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Introdução
Deuses e Homens
Na urbs a interação entre deuses e humanos era constante, quase sempre através da ação
ritual, porém, há poucos indícios de que interviessem diretamente nos assuntos humanos, mudando
os acontecimentos ou aparecendo em forma visível, apesar de não viverem afastados dos assuntos
humanos. Esta construção da interação com o divino, coloca as divindades em posição de cidadãos,
tendo participação nos triunfos e derrotas do povo.
Além dos constantes rituais e sacrifícios, outro meio regular de trocas eram os prodígios e a
sua interpretação. Um prodígio era um evento extraordinário, considerado contrário à ordem natural
e sinal de um desequilíbrio entre as relações homens-deuses. Tais acontecimentos são muito
importantes para compreensão da religião romana, conclusão esta, advinda da grande quantidade e
detalhamento dos registros feitos sobre os prodígios, que além de ser uma evidência por si só, nos
mostra como estavam envolvidos e afetaram todos os grupos que tinham influência na tomada de
decisões estatais.
Um fato popular da relação entre deuses e homens era a forma como eram feitos os jogos
romanos, criados e executados para os deuses, contendo homenagens e rituais. Relação esta, também
presente no teatro, onde sua construção era sempre associada a templos, feitas à sua frente, ou em
homenagem a eles.
Podemos ver, então, o quanto os romanos eram cuidadosos e preocupados com sua vida
religiosa. Esta preocupação se manifestava em diferentes níveis de atividade, como nas construções
e nas inovações no espaço público e religioso.
Os Romanos e os “Outros”
Devido a uma série de cultos e ritos distintos terem sido aceitos e incorporados pelos
romanos, é plausível dizer que eram essencialmente tolerantes com outras formas de atividades
religiosas, porém, de acordo com a autora, há observações a fazer. Hoje, é nítido que a tolerância
romana não era uma tolerância de princípio. Parece-nos que os romanos toleraram o que não lhes
parecia perigoso e eram intolerantes quando alguma atividade os ameaçava.
Isto se tornou muito claro nos anos 180 a.C., quando os romanos se depararam com o culto
de Baco, que, com certa razão, decidiram tratar como uma ameaça à sua própria ordem. Mas de que
ameaça se trataria?
Há várias hipóteses, porém, o indício crucial está no decreto do Senado, se endereçando não
à Roma, mas à uma cidade aliada, onde as regras nele contidas se referiam à estrutura dos grupos nos
quais a organização do culto estava baseada. este decreto, nos mostra como o culto estava
disseminado não só em Roma, como na Itália, assim, os grupos báquicos devem ter ameaçado os
romanos ao trazer uma nova e perigosa forma de poder.
Este episódio com os Bacos nos mostra como um grupo de pessoas unidas por suas crenças
religiosas, faz surgir toda uma nova gama de possibilidades, as crenças individuais, pela primeira
vez, se tornam determinantes de ações religiosas, possibilitando a conversão de uma religião a outra
e, consequentemente, o indivíduo passa a ser identificado como membro de um grupo particular.
Desta forma, o sentido de “crença” toma outro significado social, “crer” torna-se uma escolha,
causando um padrão de mudanças lentas, de acomodações graduais e confrontos intelectuais, e assim
o domínio romano através da religião enfraquece.
Do nosso ponto de vista, o fenômeno religioso mais importante do Império é a emergência
de várias ideias e instituições a partir do contato de diferentes grupos religiosos, conversão,
perseguição, martírio, heresia, e todo o aparato criado para defini-los e reprimi-los. Se tais
concepções existiram antes, tiveram uma aplicação muito limitada no quadro da cidade antiga, só
nos anos 180 vemos uma forma de religião ser perseguida.
Comentários
O capítulo escrito por Cláudia Beltrão da Rosa é direto, há um foco em pintar um panorama
do que era a religião romana sem muitos desvios ou exemplos exagerados. Assim, é notável domínio
do assunto, com conclusões pertinentes e embasadas ao final de cada parte, que tornam o texto
dinâmico e lúcido, tornando fácil associar os aspectos da religião romana.
Fica claro ao decorrer do capítulo, o uso constante da religião como forma de controle. Seu
uso somente em situações específicas, como jogos, ritos e teatro dissociam a religião romana da
grega, onde as relações sociais entre deuses e homens era mais comum, desta forma, fica claro
entender a facilidade dos romanos em agregar deuses e práticas a sua religião, uma vez que esta era
uma forma de facilitar seu controle através da crença, assim como fica claro sua intolerância à
práticas possivelmente perigosas a sua hegemonia.
Bibliografia