costa e as
embarcações vindas de fora, vendo sempre o sinal acostumado, Muniz Tavares, em sua História da Revolução de Pernam-
entravam sem desconfiança; era isto o que justamente se que- buco em 1817, não se refere ao arco-íris, na descrição que faz
ria, porquanto havia falta de víveres na cidade e se receava da nova bandeira, e o padre Joaquim Dias Martins (Mártyres
que o aspecto de urna nova bandeira assustasse os que tra- Pernambucanos) não menciona a cêr azul, salientando que cons-
ziam". tava do arco-íris tendo sobreposto o sol, e sobreposta a cruz.
ocupando a metade inferior do campo branco e por baixo as
Todavia, esta bandeira provisória, foi aos poucos sendo iniciais S. P. S. L. E."; que repesentam a legenda latina
substituída por outra já escrevendo Tollenare, em 16 de março, Selos populos suprema lex esto.
projeto de um nôvo pavilhão; foi ventilada também a hipótese
da adoção do pavilhão tricolor francês, porém logo afastada A descrição de Tollenare é a mais exata, estando bem de
"por representar as três ordens honorificas existentes na acôrdo com o desenho em aquarela, com notas explicativas em
França". inglês, enviado pelo govêrno provisório aos Estados Unidos
da América do Norte e entregue por Antônio Gonçalves da Cruz,
Urna nova bandeira veio a surgir exatamente a 2 de abril, o Cabugá, encontrado no Arquivo da Secretaria dos Negócios
e não no dia 1 segundo escreve F. A. Pereira da Costa no Estrangeiros de Washingthon. A descoberta do documento se
volume Vil dos Anais Pernambucanos, pag. 412, a fim de expres- deu em 1886 pelo Dr. José Augusto Ferreira da Costa, repre-
sar os reais propósitos do reóvo regime. 5 Naquele dia. 2 de sentante do Brasil junto ao mesmo govêrno, que remeteu urna
abril, "um bando soleníssimo do govêrno provisório da rept& cópia da aquarela ao Instituto Histórico e Geográfico Brasilei-
ca", a toque de caixas, apareceu nas ruas convidando todo o ro, em carta datada de 20 novembro daquele ano,
povo para, no dia seguinte, a bênção solene das novas ban-
deiras nacionais no Campo da Honra, assim denominado pelos A aquarela originai foi oferecida em 21 de agasto de 1919
patriotas o Campo do Erário, hoje Praça da República. àquela instituição, pelo então ministro Barros Pimentel, nela
se encontrando, em inglês, a seguinte nota explicativa: "As
A bandeira era azul e branca, descreve 1. F. de Tollenare. três estreias representam os estados de Pernambuco, Paraíba,
comerciante francês que se encontrava no Recife a época do Rio Grande do Norte, que, segundo as últimas noticias (5 de
movimento, tendo na parte inferior uma pequena cruz verme- abril), compunham a Confederação para a liberdade e indepen-
lha; na parte azul, em cima, um sol cercado de um arco-íris dência. logo que outras províncias do Reino do Brasil tiverem
e sabre êste uma estrela, "ao lado da qual se espera ver aderido à Confederação, outras estréias serão colocadas em
volta do arco-íris. O arco-íris tem três côres, simbolizando paz,
amizade e união, que a Confederação oferece aos europeus
5. Existe um conflito de datas, entre regenere, Munis Tavares, padre Joaquim Dias Mar. portuguêses e aos povos de tôdas es nações que vierem paci-
tins, autor de Martyres Pernambucanos (1821 ou 1822). alguns depoimentos na Alçada, ficamente aos seus portos ou porventura venham residir entre
certas e Pereira do Costa. Este ditime, com base no relato do padre Dias Martins, êles. O sol significa que os habitantes de Pernambuco são
afirma que a nova bandeira veio surgir na to de abril ocorrendo a benção no dia
filhos do sol e vivem sob ale. A cruz alude ao nome de Santa
seguinte: desprezando o relato do monsenhor Munis Tavares que, escrevendo muito
tempo após, diz ter o fato acontecido no dia 21 de março. caindo. assim. num lapso Cruz (fim Hely Cress) dado ao Brasil na época de seu desco-
de memória. A data de Pereira da Costa, embora aceita pacificamente até peia Cons. brimento".
tituicão do Estado de Pernambuco (art. 5.e. § 1.0), também rigo corresponda a verdade:
Escrevendo em suas Notas Deminicain, no Domingo da Páscoa, 6 de abril. Tollenare se Alfredo de Carvalho, em artigo publicado na Revista do
refere aos atos da Semana e a 'inauguração da nova bandeira nacional'. João topes
Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano, n.° 65/70.
Cardoso Machado, escrevendo a UM compadre em 77 de )unho de 1817. situa a benção
das bandeiras 'na Ouir,taifeira de Endoenças' (Documentos Históricos, vol. 102, pág. se refere a nova representação da bandeira, também em aqua-
6). TedaS as testemunhas e cronistas tão unánimes, com excesSéo do depoimento do rela, possivelmente retirado dos autos da Devassa, que figu-
Doto de Olinda que fala de Sexta-Feira Santa (Documentos Histdricos, vol. 105. pás. rou na Exposição de História do Brasil, realizada no Rio de
175), em ter a benção das bandeiras ocorrido na Didata-Feire Sante. Sendo. portanto. Janeiro em 1881, sob o n.° 20.075, devendo se encontrar hoje
domingo dia 6 e quinta-feira ocorreu no dia 3 e não na dia 2; conferindo assim com
o calendiárlo. na Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional.

