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CAPÍTULO VII
DOS IMPEDIMENTOS E DA SUSPEIÇÃO
Art. 19. A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar o fato à
autoridade competente, abstendo-se de atuar.
Parágrafo único. A omissão do dever de comunicar o impedimento constitui falta grave, para
efeitos disciplinares.
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou
inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros,
parentes e afins até o terceiro grau.
Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem efeito
suspensivo.
COMENTÁRIOS GERAIS
1. Impedimentos e suspeição à luz dos princípios constitucionais
Acerca das normas contidas no capítulo VII da LPA, as mesmas se fazem de grande
importância quando se fala na concretização de diversos princípios constitucionais. Quando se
enfatiza sobre impedimentos e suspeição, vê-se a necessidade de destacar o risco de lesão a
diversos princípios, dentre eles:
a) Princípio da impessoalidade:
Fonte: http://m.sabedoriapolitica.com.br/products/a-importancia-do-principio-da-impessoalidade/
Jurisprudência:
b) Princípio da isonomia:
Tem como pauta as relações entre a Administração Pública e as pessoas que com ela
se relacionam. A isonomia formal, segundo Bandeira de Mello somente
aceitará exceções quando três requisitos estiverem presentes:
(i) a existência de uma diferenciação fática que a
justifique;
(ii) a necessidade de se utilizar a discriminação por se
tratar de forma mais razoável de concretização de um
valor constitucional, que, do contrário, perderia
efetividade;
(iii) a relação lógica, ou de causalidade, entre a discriminação praticada e a
concretização desse valor constitucional que a autoridade pretende
concretizar. Não preenchidos cumulativamente esses três requisitos, restará
vedado ao legislador e ao administrador público criar e praticar
discriminações.
A LPA não deixa delimitado quem são esses destinatários. Ao tratar do impedimento e
da suspeição no processo judicial, o CPC, por exemplo, deixou claro que as hipóteses ali
previstas se aplicam primariamente aos juízes.
Contudo, por força do art. 148 desse Código, a aplicabilidade dessas normas se
estende aos membros do Ministério Público, aos auxiliares da justiça e aos demais sujeitos
imparciais do processo. Na mesma linha, o art. 112 do CPP dispõe que, além do juiz, “o órgão
do Ministério Público, os serventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes
abster-se-ão de servir no processo, quando houver incompatibilidade ou impedimento legal,
que declararão nos autos”.
Diante desses dispositivos legais, pergunta-se: será que as normas contidas no LPA
também devem ser aplicadas de maneira ampla ou se restringem aos agentes que decidem o
processo de modo monocrático ou colegiado?
Parte da doutrina já se manifestou sobre o assunto. Para Sérgio Ferraz e Adilson
Dallari, algumas hipóteses previstas na LPA atingem não somente o julgador, “mas também o
instrutor processual, perito, testemunha, auxiliar no processo etc.”.
Em suma,
(i) ao processo administrativo aplicam-se subsidiariamente as normas de
impedimento e suspeição do CPC;
(ii) sobre o processo administrativo podem incidir por analogia as normas de
impedimento e suspeição do CPP e de outros subsistemas processuais na
existência de lacuna da legislação administrativa;
(iii) as normas do processo judicial nessa matéria somente valerão quando não
contrariarem norma da LPA ou de lei outra que trate do impedimento e da
suspeição em processos administrativos específicos e,
(iv) em qualquer caso, é preciso que haja pertinência da norma processual judicial ao
tipo e às características do processo administrativo.
Ademais, no tocante aos demais sujeitos que possam vir a influenciar a decisão, a
princípio não se deve suspender o processo administrativo. No intuito de garantir a duração
razoável e a eficiência e também em linha com as normas gerais que tratam da suspensão
como exceção, é adequado que, na falta de norma explicita da LPA ou da legislação especial, a
autoridade responsável pela instrução ou pelo julgamento processe o incidente em separado,
nele ouça os envolvidos e permita a juntada das provas necessárias para, ao final, decidir ou
não pela existência da causa de exclusão de capacidade do arguido para atuar no processo
principal.
Art. 18, I
1. Crítica à hipótese legal
A LPA previu diversas causas de impedimento. No inciso I do art. 18 estão dispostos os
impedimentos em razão do interesse da autoridade na matéria, ou seja, no objeto do
processo. Há duas críticas quanto a isso:
2. Interesse direto
Na sistemática do art. 18, inciso I da LPA o interesse capaz de configurar a causa de
impedimento pode ser direto ou indireto. Contudo, já se esclareceu que prescinde a lei de uma
definição precisa dessas expressões.
Na falta de definição legal, entende-se que o interesse direto restará configurado
quando o desfecho processual acarretar um benefício ou prejuízo imediato à esfera de direitos
e deveres do agente público que julga o processo ou nele desempenha uma função relevante.
A pessoa que figura como interessada no processo (art. 9º, I e II da LPA) não pode
atuar como julgadora de si mesma ou nele exercer qualquer função relevante à formação da
decisão administrativa final.
3. Interesse indireto
O art. 18, inciso I da LPA prevê, ainda, a existência de “interesse indireto” na matéria
objeto do processo como uma causa de impedimento da autoridade pública federal.
