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Diante de um dos momentos políticos e sociais mais graves de nossa história, cabe promover
uma reflexão acerca da centralidade da Cultura em um projeto estratégico voltado para a
construção de um Brasil soberano, justo e democrático para todas e todos.
A Cultura é um domínio tão importante da atividade humana que na maioria das vezes passa
despercebido. Afinal, tudo remete à Cultura. Não só o modo da vida, a produção das artes, ou
a chamada “economia criativa”. Para nós, empenhados na sustentação de um projeto
democrático, popular, de esquerda, a cultura se revela, sobretudo, na disputa pelos valores
capazes de orientar a sociedade. Serão valores comprometidos com a transformação das
atuais estruturas de poder ou com a sua continuidade? Um projeto incapaz de enfrentar essa
questão conseguirá até vencer uma eleição - poderá, no limite, manter-se governando - mas
não será capaz de encarnar a mudança.
Logo, a disputa cultural deve ser compreendida como um elemento indissociável da luta pela
hegemonia das classes trabalhadoras e seus aliados no processo de transformações profundas
e estruturantes que o Brasil necessita. Pois, mesmo com todos os avanços materiais e sociais
proporcionados pelos governos progressistas, o conjunto de valores que circulam na
sociedade pouco mudou em comparação com o período da hegemonia neoliberal, na década
de 1990. Seja no plano das artes ou das ideias, os monopólios da comunicação prosseguiram
impondo, sem nenhum contraponto, o seu repertório de temas e fixações, entre os quais a
ilusão da igualdade social pela via do consumo.
Uma cultura crítica e pluralista, de forte sentido contra-hegemônico, nós sabemos, precisará
do apoio do Estado para se tornar viável, demandando o planejamento e a aplicação de
políticas públicas para o setor, como ocorre em qualquer sociedade democrática. Porém,
deverá preservar a mais ampla liberdade de criação para os produtores, na medida em que
nem mercado e nem o Estado devem determinar o conteúdo de seus processos, ritos e hábitos
criativos.
No Brasil democrático, justo e soberano que queremos, as políticas culturais devem partir de
um único princípio: o lugar da produção cultural é e deve continuar sendo a sociedade civil.
Uma política cultural de viés emancipador deve partir desse ponto, mobilizando a
participação efetiva, independente e criadora do povo brasileiro.