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A escolha da bandeira, segundo o mesmo Alfredo de Car-
valho, presume-se ao padre João Ribeiro Pessoa de Melo Mon-
tenegro, hábil professor de desenho do Seminário de Olinda,
ficando a sua confecção a cargo do pintor Antônio Alvares,
pardo fluminense residindo então no Recife, que realizou o de-
senho e'depois o remeteu ao alfaiate José do O' Barbosa, ca-
pitão de milícias do Regimento dos Homens Pardos, para exe-
cutar os estandartes da nova república. Para isso contou com
a ajuda de sua mulher e suas filhas, além de seu irmão Fran-
cisco Dornelas Pessoa, capitão do mesmo Corpo, "trabalho
êste que fizeram gratuita e desveladamente"

Os primeiros pavilhões foram confeccionados em siada,


"composto de pequenas partes da mesma fazenda para repre-
sentar não só o colorido como o desenho de tôdas as peças A PARAÍBA NA REVOLUÇÃO DE 1817
de que se dispunha o estandarte', destinados aos três corpos
do exército.
E ., 81 7 a Província da Paraíba estava sendo
governada por um triunvirato que substituíra o
Governador Antônio Caetano Pinto que havia
falecido. Esta junta era formada por:
1 — André Alves Pereira Ribeiro Cirne — Ouvidor
Geral.
2 — Francisco José da Silveira — Tenente Coronel
Ajudante de Ordens.
3 — Manoel José Ribeiro de Almeida — Vereador
mais idoso, boticário e pessoa de pouca
6. Antônio Alvares, além da nova bandeira, pintou retratos dos membros do govémo pro-
visado, sendo por Isso atrozmente porseguido. Dos trabalhos do artista pardo flumi- instrução.
nense resta, na galeria do Instituto Arqueológico. o de José Luis de Mendonça faltando
os demais. O de Domingos José Martins, segundo Oliveira Lima, parece não ser de
sua autoria, mas 'antes trabalho europeu". Foi o artista condenado a ser surrado nas A notícia da Revolução chegou à Paraíba
grades da cadeia, pelo almirante Rodrigo José Ferreira Lóbo. mas livrou-se da pena
apadrinhando-se com um retrato de Dom João VI, 'que possuía, e com o qual abraçou aos 07.03.1817, trazida por portugueses
quando foi préso", sendo porém recolhido Ji cadeia onde ficou até a vinda do general
foragidos e apavorados com o grito de "mata
Luis do Bago Barreto que, conhecendo o pintor do Rio de Janeiro. mandou-o soltar-
de autoria do mesmo artista, denominado por Teixeira Melo de Nobilíssimo pintor, marinheiros".
es estampas coloridas da Flora Fluminense, escrita pelo frade Francisco José Mariano
da Conceição Veloso e concluida em 1790. Nasceu o artista no Rio de Janeiro, na
:Inunda metade do sét.uiti e triz seus estudos na Europa, pouco se sabe com
respeito a sua vida após 1817. Muitos paraibanos estavam comprometidos
Os Irmãos Francisco Dornelas Pessoa e José do O'Barbosa, homens pardos. alfaiates. com o movimento de libertação, ligados à
capitães de corpos milicianos de gente de sua chi% por patente régia, foram também
arrastados às condoias da cadela onde pomianeceram por um ano. Biô não foram Maçonaria e ou ao clero. Na contra — revolução
açoitados, conforme havia determinado Rodrigo lano, pelo fato 'da velar, e de dormir
sempre em uniforme de capitão, feito pelo rei'. (Pereira da Cosia, ob. cit. Vol.
mais de 80 Patriotas paraibanos foram presos.
VII, pés 424 o 487)
O Tenente Coronel Francisco José da Silveira,
mineiro, membro do Governo era um dos

