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ISSN: 0103-4979
revcrh@ufba.br
Universidade Federal da Bahia
Brasil
RESENHA TEMÁTICA
IMAGINÁRIO PÓS-COLONIAL1
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GUERREIRO RAMOS, A REDUÇÃO SOCIOLÓGICA...
ais é ressaltar o papel que as culturas subalter- perspectiva interdisciplinar que compreende os
nas exercem no conhecimento social e sua im- parâmetros traçados pela sociologia, pela políti-
portância para a construção da autonomia da ca, pela economia e pela literatura, compondo
sociedade na construção do desenvolvimento. um ramo de interpretação e significação da cul-
Nesse sentido, valorizam-se essas culturas, res- tura com o objetivo de fortalecer as identidades
saltando a importância da solidez dessas identi- nacionais e buscar caminhos próprios para o
dades. A identidade é importante a partir do desenvolvimento.
momento em que não se justifica que uma cul- No caso da América Latina, o movimento
tura possa ser capaz de impor um padrão único pós-colonialista foi recebido em comparação com
de conhecimento. O fundamento do pós- os processos de independência dos países orien-
colonialismo é que as culturas podem estabele- tais e africanos. É marcante, nos debates funda-
cer diálogo sem haver um padrão de valores e dores das ciências sociais, a influência que o pen-
percepções que se imponha a outras culturas. samento latino-americano recebeu do movimen-
Esses diálogos culturais têm sido a tônica, to pós-colonial. O movimento pós-colonialista
no âmbito das ciências sociais, da construção de latino-americano surgiu no mesmo contexto de
uma perspectiva crítica de culturas hegemônicas meados do século XX, por influência da discus-
da modernidade. Eles significam a possibilidade são sobre o papel do conhecimento nos movi-
de outra via para a questão do desenvolvimento mentos nacionalistas. No caso brasileiro, mere-
político, social e econômico que se configura pela cem destaque as posições defendidas por Alberto
valorização das identidades. Tendo em vista a dis- Guerreiro Ramos, as quais podem ser enquadra-
cussão sobre as identidades, duas têm sido as pos- das como pós-coloniais à medida que valorizam
sibilidades abertas pela perspectiva pós-colonialista: o papel da cultura brasileira na constituição de
(1) a constituição do diálogo sul-sul, com o objeti- uma real independência e procura pela consti-
vo de possibilitar o desenvolvimento das culturas tuição de um significado para o nacionalismo
do sul e a construção de uma aliança contra a brasileiro no contexto do desenvolvimento naci-
hegemonia do ocidente; (2) a reinterpretação e a onal. Isso fica claro nas teses defendidas por
ressignificação do nacionalismo. Guerreiro Ramos no II Congresso Latino-Ameri-
O movimento pós-colonial é apresentado cano de Sociologia, ocorrido em São Paulo e no
como uma perspectiva pós-moderna. Todavia a Rio de Janeiro em 1953.
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A REDUÇÃO SOCIOLÓGICA COMO MARCO Mas é importante frisar que Guerreiro não
DO EXISTENCIALISMO BRASILEIRO defendia o endosso entusiástico das “sobrevivên-
cias africanas”. Para ele, o erro de sociólogos e
É mais do que conhecido o fato de que antropólogos, quando discutem a questão do
Guerreiro Ramos buscava para a sociologia um negro do Brasil, é tratá-los como objeto exótico,
sentido prático, que congregasse, ao mesmo tem- desalinhado e estrangeiro em relação à própria
po, os avanços da ciência social e os problemas cultura nacional. Em sua disputa com Costa Pin-
práticos da sociedade brasileira no que diz res- to, Guerreiro Ramos afirmava que o preconceito
peito às condições do nosso atraso. Também é em relação ao negro, no Brasil, não era de raça,
mais do que conhecido o fato de que a sociologia mas de cor, o que significaria o fato de que, ao
defendida por Guerreiro Ramos tem o caráter contrário de outras sociedades, o preconceito não
de engajamento nas questões sociais, mesmo que se constitui, no Brasil, por linhas de castas.2 O
isso significasse, a seu juízo, o sacrifício da obje- fato de o preconceito contra o negro não se cons-
tividade da ciência. A sociologia deveria ter, de tituir por linhas de castas é que permite que ele
acordo com o autor, o tom de uma ciência possa ser integrado no conjunto da Nação. Os
interpretativa (Oliveira, 1995). estudos sobre o negro no Brasil seriam aliena-
Sua militância no Teatro da Experimenta- dos, de acordo com Guerreiro, porque se
ção Negra (TEN) exerceu forte influência sobre o espelhavam nos parâmetros sociológicos das re-
tipo de conhecimento necessário para a consti- alidades sociais europeia e norte-americana. A
tuição da autonomia, seja de estratos sociais espe- saída para o negro, de acordo com Guerreiro
cíficos, como o caso dos negros, seja da sociedade Ramos, seria ascender socioculturalmente por
brasileira em seu conjunto. O fato é que Guerrei- meio da luta de classes, constituindo, por conse-
ro Ramos procurou defender uma sociologia guinte, um processo de cooperação que lhe per-
engajada, com a preocupação constante de influ- mita participar da cultura nacional (Maio, 1997).
