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CAPITULO II AFUNDACAO DE UM IMPERIO LIBERAL: PRIMEIRO REINADO, REACAO E REVOLUCAO CONSTITUICAO DE 1824, embora outorgada ou imposta, aplacou a A chama liberal, circunscrevendo-a enfim ao Nordeste e baralhando mesmo nessa drea 0 desapontamento e inconformismo. “A nacao”, disse Vergueiro a respeito da nova Carta, “recebeu-a como uma capitula- ao depois de uma derrota.” O golpe de 12 de novembro produzira um choque paralisador sobre os sentimentos que havia trés anos abriam cami- nho no Brasil. O Rio de Janeiro seria espelho expressivo: sua famosa Camara Municipal, irreconhecivel, alids, desde a pancada andradina de outubro de 1822, inaugurou um espetaculo ao sabor dos regimes autori- tarios do século XX: abriu dois livros destinados a receber assinatura pré e contra o projeto da nova lei. O segundo ficou em branco. O incéndio do teatro a 25 de marco, mas depois que D. Pedro se retirara, nio merece mais do que a nota de estranha coincidéncia. Quanto ao resto das provin- cias do Sul, consigna-se a excecdo de uma comunidade cuja consciéncia politica era a mais esclarecida em So Paulo: a Camara de Itu, sob inspira- ao de Feij6, ousou apresentar emendas que dariam ao Legislativo prerro- gativas aliés exageradas. Sintoma da prevengao generalizada contra a Coroa, mas que s6 da Bahia para o Norte desafogou-se em expresses ¢ atitudes violentas. Nao sé a distancia, que nao se ha de negar favorecia tal desafogo, também a tradigdo guerteira, a sensibilidade liberal e nativista fariam com que D. Pedro, principalmente daquelas bandas, temesse contradita. Delas € que se arreceara José Bonifacio, o qual, alids, 0 Monarca acusara em julho de 23 como culpado de se haverem perdido “as simpatias de todo o norte”. No Apostolado, a tinica voz discordante do veto absoluto fora a do pernambucano Cavalcanti de Lacerda, depois Baro de Pirapama. Na 432 HISTORIA GERAL DA CivitiZAGAO BRASILEIRA —e Constituinte, ao apagar das luzes, 0 cearense Alencar vaticinara que sé acontecesse a “desgraca” da dissolucao “desmembravam-se as provincias, © Império nao seria mais Império e 0 Imperador deixaria de ser Impe- rador”. Logo em janeiro a cearense vila de Campo Maior de Quixeramo- bim foi as do cabo: declarou o imperante e sua dinastia excluidos do trono e convidou o caudilho Figueiras a organizar um governo republica- no. A quixotada nao faria mossa a D. Pedro, mas nao seria tao sem impor- tAncia quando o mesmo Padre Alencar escrevesse a Manuel de Carvalho, © “presidente intruso” de Pernambuco, como o chamavam na Corte: “Facil me tem sido aqui plantar no povo as idéias de liberdade que nés desejamos semear.” De retorno a terra, os deputados nortistas em geral tinham falado no que havia de “vacilante e contraditério” nas proclama- Ges do Imperador. A Bahia, entretanto, acabou por submeter-se a voz dos elementos moderados, manifestando-se pela aprovacao da nova Carta no proprio aniversério do pronunciamento de 1821, 10 de fevereiro. Arrematava, bem ou mal, trés anos de campanha. Caldeira Brant, a quem se destinava mais brilhante papel liberal alguns anos depois, contribuiu para a conciliacao baiana, e de Salvador, de passagem para Londres, escre- veu a Muniz Tavares, concitando-o a trabalhar no mesmo sentido “contra esses senhores do Recife que se deixam seduzir com teorias do belo ideal”. O belo ideal vinha, contudo, agora sopeado pelo empuxo das fac- des, que por outro lado encontravam na Constituigao matéria para divergéncia. Entre os senhores do Recife nao se reataria a bela unida- de de 1817, quando, irmanados aos paraibanos, praticamente todos os elementos expressivos das duas provincias tinham ido parar nos cArceres baianos del-rei absoluto. O