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Aos 13.03.1817 o Coronel Amaro Gomes Coutinho e o Tenente
Coronel Estevão José Carneiro da Cunha, após dominarem a Capital
nacionalistas; o Coronel Amaro Gomes da Silva Coutinho, senhor do lançaram um manifesto à população:
engenho do Meio, comandante de Milícia; o Padre Antônio Pereira de
Albuquerque e seu pai, Coronel André Dias de Figueiredo, senhor do Manifesto
engenho Angico Torto, do Pilar; o Tenente Coronel Estevão José Carneiro Soldados, cidadãos, povo desta Província da Paraíba, sossegai
da Cunha, comandante de tropas e senhor do Engenho Tibiri; o Capitão- fazei sossegar as vossas famílias, não há outro asilo a procurar senão
mor João de Albuquerque Maranhão, senhor do engenho Santo Antônio; a paz e conservação de todos, a nossa Pátria estava em
o Tenente José Peregrino Xavier de Carvalho; o Coronel Ignácio Leopoldo desassossêgo, o Govêrno Interino sem fôrças para tranqüilizar e
de Albuquerque Maranhão; Francisco Xavier Monteiro da Franca, desamparado com a fuga do Ouvidor André Alves Pereira Ribeiro
Tesoureiro da Província e muitos outros foram os principais cabeças da Cirne, primeiro ministro do Govêrno e que tinha tôdas as idéias da
Revolução na Paraíba. administração cível e militar, com preponderância aos dois
companheiros que pelos seus muitos cargos se tinha arrogado. Falai
Eles mantinham entendimentos sigilosos com seus compatriotas de com o vosso coração, vede a perturbação em que nestes dias tendes
Pernambuco, comungando com os mesmos ideais de liberdade e estado com as vossas famílias. Não há um mal tão horrível como
republicano. um povo em desassossêgo e sem pessoa em que faça confiança.
Foi neste estado que vós mesmos conheceis foi neste estado terrível
Evidente que o comandante do Recife mandara emissários para os que nós os comandantes das fôrças atuais mais prontas nesta cidade,
companheiros de Pilar, Itabaiana, Capital e outras localidades o Coronel de Regimento de Milícias Amaro Gomes Coutinho, e o
comunicando o início precipitado da sedição no Recife. Tenente Coronel Comandante do Batalhão de Linha Estevão José
Carneiro da Cunha, não podendo por mais tempo sofrer a inutilidade
Itabaiana foi a primeira localidade a aderir ao movimento, tendo na dêste Govêrno que ajuntava à opressão.a falta de energia e o abandono
pessoa de Manoel Clemente Cavalcanti um ardoroso difusor. Era maçon, da causa pública, assumiram o govêrno desta província da Paraíba,
estudara no Seminário de Olinda e fez a revolta em Itabaiana. sem outro fim mais (os céus são testemunhas) do que fazer o vosso
sossêgo guardar os vossos direitos, defender as vossas vidas e
Na Capital, Francisco José da Silveira, membro do Governo, se juntou propriedades. Carecem do vosso auxílio e união confiai na sua honra.
ao Coronel Amaro Gomes Coutinho e ao Tenente Coronel Estevão José O Tenente Coronel Estevão José Carneiro da Cunha tem comandado
Carneiro da Cunha e proclamaram a liberdade, sem reação dos Realistas a sua tropa com a honra, atividade, e docilidade que é notório. A sua
e sem derramamento de sangue. Isto aos 13.03.1817. O principal corporação o ama, êle fica desde agora comandando em chefe tôda a
membro do governo, Ouvidor Geral André Alves Pereira Cirne, evadiu-se fôrça armada desta província, a êle devem se unir todos os patriotas
para o Sertão, indo esconder-se na fazenda Acauã, sob a proteção do em defesa da Pátria, e a um Govêrno Provisório que enérgico ao
Padre Luiz José. Outras autoridades abandonara os seus cargos ou foram mesmo passo que cheio de docilidade e humanidade, vos convencerá
impedidas de exercê-las. Do Pilar saiu uma tropa liderada pelo Capitão bem depressa de ser chegado o momento que a Providência guardava
André Dias de Figueiredo e seu filho, Padre Antonio Pereira de Albuquerque para vos tirar do jugo em que desde os vossos primeiros avos tendes
que, juntando-se a outras vindas de Itabaiana e do Taipu, marcharam jazido, e a passos largos se ia aumentando. Soldados, cidadãos, e
com destino à Capital com cerca de mil homens. Recebiam adesões dos povo, amizade, valor e confiança nos vossos patrícios, e amigos, e
proprietários por onde passavam. Uma bandeira toda branca aqui
também foi içada. 17