enciar e participar da vida política nacional. No O mesmo se pode dizer de outro ramo de
caso de sua sociologia sobre o negro brasileiro, conhecimento sociológico ao qual Guerreiro Ra-
influenciada pelas posições de Abdias do Nasci- mos se dedicou. O tema da administração pú-
mento, ele propõe que ela fosse uma espécie de blica e das organizações do Estado deveria rom-
voz do próprio negro. Ou seja, a sociologia da per com os projetos de modernização desenvol-
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(DASP). Como funcionário do DASP e, mais tar- gico. Para Florestan, não importavam as particu-
de, assessor de Getúlio Vargas, Guerreiro Ramos laridades históricas e sociais de uma sociedade
se dedicou a diferentes pesquisas empíricas e à para que o trabalho científico fosse possível. A
introdução e discussão de diferentes matrizes sociologia é, para ele, uma ciência positiva, o que
teóricas da sociologia das organizações. Para ele, demanda uma especialização voltada para a cons-
a organização do serviço público deveria ter uma trução do conhecimento, cujo trabalho é feito por
base científica, voltada para temas práticos, tais acadêmicos treinados nas doutrinas e atividades
como a mortalidade infantil, o orçamento fami- inerentes ao trabalho empírico. As ciências soci-
liar, o processo de industrialização e urbaniza- ais brasileiras, de acordo com Fernandes, deveri-
ção, as transformações nos padrões de consumo am romper com o padrão ensaístico que então a
da sociedade. Esses temas, aos quais Guerreiro dominava, institucionalizando o ofício de soció-
se dedicou, quando funcionário do DASP, fir- logo em torno de padrões científicos universais
maram o pressuposto de que, para ele, o conhe- (Fernandes, 1977). Para Guerreiro Ramos, por
cimento sociológico é, antes de qualquer coisa, outro lado, o trabalho da sociologia no Brasil
um conhecimento prático, voltado para os pro- deveria buscar uma perspectiva de afloração da
blemas sociais contemporâneos. O que essa so- consciência. A tarefa primordial da sociologia
ciologia engajada jamais poderia perder, segun- no Brasil, observando as condições histórico-so-
do ele, é o caráter de promoção existencial da ciais da Nação, seria a busca de uma condição
autonomia da vida social. Como intelectual, existencial da sociedade, fazendo-a tomar cons-
Guerreiro Ramos procurou constituir essa soci- ciência de suas condições e possibilitando-a re-
ologia prática, mas seu trabalho foi realizado de ver suas trajetórias e fins (Ramos, 1996).
forma quase isolada, sem um contexto Em função dessa controvérsia, Guerreiro
institucionalizado que lhe desse apoio e susten- Ramos procurou organizar suas teses sobre a
tação. A exceção é o período em que ele atuou epistemologia das ciências sociais no Brasil em
no Instituto Superior de Estudos Brasileiros A redução sociológica, originalmente publicado
(ISEB) e depois quando ajudou a fundar a Esco- em 1965. Para o autor:
la Brasileira de Administração Pública da Fun-
A redução sociológica é um método destinado a
dação Getúlio Vargas (Schwartzman, 1983). habilitar o estudioso a praticar a transposição de
Essa posição de uma “sociologia em man- conhecimentos e de experiências de uma pers-
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É importante frisar que, para Guerreiro Ramos, pulados em uma cultura que delineia a direção
o nacionalismo não é um movimento político do poder político. A condição moderna do po-
baseado em heranças raciais ou fundamentalistas. der político exige que a vontade seja estipulada
O nacionalismo, para ele, é uma experiência de por uma razão normativa de fundo. A condição
ação comunitária, fundada em valores e fins ca- nacional, nesse sentido, é o aflorar de uma cons-
pazes de instituir, por meio do poder, as possibi- ciência crítica, capaz de configurar a vontade por
lidades contidas em uma etapa social determi- meio de uma existência autônoma de um povo.
