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DECISÃO

Autue-se, numerando-se o presente expediente que me é distribuído.

Áurea Altenhofen, brasileira, advogada, neta de Kurt Krieger, quer o esclarecimento da morte
de seu avô, segundo ela assassinado pelo “terrorismo no Rio Grande do Sul” em 22 de setembro
de 1968.

Diz que:

- o nome de seu avô figura na lista divulgada pelo Comando do 3º Exército em “solenidade de
aniversário da Revolução que foi realizada no parque da Redenção, junto ao Monumento do
Expedicionário”;

- o nome do seu avô consta do livro “Brasil Sempre” com o registro: “Assassinado por grupo
terrorista quando assaltava o bar de sua propriedade”;

- a CEMDP indeferiu pleito de indenização apresentado pela antiga companheira de Kurt


Krieger, cidadão alemão, acentuando o Relator do pedido, Paulo Gustavo Gonet Branco, que: “seu
nome consta na lista do site de extrema-direita Ternuma ( Terrorismo Nunca Mais ), como tendo
sido morto por um grupo de esquerda”.

A pretensão não cabe tenha conhecimento por esta Comissão Nacional da Verdade porque,
claramente, não se insere no âmbito das atribuições normativas estabelecidas para essa
Comissão Nacional da Verdade.

Com efeito, lê-se na Exposição de Motivos, que justificou e embasou a edição da Lei nº
12.528/2011, que criou a Comissão Nacional da Verdade e normativamente marcou o espaço de
suas atribuições, verbis:
“6. No Brasil, transcorridos mais de vinte anos desde a promulgação da
Constituição Federal de 1988, a democracia encontra-se consolidada e
importantes passos foram dados no sentido de identificar e reparar
vítimas e familiares das graves violações ocorridas durante a ditadura
militar.

7. Nesse sentido, merece destaque a Comissão Especial


sobre Mortos e Desaparecidos, criada pela Lei nº 9.140, de 4 de
dezembro de 1995, com o objetivo de reparar as famílias de uma
lista inicial de 136 pessoas e julgar outros casos apresentados para
seu exame, além de empreender esforços na localização de restos
mortais de pessoas desaparecidas. A criação dessa Comissão
marca o reconhecimento da responsabilidade do Estado
brasileiro pela morte de opositores ao regime instalado a partir
de 1964.

8. No mesmo sentido, a Lei nº 10.559, de 13 de novembro


de 2002, que criou a Comissão de Anistia, no âmbito do Ministério
da Justiça, com a finalidade de examinar os requerimentos de
reparação econômica, de caráter indenizatório, aos anistiados
políticos que sofreram prejuízos em razão de perseguições
políticas, no período de 1946 a 1988. A referida Comissão
desempenha importante papel na reparação daqueles que tiveram
seus direitos violados por razões políticas, tendo julgado até 2009
mais de 54.803 processos.

9. Aliado ao trabalho desenvolvido pelas Comissões, o


Governo Federal empreendeu esforços para garantir acesso aos
arquivos públicos referentes ao regime de exceção instalado em
1964 a todos os cidadãos interessados. Como resultado, por
determinação do Presidente da República, foram encaminhados ao
Arquivo Nacional os arquivos do extinto Serviço Nacional de
Informação, Conselho de Segurança Nacional e Comissão Geral de
Investigações, além dos arquivos do Departamento de Polícia
Federal, do Gabinete de Segurança Institucional e de outros órgãos
públicos. Os acervos recolhidos foram organizados e digitalizados e
encontram-se disponíveis para consulta pelo público.

10. Soma-se a essas medidas o envio ao Congresso Nacional


do Projeto de Lei nº 5.228, de 2009, conhecido como Projeto de
Lei de Acesso à Informação, cujo texto contempla a previsão do
art. 19 da Declaração Universal dis Direitos Humanos ao garantir
maior transparência à administração pública e reduzir a restrição
de acesso a informações, viabilizando o exercício pleno da
cidadania, de modo a contribuir para a consolidação da
democracia e para a modernização do Estado brasileiro.

11. Em complementação às medidas mencionadas,é


imprescindível assegurar o resgate da memória e da verdade
sobre as graves violações de direitos humanos ocorridas no
período anteriormente mencionado, de modo a evitar que os fatos
apurados voltem a fazer parte da história de nosso país.

12. O anexo Projeto de Lei propõe a criação da Comissão


Nacional da Verdade no âmbito da Casa Civil da Presidência da
República, composta por brasileiros, de reconhecida idoneidade,
trajetória ética e identificados com a defesa da democracia,
escolhidos e designados pelo Presidente da República.”

Portanto – e isso fica cristalino – a Comissão Nacional da Verdade cuida exclusivamente de


averiguar os fatos consumados por agentes públicos, dado que com a edição da Lei nº 9.140/95,
cujo ciclo normativo a Lei nº 12.528/2011 encerra, como textualmente posto na transcrição que
venho de fazer, o Estado brasileiro reconheceu como mortos, por seus agentes públicos, “pessoas
que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas”
( artigo 1º da Lei nº 9.140/95 ), daí que a Comissão Nacional da Verdade é criada para “examinar
as graves violações de direitos humanos” ( artigo 1º da Lei nº 12.528/2011 ), repito, cometidas
pelos agentes públicos do Estado brasileiro.

Kurt Krieger, pela narração apresentada pela peticionária, sua própria neta, não foi vítima de
agentes públicos do Estado brasileiro, por suas convicções políticas.

A peticionária, inclusive, critica o próprio trabalho policial desenvolvido tanto na Delegacia


Especial de Homicídios, quanto no DOPS, a dizer:

“Na capa dos inquéritos policiais constaram os nomes de três


pessoas como suspeitos, após a anistia estas capas foram
subtraídas e nelas escrito autoria não identificada, assim como
desapareceu do Palácio da Polícia uma prova material do crime
que continha fios de cabelo de um dos assassinos em um emplasto
poroso utilizado como máscara e que foi deixado na fuga caído na
calçada em frente ao local do crime.”

É de se reiterar: o caso, como apresentado e caracterizado, não se insere no âmbito das


atribuições legais da Comissão Nacional da Verdade.

Brasília, 6 de agosto de 2012.

Claudio Fonteles

Membro da Comissão Nacional da Verdade.

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