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mais que tudo na justiça da causa que o Todo Poderoso abençoará. — A cruz, em vermelho, simbolizava a fé cristã.
Dado no Quartel General da Província da Paraíba aos 13 de março — As três estrelas representavam as Províncias rebeladas:
de 1817. Estava assinado o Tenente Coronel Comandante Estevão Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
José Carneiro da Cunha, e o Coronel Amaro Gomes Coutinho.
Ao final da exposição estrugiram ovações e gritos de "Viva Deus" e
Os contingentes vindos do interior chegaram à Capital e se juntaram "Viva a Pátria."
à forças aqui aquarteladas, isto ao 15.03.1817. Faziam parte ainda dos
primeiros, o Tenente Coronel Ignácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão, A REVOLUÇÃO NO Rio GRANDE DO NORTE
Manoel Clemente Cavalcanti, Domingos Coêlho Negro-Monte, José da A população potiguar recebeu com indiferença, ou mesmo com
Cruz Gouvêa e muitos outros. hostilidade, a noticia da Revolução. Aos 09.03.1817 chegara a Natal os
rumores do levante em Recife e na Paraíba.
No dia seguinte, 16, se procedeu a escolha de um governo provisório,
sendo eleita uma junta constituída por: Era um pernambucano o Governador daquela Província, o Tenente
1 — Padre Antônio Pereira de Albuquerque Coronel de Artilharia José Ignácio Borges, desde 1816. Simpatizante com
2 — Francisco José da Silveira os ideais de liberdade porém, ao romper o movimento, esquivou-se de
3 — Ignácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão participar. Foi deposto, aos 25.03.1817, no engenho Belém, pelo Coronel
4 — Francisco Xavier Monteiro da Franca. André de Albuquerque Maranhão e enviado preso para Recife, sob escolta
do Capitão —Mor da capital paraibana, João de Albuquerque Maranhão.
Nesta eleição votaram os três últimos desta relação e mais: o Tenente -
Coronel Estevão José Carneiro da Cunha, o Coronel Amaro Gomes Com muita dificuldade de consolidar a Revolução em sua terra, o
Coutinho, João Luiz Freire, José da Cruz Gouvêa, Manoel Clemente Coronel André pediu socorro militar aos Patriotas paraibanos.
Cavalcanti, José Bezerra Pessoa e o Tenente José Peregrino Xavier de Carvalho.
Aos 23.03.1817 partiu da Parahyba, capital, por via marítima um
Foi a 01.04.1817 que o governo provisório republicano paraibano contingente de 50 soldados de primeira linha, conduzindo duas peças de
criou a bandeira paraibana de 1817. Era idêntica à bandeira da Província artilharia e seis barris de pólvora, sob o comando do jovem tenente José
de Pernambuco, porém sem o listão azul e possuía mais duas estrelas. Peregrino Xavier de Carvalho. Nesta expedição seguiu, como voluntário, o
Aos 06.04.1817, o Coronel Amaro Gomes CoutinhO ordenou que todos Capitão Mor João de Albuquerque Maranhão. José Peregrino desembarcou
regimentos aquartelados na Capital se dirigissem ao pátio da Matriz de na Baia Formosa aos 25.03.1817, seguiu para Goioninha, se articulou
Nossa Senhora das Neves. Ali reunidos, o Coronel Amaro proferiu uma com o Coronel André e, aos 30.03.1817, entrou em Natal.
oração patriótica e um sacerdote fez um sermão. Em seguida foi lido o
termo de juramento à nova bandeira. No final o Coronel Amaro explicou Naquela Capital foi instituído um governo provisório, tendo por chefe o
o significado dos símbolos da bandeira: Coronel André de Albuquerque Maranhão. José Peregrino permaneceu em
— O arco-íris significava a concórdia entre as Províncias insurgidas, Natal mantendo a autoridade revolucionária. Aos 25.04.1817 resolveu voltar
inspirada na união e fraternidade maçônica. à Paraíba apesar da insistência do Coronel André para que permanecesse,
— O sol era a fonte de Luz e calor para toda humanidade, iluminava pois temia uma reação dos Realistas. De fato, com a saída do paraibano e
muito mais os Patriotas. seu contingente, teve início a contra-Revolução naquela cidade.

