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01/07/2019 TJSE - Sistema de Controle Processual

Gerada em
01/07/2019
13:49:10

Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

10ª Vara Cível de Aracaju


Av. Pres. Tancredo Neves, S/N - Capucho

Dados do Processo

Dados do Processo
Nenhum Processo Encontrado

Dados da Parte
AUTOR: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DE SERGIPE
RÉU: NOEL ALVES DE SOUZA
RÉU: LUCIO DARIO SALES COSTA
RÉU: AFRANIO SILVA OLIVEIRA
RÉU: AIRAN MIGUEL DOS SANTOS PANTA
RÉU: PREFEITO DO MUNICÍPIO DE LAGARTO JOSÉ VALMIR
MONTEIRO
RÉU: RAMIRES RODRIGO DE AMORIM
RÉU: ADRIANO DA SENA SILVA
RÉU: JAIRA ALVES SANTOS

Trata-se de representação de prisão preventiva formulada pelo Grupo de Atuação Especial de


Combate ao Crime Organizado – GAECO, através da 9ª Procuradoria de Justiça, em desfavor dos
representados JOSÉ VALMIR MONTEIRO (PREFEITO DE LAGARTO/SE), NOEL ALVES DE
SOUZA, LÚCIO DÁRIO SALES COSTA, AFRÂNIO SILVA OLIVEIRA, RAMIRES
RODRIGUES DE AMORIM, ADRIANO DA SENA SILVA, AIRAN MIGUEL DOS SANTOS
PANTA E JAÍRA ALVES SANTOS, todos qualificados nos autos, aos quais são imputadas as
práticas dos crimes dos arts. 299 e 312, do CP e arts. 89 e 90 da Lei nº 8.666/93, art. 2º, da Lei nº
12.850/2013.

De acordo com a representação, foi instaurado Procedimento Investigatório Criminal – PIC para
apurar supostas irregularidades do contrato administrativo para locação de máquina, a exemplos
de caminhões, montoniveladoras, escavadeira hidráulica, sem, porém, a devida prestação do
serviço, com o escopo de emitir notas fiscais para desvio de verba pública.

Consta na representação que, diante dos depoimentos dos proprietários e motoristas das
máquinas, é possível concluir que: - a prestação dos serviços foi iniciada em janeiro de 2017, com
a gestão de José Valmir Monteiro, sem a existência de qualquer licitação/contrato, dado que o
Pregão Presencial nº 015/2017 só foi inaugurado em junho de 2017; - que a propriedade de todos
os veículos colocados à disposição do Município não era da empresa contratada, conforme
previsto na licitação, mas de cidadãos lagartenses; - que a empresa fornecia, efetivamente, menos
veículos do que aqueles que estavam previstos no contrato; - que Afrânio e Ramires eram os
representantes de fato da empresa, mas nunca tiveram os motoristas como seus subordinados, não
havendo sequer contrato de trabalho ou de prestação de serviços, não havendo qualquer
recolhimento de direitos trabalhistas, previdenciários ou tributários.

Destaca que, após os depoimentos prestados pelos proprietários e procuradores da empresa Real
Construtora LTDA ME, é possível extrair as seguintes ilações: - a sociedade empresária nunca
possuiu quaisquer dos equipamentos que foram objeto do contrato, em contrariedade à declaração
prestada no curso do procedimento licitatório; - todos os ajustes firmados com os motoristas e/ou
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proprietários, que efetivamente prestaram o serviço, foram informais, feitos mediante contato
telefônico, e não geraram o recolhimento de qualquer obrigação trabalhista e previdenciária; - a
empresa era dirigida e administrada por Afrânio e Ramires, sócios ocultos, os quais efetivamente
tinham poder de decisão e auferimento de lucros, enquanto os sócios formais, constantes do
contrato social, Airan e Adriano, nunca efetuaram contribuição financeira para ingresso na
sociedade, assim como nunca compartilharam os resultados da atividade econômica,
desconhecendo detalhes básicos da empresa, o que indica a condição de laranjas; - que uma das
procuradoras da empresa Real, Jaíra, funcionária de longa data de Afrânio, concorreu em nome de
outra sociedade no Pregão Presencial nº 015/2017, a fim de auxiliar na burla do caráter
competitivo do procedimento; - a existência de saques volumosos em espécie e movimentação de
quase 1 milhão de reais para conta pessoal de Ramires indica um possível fluxo do dinheiro
desviado para repartição com os envolvidos na organização criminosa, decorrente da relação da
empresa Real com o Município de Lagarto.

