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Resumo - capítulo VI - “A RELIGIÃO NA URBS” Claudia Beltrão da Rosa - Livro -

“Repensando o Império Romano” - Organizadores - Gilvan Ventura da Silva, Norma Musco


Mendes

Introdução

A autora inicia o capítulo explicando como as análises modernas apresentam a religião


romana como altamente ritualizada, com poucas concessões à expressão religiosa, visão esta,
associada com o sucesso dos romanos nos aspectos práticos da vida ( guerra, arquitetura, política,
etc). Tal ideia cai por terra com o argumento de que nossas fontes, principalmente as textuais, criaram
uma imagem “editada” do que se queria que fosse a vida religiosa, escolhida para refletir uma piedade
escrupulosa. O material de estudo, provavelmente, não expressam a experiência das massas romanas,
mas a atividade religiosa que afetava o Estado e suas atividades.
Segundo a autora, a religião romana que conhecemos é baseada num corpo limitado de
material, com escassez de intervenções divinas diretas, de grandes mitos de atividades divinas e
mesmo de “profetas”. O que nos é apresentado são grupos de sacerdotes, que guiavam o ritual em
Roma, reportando essencialmente o que os deuses pediam em forma de sacrifícios ou outros rituais.
Desta forma, o princípio fundamental pelo qual a religião romana costuma ser interpretada é
o de que os romanos formavam uma sociedade conservadora incomum. o que até certo ponto é
verdadeiro, pois rituais arcaicos foram praticados por muito tempo, algo que diferencia a religião
romana por colocar toda sua ênfase não nos deuses e nos mitos, mas sim nos rituais e na sua correta
execução. Este fato, ocasionou teorias por parte dos estudiosos do século XIX e XX, onde os romanos
teriam retido por muito tempo o caráter “animista” (rituais e práticas voltadas não para os deuses
conhecidos atualmente, mas sim para poderes naturais, ou atividades da natureza) de sua religião
primitiva, e somente sob a influência de seus vizinhos etruscos e gregos começaram a atingir o
próximo estágio, o antropomorfismo, isto é, a perceber os deuses numa forma humana, mas teriam
atingido o “nível” dos gregos.
Nos tempos atuais, a teoria apresentada é falha, o esquema evolucionista do desenvolvimento
religioso já foi abandonado, e as pesquisas arqueológicas já nos mostram que o contato de Roma com
outras civilizações influenciou em sua cultura, porém, nunca a dominou. Com isso, podemos concluir
que os mitos da Roma primitiva nos oferecem um certo número de provas de que a religião dos
romanos era menos “anormal” do que se pensava ter sido.

Deuses e Homens
Na urbs a interação entre deuses e humanos era constante, quase sempre através da ação
ritual, porém, há poucos indícios de que interviessem diretamente nos assuntos humanos, mudando
os acontecimentos ou aparecendo em forma visível, apesar de não viverem afastados dos assuntos
humanos. Esta construção da interação com o divino, coloca as divindades em posição de cidadãos,
tendo participação nos triunfos e derrotas do povo.
Além dos constantes rituais e sacrifícios, outro meio regular de trocas eram os prodígios e a
sua interpretação. Um prodígio era um evento extraordinário, considerado contrário à ordem natural
e sinal de um desequilíbrio entre as relações homens-deuses. Tais acontecimentos são muito
importantes para compreensão da religião romana, conclusão esta, advinda da grande quantidade e
detalhamento dos registros feitos sobre os prodígios, que além de ser uma evidência por si só, nos
mostra como estavam envolvidos e afetaram todos os grupos que tinham influência na tomada de
decisões estatais.
Um fato popular da relação entre deuses e homens era a forma como eram feitos os jogos
romanos, criados e executados para os deuses, contendo homenagens e rituais. Relação esta, também
presente no teatro, onde sua construção era sempre associada a templos, feitas à sua frente, ou em
homenagem a eles.
Podemos ver, então, o quanto os romanos eram cuidadosos e preocupados com sua vida
religiosa. Esta preocupação se manifestava em diferentes níveis de atividade, como nas construções
e nas inovações no espaço público e religioso.