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José Peregrino voltou à capital paraibana, passando por contingente seria dizimado frente a quantidade dos Realistas. Isto aos
Mamanguape, chegando aos 06.05.1817. A cidade já se encontrava 03.06.1817.
sob o domínio dos Realistas. O Dr. Augusto Xavier de Carvalho, pai do
jovem José Peregrino, vai ao encontro do filho no subúrbio da Capital e Temendo um confronto sangrento na Capital, alguns Padres e Frades
pede-lhe que depusesse armas, isto a pedido dos Realistas que temiam se reuniram, aos 05.05.1817, e pediram permissão aos Patriotas para
derramamento de sangue. Travava-se um emocionante diálogo onde o negociarem uma rendição sem derramamento de sangue. Aceita a
pai diz: "Aqui já não há Pátria; a Pátria e o Rei". Por fim decepcionado e mediação aqueles religiosos foram ao encontro das tropas reacionárias
relutante José Peregrino entrega a espada ao pai, atendendo seus apelos. e firmaram o acordo que transcrevemos em seguida:
Aos 18.05.1817. Peregrino foi preso na fortaleza do Cabedelo e dali
enviado ao Recife, onde, aos 21.08.1917, foi enforcado. Sua cabeça e As tropas realistas entraram na Capital sem encontrarem resistência;
mãos foram decepadas, salgadas e enviadas à nossa Capital, onde foram dirigiram-se ao Mosteiro de São Bento, onde estava instalado o governo
expostas em um poste na esquina da Igreja do Senhor Bom Jesus dos revolucionário, e ali assinaram a rendição juntamente com os Patriotas
Martírios, atual Matriz de Nossa Senhora de Lourdes. Francisco José da Silveira, Amaro Gomes Coutinho, Francisco Xavier
Monteiro da Franca.
A CONTRA REVOLUÇÃO NA PARAÍBA
Os principais chefes da contra - Revolução na Paraíba foram: Instalou-se a devassa, perseguições e prisões. Aos 12.05.1817
1 — Capitão Manoel da Costa Cunha Lima — português, senhor do foram presos em Goiana o Capitão Ignácio Leopoldo de Albuquerque
Engenho Santa Ana. Maranhão e seus irmãos João Nepomuceno e José de Olanda de
2 — Capitão João Alves Sanches Massa — português, senhor do Albuquerque Maranhão. O Padre Antonio Pereira de Albuquerque chegou
Engenho Pacatuba. à Capital, preso, aos 14.05.1817.
3 — Tenente Coronel Mathias da Gama Cabral de Vasconcelos,
senhor do Engenho Santos Reis Aos 08.05.1817 os Realistas constituíram um governo provisório
4 — Sargento-Mór Antônio Galdnio Alves da Silva, senhor do Engenho formado por:
Tabocas. 1 — Dr. Gregário José da Silva Coutinho
5 — Bento Luiz da Gama. 2 — Capitão João Soares Neiva
6 — Coronel Luiz de Oliveira Chaves. 3 — Vereador Manoel José Ribeiro de Almeida.
7 — Padre Manoel Lourenço d'Almeida, vigário da Capital.
8 — Padre Manoel Ancelmo Coutinho, vigário do São Miguel do Taipú. O Tenente Coronel Estevão José Carneiro da Cunha foi o único
9 — Capitão João Soares Neiva. que consegui fugir. Escondeu-se nas matas do seu Engenho e, com
ajuda, embarcou para a Inglaterra. O coronel Amaro, o Tenente José
O coronel Amaro Gomes Coutinho tentou sustentar a Revolução Peregrino e o Tenente Coronel Francisco José da Silveira foram presos,
na Capital e marchou com sua tropa ao encontro dos Realistas que se remetidos para o Recife e, no Campo do Erário, aos 21.08.1817
deslocavam, com cerca de três mil homens, para a Capital, tendo já foram enforcados. Suas cabeças e mãos foram decepadas salgadas e
havido combates em Itabaiana e Pilar. O Coronel Amaro chegando ao enviadas à Capital paraibana, onde ficaram expostas em praça pública.
engenho Tibiri, em Santa Rita, viu a impossibilidade de continuar. Muitos Isto como advertência a quem se opusesse à Coroa portuguesa,
de seus comandados desertaram e a tropa estava desmotivada. Seu senhora do Brasil.

