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Resumo: O presente artigo busca estudar os períodos gregos, desde a Idade do Bronze
(Século XVI-XII a.C.) ao Período Helenístico (IV-II a.C.), utilizando-se, como base
introdutória, das obras homéricas, dando ênfase ao que escreve Homero sobre a gerra travada
entre Grécia e Troia; e, como base de atestação para as afirmativas homéricas, os estudos
arqueológicos relatados no livro da historiadora brasileira Flávia Maria Schlee Eyler 2. Além
disso, feitas as colocações sobre cada período da história grega, inicia-se uma breve discussão
sobre a historicidade de Homero, visto que o autor, após as modernas escavações foi, de certa
forma, contestado. Por fim, considerando o que foi supracitado, busca-se, por meio de
contextualizações mitológicas, literárias e históricas uma justificativa para a aquisição de uma
maior consciência histórica do povo helênico.
Abstract: The present article seeks to study the Greek periods from the Bronze Age (16th-
12th centuries BC) to the Hellenistic Period (IV-II BC), using as an introductory basis
Homeric works, emphasizing what Homer writes about the gerra fought between Greece and
Troia; and, as a basis of attestation for the Homeric affirmations, the archaeological studies
reported in the book of the Brazilian historian Flávia Maria Schlee Eyler1. In addition, given
the positions on each period of Greek history, a brief discussion of the historicity of Homer
begins, since the author, after the modern excavations, was, to a certain extent, contested.
Finally, considering what was mentioned above, we seek, through mythological, literary and
historical contextualizations, a justification for the acquisition of a greater historical
awareness of the Hellenic people.
A Grécia dos helenos não é a mesma que se conhece atualmente. Parece redundante
afirmar isso, já que são épocas diferentes e contextos culturais, aparentemente, distintos,
entretanto não o é, visto que, territorialmente, os gregos atuais se distanciam dos
gregos/helênicos dos primeiros séculos. O povo helênico se reconhecia enquanto tal na
medida em que compartilhava entre si da mesma cultura, dos mesmos modos de culto aos
deuses, da mesma língua (acentuando-se alguns dialetos), além da fronteira territorial
definida.
Diké, a justiça entre os homens” (EYLER, 2014, p. 27), assim não haveria o agrave da lei da
natureza, nem o das ordens do mais forte, mas um equilíbrio entre as relações sociais.
Período Arcaico (Séculos VIII-VI a.C.) → Aqui, após as idades anteriores que –
bem – demonstraram a (in)eficácia dos regimes unificado na pessoa do anax e na pessoa do
3 LEAL, Tito Barros. Aula sobre o artigo de Tito Barros Leal: Ética entre Tragédia e filosofia. 02 mai. 2019,
15 ago. 2019. Notas de Aula.
4 Herói aqueu que lutou na Guerra de Troia (EYLER, 2014, p. 31).
4
basileu, no que diz respeito ao mantimento da segurança social, surge a pólis. Nesse novo
sistema legislativo e – redundantemente – político, as leis são escritas e publicadas, não
dependendo mais do poeta. Com o surgimento da pólis o desenvolvimento econômico grego é
quase inevitável, bem como o estabelecimento de novas colônias. É também por essa época
que se estabelecem tiranias e são postas as reformas de Sólon5. – Aqui, se instaura uma maior
isonomia social. Esparta e Atenas são referências de organização social. Nesse período
também se desenvolve a reflexão acerca da physis, a natureza. Os filósofos Thales,
Anaximandro, Anaxágoras etc., por meio de uma cosmologia mitológica, refletiam sobre
essas questões da physis.
5 Legislador, criador do Conselho dos 400 e da Constituição de Atenas. Ver também (Id, p. 31).
5
Antes que fossem encontradas: A cidade de Troia no período que compreende 1822-
1889, por Schliemann; O palácio de Cnossos entre 1852-1941, por Sir Arthur Evans; as
plaquetas em linear B, em Pilos, Cnossos e Micenas, que, inclusive, foram decifradas, na
metade do século XX, por Michael Ventris6 e J. Chadwick7; e fossem iniciados os trabalhos
arqueológicos modernos em 1870; eram as epopeias homéricas que serviam de base para a
análise – e de fonte histórica – do período de nascimento da civilização grega – ou período
Micênico – (Séculos XVI-XII).
Assim sendo, muito do que se sabe hoje é superior ao que os gregos sabiam de sua
própria história. Por exemplo, o que é anterior as cidades-estado gregas.
Hoje sabemos que antes das cidades-estado houve uma Grécia diferente, centrada
em pequenos reinos cujo modelo era o das civilizações do Oriente Próximo – daí
podemos pensar que nem sempre Oriente e Ocidente foram separados. Esses reinos
[Micênicos] eram centralizados. (EYLER, 2014, p. 33, grifos meus).
Após o início das escavações da moderna arqueologia, nasce uma questão intitulada
como homérica. Homero, como anteriormente mencionado, cantava o mundo grego.