A interpretação dessa expressão e a definição abstrata de seus limites são
extremamente difíceis e requerem amplos debates tanto de natureza doutrinária quanto
jurisprudencial – debates esses que ainda não atingiram a maturidade na ciência brasileira do
processo administrativo. De todo modo, alguns doutrinadores já se manifestaram acerca da
expressão “interesse indireto” e buscaram delinear seus contornos diante da omissão do
legislador.
No entendimento de Carvalho Filho, o interesse indireto é aquele que resulta de uma
“série de indícios de que o agente receberá vantagem ou sofrerá prejuízo conforme a solução
imprimida à matéria em questão”.
O interesse direto não seria aferível de modo imediato, pois não existe uma relação
jurídica notória ou documentada envolvendo a autoridade pública e o objeto do processo
administrativo. Assim, por meio de indícios é possível induzir que a decisão afetará de modo
expressivo, para o bem ou para o mal, o agente público que desempenha o papel de julgador
ou nele exerce função relevante à formação da decisão final.
Isso revela que, a princípio, não há que se falar de impedimento em face da relação
funcional entre a autoridade e o órgão para o qual ela atua (relação intrainstitucional). No
entanto, é perfeitamente possível alegar o impedimento diante da constatação de relações da
autoridade com outros entes públicos (relação extrainstitucional), relações essas que possam
comprometer a parcialidade no processo administrativo de que participe com poderes de
julgamento ou de influenciar significativamente a decisão final.
Art. 18, II
1. Hipóteses do inciso II
São quatro as causas de impedimento elencadas no art. 18, inciso II da Lei. São elas:
O perito configura um colaborador da autoridade julgadora, ainda que ele possa atuar
no processo por solicitação dos próprios interessados, e não da autoridade. Na sua função, ele
observa e analisa fatos ou dados envolvidos no processo administrativo a partir de um ponto
de vista técnico-científico.
4. Cônjuge, companheiro,
parente ou afins
O art. 18, inciso II, traz
duas hipóteses de
impedimento quando o
cônjuge, companheiro,
parente ou afins até o
terceiro grau tiverem
atuado, atuarem ou
vierem a atuar como
testemunha, perito ou
representante no
processo administrativo.
Fonte:https://direitodiario.com.br/consideracoes-acerca-
do-nepotismo-e-da-impossibilidade-de-sua-configuracao-
quanto-aos-cargos-politicos/
5. Jurisprudência
Fonte:https://tjrs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113053260/conflito-de-
jurisdicao-cj-70054307806-rs?ref=serp
Art. 18, III
O art. 18, inciso III refere-se ao caso de impedimento à situação litigiosa de natureza
judicial ou administrativa entre o cônjuge ou o companheiro da autoridade administrativa e o
interessado no processo administrativo, nos mesmos termos estabelecidos
pelo inciso II, anteriormente comentado.
Diferentemente do que fez o inciso II, o inciso III não menciona os parentes e afins. Por
essa razão, vale questionar se a mencionada distinção textual entre os dois incisos foi
proposital, ou seja, se o legislador realmente teve por objetivo diferenciá-los ou se a assimetria
normativa constitui uma falha legal. Essa discussão é relevante à medida que dela depende a
fixação do verdadeiro âmbito de aplicabilidade da hipótese normativa contida no inciso III.
1. Dever de comunicação
O dever que está contido no dispositivo diz que a autoridade que se encontrar nas
situações de impedimento elencadas deverá comunicar sua situação à autoridade competente
para afastá-lo da função.
A não comunicação do
impedimento fará com que o próprio
interessado possa arguir a situação
geradora da perda de capacidade
processual. Será feita por meio de petição fundamentada e instruída com os documentos
necessários afim de demonstrar as causas de impedimento previstas no art. 18.
3. Dever de abstenção
4. Duração do impedimento
Existirá causa de impedimento enquanto uma situação fática que ocasiona risco de
quebra da imparcialidade e da moralidade administrativa persistirem. A situação logo, não é
eterna. Jurisprudencialmente se entende que a causa para afastamento do julgador cessará
quando o fato que lhe tiver dado origem sumir.
3. Efeitos penais
Art. 20
1. Definição de suspeição
2. Amizade íntima
3. Inimizade notória
A relação de suspeição envolve sempre duas pessoas físicas. Daí porque não atinge
relações de afinidade com pessoas jurídicas, mas sim com seus representantes ou dirigentes. A
esse respeito, na primeira edição desta obra, afirmou-se que não configuraria suspeição a
relação de amizade íntima ou de inimizade entre a autoridade pública que atua no processo
administrativo e o representante do interessado.
Em primeiro lugar, é preciso verificar se a causa de suspeição não está prevista como
causa de impedimento. Isso ocorre, por exemplo, na hipótese de existência de interesse no
desfecho da causa. Essa situação aparece como situação de suspeição no art. 145 do CPC, mas
como impedimento no art. 19 da Lei.
Art. 21
BRASIL. Lei N.º 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>.
Acesso em 26 abril de 2019;
BRASIL. Tribunal de Justiça. Conflito de Jurisdição nº 0054307806 – Rio Grande do Sul. Relator:
Dálvio Leite Dias Teixeira. Julgado em 05/06/213. Publicado no DJ de 19-06-2013. Disponível
em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113053260/conflito-de-jurisdicao-cj-
70054307806-rs> Acesso em 26 de abril de 2019;