ano de 1821 libertara o instinto politico mani- festado em 17 permitira desde logo a configuracao de grupos e clas. Do amorfo anterior, mas sobretudo do feixe liberal de 1817, tinham surgido 8 chefes de cla pernambucanos, como das lutas pelo império constitucio- nal surgiram do Cearé ao Maranhao os herdis da independéncia, caudi- Ihos do sertao. Todos se julgavam agora com direito a conservar 0 poder local e a escolher os presidentes de provincia como antes escolhiam as Juntas, nos “concelhos” que desde 21 proliferavam. Quem fora nomeado pelo Imperador, de acordo com a lei da Assembléia Constituinte e numa lista, alias, de elementos em geral bons, agora designados para todas as provincias? Personagens de 17 para Pernambuco e Paraiba, e para 0 Cearé 0 liberal Costa Barros, de boa tradigao pelo menos até 22. Vinham, no entanto, eivados pelo contagio da Corte, réus de “corcundismo” (neo- absolutismo) perante as faccées instaladas, tachados como incapazes ou . ‘A FUNDACAO DE UM IMPERIO LIBERAL 433 tiranos. Tais fatores, aduzidos ao ressentimento nativista, motivo agora menos ponderavel, mas lastro freqiientemente aproveitado, geraram a confusao e a indeterminagao que caracterizam o levante nordestino de 24 e refletem-se particularmente no seu separatismo incoerente, aos arrancos. Nesse terreno Frei Caneca é uma flor patética. Procurava-se poupar o Imperador, atacando o ministério; mas che- gou-se a acusar D. Pedro de ter desamparado 0 Norte, ao mandar buscar a esquadra que bloqueava o Recife, “a fim de defender somente a sua pessoa” contra uma anunciada expedi¢o portuguesa. O argumento infe- liz voltou-se contra os que desuniam a nagao diante do perigo externo. Menos irris6ria nao seria talvez essa ameaca de Lisboa do que a “traigo” do Imperador, mas serviu para fortalecer os imperiais. Nao menos infeliz seria Carvalho quando apelou para a recentissima doutrina de Monroe, pedindo aos Estados Unidos uma esquadra que viesse estacionar no Recife. D. Pedro, impecavel no seu liberalismo para uso externo, j4 man+ dara pedir aos americanos do Norte 0 reconhecimento do Império e invo- cara a necessidade de unirem-se aos do Sul “para opor uma barreira as injustas tentativas da velha e ambiciosa Europa”. Europa como a enten- dem muitas vezes os ingleses, isto é, sem a Inglaterra. De Londres chega- ram ao Rio-£ 300.000 no mesmo 2 de agosto em que o Almirante Cochrane partiu levando a expedigao comandada por Francisco de Lima e Silva. Em setembro, sufocou-se o afogueado Recife. Instalou-se uma das comiss6es militares com que D. Pedro comegava a acutilar 0 artigo 179 da Constituicdo. “A causa dos rebeldes”, entretanto, conforme mandou dizer Lima e Silva para o Rio, “tinha tomado maior incremento do que se julgava, e os republicanos nao eram poucos.” Republicanos de ocasido exprimiam sobretudo uma desgarrada revolta, um protesto de fidelidade a revolugao traida na Corte. O mesmo Lima e Silva pleiteou indulgéncia para com os oficiais jovens: tinham-se deixado possuir “pela mania revoluciondria que tanto se generalizou nao s6 entre os pernambucanos como entre os habi- tantes das outras provincias do norte”. De fato, motivos locais tinham acionado o movimento pelo Nordeste afora, mas 0 que uniu a Confedera- 40 do Equador foi uma inspiragao liberal. O proprio Carvalho, represen- tante menos preclaro do ideal que alguns outros consagraram pelo sacrifi- cio, alteou-se - ¢ agora no importa se menos sinceramente - nos momen- tos em que figurou de porta-voz dos “federativos”; por exemplo, quando disse a Maria Graham, enviada por Cochrane a parlamentar, que nada concederia a nao ser sob condigdo de reunir-se de novo a Assembléia dis-

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