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Mas é para
aprender!
Reinaldo Azevedo
24/06/2019 16h05
Um Horácio para Moro: eis a obra e seu trecho eloquente. Ah, sim: o selo do livro é da minha própria catalogação.
Comprei, não roubei de biblioteca, rsrs. Sou contra todo tipo de ladrão, o que inclui ladrão de Estados, bibliotecas e
instituições
Doutor Sergio Moro já demonstrou que pode tropeçar na "Inculta & Bela" com o
desassombro de quem sabe demais para se dedicar à leitura. Troca cônjuge
por "conge" (Conje? Côngi? Cônji?) e rusgas por "rugas", por exemplo. Também
não se conforma com o fato de o verbo haver, no sentido de existir, ser
impessoal, inconformismo especialmente saliente quando ele o conjuga no
passado. Costuma largar os seus "haviam" pelo caminho como se não
houvesse amanhã. Da mesma sorte não distingue o "vim", primeira pessoa do
pretérito perfeito, de seu infinitivo "vir". Assim, volta e meia, algo em seu
discurso "pode VIM a ser". Tire a gramática e a Constituição do caminho que
Moro quer passar com a sua barbárie. No depoimento à Comissão de
Constituição e Justiça do Senado, lascou um "menas", corrigindo-se, nesse
caso, a tempo. Mas foi a sua primeira inclinação…
Esse talvez seja o conselho mais importante que Horácio dá aos poetas, já que
sua obra tem um cunho didático. Ele os adverte contra a tentação de começar
uma narrativa pelo nascimento das musas — vale dizer: na ânsia, então, de
contar tudo, de parir a montanha, o que se tem é uma ridicularia. O autor pode
se perder em questões históricas ou descrições inúteis, que o afastam do tema.
Extrapolando da poesia para a vida: cumpre não ser derrotado pelo excesso de
pretensão. Entendeu, Moro?
Horácio era guiado, diga-se, pela ideia da medida. Se, depois de estudar um
pouco de língua portuguesa, Moro quiser mesmo se dedicar ao latim, pode
encontrar nas "Sátiras", na primeira delas, do Livro I, o seguinte trecho: "(…)
est modus in rebus , sunti certi denique fines,/ quos ultra citraque nequit
consistere rectum". Poderia ser a divisa do direito. Preste atenção, Sergio
Moro:
"Há uma medida nas coisas; há, enfim, limites precisos além dos quais e
aquém dos quais não é possível existir o que é justo".
Se o leitor amigo quiser fazer uma pesquisa sobre o sentido da palavra "rectus",
verá que poderia ser traduzida também por "direito".