nada. Em primeiro lugar, é necessário observar O nacionalismo, portanto, é um substrato
o que Guerreiro entende por poder. Seguindo o normativo capaz de informar a vontade coletiva
conceito weberiano, poder é “... a oportunidade por meio da ação comunitária e, dessa forma, con-
que possui um indivíduo, ou um grupo, de im- formar a ação social por meio da atividade políti-
por a sua vontade na ação comum, mesmo con- ca (1957). O nacionalismo, ademais, é a ruptura
tra a resistência de outros que dela participam” com a situação de dependência colonial, consti-
(Weber apud Ramos, 1957, p.18). O poder, para tuindo as premissas fundamentais para conduzir
Guerreiro, é um ingrediente inseparável de toda o processo emancipatório de um país (Ramos,
sociedade. O autor absorve esse conceito 1960; Souza, 2009).
weberiano de poder, observando o fato de que a O caso brasileiro, nesse sentido, revela o
vontade constitui o elemento primordial da ação fato de que o poder nacional emergiu com o pro-
comunitária. Seguindo a sociologia weberiana, cesso de desenvolvimento. A independência do
se a ação comunitária estabelece os valores fun- Brasil, em 1822, segundo Guerreiro Ramos, não
damentais da ação política, é necessário confi- proporcionou a emancipação social. O processo
gurar o conceito de poder em torno de situações de independência apenas estabeleceu uma forma
históricas dadas. É nesse sentido que, para Guer- nacional para a sociedade, sem a presença do
reiro Ramos, o conceito de poder deve ser segui- substrato normativo das identidades. O Brasil
do de um adjetivo. Nesse caso, o termo poder, Império e a República Velha seriam o domínio
para ele, deve ser seguido da característica naci- privado de fazendeiros, que se institucionalizava
onal, observando-se, nesse caso, o modo como a na forma de oligarquias mantidas em torno de
direção política de uma sociedade é exercida. A compromissos políticos. “O que sociologicamen-
característica nacional diz respeito ao olhar que te é relevante, porém, é assinalar que, durante o
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a sociologia nacionalista deveria lançar sobre o período de dominação dos fazendeiros, o Brasil
corpo político, tomando as posições das classes foi um país sem povo” (1957, p.14). A indepen-
dominantes e das classes dirigentes como objeto dência instituiu uma forma nacional, sem um
fundamental da interpretação política. Sendo o conteúdo de valores capaz de assegurar a exis-
nacionalismo uma experiência social que funda tência de uma identidade e de uma cultura naci-
os valores básicos da ação comunitária, o poder onal. A ruptura só ocorreria a partir da industri-
deve ser seguido da expressão nacional. alização e urbanização do Brasil, fazendo com
que os titulares do poder, os proprietários de
É o poder nacional o conjunto de todos os gru-
pos e indivíduos dirigentes que desempenham terras, perdessem suas posições dominantes.
papel ativo na organização de um país; de todos Contudo, não perderam sua condição dirigente.
os elementos políticos por excelência que con-
centram em suas mãos a direção econômico-so- A modernização brasileira criou um hia-
cial, o poder militar e as funções administrati- to, segundo Guerreiro, entre as classes dominan-
vas. (Ramos, 1957, p.11)
tes e as classes dirigentes. Esse desencontro seria
O nacionalismo, nesse sentido, não é a ex- o principal entrave à emergência do poder naci-
pressão exótica de uma orientação fundamentalista, onal no Brasil, uma vez que não propiciaria o
mas é o conjunto dos valores e percepções esti- fato de a vontade geral poder condicionar a ação
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política. O Brasil da era Vargas seria o Brasil do Como a redução sociológica é a tarefa me-
desencontro entre as classes dominantes e as clas- diante a qual se descobrem os pressupostos
ses dirigentes. O problema principal, de acordo referenciais dos objetos e fatos da realidade social
com o autor, é o fato de que o desenvolvimento (Ramos, 1996, p.71), ela não é ditada pelo impe-
brasileiro segue um modelo de complementaridade. rativo do conhecimento pelo conhecimento, mas
Ele não permite o aflorar de uma cultura capaz por sua atividade prática, balizada nas necessida-
de romper com a dependência colonial. Uma vez des reais da comunidade e no projeto de sua exis-
que a classe dirigente alinha-se a todo o atraso tência histórica. A sociologia é fundamental ao
brasileiro, originado do estatuto colonial, cria-se afloramento de uma mentalidade nacional à me-
um processo complementar de desenvolvimen- dida que ela sirva à busca das experiências exis-
to que reproduz as amarras de uma cultura de- tenciais de um povo. Mas, antes de qualquer coi-
pendente. O desenvolvimento, sem o substrato sa, ela exige, segundo Guerreiro Ramos, uma po-