Continua narrando que, desde o início da prestação dos serviços até os dias atuais, a Real
Construtora LTDA ME, por meio de seus representantes, com o auxílio dos servidores da
Prefeitura de Lagarto, percebeu indevidamente a importância de R$ 1.158.638,40 (um milhão,
cento e cinquenta e oito mil, seiscentos e trinta e oito reais e quarenta centavos).

Assevera ainda que, contratualmente, a empresa contratada tinha responsabilidade por abastecer
os veículos, porém, conforme declarações dos representantes da própria pessoa jurídica, tal ato
sempre foi realizado pela Prefeitura, que mantinha durante a semana os veículos e efetuava
regularmente aprovisionamento de combustível. Portanto, o prejuízo causado à Administração é,
ainda, superior àquele acima referido, ultrapassando a cifra de R$ 1.158.638,40 (um milhão, cento
e cinquenta e oito mil, seiscentos e trinta e oito reais e quarenta centavos), já que os valores
direcionados pelo Município para abastecimento dos veículos disponibilizados pela Real também
fazem parte do desvio efetuado pelos agentes.

Sustenta que a utilização da pessoa jurídica para fins ilegais é incontestável, dado que foi através
da Real Construtora LTDA ME, vencedora de um procedimento licitatório viciado, que foram
emitidas notas com informações falsas acerca da prestação do serviço a fim de desviar valores da
Administração Pública, na gestão de José Valmir Monteiro no Município de Lagarto.

Diante de tudo o que foi exposto, a fim de cessar a prática dos delitos pelos investigados,
representou o Ministério Público pela decretação da prisão preventiva, para garantia da ordem
pública, das investigações e da futura instrução processual, nos termos do art. 312 do CPP.

É, em síntese, o relatório. DECIDO.

In casu, o Ministério Público representou pelas prisões preventivas dos denunciados JOSÉ
VALMIR MONTEIRO (PREFEITO DE LAGARTO/SE), NOEL ALVES DE SOUZA, LÚCIO
DÁRIO SALES COSTA, AFRÂNIO SILVA OLIVEIRA, RAMIRES RODRIGUES DE
AMORIM, ADRIANO DA SENA SILVA, AIRAN MIGUEL DOS SANTOS PANTA E JAÍRA
ALVES SANTOS, sob o fundamento da garantia da ordem pública, das investigações e da futura
instrução processual, nos termos do art. 312 do CPP.
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Antes de debruçar-me sobre a análise do pedido, saliento a excepcionalidade da custódia cautelar,


em razão de achar-se consagrado no ordenamento jurídico pátrio o princípio constitucional da
presunção da inocência, nos termos do art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, que reza:
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”.

Não obstante a aludida presunção de inocência, em determinados casos, excepcionalmente, é


admitida a prisão cautelar, desde que configuradas as hipóteses previstas no art.312 c/c o art. 313,
ambos do Código de Processo Penal.

A este respeito, trago à colação o magistério de Eugênio Pacelli de Oliveira (in Curso de Processo
Penal. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Iuris, 2008. p.414-415), que ensina, in litteris:

“(...) o reconhecimento da situação jurídica de inocente (art.5º, LVII) já impunha e impõe a


necessidade de fundamentação judicial para toda e qualquer privação da liberdade, tendo
em vista que só o Judiciário poderá determinar a prisão de um inocente. E mais: que essa
fundamentação seja construída em bases cautelares, isto é, que a prisão seja decretada como
acautelamento dos interesses da jurisdição penal, com a marca da indispensabilidade e da
necessidade da medida.

(...).” (sem negrito e grifo no original).

Feito tal registro, passo a examinar o pedido de decretação da prisão preventiva.

O Ministério Público representou pela prisão preventiva dos denunciados, sob o fundamento da
garantia da ordem pública, diante da incessante reiteração da prática criminosa e da gravidade
concreta dos delitos praticados pelos representados.

No tocante à garantia da ordem pública, é pertinente trazer à colação a sua definição a fim de
que, a partir disto, seja possível aferir a sua configuração ou não no presente caso. Embora haja
uma certa controvérsia na doutrina e na jurisprudência pátria quanto ao que se entenderia por
garantia da ordem pública, entendo esclarecedora a lição de Eugênio Pacelli a este respeito,
constante do seguinte excerto, in verbis:

“(...).

Todavia, repetimos: toda cautela é pouca. A prisão preventiva para garantia da ordem
pública somente deve ocorrer em hipóteses de crimes gravíssimos, quer quanto à pena, quer
quanto aos meios de execução utilizados, e quando haja o risco de novas investidas
criminosas e ainda seja possível constatar uma situação de comprovada intranqüilidade
coletiva no seio da comunidade (STJ – HC nº 21.282/CE, DJ 23.9.2002). Nesse campo, a
existência de outros inquéritos policiais e de ações penais propostas contra o réu (ou o
indiciado) pela prática de delito da mesma natureza poderá, junto com os demais elementos
concretos, autorizar um juízo de necessidade da cautela provisória.