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O Coronel Ignácio Leopoldo de Albuquerque Maranhão e o Padre 1°. Os Governadores Provisórios, os Chefes Militares, os Emprega-
Antonio Pereira de Albuquerque foram também enforcados aos dos, a Oficialidade, alguns indivíduos da tropa, e particulares que quise-
06.09.1817, no Campo do Erário, no Recife. Suas cabeças e mãos rem retirar-se para fora do território paraibano o poderão fazer para qual-
decepadas, salgadas e expostas em praça publica no Pilar. quer outra parte da sua escolha, com lados as honras militares na forma
costumada, levando suas famílias, bagagem, armas, criados, e escravos
Francisco Xavier Monteiro da Franca (meu penta-avô) também e a sua retirada será protegida por escolta suficiente dos Senhores Che-
condenado à morte, teve a pena suspensa. Foi mandado para as prisões fes das Fôrças Unidas de maneira que sejam garantidas de qualquer
da Bahia onde penou por quatro anos. insulto até os limites da Paraíba.
Concedido em tudo menos no artigo armas pois só devem ser con-
Foi libertado pela anistia geral em 1821. Voltando à Paraíba cedidas as espadas aos senhores oficiais que devem entregar teclas as
continuou na política, chegando a ser Presidente da Província. Um seu que tiverem de fogo.
irmão, o Capitão de Milícias de Brancos José Joaquim Monteiro da
Franca, teve menos sorte, faleceu lá nos cárceres baianos de tanto maus 2°. O mesmo se entenderá com Manuel Lobo de Miranda Henri-
tratos e fome. que, casado com uma filha do membro do Govêrno Provisório Francisco
José da Silveira; sendo todos protegidos e defendidos pelos ditos senho-
Aos 09.06.1817 os Realistas constituíram um governo legal, onde res chefes a garantia não só da sua palavra de honra militar senão da do
constavam: Soberano à cuja causa se prestam.
1 — Ouvidor Geral André Alves Pereira Orne. Concedido.
2 — Coronel Mathias da Gama Cabral de Vasconcelos.
3 — Capitão Manoel José Ribeiro de Almeida — vereador.
3°. Nenhum funcionário público ou encarregado de qualquer
administração pelo Govêrno Provisório, assim como os membros do
Assim terminou o sonho de patriotas brasileiros que tiveram de
mesmo govêrno, os chefes e oficiais militares, e ainda os particulares e
esperar mais uns anos para ver a Pátria livre do julgo português.
soldados, nenhum será punido, ou de qualquer maneira molestado por
fato, escrito ou dito que fizesse, escrevesse ou proferisse, debaixo das
Os do Govêrno Provisório da cidade da Paraiba, e chefes das suas
ordens e no tempo do Govêrno Provisório, a cuja causa estavam.
tropas em negociações pacificas com os senhores chefes das Fôrças
Concedido.
Unidas em defesa dos Direitos da Religião Católica Apostólica Romana, e
dos da Real Coroa de Sua Majestade Fidelissima, declaram que pelo úni-
4°. Tôdas as despesas feitas de ordem do mesmo Govêrno
co motivo de não ver derramado o sangue daquele mesmo povo, cuja
Provisório pelo Tesouro Público serão abonadas e levadas em conta
causa numeram e na consideração de que talvez ao mesmo povo já não
pelo Govêrno que entrar, ao que igualmente os ditos senhores chefes
agrade a forma do seu govêrno; primeiro que tudo aceitam as proposi-
se devem obrigar debaixo da mesma palavra e em nome do Soberano,
ções da conservação das vidas não só dos atuais governadores e de
cuja causa tomam.
todos os empregados públicos, senão também de todo o povo paraiba-
Concedido.
no, embora tenham sido quais fossem as suas opiniões e aceitam a outra
da saída dos atuais Governadores Provisórios para fora do território pa-
raibano, e propõem a sua capitulação pelos artigos seguintes.