Entretanto, as escavações revelaram que, entre o mundo descrito pela moderna arqueologia e
o que cantava o escritor das epopeias Ilíada e Odisseia, haviam divergências. Havendo
divergência entre narrações de um mesmo ocorrido, uma destas se encontra equivocada. Mas,
no caso de Homero, o que narrava, se não o que via dos helênicos?
Infelizmente, isso não nos permite concluir que a Ilíada contenha a história
específica de uma determinada guerra ocorrida em Troia. Em primeiro lugar, os
poetas épicos orais não eram historiadores antigos que trabalhavam a partir de fontes
históricas (e muito menos a partir de um texto). Na verdade, o épico homérico não
contém nenhuma compreensão histórica do mundo micênico: por exemplo, ninguém
adivinharia pela leitura de Homero que a escrita (Linear B) era usada na Idade do
Bronze para registrar o funcionamento de uma sociedade economicamente complexa
e palaciana. (HOMERO, 2013).
Além disso, a própria ideia de um Homero é questionável – ou, pelo menos, alguns
estudiosos o fazem questionável. Visto que obras orais, passadas boca a boca não possuiam
uma extensão tão grande quanto as obras de Homero.
6 Foi um importante arquiteto inglês, bastante interessado em línguas antigas. Nasceu em 12 de julho de 1922
em Wheathampstead, Reino Unido, e faleceu em 1956, Hatfield, também cidade do Reino Unido.
7 Foi linguista e professor de línguas clássicas (inglês). Nasceu em 21 de maio de 1920, Londres, Reino
Unido. Faleceu em 1998, na cidade de Royston, também no Reino Unido.
6
disponível; então foram ainda mais ampliados por editores literários antigos; e o
resultado é o que temos hoje. (HOMERO, 2013, grifos meus).
Nos contos homéricos, o líder do oikós, o basileus, ou aquele a quem o título mais se
encaixaria, Agamêmnon, é colocado como responsável pela ira de Aquiles – ira que, inclusive,
segundo Homero no canto i, é: “mortífera!, que tantas dores trouxe aos Aqueus e tantas almas
valentes de heróis lançou no Hades, ficando seus corpos como presa para cães e aves de
rapina, enquanto se cumpria a vontade de Zeus” –, visto que o mesmo teria interesse na
mulher que Aquiles desejou desde muito tempo. Entretanto, analisando o conceito
supracitado, há alguma aproximação entre a definição de basileus histórica e a de Homero?
Homero canta a grandiosidade pela qual são movidos os gregos. Ilíada ilustra a saga
do herói que o homem grego se direciona a fim de conquistar o reconhecimento da areté, o
reconhecimento social como indivíduo honrado e – em muitos casos – heroico. Além disso, na
mesma epopeia, como bem observa Aristóteles, “Homero decidiu não narrar a guerra de Troia
ano a ano, preferindo centrar a ação de seu épico em torno de um único tema: o ódio de
Aquiles” (HOMERO, 2013).
8 O maior guerreiro de Troia, líder dos troianos e dos exércitos aliados, além de ser filho do rei Príamo e a
rainha Hécuba.
7
Seja por meio dos relatos homéricos ou pelas investigações da arqueologia moderna,
a máxima de que os gregos eram heróis por excelência se sustenta a medida que aquelas
atestam essas. Entretanto, argumentar que os gregos desenvolveram uma consciência histórica
demasiada decorrente, pura e simplesmente, das experimentações políticas ao curso da
cronologia grega, é dar meia taça de vinho a um monarca grego, o que, em outras palavras, é
devaneio. As divindades e a literatura grega são o que falta a essa taça de vinho, são peças
cruciais para o bom entendimento histórico grego.
A (proto)democracia grega desse período pode ser assim alicerçada/titulada por ser
ainda mediada por um chefe do oikós, alguém não eleito, mas que agora, ao contrário do
monarca do período Micênico, não é o cerne do controle social, não está mais em sua figura o
dar sentido a tudo. Nesse período, como canta a Ilíada de Homero, há heróis, há mitos e
também há deuses. Esses deuses são o objeto de complementação ou de continuação do
percurso que, na racionalidade humana, rapidamente se encurta, são eles a razão e onipotência
que falta ao homem.
9 HOMERO. Ilíada. Tradução: Frederico Lourenço. 1. ed. São Paulo: Penguin, 2013.
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REFERÊNCIAS
Fonte primária:
HOMERO. ILÍADA. Tradução: Frederico Lourenço. 1. ed. São Paulo: Penguin, 2013.
Demais obras:
EYLER, Flávia Maria Schlee. História Antiga – Grécia e Roma: A formação do Ocidente.
Rio de Janeiro: Edições PUCRJ/ Editora Vozes, 2014.
VERNANT, Jean-Pierre. O universo, os deuses, os homens. São Paulo: Cia. Letras, 2000.
OBER, Josiah. Democracy and Knowledge: Innovation and Learning in Classical Athens.
Princeton: Princeton University Press, 2008.