normativo do nacionalismo, terminaria por re- sição metódica e científica. A redução sociológica
produzir as condições de dependência colonial. é um processo de conhecimento. O autor postula
O desenvolvimento seria uma espécie de fuga um conjunto de enunciados que configuram esse
para a frente, sem proporcionar um processo processo, conforme é posto a seguir:
sólido de emancipação social. O nacionalismo
no Brasil, segundo Guerreiro Ramos, seria o fa- § A redução sociológica é uma atitude metódica
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cesso de conhecimento, por meio da redução § Os suportes para a redução sociológica são
sociológica, absorver essas valorações com o ob- coletivos e não individuais
jetivo de compreender melhor os vínculos que
os fenômenos sociais guardam entre si. O trabalho do sociólogo é inserido na soci-
edade em que ele vive, criando situações que li-
§ A redução sociológica postula a noção de mundo mitam sua margem de especulação. A sociologia,
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lares. A atitude redutora precisa ser justificada e sociológica se cerca de uma concepção pós-colo-
baseada em esforços elaborados de reflexão, nial que quer afirmar a identidade nacional como
mostrando as razões pelas quais se fundamenta. fundamental para a consolidação da consciência
A redução sociológica é, antes de tudo, um mé- crítica, a qual, por sua vez, possibilita o tipo de
todo para o conhecimento do social, que deve conhecimento constituído pela sociologia.
ser autorreferido à cultura que o cerca. A posição nacionalista de Guerreiro Ra-
Tendo em vista esses sete postulados tra- mos, nesse sentido, não é contraditória em rela-
çados por Guerreiro Ramos, a redução socioló- ção aos objetivos da redução sociológica. O co-
gica se fundamenta em quatro leis que organi- nhecimento produzido no estrangeiro é funda-
zam o trabalho do sociólogo: mental para o avanço universal da ciência e para
a) a lei do comprometimento; a interpretação crítica que as sociedades podem
b) a lei do caráter subsidiário da produção cien- fazer sobre si mesmas. Por essa razão é que a
tífica estrangeira; produção científica estrangeira tem um caráter
c) a lei da universalidade dos enunciados gerais subsidiário. O nacionalismo de Guerreiro Ramos
da ciência; circunscreve-se na ideia de que as identidades
d) a lei das fases. estão inscritas em valores e percepções de mun-
O caráter de lei significa que a redução do que se conformam sob a forma de uma na-
sociológica só é possível por essa mirada crítica ção, estabelecendo o caráter intencional e práti-
da posição do sociólogo frente às questões que co do conhecimento sobre o social. Transplantar
cercam a comunidade. A lei do comprometimen- conceitos e categorias desenvolvidos em outras
to procura incitar o conhecimento do social aos comunidades sem reduzi-los corresponde a utilizá-
objetivos derivados da cultura nacional. A soci- los envolvidos pela intencionalidade de que são
ologia engajada de Guerreiro Ramos exige que portadores. A utilização de produção científica
“... nos países periféricos, a ideia e a prática da estrangeira é fundamental para a elaboração teó-
redução sociológica somente podem ocorrer ao rica, de acordo com Guerreiro Ramos, mas ela
cientista social que tenha adotado sistematica- deve ser condicionada por fatores particulares da
mente uma posição de engajamento ou de com- sociedade em que vive (1996, p.115).
promisso consciente com o seu contexto.” (Ra- Com respeito à lei da universalidade, ele
mos, 1996, p.105). A posição engajada prescreve que a “redução sociológica só admite a
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dos analistas seria condicionada por fatores ex- munidade. Além disso, jamais permitiria que-
clusivamente externos. A universalidade da ci- brar o eixo de complementaridade que caracte-
ência está na produção de enunciados gerais, que rizou o desenvolvimento brasileiro até então. A
podem ser apropriados pelo cientista social a sociologia nacional no Brasil, seguindo a lei do
qualquer momento. Contudo, essa apropriação comprometimento, deve buscar a consolidação
ocorre em um contexto e, por conseguinte, deve de um imaginário pós-colonial capaz de estabe-
estar imbuída de uma intencionalidade que é lecer critérios adequados para a avaliação do de-
informada pelos valores e percepções constituí- senvolvimento e superar o caráter complemen-
das por uma cultura nacional. No que diz res- tar que o cerca.
peito à lei da universalidade dos enunciados ge-
rais da ciência, Guerreiro Ramos retira qualquer
possibilidade, ao contrário de Florestan O DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO A
Fernandes, de que a sociologia deva ser concebi- PARTIR DA ATIVIDADE DE REDUÇÃO SOCIO-
da como uma ciência positiva, realizada exclusi- LÓGICA
vamente por acadêmicos.