22 23
5°. Para ter execução os presentes artigos enquanto se efetuam
as saídas dos que se podem retirar, e dos que tiverem contas que dar
propõem o tempo de três meses para venda de seus bens e liquidação
dos seus negócios.
Concedido.

6°. Estando a transitar por esta Paraíba a tropa da Ilha de Fernando


desembarcada a pouco na baia de São Miguel, será livre a passagem da
mesma tropa com seu trem, bagagens, e munições de boca e guerra
pelo território paraibano por onde vem marchando até por-se fora dêle, e
restituidas o Govêrno de Pernambuco as embarcações que transpor taram
a mesma tropa com o armamento e trem que nelas se acharem.
Despresado.

7'. Serão restituidos ao mesmo Govêrno de Pernam buco os pretechos


de guerra que por êleJoram mandados para esta Paraiba como peças de
campanha, espingardas, POI4tt ,.._ •;,,I.e metralha, que ainda não foram pagos
...
pelo Tesouro Públicó; assim corno farinha que se deve pagar.
,....„--
Despresado. ...„

Os presentes artigos aceitos e aprovados ficarão ratificados e


terão a sua inteira execução, sendo assinados por ambas as partes,
fazendo-se dêles a troca de uma para outra parte. Quartel de S. Ben-

Quadro de Antônio Parre iras


to da Paraiba, 6 de maio de 181 7. Eu Antônio Manuel da Silva Coe-
lho, secretário o escrevi.
(Assinaturas):
Francisco José da Silveira
Francisco Xavier Monteiro da Fraue
Amaro Gomes Coutinho
Matias da Gama Cabral e Vasconcelos
Manuel da Costa Lima
Antonio Galdino Alves da Silva
Manuel Ancelmo Coutinho
O Padre Manuel Lourenço de Almeida
Bento Luiz da Gama.

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Reconheço serem as letras das assinaturas postas ao pé do papel considerando que o sangue dos mártires de então não
retro a saber aos que ficam da parte esquerda do Coronel Matias da foi derramado em vão, pois que o advento das idéias de-
mocráticas no país data dêsse regime, o qual entre seus
Gamo Cabral e Vasconcelos, Manuel da Costa Lima, Antonio Galdino ideais mais notáveis, que a lei orgânica consagrava, con-
Alves da Silva, o Padre Manuel Ancelmo Coutinho, o Padre Manuel tou o do govêrno civil pela representação das classes, o
Lourenço de Almeida, e Bento Luiz da Gama e assim as letras das da inamovibilidade e independência da magistratura, o de
emancipação ordeira e progressiva do elemento servil,
assinaturas que estão da parte direita do mesmo papel dos governadores o da tolerância religiosa, o da liberdade de opinião tra-
revolucionários Francisco José da Silveira, Francisco Xaviez Monteiro da duzindo-se peia liberdade de imprensa e o da plena capa-
Franca, e Amaro Gomes Coutinho por ter de qualquer das letras pleno cidade politica dos estrangeiros de qualquer comunhão
cristã uma vez naturalizados;
conhecimento. Paraiba, 5 de fevereiro de 1818.
considerando que este conjunto de disposições constitu-
cionais encerra um preito inestimável à dignidade do
Em fé e testemunho de verdade. (Sinal público). O Tabelião. (a.) José pensamento e da consciência, que honra para todo sem-
Nepomuceno Corrêa Cesar. pre uma comunidade política;
considerando que a república pernambucana de 1817 ima-
TEXTO FAC-SIMILAR DO LIVRO BANDEIRA DE PERNAMBUCO, ginou e arvorou uma bandeira, cujo desenho foi apresen-
DO ESCRITOR LEONARDO DANTAS DA SILVA
tado ao govêrno dos Estados Unidos pelo enviado dos
revolucionários, Cruz Cabugá, bandeira que foi abençoada
numa festa pública das mais impressivas pelo seu caráter
a um tempo religioso, civil e militar, e distribuída pelos