(...).” (Ob.cit.p.437-438). (sem negrito e grifo no original).


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In casu, a meu ver, entendo que não estão presentes os elementos suficientes para demonstrar a
necessidade de garantir a ordem pública, porquanto, embora sejam graves as condutas imputadas
aos representados, por consistirem em desvio de recursos públicos, não estão presentes elementos
concretos que revelem o risco de reiteração delitiva, tendo em vista o desligamento da atuação
dos membros da organização criminosa na esfera pública, com exceção do Secretário de Obra
Noel Alves de Souza, o qual deverá ser imediatamente afastado do cargo.

Deste modo, verifico que uma vez rompido o elo que unia os acusados com a esfera pública,
devido já terem sido afastados dos cargos anteriormente ocupados, vislumbra-se serem
suficiente a obstar a reiteração de atos ilícitos, a determinação de medidas cautelares menos
restritivas que a prisão.

Ademais, quanto à proteção das apurações dos fatos referidos no pedido sob apreciação, não mais
existem riscos, considerando que a peça inaugural acusatória já foi apresentada.

Em relação à conveniência da instrução criminal, trago, mais uma vez, à lume o magistério de
Eugênio Pacelli (ob.cit.p. 434), que ensina, in verbis:

“(...).

Por conveniência da instrução criminal há de se entender a prisão decretada em razão de


perturbação ao regular andamento do processo, o que ocorrerá, por exemplo, quando o
acusado, ou qualquer outra pessoa em seu nome, estiver intimidando testemunhas, peritos
ou o próprio ofendido, ou ainda provocando qualquer incidente do qual resulte prejuízo
manifesto à instrução criminal. (...).”

Escudado em tais ensinamentos, verifico que, no caso em tela, não restou demonstrado na
representação ministerial qualquer fato concreto que revele estarem os denunciados prejudicando
a coleta de provas ou intimidando testemunhas.

Diante disso verifico a desnecessidade da custódia cautelar para a conveniência da instrução


criminal, porque não há notícias de que os denunciados, após a instauração das investigações,
estivessem criando obstáculos com o fito de tumultuá-las.

Não obstante a conclusão alhures declinada, sopesando a gravidade dos delitos imputados aos
denunciados, bem como o fato de estes não possuírem histórico de violência, entendo ser
recomendável e suficiente a fixação de outras medidas cautelares diversas da prisão preventiva:

I – Manutenção do afastamento de José Valmir Monteiro do cargo público de Prefeito do


Município de Lagarto/SE;
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II– Proibição dos denunciados de acesso a locais pertencentes à Administração Pública


direta ou indireta municipal, especialmente a Secretaria de Obra do Município de Lagarto,
com exceção de hospitais e postos de saúde em caso de necessidade de tratamento;

III- Proibição da empresa dos denunciados, Real Construtora LTDA, em contratar com o
Município de Lagarto/SE;

IV – comparecimento mensal dos denunciados na Escrivania da Câmara Criminal do TJSE


até o quinto dia de cada mês para informarem os endereços e justificarem as suas
atividades;

V- Recolhimento domiciliar noturno dos denunciados a partir das 19h, podendo sair para
trabalhar e realizar outras atividades após às 05 horas da manhã;

VI – proibição de contato com os demais indiciados e testemunhas do processo;

Com relação ao Secretário de Obras, Noel Alves de Souza, alem das medidas acima
listadas, deve ser afastado do cargo público que atualmente ocupa.

Assim sendo, ficam os representados advertidos de que o descumprimento de quaisquer das


condições acima impostas, implicará na imediata decretação da prisão preventiva.

Ante o exposto, INDEFIRO o pedido de decretação da prisão preventiva dos Representados,


por entender, nesse momento, DESNECESSÁRIO e incabível por ausência dos requisitos e
pressupostos previstos no art.312 do CPP, todavia aplico as medidas cautelares diversas da
prisão, conforme acima declinado.

Comunique-se à Prefeita em exercício no Município de Lagarto/SE da presente decisão,


tendo em vista a determinação de afastamento de cargo público e as proibições de acessos a
locais pertencentes à Administração Pública.

Oficie-se à Câmara de Vereadores de Lagarto, nos mesmos termos.

Cumpra-se.

Aracaju, 01 de Julho de 2019.


Edson Ulisses de Melo
Desembargador(a)

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