Por fim, a lei das fases postula que à “[...] A redução sociológica é um método para
luz da redução sociológica, a razão dos proble- as ciências sociais brasileiras, o qual está preocu-
mas de uma sociedade particular é sempre dada pado em estabelecer um conjunto de regras ne-
pela fase em que tal sociedade se encontra.” (Ra- cessárias para a construção do conhecimento so-
mos, 1996, p.129). Ou seja, existe uma razão his- cial. As leis da redução sociológica estão voltadas
tórica que conforma e estabelece as fases em que para evitar os problemas relacionados ao anacro-
os problemas relativos à sociedade se configu- nismo de conceitos e teorias, a falta de retificação
ram. A ideia de fase não corresponde à existên- dessas teorias em relação ao contexto que preten-
cia de um pensamento linear em termos de cau- de ser compreendido e uma interpretação correta
sa e efeito, mas à compreensão de momentos do problema do desenvolvimento brasileiro. A
históricos que formam os problemas centrais com atuação de Guerreiro Ramos no ISEB e no DASP,
os quais as sociedades se debatem. bem como sua atuação na esfera política propor-
Guerreiro Ramos teve a ousadia crítica de cionaram as bases práticas para o tratamento dis-
formular uma filosofia do conhecimento para pensado ao problema do desenvolvimento.
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brasileira. Sem isso, as ciências sociais produzem sibilidades que se abrem em confrontação com
uma falsa compreensão do desenvolvimento, re- a cultura de massas. A premissa do problema
produzindo as condições de um subdesenvolvi- do desenvolvimento em Guerreiro Ramos é que
mento atrelado a uma mentalidade colonizada. a concepção do desenvolvimento deve ocorrer a
Essa crítica às perspectivas do desenvol- partir dos parâmetros de redução sociológica que
vimento brasileiro traçada por Guerreiro Ramos implicam o comprometimento do cientista soci-
dirige-se aos cientistas sociais que elaboram cri- al com o seu contexto, o trabalho metódico e a
térios comparativos de desenvolvimento, toman- apropriação de conceitos e categorias de forma
do como base conceitos e categorias derivados subsidiária. O desenvolvimento brasileiro, segun-
do pensamento hegemônico europeu e norte- do ele, exigiria um processo de modernização da
americano. Sem o processo de redução socioló- sociedade, aberto aos valores e percepções cons-
gica, os critérios comparativos adotados para a tituídas na cultura de massas. No caso brasilei-
compreensão do desenvolvimento brasileiro não ro, o desenvolvimentismo da década de 1950 e
permitem distinguir suas causas e os seus resul- 1960 proporcionou mudanças no cenário políti-
tados (Ramos, 1996, p.144). Para Guerreiro Ra- co, econômico e social brasileiro. Porém carecia,
mos, “[...] o desenvolvimento é uma promoção ainda, de uma perspectiva crítica capaz de
mediante a qual as regiões e nações passam de solidificá-lo no plano dos valores.
uma estrutura a outra superior” (1996, p.140). Para os objetivos desse texto, é fundamen-
O autor aborda esta questão como um problema tal perceber o modo como a sociologia de Guer-
estrutural das sociedades, tendo em vista uma reiro Ramos, tendo em vista o método da redu-
sociologia assentada em traços existencialistas ção sociológica, é influenciado por uma concep-
marcados pelo conceito de nação. É primordial ção pós-colonial, bem como essa concepção in-
a esta sociologia que o problema estrutural do fluencia uma perspectiva de desenvolvimento
desenvolvimento seja enquadrado na matriz de específica na obra do autor, capaz de enquadrar
problemas, perspectivas e valores balizados na os objetivos estratégicos da mudança social no
cultura de fundo. A sociologia nacional brasilei- quadro de valores e percepções definidos na cul-
ra, tendo em vista os conceitos centrais da redu- tura brasileira. Para tanto, é interessante obser-
ção sociológica, deve buscar um critério de de- var a crítica de Guerreiro em relação às teorias
senvolvimento adequado e informado pela cul- da modernização e a crítica do autor ao
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Guerreiro Ramos, a mudança social deve ser um ça nos valores da sociedade capaz de encaminhá-
processo consciente, tendo em vista a mudança la para a modernidade. O formalismo, segundo
de etapas da estrutura social para compor um Guerreiro, “[...] é a discrepância entre a conduta
processo não-tautológico de evolução institucional. concreta e a norma prescrita que se supõe regulá-
O autor, apoiado nas sociologias de Eisenstadt e la” (Ramos, 1966, p.333). O formalismo é típico
de Don Martindale, afirma que a modernização de sociedades prismáticas, as quais apresentam
não obedece a um conjunto de pré-requisitos alto grau de heterogeneidade, uma vez que nelas
necessários à configuração de uma sociedade dita coexistem o tradicional e o moderno, o velho e o
moderna. As teorias da modernização erram e novo, o atrasado e o avançado. Sociedades
promovem tautologias ao procurar por pré-re- prismáticas, segundo o autor, é uma sociedade
quisitos da mudança social que sejam aplicáveis necessariamente dual e ambivalente, cuja práti-
universalmente. A análise comparativa dos pro- ca convencional é estipular processos de
cessos de mudança social deve constituir um sis- superposição de estruturas que assume a
tema de conceitos generalizados, capaz de possi- dualidade como marca fundamental das práti-
bilitar a comparação sistemática de diferentes cas sociais. O formalismo é a discrepância entre
sociedades e definir rotas de modernização e, ao o formal e o efetivo, fazendo com que o conheci-
mesmo tempo, distinguir fenômenos particula- mento objetivo sobre a realidade institucional
res da mudança (Souza, 2009). desse tipo de sociedade jamais possa ser consoli-
Na visão do autor, quando o processo de dado a partir de suas estruturas normativas e
desenvolvimento é analisado pelo olhar de pré- legais.