rp de 1817 ficou esquecida, pensando alguns até


que ela havia desaparecida. Nas comemorações
do centenário do movimento, em 1917, o governador Manuel
regimentos, tremulou em combates, recebendo batismo
de fogo;

considerando que essa bandeira representa para o Estado


Antõnio Pereira Borba, atendendo solicitação do Instituto Ar- de Pernambuco, um legado precioso feito do ideal de
queológico Histórico e Geográfico Pernambucano, assinou o autonomia e do sentimento de civismo dos seus filhos,
Decreto n.° 59, de 23 de fevereiro do mesmo ano, declarando e que nenhuma outra a poderia superar no apálo que
bandeira oficial do Estado de Pernambuco o pavilhão republi- exerce sôbre as tradições gloriosas da pátria pernam-
cano de 1817, cuja íntegra transcrevemos: bucana;
considerando que uma bandeira não constitui necessaria-
"O Governador do Estado, considerando que Pernambuco mente o símbolo de uma nacionalidade soberana e não
vai celebrar a 6 de março próximo o primeiro centenário dispõe forçosamente de valia internacional;
da revolução de 1817 que antes do Império proclamou no
Brasil o sistema republicano; considerando que uma bandeira tanto pode ser a relíquia
de uma pátria extinta como o emblema de uma evolução
considerando que tal celebração, originada no Instituto histórica dentro de um todo maior, como seja unia fe-
-4 -
Uca cayuv,
Arqueológico Pernambucano tem tido a mais simpática
repercussão no país, a ela aderindo não só os municípios considerando que possuem sua bandeira países sem so-
do Estado como a mor parte dos Estados da União, assim berania própria, como os principados e ducados da Con-
reconhecendo que semelhante movimento de organização federação Germânica, a Irlanda, parte de um Reino Uni-
constitucional, em vez de desordem social, visava e rea- do, e a Comunidade Australiana, bandeiras essas que são
lizou, ainda que efêmeramente, a independência nacio- admitidas e acatadas sem serem oficialmente reconhe-
nal, consumada cinco anos depois; cidas no grêmio das nações:

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considerando que vários Estados da União Brasileira,
entre êles a Bahia e o Rio Grande do Sul, já adotaram
bandeiras suas complementos dos seus escudos d'arma:

considerando que a adoção da bandeira dos revolucioná-


rios de 1817 seria um tributo deveras eloquente à me-
mória désses patriotas que sacrificaram suas vidas pela
emancipação da sua terra e pela implantação dos seus
princípios políticos baseados na honestidade e na tole-
rância;

considerando finalmente que essa bandeira é de uma es-


tética simples e graciosa no seu simbolismo, significando
o arco-íris a concórdia oferecida às gentes que quise-
rem unir seus destinos aos dos pernambucanos; o sol, a
pujança déste astro no equador, e a cruz a insígnia que
serviu à primitiva designação no Brasil,

DECRETA:

Art. 1.0 -- É declarada bandeira do Estado de Pernam-


buco a bandeira da revolução de 1817.

Art. 2.1 — Esta bandeira é bicolor, azul escuro e bran-


ca, sendo as côres partidas horizontalmente, em seções
desiguais e tendo no retângulo superior e maior, azul, o
arco-íris com uma estrela em cima e por baixo o sol den-
tro do semi-circulo; no inferior e menor, branco, urna cruz
vermelha. O sol e a estréia são de ouro.

Recife, 23 de fevereiro de 1917

D7'. Manoel Antônio Pereira Borba


Dr. Antônio Vicente de Andrade Bezerra

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