Primeiro capítulo – Leitura como objeto que acompanha transformações nas relações sociais
a partir de Norbert Elias
Pressupostos d’O Processo Civilizador (Vol. II)
Elias parte do pressuposto de que a estrutura social é resultante do desenvolvimento de
ações humanas dentro de uma realidade histórica. Nenhuma condição é natural, mas sim modelada a partir do comportamento das pessoas que integram/modificam o tecido social; Modelos de comportamentos humanos têm fonte e origem nas instituições dotadas de autoridade social (noção de processo centrífugo); Ao analisar a mudança dos costumes humanos ao longo da história Ocidental, e o progressivo aumento da interdependência entre as pessoas, Elias sugere a noção de processo civilizador: há uma constante reorganização dos relacionamentos humanos (da conduta e dos sentimentos das pessoas) por parte das autoridades sociais, que visa instilar (gota a gota/processo a processo) os valores de cada período histórico; Os costumes de cada época, assim, são resultantes de instâncias controladoras que visam controlar as pulsões individuais (psicológicas). Dessa maneira, o sistema psicológico dos indivíduos é sempre modelado pela sociedade (pelos processos civilizatórios): comportamentos são ditados por uma rede de necessidades que muda ao longo do tempo e das especificidades de cada espaço social. Cada indivíduo tem um código de conduta no qual pauta sua vida; Para Elias, processos civilizatórios têm por intenção modular as paixões humanas; Qual é a conduta do indivíduo em relação à leitura? Primeiramente, o ato da leitura acompanha as transformações das relações sociais e dos valores imbricados . Na corte francesa, por exemplo, “o valor tem seu fundamento real não na riqueza ou mesmo nas realizações ou capacidade do indivíduo, porém na estima que o rei tem por ele, na influência que goza junto aos poderosos, na sua importância no jogos das coteries (panelinhas) da corte” (p. 226). Assim, “o convívio social e o mercado de valores de prestígio formam a existência de cada pessoa. Os livros são usados menos para a leitura no gabinete ou em horas solitários de ócio, retiradas do horário profissional de cada um, do que como assunto de conversa no convívio social, fazendo parte e dando continuidade à conversação e aos jogos sociais ou, tal como a maioria de memória que têm a corte como objeto, servindo de substituto à conversa, formando diálogos que, por uma razão ou outra, falta ao interlocutor” (p. 229); Leitura é, assim, produto humano que serve como arranco social que civiliza a partir da busca dos membros da corte pelo sucesso social ou jogo de coteries (panelinhas).
Leitura como processo civilizatório
Leitura ganha objetividade sociológica ao ser compreendida como produto humano,
condicionado (civilizado) ao longo do tempo em concomitância com as reorganizações dos relacionamentos humanos; Como nos comportamos em relação à leitura? A partir dos sentidos que a leitura tem dentro da realidade social; Sentidos compreendidos como funções distintivas de grupo para grupo; Metáfora das estradas: uma estrada do período medieval leva o viajante a se resguardar de possíveis ataques e tão somente. Uma estrada de Curitiba leva os viajantes a se atentarem ao trânsito de outros veículos, à condição do seu próprio carro, aos horários que têm a cumprir, etc. Assim como a viagem, a leitura será compreendida sempre a partir dos modelos de comportamento/estrutura social de cada época. Que tipo de dependência mútua entre as pessoas põe em movimento os processos de leitura? (gancho com noção de solidariedade) Leitura como forma de saciar paixões controladas pelos códigos de conduta; Leitura como uma das cadeias de interdependência do tecido social; Conteúdo dos livros é apropriado mediante os códigos de conduta pelos quais o indivíduo é socializado.