requisitos estruturais e funcionais estabelecidos O formalismo é típico de sociedades que
em realidades sociais distintas e ditadas pela ex- se estruturam em circunstâncias de dependên-
periência dos países do centro do capitalismo, cia em relação aos países do centro do capitalis-
políticos e administradores dos países periféri- mo e que têm um tipo de cultura fortemente
cos são tentados a adotar soluções hipercorretas elitista. O caráter dual do formalismo implica
para os problemas reais dessas nações. Ao invés que as normas sociais e legais são sempre adap-
de buscar soluções hipercorretas, que reprodu- táveis à realidade e têm um caráter convencio-
zem os caminhos adotados pelos países do cen- nal. É um tipo de comportamento de sociedades
tro do capitalismo, os países da periferia devem que carecem de forma, porquanto sua cultura se
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buscar soluções adequadas, as quais necessitam alinhe a parâmetros de uma mentalidade coloni-
de um ponto de vista estratégico (Ramos, 1966). zada. A não obediência às normas e sua adapta-
A estratégia administrativa deve estar voltada ção à realidade no cotidiano dos órgãos adminis-
para a busca de soluções adequadas ao quadro trativos do Estado é a tônica de sociedades
histórico-cultural da nação, com o objetivo de prismáticas. O resultado é que projetos de de-
superar os problemas práticos que se apresen- senvolvimento, que implicam mudança dos pa-
tam ao Estado. O Estado é propulsor do desen- drões normativos da sociedade, esbarram em
volvimento, segundo Guerreiro Ramos, e sua convenções previamente fixadas e em um com-
administração deve adotar essa perspectiva es- portamento ora irônico, ora histriônico das eli-
tratégica que exige, por sua vez, um processo de tes. A conduta política das elites ou se baseia em
redução sociológica (Souza, 2009). uma ironia de fundo ou em uma reação moralis-
Para Guerreiro Ramos, o principal entrave ta pouco organizada, fazendo com que o
ao desenvolvimento brasileiro seria o formalismo formalismo implique em um conservadorismo
presente na administração do Estado, o que acar- de base que impede a mudança dos valores da
reta o fato de, mesmo com os ganhos do desen- cultura social (Ramos, 1966, p.341).
volvimento econômico, não haver uma mudan- Em sociedades que convivem com o
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formalismo, normalmente os indivíduos têm cons- Estado. Este idealismo implica o fato de as insti-
ciência das normas existentes, contudo sua ação tuições políticas distanciarem-se da cultura na-
concreta ocorre em contextos que procuram adap- cional, resultando, necessariamente, em um pa-
tar as normas existentes às necessidades reais. Esta drão apenas formal – e não efetivo – de cidada-
discrepância entre normas e comportamento im- nia e de direitos. Para Guerreiro Ramos, Viscon-
plica o fato de que o processo de desenvolvimen- de do Uruguay, Oliveira Vianna, Silvio Romero
to ocorra em torno de um processo de acomoda- e Alberto Torres foram os primeiros a fazerem a
ção. O desenvolvimento econômico e a moderni- crítica do formalismo brasileiro. Mas nenhum
zação administrativa do Estado não implicam uma deles, de acordo com o autor, logrou atingir uma
mudança estrutural profunda, mas apenas um compreensão satisfatória do formalismo brasi-
processo de acomodação da sociedade ao estilo leiro. Apesar de Guerreiro citar autores do pen-
de vida moderno. Como ressalta Guerreiro Ra- samento autoritário como importantes à crítica
mos, o formalismo não impede o desenvolvimen- do formalismo brasileiro, ele ressalta que os cor-
to econômico. Muitas vezes faz com que ele se retivos propostos refletem uma compreensão
torne necessário. Mas as mudanças sociais nunca parcial da natureza do fenômeno, ao acredita-
ocorrem de modo a serem inclusivas e profun- rem que o Estado, sobrepondo-se autoritariamen-
das. Respeitam apenas a um processo de acomo- te à sociedade, pudesse conduzir o Brasil ao ca-
dação e complementaridade, os quais não permi- minho da modernidade (Ramos, 1966, p.361).