Política e Religião: Inovação e Conservadorismo

Na ótica da autora, quando observamos as relações entre política e religião, há algumas


questões que devem ser discutidas. Sem dúvida, a religião sempre esteve intimamente ligada à vida
política, portanto, a discussão permeia não esta relação, mas o modo como era usada. A forma
extrema da hipótese tradicional de “declínio da religião romana” na república tardia implicava o uso
da religião puramente para se obter vantagens políticas. A variação mais sólida desta ideia é a de que
toda elite romana era cética e que conspirava para iludir os demais segmentos da população, ideia
esta, dificilmente refutada.
De fato, a religião era uma das expressões, e das mais visíveis, da ideologia da elite romana,
servindo como uma tática de manutenção e/ou limitação do poder de indivíduos e de grupos políticos,
garantindo através dos rituais e práticas religiosas, a ordem romana.
Após a morte de César, surgem diversos problemas de interpretação, porém, o que não pode
ser posto em dúvida, é que Augusto, o primeiro dos principes, usou sua posição para, além de manter
o controle político do novo regime do Império, ser também o detentor do poder religioso, tornando-
se assim o “cabeça” da religião do Estado.
A chamada “renovação augustana” vem sendo relacionada com a teoria do declínio da
religião na sociedade romana, e por isso o princeps teria tentado restaurar o edifício da religião
tradicional. A ação de Augusto está em estreita relação com os episódios de restauração, e
especialmente com as recorrentes observações de que as tradições ancestrais estavam sendo perdidas
ou abandonadas. fato concluído a partir de diversos acontecimentos, entre eles o “culto imperial”, no
final da República e início do Império. Acontecimentos estes, causadores de diversas áreas de atrito,
como por exemplo, com judeus, cristãos (posteriormente), e alguns membros da elite, relutantes em
aceitar que se tratasse um homem como um deus. Para o restante da população, porém, não parece
ter havido maiores problemas para aceitar que o imperador pudesse ser tratado como um deus.
Assim, podemos concluir que temos motivos para afirmar que em fins da República e no
primeiro período imperial, um grande nível de fluidez e criatividade era aceitável em relação aos
deuses, deusas, e rituais em Roma.

Os Romanos e os “Outros”

Devido a uma série de cultos e ritos distintos terem sido aceitos e incorporados pelos
romanos, é plausível dizer que eram essencialmente tolerantes com outras formas de atividades
religiosas, porém, de acordo com a autora, há observações a fazer. Hoje, é nítido que a tolerância
romana não era uma tolerância de princípio. Parece-nos que os romanos toleraram o que não lhes
parecia perigoso e eram intolerantes quando alguma atividade os ameaçava.
Isto se tornou muito claro nos anos 180 a.C., quando os romanos se depararam com o culto
de Baco, que, com certa razão, decidiram tratar como uma ameaça à sua própria ordem. Mas de que
ameaça se trataria?
Há várias hipóteses, porém, o indício crucial está no decreto do Senado, se endereçando não
à Roma, mas à uma cidade aliada, onde as regras nele contidas se referiam à estrutura dos grupos nos
quais a organização do culto estava baseada. este decreto, nos mostra como o culto estava
disseminado não só em Roma, como na Itália, assim, os grupos báquicos devem ter ameaçado os
romanos ao trazer uma nova e perigosa forma de poder.
Este episódio com os Bacos nos mostra como um grupo de pessoas unidas por suas crenças
religiosas, faz surgir toda uma nova gama de possibilidades, as crenças individuais, pela primeira
vez, se tornam determinantes de ações religiosas, possibilitando a conversão de uma religião a outra
e, consequentemente, o indivíduo passa a ser identificado como membro de um grupo particular.
Desta forma, o sentido de “crença” toma outro significado social, “crer” torna-se uma escolha,
causando um padrão de mudanças lentas, de acomodações graduais e confrontos intelectuais, e assim
o domínio romano através da religião enfraquece.
Do nosso ponto de vista, o fenômeno religioso mais importante do Império é a emergência
de várias ideias e instituições a partir do contato de diferentes grupos religiosos, conversão,
perseguição, martírio, heresia, e todo o aparato criado para defini-los e reprimi-los. Se tais
concepções existiram antes, tiveram uma aplicação muito limitada no quadro da cidade antiga, só
nos anos 180 vemos uma forma de religião ser perseguida.

Comentários

O capítulo escrito por Cláudia Beltrão da Rosa é direto, há um foco em pintar um panorama
do que era a religião romana sem muitos desvios ou exemplos exagerados. Assim, é notável domínio
do assunto, com conclusões pertinentes e embasadas ao final de cada parte, que tornam o texto
dinâmico e lúcido, tornando fácil associar os aspectos da religião romana.
Fica claro ao decorrer do capítulo, o uso constante da religião como forma de controle. Seu
uso somente em situações específicas, como jogos, ritos e teatro dissociam a religião romana da
grega, onde as relações sociais entre deuses e homens era mais comum, desta forma, fica claro
entender a facilidade dos romanos em agregar deuses e práticas a sua religião, uma vez que esta era
uma forma de facilitar seu controle através da crença, assim como fica claro sua intolerância à
práticas possivelmente perigosas a sua hegemonia.

Bibliografia

VENTURA DA SILVA, Gilvan. MUSCO MENDES, Norma. BELTRÃO DA ROSA, Claudia.


Repensando o Império Romano. Editora MAUAD, 2006. cap VI, p. 137- 159.

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