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SÃO PAULO
2014
INTRODUÇÃO
As Epístolas de Paulo não são profundos tratados teológicos, mas, muito mais,
admoestações, orientações e conselhos pastorais dirigidos aos fiéis das comunidades por ele
criadas. Paulo não é um pensador, um filósofo, nem muito menos, um teólogo.
À época de Paulo não havia uma Igreja organicamente constituída, formalmente
organizada e administrativamente estruturada. Ela era composta por grupos de convertidos
espalhados pelo mundo, sem qualquer união formal entre eles a não ser a óbvia submissão à
autoridade do missionário - ou de seus discípulos - que os criou.
Paulo foi um judeu, filho de judeus, da tribo de Benjamin, fariseu seguidor estrito
da Lei mosaica e, ainda por cima, com cidadania romana. Como é natural de Tarso, na Cilícia,
diz-se que ele era judeu, romano e grego! Sua formação, portanto, era bastante eclética e,
pode-se dizer que ele era um “homem do mundo”, um cosmopolita, internacional. Entre
outras coisas, sabemos que estudou em Jerusalém com o rabino Gamaliel. Com toda essa
bagagem intelectual, Paulo era muito diferente dos primeiros apóstolos: ele, decididamente,
não era um aldeão “caipira”.
Mas, com tudo isso – ou talvez, até por causa disso tudo – foi um ferrenho
perseguidor de cristãos! Até o momento em que foi arrebatado por Cristo. Então, da mesma
forma que se dedicara de maneira apaixonada ao farisaísmo judaico, passou a se dedicar
entusiástica e exaltadamente à missão de levar o Evangelho de Jesus Cristo a todos os povos.
“Anunciar o Evangelho não é glória para mim; é uma obrigação que
se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!“1
Em brevíssimas palavras - muito menos do que um retrato 3x4 - esse é o homem
de quem vamos ver algumas letras.
COMENTÁRIOS GERAIS
1
I Cor 9, 16
2
I Ts 5, 12
Paulo, geralmente, está se referindo a funções, com interesse em uma
ordenação apropriada de toda a comunidade cristã. Para ele cada crente é como um
membro ativo do corpo de Cristo: "A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito
para o proveito comum” 3. E essa é uma das excelentes definições dadas por ele à Igreja:
Corpo de Cristo4. A base nuclear desta original conceituação da Igreja pode ser encontrada
nos acontecimentos da última ceia:
Essa Epistola (Primeira aos Coríntios), embora trate, em larga escala, de assuntos
pragmáticos, tem como fio condutor esse brilhante conceito de ser a Igreja o Corpo de
Cristo6.
O conhecido “Apóstolo dos gentios” entende que a Igreja é uma continuação do
Primeiro Testamento: ela é a assembleia - ekklesia – do povo de Deus. Deus não é mais só e
apenas de Israel; Ele é de toda a raça humana. Foi para todos os homens que Jesus Cristo
nasceu, viveu, sofreu, foi morto e ressuscitou. Esse termo – ekklesia – é de suma
importância: não significa, como em português, o edifício, o templo. Significa “a assembleia;
a reunião de crentes para o culto; ou ainda, o conjunto de crentes de determinado local”.
Assim, temos em I Cor 16,197·, por exemplo, a palavra ekklesia simbolizando os crentes que
costumam se reunir em uma casa particular como uma casa-igreja; mas pode ser usada para
simbolizar a totalidade de todos os crentes como em I Coríntios 12,288.
A maneira como Paulo utiliza o vocábulo adrede nomeado nos permite inferir o
conceito que ele tem de Igreja. Para ele, a Igreja universal não é apenas e tão somente a
soma das igrejas particulares e cada comunidade, por menor que seja, é a Igreja como um
todo. Vejamos isso em mais alguns versículos:
“à igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis ...” (ICor 1,2)
“... e o irmão Timóteo, à igreja de Deus que está em Corinto”
(IICor 1,1)
“ ... nem para os gentios, nem para a Igreja de Deus.” (I Cor 10, 32)
“...procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja.” (I Cor
14, 12)
3
I Cor 12,7
4
I Cor 12, 12-20
5
I Cor 10, 17
6
Mais tarde este conceito evoluiu para o “Corpo Místico de Cristo”, principalmente com os estudos dos teólogos de
Tubingen e de Roma.
7
“Áquila e Prisca, com a igreja que se reúne na casa deles, mandam efusivas saudações no Senhor.”
8
“Aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar,
mestres... A seguir vêm os dons dos milagres, das curas, da assistência, da direção e o dom de falar em línguas.”
“... porque persegui a Igreja de Deus.” (I Cor 15, 9)
Dessa forma, a Igreja universal é muito maior do que a simples soma de suas
diversas Igrejas particulares e cada uma das comunidades individuais não é meramente uma
parte a compor a unidade maior. Em qualquer lugar, é a Igreja que está presente. Nenhum
dos membros está só. Todos são um. E a responsabilidade de cada membro é maior.
Outra definição importante e interessante é: a Igreja é o novo povo de Deus. No
Primeiro Testamento o termo "povo" indicava as pessoas que tinham um relacionamento
especial com Javé e se entendia que Israel era o povo de Deus. A nova aliança, prometida
por Javé e ansiada por Israel se concretiza no sangue de Cristo9, tornando seus fiéis
seguidores o povo eleito, o povo de Deus.
Questão interessante que se apresentou para admoestação de Paulo foi
apresentada pela comunidade de Corinto: seus membros, em vez de considerar a cada um
como parte de um todo, haviam se dividido em facções, cada uma das quais exaltava o seu
mentor. Havia os grupos de discípulos de Paulo, de Apolo, de Cefas e de Cristo. Quem eram
os mestres? Paulo iniciou, estabeleceu a comunidade e esteve com eles por 18 meses; Apolo
seguiu a Paulo, sendo o segundo pastor em Corinto; o grupo de Cefas (Pedro),
provavelmente era constituído por judeus e pode ser que tenham se convertido no dia de
Pentecostes; e a turma “De Cristo”, possivelmente era um grupo orgulhoso que não
pertencia a outro grupo. Eles tinham o nome correto, mas a atitude equivocada. Paulo se
indignou com essa divisão: “Então estaria Cristo dividido?” 10. Em sua concepção, a Igreja é
formada por todos, sem qualquer divisão, não havendo grupos separados, independentes,
estanques quer de Paulo, de Pedro ou de quem quer que seja: todos são de Cristo e todos
são um em Cristo. Além disso, a ideia de denominações – como seriam esses “partidos” -
seria repugnante para Paulo.
E, não menos importante, Paulo advogou pela catolicidade (καθολικος =
universal) da mensagem de Cristo:
O Messias não pertence aos judeus, não pertence à Israel. Ele veio e se sacrificou
por todos, em qualquer lugar que estejam, e se “invocam o nome de nosso Senhor Jesus
Cristo” a Ele pertencem.
9
“Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue;
todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim.” (I Cor 11, 25)
10
I Cor 1,13
11
I Cor 1,2
Mas Paulo é inflexível – e ele não está disposto a abrir mão disso - quanto ao
critério da mútua edificação. Por diversas vezes ouvimos ecoar seu clamor de "que tudo se
faça de modo a edificar" 12. Tudo deve convergir para a edificação de maneira ordenada,
coordenada da comunidade eclesial, não apenas sem estagnação, mas também sem
dispersões.
COMENTÁRIOS FINAIS
BIBLIOGRAFIA
FEIFFER, C.F.; VOS, H. F.; REA, J. Dicionário Bíblico. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
12
I Cor 14, 26