tem uma institucionalização efetiva de normas Para Guerreiro Ramos, o formalismo bra-
modernas e um processo autêntico de transfor- sileiro implica um jeito como o genuíno proces-
mação. Em sociedades prismáticas, a mudança so para resolver dificuldades. O jeitinho é uma
social ocorre, mas sempre pautada por uma elite estratégia para contornar dificuldades a despei-
que reinventa seus valores tradicionais. to da lei ou mesmo contra ela. É uma condição
No caso brasileiro, segundo Guerreiro Ra- de sobrevivência do indivíduo em uma socieda-
mos, o formalismo ocorre exatamente pela falta de que carece de processos mais sólidos de
de forma à Nação. O processo de independência institucionalização da lei. É também uma estra-
foi apenas um processo formal de ruptura com o tégia de preservação do corpo social, no qual as
estatuto colonial. Pelo fato de Nação não ter for- leis são textos fora de contextos e não respeitam
ma, isso fez com que ela tivesse que tomar em- a cultura nacional de fundo. O Brasil seria uma
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sileira, uma devassa moral que pode resultar em missa de que qualquer estratégia de desenvolvi-
formas autoritárias e mais oligarquizadas de po- mento deve encará-lo como elemento central para
der. Importar soluções modernizantes sem o pro- a sua consecução. Uma vez que o formalismo é
cesso de redução sociológica implica a adoção de o elemento definidor da Nação, já que as regras
soluções hipercorretas, mas que geram reações con- sempre tiveram um caráter exógeno, derivado
servadoras na base da sociedade. O político e o de uma mentalidade colonial, qualquer projeto
administrador devem adotar, frente ao formalismo, de mudança social no Brasil deve adotá-lo como
não a busca de soluções hipercorretas, mas uma estratégia para o desenvolvimento. Se o desen-
concepção estratégica de desenvolvimento capaz volvimento, respeitando uma mentalidade pós-
de colocar o Brasil na rota da modernidade. Dessa colonial, deve estar alicerçado no plano dos va-
forma, o formalismo não deve ser uma espécie lores e percepções definido pela cultura, o
de inimigo inconteste da sociedade, nem mes- formalismo brasileiro deve ser um elemento cen-
mo se devem transplantar ideias e normas que tral para a constituição de uma estratégia de de-
serviram ao desenvolvimento de países do cen- senvolvimento sem a presença de soluções
tro do capitalismo. O formalismo brasileiro, ao hipercorretas.
ser concebido dentro de uma concepção estraté- Para Guerreiro Ramos é essa característi-
gica de desenvolvimento, com base no processo ca formal da sociedade brasileira que permite a
de redução sociológica, deve servir à moderni- sua articulação, como sociedade periférica, com
zação (Ramos, 1966, p.387). O fundamental é o mundo. A sociedade brasileira, em função do
romper com uma perspectiva elitista e coloniza- formalismo, mostra-se uma sociedade adaptável
da, constituindo estratégias próprias de desen- à mudança. No caso da administração pública, o
volvimento que alicercem um caminho próprio formalismo permite certa maleabilidade das ins-
para a modernização, sem as tautologias desig- tituições em relação à sociedade. Ademais, o ex-
nadas por uma concepção que queira estabele- cedente de pessoas diplomadas pode ser incor-
cer os pré-requisitos do desenvolvimento. porado no Estado, de modo que o formalismo
Seguindo a afirmação de Euclides da Cu- contribua para a mobilidade social ascendente.
nha de que o Brasil seria “[...] o único caso histó- A mobilidade ascendente de negros, por exem-
rico de uma nacionalidade feita por uma teoria plo, foi fortemente influenciada pela presença
política” (Cunha, 1999, p.341), Guerreiro Ramos deles no serviço público brasileiro (Ramos, 1960).
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afirma que a origem do formalismo está no pro- O formalismo, segundo Guerreiro Ramos, “[...]
cesso de construção nacional. Segundo ele: atesta que ela está em movimento histórico, as-
cendente, positivo; que está deixando de ser o
Os três poderes, nas velhas nações, foram pri- que era” (Ramos, 1966, p.395).
meiramente uma realidade, costumes coletiva-
mente consagrados e, depois, uma teoria formal O formalismo é um fenômeno inerente à
e sistemática, elaborada e discutida por autores. realidade social brasileira e é elemento impres-
No Brasil, por força da particularidade da sua
formação histórica, observa-se o inverso desse cindível de ser considerado em qualquer estraté-
processo. Não caminhamos do costume para a
teoria; do vivido concreta e materialmente para gia de desenvolvimento, uma vez que a base do
o esquema formal. É o inverso que se dá; cami- processo de construção nacional se deu a partir
nhamos, até agora, no tocante à construção naci-
onal (nation building), do teórico para o consue- de seu alcance. Portanto, ele é, no Brasil, um fe-
tudinário, do formal para o concretamente vivi- nômeno regular e normal, que existe em função
do. O formalismo é, nas circunstâncias típicas e
regulares que caracterizam a história do Brasil, de uma cultura política mais sólida. O formalismo
uma estratégia de construção nacional (nation é o momento de uma transição, que respeita um
building). (Ramos, 1966, p.389)
processo histórico em que a institucionalização
Romper com as interpretações tautológicas de normas deve obedecer a um processo regular
do formalismo brasileiro significa partir da pre- de gradativa institucionalização na cultura naci-
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Fernando de Barros Filgueiras
onal. Guerreiro Ramos era, antes de qualquer tico da cultura brasileira. Não se propala, então,
coisa, um otimista em relação ao Brasil. Para ele: uma fórmula universal para o desenvolvimento,
mas uma perspectiva estratégica e cientificamente
O desenvolvimento, no Brasil, enquanto persis- informada. A sociologia, nesse sentido, tem pa-
tir a dualidade, jamais implicará, em cada fase, a
substituição integral do velho pelo novo, mas, pel fundamental, à medida que não seja conce-
antes, a cooptação do velho pelo novo, dos ele- bida em um marco institucional universal, mas
mentos arcaicos e retardatários pelos elementos
modernos e atuais. (1966, p.417). que seja capaz de arregaçar as mangas em prol
de uma cultura em formação, que busca o seu
Sendo assim, o formalismo é uma estraté- lugar no mundo.
gia de mudança social, imposta pelo caráter dual No atual contexto de revisão e revisitação
da formação histórica brasileira e pelo modo como das estratégias de desenvolvimento, deflagradas
o Brasil se articula com o mundo. Reconhecido no atual estágio da sociedade brasileira, é im-
isso, é possível, segundo Guerreiro Ramos, supe- possível não perceber as possibilidades que tan-
rar a mentalidade colonial, para que a sociologia to o pensamento de Guerreiro Ramos quanto o
tenha o papel fundamental de compreender e tra- pensamento pós-colonial podem exercer na con-
balhar com o caráter existencial da cultura brasi- figuração de um caminho próprio. Isso significa
leira, a qual, de acordo com ele, ainda é fenôme- que há possibilidade de que os projetos sejam
no obscuro e passível de interpretação. Buscar as revistos e não se cometam os mesmos erros do
bases existenciais da sociedade brasileira, por meio passado. Nesse sentido, buscar as bases existen-
da redução sociológica, é reconhecer que a rota ciais da cultura brasileira pode ser um caminho
para o desenvolvimento deve estar alicerçada no aberto à imaginação, com o condão de refletir e
conjunto de problemas práticos que o fato nacio- deixar consolidar a própria identidade nacional
nal brasileiro implica. do Brasil. A janela de oportunidade ora aberta
exige medidas de conhecimento. Nesse caso, a
redução sociológica pode ser um caminho, den-
CONSIDERAÇÕES FINAIS tre vários apresentados à sociedade brasileira.
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Fernando de Barros Filgueiras
Fernando de Barros Filgueiras - Doutor em Ciência Política. Professor adjunto da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), no Departamento de Ciência Política (DCP), onde também ocupa a posição de chefe do
Departamento. Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em teoria política, políticas públicas
e comportamento político, atuando principalmente nos seguintes temas: teoria política normativa, Estado e
governo, teoria democrática, direito e democracia, corrupção e bom governo. É pesquisador e coordenador do
Centro de Referência do Interesse Público da UFMG. Autor de “Corrupção, democracia e legitimidade”,
Editora UFMG, 2008.
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